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PIRACICABA, SP
2006
A CONSTITUIÇÃO DA LINGUAGEM DE ALUNOS
AUTISTAS APOIADA EM COMUNICAÇÃO
SUPLEMENTAR ALTERNATIVA
15
PIRACICABA, SP
2006
16
BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
À professora Dra. Maria Cecília Carareto Ferreira por me orientar com apoio e presença no
desenrolar das idéias expostas. Pelos momentos de diálogo e compreensão que teve comigo. Por
sua atenção às possibilidades de educação das pessoas com necessidades especiais e incentivo à
realização deste trabalho.
Às professoras Dra. Anna Maria Lunardi Padilha e Dra. Maria Cecília Rafael de Góes que me
acompanharam durante o curso com suas contribuições críticas e reflexivas, relevantes para o
desenvolvimento dessa pesquisa.
Às professoras Dra. Ana Maria Torezan e Dra. Regina Yu Shon Chun pela
colaboração e atenção à realização deste trabalho.
À professora Célia Toloto Ferreira, pelo acolhimento e amizade que sempre me deu.
À Ilzinha, minha amiga e companheira de trabalho, por sua compreensão e pela disposição
em assumir tantas tarefas solitárias em tempos de muitos afazeres.
17
McKean
Autista, 28 anos, escritor
R E S U M O
A B S T R A C T
The aim of the present study was to discuss language construction in austistic
students in a historic-cultural context using Augmentative and Alternative
Communication as an educational tool to promote language development. Pedagogic
support based on Picture Communication Symbols associated to speech signs
underlies research in eight autistic children with different cultural and social
backgrounds. Thus, in responding children, it was possible to observe language
development which was accompanied by improved personal development and life
quality including family social interaction. Those children’s who didn’t be able to
understood the pictures, apparently have no development alterations.
22
S U M Á R I O
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
ANEXOS
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
RETOMANDO DITOS SOBRE O
AUTISMO
Autismo é uma palavra de origem grega (autós), que significa por si mesmo. É
um termo usado, dentro da psiquiatria, para denominar comportamentos humanos
que se centralizam em si mesmos, voltados para o próprio indivíduo. É comum,
também, a utilização de adjetivos para se denominar o autismo, tais como, autismo
puro, núcleo autístico, autismo (primário no caso de não-associação com outras
patologias), autismo secundário, autismo de alto funcionamento, autismo de baixo
funcionamento, entre outros.
2
Tendência a repetir automaticamente sons ou palavras ouvidas.
3
Introdutor do termo “autismo” para designar a perda de contato com a realidade, desencadeando
uma impossibilidade ou extrema dificuldade de comunicação com outras pessoas.
16
Tal indagação levou-o, no ano de 1955, a considerar a conduta dos pais e suas crises de
personalidade, como o principal fator para o desenvolvimento da síndrome na criança, ainda em sua
vida intra-uterina. O fato se deveria à gestação conturbada ou rejeitada pela qual o feto passara, sem
relacionar-se com a mãe e, conseqüentemente, com os pais ou qualquer outra pessoa após o
nascimento, perdendo totalmente sua possibilidade de comunicar-se.
Kanner (1948) revisou seu conceito de autismo diversas vezes. Em 1949, passou a referir-se
ao quadro como “Autismo Infantil Precoce”, pela dificuldade no contato com as pessoas, desejo
obsessivo por certas coisas e objetos, pela rotina nas situações, alterações na linguagem e mutismo,
que os levava a grandes problemas na comunicação interpessoal. Considerou-o como uma
psicopatologia com as subseqüentes observações: o autismo infantil precoce é uma síndrome bem
definida, passível de ser observada com pequenas dificuldades no curso dos dois primeiros anos de
vida da criança. Sua natureza básica é intimamente relacionada com a esquizofrenia infantil, pelo que
o autismo infantil poderia ser uma manifestação precoce da esquizofrenia infantil.
Cinco anos depois, o pesquisador salientava o autismo como uma psicose, devido à falta de
comprovações dos laboratórios, através dos exames realizados. Em 1956, insistiu na consolidação
conceitual da síndrome, mas sentia a necessidade aprofundar-se mais sobre o entendimento do
fenômeno em nível biológico, psicológico e social. Em 1968, acrescentou às suas considerações a
necessidade do diagnóstico diferencial com deficientes mentais e afásicos. Na revisão de seus
primeiros casos, ocorridos há trinta anos, propôs que novas expectativas fossem estudadas através
da bioquímica, afirmando, em 1973, a pertinência da síndrome como parte do quadro das psicoses
infantis.
A partir de Kanner, muitos outros pesquisadores surgiram e foram, aos poucos, registrando
suas idéias hipotéticas sobre a origem do autismo e dos conceitos traçados, advindos de suas
experiências com pessoas com a síndrome.
Após o autismo ser apresentado por Kanner, Bruno Bettelheim, nascido em Viena no ano de
1903, construiu para a psicanálise (1944), a seguinte hipótese sobre o autismo, conforme nos
apresenta AMY (2001: 35-36):
5
Conferir deste autor histórias de casos pertinentes ao autismo relatados nos livros “Tempo de
Despertar” e “Um antropólogo em Marte”.
19
Em 1980, o DSM teve sua terceira edição publicada pela APA, desta vez, com
critérios mais específicos sobre a síndrome: déficits sociais difusos, amplos déficits
no desenvolvimento da linguagem, padrões incomuns da fala, respostas bizarras ao
ambiente e ausência de delírios ou alucinações típicos da esquizofrenia, exigindo
sua manifestação até o trigésimo sexto mês.
Sendo falho em vários aspectos, devido à falta de um foco evolutivo da
síndrome, critérios restritos e mais ênfase aos problemas de linguagem do que aos
de comunicação, o DSM-III foi novamente revisado em 1987. Foram, então,
catalogados dezesseis critérios para o transtorno autista, agrupados em três
categorias diferentes, devendo o paciente manifestar, pelo menos, oito dos
dezesseis critérios, dos quais num mínimo de dois seriam critérios do item A:
comprometimento da interação social; um pertenceria ao item B: comprometimento
da comunicação; e um representaria o item C: repertório restrito de atividades, para
receber o diagnóstico de transtorno autista.
20
realizadas. De acordo com a ASA - Autism Society of América, (1999) "o autismo é
um distúrbio de desenvolvimento, permanente e severamente incapacitante".
Para o diagnóstico6 de autismo, pode ser utilizado um vasto protocolo de
investigação, a partir da realização de exames para pesquisa de possíveis condições
específicas, geneticamente determinadas ou não, de realização de pelo menos um
dos exames de neuroimagem propostos, e fazendo uso do agrupamento de alguns
dos critérios do DSM-IV7 (APA, 1995) e da CID-108 (OMS, 1993), além de anamnese
detalhada, exame físico, dando atenção aos sinais comumente associados a
cromossopatias e outras afecções de etiologia genética, avaliação neuropsicológica,
análise bioquímica para erros do metabolismo, exames de cariótipo,
eletroencefalograma, ressonância magnética de crânio, SPECT, além de outros
possíveis exames complementares.
De acordo com Steiner (2000: 72):
6
Diagnóstico não é sinônimo de classificação. O diagnóstico é ativo e pessoal, enquanto a
classificação é impessoal e equilibrada, prendendo-se à doença em si.
7
Anexo 1- Manual Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais.
8
Anexo 2- Classificação Internacional de Doenças.
22
1. O autismo se faz presente antes dos três anos de idade e deve ser
considerado como uma síndrome comportamental que engloba
comprometimento nas áreas relacionadas à comunicação, quer seja verbal
ou não-verbal, na interpessoalidade, em ações simbólicas, no
comportamento geral e no distúrbio do desenvolvimento neuropsicológico;
2. O autismo não é exclusivo, é próprio da espécie humana e pode vir
associado a múltiplas etiologias, havendo, inclusive, a participação de
fatores genéticos e ambientais. Ocorre, em média, a cada quatro indivíduos
9
Conjunto de genes de um indivíduo ou de indivíduos com a mesma constituição genética.
25
em dez mil nascimentos, sendo quatro vezes maior sua incidência no sexo
masculino;
3. Deficiência mental, hiperatividade, déficits de atenção, processos
convulsivos e a deficiência auditiva destacam-se como as síndromes
neurológicas mais associadas ao autismo;
4. Conforme a complexa neurobiologia do autismo e a grande lista de
condições clínicas a ele associadas, ainda não se conhecem quais
mecanismos neuropatológicos dão origem aos comportamentos autísticos,
por não se manifestarem de forma mais homogênea em todos os casos
descritos até hoje;
5. Resultados advindos de exames de neuroimagem têm demonstrado
alterações diversas, relacionadas ao Sistema Nervoso Central de autistas,
principalmente referente ao cerebelo;
6. É indispensável a utilização de um vasto protocolo para a investigação
diagnóstica da síndrome, devendo esta ser sistemática e com critérios
estabelecidos através de uma abordagem interdisciplinar. Tal procedimento
deve realizar-se não somente com fins de confirmação diagnóstica, mas,
inclusive, para trazer contribuições à compreensão das bases
neurobiológicas e os mecanismos etiopatogênicos essenciais dessa
categoria. (STEINER, op. cit., p. 143)
Na maior parte dos dados colhidos por meio de anamneses realizadas por
profissionais atuantes nas instituições voltadas para esse tipo de atendimento,
constata-se que os diagnósticos de autismo são fechados a partir dos três anos de
idade. Do nascimento ao segundo ano de vida, de cada cinco casos, quatro não são
identificados com clareza. (COLL, 1995: 278)
CAPÍTULO 2
REFERÊNCIAS HISTÓRICAS E CONCEITUAIS DAS PRÁTICAS
EDUCACIONAIS DA PESSOA COM AUTISMO
As políticas educacionais têm apresentado a educação como uma condição básica para o
desenvolvimento humano. Esse processo de educação formal tem percorrido diversos contextos e
diferentes momentos históricos, evidenciando, muitas vezes, dificuldades no que diz respeito à
garantia de um ensino de qualidade para todos.
O contexto e as dificuldades para garantirem ao cidadão o direito à educação, têm perpassado
momentos críticos, mas também de transformações, em diversos países, inclusive no Brasil,
especialmente no que diz respeito à educação das pessoas com deficiências variadas.
A luta desses deficientes junto a outras pessoas envolvidas, direta ou indiretamente com essa
causa, tem feito com que a educação especial no Brasil seja um marco de conquistas relacionadas
aos direitos humanos. Atualmente, as pessoas com necessidades educativas especiais têm garantido
seu direito à saúde, a vida social, ao trabalho e à educação, como todo cidadão, conforme é previsto
pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios.
Historicamente, pessoas com necessidades especiais foram colocadas à margem da
sociedade, impedidas de desenvolver suas capacidades e habilidades como indivíduos e cidadãos,
sendo rotuladas com adjetivos que as limita como incapazes ou doentes, apenas por influência de
uma cultura baseada nos princípios do belo e do perfeito.
