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OS BEBÊS CHUPAM OS DEDOS AINDA NO ÚTERO MATERNO

Sáb, 17 de Julho de 2010 17:00 -

OS BEBÊS CHUPAM OS DEDOS AINDA NO ÚTERO MATERNO

Profissionais advertem sobre os efeitos negativos de um pequeno vício que começa


ainda no ventre. Chupar dedo — além dos limites de idade previstos — pode causar
alterações na fala, na mastigação e provocar outras deformações na estrutura bucal

Helio P. Leite

17.07.2010

Os bebês chupam os dedos ainda no útero materno. Fazem isso para fortalecer as
musculaturas responsáveis pelos movimentos da sucção, o que, depois do nascimento, tornam
possíveis as mamadas. A sensação de conforto acalma a criança, que passa a relacionar o
gesto com o estado de segurança e aconchego. O hábito pode durar um certo tempo, e tem
como aliados os dedos, as chupetas e até as pontas de fraldas. Mas os problemas só
aparecem quando o gesto se torna frequente, e se estende para além do primeiro ano de
idade. Muito além, mesmo, como ocorre em alguns casos em que o “vício” persegue a pessoa
até os 30 anos de vida. A sucção é um comportamento instintivo e natural, mas pode gerar
problemas fisiológicos, estéticos, emocionais e até de convivência em sociedade. “Sabe-se
que a sucção é um ato reflexo dos primeiros meses de vida, função vital para o bebê, tendo
início na gestação, aproximadamente na 29ª semana, sendo que o seu amadurecimento
ocorrerá até a 32ª semana de vida uterina, dando condições ao bebê de sugar o seio materno
para sua alimentação e sobrevivência”, explica a fonoaudióloga Cristiane Tanigute. De acordo
com a especialista, o bebê chupa o dedo — sucção não nutritiva — quando a saciedade de
fome é eliminada antes da necessidade natural de sucção. Isto ocorre a fim de eliminar a
energia muscular produzida para exercer essa função ou como uma forma de compensação
emocional.

“Já a persistência pode ocorrer tanto pelo desenvolvimento de uma mania (1) , gerada pelas
sensações de prazer, como também pode ser indício de ansiedade”, alerta Patrícia Cerejo,
especialista em psicologia infantil. Por isso, antes de se preocupar com a interrupção do hábito,
deve-se tentar descobrir a origem do comportamento. “Se é apenas uma mania, um gesto
automático, pode-se substituir o dedo por outra forma de aconchego, de conforto emocional,
dependendo da dinâmica familiar e das preferências da criança”, sugere. Mas nos casos de um

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comportamento ansioso, antes de retirar o hábito, deve-se diagnosticar e solucionar a causa da


ansiedade.

O retorno
Chupar o dedo pode ser sintoma de dificuldade com o enfrentamento de uma situação nova:
“É comum, por exemplo, que uma criança que não chupava mais o dedo, com nascimento de
um irmão, volte ao hábito”, conta. Cerejo alerta também para o prejuízo social que o hábito
pode causar: “A criança pode ser excluída do grupo pelo comportamento infantilizado, já que
os colegas remetem o gesto de chupar o dedo a uma atitude de bebês”, afirma.

Para a especialista, quando o hábito persiste é necessária a atuação de uma equipe


multidisciplinar, com atuação de psicólogo, fonoaudiólogo e dentista.

Tanigute afirma que não existe uma idade certa para interromper o gesto, mas o ideal é que
persista apenas enquanto ocorrer o uso do bico, tanto do peito quanto da mamadeira, ou seja,
até o primeiro ano de vida. “Depois disso, pode ocorrer atrasos e alterações de fala, do
desenvolvimento e amadurecimento da mastigação e deglutição, de posição dos lábios,
causando respiração oral ou mista, e até mesmo problemas na aceitação de determinados
alimentos”, alerta.

Para os dentistas, o período de sucção não nutritiva é tolerado até os 4 anos de idade, quando
é possível constatar mal-oclusões — desvio do fechamento normal da boca —, dependendo da
duração, frequência e intensidade do hábito de sucção. “Essas mal-oclusões poderão interferir
na execução das funções de respiração, deglutição, mastigação e fala, casos em que a
fonoaudiologia poderá intervir”, destaca. A fonoaudióloga defende que a eliminação do hábito
depende muito da dedicação e da disciplina dos pais, familiares e cuidadores das crianças,
como avós e babás. “Normalmente, usamos manobras que dependem da execução em casa,
como envolver o dedo com materiais colantes, desenhar objetos ou personagens na superfície
interna do dedo ou na unha da criança, ou substituir o dedo por outro objeto”, explica.

O trabalho na terapia fonoaudiológica envolve a conscientização da criança e a mudança de


posturas e formas de executar a respiração, mastigação, deglutição e fala. Segundo a
especialista, o tempo do tratamento depende de cada criança e do seu núcleo familiar, e
também do diagnóstico que estabeleça o possível motivo do hábito. “Em casos que envolvam o
emocional, a indicação do psicólogo faz-se necessária, podendo o atendimento ser executado
pelos dois profissionais simultaneamente. E se a mal-oclusão, também já estiver instalada a
presença do ortodontista na equipe de tratamento será primordial”, completa.

1 - Gesto automático
A palavra mania vem do grego e significa loucura, ou um sintoma de graves distúrbios
psíquicos. Mas, na concepção popular, virou sinônimo de tique nervoso, caracterizado pela
repetição de gestos e elevado grau de dependência desses atos quase mecânicos,
imperceptíveis muitas vezes para quem os pratica, como roer unhas ou chupar o dedo. Pode
significar também fixação em determinados hobbies, como colecionar besouros, selos etc.

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Hábito vem desde a barriga da mãe

Fabiano Masson Boschini tem 31 anos, começou a chupar o dedo ainda quando bebê, dentro
da barriga da mãe, e faz isso até hoje. O gerente comercial diz que aprecia a sensação de
conforto, alívio e segurança do hábito. “Chupo o dedo polegar desde bebê, e segurando a
orelha, que de preferência tem que estar gelada”, conta sem constrangimento. Casado, ele diz
que os momentos em que recorre ao polegar são os de tranquilidade, como após o almoço e
antes de dormir. “Não tenho problema algum em chupar o dedo em frente aos meus amigos e
familiares e nunca sofri nenhum tipo de repreensão”, completa.

“Chupar dedo provoca deformações na estrutura bucal devido à quebra do equilíbrio muscular
entre lábios, bochecha e língua”, explica o especialista em ortodontia infantil Sidney Medeiros.
As alterações dentárias ou de estrutura da cavidade oral dependem da duração da frequência
e da intensidade do hábito de sucção, sem desconsiderar também outros fatores, como
interferências ambientais e hereditárias. “Quando o hábito de sucção persiste até os 4 anos, há
uma prevalência maior de problemas como mordida aberta anterior e mordida cruzada
posterior com saliência excessiva”, conta.

O hábito também provoca retrognatismo mandibular, prognatismo maxilar, musculatura labial


superior hipotônica, musculatura labial inferior hipertônica, atresia do palato, interposição de
língua e respiração bucal. Nesses casos existe a alternativa de aparelhos, como a grade
palatina, usados para desestimular o hábito. De acordo com Medeiros, o aparelho, que pode
ser fixo ou móvel, deve permanecer por seis meses na boca da criança para eliminar
completamente o costume.

Carolina Khodr

3/3

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