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Língua Portuguesa
Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários). ....................................................1
Sinônimos e antônimos. Sentido próprio e figurado das palavras. ............................................................................3
Pontuação. ............................................................................................................................................................................4
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção:
emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem. ..............................................................................6
Concordância verbal e nominal. .................................................................................................................................... 24
Regência verbal e nominal. ............................................................................................................................................. 27
Colocação pronominal. .................................................................................................................................................... 32
Crase. .................................................................................................................................................................................. 33
Ortografia Oficial. ............................................................................................................................................................. 35
Acentuação Gráfica. .......................................................................................................................................................... 42
Sintaxe: processos de coordenação e subordinação. ................................................................................................. 44
Matemática
Resolução de situações-problema, envolvendo: adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação ou
radiciação com números racionais, nas suas representações fracionária ou decimal; ..........................................1
Mínimo múltiplo comum; Máximo divisor comum ........................................................................................................4
Porcentagem .........................................................................................................................................................................5
Razão e proporção ...............................................................................................................................................................6
Regra de três simples ou composta ..................................................................................................................................8
Equações do 1º ou do 2º graus; Sistema de equações do 1º grau ............................................................................ 11
Grandezas e medidas – quantidade, tempo, comprimento, superfície, capacidade e massa ............................... 15
Relação entre grandezas – tabela ou gráfico ................................................................................................................ 18
Tratamento da informação – média aritmética simples ............................................................................................ 22
Noções de Geometria – forma, ângulos, área, perímetro, volume, Teoremas de Pitágoras ou de Tales............ 23
Raciocínio Lógico. .............................................................................................................................................................. 35
Conhecimentos Pedagógicos
A PRÁTICA EDUCATIVA DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A observação, registro e avaliação
formativa ...............................................................................................................................................................................1
A organização e planejamento do espaço na educação infantil ...................................................................................4
A pedagogia de projetos didáticos ................................................................................................................................. 10
As relações entre a escola e a família ............................................................................................................................. 15
O comportamento infantil - o desenvolvimento dos afetos e das relações. O compartilhamento da ação
educativa. O cuidar e o educar ........................................................................................................................................ 20
OS AMBIENTES DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A brincadeira e o desenvolvimento da
imaginação e da criatividade. A brincadeira na educação infantil nas perspectivas psicossociais, educacionais
e lúdicas .............................................................................................................................................................................. 33
Alfabetização ...................................................................................................................................................................... 46
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O currículo e a pedagogia da brincadeira ..................................................................................................................... 71
O desenvolvimento da linguagem oral .......................................................................................................................... 84
O desenvolvimento das artes visuais e do movimento............................................................................................... 89
O trabalho com as múltiplas linguagens ....................................................................................................................... 96
A FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL DA CRIANÇA: A criança, a natureza e a sociedade .......................................106
As interações criança/criança como recurso de desenvolvimento: identidade e autonomia ...........................119
O desenvolvimento humano em processo de construção - Piaget, Vygotsky e Wallon ......................................123
O DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE: A importância da psicomotricidade na educação infantil. A
psicomotricidade no desenvolvimento da criança. O lúdico e o desenvolvimento psicomotor. O papel da
educação psicomotora na escola ..................................................................................................................................127
A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Ensinar e aprender matemática na educação infantil. Espaço e
forma. Grandezas e medidas. Número e sistema de numeração ............................................................................130
ARRIBAS, Teresa Lleixà. Educação Infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. Porto Alegre:
Artmed, 2004 ...................................................................................................................................................................138
BARBOSA, Ana Mae e CUNHA, Fernanda Pereira da. Abordagem triangular no ensino das artes e cultura
visuais. São Paulo: Cortez, 2010 ...................................................................................................................................139
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Projetos Pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Grupo A,
2008 ...................................................................................................................................................................................143
BASSEDAS, Eulália. Aprender e ensinar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1999 .............................148
EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella e FORMAN, George. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artmed,
2015 ...................................................................................................................................................................................148
FERREIRA, Gláucia de Melo (org.). Palavra de professor(a): tateios e reflexões na prática Freinet. Campinas:
Mercado das Letras, 2003 ..............................................................................................................................................150
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2010 ........................................................154
FONSECA, Lúcia Lima da. O universo na sala de aula: uma experiência em pedagogia de projetos. Porto Alegre:
Mediação, 2009 ................................................................................................................................................................157
FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008 ......................157
FONSECA, Vítor da. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores
psicomotores. Rio de Janeiro: Wak, 2012 ...................................................................................................................160
FORMOSINHO, Julia Oliveira. Pedagogia da infância: dialogando com o passado: construindo o futuro. Porto
Alegre: Artmed, 2007 .....................................................................................................................................................161
HOFFMANN, Jussara Maria. Avaliação mediadora, uma prática em construção da pré-escola à universidade.
Porto Alegre: Mediação, 2010 .......................................................................................................................................163
KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2009..167
LE BOULCH, Jean. Educação psicomotora: a psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas,
1987 ...................................................................................................................................................................................199
MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e
conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998 ...........................................................................................................................201
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília:
MEC/SEF, 1998. v.3. .......................................................................................................................................................206
MEREDIEU, Florence de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 2006..................................................................253
MEUR, A. de. Psicomotricidade: educação e reeducação: níveis maternal e infantil. São Paulo: Manole,
1991... ................................................................................................................................................................................254
OLIVEIRA, Zilma Ramos de e outros. O trabalho do professor na educação infantil. São Paulo: Biruta,
2015 ...................................................................................................................................................................................255
OLIVEIRA, Zilma Ramos. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002 ......................257
PANIZZA, Mabel e Colaboradores. Ensinar matemática na educação infantil e nas séries iniciais: análise e
propostas. Porto Alegre: Artmed, 2006.......................................................................................................................260
PARO, Vitor Henrique. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. São Paulo: Xamã, 2000 ........................262
PORTILHO, Evelise. Como se aprende? Estratégias, estilos e metacognição. Rio de Janeiro: Wak, 2009 .... ...262
REGO, Teresa Cristina. Brincar é coisa séria. São Paulo: Fundação Samuel, 1992 ..............................................263
SILVA, Lucilene. Brincadeiras: para crianças de todo o mundo. São Paulo: UNESCO, 2007 ..............................263
SMOLE, Kátia Cristina Stocco. A matemática na educação infantil: a teoria das inteligências múltiplas na prática
escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996 ................................................................................................................266
SMOLE, Kátia Stocco, DINIZ, Maria Ignez e CÂNDIDO, Patrícia. Resolução de problemas: matemática de 0 a 6.
Porto Alegre: Artmed, 2003 ..........................................................................................................................................268
TAILLE, Yves de La e outros. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo:
Summus, 1992 .................................................................................................................................................................269
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TEBEROSKY, Ana e CARDOSO, Beatriz (org.). Reflexões sobre o ensino da leitura e da escrita. Rio de Janeiro:
Vozes, 2000 ......................................................................................................................................................................273
WALLON, Henri: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. São Paulo: Vozes, 1986 ..................273
ZABALZA, Miguel A. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998 ...........................................275
Legislação
Constituição Federal. Título VIII – Da Ordem Social: Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto: Seção
I – Da Educação .....................................................................................................................................................................1
Lei Federal nº 8.069/90. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências
(atualizada) ..........................................................................................................................................................................3
Lei Federal nº 9.394/96. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (atualizada) ........................ 35
Resolução CNE/CEB nº 5/09 e Parecer CNE/CEB Nº 20/2009. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil ............................................................................................................................................................... 50
Lei Complementar do Município de Osasco nº 168, de 16 de janeiro de 2008 – Dispõe sobre o Estatuto e o
plano de carreira e remuneração do magistério público municipal, estabelece normas de enquadramento,
institui tabelas de vencimentos e dá outras providências ......................................................................................... 62
Lei Federal nº 7.853, de 24 de outubro De 1989 – Dispõe Sobre o Apoio às Pessoas Portadoras de Deficiência,
sua Integração Social, sobre a Coordenadoria Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência –
Corde, Institui a Tutela Jurisdicional de Interesses Coletivos ou Difusos dessas Pessoas, disciplina a atuação do
Ministério Público, define crimes, e dá outras Providências ..................................................................................... 73
Lei do Município de Osasco nº 4.701, de 02 de Julho de 2015 – Institui o Plano Municipal de Educação e dá
outras providências .......................................................................................................................................................... 76
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LÍNGUA PORTUGUESA
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APOSTILAS OPÇÃO
09 DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE A utilização da bicicleta como meio de locomoção no Brasil
TEXTOS ainda conta com poucos adeptos, em comparação com países
01) Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos quais a bicicleta
assunto; é um dos principais veículos nas ruas. Apesar disso, cada vez
02) Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa mais pessoas começam a acreditar que a bicicleta é, numa
a leitura; comparação entre todos os meios de transporte, um dos que
oferecem mais vantagens.
Língua Portuguesa 1
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APOSTILAS OPÇÃO
A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicletas e (B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta é
a outros veículos que, por lei, devem andar na via e jamais na mais seguro do que dirigir um carro.
calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são todos (C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bicicleta
considerados veículos, com direito de circulação pelas ruas e no Brasil.
prioridade sobre os automotores. (D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como meio
Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à de locomoção se consolidou no Brasil.
bicicleta no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade, (E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista
pois as bikes não emitem gases nocivos ao ambiente, não deve dar prioridade ao pedestre.
consomem petróleo e produzem muito menos sucata de
metais, plásticos e borracha; a diminuição dos 03. Considere o cartum de Evandro Alves.
congestionamentos por excesso de veículos motorizados, que
atingem principalmente as grandes cidades; o favorecimento Afogado no Trânsito
da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito bom; e a
economia no combustível, na manutenção, no seguro e, claro,
nos impostos.
No Brasil, está sendo implantado o sistema de
compartilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por
exemplo, o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da
Prefeitura, em parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA,
com quase um ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São
Paulo, Santos, Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo país
aderirem a esse sistema, mais duas capitais já estão com o
projeto pronto em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do
compartilhamento é semelhante em todas as cidades. Em
(http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br)
Porto Alegre, os usuários devem fazer um cadastro pelo site. O
valor do passe mensal é R$ 10 e o do passe diário, R$ 5,
Considerando a relação entre o título e a imagem, é correto
podendo-se utilizar o sistema durante todo o dia, das 6h às
concluir que um dos temas diretamente explorados no cartum
22h, nas duas modalidades. Em todas as cidades que já
é
aderiram ao projeto, as bicicletas estão espalhadas em pontos
(A) o aumento da circulação de ciclistas nas vias públicas.
estratégicos.
(B) a má qualidade da pavimentação em algumas ruas.
A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção não
(C) a arbitrariedade na definição dos valores das multas.
está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda não sabem
(D) o número excessivo de automóveis nas ruas.
que a bicicleta já é considerada um meio de transporte, ou
(E) o uso de novas tecnologias no transporte público.
desconhecem as leis que abrangem a bike. Na confusão de um
trânsito caótico numa cidade grande, carros, motocicletas,
04. Considere o cartum de Douglas Vieira.
ônibus e, agora, bicicletas, misturam-se, causando, muitas
vezes, discussões e acidentes que poderiam ser evitados.
Televisão
Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. A
verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles estão
totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. Por isso é
tão importante usar capacete e outros itens de segurança. A
maior parte dos motoristas de carros, ônibus, motocicletas e
caminhões desconhece as leis que abrangem os direitos dos
ciclistas. Mas muitos ciclistas também ignoram seus direitos e
deveres. Alguém que resolve integrar a bike ao seu estilo de
vida e usá-la como meio de locomoção precisa compreender
que deverá gastar com alguns apetrechos necessários para
poder trafegar. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro,
as bicicletas devem, obrigatoriamente, ser equipadas com
(http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br. Adaptado)
campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e
nos pedais, além de espelho retrovisor do lado esquerdo.
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. Adaptado) É correto concluir que, de acordo com o cartum ,
(A) os tipos de entretenimento disponibilizados pelo livro
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como meio de ou pela TV são equivalentes.
locomoção nas metrópoles brasileiras (B) o livro, em comparação com a TV, leva a uma
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra imaginação mais ativa.
devido à falta de regulamentação. (C) o indivíduo que prefere ler a assistir televisão é alguém
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido que não sabe se distrair.
incentivado em várias cidades. (D) a leitura de um bom livro é tão instrutiva quanto
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela assistir a um programa de televisão.
maioria dos moradores. (E) a televisão e o livro estimulam a imaginação de modo
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com os idêntico, embora ler seja mais prazeroso.
demais meios de transporte.
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade Leia o texto para responder às questões:
arriscada e pouco salutar.
Propensão à ira de trânsito
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos
objetivos centrais do texto é Dirigir um carro é estressante, além de inerentemente
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do perigoso. Mesmo que o indivíduo seja o motorista mais seguro
ciclista. do mundo, existem muitas variáveis de risco no trânsito, como
clima, acidentes de trânsito e obras nas ruas.
Língua Portuguesa 2
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APOSTILAS OPÇÃO
Língua Portuguesa 3
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APOSTILAS OPÇÃO
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido 02. (Pref. Itaquitinga/PE – Psicólogo – IDHTEC) A
oposto ou negativo. entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os combatentes
Exemplos: contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-se;
- bendizer/maldizer comoviam-se. O arraial, in extremis, punhalhes adiante,
- simpático/antipático naquele armistício transitório, uma legião desarmada,
- progredir/regredir mutilada faminta e claudicante, num assalto mais duro que o
- concórdia/discórdia das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela
- explícito/implícito gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres
- ativo/inativo bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os
- esperar/desesperar rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos
molambos em tiras não encobriam lanhos, escaras e
Sentido Próprio e Sentido Figurado escalavros – a vitória tão longamente apetecida decaía de
súbito. Repugnava aquele triunfo. Envergonhava. Era, com
As palavras podem ser empregadas no sentido próprio ou efeito, contraproducente compensação a tão luxuosos gastos
no sentido figurado. Exemplos: de combates, de reveses e de milhares de vidas, o apresamento
- Construí um muro de pedra. (Sentido próprio). daquela caqueirada humana – do mesmo passo angulhenta e
- Ênio tem um coração de pedra. (Sentido figurado). sinistra, entre trágica e imunda, passando-lhes pelos olhos,
- As águas pingavam da torneira. (Sentido próprio). num longo enxurro de carcaças e molambos...
- As horas iam pingando lentamente. (Sentido figurado). Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma
arma, nem um peito resfolegante de campeador domado:
Questões mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, moças
envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade,
01. (MPE/SP – Biólogo – VUNESP) McLuhan já alertava escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris
que a aldeia global resultante das mídias eletrônicas não desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos
implica necessariamente harmonia, implica, sim, que cada aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando;
participante das novas mídias terá um envolvimento crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de
gigantesco na vida dos demais membros, que terá a chance de velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e
meter o bedelho onde bem quiser e fazer o uso que quiser das mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.
informações que conseguir. A aclamada transparência da coisa (CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos.
pública carrega consigo o risco de fim da privacidade e a Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)
superexposição de nossas pequenas ou grandes fraquezas
morais ao julgamento da comunidade de que escolhemos Em qual das alternativas abaixo NÃO há um par de
participar. sinônimos?
Não faz sentido falar de dia e noite das redes sociais, (A) Armistício – destruição
apenas em número de atualizações nas páginas e na (B) Claudicante – manco
capacidade dos usuários de distinguir essas variações como (C) Reveses – infortúnios
relevantes no conjunto virtualmente infinito das (D) Fealdade – feiura
possibilidades das redes. Para achar o fio de Ariadne no (E) Opilados – desnutridos
labirinto das redes sociais, os usuários precisam ter a
habilidade de identificar e estimar parâmetros, aprender a Gabarito
extrair informações relevantes de um conjunto finito de
observações e reconhecer a organização geral da rede de que 01.B / 02.A
participam.
O fluxo de informação que percorre as artérias das redes
sociais é um poderoso fármaco viciante. Um dos neologismos
recentes vinculados à dependência cada vez maior dos jovens
Pontuação.
a esses dispositivos é a “nomobofobia” (ou “pavor de ficar sem
conexão no telefone celular”), descrito como a ansiedade e o
sentimento de pânico experimentados por um número PONTUAÇÃO
crescente de pessoas quando acaba a bateria do dispositivo
móvel ou quando ficam sem conexão com a Internet. Essa Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem
informação, como toda nova droga, ao embotar a razão e abrir para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar
os poros da sensibilidade, pode tanto ser um remédio quanto especificidades semânticas e pragmáticas. Vejamos as
um veneno para o espírito. principais funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo
(Vinicius Romanini, Tudo azul no universo das redes. uso da língua portuguesa.3
Revista USP, no 92. Adaptado)
Ponto
As expressões destacadas nos trechos – meter o bedelho
/ estimar parâmetros / embotar a razão – têm sinônimos 1) Indica o término do discurso ou de parte dele.
adequados respectivamente em: Ex.: Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em
(A) procurar / gostar de / ilustrar que se encontra. / Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga
(B) imiscuir-se / avaliar / enfraquecer e leite.
(C) interferir / propor / embrutecer
(D) intrometer-se / prezar / esclarecer 2) Usa-se nas abreviações.
(E) contrapor-se / consolidar / iluminar Ex.: V.Exª (Vossa Exelencia) , Sr. (Senhor), S.A (Sociedade
Anonima).
3 http://tudodeconcursosevestibulares.blogspot.com/2013/04/pontuacao-
resumo-com-questoes.html
Língua Portuguesa 4
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APOSTILAS OPÇÃO
Língua Portuguesa 5
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APOSTILAS OPÇÃO
02. Assinale a opção em que está corretamente indicada a (D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha, chega
ordem dos sinais de pontuação que devem preencher as primeiro às, areias do Guarujá.
lacunas da frase abaixo: (E) O sistema permite, ainda, cadastrar o nome e o telefone
“Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas de quem a encontrou e informar um ponto de referência
devem ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica que o
trabalho oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter. Respostas
(A) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula 1.C / 2.C / 3.B / 4.D / 5.E
(B) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula;
(C) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
(D) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
(E) ponto e vírgula, vírgula, vírgula. Classes de palavras:
substantivo, adjetivo,
03. Os sinais de pontuação estão empregados
corretamente em:
numeral, pronome, verbo,
(A) Duas explicações, do treinamento para consultores advérbio, preposição e
iniciantes receberam destaque, o conceito de PPD e a conjunção: emprego e sentido
construção de tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar
das metas de vendas associadas aos dois temas.
que imprimem às relações que
(B) Duas explicações do treinamento para consultores estabelecem.
iniciantes receberam destaque: o conceito de PPD e a
construção de tabelas Price; mas, por outro lado, faltou falar
das metas de vendas associadas aos dois temas.
(C) Duas explicações do treinamento para consultores CLASSES DE PALAVRAS
iniciantes receberam destaque; o conceito de PPD e a
construção de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar Em Classes de Palavras, estudaremos substantivo, adjetivo,
das metas de vendas associadas aos dois temas. numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, interjeição e
(D) Duas explicações do treinamento para consultores conjunção. E dentro de cada uma, abordaremos seu emprego e
iniciantes, receberam destaque: o conceito de PPD e a quando houver, sua flexão.
construção de tabelas Price, mas, por outro lado, faltou falar
das metas de vendas associadas aos dois temas. Substantivo
(E) Duas explicações, do treinamento para consultores
iniciantes, receberam destaque; o conceito de PPD e a É a palavra que dá nomes aos seres. Inclui os nomes de
construção de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar pessoas, de lugares, coisas, entes de natureza espiritual ou
das metas, de vendas associadas aos dois temas. mitológica: vegetação, sereia, cidade, anjo, árvore, respeito,
criança.
04. Assinale a alternativa em que o período, adaptado da
revista Pesquisa Fapesp de junho de 2012, está correto quanto Classificação
à regência nominal e à pontuação. - Comuns: nomeiam os seres da mesma espécie. Ex.:
(A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamente, menina, piano, estrela, rio, animal, árvore.
seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja mais - Próprios: referem-se a um ser em particular. Ex.: Brasil,
notável em alguns países, o Brasil é um exemplo, do que em América do Norte, Deus, Paulo, Lucélia.
outros. - Concretos: são aqueles que têm existência própria; são
(B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam independentes; reais ou imaginários. Ex.: mãe, mar, água, anjo,
rapidamente seu espaço na carreira científica; ainda que o alma, Deus, vento, saci.
avanço seja mais notável, em alguns países, o Brasil é um - Abstrato: são os que não têm existência própria; depende
exemplo!, do que em outros. sempre de um ser para existir. Designam qualidades,
(C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam sentimentos, ações, estados dos seres: dor, doença, amor, fé,
rapidamente seu espaço, na carreira científica, ainda que o beijo, abraço, juventude, covardia. Ex.: É necessário alguém ser
avanço seja mais notável, em alguns países: o Brasil é um ou estar triste para a tristeza manifestar-se.
exemplo, do que em outros.
(D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam Formação
rapidamente seu espaço na carreira científica, ainda que o - Simples: são aqueles formados por apenas um radical:
avanço seja mais notável em alguns países - o Brasil é um chuva, tempo, sol, guarda.
exemplo - do que em outros. - Compostos: são os que são formados por mais de dois
(E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente, radicais: guarda-chuva, girassol, água-de-colônia.
seu espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais - Primitivos: são os que não derivam de outras palavras;
notável em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em vieram primeiro, deram origem a outras palavras. Ex.: ferro,
outros. Pedro, mês, queijo.
- Derivados: são formados de outra palavra já existente;
05. Assinale a alternativa em que a frase mantém-se vieram depois. Ex.: ferradura, pedreiro, mesada, requeijão.
correta após o acréscimo das vírgulas. - Coletivos: os substantivos comuns que, mesmo no
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la, verá na singular, designam um conjunto de seres de uma mesma
pulseira instruções para que envie, uma mensagem eletrônica espécie. Ex.:
ao grupo ou acione o código na internet.
(B) Um geolocalizador também, avisará, os pais de onde o Álbum de fotografias Colmeia de abelhas
código foi acionado. de bispos em
Alcateia de lobos Concílio
assembleia
(C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados,
de textos
recebem automaticamente, uma mensagem dizendo que a Antologia
escolhidos
Conclave de cardeais
criança foi encontrada. Arquipélago ilhas Cordilheira de montanhas
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APOSTILAS OPÇÃO
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APOSTILAS OPÇÃO
Somente o primeiro elemento vai para o plural: um significado novo: portão, cartão, fogão, cartilha, folhinha
(calendário).
- substantivo + preposição + substantivo: água de colônia - As palavras proparoxítonas e as palavras terminadas em
= águas-de-colônia / mula-sem-cabeça = mulas-sem-cabeça / sílabas nasal, ditongo, hiato ou vogal tônica recebem o sufixo
pão-de-ló = pães-de-ló / sinal-da-cruz = sinais-da-cruz. zinho(a): lâmpada (proparoxítona) = lampadazinha; irmão
- quando o segundo elemento limita o primeiro ou dá (sílaba nasal) = irmãozinho; herói (ditongo) = heroizinho; baú
ideia de tipo, finalidade: samba-enredo = sambas-enredo / (hiato) = bauzinho; café (voga tônica) = cafezinho.
pombo-correio = pombos-correio / salário-família = salários- - As palavras terminadas em s ou z, ou em uma dessas
família / banana-maçã = bananas-maçã / vale-refeição = vales- consoantes seguidas de vogal recebem o sufixo inho: país =
refeição (vale = ter valor de, substantivo+especificador) paisinho; rapaz = rapazinho; rosa = rosinha; beleza =
belezinha.
Os dois elementos ficam invariáveis quando houver: - Há ainda aumentativos e diminutivos formados por
prefixação: minissaia, maxissaia, supermercado,
- verbo + advérbio: o ganha-pouco = os ganha-pouco / o minicalculadora.
cola-tudo = os cola-tudo / o bota-fora = os bota-fora
- os compostos de verbos de sentido oposto: o entra-e-sai Questões
= os entra-e-sai / o leva-e-traz = os leva-e-traz / o vai-e-volta
= os vai-e-volta. 01. Assinale o par de vocábulos que fazem o plural da
mesma forma que “balão” e “caneta-tinteiro”:
Os dois elementos, vão para o plural: (A) vulcão, abaixo-assinado;
(B) irmão, salário-família;
- substantivo + substantivo: decreto-lei = decretos-leis / (C) questão, manga-rosa;
abelha-mestra = abelhas-mestras / tia-avó = tias-avós / (D) bênção, papel-moeda;
tenente-coronel = tenentes-coronéis / redator-chefe = (E) razão, guarda-chuva.
redatores-chefes.
- substantivo + adjetivo: amor-perfeito = amores- 02. Assinale a alternativa em que está correta a formação
perfeitos / capitão-mor = capitães-mores / carro-forte = do plural:
carros-fortes / obra-prima = obras-primas / cachorro-quente (A) cadáver – cadáveis;
= cachorros-quentes. (B) gavião – gaviães;
- adjetivo + substantivo: boa-vida = boas-vidas / curta- (C) fuzil – fuzíveis;
metragem = curtas-metragens / má-língua = más-línguas / (D) mal – maus;
- numeral ordinal + substantivo: segunda-feira = (E) atlas – os atlas.
segundas-feiras / quinta-feira = quintas-feiras.
03. A palavra livro é um substantivo
Composto com a palavra guarda só vai para o plural se (A) próprio, concreto, primitivo e simples.
for pessoa: guarda-noturno = guardas-noturnos / guarda- (B) comum, abstrato, derivado e composto.
florestal = guardas-florestais / guarda-civil = guardas-civis / (C) comum, abstrato, primitivo e simples.
guarda-marinha = guardas-marinha. (D) comum, concreto, primitivo e simples.
Plural dos nomes próprios personalizados: os Almeidas 04. Assinale a alternativa em que todos os substantivos são
/ os Oliveiras / os Picassos / os Mozarts / os Kennedys / os masculinos:
Silvas. (A) enigma – idioma – cal;
(B) pianista – presidente – planta;
Plural das siglas, acrescenta-se um s minúsculo: CDs / (C) champanha – dó(pena) – telefonema;
DVDs / ONGs / PMs / Ufirs. (D) estudante – cal – alface;
(E) edema – diabete – alface.
Grau (aumentativo/diminutivo)
Os substantivos podem ser modificados a fim de exprimir 05. Sabendo-se que há substantivos que no masculino têm
intensidade, exagero ou diminuição. A essas modificações é um significado; e no feminino têm outro, diferente. Marque a
que damos o nome de grau do substantivo. Os graus alternativa em que há um substantivo que não corresponde ao
aumentativos e diminutivos são formados por dois processos: seu significado:
(A) O capital = dinheiro;
- Sintético: com o acréscimo de um sufixo aumentativo ou A capital = cidade principal;
diminutivo: peixe – peixão; peixe-peixinho; sufixo inho ou (B) O grama = unidade de medida;
isinho. A grama = vegetação rasteira;
(C) O rádio = aparelho transmissor;
- Analítico: formado com palavras de aumento: grande, A rádio = estação geradora;
enorme, imensa, gigantesca (obra imensa / lucro enorme / (D) O cabeça = o chefe;
carro grande / prédio gigantesco); e formado com as palavras A cabeça = parte do corpo;
de diminuição (diminuto, pequeno, minúscula, casa pequena, (E) A cura = o médico.
peça minúscula, saia diminuta). O cura = ato de curar.
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APOSTILAS OPÇÃO
estado, ou modo de ser: laranjeira florida; céu azul; mau tempo. - as locuções adjetivas formadas de cor + de + substantivo,
Os adjetivos classificam-se em: ficam invariáveis: papel cor-de-rosa = papéis cor-de-rosa /
- simples: apresentam um único radical, uma única palavra olho cor-de-mel = olhos cor-de-mel.
em sua estrutura: alegre, medroso, simpático. - são invariáveis os adjetivos raios ultravioleta / alegrias
- compostos: apresentam mais de um radical, mais de duas sem-par, piadas sem-sal.
palavras em sua estrutura: estrelas azul-claras; sapatos
marrom-escuros. Grau
- primitivos: são os que vieram primeiro; dão origem a
outras palavras: atual, livre, triste, amarelo, brando. O grau do adjetivo exprime a intensidade das qualidades
- derivados: são aqueles formados por derivação, vieram dos seres. O adjetivo apresenta duas variações de grau:
depois dos primitivos: amarelado, ilegal, infeliz, comparativo e superlativo.
desconfortável.
- pátrios: indicam procedência ou nacionalidade, referem- O grau comparativo é usado para comparar uma
se a cidades, estados, países. Amapá: amapaense; Amazonas: qualidade entre dois ou mais seres, ou duas ou mais
amazonense ou baré; Anápolis: anapolino; Angra dos Reis: qualidades de um mesmo ser. Pode ser de igualdade, de
angrense; Aracajú: aracajuano ou aracajuense; Bahia: baiano. superioridade e de inferioridade:
- de igualdade: iguala duas coisas ou duas pessoas: Sou
Pode-se utilizar os adjetivos pátrios compostos, como: tão alto quão / quanto / como você. (As duas pessoas têm a
afro-brasileiro; Anglo-americano, franco-italiano, sino- mesma altura)
japonês (China e Japão); Américo-francês; luso-brasileira;
nipo-argentina (Japão e Argentina); teuto-argentinos - de superioridade: iguala duas pessoas / coisas sendo que
(alemão). uma é mais do que a outra: Minha amiga Manu é mais
elegante do que / que eu. (Das duas, a Manu é mais) Podem
Locução Adjetiva: é a expressão que tem o mesmo valor ser:
de um adjetivo. É formada por preposição + um substantivo. Analítico: mais bom / mais mau / mais grande / mais
Vejamos algumas locuções adjetivas: pequeno: O salário é mais pequeno do que / que justo (salário
pequeno e justo). Quando comparamos duas qualidades de um
Angelical de anjo Etário de idade mesmo ser, podemos usar as formas: mais grande, mais mau,
Abdominal de abdômen Fabril de fábrica mais bom, mais pequeno.
Apícola de abelha Filatélico de selos Sintético: bom, melhor / mau, pior / grande, maior /
Aquilino de águia Urbano da cidade pequeno, menor: Esta sala é melhor do que / que aquela.
- uniformes: têm forma única para o masculino e o - Absoluto: atribuída a um só ser; de forma absoluta. Pode
feminino. Funcionário incompetente = funcionária ser:
incompetente. Analítico: advérbio de intensidade muito, intensamente,
- biformes: troca-se a vogal “o” pela vogal “a” ou com o bastante, extremamente, excepcionalmente + adjetivo (Nicola é
acréscimo da vogal “a” no final da palavra: ator famoso = atriz extremamente simpático).
famosa / jogador brasileiro = jogadora brasileira. Sintético: adjetivo + issimo, imo, ílimo, érrimo (Minha
comadre Mariinha é agradabilíssima).
Os adjetivos compostos recebem a flexão feminina apenas
no segundo elemento: sociedade luso-brasileira / festa cívico- - o sufixo -érrimo é restrito aos adjetivos latinos
religiosa / são – sã. terminados em r; pauper (pobre) = paupérrimo; macer
Às vezes, os adjetivos são empregados como substantivos (magro) = macérrimo;
ou como advérbios: Agia como um ingênuo. (adjetivo como - forma popular: radical do adjetivo português + íssimo
substantivo: acompanha um artigo). A cerveja que desce (pobríssimo);
redondo. (adjetivo como advérbio: redondamente). - adjetivos terminados em vel + bilíssimo: amável =
amabilíssimo;
Número - adjetivos terminados em eio formam o superlativo
apenas com i: feio = feíssimo / cheio = cheíssimo.
O plural dos adjetivos simples flexiona de acordo com o - os adjetivos terminados em io forma o superlativo em
substantivo a que se referem: menino chorão = meninos iíssimo: sério = seriíssimo / necessário = necessariíssimo /
chorões / garota sensível = garotas sensíveis. frio = friíssimo.
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APOSTILAS OPÇÃO
- Relativo: ressalta a qualidade de um ser entre muitos, 04. (Banestes - Analista Econômico Financeiro - Gestão
com a mesma qualidade. Pode ser: Contábil - FGV/2018) Na escrita, pode-se optar
De Superioridade: Wilma é a mais prendada de todas as frequentemente entre uma construção de substantivo +
suas amigas. (Ela é a mais de todas) locução adjetiva ou substantivo + adjetivo (esportes da água =
De Inferioridade: Paulo César é o menos tímido dos filhos. esportes aquáticos).
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APOSTILAS OPÇÃO
SEMESTRE: período de seis meses (portaria oitava); emprega-se o numeral cardinal, a partir de
TRIÊNIO: período de três anos dez: O artigo 16 não foi justificado. (artigo dezesseis)
TRINCA: conjunto de três coisas - enumeração de casa, páginas, folhas, textos,
apartamentos, quartos, poltronas, emprega-se o numeral
Algarismos cardinal: Reservei a poltrona vinte e oito. / O texto quatro está
Arábicos e Romanos, respectivamente: 1-I, 2-II, 3-III, 4-IV, na página sessenta e cinco.
5-V, 6-VI, 7-VII, 8-VIII, 9-IX, 10-X, 11-XI, 12-XII, 13-XIII, 14-XIV, - se o numeral vier antes do substantivo, emprega-se o
15-XV, 16-XVI, 17-XVII, 18-XVIII, 19-XIX, 20-XX, 30-XXX, 40- ordinal. Paulo César é adepto da 7ª Arte. (sétima)
XL, 50-L, 60-LX, 70-LXX, 80-LXXX, 90-XC, 100-C, 200-CC, 300- - não se usa o numeral um antes de mil: Mil e duzentos
CCC, 400-CD, 500-D, 600-DC, 700-DCC, 800-DCCC, 900-CM, reais é muito para mim.
1.000-M. - o artigo e o numeral, antes dos substantivos milhão,
milhar e bilhão, devem concordar no masculino:
Flexão dos Numerais - emprega-se, na escrita das horas, o símbolo de cada
Gênero unidade após o numeral que a indica, sem espaço ou ponto:
- os numerais cardinais um, dois e as centenas a partir de 10h20min – dez horas, vinte minutos.
duzentos apresentam flexão de gênero: Um menino e uma
menina foram os vencedores. / Comprei duzentos gramas de Questões
presunto e duzentas rosquinhas.
- os numerais ordinais variam em gênero: Marcela foi a 01. Marque o emprego incorreto do numeral:
nona colocada no vestibular. (A) século III (três)
- os numerais multiplicativos, quando usados com o valor (B) página 102 (cento e dois)
de substantivos, são Invariáveis: A minha nota é o triplo da sua. (C) 80º (octogésimo)
(Triplo – valor de substantivo) (D) capítulo XI (onze)
- quando usados com valor de adjetivo, apresentam flexão (E) X tomo (décimo)
de gênero: Eu fiz duas apostas triplas na loto fácil. (Triplas
valor de adjetivo) 02. Indique o item em que os numerais estão corretamente
- os numerais fracionários concordam com os cardinais empregados:
que indicam o número das partes: Dois terços dos alunos foram (A) Ao Papa Paulo seis sucedeu João Paulo primeiro.
contemplados. (B) após o parágrafo nono, virá o parágrafo dez.
- o fracionário meio concorda em gênero e número com o (C) depois do capítulo sexto, li o capítulo décimo primeiro.
substantivo no qual se refere: O início do concurso será meio- (D) antes do artigo décimo vem o artigo nono.
dia e meia. (Hora) / Usou apenas meias palavras. (E) o artigo vigésimo segundo foi revogado.
Língua Portuguesa 11
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APOSTILAS OPÇÃO
(A) octogenário quinquagésimo aniversário. me, te, lhe, nos, vos: quando colocado com verbos
(B) octogésimo quinto aniversário. transitivos diretos (TD), têm sentido possessivo, equivalendo
(C) octingentésimo quinto aniversário. a meu, teu, seu, dele, nosso, vosso: Os anos roubaram-lhe a
(D) otogésimo quinto aniversário. esperança. (sua, dele, dela possessivo)
(E) oitavo quinto aniversário.
Os pronomes pessoais oblíquos nos, vos, e se recebem o
Gabarito nome de pronomes recíprocos quando expressam uma ação
mútua ou recíproca: Nós nos encontramos emocionados.
01.A / 02.B / 03.A / 04.C / 05.B (pronome recíproco, nós mesmos). Nunca diga: Eu se apavorei.
/ Eu jà se arrumei; Eu me apavorei. / Eu me arrumei. (certos)
Pronome - Os pronomes pessoais retos eu e tu serão substituidos
por mim e ti após preposição: O segredo ficará somente entre
É a palavra que acompanha ou substitui o nome, mim e ti.
relacionando-o a uma das três pessoas do discurso. As três - É obrigatório o emprego dos pronomes pessoais eu e tu,
pessoas do discurso são: quando funcionarem como sujeito: Todos pediram para eu
1ª pessoa: eu (singular) nós (plural): aquela que fala ou relatar os fatos cuidadosamente. (pronome reto + verbo no
emissor; infinitivo). Lembre-se de que mim não fala, não escreve, não
2ª pessoa: tu (singular) vós (plural): aquela com quem se compra, não anda.
fala ou receptor; - As formas oblíquas o, a, os, as são sempre empregadas
3ª pessoa: ele, ela (singular) eles, elas (plural): aquela de como complemento de verbos transitivos diretos ao passo
quem se fala ou referente. que as formas lhe, lhes são empregadas como complementos
de verbos transitivos indiretos: Dona Cecília, querida amiga,
Os pronomes são classificados em: pessoais, de tratamento, chamou-a. (verbo transitivo direto, VTD); Minha saudosa
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e comadre, Nircléia, obedeceu-lhe. (verbo transitivo
relativos. indireto,VTI)
Língua Portuguesa 12
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APOSTILAS OPÇÃO
Nas comunicações oficiais devem ser utilizados somente esse, essa, esses, essas
dois fechos: Ex.:
Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusive Não gostei desse livro que está em tuas mãos.
para o presidente da República. Nesse último ano, realizei bons negócios.
Gostava de química. Essa afirmação me deixou surpresa.
Atenciosamente: para autoridades de mesma hierarquia
aquele, aquela, aquilo, aqueles, aquelas
ou de hierarquia inferior.
Ex.:
- A forma Vossa (Senhoria, Excelência) é empregada Não gostei daquele livro que a Roberta trouxe.
quando se fala com a própria pessoa: Vossa Senhoria não Tenho boas recordações de 1960, pois naquele ano realizei
compareceu à reunião dos sem-terra? (falando com a pessoa) bons negócios.
- A forma Sua (Senhoria, Excelência ) é empregada quando O homem e a mulher são massacrados pela cultura atual,
se fala sobre a pessoa: Sua Eminência, o cardeal, viajou para mas esta é mais oprimida que aquele.
um congresso. (falando a respeito do cardeal)
- Os pronomes de tratamento com a forma Vossa (Senhoria, - para retomar elementos já enunciados, usamos aquele (e
Excelência, Eminência, Majestade), embora indiquem a 2ª variações) para o elemento que foi referido em 1º Iugar e este
pessoa (com quem se fala), exigem que outros pronomes e o (e variações) para o que foi referido em último lugar. Ex.: Pais
verbo sejam usados na 3ª pessoa. Vossa Excelência sabe que e mães vieram à festa de encerramento; aqueles, sérios e
seus ministros o apoiarão. orgulhosos, estas, elegantes e risonhas.
- dependendo do contexto os demonstrativos também
Pronomes Possessivos servem como palavras de função intensificadora ou
São os pronomes que indicam posse em relação às pessoas depreciativa. Ex.: Júlia fez o exercício com aquela calma!
da fala. (=expressão intensificadora). Não se preocupe; aquilo é uma
Masculino Feminino tranqueira! (=expressão depreciativa)
Singular Plural Singular Plural - as formas nisso e nisto podem ser usadas com valor de
meu meus minha minhas então ou nesse momento. Ex.: A festa estava desanimada; nisso,
teu teus tua tuas a orquestra tocou um samba e todos caíram na dança.
seu seus sua suas - os demonstrativos esse, essa, são usados para destacar um
nosso nossos nossa nossas elemento anteriormente expresso. Ex.: Ninguém ligou para o
vosso vossos vossa vossas incidente, mas os pais, esses resolveram tirar tudo a limpo.
seu seus sua suas
Pronomes Indefinidos
Emprego dos Pronomes Possessivos São aqueles que se referem à 3ª pessoa do discurso de
modo vago indefinido, impreciso: Alguém disse que Paulo
- O uso do pronome possessivo da 3ª pessoa pode César seria o vencedor. Alguns desses pronomes são variáveis
provocar, às vezes, a ambiguidade da frase. Ex.: João Luís disse em gênero e número; outros são invariáveis.
que Laurinha estava trabalhando em seu consultório. O
pronome seu toma o sentido ambíguo, pois pode referir-se Variáveis: algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco,
tanto ao consultório de João Luís como ao de Laurinha. No certo, vários, tanto, quanto, um, bastante, qualquer.
caso, usa-se o pronome dele, dela para desfazer a ambiguidade.
- Os possessivos, às vezes, podem indicar aproximações
Invariáveis: alguém, ninguém, tudo, outrem, algo, quem,
numéricas e não posse: Cláudia e Haroldo devem ter seus
trinta anos. nada, cada, mais, menos, demais.
- Na linguagem popular, o tratamento seu como em: Seu
Ricardo, pode entrar!, não tem valor possessivo, pois é uma Emprego dos Pronomes Indefinidos
alteração fonética da palavra senhor.
- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo - O indefinido cada deve sempre vir acompanhado de um
concorda com o mais próximo. Ex.: Trouxe-me seus livros e substantivo ou numeral, nunca sozinho: Ganharam cem
anotações. dólares cada um. (inadequado: Ganharam cem dólares cada.)
- Usam-se elegantemente certos pronomes oblíquos: me, - Certo, certa, certos, certas, vários, várias, são indefinidos
te, lhe, nos, vos, com o valor de possessivos. Vou seguir-lhe os quando colocados antes dos substantivos, e adjetivos quando
passos. (os seus passos) colocados depois do substantivo: Certo dia perdi o controle da
- Deve-se observar as correlações entre os pronomes situação. (antes do substantivo= indefinido); Eles voltarão no
pessoais e possessivos. “Sendo hoje o dia do teu aniversário, dia certo. (depois do substantivo=adjetivo).
apresso-me em apresentar-te os meus sinceros parabéns; - Todo, toda (somente no singular) sem artigo, equivale a
Peço a Deus pela tua felicidade; Abraça-te o teu amigo que te qualquer: Todo ser nasce chorando. (=qualquer ser;
preza.” indetermina, generaliza).
- Não se emprega o pronome possessivo (seu, sua) quando - Outrem significa outra pessoa. Ex.: Nunca se sabe o
se trata de parte do corpo. Ex.: Um cavaleiro todo vestido de pensamento de outrem.
negro, com um falcão em seu ombro esquerdo e uma espada - Qualquer, plural quaisquer. Ex.: Fazemos quaisquer
em sua, mão. (usa-se: no ombro; na mão) negócios.
Língua Portuguesa 13
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APOSTILAS OPÇÃO
pronome relativo que, substitui na 2ª oração, o carro, por isso Em "Mas ele não tinha muitas chances", as palavras
a palavra que é um pronome relativo. Dica: substituir que por classificam-se, morfologicamente, na ordem em que aparecem,
o, a, os, as, qual / quais. como
Os pronomes relativos estão divididos em variáveis e (A) preposição, pronome, advérbio, ação, nome e adjetivo.
invariáveis. (B) conjunção, pronome, advérbio, verbo, pronome e
Variáveis: o qual, os quais, a qual, as quais, cujo, cujos, cuja, substantivo.
cujas, quanto, quantos; (C) interjeição, pronome, nome, verbo, artigo e adjetivo.
Invariáveis: que, quem, quando, como, onde. (D) conector, nome, adjetivo, verbo, pronome e nome.
(E) conjunção, substantivo, advérbio, verbo, advérbio e
Emprego dos Pronomes Relativos adjetivo.
- O relativo que, por ser o mais usado, é chamado de
relativo universal. Ele pode ser empregado com referência à 02. (IF/PA - Auxiliar em Administração -
pessoa ou coisa, no plural ou no singular. Ex.: Este é o CD novo FUNRIO/2016) O emprego do pronome relativo está de
que acabei de comprar; João Adolfo é o cara que pedi a Deus. acordo com as normas da língua-padrão em:
- O relativo que pode ter por seu antecedente o pronome (A) Finalmente aprovaram o decreto que lutamos tanto
demonstrativo o, a, os, as. Ex.: Não entendi o que você quis por ele.
dizer. (o que = aquilo que). (B) Nas próximas férias, minha meta é fazer tudo que tenho
- O relativo quem refere se a pessoa e vem sempre direito.
precedido de preposição. Ex.: Marco Aurélio é o advogado a (C) Eu aprovaria o texto daquele parecer que o relator
quem eu me referi. apresentou ontem.
- O relativo cujo e suas flexões equivalem a de que, do qual, (D) Existe um escritor brasileiro que todos os brasileiros
de quem e estabelecem relação de posse entre o antecedente e nos orgulhamos.
o termo seguinte. (cujo, vem sempre entre dois substantivos) (E) Na política, às vezes acontecem traições onde mostram
- O pronome relativo pode vir sem antecedente claro, muita sordidez.
explícito; é classificado, portanto, como relativo indefinido, e
não vem precedido de preposição. Ex.: Quem casa quer casa; 03. (Eletrobras/Eletrosul - Técnico de Segurança do
Feliz o homem cujo objetivo é a honestidade; Estas são as Trabalho - FCC/2016)
pessoas de cujos nomes nunca vou me esquecer.
- Só se usa o relativo cujo quando o consequente é Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com tudo movido a
diferente do antecedente. Ex.: O escritor cujo livro te falei é energia solar
paulista.
- O pronome cujo não admite artigo nem antes nem depois Bem no meio do deserto, há um lugar onde o calor é extremo.
de si. Sessenta e três graus ou até mais no verão. E foi exatamente por
- O relativo onde é usado para indicar lugar e equivale a: causa da temperatura que foi construída em Abu Dhabi uma das
em que, no qual. Ex.: Desconheço o lugar onde vende tudo maiores usinas de energia solar do mundo.
mais barato. (= lugar em que) Os Emirados Árabes estão investindo em fontes energéticas
- Quanto, quantos e quantas são relativos quando usados renováveis. Não vão substituir o petróleo, que eles têm de sobra
depois de tudo, todos, tanto. Ex.: Naquele momento, a querida por mais 100 anos pelo menos. O que pretendem é diversificar e
comadre Naldete, falou tudo quanto sabia. poluir menos. Uma aposta no futuro.
A preocupação com o planeta levou Abu Dhabi a tirar do
Pronomes Interrogativos papel a cidade sustentável de Masdar. Dez por cento do
São os pronomes em frases interrogativas diretas ou planejado está pronto. Um traçado urbanístico ousado, que
indiretas. Os principais interrogativos são: que, quem, qual, deixa os carros de fora. Lá só se anda a pé ou de bicicleta. As ruas
quanto: são bem estreitas para que um prédio faça sombra no outro. É
- Afinal, quem foram os prefeitos desta cidade? perfeito para o deserto. Os revestimentos das paredes isolam o
(interrogativa direta, COM o ponto de interrogação) calor. E a direção dos ventos foi estudada para criar corredores
- Gostaria de saber quem foram os prefeitos desta cidade. de brisa.
(interrogativa indireta, SEM a interrogação) (Adaptado de: “Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com tudo movido a
energia solar”. Disponível
em:http://g1.globo.com/globoreporter/noticia/2016/04/abu-dhabi-constroi-
Questões cidade-do-futuro-com-tudo-movido-energia-solar.html)
01. (CRP 2º Região/PE - Psicólogo Orientador - Fiscal - Considere as seguintes passagens do texto:
Quadrix/2018) I. E foi exatamente por causa da temperatura que foi
construída em Abu Dhabi uma das maiores usinas de energia
solar do mundo. (1º parágrafo)
II. Não vão substituir o petróleo, que eles têm de sobra por
mais 100 anos pelo menos. (2º parágrafo)
III. Um traçado urbanístico ousado, que deixa os carros de
fora. (3º parágrafo)
IV. As ruas são bem estreitas para que um prédio faça
sombra no outro. (3º parágrafo)
Língua Portuguesa 14
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APOSTILAS OPÇÃO
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ocorre com frequência. Ex.: Eu almoço todos os dias na casa de - Futuro: é empregado para indicar um fato hipotético,
minha mãe. Na indicação de ações ou estados permanentes, pode ou não acontecer. Quando você fizer o trabalho, será
verdades universais. Ex.: A água é incolor, inodora, insípida. generosamente gratificado.
- Pretérito Imperfeito: para expressar um fato passado,
não concluído. Ex.: Nós comíamos pastel na feira; Eu cantava 1ª Conjugação –AR
muito bem. Presente: que eu dance, que tu dances, que ele dance, que
- Pretérito Perfeito: é usado na indicação de um fato nós dancemos, que vós danceis, que eles dancem.
passado concluído. Ex.: Cantei, dancei, pulei, chorei, dormi... Pretérito Imperfeito: se eu dançasse, se tu dançasses, se
- Pretérito Mais-Que-Perfeito: expressa um fato passado ele dançasse, se nós dançássemos, se vós dançásseis, se eles
anterior a outro acontecimento passado. Ex.: Nós cantáramos dançassem.
no congresso de música. Futuro: quando eu dançar, quando tu dançares, quando ele
- Futuro do Presente: na indicação de um fato realizado dançar, quando nós dançarmos, quando vós dançardes,
num instante posterior ao que se fala. Ex.: Cantarei domingo quando eles dançarem.
no coro da igreja matriz.
- Futuro do Pretérito: para expressar um acontecimento 2ª Conjugação -ER
posterior a um outro acontecimento passado. Ex.: Compraria Presente: que eu coma, que tu comas, que ele coma, que
um carro se tivesse dinheiro nós comamos, que vós comais, que eles comam.
Pretérito Imperfeito: se eu comesse, se tu comesses, se ele
1ª Conjugação: -AR comesse, se nós comêssemos, se vós comêsseis, se eles
Presente: danço, danças, dança, dançamos, dançais, comessem.
dançam. Futuro: quando eu comer, quando tu comeres, quando ele
Pretérito Perfeito: dancei, dançaste, dançou, dançamos, comer, quando nós comermos, quando vós comerdes,
dançastes, dançaram. quando eles comerem.
Pretérito Imperfeito: dançava, dançavas, dançava,
dançávamos, dançáveis, dançavam. 3ª conjugação – IR
Pretérito Mais-Que-Perfeito: dançara, dançaras, dançara, Presente: que eu parta, que tu partas, que ele parta, que
dançáramos, dançáreis, dançaram. nós partamos, que vós partais, que eles partam.
Futuro do Presente: dançarei, dançarás, dançará, Pretérito Imperfeito: se eu partisse, se tu partisses, se ele
dançaremos, dançareis, dançarão. partisse, se nós partíssemos, se vós partísseis, se eles
Futuro do Pretérito: dançaria, dançarias, dançaria, partissem.
dançaríamos, dançaríeis, dançariam. Futuro: quando eu partir, quando tu partires, quando ele
partir, quando nós partirmos, quando vós partirdes,
2ª Conjugação: -ER quando eles partirem.
Presente: como, comes, come, comemos, comeis, comem.
Pretérito Perfeito: comi, comeste, comeu, comemos, Emprego do Imperativo
comestes, comeram. Imperativo Afirmativo
Pretérito Imperfeito: comia, comias, comia, comíamos, - Não apresenta a primeira pessoa do singular.
comíeis, comiam. - É formado pelo presente do indicativo e pelo presente do
Pretérito Mais-Que-Perfeito: comera, comeras, comera, subjuntivo.
comêramos, comêreis, comeram. - O Tu e o Vós saem do presente do indicativo sem o “s”.
Futuro do Presente: comerei, comerás, comerá, - O restante é cópia fiel do presente do subjuntivo.
comeremos, comereis, comerão.
Futuro do Pretérito: comeria, comerias, comeria, Presente do Indicativo: eu amo, tu amas, ele ama, nós
comeríamos, comeríeis, comeriam. amamos, vós amais, eles amam.
Presente do subjuntivo: que eu ame, que tu ames, que ele
3ª Conjugação: -IR ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem.
Presente: parto, partes, parte, partimos, partis, partem. Imperativo afirmativo: (X), ama tu, ame você, amemos
Pretérito Perfeito: parti, partiste, partiu, partimos, nós, amai vós, amem vocês.
partistes, partiram.
Pretérito Imperfeito: partia, partias, partia, partíamos, Imperativo Negativo
partíeis, partiam. - É formado através do presente do subjuntivo sem a
Pretérito Mais-Que-Perfeito: partira, partiras, partira, primeira pessoa do singular.
partíramos, partíreis, partiram. - Não retira os “s” do tu e do vós.
Futuro do Presente: partirei, partirás, partirá, partiremos,
partireis, partirão. Presente do Subjuntivo: que eu ame, que tu ames, que ele
Futuro do Pretérito: partiria, partirias, partiria, ame, que nós amemos, que vós ameis, que eles amem.
partiríamos, partiríeis, partiriam. Imperativo negativo: (X), não ames tu, não ame você, não
amemos nós, não ameis vós, não amem vocês.
Emprego dos Tempos do Subjuntivo
Além dos três modos citados (Indicativo, Subjuntivo e
- Presente: é empregado para indicar um fato incerto ou
Imperativo), os verbos apresentam ainda as formas nominais:
duvidoso, muitas vezes ligados ao desejo, à suposição. Ex.:
infinitivo – impessoal e pessoal, gerúndio e particípio.
Duvido de que apurem os fatos; Que surjam novos e honestos
políticos.
- Pretérito Imperfeito: é empregado para indicar uma Infinitivo Impessoal4
condição ou hipótese. Ex.: Se recebesse o prêmio, voltaria à Quando se diz que um verbo está no infinitivo impessoal,
universidade. isso significa que ele apresenta sentido genérico ou indefinido,
não relacionado a nenhuma pessoa, e sua forma é invariável.
4 https://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf69.php
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Assim, considera-se apenas o processo verbal. Ex.: Amar é assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-
sofrer. se da seguinte maneira:
Podendo ter valor e função de substantivo. Ex.: Viver é 2ª pessoa do singular: radical + ES. Ex.: teres (tu)
lutar. (= vida é luta); É indispensável combater a corrupção. (= 1ª pessoa do plural: radical + mos. Ex.: termos (nós)
combate à) 2ª pessoa do plural: radical + dês. Ex.: terdes (vós)
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente 3ª pessoa do plural: radical + em. Ex.: terem (eles)
(forma simples) ou no passado (forma composta). Ex.: É
preciso ler este livro; Era preciso ter lido este livro. Por exemplo: Foste elogiado por teres alcançado uma boa
Observe que, embora não haja desinências para a 1ª e 3ª colocação.
pessoas do singular (cujas formas são iguais às do infinitivo
impessoal), elas não deixam de referir-se às respectivas Quando se diz que um verbo está no infinitivo pessoal, isso
pessoas do discurso (o que será esclarecido apenas pelo significa que ele atribui um agente ao processo verbal,
contexto da frase). Ex.: Para ler melhor, eu uso estes óculos. flexionando-se.
(1ª pessoa); Para ler melhor, ela usa estes óculos. (3ª pessoa) O infinitivo deve ser flexionado nos seguintes casos:
No entanto, na voz passiva dos verbos "contentar", - Quando se quiser indeterminar o sujeito (utilizado na
"tomar" e "ouvir", por exemplo, o Infinitivo (verbo auxiliar) terceira pessoa do plural). Exs.:
deve ser flexionado. Exs.: Faço isso para não me acharem inútil.
Eram pessoas difíceis de serem contentadas. Temos de agir assim para nos promoverem.
Aqueles remédios são ruins de serem tomados. Ela não sai sozinha à noite a fim de não falarem mal da sua
Os jogos que você me emprestou são agradáveis de serem conduta.
jogados.
- Quando apresentar reciprocidade ou reflexibilidade
- Nas locuções verbais. Ex.: Queremos acordar bem cedo de ação. Exs.:
amanhã. Eles não podiam reclamar do colégio. Vamos pensar Vi os alunos abraçarem-se alegremente.
no seu caso. Fizemos os adversários cumprimentarem-se com
- Quando o sujeito do infinitivo é o mesmo do verbo da gentileza.
oração anterior. Ex. Eles foram condenados a pagar pesadas Mandei as meninas olharem-se no espelho.
multas. Devemos sorrir ao invés de chorar. Tenho ainda alguns
livros por (para) publicar. Gerúndio
Pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Ex.: Saindo de
Observação: quando o infinitivo preposicionado, ou não, casa, encontrei alguns amigos. (Função de advérbio); Nas ruas,
preceder ou estiver distante do verbo da oração principal havia crianças vendendo doces. (Função adjetivo)
(verbo regente), pode ser flexionado para melhor clareza do Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso;
período e também para se enfatizar o sujeito (agente) da ação na forma composta, uma ação concluída. Ex.: Trabalhando,
verbal. Exs.: aprenderás o valor do dinheiro; Tendo trabalhado, aprendeu o
Na esperança de sermos atendidos, muito lhe valor do dinheiro.
agradecemos.
Foram dois amigos à casa de outro, a fim de jogarem Particípio
futebol. Quando não é empregado na formação dos tempos
Para estudarmos, estaremos sempre dispostos. compostos, o particípio indica geralmente o resultado de uma
Antes de nascerem, já estão condenadas à fome muitas ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Ex.:
crianças. Terminados os exames, os candidatos saíram. Quando o
particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação
- Com os verbos causativos "deixar", "mandar" e temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo
"fazer" e seus sinônimos que não formam locução verbal (adjetivo verbal). Ex.: Ela foi a aluna escolhida para
com o infinitivo que os segue. Ex.: Deixei-os sair cedo hoje. representar a escola.
- Com os verbos sensitivos "ver", "ouvir", "sentir" e
sinônimos, deve-se também deixar o infinitivo sem flexão. 1ª Conjugação –AR
Ex.: Vi-os entrar atrasados. Ouvi-as dizer que não iriam à Infinitivo Impessoal: dançar.
festa. Infinitivo Pessoal: dançar eu, dançares tu; dançar ele,
dançarmos nós, dançardes vós, dançarem eles.
Infinitivo Pessoal Gerúndio: dançando.
É o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na Particípio: dançado.
1ª e 3ª pessoas do singular, não apresenta desinências,
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2ª Conjugação –ER que, diante dos apuros, como a perda do emprego, algumas
Infinitivo Impessoal: comer. tentem manter o mesmo padrão de vida em lugar de cortar
Infinitivo pessoal: comer eu, comeres tu, comer ele, gastos para se encaixar na nova realidade. Pedir um
comermos nós, comerdes vós, comerem eles. empréstimo para quitar outra dívida é um comportamento
Gerúndio: comendo. recorrente entre os endividados.
Particípio: comido. Para sair do vermelho, aceitar o vício é o primeiro passo.
Uma vez que o devedor reconhece o problema, a próxima
3ª Conjugação –IR etapa é se planejar.
(Felipe Machado e Tatiana Babadobulos, Veja, 04.04.2018. Adaptado)
Infinitivo Impessoal: partir.
Infinitivo pessoal: partir eu, partires tu, partir ele, Assinale a alternativa em que os verbos estão conjugados
partirmos nós, partirdes vós, partirem eles. de acordo com a norma-padrão, em substituição aos trechos
Gerúndio: partindo. destacados na passagem – É comum que, diante dos apuros,
Particípio: partido. como a perda do emprego, algumas tentem manter o mesmo
padrão de vida.
Questões (A) Poderia acontecer que ... mantêm
(B) Pôde acontecer que ... mantessem
01. (UNEMAT - Psicólogo - 2018) (C) Podia acontecer que ... mantivessem
(D) Pôde acontecer que ... manteram
(E) Podia acontecer que ... mantiveram
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(D) Quem vier a comparar a fala dos jovens de hoje com os sintético: agorinha, cedinho, pertinho, devagarinho,
da geração passada, haveria de concluir que os jovens de hoje depressinha, rapidinho (bem rápido). Exs.: Rapidinho chegou
leem muito menos. a casa; Moro pertinho da universidade.
(E) O contato visual também é importante ao falar em - Frequentemente empregamos adjetivos com valor de
público. Passa empatia e envolveria o outro. advérbio: A cerveja que desce redondo. (redondamente)
- Bastante - antes de adjetivo, é advérbio, portanto, não vai
Gabarito para o plural; equivale a muito / a: Aquelas jovens são bastante
simpáticas e gentis.
01.D / 02.C / 03.A / 04.E / 05.B - Bastante - antes de substantivo, é adjetivo, portanto vai
para o plural, equivale a muitos / as: Contei bastantes estrelas
Advérbio no céu.
- Não confunda mal (advérbio, oposto de bem) com mau
É a palavra invariável que modifica um verbo (Chegou (adjetivo, oposto de bom): Mal cheguei a casa, encontrei-a de
cedo), um outro advérbio (Falou muito bem), um adjetivo mau humor.
(Estava muito bonita). - Antes de verbo no particípio, diz-se mais bem, mais mal:
Ficamos mais bem informados depois do noticiário notumo.