10
Cf. in Mazzotta, 1996.
36
11
Cf. in Larroyo, F., 1970.
12
Cf. in Foucault, M., 1994.
37
As ações registradas pela História a respeito da rejeição, dos maus tratos e da falta de visão,
relacionadas aos que apresentavam alguma deficiência, abriram lugar ao paternalismo e ao
assistencialismo, resistindo ao conhecimento dos direitos do cidadão.
O Brasil, em função de suas relações internacionais, foi influenciado por países da Europa e
pelos Estados Unidos, por volta do século XIX, formando grupos para o atendimento a cegos, surdos,
deficientes mentais e físicos, por iniciativa de órgãos oficiais e, em alguns casos privados, por meio
de alguns educadores que, preocupados com a questão, empenharam-se na concretização de
atividades inovadoras em função delas.
No entanto, apesar da formação desses grupos, somente no século XX, entre o término da
década de cinqüenta e início da década de sessenta, foi que a política educacional do país incluiu a
educação especial13 no rol de suas atenções. Todavia, a sociedade mostrou-se interessada desde o
começo deste século, com publicações de trabalhos de origem técnica e científica relacionados à
educação daqueles indivíduos especiais.
Mazzotta (1996) nos relata que, até o ano de 1956, todas as iniciativas educacionais com
relação à educação especial foram de caráter isolado, manifestadas por alguns órgãos oficiais e por
iniciativas particulares. Neste período criaram-se instituições14 diversas para o atendimento
especializado de crianças cegas, surdas, deficientes mentais e físicas. Além das entidades citadas,
de caráter cível, particular e sem fins lucrativos, mais quarenta estabelecimentos de ensino regular do
governo público mantinham alguma espécie de atendimento escolar especial voltado à pessoa com
deficiência.
Acompanhando o desenrolar da história da educação especial brasileira, na segunda metade
do século XX, de 1957 a 1993, foram surgindo as iniciativas oficiais por meio de campanhas para
essa finalidade, realizadas por todo país, através de movimentos promovidos pelas instituições
privadas e apoiadas pelo Ministério da Educação e Cultura, as quais propunham a educação e a
reabilitação do deficiente mental.
A reabilitação era entendida como um processo de tratamento às deficiências, com uma
programação terapêutica específica de fundo clínico, pretendendo-se tratar o aluno em suas
condições físicas, psicológicas e sociais, ao mesmo tempo em que envolvia o aspecto educacional,
apenas como uma parte ou um serviço prestado pela equipe multidisciplinar no atendimento global
desse indivíduo.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n.º 4.024/61, regulamenta as políticas e
propostas educacionais para as pessoas com deficiência, determinando as ações dos serviços
públicos e privados e suas formas de atendimento. Afirma em seu Artigo 88 que, para haver
integração de deficientes na comunidade, é preciso que sua educação seja enquadrada no sistema
geral de educação, tanto quanto for preciso. No entanto, não deixa clara a sua real intenção, pois, por
um lado, pode-se interpretar que essa educação se dê tanto nos serviços educacionais regulares
comuns, como nos especiais; ou, então, entender o não-enquadramento desse indivíduo no sistema
13
Este é atualmente, o termo utilizado, anteriormente, teria sido: educação de deficientes e educação
de excepcionais.
14
Mazzotta (1996: 28-49) comenta em seu livro quais foram as Instituições criadas neste período em
ordem cronológica.
38
Percebe-se que, na trajetória de 1971 até 1985, a educação especial, como forma de
tratamento, passou a ser uma medida participante de uma política educacional que passou a ver
"educação de excepcionais" como um caminho de conduta objetivando, no final, a escolarização.
Definiu-se, também, o conjunto de clientes atendidos pelos serviços especializados de origem
educacional,16 por órgãos ou entidades participantes do Centro nacional de Educação Especial, pelos
serviços de reabilitação da fundação Brasileira de Assistência, pelos serviços de saúde da
15
Mesmo que os atendimentos não fossem colocados como escolares, pois em sua grande maioria,
eram apenas de caráter terapêutico e não educacional.
16
Excepcionais de características e tipos variados que, passando ou não pelo tratamento de
reabilitação, mostravam-se aptos a serem aceitos nos sistemas de ensino, quer fossem regular,
supletiva e /ou especializada.
39
Para tanto, foram promulgadas leis dispondo sobre normas de construções e adequação de
logradouros e edifícios de utilização pública e de transportes coletivos para a pessoa com deficiência,
além da criação da CORDE - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência.20Aqui vale lembrar que, diante da estreita visão educacional seguida durante longos
17
O sentido clínico e/ou terapêutico continuava a abafar o fim real da educação especial. O
encaminhamento da criança era submetido sempre a um diagnóstico estigmatizante, objetivando a
rigorosidade da cientificidade e adequabilidade.
18
Expressão usada pela primeira vez em substituição do termo "aluno excepcional".
19
Cf. in BRASIL (Congresso Nacional). Redação final do projeto de lei nº. 1258-C, de 1988.
20
Cf. Lei 7.853, de 24 de outubro/1989. Estabelece normas gerais para o exercício dos direitos
individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência e sua efetiva integração social
40
anos, as propostas de mudanças apresentadas depois de 1986, mesmo com expressões dúbias e
tendencionalmente discriminatórias, vêm beneficiando as pessoas com deficiência em seus aspectos
sociais e educacionais e que estão em busca de seu espaço dentro da sociedade.
21
Infelizmente, no ano seguinte, foi encaminhado pelo governo Collor um projeto solicitando
alterações nesse orçamento, recorrendo à retirada de vários bilhões de cruzeiros destinados à
educação especial, para outros fins.
22
Projeto de Lei n.º 101, da Câmara Federal, que afirma as Diretrizes e Bases da Educação Nacional
- LDB (Senado Federal, 1993).
41
diversos profissionais da área da saúde, e com professores que se deixam dirigir por concepções
firmadas nas limitações de tal criança, naquilo que ela não pode ou não consegue fazer sozinha.
competências e dificuldades
apresentadas por meio de testes, com
base em critério e observação do
comportamento, que responderão o que
o aluno poderá ou não realizar.
A abordagem comportamental, em sua
concepção mecanicista de mundo e de
homem, compreende a aprendizagem e o
desenvolvimento como processos
semelhantes, em que a aprendizagem
corresponde, reciprocamente, ao
desenvolvimento. Logo, o
desenvolvimento é uma reação do
sujeito aos estímulos do meio
ambiente, similar a um reflexo
mecânico da aprendizagem.
Naturalmente, a aprendizagem e o
desenvolvimento são resultados do
condicionamento do meio, e a educação
é tida como um programa de formação
que treinaria nos alunos passivos,
com comportamentos inadaptados, os
conteúdos, hábitos, comportamentos e
ações desejáveis para conviverem em
sociedade.
Dessa forma, quanto ao
desenvolvimento da linguagem,
percebe-se o diálogo como cadeia
complexa de comportamento verbal e
relações de reciprocidade entre o
aluno e seu professor, o aluno e seus
colegas, sendo todas as ações
reduzidas ao condicionamento do
sujeito através de conteúdos
selecionados pelo professor para a
51
memorização reprodutiva de
comportamentos, vazios de sentido e
de significado.
Em prol do condicionamento de
habilidades e comportamentos, é
empregada uma técnica denominada
Análise de Tarefas, que está
relacionada com a lógica pedagógica
no estabelecimento de seqüências de
aprendizagem. Assim, são analisadas
as tarefas referentes aos objetivos
determinados pelo professor.
Posteriormente, estabelecem-se as
seqüências de atividades e,
finalmente, é avaliado o que os
alunos respondem daquela seqüência.
Com essa técnica, o professor separa
em partes o comportamento que deseja
alcançar do aluno como resultado
final. São passos fragmentados que
vão do mais simples ao mais complexo,
visando a facilitar-lhe a
aprendizagem.
Para Skinner, é possível controlar
a evolução da aprendizagem do aluno
por meio da apresentação das
informações em períodos não longos,
oportunidade em que é avaliado a
partir de sua participação ativa por
meio de respostas reproduzidas,
tendo, como indicação de acerto ou
erro, a emissão imediata de um
reforço.
As primeiras pesquisas
comportamentais enfocando a criança
52
Primando pela eficiência, o TEACCH desenvolveu a escala CARS (Childhood Autism Rating
Scale) destinada à avaliação e ao diagnóstico do autismo, com o objetivo de classificar o nível de
manifestação da síndrome em crianças em idade pré-escolar. Foi criado também o PEP
(Psychoeducational Profile) como instrumento avaliativo para crianças entre seis meses e sete anos,
a partir de observação minuciosa de oito áreas do desenvolvimento. Visando ao atendimento dos
adolescentes com autismo, com qualidade eficiente, foi desenvolvido o APEP (Adolescent and Adult
Psychoeducational Profile) como uma continuação do PEP, enfocando comportamentos e
planejamento educacional.
Por ser observado como uma síndrome que acomete severamente o indivíduo, o autismo traz
consigo o estigma de que não há nada, ou quase nada, que se possa fazer no âmbito educacional,
aos seus portadores. Assim, as terapias e métodos de atuação se restringem mais a modificações de
comportamento.
29
O termo comunicação expressiva corresponde a expressão de sentimentos afetos e emoções. É
comumente utilizado no método Teacch. Cf. MEC (2004:21).
60
De acordo com Chun (1991), não seria possível obter a história em detalhes a
respeito do desenvolvimento da Comunicação Suplementar e/ou Alternativa no
Brasil, já que os primeiros trabalhos sobre o assunto se encontram desconhecidos
por terem sido registrados de maneira informal. A partir da década de 70, novas
concepções surgiram com relação à imagem da pessoa com deficiência, não a
vendo apenas por meio de seus comprometimentos e danos, mas também pelas
suas habilidades, enfatizando sua integração social. Antes, a abordagem oralista
predominava nas intervenções em reabilitação; contudo, por meio desse novo olhar
acerca da pessoa com deficiência, a ação social da comunicação se torna mais
saliente e visível.
No ano de 1971, uma equipe de profissionais do Ontário Crippled Children‘s
Centre, em Toronto, Canadá, desenvolveu um estudo dedicado à descoberta de um
meio alternativo de comunicação para a clientela com distúrbios neuromotores, que
não manifestavam a fala funcional. Até então, dos diversos métodos investigados em
instituições especializadas para o processo de ensino/tratamento de crianças em
circunstâncias semelhantes, todos se mostravam não satisfatórios, limitando o
desempenho lingüístico a poucos contextos, desprestigiando outras diversas
situações de comunicação que poderiam ser aproveitadas.
