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RESUMO
distúrbio da deglutição com sinais e sintomas específi- sificar em disfagia leve, moderada e grave 5,10.
cos que se caracteriza por alterações em qualquer eta- Portanto, durante toda a avaliação da deglutição
pa e/ou entre as etapas da dinâmica da deglutição, po- com o paciente faz-se necessário estar atento às di-
dendo ser congênita ou adquirida após comprometimen- ficuldades orofaríngeas que podem ser observadas
to neurológico, mecânico ou psicogênico 5-6. ou expressadas por meio de desconforto durante a
Ao se considerar a função primeira do processo de deglutição, tosse, engasgos, múltiplas deglutições
alimentação, a nutrição e a hidratação do individuo, para um pequeno bolo, resíduos orais de alimento,
mantendo o seu estado nutricional e garantindo assim escape oral, sensação de algo parado na garganta,
sua sobrevivência, a disfagia poderá acarretar prejuí- regurgitação oral e/ou nasal, dificuldade para emitir
zos aos aspectos nutricionais, de hidratação, no esta- sons da fala pós-deglutição com alteração da quali-
do pulmonar, prazer alimentar e social do indivíduo 5-7. dade vocal, sialorreia, alteração do ritmo respiratório,
A disfagia pode ser classificada em leve: a dificulda- sudorese e fadiga após poucas deglutições 9.
de concentra-se no transporte do bolo, ocorrência de Diante dos aspectos pesquisados e abordados na
pequena quantidade de estase em recessos faringeais literatura e a constatação de que se faz necessário
sem penetração laríngea, sem história de ampliar as pesquisas na área da fonoaudiologia em
broncopneumonia de repetição ou sem perda nutricional; hospital, especificamente o trabalho desenvolvido na
disfagia moderada: dificuldade no transporte oral do bolo, UTI e Semi-UTI, justifica-se o presente trabalho.
ocorrência de estase em recessos faringeais com si- O objetivo do presente trabalho foi verificar a incidência
nais sugestivos de penetração laríngea e pequena quan- e o grau de disfagia em indivíduos internados em UTI e
tidade de material aspirado, além de esporádicas pneu- Semi, correlacionando os achados com a doença de base.
monias déficit nutricional e alteração do prazer alimen-
tar; e disfagia severa: grande quantidade de estase em ■ MÉTODOS
recessos faringeais, sinais sugestivos de penetração
laríngea e grande quantidade de material aspirado, pneu- Participaram desta pesquisa 25 pacientes interna-
monias de repetição, desnutrição e alteração do prazer dos na UTI e Semi-UTI do Hospital Centro Médico
alimentar com impacto social 5. Maranhense. O estudo incluiu pacientes de ambos os
Dentro de uma UTI é de competência do fonoaudiólogo gêneros, independente de idade ou patologia de base,
enquanto membro da equipe avaliar a disfagia orofaríngea e excluiu pacientes dependentes de ventilação mecâ-
de forma criteriosa e cautelosa não colocando em risco nica; pacientes sem parecer médico que autorizasse
o quadro clínico do paciente, auxiliando, portanto, na pre- a avaliação; pacientes com rebaixamento do nível de
venção e redução de complicações pulmonares e/ou de consciência; apresentando quadro clínico e respirató-
nutrição e hidratação, diminuindo o tempo de ocupação rio graves, e pacientes traqueostomizados sem possi-
do leito e custos hospitalares 8-9. bilidades de esvaziamento do balonete (cuff).
