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EDUCAÇÃO
MÓDULO
NA EDUCAÇÃO
Volume 9
2010
F363a
FERNANDES, Andrea da Paixão.
Ambiente regulatório na educação / Andrea da Paixão Fernandes;
Lincoln Tavares Silva. Rio de Janeiro: SESI:UFF, 2010.
157p - (Coleção Gestão Empreendedora – Educação, 9)
ISBN 978-85-64113-08-9
1. Educação. 2. Gestão empreendedora. 3. Educação
empreendedora. I. Silva, Lincoln Tavares II. Título. III. Série
CDD – 371.2
SESI - SERVIÇO SOCIAL Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira Sidney Luiz de Matos Mello
DA INDÚSTRIA Presidente Vice-reitor
Conselho Nacional
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Analista
Assistente de Coordenação
Aula 1
O direito de educar e aprender - um histórico sobre
as legislações educacionais brasileiras
Metas
• Apresentar um histórico da Educação nas legislações brasileiras desde os tempos
do Império.
• Familiarizar o gestor quanto a noções do que vem a ser o direito à Educação, tanto
para professores quanto para alunos.
Objetivos
Ao final desta aula, você será capaz de:
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Asmita
Figura 1.1: Máquina do tempo.
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Kostya Kisleyko
Para que um direito se concretize na prática são necessárias duas coisas: primeiro, Direito positivo
que haja o reconhecimento, no direito positivo, do direito universal ao serviço público Conjunto de normas
chamado Educação; segundo, que todos os cidadãos possuam garantia de acesso estabelecidas pelo poder
político, respaldadas por
aos instrumentos eficazes de cobrança do referido direito. Essas duas condições fatos e valores vividos e
juntas formam aquilo que, no Direito, se denomina direito público subjetivo. Para compartilhados, com o
exemplificarmos esta discussão, conforme o fez Ferraro (2008), poderemos antever objetivo de regular e reger
que uma pessoa, seja ela criança, adolescente, jovem ou adulto de qualquer idade, determinadas matérias
poderá se constituir credora de educação escolar frente ao Estado ou, na mesma e relações em uma
moeda, o Estado poderá ser posto na condição de devedor de educação escolar ou de determinada época e lugar.
Com isso, fica evidente a sua
escolarização e, portanto, compelido à prestação do referido serviço. condição variável e mutável,
Como já dissemos, por incrível que possa parecer, o reconhecimento desse direito refletindo assim os interesses
no campo da Educação somente data da Constituição de 1988. que predominam para o seu
É importante que você compreenda que, em nossa sociedade, a possibilidade estabelecimento.
da garantia de um direito vem geralmente expressa em uma regulamentação
genérica que visa a atender situações existentes em determinada realidade concreta.
Direito público subjetivo
As regulamentações, pactuadas socialmente, são estabelecidas para atender a “aquele pelo qual o titular de
determinados fatos e interesses. Apesar de seu registro, a regulamentação genérica um direito pode exigir direta
não é fixa e objetiva, mas marcada de possibilidades e interpretações que sejam e imediatamente do Estado,
capazes de assegurar determinada conduta em relação a fatos semelhantes (FLACH, o cumprimento de um dever
2009). e de uma obrigação” (CURY,
Então, ficou entendido que, para termos mesmo “direito ao direito”, ele deve estar 2002, p. 21).
explicadinho e registrado na forma de Lei? Ficou? Joia! Mas vamos continuar fazendo
perguntas: o que é uma lei, afinal? O que ela representa?
De acordo com Motta (1997), o conceito de lei é bastante abrangente e refere-se
ao “dever ser”. Uma lei tem por objetivo determinar um dever ou garantir um direito.
Tal garantia ocorre a partir do estabelecimento de regras que são necessárias ao bom
convívio entre pessoas e instituições em determinada sociedade.
Saiba mais
Ainda segundo Motta, as leis também são definidas como normas jurídicas elaboradas e aprovadas
pelo Poder Legislativo para que, posteriormente, possam ser sancionadas pelo Poder Executivo (ou
promulgadas pelo Legislativo).
Só que não estamos aqui para falar de quaisquer leis, mas sim das leis e legislações
educacionais. Conforme nos explica Martins (2001), a palavra legislação deriva do
latim legislatio, que quer dizer, literalmente, ato de legislar, isto é, o direito de fazer,
preceituar ou decretar leis. A legislação é, pois, o ato de estabelecer leis através do
poder legislativo. E a legislação educacional possui duas naturezas: uma reguladora
e uma regulamentadora. Dizemos que a legislação é reguladora quando se manifesta
através de leis, sejam federais, estaduais ou municipais. As normas constitucionais que
tratam da educação são as fontes primárias da regulação e organização da educação
nacional, pois, por elas, definem-se as competências constitucionais e atribuições
administrativas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Abaixo
das normas constitucionais, temos as leis federais, ordinárias ou complementares,
que regulam o sistema nacional de educação. A legislação reguladora estabelece,
pois, a regra geral, a norma jurídica fundamental. Daí o processo regulatório voltar-se
sempre aos princípios gerais e à disposição da educação como direito, seja social ou
público subjetivo. A legislação regulamentadora, ao contrário da legislação reguladora,
não é descritiva, mas prescritiva; volta-se à própria práxis da educação. Os decretos
presidenciais, as portarias ministeriais e interministeriais, as resoluções e pareceres de
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Jorc Navarro
o Conselho Nacional da Educação ou o
Fundo de Desenvolvimento da Educação,
definem como serão executadas as regras
jurídicas ou as disposições legais contidas
no processo de regulação da educação
nacional. A regulamentação não cria direito
porque se limita a instituir normas sobre a
execução da lei, tomando as providências
indispensáveis para o funcionamento dos
serviços educacionais.
E, mesmo com existência das regula-
Figura 1.3: Será que o que está escrito nos assegura a execução de um direito? mentações, não há garantia de que aquilo
que está escrito seja realmente efetivado.
Por isso, não basta existir uma previsão escrita do direito à Educação. O que fazer
Mandado de segurança então, como gestores e cidadãos?
Estabelecido no artigo 5º, Como nos diz Romualdo Portela (2005), a declaração Ação civil pública
incisos LXIX, LXX da CF de 1988. do direito à educação já aparecia na Constituição Prevista no artigo 129º,
Segundo a Lei Federal Brasileira
nº 12.016, de 7 de agosto de
Imperial e, excetuando-se sua omissão na CF de 1891, inciso III, da CF de 1988, ao
2009, já no seu art. 1.º, informa permaneceu nas demais, pelo menos no que se refere estabelecer as funções do
Ministério Público: “São
que “Conceder-se-á mandado de à gratuidade, ainda que com nuanças diferenciadas. funções institucionais do
segurança para proteger direito Portela qualifica como inovadores os mecanismos que Ministério Público: (...)
líquido e certo, não amparado por garantem de forma legítima, na atual Constituição de III - promover o inquérito
habeas corpus ou habeas data, 1988, o cumprimento desse direito, tais como, inclusive, civil e a ação civil pública,
sempre que, ilegalmente ou com
abuso de poder, qualquer pessoa
mandados de segurança coletivos, mandado de injunção para a proteção do
física ou jurídica sofrer violação e a ação civil pública. Longe de serem assunto apenas para patrimônio público e social,
do meio ambiente e de
ou houver justo receio de sofrê-la departamentos jurídicos e advogados, esses conceitos são outros interesses difusos e
por parte de autoridade, seja de importantíssimos para a cidadania de qualquer pessoa, coletivos”. É o instrumento
que categoria for e sejam quais ainda mais alguém que esteja à frente de um ambiente processual de que podem
forem as funções que exerça”. escolar. Por isso, familiarize-se com eles, pois pode ser se valer o Ministério
Mandado de injunção
que, algum dia, você precise lançar mão de algum deles Público e outras entidades
Previsto no artigo 5º, inciso LXXI para fazer valer um direito seu ou dos seus colaboradores legitimadas para a defesa de
interesses difusos, coletivos e
da Constituição do Brasil de e estudantes! individuais homogêneos.
1988 e na Lei nº 8.038/90, no seu
artigo 24º, é um dos remédios-
garantias constitucionais à
Chuck
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Mas não estamos aqui para traçar um olhar meramente acadêmico sobre a
educação, no qual se contrapõem direitos e direitos (e formas) de se cobrar esses
direitos, mas onde nada efetivamente sai do papel. Bastam as leis? Bastam as maneiras
de cobrar a execução das leis? Não... infelizmente, mas realisticamente, não.
Para que se assegurem escolas para todos, há também que se garantir os
recursos materiais e imateriais necessários na sua concretização. Não falamos
somente da existência de prédios escolares, pois tratamos aqui da necessidade de os
indivíduos terem acesso à escola, permanecerem nela e, acima de tudo, adquirirem e
desenvolverem conhecimentos.
Em Comentários à Constituição Brasileira de 1946, o jurista brasileiro Pontes de
Miranda (1953, p. 157) assim se expressava:
Saiba mais
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Adrian Kluthe
que se desenvolve de forma
independente de todo
e qualquer princípio
ou crença religiosa.
Como se vê, o acesso à educação era restrito às elites e à catequese dos povos
indígenas. A chegada da família real portuguesa em terras brasileiras, em 1808, não
deu conta de modificar o acesso à educação no Brasil, ainda que D. João VI tenha
criado várias instituições de ensino para atender às novas demandas da Colônia.
Nossa jornada temporal partirá, mais precisamente, do processo constituinte
de 1823, que deu origem à primeira Constituição Brasileira, datada de 1824. A Carta
aprovada apresenta no artigo 179º, inciso XXXII: “A Instrucção primária, e gratuita a
todos os Cidadãos”. Nessa mesma década, a Lei de 15 de outubro de 1827 regulava
a criação das escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais
populosos do Império.
Como sabemos, duas questões se apresentam ao refletirmos sobre esse momento
histórico: a primeira se refere ao sentido atribuído ao conceito de “cidadania” que,
naquele contexto, não era considerado universalmente. A segunda questão, que
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poderá ser comprovada poucos anos mais tarde, com o Ato Adicional de 1834, fica
evidente ao se transpor o dever da garantia da instrução primária das cidades, vilas
e lugares mais populosos às províncias em geral, pois as mesmas eram carentes de
recursos para viabilizar esse amplo atendimento. Desta forma, se, por um lado, a
obrigação da oferta de instrução primária estava assegurada, na letra de lei, de forma
a disseminá-la em alguns lugares tomados como mais importantes (cidades, vilas e
locais populosos), a mudança no escopo da descentralização de tal obrigatoriedade,
sob a responsabilidade das províncias, tornou seu cumprimento restrito a apenas
uma intenção.
A educação elementar ficava atrelada aos interesses dos governantes, embora
aparecesse como um direito. Como tais interesses não priorizavam a educação, ela
não se consolidou efetivamente como direito. Como você pode perceber, à população
em geral o que se garantia era, no máximo, a leitura e a escrita elementar. A ampliação
do acesso à educação no Império, assim como na Colônia, era privilégio das elites.
Ferraro (1985), ao examinar o censo realizado em 1872, observou que o Brasil
aparecia como um dos países com maiores taxas de analfabetismo, sendo 82% de
analfabetos entre as pessoas de cinco anos ou mais e, aproximadamente, 78% entre
as pessoas de dez anos ou mais. Considerando-se tal situação ao longo da história da
educação brasileira, podemos notar que, mesmo com a mudança do regime imperial
para o republicano, não haveria garantia de efetivo atendimento de instrução primária
para todos. Ao contrário, a primeira Constituição da República se apresentará omissa
em relação à instrução primária e à gratuidade da oferta de ensino primário para toda
a população. Além disso, manterá a descentralização da educação popular a cargo das
províncias, a qual, por sua vez, não diminuiria as marcas do analfabetismo. Percebe
como esse distanciamento em relação à universalização da educação primária se faz
presente mesmo nos momentos onde os processos e sistemas políticos pareciam
apontar transformações?
Para piorar ainda mais esta condição excludente, a Constituição Republicana de
1891 apartou os analfabetos do processo eleitoral, ao retirar destes o direito ao voto.
Outro aspecto importante que perpassa a questão da oferta educacional na
primeira Constituição da República, e mesmo antes, através do Manifesto Republicano
de 1870, ainda que timidamente em ambos, faz referência à autonomia das províncias
e ao reconhecimento da liberdade de ensino. Sobre este último aspecto, cabe ressaltar
que nem a primeira Constituição Republicana nem as que se seguiram apresentam
qualquer tipo de contestação.
Explicativo
O Manifesto Republicano, na História do Brasil, foi uma declaração publicada pelos membros
dissidentes do Partido Liberal (luzias), liderados por Quintino Bocaiúva e Joaquim Saldanha Marinho
(Mestre maçônico do Grande Oriente). Ambos haviam decidido formar um Clube Republicano no
Rio de Janeiro, com o ideário de derrubada da Monarquia e o estabelecimento da República no
país. Veio a público no Rio de Janeiro pelo primeiro número do periódico carioca “A República”.
(Fonte: Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_Republicano, acesso em 10/5/2010.)
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Rodolfo Clix
Sanja Gjenero
Figuras 1.8 e 1.9: Brasil – um país, vários cenários, transformações do campo à cidade.
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Explicativo
A construção de um PNE, apontada pela Constituição de 1934, considerada progressista, não se
consolidou na prática. O Plano formulado nessa época não chegou, de fato, a vigorar. Em 1932,
um grupo de educadores lançou um manifesto ao povo e ao governo, que ficou conhecido como
“Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”. Propunham a reconstrução educacional, “de
grande alcance e de vastas proporções... um plano com sentido unitário e de bases científicas...”.
O documento teve grande repercussão e motivou uma campanha que resultou na inclusão de
um artigo específico na Constituição Brasileira de 1934. No art. 150º, a CF também declarava ser
competência da União “fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos
os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução em todo o
território do País”. Todas as constituições posteriores, com exceção da Carta de 37, incorporaram,
implícita ou explicitamente, a ideia de um PNE. Havia, subjacente, o consenso de que o plano
devia ser fixado por lei. A concepção prosperou e nunca mais foi inteiramente abandonada. O
primeiro Plano Nacional de Educação surgiu em 1962, elaborado já na vigência da primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024, de 1961. Ele não foi proposto na forma de
um projeto de lei, mas apenas como uma iniciativa do Ministério da Educação e Cultura, iniciativa
essa aprovada pelo então Conselho Federal de Educação. Com a Constituição Federal de 1988,
cinquenta anos após a primeira tentativa oficial, ressurgiu a ideia de um plano nacional de longo
prazo, com força de lei, capaz de conferir estabilidade às iniciativas governamentais na área de
educação. O art. 214º contempla esta obrigatoriedade. Por outro lado, a Lei nº 9.394, de 1996,
que “estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional”, determina nos artigos 9º e 87º,
respectivamente, que cabe à União a elaboração do Plano, em colaboração com os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, e institui a Década da Educação. Estabelece ainda que a União
encaminhe o Plano ao Congresso Nacional, um ano após a publicação da citada lei, com diretrizes
e metas para os dez anos posteriores, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação
para Todos.
(Fonte: Adaptado de http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf.)
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anteriores. Situada em
contexto democrático,
recebeu novos títulos, onde
encontramos: príncipios
fundamentais, dos direitos
e garantias fundamentais,
com uma visão moderna
e muito abrangente dos
direitos individuais e
coletivos, além dos direitos
sociais dos trabalhadores, da
nacionalidade dos direitos
políticos e dos partidos,
entre outros. Passou a
ser conhecida como a
“Constituição Cidadã”, pois
Figura 1.11: Carta Magna inglesa, datada de 1215.
é voltada plenamente para a
efetivação da realização
da cidadania.
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Rodolfo Clix
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Atividade
Aproveitando as informações e reflexões propostas ao longo desta aula, gostaríamos que você
relacionasse brevemente o que o jurista Pontes de Miranda já apontara, no início deste texto, em
seus comentários sobre a CF de 1946 como resolução para o problema da educação em nosso país
e a importância da legislação educacional para o dia a dia de sua prática gestora. É muito comum
escutarmos, em nosso país, alguém dizer “não adianta haver leis...”. Por outro lado, também
ouvimos os que dizem “precisa haver regras claras...”. Como isso tem demarcado a sua prática
gestora?
COMENTÁRIO
Nesta resposta, esperamos que você pense sobre o contexto vivido em nosso país até meados do
século passado, diferenciando-o do momento atual. Esta base de pensamento permitirá que você
reflita que ainda estávamos muito longe, mais do que hoje, da possibilidade de acesso universal
à escolarização básica. Embora a legislação apontasse para a possibilidade de melhorias e ganhos
sociais, principalmente para os menos favorecidos, ela ainda era tomada como “letra morta”.