62
Diante de tal situação, descobriram em Signs and Symbols around the World,
de Elizabeth Helfman, um sistema simbólico de nível internacional criado por Charles
K. Bliss (baseado na escrita pictográfica chinesa e nas idéias do filósofo Leibniz), o
Blissymbolics – Sistema Bliss de Comunicação. Seu objetivo era o de desenvolver
uma maneira de criar uma linguagem universal entre os homens (desenvolvido entre
1942 e 1965), ou seja, um instrumento de comunicação mundial. Esse sistema não
foi inicialmente destinado a pessoas com distúrbios de comunicação, começando
apenas a ser usado com esta finalidade em 1971, depois de algumas adaptações
realizadas juntamente com Charles Bliss e a equipe canadense, cuja principal
responsável era Shirley MacNaughton. (CHUN, R. Y; MOREIRA, E. C, 1997: 137-175)
No início, o método foi aplicado com crianças que não falavam, devido à
paralisia cerebral, sendo tempos depois estendido a pessoas com outras patologias
(retardo mental, afasia, autismo, entre outras). A partir de 1974, a utilização do
Sistema Bliss de Comunicação acabou extrapolando os limites daquele centro,
passando, em 1975, à criação da Blissymbolics Communication Foundation,
conhecida presentemente como Blissymbolics Communication International em
Toronto.
No Brasil, em 1978, a Associação Educacional Quero-Quero de Reabilitação
Motora e Educação Especial foi uma das instituições pioneiras na implantação desse
sistema como método de ensino nos anos 80. Na década de 80, a Comunicação
Suplementar e/ou Alternativa se expandiu pelo Canadá, desenvolvendo-se
principalmente nos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália. Como fonte inspiradora,
no ano de 1981, foi desenvolvido nos Estados Unidos o Picture Communication
Symbols, por Roxana Mayer Johnson.
- Comunicação Suplementar e/ou Alternativa: "é uma área da prática clínica que se destina a
compensar (temporária ou permanentemente) os prejuízos ou incapacidades dos
indivíduos com severos distúrbios da comunicação expressiva” (ASHA, 1991)30.
Há diversos sistemas simbólicos que estão englobados na CSA e que auxiliam no trabalho
com pessoas com déficits nas habilidades de comunicação. Vários desses sistemas já vêm sendo
incorporados a recursos de informática, que facilitam o armazenamento de símbolos. Dentre eles
podemos citar:
- Core Picture Vocabulary: Código pictográfico criado por Don Jonston no ano
de 1985. Constitui-se por um vocabulário de 109 significados. Sua versão é
padronizada e auto-adesiva.
- Picture Communication Symbols: Código pictográfico desenvolvido por
Roxana Mayer em 1980. Constitui-se com cerca de 3000 símbolos. Está
disponível em programas de computador, no formato de selos e adesivos.
- Pictogram Ideogram Communication: Código que em parte é pictográfico, em
parte, é ideográfico. Criado pela George Goudation. Constitui-se por 416
elementos.
- PICSYMS: Sistema gráfico criado por F. Carlson nos Estados Unidos. É
utilizado em idade infantil e constituído por cerca de 850 símbolos.
- Símbolos Bliss: Sinais gráficos fundamentados no significado e não na
fonética. Desenvolvidos por Charles K. Bliss. Seu uso iniciou-se na década de
70 a nível internacional.
- PECS - Picture Exchange Communication System: O Sistema de Intercâmbio
de imagens PECS foi desenvolvido pelas dificuldades ao longo dos anos, com
outros programas de comunicação (BONDY e FROST, 1994).
- Rebus: Inicialmente, criado em 1968 e adaptado e expandido para indivíduos com problemas
de comunicação nos Estados Unidos. É composto por 800 símbolos em preto e branco que,
combinados, podem representar mais de 2000 palavras.
30
American Speech-Language-Hearing Association.
65
comunicação oral e que pode ser trabalhada por meio da mediação do outro (professor, família, grupo
social...), também otimizando o desenvolvimento de habilidades, conceitos, estruturas lingüísticas e o
processo de aprendizagem da leitura e escrita.
No ato de se desenvolver um
trabalho com CSA foi preciso levar em
consideração alguns fatores que, com
certeza, intervêm no processo. É de
suma importância ao educador, em seu
trabalho junto à pessoa, fazendo uso
de CSA, que construa um programa de
intervenção baseado no perfil de seu
usuário, no seu contexto e na sua
história de vida. Esse programa de
66
31
Anexo 3 - Picture Communication Symbols (PCS): exemplos de figuras do PCS. O PCS é
comumente utilizado pelo método TEACCH no trabalho junto a alunos com autismo e paralisia
cerebral. Por ter sido criado em formato de software, garante maior facilidade em sua implantação no
cotidiano do profissional e do aluno.
67
Neste sentido:
Para Vigotski, as funções psicológicas superiores deveriam ser compreendidas nas relações
sociais presentes na vida do indivíduo, sendo o homem participante do processo de criação de seu
meio, e não determinado por ele. Ele é um ser social e cultural numa história de desenvolvimento,
que parte do interpessoal para o intrapessoal, tendo a linguagem como mediadora de todas as suas
relações.
Com relação à linguagem, esta é compreendida por Lúria (1987) como um sistema complexo
de sinais convencionais que representam objetos, ações, características ou relações, e possibilitam a
transmissão de conhecimentos constituídos no processo histórico-social e de fundamental relevância
no que condiz ao desenvolvimento dos processos cognitivos e da consciência do ser humano; age,
inclusive, como uma ponte do conhecimento sensorial para o racional, como um processo de
contínua conscientização, constituído por meio das formas sociais de vivências históricas humanas.
72
questões referentes ao psiquismo humano a partir da dialética. Nessa busca emerge o conceito de
mediação.
A ação do homem tem impacto de
desenvolvimento por encontrar-se sob a
dependência da criação de condições
técnicas e semióticas. É pela atividade
humana que o homem produz, modifica a
natureza e a estabelece em objeto de
conhecimento, transformando-se
simultaneamente em sujeito do
conhecimento. A relação do sujeito é
dialética e é mediada pela semiótica,
sendo os meios técnicos e semióticos,
sempre da esfera social e cultural.
Nesse processo, os objetos são
compreendidos por representações ou
imagens sensoriais, inerentes ao próprio
objeto. Para a transposição entre o que é
próprio do objeto e sua generalização e
abstração, a imagem deve ser simbolizada
pelo signo que está repleto de significados
de origem cultural e social. Assim sendo,
pode-se perceber, na criança, a
compreensão do objeto semiótico em
razão de a imagem estar ligada a seu
significado, a partir da utilização da
palavra. Logo, a representação simbólica
é tanto uma função para fazer presente
alguma coisa que não se encontra
presente, como também é o próprio objeto
representado em seu significante. A
palavra é o signo que tem a função de
apontar o objeto e de significar o seu
conceito como sendo um instrumento do
85
Para Vigotski, o pensamento é o reflexo generalizado da realidade que se concretiza por meio
da linguagem, estando sempre conectado ao pensamento geral, diferenciando-se da palavra que traz
consigo uma característica de abstração. Exemplificando, a expressão de um pensamento se dá por
meio de palavras separadas; no entanto, o pensamento engloba de uma só vez a ação pensada, o
contexto, a cor, o local etc. Dessa forma, tornando existentes objetos e acontecimentos da realidade
por meio da utilização da palavra, o ser humano ultrapassa as percepções e sensações imediatas, e
passa a conceber que tudo aquilo que pensa está além de uma extensão daquilo que se pode
86
perceber. Ou seja, a ação de formar idéias por meio da palavra gera a possibilidade de se atingir o
que comumente é incompreensível para a capacidade de perceber e para a representação.
Assim, é pela generalização que o ser humano pode tirar conclusões a respeito daquilo que
não percebe de imediato, indo além da percepção por meio do real para maior rigor e profundidade, a
partir da generalização encontrada nos objetos e nos fenômenos que são resultados das associações
reais e fundamentais entre si. É do pensamento que emanam os conhecimentos adquiridos pelo ser
humano em sua relação com o mundo natural e cultural, estando unido de forma dialética ao
conhecimento sensorial.
Para Vigotski, o processo de aquisição da
língua na fala da criança tem suas raízes
no processo social, partindo do meio
externo para, aos poucos, se transformar
num sistema de signos. Quando isto
acontece, a fala da criança se distingue
em dois sistemas de pensamento que se
encontram extremados, porém,
simultaneamente entrosados. Enquanto
um dos sistemas procura se adaptar ao
mundo externo, surgindo como fala social
adulta, o outro inicia sua internalização,
transformando-se, progressivamente,
numa linguagem pessoal. Nesse processo
de discurso interno, o sentido da palavra
torna-se ascendente ao significado da
mesma palavra. Importante ressaltar que,
segundo Vigotski, existe uma diferença
entre significado e sentido. Nas palavras
de Pino (2000:39):
87
A linguagem é, portanto, um
instrumento da consciência com o atributo
de compor, controlar e planejar o
pensamento numa função de intercâmbio
social. Os significados das palavras
constituem a consciência do indivíduo, ao
mesmo tempo em que são constituídos no
contexto interindividual. Dessa maneira,
percebemos a existência das relações de
interdependência entre pensamento e fala,
entre a fala interior e a exterior, entre o
sentido e o significado, entre o homem e o
mundo.
Para Vigotski, a formação da
consciência e o desenvolvimento cognitivo
ocorrem de fora para dentro do indivíduo,
seguindo um processo de internalização,
não de forma mecânica, mas impregnada
de atitude por parte do sujeito. Esse
processo de transformação possibilita a
construção do conhecimento e da cultura
e está relacionado a uma atividade mental
que responde pelo domínio dos
instrumentos de mediação do homem com
o mundo. Portanto, “o pensamento e a
88
por sua vez, permite haver a discriminação e conservação de um objeto na memória por meio de seu
nome, realizando a transição do sensorial para o racional na representação do mundo.
Complementando, segundo Kassar (1999: 69,70):
Pode-se notar que os sinais que evidenciam a sociedade se empregam como constitutivos do
sujeito, tornando os signos próprios dos princípios elementares da mediação que alteram e
transformam o desenvolvimento humano, da mesma forma que os instrumentos criados pelo homem.
A linguagem, portanto, proporciona a constituição da atividade psicológica, a transformação e o
desenvolvimento do pensamento, sendo constitutiva para o homem e permitindo haver a interação
social, a internalização e a generalização de significados. Para tais processos concorre a
aprendizagem, que ocorre mediante a transformação construtiva de pensamentos, sentimentos e
ações, envolvendo uma interação entre conhecimentos preliminares e conhecimentos novos que
constroem outros significados psicológicos, resultantes em outras ações, pensamento e linguagem.
Sobre desenvolvimento e aprendizagem, Vigotski diz que são fatos distintos e relacionados,
sendo preciso considerar o nível de desenvolvimento já conquistado e também o nível de
desenvolvimento proximal, ligado à capacidade de resolução de problemas, a partir do auxílio de
outras pessoas que se encontram mais possibilitadas, indicando que poderá ser autônoma no porvir
quando o seu nível de desenvolvimento o permitir.
como também em razão das relações que realmente existem entre eles, sendo
obrigatoriamente concretos e baseados em fatos.