A avaliação e a terapia fonoaudiológica fazem-se Utilizou-se o protocolo de Avaliação Fonoaudiológica
necessárias não somente para o diagnóstico da as- da Disfagia Orofaríngea em Leito Hospitalar 5. Sendo
piração, avaliando as possibilidades de reintrodução que o mesmo foi adaptado de acordo com as necessi-
de dieta por via oral, assim como o retorno do prazer dades apresentadas pelo estudo realizado.
em alimentar-se concomitantemente ou não ao uso Durante as avaliações os investigadores se
da sonda de alimentação 9-11. paramentaram conforme as normas de
Na avaliação funcional da deglutição têm-se como biossegurança: lavar as mãos antes e após o cuida-
objetivo identificar os achados e correlacioná-los como do com o paciente; uso de barreiras como luvas,
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os distúrbios da dinâmica da deglutição . Sendo que máscaras, aventais e gorros 14-15. Também foram uti-
o teste com alimento é realizado de forma muito cau- lizados como instrumentos no momento da avalia-
telosa, com escolha criteriosa de consistência po- ção estetoscópio, lanterna oral, gazes, espátula, ali-
dendo ser interrompido imediatamente, procurando- mento na consistência líquido-pastoso (sopa
se evitar aspiração 9. Na avaliação funcional da liquidificada, mingau, vitaminas de fruta), e pastoso
deglutição sem dieta faz-se necessário a avaliação (purê, alimentos cozidos); foram respeitadas as con-
de todos os parâmetros de monitorização e a avalia- dições alimentares dos pacientes como
ção das funções do sistema estomatognático 1. pneumopatas, diabéticos, e outros. Além dos utensí-
Na avaliação funcional da deglutição com dieta é ne- lios instrumentais (copo, colher, canudo), espessante
cessário verificar os parâmetros, nível de consciência do e corante azul caso quando foi necessário 12-14. Antes
paciente, condições clínicas gerais além da obtenção da da avaliação, houve a apresentação inicial da
liberação médica para realização da mesma 9-10,13 . terapeuta informando ao paciente e/ou sua família ou
É importante ao realizar-se a avaliação funcional cuidador o objetivo da avaliação além de esclarecer a
da deglutição em um paciente no leito hospitalar se- respeito da disfagia. No momento da avaliação, to-
guir um protocolo para obtenção de informações fide- dos os pacientes encontraram-se sentados no leito
dignas observadas durante a avaliação e assim clas- ou fora dele da forma mais simétrica possível.
Primeiramente foi realizada a investigação clíni- casos de fadiga exces siva e aspiração alimentar (que-
ca sobre a dieta, condição respiratória, compro- da de saturação do oxigênio, tosse, e qualidade de
metimento motor e cognitivo além da avaliação fun- voz molhada).
cional da deglutição sem dieta (indireta) para averi- Esta pesquisa foi avaliada e aprovada pelo
guação das funções do sistema estomatognático, Comitê de Ética de Pesquisa do Centro de Es-
sendo que após o término da avaliação verificava- pecialização em Fonoaudiologia Clínica com o
se a prontidão do paciente para a realização da número 007/05.
avaliação com dieta (direta). Os dados foram analisados através do SPSS 10.0.
Na avaliação da deglutição com dieta (direta) o Para verificar a existência de associação entre as
tipo e a consistência do alimento oferecido ao paci- variáveis em estudo, utilizou-se o Teste Exato de
ente obedeceu os achados verificados na avaliação, Fisher e/ou o Teste Qui-quadrado. O nível de
sendo que a mesma somente foi interrompida em significância adotado foi de 5%.
Direta:
Consistência: LIQUIDO/PASTOSO (sopa liquidificada; mingau;vitamina de fruta).