Na atualidade, em momento no qual o exercício da democracia se faz de forma mais ampla e a
liberdade na busca dos direitos se amplia, as leis e demais regulamentações podem servir como
referenciais para validar a conquista e o reconhecimento de alguns desses direitos. Portanto, se é
verdade que a legislação por si só não garante a conquista de um direito, a ausência do referencial
e do reconhecimento legal pode atrapalhar ainda mais esta conquista. Deste modo, o melhor
cenário é aquele que compreende a existência dos direitos e a garantia das condições para que
estes sejam conquistados e efetivados.
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Stefan
Como você pode perceber, a luta em prol da Constituição Cidadã dava voz a
uma esfera pública que surgia de matriz democrática. Tal matriz dedicava-se tanto
a combater o poder governamental antidemocrático como a ter possibilidade de
reivindicar diferentes facetas da democratização, inclusive pelo viés do Estado que,
conjugando democracia e justiça social traçava um novo desenho para a trajetória
política do Brasil. Trajetória esta em que a participação popular ganhava o cenário das
discussões políticas, deixando para trás a ideia de que participar de discussões e de
decisões políticas era privilégio de alguns iluminados. O período pós-ditatorial trazia
para o cenário social e político brasileiro as múltiplas dimensões do “ser político”
(CURY, 2008).
Feita essa breve discussão sobre os ambientes definidos pelos textos constitucionais
brasileiros, nosso foco na próxima aula estará direcionado ao corpo das leis
específicas do campo educativo, que serviram como norteadoras na organização das
responsabilidades e direitos para oferta e atendimento educacional aos cidadãos e
que também permitiram o funcionamento colaborativo dos sistemas educacionais
implantados.
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Resumindo
Ao longo da leitura desta aula, procuramos discutir e refletir com você sobre a legislação
educacional brasileira, passando pelas Constituições de 1824 a 1988. Antes dessa nossa viagem pelo
tempo, situamos o direito à educação no quadro dos direitos fundamentais da pessoa humana
(civis e políticos; sociais, nos quais situa-se a Educação; de fraternidade e de solidariedade, ditos
coletivos; os direitos à democracia, à informação e ao pluralismo) e caracterizamos sua oferta
como um serviço público essencial. Detalhamos também algumas definições importantes, com
a de Lei, de Direito Positivo, de Direito Público Subjetivo e de Legislação Educacional. Procuramos
demonstrar os diferentes matizes e ambientes regulatórios que se configuraram ao longo do
período estudado. Até que chegássemos ao cenário atual, vimos como foram sendo realizadas
as discussões sobre ensino religioso e ensino laico, centralização e descentralização do ensino,
analfabetismo, gratuidade, liberdade e universalização do ensino, assim como sobre a vinculação
legal de receitas para a educação. Alguns marcos, como o Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova e a previsão do Plano Nacional de Educação, foram salientados. Além disso, também
diferenciamos as legislações constitucionais de acordo com o contexto no qual foram efetivadas
(Constituição promulgada ou Carta outorgada). E reforçamos os avanços do cenário e do texto
constitucional de 1988, ao afirmar a educação como direito público subjetivo com a possibilidade
de reivindicação, por meio de garantias legais aos cidadãos, com base em mandados de segurança,
mandados de injunção e ações civis públicas.
Bibliografia consultada
BOAVENTURA, Edivaldo Machado. A educação na Constituinte de 1946: comentários. In:
FÁVERO, Osmar (org.) A educação nas constituintes brasileiras – 1823-1988. Campinas:
Autores Associados, 1996. p. 191-200.
BRASIL. Constituição (1824). Constituicão Politica do Império do Brazil (de 25 de março
de 1824). Brasília, DF, 2003a. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htm>. Acesso em:
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___________. Constituição (1891). Constituição da República dos Estados Unidos do
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Brasil (16 de junho de 1834). Brasilia, DF, 2010. Disponível em: < http://www.planalto.
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____________. Constituição (1937). Constituição dos Estados Unidos do Brasil (de 10 de
novembro de 1937). Brasília, DF, 2003b. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao37.htm>. Acesso em:
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____________. Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil (de 18 de
setembro de 1946). Brasília, DF, 2003c. Disponível em:
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____________. Constituição (1967). Constituição da República Federativa do Brasil (24
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Aula 2
Aspectos legais e contextos reais na
educação brasileira
Meta
Descrever as principais legislações educacionais brasileiras e situá-las
historicamente, relacionando-as com as realidades de atuação nos sistemas de
ensino.
Objetivos
Após o estudo desta aula, você deverá ser capaz de:
Eva Schuster
Albert Lazcano
Figura 2.2: Nas bases de uma construção, encontramos seu alicerce.
Saiba mais
Manuel Bergström Lourenço Filho é reconhecidamente um
dos grandes educadores brasileiros. Nasceu em Porto Ferreira
(SP) em 1897. Seguiu a carreira do magistério, em São Paulo,
depois no Rio de Janeiro. Entre 1922 e 1923, foi responsável pela
reforma no ensino público no Ceará. Na década de 30, voltou
ao Rio de Janeiro, exercendo funções de chefe de gabinete do
ministro da Educação Francisco Campos. No tempo da gestão
de Anísio Teixeira na Secretaria de Educação do Distrito Federal,
dirigiu o Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Em 1935,
foi nomeado diretor e professor de psicologia educacional
da Escola de Educação da Universidade do Distrito Federal.
Posteriormente, foi diretor geral do Ensino Público em São
Paulo, membro do Conselho Nacional de Educação em 1937
e diretor geral do Departamento Nacional de Educação. Em
1938, organizou o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos Figura 2.3: Foto do educador
que, em 1944, lançou a Revista Brasileira de Estudos Lourenço Filho na cerimônia de
Pedagógicos. Publicou, entre outros trabalhos, Introdução outorga do título de Professor
ao estudo da Escola: Novas tendências da educação brasileira Emérito da Universidade do
(1940). Faleceu em 1970. Brasil, atual UFRJ. (Acervo de Ruy
Lourenço Filho)
Fonte: http://www.publicacoes.inep.gov.br/arquivos/
biobibliografia_v1_204.pdf
Esta aula situa-se num movimento mais geral da educação brasileira, do qual
você, com certeza, tem participado. A evolução deste cenário também faz parte de
sua história de vida, e acreditamos que ainda há muito o que fazer como atores, que
somos, desta peça. Que tal, então, se nosso primeiro ensaio desse roteiro educativo
se der por meio de uma atividade no mesmo espírito da Máquina do Tempo de nossa
Aula 1?
Atividade 1
Na década de 1970, milhares de brasileiros se divertiam assistindo às aventuras de dois
pesquisadores norte-americanos perdidos pela história, depois de uma viagem desastrada por um
túnel do tempo como esse de nossa figura. Normalmente, os episódios deste seriado (chamado
“Túnel do tempo”) faziam com que os dois homens conhecessem personagens famosos ou
participassem de eventos históricos importantes.
Figura 2.4: As leis da educação nacional podem ser vistas sob diferentes ângulos.
Vamos chamar a primeira atividade desta Aula 2 de “túnel do tempo”, mas sem que seja preciso
viajar para nenhuma data grandiosa. Procure passear pelas entranhas da sua memória e
relembrar a evolução de sua vida estudantil. Nessas lembranças, tente recuperar algo referente
ao funcionamento da(s) escola(s) em que estudou. Depois de recuperar um pouco daquela época,
tente reconhecer o que, na prática, identificava a organização do currículo e as fases do ensino
escolar. Em relação à legislação vigente no período lembrado, tente identificá-la. E o ano letivo,
como era estruturado? Com se davam os processos de avaliação? Agora, que você já fez essa
viagem, registre essas lembranças. Só tome cuidado com uma coisa: não fique preso por lá!
Agora, convidamos você a revisitar conosco a evolução das leis maiores da educação
nacional, considerando seus percursos marcados de avanços e retrocessos.
Figura 2.5: Alunos na aula de forja do Curso Industrial Básico; década de 1950.
Acervo da Seção de Documentação/Setor de Arquivo do CEFET-RJ.
Fonte: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/suavoz/0132.html, acesso em
10/05/2010.
A Lei nº 4.024 foi promulgada treze anos após a instalação dos trabalhos em
seu anteprojeto. Tempos depois, mesmo com o surgimento de um novo período
ditatorial no país (1964-1985), não foi criada uma nova Lei de Diretrizes e Bases. A
opção dos governos militares foi implementar reformas com leis específicas que
tratavam da organização do ensino. Com isso, durante todo o período militar, vigorou
uma lei (LDB) com as diretrizes gerais da educação nacional, incluindo alterações de
dispositivos referentes ao Ensino Superior (Lei nº 5.540/68) e normatizações referentes
aos ensinos primário e médio, que passam a se denominar primeiro e segundo graus a
partir da Lei nº 5.692/71. Portanto, ao contrário do que muitos podem pensar, embora
tenham reconfigurado em vários aspectos a Lei nº 4024/61, as duas legislações citadas,
referentes ao período de ditadura militar, não devem ser tomadas como novas Leis de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (SAVIANI, 1997).
Em relação à Lei nº 4.024/61, Romanelli (1997) destaca que os fins da educação
propostos pela LDB são genéricos e, sendo assim, não cabem quaisquer restrições
ao que a referida lei estabelece. Manteve-se a estrutura tradicional do ensino, com
a mesma organização em pré-primário – escolas maternais e de jardim de infância;
primário de 4 anos, podendo-se acrescentar mais 2 anos com programas de artes;
médio subdividido em: ginasial – 4 anos – e colegial – 3 anos, compreendendo o ensino
secundário, o técnico (industrial, agrícola, comercial) e o de formação de professores;
ensino superior – com a mesma estrutura apresentada pelas legislações anteriores.
Havia também a possibilidade de que outros cursos técnicos de nível médio,
não especificados na lei, fossem oferecidos, desde que possuíssem regulamentação
pelos diferentes sistemas de ensino. Para o ingresso no ensino médio (ginasial),
havia a necessidade de aprovação em exame de admissão, voltado a demonstrar um
aproveitamento considerado como satisfatório em relação à educação primária. Este
dispositivo foi superado, pois o Conselho Federal de Educação (CFE) entendeu que o
diploma de ensino primário seria o suficiente para tal comprovação. Como você deve
estar percebendo, a primeira LDB não registra mudanças substanciais no que se refere Sistemas de ensino
à organização dos sistemas de ensino. Em relação à educação,
Em relação ao currículo, podemos notar que ele não se estrutura de forma rígida “sistema” apresenta,
para todo o território brasileiro. Este aspecto representa um avanço, a se considerar segundo Dermeval Saviani
(1999), acepções diversas:
a diversidade do Brasil e, também, as especificidades locais. No entanto, esta
parte “de um conjunto de
descentralização da educação, inclusive com a possibilidade de os sistemas de ensino atividades que se cumprem
e seus estabelecimentos incluírem disciplinas consideradas optativas ao currículo tendo em vista determinada
mínimo proposto pelo então CFE, foi um processo tímido que, na prática, não teve finalidade, o que implica
sua efetivação garantida (ROMANELLI, 1997). O que se viu foi, na verdade, as escolas que as referidas atividades
organizando seus currículos de acordo com suas possibilidades, o que, na maioria das são organizadas segundo
normas que decorrem dos
vezes, significava a manutenção do currículo mínimo já existente.
valores que estão na base
No caso do ensino técnico, uma observação importante diz respeito à obrigação da finalidade preconizada.
prevista para que as empresas industriais e comerciais ministrassem, em cooperação, Assim, um sistema implica
aprendizagem de ofícios e técnicas de trabalho aos seus empregados menores de organização sob normas
idade, dentro das normas estabelecidas pelos diferentes sistemas de ensino. próprias (o que lhe confere
um elevado grau de
autonomia) e comuns (isto é,
que obrigam a todos os seus
integrantes)” (SAVIANI, 1999,
p. 122). A ideia de sistema se
faz presente ao se tratar da
esfera pública. De acordo
com esse aspecto, as escolas
particulares pertencem a um
determinado sistema que se
subordina ao Estado, ou seja,
a um sistema público
de ensino.
Não pretendemos que você decore estas leis ou que vire um jurista, mas vale
a pena perceber as engrenagens que passaram a movimentar de forma autoritária
os sistemas educacionais do país e que influenciaram profundamente uma geração
inteira de brasileiros. Interessa-nos aprofundar um pouco a discussão sobre a Lei nº
5.692/71, tendo em vista os impactos que ela causou sobre o que hoje chamamos de
educação básica.
A Lei nº 5.692/71, conforme nos aponta Motta (1997), revogou quase toda a LDB
de 1961. Reformou o ensino primário e o médio, sendo sancionada pelo Presidente da
República Emílio G. Médici em 11 de agosto de 1971. Depois de distribuída em 88 artigos,
não sofreu, por parte do Poder Executivo, um veto sequer, tendo sido sancionada por
inteiro, demonstrando o atrelamento entre poderes, com a subordinação do Legislativo
ao Executivo. O planejamento educacional, orientado pelo poder centralizado,
também se atrelou ao ideário desenvolvimentista, concretizado nos Planos Nacionais
de Desenvolvimento (PNDs). Sob este enfoque, algumas medidas foram marcantes.
Entre elas, elencamos: um pequeno aumento de recursos destinados para a Educação;
o incentivo maior ao crescimento de escolas particulares de primeiro grau e ensino
superior; a redução orientada da demanda por meio do incentivo aos cursos de curta
duração e da profissionalização efetiva já no 2º grau; a reorganização da rede pública
de ensino e sua modernização, visando atender, em parte, às suas necessidades de
reaparelhamento e, também, às demandas por recursos humanos mais eficientes; a
continuidade da repressão e controle sobre os movimentos estudantis e, por último,
a busca insistente em transformar todo o ensino de segundo grau em curso de
profissionalização, para a formação de mão de obra, com o argumento de acolher a
necessidade de recursos humanos requerida pelos PNDs.
Como você deve saber, o processo de construção da LDB de 1996 começou quase
dez anos antes. Foi na VI Conferência Brasileira de Educação, realizada em 1986 na
cidade de Goiânia, que ocorreu uma das primeiras mobilizações pró-LDB. Com a
aprovação da “Carta de Goiânia”, os educadores ali reunidos apresentaram propostas
para o capítulo constitucional que se referia à Educação. Nesse processo, segundo
Saviani (1997, p. 35), era definido “como competência da União legislar sobre diretrizes
e bases da educação nacional”.
Em continuidade, no ano de 1987, inicia-se o movimento com vistas à elaboração
das novas diretrizes e bases da educação. O primeiro projeto de LDB foi apresentado à
Câmara dos Deputados em dezembro de 1988. A partir daí e durante 8 anos, o projeto
tramitou sofrendo duas modificações substantivas: substitutivo Jorge Hage ao projeto
aprovado na Comissão de Educação da Câmara, em 1990; projeto de Lei do Senado, de
autoria de Darcy Ribeiro, em 1992. Este último, com outras modificações, recebe força
de lei em 20 de dezembro de 1996.
Saiba mais
Jorge Hage Sobrinho, nascido em Itabuna em 5 de maio
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jorge_Hage.
jpg, acesso em 11/05/2010.
Saiba mais
A carreira de Darcy Ribeiro começou pela Antropologia,
elaborando trabalhos de impacto mundial. Mais tarde,
ingressou na área educacional, atingindo rapidamente
o posto de Ministro da Educação, no Gabinete Hermes
Lima. Estava ainda na casa dos 30 anos. Sua produção
na área da educação e da cultura deixou marcas no
país: criou universidades, centros culturais, uma
nova proposta educativa com os Centros Integrados
de Educação Pública (Cieps), além de deixar inúmeras
obras escritas em várias línguas. Sua trajetória sempre
esteve próxima às lideranças dos governos. A intensa Figura 2.10: O antropólogo e senador
produção de livros o transformou num dos imortais da República Darcy Ribeiro (à direita)
da Academia Brasileira de Letras (ABL). participa, juntamente com índios guarani,
da mesa-redonda ‘Intelectuais Latinos:
(Texto adaptado de http://www.fundar.org.br/, acesso influência na América Latina e no Brasil’.
em 11/05/2010.)
Fonte: http://www.imagem.ufrj.br/index.
php?acao=detalhar_imagem&id_
img=4321, acesso em 11/05/2010.
Pelo que você pôde observar, houve encaminhamentos distintos para os rumos
do projeto original da LDB de 1996. As discussões que se encontravam em estágio
avançado na Câmara dos Deputados foram transpostas quando o Senador Darcy
Ribeiro, em 1992, apresentou um projeto pelo Senado Federal. Este projeto, portanto,
descredencia o anteriormente em tramitação. Saviani caracterizou esta conduta
do Senador Darcy Ribeiro como “açodada e intempestiva”, pois “se traduziu no
aparecimento instantâneo do projeto urdido nos bastidores com o auxílio de um
pequeno número de técnicos ligados ao governo e à margem de qualquer discussão”
(SAVIANI, 1997, p. 196).