- A terceira etapa, “pensamento por conceitos” ocorre quando o indivíduo tem a capacidade da
abstração e do isolamento de elementos que fazem parte de sua experiência, resumindo-os
de maneira abstrata para sua utilização instrumental em outros contextos concretos. Esse
conteúdo presente nas experiências pode iniciar sua organização de forma abstrata, sem
relacionar-se a impressões ou circunstâncias concretas.
32
Cf. Ritvo (1976).
103
CAPÍTULO 3
DA AÇÃO À PESQUISA
33
A maioria dos alunos são deficientes mentais. Alguns com síndrome de Down, deficiência auditiva e
visual. Outros são alunos com paralisia cerebral.
34
Os profissionais da saúde compunham a equipe técnica da escola. Os professores não faziam
parte das avaliações diagnósticas realizadas.
108
35
dez meses . Durante esse período, proporcionamos
orientações teórico-práticas dentro e fora da sala de
aula, conhecimentos científicos sobre a síndrome do
autismo, identificamos as características peculiares
de cada um dos alunos e seu contexto sócio-histórico.
Realizamos, em conjunto, leituras e participamos de
discussões sobre a nova abordagem que estava sendo
contemplada na prática pedagógica e o porquê de sua
escolha.
Apresentamos, também, a CSA como uma ferramenta
de apoio no trabalho com os alunos autistas, tendo em
vista a possibilidade de facilitar seu processo de
desenvolvimento da linguagem. A ferramenta também
possibilitaria maior aproximação entre os professores
e seus alunos, por meio dos símbolos visuais que
representavam objetos e situações na maioria das vezes
não expressados verbalmente pelos alunos ou não
compreendida por eles na fala de seus professores. No
entanto, a CSA não seria trabalhada da maneira como os
professores a conheciam de outras instituições. Ela
não seria o eixo do processo de ensino e aprendizagem,
em processos de treino associativo de figura palavra,
como acontece no programa TEACCH que usa o
condicionamento do comportamento. separei
A CSA seria um instrumento inserido no contexto
de existência cultural das relações sociais em que a
linguagem e a mediação semiótica estariam presentes,
tendo nelas a fundamentação de toda aquisição de
conhecimentos escolares ou práticos. Assim, a CSA foi
inserida paulatinamente no contexto escolar.
Escolhemos um dos Sistemas Suplementares e ou
Alternativos de Comunicação, o Picture Communication
Symbols (PCS) / Sistema Pictográfico de Comunicação,
em razão da variedade de figuras dispostas em software
na forma colorida e em branco e preto.
No caso de alunos autistas, à sua condição de ser humano com necessidades especiais,
ainda são somadas outras necessidades reclamadas pela síndrome, as quais dificultam ainda mais o
seu desenvolvimento pleno. Para tanto, foi preciso nos cercarmos de uma metodologia de trabalho
minuciosa no tocante aos objetivos que desejávamos alcançar com cada um dos alunos.
Tínhamos, como meta, a educação daqueles alunos a partir de sua inserção em contextos
culturais e sociais, até então não ocorrida na escola devido à concepção dos profissionais centrada
na deficiência, incapacidade e desvantagem desencadeada pelo autismo. Porém, para colocarmos
em prática essa metodologia, foi necessário construir junto com as professoras o conceito de
mediação, para que mudanças de atitude fossem ocorrendo no trabalho pedagógico com os alunos.
Desta forma, esperávamos que as professoras se modificassem na maneira de conceber o
aluno com autismo para, então, serem capazes de compreendê-los e conseguirem desenvolver
35
Ano letivo de 2000.
110
trabalhos pedagógicos voltados para o progresso da aprendizagem de cada um. Nessa perspectiva, a
CSA foi utilizada para o favorecimento da constituição da linguagem dos alunos com autismo. Ela foi
inserida em todos os contextos reais e típicos dos ambientes sociais escolares onde a linguagem oral
normalmente está presente acrescentando oportunidades e possibilidades para o desenvolvimento
dessa modalidade da linguagem.
O professor, como um agente na mediação entre o aluno, os conhecimentos (objetos) e os
contextos (ambiente escolar), também mediava o contato do aluno com o símbolo representativo do
conhecimento em questão, dentro do contexto em que estavam inseridos; dessa forma, os símbolos
do PCS tinham uma presença generalizada e sempre em uma condição de ser acompanhada de
linguagem. Fazendo uso do PCS como um instrumento que possibilitava melhor compreensão e
reconhecimento por parte do aluno, o professor também explorava as cores presentes no símbolo e
no ambiente, bem como os objetos representados e os objetos existentes no próprio ambiente,
sempre produzindo diálogos (verbais e não-verbais), manifestações de comportamentos sociais
presentes na vida do ser humano (carinho, toque, expressão de sentimentos e desejos).
O contexto e as atividades pedagógicas não limitavam o uso da CSA, da mesma forma que
esta não limitava o desenvolvimento das atividades propostas, nem tampouco o desenvolvimento das
relações sociais e da linguagem entre eles; buscávamos inserir o PCS sempre que necessário, de
forma natural, sem o estabelecimento de rotinas inflexíveis e sem a repetição contínua de um mesmo
símbolo visando à sua memorização. A utilização do PCS para o professor e para o aluno estava
justamente na forma natural e processual com que o ensino e a aprendizagem ocorriam, tornando
possível o reconhecimento e o aproveitamento do potencial que o aluno com autismo tem de
compreender melhor por meio da capacidade de visualizar o real e concreto.
Dada à organização do PCS em diversos temas, era prático para as professoras
selecionarem os símbolo que desejavam obter. Logo, toda vez que o contexto nos quais esses
símbolos estavam inseridos e que o conhecimento explorado solicitava um novo símbolo
representativo, a professora indicava o que lhe seria apropriado. Então, este era impresso no
tamanho e nas cores desejadas. Como os símbolos eram sempre manuseados pelos alunos, todos
eram plastificados, para sua maior durabilidade.
Dessa forma, trabalhamos o conceito de mediação em nossas reuniões com os professores e
nas orientações em sala de aula, relevando e construindo com eles os aspectos inerentes a uma
ação mediadora que fosse capaz de produzir sentido.
Durante a efetivação das mudanças a serem
realizadas, as professoras foram personagens
importantes ao sustentar a função interpessoal com
alunos que eram pouco ou nada interativos com as
pessoas. Elas, então, intervinham nas situações
diversas junto aos alunos, com o objetivo e a intenção
de construir condições de mediação, adaptando-as às
necessidades de cada sujeito, interferindo no contexto
e, simultaneamente, se atendo de forma atenciosa, ao
que estava acontecendo.
111
36
Alguns meses depois de termos iniciado a nova proposta de trabalho os alunos Dani e Roger
saíram da escola por irem viver em outra cidade. Para fins desta pesquisa, ambos fizeram parte dela
mesma, porém concluímos a pesquisa com seis alunos.
112
37
Anexo 4 - Descrição dos casos e seu quadro diagnóstico.
38
Os nomes aqui mencionados são fictícios a fim de preservarmos a identidade dos alunos.
39
A escola tinha muitas dificuldades referentes a forma e local de realizar o agrupamento dos alunos.
Isto em razão de falta de espaço por um lado e classes cheias por outro. Os alunos foram agrupados
com outro com visão subnormal, tendo em vista que este último se mostrava dinâmico e oralizava.
40
No período da tarde funcionavam as classes de alfabetização para jovens e adultos.
114
com os demais e passaram a freqüentar o refeitório no mesmo horário que eles, bem
como ir ao parque, piscina, bosque.
Roger, Dani e Thiago ficaram juntos num primeiro momento, até que fosse
possível rever seu agrupamento. Porém, meses depois, Roger e Dani mudaram de
escola e Thiago, que sempre necessitava ter alguém que ficasse apenas com ele
devido à sua auto-agressividade, passou a freqüentar uma outra classe, onde
estavam dois alunos com deficiência mental.
Ao término de cada semestre, os professores também realizavam uma
avaliação pedagógica41 de caráter global com cada aluno, com a finalidade de
avaliarmos de maneira objetiva sua evolução a partir dos registros realizados pelas
professoras.
Criamos uma avaliação formal constituída de itens relacionados aos critérios
da CID-10 e do DSM-V para o diagnóstico do autismo. Recordamos que tais critérios
costumam identificar, de maneira engessada, as limitações da pessoa com autismo
e, por isso, pensamos, naquela época, que seria a melhor forma de avaliá-los com o
objetivo de superarmos tais dificuldades.
Tal objetivo, entretanto, não era medir o progresso dos alunos, mas verificar
os objetivos propostos alcançados, ao lado de outros que necessitavam de maior
atenção e alterações na estratégia de trabalho. Para tanto, foi preciso trabalhar com
uma escala que possibilitasse tal verificação, contemplando uma legenda com
contextos em que se encontravam os alunos e seus respectivos valores. Os
contextos se referiam a situações específicas que eram trabalhadas pelos
professores no ambiente escolar, enfocando as relações sociais como meio de
aprendizagem e mediação nesse processo de ensino e aprendizagem. A legenda
apresentava a seguinte composição:
43
Registros diários eram realizados em um caderno específico para isso, dado a cada professora,
sendo estes utilizados na pesquisa. Esses registros serviam para que as professoras
acompanhassem o desenvolvimento de seus alunos desde iniciaram o trabalho sob a nova proposta
educacional para os alunos com autismo.
44
O processo de orientação das professoras para o trabalho com os alunos autistas foi sendo
registrado em diário de campo para fins desta pesquisa.
119
CAPÍTULO 4
A CONSTITUIÇÃO DA LINGUAGEM DE ALUNOS AUTISTAS
APOIADA EM COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR ALTERNATIVA
45
Os nomes das professoras são fictícios para preservar a identidade.
121
gatinhos e das cores, Luca ficou sentado, mas parecia não ouvir e não se interessar.
Recusou-se a realizar a atividade de carimbar as mãos. Não foi ao banheiro sozinho
e atirou novamente o sabonete da pia no vaso sanitário. Não brincou com ninguém e
quando alguma criança se aproximava dele, no parque, ele a mordia e chorava”.
Aos poucos, Marco foi se comunicando com a professora e seus colegas por
meio dos símbolos do PCS. Indicava a cor e a forma que estava sendo trabalhada, a
cada vez que lhe era solicitado nas atividades e, oralmente, pela professora.
Igualmente, recorria ao próprio material para mostrar ou entregá-lo à professora,
com seu referido símbolo visual. Da mesma maneira, fazia com seu colega Luca,
quando queria brincar com o mesmo brinquedo que o outro tinha. Marco se
encontrava num processo de mudança social; o que antes acontecia “para si” agora
era “para os outros” num contínuo desenvolvimento sócio-cultural.