De acordo com a circunstância que exprime, o advérbio - Em frase negativa o advérbio já equivale a mais: Já não se
pode ser de: fazem professores como antigamente. (=não se fazem mais)
Tempo: ainda, agora, antigamente, antes, amiúde - Na locução adverbial a olhos vistos (=claramente), o
(=sempre), amanhã, breve, brevemente, cedo, diariamente, particípio permanece no masculino plural: Minha irmã Zuleide
depois, depressa, hoje, imediatamente, já, lentamente, logo, emagrecia a olhos vistos.
novamente, outrora. - Dois ou mais advérbios terminados em mente, apenas no
Lugar: aqui, acolá, atrás, acima, adiante, ali, abaixo, além, último permanece mente: Educada e pacientemente, falei a
algures (=em algum lugar), aquém, alhures (= em outro lugar), todos.
dentro, defronte, fora, longe, perto. - A repetição de um mesmo advérbio assume o valor
Modo: assim, bem, depressa, aliás (= de outro modo ), superlativo: Levantei cedo, cedo.
devagar, mal, melhor, pior, e a maior parte dos advérbios que
termina em mente: calmamente, suavemente, rapidamente, Palavras e Locuções Denotativas: São palavras
tristemente. semelhantes a advérbios e que não possuem classificação
Afirmação: certamente, decerto, deveras, efetivamente, especial. Não se enquadram em nenhuma das dez classes de
realmente, sim, seguramente. palavras. São chamadas de denotativas e exprimem:
Negação: absolutamente, de modo algum, de jeito Afetividade: felizmente, infelizmente, ainda bem. Ex.: Ainda
nenhum, nem, não, tampouco (=também não). bem que você veio.
Intensidade: apenas, assaz, bastante, bem, demais, mais, Designação, Indicação: eis. Ex.: Eis aqui o herói da turma.
meio, menos, muito, quase, quanto, tão, tanto, pouco. Exclusão: exclusive, menos, exceto, fora, salvo, senão,
Dúvida: acaso, eventuamente, por ventura, quiçá, sequer: Ex.: Não me disse sequer uma palavra de amor.
possivelmente, talvez. Inclusão: inclusive, também, mesmo, ainda, até, além disso,
de mais a mais. Ex.: Também há flores no céu.
Locuçoes Adverbiais: são duas ou mais palavras que têm Limitação: só, apenas, somente, unicamente. Ex.: Só Deus é
o valor de advérbio: às cegas, às claras, às toa, às pressas, às perfeito.
escondidas, à noite, à tarde, às vezes, ao acaso, de repente, de Realce: cá, lá, é que, sobretudo, mesmo. Ex.: Sei lá o que ele
chofre, de cor, de improviso, de propósito, de viva voz, de quis dizer!
medo, com certeza, por perto, por um triz, de vez em quando, Retificação: aliás, ou melhor, isto é, ou antes. Ex.: Irei à
sem dúvida, de forma alguma, em vão, por certo, à esquerda, à Bahia na próxima semana, ou melhor, no próximo mês.
direta, a pé, a esmo, por ali, a distância. Explicação: por exemplo, a saber. Ex.: Você, por exemplo,
- De repente o dia se fez noite. tem bom caráter.
- Por um triz eu não me denunciei.
- Sem dúvida você é o melhor. Questões
Graus dos Advérbios: o advérbio não vai para o plural, são 01. Assinale a frase em que meio funciona como advérbio:
palavras invariáveis, mas alguns admitem a flexão de grau: (A) Só quero meio quilo.
comparativo e superlativo. (B) Achei-o meio triste.
(C) Descobri o meio de acertar.
Comparativo de: (D) Parou no meio da rua.
Igualdade - tão + advérbio + quanto, como: Sou tão feliz (E) Comprou um metro e meio.
quanto / como você.
Superioridade - Analítico: mais do que. Ex.: Raquel é mais 02. Só não há advérbio em:
elegante do que eu. (A) Não o quero.
- Sintético: melhor, pior que. Ex.: (B) Ali está o material.
Amanhã será melhor do que hoje. (C) Tudo está correto.
Inferioridade - menos do que: Falei menos do que devia. (D) Talvez ele fale.
(E) Já cheguei.
Superlativo Absoluto:
Analítico - mais, muito, pouco,menos: O candidato 03. Qual das frases abaixo possui advérbio de modo?
defendeu-se muito mal. (A) Realmente ela errou.
Sintético - íssimo, érrimo: Localizei-o rapídíssimo. (B) Antigamente era mais pacato o mundo.
(C) Lá está teu primo.
Emprego do Advérbio (D) Ela fala bem.
- Na linguagem coloquial, familiar, é comum o emprego do (E) Estava bem cansado.
sufixo diminutivo dando aos advérbios o valor de superlativo
Língua Portuguesa 19
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04. Classifique a locução adverbial que aparece em Locuções Prepositivas: é o conjunto de duas ou mais
"Machucou-se com a lâmina". palavras que têm o valor de uma preposição. A última palavra
(A) modo é sempre uma preposição. Veja quais são: abaixo de, acerca de,
(B) instrumento acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, dentro de,
(C) causa embaixo de, em cima de, em frente a, em redor de, graças a,
(D) concessão junto a, junto de, perto de, por causa de, por cima de, por trás
(E) fim de, a fim de, além de, antes de, a par de, a partir de, apesar de,
através de, defronte de, em favor de, em lugar de, em vez de,
05. (PC/SP - Investigador de Polícia - VUNESP/2018) (=no lugar de), ao invés de (=ao contrário de), para com, até a.
Nos EUA, a psicanálise lembra um pouco certas seitas – as - Não confunda locução prepositiva com locução adverbial.
ideias do fundador são institucionalizadas e defendidas por Na locução adverbial, nunca há uma preposição no final, e sim
discípulos ferrenhos, mas suas instituições parecem não no começo: Vimos de perto o fenômeno do “tsunami”.
responder às necessidades atuais da sociedade. Talvez porque (locução adverbial); O acidente ocorreu perto de meu atelier.
o autor das ideias não esteja mais aqui para atualizá-las. (locução prepositiva)
Freud era um neurologista, e queria encontrar na Biologia - Uma preposição ou locução prepositiva pode vir com
as bases do comportamento. Como a tecnologia de então não outra preposição: Abola passou por entre as pernas do
lhe permitia avançar, passou a elaborar uma teoria, criando a goleiro. Mas é inadequado dizer: Proibido para menores de até
psicanálise. Cientista que era, contudo, nunca se apaixonou por 18 anos; Financiamento em até 24 meses.
suas ideias, revisando sua obra ao longo da vida. Ele chegou a
afirmar: “A Biologia é realmente um campo de possibilidades Combinações e Contrações
ilimitadas do qual podemos esperar as elucidações mais Combinação: ocorre quando não há perda de fonemas:
surpreendentes. Portanto, não podemos imaginar que a+o, os= ao, aos / a+onde = aonde.
respostas ela dará, em poucos decêndios, aos problemas que Contração: ocorre quando a preposição perde fonemas:
formulamos. Talvez essas respostas venham a ser tais que de+a, o, as, os, esta, este, isto = da, do, das, dos, desta, deste,
farão o edifício de nossas hipóteses colapsar”. Provavelmente, disto.
é sua frase menos citada. Por razões óbvias. - em+ um, uma, uns, umas, isto, isso, aquilo, aquele, aquela,
(Galileu, novembro de 2017. Adaptado) aqueles, aquelas = num, numa, nuns, numas, nisto, nisso,
naquilo, naquele, naquela, naqueles.
Nos trechos – … Talvez porque o autor das ideias não esteja - de+ entre, aquele, aquela, aquilo = dentre, daquele,
mais aqui… – ; – … nunca se apaixonou por suas ideias… – ; – A daquela, daquilo.
Biologia é realmente um campo de possibilidades ilimitadas… - para+ a = pra.
– e – Provavelmente, é sua frase menos citada. –, os advérbios A contração da preposição a com os artigos ou pronomes
destacados expressam, correta e respectivamente, demonstrativos a, as, aquele, aquela, aquilo recebe o nome de
circunstância de: crase e é assinalada na escrita pelo acento grave ficando assim:
(A) lugar; tempo; modo; afirmação. à, às, àquele, àquela, àquilo.
(B) lugar; tempo; afirmação; dúvida.
(C) lugar; negação; modo; intensidade. Valores das Preposições
(D) afirmação; negação; afirmação; afirmação.
(E) afirmação; negação; modo; dúvida. A
(movimento=direção): Foram a Lucélia comemorar os
Gabarito Anos Dourados.
Modo: Partiu às pressas.
01.B / 02.C / 03.D / 04.B / 05.B Tempo: Iremos nos ver ao entardecer.
Apreposição a indica deslocamento rápido: Vamos à praia.
Preposição (ideia de passear)
Língua Portuguesa 20
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APOSTILAS OPÇÃO
Contra Questões
(oposição, hostilidade): Revoltou-se contra a decisão do
tribunal. 01. (PC/SP - Papiloscopista Policial - VUNESP/2018)
Direção a um limite: Bateu contra o muro e caiu.
Desde
(afastamento de um ponto no espaço): Essa neblina vem
desde São Paulo.
Tempo: Desde o ano passado quero mudar de casa.
Em
(lugar): Moramos em Lucélia há alguns anos.
Matéria: As queridas amigas Nilceia e Nadélgia moram em
Curitiba.
Especialidade: Minha amiga Cidinha formou-se em Letras.
Tempo: Tudo aconteceu em doze horas.
No 3º quadrinho, nas três ocorrências, o sentido da
Entre (posição entre dois limites): Convém colocar o vidro preposição “sem” e o das expressões que ela forma são,
entre dois suportes. respectivamente, de
(A) negação e causa.
Para (B) adição e condição.
Direção: Não lhe interessava mais ir para a Europa. (C) ausência e modo.
Tempo: Pretendo vê-lo lá para o final da semana. (D) falta e consequência.
Finalidade: Lute sempre para viver com dignidade. (E) exceção e intensidade.
A preposição para indica permanência definitiva. Vou
para o litoral. (ideia de morar) 02. (Pref. Itaquitinga/PE - Técnico em Enfermagem -
IDHTEC/2016)
Perante (posição anterior): Permaneceu calado perante
todos. MAMÃ NEGRA (Canto de esperança)
Por (percurso, espaço, lugar): Caminhava por ruas Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama
desconhecidas. de carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!
Causa: Por ser muito caro, não compramos um pendrive Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz da
novo. ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poesia
Espaço: Por cima dela havia um raio de luz. de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras
gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias
Sem (ausência): Eu vou sem lenço sem documento. semoventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a
enxada é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos
Sob (debaixo de / situação): Prefiro cavalgar sob o luar. teus olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol-
Viveu, sob pressão dos pais. posto, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo!...) mas
vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende
Sobre demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente
(em cima de, com contato): Colocou as taças de cristal firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, gerando,
sobre a toalha rendada. formando, anunciando -o dia da humanidade.
Assunto: Conversávamos sobre política financeira. (Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império)
Trás (situação posterior; é preposição fora de uso. É Em qual das alternativas o acento grave foi mal
substituída por atrás de, depois de): Por trás desta carinha empregado, pois não houve crase?
vê-se muita falsidade. (A) “Milena Nogueira foi pela primeira vez à quadra da
escola de samba Império Serrano, na Zona Norte do Rio.”
(B) "Os relatos dos casos mostram repetidas violações dos
direitos à moradia, a um trabalho digno, à integridade cultural,
a vida e ao território."
(C) “O corpo de Lucilene foi encontrado próximo à ponte
do Moa no dia 11 de maio.”
(D) “Fifa afirma que Blatter e Valcke enriqueceram às
custas da entidade.”
(E) “Doriva saiu e Milton Cruz fez às vezes de técnico até a
chegada de Edgardo Bauza no fim do ano passado.”
Língua Portuguesa 21
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APOSTILAS OPÇÃO
03. (TJ/AL - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Nada disso, por ora, acontece na internet. Prevalece a lei do
Avaliador - FGV/2018) cão em nome da liberdade de expressão, que é mais expressão
de ressentidos e covardes do que de liberdade, da verdadeira
Além do celular e da carteira, cuidado com as figurinhas liberdade. (Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo, 16/05/2006 – adaptado)
da Copa
Gilberto Porcidônio – O Globo, 12/04/2018 O segmento do texto em que o emprego da preposição EM
indica valor semântico diferente dos demais é:
A febre do troca-troca de figurinhas pode estar atingindo (A) “Tenho comentado aqui na Folha em diversas
uma temperatura muito alta. Preocupados que os mais afoitos crônicas”;
pelos cromos possam até roubá-los, muitos jornaleiros estão (B) A maioria dos abusos, se praticados em outros meios”;
levando seus estoques para casa quando termina o expediente. (C) “... seriam crimes já especificados em lei”;
Pode parecer piada, mas há até boatos sobre quadrilhas de (D) “...a comunicação virtual está em sua pré-história”;
roubo de figurinha espalhados por mensagens de celular. (E) “...ainda que em citação longa e sem aspas”.
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APOSTILAS OPÇÃO
Exemplos:
Não leia no escuro, que faz mal à vista.
Compre estas mercadorias, pois já estamos ficando sem.
Conjunções Subordinativas
Exemplos:
Todos perceberam que você estava atrasado.
Aposto como você estava nervosa.
Língua Portuguesa 23
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APOSTILAS OPÇÃO
03. (SEDUC/PA - Professor Classe I - Português - 05. (COPASA - Analista de Saneamento - Administrador
CONSULPLAN/2018) - FUMARC/2018)
Na construção “A polícia mata muitos, e mais ainda mata a b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos
economia”, a conjunção em destaque estabelece, entre as 1- Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais
orações, próximo.
(A) uma relação de adição. Comi delicioso almoço e sobremesa. / Provei deliciosa fruta
(B) uma relação de oposição. e suco.
(C) uma relação de conclusão. 2- Adjetivo anteposto funcionando como predicativo:
(D) uma relação de explicação. concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
(E) uma relação de consequência.
Língua Portuguesa 24
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APOSTILAS OPÇÃO
Estavam feridos o pai e os filhos. / Estava ferido o pai e os 2- Como numeral: segue a regra geral.
filhos. Comi meia (metade) laranja pela manhã.
j) Menos, alerta 04. Complete os espaços com um dos nomes colocados nos
Em todas as ocasiões são invariáveis. parênteses.
Preciso de menos comida para perder peso. / Estamos alerta (A) Será que é ____ essa confusão toda? (necessário/
para com suas chamadas. necessária)
(B) Quero que todos fiquem ____. (alerta/ alertas)
k) Tal Qual (C) Houve ____ razões para eu não voltar lá. (bastante/
“Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o bastantes)
consequente. (D) Encontrei ____ a sala e os quartos. (vazia/vazios)
As garotas são vaidosas tais qual a tia. / Os pais vieram (E) A dona do imóvel ficou ____ desiludida com o inquilino.
fantasiados tais quais os filhos. (meio/ meia)
Língua Portuguesa 25
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APOSTILAS OPÇÃO
Respostas
01.D / 02.D / 03.B / 04. a) necessária b) alerta c) 10) No caso de o sujeito aparecer representado por
bastantes d) vazia e) meio / 05. C expressões que indicam porcentagens, o verbo concordará
com o numeral ou com o substantivo a que se refere essa
CONCORDÂNCIA VERBAL porcentagem: 50% dos funcionários aprovaram a decisão da
diretoria. / 50% do eleitorado apoiou a decisão.
Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos Observações:
referindo à relação de dependência estabelecida entre um - Caso o verbo aparecer anteposto à expressão de
termo e outro mediante um contexto oracional. porcentagem, esse deverá concordar com o numeral:
Aprovaram a decisão da diretoria 50% dos funcionários.
Casos Referentes a Sujeito Simples - Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no
1) Sujeito simples, o verbo concorda com o núcleo em singular: 1% dos funcionários não aprovou a decisão da
número e pessoa: O aluno chegou atrasado. diretoria.
- Em casos em que o numeral estiver acompanhado de
2) O verbo concorda no singular com o sujeito coletivo do determinantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os
singular, o verbo permanece na terceira pessoa do 50% dos funcionários apoiaram a decisão da diretoria.
singular: A multidão, apavorada, saiu aos gritos.
Observação: no caso de o coletivo aparecer seguido de 11) Quando o sujeito estiver representado por pronomes
adjunto adnominal no plural, o verbo permanecerá no singular de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira
ou poderá ir para o plural: Uma multidão de pessoas saiu aos pessoa do singular ou do plural: Vossas
gritos. / Uma multidão de pessoas saíram aos gritos. Majestades gostaram das homenagens. Vossas Excelência agiu
com inteligência.
3) Quando o sujeito é representado por expressões
partitivas, representadas por “a maioria de, a maior parte de, a 12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo
metade de, uma porção de, entre outras”, o verbo tanto pode próprio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos
concordar com o núcleo dessas expressões quanto com o que os determinam:
substantivo que a segue: A maioria dos alunos resolveu ficar. - Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo
/ A maioria dos alunos resolveram ficar. ser, este permanece no singular, contanto que o predicativo
também esteja no singular: Memórias póstumas de Brás
4) No caso de o sujeito ser representado por expressões Cubas é uma criação de Machado de Assis.
aproximativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo - Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também
concorda com o substantivo determinado por elas: Cerca de permanece no plural: Os Estados Unidos são uma potência
vinte candidatos se inscreveram no concurso de piadas. mundial.
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele
5) Em casos em que o sujeito é representado pela nem aparece, o verbo permanece no singular: Estados Unidos
expressão “mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais é uma potência mundial.
de um candidato se inscreveu no concurso de piadas.
Observação: no caso da referida expressão aparecer Casos Referentes a Sujeito Composto
repetida ou associada a um verbo que exprime reciprocidade, 1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas
o verbo, necessariamente, deverá permanecer no plural: Mais gramaticais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando
de um aluno, mais de um professor contribuíram na campanha relacionado a dois pressupostos básicos:
de doação de alimentos. / Mais de um formando se - Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as
abraçaram durante as solenidades de formatura. demais: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio.
- Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá flexionar na
6) O sujeito for composto da expressão “um dos que”, o 2ª ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos. / Tu e ele são primos.
verbo permanecerá no plural: Paulo é um dos que mais
trabalhar. 2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer
anteposto (antes) ao verbo, este permanecerá no plural: O pai
7) Quanto aos relativos à concordância com locuções e seus dois filhos compareceram ao evento.
pronominais, representadas por “algum de nós, qual de vós,
quais de vós, alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário 3) No caso em que o sujeito aparecer posposto (depois) ao
nos atermos a duas questões básicas: verbo, este poderá concordar com o núcleo mais próximo ou
- No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural, permanecer no plural: Compareceram ao evento o pai e seus
o verbo poderá com ele concordar, como poderá também dois filhos. Compareceu ao evento o pai e seus dois filhos.
concordar com o pronome pessoal: Alguns
de nós o receberemos. / Alguns de nós o receberão. 4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com
- Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso mais de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular:
no singular, o verbo também permanecerá no singular: Algum Meu esposo e grande companheiro merece toda a felicidade do
de nós o receberá. mundo.
8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo 5) Casos relativos a sujeito composto de palavras
pronome “quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do sinônimas ou ordenado por elementos em gradação, o verbo
singular ou poderá concordar com o antecedente desse poderá permanecer no singular ou ir para o plural: Minha
pronome: Fomos nós quem contou toda a verdade para ela. / vitória, minha conquista, minha premiação são frutos de meu
Fomos nós quem contamos toda a verdade para ela. esforço. / Minha vitória, minha conquista, minha premiação é
fruto de meu esforço.
9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela
palavra “que”, o verbo deverá concordar com o termo que
antecede essa palavra: Nesta empresa somos nós
que tomamos as decisões. / Em casa sou eu que decido tudo.
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APOSTILAS OPÇÃO
03. Em um belo artigo, o físico Marcelo Gleiser, analisando REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
a constatação do satélite Kepler de que existem muitos
planetas com características físicas semelhantes ao nosso, Regência Verbal
reafirmou sua fé na hipótese da Terra rara, isto é, a tese de que
a vida complexa (animal) é um fenômeno não tão comum no A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre
Universo. os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos
Gleiser retoma as ideias de Peter Ward expostas de modo e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais).
persuasivo em “Terra Rara”. Ali, o autor sugere que a vida O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa
microbiana deve ser um fenômeno trivial, podendo pipocar até capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de
em mundos inóspitos; já o surgimento de vida multicelular na conhecermos as diversas significações que um verbo pode
Terra dependeu de muitas outras variáveis físicas e históricas, assumir com a simples mudança ou retirada de uma
o que, se não permite estimar o número de civilizações extra preposição.
terráqueas, ao menos faz com que reduzamos nossas Observe:
expectativas. A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar,
Uma questão análoga só arranhada por Ward é a da contentar.
inexorabilidade da inteligência. A evolução de organismos A mãe agrada ao filho. -> agradar significa "causar agrado
complexos leva necessariamente à consciência e à ou prazer", satisfazer.
inteligência?
Robert Wright diz que sim, mas seu argumento é mais Logo, conclui-se que "agradar alguém" é diferente de
matemático do que biológico: complexidade engendra "agradar a alguém".
complexidade, levando a uma corrida armamentista entre
espécies cujo subproduto é a inteligência. Saiba que:
Stephen J. Gould e Steven Pinker apostam que não. Para O conhecimento do uso adequado das preposições é um
eles, é apenas devido a uma sucessão de pré-adaptações e dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e
coincidências que alguns animais transformaram a capacidade também nominal). As preposições são capazes de modificar
de resolver problemas em estratégia de sobrevivência. Se completamente o sentido do que se está sendo dito. Veja os
rebobinássemos o filme da evolução e reencenássemos o exemplos:
processo mudando alguns detalhes do início, seriam grandes Cheguei ao metrô.
as chances de não chegarmos a nada parecido com a Cheguei no metrô.
inteligência.
(Hélio Schwartsman. Folha de S. Paulo, 2012.)
Língua Portuguesa 27
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APOSTILAS OPÇÃO
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo substituir pessoas. Não se utilizam os pronomes o, os, a,
caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração as como complementos de verbos transitivos indiretos. Com
"Cheguei no metrô", popularmente usada a fim de indicar o os objetos indiretos que não representam pessoas, usam-se
lugar a que se vai, possui, no padrão culto da língua, pronomes oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em
sentido diferente. Aliás, é muito comum existirem lugar dos pronomes átonos lhe, lhes.
divergências entre a regência coloquial, cotidiana de alguns Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
verbos, e a regência culta. a) Consistir - tem complemento introduzido pela
preposição "em".
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais para
acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é todos.
um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes
formas em frases distintas. b) Obedecer e Desobedecer - possuem seus complementos
introduzidos pela preposição "a".
Verbos Intransitivos Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Os verbos intransitivos não possuem complemento. É Eles desobedeceram às leis do trânsito.
importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los. c) Responder - tem complemento introduzido pela
a) Chegar, Ir; preposição "a". Esse verbo pede objeto indireto para indicar "a
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais quem" ou "ao que" se responde.
de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para Respondi ao meu patrão.
indicar destino ou direção são: a, para. Respondemos às perguntas.
Fui ao teatro. Respondeu-lhe à altura.
Adjunto Adverbial de Lugar Obs.: o verbo responder, apesar de transitivo indireto
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva
Ricardo foi para a Espanha. analítica. Veja: O questionário foi respondido corretamente. /
Adjunto Adverbial de Lugar Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente.
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APOSTILAS OPÇÃO
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APOSTILAS OPÇÃO
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APOSTILAS OPÇÃO
Advérbios
- Longe de;
- Perto de.
Questões
5 www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
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APOSTILAS OPÇÃO
08. (Analista de Sistemas - VUNESP) Assinale a - Advérbios: Nesta casa se fala alemão. / Naquele dia me
alternativa que completa, correta e respectivamente, as falaram que a professora não veio.
lacunas do texto, de acordo com as regras de regência.
Os estudos _______ quais a pesquisadora se reportou já - Pronomes relativos: A aluna que me mostrou a tarefa não
assinalavam uma relação entre os distúrbios da imagem veio hoje. / Não vou deixar de estudar os conteúdos que me
corporal e a exposição a imagens idealizadas pela mídia. falaram.
A pesquisa faz um alerta ______ influência negativa que a
mídia pode exercer sobre os jovens. - Pronomes indefinidos: Quem me disse isso? / Todos se
(A) dos … na comoveram durante o discurso de despedida.
(B) nos … entre a
(C) aos … para a - Pronomes demonstrativos: Isso me deixa muito feliz! /
(D) sobre os … pela Aquilo me incentivou a mudar de atitude!
(E) pelos … sob a
- Preposição seguida de gerúndio: Em se tratando de
09. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças qualidade, o Brasil Escola é o site mais indicado à pesquisa
Públicas - VUNESP) Considerando a norma-padrão da língua, escolar.
assinale a alternativa em que os trechos destacados estão
corretos quanto à regência, verbal ou nominal. - Conjunção subordinativa: Vamos estabelecer critérios,
(A) O prédio que o taxista mostrou dispunha de mais de conforme lhe avisaram.
dez mil tomadas.
(B) O autor fez conjecturas sob a possibilidade de haver Ênclise
um homem que estaria ouvindo as notas de um oboé. A ênclise é empregada depois do verbo. A norma culta não
(C) Centenas de trabalhadores estão empenhados de criar aceita orações iniciadas com pronomes oblíquos átonos. A
logotipos e negociar. ênclise vai acontecer quando:
(D) O taxista levou o autor a indagar no número de
tomadas do edifício. - O verbo estiver no imperativo afirmativo: Amem-se uns
(E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor aos outros. / Sigam-me e não terão derrotas.
reparasse a um prédio na marginal.
- O verbo iniciar a oração: Diga-lhe que está tudo bem. /
10. (Assistente de Informática II - VUNESP) Assinale a Chamaram-me para ser sócio.
alternativa que substitui a expressão destacada na frase,
conforme as regras de regência da norma-padrão da língua e - O verbo estiver no infinitivo impessoal regido da
sem alteração de sentido. preposição “a”: Naquele instante os dois passaram a odiar-se.
Muitas organizações lutaram a favor da igualdade de / Passaram a cumprimentar-se mutuamente.
direitos dos trabalhadores domésticos.
(A) da - O verbo estiver no gerúndio: Não quis saber o que
(B) na aconteceu, fazendo-se de despreocupada. Despediu-se,
(C) pela beijando-me a face.
(D) sob a
E) sobre a - Houver vírgula ou pausa antes do verbo: Se passar no
vestibular em outra cidade, mudo-me no mesmo instante. / Se
Respostas não tiver outro jeito, alisto-me nas forças armadas.
1.D / 2.D / 3.A / 4.A / 5.E / 6.D / 7.A / 8.C / 9.A / 10.C
Mesóclise
A mesóclise acontece quando o verbo está flexionado no
futuro do presente ou no futuro do pretérito:
Colocação pronominal. A prova realizar-se-á neste domingo pela manhã. (= ela se
realizará).
Far-lhe-ei uma proposta irrecusável. (= eu farei uma
COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS proposta a você).
ÁTONOS
Questões
De acordo com as autoras Rose Jordão e Clenir Bellezi6, a
colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais 01. Considerada a norma culta escrita, há correta
oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se substituição de estrutura nominal por pronome em:
referem. (A) Agradeço antecipadamente sua Resposta // Agradeço-
São pronomes oblíquos átonos: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes antecipadamente.
lhes, nos e vos. (B) do verbo fabricar se extraiu o substantivo fábrica. // do
O pronome oblíquo átono pode assumir três posições na verbo fabricar se extraiu-lhe.
oração em relação ao verbo: (C) não faltam lexicógrafos // não faltam-os.
1. Próclise: pronome antes do verbo; (D) Gostaria de conhecer suas considerações // Gostaria
2. Ênclise: pronome depois do verbo; de conhecê-las.
3. Mesóclise: pronome no meio do verbo. (E) incluindo a palavra ‘aguardo’ // incluindo ela.
6 http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.php http://www.brasilescola.com/gramatica/colocacao-pronominal.htm
Língua Portuguesa 32
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APOSTILAS OPÇÃO
(A) Basta apresenta-lo. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e elas se unem,
(B) Basta apresentar-lhe. a união delas é indicada pelo acento grave. Observe outros
(C) Basta apresenta-lhe. exemplos:
(D) Basta apresentá-la. Conheço a aluna.
(E) Basta apresentá-lo. Refiro-me à aluna.
03. Em qual período, o pronome átono que substitui o No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer
sintagma em destaque tem sua colocação de acordo com a algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode
norma-padrão? ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto
(A) O porteiro não conhecia o portador do embrulho – (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição “a”.
conhecia-o Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja
(B) Meu pai tinha encontrado um marinheiro na praça feminino e admita o artigo feminino “a” ou um dos pronomes
Mauá – tinha encontrado-o. já especificados.
(C) As pessoas relatarão as suas histórias para o registro
no Museu – relatá-las-ão. Casos em que a crase NÃO ocorre
(D) Quem explicou às crianças as histórias de seus
antepassados? – explicou-lhes. 1) Diante de substantivos masculinos:
(E) Vinham perguntando às pessoas se aceitavam a ideia Andamos a cavalo.
de um museu virtual – Lhes vinham perguntando. Fomos a pé.
7 www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint76.php
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APOSTILAS OPÇÃO
4) Em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de É possível detectar a ocorrência da crase nesses casos
que participam palavras femininas. Por exemplo: utilizando a substituição do termo regido feminino por um
termo regido masculino. Por exemplo:
à tarde às ocultas às pressas à medida que
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
à noite às claras às escondidas à força O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade
à vontade à beça à larga à escuta Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a
às avessas à revelia à exceção de à imitação de
crase. Veja outros exemplos:
São normas às quais todos os alunos devem obedecer.
à esquerda às turras às vezes à chave Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
Língua Portuguesa 34
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APOSTILAS OPÇÃO
Acompanhe-o até a porta; ou Acompanhe-o até à porta. Mas acontece que há também autores xerox, que nos
A palestra vai até as cinco horas da tarde; ou A palestra vai invadem com aqueles seus best-sellers...
até às cinco horas da tarde. Será tudo isto uma causa ou um efeito?
Tristes interrogações para se fazerem num mundo que já
Questões foi civilizado.
01. No Brasil, as discussões sobre drogas parecem limitar- (Mário Quintana. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1. ed.,
2005.)
se ______aspectos jurídicos ou policiais. É como se suas únicas
consequências estivessem em legalismos, tecnicalidades e
Claro que não me estou referindo a essa vulgar comunicação
estatísticas criminais. Raro ler ____respeito envolvendo
festiva e efervescente.
questões de saúde pública como programas de esclarecimento
O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase se
e prevenção, de tratamento para dependentes e de
o segmento grifado for substituído por:
reintegração desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome
(A) leitura apressada e sem profundidade.
de um médico ou clínica ____quem tentar encaminhar um
(B) cada um de nós neste formigueiro.
drogado da nossa própria família?
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de S.Paulo, 2012) (C) exemplo de obras publicadas recentemente.
(D) uma comunicação festiva e virtual.
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e (E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
respectivamente, com:
(A) aos … à … a … a 05. O Instituto Nacional de Administração Prisional (INAP)
(B) aos … a … à … a também desenvolve atividades lúdicas de apoio______
(C) a … a … à … à ressocialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará-
(D) à … à … à … à lo para o retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em
(E) a … a … a … a liberdade, ele estará capacitado______ ter uma profissão e uma
vida digna.
(www.metropolitana.com.br. 2012)
02. Leia o texto a seguir.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu
Assinale a alternativa que preenche, correta e
______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do
respectivamente, as lacunas do texto, de acordo com a norma-
procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu-
padrão da língua portuguesa.
lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o
(A) à … à … à
que fez.
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio de Janeiro: Globo, (B) a … a … à
1997,) (C) a … à … à
(D) à … à ... a
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na (E) a … à … a
ordem dada:
(A) à – a – a Gabarito
(B) a – a – à 1.B / 2.A / 3.B / 4.A / 5.D
(C) à – a – à
(D) à – à – a
(E) a – à – à
Ortografia Oficial.
03 “Nesta oportunidade, volto ___ referir-me ___ problemas
já expostos ___ V. Sª ___ alguns dias”.
(A) à - àqueles - a - há ORTOGRAFIA
(B) a - àqueles - a - há
(C) a - aqueles - à - a Alfabeto
(D) à - àqueles - a - a
(E) a - aqueles - à - há O alfabeto da língua portuguesa é formado por 26 letras. A –
B–C–D–E–F–G–H–I–J–K–L–M–N–O–P–Q–R–S–
04. Leia o texto a seguir. T – U – V – W – X – Y – Z.
Língua Portuguesa 35
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APOSTILAS OPÇÃO
Emprego do X Emprego do S
Se empregará o “X” nas seguintes situações: Utiliza-se “S” nos seguintes casos:
1) Após ditongos. 1) Palavras derivadas de outras que já apresentam “S” no
Exemplos: caixa, frouxo, peixe. radical. Exemplos: análise – analisar / catálise – catalisador /
Exceção: recauchutar e seus derivados. casa – casinha ou casebre / liso – alisar.
2) Após a sílaba inicial “en”. 2) Nos sufixos -ês e -esa, ao indicarem nacionalidade, título
Exemplos: enxame, enxada, enxaqueca. ou origem. Exemplos: burguês – burguesa / inglês – inglesa /
Exceção: palavras iniciadas por “ch” que recebem o prefixo chinês – chinesa / milanês – milanesa.
“en-”. Ex.: encharcar (de charco), enchiqueirar (de chiqueiro),
encher e seus derivados (enchente, enchimento, preencher...) 3) Nos sufixos formadores de adjetivos -ense, -oso e –osa.
Exemplos: catarinense / palmeirense / gostoso – gostosa /
3) Após a sílaba inicial “me-”. amoroso – amorosa / gasoso – gasosa / teimoso – teimosa.
Exemplos: mexer, mexerica, mexicano, mexilhão.
Exceção: mecha. 4) Nos sufixos gregos -ese, -isa, -osa.
Exemplos: catequese, diocese, poetisa, profetisa,
4) Se empregará o “X” em vocábulos de origem indígena ou sacerdotisa, glicose, metamorfose, virose.
africana e em palavras inglesas aportuguesadas.
Exemplos: abacaxi, xavante, orixá, xará, xerife, xampu, 5) Após ditongos.
bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, puxar, Exemplos: coisa, pouso, lousa, náusea.
rixa, oxalá, praxe, roxo, vexame, xadrez, xarope, xaxim, xícara,
xale, xingar, etc. 6) Nas formas dos verbos pôr e querer, bem como em seus
derivados.
Emprego do Ch Exemplos: pus, pôs, pusemos, puseram, pusera, pusesse,
Se empregará o “Ch” nos seguintes vocábulos: bochecha, puséssemos, quis, quisemos, quiseram, quiser, quisera,
bucha, cachimbo, chalé, charque, chimarrão, chuchu, chute, quiséssemos, repus, repusera, repusesse, repuséssemos.
cochilo, debochar, fachada, fantoche, ficha, flecha, mochila,
pechincha, salsicha, tchau, etc. 7) Em nomes próprios personativos.
Exemplos: Baltasar, Heloísa, Inês, Isabel, Luís, Luísa,
Emprego do G Resende, Sousa, Teresa, Teresinha, Tomás.
Se empregará o “G” em:
1) Substantivos terminados em: -agem, -igem, -ugem. Observação - também se emprega com a letra “S” os
Exemplos: barragem, miragem, viagem, origem, ferrugem. seguintes vocábulos: abuso, asilo, através, aviso, besouro, brasa,
Exceção: pajem. cortesia, decisão, despesa, empresa, freguesia, fusível, maisena,
mesada, paisagem, paraíso, pêsames, presépio, presídio,
2) Palavras terminadas em: -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio. querosene, raposa, surpresa, tesoura, usura, vaso, vigésimo,
Exemplos: estágio, privilégio, prestígio, relógio, refúgio. visita, etc.
Língua Portuguesa 36
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APOSTILAS OPÇÃO
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APOSTILAS OPÇÃO
convívio civilizado, como previam, e sim na maior prova da revela, objetivamente, dados do psiquismo da pessoa ou, em
impossibilidade da coexistência de desiguais. outras palavras, mostra características comportamentais
2 A ciência trouxe avanços espetaculares nas lides de indissimuláveis, claras e objetivas. O que pode ser tão exato,
guerra, como os bombardeios com precisão cirúrgica que não em matéria de Psicologia-Psiquiatria, que não admite
poupam civis, mas não trouxe a democratização da variáveis? Resposta: todos os crimes, sem exceção, são como
prosperidade antevista. Mágicas novas como o cinema fotografias exatas e em cores do comportamento do indivíduo.
prometiam ultrapassar os limites da imaginação. E como o psiquismo é responsável pelo modo de agir, por
Ultrapassaram, mas para o território da banalidade conseguinte, tem os em todos os crimes, obrigatoriamente e
espetaculosa. A TV foi prevista, e a energia nuclear intuída, sempre, elementos objetivos da mente de quem os praticou.
mas a revolução da informática não foi nem sonhada. As Por exemplo, o delito foi cometido com multiplicidade de
revoluções na medicina foram notáveis, certo, mas a golpes, com ferocidade na execução, não houve ocultação de
prevenção do câncer ainda não foi descoberta. Pensando bem, cadáver, não se verifica cúmplice, premeditação etc. Registre-
nem a do resfriado. A comida em pílulas não veio - se bem que se que esses dados já aconteceram. Portanto, são insimuláveis,
a nouvelle cuisine chegou perto. Até a colonização do espaço, 100% objetivos. Basta juntar essas características
como previam os roteiristas do “Flash Gordon”, está atrasada. comportamentais que teremos algo do psiquismo de quem o
Mal chegamos a Marte, só para descobrir que é um imenso praticou. Nesse caso específico, infere-se que a pessoa é
terreno baldio. E os profetas da felicidade universal não explosiva, impulsiva e sem freios, provável portadora de
contavam com uma coisa: o lixo produzido pela sua visão. algum transtorno ligado à disritmia psicocerebral, algum
Nenhuma previsão incluía a poluição e o aquecimento global. estreitamento de consciência, no qual o sentimento invadiu o
3 Mas assim como os videntes otimistas falharam, talvez o pensamento e determinou a conduta.
pessimismo de hoje divirta nossos bisnetos. Eles certamente Em outro exemplo, temos homicídio praticado com um só
falarão da Aids, por exemplo, como nós hoje falamos da gripe golpe, premeditado, com ocultação de cadáver, concurso de
espanhola. A ciência e a técnica ainda nos surpreenderão. cúmplice etc. Nesse caso, os dados apontam para o lado do
Estamos na pré-história da energia magnética e por fusão criminoso comum, que entendia o que fazia.
nuclear fria. Claro que não é possível, apenas pela morfologia do crime,
4 É verdade que cada salto da ciência corresponderá a um saber-se tudo do diagnóstico do criminoso. Mas, por outro
passo atrás, rumo ao irracional. Quanto mais perto a ciência lado, é na maneira como o delito foi praticado que se
chegar das últimas revelações do Universo, mais as pessoas encontram características 100% seguras da mente de quem o
procurarão respostas no misticismo e refúgio no tribal. E praticou, a evidenciar fatos, tal qual a imagem fotográfica
quanto mais a ciência avança por caminhos nunca antes revela-nos exatamente algo, seja muito ou pouco, do momento
sonhados, mais leigo fica o leigo. A volta ao irracional é a birra em que foi registrada. Em suma, a forma como as coisas foram
do leigo. feitas revela muito da pessoa que as fez.
(VERÍSSIMO. L. F. O Globo. 24/07/2016, p. 15.) PALOMBA, Guido Arturo. Rev. Psique: n° 100 (ed. comemorativa), p. 82.
“e era natural que o futuro IDEALIZADO então fosse o da Tal como ocorre com “interpretaÇÃO ” e “dissimulaÇÃO”,
cidade perfeita.” (1º §) O vocábulo em destaque no trecho grafa-se com “ç” o sufixo de ambas as palavras arroladas em:
acima grafa-se com a letra Z, em conformidade com a norma (A) apreenção do menor - sanção legal.
de emprego do sufixo–izar. (B) detenção do infrator - ascenção ao posto.
(C) presunção de culpa - coerção penal.
Das opções abaixo, aquela em que um dos vocábulos está (D) interceção do juiz - contenção do distúrbio.
INCORRETAMENTE grafado por não se enquadrar nessa (E) submição à lei - indução ao crime.
norma é:
(A) alcoolizado / barbarizar / burocratizar. 04. (Câmara Municipal de Araraquara/SP – Assistente
(B) catalizar / abalizado / amenizar. de Tradução e Interpretação – IBFC/2016)
(C) catequizar / cauterizado / climatizar. Leia as opções abaixo e assinale a alternativa que não
(D) contemporizado / corporizar / cretinizar apresenta erro ortográfico.
(E) esterilizar / estigmatizado / estilizar. (A) Plocrastinar - idiossincrasia - abduzir
(B) Proclastinar - idiosincrasia - abduzir
02. (Pref. De Biguaçu/SC – Professor III – Inglês/2016) (C) Plocrastinar- idiossincrasia - abiduzir
De acordo com a Língua Portuguesa culta, assinale a (D) Procrastinar - idiossincrasia - abduzir
alternativa cujas palavras seguem as regras de ortografia:
(A) Preciso contratar um eletrecista e um encanador para 05. (Pref. De Quixadá/CE – Agente de Combate às
o final da tarde. Endemias – Serctam/2016) Marque a opção em
(B) O trabalho voluntário continua sendo feito que TODOS os vocábulos se completam com a letra “s”:
prazerosamente pelos alunos. (A) pesqui__a, ga__olina, ali__erce.
(C) Ainda não foram atendidas as reinvindicações dos (B) e__ótico, talve__, ala__ão.
professores em greve. (C) atrá__, preten__ão, atra__o.
(D) Na lista de compras, é preciso descriminar melhor os (D) bati__ar, bu__ina, pra__o.
produtos em falta. (E) valori__ar, avestru__, Mastru__.
(E) Passou bastante desapercebido o caso envolvendo um
juiz federal. Gabarito
03. (PC/PA – Escrivão de Polícia Civil – FUNCAB/2016) 01.B / 02.B / 03.C / 04.D / 05.C
Dificilmente, em uma ciência-arte como a Psicologia-
Psiquiatria, há algo que se possa asseverar com 100% de Emprego das Iniciais Maiúsculas e Minúsculas
certeza. Isso porque há áreas bastante interpretativas, sujeitas
a leituras diversas, a depender do observador e do observado. Inicial Maiúscula
Porém, existe um fato na Psicologia-Psiquiatria forense que é Utiliza-se inicial maiúscula nos seguintes casos:
100% de certeza e não está sujeito a interpretação ou a 1) No começo de um período, verso ou citação direta.
dissimulação por parte de quem está a ser examinado. E
Língua Portuguesa 38
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APOSTILAS OPÇÃO
Disse o Padre Antônio Vieira: “Estar com Cristo em qualquer Exemplos: Nordeste (região do Brasil) / Ocidente (europeu)
lugar, ainda que seja no inferno, é estar no Paraíso.” /Oriente (asiático).
Observação: quando empregados em sua forma absoluta, O uso do termo “Gaivota” sempre com letra maiúscula ao
os pontos cardeais são grafados com letra maiúscula. longo do texto se deve ao fato de que
Língua Portuguesa 39
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APOSTILAS OPÇÃO
(A) o autor busca, com isso, fazer uma conexão mais 3 carros muito velozes
próxima entre o leitor e o animal.
(B) o autor quis dar destaque ao termo, apesar de não Em “nas ruas dos Jardins1" (4º§), a palavra em destaque
haver importância da referência ao animal para o texto. foi escrita com letra maiúscula por se tratar de:
(C) há uma mudança no texto, em que, no início, as (A) um erro de grafia.
personagens eram duas pessoas e, a partir do segundo (B) um destaque do autor
parágrafo, é uma gaivota. (C) um substantivo próprio.
(D) o texto faz uma reflexão sobre a ação humana de viajar, (D) um substantivo coletivo.
porém comparando os seres humanos com gaivotas.
(E) o autor utiliza o termo “Gaivota” como símbolo de Gabarito
imponência, o que se relaciona à forma como os seres
humanos são tratados no texto. 01.D / 02.C
02. (MGS – Todos os Cargos de Nível Fundamental Palavras ou Expressões que geram dificuldades
Completo – IBFC/2017)
Algumas palavras ou expressões costumam apresentar
Estranhas Gentilezas dificuldades colocando em maus lençóis quem pretende falar
(Ivan Angelo) ou redigir português culto. Esta é uma oportunidade para você
aperfeiçoar seu desempenho. Preste atenção e tente
Estão acontecendo coisas estranhas. Sabe-se que as incorporar tais palavras certas em situações apropriadas.
pessoas nas grandes cidades não têm o hábito da gentileza.
Não é por ruindade, é falta de tempo. Gastam a paciência nos A anos: Daqui a um ano iremos à Europa. (a indica tempo
ônibus, no trânsito, nas filas, nos mercados, nas salas de futuro)
espera, nos embates familiares, e depois economizam com a Há anos: Não o vejo há meses. (há indica tempo passado)
gente. Atenção: Há muito tempo já indica passado. Não há
Comigo dá-se o contrário, é o que estou notando de uns necessidade de usar atrás, isto é um pleonasmo.
dias para cá. Tratam-me com inquietante delicadeza. Já
captava aqui e ali sinais suspeitos, imprecisos, ventinho de Acerca de: Falávamos acerca de uma solução melhor. (a
asas de borboleta, quase nada. A impressão de que há algo respeito de)
estranho tomou meu corpo mesmo foi na semana passada. Um Há cerca de: Há cerca de dias resolvemos este caso. (faz
vizinho que já fora meu amigo telefonou-me desfazendo o tempo)
engano que nos afastava, intriga de pessoa que nem conheço e
que afinal resolvera esclarecer tudo. Difícil reconstruir a Ao encontro de: Sua atitude vai ao encontro da verdade.
amizade, mas a inimizade morria ali. (estar a favor de)
Como disse, eu vinha desconfiando tenuemente de De encontro a: Minhas opiniões vão de encontro às suas.
algumas amabilidades. O episódio do vizinho fez surgir em (oposição, choque)
meu espírito a hipótese de uma trama, que já mobilizava até
pessoas distantes. E as próximas? A fim de: Vou a fim de visitá-la. (finalidade)
Tenho reparado. As próximas telefonam amáveis, sem Afim: Somos almas afins. (igual, semelhante)
motivo. Durante o telefonema fico aguardando o assunto que
estaria embrulhado nos enfeites da conversa, e ele não sai. Um Ao invés de: Ao invés de falar começou a chorar. (oposição,
número inesperado de pessoas me cumprimenta na rua, com ao contrário de)
acenos de cabeça. Mulheres, antes esquivas, sorriem Em vez de: Em vez de acompanhar-me, ficou só. (no lugar
transitáveis nas ruas dos Jardins1. Num restaurante caro, o de)
maître2, com uma piscadela, fura a demorada fila de executivos
à espera e me arruma rapidinho uma mesa para dois. Um A par: Estamos a par das boas notícias. (bem informado,
homem de pasta que parecia impaciente à minha frente me ciente)
cede o último lugar no elevador. O jornaleiro larga sua banca Ao par: O dólar e o euro estão ao par. (de igualdade ou
na avenida Sumaré e vem ao prédio avisar-me que o jornal equivalência entre valores financeiros – câmbio)
chegou. Os vizinhos de cima silenciam depois das dez da noite.
[...] Aprender: O menino aprendeu a lição. (tomar
Que significa isso? Que querem comigo? Que complô é conhecimento de)
este? Que vão pedir em troca de tanta gentileza? Apreender: O fiscal apreendeu a carteirinha do menino.
Aguardo, meio apreensivo, meio feliz. (prender)
Interrompo a crônica nesse ponto, saio para ir ao banco,
desço pelas escadas porque alguém segura o elevador lá em Baixar: os preços quando não há objeto direto; os preços
cima, o segurança do banco faz-me esvaziar os bolsos antes de funcionam como sujeito: Baixaram os preços (sujeito) nos
entrar na porta giratória, enfrento a fila do caixa, não aceitam supermercados. Vamos comemorar, pessoal!
meus cheques para pagar contas em nome de minha mulher, Abaixar: os preços empregado com objeto direto: Os postos
saio mal-humorado do banco, atravesso a avenida arriscando (sujeito) de combustível abaixaram os preços (objeto direto)
a vida entre bólidos3 , um caminhão joga-me água suja de uma da gasolina.
poça, o elevador continua preso lá em cima, subo a pé, entro no
apartamento, sento-me ao computador e ponho-me de novo a Bebedor: Tornei-me um grande bebedor de vinho. (pessoa
sonhar com gentilezas. que bebe)
Bebedouro: Este bebedouro está funcionando bem.
Vocabulário: (aparelho que fornece água)
1 bairro Jardim Paulista, um dos mais requintados de São
Paulo Bem-Vindo: Você é sempre bem-vindo aqui, jovem.
2 funcionário que coordena agendamentos entre outras (adjetivo composto)
coisas nos restaurantes
Língua Portuguesa 40
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APOSTILAS OPÇÃO
Benvindo: Benvindo é meu colega de classe. (nome Nem um: Nem um filho de Deus apareceu para ajudá-la.
próprio) (equivale a nem um sequer)
Nenhum: Nenhum jornal divulgou o resultado do concurso.
Câmara: Ficaram todos reunidos na Câmara Municipal. (oposto de algum)
(local de trabalho)
Câmera: Comprei uma câmera japonesa. (aparelho que Onde: Onde fica a farmácia mais próxima? (lugar em que se
fotografa) está)
Aonde: Aonde vão com tanta pressa? (ideia de movimento)
Champanha/Champanhe (do francês): O
champanha/champanhe está bem gelado. Por ora: Por ora chega de trabalhar. (por este momento)
Por hora: Você deve cobrar por hora. (cada sessenta
Cessão: Foi confirmada a cessão do terreno. (ato de doar) minutos)
Sessão: A sessão do filme durou duas horas. (intervalo de
tempo) Senão: Não fazia coisa nenhuma senão criticar. (caso
Seção/Secção: Visitei hoje a seção de esportes. (repartição contrário)
pública, departamento) Se não: Se não houver homens honestos, o país não sairá
desta situação crítica. (se por acaso não)
Demais: Vocês falam demais, caras! (advérbio de
intensidade) Tampouco: Não compareceu, tampouco apresentou
Demais: Chamaram mais dez candidatos, os demais devem qualquer justificativa. (Também não)
aguardar. (equivale a “os outros”) Tão pouco: Encontramo-nos tão pouco esta semana.
De mais: Não vejo nada de mais em sua decisão. (opõe-se a (intensidade)
“de menos”)
Trás ou Atrás: O menino estava atrás da árvore. (lugar)
Descriminar: O réu foi descriminado; pra sorte dele. Traz: Ele traz consigo muita felicidade. (verbo trazer)
(inocentar, absolver de crime)
Discriminar: Era impossível discriminar os caracteres do Vultoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui. (volumoso)
documento. (diferençar, distinguir, separar) Vultuoso: Sua face está vultuosa e deformada. (congestão
Descrição: A descrição sobre o jogador foi perfeita. no rosto)
(descrever)
Discrição: Você foi muito discreto. (reservado) Questão
Entrega em domicílio: Fiz a entrega em domicílio. (lugar) 01. (TCM/RJ – Técnico de Controle Externo –
Entrega a domicílio: Enviou as compras a domicílio. (com IBFC/2016) Analise as afirmativas abaixo, dê valores
verbos de movimento) Verdadeiro (V) ou Falso (F) quanto ao emprego do acento
circunflexo estabelecido pelo Novo Acordo Ortográfico.
Espectador: Os espectadores se fartaram da apresentação. ( ) O acento permanece na grafia de 'pôde' (o verbo
(aquele que vê, assiste) conjugado no passado) para diferenciá-la de 'pode' (o verbo
Expectador: O expectador aguardava o momento da conjugado no presente).
chamada. (que espera alguma coisa) ( ) O acento circunflexo de 'pôr' (verbo) cai e a palavra terá
a mesma grafia de 'por' (preposição), diferenciando-se pelo
Estada: A estada dela aqui foi gratificante. (tempo em algum contexto de uso.
lugar) ( ) a queda do acento na conjugação da terceira pessoa do
Estadia: A estadia do carro foi prolongada por mais plural do presente do indicativo dos verbos crer, dar, ler, ter,
algumas semanas. (prazo concedido para carga e descarga) vir e seus derivados.
Fosforescente: Este material é fosforescente. (que brilha Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de
no escuro) cima para baixo.
Fluorescente: A luz branca do carro era fluorescente. (A) V F F
(determinado tipo de luminosidade) (B) F V F
(C) F F V
Haja: É preciso que não haja descuido. (verbo haver – 1ª (D) F V V
pessoa singular do presente do subjuntivo)
Aja: Aja com cuidado, Carlinhos. (verbo agir – 1ª pessoa 02. (Detran/CE – Vistoriador – UCE-CEV/2018) Na frase
singular do presente do subjuntivo) “... as penalidades são as previstas pelo bom senso...”, a palavra
destacada é homônima de censo. Assinale a opção em que o
Houve: Houve um grande incêndio no centro de São emprego dos homônimos destacados está adequado.
Paulo. (verbo haver - 3ª pessoa do singular do pretérito (A) O reitor da faculdade solicitou que todos os
perfeito) funcionários participassem do censo anual para verificar
Ouve: A mãe disse: ninguém me ouve. (verbo ouvir - 3ª quem realmente está na ativa.
pessoa singular do presente do indicativo) (B) Foi pedido para que todos os motoristas respondessem
ao senso, a fim de se obter o número real de carros no pátio da
Mal: Dormi mal. (oposto de bem) universidade.
Mau: Você é um mau exemplo. (oposto de bom) (C) Os infratores são penalizados com a “multa moral” por
não demonstrarem censo crítico.
Mas: Telefonei-lhe mas ela não atendeu. (ideia contrária) (D) Se o infrator tiver censo, saberá o que dizer na hora da
Mais: Há mais flores perfumadas no campo. (opõe-se a punição.
menos) Gabarito
01.A / 02.A
Língua Portuguesa 41
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APOSTILAS OPÇÃO
Emprego do Porquê sons graves. As células da parte inicial, mais delicadas e frágeis,
são facilmente destruídas – razão por que, ao envelhecermos,
Orações Interrogativas Exemplo:
perdemos a capacidade de ouvir sons agudos. Quando
(pode ser substituído Por que devemos nos frequências muito agudas chegam a essa parte da membrana,
por: por qual motivo, por preocupar com o meio as células podem ser danificadas, pois, quanto mais alta a
qual razão) ambiente? frequência, mais energia tem seu movimento ondulatório. Isso,
Por em parte, explica nossa aversão a determinados sons agudos,
Que
Exemplo:
mas não a todos. Afinal, geralmente não sentimos calafrios ou
Equivalendo a “pelo Os motivos por que não uma sensação ruim ao ouvirmos uma música com notas
qual” respondeu são agudas.
desconhecidos.
Aí podemos acrescentar outro fator. Uma nota de violão
Exemplos:
tem um número limitado e pequeno de frequências –
Você ainda tem coragem de formando um som mais “limpo”. Já no espectro de som
Por Final de frases e seguidos proveniente de unhas arranhando um quadro-negro (ou de
perguntar por quê?
Quê de pontuação atrito entre isopores ou entre duas bexigas de ar) há um
Você não vai? Por quê?
Não sei por quê! número infinito delas. Assim, as células vibram de acordo com
muitas frequências e aquelas presentes na parte inicial da
Exemplos: cóclea, por serem mais frágeis, são lesadas com mais
A situação agravou-se porque
Conjunção que indica facilidade. Daí a sensação de aversão a esse sons agudos e
ninguém reclamou.
explicação ou causa
Ninguém mais o espera, “crus”.
Porque porque ele sempre se atrasa. Ronald Ranvaud, Ciência Hoje, nº 282.
Gabarito
1. Por que (pergunta);
2. Porque (resposta); 01.D / 02.B
3. Por quê (fim de frase: motivo);
4. O Porquê (substantivo).
Por que sentimos calafrios e desconforto ao ouvir certos Proparoxítonas - São aquelas em que a sílaba tônica se
sons agudos – como unhas arranhando um quadro-negro? evidencia na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara –
tímpano – médico – ônibus
Esta é uma reação instintiva para protegermos nossa
audição. A cóclea (parte interna do ouvido) tem uma Como podemos observar, mediante todos os exemplos
membrana que vibra de acordo com as frequências sonoras mencionados, os vocábulos possuem mais de uma sílaba, mas
que ali chegam. A parte mais próxima ao exterior está ligada à em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente, no
audição de sons agudos; a região mediana é responsável pela qual são os chamados de monossílabos, que quando
audição de sons de frequência média; e a porção mais final, por
Língua Portuguesa 42
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APOSTILAS OPÇÃO
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APOSTILAS OPÇÃO
Língua Portuguesa 44
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APOSTILAS OPÇÃO
As orações coordenadas sindéticas são classificadas de Cumprimente-a, pois hoje é o seu aniversário.
acordo com o sentido expresso pelas conjunções
coordenativas que as introduzem. E podem ser: Questões
- Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não 01. Relacione as orações coordenadas por meio de
só... mas também, não só... mas ainda. conjunções:
Saí da escola / e fui à lanchonete. (A) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões
OCA OCS Aditiva surgiram.
(B) Não durma sem cobertor. A noite está fria.
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma (C) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los.
conjunção que expressa ideia de acréscimo ou adição com
referência à oração anterior, ou seja, por uma conjunção 02. Em: “... ouviam-se amplos bocejos, fortes como o
coordenativa aditiva. marulhar das ondas...” a partícula como expressa uma ideia de:
(A) causa
O menino comprou pães e um leite. (B) explicação
As crianças não gritavam e nem choravam. (C) conclusão
Os celulares não somente instruem mas também (D) proporção
divertem. (E) comparação
- Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas, 03. “Entrando na faculdade, procurarei emprego”, oração
porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto. sublinhada pode indicar uma ideia de:
(A) concessão
Estudei bastante / mas não passei no teste. (B) oposição
OCA OCS Adversativa (C) condição
(D) lugar
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma (E) consequência
conjunção que expressa ideia de oposição à oração anterior, ou
seja, por uma conjunção coordenativa adversativa. 04. Assinale a sequência de conjunções que estabelecem,
entre as orações de cada item, uma correta relação de sentido.
O aluno é estudioso, porém, suas notas são baixas. 1. Correu demais, ... caiu.
“É dura a vida, mas aceitam-na.” (Cecília Meireles) 2. Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz.
3. A matéria perece, ... a alma é imortal.
- Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto, 4. Leu o livro, ... é capaz de descrever as personagens com
por isso, pois, logo. detalhes.
5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde.
Ele me ajudou muito, / portanto merece minha gratidão.
OCA OCS Conclusiva (A) porque, todavia, portanto, logo, entretanto
(B) por isso, porque, mas, portanto, que
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma (C) logo, porém, pois, porque, mas
conjunção que expressa ideia de conclusão de um fato (D) porém, pois, logo, todavia, porque
enunciado na oração anterior, ou seja, por uma conjunção (E) entretanto, que, porque, pois, portanto
coordenativa conclusiva.
05. Reúna as três orações em um período composto por
Vives mentindo; logo, não mereces fé. coordenação, usando conjunções adequadas.
Não tenho dinheiro, portanto não posso pagar.
Os dias já eram quentes.
- Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou... ou, A água do mar ainda estava fria.
ora... ora, seja... seja, quer... quer. As praias permaneciam desertas.
Língua Portuguesa 45
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APOSTILAS OPÇÃO
Veja, agora, como podemos transformar esses termos em Relatei os fatos como (ou conforme) os ouvi.
orações com a mesma função sintática: Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas.
Vi uma cena / que me entristeceu. (oração subordinada O jornal, como sabemos, é um grande veículo de
com função de adjunto adnominal) informação.
Todos querem / que você participe. (oração subordinada
com função de objeto direto) - Temporais: acrescentam uma circunstância de tempo ao
Não pude sair / porque estava chovendo. (oração que foi expresso na oração principal. Conjunções: quando,
subordinada com função de adjunto adverbial de causa) assim que, logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal
(=assim que).
Em todos esses períodos, a segunda oração exerce uma Ele saiu da sala / assim que eu cheguei.
certa função sintática em relação à primeira, sendo, portanto, OP OSA Temporal
subordinada a ela. Quando um período é constituído de pelo
menos um conjunto de duas orações em que uma delas (a Formiga, quando quer se perder, cria asas.
subordinada) depende sintaticamente da outra (principal), ele “Lá pelas sete da noite, quando escurecia, as casas se
é classificado como período composto por subordinação. esvaziam.” (Carlos Povina Cavalcânti)
As orações subordinadas são classificadas de acordo com a “Quando os tiranos caem, os povos se levantam.”
função que exercem: adverbiais, substantivas e adjetivas. (Marquês de Maricá)
Enquanto foi rico, todos o procuravam.
Orações Subordinadas Adverbiais (OSA)
São aquelas que exercem a função de adjunto adverbial da - Finais: expressam a finalidade ou o objetivo do que foi
oração principal (OP). São classificadas de acordo com a enunciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de
conjunção subordinativa que as introduz: que, porque (=para que), que.
Abri a porta do salão / para que todos pudessem entrar.
- Causais: expressam a causa do fato enunciado na oração OP OSA Final
principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que,
visto que. “O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.”
Não fui à escola / porque fiquei doente. (Marquês de Maricá)
OP OSA Causal Aproximei-me dele a fim de que me ouvisse melhor.
“Fiz-lhe sinal que se calasse.” (Machado de Assis) (que =
O tambor soa porque é oco. para que)
Como não me atendessem, repreendi-os severamente. “Instara muito comigo não deixasse de frequentar as
Como ele estava armado, ninguém ousou reagir. recepções da mulher.” (Machado de Assis) (não deixasse =
“Faltou à reunião, visto que esteve doente.” (Arlindo de para que não deixasse)
Sousa)
- Consecutivas: expressam a consequência do que foi
- Condicionais: expressam hipóteses ou condição para a enunciado na oração principal. Conjunções: porque, que, como
ocorrência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se, (= porque), pois que, visto que.
contanto que, a menos que, a não ser que, desde que. A chuva foi tão forte / que inundou a cidade.
Irei à sua casa / se não chover. OP OSA Consecutiva
OP OSA Condicional
Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos.
Deus só nos perdoará se perdoarmos aos nossos “A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos.”
ofensores. (José J. Veiga)
Se o conhecesses, não o condenarias. De tal sorte a cidade crescera que não a reconhecia mais.