Passados, desde o começo da tramitação do primeiro projeto, quase dez anos de
muitas idas e vindas, foi nesse contexto que, em 1996, o Senado aprovou a então nova
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, também conhecida
como “lei Darcy Ribeiro”. Assim, novos parâmetros, princípios e diretrizes para a
educação nacional estavam se constituindo.
Saiba mais
O professor Luiz Antônio Cunha é mineiro de
Rafael Moura/UFRJ
nascimento, paulista de criação e carioca por adoção.
É sociólogo, formado em 1967, e dedicou-se a ensinar
e pesquisar temas educacionais desde o início de
sua carreira. Para lecionar Sociologia da Educação,
pediu transferência do Departamento de Sociologia,
onde atuava, para o Departamento de Educação da
PUC-Rio em 1971. Aprofundando-se no estudo desses
temas, fez mestrado e doutorado em Educação. Atua,
desde 1997, como professor titular da UFRJ. Possui
vasta produção no campo da história da educação
brasileira, sendo uma das referências indispensáveis
para seu estudo.
(Texto adaptado de http://www.luizantonio.cunha.
Figura 2.11: Luis Antônio Cunha, da UFRJ
nom.br/curriculo.htm, acesso em 11/05/2010.)
Fonte: http://www.agencia.fapesp.br/
materia/1970/entrevistas/existem-vagas.
htm, acesso em 12/05/2010.
Atividade 2
Procure apresentar uma situação vivida por você ou por sua instituição na qual uma ou mais
mudanças na legislação educacional atual, de preferência na LDB, tenha(m) impactado de
forma efetiva no cotidiano vivido. Justifique sua resposta, indicando o(s) impacto(s) ocorrido(s)
e as adaptações e soluções tomadas para que a dinâmica dos processos educacionais não fosse
prejudicada.
RESPOSTA COMENTADA
Poderíamos tratar de vários aspectos nesta resposta. Aguns deles devem ter causado mudanças
imediatas nas rotinas dos processos pedagógicos e estruturas organizacionais que influenciam na
dinâmica de ensino e aprendizagem das instituições escolares. Mesmo estes podem e, de certa
forma, devem estar ainda em processo de consolidação. Um exemplo é o da recuperação de
estudos (recuperação paralela). Outro é o da adequação dos 200 dias letivos. Mais recentemente,
vimos uma mudança no quantitativo de anos obrigatórios para o ensino fundamental. Também
há impactos que surgem das reivindicações da sociedade civil, por meio de medidas que buscam
ampliar as condições de inclusão nas escolas. Estas e outras questões causaram adaptações e
propiciaram intensos debates entre educadores, estudantes e demais sujeitos da sociedade.
Toda uma seção da LDB sobre Educação Profissional Técnica de Nível Médio foi
incluída com a Lei nº 11.741/2008, demonstrando a incipiência do texto original em
relação a esta temática e modalidade de ensino e sua relação com a Educação de Jovens
e Adultos (EJA). Com base na mesma lei, todo o capítulo da Educação Profissional e
Tecnológica sofreu mudanças em 2008.
Em relação à gestão democrática, a LDB nº 9394/96 não prevê, por parte da escola
básica, a eleição dos seus dirigentes e, na educação superior, não dirime uma discussão
recorrente nas instituições públicas universitárias, ao estabelecer que docentes,
técnicos administrativos e alunos devem escolher os dirigentes institucionais e a
representação em conselhos e comissões com paridades muito diferenciadas.
Mais especificamente, no que diz respeito aos profissionais da educação escolar
básica, um conjunto de artigos e itens da LDB de 1996 foram introduzidos ou ajustados,
delinenado novos perfis de formação e de reconhecimento profissional (Leis nº 11.031
de 2006, nº 12.014 e nº 12.056 de 2009).
Outra questão, muito discutida pelos movimentos de inclusão que emergem da
sociedade civil, incide na denominada educação especial. A Lei Darcy Ribeiro não
contemplou o dever do Estado em garantir a oferta obrigatória e gratuita e, sim,
somente a oferta de serviços de educação especial, inclusive por meio de convênios
com ONGs - organizações não-governamentais.
No que diz respeito à Educação Básica, somente há pouco tempo (por meio da Lei
nº 12.061/2009), sua universalização foi garantida, assim como sua gratuidade como
dever do Estado (União e Estados). Neste caso, com bastante atraso.
Na Educação Infantil, ficam coibidas possíveis práticas avaliadoras abusivas e
absurdas que retinham as crianças não alfabetizadas neste período de pré-escolar. O
atendimento gratuito, que não figurava na CF de 1988 e nem na Lei n° 8.069, de 1990,
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é outro avanço aventado na LDB, assim
como a incorporação da Educação Infantil na então criada Educação Básica Nacional.
A Lei deu um dimensionamento novo à importância do processo de avaliação
nacional de rendimento escolar nos diferentes níveis de ensino, ao assegurar o papel da
União para consolidá-lo, embora haja críticas de estudiosos e de outros componentes dos
sistemas educativos sobre a forma centralizada como estas avaliações vêm ocorrendo.
Em relação ao Ensino Médio, um avanço interessante se reflete na inserção do
oferecimento de uma segunda língua estrangeira optativa à comunidade escolar que
se soma a outra já oferecida obrigatoriamente.
Embora não tenha sido o primeiro momento no qual se propôs a criação de
um Plano de caráter nacional para a Educação, esta LDB, em consonância com o
período de estabilidade democrática vivido em nosso país, aponta a importância de
sua proposição, ao estabelecer a competência da União na elaboração do Plano, em
colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. O contexto no qual se
institui esta medida também institui a chamada Década da Educação. Ao chegarmos
ao final da vigência deste Plano (2001-2011), um novo deve ser estabelecido, com novas
metas e perspectivas para o atendimento das questões educacionais persistentes e
emergentes.
Multimídia
Você já conhece todas as alterações propostas à LDB nos últimos anos? E como se estruturam os
sistemas de ensino?
Para ficar conhecendo, acesse a LDB atualizada no site http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/
l9394.htm
Tenha uma boa leitura!
Resumindo
Procuramos, nesta aula, de forma leve e exata, que você fizesse uma pequena viagem pelas
veredas estabelecidas pelas Leis Magnas que se voltam especificamente para a educação brasileira.
Noções como sistemas de ensino, diretrizes, bases, suplência, entre outras, foram associadas
aos momentos de instalação das LDBs e de suas reformas. Sem perdermos a perspectiva dos
direitos, historiamos a evolução dos sistemas de ensino, seja em períodos democráticos, seja
em momentos autocráticos. Caracterizamos a permanência de alguns apectos na educação
brasileira, e um deles mereceu destaque: a seletividade. Sem nos pretendermos à exaustão,
também diferenciamos a organização da educação nacional em cada uma das LDBs, assim como
procuramos demonstrar avanços e necessidades de mudanças na LDB que ora vige. Como tudo
isto pertence a um contexto, enfatizamos que as dinâmicas sociais, em cada momento, trazem
fortes influências às leis aprovadas, e estas, por sua vez, também influenciam as transformações e
tendências socioculturais de nossa população e dos sistemas educacionais existentes.
Bibliografia consultada
BRASIL. Constituições (1934, 1937, 1946, 1967, 1988). Disponíveis em: < http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/ >. Acesso em 15 fev.2010.
____________. Decretos-Lei nº 5.379/67; 71.737/73. Disponíveis em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ > Acesso em: 6 de março de 2010.
____________. Decreto-Lei nº 62.484, de 29 de março de 1968. Aprova o Estatuto da
Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 de abril. 1968. Disponível em:
<http://www.prolei.inep.gov.br/exibir.do;jsessionid=46BC35D1C214039237E07FD7967EB
EA6?URI=http%3A%2F%2Fwww.ufsm.br%2Fcpd%2Finep%2Fprolei%2FDocumento%
2F-5943483608400574362> Acesso em: 6 de março de 2010.
_____________. Leis nº. 4.024/61; 4.464/64; 5.540/68; 7.044/82; 8.069/90; 9.394/96;
10.172/2001; 10.793/03; 11.274/06; 11.301/06; 11.525/07; 11.645/08; 11.684/08; 11.700/08;
11.741/08; 11.769/08; 12.014/09; 12.056/09; 12.061/09. Disponíveis em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/>. Acesso em: 6 de março de. 2010
Aula 3
Alguns marcos regulatórios – os Poderes Executivo,
Legislativo, Judiciário e a gestão educacional
Meta
Apresentar o conceito de marco regulatório e distinguir os papéis dos diferentes
poderes instituídos na regulação, no acompanhamento e na execução das ações
necessárias ao atendimento das demandas educacionais.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
Requisitos
Para o máximo aproveitamento desta aula, é aconselhável que você tenha em mão a
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) atualizada, além de algum acesso à internet. A rede pode
ajudá-lo a conhecer melhor a atuação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
além de suas contribuições para a educação. Para isso, vale uma viagem pelos sites
do Governo Federal. Será muito útil também que reveja, na aula passada, o item em
que falamos sobre a alteração no número de dias letivos, ocorrida por força da lei nº
9.394/96.
Enquanto os homens
Exercem seus podres
poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo...
(Podres Poderes, Caetano Veloso)
Saiba mais
Saiba mais
A implementação e a eficiência dos marcos regulatórios ficam, muitas vezes, por conta das Agências
Reguladoras. Estas são criadas a partir dos processos de privatização das estatais responsáveis pela
energia elétrica, telefonia, gás, transporte público etc. Os debates sobre a regulação são intensos
e envolvem os poderes constituídos, empresários, usuários, dentre outros setores da sociedade.
Na verdade, a regulação tem o papel ativo de produzir e gerir as regras de um jogo (ou de jogos)
que acontece(m) na sociedade.
A criação da Associação Brasileira de Agências de Regulação (ABAR) e os debates de que falamos
têm como foco temático o papel dessas agências como entes do Estado e as relações entre as
empresas prestadoras de serviços públicos, seus usuários e a qualidade da oferta dos serviços
prestados. Cabe salientar que essas agências não se inseriram no âmbito da Educação.
Mais detalhes em http://www.abar.org.br/
Mas veja: se, por um lado, nas questões de ordem econômica, a regulação é
necessária às relações mercantis, por outro, ainda que as relações mercantis também
existam quando nos referimos à oferta privada de Educação, tal aspecto ainda não
assumiu patamares maiores, isto é, ainda que a expressão “aluno-cliente” seja real
nos meios de oferta privada de ensino, não há agência reguladora para controlar tal
oferta de serviço à sociedade.
Yaroslav B
Na aula passada, usamos como exemplo uma das alterações ocorridas na LDB (lei
nº 9.394/96): a questão relativa aos duzentos dias letivos. Caso não se lembre desse
item, volte e reveja o conteúdo. Note que tal ampliação gerou impactos nas práticas
de educação escolar em vigor desde a LDB antiga, datada de 1961. Naquele momento,
com toda certeza, essa mudança teve um papel significativo na vida dos estudantes,
professores e funcionários da escola. Se você já era gestor nessa época, também deve
se lembrar de como essa alteração teve impacto em sua forma de atuação profissional
à frente da gestão da escola.
Bem, como você sabe, no caminho de ganharem força de lei e de se constituírem
como marcos regulatórios na Educação, todas essas modificações acabam afetando
as responsabilidades dos três poderes. Já no caso de regulamentações que sejam da
competência dos Estados ou municípios, o mesmo ocorre em escala local.
Ao trazer para junto de nossas reflexões e discussões os três poderes e seus papéis,
precisamos ter bem claro que essas instâncias da administração pública não podem
ser idealizadas como entes perfeitos. Na verdade, sua autonomia é uma das chaves
mais importantes do regime democrático, o que nos força à consciência de nosso
papel de cidadãos, no sentido de acompanhar e participar de todas as suas ações.
Sabemos que são várias as formas possíveis de participação política, ainda que
essas também tenham suas limitações. Sabemos que a estrutura administrativa do
país pode até parecer um monólito, algo insondável. Queremos, nesta aula, mostrar Monólito
que nada disso ocorre por acaso ou está ali ocioso, sem uma função específica. A Corpo de rocha de enormes
título de exemplo, observe a complexidade da estrutura desses poderes, que, como já dimensões, geralmente
utilizado para compor um
dissemos, guardam autonomia entre si (exemplos no nível federal).
obelisco. Também se diz que
O conhecimento sobre essas instâncias de poder pode nos ajudar a compreender ter uma postura ou atitude
as decisões e meios pelos quais podemos participar da vida política do país. Isso pode monolítica é se comportar
ser feito inclusive de forma propositiva, por meio de atuações político-partidárias, de forma rígida, indivisível,
sindicais, no movimento estudantil, associações de classe, igrejas, dentre outras inflexível.
tantas. Importante é saber que a sociedade civil organizada pode, por exemplo,
pleitear junto aos parlamentares alterações ou emendas nas legislações que sejam
de interesse geral dos diversos grupos e de acordo com os princípios do exercício da
democracia. O mau uso da gestão dos poderes, no entanto, mesmo em pleno regime
democrático, pode realmente transformá-los em “podres poderes”.
Como você deve estar percebendo, este é um cuidado que precisamos ter: a
aplicação racional e harmônica dos poderes. Ou então, trazendo a questão até onde
nos interessa, o uso dessas instâncias para uma correta regulação da educação
nacional. Note, então, que o exercício de cidadania contido no acompanhamento das
ações dos três poderes instituídos contribui demais para nosso objetivo.
Muito bem: para melhor entender a definição de regulação, é importante que
você saiba que tanto ela quanto a regulamentação visam ao cumprimento de regras
específicas.
Quando falamos da aplicação de uma lei sobre uma situação específica, podemos
entender o uso do termo regulamentação. Tal expressão é considerada como um caso
específico de regulação, já que as regras estão definidas sob a forma de regulamentos
(BARROSO, 2005). Com isso, há uma ação que disciplina uma atividade mediante
a emissão de atos ou comandos normativos. Na regulamentação, sobressai a
função política, no exercício de uma prerrogativa do poder político de impor regras
secundárias, em complemento às normas legais, com o objetivo de explicitá-las e de
dar-lhes execução, sem que possa definir quaisquer interesses públicos específicos
nem, tampouco, criar, modificar ou extinguir direitos subjetivos.
Quando falamos de regulação, embora haja predomínio da função administrativa,
que não decorre, assim, do exercício de uma prerrogativa do poder político, há uma
abertura, pela Lei, de um espaço decisório reservado a uma ponderação politicamente
neutra de interesses concorrentes em conflitos setoriais, potenciais ou efetivos. A
Saiba mais
A base de sustentação dos três poderes se assenta no princípio
da autonomia entre eles. Tal princípio foi imaginado por
Montesquieu (1689-1755) e desenvolvido em sua obra O espírito
das leis. Para Montesquieu, “só o poder freia o poder”.
Charles-Louis de Secondat, ou, como ficou conhecido, Charles
de Montesquieu. Barão de Montesquieu, nascido em 18 de
janeiro de 1689, na França, e falecido em 10 de fevereiro de
1755, foi filósofo, político e escritor. Ganhou fama por sua
Teoria da Separação dos Poderes, atualmente presente em
muitas das modernas constituições pelo mundo. Aristocrata,
teve formação iluminista. Revelou-se um crítico irônico e
severo da decadente monarquia absolutista, assim como do
clero católico. Em 1714, foi admitido no Tribunal Provincial
de Bordéus, que presidiu de 1716 a 1726. Foi responsável por
livros bastante influentes, como O Espírito das leis (1748), sua
obra mais conhecida. Contribuiu ainda para a composição da Figura 3.3: O filósofo
célebre Enciclopédia, junto com Diderot e D’Alembert. francês Montesquieu.
O Poder Legislativo
Como você deve saber, ao Poder Legislativo cabe a criação das leis. No caso do
regime democrático, seu objetivo é a elaboração de normas legais de abrangência
geral ou individual, que são aplicadas à sociedade como um todo. Também é sua
atribuição fiscalizar o Poder Executivo. Em nível nacional, é exercido pelo Congresso
Nacional, composto pela Câmara dos Deputados – onde tem início o trâmite das leis
– e pelo Senado Federal.