Paulatinamente, Marco passou a compreender que essas formas geométricas
e suas cores eram também representadas por sons emitidos pela professora, alguns
colegas e outras pessoas que, indiretamente, estavam envolvidas nas atividades
escolares. Desse modo, ele começou a desenvolver sua linguagem oral, fazendo
uso da CSA e do material pedagógico em situações nas quais a professora mediava
as atividades, com perguntas e desafios lúdicos no grupo. A cada conquista de
Marco, a professora o chamava, conversava com ele e, principalmente, lhe sorria e
lhe dava um abraço.
Nesse processo de compreensão e percepção do que estava acontecendo ao
seu redor, mediado pela própria linguagem, Marco ampliava a consciência de si
mesmo, a partir dos significados de que se apropriava nas relações sociais com os
outros, no cotidiano escolar. Ao perceber a atenção da professora, passou a
expressar em seu rosto sentimentos de alegria por meio de sorrisos; houve
aceitação do toque, tanto que começou a procurar receber um abraço; a ficar bravo
quando não conseguia executar algo que havia aprendido, e também passou a
tentar conversar com os outros para contar algo.
Na história de Marco, podemos perceber que ele estava em um processo de
formação de conceitos acerca de formas geométricas e cores. Sua aprendizagem se
deu em sala de aula, com o favorecimento da CSA, no processo de mediação
realizado pela professora. Nesse fluir das relações sociais com a professora e seus
colegas, vemos desenvolver em Marco o processo de internalização de conceitos,
cuja gênese é dada, tal como diz a base teórica, ao afirmar que “todas as funções no
desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e,
depois, no nível individual” (VYGOTSKY, 1994:75).
123
Narrativa da Profª Érica: “Hoje, Marco ouviu uma história, pegou de dentro da
caixa os símbolos que representam as formas geométricas envolvidas na história,
sem que eu pedisse, e também a caixa de blocos lógicos. Trabalhou com a
fonoaudióloga sem fazer gracinhas. Ele conhece as iniciais do nome de seus
colegas, mostra as letras e diz o nome de todos, menos o dele”.
Vigotski (1994:53) afirma que a utilização dos signos leva o homem a uma
estrutura específica de comportamento que se sobressai do desenvolvimento
124
recreativas, ao mesmo tempo em que procurava ter com ela contato físico, mesmo
percebendo que ela não o desejava.
As atividades realizadas, principalmente fora da classe, despertaram mais o
interesse de Ana. A professora relata que, certo dia, estava trabalhando com cores
diversas existentes no espaço escolar. De frente para uma mangueira, pegou três
folhas de tamanho pequeno, médio e grande e disse que aquelas folhas, em seus
tamanhos variados, eram de cor verde, apresentando em conjunto o símbolo que
representava o verde na CSA. Ana, que já estava verbalizando em alguns
momentos, não disse nada e, aparentemente, não demonstrou nenhum interesse
pelo fato. Três dias depois daquela atividade, a professora saiu com os dois alunos e
Ana foi ao encontro da mangueira, apontou para uma folha de tamanho grande e
disse:
“ – Grande! Verde”.
Tal fato deveu-se, justamente, à integração de Ana em situações e contexto
em que a ação mediadora da professora estivera presente e imersa nas relações
sociais, possibilitando o desenvolvimento de sua linguagem, num processo contínuo
de significação do mundo ao seu redor. A contribuição da CSA vem na medida em
que ela facilitou o desenvolvimento da atenção de Ana para a situação apresentada,
que era a de conhecer as cores, previstas naquela atividade com seus significados
simbólicos, específicos daquele momento.
Narrativa da Profª Bruna: “Renato está se comportando bem e brincando bastante. Está
compreendendo ordens simples e cumprindo o que lhe é solicitado. Achei muito interessante sua
atividade na agenda. O primeiro símbolo que estava na agenda era o que representava o momento
de cantar. Renato pulou vários símbolos; então, pegou o símbolo e mostrou o que representa a hora
128
do lanche. Não foi por acaso, mas sim intencional. Ele está uma gracinha! [...] Renato parece estar
compreendendo o símbolo representativo do ´ silêncio`, pois hoje não gritou tanto”.
Narrativa da Profª Bruna: “Renato está começando a folhear revistas e a rasgar papéis. Ele
está inventando brincadeiras e suas atitudes estão se mostrando diferentes”.
Para tanto, todo gesto e expressão do professor é parte do processo de mediação e influi na
construção de conceitos por meio da significação de tudo o que nos cerca. Aqui também estão
implícitas todas as questões de ordem sócio-cultural e de interação a serem trabalhadas. A CSA,
como um recurso pedagógico à construção do signo, auxilia dentro do processo de mediação da
aprendizagem.
Se observarmos a linguagem, uma de suas principais funções é a de regular
a ação humana, de forma direta ou indireta. Falar a respeito da função reguladora da
129
Narrativa da Profª Bruna: “Ana veio à festa junina e ficou super bem. Todos
ficaram admirados com seu comportamento na festa. Percebi nela, momentos de
limites que ela mesma estava colocando para si. Aproveitou tudo: dançou, comeu,
correu, falou, cantou, até laçou uma garrafa na argola e ganhou um dominó. Fiquei
muito realizada com essa interação”.
130
Narrativa da Profª Bruna: “Ana está independente dos símbolos do PCS. Está
cantando as músicas de forma mais completa. Seu vocabulário está ótimo, em sua
linguagem verbal há mais frases. Ela adorou os símbolos que representam os
animais, principalmente, a da borboleta; até imitou alguns dos animais (cachorro,
gato e cavalo). Está nomeando e até identificando algumas cores secundárias (cinza
e rosa)”.
Narrativa da Profª Bruna: “Hoje uma professora veio até a minha sala me
dar um recado. Assim que ela chegou, Ana a olhou, colocou a mão na blusa dela e
disse:
´ – Rosa!`. A professora ficou encantada, porque Ana reconheceu a cor de
sua blusa. Achei muito legal a Ana entender que não podia ir à piscina, pois
expliquei a ela que a piscina estava suja. Ela está falando e reconhecendo vários
objetos de forma extremamente correta”.
Para nós, fica claro que a CSA não é um fim em si mesma, pois seu objetivo é o
desenvolvimento humano dos alunos mas, sim,um recurso cujo efeito está na forma de trabalhar com
eles num contínuo processo de integração social em suas relações com o outro. É, assim também,
nas relações com o outro que se originam as experiências subjetivas que demonstram como cada
aluno, enquanto ser humano, é influenciado pelas suas vivências experimentadas.
Nos critérios do DSM IV (APA, 1995) para transtorno autista é citado “uso estereotipado e
repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática, falta de jogos ou brincadeiras, de imitação social
variados e espontâneos, apropriados ao nível do desenvolvimento”. Se sabemos que essa
característica tem sido identificada como uma marca do autista, na nossa perspectiva, ela é uma
marca com uma base em construção social. Por isso mesmo, não há por que deixá-los ainda mais
expostos a maneirismos de outros alunos com a mesma síndrome e a privá-los, socialmente, de se
relacionarem com outras pessoas, impedindo-as de conhecerem outros espaços onde o
desenvolvimento da linguagem é privilegiado pelas relações culturais e sociais, próprias da espécie
humana. separei
A interação social junto a outros alunos, sem a síndrome, permite ao aluno com autismo a
possibilidade de aprender e se transformar, diminuindo, ou até mesmo eliminando certos
comportamentos por meio da ação mediadora do professor e dos colegas com os quais convive, e
pela construção de um novo repertório de ações mais significativas. Atentarmos para um ensino
personalizado que potencialize habilidades individuais do aluno autista não é equivalente a isolá-lo
do convívio com outras pessoas. Reconhecer que apresentam problemas de comunicação e de
interação social é diferente de conformidade e passividade diante das suas ações.
135
nem fiquem impacientes pelas birras dos alunos, mas que vejam essas
manifestações como um canal importantíssimo de atuação e que ações podem ser
mediadas de forma interativa, significativa e contextual para aquelas crianças. Isto
porque mais satisfatório e recompensador é trabalhar junto a um aluno com autismo
que manifesta seus sentimentos e desejos, do que junto a um aluno de quem você
não consegue extrair reações, e em quem a inércia parece reinar.
46
Narrativa da: Profª Carla : “Estou surpresa com o Rodrigo, pois está
reagindo bem. Está demonstrando suas vontades, preferências e ainda mais, está
descendo da cadeira sozinho! [...] Continuo auxiliando-o a comer, mas sinto que a
cada dia que passa fica mais fácil levar a colher à boca. [...] Trabalhar com Rodrigo
se torna muitas vezes difícil! Mas mesmo assim não desisto, pois o respeito e sei
que pode reagir, apesar das poucas respostas que dá. [...] Levei-o ao refeitório com
muito sacrifício, mas acho que não é para eu desistir nunca. Quando estou me
sentindo cansada, achando que ele não está bem, as coisas mudam. Apresentei o
símbolo do parque, ele sorriu e foi até lá embaixo andando com mais facilidade”.
46
Professora que substituiu a professora Érica quando esta deixou a classe.
137
47
Conferir o gráfico referente ao desenvolvimento da interpessoalidade no anexo 6.
140
Narrativa da Profª Bruna: “Roger fez as atividades resmungando um pouco, mas fez
corretamente e sozinho. Achei surpreendente como ele está ”arteiro”, tomando iniciativas de brincar.
Hoje, por incrível que pareça, ele comeu dois pãezinhos e um copo de gelatina. Acho que Roger é
muito esperto e está ficando brincalhão. Separou corretamente as cores, encaixou as formas
geométricas, está entendendo o que lhe é pedido para fazer (às vezes, é um pouco teimoso). Sua
interação está muito boa. [...] Às vezes ele e o Renato se entendem ou até mesmo se estranham na
maneira de ser. É engraçado como o Renato procura o Roger para brincar, coisa que ele não fazia
antes. Parece que entre os dois está havendo interação.”
143
Quando Roger resmunga, está exprimindo seus desejos e sentimentos. Ele não desejava
estar dentro da sala de aula realizando algumas atividades pedidas pela professora, mas sim estar
brincando, jogando no pátio da escola como costumavam fazer. A respeito da importância do brincar
Vygotsky (1994:136-137) coloca: “a essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o
campo do significado e o campo da percepção visual - ou seja, entre situações no pensamento e
situações reais”. No entanto, as brincadeiras somente se concretizaram a partir do momento em que
as crianças foram inseridas no grupo social, aprendendo a brincar junto com outras crianças e com a
própria professora.