“Que diria o pai se soubesse disso?” (Carlos Drummond As notícias de casa eram boas, de maneira que pude
de Andrade) prolongar minha viagem.
A cápsula do satélite será recuperada, caso a experiência
tenha êxito. - Comparativas: expressam ideia de comparação com
referência à oração principal. Conjunções: como, assim como,
- Concessivas: expressam ideia ou fato contrário ao da tal como, (tão)... como, tanto como, tal qual, que (combinado
oração principal, sem, no entanto, impedir sua realização. com menos ou mais).
Conjunções: embora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais Ela é bonita / como a mãe.
que, mesmo que. OP OSA Comparativa
Ela saiu à noite / embora estivesse doente.
OP OSA Concessiva A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o
Admirava-o muito, embora (ou conquanto ou posto que ferro.” (Marquês de Maricá)
ou se bem que) não o conhecesse pessoalmente. Ela o atraía irresistivelmente, como o imã atrai o ferro.
Embora não possuísse informações seguras, ainda Os retirantes deixaram a cidade tão pobres como vieram.
assim arriscou uma opinião. Como a flor se abre ao Sol, assim minha alma se abriu à
Cumpriremos nosso dever, ainda que (ou mesmo luz daquele olhar.
quando ou ainda quando ou mesmo que) todos nos
critiquem. Obs.: As orações comparativas nem sempre apresentam
Por mais que gritasse, não me ouviram. claramente o verbo, como no exemplo acima, em que está
subentendido o verbo ser (como a mãe é).
- Conformativas: expressam a conformidade de um fato
com outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo. - Proporcionais: expressam uma ideia que se relaciona
O trabalho foi feito / conforme havíamos planejado. proporcionalmente ao que foi enunciado na principal.
OP OSA Conformativa Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que,
quanto mais, quanto menos.
O homem age conforme pensa.
Língua Portuguesa 46
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APOSTILAS OPÇÃO
Quanto mais reclamava / menos atenção recebia. Sou favorável a que o prendam. (= Sou favorável à prisão
OSA Proporcional OP dele.)
Estava ansioso por que voltasses.
À medida que se vive, mais se aprende. Sê grato a quem te ensina.
À proporção que avançávamos, as casas iam rareando. “Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão
O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai cedo.” (Graciliano Ramos)
diminuindo.
- Oração Subordinada Substantiva Predicativa: é
Orações Subordinadas Substantivas aquela que exerce a função de predicativo do sujeito da oração
As orações subordinadas substantivas (OSS) são principal, vindo sempre depois do verbo ser. Observe: O
aquelas que, num período, exercem funções sintáticas importante é sua felicidade. (predicativo)
próprias de substantivos, geralmente são introduzidas pelas O importante é / que você seja feliz.
conjunções integrantes que e se. Elas podem ser: OP OSS Predicativa
Seu receio era que chovesse. (Seu receio era a chuva.)
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: é Minha esperança era que ele desistisse.
aquela que exerce a função de objeto direto do verbo da oração Meu maior desejo agora é que me deixem em paz.
principal. Observe: O grupo quer a sua ajuda. (objeto direto) Não sou quem você pensa.
O grupo quer / que você ajude.
OP OSS Objetiva Direta - Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela
que exerce a função de aposto de um termo da oração
O mestre exigia que todos estivessem presentes. (= O principal. Observe: Ele tinha um sonho a união de todos em
mestre exigia a presença de todos.) benefício do país. (aposto)
Mariana esperou que o marido voltasse. Ele tinha um sonho / que todos se unissem em benefício
Ninguém pode dizer: Desta água não beberei. do país.
O fiscal verificou se tudo estava em ordem. OP OSS Apositiva
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: é Só desejo uma coisa: que vivam felizes. (Só desejo uma
aquela que exerce a função de objeto indireto do verbo da coisa: a sua felicidade)
oração principal. Observe: Necessito de sua ajuda. (objeto Só lhe peço isto: honre o nosso nome.
indireto) “Talvez o que eu houvesse sentido fosse o presságio disto:
Necessito / de que você me ajude. de que virias a morrer...” (Osmã Lins)
OP OSS Objetiva Indireta “Mas diga-me uma cousa, essa proposta traz algum
motivo oculto?” (Machado de Assis)
Não me oponho a que você viaje. (= Não me oponho à sua As orações apositivas vêm geralmente antecedidas de
viagem.) dois-pontos. Podem vir, também, entre vírgulas, intercaladas à
Aconselha-o a que trabalhe mais. oração principal. Exemplo: Seu desejo, que o filho
Daremos o prêmio a quem o merecer. recuperasse a saúde, tornou-se realidade.
Lembre-se de que a vida é breve.
Observação: Além das conjunções integrantes que e se, as
- Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: é aquela orações substantivas podem ser introduzidas por outros
que exerce a função de sujeito do verbo da oração principal. conectivos, tais como quando, como, quanto, etc. Exemplos:
Observe :É importante sua colaboração. (sujeito) Não sei quando ele chegou.
É importante / que você colabore. Diga-me como resolver esse problema.
OP OSS Subjetiva
Orações Subordinadas Adjetivas
A oração subjetiva geralmente vem: As orações subordinadas Adjetivas (OSA) exercem a
- Depois de um verbo de ligação + predicativo, em função de adjunto adnominal de algum termo da oração
construções do tipo é bom ,é útil ,é certo ,é conveniente, etc. principal. Observe como podemos transformar um adjunto
Ex.: É certo que ele voltará amanhã. adnominal em oração subordinada adjetiva:
- Depois de expressões na voz passiva, como sabe-se, conta- Desejamos uma paz duradoura. (adjunto adnominal)
se, diz-se, etc. Ex.: Sabe-se que ele saiu da cidade. Desejamos uma paz / que dure. (oração subordinada
- Depois de verbos como convir, cumprir, constar, urgir, adjetiva)
ocorrer, quando empregados na 3ª pessoa do singular e
seguidos das conjunções que ou se. Ex.: Convém que todos As orações subordinadas adjetivas são sempre
participem da reunião. introduzidas por um pronome relativo (que , qual, cujo, quem,
etc.) e podem ser classificadas em:
É necessário que você colabore. (= Sua colaboração é
necessária.) - Subordinadas Adjetivas Restritivas: são restritivas
Parece que a situação melhorou. quando restringem ou especificam o sentido da palavra a que
Aconteceu que não o encontrei em casa. se referem. Exemplo:
Importa que saibas isso bem. O público aplaudiu o cantor / que ganhou o 1º lugar.
OP OSA Restritiva
- Oração Subordinada Substantiva Completiva
Nominal: É aquela que exerce a função de complemento Nesse exemplo, a oração que ganhou o 1º lugar especifica
nominal de um termo da oração principal. Observe: Estou o sentido do substantivo cantor, indicando que o público não
convencido de sua inocência. (complemento nominal) aplaudiu qualquer cantor mas sim aquele que ganhou o 1º
Estou convencido / de que ele é inocente. lugar. Exemplo:
OP OSS Completiva Nominal
Pedra que rola não cria limo.
Língua Portuguesa 47
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APOSTILAS OPÇÃO
Os animais que se alimentam de carne chamam-se fixas, isto é, orações reduzidas que não são passíveis de
carnívoros. desenvolvimento. Exemplo: Tenho vontade de visitar essa
Rubem Braga é um dos cronistas que mais belas páginas cidade.
escreveram. - O infinitivo, o gerúndio e o particípio não constituem
“Há saudades que a gente nunca esquece.” (Olegário orações reduzidas quando fazem parte de uma locução verbal.
Mariano) Exemplos:
Preciso terminar este exercício.
- Subordinadas Adjetivas Explicativas: são explicativas Ele está jantando na sala.
quando apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se Essa casa foi construída por meu pai.
referem, esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem - Uma oração coordenada também pode vir sob a forma
restringi-lo ou especificá-lo. Exemplo: reduzida. Exemplo:
O escritor Jorge Amado, / que mora na Bahia, / lançou um O homem fechou a porta, saindo depressa de casa.
novo livro. O homem fechou a porta e saiu depressa de casa. (oração
OP OSA Explicativa OP coordenada sindética aditiva)
Saindo depressa de casa: oração coordenada reduzida de
Deus, que é nosso pai, nos salvará. gerúndio.
Valério, que nasceu rico, acabou na miséria. Qual é a diferença entre as orações coordenadas
Ele tem amor às plantas, que cultiva com carinho. explicativas e as orações subordinadas causais, já que ambas
Alguém, que passe por ali à noite, poderá ser assaltado. podem ser iniciadas por que e porquê? Às vezes não é fácil
Observação: As explicativas são isoladas por pausas, que estabelecer a diferença entre explicativas e causais, mas como
na escrita se indicam por vírgulas.8 o próprio nome indica, as causais sempre trazem a causa de
algo que se revela na oração principal, que traz o efeito.
Orações Reduzidas Note-se também que há pausa (vírgula, na escrita) entre a
Observe que as orações subordinadas eram sempre oração explicativa e a precedente e que esta é, muitas vezes,
introduzidas por uma conjunção ou pronome relativo e imperativa, o que não acontece com a oração adverbial causal.
apresentavam o verbo na forma do indicativo ou do Essa noção de causa e efeito não existe no período
subjuntivo. Além desse tipo de orações subordinadas há composto por coordenação. Exemplo:
outras que se apresentam com o verbo numa das formas Rosa chorou porque levou uma surra. Está claro que a
nominais (infinitivo, gerúndio e particípio). Exemplos: oração iniciada pela conjunção é causal, visto que a surra foi
sem dúvida a causa do choro, que é efeito.
Ao entrar na escola, encontrei o professor de inglês. Rosa chorou, porque seus olhos estão vermelhos. O
(infinitivo) período agora é composto por coordenação, pois a oração
Precisando de ajuda, telefone-me. (gerúndio) iniciada pela conjunção traz a explicação daquilo que se
Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário. revelou na coordena anterior. Não existe aí relação de causa e
(particípio) efeito: o fato de os olhos de Elisa estarem vermelhos não é
causa de ela ter chorado.
As orações subordinadas que apresentam o verbo numa
das formas nominais são chamadas de reduzidas. Ela fala / como falaria / se entendesse do assunto.
Para classificar a oração que está sob a forma reduzida, OP OSA Comparativa OSA Condicional
devemos procurar desenvolvê-la do seguinte modo:
colocamos a conjunção ou o pronome relativo adequado ao Questões
sentido e passamos o verbo para uma forma do indicativo ou
subjuntivo, conforme o caso. A oração reduzida terá a mesma 01. Na frase: “Maria do Carmo tinha a certeza de que
classificação da oração desenvolvida. estava para ser mãe”, a oração destacada é:
(A) subordinada substantiva objetiva indireta
Ao entrar na escola, encontrei o professor de inglês. (B) subordinada substantiva completiva nominal
Quando entrei na escola, / encontrei o professor de (C) subordinada substantiva predicativa
inglês. (D) coordenada sindética conclusiva
OSA Temporal (E) coordenada sindética explicativa
Ao entrar na escola: oração subordinada adverbial
temporal, reduzida de infinitivo. 02. “Na ‘Partida Monção’, não há uma atitude inventada. Há
reconstituição de uma cena como ela devia ter sido na
Precisando de ajuda, telefone-me. realidade.” A oração sublinhada é:
Se precisar de ajuda, / telefone-me. (A) adverbial conformativa
OSA Condicional (B) adjetiva
Precisando de ajuda: oração subordinada adverbial (C) adverbial consecutiva
condicional, reduzida de gerúndio. (D) adverbial proporcional
(E) adverbial causal
Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.
Assim que acabou o treino, / os jogadores foram para o 03. “Esses produtos podem ser encontrados nos
vestiário. supermercados com rótulos como ‘sênior’ e com
OSA Temporal características adaptadas às dificuldades para mastigar e para
Acabado o treino: oração subordinada adverbial temporal, engolir dos mais velhos, e preparados para se encaixar em seus
reduzida de particípio. hábitos de consumo”. O segmento “para se encaixar” pode ter
sua forma verbal reduzida adequadamente desenvolvida em
Observações: (A) para se encaixarem.
- Há orações reduzidas que permitem mais de um tipo de (B) para seu encaixotamento.
desenvolvimento. Há casos também de orações reduzidas (C) para que se encaixassem.
Língua Portuguesa 48
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APOSTILAS OPÇÃO
Respostas
Anotações
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APOSTILAS OPÇÃO
Língua Portuguesa 50
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MATEMÁTICA
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APOSTILAS OPÇÃO
4
N ᑕ Z ᑕ Q – O conjunto dos números Naturais e Inteiros Assim, a geratriz de 0,444... é a fração .
9
estão contidos no Conjunto do Números Racionais.
b) Seja a dízima 3, 1919...
Subconjuntos notáveis: O período que se repete é o 19, logo dois noves no
No conjunto Q destacamos os seguintes subconjuntos: denominador (99). Observe também que o 3 é a parte inteira,
- Q* = conjunto dos racionais não nulos; logo ele vem na frente, formando uma fração mista:
- Q+ = conjunto dos racionais não negativos; 19
- Q*+ = conjunto dos racionais positivos; 3 → 𝑡𝑒𝑚𝑜𝑠 𝑢𝑚𝑎 𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑚𝑖𝑠𝑡𝑎, 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑛𝑑𝑜
99
- Q _ = conjunto dos racionais não positivos; 316
- Q*_ = conjunto dos racionais negativos. → (3.99 + 19) = 316, 𝑙𝑜𝑔𝑜 ∶
99
Matemática 1
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APOSTILAS OPÇÃO
Matemática 2
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APOSTILAS OPÇÃO
base igual ao inverso da base anterior e o expoente igual ao 02. (IPSM - Analista de Gestão Municipal –
oposto do expoente anterior. Contabilidade – VUNESP/2018) Saí de casa com
3 −2 7 2 49 determinada quantia no bolso. Gastei, na farmácia, 2/5 da
( ) =( ) = quantia que tinha. Em seguida, encontrei um compadre que me
7 3 9
pagou uma dívida antiga que correspondia exatamente à terça
4) Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo sinal parte do que eu tinha no bolso. Continuei meu caminho e gastei
da base. a metade do que tinha em alimentos que doei para uma casa
3 3 3 3 3 27 de apoio a necessitados. Depois disso, restavam-me 420 reais.
(− ) = (− ) . (− ) . (− ) = − O valor que o compadre me pagou é, em reais, igual a
7 7 7 7 343
(A) 105.
5) Toda potência com expoente par é um número positivo. (B) 210.
3 2 3 3 9 (C) 315.
( ) = . = (D) 420.
7 7 7 49 (E) 525.
6) Produto de potências de mesma base: reduzir a uma só
03. (Pref. Santo Expedito/SP – Motorista – Prime
potência de mesma base, conservamos as bases e somamos os
Concursos/2017) Qual a alternativa que equivale a 9/40 em
expoentes.
forma decimal
3 2 3 3 3 2+3 3 5
( ) .( ) = ( ) =( ) (A) 0,225
7 7 7 7 (B) 225
(C) 0,0225
7) Divisão de potências de mesma base: reduzir a uma só (D) 0,22
potência de mesma base, conservamos a base e subtraímos os
expoentes. 04. (Pref. Santo Expedito/SP – Motorista – Prime
3 5 3 3 3 5−3 3 2 Concursos/2017) Ao simplificar a fração 36/100, dividindo o
( ) :( ) =( ) =( )
7 7 7 7 numerador e o denominador por 2, obtemos:
(A) 18/50
8) Potência de Potência: reduzir a uma potência (de (B) 9/25
mesma base) de um só expoente, conservamos a base e (C) 12/50
multiplicamos os expoentes. (D) 9/50
3
3 2 3 2.3 3 6
[( ) ] = ( ) = ( ) 05. (Câmara de Dois Córregos/SP – Oficial de
7 7 7
Atendimento e Administração – VUNESP/2018) Uma
Radiciação de Números Racionais: se um número empresa comprou um lote de envelopes e destinou 3/ 8 deles
representa um produto de dois ou mais fatores iguais, então ao setor A. Dos envelopes restantes, 4/ 5 foram destinados ao
cada fator é chamado raiz do número. setor B, e ainda restaram 75 envelopes. O número total de
envelopes do lote era
Exemplos: (A) 760.
(B) 720.
𝟏 1 1 1 2
1) √ , representa o produto . ou ( ) . (C) 700.
𝟐𝟓 5 5 5
1 1 (D) 640.
Logo, é a raiz quadrada de . (E) 600.
5 25
Matemática 3
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APOSTILAS OPÇÃO
Exemplo:
Logo o que sobrou(metade) corresponde a 420,00:
12𝑥 12600
= 420 → 12𝑥 = 12600 → 𝑥 = → 𝑥 = 1050
30 12
Como o compadre pagou 3x/15, basta substituirmos o
valor de x por 1050 e acharmos o valor:
3.1050
= 210 MMC
15
O mínimo múltiplo comum(MMC) de dois ou mais
03. Resposta: A. números é o menor número positivo que é múltiplo comum de
Basta dividirmos 9/40 = 0,225. todos os números dados. Consideremos:
04. Resposta: A. - O número 6 e os seus múltiplos positivos:
Simplificando temos: M*+ (6) = {6, 12, 18, 24, 30, 36, 42, 48, 54, ...}
36/2 = 18
100/2 = 50 - O número 8 e os seus múltiplos positivos:
Logo temos 18/50 M*+ (8) = {8, 16, 24, 32, 40, 48, 56, 64, ...}
05. Resposta: E. Podemos descrever, agora, os múltiplos positivos comuns:
X = envelopes
3 M*+ (6) M*+ (8) = {24, 48, 72, ...}
𝐴= 𝑥
8 Observando os múltiplos comuns, podemos identificar o
5 4 4 mínimo múltiplo comum dos números 6 e 8, ou seja: MMC (6,
𝐵 = 𝑥. = 𝑥 8) = 24
8 5 8
MDC
O máximo divisor comum(MDC) de dois ou mais números O produto do MDC e MMC é dado pela fórmula abaixo:
é o maior número que é divisor comum de todos os números
dados. Consideremos: MDC(A, B).MMC(A,B)= A.B
Matemática 4
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APOSTILAS OPÇÃO
Exemplo:
Um objeto custa R$ 75,00 e é vendido por R$ 100,00.
𝑚𝑚𝑐(40,60,80) = 2 ∙ 2 ∙ 2 ∙ 2 ∙ 3 ∙ 5 = 240
Determinar:
a) a porcentagem de lucro em relação ao preço de custo;
03. Resposta: B.
b) a porcentagem de lucro em relação ao preço de venda.
Como os trens passam de 2,4 e 1,8 minutos, vamos achar o
mmc(18,24) e dividir por 10, assim acharemos os minutos
Resolução:
Preço de custo + lucro = preço de venda → 75 + lucro =100
→ Lucro = R$ 25,00
𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
𝑎) . 100% ≅ 33,33%
𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜
Mmc(18,24)=72
𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
Portanto, será 7,2 minutos 𝑏) . 100% = 25%
1 minuto---60s 𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎
0,2--------x
x = 12 segundos - Aumento e Desconto Percentuais
Portanto se encontrarão depois de 7 minutos e 12 A) Aumentar um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo
𝒑
segundos por (𝟏 + ).V .
𝟏𝟎𝟎
Logo:
𝒑
VA = (𝟏 + ).V
𝟏𝟎𝟎
Porcentagem
Exemplo:
1 - Aumentar um valor V de 20%, equivale a multiplicá-lo
por 1,20, pois:
Razões de denominador 100 que são chamadas de 20
(1 + ).V = (1+0,20).V = 1,20.V
razões centesimais ou taxas percentuais ou simplesmente de 100
porcentagem. Servem para representar de uma
maneira prática o "quanto" de um "todo" se está B) Diminuir um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo
𝒑
referenciando. por (𝟏 − ).V.
𝟏𝟎𝟎
Matemática 5
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APOSTILAS OPÇÃO
20 200
2) Dois descontos sucessivos de 20% equivalem a um * Dep. R.H.: . 10 = = 2 → 2 (estagiários)
100 100
único desconto de:
𝑝
Utilizando VD = (1 − ).V → V. 0,8 . 0,8 → V. 0,64 . . 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑔𝑖á𝑟𝑖𝑜𝑠 5 1
100
∗ 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = = =
Analisando o fator de multiplicação 0,64, observamos que 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑓𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛á𝑟𝑖𝑜𝑠 30 6
esse percentual não representa o valor do desconto, mas sim
o valor pago com o desconto. Para sabermos o valor que 03. Resposta: D.
representa o desconto é só fazermos o seguinte cálculo: 15% de 1130 = 1130.0,15 ou 1130.15/100 → 169,50
100% - 64% = 36%
Observe que: esses dois descontos de 20% equivalem a
36% e não a 40%.
Razão e proporção
Referências
IEZZI, Gelson – Fundamentos da Matemática – Vol. 11 – Financeira e
Estatística Descritiva
IEZZI, Gelson – Matemática Volume Único RAZÃO
http://www.porcentagem.org
http://www.infoescola.com
É o quociente entre dois números (quantidades, medidas,
Questões grandezas).
Sendo a e b dois números a sua razão, chama-se razão de a
01. Marcos comprou um produto e pagou R$ 108,00, já para b:
inclusos 20% de juros. Se tivesse comprado o produto, com 𝑎
25% de desconto, então, Marcos pagaria o valor de: 𝑜𝑢 𝑎: 𝑏 , 𝑐𝑜𝑚 𝑏 ≠ 0
𝑏
(A) R$ 67,50 Onde:
(B) R$ 90,00
(C) R$ 75,00
(D) R$ 72,50
Matemática 6
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Matemática 8
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APOSTILAS OPÇÃO
Respostas
01. Resposta: E.
Se duplicarmos a velocidade inicial do carro, o tempo gasto
Utilizaremos uma regra de três simples:
para fazer o percurso cairá para a metade; logo, as grandezas
ano %
são inversamente proporcionais. Assim, os números 180 e 300
11442 ------- 100
são inversamente proporcionais aos números 20 e x.
17136 ------- x
Daí temos:
3600 11442.x = 17136 . 100 x = 1713600 / 11442 = 149,8%
180.20 = 300. 𝑥 → 300𝑥 = 3600 → 𝑥 = (aproximado)
300 149,8% – 100% = 49,8%
𝑥 = 12
Conclui-se, então, que se o competidor tivesse andando em Aproximando o valor, teremos 50%
300 km/h, teria gasto 12 segundos para realizar o percurso.
02. Resposta: C.
Questões Se R$ 315,00 já está com o desconto de 10%, então R$
315,00 equivale a 90% (100% - 10%).
01. (PM/SP – Oficial Administrativo – VUNESP) Em 3 de Utilizaremos uma regra de três simples:
maio de 2014, o jornal Folha de S. Paulo publicou a seguinte $ %
informação sobre o número de casos de dengue na cidade de 315 ------- 90
Campinas. x ------- 100
90.x = 315 . 100 x = 31500 / 90 = R$ 350,00
Matemática 9
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APOSTILAS OPÇÃO
Exemplos:
1) Em 4 dias 8 máquinas produziram 160 peças. Em As grandezas “pessoas” e “estrada” são diretamente
quanto tempo 6 máquinas iguais às primeiras produziriam proporcionais. No nosso esquema isso será indicado
300 dessas peças? colocando-se na coluna “estrada” uma flecha no mesmo
Indiquemos o número de dias por x. Coloquemos as sentido da flecha da coluna “pessoas”:
grandezas de mesma espécie em uma só coluna e as grandezas
de espécies diferentes que se correspondem em uma mesma
linha. Na coluna em que aparece a variável x (“dias”),
coloquemos uma flecha:
Questões
Agora vamos montar a proporção, igualando a razão que 02. (PREF. CORBÉLIA/PR – CONTADOR – FAUEL) Uma
equipe constituída por 20 operários, trabalhando 8 horas por
4 dia durante 60 dias, realiza o calçamento de uma área igual a
contém o x, que é , com o produto das outras razões, obtidas
x 4800 m². Se essa equipe fosse constituída por 15 operários,
trabalhando 10 horas por dia, durante 80 dias, faria o
6 160 calçamento de uma área igual a:
segundo a orientação das flechas . :
8 300 (A) 4500 m²
(B) 5000 m²
(C) 5200 m²
(D) 6000 m²
(E) 6200 m²
Simplificando as proporções obtemos:
4 2 4.5 03. (PC/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VUNESP) Dez
= → 2𝑥 = 4.5 → 𝑥 = → 𝑥 = 10 funcionários de uma repartição trabalham 8 horas por dia,
𝑥 5 2 durante 27 dias, para atender certo número de pessoas. Se um
funcionário doente foi afastado por tempo indeterminado e
Resposta: Em 10 dias.
outro se aposentou, o total de dias que os funcionários
restantes levarão para atender o mesmo número de pessoas,
Matemática 10
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APOSTILAS OPÇÃO
Matemática 11
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APOSTILAS OPÇÃO
03. Resposta: E.
Vamos chamar de ( x ) o valor para cada motorista. Assim:
16 . x = Total
Total = 10 . (x + 57) (pois 6 desistiram)
Combinando as duas equações, temos:
16.x = 10.x + 570 → 16.x – 10.x = 570
6.x = 570 → x = 570 / 6 → x = 95
O valor total é: 16 . 95 = R$ 1520,00.
EQUAÇÃO DO 2º GRAU
Sabendo que esse time marcou, durante esse torneio, um
total de 28 gols, então, o número de jogos em que foram Uma equação é uma expressão matemática que possui em
marcados 2 gols é: sua composição incógnitas, coeficientes, expoentes e um sinal
(A) 3. de igualdade. As equações são caracterizadas de acordo com o
(B) 4. maior expoente de uma das incógnitas.
(C) 5.
(D) 6.
(E) 7. Em que a, b, c são números reais e a ≠ 0.
02. Certa quantia em dinheiro foi dividida igualmente Nas equações de 2º grau com uma incógnita, os números
entre três pessoas, cada pessoa gastou a metade do dinheiro reais expressos por a, b, c são chamados coeficientes da
que ganhou e 1/3(um terço) do restante de cada uma foi equação.
colocado em um recipiente totalizando R$900,00(novecentos
reais), qual foi a quantia dividida inicialmente? Equação completa e incompleta:
(A) R$900,00 - Quando b ≠ 0 e c ≠ 0, a equação do 2º grau se diz
(B) R$1.800,00 completa.
(C) R$2.700,00 Exemplos:
(D) R$5.400,00 x2 - 5x + 6 = 0= 0 é uma equação completa (a = 1, b = – 5, c
= 6).
03. Um grupo formado por 16 motoristas organizou um -3y2 + 2y - 15 = 0 é uma equação completa (a = -3, b = 2, c
churrasco para suas famílias. Na semana do evento, seis deles = -15).
desistiram de participar. Para manter o churrasco, cada um
dos motoristas restantes pagou R$ 57,00 a mais. - Quando b = 0 ou c = 0 ou b = c = 0, a equação do 2º grau se
O valor total pago por eles, pelo churrasco, foi: diz incompleta.
(A) R$ 570,00 Todas essas equações estão escritas na forma ax2 + bx + c
(B) R$ 980,50 = 0, que é denominada forma normal ou forma reduzida de
(C) R$ 1.350,00 uma equação do 2º grau com uma incógnita.
(D) R$ 1.480,00 Há, porém, algumas equações do 2º grau que não estão
(E) R$ 1.520,00 escritas na forma ax2 + bx + c = 0; por meio de transformações
convenientes, em que aplicamos o princípio aditivo e o
Respostas multiplicativo, podemos reduzi-las a essa forma.
Exemplo: Pelo princípio aditivo.
01. Resposta: E. 2x2 – 7x + 4 = 1 – x2
0.2 + 1.8 + 2.x + 3.2 = 28 2x2 – 7x + 4 – 1 + x2 = 0
0 + 8 + 2x + 6 = 28 → 2x = 28 – 14 → x = 14 / 2 2x2 + x2 – 7x + 4 – 1 = 0
x=7 3x2 – 7x + 3 = 0
Matemática 12
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APOSTILAS OPÇÃO
1º) Se x ϵ R, y ϵ R e x.y=0, então x= 0 ou y=0 Como Δ < 0, a equação não tem raízes reais.
2º) Se x ϵ R, y ϵ R e x2=y, então x= √y ou x=-√y Então: S = ᴓ
Duas raízes reais distintas. 02. Qual a equação do 2º grau cujas raízes são 1 e 3/2?
(A) x²-3x+4=0
b (B) -3x²-5x+1=0
Δ>0
x' (C) 3x²+5x+2=0
1º caso
(Positivo)
2.a (D) 2x²-5x+3=0
b
x '' 03. O dobro da menor raiz da equação de 2º grau dada por
2.a x²-6x=-8 é:
Duas raízes reais iguais. (A) 2
Δ=0 b (B) 4
2º caso x’ = x” =
(Nulo) (C) 8
2a (D) 12
Δ<0 Não temos raízes reais.
3º caso Respostas
(Negativo)
01. Resposta: C.
Neste caso o valor de a ≠ 0, 𝑙𝑜𝑔𝑜:
A existência ou não de raízes reais e o fato de elas serem 3m - 9 ≠ 0 → 3m ≠ 9 → m ≠ 3
duas ou uma única dependem, exclusivamente, do
discriminante Δ = b2 – 4.a.c; daí o nome que se dá a essa 02. Resposta: D.
expressão. Como as raízes foram dadas, para saber qual a equação:
x² - Sx +P=0, usando o método da soma e produto; S= duas
Exemplo: raízes somadas resultam no valor numérico de b; e P= duas
1) Resolver a equação 3x2 + 7x + 9 = 0 no conjunto R. raízes multiplicadas resultam no valor de c.
Temos: a = 3, b = 7 e c = 9
3 5
𝑆 =1+ = =𝑏
2 2
3 3
𝑃 =1∙ = = 𝑐 ; 𝑠𝑢𝑏𝑠𝑡𝑖𝑡𝑢𝑖𝑛𝑑𝑜
2 2
5 3
−7 ± √−59 𝑥2 − 𝑥 + = 0
𝑥= 2 2
6
2𝑥 2 − 5𝑥 + 3 = 0
Matemática 13
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APOSTILAS OPÇÃO
Verificando:
3x + 2y = 4 → 3.(2) + 2(-1) = 4 → 6 – 2 = 4
2x + 3y = 1 → 2.(2) + 3(-1) = 1 → 4 – 3 = 1
Matemática 14
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APOSTILAS OPÇÃO
02. Resposta: A.
Armas de R$150,00: x
Armas de R$450,00: y
150𝑥 + 450𝑦 = 7500
{
𝑥 + 𝑦 = 30
x = 30 – y
Substituindo na 1ª equação:
150(30 − 𝑦) + 450𝑦 = 7500
4500 − 150𝑦 + 450𝑦 = 7500
Questões 300𝑦 = 3000
𝑦 = 10
01. Em uma gincana entre as três equipes de uma escola 𝑥 = 30 − 10 = 20
(amarela, vermelha e branca), foram arrecadados 1 040 O total de indenizações foi de 20.
quilogramas de alimentos. A equipe amarela arrecadou 50
quilogramas a mais que a equipe vermelha e esta arrecadou 30 03. Resposta: C.
quilogramas a menos que a equipe branca. A quantidade de Cláudio :x
alimentos arrecadada pela equipe vencedora foi, em Otávio: y
𝑥
quilogramas, igual a =3
𝑦
(A) 310 𝑥 = 3𝑦
{
(B) 320 𝑥 + 𝑦 = 28
(C) 330 𝑥 + 𝑦 = 28
(D) 350 3y + y = 28
(E) 370 4y = 28
y = 7 x = 21
02. Os cidadãos que aderem voluntariamente à Campanha Marcos: x – y = 21 – 7 = 14
Nacional de Desarmamento recebem valores de indenização
entre R$150,00 e R$450,00 de acordo com o tipo e calibre do
armamento. Em uma determinada semana, a campanha Grandezas e medidas –
arrecadou 30 armas e pagou indenizações somente de quantidade, tempo,
R$150,00 e R$450,00, num total de R$7.500,00.
Determine o total de indenizações pagas no valor de comprimento, superfície,
R$150,00. capacidade e massa
(A) 20
(B) 25
(C) 22 Sistema de Medidas Decimais
(D) 24 Um sistema de medidas é um conjunto de unidades de
(E) 18 medida que mantém algumas relações entre si. O sistema
métrico decimal é hoje o mais conhecido e usado no mundo
03. A razão entre a idade de Cláudio e seu irmão Otávio é todo. Na tabela seguinte, listamos as unidades de medida de
3, e a soma de suas idades é 28. Então, a idade de Marcos que comprimento do sistema métrico. A unidade fundamental é o
é igual a diferença entre a idade de Cláudio e a idade de Otávio metro, porque dele derivam as demais.
é
(A) 12.
(B) 13.
(C) 14.
(D) 15.
(E) 16.
Respostas Há, de fato, unidades quase sem uso prático, mas elas têm
uma função. Servem para que o sistema tenha um padrão: cada
01. Resposta: E. unidade vale sempre 10 vezes a unidade menor seguinte.
Amarela: x Por isso, o sistema é chamado decimal.
Vermelha: y
Branca: z
x = y + 50
Matemática 15
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APOSTILAS OPÇÃO
15x – 4x = 9900
11x = 9900
x = 9900 / 11 Observe que não podemos subtrair 20 min de 30 min,
x = 900 mL (capacidade total) então devemos passar uma hora (+1) dos 2 para a coluna
Como havia 1/5 do total (1/5 . 900 = 180 mL), a quantidade minutos.
adicionada foi de 900 – 180 = 720 mL
02. Resposta: B.
4 litros = 4000 ml; 1,2 litros = 1200 ml; meio litro = 500
ml
4000 – 800 – 500 + 700 – 1200 = 2200 ml (final do dia)
Utilizaremos uma regra de três simples: Então teremos novos valores para fazermos nossa
ml % subtração, 20 + 60 = 80:
4000 ------- 100
2200 ------- x
4000.x = 2200 . 100 x = 220000 / 4000 = 55%
Matemática 17
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APOSTILAS OPÇÃO
Se a aplicação da primeira demão demorou 2 horas e 15 segmentos de reta que compõem a linha oferecem
minutos, que horas eram quando Sr. Luís iniciou o serviço? informações sobre o comportamento da amostra. Exemplo:
(A) 12h 25 min
(B) 12h 35 min
(C) 12h 45 min
(D) 13h 15 min
(E) 13h 25 min
Respostas
01. Resposta: C.
02. Resposta: D.
T = 8 . 4 + 10 . 6 + 15 . 10 + 20 . 5 =
= 32 + 60 + 150 + 100 = 342 min
Fazendo: 342 / 60 = 5 h, com 42 min (resto) Gráfico de barras: também conhecido como gráficos de
colunas, são utilizados, em geral, quando há uma grande
03. Resposta: B. quantidade de dados. Para facilitar a leitura, em alguns casos,
15 h 40 – 2 h 15 – 50 min = 12 h 35min os dados numéricos podem ser colocados acima das colunas
correspondentes. Eles podem ser de dois tipos: barras
verticais e horizontais.
Relação entre grandezas – - Gráfico de barras verticais: as frequências são
tabela ou gráfico indicadas em um eixo vertical. Marcamos os pontos
determinados pelos pares ordenados (classe, frequência) e os
ligamos ao eixo das classes por meio de barras verticais.
O nosso cotidiano é permeado das mais diversas Exemplo:
informações, sendo muito delas expressas em formas de
tabelas e gráficos, as quais constatamos através do noticiários
televisivos, jornais, revistas, entre outros. Os gráficos e tabelas
fazem parte da linguagem universal da Matemática, e
compreensão desses elementos é fundamental para a leitura
de informações e análise de dados.
A parte da Matemática que organiza e apresenta dados
numéricos e a partir deles fornecer conclusões é chamada de
Estatística.
Fonte: SEBRAE
Tipos de Gráficos
Gráfico de linhas: são utilizados, em geral, para Observação: em um gráfico de colunas, cada barra deve
representar a variação de uma grandeza em certo período de ser proporcional à informação por ela representada.
tempo.
Marcamos os pontos determinados pelos pares Gráfico de setores: são utilizados, em geral, para
ordenados (classe, frequência) e os ligados por segmentos de visualizar a relação entre as partes e o todo.
reta. Nesse tipo de gráfico, apenas os extremos dos Dividimos um círculo em setores, com ângulos de medidas
diretamente proporcionais às frequências de classes. A
Matemática 18
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APOSTILAS OPÇÃO
Como o gráfico é de setores, os dados percentuais serão (Enem 2012) O gráfico mostra a variação da extensão
distribuídos levando-se em conta a proporção da área a ser média de gelo marítimo, em milhões de quilômetros
representada relacionada aos valores das porcentagens. A quadrados, comparando dados dos anos 1995, 1998, 2000,
área representativa no gráfico será demarcada da seguinte 2005 e 2007. Os dados correspondem aos meses de junho a
maneira: setembro. O Ártico começa a recobrar o gelo quando termina
o verão, em meados de setembro. O gelo do mar atua como o
sistema de resfriamento da Terra, refletindo quase toda a luz
solar de volta ao espaço. Águas de oceanos escuros, por sua
vez, absorvem a luz solar e reforçam o aquecimento do Ártico,
ocasionando derretimento crescente do gelo.
Matemática 19
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APOSTILAS OPÇÃO
Resolução: Questões
O enunciado nos traz uma informação bastante importante
e interessante, sendo chave para a resolução da questão. Ele 01. (Pref. Fortaleza/CE – Pedagogia – Pref.
associa a camada de gelo marítimo com a reflexão da luz solar Fortaleza/2016) “Estar alfabetizado, neste final de século,
e consequentemente ao resfriamento da Terra. Logo, quanto supõe saber ler e interpretar dados apresentados de maneira
menor for a extensão de gelo marítimo, menor será o organizada e construir representações, para formular e
resfriamento e portanto maior será o aquecimento global. resolver problemas que impliquem o recolhimento de dados e
O ano que, segundo o gráfico, apresenta a menor extensão a análise de informações. Essa característica da vida
de gelo marítimo, é 2007. contemporânea traz ao currículo de Matemática uma demanda
em abordar elementos da estatística, da combinatória e da
probabilidade, desde os ciclos iniciais” (BRASIL, 1997).
Observe os gráficos e analise as informações.
Resposta: E
Matemática 20
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APOSTILAS OPÇÃO
Salário (em salários mínimos) Funcionários 05. (SEJUS/ES – Agente Penitenciário – VUNESP)
1,8 10 Observe os gráficos e analise as afirmações I, II e III.
2,5 8
3,0 5
5,0 4
8,0 2
15,0 1
Pode-se concluir que
(A) o total da folha de pagamentos é de 35,3 salários.
(B) 60% dos trabalhadores ganham mais ou igual a 3
salários.
(C) 10% dos trabalhadores ganham mais de 10 salários.
(D) 20% dos trabalhadores detêm mais de 40% da renda
total.
(E) 60% dos trabalhadores detêm menos de 30% da renda
total.
xi fi
I. Em 2010, o aumento percentual de matrículas em
30-35 4
cursos tecnológicos, comparado com 2001, foi maior que
35-40 12
1000%.
40-45 10 II. Em 2010, houve 100,9 mil matrículas a mais em
45-50 8 cursos tecnológicos que no ano anterior.
50-55 6 III. Em 2010, a razão entre a distribuição de matrículas
TOTAL 40 no curso tecnológico presencial e à distância foi de 2 para
5.
Assinale a alternativa em que o histograma é o que É correto o que se afirma em
melhor representa a distribuição de frequência da tabela. (A) I e II, apenas.
(B) II, apenas.
(C) I, apenas.
(D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.
Respostas
(A)
01. Resposta: C.
A única alternativa que contém a informação correta com
o gráfico é a C.
(B)
02. Resposta: CERTO.
555----100%
306----x
X=55,13%
Matemática 21
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APOSTILAS OPÇÃO
20% dos funcionários seriam 6, alternativa correta, Assim podemos concluir que o gasto médio do grupo de
pois5*3+8*2+15*1=46, que já é maior. turistas foi de R$ 71,70.
(E) 6 dos trabalhadores: 18
30% da renda: 31,20, errada pois detêm mais. Questões
http://www.ibge.gov.br/censo2010/piramide_etaria/index.php
(Acesso dia 29/08/2011)
A média aritmética(x) dos n elementos do conjunto numérico O quadro abaixo, mostra a distribuição da quantidade de
A é a soma de todos os seus elementos, dividida pelo número homens e mulheres, por faixa etária de uma determinada
de elementos n. cidade. (Dados aproximados)
Considerando somente a população masculina dos 20 aos
Exemplos: 44 anos e com base no quadro abaixo a frequência relativa, dos
1) Calcular a média aritmética entre os números 3, 4, 6, 9, homens, da classe [30, 34] é:
e 13.
Se x for a média aritmética dos elementos do conjunto (3,
4, 6, 9, 13), então x será a soma dos 5 elementos, dividida por
5. Assim:
3 + 4 + 6 + 9 + 13 35
𝑥= ↔𝑥= ↔𝑥=7
5 5
A média aritmética é 7.
(A) 64%.
2) Os gastos (em reais) de 15 turistas em Porto Seguro (B) 35%.
estão indicados a seguir: (C) 25%.
65 – 80 – 45 – 40 – 65 – 80 – 85 – 90 (D) 29%.
75 – 75 – 70 – 75 – 75 – 90 – 65 (E) 30%.
Se somarmos todos os valores teremos: 03. (EsSA - Sargento - Conhecimentos Gerais - Todas as
Áreas – EB) Em uma turma a média aritmética das notas é 7,5.
65 + 80 + 45 + 40 + 65+, , , +90 + 65 1075 Sabe-se que a média aritmética das notas das mulheres é 8 e
𝑥= = = 71,70 das notas dos homens é 6. Se o número de mulheres excede o
15 15
Matemática 22
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APOSTILAS OPÇÃO
𝑎 + 𝑏 + ⋯+ 𝑔
= 3,5
𝑀 Para representar um plano usamos uma figura chamada
paralelogramo e para dar nome usamos letras minúsculas do
02. Resposta: E. alfabeto grego (α, β, π, θ,....).
[30, 34] = 600, somatória de todos os homens é: Exemplo:
300+400+600+500+200= 2000
600 600
= = 0,3 . (100) = 30%
300+400+600+500+200 2000
𝑆
A média da turma é 7,5, sendo S a soma das notas: =
𝑚+ℎ
7,5 → 𝑆 = 7,5(𝑚 + ℎ)
𝑆
A média das mulheres é 8, sendo S1 a soma das notas: 1 =
𝑚
8 → 𝑆1 = 8𝑚 Partes de uma reta
Estudamos, particularmente, duas partes de uma reta:
𝑆2
A média dos homens é 6, sendo S2 a soma das notas: =6 - Semirreta: é uma parte da reta que tem origem em um
ℎ
→ 𝑆2 = 6ℎ ponto e é infinita.
Exemplo: (semirreta 𝐴𝐵), tem origem em A e passa por B.
Somando as notas dos homens e das mulheres:
S1 + S2 = S
8m + 6h = 7,5(m + h) - Segmento de reta: é uma parte finita (tem começo e fim)
8m + 6h = 7,5m + 7,5h da reta.
8m – 7,5m = 7,5h – 6h Exemplo: (segmento de reta ̅̅̅̅
𝐴𝐵).
0,5m =1,5h
1,5ℎ
𝑚=
0,5
𝑚 = 3ℎ
̅̅̅̅ = 𝐵𝐴
Observação: 𝐴𝐵 ≠ 𝐵𝐴 e 𝐴𝐵 ̅̅̅̅.
h + 8 = 3h
8 = 3h – h
8 = 2h → h = 4
m = 4 + 8 = 12 POSIÇÃO RELATIVA ENTRE RETAS
Total de alunos = 12 + 4 = 16
- Retas concorrentes: duas retas são concorrentes
quando se interceptam em um ponto. Observe que a figura
abaixo as retas c e d se interceptam no ponto B.
Matemática 23
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APOSTILAS OPÇÃO
- Retas paralelas: são retas que por mais que se Ângulos colaterais externos:
prolonguem nunca se encontram, mantêm a mesma distância
e nunca se cruzam. O ângulo de inclinação de duas ou mais
retas paralelas em relação a outra é sempre igual. Indicamos
retas paralelas a e b por a // b.
- Retas perpendiculares: são retas concorrentes que se A soma dos ângulos 1 e 8 é igual a 180°
cruzam num ponto formando entre si ângulos de 90º ou seja
ângulos retos. Ângulos alternos internos: (alternos = lados diferentes)
Matemática 24
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APOSTILAS OPÇÃO
̂ é reto, o valor
03. Na figura abaixo, sabendo que o ângulo A
de 𝛼 é:
(A) 20°
(B) 30°
(C) 40°
(D) 50°
(E) 60°
Respostas
os ângulos 2 e 6 são congruentes (iguais)
01. Resposta: E.
Na figura, os ângulos assinalados são correspondentes,
portanto são iguais.
02. Resposta: B.
Na figura dada os ângulos 47° e 2x – 18° são
os ângulos 4 e 8 são congruentes (iguais)
correspondentes e, portanto tem a mesma medida, então:
2x – 18° = 47° → 2x = 47° + 18° → 2x = 65° → x = 65°: 2
Questões
x = 32° 30’
03. Resposta: C.
(A) 10° Precisamos traçar uma terceira reta pelo vértice A paralela
(B) 20° às outras duas.
(C) 30°
(D) 40°
(E) 50°
Matemática 25
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APOSTILAS OPÇÃO
Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do que Ângulos consecutivos: são ângulos que tem um lado em
90º. comum.
Ângulo Reto:
- É o ângulo cuja medida é 90º;
- É aquele cujos lados se apoiam em retas perpendiculares.
̂ B e BO
- Os ângulos AO ̂ C, AO
̂ B e AO
̂ C, BO
̂ C e AO
̂ C são pares
de ângulos consecutivos.
̂ B e BO
- Os ângulos AO ̂ C são ângulos adjacentes.
Matemática 26
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APOSTILAS OPÇÃO
a)
b)
Sendo assim, ê = 80° e ô = 50°, pois o ângulo ô é igual ao
complemento de 130° na reta b.
Logo, î = 80° + 50° = 130°.
03. Respostas:
a) 160° - 3x = x + 100°
160° - 100° = x + 3x → 60° = 4x
x = 60°/4 → x = 15°
02. As retas a e b são paralelas. Quanto mede o ângulo î? Então 15°+100° = 115° e 160°-3*15° = 115°
b) 6x + 15° + 2x + 5º = 180°
6x + 2x = 180° -15° - 5° → 8x = 160° → x = 160°/8
x = 20°
Então, 6*20°+15° = 135° e 2*20°+5° = 45°
TEOREMA DE TALES
d)
Matemática 27
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APOSTILAS OPÇÃO
7x = 28
x = 28 : 7 = 4
30x = 10.18
30x = 180
Referências
SOUZA, Joamir Roberto; PATARO, Patricia Moreno – Vontade de Saber x = 180 : 30 = 6
Matemática 6º Ano – FTD – 2ª edição – São Paulo: 2012
http://www.jcpaiva.net/ TEOREMA DE PITÁGORAS
(A) 1,2
(B) 1,4 - “Em todo triângulo retângulo o quadrado da hipotenusa
(C) 1,6 é igual à soma dos quadrados dos catetos”.
(D) 1,8
(E) 2,0 a2 = b2 + c2
Matemática 28
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APOSTILAS OPÇÃO
Respostas 2. Paralelogramo
- sendo b a base e h a altura:
01. Resposta: D.
02. Resposta: E.
3. Trapézio
- sendo B a base maior, b a base menor e h a altura:
x2 = 32 + 42 4. Losango
x2 = 9 + 16 - sendo D a diagonal maior e d a diagonal menor:
x2 = 25
x = √25 = 5
03. Resposta: C.
132 = x2 + 52
169 = x2 + 25 5. Quadrado
169 – 25 = x2 - sendo l o lado:
x2 = 144
x = √144 = 12 cm
Área: é a medida da superfície de uma figura plana. IV) triângulo equilátero (tem os três lados iguais):
A unidade básica de área é o m2 (metro quadrado), isto é,
uma superfície correspondente a um quadrado que tem 1 m de
lado.
Matemática 29
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APOSTILAS OPÇÃO
V) circunferência inscrita: 28
l2 =
2
A = 14 cm2
02. Resposta: A.
- um quadrado terá perímetro x
x
o lado será l = e o outro quadrado terá perímetro 30 – x
4
30−x
VI) circunferência circunscrita: o lado será l1 = , sabendo que a área de um quadrado
4
é dada por S = l2, temos:
S = S1 + S2
S=l²+l1²
x 2 30−x 2
S=( ) +( )
4 4
x2 (30−x)2
S= + , como temos o mesmo denominador 16:
16 16
Questões
x 2 + 302 − 2.30. x + x 2
S=
01. A área de um quadrado cuja diagonal mede 2√7 cm é, 16
x 2 + 900 − 60x + x 2
em cm2, igual a: S=
(A) 12 16
2x2 60x 900
(B) 13 S= − + ,
16 16 16
(C) 14
(D) 15 sendo uma equação do 2º grau onde a = 2/16; b = -60/16
(E) 16 e c = 900/16 e o valor de x será o x do vértice que e dado pela
−b
fórmula: x = , então:
02. Corta-se um arame de 30 metros em duas partes. Com 2a
Matemática 30
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APOSTILAS OPÇÃO
2
Se as bases dos quatro tanques ocupam da área
5
retangular, qual é, em metros, o diâmetro da base de cada
tanque?
Dado: use 𝜋=3,1
III- Setor circular: (A) 2.
É uma região compreendida entre dois raios distintos de (B) 4.
um círculo. O setor circular tem como elementos principais o (C) 6.
raio r, um ângulo central 𝛼 e o comprimento do arco l, então (D) 8.
temos duas fórmulas: (E) 16.
Comentários
01. Resposta: B.
Unindo os centros das três circunferências temos um
triângulo equilátero de lado 2r ou seja l = 2.10 = 20 cm. Então
a área a ser calculada será:
𝜋𝑟 2 𝑙 2 √3
𝐴= +
2 4
(3,14 ∙ 102 ) 202 ∙ 1,73
Questões 𝐴= +
2 4
400 ∙ 1,73
𝐴 = 1,57 ∙ 100 +
01. A figura abaixo mostra três círculos, cada um com 10 4
cm de raio, tangentes entre si. 𝐴 = 157 + 100 ∙ 1,73 = 157 + 173 = 330
02. Resposta: A.
A fórmula do comprimento de uma circunferência é C =
2π.r, Então:
C = 20π
Considerando √3 ≅ 1,73 e 𝜋 ≅ 3,14, o valor da área 2π.r = 20π
sombreada, em cm2, é: r=
20π
2π
(A) 320. r = 10 cm
(B) 330. A = π.r2 → A = π.102 → A = 100π cm2
(C) 340.
(D) 350. 03. Resposta: D.
(E) 360. Primeiro calculamos a área do retângulo (A = b.h)
Aret = 24,8.20
02. A área de um círculo, cuja circunferência tem Aret = 496 m2
comprimento 20𝜋 cm, é:
(A) 100𝜋 cm2. 2
(B) 80 𝜋 cm2. 4.Acirc = .Aret
5
Matemática 31
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APOSTILAS OPÇÃO
2
4.πr2 = .496 - Área Lateral:
5
992 Soma das áreas das faces laterais
4.3,1.r2 = - Área Total:
5
12,4.r2 = 198,4 At=Al+2Ab
r2 = 198,4 : 12, 4 → r2 = 16 → r = 4 - Volume:
d = 2r =2.4 = 8 V = Abh
- Sólidos geométricos
Fórmulas:
- Área Total: At = 2.(ab + ac + bc)
- Volume: V = a.b.c
- Diagonal: D = √a2 + b 2 + c 2
Elementos de um prisma:
a) Base: pode ser qualquer polígono. b) Hexaedro Regular (Cubo): é um prisma que tem as 6
b) Arestas da base: são os segmentos que formam as faces quadradas.
bases.
c) Face Lateral: é sempre um paralelogramo.
d) Arestas Laterais: são os segmentos que formam as
faces laterais.
e) Vértice: ponto de intersecção (encontro) de arestas.
f) Altura: distância entre as duas bases.
As três dimensões de um cubo comprimento, largura e
Classificação:
altura são iguais.
Um prisma pode ser classificado de duas maneiras:
Fórmulas:
1- Quanto à base:
- Área Total: At = 6.a2
- Prisma triangular...........................................................a base é
um triângulo.
- Volume: V = a3
- Prisma quadrangular.....................................................a base é
um quadrilátero.
- Diagonal: D = a√3
- Prisma pentagonal........................................................a base é
um pentágono.
II) PIRÂMIDE: é um sólido geométrico que tem uma base
- Prisma hexagonal.........................................................a base é
e um vértice superior.
um hexágono.
E, assim por diante.
2- Quanta à inclinação:
- Prisma Reto: a aresta lateral forma com a base um
ângulo reto (90°).
- Prisma Obliquo: a aresta lateral forma com a base um
ângulo diferente de 90°.
Matemática 32
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APOSTILAS OPÇÃO
Classificação: Onde:
Uma pirâmide pode ser classificado de duas maneiras: St → é a área total
1- Quanto à base: Sl → é a área da superfície lateral
- Pirâmide triangular...........................................................a base é SB → é a área da base maior
um triângulo. Sb → é a área da base menor
- Pirâmide quadrangular.....................................................a base é
um quadrilátero. → Cálculo do volume do tronco de pirâmide.
- Pirâmide pentagonal........................................................a base é A fórmula para o cálculo do volume do tronco de pirâmide
um pentágono. é obtida fazendo a diferença entre o volume de pirâmide maior
- Pirâmide hexagonal.........................................................a base é e o volume da pirâmide obtida após a secção transversal que
um hexágono. produziu o tronco. Colocando em função de sua altura e das
E, assim por diante. áreas de suas bases, o modelo matemático para o volume do
tronco é:
2- Quanta à inclinação:
- Pirâmide Reta: tem o vértice superior na direção do
centro da base.
- Pirâmide Obliqua: o vértice superior está deslocado em Onde,
relação ao centro da base. V → é o volume do tronco
h → é a altura do tronco
SB → é a área da base maior
Sb → é a área da base menor
Fórmulas:
- Área da Base: 𝐴𝑏 = 𝑑𝑒𝑝𝑒𝑛𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑙í𝑔𝑜𝑛𝑜, como a base
pode ser qualquer polígono não existe uma fórmula fixa. Se a
base é um triângulo calculamos a área desse triângulo; se a
base é um quadrado calculamos a área desse quadrado, e
assim por diante.
- Área Lateral: 𝐴𝑙 =
𝑠𝑜𝑚𝑎 𝑑𝑎𝑠 á𝑟𝑒𝑎𝑠 𝑑𝑎𝑠 𝑓𝑎𝑐𝑒𝑠 𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑖𝑠
Matemática 33
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APOSTILAS OPÇÃO
Matemática 34
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APOSTILAS OPÇÃO
V) ESFERA Referências
IEZZI, Gelson – Matemática Volume Único
DOLCE, Osvalo; POMPEO, José Nicolau – Fundamentos da matemática elementar –
Vol 10 – Geometria Espacial, Posição e Métrica – 5ª edição – Atual Editora
www.brasilescola.com.br
Questões
Comentários
01. Resposta: B.
Em um cilindro equilátero temos que h = 2r e do enunciado
r = 5 cm.
h = 2r → h = 2.5 = 10 cm
- na figura acima podemos ver que o raio de um paralelo Al = 2.π.r.h
(r), a distância do centro ao paralelo ao centro da esfera (d) e Al = 2.π.5.10
o raio da esfera (R) formam um triângulo retângulo. Então, Al = 100π
podemos aplicar o Teorema de Pitágoras: R2 = r2 + d2.
- Área: A = 4.π.R2 02. Respostas: Al = 12π cm2, At = 20π cm2 e V = 12π cm3
Aplicação direta das fórmulas sendo r = 2 cm e h = 3 cm.
4
- Volume: V = . π. R3 Al = 2.π.r.h At = 2π.r(h + r) V = π.r2.h
3
Al = 2.π.2.3 At = 2π.2(3 + 2) V = π.22.3
Al = 12π cm2 At = 4π.5 V = π.4.3
Fuso Esférico:
At = 20π cm2 V = 12π cm2
03. Resposta: A.
O volume de um prisma é dado pela fórmula V = Ab.h, do
enunciado temos que a aresta da base é a = 4 cm e a altura h =
12 cm.
A área da base desse prisma é igual a área de um hexágono
regular
6.𝑎2 √3
Fórmula da área do fuso: 𝐴𝑏 =
4
𝛼. 𝜋. 𝑅2 6.42 √3 6.16√3
𝐴𝑓𝑢𝑠𝑜 = 𝐴𝑏 = 𝐴𝑏 = 𝐴𝑏 = 6.4√3 𝐴𝑏 = 24√3
4 4
90°
cm2
Raciocínio Lógico
Matemática 35
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APOSTILAS OPÇÃO
entre os objetos. Falar de Lógica durante séculos, era o mesmo que falar da
lógica aristotélica. Apesar dos enormes avanços da lógica,
Um raciocínio lógico requer consciência e capacidade de sobretudo a partir do século XIX, a matriz aristotélica persiste
organização do pensamento. É possível resolver problemas até aos nossos dias. A lógica de Aristóteles tinha objetivo
usando o raciocínio lógico. No entanto, ele não pode ser metodológico, a qual tratava de mostrar o caminho correto
ensinado diretamente, mas pode ser desenvolvido através da para a investigação, o conhecimento e a demonstração
resolução de exercícios lógicos que contribuem para a científica. O método científico que ele preconizava assentava
evolução de algumas habilidades mentais. nas seguintes fases:
Muitas empresas utilizam exercícios de raciocínio lógico 1. Observação de fenômenos particulares;
para testarem a capacidade dos candidatos. 2. Intuição dos princípios gerais (universais) a que os
mesmos obedeciam;
Raciocínio lógico matemático ou quantitativo 3. Dedução a partir deles das causas dos fenômenos
O raciocínio lógico matemático ou quantitativo é o particulares.
raciocínio usado para a resolução de alguns problemas e
exercícios matemáticos. Esses exercícios são Por este e outros motivos Aristóteles é considerado o pai
frequentemente usados no âmbito escolar, através de da Lógica Formal.
problemas matriciais, geométricos e aritméticos, para que A lógica matemática (ou lógica formal) estuda a lógica
os alunos desenvolvam determinadas aptidões. Este tipo de segundo a sua estrutura ou forma. A lógica matemática
raciocínio é bastante usado em áreas como a análise consiste em um sistema dedutivo de enunciados que tem como
combinatória. objetivo criar um grupo de leis e regras para determinar a
validade dos raciocínios. Assim, um raciocínio é considerado
- Raciocínio analítico (crítico) ou Lógica informal - é a válido se é possível alcançar uma conclusão verdadeira a partir
capacidade de raciocinar rapidamente através da percepção. de premissas verdadeiras.
Em concursos exigem bastante senso crítico do candidato e Em sentido mais amplo podemos dizer que a Lógica está
capacidade de interpretação, portanto exigem mecanismos relacionado a maneira específica de raciocinar de forma
próprios para a resolução das questões. O raciocínio analítico acertada, isto é, a capacidade do indivíduo de resolver
nada mais é que a avaliação de situações através de problemas complexos que envolvem questões matemáticas, as
interpretação lógica de textos. sequências de números, palavras, entre outros e de
desenvolver essa capacidade de chegar a validade do seu
Tipos de Raciocínio raciocínio.
Exemplos
Raciocínio Raciocínio Raciocínio
verbal - consiste espacial - remete abstrato -
01. (Câmara de Aracruz/ES – Agente Administrativo e
na capacidade de para a aptidão para responsável pelo
Legislativo – IDECAN) Analise a lógica envolvida nas figuras
apreensão e criar e manipular pensamento
a seguir.
estruturação de representações abstrato e a
elementos mentais visuais. Está capacidade para
verbais, relacionada com a determinar
culminando na capacidade de ligações
formação de visualização e de abstratas entre
significados e uma raciocinar em três conceitos através
ordem e relação dimensões. de ideias
entre eles. inovadoras.
A letra que substitui o sinal “?” é:
(A) O.
(B) R.
Vejamos um exemplo que roda pela internet e redes sociais, os (C) T.
quais são chamados de Desafios, os mesmos envolvem o (D) W.
“raciocínio” para chegarmos ao resultado:
Substituindo as letras pelas posições no alfabeto:
C - 3º posição do alfabeto / E - 5º posição do alfabeto / H -
8ºposição do alfabeto
L- 12º posição do alfabeto / G- 7º posição do alfabeto / S-
19º posição do alfabeto
I - 9º posição do alfabeto / K - 11º posição do alfabeto /
Qual será a letra?
Matemática 36
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APOSTILAS OPÇÃO
Matemática 37
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APOSTILAS OPÇÃO
Em diversas provas de concursos são empregados toda b) Terra é o maior planeta do sistema Solar. (F)
sorte de argumentos com os mais variados conteúdos: político,
religioso, moral e etc. Pode-se pensar na lógica como o estudo A maioria das proposições são proposições contingenciais,
da validade dos argumentos, focalizando a atenção não no ou seja, dependem do contexto para sua análise. Assim, por
conteúdo, mas sim na sua forma ou na sua estrutura. exemplo, se considerarmos a proposição simples:
Conceito de proposição “Existe vida após a morte”, ela poderá ser verdadeira (do
Chama-se proposição a todo conjunto de palavras ou ponto de vista da religião espírita) ou falsa (do ponto de vista
símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de da religião católica); mesmo assim, em ambos os casos, seu valor
sentido completo. Assim, as proposições transmitem lógico é único — ou verdadeiro ou falso.
pensamentos, isto é, afirmam, declaram fatos ou exprimem
juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou Classificação das proposições
entes. As proposições podem ser classificadas em:
Elas devem possuir além disso: 1) Proposições simples (ou atômicas): são formadas por
- um sujeito e um predicado; um única oração, sem conectivos, ou seja, elementos de
- e por último, deve sempre ser possível atribuir um valor ligação. Representamos por letras minusculas: p, q, r,... .
lógico: verdadeiro (V) ou falso (F). Exemplos:
Preenchendo esses requisitos estamos diante de uma O céu é azul.
proposição. Hoje é sábado.