CONGRESSO NACIONAL
Mesa Diretora
O Poder Executivo
– Conselho de Governo
– Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
Órgãos de Consulta
– Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
– Conselho Nacional de Política Energética – Conselho da República
– Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte – Conselho de Defesa Nacional
– Advogado Geral da União
– Assessoria Especial do Presidente da Repúlbica
Casa Secretaria- Secretaria Secretaria de Gabinete Gabinete de Secretaria Controladoria Secretaria Secretaria Secretaria Secretaria
Civil Geral de Relações Comunicação Pessoal Segurança de Assuntos Geral da União Especial de Especial Especial de Especial de
Institucionais Social Institucional Estratégicos Política para dos Direitos Política de Portos
as Mulheres Humanos Promoção de
Igualdade Racial
Ministério da Ministério das Ministério Ministério Ministério Ministério Ministério do Ministério do Ministério do Ministério Ministério Ministério
Agricultura, Comunicações das Cidades da Ciência e da Cultura da Defesa Desenvolvimento Desenvolvimento Desenvolvimento da Educaçao dos Esportes da Fazenda
Pecuária e Tecnologia Agrário Indústria e Com. Social e Combate
Abastecimento Exterior à Fome
Ministério da Ministério Ministério Ministério Ministério do Ministério Ministério da Ministério Ministério Ministério Ministério Ministério
Integração da Justiça do Meio de Minas e Planejamento, da Pesca e Previdência das Relações da Saúde dos do Trabalho do Turismo
Nacional Ambiente Energia Orçamento e Aquicultura Social Exteriores Transportes e Emprego
Gestão
Saiba mais
Cabe ressaltar que ao Poder Executivo também é assegurado o direito de criar e propor leis. Entre
essas, estão as famosas medidas provisórias.
O Poder Executivo, assim como o Legislativo, está representado nas três esferas de
governo – federal, estadual e municipal.
Em nível federal, é liderado pelo Presidente da República, que exerce o poder
com o auxílio dos Ministros de Estado. Em caso de necessidade ou de ausência do
Presidente, este pode ser substituído pelo Vice-Presidente. No entanto, caso ambos
estejam impossibilitados de exercê-lo, essa atribuição passa a ser do Presidente da
Câmara dos Deputados.
O Poder Judiciário
Justiça Estadual Justiça Federal Justiça do Trabalho Justiça Eleitoral Justiça Militar
EEntão,
tã compreendemos que o Poder Judiciário é um dos três poderes do Estado
Moderno, de acordo com a visão de Montesquieu, em sua teoria da separação dos
poderes. Sendo exercido pelos juízes, é de responsabilidade do Judiciário julgar as leis
criadas pelo Poder Legislativo. Cabe, também, a este poder zelar pela garantia do
pleno direito dos cidadãos e pelo cumprimento das normas legais vigentes.
Multimídia
Para você saber mais sobre a Teoria da Separação dos Poderes, também chamada de Tripartição dos
Poderes do Estado, acesse o link http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_separa%C3%A7%C3%A3o_
dos_poderes
Aproveite para explorar os hiperlinks existentes no texto.
Boa leitura!
Multimídia
Neste momento, convidamos você a viajar por sites do Governo Federal. Conheça um pouco mais
sobre as atribuições dos três poderes e suas contribuições para a educação nacional.
Sugerimos que comece essa aventura pelos sites www.planalto.gov.br e www.mec.gov.br
Procure também mergulhar em outros sites, dos governos locais – estadual e municipal –, e conhecer
melhor as atuações dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nessas outras esferas.
Saiba mais
O MANDADO DE SEGURANÇA COMO REMÉDIO JURÍDICO
No Brasil, o mandado de segurança já tem emprego tradicional na Educação. Nossa Constituição
inovou quando contemplou o mandado de injunção, que poderá ter um papel relevante na efetivação
da Educação como direito público subjetivo. Esse é o caso em que, não havendo oferecimento
do ensino obrigatório pelo poder público ou havendo oferta irregular, a responsabilidade pela
situação ocorrida é atribuída pela autoridade competente.
Historicamente, o mandado de injunção foi primeiro empregado nos Estados Unidos – e por
motivos raciais. O objetivo ali era o reconhecimento da igual oportunidade de educação para
negros e brancos. Ele é utilizado para garantir a aplicação da norma constitucional em favor do
impetrante, independentemente de regulamentação e exatamente porque não foi regulamentada.
Mandado de segurança, mandado de injunção e habeas data podem ser aplicados para serem
obtidas informações relativas a registros secretos ou reservados aos arquivos institucionais, seja
das escolas ou dos sistemas de ensino (BOAVENTURA, 1996).
Veja então que, pelo emprego das garantias fundamentais, cada vez mais aumenta
a presença do Poder Judiciário na área educacional, no reconhecimento, na defesa, na
proteção e na efetivação de muitos direitos educacionais.
Atividade
Pesquise em diferentes fontes de mídia, inclusive em sites institucionais, materiais (matérias
jornalísticas, artigos, legislações e debates) que façam referência a uma situação do cotidiano
educacional na qual você identifique mudanças de ação e decisão das esferas de poderes que
impactaram ou que poderão impactar significativamente a prática gestora em sua instituição.
Identifique as razões para as mudanças e, se possível, os atores que as reivindicaram, assim como
os possíveis beneficiários contemplados pelas mesmas.
RESPOSTA COMENTADA
Nesta atividade, nós nos interessamos pelos impactos causados por ações articuladas ou não entre
os poderes que se tornam marcos para os sistemas e instituições educativas nos seus procesos
de gestão. Como exemplo, poderíamos tratar das políticas afirmativas relacionadas às cotas para
deficientes, para etnias ou mesmo para inclusão social de camadas menos favorecidas de renda
(cotas sociais). Elas representam mobilizações diferenciadas de movimentos e segmentos sociais
conhecidos anteriormente como minorias. Historicamente, os poderes tiveram de se integrar na
discussão de todas essas discriminações positivas, a fim de que estabelecessem regulações na
aplicabilidade de cada uma delas. Da mesma maneira, houve (e ainda há) ampla discussão, que
não se esgota nos poderes, o que dá à sociedade civil a oportunidade de se manifestar, espelhando
a diversidade que somente pode se configurar em ambientes democráticos legitimados
socialmente.
Bibliografia consultada
BARROSO, João. O Estado, a educação e a regulação das políticas públicas. In: Educação
& Sociedade, Campinas, v. 26, n. 92, out. 2005. p. 725-751.
BOAVENTURA, Edvaldo M. Educação e a Justiça. Revista do Tribunal Regional Federal 1ª
Região, Brasília, v. 8, n. 2, abr.-jun. 1996, p. 17-26.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil (5 de
outubro de 1988). Brasília, DF, 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 15 fev.2010.
___________. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm>.
Acesso em: 1 set. 2009.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Marco Regulatório. Revista Desafios
do Desenvolvimento. Brasília, Indicadores, nº 19, fev. de 2006. Disponível em: <http://
www.ipea.gov.br/desafios/edicoes/19/sumario.php>Acesso em: 03 de março de 2010.
OLIVEIRA, Dalila Andrade. Regulação das políticas educacionais na América Latina
e suas conseqüências para os trabalhadores docentes. In: Educação & Sociedade,
Campinas, v. 26, n. 92, out, 2005, p. 753-775.
_______________. Política educativa, crise da escola e promoção de justiça social. In:
Crise da escola e políticas educativas. _______________.& FERREIRA, Elisa B. (orgs). Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2009, p. 17-32.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 1988.
Aula 4
O papel dos conselhos de educação nos âmbitos
nacional, estadual e municipal
Meta
Objetivos
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de:
Andrew C.
Figura 4.1: Dando um bom Conselho.
Bem; desta vez, vamos partir do seguinte: imaginamos que você já deva ter dado
ou recebido algum conselho na vida, seja para situações mais delicadas, seja para
outras de menor import ância. Talvez já tenha ainda se pego pensando ou sendo
lembrado com alguma frequência da expressão citada anteriormente.
“Se conselho fosse bom, não se dava; vendia-se”.
Sendo assim, é interessante até que perguntemos: faz muito tempo que você
recebeu ou deu algum conselho? Possivelmente não, certo? Pois veja que estaremos
tratando aqui de algo que não deveria, a princípio, ser tomado como incomum. Ainda
mais se tratando do processo educativo, no qual a relação entre os sujeitos muitas
vezes prevê que a experiência e o compartilhar de saberes exige de todos um certo
grau de aconselhamento.
Bem; nada disso quer dizer que tenhamos que seguir ipsis litteris todo conselho
que nos dão. Ainda assim, na leitura desta aula, você talvez encontre algumas formas
de pensar que lhe servirão como indicações ou aconselhamentos. Cabe a você
estabelecer seu parecer, ajuizando criticamente um posicionamento sobre o que você
vier a ler.
Já de partida, pedimos que você aceite um conselho nosso: saindo do aspecto
individual e partindo para uma perspectiva mais coletiva, comece se perguntando
quantos são os conselhos de que você já ouviu falar.
Já tomou parte de algum conselho? Na Educação, quando você pensa em conselho,
qual(is) vem(êm) à sua mente?
Atendendo a mais um pedido nosso, escreva isso aí no seu caderno de anotações ou
no seu computador. Veja se, ao final da leitura, conseguimos afinar nossas impressões
sobre o tema desta aula.
Saiba mais
O professor Carlos Roberto Jamil Cury (filósofo, historiador
e educador brasileiro) nasceu em 1945. Tem experiência na
área de Direito, com ênfase em Direitos Especiais, atuando
principalmente nos seguintes temas: Lei de Diretrizes e
Bases, política educacional, ensino superior, educação básica
e educação de jovens e adultos. É pesquisador do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Possui inúmeros livros voltados à discussão contextualizada da
legislação educacional brasileira e da escola básica inserida nos
sistemas educacionais. Atualmente, é membro do Conselho
Técnico-Científico da Educação Básica da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), da
qual foi presidente em 2003. Entre 1996 e 2004, foi membro Figura 4.2: O professor Jamil
da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Cury teve atuação destacada no
Educação, da qual foi seu presidente por duas vezes. (Texto Conselho Nacional de Educação.
adaptado do Currículo Lattes, em http://buscatextual.cnpq.br/
buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4788980D6.)
Denis Nordmann
Figura 4.3: Todo conselho envolve uma relação de troca e é um importante
instrumento nos regimes democráticos.
De saída, digamos que, ao longo da história, os conselhos têm sido: órgãos coletivos
de tomada de decisões, agrupamentos de pessoas que deliberam sobre algum negócio.
Constituíram-se desde a Antiguidade e existem hoje, com denominações, formas,
áreas da atividade humana e em organizações diversas. Etimologicamente, o vocábulo
em grego refere-se à ação de “deliberar”, “cuidar”, “cogitar”, “refletir”, “exortar”. Em
latim, traz a ideia de “ajuntamento de convocados”, e precisa da participação para
que debates, análise e decisões sejam realizados (TEIXEIRA, 2004, p 692).
Então, vejamos: um conselho configura-se sob vários tipos e sob muitas
designações. Geralmente, como já foi dito, é órgão colegiado com funções diversas
e de características normativas, consultivas e deliberativas. Podem ser organizações
de luta, formas de representação de interesses ou órgãos diretores de comunidade
política. Essas atribuições podem ser inseparáveis, e suas competências dependem do
ato legal que os criou (ELIAS SOBRINHO, 2007).
Multimídia
Convidamos você a viajar por um site que poderá, por sua vez, conduzi-lo a outros. Procure as
atribuições, funções e competências de alguns conselhos de natureza e fins diversos, segundo a
Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Conselho, 2010, s/p). Se possível, elenque-as, descrevendo
seus integrantes e seus mecanismos de participação.
Democracia
participativa ou
semidireta
Aquela em que o povo,
partindo de uma democracia
representativa, utiliza-
se de mecanismos que
proporcionam um maior
engajamento nas questões
políticas, legitimando
questões de relevância para a
comunidade como um todo,
através de sua participação,
seja pelo plebiscito,
referendo, iniciativa popular,
audiência pública, consultas
ou qualquer outra forma de
manifestação.
Pelo que você deve estar notando, embora muitas vezes entendamos os Conselhos
como esferas hierarquizadas e burocráticas, escolhemos seguir um caminho que nos
aponta outras possibilidades, que se ampliam com o fortalecimento da democracia
nas últimas duas décadas em nossso país.
Com isso, os conselhos talvez sejam uma resposta à necessidade de articulação
entre democracia representativa e democracia participativa da qual fala Santos
(2002). Essa articulação, segundo o autor, seria necessária para a defesa de interesses
e identidades vulnerabilizadas socialmente, estabelecendo uma nova ordem social
e uma nova forma de relação entre governo e sociedade: uma forma que promova
experiências participativas, resultando na transferência de práticas e informações do
nível social para o nível administrativo.
O Império
A Primeira República
O novo século XX
Saiba mais
A Reforma Rivadávia Corrêa, de 1911, pretendeu que o curso secundário se tornasse formador do
cidadão, e não um simples promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista,
pregava a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que
não seja por escolas oficiais, controladas por frequência dos alunos. Além disso, pregava ainda
a abolição do diploma em troca de um certificado de assistência e aproveitamento, além de
transferir os exames de admissão ao ensino superior para as faculdades. Para muitos especialistas,
os resultados dessa Reforma foram desastrosos para a educação brasileira.
Pouco depois, em 1925, foi criado o Conselho Nacional do Ensino. Isso se deu no
corpo da Reforma Rocha Vaz, que também criou o Departamento de Educação no
Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Mais tarde (1931), foi recriado com o nome
de Conselho Nacional de Educação (CNE) e somente regulamentado em 1936, depois
da criação do Ministério de Educação e Saúde Pública.
Saiba mais
A Reforma Rocha Vaz foi considerada reacionária, por conter em seu bojo a “Resistência
Conservadora” do cenário educacional, retirando em definitivo a autonomia administrativa e
didática concedida pela sua antecedente. As medidas adotadas por essa reforma concorreram
para acentuar o período de crise política que resultaria na Revolução de 1930; por intermédio dela,
o Estado passa a controlar ideologicamente o sistema de ensino.
Bem; como você pode observar no quadro que apresentamos a seguir, durante as
décadas de 30 e 60 do século XX, vigeu o Conselho Nacional de Educação (CNE). Ao
longo das décadas de 60 e 90, o Conselho Federal de Educação. Já em 1961, a lei nº 4.024
transformou o Conselho Nacional de Educação em Conselho Federal de Educação.
Para que não nos estendamos demais nesse histórico, convidamos você a
ler a síntese (Quadro 1) de criação dos conselhos na esfera federal. Conheça essa
evolução.
Quadro 4.1: Evolução dos Conselhos de Educação instituídos no Brasil, no período de 1911-1994.
ANO DE CRIAÇÃO LEI REGULADORA DENOMINAÇÃO
Decreto nº 1.232-G, de Conselho Superior de Instrução
1891
02/01/91 Pública
Saiba mais
Multimídia
Para que você possa aprofundar o conhecimento sobre as ações dos conselhos de educação de nosso
país, sugerimos a visita aos sites do CNE, cujo acesso se dá pelo portal do MEC (http://portal.mec.gov.
br/index.php?option=com_content&view=article&id=14302%3Acne-missao&catid=323%3Aorgaos-
vinculados&Itemid=754) e pelo site do Fórum Nacional de Conselhos Estaduais de Educação
(FNCE) (http://fnce.org/).
Nesses endereços, você poderá obter mais informações sobre a missão dos órgãos, suas atribuições,
compromissos, regimentos e formas de atuação compartilhada.
Vaughan Willis
Atividade
Propomos a você que, individualmente ou tomando parte de um grupo, pesquise, junto ao
Conselho que interfere de forma mais próxima sobre a sua realidade de gestor escolar, alguns
aspectos que ora elencamos:
• a esfera ou sistema por ele regulado;
• a composição desse conselho (quantitativa e qualitativa);
• as normatizações (deliberações, resoluções ou pareceres) que mais impactam nos seus processos
de gestão;
• suas formas de organização interna;
• as atribuições que mais desempenha;
• as formas de publicização de suas decisões.
Além disso, procure saber sobre o cronograma de reuniões e os critérios de escolha dos membros
e da presidência. Identifique como se dá (caso se dê) a participação da população em relação ao
conselho que você escolheu.
Achamos interessante que você assista a uma seção de conselho e entreviste, pelo menos, dois
conselheiros desse corpo colegiado, perguntando-lhes sobre o que pensam de seu papel como
conselheiros.
Resumindo
Nesta aula, buscamos contextualizar os Conselhos de Educação, compreendendo suas formas
e espaços de atuação e, também, suas responsabilidades e limites. Considerando-se que os
conselhos, na educação brasileira, têm existência demarcada desde o Período Imperial, a trajetória
desta aula foi construída de modo que permitisse a você realizar uma leitura das atribuições dos
conselhos e de suas definições e escalas, tendo por base os níveis federal, estadual e municipal.