Com a introdução da CSA, como um código de apoio à construção do signo
por meio de suas imagens representativas, a formação de conceitos foi facilitada,
possibilitando maior desenvolvimento e qualidade da interação social e do
pensamento generalizante. Logo, com relação à CSA, como recurso que favorece o
desenvolvimento da linguagem, pensamos, tal como Vigotski (2000:174) que “a
própria linguagem não se funda em vínculos puramente associativos, mas requer
uma relação essencialmente nova, efetivamente característica dos processos
intelectuais superiores entre o signo e o conjunto da estrutura intelectual”.
Portanto, a internalização da significação do que será concretizado se
constrói no decorrer do desenvolvimento da consciência dos alunos nas relações
sócio-culturais com o outro. Nesse processo, ocorre o que Vigotski chama de
pensamento por complexos. No primeiro estágio de formação do conceito, que se
manifesta como um amontoado desorganizado de objetos desiguais sem
fundamentos, há o predomínio do sincretismo, momento em que o conceito no
sentido real ainda não está desenvolvido.
Nesse estágio, estavam Ana, Luca, Marco e Renato quando iniciamos o
trabalho, tendo a CSA como apoio para o desenvolvimento da linguagem. Com o
tempo, passaram, então, a fazer uso da linguagem não-verbal para a nomeação de
objetos no contexto escolar e a desenvolverem a capacidade de classificar os
mesmos de acordo com suas características peculiares. Nessa etapa do
desenvolvimento, encontravam-se no segundo estágio denominado por Vigotski
(1987:66) de “pensamento por complexos”. Os objetos isolados eram associados na
mente dos alunos, por meio das impressões subjetivas que aconteciam ao acaso e
pelas relações realmente existentes, entre esses objetos no processo de percepção
imediata onde estão presentes os encontros espaciais, temporais e o contato
imediato com os mencionados objetos.
144
Esta situação, de não ter sua vontade realizada, resultava em exaustão para a
professora, porém, era necessário trabalhar com a aluna a organização das
atividades propostas para aquele dia, pois em meio a outras situações,
principalmente, fora da escola, Ana deveria aprender a se comportar.
Nesse processo contínuo de aprendizagem mediada, a CSA contribuiu para
dar significado, inclusive, na organização da rotina escolar. Em meio às birras de
Ana, conseguir sua atenção era algo impossível naquele momento, através de
palavras verbalizadas. Mas, fazendo uso da CSA, era possível que, ao se acalmar,
Ana expressasse por meio do símbolo aquilo que desejava fazer, compreendendo
que havia um momento para sua realização. Aos poucos e com muito trabalho, Ana
apresentou resultados positivos quanto ao desenvolvimento de sua tolerância.
comportamento dos alunos em classe, ao respeito com o colega que faz uso de
certo material.
A princípio, Marco não compreendia quando a professora lhe dizia: “Marco,
pegue a tesoura”. Para ele não havia significado, o som emitido pela professora que
para nós significa a palavra tesoura, representando um objeto classificado e
nomeado desta forma, generalizando todos os mesmos objetos iguais a ela e que
servem para cortar papel. Com o apoio simbólico da CSA, Marco foi construindo em
meio ao contexto da sala de aula seu conceito de tesoura. Com o tempo, já não
precisava mais do PCS para representar simbolicamente a tesoura; ele já
compreendia quando a professora lhe solicitava o objeto verbalmente e sabia para
que aquele objeto servia. Assim como o exemplo citado, aconteceu com os demais
alunos nas diversas atividades em classe.
Cabe recordar que, com exceção do aluno Luca, todos os demais apresentam
em comorbitância com o autismo, a deficiência mental. Os alunos, Ana e Marco,
tiveram um desenvolvimento significante com relação ao desenvolvimento cognitivo
e ritmo que possuíam. Os objetivos das atividades propostas eram relacionados ao
desempenho de capacidades de cunho acadêmico.
As atividades de discriminação e realização de tarefas com materiais
pedagógicos para pareamentos, encaixes, empilhamentos, montagem,
reconhecimentos de formas geométricas e figuras diversas, reproduções de canções
e identificação das partes do corpo humano foram as mais aprendidas por estes
alunos.
Narrativa da Profª Bruna: “Ana adora pegar lápis e papel e ficar desenhando.
Faz círculos, riscos, mostrando-se super concentrada. Hoje, ficou cerca de 15
minutos desenhando. Adorou ouvir o Hino Nacional e já pegou um pouco da
melodia. [...] Ana está recortando com a tesoura, sozinha (usa a mãe esquerda para
recortar). Hoje ela queria recortar tudo o que era papel na sala. Renato e eu fizemos
atividades de pintura, recorte e colagem”.
Narrativa da Profª Bruna: “Ana e Renato têm tido iniciativas como: pegar o
material que vamos trabalhar: Renato vai para a mesa, pega uma atividade de
encaixe, realiza-a e depois a guarda. Ana pega lápis de cor e papel e diz “-
desenhar!”. Desenha e guarda o lápis, depois quer pendurar seu desenho. Quando
eu falo: “- agora vamos lavar as mãos e ir ao banheiro”, ambos vão, usam o banheiro
e lavam as mãos, sem que eu precise ficar falando.”
Inicialmente, este gesto não é nada mais que uma tentativa sem
sucesso de pegar alguma coisa, um movimento dirigido para um
certo objetivo, que desencadeia a atividade de aproximação. (...)
Quando a mãe vem em ajuda da criança, e nota que o seu
movimento indica alguma coisa, a situação muda
fundamentalmente. O apontar torna-se um gesto para os outros. A
tentativa mal sucedida da criança engendra uma reação, não do
objeto que ela procura, mas de uma outra pessoa.
Conseqüentemente, o significado primário daquele movimento mal
sucedido de pegar é estabelecido por outros. Somente mais tarde
(...) é que ela, de fato, começa a compreender esse movimento
como um gesto de apontar. Nesse momento, ocorre uma mudança
naquela função do movimento: de movimento orientado pelo objeto,
torna-se um movimento dirigido para uma outra pessoa, um meio de
estabelecer relações.
48
Anexo 7 - Avaliação longitudinal da equipe.
150
49
No ano de 2004 aconteceram alguns remanejamentos e substituições de professores que interfiram
no trabalho. No entanto, não entramos em detalhes sobre esta questão por não ser o foco principal
da pesquisa.
155
50
Anexo 8 - Agenda de atividades diárias utilizando os símbolos representativas do PCS.
164
e relógios. Hoje quando ele estava brincando com os pinos de encaixe, eu fiz uma
escada, ele olhou, colocou os pés e disse 'pé!'".
Narrativa da Profª Érica: "Luca estava muito agitado hoje. Chorava quando
contrariado, não queria fazer nada. Fez algumas construções com os blocos do
brinquedo do pequeno engenheiro e quando lhe mostrei uma torre (figura recortada
da revista) ele não se interessou em fazer uma igual conforme eu pedi. Ele mostrou
que queria brincar com a água da pia, molhava o chão e ria".
Relato no diário de campo: Marco apresentava grandes dificuldades de
prestar atenção em coisas simples, sempre se mostrava agitado, não emitia uma
palavra sequer.
165
Contudo, pudemos notar por meio do relato da professora que este perfil foi
sendo transformado em razão do nascimento da atividade consciente que traz
consigo o sentido e o significado por meio da linguagem e interação social,
confirmado no relato da Profª. Érica:
"Marco estava calmo, chegou e foi olhar sua agenda, sem que eu lhe pedisse.
Identificou os olhos e nariz em seu próprio rosto. Picou e colou papel colorido dentro
do círculo. Pedi para rolar o círculo, passar em suas mãos e no seu rosto e ele
compreendeu o que eu lhe pedi. Ele gosta muito de ouvir a história da onça. No
meio da história apareceu uma barata na classe e ele pediu para que eu cantasse a
música da baratinha e a imitasse andando e subindo na parede com os dedos".
ANEXO 1
A. Um total de seis (ou mais) itens de (1), (2) e (3), com pelo menos dois de (1), um de
(2) e um de (3):
(l) prejuízo qualitativo na interação social, manifestado por pelo menos dois dos
seguintes aspectos:
(a) prejuízo acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais tais como
contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a
interação social;
(b) fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares apropriados ao nível do
desenvolvimento;
(c) falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com
outras pessoas (por exemplo, não mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse);
(d) falta de reciprocidade social ou emocional.
(2) Prejuízos qualitativos da comunicação, manifestados por pelo menos um dos
seguintes aspectos:
(a) Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (não
acompanhando por uma tentativa de compensar através de modos a alternativos de
comunicação tais como gestos ou mímica), em indivíduos com fala adequada;
(b) Acentuado prejuízo na capacidade de iniciar ou desenvolver uma conversação;
(c) uso estereotipado e repetitivo da linguagem (pode aparecer ecolalia) ou linguagem
idiossincrática;
(d) falta de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e espontâneos apropriados
ao nível do desenvolvimento.
(3) Padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses, e atividades,
manifestados por pelo menos um dos seguintes aspectos:
(a) preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de
interesse, anormais em intensidade ou foco;
(b) adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e não-funcionais;
(c) maneiras motoras estereotipadas e repetitivas (por ex., agitar ou torcer mãos ou
dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo) ;
(d) preocupação persistente com partes de objetos, não atentando para aspectos
relevantes do meio.
A. Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com
início antes dos 3 anos de idade;
(a) interação social,
(b) linguagem para fins de comunicação social,
(c ) jogos imaginativos ou símbolos.
167
ANEXO 2
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
DOENÇAS – CID 10
a) Lesão marcante na interação social recíproca, manifestada por pelo menos três
dos próximos cinco itens:
ANEXO 3
PICTURE COMMUNICATION SYMBOLS
(PCS)
SÍMBOLOS DE COMUNICAÇÃO
PICTÓRICA
170
ANEXO 4
DESCRIÇÃO DOS CASOS E SEU QUADRO DIAGNÓSTICO
CASO 1
Nome: LUCA Data de Nascimento: 14/01/1996 idade: 9 anos
Avaliação diagnostica: 01/03/2000
Anamnese: Gravidez normal, cesariana, nove meses de gestação. A criança passou a apresentar
comportamento estranho a partir dos dois anos de idade: hiperatividade acentuada que com o tempo
foi diminuindo. Falou com um ano e onze meses, mas depois de um susto que levou com dois anos
no parque de diversões (Barca Vinquem), não falou mais. Andou com um ano e sete meses. Possui
controle esfincteriano. Funções neurovegetativas ligeiramente atípicas. Aparenta não ouvir bem,
porém segundo a mãe, atende quando algo lhe interessa. Criança rápida em suas atitudes. Dorme
bem.
Outros casos na família: O pai apresenta comportamentos e características provenientes de um
quadro de autismo. Segundo sua avó, o avô paterno tinha comportamentos estranhos. Tanto do lado
paterno como materno há pessoas com deficiência mental.