Vejamos alguns exemplos:
A) Terra é o maior planeta do sistema Solar 2) Proposições compostas (ou moleculares): possuem
B) Brasília é a capital do Brasil. elementos de ligação (conectivos) que ligam as orações,
C) Todos os músicos são românticos. podendo ser duas, três, e assim por diante. Representamos por
letras maiusculas: P, Q, R, ... .
A todas as frases podemos atribuir um valor lógico (V ou Exemplos:
F). O ceu é azul ou cinza.
TOME NOTA!!! Se hoje é sábado, então vou a praia.
Uma forma de identificarmos se uma frase simples é ou
não considerada frase lógica, ou sentença, ou ainda Observação: os termos em destaque são alguns dos
proposição, é pela presença de: conectivos (termos de ligação) que utilizamos em lógica
- sujeito simples: "Carlos é médico"; matemática.
- sujeito composto: "Rui e Nathan são irmãos";
- sujeito inexistente: "Choveu" 3) Sentença aberta: quando não se pode atribuir um
- verbo, que representa a ação praticada por esse sujeito, valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a
e estar sujeita à apreciação de julgamento de ser verdadeira proposição!), portanto, não é considerada frase lógica. São
(V) ou falsa (F), caso contrário, não será considerada consideradas sentenças abertas:
proposição. a) Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou
ontem? – Fez Sol ontem?
Atenção: orações que não tem sujeito, NÃO são b) Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
consideradas proposições lógicas. c) Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue
a televisão.
Princípios fundamentais da lógica d) Frases sem sentido lógico (expressões vagas,
A Lógica matemática adota como regra fundamental três paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é verdadeira” (expressão
princípios1 (ou axiomas): paradoxal) – O cavalo do meu vizinho morreu (expressão
ambígua) – 2 + 3 + 7
Matemática 38
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APOSTILAS OPÇÃO
Matemática 39
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APOSTILAS OPÇÃO
(Fonte: http://www.colegioweb.com.br/nocoes-de-logica/tabela-verdade.html)
Matemática 40
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APOSTILAS OPÇÃO
(d)
p: A neve é azul. (F)
q: 7 é número ímpar. (V)
Exemplos V(p v q) = V(p) v V(q) = F v V = V
(a)
p: A neve é branca. (V) 4) Disjunção exclusiva ( v ): chama-se disjunção
q: 3 < 5. (V) exclusiva de duas proposições p e q, cujo valor lógico é
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = V ^ V = V verdade (V) somente quando p é verdadeira ou q é
verdadeira, mas não quando p e q são ambas verdadeiras
(b) e a falsidade (F) quando p e q são ambas verdadeiras ou
p: A neve é azul. (F) ambas falsas.
q: 6 < 5. (F) Simbolicamente: “p v q” (lê-se; “OU p OU q”; “OU p OU q,
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = F ^ F = F MAS NÃO AMBOS”).
Pela tabela verdade temos:
(c)
p: Pelé é jogador de futebol. (V)
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F)
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = V ^ F = F
(d)
p: A neve é azul. (F)
q: 7 é número ímpar. (V)
Para entender melhor vamos analisar o exemplo.
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = F ^ V = F
p: Nathan é médico ou professor. (Ambas podem ser
verdadeiras, ele pode ser as duas coisas ao mesmo tempo, uma
- O valor lógico de uma proposição simples “p” é indicado
condição não exclui a outra – disjunção inclusiva).
por V(p). Assim, exprime-se que “p” é verdadeira (V),
Podemos escrever:
escrevendo:
Nathan é médico ^ Nathan é professor
V(p) = V
q: Mario é carioca ou paulista (aqui temos que se Mario é
- Analogamente, exprime-se que “p” é falsa (F),
carioca implica que ele não pode ser paulista, as duas coisas
escrevendo:
não podem acontecer ao mesmo tempo – disjunção exclusiva).
V(p) = F
Reescrevendo:
Mario é carioca v Mario é paulista.
- As proposições compostas, representadas, por exemplo,
pelas letras maiúsculas “P”, “Q”, “R”, “S” e “T”, terão seus
Exemplos
respectivos valores lógicos representados por:
a) Plínio pula ou Lucas corre, mas não ambos.
V(P), V(Q), V(R), V(S) e V(T).
b) Ou Plínio pula ou Lucas corre.
3) Disjunção inclusiva – soma lógica – disjunção
5) Implicação lógica ou condicional (→): chama-se
simples (v): chama-se de disjunção inclusiva de duas
proposição condicional ou apenas condicional representada
proposições p e q a proposição representada por “p ou q”, cujo
por “se p então q”, cujo valor lógico é falsidade (F) no caso em
valor lógico é verdade (V) quando pelo menos uma das
que p é verdade e q é falsa e a verdade (V) nos demais
proposições, p e q, é verdadeira e falsidade (F) quando
casos.
ambas são falsas.
Simbolicamente: “p v q” (lê-se: “p OU q”).
Simbolicamente: “p → q” (lê-se: p é condição suficiente
Pela tabela verdade temos:
para q; q é condição necessária para p).
p é o antecedente e q o consequente e “→” é chamado de
símbolo de implicação.
Pela tabela verdade temos:
Exemplos
(a)
p: A neve é branca. (V) Exemplos
q: 3 < 5. (V) (a)
V(p v q) = V(p) v V(q) = V v V = V p: A neve é branca. (V)
q: 3 < 5. (V)
(b) V(p → q) = V(p) → V(q) = V → V = V
p: A neve é azul. (F)
q: 6 < 5. (F) (b)
V(p v q) = V(p) v V(q) = F v F = F p: A neve é azul. (F)
q: 6 < 5. (F)
V(p → q) = V(p) → V(q) = F → F = V
Matemática 41
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APOSTILAS OPÇÃO
(c)
p: Pelé é jogador de futebol. (V)
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F)
V(p → q) = V(p) → V(q) = V → F = F Juntando as informações temos que, P: (p ^ q) → ~r
(d) Continuando:
p: A neve é azul. (F)
q: 7 é número ímpar. (V) Q: É falso que João bebe ou Carlos dança, mas Luciana
V(p → q) = V(p) → V(q) = F → V = V estuda.
Matemática 42
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APOSTILAS OPÇÃO
p q ~q p ^~q ~ (p ^ ~q)
V V F F V
V F V V F
F V F F V 3ª Resolução) Resulta em suprimir a tabela verdade
F F V F V anterior as duas primeiras da esquerda relativas às
proposições simples componentes p e q. Obtermos então a
2ª Resolução) Vamos montar primeiro as colunas seguinte tabela verdade simplificada:
correspondentes a proposições simples p e q , depois traçar
colunas para cada uma dessas proposições e para cada um dos ~ (p ^ ~ q)
conectivos que compõem a proposição composta. V V F F V
p q ~ (p ^ ~ q) F V V V F
V V V F F F V
V F V F F V F
F V 4 1 3 2 1
F F
Referências
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu - Raciocínio
Depois completamos, em uma determinada ordem as lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
colunas escrevendo em cada uma delas os valores lógicos. ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – São Paulo:
p q ~ (p ^ ~ q) Nobel – 2002.
V V V V
V F V F ÁLGEBRA DAS PROPOSIÇÕES
F V F V
F F F F Propriedades da Conjunção: Sendo as proposições p, q e
r simples, quaisquer que sejam t e w, proposições também
1 1
simples, cujos valores lógicos respectivos são V (verdade) e
F(falsidade), temos as seguintes propriedades:
p q ~ (p ^ ~ q)
V V V F V
V F V V F
Matemática 43
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APOSTILAS OPÇÃO
Matemática 44
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APOSTILAS OPÇÃO
( )Certo ( )Errado
Respostas
A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela- 01. Resposta: Certo.
verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:
e F correspondem, respectivamente, aos valores lógicos
verdadeiro e falso. R Q P [P v (Q ↔ R) ]
Com base nessas informações e utilizando os conectivos V V V V V V V V
lógicos usuais, julgue o item subsecutivo. V V F F V V V V
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição V F V V V F F V
lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal
é igual a V F F F F F F V
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
( ) Certo ( ) Errado F F F F V F V F
03. Resposta: E.
Como já foi visto, a disjunção só é falsa quando as duas
proposições são falsas.
(A) Ou.
(B) E. 04. Resposta: Errado.
(C) Ou exclusivo. Temos que montar a tabela verdade de P = A∧B, assim
(D) Implicação (se...então).
(E) Bicondicional (se e somente se).
Matemática 45
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Matemática 46
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APOSTILAS OPÇÃO
Exemplos
01. Seja um argumento formado pelas seguintes
premissas: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. Se
Paula não fica em casa, então Marta vai à festa. Nem Rita foi à
festa, nem Paula ficou em casa. Portanto, de acordo com os valores lógicos atribuídos,
Sejam as seguintes premissas: podemos obter as seguintes conclusões: “Ana não vai à festa”;
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. “Marta vai à festa”; “Paula não fica em casa” e “Rita não foi
P2: Se Paula não fica em casa, então Marta vai à festa. à festa”.
P3: Nem Rita foi à festa, nem Paula ficou em casa.
Inicialmente, reescreveremos a última premissa “P3” na 02. Seja um argumento formado pelas seguintes
forma de uma conjunção, já que a forma “nem A, nem B” pode premissas: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista.
ser também representada por “não A e não B”. Portanto, Saulo é síndico ou Eduardo é eletricista. Paulo é porteiro se, e
teremos: somente se, Saulo não é síndico.
Então, sejam as premissas: Sejam as seguintes premissas:
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. P1: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista.
P2: Se Paula não fica em casa, então Marta vai à festa. P2: Saulo é síndico ou Eduardo é eletricista.
P3: Rita não foi à festa e Paula não ficou em casa. P3: Paulo é porteiro se, e somente se, Saulo não é síndico.
Lembramos que, para que esse argumento seja válido, Lembramos que, para que esse argumento seja válido,
todas as premissas que o compõem deverão ser todas as premissas que o compõem deverão ser,
necessariamente verdadeiras. necessariamente, verdadeiras.
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa: (V) P1: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista: (V)
P2: Se Paula não fica em casa, então Marta vai à festa: (V) P2: Saulo é síndico ou Eduardo é eletricista: (V)
P3: Rita não foi à festa e Paula não ficou em casa: (V) P3: Paulo é porteiro se, e somente se, Saulo não é síndico:
(V)
Nesse caso, não há um “ponto de referência”, ou seja, não Caso o argumento não possua uma proposição simples
temos uma proposição simples que faça parte desse (ponto de referência inicial) ou uma conjunção ou uma
argumento; logo, tomaremos como verdade a conjunção da disjunção exclusiva, então as deduções serão iniciadas pela
premissa “P3”, já que uma conjunção é considerada verdadeira bicondicional, caso exista.
somente quando suas partes forem verdadeiras. Assim, Sendo P3 uma bicondicional, e sabendo-se que toda
teremos a confirmação dos seguintes valores lógicos bicondicional assume valoração verdadeira somente
verdadeiros: “Rita não foi à festa” (1º passo) e “Paula não ficou quando suas partes são verdadeiras ou falsas,
em casa” (2º passo). simultaneamente, então consideraremos as duas partes da
P1: Se Ana vai à festa, então Marta não vai à festa. bicondicional como sendo verdadeiras (1º e 2º passos), por
P2: Se Paula não fica em casa, então Marta vai à festa. dedução.
P1: Se Pedro é pintor, então Eduardo não é eletricista.
Matemática 47
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APOSTILAS OPÇÃO
V V V V V V V F V
V V F V V V V V V F
V F V V F F F V F V
V F F V F F F V V F
F V V F V V V F F V
(Fonte: http://www.marilia.unesp.br) F V F F V V V V V F
1º 2º 1º 4º 1º 3º 1º 1º
Matemática 48
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APOSTILAS OPÇÃO
V V V V V V F V F F V V
V V F V V V V V V V F F
3.7 – Dilema construtivo (DC)
V F V V F F F F V F V V
V F F V F F F F V V V F
F V V F V V F V F F V V
3.8 – Dilema destrutivo (DD)
F V F F V V V V V V F F
F F V F V F V F V F V V
F F F F V F V F V V F F
3.9 – Silogismo disjuntivo (SD)
1º 2º 1º 4º 1º 3º 1º 5º 1º 1º caso:
2º caso: Importação
2º caso:
Matemática 49
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APOSTILAS OPÇÃO
Nós podemos aplicar a soma lógica em três casos: 3º caso - aplicam-se os procedimentos do 2o caso em,
1º caso - quando a condicional conclusiva é formada pelas apenas, uma parte das premissas do argumento.
proposições simples que aparecem apenas uma vez no Exemplo
conjunto das premissas do argumento. Se Nivaldo não é corintiano, então Márcio é palmeirense.
Exemplo Se Márcio não é palmeirense, então Pedro não é são-paulino.
Dado o argumento: Se chove, então faz frio. Se neva, então Se Nivaldo é corintiano, Pedro é são-paulino. Se Nivaldo é
chove. Se faz frio, então há nuvens no céu .Se há nuvens no corintiano, então Márcio não é palmeirense.
céu ,então o dia está claro. Então as premissas que formam esse argumento são:
Temos então o argumento formado pelas seguintes P1: Se Nivaldo não é corintiano, então Márcio é
premissas: palmeirense.
P1: Se chove, então faz frio. P2: Se Márcio não é palmeirense, então Pedro não é são-
P2: Se neva, então chove. paulino.
P3: Se faz frio, então há nuvens no céu. P3: Se Nivaldo é corintiano, Pedro é são-paulino.
P4: Se há nuvens no céu, então o dia está claro. P4: Se Nivaldo é corintiano, então Márcio não é
palmeirense.
Vamos denotar as proposições simples: Denotando as proposições temos:
p: chover p: Nivaldo é corintiano
q: fazer frio q: Márcio é palmeirense
r: nevar r: Pedro é são paulino
s: existir nuvens no céu Efetuando a soma lógica:
t: o dia está claro
Montando o produto lógico teremos:
Matemática 50
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APOSTILAS OPÇÃO
Matemática 51
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APOSTILAS OPÇÃO
Matemática 52
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
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APOSTILAS OPÇÃO
Conhecimentos Pedagógicos 1
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APOSTILAS OPÇÃO
encaminha fortemente o educador e esse aprofundamento, na grupo social e interesse por conhecer diferentes formas de
medida em que é impelido a encontrar respostas aos expressão cultural.
questionamentos decorrentes da adoção de uma postura A esse respeito: A aprendizagem e consequentemente e
investigativa. simultaneamente, a avaliação devem ser orientadas e dirigidas
pelo currículo - como ideia de princípios e marco conceitual de
Uma nova conduta do professor no processo de referência que concretiza e práticas específicas a educação
avaliação como projeto social e político - e pelo ensino, o qual deve
inspirar-se nele.
Considerando a importância do papel do professor neste O professor pode eleger temas que possibilitem tanto o
processo avaliativo. Alguns fatores são levados em conhecimento de hábitos e costumes socioculturais diversos
consideração como: procurar identificar como a criança quanto à articulação com aqueles que as crianças conhecem,
chegou à escola, que conhecimentos prévios ela traz, como está assim poderão aprender estabelecer relações entre o seu dia-
seu desenvolvimento, fazendo um diagnóstico de forma lúdica, a-dia e as vivências socioculturais, históricas e geográficas de
baseadas em brincadeiras, tornando, portanto algo agradável outras pessoas, grupos ou gerações. O conhecimento da
para a criança. criança na educação infantil é construído a partir da vivência
A função do educador infantil é de mediador da delas. Portanto, é interessante explorar várias formas de
aprendizagem, mediador entre o que a criança já conhece seu trabalhar com as crianças o mesmo conteúdo.
desenvolvimento real, do que pode saber, ou seja, seu O referencial curricular considera de forma significativa,
potencial. Tal é a importância de seu papel e a importância de que o professor trabalhe utilizando algumas estratégias de
sua qualificação, pois sua função muda de perspectiva, não ensino para facilitar a construção de novos conhecimentos
sendo mais a fonte, mas o articulador dos diversos ambientes pelas crianças. São construções muito particulares e próprias
de aprendizagem. do jeito de as crianças serem e estarem no mundo.
Tendo em vista o constante aumento de conhecimento e os É fundamental considerar esses conhecimentos, pois isso
novos contextos, as aprendizagens mais relevantes que o permite ao professor planejar uma sequência de atividades
educador deve mediar e avaliar são as relativas às estruturas que possibilite uma aprendizagem significativa para as
cognitivas, afetivas e sociais da criança: sua autoestima, a crianças, nas quais elas possam reconhecer os limites de seus
confiança em sua capacidade para conhecer e fazer, o respeito conhecimentos, ampliá-los e reformulá-los.
às diferenças, a prática democrática, os valores humanos, Pode-se citar como exemplo de estratégias tanto para
entre outros, que dão sentido ao enorme e admirável mundo aquisição de conhecimento do aluno, como para integrar as
de conhecimentos e oportunidades que se abrem às crianças várias áreas do conhecimento o trabalho com projetos cujo
de hoje. objetivo é fazer relações entre aquilo que se aprende
Piaget e Vygotsky alertam sobre a importância de teoricamente e a prática, tornar a aprendizagem significativa e
interferências mediadoras significativas para que o aprendiz relevante, ir além dos conteúdos programáticos, permitindo o
tenha melhores oportunidades de desenvolvimento conhecimento e não só o acesso às informações.
intelectual e moral. Conceito de projetos segundo os Parâmetros Curriculares
Para Piaget (1997) a concepção de aprendizagem Nacionais: “O projeto é uma estratégia de trabalho em equipe
pressupõe desequilíbrio, conflito, reflexão e resolução de que favorece a articulação entre os diferentes conteúdos na
problemas. Cabe aos adultos mediar à aquisição de solução de dado problema.” (Hernandez, 2000, p. 22).
ferramentas culturais das crianças e jovens que lhes Segundo Hernandez (2000) o tema dos projetos deve
possibilitem refletir sobre suas experiências, articulando partir do interesse dos alunos, pois ele acredita que todas as
ideias, construindo compreensões cada vez mais ricas acerca coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que se
da realidade. Vygotsky (1995) percebe a criança como sujeito tenha uma dúvida inicial e que se comece a pesquisar e buscar
do conhecimento, o homem não apenas acesso direto aos evidências sobre o assunto.
objetos do conhecimento. Esse acesso é mediado por Entretanto, um projeto deve fazer parte da programação
elementos mediadores dos quais se dá a transposição dos da escola, possibilitando a diversificação de ações e vivências,
significados do mundo real para o seu pensamento. a fim de explorar atitudes e desenvolver competências.
Portanto ambos fundamentam e defendem a importância Durante a execução de um projeto, são elaboradas
da mediação dos outros, dos adultos e das demais crianças com pesquisas, comprovação de hipóteses, resolução de problemas
quem interage e fundamentalmente, do professor, uma vez de desafios que instrumentalizam professores e alunos,
que este é quem se põe, como profissional, a serviço da visando à melhoria do trabalho desenvolvido em classe.
aprendizagem da criança, sendo insubstituível na construção Dessa forma, o aluno desenvolve suas capacidades que,
do conhecimento. posteriormente, poderão resultar em atitudes críticas,
pertinentes ao cidadão integral, capacitado na construção de
Procedimentos didáticos numa abordagem formativa seu conhecimento.
A avaliação é pertinente desde o início do projeto, cabendo
É importante selecionar o enfoque que será dado a um ao professor verificar se houve êxito e o que precisará ser
determinado assunto na educação infantil, porque existem retomado. É interessante também avaliar o projeto como um
inúmeras possibilidades para o trabalho. Mas o importante é todo, a participação e o interesse dos alunos, como forma de
que o educador tenha claro o enfoque para sua turma, reconhecer os pontos positivo e negativos do trabalho
trabalhando os conteúdos junto às crianças. realizado.
Os Referenciais Curriculares para educação infantil A avaliação deve ser compartilhada com as crianças para
orientam que algumas atividades devem ser trabalhas com as motivá-las e ajudá-las a conhecer suas próprias possibilidades
crianças constantemente, como, participação em atividades e necessidades. Deve ser compartilhada com a família, para
que envolvam histórias, brincadeiras, jogos e canções que que conheçam e valorizem o progresso de seus filhos, bem
digam respeito às tradições culturais de sua comunidade e de como as conquistas fora da escola. O professor deve
outras. compartilhar a avaliação dos educandos e sua autoavaliação
Conhecimento de modo de ser, viver e trabalhar de alguns com a equipe pedagógica, para obterem auxilio em suas
grupos do presente e do passado. Identificação de alguns dificuldades e dúvidas.
papéis sociais existentes em seus grupos de convívio, dentro e A avaliação necessita ser um ato acolhedor, no sentido de
fora da instituição, valorização do patrimônio cultural do seu aceitar os alunos como realmente são. Crianças capazes, com
Conhecimentos Pedagógicos 2
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APOSTILAS OPÇÃO
sucessos e conquistas, mas, também o professor como ele pesquisa e desenvolvimento profissional, por falta de
realmente é cheio de alegrias, vontades, ideias e frustrações, esclarecimentos.
para, a partir daí, diagnosticar a situação de aprendizagem e A tarefa de fazer registros sobre o cotidiano escolar torna
tomar decisões em vista da qualidade do ensino, do possível o distanciamento da ação e do que está escriturado,
desenvolvimento integral do aluno, do sucesso da prática ajudando o educador a planejar, revisar e refletir diante da sua
docente. prática. Esta reflexão é um ponto importante para análise das
Neste sentido Luckesi afirma que: Defino a avaliação da competências profissionais, permitindo reajustes
aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a permanentes, contribuindo para a identificação de pontos
avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. positivos e negativos.
Para compreender isso, importa distinguir avaliação de Citando Miguel Zabalza, "sem olhar para trás, é impossível
julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do seguir em frente". É isto que os registros podem proporcionar.
errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A O valor formativo dos registros acontece a partir do
avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só momento em que recodificamos a experiência narrada,
então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte reconstruindo-a. Assim, ele oferece também dupla perspectiva
de mudança, se necessário. A avaliação, como ato diagnóstico, sobre o trabalho, a sincrônica e a diacrônica, de forma que se
tem por objetivo a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não pode avaliar o que está acontecendo diariamente, bem como o
a seleção (que obrigatoriamente conduz à exclusão). O acumulado durante um período mais longo.
diagnóstico tem por objetivo aquilatar coisas, atos, situações, Ao apresentar uma estrutura narrativa flexível ao modo de
pessoas, tendo em vista tomar decisões no sentido de criar escrita do autor, aumentam-se as possibilidades de
condições para a obtenção de uma maior satisfatoriamente contribuição da documentação de forma rica e diversificada
daquilo que se esteja buscando ou construindo. (Luckesi, para cada educador. As narrativas estabelecem alguns
2006). padrões:
- A solicitação (corresponde a orientação que se dá do que
Registros Escolares2 fazer e de como fazer), ela pode ser feita pelo orientador da
instituição ou por conta própria;
Existem várias definições para nos referirmos à técnica de - A periodicidade (as anotações costumam ser um árduo e
documentação: registros de aulas, histórias, diários, relatórios, custoso trabalho em questão de tempo e esforço pessoal, no
observações, etc. Apesar de não terem o mesmo processo e de entanto, não precisam ser feitas diariamente, mas regulares,
não serem técnicas iguais, elas descrevem pontos relevantes sistemáticas, garantindo assim a continuidade dos fatos e a
feitos através da observação e do registro do processo logicidade dos registros);
educacional. - A quantidade (não importa o número de páginas que
tenha seu relato, mas sim informações importantes, que
Para que entendamos a definição dos registros escolares, permitam uma reflexão sobre o conteúdo);
algumas observações são feitas: - O conteúdo (mais reflexivo do que descritivo, mais
- Os registros não têm obrigatoriedade de serem feitos qualitativo do que quantitativo, também pode ficar a dispor da
diariamente; solicitação ou da orientação que é dada);
- Devem ser feitos pelos próprios professores, em forma de - A duração (não existem limitações de tempo e espaço
narração; para realização dos registros).
- O conteúdo da narração é de forma livre e espontânea.
Com tais relatos, disponibiliza-se material de acervo
Assim, o registro deve ser uma reflexão da própria prática pedagógico e cultural de épocas que poderão ser vistas e
de ensino, tendo como principal foco a abordagem biográfica. estudadas por outros especialistas da educação, tornando-se
Para que esta reflexão aconteça, deve-se ter em mente que o material rico de pesquisa, servindo como proposta para
autor precisa de uma base teórica em fundamentos e que reflexão e construção de novas técnicas pedagógicas. A tarefa
continue atualizando-se em meio às novas tecnologias. Rosa3 de construção dos relatos compreende o contexto institucional
destaca: "Muitos indivíduos vão para o mercado de trabalho e e relacional das atividades escolares como referenciais para a
permanecem bastante distanciados dos programas de compreensão dos processos envolvidos no espaço escolar.
atualização, ficando a troca nos locais de trabalho, e os livros A necessidade em falar sobre o registro e aflorar a
didáticos como fonte exclusiva para adquirir novos discussão apontando os valores e os benefícios do que o
conhecimentos". mesmo promove no desenvolvimento profissional,
Para Mizukami4 a base de conhecimento para o ensino é aperfeiçoando e mudando a prática docente, apresenta-se à
abrangente," consiste de um corpo de compreensões, medida que o compartilhar pensamentos utilizando a escrita
conhecimentos, habilidades e disposições necessárias" para do outro para fazer a leitura, permite alcançar a compreensão
que o professor possa exercer sua profissão, promovendo sobre outra perspectiva, de modo que a repercussão venha a
aprendizagens significativas, deve-se investir em ações transformar estas práticas cada vez mais inclusivas perante as
formativas a partir de práticas reflexivas e investigativas na diversidades existentes no ambiente escolar.
formação inicial do professor. Defender o conceito de que é extremamente importante
Dentro desta perspectiva, faz-se notar a enorme que a escola possa oferecer espaços e oportunidades para a
importância da história escolar da criança, como esta se troca de experiências, confronto de ideias, através da
construiu nas relações com professores, corpo diretivo e exposição da escrita, lembrar que ao registrar suas reflexões,
colegas. o professor torna-se autor do que pensa e em consequência
Os estudos sobre os registros escolares são componentes autor do seu jeito de fazer.
que atualmente sofrem defasagem por parte dos educadores, A coragem para enfrentar desafios e mudar posturas
os quais não percebem sua importância como instrumento de enraizadas é o obstáculo que o docente precisa aprender a
2 Rezende, Márcia Ambrósio Rodrigues. A Relação Registro/Avaliação no Ciclo 3 Zabalza, Miguel A. Diário de Aula: Um instrumento de pesquisa e
da Juventude: Possibilidades e Limites na Construção de uma Prática Educativa desenvolvimento profissional. Zabalza, Miguel; trad. Ernani Rosa. - Porto Alegre:
Inovadora Belo Horizonte: 2004. Faculdade de Educação, Universidade Federal de Artmed, 2004.
Minas Gerais Orientadora: Ângela Imaculada Loureiro de F. Dalben. 4 Mizukami, M. G. N. (2004). Aprendizagem da docência: algumas
Conhecimentos Pedagógicos 3
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APOSTILAS OPÇÃO
vencer. Como dizia o grande educador Paulo Freire, “a gente Na realidade, apesar do aumento significativo do número
pensa melhor quando pensa a partir do que faz, da prática”. de trabalhadores, os homens foram, em parte, substituídos no
trabalho pelas mulheres e pelas crianças, já que a lei fabril
Portanto, deve-se pensar no registro como ferramenta exigia duas turmas trabalhando: uma turma de seis horas e
metodológica do professor, um instrumento de formação outra de quatro, ou cada uma, cinco horas apenas. Mas os pais
continua. Pior fim, o registro constituí uma ferramenta que não queriam vender o tempo parcial das crianças mais barato
permite uma análise crítica e um redimensionamento do do que vendiam antes o tempo integral, mesmo que as
trabalho pedagógico. A construção do discurso sobre a condições de trabalho fossem péssimas. A passagem seguinte
realidade, expressa em narrativas sequenciais possibilita uma evidencia a precariedade do trabalho e a necessidade de
tomada de decisão consciente levando ao aprimoramento da sucumbir aos ditames do capital: “[...] o capital achava nelas, as
prática pedagógica. mulheres e moças despidas, muitas vezes em conjunto com
homens, perfeitamente de acordo com seu código moral”.
Questões O nascimento da indústria moderna alterou
profundamente a estrutura social vigente, modificando os
01. É INCORRETO afirmar que a relação professor‐aluno hábitos e costumes das famílias, as mães operárias que não
no processo de uma aprendizagem significativa consiste: tinham com quem deixar seus filhos, utilizavam o trabalho das
(A) Na relação empática do professor e alunos. conhecidas mães mercenárias. Essas, ao optarem pelo não
(B) Na sua capacidade de ouvir e refletir sobre seus alunos. trabalho nas fábricas, vendiam seus serviços para abrigarem e
(C) Unicamente na absorção de informação por parte dos cuidarem dos filhos de outras mulheres.
alunos. Em função da crescente participação dos pais no trabalho
(D) Na criação de pontes entre o seu conhecimento e o dos das fábricas, fundições e minas de carvão, surgiram outras
alunos. formas de arranjos mais formais de serviços de atendimento
das crianças. Eram organizados por mulheres da comunidade
02. Julgue a afirmação abaixo: que, na realidade, não tinham uma proposta instrucional
A tarefa de fazer registros sobre o cotidiano escolar torna formal, mas adotavam atividades de canto e de memorização
impossível o distanciamento da ação e do que está escriturado, de rezas. As atividades relacionadas ao desenvolvimento de
ajudando o educador a planejar, revisar e refletir diante da sua bons hábitos de comportamento e de internalização de regras
prática. morais eram reforçadas nos trabalhos dessas voluntárias.
( ) Certo ( ) Errado Criou-se uma nova oferta de emprego para as mulheres, mas
aumentaram os riscos de maus tratos às crianças, reunidas em
Gabarito maior número, aos cuidados de uma única, pobre e
despreparada mulher. Tudo isso, aliado a pouca comida e
01.C / 02.Errado higiene, gerou um quadro caótico de confusão, que terminou
no aumento de castigos e muita pancadaria, a fim de tornar as
crianças mais sossegadas e passivas. Mais violência e
A organização e mortalidade infantil.
A preocupação das famílias pobres era sobreviver, sendo
planejamento do espaço na assim, os maus tratos e o desprezo pelas crianças tornaram-se
educação infantil aceitos como regra e costume pela sociedade de um modo
geral. As mazelas contra a infância se tornaram tão comuns
que, por filantropia, algumas pessoas resolveram tomar para
si a tarefa de acolher as crianças desvalidas que se
A) A história da Educação Infantil
encontravam nas ruas. A sociedade aplaudiu, uma vez que
todos queriam ver as ruas limpas do estorvo e da sujeira
Na Europa, com a transição do feudalismo para o
provocados pelas crianças abandonadas.
capitalismo, em que houve a passagem do modo de produção
As primeiras instituições na Europa e Estados Unidos
doméstico para o sistema fabril, e, consequentemente, a
tinham como objetivos cuidar e proteger as crianças enquanto
substituição das ferramentas pelas máquinas, além da
às mães saíam para o trabalho. Desta maneira, sua origem e
substituição da força humana pela força motriz, provocando
expansão como instituição de cuidados à criança estão
toda uma reorganização da sociedade. O enorme impacto
associadas à transformação da família, de extensa para
causado pela revolução industrial fez com que toda a classe
nuclear.
operária se submetesse ao regime da fábrica e das máquinas.
Sua origem, na sociedade ocidental, de acordo com Didonet
Desse modo, essa revolução possibilitou a entrada em massa
(2001)6, baseia-se no trinômio: mulher-trabalho-criança. As
da mulher no mercado de trabalho, alterando a forma da
creches, escolas maternais e jardins de infância tiveram,
família cuidar e educar seus filhos.
somente no seu início, o objetivo assistencialista, cujo enfoque
Marx (1986)5, ao discutir a apropriação pelo capital das
era a guarda, higiene, alimentação e os cuidados físicos das
forças de trabalho suplementares, enfatiza que a maquinaria
crianças.
permitiu o emprego de trabalhadores sem força muscular e
Apesar de seu início estar mais voltado para as questões
com membros mais flexíveis, o que possibilitou ao capital
assistenciais e de custódia, Kuhlmann (2001)7 ressalta que
absorver as mulheres e as crianças nas fábricas. A maquinaria
essas instituições se preocuparam com questões não só de
estabeleceu um meio de diversificar os assalariados,
cuidados, mas de educação, visto se apresentarem como
colocando, nas fábricas, todos os membros da família do
pedagógicas já em seu início. Exemplifica sua defesa com a
trabalhador, independentemente do sexo e da idade de cada
“Escola de Principiantes” ou escola de tricotar, criada pelo
um. Se, até então, o trabalhador vendia somente sua própria
pastor Oberlin, na França em meados de 1769, para crianças
força de trabalho, passou a vender a força da mulher e dos
de dois a seis anos de idade. Esse pastor criou apenas um
filhos.
programa de passeios, trabalhos manuais e histórias contadas
5 MARX, Karl. O Capital. l.1, v.1. São Paulo: Bertrand Brasil-Difel, 1986. 7 KUHLMANN JR., Moisés. O jardim de infância e a educação das crianças
6 DIDONET, Vital. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a pobres: final do século XIX, início do século XX. In: MONARCHA, Carlos, (Org.).
creche, um bom começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educação da infância brasileira: 1875- 1983. Campinas, SP: Autores Associados,
Educacionais. v 18, n. 73. Brasília, 2001. 2001.
Conhecimentos Pedagógicos 4
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APOSTILAS OPÇÃO
com gravuras, nos quais suas escolas de tricô tinham como ser de tempo integral; para os filhos de operárias de baixa
objetivo, por meio do trabalho de mulheres da comunidade, renda, tinha que ser gratuita ou cobrar muito pouco; ou para
tomar conta de crianças, ensinando-lhes a ler a bíblia e a cuidar da criança enquanto a mãe estava trabalhando fora de
tricotar. De acordo com seus objetivos, nesses espaços, as casa, tinha que zelar pela saúde, ensinar hábitos de higiene e
crianças deveriam aprender diferentes habilidades, como alimentar a criança. A educação permanecia assunto de
adquirir hábitos de obediência, bondade, identificar as letras família. Essa origem determinou a associação creche, criança
do alfabeto, pronunciar bem as palavras e assimilar noções de pobre e o caráter assistencial da creche.
moral e religião. É interessante ressaltar que, ao longo das décadas,
Do ponto de vista histórico, a própria literatura traz o arranjos alternativos foram se constituindo no sentido de
jardim de infância como uma instituição exclusivamente atender às crianças das classes menos favorecidas. Uma das
pedagógica e que, desde sua origem, teve pouca preocupação instituições brasileiras mais duradouras de atendimento à
com os cuidados físicos das crianças. No entanto, vale ressaltar infância, que teve seu início antes da criação das creches, foi a
que o primeiro Jardim de Infância, criado, em meados de 1840 roda dos expostos ou roda dos excluídos. Esse nome provém
em Blankenburgo, por Froebel, tinha uma preocupação não só do dispositivo onde se colocavam os bebês abandonados e era
de educar e cuidar das crianças, mas de transformar a composto por uma forma cilíndrica, dividida ao meio por uma
estrutura familiar de modo que as famílias pudessem cuidar divisória e fixado na janela da instituição ou das casas de
melhor de seus filhos. misericórdia. Assim, a criança era colocada no tabuleiro pela
Os estudos que atribuem aos Jardins de Infância uma mãe ou qualquer outra pessoa da família; essa, ao girar a roda,
dimensão educacional e não assistencial, como outras puxava uma corda para avisar a rodeira que um bebê acabava
instituições de educação infantil, deixam de levar em conta as de ser abandonado, retirando-se do local e preservando sua
evidências históricas que mostram uma estreita relação entre identidade. Por mais de um século a roda de expostos foi à
ambos os aspectos: a que a assistência é que passou, no final única instituição de assistência à criança abandonada no Brasil
do século XIX, a privilegiar políticas de atendimento à infância e, apesar dos movimentos contrários a essa instituição por
em instituições educacionais e o Jardim de Infância foi uma parte de um segmento da sociedade, foi somente no século XX,
delas, assim como as creches e escolas maternais, de acordo já em meados de 1950, que o Brasil efetivamente extinguiu-a,
com Kuhlmann (1998)8. sendo o último país a acabar com o sistema da roda dos
A partir da segunda metade do século XIX, o quadro das enjeitados.
instituições destinadas à primeira infância era formado Ainda no final do século XIX, período da abolição da
basicamente da creche e do jardim de infância ao lado de escravatura no país, quando se acentuou a migração para as
outras modalidades educacionais, que foram absorvidas como grandes cidades e o início da República, houve iniciativas
modelos em diferentes países. isoladas de proteção à infância, no sentido de combater os
altos índices de mortalidade infantil. Mesmo com o trabalho
B) A educação das crianças: a particularidade desenvolvido nas casas de Misericórdia, por meio da roda dos
brasileira expostos, um número significativo de creches foi criado não
pelo poder público, mas exclusivamente por organizações
Diferentemente dos países europeus, no Brasil, as filantrópicas. Se, por um lado, os programas de baixo custo,
primeiras tentativas de organização de creches, surgiram com voltados para o atendimento às crianças pobres, surgiam no
um caráter assistencialista, com o intuito de auxiliar as sentido de atender às mães trabalhadoras que não tinham
mulheres que trabalhavam fora de casa e as viúvas onde deixar seus filhos, a criação dos jardins de infância foi
desamparadas. Outro elemento que contribuiu para o defendida, por alguns setores da sociedade, por acreditarem
surgimento dessas instituições foram as iniciativas de que os mesmos trariam vantagens para o desenvolvimento
acolhimento aos órfãos abandonados que, apesar do apoio da infantil, ao mesmo tempo foi criticado por identificá-los com
alta sociedade, tinham como finalidade esconder a vergonha instituições europeias.
da mãe solteira, já que as crianças eram sempre filhos de As tendências que acompanharam a implantação de
mulheres da corte, pois somente essas tinham do que se creches e jardins de infância, no final do século XIX e durante
envergonhar e motivo para se descartar do filho indesejado. as primeiras décadas do século XX no Brasil, foram: a jurídico-
Numa sociedade patriarcal, a ideia era criar uma solução policial, que defendia a infância moralmente abandonada, a
para os problemas dos homens, ou seja, retirar dos mesmos a médico-higienista e a religiosa, ambas tinham a intenção de
responsabilidade de assumir a paternidade. Considerando combater o alto índice de mortalidade infantil tanto no interior
que, nessa época, não se tinha um conceito bem definido sobre da família como nas instituições de atendimento à infância. Na
as especificidades da criança, a mesma era concebida como um realidade, cada instituição apresentava as suas justificativas
objeto descartável, sem valor intrínseco de ser humano, para a implantação de creches, asilos e jardins de infância onde
conforme defendido por Rizzo (2003)9. seus agentes promoveram a constituição de associações
Fatores como o alto índice de mortalidade infantil, a assistenciais privadas.
desnutrição generalizada e o número significativo de Devido a muitos fatores, como o processo de implantação
acidentes domésticos, fizeram com que alguns setores da da industrialização no país, a inserção da mão-de-obra
sociedade, dentre eles os religiosos, os empresários e feminina no mercado de trabalho e a chegada dos imigrantes
educadores, começassem a pensar num espaço de cuidados da europeus no Brasil, os movimentos operários ganharam força.
criança fora do âmbito familiar. De maneira que foi com essa Eles começaram a se organizar nos centros urbanos mais
preocupação, ou com esse problema, que a criança começou a industrializados e reivindicavam melhores condições de
ser vista pela sociedade e com um sentimento filantrópico, trabalho; dentre estas, a criação de instituições de educação e
caritativo, assistencial é que começou a ser atendida fora da cuidados para seus filhos.
família. Os donos das fábricas, por seu lado, procurando diminuir a
Enquanto para as famílias mais abastadas pagavam uma força dos movimentos operários, foram concedendo certos
babá, as pobres se viam na contingência de deixar os filhos benefícios sociais e propondo novas formas de disciplinar seus
sozinhos ou colocá-los numa instituição que deles cuidasse. trabalhadores. Eles buscavam o controle do comportamento
Para os filhos das mulheres trabalhadoras, a creche tinha que dos operários, dentro e fora da fábrica. Para tanto, vão sendo
8 KUHLMANN JR., Moisés. Infância e educação infantil: uma abordagem 9 RIZZO, Gilda. Creche: organização, currículo, montagem e funcionamento. 3.
histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
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criadas vilas operárias, clubes esportivos e também creches e das crianças. Serviu ainda como base para a construção de uma
escolas maternais para os filhos dos operários. O fato dos filhos nova forma de olhar a criança: uma criança com direito de ser
das operárias estarem sendo atendidos em creches, escolas criança. Direito ao afeto, direito de brincar, direito de querer,
maternais e jardins de infância, montadas pelas fábricas, direito de não querer, direito de conhecer, direito de sonhar.
passou a ser reconhecido por alguns empresários como Isso quer dizer que são atores do próprio desenvolvimento.
vantajoso, pois mais satisfeitas, as mães operárias produziam Nos anos seguintes à aprovação do Estatuto da Criança e
melhor. do Adolescente, entre os anos de 1994 a 1996, foi publicado
Ao longo das décadas, as poucas conquistas não se fizeram pelo Ministério da Educação uma série de documentos
sem conflitos. Com o avanço da industrialização e o aumento importantes intitulados: “Política Nacional de Educação
das mulheres da classe média no mercado de trabalho, Infantil”. Tais documentos estabeleceram as diretrizes
aumentou a demanda pelo serviço das instituições de pedagógicas e de recursos humanos com o objetivo de
atendimento à infância. expandir a oferta de vagas e promover a melhoria da qualidade
de atendimento nesse nível de ensino: “Critérios para um
C) A Educação Infantil e a Legislação brasileira atendimento em creches que respeite os direitos
fundamentais das crianças”, que discute a organização e o
Verifica-se que, até meados do final dos anos setenta, funcionamento interno dessas instituições; “Por uma política
pouco se fez em termos de legislação que garantisse a oferta de formação do profissional de educação infantil”, que
desse nível de ensino. Já na década de oitenta, diferentes reafirma a necessidade e a importância de um profissional
setores da sociedade, como organizações não- qualificado e um nível mínimo de escolaridade para atuar nas
governamentais, pesquisadores na área da infância, instituições de educação infantil; “Educação infantil:
comunidade acadêmica, população civil e outros, uniram bibliografia anotada” e “Propostas pedagógicas e currículo em
forças com o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre o educação infantil”. Esses documentos foram importantes no
direito da criança a uma educação de qualidade desde o sentido de garantir melhores possibilidades de organização do
nascimento. trabalho dos professores no interior dessas instituições.
Do ponto de vista histórico, foi preciso quase um século Além da Constituição Federal de 1988, do Estatuto da
para que a criança tivesse garantido seu direito à educação na Criança e do Adolescente de 1990, destaca-se a Lei de
legislação, foi somente com a Carta Constitucional de 1988 que Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que, ao
esse direito foi efetivamente reconhecido. tratar da composição dos níveis escolares, inseriu a educação
De acordo com Bittar, Silva e Mota (2003)10 o esforço infantil como primeira etapa da Educação Básica. Essa Lei
coletivo dos diversos segmentos visava assegurar na define que a finalidade da educação infantil é promover o
Constituição, os princípios e as obrigações do Estado com as desenvolvimento integral da criança até 5 (cinco) anos de
crianças. Assim, foi possível sensibilizar a maioria dos idade, complementando a ação da família e da comunidade. De
parlamentares e assegurar na Constituição brasileira o direito acordo com o Ministério da Educação, o tratamento dos vários
da criança à educação. A pressão desses movimentos na aspectos como dimensões do desenvolvimento e não áreas
Assembleia Constituinte possibilitou a inclusão da creche e da separadas foi fundamental, já que “[...] evidencia a necessidade
pré-escola no sistema educativo ao inserir, na Constituição de se considerar a criança como um todo, para promover seu
Federal de 1988, em seu em seu artigo 208, o inciso IV, assim: desenvolvimento integral e sua inserção na esfera pública”.
“[...] O dever do Estado com a educação será efetivado Desse modo, verifica-se um grande avanço no que diz
mediante a garantia de educação infantil, em creche e pré- respeito aos direitos da criança pequena, uma vez que a
escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade, de acordo com educação infantil, além de ser considerada a primeira etapa da
a Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006. A Educação Básica, é um direito da criança e tem o objetivo de
partir dessa Lei, as creches, anteriormente vinculadas à área proporcionar condições adequadas para o desenvolvimento
de assistência social, passaram a ser de responsabilidade da do bem-estar infantil, como o desenvolvimento físico,
educação. Tomou-se por orientação o princípio de que essas psicomotor, cognitivo, linguístico, afetivo, ético, estético,
instituições não apenas cuidam das crianças, mas devem, cultural e social, complementando a ação da família e da
prioritariamente, desenvolver um trabalho educacional. comunidade. Diante dessa nova perspectiva, três importantes
A Constituição representa uma valiosa contribuição na objetivos, devem, necessariamente, coroar essa nova
garantia de nossos direitos, visto que, por ser fruto de um modalidade educacional:
grande movimento de discussão e participação da população
civil e poder público, foi um marco decisivo na afirmação dos A) Objetivo Social: Associado à questão da mulher
direitos da criança no Brasil. enquanto participante da vida social, econômica, cultural e
Dois anos após a aprovação da Constituição Federal de política;
1988, foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei B) Objetivo Educativo: Organizado para promover a
8.069/90, que, ao regulamentar o art. 227 da Constituição construção de novos conhecimentos e habilidades da criança;
Federal, inseriu as crianças no mundo dos direitos humanos. C) Objetivo Político: Associado à formação da cidadania
De acordo com seu artigo 3º, a criança e o adolescente gozam infantil, em que, por meio deste, a criança tem o direito de falar
de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, e de ouvir, de colaborar e de respeitar e ser respeitada pelos
sem prejuízo da proteção integral, assegurando-se-lhes, por lei outros.
ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a
fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, Em consonância com a legislação, o Ministério da Educação
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. publicou, em 1998, dois anos após a aprovação da LDB, os
Segundo Ferreira (2000)11, essa Lei é mais do que um documentos “Subsídios para o credenciamento e o
simples instrumento jurídico, porque: Inseriu as crianças e funcionamento das instituições de educação infantil”, que
adolescentes no mundo dos direitos humanos. O ECA contribuiu significativamente para a formulação de diretrizes
estabeleceu um sistema de elaboração e fiscalização de e normas da educação da criança pequena em todo o país, e o
políticas públicas voltadas para a infância, tentando com isso “Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil”,
impedir desmandos, desvios de verbas e violações dos direitos com o objetivo de contribuir para a implementação de práticas
10 BITTAR, M; SILVA, J.; MOTA, M. A.C. Formulação e implementação da 11 FERREIRA, Maria Clotilde Rossetti (Org.). Os fazeres na educação infantil.
política de educação infantil no Brasil. In: Educação infantil, política, formação e São Paulo: Cortez, 2000.
prática docente. Campo Grande, MS: UCDB, 2003.
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educativas de qualidade no interior dos Centros de Educação Professores da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Infantil. Este último foi concebido de maneira a servir como Fundamental, que também contribuiu para a melhoria de
um guia de reflexão de cunho educacional sobre os objetivos, ambos os níveis de ensino ao discutir a relevância de uma
conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que formação altamente qualificada para esses profissionais.
atuam com crianças de zero a 5 (cinco) anos de idade. Sobre os Barreto (1998)12 ressalta que, apesar do avanço da
objetivos gerais da educação infantil, esse documento ressalta legislação no que diz respeito ao reconhecimento da criança à
que a prática desenvolvida nessas instituições deve se educação nos seus primeiros anos de vida, também é
organizar de modo que as crianças desenvolvam as seguintes importante considerar os inúmeros desafios impostos para o
capacidades: efetivo atendimento desse direito, que podem ser resumidos
em duas grandes questões: a de acesso e a da qualidade do
A) Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de atendimento. Quanto ao acesso, a autora enfatiza que, mesmo
forma cada vez mais independente, com confiança em suas tendo havido, nas últimas décadas, uma significativa expansão
capacidades e percepção de suas limitações; do atendimento, a entrada da criança na creche ainda deixa a
B) Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio desejar, em especial porque as crianças de famílias de baixa
corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e renda estão tendo menores oportunidades que as de nível
valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem- socioeconômico mais elevado.
estar; Sobre a qualidade do atendimento, ressalta: As instituições
C) Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e de educação infantil no Brasil, devido à forma como se
crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando expandiu, sem os investimentos técnicos e financeiros
gradativamente suas possibilidades de comunicação e necessários, apresenta, ainda, padrões bastante aquém dos
interação social; desejados, a insuficiência e inadequação de espaços físicos,
D) Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, equipamentos e materiais pedagógicos; a não incorporação da
aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de dimensão educativa nos objetivos da creche; a separação entre
vista com os demais, respeitando a diversidade e as funções de cuidar e educar, a inexistência de currículos ou
desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; propostas pedagógicas são alguns problemas a enfrentar.
E) Observar e explorar o ambiente com atitude de
curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, D) Inserção e adaptação nas instituições de Educação
dependente e agente transformador do meio ambiente e Infantil
valorizando atitudes que contribuam para sua conservação;
F) Brincar, expressando emoções, sentimentos, É comum falarmos em adaptação na Educação Infantil. E,
pensamentos, desejos e necessidades; neste caso, muitas vezes a adaptação vincula-se às
G) Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, experiências de separação. Mas por que realizar adaptação na
plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e Educação Infantil? Na verdade, todos os seres humanos
situações de comunicação, de forma a compreender e ser vivenciam processos de adaptação, de crescimento, de
compreendido, expressar suas ideias, sentimentos, mudança... o processo de adaptação inicia com o nascimento,
necessidades e desejos e avançar no seu processo de nos acompanha no decorrer de toda a vida e ressurge a cada
construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua nova situação que vivenciamos. Sair de um espaço conhecido
capacidade expressiva; e seguro, dar um passo à frente e arriscar-se, tendo como
H) Conhecer algumas manifestações culturais, companhia o desconhecido para o qual precisamos olhar,
demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação perceber, sentir, avaliar, nos leva às mais diferentes reações:
frente a elas e valorizando a diversidade. permanecer no espaço seguro e protegido, seguir adiante ou
desistir e voltar atrás.
Para que esses objetivos sejam alcançados de modo Falamos em adaptação sempre que enfrentamos uma
integrado, o Referencial Curricular Nacional para a Educação situação nova, ou readaptação, quando entramos novamente
Infantil sugere que as atividades devem ser oferecidas para as em contato com algo já conhecido, mas por algum tempo
crianças não só por meio das brincadeiras, mas aquelas distante do nosso convívio diário. Como na Educação Infantil
advindas de situações pedagógicas orientadas. Nesse sentido, lidamos com bebês e crianças pequenas, em processo de
a integração entre ambos os aspectos é relevante no passagem da casa para o mundo mais amplo, a adaptação
desenvolvimento do trabalho do professor, uma vez que, ganha ainda mais sentido.
educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, Ressalte-se que esse período pode ser enfocado sob
brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e diferentes pontos de vista:
que possam contribuir para o desenvolvimento das A) O da criança, pelo significado e emoção despertados
capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar pela passagem de um espaço seguro e conhecido para outro
com os outros, em uma atitude de aceitação, respeito e em que é necessário um investimento afetivo e intelectual para
confiança, e o acesso pelas crianças, aos conhecimentos mais poder estar bem;
amplos da realidade social e cultural. B) O das famílias, que compartilham a educação da criança
Sobre o cuidar, é importante ressaltar que esse deve ser com a creche/pré-escola;
entendido como parte integrante da educação, ou seja: cuidar C) O do professor, que recebe uma criança desconhecida e
de uma criança em um contexto educativo demanda a ainda tem as outras do grupo para acolher;
integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação D) O das outras crianças, que estão chegando ou que fazem
de profissionais de diferentes áreas. parte do grupo e precisam encarar o fato de que há mais um
Ainda nos anos de 1998 e 1999, o Conselho Nacional de com quem repartir, mas também com quem somar;
Educação, aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a E) O da instituição, nos aspectos organizacional e de
Educação Infantil, que teve como objetivo direcionar, de modo gestão, que precisam prever espaço físico, materiais, tempo e
obrigatório, os encaminhamentos de ordem pedagógica para recursos humanos capacitados para essa ação.
esse nível de ensino aos sistemas municipais e estaduais de Não há unanimidade em relação ao termo utilizado para
educação e as Diretrizes Curriculares para a Formação de nomear o período de ingresso da criança na instituição,
12 BARRETO, Ângela M. R. Situação atual da educação infantil no Brasil. In: funcionamento de instituições de educação infantil. v. 2. Coordenação Geral de
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Subsídios para o credenciamento e educação infantil. Brasília: MEC/SEF/COEDI, 1998.
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podendo ser chamado de adaptação, acolhimento e inserção. atribuições de cada profissional da escola são aspectos
Como se sabe, a escolha do termo revela concepções sobre as fundamentais para garantir a qualidade da adaptação.
crianças e o modo de condução do trabalho dos profissionais. É importante que a escola planeje atividades adequadas
Recorrendo à acepção da palavra adaptação, pode-se para esse período, não se distanciando do que o aluno
inferir que é a ação ou efeito de adaptar-se ou tornar-se apto a vivenciará no dia a dia, para que não sejam criadas falsas
fazer algo que comumente não estava em seu contexto sócio expectativas.
histórico. É a capacidade do sujeito em acomodar-se,
apropriar-se, ajustar-se às condições do meio ambiente. Por B) Envolvimento de todos os profissionais:
inserção, é possível depreender que é o ato de inserir,
introduzir, incluir ou integrar. Em síntese, é a capacidade do Cada funcionário dentro de suas atribuições é
sujeito de fazer parte de um contexto. Comumente, falamos em corresponsável pelo processo de adaptação e acolhimento dos
adaptação. Mesmo levando em conta a questão conceitual alunos. Uma reunião tratando do tema e antecipando com o
acima, usaremos a palavra adaptação na perspectiva do grupo situações com as quais terão de lidar nesse período,
acolhimento. possibilitará à equipe escolar a compreensão sobre a
Desta forma, a adaptação deve ser um período em que importância de suas ações para qualificar a chegada e a
linguagens, sentimentos, emoções estejam a serviço da permanência do aluno na escola. Assim, para acolher bem as
liberdade, da autonomia e do prazer e não apenas para o novas crianças e suas famílias, toda equipe da creche,
cumprimento de ordens com o objetivo de disciplinar os professores, equipe de apoio e voluntários, no início do ano
corpos infantis para o modelo escolar tradicional. Dessa forma, letivo, prepara esse momento, planejando suas ações de forma
podemos dizer em uma adaptação que supere apenas um a contribuir neste processo de acolhimento.
momento burocrático e vivenciar a adaptação em uma
perspectiva de acolhida. Todos, crianças e adultos, são C) Participação das famílias e da comunidade:
sensíveis ao acolhimento. Afinal, quem não gosta de ser bem
recebido? A qualidade do acolhimento garante o êxito da A participação efetiva das famílias e da comunidade traz
adaptação. E, para que isso ocorra, fundamental se faz boas contribuições para o processo de adaptação, por diversas
empreender esforços no sentido de compreender que o razões: diminui o medo e a ansiedade (de adultos e crianças),
processo de adaptação exigirá tanto da criança que busca inicia a construção de um vínculo de confiança entre escola e
adequar-se a essa nova realidade social e de seus pais, quanto família, válida para a criança a figura do professor como
do educador e da instituição que precisa preparar-se para referência e da escola como um lugar seguro. Daí a importância
recebê-la. de um planejamento que considere a presença da família e da
Em suma, o estabelecimento de vínculos positivos depende comunidade na escola.
fundamentalmente da forma como a criança e sua família são
acolhidas na escola. Uma adaptação compromissada com o D) Atendimento à diversidade:
acolhimento significa abrir-se ao aconchego, ao bem-estar, ao
conforto físico e emocional, ao amparo. Aqui e em outros Cada ser humano traz consigo suas vivências, experiências
momentos, o ato de educar não se separa do ato de cuidar. e modelos de convivência. As crianças, assim como os adultos,
Sendo assim, amplia-se o papel e a responsabilidade da apresentam manifestações e reações diferentes em cada
instituição educacional nesse momento. Por isto, a forma como contexto. A escola como um todo precisa estar sensível às
cada instituição efetiva o período de adaptação revela a manifestações individuais dos alunos, atendendo às suas
concepção de educação e de criança que orientam suas necessidades específicas, que podem se manifestar de forma
práticas. O planejamento das atividades é fundamental, para transitória ou permanente, nos casos daqueles que possuam
não cair no espontaneísmo e na falta de reflexão e para alguma necessidade educacional.
favorecer o dinamismo e as interações. Pensar como se dará a Deixar que a criança mantenha seu jeito de ser, seus rituais
chegada das crianças (novas ou não) nos primeiros dias do para aos poucos se ajustar ao grupo, proporciona suavidade à
calendário escolar, pensar nos tempos, materiais e ambientes, transição, sem rupturas bruscas e maior controle do adulto
nos profissionais e suas atribuições, nas famílias e suas sobre o processo.
inseguranças são aspectos importantes para assegurar a
qualidade da adaptação. E) Consideração dos sentimentos das crianças e dos
Dentro do contexto escolar, manifestações, reações, adultos:
sentimentos podem ser de caráter transitório ou permanente.
Respeitar os jeitos de ser e estar no mundo e os rituais das Sentimentos diversos estão presentes no período de
crianças ajudam em uma transição suave e confiável. adaptação. Os pais ficam angustiados e inseguros por
O acolhimento é um princípio a ser concretizado em várias deixarem seus filhos com pessoas que não fazem parte de seu
situações que acontecem com as crianças: nos atrasos, no convívio. A equipe escolar lida com reações diversas das
retorno após viagem ou doença, em um acidente ou incidente crianças: choros, birras, quietude excessiva, recusa de
durante o ano letivo. Isto porque o acolhimento, para além das alimentos entre outras. Cabe à escola acolher a cada uma
datas, materializa a humanização da educação. Vale, portanto, dessas reações com paciência e intervenções que ajudem a
para os primeiros dias e também ao longo do processo aproximar os alunos da rotina escolar, criando vínculos de
educativo. segurança e afeto, estabelecendo ao mesmo tempo, uma
Apresentamos alguns dos aspectos a serem ponderados relação de confiança com as famílias através da escuta atenta
pela instituição no período de uma adaptação acolhedora: sobre as várias dúvidas e inquietações trazidas nos horários de
entrada e saída dos alunos.
A) Planejamento coletivo:
F) Acolhimento das Famílias e das Crianças na
É preciso considerar todos os aspectos do período de Instituição
adaptação e todas as suas variáveis, para que ele não seja feito
de forma espontaneísta ou sem reflexão. Traçar um roteiro de A entrada na instituição
como se dará a chegada dos alunos (novos ou não) nos O ingresso das crianças nas instituições pode criar
primeiros dias, pensar em tempos, espaços, materiais e ansiedade tanto para elas e para seus pais como para os
professores. As reações podem variar muito, tanto em relação
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às manifestações emocionais quanto ao tempo necessário para precisam ter claro qual é o papel da mãe (ou de quem estiver
se efetivar o processo. Algumas crianças podem apresentar acompanhando a criança) em seus primeiros dias na
comportamentos diferentes daqueles que normalmente instituição.
revelam em seu ambiente familiar, como alterações de apetite, Os pais podem encontrar dificuldades de tempo para viver
retorno às fases anteriores do desenvolvimento. este processo por não poderem se ausentar muitos dias no
Podem, também, adoecer; isolar-se dos demais e criar trabalho. Neste caso, seria importante que pudessem estar
dependência de um brinquedo, da chupeta ou de um paninho. presentes, ao menos no primeiro dia, e que depois pudessem
As instituições de educação infantil devem ter flexibilidade ser substituídos por alguém da confiança da criança.
diante dessas singularidades ajudando os pais e as crianças O choro da criança, durante o processo de inserção, parece
nestes momentos. ser o fator que mais provoca ansiedade tanto nos pais quanto
A entrevista de matrícula pode ser usada para apresentar nos professores. Mas parece haver, também, uma crença de
informações sobre o atendimento oferecido, os objetivos do que o choro é inevitável e que a criança acabará se
trabalho, a concepção de educação adotada. Esta é uma boa acostumando, vencida pelo esgotamento físico ou emocional,
oportunidade também para que se conheçam alguns hábitos parando de chorar. Alguns acreditam que, se derem muita
das crianças e para que o professor estabeleça um primeiro atenção e as pegarem no colo, as crianças se tornarão
contato com as famílias. manhosas, deixando-as chorar. Essa experiência deve ser
Quanto mais novo o bebê, maior a ligação entre mãe e filho. evitada. Deve ser dada uma atenção especial às crianças,
Assim, não é apenas a criança que passa pela adaptação, mas nesses momentos de choro, pegando no colo ou sugerindo-
também a mãe. Dependendo da família e da criança, outros lhes atividades interessantes.
membros como o pai, irmãos, avós poderão estar envolvidos O professor pode planejar a melhor forma de organizar o
no processo de adaptação à instituição. A maneira como a ambiente nestes primeiros dias, levando em consideração os
família vê a entrada da criança na instituição de educação gostos e preferências das crianças, repensando a rotina em
infantil tem uma influência marcante nas reações e emoções função de sua chegada e oferecendo-lhes atividades atrativas.
da criança durante o processo inicial. Acolher os pais com suas Ambientes organizados com material de pintura, desenho e
dúvidas, angústias e ansiedades, oferecendo apoio e modelagem, brinquedos de casinha, baldes, pás, areia e água
tranquilidade, contribui para que a criança também se sinta etc., são boas estratégias.
menos insegura nos primeiros dias na instituição.