Para melhor abordar os conselhos, foi discutida a ideia de espaço público e o diálogo entre os
modelos de democracia – representativa e participativa. O aspecto da descentralização na
constituição da gestão, visando aproximá-la das realidades e necessidades locais e, ainda, das
demandas sociais e educacionais existentes também permeou nosso estudo.
Bibliografia consultada
CURY, Carlos Roberto Jamil. O Conselho Nacional de Educação e a gestão democrática.
In: Oliveira, Dalila Andrade (org.). Gestão democrática da educação: desafios
contemporâneos. Petrópolis: Vozes, 1998.
___________. Os conselhos de educação e a gestão dos sistemas. In: FERREIRA. Naura
Syria Carapeto. AGUIAR. Márcia Ângela de S. (orgs). Gestão da Educação: impasses,
perspectiva e compromissos. São Paulo. Cortez, 2000, p. 43-60.
ELIAS SOBRINHO, Severino. Papel do Conselho Estadual de Educação da Paraíba (CEE/
PB) como órgão normativo do Sistema Estadual de Ensino no período de 1962-2002. João
Pessoa: UFPB, Dissertação de Mestrado: PPGE, 2007. 264p.
FERREIRA, M. G. Conselho Federal de Educação: o coração da reforma. In: Jacques
Velloso, Guiomar Namo de Mello, Lílian Wachowicz e outros (orgs). Estado e Educação.
Campinas, SP: Papirus/Cedes; Ande, Anped, 1992 (Coletânea C.B.E).
FONSECA, D. M. da. O pensamento privatista em educação – Campinas, SP: Papirus,
1992 . (Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico).
FURRER, Luiz E. Democracia não participativa. 2005. Disponível em:
<http://www.advogado.adv.br/artigos/2006/luizernestofurrer/democracianaoparticipa
tiva.htm >. Acesso em: 24/03/2010.
HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico da língua portuguesa. Versão 1.0. São Paulo: Editora
Objetiva Ltda., 2001.
PELISSER, Josival Basílio. O Conselho Estadual de Educação na era Lerner: Secundação
e Coonestação das Políticas Públicas para a escola paranaense. Curitiba: UFPR.
Dissertação de Mestrado: PPGE, 2008, 192p.
PEREIRA, Tarcísio Luiz. Conselhos municipais de educação: desafios e possibilidades na
gestão democrática de políticas educativas. Presidente Prudente: Unesp. Dissertação
de Mestrado:PPGE, 2008, 205p.
SANTOS, Boaventura de Souza. Democratizar a democracia: os caminhos da democracia
participativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, 678p.
TEIXEIRA, Lúcia Helena G.. Conselhos Municipais de Educação: autonomia e demo-
cratização do ensino. Cadernos de Pesquisa, v. 34, nº. 123. São Paulo: Fundaç ão Carlos
Chagas, 2004.
Aula 5
Os conselhos escolares e suas representações
Meta
Objetivo
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de identificar as possíveis
contribuições dos conselhos escolares à gestão das unidades educacionais no âmbito
de um regime democrático.
Requisitos
Para o mais completo aproveitamento desta aula, é importante que você tenha
a Aula 4 bem compreendida. Os conceitos trabalhados na aula anterior dialogam
intimamente com estes que lhe apresentaremos a seguir.
Christa Richert
Christa Richert
Figuras 5.1 e 5.2: No panteão dos deuses greco-romanos, Consus é muitas vezes
representado como a própria colheita. Está ainda relacionado ao deus Poseidon e ao
Di Consentes, o “Conselho dos Deuses”, que auxiliava Júpiter em suas decisões.
Konstantinos Dafalias
do poder constituído. Na
Antiguidade, as Cidades-
Estado eram independentes
do ponto de vista político
e administrativo, sendo
comuns na Grécia
Antiga. Atualmente,
este termo é utilizado
para designar cidades
que se transformaram
em minúsculos países,
autossuficientes do ponto de
vista político. São exemplos:
na Itália, Vaticano e Mônaco.
Singapura, na Ásia, também
Figura 5.3: Ruínas da acrópole da Antiga Cidade-Estado de Atenas, na Grécia.
considerada referência por
seu padrão econômico,
insere-se no grupo das Como você pode notar, a concepção de conselhos é anterior à organização do
Cidades-Estado.
Estado, haja vista que surgem como forma de organização representativa do poder
político nas Cidades-Estado.
Saiba mais
Conselhos pelo mundo
A mais ampla representação de conselho é atribuída à Comuna Italiana (século X). Até a atualidade,
há, na administração das cidades italianas, o Conselho Comunal (Consiglio Comunale). Esse órgão
se assemelha ao que conhecemos aqui como Câmara dos Vereadores. A escolha dos conselheiros,
porém, é feita por meio da participação direta da comunidade local.
Outro exemplo de forte participação da comunidade na gestão pelas vias de um conselho é a
Comuna de Paris, no século XIX. Ainda que tenha tido uma breve duração – dois meses, até ser
debelada –, pode ser considerada uma experiência significativa de autogestão de uma comunidade
urbana.
No século XX, outras formas de gestão por conselhos surgem. Exemplos disso são os conselhos de
fábrica, os conselhos de operários (agregando representantes de diversas fábricas), os conselhos
populares e, mesmo, mais recentemente, os fóruns populares.
Esses modelos se constituem como canais de participação popular, fazendo a interface entre
classes e entre Estado e sociedade. Podem promover, também, a cogestão das políticas públicas
em prol do interesse geral.
Antes de mais nada, o professor Jamil Cury (2001) alerta que são diversas as
denominações dadas aos Conselhos. No entanto, privilegia-se aquela que os define
como órgãos colegiados. E, como tal, suas atribuições são também diversas, mas têm
como características os aspectos normativos, consultivos e deliberativos.
A apresentação desse formato básico está intimamente ligada ao que estabelece
o ato legal de criação de cada conselho. Podem ser características que aparecem de
forma conjunta ou mesmo isoladas.
Tendo esses princípios como norteadores e caracterizadores da existência dos
conselhos, vamos relembrar algumas de suas atribuições?
O Conselho Federal e os Conselhos Estaduais e Municipais de Educação são esferas
colegiadas, que têm funções normativas, deliberativas e consultivas. Eles interpretam
e encaminham, de acordo com suas atribuições, a aplicação da legislação educacional
em âmbito nacional ou local.
Há, também, outros conselhos, como, por exemplo: os Conselhos de Controle
Fiscal e Social, que se dedicam a controlar a verba pública investida na manutenção
e no desenvolvimento da Educação; os Conselhos Tutelares, previstos pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) e que têm por objetivo a proteção e assistência
às crianças e adolescentes. No âmbito administrativo, cabe registrar a existência
do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e da União Nacional de
Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Somando-se a esses conselhos, há um que tem sua existência bem marcada dentro
do espaço e do cotidiano das instituições de ensino, sejam elas de caráter público
ou privado. Trata-se do Conselho de Classe. Esse visa a acompanhar o desempenho
dos estudantes, suas trajetórias escolares e seus processos de desenvolvimento. É um
órgão colegiado, com caráter consultivo e deliberativo.
Mas, poderia haver na escola um conselho mais plural que representasse os
anseios dos diferentes interessados no processo educacional? Que tal pensarmos isso
por meio de uma atividade?
Porém, antes de prosseguirmos, pedimos a você que registre em seu caderno de
anotações ou em seu arquivo de estudos no computador algumas informações sobre
o conselho escolar da instituição onde atua, caso esse órgão exista. Procure registrar
desde quando existe o Conselho Escolar; como ele se organiza e por quem é formado;
se ele se reúne periodicamente, qual é a frequência dessas reuniões; caso essa não
seja uma prática regular, quando e em que situações o conselho se reúne; como você
caracteriza a existência do Conselho Escolar na instituição em que é gestor.
Agora, se na sua escola ainda não existe o Conselho Escolar, procure lembrar-se
de um colega seu, também gestor, e faça esse levantamento com ele. Registre tudo,
mencionando que se trata de outra escola. Esses registros serão úteis para outras
reflexões que proporemos mais adiante.
Multimídia
É importante que você saiba que o MEC, visando fortalecer e acompanhar o papel desempenhado
pelos conselhos no dia a dia das escolas, tem sob sua gestão o “Programa Nacional de Fortalecimento
dos Conselhos Escolares: trajetória, reflexões e desafios”. Participam do Programa o Conselho
Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação (Undime), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Para conhecer mais sobre o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares,
acesse o site <www.mec.gov.br> e procure por “Conselhos Escolares”, ou vá direto ao link http://
portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12384:conselhos-escolares-
apresentacao&catid=316:conselhos-escolares&Itemid=655 - acesso em 27/5/2010.
Lá você terá a oportunidade de encontrar um vasto material que compreende a legislação
pertinente, os objetivos, além das publicações sobre os conselhos escolares. Estão organizados
em um caderno introdutório, destinado aos dirigentes e técnicos das secretarias de educação, e
seis outros cadernos, destinados aos conselheiros escolares. São eles:
Conselhos Escolares: uma estratégia de gestão democrática da educação pública – destinada aos
dirigentes e técnicos das secretarias de educação e busca compreender o significado dos conselhos
na gestão da educação pública;
Caderno 1 – Conselhos Escolares: democratização da escola e construção da cidadania;
Caderno 2 – Conselho Escolar e a aprendizagem na escola;
Caderno 3 – Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da
comunidade;
Caderno 4 – Conselho Escolar e o aproveitamento significativo do tempo pedagógico;
Caderno 5 – Conselho Escolar, gestão democrática da educação e escolha do diretor;
Caderno de Consulta – Indicadores da Qualidade na Educação.
Esses cadernos, elaborados pelo Ministério da Educação, são uma contribuição ao debate e ao
aprofundamento do princípio constitucional da democracia na gestão da educação. A ideia é
que se possa estimular o debate entre os diferentes atores da educação e, sobretudo, entre os
membros dos Conselhos Escolares.
Nesta aula, também já citamos a existência do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de
Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). No
endereço desses fóruns, você poderá encontrar outras informações extremamente pertinentes
às questões da difusão de espaços democratimente organizados nas escolas. Visite <http://www.
consed.org.br/> e <http://www.undime.org.br/htdocs/index.php>
Atenção
A ação deliberativa do Conselho Escolar não é a de legislar, mas a de sugerir algo ou dar subsídios
para que a direção escolar tenha melhores condições de elaborar ou propor adaptações às normas.
Isso deve ser feito com base em princípios pedagógicos e ações administrativas comuns.
Saiba mais
O MESTRE PAULO FREIRE
Paulo Reglus Neves Freire, ser humano de imensa lucidez,
ímpar na arte de educar e de nos embevecer com suas
palavras e formas de dialogar e de perceber a pedagogia,
pensou a educação e fez do ato de educar um ato de
amor, de criticidade, de diálogos, fundamentados numa
vertente conscientizadora. Em 1970, publicou Pedagogia
do Oprimido, sua mais importante obra, traduzida em
mais de vinte idiomas, lançando sua primeira edição
no Chile. Exilado pelo Governo Militar, viajou o mundo
trabalhando pela educação popular. Voltou ao Brasil
em 1980, onde se instalou em São Paulo, passando a
lecionar na PUC-SP. Freire propôs que a educação de
adultos considerasse o estímulo à colaboração, decisão, Figura 5.5: O Educador Paulo Freire.
participação, responsabilidade social e política. Com a
educação fundamentada em aspectos sociais e também culturais, considerava as necessidades
dos educandos, a importância de conhecê-los, bem como os problemas sociais que os afligiam.
A educação não se restringia à escolarização ou à profissionalização, mas, sim, a uma prática
sociocultural voltada para a conscientização e para o envolvimento com questões que fossem
significativas para a construção social do povo. A Educação, na visão de Freire, apresenta um caráter
libertador, visando libertar o homem da adaptação, da alienação em relação ao conhecimento
e à história, sendo capaz de problematizar e teorizar sobre a realidade vivida e de se posicionar
criticamente perante às condições de classe social, integrando-se à sociedade (Fonte: FERNANDES
& BARBETO, 2009).
Um conselho em pauta
Como estamos vendo, a boa organização de um Conselho Escolar é uma das chaves
para o exercício e para a prática democrática no cotidiano escolar, haja vista que é
promotora da participação comunitária. Tal participação nos remete às possibilidades
reais de exercício da cidadania.
Amrita Chowdhury
Figura 5.6: A participação organizada dos estudantes é fundamental para “mudar
a cara” da escola, dando-lhe novos contornos e proposições.
Multimídia
Acesse o site <http://www.tvebrasil.com.br/salto/entrevistas/paulo_freire.htm> e leia a versão
integral da entrevista “Na voz do mestre: alguns saberes necessários à prática docente”, concedida
por Paulo Freire ao Programa Salto para o Futuro, na qual o Mestre trata da relação da democracia
na escola e de suas implicações na participação e no estabelecimento dos Conselhos Escolares.
Atividade
Esta atividade consiste em um desafio a você. O convite que fazemos é para que você olhe por
dentro de um Conselho Escolar. Mas caso haja Conselho Escolar organizado em sua escola,
pedimos que você não realize a atividade junto a este Conselho. Por quê? Exatamente porque
nosso objetivo é que você tenha o olhar de quem está de fora.
Para isso, entre em contato com alguns conselheiros escolares. Podem ser de uma mesma escola,
desde que não seja a sua, ou de mais de uma escola. Marque uma entrevista ou uma conversa
com esse grupo. Procure captar como os membros desse(s) conselho(s) participam das vivências
escolares visando à melhoria da gestão escolar. Nessa conversa, procure perceber, também, quais
são os limites presentes nessa participação.
Você pode gravar em áudio ou em vídeo essa conversa, desde que haja concordância dos
entrevistados para tal fim. Pode, ainda, fazer somente um registro por escrito.
A seguir, a partir do(s) olhar(es) que você teve, registre suas impressões, relacionando-as, se for
possível, à prática que você observa no Conselho Escolar do qual você, como diretor(a), participa.
Procure elaborar seu texto considerando, também, a sua prática gestora e, se for o caso, sinalize
aspectos da entrevista realizada que podem contribuir com a sua concepção de gestão.
RESPOSTA COMENTADA
Essa proposta de atividade pretende permitir a você que reflita sobre o funcionamento do Conselho
Escolar de sua instituição à luz da experiência observada. Sabemos que são muitas as formas e
possibilidades de organização de um Conselho Escolar, mas esperamos que esteja clara para você a
importância de que cada conselho valorize a participação e o exercício da democracia como forma
de construção de uma gestão que “faça a diferença”. Mas perceber as dificuldades encontradas
no fazer cotidiano de um Conselho Escolar também é muito importante neste processo que ora
propomos: de reflexão sobre a sua própria prática de gestor escolar. Com isso, há características
peculiares das unidades escolares que poderão ser explicitadas e evidenciadas pelos próprios
gestores e, posteriormente, debatidas no âmbito da comunidade escolar.
Resumindo
Nosso objetivo nesta aula consistiu em relacionar os Conselhos Escolares ao processo de
democratização e de entendimento da escola. Considerando-se que os Conselhos Escolares podem
se organizar de forma diferenciada em cada escola ou rede de ensino, buscamos trazer para a
sua reflexão os passos e etapas de organização desses conselhos. Como você deve ter notado,
a trajetória que delineamos para esta aula permite que você retome os aspectos importantes
para a organização e funcionamento de um Conselho Escolar, considerando-se suas funções e
investindo-se do princípio da democracia participativa.
Aula 6
A gestão financeira da escola e seus impactos
sociais, econômicos e políticos
Meta
Objetivos
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de:
Afonso Lima
Tiago Ribeiro Simões
Atividade 1
Jerry Laxman
RESPOSTA COMENTADA
Quando falamos da educação brasileira, é muito comum que escutemos que “gastamos mal”,
“bem”, “pouco”, “muito”... Essa discussão não deve atingir os estudantes (gestores) de forma
descontextualizada. Ao contrário, ao tratarmos a Educação como uma das bases fundamentais
para a justiça e transformação social, devemos fazê-lo apontando os rumos a serem corrigidos
ou melhorados.
Em nosso país, essa questão assume maior complexidade, pois vivemos em uma nação cuja
diversidade sociocultural é marcante. Não dá nem para dizer com absoluta exatidão que todos
falamos a mesma língua (vejamos os exemplos dos grupos indígenas que lutam pelo estabelecimento
e reconhecimento de suas línguas originais). Portanto, os investimentos na Educação têm sido
um dos principais desafios para que enfrentemos o “problema social” que afeta nossa realidade
e que ainda carateriza a existência de um paradoxo entre os cenários econômico e democrático
positivos e a condição social mais que preocupante de grande parte de nossa população.