Volume:
Achados 5ml ( )10ml ( ) Manobras Terapêuticas Eficientes
15ml ( )
Alteração na vedação labial
Escape oral anterior
Alteração no início do trânsito
faríngeo
Diminuição da elevação
laríngea
Deglutições Múltiplas
Refluxo nasal
Sinais sugestivos de aspiração
Tosse ou engasgo
Alteração na ausculta cervical
Voz molhada após a deglutição
Alteração respiratória
Outras alterações
____________________________________________________
Investigador
■ RESULTADOS ■ DISCUSSÃO
Com base na metodologia aplicada, dos 25 paci- Os resultados verificados por meio deste estudo
entes avaliados, 18 apresentaram disfagia, sendo que confirmam a alta incidência de disfagia em pacientes
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11 (61%) tiveram como doença de base lesão neuroló- internados em UTI e Semi-UTI adultos . Dos 25 (100%)
gica, e 7 (39%) tiveram como doença de base outros pacientes avaliados, 18 (74%) obtiveram o diagnóstico
acometimentos clínico ou cirúrgico, denominada nes- fonoaudiológico de disfagia orofaríngea.
ta pesquisa como base não neurológica (Tabela 1). Destes, 11 (61%) pacientes apresentaram disfagia
Essa associação apresentou significância estatísti- orofaríngea neurogênica após serem acometidos por
ca, apontando uma tendência de presença de disfagia doença de base neurológica como Acidente Vascular
com base neurológica (Teste Exato de Fischer- p= 0.007). Encefálico Isquêmico, Acidente Vascular Encefálico
Dos 18 pacientes disfágicos, 8 (45%) apresenta- Hemorrágico e Doenças Degenerativas e 07 (39%)
ram disfagia de grau leve, 4 (22%) disfagia de grau pacientes acometidos por doença de base não neuro-
moderado e 6 (33%) disfagia de grau grave. lógica (cardiopatia, câncer, traumas, e Doença Pul-
A Tabela 2 apresenta a disfagia de acordo com o monar Crônico Obstrutiva), apresentaram disfagia
grau leve, moderado e grave em pacientes acometi- orofaríngea mecânica. A associação significante entre
dos por doença de base neurológica e não neurológi- doença de base neurológica e presença de disfagia
ca. Observou-se que 05 (72%) pacientes não neuro- confirma estudos anteriores que relatam maior inci-
lógicos apresentaram disfagia de grau leve, ao passo dência de disfagia orofaríngea em pacientes após com-
que 03 (27%) pacientes neurológicos, apresentaram prometimento neurológico 9,16-18.
disfagia de grau leve. Com relação à disfagia de grau No que se refere à relação da disfagia orofaríngea
moderado, observou-se que 01 (14%) paciente neu- segundo o grau, obteve-se nesta pesquisa uma
rológico e 03 (27%) pacientes não neurológicos. Por prevalência de disfagia de grau leve 45% em relação
fim, apenas 01 (14%) paciente não neurológico apre- aos graus moderado 22% e grave 33%. Este achado
sentou disfagia de grau grave e 05 (72%) pacientes foi coerente com outros estudos 19-20.
neurológicos apresentaram disfagia de grau grave. Verificou-se na presente amostra que os pacientes
Nesta associação não houve significância estatística disfágicos orofaríngeos com base neurológica apresen-
2
tanto no Teste Qui-Quadrado (X = 3.448, p= 0.17), taram na sua maioria grau grave (46%), seguidos de
quanto no Teste Exato de Fischer, juntando-se as grau leve e moderado (27% respectivamente). Ainda
Disfagia
variáveis disfagias leve e moderada (p=0.19). em relação a este dado também foi observado que na
Doença de Base Sim Não Total maioria dos 11 pacientes disfágicos orofaríngeos
Clínico/cirúrgico 7 7 14 neurogênicos, 9 eram por acidente vascular encefálico
Tabela 1- Associação entre presença ou não de
Neurológico disfagia 11 e doença0de base em 11 números absolutos (AVE), 1 tumor cerebral e 1 mal de Alzheimer, o que
vem corroborar com a literatura sobre a freqüência de
Total 18 7 25
disfagia em pacientes após AVE 9,16-18,20.
