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Hinos Homéricos a Dionisio

I (p. 73-75)
A Dioniso (fragmentos)
1
Divina estirpe, que tauriforme te desvelas, uns dizem que
Sêmele, tendo-te trazido no ventre, gerou-te em Drácano,
a Zeus, do raio jubiloso; outros, em Ícaro, que os ventos
fustigam; outros, em Naxos; outros, junto ao Alfeu,
de fundos vórtices; outros dizem que tu, soberano, em
Tebas nasceste; mentem: gerou-te o Pai dos homens e
Deuses, longe das gentes, às ocultas de Hera, cândidos
braços. Há uma Nisa, montanha sublime, florente de
florestas, distante da Fenícia, junto às torres egípcias...
2
[...] com a fronte enfeitada de teus negros racimos...
3
[...] lançando potentes bramidos...
4
“... e hão de erguer-te muitas estátuas nos templos.
E por teres três vezes nascido, sempre, em trietéricas
festas, os homens hão de ofertar-te hecatombes exímias”.
Diz, e com sobrolhos sombrios, consente o Cronida;
sobre a fronte imortal do Altíssimo, agitam-se em cachos
os cabelos divinos, e o magno Olimpo ele faz atroar.
Sê-me propício, tu, que tauriforme te desvelas e desvairas
mulheres; nós, os aedos, no início e fim te cantaremos:
impossível lembrar-se de um canto sagrado e de ti se olvidar.
Assim te saúdo, Dionisio, que tauriforme te desvelas,
junto com Sêmele, tua mãe, que Tione também nomeiam.

VII (p. 79-83)


A Dioniso
Sobre Dionisio, gênito da insigne Sêmele, irei
recordar, como surgiu junto à orla do límpido mar,
sobre um pontal protendido, símile a um jovem
no auge do viço; em torno ondeavam-lhe belos
cabelos escuros, e portava uma clâmide púrpura
sobre ‘spáduas robustas. Súbito, de uma sólida nau,
piratas tirsênios célere surgem sobre o pélago
púrpuro: um fado funesto os conduz. Eles, ao verem-no,
acenam entre si, súbito saltam, rápido o raptam
e em sua nau o instalam, corações alegrando.
Julgando ser filho desses reis a Zeus caros,
intentam enleá-lo com infrangíveis baraços.
Os laços porém não o prendem: longe das pernas
e braços saltam os liames de vime. O Deus de olhos
negros sorri e prossegue impassível. O piloto o nota
e presto os parceiros exproba assim proferindo:
“infelizes, quem é esse Deus poderoso que, pós raptá-lo,
tenteis enlear? Nem mesmo pode portá-lo a nau primorosa.
Por certo é Zeus, ou Apolo do arco de prata, ou mesmo
Posídon; pois que não se assemelha aos mortais perecíveis,
mas aos Deuses que habitam Olímpicos paços.
Vamos! Deixemo-lo ir sobre a negra terra, depressa;
e não lanceis as mãos sobre ele, provocando-o, para
que terríveis tufões não suscite e tremenda procela”.
Assim disse, mas o cabo o doesta com discurso odioso:
“Mísero, atenta ao vento propício, atrela todas as cordas
e iça comigo a vela da nave; deste os varões cuidarão.
Ele há de chegar, espero, ao Egito ou a Chipre, à terra
Hiperbórea ou até mesmo mais longe, e há de, por fim,
nos dizer quem são seus amigos, os bens que possui,
e os parentes, pois que um Deus para nós o mandou”.
Assim dizendo, ergue o mastro e a vela da nave;
um vento enfuna em cheio a vela; em torno, as cordas
s’entesam. Súbito, aparecem-lhe os prodígios.
Primeiro, vinho, deleitoso e aromático líquido,
jorra sobre a negra nave veloz, exalando aroma
divino: ao vê-lo, dos piratas o terror se apodera.
Súbito, perto da ponta da vela, uma vide se alastra por
ambos os lados e copiosos racimos pendem apensos; em
torno do mastro, negra hera serpeia, plena de flores, e de
frutos formosos se cobre, coroando as cavilhas dos remos.
Ao verem, os piratas pedem ao piloto que da terra a nau
aproxime. Mas dentro da nau, o Deus em leão se transforma,
vertendo-lhes torvos, terríveis olhares; para a popa
fogem os piratas e reúnem-se pávidos ao redor do
piloto, de ânimo sábio. Mas o leão súbito salta e
o cabo arrebata. Ao vê-lo, a fim de fugirem
do funesto destino, todos os outros, juntos,
no mar divino se atiram e em delfins se transformam.
Do piloto, porém, o Deus se apieda e o poupa;
de toda a ventura o investe, e destarte lhe profere:
“ânimo, divino Hécator, caro ao meu coração.
Sou Dioniso, de potentes bramidos, que Sêmele, a mãe
cadmeia, gerou, após ter-se unido a Zeus em amor”.
Salve, filho da belíssima Sêmele; impossível
compor doce canto em que de ti não se lembre!