100 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
34,3
23,5
19,4
14,1 15,1 15,4
8,4 9,1
7,5 7,2
5,1 4,7
Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural
BRASIL NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE
21,6%
19,6% 19,1%
15,0% 16,6%
14,4 %
7,0% Retrato das Desigualdades na
5,9% 6,09% 3,0% 4,4% 7,2% Escolarização e no Sistema
Tributário Nacional, Conselho
de Desenvolvimento Econômico
e Social, 2009 – com base no
NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE
IBGE/PNAD (2004-2008).
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 101
102 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Vimos até aqui que a destinação de recursos para determinadas áreas e esferas
do poder público atende a estratégicas pragmáticas, mas também a visões políticas
dos governantes. Uma das iniciativas que julgamos importantes estudar nesta aula é
o Sistema Nacional de Educação (SNE). Esse sistema é um mecanismo articulador do
regime de colaboração no pacto federativo.
Para que o SNE possa promover transformações no contexto educacional brasileiro,
é necessário que algumas mudanças sejam feitas. É preciso que se implemente uma
reforma tributária efetiva e que se implantem mecanismos de financiamento que
busquem alinhar a oferta de atividades educacionais com o recebimento de recursos.
Nesse caso, a finalidade volta-se à redução das disparidades regionais, por meio
de uma política que seja mais redistributiva, indo para além dos fundos. Esses fundos,
veja, conseguiram dar mais recursos aos governos que se responsabilizaram pela
execução das políticas, mas não foram incisivos o bastante para outras situações.
Nessas, as desigualdades regionais perduram.
Assim, além de complementar os recursos que faltam para o alcance de metas
básicas, a União também realizaria uma real política redistributiva.
A essa ação, somar-se-ia o poder normativo pela esfera federal, seja estabelecendo
diretrizes, induzindo práticas por financiamentos, programas e princípios de gestão
que aproximem sistemas da federação. Infelizmente, ainda falta muito para que a
equidade se dê no contexto educacional brasileiro.
Do mesmo modo, podemos citar o fortalecimento de fóruns federativos (Consed,
Undime) e a criação de esferas verticais para negociação de medidas de cunho
federativo e colaborativo. A institucionalização dessas instâncias deve também ser
acompanhada de uma melhor definição do papel de coordenação a ser exercido no
nível estadual, fortalecendo a cooperação e associativismo entre municípios (para o
caso das Regiões Metropolitanas, por exemplo).
Também a utilização de um instrumento decenal, o Plano Nacional de Educação
(PNE), que delineia objetivos gerais transformadores, pode potencializar e estipular
o sucesso de práticas e metas de gestão educacional, definindo atribuições para os
entes federativos (ABRUCIO, 2010, p. 66).
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 103
104 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Gráfico 6.3: Gasto com Educação Pública em valores constantes de 2005, por nível de governo – Brasil
(1995, 2000, 2005).
90
Governo Federal
80 Estado
70 Municípios
Em bilhões de reais
60
50
40
30
20
10
0
1995 2000 2005
Ano
Fonte: CASTRO & DUARTE (2008), Descentralização da Educação Pública no Brasil: trajetória dos gastos
e das matrículas. Ipea.
Como você deve estar percebendo, a trama que tece o regime colaborativo
no financiamento educacional é mista e complexa, e a maior parte dos recursos,
conforme já mencionamos, provém de fontes do aparato fiscal.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 105
Fonte: Constituição Federal, LDB e demais leis ordinárias. Elaboração: CASTRO, J.A, 2010, p.173.
Analise o quadro com cuidado. Note que, além dos impostos, das receitas deles
provenientes e do Salário-Educação, tomam parte dos recursos públicos destinados à
Educação outras contribuições sociais e receitas de incentivos fiscais. Todos previstos
pela LDB e por outras leis ordinárias.
No quadro apresentado, você deve ter visto a sigla MDE. Ela significa Manutenção
Despesas e Desenvolvimento do Ensino. A LDB especifica, em dois longos artigos (70º e 71º), o
Tudo aquilo que se refere que pode e o que não pode ser definido como MDE. Com isso, estabelece as despesas
ao ato de despender. No específicas a serem feitas, conforme prevê a CF de 1988, para o uso de receitas de
caso governamental, impostos, de forma a evitar a drenagem desses recursos para gastos que não
financeiramente falando, necessariamente se destinem ao ensino.
despesa é o gasto, ou seja, De modo geral, contemplam os gastos com a MDE a remuneração e
o dinheiro utilizado pelo
governo ou administrador
aperfeiçoamento dos profissionais da Educação, o material didático, o transporte
para a implementação das escolar e outras atividades ligadas aos objetivos básicos da Educação. Ficam excluídos
ações administrativas ou dessa caracterização os gastos com obras de infraestrutura, subvenções, programas
governamentais. suplementares e pesquisas encomendadas.
106 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Salário-Educação
Em sua leitura atenta da aula, você deve ter observado que, além dos recursos
de impostos, outra parcela razoável do financiamento da Educação provém das
contribuições sociais. Uma delas é o chamado Salário-Educação (SE). O Salário-
Educação, previsto no artigo nº 212º da CF de 1988, é uma fonte de recursos destinada
explícita e exclusivamente ao Ensino Fundamental da rede pública, com base na
alíquota de 2,5% incidente sobre o valor total das remunerações pagas ou creditadas
pelas empresas, a qualquer título, aos segurados empregados, ressalvadas as exceções
legais. A distribuição dos recursos do Salário-Educação é automática e estabelecida no
aparato institucional. Com a Emenda Constitucional (EC) nº 53, de 2006, a aplicação
dos recursos desta contribuição social pode ser ampliada para toda a Educação
Básica. Quem administra a arrecadação e a distribuição dos recursos provenientes
dessa contribuição é o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que
se trata, na verdade, de uma autarquia do Ministério da Educação.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 107
108 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 109
110 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Multimídia
Caso queira aprofundar seus entendimentos sobre a gestão financeira da escola, recomendamos
uma visita aos endereços: <http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/dinheiro-
educacao-financiamento-verbas-educacionais-516218.shtml> <http://revistaescola.abril.com.br/
gestao-escolar/diretor/gestao-financeira-448591.shtml> Nesses sites, você poderá acessar links que
possuem outras informações sobre o financiamento da Educação no Brasil, com justificativas
e orientações sobre como promover uma gestão financeira com eficiência nos sistemas e nas
escolas, trabalhando com as contas sempre “abertas” e em dia.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 111
RESPOSTA COMENTADA
Nesta atividade, interessa-nos que haja um olhar mais intencional do gestor educacional sobre
a sua realidade, sem que se perca a possibilidade de que esses sujeitos, estando em grupos de
aprendizagem coletiva (seja na sua escola, seja no curso), possam debater e refletir sobre as
outras possíveis configurações escolares existentes. Também poderão, uma vez estabelecidos
os cenários, reconhecer como são importantes os investimentos realizados em suas unidades
escolares e, na troca de experiências com os demais, aproveitar esta pesquisa como fonte de
transformação de algumas de suas ações e práticas gestoras. Este conhecimento compartilhado
é fundamental para que os gestores possam ampliar sua consciência sobre a qualidade da oferta
educativa com suas limitaçoes e perspectivas, por meio da sistematização dos insumos básicos
necessários ao bom desenvolvimento das escolas e ao atendimento digno de suas comunidades.
Quem sabe, até futuras parcerias interescolares não venham a se estabelecer?
112 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Resumindo
Nesta aula, pudemos estabelecer um amplo olhar sobre o financiamento da Educação no Brasil.
Quem são seus responsáveis nas diferentes esferas e quais são os papéis das comunidades
escolares e de cada cidadão para a garantia dos direitos à educação de qualidade. Vimos também
como o processo de estabelecimento dessa qualidade ainda não se completou para todos, o que
não impede que digamos que, no conjunto dos aspectos de avanço da democracia em nosso país,
a Educação tem sido vista como um dos fundamentos que mais precisam ser atendidos. Tratamos
desde as diferenças regionais às preocupações mais pontuais do cotidiano da escola, incluindo a
responsabilidade dos gestores com os recursos que utilizam em suas administrações. Além disso,
não esquecemos as transformações recentes na destinação e distribuição das verbas dedicadas
à Educação. Pudemos, então, observar que a gestão financeira não se faz de forma isolada do
contexto, seja na instituição escolar pública ou em estabelecimento privado.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 113
114 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Aula 7
Fundos de financiamento: possibilidades e
potencialidades
Meta
Objetivos
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de:
Requisitos
Para o total aproveitamento desta aula, é necessário que você tenha em mente
os conceitos abordados na Aula 6, principalmente os que se referem às fontes de
recursos, suas atribuições e aos gastos de pessoas físicas com a Educação.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 115
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto.
(Bem no Fundo - Paulo Leminski)
Para começo de conversa, vamos considerar que você ainda não sabe o que é um
fundo público. Caso saiba, terá outra chance de refletir com profundidade sobre esse
tema tão fundamental ao ensino.
Sim, fundamental. A política de fundos vem se configurando como um dos
caminhos importantes para o financiamento do setor educacional.
Já de princípio, no entanto, alertamos: se os fundos hoje se apresentam como um
caminho virtuoso, por outro lado, sua afirmação na política brasileira não tem sido
pacífica. Ao longo da história, posições favoráveis e contrárias não têm faltado.
Podemos encontrar um retrato interessante dessa polêmica em texto de Gil e
Arelaro (2003). Ali, os autores propõem-se a explicitar suas posições coletivas e
individuais acerca das políticas de fundos para o campo educacional. Exemplificam
uma diferenciação presente no debate sobre a política de fundos: por um lado, Gil
afirma que uma crença existente é a de que os fundos podem ser úteis para se criarem
formas diferentes de distribuição dos recursos e como possibilidades para melhor
gerenciamento destes, mas não representam, necessariamente, mais dinheiro.
Por outro, de acordo com Lisete Arelaro, posiciona-se contrariamente aos fundos,
considerando que planos municipais e estaduais de Educação bem elaborados e
bem implementados seriam suficientes para que as boas propostas de políticas
educacionais pudessem atender melhor aos interesses dos diferentes segmentos
societários e da Nação.
Pois é: você já percebeu que, nesta aula aqui, a confusão antecede o sujeito. Mas,
afinal, seriam os fundos um bicho de sete cabeças?
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 117
Saiba mais
Welfare State – O Estado de Bem-Estar Social surgiu nos países europeus devido à expansão do
capitalismo após a Revolução Industrial e o movimento de consolidação dos Estados Nacionais
que visavam à democracia. Parte de uma transformação do próprio Estado, a partir das suas
estruturas, funções e legitimidade. É uma resposta à demanda por serviços de segurança socio-
econômica. Os serviços sociais surgem para dar conta das dificuldades individuais, garantir a
sobrevivência e reduzir os desequilíbrios das sociedades. As medidas de proteção aos pobres
são universalizadas e diversificadas, fazendo surgir políticas de atenção à heterogeneidade da
pobreza.
O Welfare State tenta assegurar a todos qualidade nos serviços sociais e procura responder
ao contexto capitalista de luta de classes, por meio de políticas redistributivas, mantendo a
reprodução da ordem social dominante.
118 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Saiba mais
O Bem-estar brasileiro – No Brasil, a configuração do Welfare State pode ser identificada entre
as décadas de 1930 e 1970, pela criação dos institutos de aposentadorias e pensões, legislação
trabalhista, regulação de políticas nas áreas de Saúde e Educação. Inicia-se, então, com uma
centralização dos recursos na esfera federal (1930/1943).
Posteriormente, entre 1945 e 1964, há inovações nos campos da Educação, Saúde, Assistência
Social e na habitação popular. Essas ações foram guiadas de forma seletiva, heterogênea (com
diferenciação de benefícios) e fragmentada (tanto no campo institucional ou financeiro quanto
na forma de intervenção social do Estado).
Mesmo com os esforços para superar a forma fragmentada e socialmente seletiva das ações estatais,
entre as décadas de 1960 e 1970, o que caracterizou o Welfare State, no Brasil, foi a ampliação da
centralização política e financeira no âmbito do governo federal e nas ações sociais.
Entre os exemplos que Francisco Oliveira nos apresenta de gastos sociais baseados
no fundo público, encontram-se a medicina socializada, a educação universal gratuita
e obrigatória, a previdência social, o seguro-desemprego, os subsídios para transporte,
os benefícios familiares (auxílio-habitação, salário-família), além de subsídios para o
lazer, favorecendo desde a classe média até o assalariado de nível mais baixo.
Ainda segundo Oliveira (1998), mesmo não sendo capital, o fundo público
assumiu sua necessidade estrutural insubstituível, pois o sistema de concorrência
do capitalismo produz momentos nos quais esgota as possibilidades de acumulação.
É exatamente aí que o fundo público comparece como viabilizador da concretização
das oportunidades de expansão do sistema capitalista.
Essa caracterização de fundo público nos permite entender que sua existência
ocorre pelas contradições e desigualdades provocadas pelo sistema no qual se instalou.
Isso significa que o fundo não é oriundo apenas de recursos públicos ou estatais: ele
se constitui tanto pela responsabilidade pública – do Estado – quanto privada – do
capital (OLIVEIRA, 1998).
Para que você recorde, os recursos vinculados à Educação correspondem aos
18% da receita de impostos da União e aos 25% da receita de impostos dos Estados
e Municípios, além de serem parte constituinte do orçamento fiscal. Além desses
percentuais, e tendo como intenção ampliar os investimentos nos direitos sociais,
a legislação brasileira prevê a existência de Fundos Públicos. Sua aplicação deve
ser técnica e politicamente monitorada e fiscalizada por conselhos que possuam
representantes do governo e os não-governamentais.
O “bicho” no Brasil
Após o cenário de crise econômica que se fez sentir no Estado brasileiro, a partir
da década de 1990, é preciso que reflitamos sobre como se desenvolve a política de
fundos, que se apresenta como alternativa ao tal bicho de sete cabeças.
Como dissemos, os fundos se instauram como uma necessidade que toma corpo a
partir do momento em que se percebe que o lucro capitalista não é suficiente para que
se somem novas possibilidades aos investimentos de recursos públicos já existentes.
Portanto, o fundo público contribuirá para que exista maior agilidade na circulação
do capital, permitindo aliar progresso técnico e tecnológico (OLIVEIRA, 1998).
Bem, os fundos públicos, como o próprio nome já aponta, são formados por
verbas de origem pública que formam determinados depositórios ou contas com fins
específicos.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 119
120 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Multimídia
Algumas instituições brasileiras vêm se destacando por sua atuação e investimentos sociais na
Educação Básica das redes públicas de ensino.
Dentre outras, são elas:
a) Fundação Banco do Brasil – <http://www.fbb.org.br>
b) Fundação Bradesco – <http://www.fb.org.br>
c) Fundação Itaú Social – <http://www.fundacaoitausocial.org.br>
d) Instituto Ayrton Senna – <http:www.senna.globo.com>
e) Instituto Unibanco – <http://www.unibanco.com.br>
Convidamos você a navegar na internet para conhecer melhor as ações desenvolvidas por essas
instituições voltadas para a Educação.
Boa leitura!
Os fundos de fora
O FUNDESCOLA
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 121
Multimídia
De acordo com o PDE-Escola, cabe à instituição escolar o desenvolvimento de um trabalho que
tenha como foco a melhoria da qualidade do ensino oferecido aos seus estudantes. Dessa forma,
inserido no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o PDE-Escola propõe uma revisão na
estrutura filosófica e metodológica do planejamento estratégico da escola, com vistas à ampliação
e melhoria das condições de oferta da Educação Básica.
Para aprofundar seus conhecimentos e ler com detalhes sobre o Plano de Desenvolvimento da
Educação, acesse <http://pde.mec.gov.br/>
122 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Além disso, entendemos que a pesquisa que você poderá realizar na internet
permitirá a exploração de outros links e, portanto, outras possibilidades para seu
aprofundamento.
Multimídia
O FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – é autarquia vinculada ao Ministério
da Educação; foi criado por intermédio da lei n º 5.537, de 21 de novembro de 1968, e do decreto-lei
n º 872, de 15 de setembro de 1969.
No rol dos programas federais, a grande maioria dos que incidem sobre a Educação básica está sob
responsabilidade do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE.
Os recursos são canalizados para Governos Estaduais, Distrito Federal, Prefeituras Municipais
e Organizações Não-Governamentais (ONGs), para atendimento às escolas públicas do Ensino
Fundamental, de acordo com a estratégia educacional definida pelo Ministério da Educação.
Os principais programas financiados e executados pelo FNDE são: Programa Nacional de
Alimentação Escolar, Programa Nacional do Livro Didático, Programa Dinheiro Direto na Escola,
Programa Nacional Biblioteca da Escola, Programa Nacional de Saúde do Escolar e Programa
Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar. Para saber mais, acesse www.fnde.gov.br
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 123
Multimídia
Sabemos que o censo escolar é realizado anualmente por todas as escolas de Educação Básica e é
uma das atribuições do gestor escolar. Convidamos você a conhecer mais sobre esse importante
levantamento de dados estatísticos sobre a Educação.