Ressalta-se aqui, a necessidade que houve de cuida-
dos especiais destinados a estes pacientes neurológi-
cos 11,19, posto que a maioria apresentou sinais sugesti-
vos de penetração laríngea, além de alterações do esta-
do cognitivo e de consciência, dificultando o processo de
Teste Exato de Fischer: p= 0.007 (valor significante) alimentação de forma segura e funcional 18. Houve ne-
cessidade de acompanhamento diário fonoaudiológico na
transição da via de alimentação e da técnica mais segu-
ra para cada paciente 11.
Tabela 2- Distribuição em números absolutos (N)
Já os pacientes disfágicos orofaríngeos de base
do grau de disfagia e a doença de base
não neurológica apresentaram na sua maioria grau leve
72%, seguidos de grau moderado e grave 14% res-
pectivamente. É válido ressaltar que a maioria destes
pacientes apresentou no seu quadro, um leve descon-
forto respiratório, o que sugere que este fator pode estar
relacionado com a leve dificuldade na deglutição, já
que a não sincronia entre a respiração e deglutição
pode levar a quadros de disfagia 21-22.
Destaca-se também que dentro do universo de pa-
cientes com disfagia orofaríngea de base não neuroló-
gica, disfágicos mecânicos, geralmente mantém o seu
quadro neurológico intacto, não havendo assim altera-
ção nem cognitiva e nem do estado de consciência presença do fonoaudiólogo no dia-a-dia da equipe de
23
. Sendo assim pode-se chegar a conclusão de que profissionais do hospital, uma vez que este tem pa-
o fato de haver uma maior incidência de grau leve de pel fundamental na tentativa de adequação da via de
disfagia nesses pacientes advém deste fator. alimentação 11,26.
Verificou-se no presente estudo que todos os pa-
cientes avaliados apresentaram alteração da higiene ■ CONCLUSÃO
intra-oral. Esta alta incidência serve de alerta aos pro-
fissionais que integram a equipe de saúde, uma vez A partir das análises dos dados obtidos concluiu-se:
que pode haver associação entre a falta de higiene 1. A existência de alta incidência de quadros de
intra-oral e os quadros de pneumonia aspirativa 24. disfagia orofaríngea nos pacientes internados na UTI,
Esta possibilidade não deve ser descartada, mesmo com maior incidência de pacientes com base neuroló-
em pacientes com alimentação por sonda e via oral gica em relação aos pacientes com base não neuroló-
suspensa, já que a deglutição da própria saliva pode gica, havendo associação estatisticamente significante.
maximizar os riscos de infecção pulmonar 17-18,23,25. 2. Quanto ao grau de disfagia encontrou-se pre-
Apesar do número reduzido da amostra podemos sença maior do grau leve em pacientes com base
afirmar que alta incidência de disfagia orofaríngea no não neurológica e número maior de grau grave nas
âmbito da UTI e Semi-UTI, reforça a importância da doenças de base neurológica.
ABSTRACT
Purpose: to check the incidence and the grade of oropharyngeal dysphagia in individuals under intensive
and almost intensive therapy, correlating the data with what was found about the base ill. Methods: in
this project, 25 patients from intensive therapy and almost intensive therapy were available from Centro
Médico Maranhense Hospital. The information was collected with a speech therapy evaluation. Results:
from 25 patients evaluated, 18 (74%) showed oropharyngeal dysphagia, 11 (61%) had as base a
neurological ill, and 7 (39%) had as base a non-neurological ill. From 18 patients that had dysphagia,
8 (45%) showed a little grade of dysphagia, 4(22%) moderate grade of dysphagia and 6 (33%) a
serious grade of dysphagia. About the patients without a neurological base ill problem: light grade 5
patients (72%), moderate grade 01 patient (14%) and had acute grade 01 patient (14%). Conclusion:
with the analysis and conclusions obtained, this project show high incidence of oropharyngeal dysphagia
in patients at the hospital. In the association and relation between a neurological ill and grade of
oropharyngeal dysphagia, the acute grade was predominant, as for the association of patients without
a neurological ill and the grade of oropharingeal dysphagia, the minor showen grade was predominant.
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