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ISSN 1413-0904

Nº 97 — ANO IX
MARÇO, 2001
SÃO PAULO
BRASIL

apoio HENRIQUE ALTEMANI DE OLIVEIRA 3 MABEL GONZÁLEZ BUSTELO 11


Novas tendências da política externa War, money and survival
japonesa
PATRICIA LEITE DE MIRANDA
BRUNO AYLLÓN 4
Are we ready to deal with another international 12
A agenda européia do Mercosul: um novo
financial crisis ?
panorama
Understanding the Washington Consensus 13
ANA MARIA STUART 5
O Tratado de Nice e os desafios da
ampliação européia. DENILDE HOLZHACKER 14
Mercosul: onde se quer chegar?
JESÚS E. MAZZEI ALFONZO 6
La III Cumbre de las Américas, diplomacia y RAQUEL MARTÍNEZ - GÓMEZ LÓPEZ 15
globalización La redefinición de Cuba en el sistema internacional
EDUARDO VIOLA 7 a 10
É ainda viável o Protocolo de Kyoto JOSÉ AUGUSTO GUILHON ALBUQUERQUE 16
depois do fracasso de Haia ? Aos leitores, alunos e colaboradores

AS RELAÇÕES ESTADOS UNIDOS/BRASIL NA VISÃO DO COUNCIL


ON FOREIGN RELATIONS ROBERTO TEIXEIRA DA COST
OBERTO A
OSTA

m fevereiro deste ano, o Council No caso específico do documento sobre localização central na América do Sul, seu

E
on Foreign Relations , através de as relações Brasil / Estados Unidos, “s t a t u s ” c o m o p a rc e i ro c o m e rc i a l e
um grupo de trabalho ( task force ) participaram do grupo de trabalho 20 absorvedor de investimentos dos Estados
preparou um documento, que colaboradores, sendo vários dos chamados Unidos e seu papel diplomático junto a
enviou ao Presidente George W. “brazilianists”; economistas ligados a América do Sul e a agências
Bush e aos seus secretários, que bancos de investimentos que internacionais.
teve razoável repercussão nos nossos órgãos de acompanham o Brasil regularmente, No 2 º bloco, dedicam-se à análise da
imprensa e junto a segmentos mais interessados empresários (dois deles com fortes importância da crise na Colômbia, ligada
no tema das relações internacionais. ligações com o nosso país), professores à instabilidade na Região Andina e do
O C F R, sediado em New York, é uma entidade universitários e colaboradores de relacionamento complexo com a
apartidária, sem fins lucrativos fundada em 1921. empresas de consultoria. Venezuela.
Tem como objetivo promover o entendimento das O trabalho foi dividido em 5 diferentes Sinalizam nas áreas de urgência:
relações internacionais através da livre troca de partes: manutenção da reforma e do crescimento
idéias, debates, publicações, conferências, etc. 1.Por que o Brasil? econômico; agenda comercial para o
Edita a prestigiosa revista “Foreign Affairs”. 2.Por que agora? hemisfério onde Brasil e Estados Unidos
Tem patrocinado grupos de trabalho ( task forces ) 3.Obstáculos são atores centrais, e os crescentes
quando um assunto atual e crítico em relação à 4.Quais os pontos críticos? E finalmente: desafios à democracia e reforma
política externa dos Estados Unidos emerge e 5.Por uma nova parceria econômica na América do Sul.
que torna necessária a formação de um grupo No 1 º bloco, chamam atenção para o fato Mencionam a reunião de Quebec e a
multidisciplinar e com diferentes perspectivas, do Brasil ser a terceira maior democracia agenda apertada que os Estados Unidos
capaz de chegar a conclusões através da busca no mundo, com uma sociedade aberta, enfrenta. A reunião de Brasília no ano
de um consenso. uma mídia ativa e com grande passado, quando o Brasil foi o anfitrião
Anteriormente a preparação desse documento, participação da sociedade civil e da classe do primeiro encontro com os países da
havia elaborado estudos semelhantes sobre as média. Alertam o sucesso das eleições América do Sul teve significado para a
relações econômicas dos Estados Unidos com municipais de 2000,o controle da inflação. liderança brasileira na região. No
China, Japão e Rússia, logo após as crises Sinalizam 4 motivos da importância que entanto, a grande ênfase desse bloco é
economico-financeiras que emergiram ao final o Brasil deve representar para os Estados efetivamente a questão comercial e o
dos anos 90. Unidos: seu poderio econômico, sua significado da ALCA.
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ROBERTO TEIXEIRA DA COST
OBERTO A
OSTA

