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Nemigioo& Rows Anatomia e fisiologia do trato gastrintestinal Introducao s homens ¢ 0 ruminantes tém dividido uma longa hist6ria de produgio desde os primérdios da civilizacio. Primeiro de uma forma némade € agora com mo- dernas formas de manejo, principalmente no aspecto nutricional. Assim, com a evolucio da nutricio dos raminantes, o interesse sobre a fisiologia do trato digestério, em particular dos pré-estémagos, tem aumentado constan- temente. Isso porque os pré-estomagos dos ruminantes possuem estruturas anatémicas proprias para a tealizacio do processo de fer- mentacio, permitindo ao animal 0 aproveita- mento de plantas fibrosas. Os ruminantes, no entanto, nio sio capazes de produzir as enzi- mas necessitias pata esse processo de diges- to, mas permitem o desenvolvimento de bac térias, protozofrios e fangos que realizam essa Renato L. Furlan Marcos Macari Daniel E. de Faria Filho fangiio. Um aspecto que deve set levado em conta nos dias atuais é a utilizacio de dietas mais concentradas (gros) para a produgio de animais mais precoces. O manejo nutticional, entretanto, com a utilizagio de dietas mais fi- brosas ou mais concentradlas, indus alteragdes 1a fisiologia ruminal, uma vez que o tipo de alimento altera a populacio de microrganis- mos, taxa de passagem do alimento, a motili- dade € a velocidade de absorcio dos nutrien: tes com impacto sobre a digesti6 dos rumi- nantes. Nesce sentido, para a obtencio de um bom desempenho produtivo na criacio de ru- minantes deve-se ficar atento para a interagio entre 0 animal ¢ o proceso digestorio, a fim de que 0 custo energético dos ajustes fisiols gicos sejam os menores possiveis. © presente capitulo tem como proposta referir-se a0s principais aspectos da anatomia e da fisiolo- gia do trato digestério dos ruminantes. Anatomia do sistema digestério A anatomia do trato digestério dos rumi- ‘nantes tem duas particularidades, as quais tém sido discutida tanto do ponto de vista filoge- nético como ontogenético. Para alguns pes- quisadores, a presenga dos pré-estémagos tem. colocado os ruminantes em posicio de desta- que entre os mamiferos. Por outro lado, essa caracteristica, aida a eructagio e ruminacio, também diferencia esses mamiferos. A fer- mentagio microbiana ruminal fax com que 0 uso de alimentos relevantes para a espécie humana no seja competitivo quando se refe- re A nutriggo de ruminantes, tema profunda- mente abordado neste liveo. © processo adaptativo dos ruminantes esteve vinculado 2o tipo de alimento dispor vel para sua alimentagio. Assim, quanto me- nor a capacidade do animal em aproveitar ali- ‘mentos menos fibrosos, menor 0 desenvolvi- mento dos pré-estmagos; contudo para aque- Jes que dependiam para sua alimentacio de gramineas ¢ outros alimentos altamente fibro- 508 0 desenvolvimento dos pré-estomagos foi acentuado. Os bovinos estio classificados dentre esses tiltimos, por serem consumido- res de diferentes tipos de forragens e por se encontrarem espalhados pelos diferentes pon- tos do globo terrestre. Boca, lingua, dentes, esdfago e glandu- Jas anexas A presenca das glindulas na cavidade oral é fundamental para o proceso mastigatério. A cavidade é recoberta por uma mucosa cu- tinea espessa € muito ramificada, que se éx- tetioriza para o labio superior ¢, nessa estrutura nasolabial, encontram-se glindulas serosts gran- des. A musculatura para. movimento dos labi- 0 € relevante no apenas no processo de apre- ensio, mas a contracio muscular determina 0 esvaziamento das glindulas mucosas, as quais estilo presentes entre as fibras musculares, Nos bovinos, existe a glindula bucal ventral que pos- sui miltiplas abertaras e desemboca no vestiba- lo bucal. Este também recebe toda secrecio da landula parétida, via conduto parotideo. A sali- va procluzida pela glindula parétida tem fungio especial para os bovinos, como descrito no ciclo da uréia, Outta caracteristica da eavidade oral é 6 palato duro, o qual se liga intimamente 4 lémi- ‘na dental, por causa da perda evolutiva dos den- tes incisivos nos bovinos. A lingua dos bovinos apresenta caracte- risticas préprias, pois como o animal no é Nom oe Risers um consumidor seletivo de forragens, twa como tum émbolo, ou seja, atua no sentido de empur- rar 0 alimento para a cavidade bucal ¢, poster ‘ormente, na deghiticlo, para os demais segmen- tos do trato, A superficie da lingua € grossa e comificada na porrio anterior e fina na face in- ferior. E interessante salientar que a distribuicio dos bores gustativos nos bovinos niio esti na ‘mesma proporcio das papils, podendo existir ‘mais de um botio por papi circunvalada. Nos bovinos, o niimero de papilas circunvaladas & em torno de 80 para cada lado. Essa caracteris- ticaanatdmica, compasada com outros ruminan- tes, parece conferir aos bovinos a selegio pri- mitia do alimento por meio