Diagnóstico: Autismo Multifatorial
Aspectos relacionados com o autismo: ausência de comunicação verbal, apego inadequado a
objetos (carros, lápis e papel, brinquedos sonoros) manias, indiferença para com as pessoas,
dificuldades na alimentação, usa as pessoas para alcance de objetos e para realizar atividades
diversas, labilidade de humor, agressivo quando contrariado, ausência de iniciativas sociais,
compreende e cumpre ordens simples. Aparente surdez, estereotipias de mãos, paladar bizarro
(lambe sabonete, mastiga espuma do sofá e colchão, come terra, come comida do chão depois de
mastigada, lambe o espelho), medos infundados, atende as ordens compreendidas à risca. Tem
excelente habilidade para construir com blocos de madeira e brinquedos similares.
Conclusão: Após o levantamento dos dados realizados através de anamnese com a mãe e
observação, conclui-se que seu quadro é compatível com Autismo, segundo os critérios diagnósticos
do DSM-IV e escala CARS para autismo. Há necessidade de apoio pedagógico estruturado com
sinais visuais claros, dentro de uma mediação constante realizada pelo educador, além do incentivo à
aproximação e contato com outras pessoas que não apresentam a síndrome. Deve ser encaminhado
para investigação genética sob possíveis associações patológicas ou hereditárias.
Atendimentos: atendimento indireto de fonoaudiologia.
171
CASO 2
CASO 3
Nome: MARCO Data de Nascimento: 04/05/1994 Idade: 11 anos
Avaliação diagnóstica: 11/06/1999
Anamnese: Gestação em estado nervoso. Pré-natal. Cesariana. Parto demorado. Andou com quase
dois anos. A criança baba muito. Teve sarampo, pneumonia, bronquite, catapora. Freqüentou uma
Instituição para pessoas com deficiência por dois meses, não aceitava ser tocado por ninguém,
chorava muito. Criança irrequieta. Ambiente familiar pouco estimulador e desfavorável. Filho de pais
separados.
172
Outros casos na família: Irmã mais nova e dois tios com Deficiência Mental, pai alcoólatra.
Antecedentes familiares com problemas de deficiências, tanto no lado materno como paterno.
Atendimentos: Recebe atendimento indireto de fonoaudiologia.
Relatório:. Hiperativo e com déficit de atenção. Sem interesse por brinquedos ou objetos. Sem
limites. Não reconhece seu crachá. Pouca compreensão de regras e valores.
Diagnóstico: Hiperatividade, Síndrome do X-Frágil e ADNPM.
Aspectos relacionados com o autismo: usa as pessoas como objetos, interesses restritos, invade a
privacidade alheia sem solicitação, hiperatividade acentuada, insensibilidade aos estímulos
dolorosos, apego ao sensorial, risadas sem motivos aparentes. Estereotipias motoras, auto-agressão,
destrutividade, não sabe brincar (fantasiar), movimentos repetitivos, sem noção do perigo, hábito de
tirar a roupa.
Conclusão: após o levantamento dos dados anamnéticos com os pais, profissionais e observação do
menor, conclui-se que o quadro é compatível com Autismo Secundário à possível síndrome, de
acordo com os critérios diagnósticos do DSM-IV e aplicação da escala CARS para autismo. Pelos
sinais faciais que indicam possível alteração, recomenda-se investigação médica detalhada como
componente associado ao autismo.
CASO 4
diferencia o sabor dos alimentos, expressão facial distante, apegos inusitados, atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor.
Conclusão: Após levantamento dos dados anamnéticos com os pais, profissionais e observação do
menor, conclui-se que o quadro é compatível com Autismo Secundário à possível genética, de acordo
com os critérios diagnósticos do DSM IV e aplicação da escala CARS para autismo.
OBS.: O aluno foi encaminhado à UNICAMP para investigação genética, a fim de confirmar-se ou
refutar-se a hipótese de associação sindrômica. Diagnóstico: síndrome Hipomelanose de Ito.
CASO 5
do DSM-IV e aplicação da escala CARS para autismo. Há sinais claros de possível Síndrome do X –
Frágil associado ao quadro de autismo. Diagnóstico: após encaminhamento para investigação no
departamento de genética da UNICAMP contatou-se de fato que há presença da síndrome do X –
Frágil associada ao autismo.
CASO 6
CASO 7
CASO 8
Conclusão: Após o levantamento dos dados realizados através de anamnese com a mãe e
observação do adolescente, conclui-se que seu quadro é compatível com Autismo, segundo os
critérios diagnósticos do DSM-IV e escala CARS para autismo. Há necessidade de apoio pedagógico
estruturado com sinais visuais claros, dentro de uma mediação constante realizada pelo educador,
além do incentivo à aproximação e contato com outras pessoas que não apresentam a síndrome.
177
ANEXO 5
AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA DO ALUNO
Legenda
152 Média
153 Desenvolvimento perceptivo-motor
154 Anda.
155 Capacidade de aplicar conceitos de direita-esquerda.
156 Arrasta-se.
157 Arremessa objetos.
158 Balança.
159 Chuta bola.
160 Corre.
161 Dança.
162 Desce escadas.
163 Engatinha.
164 Fica de pé.
165 Capacidade de perceber a dominância lateral em seu corpo.
166 Coordenação grafo-manual.
167 Pula e dá saltos.
Capacidade de realizar movimentos coordenados e mãos e
168 dedos.
169 Média
170 Alimentação
171 Capacidade de alimentar-se sozinho.
Capacidade de alimentar-se utilizando colher ou garfo sem
172 auxílio.
173 Capacidade de comer bolacha ou pão sozinho.
Capacidade de alimentar-se sem derrubar parte do alimento
174 para fora do prato.
175 Não se engasga ao se alimentar.
176 Ato de não levar a mão à boca.
177 Mastiga com a boca fechada.
178 Permanece sentado durante a alimentação.
179 Média
182
ANEXO 6
4,5
4,0
3,5 2000_A
2000_B
3,0 2001_A
2,5 2001_B
2002_A
2,0 2002_B
1,5 2003_A
2003_B
1,0 2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
2. Comportamento Geral
183
4,5
4,0
3,5 2000_A
2000_B
3,0 2001_A
2,5 2001_B
2002_A
2,0 2002_B
1,5 2003_A
2003_B
1,0
2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
3. Interpessoalidade
4,0
3,5
3,0 2000_A
2000_B
2,5 2001_A
2001_B
2,0 2002_A
2002_B
1,5 2003_A
2003_B
1,0
2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
4. Linguagem/Compreensão
184
4,0
3,5
2000_A
3,0 2000_B
2001_A
2,5
2001_B
2,0 2002_A
2002_B
1,5
2003_A
1,0 2003_B
2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
5. Linguagem/Emissão
4,5
4,0
2000_A
3,5
2000_B
3,0 2001_A
2,5 2001_B
2002_A
2,0 2002_B
1,5 2003_A
2003_B
1,0
2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
4,5
4,0
3,5 2000_A
2000_B
3,0 2001_A
2,5 2001_B
2002_A
2,0 2002_B
1,5 2003_A
2003_B
1,0
2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
7. Desenvolvimento Cognitivo
4,0
3,5
2000_A
3,0 2000_B
2001_A
2,5
2001_B
2,0 2002_A
2002_B
1,5
2003_A
1,0 2003_B
2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
8. Desenvolvimento Perceptivo-Motor
186
3,5
3,0
2000_A
2,5 2000_B
2001_A
2,0 2001_B
2002_A
1,5 2002_B
2003_A
1,0 2003_B
2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
9. Alimentação
4,5
4,0
2000_A
3,5
2000_B
3,0 2001_A
2,5 2001_B
2002_A
2,0 2002_B
1,5 2003_A
2003_B
1,0
2004_A
0,5
0,0
Renato Luca Ana Marco Edu Rodrigo Thiago
187
ANEXO 7
Luca
Luca logo que chegou a escola, aos 4 anos, não era uma criança fácil de ser
trabalhada. Chorava muito, apresentava muitas estereotipias de mão, emitia sons
incompreensíveis, não interagia com nenhuma criança, não se comportava
adequadamente no refeitório e não realizava nenhuma atividade proposta pela
professora.
A inserção de Comunicação Suplementar Alternativa com ele foi difícil, ele
não dava atenção, nem nos atendia. Não sabia realizar nenhuma atividade
pedagógica, nem mesmos recortar, pintar ou colar.
O que fizemos foi investir com a colocação de limites para seu
comportamento, afetividade e inserir a Comunicação Suplementar Alternativa. Com
o tempo passou a se interessar por brinquedos, a sentar-se no chão com as outras
duas crianças de sua classe para ouvir e principalmente, ver as gravuras dos
livrinhos de história. Embora continuasse apresentando agressividade e agitação,
percebíamos melhora.
Aprendeu a conhecer e a classificar as cores com o apoio da Comunicação
Suplementar Alternativa, a sorrir em determinados momentos em que seu colega
MARCO fazia algo engraçado ou se jogava no chão, a permanecer sentado no
refeitório e a utilizar o talher com auxílio da professora.
Com o passar do tempo e de toda a atuação da professora mediando suas
ações e proporcionado o contato social com outros alunos, LUCA aprendeu a
recortar, a colar, a fazer desenhos de objetos de seu interesse, tal como o relógio.
Passou a ser interessar muito pelo brinquedo “o pequeno engenheiro” onde nos
demonstrou grande habilidade em construir prédios e pontes com carros na rua a
partir de bloquinhos de madeira, encaixes e palitos. O interesse por esta atividade
188
Ana
Até o ano de 1999 Ana se mostrava muito isolada. Não interagia de
nenhuma forma com outros alunos. Por vezes a vimos “brincando” com a parede.
Não verbalizava. Os acessos de birra eram muito constantes. Dificilmente dava
alguma resposta ao professor. Dificilmente também notávamos alguma manifestação
de sentimentos.
A partir do trabalho iniciado com os educadores partindo-se da proposta da
mediação na aprendizagem e da utilização da Comunicação Suplementar Alternativa
pelo professor como apoio pedagógico, ANA; passou com o tempo a desenvolver
linguagem verbal funcional. Em dado momento a acompanhar músicas infantis e a
se comunicar utilizando algumas palavras e mostrando o símbolo visual que
comunicava seu desejo. Começou a interagir com a professora da seguinte forma:
É notório como o trabalho educacional faz a diferença. No tempo em que Ana era tratada
como “autista”, assim mesmo ela se comportava, pois a visão contaminada de que esse indivíduo
está limitado por todos os critérios conhecidos no DSM e na CID não permite ao professor explorar
outras habilidades a serem desenvolvidas. Entretanto, tratá-la como pessoa e não privá-la de contato
social necessário a todo ser humano possibilita avançarmos no desenvolvimento da mesma.
Manifestações de felicidade como sorrisos, chegar à escola cantando, beijar a professora e
procurar contar algum acontecimento ocorrido por meio de palavras com significado ou por meio de
190
símbolos visuais passam a ser motivação tanto para o aluno como para o educador. Essa experiência
pode ser considerada a mais rica de todas na prática educacional. Logo, não é a quantidade de
conteúdos acumulados ou o aprendizado de atividades complexas que significam êxito, mas o
desenvolvimento de uma interação e aprendizagem social ampla que traz consigo a conseqüência do
aprender o novo de forma significativa.