No 3 º bloco, quando trata dos obstáculos, ALCA e ao Mercosul e recomendam que importância. Recentemente, o Presidente
talvez a parte mais densa do documento, as novas autoridades definam Fernando Henrique explicou que estamos
salientam áreas potenciais de rapidamente a maneira de proceder. preparados a qualquer momento para
desentendimento e de desacordo. Foram Apontam que os Estados Unidos não discutir conclusivamente ALCA
mencionadas 5 áreas: o legado e devem esperar até que o Brasil independe de prazos, desde que os norte
ambigüidade de políticas passadas dos (Mercosul) e União Européia concluam americanos queiram dialogar a respeito
Estados Unidos em relação ao Brasil; o um acordo. Assim, pedem urgência para do contencioso que existe pendente nas
temor no Brasil (e mesmo para alguns uma atitude pró-ativa dos Estados nossas relações comerciais. Não temos
segmentos dentro dos Estados Unidos) Unidos; visto de parte das autoridades norte-
do que o livre comércio possa Drogas e Segurança Nacional - o Brasil americanas ligadas ao setor essa
representar; a percepção brasileira de deve ser engajado com liderança no disposição. Por outro lado, existem
que os Estados Unidos buscam reduzir a combate à ameaça do narco terrorismo e dúvidas se no cenário internacional
soberania brasileira na região sua influência corruptora nos governos, atribulado que estamos vivenciando em
amazônica; a desconfiança doméstica e setores públicos e segurança pública ao 2001, onde as dificuldades de transição
entre os vizinhos brasileiros de uma longo do hemisfério. Chamam atenção da economia norte-americana
relação muito próxima entre o Brasil e para os Estados Unidos trabalharem com representam ponto crucial, que o
Estados Unidos, e finalmente os o Brasil como parceiro estratégico. P re s i d e n t e G e o r g e W. B u s h p o s s a
elementos de competição e colaboração No capítulo final, por uma nova parceria efetivamente eleger a questão ALCA
entre os dois países. registram que o Brasil é parceiro como tema prioritário nos próximos seis
Chamam atenção para a percepção essencial para os Estados Unidos na meses. São reconhecidas as resistências
generalizada no Brasil prevalecente em América do Sul. É de interesse comum do partido democrata e dos sindicatos
alguns setores da elite industrial, que trabalhem juntos, explorando norte-americanos que, até agora
política e administrativa e também da idênticos pontos de interesse e que mostram uma atitude muito crítica sobre
opinião pública que a ALCA irá resolvam diferenças pendentes de forma o acordo do NAFTA, cujo componente
funcionar somente em benefício dos franca e voltada para o futuro Registram: político teve enorme peso para sua
Estados Unidos. Buscariam mercados temos muito a aprender uns com os aprovação (isso sem falar no intenso
abertos para seus produtos, sem outros, pois, partilhamos valores ‘lobby’ feito pelos empresários mexicanos
reciprocidade para exportações, e que fundamentais. para sua aprovação).
usam as leis antidumping e padrões Acreditam ser este o momento de agir e Nos últimos anos, ouvimos lá e cá por
trabalhistas e ambientais ligados a de iniciar um diálogo de alto nível entre parte dos nossos diplomatas que a
acordos de comércio com objetivos os dois países. relação entre nossos países nunca atingiu
protecionistas. um nível de maturidade como observado
No bloco dos pontos críticos, alertam que Comentário final: em passado recente. O entendimento e
a negligência dos Estados Unidos em Não há dúvida da importância que o diálogo entre o Presidente Clinton e
relação ao Brasil (com esporádicos Brasil representa para os Estados FHC era excelente a ponto do nosso
períodos de atenção durante as crises) Unidos. No entanto, muitos analistas de Presidente ter sido convidado para um
tem reduzido sua influência. respeito questionam se efetivamente fim de semana em Camp David. Não
Sinalizam 4 áreas que julgam demandar existe uma visão crítica a esse respeito. parece que, em função do perfil e
atenção urgente por parte da nova Pelo que se contata, Rússia e China personalidade do George W. Bush, que
administração norte-americana: continuarão sendo prioridades. Temas de essa mesma relação possa ser
Reforma econômica - sustentar a defesa sensibilizam a sociedade reconstruída. Mas quem sabe que,
continuidade das reformas no crítico americana. A questão da ALCA que malgrado um nível de relacionamento
período pré-eleitoral; agora entra numa fase decisiva vai ser menos afetivo, os resultados práticos
Reforma democrática sustentada - o um ponto relevante nesse sejam melhores do que até hoje
sucesso da democracia brasileira como relacionamento. Uma ALCA sem o Brasil obtivemos.
interesse central para os crescentes seria uma associação de menor
desafios na região, particularmente,
Peru, Venezuela, Colômbia, Equador e Roberto Teixeira da Costa foi Diretor da Deltec e do BIB - Banco de Investimento do Brasil e,
Paraguai; posteriormente, Vice Presidente do Unibanco. Mais tarde criou a CVM, do qual foi seu primeiro
Livre Comércio - é necessário um presidente, e depois assumiu a presidência e diretoria da Brasilpar. Hoje está ligado ao Grupo Sul
sentimento de urgência em relação a América e ao conselho de administração de outras empresas industriais e comerciais.

2 Carta Internacional, ano IX, nº 97

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