da gustacio e, em outros ruminantes, pelo olfato. Os bovinos no possuem incisivos supe- siores; do nascimento até a segunda semana de idade tém adenticio (temporitia) totalmen- te eruptada (nascida). Essa erupcio € variivel €, aproximadamente 75% dos animais bem ctiados, nascem com todos 0s incisivos erup- tados. As fSrmulas das dentigdes tempordrias € permanentes sio as seguintes: ‘Tempordria 2 (It 0 Ct O PMt 3) = 20 4 0 3 Permanente 2 (10COPM3M3) = 32 40-8 8 Ct = caninos temporirios Pt = molares I= incisivos C= caninos PM = pré-molares M = molares Na dentigio permanente, as erupgBes ¢s- to sujeitas a grandes variagdes, mas, de ma- neira geral, ocorrem nas seguintes idack 1° incisivo 1,5 a2 anos 2° incisivo 2,0 a 2,5 anos 3° incisivo 3,0 23,5 anos 4° incisivo 3,5 a 4,0 anos 1° pré-molar 2,0 a 2,5 anos 1,5 2.2,5 anos 2,0 a 3,0 anos 5 26 meses 1,02 1,5 anos 2,0 a 2,5 anos Nera Rens A faringe é a porcio central da cavidade bucal que conduz.o alimento ao es6fago. Sua estrutura anatémica ¢ funcional tem papel relevante para 2 mastigacio e degluticio do alimento. A conexio entre faringe e reticulo- rtimen é feita por meio do esdfago. E interes- sante salientar que nesse segmento hé 0 con- trole voluntitio, sendo utilizado em ambos os sentidos: oral-caudal e caudal-oral, face as ne- cessidades fisiolégicas dos bovinos. Por ou- tro lado, é um segmento que se encontra en- tre regides de diferentes presses do trato di- gestério. O eséfago & um tubo muscular de 90 a 105 cm, que se estende desde a faringe (re- gio posterior da cavidade bucal) até o cérdia, orificio de entrada no estomago (rtimen), que se localiza na extremidade anterior do saco dorsal. O eséfago é formado por duas estru- turas concéntricas. A camada externa, mus- cular, possui miisculo estriado em toda sua cextenso;a camada interna é formada por uma camada mucosa, nfo-glandulare recoberta por epitélio escamoso estratificado. Nos ruminantes, os mecanismos associa- dos & eructacio © ruminacio dependem da contragio ¢ relaxamento dos esfincteres eso- fiigicos (cranial ¢ caudal). O esfincter cranial depende dos misculos faringianos, estando o caudal associado aos miisculos de controle da abertura € fechamento do cérdia na entrada do reticulo rimen. A posicio da porgio era- nial no es6fago, em regides em que as pres- sées so menores ou mesmo negativas, per- mite que o bolo alimentar e gases sejam trans- portados em sentido cranial com movimen- tos antiperistilticos. Em decorséncia do efeito tr6fico dos nu- trientes, as dietas ricas em concentrado tm capacidade para reduzir a ati- vidade de sintese ¢, com isso, 3 € 8* semanas 3) apés a 8 semana, quando ha o desen- volvimento pleno do trato, passando:o animal para a fase adulta de raminan- te, Pré-est6magos O estémago multicavitirio dos ruminan- tes (Figura 1) deriva embrionariamente do estémago simples, 0 que, segundo alguns au- tores, evidencia o grande desenvolvimento evolutivo nesses animais. Os compartimen- 10s, reticulo, riimen e omaso, com fungies associadas 20 processo fermentativo que ocor- te nesses locais, tém como caracteristica um epitélio nfo-glandular, sendo recoberto por epitélio mucoso, com capacidade absortiva. (© abomaso tem similaridade com 0 estoma- go de monogistricos, apresentando um epitélio de revestimento com mucosa repleta de glindulas secretoras (écidos, muco ¢ horménios) Considerando a caracteristica alimentar dos ruminantes, em especial 0s bovinos, com is gestio de forragem (celulose, fibras de baixa ou nenhuma digestibilidade), os pré-es 908 (retfculo, rtimen ¢ omaso) tém fungio de reter 0 alimento nesses segmentos para aacio fermentativa dos microrganismos ruminais, que tém papel relevante na digestio das fibras, por meio da fermentacio anaerSbica, Assim, quanto maior o tempo de permanéncia da di gesta nos pré-estémagos, mais intenso serio pro- cesso fermentativo e a transformacio desses autrientes em fcidos graxos voliteis, produto final da fermentagio anaerdbica. Teereportante salentar'queic (deseavolve. mento dessas estruturas é causado pelo tipo de alimento que o animal consome, Conside- acelerar 0 desenvolvimento e trutural do trato digestério (Tae Tabela 1 - Crescimento do trato digestorio em decorrén- cia da slimentacio dos bezerros. bela 1), Dessa forma, autores | Parfimetro Sa ee tém mostrado que 0 desenvol- 21 dias 3 meses | vimento do trato pode carac- Rico feno Rico concentrado terizar as fases para os rumi- | Concentmado kg/d —= 045 227 nantes: Peso vivo, kg 36,959, 76,7 1) 0.3 semanas apés.onas- | Peso timido cimento, caracterizado | Reticulo-rimen, ¢ 244 1,679 2120 como a fase de nio-ru- | Omaso, g 54397 410 miante, na qual ha in- | Abomaso, 239 = 405 555 gestio de colostro ¢ lei- | Intestino, g 1,785,315 6,722 te materno; 2) fase de transicio, entre a Adaptado de Stobo «af. (1960).

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