O que procuramos explicar aqui é que métodos de ensino fundamentados no
condicionamento comportamental de fato funcionam, no entanto deixam a desejar no que diz respeito
à possibilidade de se desenvolver a interação social. Assim, os símbolos da Comunicação
Suplementar Alternativa amplamente utilizados em métodos de ensino baseados no condicionamento
comportamental podem ter seu uso realizado de outra forma. E isto depende exclusivamente do
trabalho do professor como mediador.
Com o tempo, ANA aumentou seu repertório de músicas, passou a identificar e a nomear
figuras conhecidas em revistas diversas. Comportamentos agitados passaram a ser mais fáceis de
serem trabalhados, diminuindo desta forma sua agressividade e inquietude.
No entanto, sua personalidade continua a mesma. A tendência de fazer birra por desejar
fazer apenas o que quer é algo comum. Porém, em nossa perspectiva, vemos isso como algo
positivo, pois ela está demonstrando que não é um robô, mas que tem sim suas preferências e
desejos. Logo, nosso objetivo não é controlarmos tal comportamento para que o mesmo seja
modificado apenas para dar menos trabalho ao professor, mas sim trabalharmos de forma interativa
para que ela compreenda que há momentos em que nem tudo o que desejamos pode ser cumprido
da forma que queremos. Compreender que seus colegas também têm os mesmos direitos e que
esperar é algo a ser apreendido a cada momento, substituindo a raiva e a birra por outras atividades
e pelo carinho com os outros.
Ao contrário de propostas que defendem o pouco falar com indivíduos com autismo, cremos
que o falar demasiado e com frases muito longos podem de fato atrapalhar o entendimento do
mesmo, principalmente, devido às dificuldades que os autistas têm no processamento das
informações. Por outro lado, a não ser por este motivo, o diálogo é uma das fontes principais para se
alcançar êxito junto a eles e como o diálogo não se constitui apenas por uma pessoa falando, a
Comunicação Suplementar Alternativa é uma auxiliar para haver o diálogo, a interação, a
comunicação como meio necessário para seu desenvolvimento educacional.
Receber uma aluna como ANA com um abraço é algo motivador e incentivador de se investir
na interação social. Ouvir um obrigado após muitas e muitas tentativas é algo gratificante. Porém,
tanto o abraço como o obrigado podem ser conseguidos por outras formas de ensino e que muitas
vezes, quase não tem de fato, significado para a criança que o faz. Contudo, o diferencial está na
forma e no ambiente proporcionado para que o mesmo ocorra. Talvez um abraço e um obrigado até
mais demorado em sua conquista, mas duradouro após ser compreendido, após ser internalizado,
após ter tomado significado social para a criança autista. E isto, depende do trabalho pedagógico
realizado conforme a concepção de educação, de ensino e de aprendizagem que tem o educador.
Aprender a brincar também é uma ação da qual se necessita o investimento
na interação social e no aprendizado significativo. ANA que antes “brincava” com a
191
Marco
MARCO chegou à escola com um comportamento muito difícil de ser
trabalhado. Criança hiperativa que não aparentava compreender qualquer coisa que
lhe dissessem. Agressivo, com baba excessiva, sem atenção, de comportamento
super agitado, não verbalizava.
O início do trabalho com ele se deu com uma professora que nunca havia
trabalhado com autistas. Os primeiros três meses da professora foram de intenso
stress e choro de ambas as partes. Juntamente com mais dois alunos, MARCO
192
deixava com que a sala de aula fosse um transtorno. Então passamos a orientar a
professora sobre como deveria agir com o aluno. A questão da interação, do diálogo
incansável e do uso de Comunicação Suplementar Alternativa como apoio
pedagógico para professor e aluno eram fundamentas no cotidiano escolar.
Diferentemente de ANA esse aluno não possui uma estrutura familiar que colabora
para seu desenvolvimento saudável. Assim, fica para a escola o desafio de educá-lo
e ensiná-lo a conviver com outras pessoas e a viver em sociedade.
Inserimos o uso de Comunicação Suplementar Alternativa também com a
fonoaudióloga. Lentamente, MARCO começou a se transformar. Aquela agitação
incontrolada diminuiu, passando a conseguir ficar alguns minutos sentado e
iniciando algum tipo de atividade com encaixe.
MARCO após quatro meses de trabalho efetivo com a professora e com o uso
de Comunicação Suplementar Alternativa se mostrou bem melhor em seu
comportamento. Seu comportamento hiperativo obteve significante alteração a partir
do momento em que “as coisas” ao seu redor foram ganhando significado para ele.
Todo o material pedagógico foi nomeado com símbolos visuais, assim, a cada vez
que a professora solicitava verbalmente algum material, entregava para o aluno seu
respectivo símbolo. O mesmo acontecia nas atividades que eram desenvolvidas,
sempre verbalizava apresentando simultaneamente as fichas com os símbolos
visuais que representavam a atividade. No entanto, essa ação de se trabalhar com
Comunicação Suplementar Alternativa era toda envolvida em um contexto
pedagógico e de mediação constante, sendo que por nenhum momento se deixava
de se comunicar verbalmente com ele.
Aos poucos MARCO foi compreendendo que tudo tinha seu devido nome e
que todos nós emitíamos sons que também significavam alguma coisa. Então, com 5
anos de idade ele começou a emitir as primeiras palavras. A princípio pareciam ser
apenas um ato ecolálico, porém, mediante as intervenções da professora e a
inserção da criança em ambiente onde as outras crianças se comunicavam com
fluência, ele passou também a desenvolver sua comunicação. Quando a professora
trabalhava uma peça de bloco lógico utilizando Comunicação Suplementar
Alternativa, MARCO pegava a peça solicitada e entregava para ela. Anteriormente,
não compreendia o que a professora desejava, mas a partir da utilização do apoio
visual seu processo de conhecimentos sobre as coisas e a construção de conceitos
193
foi se desenvolvendo, até que não era mais preciso lhe apresentar uma ficha com
símbolo visual, mas apenas lhe solicitar verbalmente o que desejava.
As transformações ocorridas com MARCO não foram milagrosas, nem tão
pouco imediatas, pelo contrário, foram horas e horas de trabalho pedagógico e
muitas tentativas de acerto sobre o objeto de interesse do aluno para que
pudéssemos lhe alcançar a atenção.
Outra ferramenta indispensável de trabalho com MARCO foi o uso da música
em sala de aula. Seu interesse foi tanto que aprendeu lidar com o rádio-gravador.
Em sua rotina diária de sala de aula sempre buscava com certa animação o
momento de ouvir música. Aprendeu a cantar as canções e a escolher as fitas que
mais gostava.
Hoje MARCO está com 10 anos de idade. O apoio familiar praticamente não
existe, embora haja reconhecimento por parte da mãe e da tia que o garoto tenha
melhorado muito em seu comportamento. Reconhece todas as letras do alfabeto e
as pareia com a música “alfabeto” da cantora Xuxa. Apresenta uma fala ainda
estereotipada, porém, se comunica. Interage com outros alunos, embora
apresentando suas limitações. O comportamento hiperativo obteve melhora
relevante. Quando deseja algo que não consegue se expressar verbalmente ou que
percebe que não está sendo compreendido, faz uso de Comunicação Suplementar
Alternativa. É importante salientar que ele estaria muito melhor se estivesse em
contato diário com outras crianças sem deficiências para melhor desenvolver um
comportamento social mais adequado e melhor interação. Atualmente não faz uso
de mais nenhum medicamento para controle da hiperatividade.
Renato
RENATO sempre apresentou todo o quadro sintomático de um autista.
Quando a escola mudou de local e fomos para a zona rural, sua reação foi
dramática. Por quinze dias esteve em crise gritando, batendo e chutando a todos
nós. Suas estereotipias aumentaram e se apresentou agressivo com as pessoas.
Dava cabeçadas na professora, mordia, chorava, não comia e segundo os pais,
estava muito agitado em casa. Filho de uma família pouco estruturada
emocionalmente, percebíamos que ele era afetado por toda essa situação, pela falta
de paciência dos pais e pelo não entendimento do que desejava. Apresenta
deficiência mental e não verbaliza.
194
ANEXO 8
AGENDA DE ATIVIDADES DIÁRIAS51
51
Logo acima, no início da agenda consta uma foto do aluno e seu nome.
198
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma questão que nos inquieta, com relação ao trabalho educacional junto a alunos com
autismo, é a constatação de que o ser humano tende a se afastar de situações e contextos nos quais
ele não se sente à vontade, nem competente para dominar. Uma das razões pelas quais os alunos
com autismo têm poucas oportunidades de interação se deve às dificuldades de linguagem próprias
da síndrome e que se refletem no ato comunicativo, implicando a dificuldade em estabelecer e manter
relacionamento com as demais pessoas.
Considerando a forma excludente de educar as pessoas com deficiência, que
a educação especial imprimiu ao longo de sua história no trabalho educacional, junto
a crianças com autismo, observamos que esse aluno, quase sempre fica à margem
do processo de ensino e aprendizagem. Desde a sua entrada à escola e/ou
instituição até a sua saída, é visto como um autista, segundo o quadro sintomático
que apresenta, tendo como base a incapacidade, o déficit, principalmente, no que se
refere aos problemas de linguagem e de interação social. A educação, sob este
estigma, reafirma a existência de alterações e confusões na compreensão e no
desenvolvimento lingüístico, prejudicando a qualidade de compreensão no contexto
da linguagem, e torna a linguagem sem função no que diz respeito a ser um canal
para a aprendizagem, pela incapacidade de interpretar o comportamento e não
perceber as situações de outrem.
199
- Todo o ser humano é passível de sofrer transformações, pois isto é próprio da espécie
humana. Para tanto, é preciso uma mudança de concepção acerca do indivíduo com
autismo.
- Como profissionais podemos intervir e proporcionar condições para que esse indivíduo se
transforme. Assim, não deve ser a doença e/ou a deficiência a enfocada, mas sim o
processo de ensino desse aluno.
- Visando aos objetivos que temos para com nosso aluno, enquanto indivíduos, também
somos passíveis de sofrer transformações no processo de mediação. Tanto o aluno como
o professor, ambos são sujeitos e estão suscetíveis de transformações, desencadeadas
no próprio contexto onde as relações acontecem, durante o processo de mediação da
experiência de aprendizagem.
- Mesmo que o processo de transformação muitas vezes pareça prolongado, a
perseverança e a busca de alternativas possibilitam mudanças e estas, por mínimas que
sejam, têm impacto social. Da mesma forma, a crença na possibilidade de transformação
por acreditar no potencial do sujeito é muito importante e significativo.
202
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