Para pesquisar mais, acesse <http://www.inep.gov.br/basica/censo/default.asp>
Multimídia
Convidamos você a conhecer mais profundamente os três programas do MEC/FNDE. Para isso,
acesse: <http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-livro-didatico>
Outro link que consideramos importante para o seu conhecimento é o que se refere às legislações
pertinentes a cada um dos três programas que ora apresentamos: <http://www.fnde.gov.br/index.
php/pnld-legislacao>
Conselho de Alimentação Outro programa inserido no FNDE é o Programa Nacional de Alimentação Escolar
Escolar (CAE) (PNAE), implantado em 1995.
Instância colegiada que Por meio da transferência de recursos financeiros aos estados e municípios, o
possui caráter deliberativo
PNAE atende à oferta de alimentação escolar a todos os estudantes da Educação Básica
e autônomo. Seu principal
objetivo é fiscalizar a das redes públicas de ensino e filantrópicas, incluindo o chamado ensino regular e o
aplicação dos recursos de jovens e adultos.
transferidos e zelar pela Para tanto, toma-se por base o censo escolar do ano anterior e, no caso das
qualidade dos produtos instituições filantrópicas, o número de registro e do certificado de filantropia emitido
adquiridos até seu consumo pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), além de declarar que tem
pelos estudantes, bem
interesse em oferecer alimentação escolar com os recursos federais destinados a
como pela higiene dos
locais de armazenamento e esses estudantes.
preparação dos alimentos. É Com recursos oriundos do Tesouro Nacional assegurados pelo Orçamento da
formado por representantes União, o FNDE transfere a verba às entidades executoras (aos Estados, Municípios e
do Executivo, do Legislativo Distrito Federal) via créditos em contas-correntes específicas para esse fim. Cabe a
e da sociedade – professores cada entidade executora a administração do dinheiro, sendo da competência de cada
e pais de alunos, com
uma delas melhorar o cardápio escolar.
mandato de quatro anos.
O representante de cada As verbas transferidas são altamente monitoradas. Para isso, há um
segmento é eleito por seus sistema de acompanhamento e controle de despesas, constituído nos
pares. Esses representantes Conselhos de Alimentação Escolar (CAEs). Junto com o FNDE, com o TCU, com a
podem ser reeleitos. Secretaria Federal de Controle Interno (SFCI) e com o Ministério Público, os CAEs
controlam e fiscalizam a aplicação desses recursos.
124 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 125
O PNBE
Já vimos que, além do acesso a uma estrutura básica que permita sua formação
continuada, todo aluno precisa de alimentação de qualidade. Agora veremos também
de que maneira se supre outra necessidade básica para a mais ampla formação de
nossos estudantes: os bons, velhos, novos, mas sempre insubstituíveis livros. A partir
daqui, trataremos do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE).
E como funciona o PNBE?
126 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Transportando o futuro
Comida, livros, estrutura montada. Já está bem claro que diversas são as maneiras
que encontramos, em sociedade, para financiar a Educação pública. Diferentes fundos
e programas, processos e licitações.
Não podemos, porém, esquecer que, para que tudo se concretize na escola, é
necessário que essas crianças e jovens sejam capazes de acessá-la. É ai que reside a
importância do transporte escolar.
Atualmente, o MEC executa dois programas neste âmbito. Um deles é o “Caminho
da Escola”. Outro é o “Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (Pnate)”.
Ambos visam a atender alunos moradores da zona rural.
O primeiro deles foi criado em 2007, pela Resolução nº 3, de 28 de março de
2007, por concessão, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), de linha de crédito especial para a aquisição, pelos estados e municípios, de
ônibus (de diferentes capacidades de passageiros) e embarcações novas.
O Pnate, por sua vez, foi criado pela lei nº 10.880/2004 e objetiva garantir o acesso e
a permanência dos estudantes de Ensino Fundamental residentes em áreas rurais nas
escolas. Posteriormente, o programa foi ampliado para o Ensino Médio e Educação
Infantil pela MP 455/2009, transformada na lei nº 11.947/2009.
Pelo Pnate, são transferidos recursos financeiros para estados, municípios e
Distrito Federal sem necessidade de convênios. O recurso também pode ser utilizado
para o pagamento de serviços contratados junto a terceiros para o transporte escolar.
É permitido, ainda, ao FNDE transferir aos municípios os valores correspondentes aos
alunos das escolas estaduais localizadas no território de determinado município.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 127
As escolas rurais, por sua vez, recebem um adicional de 50% do valor do repasse.
De forma semelhante, as escolas urbanas de Ensino Fundamental que atingiram as
metas intermediárias do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em
2009 também passaram a receber essa parcela suplementar.
As escolas privadas de Educação Especial devem seguir as mesmas orientações
que as escolas públicas para a utilização dos recursos.
128 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Mas as escolas de Ensino Médio também são atendidas pelo PDDE. Isso se dá por
meio do Programa Ensino Médio Inovador. Nesse caso, o repasse das verbas é feito
às escolas públicas estaduais e distritais de Ensino Médio (regular). As unidades de
ensino recebem a transferência financeira das respectivas secretarias de Educação,
desde que façam adesão ao Programa Ensino Médio Inovador e cadastrem os Planos
de Ações Pedagógicas (PAP) das escolas pertencentes às suas redes no módulo do
Sistema Integrado de Planejamento e Finanças do Ministério da Educação (SIMEC).
A partir da aprovação dos planos pela Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC),
essas escolas passam a ser incluídas no programa.
Multimídia
Para que você, gestor, conheça mais sobre o Programa Ensino Médio Inovador, acesse as Resoluções
nº 3 e nº 4, de abril de 2010, no site http://www.fnde.gov.br/index.php/legis-resolucoes.
Para recebimento dos recursos oriundos do PDDE, as escolas que contam com
mais de 50 estudantes matriculados devem criar unidades executoras. Já os repasses
destinados às escolas privadas de Educação Especial são realizados nas contas de suas
entidades mantenedoras.
Para as classes multisseriadas em áreas rurais, o PDDE destinará recursos para
aquelas que possuam até 50 estudantes matriculados nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. A verba pode ser utilizada na contratação de mão de obra, despesas
gerais necessárias à manutenção, conservação e pequenos reparos em suas instalações,
aquisição de mobiliário escolar e ações de apoio com vistas à realização de atividades
educativas e pedagógicas coletivas.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 129
Saiba mais
O Programa Mais Educação, criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007, faz parte das ações
do Plano de Desenvolvimento da Educação. Através dele, o governo federal busca garantir a
ampliação da jornada escolar com a oferta de educação em tempo integral e a reorganização
curricular nesta perspectiva.
Cabe ressaltar, ainda, que o Mais Educação está sendo desenvolvido nas escolas das capitais do país
e de regiões metropolitanas que apresentam baixo desempenho no IDEB e marcas de situações de
vulnerabilidade social que demandam ações prioritárias de políticas públicas.
O MEC e os municípios
Como estamos indo até agora? Desbravar o mundo do bicho de sete cabeças
pode ser bastante árduo. De início, tudo parece caótico. Todas as forças parecem
agir desordenadamente. Uma análise mais cuidadosa, porém, revela que todo poder
emerge de um mesmo lugar.
Se, até algum tempo atrás, o processo de estruturação da educação brasileira passou
por diversos estágios, vale apontar que, desde 2007, todas as transferências de recursos,
assim como a assistência técnica prestada pelo MEC aos municípios, estão condicionadas
à elaboração do Plano de Ações Articuladas (PAR). Com a aprovação do PAR pelo MEC, os
dirigentes assinam um termo de cooperação técnica com o Governo Federal.
O objetivo do PAR é que os municípios cumpram um roteiro de planejamento
e reformas para melhorar seus indicadores educacionais. Essas ações podem ser de
execução direta do município ou depender de assistência técnica e financeira do MEC.
Ao sistematizá-las no PAR, o dirigente municipal de educação descreve o tipo de apoio
de que o município necessita em diversas áreas.
O propósito é o de enfrentar as graves dificuldades da educação básica brasileira,
além de elevar o desempenho escolar a patamares próximos aos dos países
desenvolvidos. A ideia é alcançar esse patamar em um período de 15 anos.
As bases do PAR se assentam em seis pilares: visão sistêmica da educação;
territorialidade; desenvolvimento; regime de colaboração; responsabilização;
mobilização social.
De acordo com Adrião e Garcia (2008), a responsabilização é tomada como um dos
imperativos na consecução dos propósitos do PDE, juntamente com a mobilização
social. O PAR cria uma espécie de discriminação positiva como forma de combater
as desigualdades educacionais para as redes municipais e, também, atenderá as
redes estaduais. Nesse sentido, o programa visa a auxiliar e criar condições objetivas
para que os municípios e estados adquiram capacidade de responder às demanadas
educativas que lhes são pertinentes.
A intenção é induzir, por meio do monitoramento da União, à responsabilização
de gestores locais e das próprias unidades escolares, para que haja sucesso nas ações
de melhoria da escola pública com base em metas estabelecidas em planos sistêmicos
(municipais e estaduais).
130 FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
A sociedade civil precisa estar atenta ao PAR, para que não se instaurem
mecanismos meramente formais, apenas para cumprir exigências legais, incluindo-se
a redução dos processos pedagógicos ao preparo para exames externos, uma vez que
os resultados das avaliações concorrerão para o aumento dos recursos.
Saiba mais
Para que você tenha um amplo quadro comparativo entre os eixos e parâmetros que norteiam as
ações dos dois fundos (FUNDEF e FUNDEB), pedimos que acesse as informações disponíveis em
<http://www.fnde.gov.br/index.php/arq-fundeb/3018-quadrocomparativofundebfundef/download>
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 131
Multimídia
Para saber mais sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação, acesse <http://www.fnde.gov.br/index.php/financ-fundeb>
Atividade
Entendendo que as políticas de fundos só têm significado se produzem ou permitem produzir
efeitos concretos no dia a dia dos sistemas e das instituições educacionais, solicitamos a você
que apresente algumas das principais contribuições que os financiamentos públicos ou privados
tenham permitido viabilizar em sua organização, assim como os impactos dos mesmos nos
processos educacionais. Para isso, discorra sobre uma situação na qual os recursos provenientes
afetaram a melhoria das condições educacionais da instituição exemplificada por você. Faça um
recorte de abordagem que, de preferência, deixe evidente a contribuição de sua execução para a
vida de um estudante ou do processo educativo no qual ele se encontra inserido. Não se esqueça
de tratar do seu papel, como gestor, para que este recurso fosse obtido e para que sua destinação
lograsse êxito. Caso sua instituição não tenha obtido nenhum financiamento ou benefício dos
programas aqui tratados, busque uma unidade escolar próxima a você que tenha obtido tais
conquistas.
COMENTÁRIO
Nesta atividade, pretendemos que você apresente a relação de sua realidade escolar ou sistêmica
com as possibilidades que se implantaram por meio de programas e projetos de financiamento,
acompanhamento e avaliação existentes. Com isso, será possível que percebamos quais condições
vêm promovendo a renovação dos processos educacionais e podem, de forma mais ampla,
apontar para uma melhoria das situações de integração da comunidade escolar com os sistemas
e unidades escolares. Ao mesmo tempo, poderemos mapear coletivamente situações concretas
de inovação e de tomadas de decisão que causaram impactos positivos nas instituições escolares
e no desempenho acadêmico de seus estudantes.
Resumindo
Nesta aula, analisamos diferentes fundos públicos de financiamento da Educação e, também,
os de origem privada. Além disso, estudamos como são organizados os fundos que contribuem
com a Educação brasileira. Vimos programas que são responsáveis por apoiar financeiramente
cada parte da Educação Básica, seja no que se refere aos programas de livros didáticos, seja às
bibliotecas nas escolas, alimentação escolar, dentre outros. Aprendemos que esses projetos
constituem-se, na verdade, em políticas mais ou menos sistêmicas, que dão ao campo educacional
maior ou menor importância no cenário das demais políticas públicas. Vimos que o FUNDEF e,
mais especificamente, o FUNDEB, são inovações que refletem contextos de luta pela valorização
da Educação Básica e dos profissionais da Educação, criando um ambiente mais estável para o
financiamento federativo dos sistemas educacionais. No panorama dos investimentos externos,
buscamos trazer para a aula referências ao BID e ao BIRD. Todos esses fundos demonstram os (des)
caminhos da aplicação das verbas que se tornam públicas na história mais recente da Educação
brasileira.
Bibliografia consultada
ADRIAO, T.; GARCIA, T. Oferta educativa e responsabilização no PDE: o Plano de Ações
Articuladas. Cad. Pesqui. [online]. 2008, vol.38, n.135 [citado 2010-06-16], pp. 779-
796. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
15742008000300012&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0100-1574. doi: 10.1590/S0100-1574200
8000300012. Acesso em 10 de junho de 2010.
BRASIL. Presidência da República. Decreto 6.094, de 24/4/2007: dispõe sobre a
implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União
Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a
participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência
técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da
educação básica. Brasília, 2007e. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil/_
Ato2007-2010/2007/Decreto/D6094.htm. Acesso em: 10 de junho de 2010.
BRASIL. Presidência da República. Portaria Normativa Interministerial nº 17, de 24 de abril
de 2007. Institui o Programa Mais Educação, que visa fomentar a educação integral de
crianças, adolescentes e jovens, por meio do apoio à atividades sócio-educativas no
contraturno escolar. In: Diário Oficial da União, nº 80, 26/04/2007, seção 1, p. 5-6.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 11.494/2007. Regulamenta o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais
da Educação. Brasília, 2007. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2007/Lei/L11494.htm Acesso em: 10 jun. 2010.
BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 6.253/2007: dispõe sobre o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais
da Educação. Brasília, 2007. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2007-2010/2007/Decreto/D6253.htm Acesso em 10 de junho de 2010.
O’CONNOR, J. USA: a crise do Estado Capitalista. São Paulo: Paz e Terra, 1977
OLIVEIRA, F. de. Os direitos do antivalor: a economia política da hegemonia
imperfeita. Petrópolis: Vozes, 1997.
OLIVEIRA, R. P.; SOUSA, S. Z. Introdução. Educação e federalismo no Brasil:
combater as desigualdades, garantir a diversidade. In: OLIVEIRA, R. P. & SANTANA,
W. (orgs.) Brasilia: UNESCO, 2010. p. 13-38.
VIEIRA, S. L. Educação básica: política e gestão da escola. Brasília: Liber Livro, 2009.
FERNANDES, A. P. E SILVA, L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 133
Aula 8
Legislações e oportunidades de mudança: cenários
em aberto
Metas
Objetivos
Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de:
Requisitos
Para melhor aproveitamento desta aula, é preciso que você reveja, na Aula 2, o
processo que levou ao projeto de LDB referente à Lei nº 9.394/96. É importante ainda
que volte à Aula 4 e refresque a memória sobre os papéis previstos para o Conselho
Nacional de Educação, segundo as Leis nº 4.024/61 e nº 9.131/95.
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 135
Cema
De volta ao passado, conhece sua mãe, Lorraine McFly (Lea Thompson), ainda
antes que ela se casasse com seu pai (Crispin Glover). Para desespero do jovem, no
entanto, aquela que seria sua mãe vê-se apaixonada por ele.
Nota-se que aí se constitui um paradoxo no tempo. Veja: tal paixão coloca em
risco a própria existência do personagem, além de pôr em xeque toda a dinâmica
que se delineou para o futuro, o que poderia desencadear outros acontecimentos
desastrosos para a Humanidade. Com isso, para que sua própria existência não ficasse
comprometida, o jovem é obrigado a servir de cupido entre seus pais.
Sim; mas o que isso tem a ver conosco? Pense você nas decorrências de um fato
ou processo importante que deveria ter sido viabilizado no passado, mas que ficou
incompleto.
Pensou? Então, voltemos ao presente!
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 137
Saiba mais
De 31 de julho a 3 de agosto de 1996, o I Congresso Nacional de Educação reuniu mais de 5 mil
participantes em Belo Horizonte, tendo sido considerado o maior evento da área da Educação já
realizado até hoje no país. Foi organizado e apoiado por inúmeras entidades (UNESCO, UNICEF,
CNBB, MST, ANDIFES etc.), por todos os sindicatos da área de educação e também pelas associações
ditas científicas. Ali foi possível unir sindicalistas e especialistas na busca de uma síntese entre as
diferentes abordagens para a educação, visando ampliar a capacidade de resistir e intervir na
sociedade civil organizada.