Reconhecer que os pais são as pessoas que mais conhecem G) Efetivando o Planejamento no Processo de Inserção
as crianças e que entendem muito sobre como cuidá-las pode / Adaptação
facilitar o relacionamento. Antes de tudo, é preciso estabelecer
uma relação de confiança com as famílias, deixando claro que Abordaremos a questão do planejamento, a fim de que as
o objetivo é a parceria de cuidados e educação visando ao bem- escolas organizem uma boa acolhida às famílias e alunos para
estar da criança. Quando há certo número de crianças para a construção dos primeiros vínculos.
ingressar na instituição, pode-se fazer uma reunião com todos
os pais novos para que se conheçam e discutam conjuntamente A) Apresentando a escola:
suas dúvidas e preocupações.
Muitas escolas têm como prática propor atividades que
Os primeiros dias contem com a participação das famílias nos primeiros dias de
No primeiro dia da criança na instituição, a atenção do aula para que, juntamente com seus filhos, conheçam os
professor deve estar voltada para ela de maneira especial. Este espaços, os funcionários e vivenciem algumas das práticas
dia deve ser muito bem planejado para que a criança possa ser pedagógicas, como: roda de história, lanche, parque e outros.
bem acolhida. É recomendável receber poucas crianças por Esses momentos são bem avaliados, pois trazem segurança
vez para que se possa atendê-las de forma individualizada. aos pais e, consequentemente, aos seus filhos Entretanto
Com os bebês muito pequenos, o principal cuidado será temos outros desafios a considerar neste período: o que
preparar o seu lugar no ambiente, o seu berço, identificá-lo propor para as famílias que já conhecem a rotina da escola?
com o nome, providenciar os alimentos que irá receber, e Como evitar a frustração das crianças cujas famílias trabalham
principalmente tranquilizar os pais. e não podem comparecer no período de adaptação? É
A permanência na instituição de alguns objetos de importante a participação dos familiares nos primeiros dias de
transição, como a chupeta, a fralda que ele usa para cheirar, aula, desde que a equipe escolar considere as circunstâncias
um mordedor, ou mesmo o bico da mamadeira a que ele está apontadas acima. Indicamos essa participação em forma de
acostumado, ajudará neste processo. Pode-se mesmo solicitar convite e não como condição para a permanência da criança
que a mãe ou responsável pela criança venha, alguns dias nos primeiros dias de aula. Além disso, cabe à equipe escolar
antes, ajudar a preparar o berço de seu bebê. cuidar do planejamento de ações que possibilitem a
Quando o atendimento é de período integral, é participação das crianças com pessoas que sejam referência
recomendável que se estabeleça um processo gradual de para elas, podendo ser algum familiar e, na impossibilidade
inserção, ampliando o tempo de permanência de maneira que destes comparecerem, outra pessoa com quem tenham
a criança vá se familiarizando aos poucos com o professor, com vínculo.
o espaço, com a rotina e com as outras crianças com as quais
irá conviver. É importante que se solicite, nos primeiros dias, B) No ato da matrícula:
e até quando se fizer necessário, a presença da mãe ou do pai
ou de alguém conhecido da criança para que ela possa O acolhimento às famílias e aos alunos se inicia nos
enfrentar o ambiente estranho junto de alguém com quem se primeiros contatos com a escola, na forma como se conversa e
sinta segura. Quando tiver estabelecido um vínculo afetivo se fornecem informações, como são abordados os dados da
com o professor e com as outras crianças, é que ela poderá família sem ser invasivo, deixando claro que educação é um
enfrentar bem a separação, sendo capaz de se despedir da direito e não um “favor” do poder público. Assim é necessário
pessoa querida, com segurança e desprendimento. que os funcionários da secretaria da escola também estejam
Este período exige muita habilidade, por isso, o professor preparados para atender o público de forma atenciosa e
necessita de apoio e acompanhamento, especialmente do informar como a escola funciona, seus horários, início das
diretor e membros da equipe técnica uma vez que ele também aulas e outros esclarecimentos que se fizerem necessários.
está sofrendo um processo de adaptação. Os professores
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APOSTILAS OPÇÃO
C) Construção de vínculo com as famílias: (D) afirmativo, crítico, intelectual, emocional, moral e
social, considerando a história e a memória das tradições
É essencial neste processo que a equipe escolar discuta e culturais da família e do entorno.
decida sobre a importância de estreitar os vínculos com as
famílias, obtendo informações relevantes para o trabalho na 04. Nos primeiros dias da criança na instituição de
escola e para os cuidados com os alunos no dia a dia. A forma Educação Infantil, a permanência na instituição de alguns
e o instrumento que utilizarão devem ser sempre avaliados e objetos de transição, como a chupeta, a fralda que ele utiliza
decididos pela equipe escolar e pelas famílias. A reunião com para cheirar, um mordedor são objetos que poderão
pais, que neste ano conta com o diferencial da dispensa de aula, atrapalhar a adaptação por remeter memórias de casa à
possibilitará a organização de diferentes estratégias para criança.
conhecer melhor as famílias e trocar informações sobre os ( ) Verdadeiro ( ) Falso
alunos.
05. Dois anos após a aprovação da Constituição Federal de
D) Reunião com pais dos novos alunos da escola: 1988, foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei
8.069/90. Segundo Ferreira (2000), essa Lei é mais do que um
Como procedimento para qualificar o início do ano letivo, simples instrumento jurídico, porque: Inseriu as crianças e
algumas escolas realizam uma reunião somente com os pais adolescentes no mundo dos direitos humanos.
dos novos alunos da escola. Esta reunião pode ser feita no ano ( ) Verdadeiro ( ) Falso
anterior, logo após as matrículas, objetivando sanar dúvidas
acerca do funcionamento escolar, divulgar o Projeto Político Gabarito
Pedagógico, apresentar a rotina e espaços existentes, orientar
as famílias sobre a importância da preparação dos filhos para 01.D / 02.A / 03.A / 04. Falso / 05.Verdadeiro
o início das aulas. As estratégias utilizadas podem ser
diferenciadas: vídeos com a rotina da escola, álbuns de fotos à
disposição dos pais, murais com atividades das crianças, A pedagogia de projetos
exposição dos projetos desenvolvidos, folders e outros.
didáticos
Questões
01. (Prefeitura de Alto Piquiri/PR - Educador Infantil - A educação, como instituição, exerce um papel muito
KLC) Pode-se afirmar que em uma instituição de educação importante na formação para a vida. Em contato com o meio
infantil ou escolar: em que vive, e a partir deste contexto, o aluno constrói seu
(A) Não existe ação educativa nem organização. conhecimento na interação com o meio físico e social,
(B) Tanto a ação educativa quanto a organização estão a interpretando a realidade que o rodeia e situando-se como
serviço dos funcionários. parte do ambiente em que vive. Essa relação deve permitir a
(C) A ação educativa deve estar a serviço da organização sua inserção no mundo do trabalho e torná-lo capaz de intervir
da instituição. no processo sociocultural em que está inserido.
(D) A organização da instituição deve estar a serviço da O eixo norteador desse processo didático-pedagógico é
ação educativa. aprender a aprender, através da discussão e construção crítica
(E) Nenhuma alternativa está correta. e criativa.
Segundo Morin, “O fim do método é ajudar a pensar por si
02. (Prefeitura de Betim/MG - Auxiliar Administrativo mesmo para responder ao desafio da complexidade dos
do CIM - Prefeitura de Betim/MG) De acordo com o problemas.”
Referencial Nacional Curricular para a Educação Infantil, Não basta importar um conceito ou teoria e introduzi-lo
contemplar o cuidado na esfera da instituição da educação como a grande solução para os problemas presentes, mas
infantil construir a educação em termos de processo dinâmico de
(A) significa compreendê-lo como parte integrante da formação educativa do ser humano.
educação. Assim, a partir da afetividade, busca-se a construção de
(B) demanda romper com crenças e valores em torno da cidadãos críticos e criativos, éticos e cristãos, através da
saúde, da educação e do desenvolvimento infantil. promoção da fraternidade, sensibilidade, criticidade,
(C) exige a adoção de procedimentos que visam à criatividade, ética, conhecimentos técnico-científicos e
promoção da saúde, independente das realidades relações intra e interpessoais.
socioculturais. Com origem na afetividade, instaura-se um processo
(D) exige considerar conhecimentos, habilidades e pedagógico baseado na confiança entre educando e educador,
instrumentos restritos à dimensão pedagógica. família e escola, escola e meio-social, valorizando a vida, a
existência humana e seu meio ambiente.
03. (Prefeitura de Fortaleza/CE - Assistente da
Educação Infantil Substituto - Prefeitura de Fortaleza/CE) Neste contexto, os fundamentos didático-pedagógicos
A Educação Infantil tem por finalidade o desenvolvimento devem direcionar o trabalho pedagógico em toda a sua
integral da criança em seus aspectos: dimensão. O processo de apropriação e construção do
(A) físico, psicomotor, cognitivo, linguístico, afetivo, ético, conhecimento, a organização coletiva do trabalho de sala
estético, cultural e social, complementando a ação da família e de aula e o relacionamento interpessoal são elementos
da comunidade. fundamentais que se constituem na unidade de um
(B) psicomotor, religioso, lógico-matemático, sócio afetivo, trabalho pedagógico. As relações que se estabelecem entre
intercultural e de acordo com os valores da família. educador-educando-conhecimento, devem refletir os
(C) auto referencial, social, multilinguístico, agnóstico, fundamentos epistemológicos que são baseados na teoria
performativo, histórico e social, segundo a comunidade de da construção interacionista do conhecimento.
origem da criança. Compreender como se ensina e como se aprende requer um
entendimento de como o conhecimento é construído e de
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como se faz a sua transposição didática (fundamentos tornando-se uma pessoa pensante e estabelecendo múltiplas
didático-pedagógicos). relações.
Para afirmar essa característica do projeto, Antunes
O conhecimento tem origem na interação do homem com refere-se que: A essência e chave do sucesso de um projeto é
o mundo. Esta interação é estabelecida no sujeito através de que representa um esforço investigativo, deliberadamente
relações entre as representações mentais de que tem do voltado a encontrar respostas convincentes para questões
mundo físico e social frente a um conhecimento científico sobre um tema, levantadas pelos alunos, professores, ou pelos
sistematizado. O conhecimento organizado historicamente é o professores e alunos junto e eventualmente funcionários da
instrumental de análise de compreensão do mundo em que se escola, pais e pessoas da comunidade escolhidas por
está inserido. O conhecimento não se baseia no acúmulo de amostragem.
informações, mas sim numa reelaboração mental que deve se Haydt afirma também que “no método de projetos, o
traduzir em forma de ação transformadora sobre o mundo. ensino realiza-se através de amplas unidades de trabalho com
A apropriação de saberes e conhecimentos, ou seja, o um fim em vista e supõe a atividade propositada do aluno, isto
processo de ensino e aprendizagem, se dá na interação do é, o esforço motivado com um propósito definido”.
sujeito consigo mesmo, com outros sujeitos e com os objetos
do conhecimento. O sujeito, ao aprender, incorpora aos O projeto didático possui sua importância fundamental na
conhecimentos preexistentes um novo saber, que se integra vida escolar do aluno no que se refere ao desenvolvimento de
em uma rede ampla de significados, provocando a habilidades diversas, habilidades estas citada por Barbosa:
transformação, isto é, a aprendizagem significativa. Aprender Através dos projetos de trabalho, pretende-se fazer as crianças
significativamente implica elaborar, construir e resolver pensarem em temas importantes do seu ambiente, refletirem
problemas. Assim, ressalta-se que somente aprendeu quem sobre a atualidade e considerarem a vida fora da escola. Eles
trocou, construiu e ressignificou. são elaborados e executados para as crianças aprenderem a
Nesse seguimento, o educando é o condutor de sua estudar, a pesquisar, a procurar informações, a exercer a
aprendizagem e não mero receptor de informações. crítica, a duvidar, a argumentar, a opinar, a pensar, a gerir as
Ensinar/Aprender é uma ação compartilhada entre educador aprendizagens, a refletir coletivamente e, o mais importante
e educando, acontecida através da dinâmica contínua que se são elaborados e executados com as crianças e não para as
estabelece entre os significados que o educador possui e as crianças.
significações que o educando traz. O trabalho com projetos é uma constante pesquisa de
É um indivíduo com especificidade histórica, social, conhecimento, onde o próprio aluno toma a atitude de sanar
individual e sujeito das relações cognitivas. É ele quem faz seu suas curiosidades, pois o tema estudado é de seu interesse.
percurso de conhecimento, utilizando competências e Essa estratégia de ensino proporciona situações diversas que
habilidades que o educador conhece, trabalha e estimula. favorece a autonomia, responsabilidade, autoconfiança,
Dentro dos fundamentos propostos o educador deixa de dentro de diferentes construções de habilidades.
ser um repassador de conteúdos e respostas imediatas pré- O trabalho com projetos possui vantagens que devem ser
determinadas, para ser um problematizador da ação levadas em consideração, pois é através dessa estratégia que o
pedagógica construída numa atitude dialógica com os professor organiza seu planejamento de acordo com as
educandos como também com os seus colegas educadores e curiosidades e necessidades dos alunos, é possível ainda que a
técnico-administrativos. Portanto, cabe ao educador e a nossa interdisciplinaridade esteja presente nas atividades escolares,
Instituição possibilitar o acesso do indivíduo ao conhecimento pois de acordo com Haydt “o ensino é globalizado, criando
construído e acumulado pela humanidade. condições para a interdisciplinaridade, pois as disciplinas não
são transmitidas isoladamente, mas integradas em função do
O que é projeto didático? projeto a ser realizado.” Favorece também o desenvolvimento
da criatividade dos alunos e o trabalho com projeto pode
Projeto didático é um tipo de organização e planejamento ainda, segundo Zilma “possibilitar às crianças diferenciar suas
do tempo e dos conteúdos que envolve uma situação- próprias experiências das de outras pessoas, pensar o
problema. Seu objetivo é articular propósitos didáticos (o que presente e o passado, o sentido do tempo e do espaço”.
os alunos devem aprender) e propósitos sociais (o trabalho Dentro dessa estratégia de ensino, a criança é vista como
tem um produto final, como um livro ou uma exposição, que protagonista do processo educativo, portanto sua participação
vai ser apreciado por alguém). Além de dar um sentido mais deve ser predominante e ativa. Para isso deve ser considerado
amplo às práticas escolares, o projeto evita a fragmentação dos as experiências de cada criança, para que o assunto trabalhado
conteúdos e torna os alunos corresponsáveis pela própria esteja contextualizado de acordo com sua realidade. Podendo
aprendizagem. assim existir a aprendizagem significativa.
É através do trabalho com projetos didáticos que a
A Importância do Trabalho com Projetos Didáticos13 educação infantil pode construir uma educação de qualidade,
fazendo com que o ensinar seja algo prazeroso para o
O projeto didático é uma estratégia de ensino que professor, que irá trabalhar assim de modo afetivo, e o aluno
norteia as atividades desenvolvidas na escola de educação esteja feliz em aprender, pois suas curiosidades serão sanadas,
infantil, valorizando a participação dos alunos, de modo, onde aprendizado será adquirido de forma não obrigatória,
que eles venham a fazer escolhas, tendo assim, mas sim de forma natural e divertida.
responsabilidades a assumir perante as tomadas de
decisão, o aluno se torna autônomo e passa a ser o sujeito Pedagogias de Projetos14
de sua aprendizagem. Conforme Haydt “o projeto, tem que
exprimir uma situação de vida real”. Atualmente, uma das temáticas que vêm sendo discutida
no cenário educacional é o trabalho por projetos. Mas que
O trabalho com projeto visa estimular nos alunos a projeto? O projeto político-pedagógico da escola? O projeto de
resoluções de problemas propostos, aguçando assim a sala de aula? O projeto do professor? O projeto dos alunos? O
curiosidade, capacidade de argumentação e investigação, projeto de informática? O projeto da TV Escola? O projeto da
13 SANTOS, C. Q.; VULPE, D. A Importância do Trabalho com Projetos Didáticos 14 PRADO, M. E. B. B. Pedagogia de projetos: fundamentos e implicações. In:
na Educação Infantil. Trabalho de Conclusão de Curso. 2013. ALMEIDA, M. E. B. de; MORAN, J. M. (Org.). Integração das tecnologias na educação.
Brasília: Ministério da Educação/SEED/TV Escola/Salto para o Futuro, 2005.
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biblioteca? Essa diversidade de projetos que circula professor se depara atualmente é caracterizada pela chegada
frequentemente no âmbito do sistema de ensino, muitas vezes, de novas tecnologias (computador, Internet, vídeo, televisão)
deixa o professor preocupado para saber como situar a sua na escola, que apontam novos desafios para a comunidade
prática pedagógica em termos de propiciar aos alunos uma escolar. O que fazer diante desse novo cenário? De repente o
nova forma de aprender integrando as diferentes mídias nas professor que, confortavelmente, desenvolvia sua ação
atividades do espaço escolar. pedagógica - tal como havia sido preparado durante a sua vida
Existem, em cada uma dessas instâncias do projeto, acadêmica e pela sua experiência em sala de aula - se vê diante
propostas e trabalhos interessantes; a questão é como de uma situação que implica novas aprendizagens e mudanças
conceber e tratar a articulação entre as instâncias do projeto, na prática pedagógica.
para que de fato seja reconstruída na escola uma nova forma A pedagogia de projetos, embora constitua um novo
de ensinar, integrando as diversas mídias e conteúdos desafio para o professor, pode viabilizar ao aluno um modo de
curriculares numa perspectiva de aprendizagem aprender baseado na integração entre conteúdos das várias
construcionista. Segundo Valente, o construcionismo “significa áreas do conhecimento, bem como entre diversas mídias
a construção de conhecimento baseada na realização concreta (computador, televisão, livros), disponíveis no contexto da
de uma ação que produz um produto palpável (um artigo, um escola. Por outro lado, esses novos desafios educacionais ainda
projeto, um objeto) de interesse pessoal de quem produz”. não se encaixam na estrutura do sistema de ensino, que
Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo de mantém uma organização funcional e operacional - como, por
produzir, de levantar dúvidas, de pesquisar e de criar relações, exemplo, horário de aula e uma grade curricular sequencial -
que incentivam novas buscas, descobertas, compreensões e que dificulta o desenvolvimento de projetos que envolvam
reconstruções de conhecimento. E, portanto, o papel do ações interdisciplinares, que contemplem o uso de diferentes
professor deixa de ser aquele que ensina por meio da mídias disponíveis na realidade da escola e impliquem
transmissão de informações - que tem como centro do aprendizagens que extrapolam o tempo da aula e o espaço
processo a atuação do professor -, para criar situações de físico da sala de aula e da escola.
aprendizagem cujo foco incide sobre as relações que se Daí a importância do desenvolvimento de projetos
estabelecem neste processo, cabendo ao professor realizar as articulados envolvendo a coautoria dos vários protagonistas
mediações necessárias para que o aluno possa encontrar do processo educacional. O fato de um projeto de gestão
sentido naquilo que está aprendendo, a partir das relações escolar estar articulado com o projeto de sala de aula do
criadas nessas situações. A esse respeito Valente acrescenta: professor, que por sua vez visa propiciar o desenvolvimento
“(...) no desenvolvimento do projeto o professor pode de projetos em torno de uma problemática de interesse de um
trabalhar com [os alunos] diferentes tipos de conhecimentos grupo de alunos, integrando o computador, materiais da
que estão imbricados e representados em termos de três biblioteca e a televisão, torna-se fundamental para o processo
construções: procedimentos e estratégias de resolução de de reconstrução de uma nova escola. Isto porque a parceria
problemas, conceitos disciplinares e estratégias e conceitos que se estabelece entre os protagonistas (gestores,
sobre aprender”. professores, alunos) da comunidade escolar pode facilitar a
No entanto, para fazer a mediação pedagógica, o professor busca de soluções que permitem viabilizar a realização de
precisa acompanhar o processo de aprendizagem do aluno, ou novas práticas pedagógicas, tendo em vista a aprendizagem
seja, entender seu caminho, seu universo cognitivo e afetivo, para a vida.
bem como sua cultura, história e contexto de vida. Além disso, A pedagogia de projetos, na perspectiva da integração
é fundamental que o professor tenha clareza da sua entre diferentes mídias e conteúdos, envolve a inter-relação de
intencionalidade pedagógica para saber intervir no processo conceitos e de princípios, os quais, sem a devida compreensão,
de aprendizagem do aluno, garantindo que os conceitos podem fragilizar qualquer iniciativa de melhoria de qualidade
utilizados, intuitivamente ou não, na realização do projeto na aprendizagem dos alunos e de mudança da prática do
sejam compreendidos, sistematizados e formalizados pelo professor. Por essa razão, os tópicos a seguir abordam e
aluno. discutem alguns conceitos, bem como possíveis implicações
envolvidas na perspectiva da pedagogia de projetos, que se
Outro aspecto importante na atuação do professor é o de viabiliza pela articulação entre mídias, saberes e
propiciar o estabelecimento de relações interpessoais entre os protagonistas.
alunos e respectivas dinâmicas sociais, valores e crenças
próprios do contexto em que vivem. Portanto, existem três Conceito de Projeto
aspectos fundamentais que o professor precisa considerar
para trabalhar com projetos: as possibilidades de A ideia de projeto envolve a antecipação de algo
desenvolvimento de seus alunos; as dinâmicas sociais do desejável que ainda não foi realizado, traz a ideia de pensar
contexto em que atua e as possibilidades de sua mediação uma realidade que ainda não aconteceu. O processo de
pedagógica. projetar implica analisar o presente como fonte de
O trabalho por projetos requer mudanças na concepção de possibilidades futuras. Tal como vários autores colocam, a
ensino e aprendizagem e, consequentemente, na postura do origem da palavra “projeto” deriva do latim projectus, que
professor. Hernández enfatiza que o trabalho por projeto “não significa algo lançado para frente. A ideia de projeto é
deve ser visto como uma opção puramente metodológica, mas própria da atividade humana, da sua forma de pensar em
como uma maneira de repensar a função da escola”. Essa algo que deseja tornar real, portanto, o projeto é
compreensão é fundamental, porque aqueles que buscam inseparável do sentido da ação. Neste sentido Barbier
apenas conhecer os procedimentos, os métodos para salienta: “(...) o projeto não é uma simples representação do
desenvolver projetos, acabam se frustrando, pois não existe futuro, do amanhã, do possível, de uma ideia; é o futuro a
um modelo ideal pronto e acabado que dê conta da fazer, um amanhã a concretizar, um possível a transformar
complexidade que envolve a realidade de sala de aula, do em real, uma ideia a transformar em ato”.
contexto escolar. No entanto, o ato de projetar requer abertura para o
Mas que realidade? Claro que existem diferenças, e que desconhecido, para o não-determinado e flexibilidade para
todas precisam ser tratadas com seriedade para que a reformular as metas à medida que as ações projetadas
comunidade escolar possa constituir-se em um espaço de evidenciam novos problemas e dúvidas.
aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo,
afetivo, cultural e social dos alunos. Uma realidade em que o
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Um dos pressupostos básicos do projeto é a autoria - seja mídias e recursos, os quais permitem ao aluno expressar seu
individual, em grupo ou coletivamente. A esse respeito pensamento por meio de diferentes linguagens e formas de
Machado destaca que não se pode ter projeto pelos outros. É representação. Do ponto de vista de aprendizagem no trabalho
por esta razão que enfatizamos que a possibilidade de o por projeto, Prado destaca a possibilidade de o aluno
professor ter o seu projeto de sala de aula não significa que recontextualizar aquilo que aprendeu, bem como estabelecer
este deverá ser executado pelo aluno. Cabe ao professor relações significativas entre conhecimentos. Nesse processo, o
elaborar projetos para viabilizar a criação de situações que aluno pode ressignificar os conceitos e as estratégias utilizadas
propiciem aos alunos desenvolverem seus próprios projetos. na solução do problema de investigação que originou o projeto
São níveis de projetos distintos que se articulam nas e, com isso, ampliar o seu universo de aprendizagem.
interações em sala de aula. Por exemplo, o projeto do professor Em se tratando dos conteúdos, a pedagogia de projetos é
pode descobrir estratégias para que os alunos construam seus vista pelo seu caráter de potencializar a interdisciplinaridade.
projetos tendo em vista discutir sobre uma problemática de Isto de fato pode ocorrer, pois o trabalho com projetos permite
seu cotidiano ou de um assunto relacionado com os estudos de romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o
certa disciplina, envolvendo o uso de diferentes mídias estabelecimento de elos entre as diferentes áreas de
disponíveis no espaço escolar. conhecimento numa situação contextualizada da
Isto significa que o projeto do professor pode ser aprendizagem. No entanto, muitas vezes o professor atribui
constituído pela própria prática pedagógica, a qual será valor para as práticas interdisciplinares e com isso passa a
antecipada (relacionando as referências das experiências negar qualquer atividade disciplinar. Essa visão é equivocada,
anteriores e as novas possibilidades do momento), colocada pois Fazenda enfatiza que a interdisciplinaridade se dá sem
em ação, analisada e reformulada. De certa forma esta situação que haja perda da identidade das disciplinas.
permite ao professor assumir uma postura reflexiva e
investigativa da sua ação pedagógica e, portanto, caminhar Nesse sentido, Almeida corrobora com estas ideias
para reconstruí-la com objetivo de integrar o uso das mídias destacando: “(...) que o projeto rompe com as fronteiras
numa abordagem interdisciplinar. disciplinares, tornando-as permeáveis na ação de articular
Para isto é necessário compreender que no trabalho por diferentes áreas de conhecimento, mobilizadas na
projetos, as pessoas se envolvem para descobrir ou produzir investigação de problemáticas e situações da realidade. Isso
algo novo, procurando respostas para questões ou problemas não significa abandonar as disciplinas, mas integrá-las no
reais. “Não se faz projeto quando se têm certezas, ou quando desenvolvimento das investigações, aprofundando-as
se está imobilizado por dúvidas”. Isto significa que o projeto verticalmente em sua própria identidade, ao mesmo tempo,
parte de uma problemática e, portanto, quando se conhece, a que estabelecem articulações horizontais numa relação de
priori, todos os passos para solucionar o problema. Esse reciprocidade entre elas, a qual tem como pano de fundo a
processo se constitui num exercício e aplicação do que já se unicidade do conhecimento em construção”.
sabe. Projeto não pode ser confundido com um conjunto de O conhecimento específico - disciplinar - oferece ao aluno
atividades em que o professor propõe para que os alunos a possibilidade de reconhecer e compreender as
realizem a partir de um tema dado, resultando numa particularidades de um determinado conteúdo, e o
apresentação de trabalho. conhecimento integrado - interdisciplinar - lhe dá a
possibilidade de estabelecer relações significativas entre
Na pedagogia de projetos é necessário “ter coragem de conhecimentos. Ambos se realimentam e um não existe sem o
romper com as limitações do cotidiano, muitas vezes auto outro.
impostas” e “delinear um percurso possível que pode levar a Este mesmo pensamento serve para orientar a integração
outros, não imaginados a priori”. Mas, para isto, é fundamental das mídias, no desenvolvimento de projetos. Conhecer as
repensar as potencialidades de aprendizagem dos alunos para especificidades e as implicações do uso pedagógico de cada
a investigação de problemáticas que possam ser significativas mídia disponível no contexto da escola favorece ao professor
para eles e repensar o papel do professor nesta perspectiva criar situações para que o aluno possa integrá-las de forma
pedagógica, inclusive integrando as diferentes mídias e outros significativa e adequada ao desenvolvimento do seu projeto.
recursos existentes no contexto da escola. Por exemplo, quando o aluno utiliza o computador para digitar
um texto, é importante que o professor conheça o que envolve
Aprendendo e “Ensinando” com Projetos o uso deste recurso em termos de ser um meio pedagógico,
mas um meio que pode interferir no processo de o aluno
A pedagogia de projetos deve permitir que o aluno reorganizar as suas ideias e a maneira de expressá-las. Da
aprenda-fazendo e reconheça a própria autoria naquilo que mesma forma em relação a outras mídias que estão ao alcance
produz por meio de questões de investigação que lhe do trabalho pedagógico. Estar atento e buscando a
impulsionam a contextualizar conceitos já conhecidos e compreensão do uso das mídias no processo de ensino e
DESCOBRIR outros que emergem durante o desenvolvimento aprendizagem é fundamental para a sua integração no
do projeto. Nesta situação de aprendizagem, o aluno precisa trabalho por projetos.
selecionar informações significativas, tomar decisões,
trabalhar em grupo, gerenciar confronto de ideias, enfim De fato, a integração efetiva poderá ser desenvolvida à
desenvolver competências interpessoais para aprender de medida que sejam compreendidas as especificidades de cada
forma colaborativa com seus pares. universo envolvido, de modo que as diferentes mídias possam
A mediação do professor é fundamental, pois ao mesmo ser integradas ao projeto, conforme suas potencialidades e
tempo em que o aluno precisa reconhecer a sua própria características, caso contrário, corre-se o risco da simples
autoria no projeto, ele também precisa sentir a presença do justaposição de mídias ou de sua subutilização. Isto nos faz
professor que ouve, questiona e orienta, visando propiciar a reportar a uma situação já conhecida de muitos professores
construção de conhecimento do aluno. A mediação implica a que atuam com a informática na educação. Um especialista em
criação de situações de aprendizagem que permitam ao aluno informática que não compreende as questões relacionadas ao
fazer regulações, uma vez que os conteúdos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem terá muita dificuldade
projeto precisam ser sistematizados para que os alunos para fazer a integração das duas áreas de conhecimento -
possam formalizar os conhecimentos colocados em ação. O informática e educação. Isto também acontece no caso de um
trabalho por projeto potencializa a integração de diferentes especialista da educação que não conhece as funcionalidades,
áreas de conhecimento, assim como a integração de várias implicações e possibilidades interativas envolvidas nos
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diferentes recursos computacionais. Claro que não se espera a - Considerar o aluno como sujeito de sua própria
mesma “expertise” nas duas áreas de conhecimento, para aprendizagem.
poder atuar com a informática na educação, mas o - Reconhecer que o conhecimento é construído,
desconhecimento de uma das áreas pode desvirtuar uma progressivamente, através da atividade própria do aluno e
proposta integradora da informática na educação. Para também através das interações sociais, isto é, de aluno para
integrá-las, é preciso compreender as características inerentes aluno e entre o professor e os alunos.
às duas áreas e às práticas pedagógicas nas quais essa - Superar a fragmentação do saber dividido em
integração se concretiza. disciplinas, enfatizando a interdisciplinaridade dos
Esta visão atualmente se apresenta de forma mais ampla, conhecimentos e a construção integrada de saberes,
uma vez que o desenvolvimento da tecnologia avança competências e valores que perpassam, de forma
vertiginosamente e a sua presença na escola torna-se mais transdisciplinar, o conjunto do saber-fazer escolar.
frequente a cada dia. Uma preocupação com isso é que o - Tomar as experiências e vivências do cotidiano do
professor não foi preparado para desenvolver o uso aluno como ponto de partida para as novas aprendizagens
pedagógico das mídias. E para isto não basta que ele aprenda escolares.
a operacionalizar os recursos tecnológicos, a exigência em - Organizar o trabalho escolar em torno de atividades
termos de desenvolver novas formas de ensinar e de aprender que proporcionem o prazer de conhecer, o desejo de
é muito maior. Esta questão, no entanto, diz respeito à descobrir e de fazer e que estimulem o aprender a
formação do professor - aquela que poderá ser desenvolvida aprender.
na sua própria ação e de forma continuada, pois hoje com a - Respeitar a diversidade dos alunos, como pessoas e
tecnologia basta ter o apoio institucional que prioriza a como membros de um determinado grupo étnico-cultural e
qualidade do trabalho educacional. socioeconômico.
- Estimular o desenvolvimento da autonomia do aluno,
Aspectos Didáticos da Escola15 da sua participação na construção da vida escolar, através
do incentivo ao trabalho em grupo e à aprendizagem
A função primordial da escola é possibilitar a seus alunos cooperativa.
o acesso ao conhecimento escolar. Para isso, o conhecimento
disponível é esquematizado, reestruturado, segmentado, Como esses princípios podem ser concretizados na
simplificado, reconstruído, como meio de promover a sua prática? Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
apreensão pelos alunos. O trabalho escolar, portanto, é uma Fundamental destacam algumas formas de concretização
transposição didática do conhecimento formal em desses princípios. São eles:
conhecimento escolar.
- A autonomia pode-se concretizar no trabalho em sala de
Assim, o professor é, de fato, um mediador na interação aula, através de atividades que permitam ao aluno posicionar-
dos alunos com os objetos de conhecimento. O aspecto se, elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e
didático que assume e os métodos que utiliza têm, pois, cooperativamente de projetos coletivos, ter discernimento,
como finalidade, estimular a compreensão, generalização, organizar-se em função de metas eleitas, governar-se,
transposição e aplicação de conceitos em situações participar da gestão de ações coletivas, estabelecer critérios e
diversas, de modo a permitir a solução de problemas, o eleger princípios éticos, entre outros aspectos.
levantamento de questões, a avaliação dos resultados de - O respeito à diversidade tem a ver com o direito de
suas ações e a reconstrução do conhecimento em outros todos os alunos realizarem as atividades fundamentais para o
níveis - ou seja, promover a aprendizagem. seu desenvolvimento e socialização. Sua concretização em sala
de aula significa levar em conta fatores sociais, culturais e a
Contudo, não é isso o que vem ocorrendo na escola básica história educativa de cada aluno, suas características pessoais
no Brasil. A má qualidade de formação do professor brasileiro de déficit sensorial, motor ou psíquico, ou de superdotação
não lhe fornece as condições para o exercício pleno do seu intelectual, dando-se especial atenção ao aluno que
ofício, que é o de promover a aprendizagem dos seus alunos. demonstrar a necessidade de resgatar a autoestima.
Estudos realizados recentemente no Brasil sobre o cotidiano - O trabalho diversificado consiste no uso de diferentes
da sala de aula mostram, além da própria pobreza material e exercícios, atividades, tarefas por grupos de alunos ou
física das salas, o predomínio de práticas educativas rotineiras, pequenos projetos, que vão permitindo a inserção de todos no
repetitivas, centradas no professor e que utilizam a escrita trabalho escolar, independentemente dos diferentes níveis de
pelo aluno (deveres de casa, cópia, exercícios escritos no conhecimento e experiência presentes entre os alunos de uma
caderno etc.) mais como um mecanismo de controle da mesma classe. O princípio que deve orientar essa opção é o de
disciplina do que como instrumento de efetiva aprendizagem. que todos os alunos são capazes de aprender, cada um no seu
A própria organização da sala de aula, com a disposição das ritmo próprio e a partir de pontos diferentes, desde que lhe
carteiras escolares em fileiras, revela a opção metodológica sejam dadas às condições para que isso ocorra.
predominante entre os professores. A ausência de material
didático rico e diversificado e a falta de conhecimento A interação e a cooperação são princípios subjacentes à
aprofundado dos conteúdos que ensina levam o professor, na aprendizagem dos conteúdos escolares e à aprendizagem de
maioria das vezes, a recorrer a práticas tradicionais e a formas de convivência escolar e social. Para sua concretização,
banalizar a importância das atividades e das rotinas escolares. a escola e os professores devem criar situações em que os
Diante disso, é preciso que a equipe gestora, junto com a alunos possam aprender a dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo,
equipe escolar, discuta as opções didáticas a serem assumidas, a pedir ajuda, aproveitar críticas, explicar um ponto de vista,
promovendo os meios para que sejam postas em prática. Para coordenar ações para obter sucesso em uma tarefa conjunta.
isso, há, hoje, um conjunto de princípios educativos que vêm A seleção de material deve ser variada e cuidadosa. Todo
orientando as práticas pedagógicas contemporâneas. Veja material é fonte de informação, mas nenhum deve ser utilizado
alguns desses princípios: com exclusividade. A escolha do livro didático pelo professor
deve ser criteriosa e estar vinculada com as suas opções
metodológicas. Além dos livros didáticos dos alunos e dos
15 http://www.moodle.ufba.br
Conhecimentos Pedagógicos 14
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instrução elementar, progressivamente delegada à instituição mudar o papel da escola e transformá-la em instituição
escolar, cujos profissionais estariam tecnicamente habilitados assistencialista, mas sim dar relevo a seu papel de ator
para isso. Apesar da importância conferida à educação pela fundamental - embora não exclusivo - na realização do direito
República, não se verificou uma substancial melhoria da da criança e do adolescente à educação.
situação de ensino: o recenseamento de 1906 apresentou uma É comum se ouvir discussões acaloradas entre professores
média nacional de analfabetismo de 74,6%. sobre o ECA, principalmente quando ocorre alguma infração
Com a criação das escolas públicas pelo novo regime, envolvendo adolescentes que recebem a proteção indicada
começa-se a questionar a capacidade da família para educar os pelo Estatuto. De fato, o respeito deve ser exercido em “mão
filhos. É neste quadro de contraposição da educação moderna dupla”, ou seja, não apenas crianças e adolescentes têm
à educação doméstica que se consolidam as primeiras ideias - direitos a serem respeitados, mas também seus educadores e
que resistem ao tempo, mesmo fora de contexto -, de que as demais profissionais. As discussões em torno do tema devem
famílias não estavam mais qualificadas para as tarefas do ocorrer a partir de uma compreensão acurada da doutrina da
ensino. Além de terem de mandar os filhos à escola, os proteção integral, que precisa estar incorporada à formação
familiares precisavam também ser educados sobre os novos inicial e continuada de professores, gestores escolares e
modos de ensinar. O Estado passa a ter um maior poder diante educacionais. Com o envolvimento consciente desses
da família, regulando hábitos e comportamentos ligados à profissionais, a realização do direito à educação da criança e
higiene, saúde e educação. do adolescente certamente será mais facilmente alcançada.
A construção dos grupos escolares durante o período da Outra questão é que, para a efetivação do Estatuto, novos
Primeira República (1889-1930) colocava em circulação o atores, como o Conselho Tutelar - órgão permanente e
modelo das escolas seriadas. O novo sistema educacional autônomo, não jurisdicional - e o Ministério Público, passam a
permitia aos republicanos romper com o passado monárquico ser interlocutores dos agentes educacionais e das famílias.
e projetar um futuro. A arquitetura com dimensões grandiosas, Essas mediações afetam o equilíbrio das relações de poder
a racionalização e a higienização dos espaços faziam com que dentro das escolas, das famílias e entre escolas e famílias.
o prédio escolar se destacasse em relação às outras edificações Conflitos antes tratados na esfera privada ganham os holofotes
que o cercavam. O objetivo era incutir nos alunos o apreço à e os rigores da esfera pública.
educação racional e científica, valorizando uma simbologia Atualizando os marcos existentes, o Plano de Metas
estética, cultural e ideológica construída pela República. A Compromisso “Todos pela Educação”, do “Plano de
cultura elaborada tendo como eixo articulador os grupos Desenvolvimento da Educação (PDE)”, formalizado pelo
escolares atravessou o século XX, constituindo-se em Decreto nº 6.094, de 24/4/2007, reforça a importância da
referência para a organização seriada das classes, para a participação das famílias e da comunidade na busca da
utilização racionalizada do tempo e dos espaços e para o melhoria da qualidade da educação básica. O Plano de Metas
controle sistemático do trabalho docente. estabelece as seguintes diretrizes para gestores e profissionais
da Educação:
Relações Contemporâneas Escola-Família Diretrizes do “XIX - divulgar na escola e na comunidade os
dados relativos à área da Plano de Metas educação, com
Ao longo das últimas décadas, a criança foi sendo ênfase no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica -
deslocada da periferia para o centro da família. Do mesmo Ideb, referido no art. 3º;
modo, ela passou a ser o foco principal do sistema educativo. XX - acompanhar e avaliar, com participação da
O deslocamento é fruto de uma longa história de emancipação, comunidade e do Conselho de Educação, as políticas públicas
na qual as propostas educacionais têm peso importante. Esse na área de educação e garantir condições, sobretudo
movimento alinha-se ao dos direitos humanos e consolida-se institucionais, de continuidade das ações efetivas,
na Carta Internacional dos Direitos da Criança, de 1987, que preservando a memória daquelas realizadas;
registra o acesso da criança ao estatuto de sujeito de direitos e XXI - zelar pela transparência da gestão pública na área da
à dignidade da pessoa. Tais conquistas invertem a concepção educação, garantindo o funcionamento efetivo, autônomo e
de aluno como página em branco, encerrada no projeto inicial articulado dos conselhos de controle social; (...)
da escola de massa e que organizava a hierarquia das posições XXIV - integrar os programas da área da educação com os
no sistema escolar. Estas mudanças incidem diretamente nas de outras áreas como saúde, esporte, assistência social,
transformações das relações entre as gerações, tanto de pais e cultura, dentre outras, com vista ao fortalecimento da
filhos quanto entre professores e alunos. Com relações mais identidade do educando com sua escola;
horizontais, o exercício da autoridade na família e na escola XXV - fomentar e apoiar os conselhos escolares,
como estava configurado até então - adultos mandavam e envolvendo as famílias dos educandos, com as atribuições,
crianças/adolescentes obedeciam - tende a entrar em crise. dentre outras, de zelar pela manutenção da escola e pelo
Na consolidação dos direitos das crianças, as monitoramento das ações e consecução das metas do
responsabilidades específicas dos adultos que as cercam vão compromisso;
sendo modificadas e a relação escola-família passa a ser regida XXVI - transformar a escola num espaço comunitário e
por novas normas e leis. No Brasil, em termos legais, os manter ou recuperar aqueles espaços e equipamentos
direitos infanto-juvenis estão amparados pela Constituição e públicos da cidade que possam ser utilizados pela comunidade
desdobrados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), escolar.
Lei nº 8.069, de 1990, e na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), promulgada em 1996. Novas Fronteiras Escola-Família
Tanto no ECA quanto na LDB, a efetividade do direito à
educação das crianças e dos adolescentes deve contar com a No movimento histórico apresentado anteriormente,
ação integrada dos agentes escolares e pais ou responsáveis. vimos que houve transferência de parte das funções
Esse novo ambiente jurídico-institucional inaugura um educativas da esfera familiar para a estatal. Nesse
período sem precedentes de consolidação de direitos sociais e deslocamento, ao mesmo tempo em que o saber familiar,
individuais dos alunos e suas famílias. sobretudo das famílias pobres, foi desqualificado, ocorreu a
De todos os equipamentos do Estado, a escola é o que tem profissionalização das funções educativas, reorganizando a
o mais amplo contato contínuo e frequente com os sujeitos interseção de funções e responsabilidades entre as famílias e
destes direitos, daí sua responsabilidade de atuar junto a as escolas.
outros atores da rede de proteção social. Isso não significa
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É importante ressaltar que ainda hoje mães, pais e os importantes de exercício democrático de participação que
demais agentes escolares se encontram em condições bastante podem beneficiar todos.
distintas dentro do processo educativo. Como instituição do Quando falamos em interação, pensamos em atores
Estado encarregada legalmente de conduzir a educação distintos que têm algum grau de reciprocidade e de abertura
formal, a escola, por meio de seus profissionais, tem a para o diálogo. Nessa perspectiva, é importante identificar e
prerrogativa de distribuir os diplomas que certificam o negociar, em cada contexto, os papéis que vão ser
domínio de conteúdos considerados socialmente desempenhados e as responsabilidades específicas entre
relevantes. Esses certificados são pré-requisitos para estudos escolas e famílias. Por exemplo, considera-se que o ensino é
futuros e credenciais importantes no acesso das pessoas às uma atribuição prioritariamente da escola. Esta, porém, divide
diferentes posições de trabalho na sociedade. essa responsabilidade com as famílias, quando prescreve
Essas duas instituições, que deveriam manter um espaço tarefas para casa e espera que os pais as acompanhem. Em um
de interseção por estarem incumbidas da formação de um contexto de pais pouco escolarizados, com jornadas de
mesmo sujeito, podem, dependendo das circunstâncias, se trabalho extensas e com pouco tempo para acompanhar a vida
distanciar até chegar a uma cisão. Normalmente, quando o escolar dos filhos, essa divisão pode mostrar-se ineficaz. Por
aluno aprende, tira boas notas e se comporta adequadamente, isso, da mesma forma como procura diagnosticar as
mães, pais e professores se sentem como agentes dificuldades pedagógicas dos alunos para atendê-los de acordo
complementares, corresponsáveis pelo sucesso. Todos com suas necessidades individuais, a escola deve identificar as
compartilham os louros daquela vitória. Mas, quando os condições de cada família, para então negociar, de acordo com
alunos ficam indisciplinados ou têm baixo rendimento escolar, seus limites e possibilidades, a melhor forma de ação conjunta.
começam as disputas em torno da divisão de Assim como não é produtivo exigir que um aluno com
responsabilidades pelo insucesso. dificuldades de aprendizagem cumpra o mesmo plano de
O insucesso escolar deveria suscitar a análise de causas trabalho escolar dos que não têm dificuldades, não se deve
dos problemas que interferiram na aprendizagem, avaliando o exigir das famílias mais vulneráveis aquilo que elas não têm
peso das condições escolares, familiares e individuais do para dar.
aluno. O que se constata é que, em vez disso, o comportamento
mais comum diante do fracasso escolar é a atribuição de Tipos Identificados de Relação das Escolas Com as
culpas, que geralmente provoca o afastamento mútuo. Para Famílias
ilustrar essa questão, colocamos lado a lado duas falas
recorrentes nas entrevistas realizadas para este estudo: O levantamento realizado para este estudo revelou ser
- Dos professores, ouvíamos: “os pais dos alunos que mais pequeno o número de iniciativas (projetos, programas ou
precisam de ajuda são sempre os mais difíceis de trazer até a políticas) em curso no Brasil desenhadas especificamente para
escola”. estimular a relação escola-família. Constatamos também que
- Dos pais desses alunos que mais precisam, ouvíamos: “nós, várias experiências, localizadas via internet, haviam sido
que mais precisamos de ajuda, somos os mais cobrados pelas interrompidas com pouco tempo de duração. Isso pode indicar
escolas”. tanto que tais experiências foram projetadas como eventos
pontuais - dia da família na escola, ação comunitária,
E uns não escutam os outros. festividades -, quanto a dificuldade de conceber e implementar
Neste jogo de busca de culpados, a assimetria de poder uma proposta mais consistente.
entre profissionais da educação e familiares costuma pesar a Estes fatos contrastam com o discurso difundido por
favor dos educadores, principalmente quando temos, de um pesquisadores, educadores, gestores educacionais e
lado, os detentores de um saber técnico e, de outro, sujeitos de legisladores sobre a importância de se trabalhar em conjunto
uma cultura iletrada. Novamente, se essas diferenças são com a família dos alunos. Como ler esta distância entre o
convertidas em desigualdade, a distância entre alguns tipos de suposto consenso sobre a relevância de aproximação das
famílias e as escolas que seus filhos frequentam se amplia. escolas com as famílias e a dificuldade de se conceber e
Podemos dizer que usar a assimetria de poder para transferir implementar programas ou políticas nessa direção?
da escola para o aluno e sua família o peso do fracasso Parte da explicação parece estar na conjunção da
transforma pais, mães, professores, diretores e alunos em complexidade do tema e das inúmeras dificuldades que as
antagonistas, afastando estes últimos da garantia de seus escolas públicas brasileiras enfrentam para acolher o universo
direitos educacionais. É uma armadilha completa. das crianças em idade de escolarização obrigatória. As
Mas seria possível, ou desejável, anular a assimetria entre pesquisas mostram também que esta interação nem sempre é
os familiares dos alunos e os profissionais da educação? cordial e solidária. Ela pode ser uma relação armadilhada,
Entendemos que por trás da assimetria há diferenças reais. Os onde nem tudo o que reluz é ouro ou um diálogo (im)possível,
educadores escolares são profissionais especializados que têm como descrevem alguns teóricos mais influentes sobre a
autorização formal para ensinar e, conforme já mencionado, questão. Um agravante da dificuldade do empreendimento
para emitir certificações escolares. Eles formam um coletivo pode ser, justamente, a falta de referências concretas de
com interesses profissionais e institucionais a zelar, enquanto experiências municipais e escolares que obtiveram resultados
os familiares, geralmente pouco organizados, são movidos por comprovados de uma interação que resultasse em melhoria na
interesses individuais centrados na defesa do próprio filho. qualidade educacional. O presente estudo pretende avançar,
mesmo que de forma exploratória, na remoção deste último
Mais recentemente, além de representantes dos filhos, os obstáculo.
familiares têm sido estimulados - inclusive pela legislação Com base nas informações coletadas, fizemos uma leitura
educacional - a interagir com os profissionais da educação transversal que aglutinou as experiências em quatro tipos de
também como cidadãos que compõem a esfera pública da intencionalidade.
instituição escolar. A participação em conselhos escolares (ou
associações de pais e mestres), em conselhos do Fundeb, Educar as famílias
conselhos de merenda etc. é parte desta tarefa de Praticamente todas as escolas e redes de ensino fazem
representação da sociedade civil e de controle social. Essa reuniões de pais e promovem debates sobre as mudanças
dupla função - representante do filho e representante da sociais que afetam as crianças, jovens e consequentemente
comunidade - torna mais complexa a delimitação dos lugares escolas e famílias. Nessas ocasiões apresentam seus projetos
reservados aos pais e mães na escola, mas abre possibilidades pedagógicos, falam de seus planos e convidam palestrantes
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para esclarecer sobre o perigo do envolvimento com drogas, o Interagir para melhorar os indicadores educacionais
risco de uma gravidez precoce, a dificuldade de impor limites Uma das principais causas diagnosticadas da fragilidade da
e manter a autoridade do adulto etc. Às vezes, as reuniões são interação das famílias com as escolas é que a maioria dos
organizadas de forma mais lúdica, com técnicas de dinâmica usuários do ensino público não tem a cultura de exigir
de grupo para que as pessoas se sintam mais acolhidas. Mas, educação de qualidade para seus filhos. Pesquisas envolvendo
na medida em que a escola defende seu lugar de protagonista pais de alunos de escolas públicas atestam que, para a maior
e abre poucos canais de escuta sobre o que os pais têm a dizer, parte destes, o direito à educação continua sendo confundido
esse acolhimento fica num nível muito superficial. com vaga na escola, acesso ao transporte, ao uniforme e à
Não estamos negando a importância desse tipo de merenda escolar. Em resposta a isso, cartilhas orientando
atividade, mas é importante também analisar alguns de seus sobre os direitos e deveres das famílias e sugerindo formas de
limites. envolvimento dos pais e mães na educação dos filhos têm sido
A ideia de educar as famílias costuma ter por base a largamente divulgadas. Igrejas, empresas e ONGs conclamam
suposição de que elas são omissas em relação à criação de seus seus fiéis, empregados e beneficiados a atuar na busca por uma
filhos. Essa “omissão parental” que alguns autores nomeiam escola pública mais eficaz. Mais recentemente, com a criação
como um mito, aparece reiteradamente no discurso dos do Ideb, estamos vendo uma série de iniciativas
educadores como uma das principais causas dos problemas governamentais e não governamentais de mobilização da
escolares. Esse tipo de explicação incorre numa inversão sociedade civil (familiares incluídos) para monitorar as metas
perigosa de responsabilidades: uma coisa é valorizar a estabelecidas para cada município e escola. Muitas redes de
participação dos pais na vida escolar dos filhos; outra é apontar ensino começam a estabelecer incentivos com base nestas
como principal problema da educação escolar a falta de medidas.
participação das famílias. Cumprindo a determinação legal, neste tipo de interação as
informações são compartilhadas com os familiares e as metas
Abrir a escola para a participação familiar e a estabelecidas para os alunos são colocadas como um horizonte
comunidade de interesse comum. Profissionais da educação orientam
Essa é uma das formas de aproximação mais difundidas familiares a atuarem complementarmente ao trabalho da
hoje no meio escolar. É onde se inscrevem políticas federais escola, valorizando e acompanhando a vida escolar dos filhos.
como o Escola Aberta, o Mais Educação e também as ações que Ajudam também a encontrar alternativas, quando a família
visam cumprir as diretrizes de gestão democrática da escola. não consegue auxiliar nas atividades de apoio escolar. Coloca-
O espaço da escola é visto como equipamento público a serviço se assim o princípio de responsabilização de cada parte para a
da comunidade cuja utilização deve ser ampliada com a mesa de negociações e novos atores entram em cena, como o
realização de atividades comunitárias, como oficinas para Conselho Tutelar - convocado para ajudar no combate à
geração de renda e trabalho. Os responsáveis pelos alunos são infrequência e ao abandono escolar, por exemplo.
tratados como parte da comunidade escolar representando Neste tipo de interação, o foco está posto nos resultados da
seus pares em conselhos escolares, associações de pais, e até educação escolar. Mediada por resultados de avaliações
participando como voluntários em ações cotidianas da escola, escolares, este tipo de interação ajuda a organizar um diálogo
inclusive em alguns casos como auxiliares das professoras em mais produtivo. As questões de disciplina são tratadas como
salas de aula. Os eventos abertos ao público costumam ser um problema comum e não como falha da educação familiar.
planejados conjuntamente por representantes de pais e As funções e metas de ensino ajudam a estabelecer os
equipe escolar. No entanto, a ação propriamente pedagógica compromissos a serem assumidos pela escola. A dificuldade
continua sendo uma questão de especialistas e um pedaço da que se apresenta é que isso exige dos professores e gestores
conversa onde não cabe bem a opinião familiar. escolares segurança para defender seu trabalho educacional e
Embora o diálogo neste tipo de interação seja mais fecundo abertura para ouvir críticas em caso de resultados negativos,
do que no tipo descrito anteriormente, os estudos que focam além da necessária disposição para buscar soluções de forma
especificamente a participação dos pais na escola revelam que compartilhada. No contexto atual, as ações de interação com a
as oportunidades e espaços destinados a esta participação família para melhorar os indicadores educacionais tendem a
costumam privilegiar um tipo de família, que geralmente já se se multiplicar.
encontra mais próxima da cultura escolar, em detrimento de
outros. Em outras palavras: são sempre os mesmos e poucos Incluir o aluno e seu contexto
pais e mães que participam da gestão escolar. Nesse sentido a Este tipo foi identificado em apenas três das 18
ideia de representação é questionada diante da dificuldade em experiências realizadas pelas Secretarias - e mesmo assim de
reunir um número realmente significativo de pais para a forma parcial. Essas experiências, ainda que raras, incorporam
tomada de decisões coletivas. Assim, aqueles familiares que de maneira mais completa os princípios propagados neste
assumem os postos de representação tendem a defender estudo, apontando para possibilidades de interação escola-
visões particulares, muitas vezes a favor dos seus próprios família menos difundidas, mas promissoras.
filhos - e não exatamente os interesses de seus pares. Isso pode Nesse tipo de abordagem, a aproximação das famílias tem
contribuir para manter afastadas as famílias menos como ponto inicial o conhecimento sobre as condições de vida
escolarizadas e reforçar as desigualdades sociais dentro da dos alunos e sobre como elas podem interferir nos processos
escola, barrando oportunidades de equidade educacional. de aprendizagem. Para estabelecer o diálogo, a escola tanto
Sendo assim - e sem deixar de reconhecer que os recebe as famílias quanto vai até elas por meio de visitas
mecanismos de participação e gestão democrática são domiciliares, entrevistas com familiares, enquetes, troca de
conquistas preciosas e relevantes -, a forma como eles são informações com outros agentes sociais que interagem com as
praticados deve ser objeto de atenção cuidadosa por parte das famílias, como os agentes de saúde do Programa Saúde da
escolas e redes de ensino. A legitimidade é uma moeda Família etc. A equipe de gestão escolar atua na preparação
importante na gestão escolar/educacional. Além disso, cabe dessa aproximação e no planejamento das atividades
lembrar que há hoje programas de formação de conselhos pedagógicas a partir do que foi apreendido sobre os alunos e
municipais de educação, conselhos escolares e outros, que seu contexto familiar.
ajudam a qualificar esses processos de decisão coletiva. A interação com as famílias é universal, isto é, atinge todos
os alunos, mas as consequências do programa dão origem a
formas diferenciadas de atendimento aos alunos. Por exemplo:
os casos de vulnerabilidade e abuso são notificados,
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encaminhados e acompanhados em conjunto com outros com acolhimento e participação são pequenos e podem
órgãos públicos. A partir daí, serviços de atendimento acontecer situações nas quais os pais se sentem excluídos,
educacional aos alunos com menos apoio familiar podem ser como a projeção de textos escritos para uma plateia com
organizados e assumidos pelas escolas. muitos analfabetos ou o uso de linguagem técnica que não é
Este é um tipo de relação que requer uma disposição de compreendida pela audiência. A equipe escolar, ao fim desse
revisão permanente das práticas e posturas da instituição tipo de encontro, só sabe o que quis dizer e não o que foi
escolar e também a articulação de outros profissionais para compreendido pelas famílias. A consequência é continuar
compor uma rede de proteção à criança e ao adolescente que trabalhando com suposições sobre as famílias, sem ter
seja realmente integral. avançado no conhecimento sobre elas e muito menos na
construção de uma agenda de colaboração mútua.
Reflexões sobre a prática Numa reunião em que há uma preocupação maior com a
A diversidade de experiências que encontramos reforça o interação, a equipe da escola organiza informações sobre o
que já dissemos sobre as múltiplas funções e possibilidades desempenho dos alunos (geral e individual) e também
que a interação escola-família pode cumprir. Podemos fazer orientações sobre como as famílias podem estimular os alunos
uma aproximação desta tipologia com uma outra, proposta por a se empenharem nas atividades escolares. Esse tipo de
Jorge Ávila de Lima, que classifica o envolvimento dos pais na interação exige maior clareza dos papéis dos agentes
escola em três tipos: educacionais, que ajudam a delinear para pais e mães os
1) Mera recepção de informação; lugares que podem ocupar no apoio/complementação da
2) Presença dos pais nos órgãos de gestão da escola; e educação escolar. Como a interação pretende influenciar
3) Envolvimento significativo na vida da sala de aula. positivamente o desempenho dos alunos, toma-se mais
É oportuno fazermos aqui uma observação: na construção cuidado com a linguagem e procura-se criar espaços de
de uma interação escola família, importa mais o tipo de manifestação e esclarecimento de dúvidas. Os horários das
relação que a atividade favorece do que a modalidade da reuniões são normalmente marcados após consulta aos
atividade em si. Nas duas formas de classificação de familiares, os assuntos são registrados em ata e os
atividades citadas anteriormente, percebemos que a interação compromissos de cada um são estabelecidos e acompanhados
com as famílias ou participação parental pode ser mais ou tanto pela escola, como pelos responsáveis junto com a
menos superficial, dependendo do objetivo estabelecido por avaliação processual dos alunos.
cada escola ou rede/sistema de ensino. Há casos em que a Nos casos onde a relação escola-família já está mais
comunidade se impõe no espaço escolar, mas, na maioria das desenvolvida, os motivos apresentados pelas famílias para não
situações, o tipo de interação é decidido pelos educadores. participar dos encontros das escolas são pesquisados e
Algumas conquistas formais, como a participação de utilizados para o planejamento das próximas atividades. Em
representantes de pais e mães e mesmo alunos na gestão vez de uma série de respostas, os profissionais da escola fazem
escolar, muitas vezes não passam de rituais burocráticos também perguntas e dialogam com os pais antes de propor
travestidos de democracia. Para que um programa de ações de responsabilidade conjunta. Para os pais ausentes, são
interação cumpra seus objetivos de igualdade de pensadas estratégias não somente para disseminar as
oportunidades entre os alunos, é preciso analisar que informações da reunião, mas também para apoiá-los, se for o
participação é essa, em que medida ela é representativa do caso, com ações da rede comunitária ou de proteção social
conjunto das famílias, e que fatores podem inibir a disponível. Os familiares podem propor temas para a reunião
participação mais igualitária dos diversos grupos familiares. com a escola. Os agentes escolares se posicionam claramente
Destacamos também que a presença de familiares na como responsáveis pelo ensino e negociam com as famílias
escola nem sempre é um bom indicador de uma interação a suas possibilidades de ajudar na escolarização dos filhos.
serviço da aprendizagem dos alunos/filhos. Uma escola que Observa-se, enfim, nesse tipo de reunião, uma efetiva abertura
promove muitos e concorridos eventos pode estar se para tomar os pais como sujeitos e parceiros do processo de
comportando mais como um centro cultural/social e perdendo escolarização, buscando compreender seus pontos de vista e
de vista o que lhe é específico, isto é, garantir uma educação evitando-se exagerar nas expectativas em relação a eles.
escolar de qualidade. Assim, é importante fazer uma Concluindo, queremos dizer que vão existir sempre
diferenciação entre participação familiar nos espaços reuniões e reuniões - poderão ser produtivas ou infrutíferas,
escolares e participação na vida escolar dos filhos - o que dependendo da forma como são construídas. Ao organizar
também nem sempre depende da presença dos responsáveis encontros e palestras, a escola precisa ter em seu horizonte
no estabelecimento de ensino. algumas questões, como por exemplo: qual lugar é reservado
Chama a atenção o fato de que em boa parte das para as famílias? A atividade reforça a assimetria entre quem
experiências identificadas a interação com as famílias não é sabe/quem não sabe, quem é especialista ou formado/quem
pensada como uma estratégia de conhecimento da situação não é, ou estabelece um espaço efetivo de diálogo em que todos
familiar para a construção de um diálogo em torno da são interlocutores válidos? Nessa segunda perspectiva,
educação escolar, mas sim como uma intervenção no ambiente educadores escolares e famílias podem ter a chance de se
familiar para que ele responda de forma mais efetiva às educarem juntos.
demandas da escola. Essa diferença pode parecer sutil - porém
é bastante significativa. Para ilustrá-la, vamos pensar em Questões
posturas diferentes diante de uma atividade que está presente
em todos os estabelecimentos de ensino: as reuniões de pais 01. (SEDUC/PI - Professor - NUCEPE) Escola e família são
na escola. instituições diferentes e que apresentam objetivos distintos;
Uma reunião pode ter elementos muito semelhantes, mas, todavia, compartilham a importante tarefa de preparar
dependendo da sua condução, pode aumentar a distância crianças e adolescentes para a inserção na sociedade. A relação
entre os participantes ou abrir canais de diálogo. entre estas instituições muitas vezes tem-se caracterizado por
A reunião poder ser marcada no horário de conveniência ser um fenômeno pouco harmonioso e satisfatório, uma vez
da escola sem consultar a disponibilidade dos responsáveis, que as expectativas de cada instituição ou de cada ator
ter como conteúdo mensagens que a escola quer passar aos envolvido não são atendidas e se mostram pouco favoráveis ao
familiares, independentemente de qualquer tipo de demanda crescimento e desenvolvimento dos alunos. Ainda que
destes, e a dinâmica pode ser os profissionais da educação situações conflituosas permeiem a relação família-escola, há
falarem e os familiares escutarem. Nesses casos, os cuidados consenso de que a iniciativa de construir uma relação
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01.C / 02.B / 03.D / 04.B Analisando a obra de Paulo Freire, enquanto Filosofia da
Educação, ele apresenta fragmentos do Aufklärung
(esclarecimento) e da Pedagogia kantiana, ao citar a passagem
da heteronomia para a autonomia pela qual o educando passa,
porém Paulo Freire não apresenta um sistema filosófico
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18 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 19 FARIAS, M. (2005) Infância e educação no Brasil nascente. In:
VASCONCELOS, V. M. R. (Org.). Educação da infância: história e política. Rio de
Janeiro: DP&A.