XXVI (p. 123)


A Dioniso
Começo a cantar Dioniso, de potentes bramidos,
coroado de hera, gênito ilustre de Zeus e da insigne Sêmele,
que as Ninfas, lindas melenas, do pai supremo acolheram
em seus seios, e nos vales do Nisa, com todo o desvelo,
o nutriram e criaram. Ele crescia, por intento paterno,
num antro perfumado; entre imortais, porém, era contado.
Mas pós que as Divas nutriram o Deus decantado,
ele passou a percorrer os prados frondosos,
de louro e hera coroado. As Ninfas o seguiam
e ele as guiava; na imensa floresta, o clamor imperava.
Assim te saúdo, Dioniso, de copiosos racimos.
Concede-me, no próximo ano, contente voltar,
e depois desse ano, por muitos outros mais!

Hinos Órficos: Perfumes

30. Perfume de Dioniso (p. 183)

Dioniso, o bramante, invoco, o de evoé clamoroso,


Prótogono, o ambigênere, trigênito, Rei frenético,
Secreto, agreste, inefável, nume bicorne, biforme,
Tauriforme, de hera florente, évio, puro, marcial,
Crudívoro, bienal, dos pâmpanos e racimos,
Multisagaz Eubuleu, fruto de Zeus e Perséfone,
Nume eterno concebido em inefáveis enlaces.
Ouve, bem-aventurado, de ânimo brando, e com
Tuas amas de bela cinta deleite bom nos insufla.

45. Hino a Dioniso Bassareu Trietérico (p. 217)

Dioniso cerviz de touro, beato, nascido no fogo,


Ó Bassareu e Bacante, de tudo Rei, rico em nomes,
Que te comprazes com gládios, e sangue, e Mênades santas,
Com voz de evoé no Olimpo, ó louco, bramante Baco,
Imane, tirsotenente, por todos os deuses honrado
E pelos homens mortais, quantos habitam a terra.
Vem beato dançador, a todos júbilo aporta.

46. Perfume do Licnita (p. 219)

A Dioniso do berço rezarei nesta prece:


Ambiflorente Nísio, ledo, verendo Baco,
Broto o mais caro às ninfas e à coroada Cípria,
Que vagas pelos prados com passos dançarinos
Em ciranda de ninfas, por delírio tomado.
Pelo querer de Zeus levado à grã Perséfone,
Com ela te criastes, dos imortais bem-quisto.
Vem ledo, vem benévolo – e que os ritos te agradem.

47. Perfume de Baco da Coluna (p. 221)

Invoco o Dador de Vinho presente em sua coluna,


Baco, que a toda volta cingindo a casa de Cadmo
Firmou-a, deu-lhe sustento contra os fortes cataclismos
Quando o raio flamejante a terra toda agitou
Com o fulmíneo sibilo que a tudo desenlaçou.
Vem, jubiloso Bacante, nossos ânimos alegra.