O I CONED buscou sistematizar propostas para a elaboração e a tramitação da LDB, assim como
diretrizes educacionais para a elaboração do PNE. Com base nessas diretrizes, as entidades
do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública promoveram, em todo o território nacional,
inúmeras atividades que antecederam e garantiram a realização do II CONED (Belo Horizonte/MG,
novembro de 1997). Esse, por sua vez, culminou na consolidação do Plano Nacional de Educação:
Proposta da Sociedade Brasileira (PNE – Proposta da Sociedade Brasileira), apontando para a
sociedade caminhos pós-definição da LDB.
Nesse sentido, o PNE – Proposta da Sociedade Brasileira é reconhecido como um dos mais
democráticos, representativos e importantes documentos da história da educação contemporânea
no país.
138 FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Já de início, é importante saber e ter bem claro que há, na proposição do PNE que
vige no período de 2001-2010, uma abertura para a progressiva desresponsabilização,
pelo Estado, das tarefas de manutenção e desenvolvimento do ensino, transferindo-
as, sempre que possível, para a sociedade.
Na proposta de PNE aprovada sob a forma de lei, há, inclusive, uma distinção
em relação aos objetivos e finalidades previstos na Constituição Federal, que, no seu
artigo 214º, determina que o Plano proceda “à articulação e ao desenvolvimento do
ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público”.
Segundo a carta, isso é necessário para que se viabilizem objetivos como:
• erradicar o analfabetismo (neste ponto, o PNE sequer faz referência);
• universalizar o atendimento escolar (o PNE propõe somente elevar, de modo
global, o nível de escolaridade da população);
• melhorar a qualidade do ensino (neste objetivo, é fiel, ao apontar a melhoria da
qualidade do ensino em todos os níveis).
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 139
Kriss Szkurlatowski
Figura 8.2: Após nove vetos presidenciais, o PNE saiu da mesa cheio de
modificações.
140 FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Atividade 1
Com base na leitura sobre os vetos impostos à proposta original de PNE, escolha uma das
proposições vetadas para apresentar suas posições sobre os impactos positivos ou negativos que
tal decisão causou. Procure associar sua resposta ao contexto do sistema escolar no qual atua
e, se for o caso, ao contexto de sua unidade escolar. Considere também o entorno da escola e o
contexto social atendido pelo sistema escolar. Feitas essas considerações, você manteria o veto
escolhido? Justifique.
RESPOSTA COMENTADA
Interessa-nos que haja um posicionamento do gestor sobre os impactos concretos de um
arcabouço legal no sistema ou nos sistemas educacionais e em suas unidades escolares. Também
nos interessa que o gestor perceba esse sistema e a unidade escolar como instituições associadas
ao contexto maior, principalmente às necessidades sociais e culturais que os cercam. Por fim,
entendendo que ampliaremos a discussão, pois o novo PNE se apresenta para o debate atual,
solicitamos que você se posicione sobre a manutenção ou não do veto escolhido para análise,
apresentando suas justificativas.
Pelo que já estudamos até aqui, somos capazes de perceber que o PNE acabou se
tornando bastante amplo em suas diretrizes, metas e objetivos, mas transformou-se
em um bicho com grande cabeça e com pés de barro.
As metas, mesmo quando realistas e viáveis, não puderam ser postas em prática,
pois não houve destinação dos recursos propostos na relação PIB/Educação, mesmo
que tenham sido estabelecidas exigências para a obtenção de resultados.
Nesse sentido, o tempo do PNE (2001-2010) se esvaiu e muitas de suas dimensões
e propostas não foram atingidas pelo governo Lula da Silva, que sucedeu aos dois
governos de Fernando Henrique Cardoso.
Neste momento em que conversamos, a Câmara dos Deputados se prepara para
receber o projeto do segundo Plano Nacional de Educação (PNE), que será enviado
pelo Executivo para substituir as metas planejadas para até 31 de dezembro de 2010.
O texto deverá traçar objetivos a serem cumpridos na próxima década na área de
educação no Brasil, da creche à pós-graduação.
Haverá um somatório das propostas da 4ª Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação, ocorrida em 2010, com os temas e determinações de interesses
comuns constantes do Documento Final da Conferência Nacional de Educação
(CONAE), também realizada em Brasília, no início do mesmo ano.
Sobre o PNE que vige, somente algumas metas foram cumpridas, mas faltam
respostas transformadoras para a maioria das 295 intenções para o setor. Para os
parlamentares ligados à educação, o principal problema foi a falta de recursos para
investimentos.
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 141
Ciente dessa tarefa, o Conselho Nacional de Educação, por meio de seu Conselho
Pleno, estabeleceu como prioridades para suas atividades do ano de 2009 o estudo e
a construção de subsídios para a elaboração do futuro Plano Nacional de Educação
(2011-2020).
Com isso, o CNE buscou apresentar indicações preliminares para a construção do
Plano Nacional de Educação. O documento básico (BRASIL, 2009) serviu de estimulador
das diversas discussões democráticas que foram promovidas nos órgãos públicos e
nas entidades da sociedade civil, com destaque àquelas promovidas pelo MEC, pelo
Congresso Nacional e pelo próprio CNE.
142 FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Tais evidências são ratificadas por diversos estudiosos das políticas públicas em
Educação de nosso país e pelo documento do CNE (BRASIL, 2009).
Já as dimensões internas ao texto do PNE apresentam as seguintes dificuldades:
1. Inexistência de indicadores para acompanhamento e avaliação das metas do
desenvolvimento do PNE;
2. Retirada dos mecanismos concretos de financiamento das metas, expressos no
próprio PNE (vetos);
3. Poucas políticas com capacidade de enfrentar as grandes desigualdades
regionais;
4. Desarticulação interna e superposição de metas, dado o formato assumido pelo
PNE;
5. Pouca expressividade das políticas voltadas para a diversidade;
6. Focalização excessiva no Ensino Fundamental;
7. Supremacia das metas quantitativas sobre as qualitativas;
8. Excessivo número de metas, que acabaram pulverizando e fragmentando as
ações.
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 143
RESPOSTA COMENTADA
Também nesta atividade visamos a um posicionamento dos gestores que os leve a refletir sobre
como equívocos cometidos para planejamentos de grande importância e duração podem causar
prejuízos enormes. Neste caso, um plano decenal como o PNE, com suas dimensões interligadas
às demais políticas públicas de promoção social, acaba por causar reflexos em diferentes gerações
de brasileiros. Também é importante para nós que os gestores consigam perceber que o próprio
CNE já havia se manifestado sobre a necessidade de reestruturação do PNE. Ou seja, que os
conselhos não somente normatizem, mas também emitam pronunciamentos que sirvam para
nortear transformações nas políticas e regulações maiores. Com isso, podemos observar que
tanto as regulações quanto os órgãos reguladores acabam por influenciar e serem influenciados
externa e internamente pelo contexto social que os envolve.
144 FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Muito bem: até aqui, tudo compreendido. Agora, vejamos: que desafios são esses
que o novo PNE deve enfrentar?
Sem nos alongarmos mais do que o necessário, observe alguns deles. Puxe
pela reflexão. Leia com calma, pensando sobre as decorrências de cada um desses
importantes temas que se apresentam como necessidade real para os próximos dez
anos:
Caro aluno, sabemos que as transformações das quais vimos tratando não são
imediatas; por isso, o CNE propôs para toda a educação escolar (Educação Básica e
Ensino Superior) um rol de prioridades.
Essas prioridades possuem caráter global, impactando sobre todas as diferentes
facetas que compõem o mosaico da educação escolar. Destacamos aqui um dos
itens elencados pelo CNE (BRASIL, 2009), voltado para a Educação Básica, no qual o
documento entende ser fundamental:
- Definir os padrões mínimos de qualidade estabelecidos pela LDB, considerando
as especificidades da Educação Básica e incluindo todas as suas etapas e
modalidades.
Esses padrões devem indicar o custo/aluno/qualidade (quanto custa a qualidade?)
e compreender:
a) instalações gerais adequadas aos padrões mínimos de qualidade definidos pelo
sistema nacional de educação;
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 145
Stephen Eastop
Como você poderá aprofundar, pela leitura na íntegra da proposta do CNE (BRASIL,
2009), os tópicos do documento ampliam a abrangência aqui apresentada. Fazem
isso ao tratarem de cada modalidade e nível da Educação Básica de forma separada.
Veja como o Conselho as divide: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino
Médio, Educação Profissional e Tecnológica, Educação Escolar Indígena, Educação do
Campo, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, Tecnologias de Informação
e Comunicação (TICs) e Educação a Distância, Educação Ambiental, Relações Étnico-
Raciais, Gênero e Diversidade Sexual, Educação de Crianças, Adolescentes e Jovens em
situação de risco, Educação Prisional, Financiamento, Gestão e Avaliação, Formação
de Profissionais e Valorização dos Profissionais da Educação Básica.
146 FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Figura 8.5: Entre as várias temáticas tratadas pelo CNE para Centro de Estudos Ambientais – CEA
a melhoria da educação brasileira destacam-se a Educação
Ambiental e a Indígena.
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 147
148 FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Multimídia
Como você já sabe, a CONAE/2010 aprovou, em sua plenária final, um Documento representativo
e sistematizador da conferência.
Para conhecer o documento final da CONAE/2010, acesse: http://conae.mec.gov.br. O evento da
CONAE também registrou números significativos no que diz respeito à quantidade e à qualidade
da participação. Você poderá conhecê-los acessando o endereço apontado.
Veja: após o conjunto das deliberações das plenárias dos eixos, os delegados eleitos
nos municípios, nos estados e no Distrito Federal exerceram seu poder de escolha
na plenária final. Ali, com vistas ao novo PNE (2011-2020), estabeleceram diversas
proposições. A seguir, a fim de transmitir uma visão bastante ampla do processo,
listamos 24 delas. À medida que for lendo, você vai perceber que nos debruçamos
sobre cada um dos itens. Atenção e bom proveito!
São algumas das proposições levantadas pela CONAE:
1. Criação do Sistema Nacional da Educação, que vai articular as ações educacionais
em todos os níveis e todas as áreas de ensino;
- Nesse item, cabe assinalar que um sistema nacional é composto pela unidade na
diversidade e, assim, visa a garantir a toda a população do país a mesma educação.
Quando cada ente federado organiza seu sistema, como vemos hoje, estamos
transformando diferença em desigualdade;
2. Criação do Fórum Nacional da Educação, que terá poderes mais amplos que o
Conselho Nacional da Educação;
- Em relação a esta criação, acompanhou-se a perspectiva de estabelecimento de
um formato de institucionalização das conferências de educação, que ocorrerão
de quatro em quatro anos, precedidas de espaços equivalentes nos estados e
municípios. O Fórum Nacional de Educação será instância não-governamental
que organizará o processo democrático e terá uma composição espelhada na
conseguida para organizar a CONAE. Caberá a este fórum influenciar decisivamente
na elaboração do futuro Plano Nacional de Educação, que precisa ser aprovado
até o final deste ano.
3. Mudanças nos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais, que deverão ter seus
membros eleitos de forma democrática e representar os segmentos da área da
educação;
- Na verdade, há, conjugada a este processo de democratização, uma intenção de
fortalecer os Conselhos, que hoje são apenas órgãos normativos e consultivos, e
transformá-los em verdadeiros órgãos fiscalizadores e de caráter deliberativo.
Também se intenta garantir que a composição dos conselhos seja a expressão da
diversidade do segmento educacional, com participação de trabalhadores, de pais
e estudantes e de gestores. E esta composição deve ser paritária.
Por fim, a CONAE prevê assegurar em lei a autonomia dos conselhos também no
que diz respeito à dotação orçamentária e autonomia financeira.
4. A gestão democrática da educação deverá ser estendida também para o setor
privado;
- A CONAE aprovou um artigo do documento final que define a educação como
concessão do Estado, para que o setor privado seja regulamentado no Sistema
Nacional de Educação.
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 149
Kata Szikora
Figura 8.7: Saúde, suplementação alimentar, assistência médica e psicológica
estão asseguradas pela CONAE.
150 FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 151
Carl Dwyer
Figura 8.9: CONAE: a realidade é dura, mas as perspectivas são de avanço.
152 FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010.
Zeafonso
Figura 8.10: Entre as principais discussões da CONAE, a temática da perspectiva
de melhoria salarial foi central.
14. Formas de melhoria salarial dos profissionais da educação, com piso salarial de R$
1.800,00 para 40 horas semanais de trabalho;
15. Sistema de dedicação exclusiva do professor num único cargo, sendo que, até
2015, 1/3 da carga horária será destinada a horas-atividade;
- O CONAE reforça as discussões existentes sobre ambos os itens referentes às
condições salariais e à carga horária de trabalho, ao afirmar que é necessário
o estabelecimento de metas e estratégias que garantam condições salariais e
funcionais aos profissionais da educação. Segundo o CONAE, isso deve ser feito
em sintonia com as Diretrizes Nacionais de Carreira e piso salarial nacional,
estabelecidos em lei.
Com isso, o documento visa a assegurar, no setor público, o cumprimento do piso
salarial profissional nacional com plano de carreira.
Um passo na conquista dos direitos mencionados foi a recente Lei nº. 11.738/08,
aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República, que
estabeleceu piso salarial nacional para os professores da educação básica com
formação em nível médio e em regime de, no máximo, 40h semanais de trabalho,
passando a vigorar a partir de 2009.
16. Licença automática e remunerada para cursos de mestrado e doutorado;
- Para tanto, o documento se preocupa em estabelecer que se constituam quadros de
profissionais, especialmente de docentes, para a substituição imediata de efetivos
em licença de qualquer natureza, regulamentando a seleção de professores
substitutos, para que tenham graduação na área de conhecimento dos professores
que forem substituir.
17. Formação inicial do professor de forma presencial e por meio de EAD somente, de
forma excepcional e rigidamente regulamentado;
- Com isso, a formação inicial pode, de forma excepcional, ocorrer na modalidade
de EAD para os profissionais da educação em exercício, onde não existam
cursos presenciais, mas é forte a ressalva de que a oferta de formação deve ser
desenvolvida sob rígida regulamentação, acompanhamento e avaliação.
Tal determinação também veio acompanhada de outras medidas, como a
consolidação dos polos da Universidade Aberta do Brasil como centros de formação
continuada dos profissionais da educação, coordenados pelas universidades, em
parceria com as redes de ensino público, e substituição dos tutores por professores
efetivos.
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 153
Cobrasoft
FERNANDES A. P. E SILVA L. T. AMBIENTE REGULATÓRIO NA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO: SESI/UFF, 2010. 155
RESPOSTA COMENTADA
Esta atividade pretende que se construa uma compreensão das perspectivas de mudança que se
abrem na discussão de um plano decenal para a educação. Nesta aula, não trouxemos todas as
propostas de mudança advindas da CONAE para a educação nacional. Ainda assim, entre as 24
situações aventadas, há, sem sombra de dúvidas, questões que são amplamente estruturantes e
que, uma vez efetivadas, podem realmente impactar em mudanças profundas. O que a atividade
permite é que se estabeleça, por parte dos gestores, uma focalização em elementos que poderão
afetar positiva ou negativamente suas práticas e propostas empreendedoras à frente dos sistemas
ou das organizações escolares. Como exemplo para esta resposta, podemos tratar da questão do
aumento da aplicação do PIB na educação para um patamar de 10% do mesmo. Este investimento
tem para além de um propósito concreto, possibilitando que recursos sejam de fato aplicados no
setor e que não sejam cortados ou escamoteados, uma sinalização simbólica: de que a educação
assume caráter relevante na produção do desenvolvimento do país e que, portanto, merece dessa
produção uma contrapartida.
Resumindo
Conforme você já deve ter notado nesta aula, tivemos a preocupação de possibilitar a você
conhecer, de forma mais aprofundada, os problemas e ausências existentes no PNE em vigor e
que são suficientes para “atacar” a educação brasileira, principalmente a educação pública.
Procuramos também oferecer a você um mergulho na Conferência Nacional de Educação,
realizada em março e abril de 2010, que traz, em todas as suas etapas de discussões e deliberações,
possibilidades de avanços para o cenário educacional brasileiro em sua totalidade.
Sugerimos, a partir de agora, que, de acordo com seu interesse e a necessidade emanada pela
sua prática gestora, você possa visitar os sites que indicamos ao longo desta aula e também desta
disciplina. Faça isso para aprimorar seus conhecimentos e participar efetivamente do processo
de definição das políticas públicas que nortearão os caminhos da educação brasileira. Nesse
processo, somos todos interessados.
Bibliografia consultada
BRASIL. Plano Nacional de Educação. Lei nº 10.172 de 09 de janeiro de 2001.
BRASIL. Portaria CNE/CP nº 10, de 6 de agosto de 2009.
BRASIL. Indicações para subsidiar a construção do Plano Nacional de Educação
2011–2020. CNE- Comissão Bicameral para estudo do Plano Nacional de
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