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reivindicadas como lugar de educação e cuidados coletivos das I - creches ou entidades equivalentes, para crianças de até
crianças de zero a seis anos. três anos de idade;
É necessário considerar que todo o avanço histórico, II - pré-escolas para crianças de quatro a seis anos de idade.
cultural e político é uma conquista decorrente de dura e árdua Art. 31 Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante
luta do povo. A creche não foi um benefício concedido acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o
gratuitamente ao povo brasileiro. Foi uma conquista dos objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino
operários que, organizados, passaram a protestar contra as fundamental.
precárias condições de vida e de trabalho. Os empresários
procurando enfraquecer os movimentos dos trabalhadores Da leitura desses artigos, é importante destacar, além do
começaram a conceder algumas creches e escolas maternais que já comentamos a respeito da educação infantil como
para os filhos deles. primeira etapa da educação básica:
Segundo Rizzini20, no Estado de São Paulo, em fins de 1920, - A necessidade de que a educação infantil promova o
a legislação previa a instalação de Escolas Maternais, com a desenvolvimento do indivíduo em todos os seus aspectos, de
finalidade de prestar cuidados aos filhos dos operários, forma integral e integrada, constituindo-se no alicerce para o
preferencialmente junto às fábricas que oferecessem local e pleno desenvolvimento do educando. O desenvolvimento
alimento para as crianças. As poucas empresas que se integral da criança na faixa etária de 0 a 6 anos torna-se
propunham a atender aos filhos de suas trabalhadoras o imprescindível e inseparável das funções de educar e cuidar.
faziam desde o berçário, ocupando-se também da instalação - Sendo a ação da educação infantil complementar à da
de creches. família e à da comunidade, deve estar com essas articuladas, o
De acordo com Oliveira et al21, somente a Consolidação das que envolve a busca constante do diálogo com as mesmas, mas
Leis de Trabalho (CLT) criada por Getúlio Vargas em 1943, é também implica um papel específico das instituições de
que prevê a organização de berçários pelas empresas com a educação infantil no sentido de ampliação das experiências,
intenção de cuidar das crianças no período de amamentação. dos conhecimentos da criança, seu interesse pelo ser humano,
O direito da criança brasileira à creche, como instituição pelo processo de transformação da natureza e pela
educacional, está garantido, restando, de agora em diante, convivência em sociedade.
definir, com clareza, seu papel social, a direção educacional, Além da seção específica sobre a educação infantil, a LDB
metodologia de ação pedagógica e até mesmo a adaptação da define em outros artigos aspectos relevantes para essa etapa
criança entregue a essas instituições. da educação. Assim, quando trata “Da Organização da
É grande o desafio a ser enfrentado pelos profissionais das Educação Nacional” (capítulo IV), estabelece o regime de
creches, tanto em termos de definição de objetivos e função colaboração entre a União, os Estados e o Municípios na
social em relação às crianças pequenas, estratégias de organização de seus sistemas de ensino. É afirmada a
trabalho, condições de trabalho, interação criança-professor, responsabilidade principal do município na educação infantil,
criança-criança, período de adaptação da criança à nova com o apoio financeiro e técnico de esferas federal e estadual.
realidade (creche), enfim toda uma nova gama de Uma das partes mais importantes da LDB é a que trata Dos
ressignificações necessárias e urgentes. Profissionais da Educação. São sete artigos que estabelecem
diretrizes sobre a informação e a valorização destes
Educação Infantil na Nova LDB profissionais. Define o Art. 62 que a “formação de docentes
A expressão educação infantil e sua concepção com para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em
primeira etapa da educação básica está agora na lei maior da curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
educação do país, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação institutos superiores de educação, admita para formação
Nacional (LDB), sancionada em 20 de dezembro de 1996. Se o mínima para o exercício do magistério na educação infantil e
direito de 0 a 6 anos à educação em creches e pré-escolas já nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a
estava assegurado na Constituição de 1988 e reafirmado no oferecida em nível médio, na modalidade normal”.
Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, a tradução deste
direito em diretrizes e normas, no âmbito da educação Papel da Creche na Formação da Criança
nacional, representa um marco histórico de grande
importância para a educação infantil em nosso país. As práticas desenvolvidas entre adultos e crianças de zero
A inserção da educação infantil na educação básica, como a três anos, no contexto das creches, são relações humanas
sua primeira etapa, é o reconhecimento de que a educação permeadas por múltiplas influências. Dentre elas, Barreto22,
começa nos primeiros anos de vida e é essencial para o destaca diversos aspectos interligados, tais como:
cumprimento de sua finalidade, afirmada no Art. 22 da Lei: - os princípios e valores constituídos em uma esfera
cultural, no interior das famílias e das comunidades locais;
“a educação básica tem por finalidade desenvolver o - os movimentos sociais que fortaleceram esta instituição
educando, assegurar - lhe a formação comum indispensável como um local de referência para mulheres trabalhadoras e
para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para seus filhos;
progredir no trabalho e nos estudos posteriores”. - e, ainda, as contribuições de estudiosos e pesquisadores,
que definem tendências teóricas que irão contribuir para a
A educação infantil recebeu um destaque na nova LDB, construção dos modelos educacionais adotados.
inexistente nas legislações anteriores. É tratada na Seção II, do Como decorrência desta determinação diversa, definem-se
capítulo II (Da Educação Básica), nos seguintes termos: diferentes funções para as creches no contexto da sociedade
Art. 29 A educação infantil, primeira etapa da educação brasileira: como recurso que beneficia a mãe trabalhadora, ou
básica, tem com finalidade o desenvolvimento integral da como instrumento social para prevenir o fracasso escolar das
criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico, crianças mais pobres, ou ainda como uma instância educativa,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da que contribuiria para uma sociedade mais justa e um exercício
família e da comunidade. de cidadania em prol da população infantil.
Art. 30 A educação infantil será oferecida em:
20 RIZZINI, I. (2000). Assistência à infância no Brasil: uma análise de sua 22BARRETO, A. M. R. (2003). A educação infantil no contexto das políticas
Petrópolis: Vozes.
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Para Garcia23, o ambiente tem um impacto poderoso na necessidades, ritmos, habilidades e potenciais de
criação das crianças, isso implica na forma como elas vão se desenvolvimento peculiares. Cada família tem vivências,
socializando e adquirindo conhecimento. Em cada fase do conhecimentos, crenças e valores que se expressam nos jeitos
relacionamento entre crianças e família, observa-se muitas de cuidar e educar, que vão sendo percebidos e assimilados
características de prazer e de dificuldade que geram pelas crianças, constituindo um repertório utilizado por elas
comportamentos desorganizados. para lidarem com outras situações de cuidado, em outros
As mudanças que ocorrem durante a infância são mais espaços sociais. Quando as atitudes e procedimentos de
amplas e aceleradas do que qualquer outra que venha a cuidado realizados pelas famílias e professores são muito
ocorrer no futuro. Sendo que dos três aos seis anos as crianças diferentes, é possível o surgimento de conflitos que precisam
vivem a segunda infância, período que corresponde aos anos ser explicitados e negociados, para que as crianças se sintam
pré-escolares. seguras e capazes de lidar com os dois ambientes.
Nesta fase, segundo Rocha et al24, a aparência das crianças Muitos professores podem confirmar, como exemplo da
muda, suas habilidades motoras e mentais florescem e sua prática vivenciada em creches públicas e privadas, que
personalidade torna-se mais complexa. Todos os aspectos do algumas crianças têm dificuldade para aceitar a solicitação do
desenvolvimento físicos, cognitivos e psicossociais continuam professor para retirar o calçado e participar de brincadeiras
interligados. À medida que os músculos passam a ter controle com água ou areia e resistem porque suas mães recomendam
mais consistente, as crianças podem atender mais suas que não fiquem descalças para “não se resfriarem”, ou não
necessidades pessoais, como a higiene, e o vestir-se, ganhando, brinquem com areia porque o “médico disse” que poderia
assim, maior senso de competência e independência. Logo, as causar doenças. Outras famílias orientam suas crianças a não
atividades físicas são importantes. darem descarga no vaso sanitário todas as vezes que fazem
A creche além de desenvolver processos educativos xixi, para economizarem água em suas casas, conflitando com
também precisa oferecer alimentação equilibrada tanto as orientações recebidas nas unidades educacionais. Nestas
quantitativa como qualitativamente, proporcionando situações, os professores precisam ouvir as crianças e famílias,
educação alimentar e nutricional às crianças, amenizando as compreenderem a lógica que orienta suas preocupações,
situações de insegurança alimentar e promovendo o recomendações e práticas de cuidados, para que possam
desenvolvimento e o crescimento infantil. negociar e adequar as dinâmicas e diretrizes no contexto
O cuidar e o educar são indissociáveis, são ações educacional.
intrínsecas, portanto é de fundamental importância que as A forma como o professor identifica a necessidade de troca
instituições de educação infantil incorporem de maneira de fralda ou de uso do sanitário, por uma criança de seu grupo
integrada as funções de cuidar e educar, não mais e cuida dela, contribui para que ela aprenda aos poucos a
diferenciando, nem hierarquizando os profissionais e identificar e nomear as próprias sensações corporais,
instituições que atuam com crianças pequenas ou àqueles que possibilita que ela construa a representação mental de seu
trabalham com as de mais idade. corpo, que aprenda rituais e regras sociais para a convivência
coletiva, como a que determina que eliminemos cocô e xixi em
Cuidar e Educar ou Educar e Cuidar? um lugar determinado, longe daquele que nos alimentamos ou
As crianças que frequentam creches vivenciam a brincamos e, um pouco mais tarde, que as meninas usem
socialização primária concomitante com a secundária, ou seja, sanitários diferentes de meninos.
o que antes era de responsabilidade exclusiva das famílias As sensações corporais, como as que nos informam que
agora é compartilhado e é parte significativa das funções dos estamos com vontade de ir ao banheiro ou com fome, ou
professores. O fenômeno, decorrente da crescente inserção da cansados, são uma importante linguagem que comunica que
mulher no mundo do trabalho formal associada à urbanização precisamos parar a atividade do momento para recuperar o
e aos novos arranjos familiares, requer que os professores bem-estar, como ir ao sanitário, tomar água, alimentar-se ou
ampliem suas competências para cuidar-educar nos diversos descansar. As crianças, por meio da mediação do adulto,
ciclos de ensino e situações cotidianas25. aprendem a identificar e nomear estas sensações e também
O cuidar e educar da primeira infância começa pela criação como realizar os procedimentos para recuperar o bem-estar
de um ambiente facilitador - aqui entendido como um espaço físico e mental alterado por elas.
e as relações nele estabelecidas -, da constituição saudável da Pautados na organização da rotina da creche, aprendem
pessoa. Os bebês humanos nascem com a sensibilidade de que o dia tem um ritmo marcado pelas variações de
olhar, reconhecer e reagir às expressões faciais, gestuais e temperatura e claridade, próprios do amanhecer, entardecer,
vocais daqueles que cuidam deles. Caso não haja anoitecer, mas, também pelos rituais culturais de chegada e
reciprocidade, eles se fecham ao contato, o que significa um partida do domicílio e da creche, de início e término das
risco para o desenvolvimento saudável. brincadeiras (ou trabalho), das refeições e momentos de
A relação dialógica entre a pessoa que cuida e a criança relaxamento e descanso, alternados com rituais de cuidados
constrói relações de apego e o sentido de pertencerem a um com o próprio corpo (lavar as mãos antes das refeições sentar-
lugar social, processo fundamental para o desenvolvimento da se para comer, alimentar-se de boca fechada para não
identidade que compõe uma fase denominada “socialização engasgar, limpar os dentes após as refeições, retirar o sapato
primária”. As crianças que frequentam instituições de para dormir, brincar ao sol ou à sombra).
educação infantil, desde bebês vivenciam esse processo tanto As crianças aprendem a cuidar de si ao serem cuidadas. O
no âmbito da família, seja qual for sua conformação e dinâmica, crescimento físico e a maturação neurológica associados às
como na relação com os professores. interações e às oportunidades oferecidas pelo ambiente
Embora sejam processos concomitantes, toda criança, por possibilitam o desenvolvimento de habilidades, para que o
mais nova que seja, ao começar a frequentar a creche, traz bebê adquira autonomia para mudar de postura e se
consigo uma pré-história (nome, sobrenome, classe social, locomover.
ocupação e escolaridade dos pais, composição e dinâmica Após vivenciar e observar o adulto cuidando dela e de
familiar, valores e crenças, histórico de saúde da família), que outras crianças e tornarem-se mais independentes, elas
associada às vivências no processo de gestação, nascimento, começam a imitá-lo, e a criar novas formas de agir e realizar os
primeiros cuidados, a torna um ser único, com desejos, procedimentos. Cuidam de bonecas, cozinham, oferecem
23 GARCIA, R. L. (2001). Em defesa da educação infantil. Rio de Janeiro: DPLA 25 Texto adaptado disponível em http://portal.mec.gov.br/
24 ROCHA, J. et al. (2011). Educação Infantil: os desafios das creches no
equilíbrio entre o cuidar e o educar
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papinha, mamadeira, às vezes, o peito, como a mãe fazia ou faz e desenvolvimento de cada criança, empregando precauções
com ela. Trocam fraldas, banham, acalantam, colocam no berço padronizadas para evitar transmissão de doenças e acidentes;
para dormir, ajustam a voz semelhante ao que os adultos - Registre e ofereça a medicação oral e tópica prescrita pelo
fazem ao conversar com os bebês, dividem as tarefas. médico ou os cuidados especiais orientados por profissionais
Com base no conceito de Escola Promotora da Saúde da de saúde e que não possam ser interrompidos durante o
Organização Mundial da Saúde e considerando a faixa etária período em que a criança permanece na instituição educativa;
atendida em creches e pré-escolas, é preciso refletir nos - Observe, identifique, informe e procure ajuda nas
indicadores que contribuem para o crescimento e situações em que reconhece que a criança apresenta alteração
desenvolvimento saudável nesses espaços e, ao mesmo tempo, no estado de saúde (febre, traumas, dor, diarreia, cansaço ao
constituem modelos para as crianças aprenderem e respirar, manchas na pele, mal-estar geral, alterações no
incorporarem estilos e modos de vida saudáveis. Para isso, é crescimento e desenvolvimento), de acordo com as diretrizes
necessário que o professor apoiado pelo gestor e pelo da instituição;
coordenador de sua unidade educacional: - Informe o gestor para que ele notifique à Unidade Básica
- Compartilhe os cuidados com as famílias, ouça suas de Saúde, de acordo com a legislação específica, a suspeita de
demandas, registre as recomendações relativas à saúde da crianças ou profissionais da unidade educacional com doenças
criança que requeira observação ou cuidados especiais, transmissíveis ou aumento do número de crianças com
durante o período em que está sob seus cuidados; problemas de saúde;
- Interaja com as crianças, identifique e atenda às - Certifique-se da segurança e higiene dos brinquedos,
necessidades delas de conforto, bem-estar e proteção, de esteiras, almofadas, lençóis, trocadores, banheiras, objetos e
acordo com as potencialidades do desenvolvimento infantil e materiais de uso pessoal e coletivo, segundo as normas
contexto de cada grupo, sem tolher sua participação, as sanitárias especificas para creches e pré-escolas; e
brincadeiras e em outras situações de aprendizagem; - Assegure que as áreas interna e externa estejam
- Auxilie e ensine as crianças a cuidar de si, organize organizadas e seguras para as crianças de todos os grupos,
ambientes adequados ao processo de desenvolvimento das evitando acidentes e disseminação de doenças e ensine o
crianças de forma que a autonomia seja construída sem risco à cuidado com o ambiente
integridade física e psíquica;
- Acompanhe e registre o processo de desenvolvimento Indissociabilidade entre Educar, Cuidar e Brincar
infantil e reflita com a coordenadora em conjunto com os A reivindicação pela articulação da educação e do cuidado
profissionais de saúde do serviço local, sobre as crianças que na educação infantil caracteriza-se como um processo
apresentem alguma dificuldade de aprendizagem ou de histórico que visou garantir, enquanto afirmação conceitual,
interação com as demais crianças ou com os adultos, um lugar para além da guarda e assistência social. A intenção
procurando meios de ajudá-las em suas necessidades foi demarcar o caráter educativo, legalmente legitimado pela
específicas; Constituição de 1988, a qual consolidou a importância social e
- Alimente os bebês, atenda às necessidades nutricionais, política da educação infantil ao determinar o caráter educativo
afetivas e de aprendizagens de novos paladares e das instituições voltadas para a atenção às crianças de zero a
consistências, com base nas recomendações para o processo seis anos e onze meses26.
de desmame e nas normas de higiene para ambientes No momento em que a educação infantil passou a ser
coletivos; considerada a primeira etapa da Educação Básica, integrando-
- Acolha as mães dos lactentes e ofereça condições, para se aos sistemas, através da LDBEN de 1996, foi necessário
que elas conciliem aleitamento e trabalho e sigam regras de interrogar e pensar sua especificidade. Para demarcar sua
higiene para ambientes coletivos; “identidade”, seu lugar nas políticas públicas e na Educação
- Organize as refeições em ambiente higiênico, seguro, Básica brasileira, e para retirar a creche da assistência social e
confortável, belo e que possibilite autonomia, socialização e a pré-escola da “preparação para o ensino fundamental”, foi
boa nutrição a todos os grupos etários; necessário sublinhar e insistir na indissociabilidade do
- Ajude as crianças que recusam alimentos ou que educar/cuidar, enquanto estratégia política para aproximá-
apresentem dificuldades para se alimentar sozinhas; los, redimensionando a educação da infância.
- Disponibilize água potável e utensílios limpos A recorrente presença desse binômio na educação infantil,
individualizados para que as crianças possam beber água ao longo dos últimos vinte anos, promoveu tanto a
quando desejarem e sejam incentivadas a fazê-lo durante todo consolidação de algumas concepções, quanto constituiu
o dia; disputas e também problematizações. Podemos apontar
- Organize a rotina contemplando o banho de sol até às 10 alguns consensos em relação à indissociabilidade da expressão
horas e após às 15 horas (a considerar o clima de cada região), educar/cuidar.
sobretudo dos bebês que dependem dos adultos para Em primeiro lugar, o ato de cuidar ultrapassa processos
transportá-los para o solário, estando atenta ao acesso das ligados à proteção e ao atendimento das necessidades físicas
crianças e oferta de água para hidratação e à proteção contra a de alimentação, repouso, higiene, conforto e prevenção da dor.
exposição solar excessiva; Cuidar exige colocar-se em escuta às necessidades, aos desejos
- Esteja atento ao conforto da criança, ensinando-a a e inquietações, supõe encorajar e conter ações no coletivo,
adequar o vestuário e calçados às brincadeiras, atividades e solicita apoiar a criança em seus devaneios e desafios, requer
clima; interpretação do sentido singular de suas conquistas no grupo,
- Mantenha as salas ventiladas e alterne atividades em implica também aceitar a lógica das crianças em suas opções e
espaços internos e externos, evitando confinamento; tentativas de explorar movimentos no mundo.
- Esteja atento às recomendações sanitárias e legais Em segundo lugar, cuidar e educar significa afirmar na
relativas ao espaço versus número de crianças; educação infantil a dimensão de defesa dos direitos das
- Troque as fraldas, ensine as crianças a usar o vaso crianças, não somente aqueles vinculados à proteção da vida,
sanitário e a fazer a higiene pessoal com atitudes acolhedoras, à participação social, cultural e política, mas também aos
com respeito às peculiaridades do processo de aprendizagem direitos universais de aprender a sonhar, a duvidar, a pensar,
a fingir, a não saber, a silenciar, a rir e a movimentar-se.
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E, finalmente, o ato de educar nega propostas educacionais experimentações sensoriais e motoras, nos mostra uma das
que optam por estabelecer currículos prontos e mais importantes características do brincar e das
estereotipados, visando apenas resultados acadêmicos que brincadeiras: as crianças brincam porque gostam de brincar, e
dificilmente conseguem atender a especificidade dos bebês e é precisamente no divertimento que reside sua liberdade e seu
das crianças bem pequenas como sujeitos sociais, históricos e caráter profundamente estético. Esse divertimento resiste a
culturais, que têm direito à educação e ao bem-estar. toda análise e interpretação lógicas, porque se ancora na
Porém, os consensos apontam também para algumas dinâmica de valorar e significar o vivido através da
críticas ao uso do binômio educar e cuidar. Se insistirmos na imaginação, mostrando que somos mais do que simples seres
afirmação das duas palavras, sugerimos que essas ações sejam racionais.
separadas e possam ser cumpridas por diferentes Brincar, jogar e criar estão intimamente relacionados, pois
profissionais, legitimando a existência de um professor e um iniciam juntos. O brincar é sempre uma experiência criativa,
auxiliar. Os professores, ocupados com o caráter instrucional: uma experiência que consome um espaço e um tempo,
contar histórias, fazer trabalhos, enquanto, no âmbito da configurando uma forma básica de viver. Um momento
assistência, o auxiliar envolvido com as trocas de roupa, a significativo no brincar é aquele da admiração, no qual a
alimentação e a saúde. criança surpreende a si mesma.
Há, ainda, no debate em torno do binômio educar/cuidar, Nas práticas culturais que definem a atividade lúdica em
uma disputa pela obtenção da hegemonia entre os dois termos. cada grupo social, e em cada brincadeira em particular, a
A ascendência do termo cuidado sobre o termo educação surge criança pequena apreende brincando, brincando as
principalmente dos argumentos da filosofia, os quais complexifica e brincando as utiliza em novos contextos,
defendem que todas as relações e interações entre os sujeitos sozinha ou com outras crianças. A presença de uma cultura
pressupõem o cuidado. O cuidado, como modalidade lúdica preexistente torna possível o brincar como uma
específica das relações entre os humanos, é necessário para à atividade cultural que supõe aprendizagens de repertórios e
sobrevivência. Assim, todas as práticas cotidianas são vocabulários que a criança opera de modo singular em suas
cuidados (os cuidados básicos, os cuidados com os ambientes brincadeiras e jogos. Assim, os repertórios e o vocabulário de
coletivos físico, natural e social). Por outro lado, alguns autores jogo disponíveis para os participantes em um determinado
afirmam que os processos educacionais sempre implicam a grupo social compõem a cultura lúdica desse grupo e os
dimensão do cuidado. Esse debate está apenas começando e as repertórios e o vocabulário que um indivíduo conhece
argumentações de ambos os lados são pertinentes e compõem sua própria cultura lúdica.
consistentes. Os artefatos e as brincadeiras ensinadas pelos adultos, e
Alguns autores sugerem que, talvez, o uso da expressão observadas, imitadas e transformadas pelas crianças, tornam-
“cuidados educacionais” ponha sob melhor foco o se o repertório inicial. Assim como a geração adulta é
entendimento da indissociabilidade dessas dimensões. Ações importante na transmissão cultural, as crianças mais velhas
como banhar, alimentar, trocar, ler histórias, propor jogos e também são importantes agentes de divulgação da cultura
brincadeiras e projetos temáticos para se conhecer o mundo lúdica ao apresentarem outros repertórios e outros
são proposições de cuidados educacionais, ou ainda significam vocabulários.
uma educação cuidadosa. A brincadeira é a cultura da infância, produzida por
aqueles que dela participam e acionada pelas próprias
Brincadeira atividades lúdicas. As crianças aprendem a constituir sua
O respeito incondicional ao brincar e à brincadeira é uma cultura lúdica brincando. Toda cultura é processo vivo de
das mais importantes funções da educação infantil, não relações, interações e transformações. Isso significa que a
somente por ser no tempo da infância que essa prática social experiência lúdica não é transferível, não pode ser
se apresenta com maior intensidade mas, justamente, por ser simplesmente adquirida, fornecida através de modelos
ela a experiência inaugural de sentir o mundo e experimentar- prévios. Tem que ser vivida, interpretada, co-constituída, por
se, de aprender a criar e inventar linguagens através do cada criança e cada grupo de crianças em um contexto cultural
exercício lúdico da liberdade de expressão. Assim, não se trata dado por suas tradições e sistemas de significações que tem
apenas de um domínio da criança, mas de uma expressão que ser interpretados, ressignificados, rearranjados,
cultural que especifica o humano. recriados, incorporados pelas crianças que nesse contexto
São as primeiras experiências de cuidado corporal que chegam.
desencadeiam os processos de criação do campo da confiança. Para a constituição de contextos lúdicos é necessário
Essa confiabilidade se manifesta na presença de cuidados considerar que as crianças ouvem música e cantam, pintam,
atentos e seguros, que protegem o bebê, assim como na desenham, modelam, constroem objetos, vocalizam poemas,
proposição de um ambiente que favorece o êxito das ações parlendas e quadrinhas, manuseiam livros e revistas, ouvem e
desencadeadas por ele, proporcionado pela constante contam histórias, dramatizam e encenam situações, para
proximidade do adulto que responde às solicitações de brincar e não para comunicar “ideias”. Brincando com tintas,
interação e segue o ritmo do bebê. O importante é que o bebê cores, sons, palavras, pincéis, imagens, rolos, água, exploram
possa conduzir e o adulto se deixe conduzir, estabelecendo seu não apenas o mundo material e cultural à sua volta, mas
direito a uma atitude pessoal desde o começo. É esse o também expressam e compartilham imaginários, sensações,
princípio da autonomia, porém o adulto, ou qualquer outro sentimentos, fantasias, sonhos, ideias, através de imagens e
interlocutor, também pode, e deve, oferecer complementos e palavras. A compreensão do mundo da criança pequena se faz
desafios. Nessa perspectiva, aprender a “estar só” é uma por meio de relações que estabelece com as pessoas, os
conquista da criança, baseada na confiabilidade e no ambiente objetos, as situações que vivencia, pelo uso de diferentes
favorável no qual possa se manifestar. Desafiando os limites da linguagens expressivas (o movimento, o gesto, a voz, o traço, a
segurança, gradualmente ela encontra nessa confiança a mancha colorida). Nesse processo, as escolhas de materiais,
necessária sustentação para abandonar o conforto da proteção objetos e ferramentas que o adulto alcança promovem
e se lançar em sua aventura com o mundo. diferenças no repertório e no vocabulário, na cultura material
Antes de brincar com objetos, o bebê brinca consigo e imaterial na qual a criança está inserida.
mesmo, com a mãe, o pai, os irmãos e outras pessoas. Antes de Garantir contextos que ofereçam e favoreçam
poder segurar algo nas mãos, já brinca de abrir e fechar os oportunidades para cada criança e o grupo explorarem
olhos, fazendo o mundo aparecer e desaparecer. O bebê, desde diferentes materiais e instrumentos através de suas
suas primeiras experiências lúdicas de explorações e brincadeiras exige dos estabelecimentos educacionais
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planejamento e organização de espaços e tempos que de cuidado (Barbosa). Cotidiano - [...] refere-se a um espaço-
disponibilizem materiais lúdicos. Assim é necessária a tempo fundamental para a vida humana, pois tanto é nele que
presença de brinquedos, de objetos e materialidades que acontecem as atividades repetitivas, rotineiras, triviais, como
possam ser transformados, e também áreas externas também ele é o lócus onde há a possibilidade de encontrar o
destinadas a atividades, lugares desafiadores para o inesperado, onde há margem para a inovação [...].
desenvolvimento de brincadeiras, bem como, de um modo
geral, a preparação de um ambiente físico que convide ao José Machado Pais afirma que não se pode reduzir o
lúdico, às descobertas e à diversidade, e que seja ao mesmo cotidiano ao rotineiro, ao repetitivo e ao a-histórico, pois o
tempo seguro, limpo e confortável, propiciando atividade e o cotidiano é o cruzamento de múltiplas dialéticas entre o
descanso, o movimento e a exploração minuciosa. rotineiro e o acontecimento (Barbosa).
Nosso país, além de ter um patrimônio histórico e um Bem elaborada, a rotina é o caminho para evitar a atividade
patrimônio humano tem também muitas manifestações pela atividade, os rituais repetitivos, a reprodução de regras,
culturais que são nosso patrimônio imaterial. A tradição oral os fazeres automáticos. Para tanto, é fundamental que a rotina
brasileira é rica em lendas, contos, personagens, jogos de rua, seja dinâmica, flexível, surpreendente. Barbosa aponta que a
brinquedos e artefatos feitos com matérias naturais, simples, rotina inflexível e desinteressante pode vir a ser “uma
que se encontram no cotidiano e oferecem traços culturais tecnologia de alienação”, se não forem levados em
importantes na construção do pertencimento social. consideração o ritmo, a participação, a relação com o mundo,
Porém, não bastam espaços, materiais e repertórios a realização, a fruição, a liberdade, a consciência, a imaginação
adequados, há a necessidade da presença de adultos sensíveis, e as diversas formas de sociabilidade dos sujeitos nela
atentos para transformar o ambiente institucional em um local envolvidos.
onde predomina a ludicidade. É necessário que o profissional A rotina é uma forma de organizar o coletivo infantil diário
que atua diretamente com a criança pequena tenha e, concomitantemente, espelha o projeto político-pedagógico
conhecimento sobre a “cultura lúdica”, um amplo repertório da instituição. A rotina é capaz de apresentar quais as
que possa ser oferecido às crianças nas diversas circunstâncias concepções de educação, de criança e de infância se
e, principalmente, compartilhe a alegria, a beleza e a ficção da materializam no cotidiano escolar. Com o estabelecimento de
brincadeira. O adulto, ao ser tocado em seu poder de objetivos claros e coerentes, a rotina promove aprendizagens
reaprender a espantar-se e maravilhar-se, torna este momento significativas, desenvolve a autonomia e a identidade, propicia
de aprendizado, um momento de regozijo entre ele e as o movimento corporal, a estimulação dos sentidos, a sensação
crianças. de segurança e confiança, o suprimento das necessidades
Tal compreensão implica abandonar práticas habituais em biológicas (alimentação, higiene e repouso). Isto porque a
educação, romper com a concepção de educação como rotina contém elementos que podem (ou não) proporcionar o
“fabricação” - dizendo às crianças como devem ser, pensar, bem-estar e o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social,
agir e o que devem saber. É o desafio de abandonar a ideia de biológico.
educação como “formatação”, previamente definindo os De acordo com o Referencial Curricular Nacional para
caminhos para as crianças. A compreensão de que a dinâmica Educação Infantil (1998), a rotina deve adequar-se às
do mundo contemporâneo nos propõe muitas incertezas para necessidades infantis e não o inverso. Ao observar e
o futuro, e que estas somente podem ser parcialmente documentar uma rotina (diária ou semanal, por exemplo),
solucionadas, torna-se importante pensar a ação educativa em algumas reflexões emergem:
sua dinâmica contraditória e viva, pois imersa na cultura. Esta - Como as atividades são distribuídas ao longo do dia? E da
situação exige um grupo de adultos - pais, professores, semana?
gestores e profissionais - atualizados e atentos às suas opções, - Com que frequência, em que momento e por quanto
escolhas e decisões. tempo as crianças brincam?
- Quanto do dia é dedicado à leitura de histórias, inclusive
Rotina para os bebês?
É praticamente impossível a reflexão sobre a organização - A duração e a regularidade das atividades têm assegurado
do tempo na Educação Infantil sem incluir a rotina pedagógica. a aquisição das aprendizagens planejadas?
Entretanto, é importante enfatizar que a rotina é apenas um - A criança passa muito tempo esperando entre uma e
dos elementos que compõem o cotidiano, como veremos a outra atividade?
seguir. Geralmente, a rotina abrange recepção, roda de - Como é organizado o horário das refeições? Onde são
conversa, calendário e clima, alimentação, higiene, atividades feitas?
de pintura e desenho, descanso, brincadeira livre ou dirigida, - E os momentos dedicados ao cuidado físico, são previstos
narração de histórias, entre outras ações. Ao planejar a rotina e efetivados com que frequência e envolvem quais materiais?
de sua sala de aula, o professor deve considerar os elementos: - Como o horário diário de atividades poderia ser
materiais, espaço e tempo, bem como os sujeitos que estarão aperfeiçoado, em favor de uma melhor aprendizagem?
envolvidos nas atividades, pois esta deve adequar-se à - Há espaço para o imprevisto, o incidental, a imaginação, o
realidade das crianças27. fortuito?
Segundo Barbosa28 a rotina é “a espinha dorsal, a parte fixa - As crianças são ouvidas e cooperam na seleção e
do cotidiano”, um artefato cultural criado para organizar a organização das atividades da rotina?
cotidianidade. A partir dessa premissa, é importante definir - Como as interações adulto/criança e criança/criança são
rotina e cotidiano: Rotina - É uma categoria pedagógica que os contempladas na organização dos tempos, materiais e
responsáveis pela educação infantil estruturaram para, a ambientes?
partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas instituições
de educação infantil. No caso da jornada em tempo integral, no período da
manhã devem ser incluídos momentos ativos e calmos, dando
[...] A importância das rotinas na educação infantil provém prioridade às atividades cognitivas. As crianças, depois de uma
da possibilidade de constituir uma visão própria como noite de sono, estão mais descansadas para ampliar sua
concretização paradigmática de uma concepção de educação e capacidade de concentração e interesse em atividades que
27 Texto adaptado produzido pela Secretaria de Estado de Educação do 28 BARBOSA, M. C. S. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto
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envolvem a resolução de problemas. É interessante, também, possibilidades das crianças viverem a infância e aprenderem a
incluir atividades físicas no período da manhã, observando o conviver, brincar e desenvolver projetos em grupo, expressar-
tempo e a intensidade de calor e sol ou frio. se, comunicar-se, criar e reconhecer novas linguagens, ouvir e
Já o período da tarde, em uma jornada de tempo integral, recontar histórias lidas, ter iniciativa para escolher uma
geralmente acaba por concentrar atividades como sono ou atividade, buscar soluções para problemas e conflitos, ouvir
repouso, refeições, banho, ou seja, as práticas sociais. O que poemas, conversar sobre o crescimento de algumas plantas
não significa que as Interações com a Natureza e a Sociedade, que são por elas cuidadas, colecionar objetos, participar de
as Linguagens Oral e Escrita, Digital, Matemática, Corporal, brincadeiras de roda, brincar de faz de conta, de casinha ou de
Artística e o Cuidado Consigo e com o Outro não estejam ir à venda, calcular quantas balas há em uma vasilha para
presentes por meio de atividades planejadas para surpreender distribuí-las pelas crianças presentes, aprender a arremessar
e motivar em uma sequência temporal que corre o risco da uma bola em um cesto, cuidar de sua higiene e de sua
monotonia ou da “linha de montagem”. organização pessoal, cuidar dos colegas que necessitam de
Nas jornadas de tempo parcial, por serem mais curtas, as ajuda e do ambiente, compreender suas emoções e sua forma
práticas sociais aparecem com menor frequência, ainda que de reagir às situações, construir as primeiras hipóteses, por
também estejam presentes. As Linguagens, as Interações com exemplo, sobre o uso da linguagem escrita, e formular um
a Natureza e a Sociedade e o Cuidado Consigo e com o Outro sentido de si mesmas (Oliveira30).
são geralmente o foco do trabalho pedagógico. Também é O que caracteriza uma instituição de Educação Infantil, que
essencial abrir espaço e reservar tempo para as brincadeiras, se diferencia de outros de locais de convivências, sejam
sejam livres, sejam dirigidas. públicos ou privados, é justamente a intencionalidade do
Não se pode ignorar o fato de que muitas das ações da projeto educativo, a especificidade da escola como agência que
rotina estão pautadas nas relações de trabalho do mundo promove as aprendizagens (Ferreira31).
adulto. Os horários de lanche, almoço, limpeza das salas,
funcionamento da cozinha, as atividades das crianças estão Dica: Sempre devemos considerar, na montagem das salas
sintonizadas de acordo com a produtividade, a organização e a de Educação Infantil, os diferentes conhecimentos e linguagens
eficácia que estão implicadas em uma organização capitalista. que compõem o currículo, entre eles a leitura, escrita,
Por vezes, as crianças querem ou propõem outros elementos matemática, artes, música, ciências sociais e naturais, corpo e
que transgridam as formalidades da rotina, das jornadas movimento. Ter material adequado, intencionalmente
integrais ou parciais, dos momentos instituídos pelos selecionado para as atividades, contribui significativamente
profissionais, sejam no sono, na alimentação, na higiene, na para o aprendizado. É Importante também ter os nomes das
“hora da atividade”, nas brincadeiras, entre outros. crianças em destaque como na latinha de lápis de cor ou giz de
A partir da observação, é possível detectar como as cera, assim como o varal de alfabeto, a tabela numérica e o
crianças vivem o cotidiano da instituição. Esses sinais das calendário e sempre, ao longo do ano, utilizar os materiais
crianças ajudam a apontar possibilidades que não se limitam produzidos pelas próprias crianças para colorir e significar o
às rotinas formalizadas e dão subsídios para trazer à tona a espaço da sala de aula.
valorização da infância em suas relações e práticas. Os
profissionais, em muitos momentos, percebem no contato Afetividade
diário com as crianças que entre elas coexistem necessidades Falar sobre a afetividade na relação interpessoal
e ritmos diferentes. Mostram-se preocupados em não educador/educando é fundamental para o processo de ensino
conseguir atender essa diversidade para que as crianças aprendizagem e relevante para que o aluno consiga um bom
possam vivenciá-la. Oscilam entre cumprir a tarefa que é desempenho no seu desenvolvimento.
ordenar e impor a sincronia e, ao mesmo tempo, abrir espaço No dicionário Aurélio, a afetividade é definida como um
para deixar aparecerem as individualidades, a simultaneidade, “conjunto de fenômenos psíquicos que manifestam
a “desordem” (Batista29). sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão
Desta forma, vivem cotidianamente um dilema, que é o de de dor, insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou de
respeitar e partilhar a individualidade, a heterogeneidade, os tristeza” (Ferreira32). Alguns autores como Saltini33 definem a
diferentes modos de ser criança ou seguir a rotina afetividade como “atitudes, valores, comportamentos moral e
estabelecida, cuja tendência é a uniformização, a ético, desenvolvimento pessoal, desenvolvimento social,
homogeneidade, a rigidez que por vezes permeia as práticas motivação, interesse e atribuição, ternura, empatia,
educativas. Assim, o grande desafio dos profissionais que sentimentos e emoções”.
atuam na Educação Infantil é o de preconizar novas formas de Diante das definições citadas, podemos verificar que a
intervenção, distinta do modelo de educação fundamental e, afetividade pode ser demonstrada por meio de manifestações
consequentemente, com sentido educativo próprio (Batista). que envolvem emoções, sentimentos e paixões da vida afetiva.
Cresce a relevância do planejamento cuidadoso, flexível, Faz-se necessário, então, que os professores propiciem um
reflexivo que minimiza o perigo da rotina “cair na rotina”, no clima de cordialidade e respeito mútuo, para que, desta forma,
pior sentido da expressão: ser monótona, impessoal, sem os alunos tenham autoestima e obtenham resultado positivo
graça, vazia, sem sentido para as crianças e até para os no aspecto cognitivo na escola e fora dela.
profissionais. Para tanto, conflito e tensão são elementos que Acredita-se que, ainda hoje, muitos educadores não
estarão presentes e contrapõem-se a uma prática pedagógica percebem a importância da afetividade em sua prática
idealizada. Como diz a poeta Elisa Lucinda: “O enredo a gente pedagógica, levando em consideração somente a transmissão
sempre todo dia tece, o destino aí acontece (...)”. de conteúdos. Entretanto, sabemos que a educação está além
O campo de aprendizagens que as crianças podem realizar do aspecto cognitivo. Sabe-se que existem muitas formas de
na Educação Infantil é muito grande. As situações cotidianas ensinar, pois “o ato de educar só se dá com afeto, só se
criadas nas creches e pré-escolas podem ampliar as completa com amor” (Chalita34).
29 BATISTA, R. A rotina da creche: entre o proposto e o vivido. In: 24ª Reunião 31 FERREIRA, B. S. Conteúdos na Educação Infantil: tensões contemporâneas.
Anual da Anped, 2001, Caxambu. Programa e resumos da 24º Reunião Anual da Dissertação de mestrado. UFRGS: 2012.
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), 2001. 32 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa.
30 OLIVEIRA, Z. de M. R. de. O currículo na educação infantil: o que propõem São Paulo: Nova Fronteira. (fascículos folha de São Paulo), 1994/1995.
as novas diretrizes nacionais? In: I Seminário Nacional: Currículo em movimento - 33 SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade & inteligência. Rio de Janeiro: DPA, 1997.
Perspectivas atuais, 2010, Belo Horizonte. Anais do I Seminário Nacional: currículo 34 CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. 8 ed. São Paulo: gente,
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Assim, o interesse em pesquisar sobre o tema da professor que faz a experiência de ser acolhido, na sua
afetividade surgiu diante da relação de minhas filhas com integridade, com o que é como ser humano, dará novo brilho
algumas professoras, nos anos iniciais do Ensino Fundamental ao seu campo de atuação” (Tissato35). Para Wallon36, “o
(muitas vezes percebi a falta de interesse e de prazer delas ao desenvolvimento da pessoa é uma construção progressiva em
frequentarem as aulas), e também por intermédio das aulas de que se sucedem fases com predominância alternadamente
Estágio Supervisionado que realizei, quando percebi a falta de afetiva e cognitiva. Cada fase tem um colorido próprio, uma
motivação dos alunos em sala de aula. unidade solidária, que é dada pelo predomínio de um tipo de
Desse modo, um professor, ao estar em seu ambiente de atividade”.
trabalho, deve conhecer suas funções e levar em consideração Portanto, a maneira que cada um sente suas emoções é
a importância de ser simpático, sensível e amigo de seus extremamente pessoal, e deve ser levada em conta a
alunos. Motivando-os assim, com certeza os conduzirá a experiência de vida social e familiar que cada um tem. A escola,
vencer obstáculos e desafios além de avançar em suas representada pelo professor, deve compreender o aluno em
curiosidades. seu universo, o que é de grande eficácia para seu trabalho
Portanto, um professor deverá não só passar como educador.
conhecimentos, mas também conseguir despertar interesses e Na perspectiva de Wallon, há cinco estágios de
a atenção das crianças. Para isso acontecer, é preciso que o desenvolvimento do ser humano:
educador pense em algo que estimule e facilite a - Impulsivo-emocional, que abrange o primeiro ano de
aprendizagem. Conforme Ribeiro, “os alunos aprendem vida: a predominância da afetividade orienta as primeiras
melhor quando são estimulados pelos professores a construir reações do bebê, as pessoas, as quais intercedem na sua
seu próprio conhecimento; portanto, lembre-se: aprender é relação com o mundo físico;
adquirir novas formas de ação, é evoluir”. - Sensório-motor e projetivo, que vai até o terceiro ano: o
Dessa forma, a importância de se trabalhar a afetividade interesse da criança se volta para a exploração sensório-
reside no fato de que a escola deve ser um espaço onde se motora do mundo físico. A aquisição da marcha e da preensão
constroem relações humanas, mesmo sabendo que tem sua possibilita-lhe maior autonomia na manipulação de objetos e
função apenas de ensinar conteúdos e de ajudar na formação na exploração de espaços, e outro marco fundamental é o
de cidadãos. É importante que a instituição se preocupe com o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem;
tema da afetividade para que, assim, a relação entre mestre e - Personalismo, que ocorre dos três aos seis anos, em que
aprendiz aconteça em um ambiente de harmonia, e para que a a criança forma sua personalidade: a construção da
aprendizagem, desse modo, possa fluir com mais facilidade, consciência de si dá-se por meio das interações sociais,
pensando-se que o desenvolvimento do aluno e a interação reorientando o interesse da criança para as pessoas, definindo
com os pais e professores podem facilitar no processo de o retorno da predominância das relações afetivas;
ensino-aprendizagem. Neste sentido, Dantas, La Taille e - Categorial: por volta dos seis anos, os progressos
Oliveira afirmam: intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para
O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, o conhecimento e conquista do mundo exterior.
que a motivação possa ser despertada por um número cada
vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao longo desse Dessa forma, é importante a relação entre os atores
desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a escolares para a formação integral do sujeito, pois muitos
afetividade é a mola propulsora das ações, e razão está ao seu alunos, quando vão à escola, levam problemas que são
serviço. detectados pelo professor, antes mesmo que na própria
Essa investigação realizou-se por meio de uma pesquisa família. Contudo, muitas vezes são constatados, condenados
bibliográfica para a compreensão da importância da ou esquecidos, rapidamente, em função do conhecimento
afetividade na relação professor-aluno em seu processo de formal, do currículo escolar, não se determinando tempo para
ensino. Além do mais, foi elaborado um questionário com cinco o trabalho com a dimensão afetiva do(a) aluno(a).
questões objetivas, aplicado a dez educadores de uma escola, Segundo Chalita, “é importante que o professor tenha
da rede pública de ensino de Patos de Minas. entusiasmo, paixão, que vibre com as conquistas de cada um
Dessa forma, esta pesquisa tem como objetivo de seus alunos, não discrimine ninguém, não se mostre mais
conscientizar os educadores sobre a importância do afeto e do próximo de alguns alunos, deixando os outros à deriva”. Para
amor para o ato de educar, considerando-os elementos o autor, o professor que se busca construir é aquele que
marcantes na relação pedagógica e na vida do ser humano. consegue de verdade ser um educador, que conhece o universo
É importante mencionar o quanto o mundo de hoje está do educando, que tenha bom senso, que permita e proporcione
globalizado, o que tem levado as pessoas a enfrentar sérios o desenvolvimento da autonomia de seus alunos. De acordo
problemas como a questão cultural, a tecnologia, os problemas com Silva, a escola comete erros porque desconhece as
financeiros, a separações de pais, e muitos outros, o que acaba características do funcionamento da mente humana em suas
refletindo nas crianças, causando transtornos e prejudicando- fases de desenvolvimento; erra por não conhecer conteúdos
as em seu meio escolar. culturais que possam contextualizar concretamente os alunos,
Faz-se importante então o conhecimento por parte do e erra ainda, por desconhecer as histórias de vida de cada um.
professor das dificuldades de aprendizagem do aluno, A partir desses conceitos, é preciso que a educação
podendo elas estar relacionadas ou não com a emoção. brasileira aponte para políticas públicas que tenham como
Acreditamos que a afetividade é o caminho para se obter bons meta uma escola de qualidade para todos. Contudo,
resultados tanto no desenvolvimento emocional quanto social percebemos que além dos conteúdos ministrados, para uma
do educando. Para tanto, um professor precisa saber lidar com educação de qualidade, o professor deve estar consciente do
situações imprevisíveis, que poderão surgir com a criança. seu papel na relação professor/aluno, bem como dos aspectos
Assim, para exercer sua função, é preciso que o professor afetivos para a formação de um cidadão que se relaciona e
não se preocupe apenas com o conhecimento através de interaja com os outros. A afetividade é um sentimento gerador
informação, mas também com as necessidades de cada aluno, de energia que envolve as crianças desde seu nascimento,
ou seja, com seus sentimentos, como amor, afeto e motivação, influenciando em seu processo de aprender, e assim, em sua
para que assim o aluno sinta desejo de “aprender”. “Um formação.
35 TISSATO, Nara Lúcia. Educação e afeto: importância das relações 36 WALLON, Henrin. Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 3
interpessoais na orientação pedagógica. Revista do professor. Porto Alegre, 2002. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.
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Nesse sentido, o professor deve acolher seu aluno, e isto é bem como contribui para que as relações interpessoais
uma habilidade fundamental no que se refere às relações aconteçam de modo harmonioso.
humanas. Para que isso ocorra, é preciso que o professor mude Wallon afirma que, nas interações marcadas pela elevação
sua postura no ato de educar, tendo clareza de que ensinar é da temperatura emocional, cabe ao professor “tomar a
um gesto que deve ser aplicado através de atos como iniciativa de encontrar meios para reduzi-las, invertendo a
direcionar, oportunizar, orientar, motivar e construir direção de forças que usualmente se configura: ao invés de se
conhecimentos. Deve, também, o educador levar em deixar contagiar pelo descontrole emocional das crianças,
consideração o importante desejo do aluno de se deve procurar contagiá-las com sua racionalidade”.
autodescobrir para aprender, fator imprescindível no início de Neste viés, a escola, por ser um meio social onde se
sua aprendizagem significativa. Com isso, promoverá o constroem diferentes relações, deve propor atividades que
desenvolvimento equilibrado dos recursos da inteligência que promovam oportunidades aos alunos de questionar, fazer
o aluno tem e não apenas da memória. Acerca desse assunto, opções, relatar seus sentimentos positivos ou negativos.
Masseto (apud Kullok37) afirma que quando pensamos em Cabe ao professor, em seu âmbito de trabalho, propiciar ao
ensinar, as ideias associativas nos levam a instruir, a educando situações em que ele participe ativamente das
comunicar conhecimentos ou habilidades, fazer, saber atividades e, assim, elaborar conceitos, construir valores para
mostrar, guiar, orientar, dirigir ações de um professor que que possa aperfeiçoá-los a partir de seus próprios
aparece como agente principal e responsável pelo ensino. conhecimentos. Assim, por meio do diálogo do professor com
Assim, sabemos que para ocorrer a aprendizagem, é o aluno, a escola será mais atuante e mais significativa na vida
preciso que seja em uma relação de amizade, solidariedade e da criança.
respeito mútuo entre professor e aluno. É preciso que a É preciso também, neste momento, que a atitude do
afetividade esteja presente em cada momento, nesse processo, educador seja bastante equilibrada, sem autoritarismo, mas
para que possa promover o desenvolvimento integral e sem o professor perca sua autoridade de professor. Para
harmonioso do educando, para assim, facilitar a aprendizagem Silva40, para achar o meio termo entre essas posições, o
através de seus conhecimentos. professor deverá:
Além do mais, enfatizando a ideia da importância do - Lembrar-se de que seu papel é transformar outra pessoa,
ambiente escolar no processo ensino aprendizagem é que mas sem moldá-la à sua própria imagem;
Nogueira38, afirma: - ter atitudes acolhedoras; respeitar o aluno, estar atento
[...] O ambiente escolar na sua forma mais clássica, os ao esforço dele e cultivar sua confiança;
métodos por muitos empregados e a leitura que alguns - relacionar-se com cada um e ao mesmo tempo com toda
professores fazem dos alunos como sendo uma “tabula rasa”, a turma;
desprovido de origem, histórias, conhecimentos prévios e que, - ser hábil na escolha e apresentação de atividade e
por consequência, está em sua sala de aula para ouvir envolver-se no trabalho junto com a classe;
passivamente as informações do detentor do conhecimento, - criar estratégias indiretas de controle;
são as principais fontes geradoras da desmotivação. Com estes - ter boas expectativas em relação à turma toda;
procedimentos educacionais a possibilidade de o aluno estar - discutir com os colegas, com o orientador e com a própria
ativo ao meio e a ação é totalmente coibida, e desta forma classe (desde que isso não piore as coisas) os conflitos que
acreditamos que a única motivação intrínseca que o aluno você tem com a turma.
pode ter é a de reagir não aprendendo.
Desta forma, devemos ressaltar que, no processo da
Entretanto, é importante ressaltar ainda que os relação entre sujeitos, é fundamental a busca do
educadores, como profissionais ligados à educação, atuem conhecimento, e isso só será alcançado se houver um processo
conscientes de seu dever, tendo em vista que sua em que haja interação entre professor (ensino) e aluno
responsabilidade se dá pelo fato de estar lidando com pessoas, (aprendizado), que tem como objetivo produzir mudanças.
exigindo por isso que o processo de ensino seja ministrado Segundo Rogers (apud Ribeiro41), mudar o foco do ensino para
com seriedade, mas também com afetividade, por ser de suma a facilitação da aprendizagem, ou seja, não se preocupar tanto
importância nesse processo. Para Freire39, ensinar é uma com as coisas que o aluno deve aprender ou com aquilo que vai
tarefa profissional que, no entanto, exige amorosidade, ser ensinado, mas sim com o como, por que e quando
criatividade e competências. O processo de ensinar, que aprendem os alunos, como se ouve e se sente a aprendizagem,
implica o de educar e vice-versa, envolve a paixão do conhecer e quais as suas consequências sobre a vida do aluno.
que nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil. De acordo com o autor, também o professor deve buscar
Lidamos com gente, com criança, adolescentes ou adultos. identificar, nos fatores implicados em cada situação, aqueles
Participamos de sua formação. Ajudamo-las ou prejudicamos que agem como combustíveis para o agravamento da crise,
nessa busca. tendo em vista a suscetibilidade das manifestações emocionais
A afetividade é um aspecto no qual se inserem grandes às reações do meio social. Acredita-se que os
manifestações que devem ser praticadas em todo lugar. No encaminhamentos de professor, se adequados, podem influir
cotidiano escolar, espaço onde a criança fica maior parte de decisivamente sobre a redução dos efeitos desagregadores da
seu tempo com o professor, na maioria das vezes muitos emoção.
conflitos acontecem, levando tanto o educador quanto o aluno Contudo, muito se tem discutido hoje sobre a
a desajustes emocionais, como raiva, medo, desespero, superficialidade das relações humanas na vida social, em que
angústia, insegurança. Portanto, as emoções dos alunos devem as pessoas têm cada vez mais deixado seus sentimentos de
ser observadas com mais atenção. Por isso, toda criança, assim lado. O mundo hoje está dominado pelo jogo de interesses,
como o adulto, necessita interagir mais fortemente “um com o pelo consumismo, pela luta pela sobrevivência, entre outros
outro”. Deste modo, é importante entre os seres humanos uma que têm contribuído para uma humanidade em que há falta de
troca de afetividade que traz grandes benefícios às pessoas, afeto.
37 KULLOH, Maisa Gomes Brandão. Relação professor/aluno: contribuição à 39 FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 11 ed.
prática pedagógica. Maceió: Edufal, 2002. São Paulo: Olhos D’Água, 2002.
38 NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: uma jornada 40 SILVA, Adriana Vera. Afetividade: será que sua classe enxerga você assim?
interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Revista Nova Escola, 1996.
Erica, 2001. 41 RIBEIRO, José Geraldo Gomes da Cruz. Relação professor/aluno:
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Faz-se necessário, então, que o educador conheça bem seu familiar e escolar forem favoráveis ao estímulo e a garantia de
aluno, no que diz respeito a suas inseguranças, dificuldades, práticas alimentares adequadas.
bem como o contexto de vida em que ele se encontra, suas As creches devem proporcionar condições de garantia
relações familiares, sua relação com os colegas, até mesmo para o desenvolvimento do potencial de crescimento
com seu professor. “Para educar o ser humano é fundamental adequado e a manutenção da saúde integral das crianças,
conhecê-lo profundamente, bem como respeitar seu envolvendo aspectos educacionais, sociais, culturais e
desenvolvimento, tendo a percepção correta de como esse ser psicológicos.
se desenvolve” (Mendonça42). A OMS e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento
Neste sentido, um professor sensato é aquele que tem materno exclusivo por seis meses e complementar até os 2
plena consciência de sua postura dentro da sala de aula, anos ou mais.
levando em consideração sua relação com o aluno. O educador Os benefícios e as vantagens da amamentação devem
deve proporcionar um ambiente harmonioso, numa relação de estimular profissionais da educação e da saúde a utilizarem
respeito e, assim, o desenvolvimento da criança será melhor seus conhecimentos no sentido de promover e apoiar esta
em todos os aspectos. prática.
Além do mais é importante também que o profissional na Nas creches, visando contribuir para a manutenção do
área da educação busque inovar sempre seus conhecimentos a aleitamento materno pelo maior tempo possível, os líquidos
partir dos já adquiridos. Então, o professor na sua prática deverão ser oferecidos as crianças em copos ou colheres.
pedagógica deve realizá-la, observando o aspecto afetivo, Deve-se lembrar que a mãe poderá continuar a amamentar a
deixando seu aluno expor suas ideias, como forma de auxiliar criança em casa, de manhã e à noite e deve-se buscar facilitar
na relação professor aluno e também em sua aprendizagem. esta prática, evitando-se o desmame total da criança.
Assim, Saltini43 diz que “a escola deveria também saber Na impossibilidade do aleitamento materno em tempo
que em função dessas articulações, a relação que o aluno integral, como no caso de lactentes frequentadores de creches
estabelece com o professor é fundamental enquanto elemento em período integral a partir dos 4 meses, há necessidade de
energizante do conhecimento”. algumas orientações:
O autor fala também que o hábito de expor o que sentimos
afetivamente nos dá condições de operar constantemente o A alimentação na creche das crianças de 4 a 12 meses deve
mundo interior das fantasias e dos desejos e constituir-se de:
consequentemente das configurações interiores. Dessa forma, - Menores de 4 meses: apenas alimentação láctea;
é fundamental que a escola, na figura do educador, esteja - Dos 4 aos 8 meses: leite, papa de frutas e papa salgada;
consciente da importância do desenvolvimento dos aspectos - Após completar 8 meses: leite, fruta in natura, papa
afetivos e cognitivos da criança para que, assim, seja capaz de salgada ou a refeição oferecida às demais crianças;
“detectar” se o aluno tem alguma dificuldade no aspecto - Após completar 12 meses: leite com frutas, pão, cereal ou
cognitivo ou mesmo problemas de ordem afetiva. Assim, o tubérculos, frutas, refeição normal oferecida às demais
professor pode fazer intervenções adequadas. Sob esse crianças da creche.
enfoque é que Weil44 fala que quando surgem problemas de
incompreensão geral ou localizada em certa matéria, o Após os seis meses de idade, a criança amamentada deve
professor tem de investigar as causas dessas insuficiências, receber alimentos, priorizando a inclusão de cereais,
achando caminhos para preencher as lacunas e ajudar os tubérculos, carnes e leguminosas e após completar sete meses
alunos. de vida, respeitando-se a evolução da criança, deve-se
Desse modo, podemos perceber que a relação afetiva tem priorizar alimentos como arroz, feijão, carne, legumes,
sua relevância na interação interpessoal das pessoas, bem verduras e frutas. O mel não deve ser oferecido para crianças
como do professor/aluno. Vygotsky considera a afetividade de menores de um ano pelo risco de contaminação.
suma importância no funcionamento psicológico do ser Entre os seis e os 12 meses de vida, a criança necessita se
humano, pois o sentimento pode conduzir à aprendizagem. O adaptar aos novos alimentos, cujos sabores, texturas e
professor deve ter então uma conduta que conduza seu aluno consistências são muito diferentes do leite materno.
a um aprendizado que dê prazer à criança, além de despertar Os profissionais vinculados à elaboração e administração
sua imaginação e seu gosto pelo aprender. das refeições das crianças devem ser capacitados quanto ao
Para Vygotsky, a aprendizagem ocorre: Quando associado preparo e conhecimento adequados relativo ás técnicas
a uma tarefa que é importante para o indivíduo, que de certo corretas e seguras de elaboração dos alimentos/refeições, bem
modo, tem suas raízes no centro da personalidade do como o número e horário das mesmas.
indivíduo, o pensamento realista da vida, as experiências Existem creches onde as crianças permanecem em período
emocionais, são muito mais significativas do que a imaginação integral e por isso, devem receber o lanche da manhã, almoço,
ou o devaneio. lanche da tarde e jantar. O conjunto destas refeições deve
atender, no mínimo, 70% das necessidades nutricionais
Alimentação diárias das crianças.
Esta fase é caracterizada pelo amadurecimento da Existem crianças que permanecem na creche somente
habilidade motora, da linguagem e das habilidades sociais meio período. As crianças que permanecem pela manhã,
relacionadas à alimentação, sendo este um grupo vulnerável recebem o lanche da manhã e o almoço e as crianças que
que depende dos pais ou responsáveis para receber permanecem à tarde devem receber o lanche da tarde e o
alimentação adequada45. jantar, sendo que este conjunto de duas refeições deve
A fase pré-escolar envolve comportamentos e atitudes que atender, no mínimo, 30% das necessidades nutricionais
persistirão no futuro, podendo determinar uma vida saudável, diárias das crianças.