50. Hino ao Lísio Leneu (p. 227)

Ouve, Baco dos lagares, filho de Zeus e de duas


Mães, memorável germe, demônio libertador,
Ó sacro e secreto broto de deuses, évio Baco,
Enfrutescente e nutrício, de fruto delicioso,
Leneu que rasgas a terra, pujante, multimutável,
Que aos homens te revelastes um lenitivo, flor santa,
Graça que os mortais sossega, Epáfio de bela coma,
Ó Lísio louco de tirso, Évio, Brômio, grato a todos
– Quer mortais quer imortais – a quem te mostras brilhando,
Vem agora ledo aos mistas, trazendo bens e delícia.

52. Perfume do Trietérico (p. 231)

Ledo Baco de muitos nomes, ó desvairado, te invoco,


Leneu tauricorne, Lísio, Nísio, do sopro de fogo,
Licnita na coxa criado, iniciador dos mistas,
Noturno Eubuleu mitrado, ó brande-tirso, inefável
Mistério de três naturas, broto secreto de Zeus,
Protógono, Ericepeu, dos deuses Pai e Filho,
Crudívoro Rei e guia das procissões, dançador
Fanático em frenesi nas trietéridas sacras,
Ó treme-terra flamente, Efápio, de duas madres,
Cornudo, que vestes nebrida e vagas nos cumes, ânuo,
Peã de tirso dourado e pâmpanos, deus no ventre,
Bassareu de hera cingido, que muitas virgens rodeiam,
Vem beato, brota eterno para o deleite dos mistas.

53. Perfume do Anfietes (p. 233)

Invoco Baco Anfietes: chamo Dioniso ctônio


Com jovens Ninfas de belas tranças desperto,
Que adormecendo nos paços de Perséfone santos
No sono guarda o biênio, tempo sagrado de Baco.
Quando se lhe desperta a festa da trietéride,
Com as amas bela-cintura hineia, evoé clamante,
E coros suscita assim, na revolução das Horas.
Cornudo, frútil, viçoso, Baco facundo e fecundo,
Vem com teu rosto brilhante aos ritos onidivinos
Fazendo os frutos brotarem dos ritos iniciáticos.

Hesíodo – Teogonia (p. 159)


Sêmele filha de Cadmo unida a Zeus em amor
Gerou o esplêndido filho Dioniso multialegre
Imortal, ela mortal. Agora ambos são Deuses.

HESÍODO. Teogonia: A Origem dos Deuses. 2. ed. São Paulo. Iluminuras, 1992.

“Zeus se enamoró de Sémele y se unió a ella a ocultas de Hera. Pero dejándose


embaucar por Hera, puesto que Zeus le había prometido hacer lo que le pidiera, le
suplico que viniera tal como iba cuando requería de amores a Hera. Zeus, no pudiendo
rehusar, se presentó en la cama nupcial con su carro entre relámpagos y truenos e lanzó
el rayo. Como Sémele pereciera de terror, Zeus apartó del fuego al feto de seis meses y
lo cosió dentro de su muslo. […] Llegado el momento, Zeus desbaratando el cosido, dio
a luz a Dioniso y se le confió a Hermes, quien lo llevó junto a Ino y Atamante y los
persuadió de que lo criasen como si fuera una niña” (2004, p. 138).

“Zeus logro esquivar la cólera de Hera convirtiendo a Dioniso en un cabrito, y Hermes


lo cogió y llevo junto a las ninfas que vivían en Nisa, en Asia, a las que Zeus tras su
catasterismo dio el nombre de Híades” (2004, p. 138).

“Dioniso fue el descubridor de la vid y, provocándole Hera la locura, anduvo vagando


por Egipto y Siria. En un principio lo acoge Proteo, rey de los egipcios, pero más tarde
llega a Cíbela, en Frígia; y allí, tras ser purificado por Rea y aprender los ritos de
iniciación, recibió de ella la túnica y se dirigió a toda prisa contra los indios a través de
Tracia.

APOLODORO. Biblioteca Mitológica. Alianza Editorial, 3ª Ed. Madrid, 2004.

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