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APENDICE I MEnabismo* 6 77m arte como em poesia, a representacdo destes esta ‘dos selvagens de entusiasmo ficava apenas na esfera da imaginagio, pois em literatura e prosa, por exemplo, possufmos oucas provas histéricas de mulheres promovendo orgias' a céu aber- to, Esta pritica teria sido estranha para o espirito de reclusio que permeava a vida feminina na Grécia.. Os festivais das Tiades eram confinados principalmente ao Pamaso.” Assim escreve Sandys, na introdugao de sua edigdo merecidamente elogiada das Bacantes. Dio- doro, por outro lado, nos conta que (4.3) “em muitos estados gregos, congregagses (Berxzeta) de mulheres se retinem a cada dois anos, © que mulheres néo casadas tém permissiio para carregar o tirso ¢ compartilhar do éxtase dos mais velhios (auvevdova.atew).” Des- de Sandys, provas em inscrigdes, vindas de vérias partes do mundo rego, confirmaram a afirmagao de Diodoro, Sabemos agora que tais festas bienais (tprtnptdec) existiam em Tebas, Opus, Melos, Pér- zgamo, Prine € Rodes, atestadas por inscrigGes em Aléa na Arcédia, feitas por Pausdnias, em Mitilene por Actiano, € em Creta por Fit- micus Maternus.? O caréter das festas pode ter variado bastante de uma Jocalidade para outra, mas ¢ dificil duvidar de que elas normal- mente inclufam oper feminina de tipo extético ou quase extitico, conforme descritas por Diodoro, envolvendo freqiientemente ~ se * Estas piginas fizeram parte, originalmente, de artigo publicado na Harvard Theological Review, v.33 (1940). Aqui elas sio teproduzidas com pequenss corregdes e actéscimos. Agradego a0 Prof. A.D. Nock, Dr. Rudolf Peiffer © ‘uteos pelasvaliosaseriicas, 2m. (Os @REGOS #0 IRRACIONAL nao sempre ~ dangas da montanha (opexBooter noturna). Este es- tranho rito, deserito nas Bacanres e praticado por sociedades femininas no zpuysepis délfico nos tempos de Plutarco, era prati- ‘ado também em outros lugares: em Mileto, a sacerdotisa de Dioniso ainda “conduzia as mulheres & montanha’ em tempos helenisticos dios; om Britréia, o titulo MytavtoBarng aponta para uma operBacre no Monte Mimas.* © proprio Dioniso € ope.og, opeqayns, opeaxtos, ovpeardorms loriginério das montanhas], e Strabo, a0 discutir 0s cultos de mistérios dionisiacos e outros a cle relacionados, fala geralmente de tas opeiBacias tov Rept to Gc1oy orovdaCovtwv. A alusto literdria mais antiga esté iérico “Hinoa Deméter 1 17e uoavas op0s Kr: SuoKoV Ving, A opeifacre: acontecia & noite, no meio do invemo, e deve ter envolvide grande risco e desconforto. Pausdniasafirma que em Delfos as mulheres iam até 0 pico do Pamaso (que mede mais de 2.500 metros de altura), e Plutareo* desereve uma ocasido, aparen- {emente durante a sua vida, em que elas foram interceptadas por uma tempesiade de neve, tendo sido nece ‘tio 0 envio de uma equipe de resgate. Quando retornaram, suas roupas estavam congeladas Qual era 0 objetivo desta pritiea? Muitas pessoas dangam para que as colheitas possam brotar, através da magia de simpatia, Mas tais dangas 40 anuais como as colheitas © nao bienais como as operaaia; a estagio € a primavera e no o meio do inverno; seu local é, por exemplo, 0 milharal e no os topos ressequidos das mon tanhas. Bscritores gregos tardios achavam que as dangas em Delfos cram comemorativas is dangam, segundo Diodoro, "para imitar as ménudes que, pelo que se afirma, haviam estado ligadas aos deu- ses no passado”, Diodoro esté provavelmente certo no que tange a seu proprio tempo; porém, um ritual & normalmente mais antigo do que © mito pelo qual o povo procura explicé-lo, ¢ possui raizes psi- colégicas mais profundas. Deve ter havido um tempo em que as ménades ou tiades ou Baxyan realmente se tormavam, por algumas poucas horas ou dias, 6 que o nome implica ~ isto &, mulheres sel- vagens cuja personalidade humana havia sido substituida por outro tipo de personalidade. Nio temos meios seguros de saber se ainda podia ser assim no tempo de Euripides. Uma tradigio délfica, regis- {cada por Plutarco’ sugere que 0 rito as vezes produzia um verdadeiro distirbio de personalidade, como no século IV a.C., mas as provas Avénpice 1. MENADISMO. 273 iio muito insuficientes e @ natureza da mudanga operada ndo € nada clara, Hé, entreianto, fendmenos paralelos em outras culturas que podem nos ajudar a compreender 0 mapo50s das Bacantes e 0 cas- tigo de Agave. Em muitas sociedades, talvez em todas, hi pessoas para quem, como colocou Aldous Huxley, “as dangas rtuais fornecem uma ex- periéncia religiosa que parece mais satisfat6ria e convincente do que qualquer outra... B com os mésculos que cles mais facilmente ob- {m um conhecimento do elemento divino”* Huxley pensa que 0 Cristianismo cometeu um equtvoco quando permitiu que a danga se tomasse completamente secularizada,” pois segundo um sabio mao- metano “aquele que conhece © poder da danga habita Deus”. Mas © poder da danga é um poder perigoso. Como outras formas de auto- centrega, & mais Feil comegar a dangar do que parar. Na extraordi- nia loucura dangante que invadiu a Europa periodicamente dos séeulos XIV ao XVI, as pessoas dangavam até cair ~ como um dan sgarino das Bacantes ou um dangarino em um vaso Berlim!® — dio inconscientes, sendo pisoteadas por seus companheiros.” A coisa seria também allamente infeceiosa. Como observa Penteu, nas Ba- antes, a loucura se espalha como o fogo. A disposigdo para a dan- «toma posse das pessoas sem 0 consentimento da parte consciente 4da mente, Por exemplo, em Liége em 1374, conta-se que depois que algumas pessoas possutdas haviam caminhado seminuas até a cida- de, com guirlandas de flores d cabega e dangando em nome de So Joo, “muitas outras pessoas, aparentemente sis dx mente e do eor- po, também foram repentinamente possuidas por diabos, juntando- se aos demais.” Estas pessoas abandonavam o lar, como as mulheres tebanas na pega de Euripides. Mesmo as mulheres mais jovens cor tavam Tagos com a familia e com os amigos, vagando com os dan- ggarinos.® Contra uma mania semelhante, na Itlia do século XVI, Cconta-se que nem a idade e nem a juventude podiam conferir prote- «io, de modo que mesmo os homens de mais de noventa anos de ‘dade jogavam fora suas muletas para dancar ao som da “tarantella”, € como se estivessem sob o eleito de alguma pogdo magica, restau radora do vigor ¢ da juventude, se uniam aos dangarinos mais extravagantes”,""A cena de Cadmos e Tirésias nas Bacantes era portario:ino, que pre 1 eth ate attr Mee ESC «observagio do poeta, de que Dioniso no impoe nenhum limite de

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