à medida que um conjunto de ações que envolvem o ambiente
Restrições Alimentares
42 MENDONÇA, Mônica Marques. A importância da afetividade na relação 44 WEIL, Pierre. A criança, o lar e a escola. Rio de Janeiro: Civilização
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Na alimentação complementar não devem ser oferecidas públicas voltadas à prevenção e ao controle dos problemas de
preparações contendo sal, açúcar e gordura em excesso. Os saúde prevalentes na comunidade.
alimentos devem ser de fácil preparação, adquiridos, As instituições de educação infantil que possibilitam que as
armazenados e preparados de forma a não apresentar riscos crianças interajam e tenham acesso a aprendizagens
de contaminação. Devem ser ricos em micronutrientes, em significativas e cuidados profissionais de boa qualidade são
quantidade adequada a idade da criança, sendo que os possibilidades inegáveis de promoção do desenvolvimento
alimentos consumidos pelos adultos devem ser utilizados e integral e relações sociais saudáveis. Por outro lado, a
introduzidos gradualmente. convivência de bebês e crianças pequenas em ambiente
Não deve ser oferecido as crianças refrigerantes, sucos coletivo, associada às vezes, ao desmame precoce, pode
industrializados, doces em geral, balas, chocolate, sorvetes, aumentar o risco de adquirirem infecções respiratórias,
biscoitos recheados, salgadinhos, enlatados, embutidos. Estes gastrointestinais e outras prevalentes em menores de cinco
alimentos possuem excesso de gordura, açúcar, conservantes anos, o que requer cuidados e medidas de controle específicos.
ou corantes e podem comprometer o crescimento e Assim, é preciso que os profissionais da educação reconheçam
desenvolvimento, promover a carências de vitaminas e seu papel na promoção de saúde da criança e que os
minerais, além de aumentarem o risco de doenças como profissionais de saúde ultrapassem o discurso sobre a creche
alergias e obesidade. como fator de risco e a reconheçam como rede de apoio efetiva
É importante considerar que as práticas alimentares são para a infância brasileira.
adquiridas durante toda a vida, destacando-se os primeiros Ao perceber o processo saúde-doença como um estado
anos como um período muito importante para o dinâmico e determinado socialmente, não se justifica o
estabelecimento de hábitos alimentares que promovam a discurso de que na creche e na pré-escola são atendidas
saúde do indivíduo desde a infância até a idade adulta. apenas crianças saudáveis, pois o limite entre saúde e doença
A escola por sua vez exerce notável influência na formação é tênue e relativo, sobretudo em uma fase da vida de maior
de crianças e adolescentes constituindo-se num centro de vulnerabilidade biológica. Isto não significa que as crianças
convivência e ensino-aprendizagem, onde deve haver um que manifestem eventualmente doenças agudas ou crônicas
envolvimento de toda a comunidade escolar, alunos, em crise, não necessitem, às vezes, serem temporariamente
professores, funcionários, pais e nutricionista, que participem afastadas da unidade educacional até que se recuperem e
de forma integrada em estratégias e programas de promoção possam conviver em espaço coletivo. Para isto, é preciso
da alimentação saudável, garantindo assim a qualidade das definir e descrever critérios e formar professores para
refeições servidas. identificar as situações e seguir as recomendações técnicas
para inclusão e exclusão temporária daquelas que apresentem
Higiene e Saúde alterações no estado de saúde, evitando o afastamento
O reconhecimento de que as instituições educacionais desnecessário ou prolongado que nega o direito de todas as
devem preocupar-se com a saúde e bem-estar das crianças é crianças à educação infantil.
expresso em vários documentos publicados no País que
norteiam as políticas públicas de educação, saúde e justiça “A dimensão do cuidado, no seu caráter ético, é assim
social, bem como a literatura especializada. Contudo o orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e
entendimento amplo do que significa essa dimensão e, sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da
sobretudo, a organização, as atitudes e os procedimentos proteção integral da criança. O cuidado, compreendido na sua
necessários para sua efetivação com a participação da criança, dimensão necessariamente humana que coloca homens e
ainda são controversos. mulheres em relações de intimidade e afetividade, é
A importância de considerarmos a promoção da saúde e característico não apenas da Educação Infantil, mas de todos
bem-estar das crianças como uma responsabilidade das os níveis de ensino. Na Educação Infantil, todavia, a
instituições educativas em parceria com familiares e serviços especificidade da criança bem pequena que necessita do
de saúde começa pela aceitação do fato de que é impossível professor até adquirir autonomia para os cuidados de si, expõe
cuidar e educar crianças sem influenciar ou ser influenciado de forma mais evidente a relação indissociável do educar e
pelas práticas sociais relativas à manutenção e recuperação da cuidar nesse contexto”
saúde e bem-estar dos envolvidos neste processo. Mas para (Parecer CNE/CEB nº 20/09, que aponta as Diretrizes Curriculares
Nacionais de Educação Infantil).
que esta influência seja promotora do crescimento e
desenvolvimento saudáveis em cada contexto sociocultural, é
Repouso
preciso que os professores e gestores em Educação Infantil
Assim como os demais espaços da instituição, o espaço
reflitam criticamente sobre as informações que possuem do
destinado a esta faixa etária deve ser concebido como local
processo saúde-doença das crianças brasileiras, das diversas
voltado para cuidar e educar crianças pequenas, incentivando
e, às vezes, controversas mensagens indiretas e diretas que
o seu pleno desenvolvimento. As crianças de 0 a 1 ano, com
recebem via mídia, revistas, jornais e outros meios de
seus ritmos próprios, necessitam de espaços para engatinhar,
informação. Desta forma estarão conscientes de que as
rolar, ensaiar os primeiros passos, explorar materiais
escolhas individuais e coletivas ao planejarem, organizarem e
diversos, observar, brincar, tocar o outro, alimentar-se, tomar
operarem a rotina cotidiana relativa às atitudes e aos
banho, repousar, dormir, satisfazendo, assim, suas
procedimentos dos cuidados, às brincadeiras e atividades
necessidades essenciais. Recomenda-se que o espaço a elas
educativas (stricto sensus), podem influenciar as práticas
destinado esteja situado em local silencioso, preservado das
culturais de cuidado infantil e a saúde individual e coletiva das
áreas de grande movimentação e proporcione conforto
crianças e da comunidade onde estão inseridas.
térmico e acústico.
A importância da dimensão do trabalho dos professores
Espaço destinado ao repouso, contendo berços ou
neste âmbito, é que as crianças que convivem no espaço de
similares onde as crianças possam dormir com conforto e
uma creche ou pré-escola e interagem com os colegas e
segurança. Recomenda-se que sua área permita o
profissionais da unidade, continuam interagindo diariamente
espaçamento de no mínimo 50 cm entre os berços para
com seus familiares nas comunidades onde residem e com as
facilitar a circulação dos adultos entre estes.
quais se relacionam. Isto implica reconhecer que todos os
aspectos dessa diversidade de relações devem ser
considerados, incluindo-se as práticas sociais e as políticas
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Sugestões para os aspectos construtivos:46 lactente que inicia o desmame ou está em processo de
- Piso liso, mas não escorregadio e de fácil limpeza; adaptação na creche; ministrar medicamentos orais ou aplicar
- Janelas com abertura mínima de 1/5 da área do piso, pomadas e cremes para tratamentos que a criança necessite,
permitindo a ventilação e a iluminação natural, visibilidade identificar sinais de mal-estar ou traumas manifestos pelas
para o ambiente externo, com possibilidade de redução da crianças quando sob seus cuidados, acalmando-as e
luminosidade pela utilização de veneziana (ou similar) vedada providenciando os primeiros cuidados, até que sejam
com telas de proteção contra insetos, quando necessário; encaminhadas ao serviço de saúde e prestar os primeiros
- Portas com visores, largas, que possibilitem a integração cuidados diante de uma emergência; ensinar os cuidados com
entre as salas de repouso e de atividades, facilitando o cuidado o corpo para propiciar conforto, segurança e bem-estar.
com as crianças; Para isto, o professor precisa contar com apoio dos
- Paredes pintadas com cores suaves; no caso de gestores e coordenadores que se responsabilizem pelas
iluminação artificial, que seja preferencialmente indireta. parcerias com os serviços de saúde locais e programas de
formação continuada. É preciso refletir com os gestores de
Proteção, bem-estar e desenvolvimento da criança cada região do país, envolvendo as Secretarias de Saúde e
Educação, a viabilidade de cada creche e pré-escola ter o
- O programa para as creches prevê educação e cuidado de suporte técnico de um enfermeiro e, quando necessário, de
forma integrada visando, acima de tudo, o bem-estar e o outros profissionais de saúde, para compartilhar a formação e
desenvolvimento da criança47; supervisão dos professores.
- A melhoria da qualidade dos serviços oferecidos nas
creches é um objetivo do programa; Questões
- As creches são localizadas em locais de fácil acesso, cujo
entorno não oferece riscos à saúde e segurança; 01. (UFPR - Prefeitura de Curitiba/PR - Docência I) Em
- Os projetos de construção e reforma das creches visam, um grupo de berçário, uma das professoras convida os bebês,
em primeiro lugar, o bem-estar e o desenvolvimento da que estão envolvidos em situações diversificadas pela sala na
criança; companhia das demais professoras, para trocar a fralda. Todo
- A política de creche reconhece que os profissionais são o processo, desde o momento de retirada do bebê da sala para
elementos chave para garantir o bem-estar e o o trocador, é mediado pela fala da professora, que pede licença
desenvolvimento da criança; para pegar o bebê e trocá-lo, que enuncia cada ação que
- As creches dispõem de um número de profissionais desenvolve de forma antecipada e procura atribuir sentido às
suficiente para educar e cuidar de crianças pequenas; expressões e manifestações corporais dos bebês expressando
- O programa dá importância à formação profissional por palavras a sua interpretação. Todo esse processo de
prévia e em serviço do pessoal, bem como à supervisão; comunicação da professora com o bebê é importante porque:
- A formação prévia e em serviço concebe que é função do (A) No primeiro ano de vida, o bebê utiliza a linguagem não
profissional de creche educar e cuidar de forma integrada; verbal, ou seja, as emoções e intenções são expressas pelo
- Os profissionais dispõem de conhecimentos sobre corpo e interpretadas pelo adulto. O agir do bebê é estimulado
desenvolvimento infantil; pelo adulto, que reage lhe dando uma resposta.
- A política de creche reconhece que os adultos que (B) A incapacidade do bebê de comunicar aquilo que sente
trabalham com as crianças têm direito a condições favoráveis exige que a professora interprete e atribua sentido de acordo
para seu aperfeiçoamento pessoal, educacional e profissional; com aquilo que intenciona. Assim, o que predomina não são as
- A política de creche reconhece a importância da emoções e intenções do bebê, mas da professora.
comunicação entre famílias e educadores. (C) A linguagem oral tem caráter genético, de modo que o
A pessoa responsável pelo cuidado diário da criança trabalho pedagógico com essa linguagem até pode iniciar
precisa de ferramentas para identificar e atender necessidades antes dos dois anos de idade, mas é só a partir dessa idade que
específicas, ou seja, conhecimento suficiente sobre o as crianças iniciam o processo de enunciação e
desenvolvimento humano, sobre a articulação das práticas desenvolvimento do pensamento, por meio da função
culturais com procedimentos adequados para ambientes generalizante.
coletivos, sobre os aspectos legais e éticos do processo de (D) A criança aprende por repetição, tendo em vista que
cuidar em ambiente educativo. ela, antes dos dois anos, não capta na linguagem oral uma
Outro desafio é o equilíbrio entre cuidado individualizado, intenção presente, bem como o tipo de emoção que
considerando a dinâmica do tempo e do espaço no coletivo e acompanha a fala dirigida a ela.
sua articulação com as brincadeiras e atividades diversificadas
que têm objetivos educativos específicos. Este desafio é diário 02. (Prefeitura de Betim/MG - Professor de Educação
e superado pela constante observação, avaliação e Infantil) Em relação ao cuidar, é CORRETO afirmar:
planejamento, ajustando-se os ritmos e reorganizando-se os (A) Na instituição infantil, o atendente de apoio pedagógico
ambientes. é o responsável exclusivo pelas trocas de fraldas,
É preciso lembrar que os cuidados com a alimentação, acompanhamento das crianças ao banheiro, organização da
conforto, proteção, quando organizados e operacionalizados hora do sono e alimentação.
no contexto de diversos países, culturas e grupos sociais, (B) Embora as crianças tenham necessidades diferentes, os
podem diferenciar-se na forma como permitem a participação horários de sono e repouso devem ser cumpridos por todos, ao
da criança ou o acesso dela aos objetos, alimentos, ambientes, mesmo tempo, a fim de que a instituição se reorganize.
resultando em práticas diversas que influem na forma como (C) Crianças pequenas gostam de se alimentar sozinhas,
ela desenvolve habilidades e constrói conhecimentos e como mas isso não deve ser incentivado porque podem ocorrer
se mantém mais ou menos dependente dos adultos. desperdícios; assim o educador não saberá se a criança está
Compartilhar cuidados com as famílias implica em bem alimentada.
acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento (D) A organização dos momentos em que são previstos
infantil, ministrar, observar e registrar a evolução de um cuidados com o corpo, uso dos sanitários e repouso pode
resfriado, a aceitação dos alimentos complementares por um variar, segundo os grupos etários atendidos.
46 Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros 47 Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos
básicos de infraestrutura para instituições de educação infantil: Encarte 1. fundamentais das crianças / Maria Malta Campos e Fúlvia Rosemberg. - 6.ed.
Brasília: MEC, SEB, 2006. Brasília: MEC, SEB, 2009.
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03. (SEARH/RN - Professor - Anos Iniciais - IDECAN) Segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil,
Analise as afirmativas correlatas. o Brincar é um precioso momento de construção pessoal e
I. “A criança se desenvolve e se socializa em diferentes social, é permeado pelo eixo de trabalho denominado
espaços." Movimento, no qual a criança movimenta-se construindo
Portanto sua moralidade e afetividade perante as situações
II. “Desenvolvimento e socialização definem o papel da desafiadoras e significativas presentes no brincar e
educação infantil." inerentes à produção social do conhecimento.
Assinale a alternativa correta. De acordo com a educação atual, a criança não deve ser
(A) As duas afirmativas são falsas. considerada como um homem em miniatura como acontecia
(B) A primeira afirmativa é verdadeira e a segunda, falsa. antigamente, ao contrário, a criança dever ser considerada
(C) A segunda afirmativa é uma justificativa correta da como um ser complexo e único provida de direitos e deveres
primeira. com características próprias dessa etapa de desenvolvimento.
(D) As duas afirmativas são verdadeiras, mas não
estabelecem relação entre si. Brincar
Para que as crianças possam exercer sua capacidade de
04. (Prefeitura de Betim/MG - Professor de Educação criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas
Infantil) A Educação Infantil é um direito das crianças experiências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam
brasileiras. Em relação à função das instituições de ensino elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que
infantil, é CORRETO afirmar que: ocorrem por meio de uma intervenção direta49.
(A) Se prestam ao cuidado de crianças de 0 a 2 anos, A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um
substituindo a ação de familiares que não têm disponibilidade vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. Se a
para cuidar de seus filhos, por falta de renda ou por trabalhar brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto
fora de casa. implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem
(B) Desenvolvem práticas assistencialistas, reforçando a simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da
parceria entre Estado, comunidades carentes e grande capital diferença existente entre a brincadeira e a realidade imediata
financeiro. que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido,
(C) Atendem populações de 0 a 6 anos, para oferecer para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade
cuidado referente à higiene, à alimentação, à saúde e ao imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa
desenvolvimento de atividades psicopedagógicas e lúdicas. peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação
(D) As creches e pré-escolas existem porque atendem a um entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda brincadeira
direito das famílias, principalmente, das mães trabalhadoras, é uma imitação transformada, no plano das emoções e das
que precisam ser liberadas das tarefas domésticas. ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada.
Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate
05. (SEARH/RN - Professor - Anos Iniciais - IDECAN) ritmicamente com os pés no chão e imagina-se cavalgando um
Conceber a criança como o ser social que ela é significa, cavalo, está orientando sua ação pelo significado da situação e
EXCETO: por uma atitude mental e não somente pela percepção
(A) Ocupar um espaço somente geográfico. imediata dos objetos e situações.
(B) Pertencer a uma classe social determinada. No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os
(C) Considerar que a criança tem uma história. espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam
(D) Estabelecer relações definidas segundo seu contexto ser. Ao brincar, as crianças recriam e repensam os
de origem. acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão
brincando.
Gabarito O principal indicador da brincadeira entre as crianças, é o
papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros
01.A / 02.D / 03.B / 04.C / 05.A papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de
maneira não literal, transferindo e substituindo suas ações
cotidianas pelas ações e características do papel assumido,
OS AMBIENTES DE utilizando-se de objetos substitutos.
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO A brincadeira favorece a autoestima das crianças,
auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de
INFANTIL: A brincadeira e o forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização
desenvolvimento da de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos
imaginação e da criatividade. A sociais diversos.
brincadeira na educação Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no
em um espaço singular de constituição infantil.
infantil nas perspectivas Nas brincadeiras, as crianças transformam os
psicossociais, educacionais e conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos
lúdicas gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir um
determinado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer
alguma de suas características.
48Há tempo a brincadeira está presente no universo
Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém ou de
algo conhecido, de uma experiência vivida na família ou em
infantil. Através dela a criança apropria-se da sua imagem, seu
outros ambientes, do relato de um colega ou de um adulto, de
espaço, seu meio sociocultural, realizando intra e inter-
cenas assistidas na televisão, no cinema ou narradas em livros
relações.
etc. A fonte de seus conhecimentos é múltipla, mas estes se
encontram, ainda, fragmentados. É no ato de brincar que a
48 LUNARDI, K. de O. O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Publicado em 1.Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. -
http://monografias.brasilescola.uol.com.br Brasília: MEC/SEF, 1998.
49 Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
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50 Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação 2.Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. -
Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil- Vol Brasília: MEC/SEF, 1998.
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brincadeira é sempre individual e depende dos recursos Foi com Froebel que teve início o surgimento de atividades
emocionais de cada criança que são compartilhados em que exploravam a espontaneidade por meio do jogo, porém,
situações de interação social. Por meio da repetição de frente a essa nova concepção houve resistência por parte dos
determinadas ações imaginadas que se baseiam nas pais e professores uma vez que impedia/modificava o caráter
polaridades presença/ausência, bom/mau, prazer/desprazer, das tarefas da educação infantil.
passividade/ atividade, dentro/fora, grande/pequeno, Foi apenas no século XX que a Escola Nova impulsionou a
feio/bonito etc., as crianças também podem internalizar e Educação Infantil, nesse período viveu-se um clima de
elaborar suas emoções e sentimentos, desenvolvendo um renovação, de sensibilidade, abriram - se novas perspectivas.
sentido próprio de moral e de justiça. Atualmente, educar no contexto de Educação Infantil é
mais que apenas uma etapa obrigatória de educação no país, é
Resgate histórico da Educação Infantil tomar consciência do perfil de cidadão que queremos para
compor a sociedade no futuro. Segundo Edgar Faure, “a
A Educação Infantil pode ser considerada tipicamente educação infantil é um requisito prévio essencial de toda
urbana e característica das sociedades industriais, sendo política educativa e cultura”.
assim, a pré-escola tem uma história relativamente recente, a Sendo assim, a prática pedagógica deve ser conceituada
qual possuía inicialmente fins assistências e não educativos. como uma prática social orientada por objetivos, finalidades e
A primeira Revolução Industrial que transformou as conhecimentos, inserida no contexto da prática social.
características do mundo do trabalho e causou danos aos A prática pedagógica é uma dimensão da prática social que
trabalhadores, submetendo-os à máquina de maneira pressupõe a relação teoria e prática, e é essencialmente nosso
impiedosa e desumana, não poupou as crianças que, sendo dever, como educadores, a busca necessária das condições à
mão de obra mais barata que a dos adultos, foram utilizadas sua realização. O lado objetivo desta prática é constituído pelo
maciçamente nas fábricas e nas minas de carvão. Desde muito conjunto de meios, ou seja, o modo pelo qual as teorias
novos tinham de tocar os teares das tecelagens ou empurrar as pedagógicas são colocadas em ação pelo professor.
vagonetas na profundeza das galerias de mineração, O que diferencia a teoria e a pratica é o caráter real dos
trabalhavam de 12 a 16 horas por dia, nas condições mais anti- meios e instrumentos para que a ação seja realizada e sua
higiênicas que se possam imaginar, e não raro sob a finalidade é a transformação real, objetiva, de modo natural ou
pancadaria dos feitores, para que não dormissem, nem social para satisfazer determinada necessidade humana.
cedessem à distração. O currículo que deriva de tais procedimentos tem sempre
Uma das primeiras iniciativas para afastar as crianças como centro as atividades. Desde a sua origem, na Europa, com
pobres desse sistema de servidão e dar - lhes atendimento Froebel e os primeiros jardins de infância, passando por
humanitário em instituições apropriadas foi feita em New Decroly e sua proposta de renovação do ensino e organização
Lanark por Robert Owens que era um utopista socialista e das atividades escolares em “centros de interesses”, até
criou um modelo de micro sociedade planejada. Embora não Montessori e sua preocupação com uma “pedagogia científica”
tenha conseguido atingir seus objetivos, o fracasso da e um “método pedagógico” capazes de orientar eficientemente
experiência não impediu que suas ideias sobre a assistência a ação escolar, o fundamental para a Escola Nova é a atividade
que se devia dar à infância desamparada tivessem em James e o seu caráter de jogo.
Buchanam seu mais íntimo colaborador, um entusiasta No Brasil, essa concepção da pré-escola como um “jardim
continuador. de infância” foi inaugurado com o movimento da Escola Nova
Em Londres, Buchanam reuniu seguidores, sobretudo nas décadas de 20 e 30 do século XX sendo até hoje muito
entre damas da sociedade inglesa, e deu origem a uma série de difundida, seja na rede pública, seja na particular. Apesar de
estabelecimentos de educação infantil, podendo, sem exagero, reconhecer a grande contribuição dada pelos educadores que
ser-lhe atribuído o título de pioneiro da pré-escola naquele defendiam essa tendência, é preciso entender seus limites, em
país. Eram escolas sui generis (de seu próprio gênero), especial por não levarem em consideração a heterogeneidade
destinadas às crianças órfãs e desamparadas, de preferência social e o papel político que a pré-escola desempenha no
filhas de pais trabalhadores, em cujo programa havia mais contexto mais amplo da educação e da sociedade brasileira.
assistencialismo que pedagogia.
Na França, onde também houve, principalmente após -Tendência cognitiva: A criança é sujeito que pensa, e a pré-
terríveis revelações do Relatório Villermé, um repentino escola o lugar de tornar as crianças inteligentes. A educação
interesse pela infância abandonada, criaram-se numerosas deve favorecer o desenvolvimento cognitivo.
instituições, conhecidas como “salles d’asile”, mantidas por Essa tendência tem em Jean Piaget e seus discípulos, a mais
damas da sociedade. importante de suas fontes inspiradoras. Como epistemólogo,
A evolução da Educação Infantil iniciou devido a uma nova Piaget investiga o processo de construção do conhecimento e
etapa de construção de concepções sobre a criança. Na Europa, realiza, ao longo de sua vida, inúmeras pesquisas sobre o
com o crescimento da urbanização e a transformação da desenvolvimento psicogenético. Piaget utiliza nas suas
família, a obrigatoriedade do ensino foi tida como de extrema investigações, o ‘método clínico” que permite o conhecimento
importância para o desenvolvimento social. de como a criança pensa e de como constrói as noções sobre o
A criança começou a ser o centro de interesse educativo mundo físico e social.
dos adultos, mas não acontecia o mesmo com as crianças de Os pressupostos básicos da teoria de Piaget são: o
baixa renda, para estas era proposto apenas o aprendizado interacionismo, a ideia de construtivismo sequencial e os
técnico e piedade. fatores que segundo ele, interferem no desenvolvimento.
Essa nova visão da infância e da criança influenciou o Com base em tais pressupostos, a educação na visão
trabalho dos pioneiros da educação pré-escolar, como piagetiana deve possibilitar à criança o desenvolvimento
Pestalozzi, Decroly, Froebel e Montessori, que buscavam amplo e dinâmico durante todos os seus estágios. A escola
conciliar o suprimento de carinho, afeto a atividades em prol deve, assim, levar em consideração os esquemas de
do seu desenvolvimento. Embora esses autores tivessem assimilação da criança, favorecendo a realização de atividades
enfoques diferentes concordavam que a criança possuía desafiadoras que provoquem desequilíbrio (“conflitos
características e necessidades diferentes dos adultos. cognitivos”) e reequilibrações sucessivas, promovendo a
Mesmo assim ainda não era possível verificar um caráter descoberta e a construção do conhecimento. Nessa construção,
institucional nas escolas que fosse característico da pré-escola. as concepções infantis combinam-se às informações
provenientes do meio, na medida em que o conhecimento não
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é concebido apenas como espontaneamente descoberto pela prazer são os móveis da atividade lúdica, e o jogo (espontâneo
criança, nem como transmitido mecanicamente pelo meio ou dirigido) é só ludicidade mesmo, isso significa então, que há
exterior ou pelo adulto, mas como resultado dessa interação trabalho (prazeroso) e jogo na escola, tendo ambos aspectos
onde o sujeito é sempre ativo. distintos.
Assim, os principais objetivos da educação consistem na Essa proposta pode ser caracterizada como de tendência
formação de homens “criativos, inventivos e descobridores”, crítica com fundamentação psicocultural, abordagem que só
na formação de pessoas críticas e ativas e, fundamentalmente, recentemente começa a ser desenvolvida no Brasil.
na construção da autonomia. A interdisciplinaridade é Privilegiam-se os fatores sociais e culturais, entendendo-
considerada central, ao contrário da fragmentação dos os como os mais relevantes para o processo educativo.
conteúdos existente nos currículos da pedagogia tradicional e Coerentes, então, com os fundamentos teóricos, a meta básica
racionalista. é implementar uma pré-escola de qualidade, que reconheça e
Há, no entanto, alguns princípios básicos que, em geral, valorize as diferenças existentes entre as crianças e, dessa
orientam a prática pedagógica de uma pré-escola forma, beneficiar a todas no que diz respeito ao seu
fundamentada na teoria de Piaget, a saber: desenvolvimento e à construção dos seus conhecimentos.
1) Tudo começa pela ação. As crianças conhecem os Para que esse objetivo maior seja concretizado, definem-se
objetos, usando-os. as seguintes metas educacionais: a construção da autonomia e
2) Toda atividade na pré-escola deve ser representada, da cooperação, o enfrentamento e a solução de problemas, a
permitindo que a criança manifeste seu simbolismo. responsabilidade, a criatividade, a formação do autoconceito
3) A criança se desenvolve no contato e na interação com estável e positivo, a comunicação e a expressão em todas as
outras crianças: a pré-escola deve sempre promover a formas, particularmente ao nível da linguagem. É em função
realização de atividades em grupo. dessas metas que o currículo é pensado e a prática pedagógica
4) A organização é adquirida através da atividade e não ao desenvolvida.
contrário. É fazendo a atividade que a criança se organiza.
5) O professor é desafiador da criança: ele cria Nessa concepção, o desenvolvimento infantil pleno e a
“dificuldades” e “problemas”. aquisição de conhecimentos acontecem simultaneamente, se
6) Na pré-escola é essencial haver um clima de caminhamos no sentido de construir a autonomia, a cooperação
expectativas positivas em relação às crianças. e atuação crítica e criativa.
7) No currículo da pré-escola informado pela teoria de Entende-se, ainda, que mais importante do que adotar uma
Piaget as diferentes áreas do conhecimento são integradas. metodologia pré-elaborada é construir, na prática pedagógica,
No Brasil os trabalhos de Piaget foram difundidos aquela metodologia apropriada às necessidades e condições
principalmente na década de 70. Várias foram às propostas existentes e aos objetivos formulados. Nesse sentido, temos
curriculares implementadas pelos sistemas públicos de alguns princípios metodológicos que são:
ensino. Vários desses projetos, e muitos outros inspirados na - Tomar a realidade das crianças como ponto de partida
teoria de Piaget, contêm pressupostos teóricos e orientações para o trabalho, reconhecendo sua diversidade;
metodológicas bastante diversificadas, refletindo diferentes - Observar as ações infantis e as interações entre as
posturas políticas e concepções educacionais. crianças, valorizando essas atividades;
- Confiar nas possibilidades que todas as crianças têm de
-Tendência Crítica: A pré-escola é lugar de trabalho, a se desenvolver e aprender, promovendo a construção de sua
criança e o professor são cidadãos, sujeitos ativos, autoimagem positiva;
cooperativos e responsáveis. A educação deve favorecer a - Propor atividades com sentido, reais e desafiadoras para
transformação do contexto social. as crianças, que sejam, pois, simultaneamente significativas e
A discussão sobre a possibilidade de uma educação pré- prazerosas, incentivando sempre a descoberta, a criatividade
escolar crítica é muito recente no Brasil. Uma das propostas e a criticidade;
pedagógicas que mais tem trazido contribuições dessa - Favorecer a ampliação do processo de construção dos
discussão é a de Celestin Freinet. Influenciado por Rousseau, conhecimentos, valorizando o acesso aos conhecimentos do
Pestalozzi, Ferrire, crítico da escola tradicional e das escolas mundo físico e social;
novas, Freinet foi o criador, na França, do movimento da escola - Enfatizar a participação e a ajuda mútua, possibilitando a
moderna, que atinge atualmente professores de vários países. construção da autonomia e da cooperação.
Seu objetivo básico era desenvolver uma escola popular.
A proposta pedagógica de Freinet centra-se em técnicas, O brincar em sala de aula a partir da perspectiva do
dentre as quais se pode citar: as aulas-passeios; o desenho professor
livre e o texto livre; a correspondência interescolar; o jornal; o
livro da vida; o dicionário dos pequenos; o caderno-circular Desde que nascemos, aprendemos as regras da vida
para os professores etc. Assim, compreende que a aquisição do brincando. Quando a mãe vai dar sopinha ao filho, faz
conhecimento é fundamental, mas deve ser garantida de forma aviãozinho, trenzinho, enfim, promove uma brincadeira para
significativa e prazerosa. que a criança aprenda e queira se alimentar. Aprendemos a
Considera que a disponibilidade de materiais e espaço contar brincando, contando com nossos pais: “um, dois, feijão
físico bem como a organização da sala e da escola são cruciais com arroz; três, quatro, feijão no prato!”. Essas experiências
para a realização das atividades nas oficinas. Finalmente, a passam a ser fonte de aprendizado e estímulo para outras
avaliação é entendida em três níveis: individual, cooperativa e buscas de conhecimento, porque a criança começa desde
feita pelo professor. muito cedo a mergulhar no universo da brincadeira, da
No que diz respeito, por exemplo, à polêmica fantasia e do faz de conta51.
jogo/trabalho, considera-se que o que a criança faz com O brincar faz parte do processo de aprendizagem de todo
intencionalidade (dada por ela própria ou pelo professor) na ser humano, começando na infância e podendo se estender a
escola é trabalho, que nem por isso deixa de ter um aspecto alguns momentos da fase adulta. É interessante notar que,
lúdico (como deseja Freinet). Além disso, há momentos independentemente da idade, a brincadeira pode inserir-se
variados da atividade da criança na escola que o gozo e o como elo do objeto do conhecimento com a aprendizagem,
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possibilitando um conhecimento mais sólido e permanente ao [...] repercutem na vida das crianças na sociedade, no lugar que
aprendiz. Por isso, o brincar na sala de aula é extremamente ocupam entre os adultos e, por essa razão, no caráter de seus
relevante para a aquisição da aprendizagem. jogos (apud Lazaretti).
Sendo assim, o professor tem papel fundamental na Primeiramente, a criança participava de igual para igual
organização das situações de aprendizagem de modo a se com os adultos do mundo do trabalho e não havia muito tempo
tornar o principal responsável pela organização das situações para ser utilizado com brincadeiras. A sua posição estava
de aprendizagem, deve saber o valor da brincadeira para o relativamente firmada por não haver diferenciação no papel
desenvolvimento do aluno. Cabe a ele oferecer um espaço que desempenhado pela criança e pelo adulto na sociedade.
mescle brincadeira com as aulas cotidianas, um ambiente Mas, com o surgimento das máquinas que realizam parte
favorável à aprendizagem escolar e que proporcione alegria, das funções e de mudanças ocorridas nas relações de trabalho
prazer, movimento e solidariedade no ato de brincar. e nas relações de produção, a participação da criança na esfera
O educador não precisa ensinar a criança a brincar, pois laboral passou a diminuir. O ócio e a exclusão social
este é um ato que acontece espontaneamente, mas sim precisavam ser compensados de alguma forma. É a partir
planejar e organizar situações para que as brincadeiras dessa nova configuração social que surge a brincadeira sob o
ocorram de maneira diversificada, propiciando às crianças a enfoque do jogo de papéis. Lazaretti apresenta a seguinte
possibilidade de escolher os temas, papéis, objetos e conclusão de Elkonin: o caminho de desenvolvimento do jogo
companheiros com quem brincar. Dessa maneira, poderão vai da ação concreta com os objetos à ação lúdica sintetizada e,
elaborar de forma pessoal e independente suas emoções, desta, à ação lúdica protagonizada: há colher; dar de comer com
sentimentos, conhecimentos e regras sociais (Rcnei). a colher; dar de comer com a colher à boneca; dar de comer à
O professor - como mediador da aprendizagem -, deve boneca como a mamãe; tal é, de maneira esquemática, o
fazer uso de novas metodologias, procurando sempre incluir caminho para o jogo protagonizado.
na sua prática as brincadeiras, pois seu objetivo é formar Esta breve análise histórica da brincadeira é significativa
educandos atuantes, reflexivos, participativos, autônomos, para o professor, pois permite que ele compreenda a
críticos, dinâmicos e capazes de enfrentar desafios. importância e a influência do brincar para as crianças de todos
os tempos. Permite também conhecer como a brincadeira
Breve trajetória histórica da brincadeira acabou sendo disseminada entre os povos.
As brincadeiras presentes na cultura brasileira, por
A análise da evolução histórica das sociedades humanas exemplo, foram configuradas a partir das brincadeiras
organizadas permite identificar a brincadeira como elemento trazidas pelos povos que participaram da formação da nossa
presente a elas. Tanto que, para alguns pesquisadores do tema, identidade nacional. Alves, citando Kishimoto, discorre sobre
o brincar é classificado como algo inerente ao ser humano, a influência portuguesa: os jogos tradicionais recebem forte
afirmando-o mesmo como aspecto intrínseco ao influência do folclore, [...] os contos, lendas e histórias que
desenvolvimento, estando inscrito na base das relações alimentavam o imaginário português se fizeram presentes em
sociais. Essa afirmação decorre de estudos como os de Silva e brincadeiras e brinquedos brasileiros. Personagens como
Sousa, que analisaram as pesquisas de Rizzi e Haydt, Redim e a mula-sem-cabeça, a cuca e o bicho-papão, trazidos pelos
Borba. portugueses, foram incorporados em brincadeiras que vão
Das pesquisas de Rizzi e Haydt foi levada para o homem desde a bola de gude até o pique ou pega-pega (Alves).
primitivo a denominação Homo ludens indicando a sua São consideráveis as contribuições da cultura africana, por
capacidade de dedicar-se ao lúdico. meio dos negros (que foram trazidos como escravos) e dos
De acordo com Redim, a brincadeira surge mesclada às indígenas. Assim, a brincadeira hoje constitui capital histórico
atividades do cotidiano e permeando a interação entre a com potencial evolutivo que o professor não pode deixar
criança e o adulto nas manifestações religiosas, culturais, relegado em sua sala de aula.
artísticas e nas celebrações.
Para Borba, a brincadeira insere-se no contexto histórico e O Lúdico e a Aprendizagem
cultural, perpassando tempo, lugar, espaço e estrutura social,
servindo para situar a criança nas redes de relações Os efeitos positivos das brincadeiras começaram a ser
estabelecidas com adultos e outras crianças. investigados pelos pesquisadores que consideram a ação
Lazaretti realizou uma pesquisa teórico-conceitual da obra lúdica como facilitadora para a criança adquirir
de Elkonin, pesquisador da psicologia histórico-cultural, que conhecimentos, habilidades e compreensão do mundo que a
conduziu vários estudos a partir das contribuições de cerca, além de ser um fator importante para as relações com o
Vygotsky sobre o desenvolvimento da brincadeira infantil e outro.
seus efeitos no desenvolvimento humano. Os resultados Para Vygotsky, aprendizado e desenvolvimento estão
encontrados por Elkonin permitem compreender que a inter-relacionados desde o primeiro dia de vida e é enorme a
brincadeira surgiu em uma determinada etapa do influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança,
desenvolvimento da sociedade, no curso da mudança histórica pois o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na
do lugar que a criança ocupa nela. A brincadeira é uma criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do
atividade social por sua origem, e por isso seu conteúdo é comportamento habitual de sua idade, além do seu
social e é uma forma de vida e atividade da criança para comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse
orientar-se no mundo das ações e relações humanas, dos maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de
problemas e motivos das ações dos indivíduos (Lazaretti). aumento, o brinquedo contém todas as tendências do
Ainda de acordo com as análises de Lazaretti, para Elkonin desenvolvimento. Sob forma condensada, sendo, ele mesmo,
a brincadeira não constitui um ente inato nos seres humanos, uma grande fonte de desenvolvimento.
como algo típico da infância, e não deve ser classificada como É na brincadeira que a criança pode se propor desafios
elemento de satisfação de desejos e/ou fuga da realidade. Ao para além de seu comportamento diário, levantando hipóteses
invés disso, esse estudioso aponta que a ação da criança está e saídas para situações que a realidade lhe impõe. Para
relacionada ao papel que ela ocupa na sociedade. Antunes, inexiste brincadeira sem aprendizagem: por tudo que
A natureza dos jogos infantis só se pode compreender pela se conhece hoje sobre a mente infantil, não mais se duvida de
correlação existente entre eles e a vida da criança na sociedade que é no ato de brincar que toda criança se apropria da
[...]; os povos viveram e vivem em diferentes condições de realidade imediata, atribuindo-lhe significado. Jamais se
acordo com o nível de desenvolvimento social, e tais condições brinca sem aprender.
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Assim sendo, brincar é aprender. Na brincadeira, está a da criatividade e da liberdade da criança e, por fim, na
base daquilo que, posteriormente, possibilitará à criança descaracterização do elemento lúdico empregado.
aprendizagens mais complexas e elaboradas. As brincadeiras a serem desenvolvidas com crianças
Segundo Piaget, a atividade lúdica é o berço obrigatório precisam estar de acordo com a zona de desenvolvimento em
das atividades intelectuais da criança. Ela não é apenas uma que elas se encontram. Isso possibilita maior eficácia na
forma de desafogo ou algum entretenimento para gastar construção da aprendizagem. Uma brincadeira ou um jogo
energia das crianças; constitui um meio que enriquece e raramente são praticados individualmente, e é nessa troca
contribui para o desenvolvimento intelectual. presente na situação de brincar que se promove o crescimento.
Borba afirma que, “se incorporarmos, de forma efetiva, a Para conseguir transpor barreiras conceituais e inserir a
ludicidade nas nossas práticas, estaremos potencializando as brincadeira nas aulas, Freud sugere ao educador reconciliar-
possibilidades de aprender e o investimento e o prazer das se com a criança que existe dentro de si, “não para ser
crianças no processo de conhecer”. Nesse contexto, percebe-se novamente criança, mas para compreendê-la e, a partir disso,
que o brincar assegura a aprendizagem, além de acrescentar interagir, em uma perspectiva criativa e produtiva, com seus
alegria na construção de conhecimentos da criança. alunos. [...] Não é necessário ‘ser criança’ para usufruir o
brincar, pois sua herança - a criatividade - subsiste na vida
O professor como mediador das brincadeiras adulta”.
O brincar, na perspectiva dos professores, segundo De acordo com Fortuna “o que permite a superação desses
o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - dilemas e viabiliza a atividade lúdica na educação é a
RCNEI refere-se ao papel do professor de estruturar o campo redefinição do papel que o adulto, o professor, a escola, a
das brincadeiras na vida das crianças, disponibilizando criança e a cultura desempenham”. Concomitante com isso
objetos, fantasias, brinquedos ou jogos e possibilitando espaço está a formação do professor.
e tempo para brincar. Como formar educadores capazes de cultivar o brincar em
O reconhecimento do valor educativo do brincar é de suas aulas? A formação do educador capaz de jogar passa pela
domínio público; é indispensável para a aprendizagem da vivência de situações lúdicas, pela observação do brincar, pelo
criança. Diante disso, os professores devem inserir a entendimento do significado e dos efeitos da brincadeira no
brincadeira no universo escolar, reconhecendo-a como uma estudante, por conhecimentos teóricos sobre
via para se aproximar da criança, com o objetivo de ensinar desenvolvimento da aprendizagem nos seres humanos. Uma
brincando. boa formação do professor e boas condições de atuação são os
Criança e brincadeira fazem uma combinação perfeita. É facilitadores para que se resgate o espaço de brincar da criança
quase impossível imaginar uma criança que não goste de no dia a dia da escola. Isso não é tão fácil como muitos
brincar, que não se deixa envolver pela imaginação. Por isso, o imaginam, pois para conseguir entrar e participar do mundo
brincar consente pensar num ensino e numa aprendizagem lúdico da criança é necessário que o educador tenha
mais envolventes e mais próximos do real, pois leva a fazer conhecimentos, prática e vontade de ser parceiro da criança
uma ligação entre a realidade e a fantasia. Por isso, é vital nesse processo.
reconhecer a brincadeira como uma estratégia a mais na sala
de aula; devemos, pois, sempre tomá-la como mais um A importância do brincar e da criatividade
instrumento pedagógico, já que sabemos que a brincadeira O professor contemporâneo tem buscado apropriar-se do
desenvolve os aspectos físicos e sensoriais, além do brincar, inserindo-o no universo escolar. Como um adulto é
desenvolvimento emocional, social e da personalidade da afetivamente importante para a criança, quando acolhe suas
criança. vivências lúdicas abre um espaço potencial de criação. Com
Como disse Carlos Drummond de Andrade: brincar com as isso, o professor instiga a criança à descoberta, à curiosidade,
crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver ao desejo de saber. A criança tem no professor um parceiro
meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados nessa busca.
enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem Kishimoto explicita que o jogo educativo tem a vantagem
valor para a formação do homem. de aliar contentamento e aprendizagem. Ele afirma também
A brincadeira permite que o aluno expresse suas emoções, que muitos autores, ao tratar dessa temática, tentam conciliar
e assim o professor passa a ter maior conhecimento da sua a tarefa de educar com a necessidade irresistível de brincar.
personalidade, ajudando-o a superar seus limites e a respeitar Nessa junção surge o jogo educativo, um meio de instrução, um
as regras com disciplina. recurso de ensino para o professor e, ao mesmo tempo, um fim
Neste ponto faz-se necessária uma breve consideração dos em si mesmo para a criança que só quer brincar.
termos brincadeira, brinquedo e jogo, pois existe muita “O jogo transita livremente entre o mundo interno e o
confusão em relação a esses termos. Em alguns contextos, são mundo real”, o que garante à criança a fuga temporária da
usados como sinônimos. Mas, segundo Dallabona, realidade. Tudo se transforma em lúdico para o aluno, mas o
brincadeira basicamente se refere à ação de brincar, ao professor precisa trazer do lúdico a realidade, a verdade
comportamento espontâneo que resulta de uma atividade subentendida como conhecimento, especialmente o escolar.
não estruturada; jogo é compreendido como uma Como afirma Fortuna, “defender o brincar na escola, por
brincadeira que envolve regras; brinquedo é utilizado outro lado, não significa negligenciar a responsabilidade sobre
para designar o sentido de objeto de brincar; já a o ensino, a aprendizagem e o desenvolvimento”. É preciso,
atividade lúdica abrange, de forma mais ampla, os nesse aspecto, que o professor busque o equilíbrio entre
conceitos anteriores. ministrar aulas convencionais, em que recursos como lápis e
O professor precisa ter claro esse conceito para que possa caderno precisam fazer parte do cotidiano como forma de
articular o lúdico com as situações de aprendizagem. Um preparo para o mundo adulto, e aulas lúdicas.
primeiro passo é adequar o tipo de atividade ao conteúdo, Por isso, o professor deve utilizar as atividades criativo-
tempo de aula e características da turma. Ele pode “lançar lúdicas como suporte do desenvolvimento e da aprendizagem,
mão” da brincadeira, priorizando o aspecto da por meio de seus procedimentos, e, nesta circunstância, criar
espontaneidade, ou o jogo com regras. Tudo depende dos situações e propor problemas, assumindo sua condição de
objetivos estabelecidos. O professor precisa ter cuidado para parceiro na interação e sua corresponsabilidade no
não “ficar preso” demais aos objetivos pedagógicos. Isso pode desenvolvimento cognitivo, psicomotor e psicossocial do
resultar numa condução excessiva da brincadeira, na inibição aluno.
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Ao buscar uma rotina que propicie o desenvolvimento Para os docentes que vêm de uma formação tradicional,
pleno do ser humano, indo além de teorias e conceitos, nada não é nada fácil adentrar esse mundo de jogos e brincadeiras
melhor que explorar e experimentar. Assim, o lúdico se faz em sala de aula, tendo em vista que não vivenciaram isso,
uma ferramenta enriquecedora, pois brincando o aluno talvez por medo de perder o controle e o respeito, pois
expressa suas ideias e pensamentos sobre o mundo que o brincadeira sempre foi vista como algo para a hora do recreio;
cerca. Dessa maneira, dá pistas ao professor de como sala de aula é um lugar de “coisa séria”. Um dos grandes
complementar, no sentido de promover, outros desafios é, então, tentar se aproximar desse novo paradigma e
conhecimentos, ampliando seu repertório e seu conhecimento se abrir e deixar a criança que está adormecida, sufocada pela
de mundo. sociedade, renascer. Reviver essa criança que existe em cada
um é essencial para que se possa aproximar da criança real.
O brincar na sala de aula Neste mundo complexo, com seres únicos que convivem
A sala de aula pode se transformar também em lugar de com tanta diversidade em vários contextos e com tantas
brincadeiras, se o professor conseguir conciliar os objetivos informações ao seu dispor, com todas as facilidades
pedagógicos com os desejos do aluno. Para tal, é necessário tecnológicas, não se pode ignorar que as relações estão
encontrar o equilíbrio entre o cumprimento de suas funções diferentes. No entanto, as brincadeiras continuam a se fazer
pedagógicas - ensinar conteúdos e habilidades, ensinar a presentes na vida de todos os seres humanos, seja por meio
aprender - e psicológicas, contribuindo para o das tradicionais brincadeiras de roda ou das mais tecnológicas,
desenvolvimento da subjetividade, para a construção do ser como os videogames.
humano autônomo e criativo - na moldura do desempenho das O professor precisa priorizar o lúdico em sua prática
funções sociais -, preparar para o exercício da cidadania e da pedagógica, valorizando a liberdade de aprender pelo
vida coletiva, incentivar a busca da justiça social e da igualdade mecanismo mais simples e mais eficiente: a brincadeira. Para
com respeito à diferença. atingir esse objetivo, ele deve conscientizar-se de que
Reconstruir conceitos importantes sobre o ato de brincar necessita realizar estudos e pesquisas sobre temas relativos à
e sua importância no contexto escolar é fundamental para a aprendizagem, buscar e testar novas estratégias de ensino que
prática pedagógica do professor. Se ele busca a formação de atendam adequadamente à necessidade de formação do aluno.
indivíduos dinâmicos, criativos, reflexivos e capazes de
enfrentar desafios, deve proporcionar condições para que as Questões
crianças brinquem de forma espontânea, dando a elas a
oportunidade de ter momentos de prazer e alegria no 01. (SESI/SP - Analista Pedagógico Educação Infantil -
ambiente escolar, tornando-se autoras de suas próprias UnB/CESPE) Durante muito tempo, a brincadeira foi
criações. Mais uma vez remetendo a Winnicott, quando não considerada futilidade, cuja única finalidade seria a distração,
reprimidas, a espontaneidade e a criatividade agem no sentido o recreio, concepção que se associava à de criança. Foi preciso
de fazer as coisas, de brincar; consequentemente, as crianças que houvesse uma mudança profunda no conceito de criança
alcançam a aprendizagem. para que se pudesse associar uma visão positiva às atividades
Mas o que seria, de fato, uma aula lúdica? Para Fortuna espontâneas. Com relação a esse tema, assinale a opção
“uma aula lúdica é uma aula que se assemelha ao brincar”, correta.
ou seja, é uma aula livre, criativa e imprevisível. É aquela (A) A brincadeira na infância deve ser vista como um
que desafia o aluno e o professor, colocando-os como processo natural.
sujeitos do processo pedagógico. A presença da brincadeira (B) A brincadeira é um processo de relações
na escola ultrapassa o ensino de conteúdos de forma lúdica, interindividuais, portanto de cultura.
dando aos alunos a oportunidade de aprender sem (C) A brincadeira humana deve ser interpretada como
perceber que o estão. inata.
O brincar estimula a inteligência porque faz com que o (D) A criança pequena não precisa ser iniciada na
indivíduo solte sua imaginação e desenvolva a criatividade, brincadeira
possibilitando o exercício da concentração, da atenção e do
engajamento, proporcionando, assim, desafios e motivação. 02. (SESI/SP - Analista Pedagógico Educação Infantil -
Brincar, jogar, divertir-se na sala de aula constituem UnB/CESPE) As diversas imagens que a televisão transmite
atividades estimulantes tanto para o aluno quanto para o fornecem às crianças conteúdo para suas brincadeiras, nas
professor. Estar aberto para mudar seus paradigmas a quais as crianças atuam como personagens das situações
respeito de sua forma de trabalho é um exercício que o apresentadas na televisão. A esse respeito, assinale a opção
professor precisa fazer. correta.
Não basta dominar as teorias e decidir-se por trabalhar (A) A brincadeira de conteúdo televisivo não surge da
com jogos. É necessário deixar-se ir junto com a brincadeira, imitação servil daquilo que é visto na televisão, mas a partir do
aprender e perceber as diferentes nuances do aprendizado de conjunto de imagens captadas, que devem ser combinadas e
uma turma. Tudo isso implica libertar o seu fazer profissional transformadas no âmbito de uma estrutura lúdica.
das amarras que constrói durante a sua escolarização e sua (B) Na atualidade, a televisão não é uma fornecedora
formação, o que implica um conhecimento pessoal e essencial dos suportes de brincadeiras às crianças.
profissional profundo e muita vontade de mudar, ou seja, de (C) O grande valor da televisão para a infância é oferecer
ver algo ser feito diferentemente. uma referência uniforme para crianças das diversas culturas
São relevantes as atividades lúdicas no desenvolvimento existentes.
infantil, bem como sua função no processo educativo; para que (D) Dificilmente as crianças conseguem se apoderar dos
esse processo de ensino e aprendizagem ocorra de forma temas propostos pela televisão, pois estes estão voltados para
prazerosa, os professores devem estar cientes de seu papel o mundo dos adultos.
nessa fase de construção de conhecimento das crianças. Os
educadores, por sua vez, devem se preparar para trabalhar 03. (Prefeitura Petrópolis/RJ - Apoio a Educação
com o criar, pois a criatividade deve ser vista como um elo Infantil - Dom Cintra) Na Educação Infantil, o brinquedo, com
dinâmico e contínuo. Nessa perspectiva, o docente não deve fins pedagógicos, pode ser considerado como tendo duas
ver a criança como receptora passiva de estímulos, mas como funções primordiais:
uma pessoa capaz de ação, que interaja, crie e recrie (A) lúdica e educativa;
possibilidades e novas aprendizagens. (B) assimilação e apreensão;
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52 VELASCO, Cacilda G. Brincar, o despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint, 53 Texto adaptado de LISBOA, M.
1996.
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educação. O lúdico é um desses métodos que está sendo Numa de suas palestras Airton Negrine cita o seguinte: “…
trabalhado na prática pedagógica, contribuindo para o a palavra “jogo” apresenta significados distintos uma vez que
aprendizado do alunado possibilitando ao educador o preparo pode ser entendida desde os movimentos que a criança realiza
de aulas dinâmicas fazendo com que o aluno interaja mais em nos primeiros anos de vida agitando os objetos que estão ao
sala de aula, pois cresce a vontade de aprender, seu interesse seu alcance, até as atividades mais ou menos complexas…”.
ao conteúdo aumenta e dessa maneira ele realmente aprende Pode-se dizer então que a palavra “jogo” apresenta
o que foi proposto a ser ensinado, estimulando-o a ser significados variados, desde uma brincadeira de criança com
pensador, questionador e não um repetidor de informações. fins restritos em diversão até as atividades mais complexas
É preciso ressaltar que o termo lúdico etimologicamente é com intuito de adquirir novos conhecimentos.
derivado do Latim “ludus” que significa jogo, divertir-se e que Gilda Rizzo diz que “os jogos, pelas suas qualidades
se refere à função de brincar de forma livre e individual, de intrínsecas de desafio à ação voluntária e consciente, devem
jogar utilizando regras referindo-se a uma conduta social, da estar, obrigatoriamente, incluídos entre as inúmeras opções
recreação, sendo ainda maior a sua abrangência. Assim, pode- de trabalho escolar”.
se dizer que o lúdico é como se fosse uma parte inerente do ser Pois o objetivo principal do jogo como atividade lúdica é
humano, utilizado como recurso pedagógico em várias áreas proporcionar ao indivíduo que está jogando, conhecimento de
de estudo oportunizando a aprendizagem do indivíduo. Dessa maneira gratificante, espontânea e criativa não deixando de
forma, percebem-se as diversas razões que levam os ser significativa independente de quem o joga, deixando de
educadores a trabalharem no âmbito escolar as atividades lado os sistemas educacionais extremamente rígidos.
lúdicas. Trabalhar com os jogos na sala de aula possibilita diversos
Como vemos Gilda Rizzo diz o seguinte sobre o lúdico: “… objetivos, dentre eles, foram pontuados os seguintes:
A atividade lúdica pode ser, portanto, um eficiente recurso - Desenvolver a criatividade, a sociabilidade e as
aliado do educador, interessado no desenvolvimento da inteligências múltiplas;
inteligência de seus alunos, quando mobiliza sua ação - Dar oportunidade para que aprenda a jogar e a participar
intelectual”. ativamente;
Diante de tal pensamento que a estudiosa coloca, observa- - Enriquecer o relacionamento entre os alunos;
se que o principal papel do educador é estimular o alunado à - Reforçar os conteúdos já aprendidos;
construção de novos conhecimentos e através das atividades - Adquirir novas habilidades;
lúdicas o aluno acaba sendo desafiado a produzir e oferecer - Aprender a lidar com os resultados independentemente do
soluções às situações-problemas impostas pelo educador. Pois resultado;
o lúdico é um dos motivadores na percepção e na construção - Aceitar regras;
de esquemas de raciocínio, além de ser uma forma de - Respeitar essas regras;
aprendizagem diferenciada e significativa. - Fazer suas próprias descobertas por meio do brincar;
Convém ressaltar que o educador deve ter cuidado ao - Desenvolver e enriquecer sua personalidade tornando-o
desenvolver uma atividade trabalhando o lúdico, por ser uma mais participativo e espontâneo perante os colegas de classe;
tarefa dinâmica, o professor fica na condição de estimulador, - Aumentar a interação e integração entre os participantes;
condutor e avaliador da feitura da atividade, no entanto o - Lidar com frustrações se portando de forma sensata;
educador é o elo entre o lúdico e os alunos. - Proporcionar a autoconfiança e a concentração.
Da mesma forma deve ater-se na quantidade de atividades
lúdicas, pois utilizada exageradamente acabam tornando-se Nota-se também um entusiasmo maior sobre o conteúdo
rotineira e transformando-se numa aula tradicional. que está sendo trabalhado por haver uma motivação dos
Nylse Cunha acredita que a ludicidade oferece uma educandos em expressar-se livremente, de agir e interagir em
“situação de aprendizagem delicada”, ou seja, que o professor sala de aula. Mas lembrando de sempre que os jogos devem
precisa nutrir o interesse do aluno, sendo capaz de respeitar o está devidamente associado aos conteúdos e aos objetivos
grau de desenvolvimento das múltiplas inteligências do dentro da aprendizagem, auxiliando a parte teórica, tornando
mesmo, do contrário a atividade lúdica perde completamente o ensino mais prazeroso apresentando opiniões para crescer
sua riqueza e seu valor, além do mais o professor deve gostar ainda mais o trabalho dos profissionais da área da educação.
de trabalhar esse novo método sendo motivador a fazer com Diante de tal objetivo, os jogos escolhidos pelos
que os alunos gostem de aprender, pois se o educador não se educadores para trabalhar precisam ser estudados
entusiasmar pelo que ensina o aluno não terá o interesse em intimamente e analisados rigorosamente para serem de fato
aprender. eficientes, porque os jogos que não são testados e pesquisados
Celso Antunes argumenta da seguinte forma: “Um não terão seu exato valor, tornando-se ineficazes, obviamente,
professor que adora o que faz que se empolga com o que uma atividade lúdica nunca deve ser aplicada sem que tenha
ensina que se mostra sedutor em relação aos saberes de sua um benefício educativo. O professor pode criar seus próprios
disciplina, que apresenta seu tema sempre em situações de jogos, a partir dos materiais disponíveis na instituição de
desafios, estimulantes, intrigantes, sempre possui chances ensino em que leciona ou até mesmo na sala de aula, porém
maiores de obter reciprocidade do que quem a desenvolve precisa atentar para a forma de como serão trabalhados, não
com inevitável tédio da vida, da profissão, das relações esquecendo os objetivos e o conteúdo a ser desenvolvido. O
humanas, da turma…”. educador precisa ter muito mais força de vontade,
A atividade lúdica mais trabalhada atualmente nas escolas criatividade, disponibilidade, seriedade, competência que
pelos professores é o jogo, principalmente nas salas de aula do dinheiro para construir um jogo.
ensino fundamental por ter sua clientela na maioria das vezes Celso Antunes (2003) cita o seguinte sobre o jogo: “O jogo
formada por crianças. Sendo importante dizer que a palavra é o mais eficiente meio estimulador das inteligências,
“jogo” foi utilizada para se referir ao “brincar”, se tratando de permitindo que o indivíduo realize tudo que deseja. Quando
forma lúdica, levando em conta que o indivíduo não apenas se joga, passa a viver quem quer ser, organiza o que quer
diverte jogando, mas também aprende. organizar, e decide sem limitações. Pode ser grande, livre, e na
A palavra “jogo” etimologicamente origina-se do latim aceitação das regras pode ter seus impulsos controlados.
“iocus”, que significa brincadeira, divertimento. Em alguns Brincando dentro de seu espaço, envolve-se com a fantasia,
dicionários da Língua Portuguesa aparece com definição de estabelecendo um gancho entre o inconsciente e o real”.
“passatempo, atividade mental determinada por regras que De acordo com Celso Antunes, pode-se afirmar que a
definem ganhadores e perdedores”. ludicidade do jogo proporciona momentos mágicos e únicos na
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vida de um indivíduo, pois no mesmo instante que diverte, (intrapessoalmente) e em nossos relacionamentos
ensina e desenvolve o raciocínio e a criatividade além de obter (interpessoalmente). As forças progressivas, por outro lado
responsabilidade diante da situação colocada a ele. são aquelas que nos chamam para o futuro, para as nossas
Diante de tudo que fora mencionado, pode-se dizer sem possibilidades de organização pessoal e de ser.
sombra de dúvida que o lúdico é importante sim para uma No caso, nos interessa imediatamente, a questão dos
melhoria na educação e no andamento das aulas, provocando brinquedos, como caminho real para o inconsciente da criança.
uma aprendizagem significativa que ocorre gradativamente e Nesse contexto, a prática das atividades lúdicas pelas crianças,
inconscientemente de forma natural, tornando-se um grande de um lado, revela como elas estão, a partir de suas histórias
aliado aos professores na caminhada para bons resultados. pessoais, assim como revela o que sentem sobre o seu presente
E que é dever do professor mudar os padrões de conduta cotidiano, seus medos, seus não-entendimentos do que está
em relação aos alunos, deixando de lado os métodos e técnicas ocorrendo, o que está incomodando; porém, de outro lado,
tradicionais acreditando que o lúdico é eficaz como estratégia essa prática revela, também, a construção do futuro. Muitas
do desenvolvimento na sala de aula. atividades lúdicas das crianças são de imitação do adulto,
Espera-se que esta proposta de abordagem vá de encontro outras não imitam, mas constroem modos de ser. Meio pelo
com o que foi proposto realizar, e essencialmente, que seja de qual as crianças estão, por uma parte, tentando compreender
suporte para professores que já atuam no ambiente escolar, e o que os adultos fazem, e, de outra, experimentar as
aos futuros professores a tornar suas aulas mais dinâmicas possibilidades de sua própria vida, o que quer dizer que,
fazendo com que a sala de aula se transforme num lugar através das atividades lúdicas, estão construindo e
prazeroso, construindo a integração entre todos que a fortalecendo o seu modo de ser, a sua identidade.
frequentam. Neste contexto, por exemplo, ao brincar de “pai e mãe”, as
crianças, colocando-se nesses papéis, estão tentando saber o
Sobre as atividades lúdicas e sua função no que é isso de “ser pai e mãe”; ou, ainda outro exemplo, uma
desenvolvimento interno de cada um criança que passou por uma experiência de hospitalização,
possivelmente, por um certo período, após sair do hospital, ela
Há três possibilidades de usos das atividades lúdicas na praticará brinquedos e brincadeiras que tenham como
vida do ser humano, a partir de três abordagens diferentes: conteúdo algum flash de sua experiência passada recente.
psicanalítica, piagetiana e biossistêmica. Poderiam ser outras Possivelmente, brincará de médico, de enfermeira, de hospital,
- tais como as de Wallon, de Vigotsky e outros -, porém escolhi de ambulância e tantas outras coisas, que poderão estar
estas três, que a meu ver, são suficientes para dar corpo à auxiliando a sua compreensão do que ocorreu com ela. O
compreensão que estamos estabelecendo de ludicidade54. mesmo ocorrerá com seus desenhos, com suas falas, com as
A compreensão sobre as atividades lúdicas, especialmente estórias que inventa. Contudo, se, por outra via, for anunciada
sobre a sua constituição sócio-histórica e sobre os seus papéis a uma criança que, em breve, ela será hospitalizada para uma
na vida humana, tem origem em várias áreas do conhecimento. intervenção qualquer, é bastante provável que ela inicie a usar
Assim, existe uma história do brinquedo, uma sociologia do brinquedos e brincadeiras relativos à saúde e àquilo que vai
brinquedo, um estudo folclórico do brinquedo, um estudo ocorrer em sua vida (que são os procedimentos de
psicológico do brinquedo. Desses estudos, retiramos algumas hospitalização), na tentativa de compreender o que foi
conclusões que nos ajudaram e nos ajudarão a compreender o anunciado a ela. Todavia, essas manifestações do inconsciente
papel e uso das atividades lúdicas na vida humana, que nas atividades lúdicas poderão também estar, e certamente
estamos em busca de compreender como, possivelmente, pode estarão, vinculadas a experiências mais antigas, em termos de
dar-se e operar internamente no sujeito a vivência das história de vida pregressa.
experiências lúdicas. David Grove, um pesquisador norte-americano que criou
uma técnica específica para trabalhar com traumas através das
As heranças freudianas metáforas, diz que estas (as metáforas) são as expressões
Freud compreendeu que o brinquedo é o caminho real visíveis e observáveis dos traumas que estão fixados em nosso
para o inconsciente da criança, assim como o sonho é o inconsciente; como, por exemplo, “eu tenho um nó na
caminho real para o inconsciente do adulto. Ou seja, a garganta”, “carrego o mundo nas costas”, ou coisas
experiência do brincar tem seu lado interno; que se expressa semelhantes. Eu acredito que as atividades lúdicas infantis são
no externo. A meta de Freud, como sabemos, foi desvendar e as metáforas, que expressam a sua intimidade; elas falam de
compreender as operações do inconsciente através de suas sua realidade interior através de um caminho metafórico.
manifestações externas. Se prestarmos atenção em nossos filhos e filhas, ou nossos
A partir daí, o próprio Freud e seus discípulos próximos e netos e netas, ou nossos alunos na escola, ou crianças em geral,
distantes, tais como Ana Freud (filha de Freud), Melanie Klein, observaremos que seus atos, sempre, estarão comunicando
Bruno Bettelheim, D.W. Winnicott, Arminda Aberastury, alguma coisa. Para entender essa comunicação, importa estar
André Lapierre e tantos outros produziram diversas atento para o que elas querem dizer. David Boadella diz que
compreensões psicanalíticas e possibilidades de usos das “como ponto de partida, é necessário reconhecer que é
atividades lúdicas. impossível um indivíduo não se comunicar”. Por vezes, será
A Psicanálise, em sua atuação terapêutica, aposta na bastante fácil descobrir o significado dessa comunicação, por
restauração do passado e na construção do presente e do outras vezes, será exigido mais atenção e esforço de nossa
futuro. Freud afirma que temos em nós duas forças parte para proceder essa compreensão. E, mais que isso, para
fundamentais: as forças regressivas, que nos atém fixados no aceitar a comunicação que está vindo através de uma
passado e as forças progressivas, que nos mantém voltados brincadeira, pois que nem sempre estamos preparados e
para o futuro. As forças regressivas são aquelas que tem como dispostos para acolher o que está ocorrendo. Por vezes, as
seu epicentro as nossas fixações neuróticas ou traumáticas do brincadeiras de nossas crianças nos desagradam, mas o que
passado, que nos impedem ou dificultam o nosso viver fluído será que elas estão nos revelando, nos dizendo ou querendo
no presente, assim como nossas aberturas para o futuro. Elas nos dizer? É isso que a Psicanálise nos ensina: observe como
se manifestam por nossas respostas emocionais automáticas as crianças estão brincando, seus atos estão revelando o seu
do dia a dia, que nos dificultam o estar bem conosco mesmos interior.
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APOSTILAS OPÇÃO
Existe um famoso relato de Freud, onde ele relata a experiência plena dentro de si, em seu interior, contudo,
experiência de ter ido visitar um amigo e enquanto estava a sós externamente, podemos descrevê-la, o que não
com uma criança pequena, observou que ela atirava um necessariamente nos permitirá nos apropriarmos daquilo que
carretel de linha e, a seguir, puxava-o; quando atirava o se deu ou se dá nessa experiência plena interna do indivíduo.
carretel, fechava o semblante e, quando o trazia de volta, abria
em sorriso. Após, atentamente, observar essa experiência, As heranças piagetianas
Freud realizou a seguinte leitura: a criança estava tentando Em Piaget, os jogos são compreendidos como recursos
compreender como a mãe desaparecia e, depois, aparecia fundamentais dos quais o ser humano lança mão em seu
novamente; e o sentimento de tristeza pelo afastamento da processo de desenvolvimento, possibilitando a organização de
mãe e a alegria pelo seu retorno. A experiência interna sua cognição e seu afeto, portanto a organização do seu mundo
revelava-se em uma manifestação externa. E foi a partir desse interior na sua relação com o mundo exterior.
ponto que Freud fez sua leitura interpretativa da experiência O tema que Jean Piaget sempre se colocou, ao longo de sua
(certamente válida) da criança. vida de pesquisas sobre a inteligência humana, foi: como se dá
Mas, o ato de brincar não só é revelador do inconsciente, o conhecimento? Como se constrói, no ser humano, o processo
ele também é catártico, ou seja, ele é liberador. Enquanto a do conhecer? E sua resposta permanente foi: através das
criança brinca, ela, ao mesmo tempo, expressa e libera os atividades. O ser humano, como um ser ativo, aprende por
conteúdos do inconsciente, procurando a restauração de suas meio de sua ação. Age e compreende, por meio de uma
possibilidades de vida saudável, livre dos bloqueios dialética de assimilação e acomodação em suas relações com o
impeditivos. E, por vezes, os bloqueios já estão tão fixados, que mundo exterior. Assimilar significa tornar o mundo exterior
eles impedem a criança até mesmo de brincar; fato este que semelhante ao mundo interior e acomodar significa apropriar-
estará nos sinalizando para uma atenção mais cuidadosa para se dos elementos do mundo exterior, evidentemente, como
esta criança. eles podem ser apropriados com realidade pela ótica do
Por outro lado, as atividades lúdicas são instrumentos da sujeito. É nessa dialética que se aprende e se desenvolve.
criação da identidade pessoal, na medida em que elas, nessa Evidentemente que os processos de assimilar e acomodar
perspectiva, estabelecem uma ponte entre a realidade interior não são tão lineares e mecânicos quanto as definições, acima
e a realidade exterior. Esse é o lado construtivo das atividades colocadas, parecem indicar. São processos profundamente
lúdicas. Pelas atividades em geral e pelas atividades lúdicas em complexos, pelos quais cada criança, cada adolescente e cada
específico, a criança aproxima-se da realidade, criando a sua adulto estabelece o seu modo de relações e constrói o seu
identidade. O princípio do prazer equilibra-se com o princípio modo de agir e reagir, estando situado seja no contexto de sua
da realidade, na criança, através das atividades lúdicas. Elas intimidade, seja em determinada realidade natural e/ou sócio-
são o meio pela qual as crianças fazem o trânsito do mundo histórica. A assimilação é o meio pelo qual tornamos o mundo
subjetivo simbiótico com a mãe para o mundo objetivo da lei exterior semelhante ao nosso mundo interior, aos nossos
do pai, criando o seu modo pessoal de ser e estar no mundo, sentimentos, aos nossos fantasmas, aos nossos
criando sua identidade pessoal; ou se se quiser, sua conhecimentos. A acomodação é o processo que nos permite
individualidade. Assim sendo, o brincar, para as crianças, não desvendar o que não sabemos e que não dominamos do mundo
será só o caminho real para o inconsciente doloroso, mas externo a nós mesmos e nos possibilita apreendê-lo, cognitiva,
também para a construção interna da identidade e da mas, ao mesmo tempo, emocionalmente. A dialética entre
individualidade de si mesmo. esses dois processos permite-nos a construção de nós mesmos
Será que as atividades lúdicas seriam o caminho real só e nosso modo de ser na vida e no mundo, relacionados a nós
para a inconsciente e a identidade e individualidade da mesmos, aos outros e a mundo material e cultural que nos
criança, ou do adulto também? Vivenciar atividades lúdicas é envolve.
também um caminho tanto para o inconsciente quanto para a Os processos de assimilação e acomodação, usualmente
construção de identidade e individualidade saudável dos operam dialeticamente, o que quer dizer que assimilamos para
adultos. acomodar e acomodamos para assimilar. Por exemplo, ao
Essa abordagem, a partir das contribuições da Psicanálise, adquirir um novo aparelho de som para minha casa, uma parte
se integra na visão de ludicidade como possibilidade de de como fazê-lo funcionar, eu já sei; assim sendo, assimilo
vivência da plenitude da experiência? Tomando por base os (assemelho) elementos desse objeto a elementos que já
fundamentos do pensamento de Wilber, que expusemos detenho como conhecimento. Porém, tem uma parte que eu
acima, podemos compreender que o que ocorre dentro da não sei; então, aprendo; é isso que é acomodar-se, ou seja,
criança configura-se no quadrante superior esquerdo, na integrar a parte do mundo exterior que ainda não está
dimensão do EU, a dimensão interna. O que ocorre nessa integrada em mim, nessa experiência. Esse processo
dimensão, nós, de fato, não podemos saber, a menos que a possibilita, permanentemente, um aprofundamento do
criança, de alguma forma, nos revele. É a sua experiência conhecimento cada vez que me detenho no objeto, com nova
interior. Os atos externos poderão ser descritos assimilação e nova acomodação.
comportamentalmente, mas a experiência interna é de quem a Em seu livro A formação do símbolo na criança, Piaget
vive e nós só podemos nos aproximar dela, da forma mais trabalha com os jogos como os recursos ativos dos quais o ser
apropriada, pela partilha e, mais distantemente, por uma humano se serve em sua vida para construir-se a si mesmo,
analogia com a nossa própria experiência. Então, tendo vivido aprendendo a relacionar-se com o que está fora e em torno de
experiências semelhantes, podemos compassiva e si. É nesse contexto, que Piaget estabelece o entendimento de
empaticamente, sentir o que se passa dentro do outro. que as atividades desenvolvidas pelo ser humano, em seu
Seremos, então, ressonantes à experiência do outro e, deste processo de desenvolvimento, podem ser compreendidas
modo, poderemos, aproximadamente, compreender o que está como jogos e classificados em três tipos: jogos de exercício,
ocorrendo em seu interior. Ou pela interpretação, a partir de jogos simbólicos e jogos de regras.
um olhar externo sobre as manifestações da criança ou do Entre o nascimento e os dois anos de idade, período em que
adulto, enquanto vivencia sua experiência; mas, aí, será Piaget situa a fase sensório-motora do desenvolvimento, dão-
sempre uma interpretação externa, ainda que, se for realizada se os jogos de exercício, que são atividades funcionais, que tem
com cuidado e amorosidade, poderá ser muito útil no sua origem na capacidade reflexa com a qual o ser humano
acompanhamento do processo de desenvolvimento do outro. nasce. São propriamente todas as atividades que a criança
Assim sendo, cada criança, adolescente, ou adulto, realiza para tomar posse de si mesma na sua relação com o
enquanto vivencia uma experiência lúdica, a vivencia como mundo; mexer os braços, pernas, emitir sons, pegar, agarrar,
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puxar, empurrar, rolar, se arrastar, engatinhar, levar objetos adultos, na perspectiva de subsidiar o desenvolvimento
na boca, imitar. Até os dois anos de idade predominam esses interno, que significa a ampliação e a posse das capacidades de
jogos na atividade da criança, que, segundo Piaget, é o período cada um. Assim sendo, podemos e devemos nos servir das
de nossas vidas onde predomina a acomodação, em função do atividades lúdicas na perspectiva de obtermos resultados
fato que a criança predominantemente imita o que os outros significativos para o desenvolvimento e formação dos nossos
fazem, especialmente os adultos; ou seja, ela está mais voltada educandos. Conhecendo a teoria e as suas possibilidades
para apreender o mundo exterior. práticas, temos em nossas mãos instrumentos fundamentais
A seguir, aproximadamente, entre os dois e os seis anos de para dirigir a nossa prática, propiciando oportunidades aos
idade, a criança dedicar-se- aos jogos simbólicos; essa é a fase nossos educandos de internamente se construírem. Com essa
que o autor denomina de pré-operatória. Nesse período, dão- teoria em nossas mãos, podemos saber o que fazer com as
se os jogos simbólicos, onde predomina a assimilação. São os atividades lúdicas em cada fase de desenvolvimento de uma
jogos da fantasia, período em que as crianças gostam muito de criança, um adolescente ou um adulto. Piaget nos ajuda a não
brincar de “faz de conta”. O mundo exterior, então, é colocar o carro antes dos bois. Faz-nos compreender que é
permanentemente “assemelhado” ao mundo interior. Não preciso estar atentos ao tempo e às possibilidades de realizar
importa, assim, a realidade como ela é; o que importa é o que e incorporar uma determinada ação.
ela pode parecer que é. Um lápis, que, na realidade, é um lápis, Enquanto Freud esteve atento mais aos processos
pode ser muitas coisas na fantasia: um cavalo, um ônibus, um emocionais trabalhados pelo brinquedo e pelo jogo, Piaget
carro, um avião, um barco, ou simplesmente um objeto para esteve mais atento aos aspectos cognitivos trabalhados por
ser mastigado. É também nesse período que as crianças esses mesmos recursos, sem que tenha descuidado dos
gostam muito das estórias, dos contos de fada, das estórias aspectos afetivos e morais. Enquanto a psicanálise esteve mais
imaginadas; mas, também, fabulam muito, constroem suas atenta (não exclusivamente) à reconstrução da experiência
próprias estórias. Criam e recriam personagens e estórias. emocional, Piaget esteve mais atento ao processo de
Esse é o período em que Piaget diz que predominam os jogos construção dos conhecimentos e da afetividade. Todavia,
simbólicos. ambos são de fundamental importância para quem deseja
Os jogos de regras vão predominar a partir dos seis/sete trabalhar com atividades lúdicas, seja na educação familiar, na
anos de idade para a frente, período denominado, inicialmente educação escolar, na educação extraescolar, seja na terapia.
de operatório concreto (sete aos doze anos) e, depois, de Aqui, também, podemos observar que a atividade lúdica só
operatório formal (a partir aproximadamente dos doze anos). poderá trazer a sensação de experiência plena, na dimensão do
É o período da aproximação e da posse da realidade. Em torno sujeito que a vivencia. Praticar jogos de exercício, jogos
dos cinco, seis e sete anos, a criança vai se aproximando mais simbólicos ou jogos de regras só poderá ser pleno para quem
da realidade, onde se defronta não mais com as fantasias, mas os pratica, mas parece que todos os que os praticam com
sim, com os próprios dados do mundo real, o que implica em inteireza, integridade e presença, chegam a esse cume de
regras reais que dão forma ao mundo. É nesse período que sensação de plenitude, o que nos permite admitir que as
Freud situou, especialmente, a manifestação mais plena do atividades lúdicas podem e devem ser utilizadas como
Complexo de Édipo, período onde fortemente as regras e recursos para a busca de um crescimento o mais saudável
papéis sociais colocam para a criança os limites das relações possível.
sociais. É por essa idade que meninos e meninas iniciam a
brincar com elementos que exigem regras definidas: brincar Atividades lúdicas e a restauração do equilíbrio entre
de casinha, pai mãe, médico, advogado, enfermeira, etc. Ainda as camadas embrionárias constitutivas do ser humano
que em forma de brincadeira, são os elementos da vida real
que vem à tona. Daí para frente as crianças, os pré- Para tratar sobre essa parte é necessários os
adolescentes, os adolescentes e os adultos jogarão jogos de conhecimentos originários da Biossíntese, que é uma área de
regras. Esses, como os anteriores jogos auxiliarão a criança, o conhecimentos criada por David Boadella, um psicoterapeuta
adolescente e o adulto aprender a operar com os somático inglês, no decorrer da década de setenta, e vem
entendimentos dos raciocínios abstratos e formais. sendo permanentemente recriada por ele nesses últimos
Nessa sequência de possibilidades de jogar - exercício, trinta anos. A Biossíntese não trata de ludicidade, porém
simbólico e de regras -, a aquisição das habilidades menos permitem compreender o significado interno da vivência de
complexas servirão de base para as que exigem elementos experiências lúdicas.
mais complexos para o agir. Assim, quem só possui a O ser humano é constituído, embrionariamente, por três
capacidade para praticar os jogos de exercício, por si, não terá camadas, denominadas germinativas: endoderma, mesoderma
condições de praticar os outros tipos de jogos, que exigem e ectoderma. Em torno do décimo quarto dia após a concepção,
estruturas mentais e lógicas mais desenvolvidas e complexas. as células do novo ser, que até esse momento eram
Todavia, aquele que já chegou ao estágio dos jogos simbólicos indiferenciadas, especializam-se, formando cada uma dessas
poderá, perfeitamente, praticar os jogos do estágio anterior três camadas; o que implica que decidem por compor um ou
(os jogos de exercício). O mesmo ocorrendo com as outras outro conjunto de órgãos constitutivos do ser humano,
etapas do desenvolvimento e seus respectivos jogos. Isso quer relativos a cada uma dessas camadas.
dizer que quem pode o menos não pode o mais; porém, quem O endoderma dará origem a todos os órgãos internos moles
pode o mais, pode o menos também. do tórax e do abdômen, órgãos aos quais se vinculam nossos
A partir dessas rápidas noções sobre os jogos em Piaget, sentimentos. O mesoderma constituirá todo nosso sistema de
podemos concluir que, para este autor, os jogos, como sustentação e movimento: o esqueleto, a musculatura, o
atividades lúdicas, servem de recursos de sistema circulatório. O ectoderma constituirá o sistema
autodesenvolvimento. Piaget vê os jogos como atividades que nervoso central e todo o sistema de comunicação do ser
vão propiciando o caminho interno da construção da humano com o mundo exterior; ou seja, dá origem ao sistema
inteligência e dos afetos, na medida em que manteve-se atento nervoso central e a todas as suas ramificações, que se
a sua permanente pergunta: como o conhecimento se dá, ou estendem para todas as partes do corpo, como também para
seja, como é construída a capacidade do conhecer, que é os órgãos dos sentidos, que nos colocam em comunicação com
interna? o mundo externo a nós mesmos. Essas três camadas
Tendo por base a compreensão piagetiana dos jogos, germinativas dão origem a três modos de ser de cada um de
podemos perceber a sua significação para a vida das crianças, nós: sentir, pensar e agir. Sentimento, pensamento e
para os pré-adolescentes, para os adolescentes e para os movimento são três componentes de nosso estar no mundo, na
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medida em que, ao exercitar cada um desses modos de ser, ao produtividade, buscamos sempre mais e mais atividades. Com
mesmo tempo, estamos exercitando os outros dois. isso, nossa experiência de sentir permanece relegada ao
Esses três conjuntos de órgãos manifestam-se em três segundo plano; ou ao terceiro, quarto, último plano! Portanto,
partes distintas do corpo: a cabeça (ectoderma), o tronco e nosso caminho predominante é viver no desequilíbrio dos
membros por extensão (mesoderma) e o abdômen nossos elementos constitutivos, psíquicos e corporais, ao
(endoderma). E essas partes se ligam entre si por pontes: a mesmo tempo.
cabeça se liga ao tronco através do pescoço, especialmente Que isso tem a ver com atividades lúdicas? As atividades
pela nuca; a cabeça se liga com o abdômen via garganta, parte lúdicas, por serem atividades que conduzem a experiências
interna do pescoço; e o tronco se liga ao abdômen através do plenas e, consequentemente, primordiais, a meu ver,
diafragma. Todavia, nem sempre, ou quase nunca, essas partes possibilitam acesso aos sentimentos mais indiferenciados e
funcionam harmonicamente, fato que também se expressa profundos, o que por sua vez possibilita o contato com forças
através dos nossos desequilíbrios entre sentir, o pensar e o criativas e restauradoras muito profundas, que existem em
agir. nosso ser. A vivência dessas experiências, vagarosamente,
A cabeça, quando está separada do corpo, através de possibilita a restauração das pontes entre as partes do corpo,
bloqueios energéticos na nuca, pode ter duas consequências: assim como a restauração do equilíbrio entre os componentes
de um lado, se a energia se concentrar na cabeça, pensar em psíquicos-corporais do nosso ser. Na atividade lúdica, o ser
excesso e rigidez na conduta; se a energia se concentrar no humano, criança, adolescente ou adulto, não pensa, nem age,
corpo, hiperatividade descontrolada, na medida em que a ação nem sente; ele vivencia, ao mesmo tempo, sentir, pensar e agir.
passa superficialmente pela reflexão, assim como pelos Na vivência de uma atividade lúdica, como temos definido, o
sentimentos. ser humano torna-se pleno, o que implica o contato com e a
A cabeça, quando está separada do abdômen, também, posse das fontes restauradoras do equilíbrio.
pode apresentar duas consequências opostas: ou engole as No caso, agir ludicamente, de imediato, conduz para o
emoções, deixando-as presas no abdômen, sem poder contato com o sentimento, que se situa, fisiologicamente, nos
expressá-las pelo rosto, ou expressa muita emoção pelo rosto, remanescentes do endoderma em nosso corpo, o local do
sem estabelecer contato com o centro do corpo; então a contato com as sensações e sentimentos mais profundos de
emoção emerge como se fosse vomitada para aliviar a pressão cada um de nós, que por sua vez, abre as portas do ectoderma
interna. e do mesoderma, garantindo o pensar e o agir. Os alquimistas
Por último, o tronco pode estar separado do abdômen pelo definiam o nosso abdômen como a fornalha, onde tudo se
diafragma, cujas consequências opostas podem ser: de um transforma. É para aí que as atividades lúdicas nos conduzem;
lado, quando a energia se concentra mais no tronco, a para a fornalha dos nossos sentimentos e das nossas emoções,
respiração fica quase que imperceptível, o que conduz a aos quais serve nosso pensamento e nossa ação. É nessa
manifestação de quase nenhuma emoção; ou, por outro lado, fornalha que encontramos as fontes restauradoras da vida,
quando a energia se concentra mais no abdômen, num porque ainda muito primordiais, primais, básicas.
processo de estado emocional intenso, emerge a ansiedade, Como as atividades lúdicas, desde que vivenciadas, podem
que não encontra um modo de expressão por um movimento ser um suporte na construção ou na restauração do equilíbrio
harmônico. A respiração é ativa, porém, o sistema muscular é energético do ser humano? David Boadella diz que nós seres
pouco ativo55. humanos somos constituídos por polaridades e a principal de
Em nossa vida, o ideal seria crescer com o equilíbrio todas as polaridades é a que se refere ao interior e ao exterior.
interno dessas três camadas e, consequentemente, das três O interior é nossa Essência, o Âmago do ser nosso, o centro dos
qualidades básicas do ser humano, a elas relacionadas: sentir, anseios, de nossa alma. O exterior é o nosso corpo, nossa
pensar e agir. Nosso crescimento, em parte, se faz de modo personalidade, é o campo da energia. O âmago é o Âmago, ele
harmônico, mas uma grande parte dele, infelizmente, tem se não pode ser manipulado; ele é o que É. Com ele, nós só
feito pelo caminho do desequilíbrio entre essas camadas e podemos manter contato e esse contato é curativo, quando
essas qualidades. Esses desequilíbrios, manifestados pelas ocorre, devido estar para além de todo pensamento, de todo
qualidades opostas acima indicadas, que são e/ou foram julgamento, de todo “ego”. Nossa essência é curativa porque é
adquiridos no decorrer da própria experiência da vida de cada divina. Mas a energia, que é externa, é força e nos permite viver
um, poderão ser restaurados para novas formas de equilíbrio, e agir; ela é um potencial, que, quando atualizada em nossas
através de atividades terapêutico-educativas ou educativo- experiências cotidianas, pode estar ordenada ou desordenada.
terapêuticas, que restabeleçam o fluxo energético entre as Ela necessita de ser ordenada para permitir nosso contato com
partes componentes do ser humano, assim como entre as suas nossa Essência. Assim sendo, caso ela seja só um potencial,
qualidades de sentir, pensar e agir, equilibradamente. Para ainda, podemos construí-la ordenadamente pela
entrar no contato mais profundo consigo mesmo, o ser aprendizagem e pela educação; caso ela já esteja construída de
humano tem necessidade de estar em contato com o visceral, alguma forma, ordenada ou desordenadamente, podemos
com o sentimento, que, posteriormente, é compreendido e reconstruí-la de forma mais adequada e funcional, tendo em
elaborado no pensamento e atuado ou realizado pelo vista nos possibilitar um suporte externo para entrarmos em
movimento. Estabelecer e/ou restaurar o equilíbrio entre os contato com nossa Essência, nosso Âmago.
órgãos originários das camadas germinativas do ser humano Quando ordenamos ou reordenamos nosso campo
significa, também, restaurar o equilíbrio entre o sentir, o energético, ele permite um contato com nosso Âmago, com
pensar e o agir; mas o contrário, também tem sua verdade: a nossa Essência. E esse contato, como dissemos é curativo, na
experiência de restaurar o equilíbrio entre o sentir, o pensar e medida em que ele, desde que estabelecido, reverbera para
o agir, através da transformação de crenças, também podem todas as nossas experiências de vida. E esse contato com
atuar e atuam na reequilibração das camadas biológicas Âmago, na maior parte das vezes, será rápido e fugaz, mas será
constitutivas do ser humano. um contato e a partir dele, nossa vida vai se transformando e
Usualmente, em nossa sociedade, nós damos pouco lugar tornando-se o que necessita de ser. As atividades lúdicas
aos sentimentos. Em função de nossa herança iluminista, ordenam ou reordenam o campo de nossa energia e, por isso,
queremos aprender e ensinar somente pelo processo em momentos fugazes ou mais duradouros, nos permitem um
cognitivo e, em função de nosso comprometimento com a contato com nossa Essência, por menor que seja. Com o tempo
55 Para uma melhor compreensão dessa temática, pode-se ver, também, com
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e com repetidas experiências plenas, para além do ego, vamos (A) os jogos promovem fatores diagnósticos do nível de
podendo manter um contato mais permanente com nossa aprendizagem ou de eventuais dificuldades de aprendizagem
Essência, vamos sendo capazes de sustentar essa experiência. e proporcionam novas experiências afetivas, social e cognitiva.
A ludicidade é vista como oportunidade de experiência (B) o brincar favorece uma aprendizagem significativa e
plena interna, podendo-se observar que quem terá que fazer o prazerosa, capaz de promover a construção de aspectos
percurso da experiência lúdica, para que ela seja plena, é o reflexivos e críticos, além de possibilitar ao educador a
próprio sujeito da ação. elaboração de uma proposta didática eficaz.
Objetivamente, poderemos ter muitas descritivas e (C) as brincadeiras possibilitam métodos de aprendizagem
análises das atividades lúdicas, que são profundamente incapazes de proporcionar um ambiente propício à produção
importantes para nossa compreensão das coisas, mas só o do conhecimento e a uma facilitação do trabalho docente, pois
sujeito, enquanto vivente, poderá experimentar a ludicidade geram competição e discordâncias entre os alunos.
como experiência plena em seus atos; e como essa experiência (D) o lúdico facilita a visão da relação dos alunos sobre o
pode nos tornar criadores e recriadores de nossa vida, de uma social, promove o resgate das influências culturais e torna a
maneira mais saudável. escola um espaço de resgate cultural, de valorização social, de
reprodução do conhecimento adquirido em gerações
Questões passadas, além de transpor a emoção do imaginário infantil.
esteve mais atento aos aspectos cognitivos trabalhados por habilidades de “codificação” e “decodificação” foi transposta
esses mesmos recursos, sem que tenha descuidado dos para a sala de aula, no final do século XIX, mediante a criação
aspectos afetivos e morais. de diferentes métodos de alfabetização - métodos sintéticos
(C) As atividades ou os brinquedos, segundo Cipriano (silábicos ou fônicos) x métodos analíticos (global) -, que
Luckesi, trazem em si um saber ou uma possibilidade que padronizaram a aprendizagem da leitura e da escrita. As
encerram potencialidades que poderão ser ativadas ou não cartilhas relacionadas a esses métodos passaram a ser
por quem os vivencia. Assim, as atividades lúdicas só podem amplamente utilizadas como livro didático para o ensino nessa
ter como suporte objetos comuns de uso cotidiano. área. No contexto brasileiro, a mesma sucessão de oposições
(D) Jean Piaget compreendeu que o brinquedo é o caminho pode ser constatada.
real para o inconsciente da criança, assim como o sonho é o 57O termo alfabetização faz referência ao processo
caminho real para o inconsciente do adulto, ou seja, a mediante o qual uma pessoa pode aprender a ler e a escrever,
experiência do brincar tem seu lado interno, que se expressa duas atividades ou funções que lhe permitirão se comunicar
no externo. A meta de Piaget, como sabemos, foi desvendar e com o resto dos seres humanos a um nível mais profundo e
compreender as operações do inconsciente através de suas abstrato. A alfabetização é muito importante para que uma
manifestações externas. pessoa possa desenvolver ao máximo suas capacidades e isto
não quer dizer que uma pessoa analfabeta não possa levar
02. (Prefeitura de Itaquitinga/PE - Professor - Ensino adiante sua vida, sim é verdade que lhe custará bem mais
Fundamental - IDHTEC). Numa reunião pedagógica, os conseguir um bom trabalho, mas principalmente poder se
professores discutiram como tema a utilização de jogos no comunicar com outros já que não saberá ler nem expressar por
processo ensino aprendizagem. Ao expor as experiências com escrito suas ideias.
a temática a professora Ana afirmou que o uso dos jogos no A ideia de alfabetização como um fenômeno em massa de
ensino de alguns conteúdos vinha apresentando bons toda a sociedade é uma noção muito recente se temos em conta
resultados, inclusive gerando mudança positiva nas atitudes que não faz muito tempo (século XIX aproximadamente) os
de alguns estudantes. A experiência socializada pela únicos que sabiam ler e escrever costumavam ser sempre os
professora Ana indica que o uso de jogos no processo setores mais altos da sociedade, com poder econômico e
educativo pode promover, EXCETO: político para governar e fazer o que quisessem sobre as
(A) Integração populações submissas no analfabetismo. No entanto, a partir
(B) Socialização do século XIX, os diferentes governos e as sociedades cada vez
(C) Autoconfiança mais complexas começam a ver na alfabetização uma
(D) Apatia necessidade muito importante que em alguns momentos
(E) Motivação também foi utilizada para transmitir ideias políticas ou
culturais determinadas, em último modo permitirá à
03. (Prefeitura de Juatuba/MG - Professor de Educação sociedade crescer e se desenvolver como tal.
Básica I - CONSULPLAN). Estudos recentes apresentam várias A alfabetização deve começar desde a etapa inicial de
contribuições que o lúdico pode propiciar ao processo de aprendizagem, ao redor dos 5 a 6 anos quando se considera
ensino‐aprendizagem. Considerando a afirmativa anterior, é que já têm passado por etapas de aprendizagem de símbolos,
INCORRETO afirmar que formas, senhas, etc. e podem agora se dedicar a compreender
palavras e inclusive alguns termos mais abstratos. A
alfabetização pode começar em casa, mas é sem dúvidas a
56 MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da alfabetização (São 57 Disponível em: <http://queconceito.com.br/alfabetizacao>. Acesso em
Paulo: 1876-1994). São Paulo: Ed. UNESP; CONPED, 2000 julho de 2017.
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escola a responsável por ensinar as crianças a lerem e a fracassos, usando termos como alfabetizar ou letrar
escreverem nos primeiros anos de escola. Isto se tornará cada alfabetizando, apontados como o caminho para a superação
vez mais complexo à medida que a pessoa desenvolve mais dos problemas enfrentados nesta etapa de escolarização.
habilidades e possa compreender textos mais complexos. No início da escolarização, uma pesquisa revela que, até os
É quando é construída a habilidade de ler e escrever de anos 80, o objetivo maior era a alfabetização, isto é, enfatizava-
forma adequada. Existem alguns métodos e teorias variadas se fundamentalmente a aprendizagem do sistema
sobre como realizar o processo de alfabetização, por exemplo, convencional da escrita. Em torno desse objetivo principal,
alguns educadores focam em aspectos mais formais e então métodos de alfabetização alteram-se em um movimento
tratam este processo do início para o geral, ou seja, partindo pendular: ora a opção pelo princípio da síntese, segundo o qual
das letras, seguindo pelas sílabas, para depois passar pelas alfabetização deve partir das unidades maiores _ a palavra, a
palavras e finalmente pelas frases. Por outro lado, os frase, o texto (método fônico, método silábico); ora a opção
chamados construtivistas propõem que a percepção da criança pelo princípio da análise segundo o qual a palavra, a frase, o
começa por uma mistura, captando a totalidade sem deter-se texto - em direção as unidades menores (método da
dos detalhes, então, partem do geral e apresentam às crianças palavração, da sentenciação, global). Em ambas as opções,
palavras completas com seus reais significados. porém a meta sempre foi à aprendizagem do sistema
Claro que o uso desta postura depende de um alfabético e ortográfico da escrita; embora se possa identificar
conhecimento profundo dos alunos para depois poder na segunda opção uma preocupação também com o sentido
estipular as melhores e mais adequadas estratégias. A veiculado pelo código. Seja no nível do texto (global, seja no
alfabetização estabelece a união de dois processos, no caso a nível da palavra, ou da sentença da palavração, sentenciação)
escrita e a leitura. Ler e escrever são atividades complexas, os textos foram postos a serviço da aprendizagem do sistema
mas fundamentais na vida das pessoas. Também são de escrita. Visto que, palavras são intencionalmente
determinantes para um saber organizado, que é sem dúvida o selecionados para servir a sua decomposição em sílabas e
elemento mais importante de uma cultura. fonemas.
O domínio satisfatório, tanto da leitura como da escrita, Assim, pode se dizer que até os anos 80, a alfabetização
não só permite construir significados para ampliar nossos escolar no Brasil caracterizou por uma alternância entre
conhecimentos, mas também facilita a abertura de novas vias método sintético e métodos analíticos, mas sempre com o
de comunicação entre os alunos e o entorno social que se mesmo pressuposto - o de a criança para aprender o sistema
desenvolvem. de escrita, dependeria de estímulos externos cuidadosamente
Vale destacar que ambas as ferramentas, ler e escrever, selecionados ou artificialmente construídos - e sempre com
devem ser introduzidas às crianças de maneira motivadora, mesmo objetivo o domínio desse sistema, considerado
conectando-as com algum objeto de interesse, por exemplo, condição, pré-requisito para que a criança desenvolvesse
mostrar a escrita de seu próprio nome e de seus colegas pode habilidades de uso da leitura e da escrita, isto é, primeiro
ser um início favorável e surpreendente. aprender a ler e a escrever, para só depois, ler textos, livros,
Dentro da alfabetização, devem ser apresentadas escrever histórias, cartas, etc.
atividades interessantes para promover a capacidade e Nos anos 80, a perspectiva psicogenética da aprendizagem
coordenação motora, como um trabalho de massinhas, de da língua escrita divulgada entre nós, sobretudo pela atuação
recorte e colagem, ou então, com a utilização de pincel e tinta formativa de Emília Ferreiro, sob a denominação de
para a criação de suas próprias obras que resultam da construtivismo, trouxe uma significativa mudança de
imaginação e criatividade do aluno. pressupostos e objetivos na área de alfabetização, porque
Atualmente, a ONU, através de seu ramo educativo alterou fundamentalmente a concepção efetivas de leitura e de
UNESCO, leva à cabo permanentes pesquisas, relatórios e escrita. Essa mudança permitiu identificar e explicar o
trabalhos que buscam controlar e melhorar o nível de processo através do qual a criança torna-se alfabética; por
alfabetização mundial, assinalando aqueles países que outro lado, e como consequência disso, sugeriu as condições
mostram complicações em obter um resultado aceitável e em que mais adequadamente se desenvolve esse processo,
ajudando para que possam atingi-lo. revelando o papel fundamental de uma interação intensa e
diversificada da criança com práticas e matérias reais de
Leitura e alfabetização numa perspectiva leitura e escrita a fim de que ocorra o processo de
construtivista conceitualização da língua.
58A alfabetização é um campo aberto, no qual o conflito No entanto, o foco no processo de conceitualização da
entre teorias é fundamental para o progresso do língua escrita pela criança e a importância de sua interação
conhecimento. Mas é importante levar em conta a com práticas de leituras e de escrita como meio para provocar
compreensão sobre as visões de mundo, de homem e de e motivar esse processo tem subestimado, na pratica escolar
sociedade que as sustentam para o professor possa decidir de da aprendizagem inicial da língua escrita, o ensino sistemático
um modo mais crítico e consciente, sobre os quais, os ajudarão das relações entre a fala e a escrita de que ocupa a
a concretizar os fins de uma educação formada da cidadania de alfabetização. Como consequência de o construtivismo ter
nossos aprendizes. evidenciado processos espontâneos de compreensão da
Atualmente parece que de novo estamos vivenciando uma escrita pela criança, ter condenado os métodos que enfatizam
nova situação, no que se refere a alfabetização, o que o ensino direto e explicito do sistema de escrita e, sendo
prenuncia o questionário a que vem sendo submetidos os fundamentalmente uma teoria psicológica, não ter proposto
quadros conceituais e suas práticas ao longo da desse seu uma metodologia de ensino, os professores foram levados a
processo na história. Estamos diante de um quadro que aponta supor que, apesar de sua natureza convencional e com
problemas resultantes de alfabetização de crianças no frequência arbitrária, as relações entre a fala e a escrita seriam
contexto escolar, insatisfações e inseguranças entre construídas pela criança de forma incidental e assistemática,
alfabetizadores os que evidenciam uma perplexidade na como decorrência natural de sua interação com inúmeras
persistência do fracasso escolar em alfabetizar. variedades práticas de leitura e de escrita, ou seja, através de
Neste contexto, vem surgindo nos discursos teóricos a atividades de letramento, prevalecendo, pois, estas sobre as
palavra letramento como uma proposta para superar tais atividades de alfabetização.
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É, sobretudo essa ausência de ensino direto, explicito e Atualmente a educação está caminhando para alfabetizar
sistemático da transferência da cadeia sonora da fala para a letrando. No processo de alfabetizar e letrar é imprescindível
forma gráfica da escrita que tem motivado as críticas que que os educadores tenham claros tais conceitos, pois
atualmente vem sendo feitas ao construtivismo. Além disso, é alfabetização é um processo especifico e indispensável de
ela que explica porque vêm surgindo, surpreendentemente, apropriação do sistema da escrita, a conquista dos princípios
propostas de retorno a um método fônico como solução para alfabético e ortográfico que possibilita ao educando ler e
os problemas que se enfrentam na aprendizagem inicial da escrever com autonomia e letramento é o processo de inserção
língua escrita pelas crianças. e participação na cultura escrita, processo este que tem inicia
Cabe salientar, porém, que não é retornando a um passado quando a criança começa a conviver com as diferentes
já superado e negando avanços teóricos incontentáveis que manifestações da escrita na sociedade e se prolonga por toda
esses problemas serão esclarecidos e resolvidos. a vida, com a crescente possibilidade de participação nas
Por outro lado, ignorar ou recusar a crítica aos atuais práticas sociais que envolvem a língua escrita.
pressupostos teóricos e a insuficiência das práticas que deles Este trabalho considera que alfabetização e letramento são
tem decorrido resultará certamente em mantê-los inalterados processos distintos, cada especificidade, mas complementares
e persistentes. e inseparáveis, ambos indispensáveis para a aquisição da
Nesta perspectiva, surge letramento, que, segundo leitura e da escrita pelos alunos. Neste sentido não se trata de
Kleiman não está ainda dicionarizada define letramento como escolher entre alfabetizar ou letrar, trata-se de conciliar esses
um contraponto ao conceito de alfabetização, segundo ela os dois processos assegurando aos alunos a apropriação do
dois conceitos se alternam e se completam. sistema alfabético - ortográfico e condições possibilitadoras
A alfabetização e o letramento são, no estado atual do do uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita,
conhecimento sobre a aprendizagem inicial da língua escrita, percebe-se que a ação pedagógica mais adequada e produtiva
indissociáveis simultâneos e interdependentes. é aquela que contempla, de maneira articulada e simultânea, a
alfabetização e o letramento.
Uma reflexão da alfabetização através de: Piaget, É preciso mudar o aprender, e isto demanda tempo, talvez
Vygotsky e Ferreiro. muito tempo, que não acontece de uma hora para outra,
A epistemologia genética de Piaget é uma teoria porque requer forças de muitos segmentos, segmentos estes
construtivista de caráter interativo, entendendo o pensamento que na maioria extrapolam o ambiente escolar. Como o social,
e a inteligência como processos cognitivos que tem sua base econômico, tecnológico, político e muitos caminham alheios
em um organismo? Biológico. É a partir da herança genética aos objetivos da educação. O desafio da escola atual está em
que o indivíduo constrói sua própria evolução da inteligência sua contribuição à redefinição dos saberes e dos valores aptos
paralela com a maturidade e o crescimento biológico da pessoa a participar dos processos de construção de novos cenários,
que, através da interação com o meio desenvolve também suas num mundo ao mesmo tempo global e intercultural.
capacidades básicas para a subsistência: a adaptação e a 60O código escrito, é posto como um objeto de
59 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática 60 SOUZA, N. R. Processo de alfabetização: uma perspectiva construtivista.
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capacidade intelectual dele, naquele momento, nem esteja relações no âmbito psicopedagógico, no entanto, a perspectiva
acima do seu desenvolvimento, tornando-a sem sentido para estreita tem predominado".
ele. Essa perspectiva estreita, a que se refere Ana Teberosky,
Como se pode compreender disso tudo, o processo de recai exatamente sobre a forma de pensar o ensino da leitura
ensino-aprendizado, agora, gira em torno do aluno e não em e da escrita como algo imposto de fora ao aluno, tirando-lhe o
torno do conteúdo e muito menos do professor. Agora direito de encarar o objeto de conhecimento, estudá-lo, cercá-
aparecem conceitos como "nível de desenvolvimento mental lo, observá-lo e desenvolver ideias a respeito do seu
do indivíduo", "nível das atividades propostas", por exemplo, funcionamento, ideias essas que vão se aproximando aos
que dão uma nova face ao modo como se adquire o poucos, em ritmos diversos, daquela realidade, até
conhecimento, na escola. Não é mais o professor o pivô do que culminarem com o ato de identidade da relação ideias/sistema
acontece em sala de aula, com poderes para decidir tudo, como de escrita, ocasião em que se dá, por parte da criança, o
o programa, as atividades e o modo de realizá-las, os ritmos, os domínio pleno da alfabetização.
tempos e os comportamentos. Um outro ator, “antes mero É preciso levar-se em conta os níveis de conceptualização
coadjuvante”, agora entra em cena na condição de estrela, com da crianças, durante o seu processo de aquisição da
a prerrogativa de interferir no roteiro, alterando-o, ajustando- lectoescrita, a fim de se poder proporcionar a elas evoluir
o ao seu modo de interpretar e não o contrário. Os seus nesse itinerário, faremos, a seguir, uma reflexão acerca desses
conceitos, para os fenômenos de sua experiência, nascem níveis conceptuais, que se traduzem pelas hipóteses
como resultado de suas ações físicas e mentais sobre o objeto, formuladas pelo indivíduo, durante a aprendizagem da língua
de dentro para fora, portanto, e não lhe são impostos de fora escrita, como mencionamos antes, até haver a coincidência de
para dentro, num processo de digestão muitas vezes difícil e suas ideias com o real significado do sistema gráfico.
penoso, que pode deixar-lhe sequelas para o resto da vida, Tomamos como padrão os quatro níveis conceptuais mais
como, por exemplo, aversão a escolas e a tudo que diz respeito importantes, que regularmente são descritos pelos principais
a estudos. teóricos da alfabetização, acompanhados de uma análise por
O estudo, visto do ponto de vista construtivista, quando nível.
mediado com habilidade e competência pelo docente, torna-se
um mister prazeroso, porque dá ao aluno a sensação boa de Nível pré-silábico: neste nível a criança já faz uma
estar descobrindo, desvelando aspectos da realidade, no caso diferenciação entre o modo de representação icônico e não-
particular, aqui, de estar interpretando o sistema de escrita. icônico, ou seja, entende que desenho é diferente de escrita e
Pretendemos tratar da evolução da escrita na criança, leva em consideração os eixos qualitativo e quantitativo,
partindo de uma perspectiva construtivista exigindo uma variedade de letras na palavra (afastando a
Começamos pelo que entendemos ser o ponto fundamental da possibilidade de repetição) e uma quantidade mínima de
evolução da escrita, que Ana Maria Kaufman61, tão bem letras (em geral não menos de três) para poder ler ou escrever
acentua quando afirma que todos os conhecimentos das uma palavra. Neste nível ainda não há correspondência
crianças devem entrar juntos com elas, ao ingressarem na alguma entre as letras e os sons.
escola. Esta recomendação de imediato remete o processo de Nível silábico: nível em que ocorre o início da fonetização,
conhecimento do sistema de escrita à proposta construtivista, caracterizada pela relação entre as letras e os significantes
em que a criança, ao iniciar a sua alfabetização na escola, não sonoros. Uma característica marcante deste nível diz respeito
vai ter que abrir mão das ideias que já trazia consigo, a respeito ao fato de que a criança acrescenta ao seu conceituário a
do que é ler e escrever, tendo que deparar-se com uma coisa hipótese de que, a cada sílaba oral, corresponde uma letra, de
nova, partindo do zero, fazendo o que lhe ordenam. Esta modo que pode ou não levar em conta o seu valor sonoro
recomendação dá um novo rumo ao processo, e sinaliza para convencional. Por exemplo, uma criança, neste nível de
um ensino do sistema de escrita que não é nem espontaneísta, conceptualização, pode escrever a palavra "boneca" da
dado que não prevê que as crianças permaneçam o tempo todo seguinte forma: e n o, em que cada letra representa uma sílaba
fazendo o que bem entenderem, em sala de aula, como se o desta palavra, mas nenhuma delas tem a ver com o valor
aprendizado fosse condicionado apenas pela maturação sonoro da sílaba que representa. Mas uma outra criança, num
biológica, e que, no tempo certo, cada criança aprenderia estágio um pouco mais adiantado, desse nível, pode escrever a
naturalmente, como num insight, a ler e escrever, nem, por mesma palavra (boneca) usando as letras o e a, em que, cada
outro lado, um ensino diretivista, fortemente pautado nas letra pertence realmente à silaba que representa e está em
intervenções do professor, em que cada passo da criança, no harmonia com seu valor sonoro.
âmbito de sala de aula, tenha de ser para cumprir à risca Nível silábico-alfabético: trata-se de um nível de
determinações prévias, estabelecidas pelo docente. conceptualização em que a criança trabalha com as hipóteses
Nem uma coisa nem outra, é o que recomenda o paradigma silábica e a alfabética, simultaneamente. As escritas
atual da alfabetização de crianças, onde o domínio do código produzidas neste período são familiares aos professores da
escrito é uma aquisição elaborada pelo indivíduo, num primeira série, e são do tipo PTO, quando se intenciona
processo de interação entre sujeito e objeto de conhecimento, escrever PATO, ou MIPSA, quando a intenção é escrever
ou seja, entre o aluno e o sistema de escrita, em que se obedece MARIPOSA63. Segundo esta mesma autora, ao longo do tempo
a todo um itinerário evolutivo, respeitando-se o nível esse tipo de escrita tem preocupado e confundido professores,
conceptual em que cada criança se encontra quando cruza o porque, no entender deles, a escrita assim produzida era (e é
batente da escola; e para se conhecer o nível conceptual de ainda, para muitos docentes) tomada como omissões de letras,
cada criança, é preciso que o professor se dê ao trabalho de e crianças que assim procediam eram tidas como disléxicas,
elaborar todo um plano de procedimentos, para diagnosticar sujeitas a serem encaminhadas para consultório
com precisão os conhecimentos anteriores dela, a fim de que psicopedagógico.
tenha plenas condições de propor atividades que insiram-se Nível alfabético: as produções escritas agora obedecem a
no seu nível de desenvolvimento proximal. Teberosky62, uma correspondência entre fonemas e letras, ao contrário do
adverte: "[...] acreditamos que o olhar evolutivo sobre o fato nível silábico, em que essa correspondência era feita entre
educativo não tem por que ser estreito. Ao longo das mútuas fonemas e sílabas.
61 KAUFMAN, Ana Maria. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: 63 KAUFMAN, Ana Maria. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre:
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Vale ressaltar, ainda com base em Kaufman64, que esta A experimentação é outro aspecto que também está
categoria inclui produções cuja amplitude foge ao âmbito do presente na prática pedagógica construtivista. É no contato
nível alfabético estrito, porque vão desde as que ainda direto com o objeto de conhecimento, explorando-o,
apresentam traços silábicos e trocas de letras, até as que reconhecendo-o, manipulando-o que os conceitos do sujeito
mostram avanços, porque, mais do que trabalharem são construídos, mesmo que, num primeiro momento, não
corretamente o domínio da correspondência fonema-letra, sejam conceitos que reflitam na plenitude uma realidade
mostram certa preocupação ortográfica, sinalizando algum específica. São "erros" que na concepção tradicional de ensino
cuidado em separar palavras, na escrita de orações. não são aceitos, sendo, por isso, rechaçados veementemente,
mas que no construtivismo passam a ter uma nova conotação,
Com relação às hipóteses anteriores, a hipótese alfabética e a serem tomados como um instrumento que induz a novas
mostra um avanço considerável, porque ela faculta a reflexões, refinando e ressignificando conceitos Servem para
complementaridade entre a leitura e a escrita, levando-se em avaliar o nível conceitual do aluno até ali, naquele estágio em
conta que o escrito já pode ser lido, tanto por quem escreve, que ele se encontra, e permitir novos avanços cognitivos,
como por outras pessoas alfabetizadas. continuadamente.
Entendemos que a descoberta desses níveis conceptuais, Dessa perspectiva o ensino contextualizado passa a ser
que resultou das pesquisas de Emília Ferreiro e Ana prioritário, porque, primeiro, o sujeito precisa conhecer e
Teberosky, publicadas no livro Psicogênese da Língua Escrita, atribuir significados ao meio que o rodeia, que sente, sobre o
constitui-se num marco teórico de fundamental importância qual age, para depois estender esses significados a outras
para o processo de alfabetização, porque criou uma nova e realidades mais distantes e externas ao seu contexto. O
paradigmática perspectiva de ensino da leitura e da escrita, percurso no sentido contrário, pode causar sérios prejuízos ao
que absolutamente não pode mais ser ignorada por nenhum aprendizado, porque esvazia-o de significado, levando ao
profissional da educação, esteja ele diretamente em sala de desinteresse e até a evasões e desistências, se nos permitem
aula em que existam crianças aprendendo a interpretar o repetir este fato.
sistema de escrita, ou tenha ele qualquer função vinculada a A ideia de cooperação também está sempre presente no
este nível de ensino. modelo construtivista de ensino, mas não se restringe apenas
Os docentes, as escolas que alfabetizam e por extensão a a se opor ao individualismo, enquanto posicionamento sócio
comunidade educativa em geral, ganharam um inestimável político cultural. É que a noção de ajuda, de diálogo, de zona de
presente, com esta produção científica, porque as práticas desenvolvimento proximal (de Vygotsky), presentes nesta
pedagógicas que secularmente reproduziram equívocos concepção, evocam atividades em grupo, de modo que todos
graves durante a alfabetização de crianças, agora podem os seus componentes participem ativamente, propondo,
fundamentar-se num referencial confiável, porque científico, e aceitando, rejeitando ideias, em que o grupo avança e recua
realmente revolucionário, que mostra caminhos novos mais como um todo sintonizado, chegando, todos, ao final da tarefa,
eficazes e menos sofridos para os sujeitos mirins da com novas estruturas mentais construídas, embora os seus
aprendizagem. níveis de assimilação variem de indivíduo para indivíduo, de
acordo com o nível de complexidade conceitual prévia de cada
Implicações pedagógicas um.
São bem-vindas práticas pedagógicas. Não confundir,
Todas as reflexões feitas até agora, sejam aquelas cujo foco entretanto, práticas pedagógicas que facultam a reflexão com
restringiu-se ao modelo tradicional de ensino, sejam as que se práticas que ensinam a pensar. Não são a mesma coisa. Na
inspiraram na proposta construtivista, os seus realidade, não se ensina a pensar. A criança sabe fazê-lo66. O
desdobramentos pedagógicos precisam ser analisados, a fim que se precisa é de um ambiente escolar que permita a
de que elas não caiam na malha da aparência, em que reflexão, mas criar esse ambiente não é fácil. O professor
determinada escola mostra uma fachada construtivista, mas, precisa de tempo para compreender e processar uma situação
na prática pedagógica, em nada se diferencia das escolas nova, bem como ter acesso a uma capacitação adequada, que
tradicionais. lhe permita a cooperação com seus pares.
A intenção ou não de se desenvolver uma prática Dentro desse universo reflexivo, a alfabetização é
pedagógica revela-se no dia-a-dia da sala de aula. No caso de privilegiada, do ponto de vista construtivista, porque foi por
se optar por uma prática pedagógica construtivista, as este nível de ensino que ela começou, haja vista que tomou
atividades devem abranger aspectos básicos do como pressuposto teórico a "Epistemologia Genética" de
construtivismo. E esses aspectos revelam-se na concepção de Piaget e a "Psicogênese da Língua Escrita" de Emília Ferreiro,
aluno ativo, no diálogo, em atividades grupais, em ambas desenvolvidas através de pesquisas com crianças. As
desenvolvimento do raciocínio do aluno, em professor obras destes autores, em que pese não terem desenvolvido
orientador/mediador e por aí a fora. uma metodologia sistematizada e específica, voltada para o
As atividades precisam ter significado para o aluno, sem o aprendizado da leitura e escrita, abrem um leque de
que distantes ficarão de despertar o seu interesse. Este aspecto possibilidades de se reunirem, sem limitações, instrumentos
é por demais conhecido de todos os que militam levando em didático-pedagógicos que permitam desenvolver práticas
conta o referencial construtivista. E mais do que despertar o pedagógicas circunscritas à teoria construtivista.
interesse do aluno, o significado dos conteúdos e atividades As vivências na Educação Infantil tornam-se de fato a base
propostos tornam-se necessários, porquanto são eles que para o desenvolvimento cognitivo, motor, verbal e mental.
fazem a articulação do indivíduo com o meio, são eles que Durante a Educação Infantil a criança passa a ser sujeito da sua
permitem ao sujeito agir sobre o meio, transformando-o de ação, que constrói sua autonomia, sua cidadania, sua educação,
acordo com suas necessidades. Como diz Marta Kohl de sua socialização e seus conhecimentos através da interação. A
Oliveira65, "São os significados que vão propiciar a mediação partir das situações lúdicas e dos momentos em que a criança
simbólica entre o indivíduo e o mundo real, constituindo-se no de fato brinca, ela está construindo seu conhecimento, de uma
“filtro” através do qual o indivíduo é capaz de compreender o maneira única e prazerosa. Se o sujeito faz o que lhe traz
mundo e agir sobre ele." prazer, ele jamais irá esquecer o que aprendeu.
64 KAUFMAN, Ana Maria. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: 66 KAUFMAN, Ana Maria. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre:
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Através deste estudo, pode-se dizer que a teoria A oralidade é trabalhada, em especial, através da
construtivista-interacionista, propõe o aprendizado das construção de histórias, leituras dramatizadas, leituras
crianças em um mundo letrado o educador e o educando saem compartilhadas, teatrinho de fantoches, onde, em seguida, as
com ganhos positivos e sentem prazer em estar em um crianças são convidadas a recontarem e a escreverem as
contexto onde os mesmos são os agentes do processo histórias de seus jeitos. Outra atividade consiste em pedir para
educativo, e pode-se educar e transmitir o conhecimento de as crianças elaborem uma lista de personagens com os quais
maneira recíproca, divertida, lúdica e única. se identificam na história.
O resultado vem através das crianças que amam o que Uma consequência visível desta atividade é que todos os
fazem, que estudam, apreciam os livros, as obras artísticas, vão dias acontecem empréstimos de livros paradidáticos que são
à escola com prazer e esperam pelo momento de estar em levados para casa por interesse das crianças. Esta atividade
contato com esse ambiente escolar. acaba estimulando até mesmo os pais a se envolverem na
A partir de uma organização bem elaborada e da satisfação aprendizagem dos filhos aproximando-os afetivamente.
em ensinar e aprender, mantemos umas práxis pedagógica de Para a professora, quando os pais se envolvem no
qualidade, conseguindo chegar aos objetivos traçados pelo desenvolvimento das crianças é perceptível. Ela procura
corpo docente. Em uma instituição onde todos estão satisfeitos conversar com os mesmos diariamente e principalmente nas
com o trabalhado elaborado, tanto professores, quanto alunos, reuniões em sala de aula. Procura sempre pedir para que os
o resultado tende a ser um: uma educação bem feita, de pais leiam com as crianças diariamente, sejam rótulos de
qualidade e principalmente, com uma base sólida para as embalagens e propagandas, sejam anúncios e os livros que as
posteriores etapas que nossas crianças de Educação Infantil crianças levam para casa.
passarão. “Não se trata, simplesmente, de se ensinar a criança a falar,
Para que a organização escolar se concretize é necessário mas de desenvolver sua oralidade e saber lidar com ela nas
que a instituição tenha seu Projeto Político Pedagógico bem mais diversas situações”.69
elaborado, seguindo uma teoria e uma forma de A docente que trabalha a leitura de forma prazerosa, lúdica
ensinar/aprender condizente com o contexto em que as e formadora de leitores. Em um trabalho conjunto com a
crianças estão situadas. Por isso, o corpo docente deve ter uma escola, incentiva a leitura através do empréstimo de livros pela
formação inicial, tendo um elo entre teoria e prática, e manter biblioteca e minibiblioteca nas salas de aula da educação
esse estudo através da formação continuada. infantil e primeiro ano. Existe uma atividade denominada
Ciranda de Leitura, onde os livros são divididos por gêneros,
Diferentes áreas do conhecimento, alfabetização, cada sala fica com o que achar ideal se trabalhar. Durante a
leitura e escrita semana todo processo de leitura e produção textual é feito
juntamente com a professora.
67A oralidade, a leitura e a escrita estão presentes em nosso A escola da grande importância a literatura infantil, pois,
cotidiano de forma articulada. Uma contribui para o para a mesma, o prazer de ler tem que ser cultuado desde a
desenvolvimento da outra. Diante disso uma das principais infância. Através da literatura as crianças imaginam,
tarefas da escola seria fazer com que todos os educandos conhecem, crescem, formando senso crítico, incentivando a
tenham o conhecimento e domínio das múltiplas funções da possibilidade de termos futuros leitores e grandes escritores.
linguagem, onde esta possui diferentes manifestações e tem A professora acredita na contribuição da leitura para a
por objetivo a ação da comunicação entre as pessoas. alfabetização e o letramento, pois, segundo ela, quando se
De acordo com Dias68 nossa tarefa, como educadores, seria incentiva a criança a ler, na contação, por exemplo, ela já quer
abordar os mais variados tipos de textos em sala de aula, recontar a história, quer escrever mesmo sendo pré-silábica. A
analisando as semelhanças e diferenças, a estrutura textual de partir daí vai tendo vontade e o prazer de aprender, de
cada um, o vocabulário utilizado, buscando incentivar a escrever, de falar aos colegas.
leitura, a interpretação e a produção pelos próprios alunos dos Tudo isso não deve ser cultivado só na escola, mas também
mais variados portadores de textos existentes e utilizados em pela família e todos os segmentos político-governamentais.
nossa sociedade. Deve-se ter em mente que são de fundamental importância
Para estabelecer uma boa relação entre as crianças a para o desenvolvimento de um país que “clama” por uma
professora promove atividades que contribuem para que haja educação de qualidade.
uma boa adaptação das crianças ao ambiente escolar. Procura Observamos que a docente que procura contemplar as
sempre planejar uma semana bem acolhedora e divertida etapas e os níveis de compreensão leitora. Percebe-se que a
trazendo, por exemplo, brincadeiras que gerem interação e criança já chega à escola com o conhecimento sobre os objetos
convívio em grupo. e suas funções, procurando fazer relações entre a palavra
Trabalha a oralidade, a leitura e a escrita de forma falada com a imagem do objeto. A linguagem das crianças vai
articulada. Fixa cartazes nas paredes para que as crianças se tornando cada vez mais próxima da dos adultos, através da
acompanhem o que for sendo vivenciado. Ler palavras para imitação e comparação. Trabalha para que as crianças
que elas repitam e depois escrevam, seja coletivamente ou alcancem de forma significativa os outros níveis da
individualmente. Confecciona para os alunos fichas com seus compreensão leitora, que consistem na compreensão do
respectivos nomes, em letra cursiva e em letra bastão, para material utilizado no meio social e finalmente escrever, saber
proporcionar o contato deles com as letras de seus nomes e da como se representa a fala no papel.
de seus colegas. Com estas fichas são realizadas atividades O PAIC (Programa Alfabetização na Idade Certa), em
como: identificar a ficha que contém o nome do colega, contar relação à escrita, trabalha fundamentando-se no estudo da
o número de letras destacando a letra inicial e a final. psicogênese da língua escrita, desenvolvido por Emília
Estimula a consciência fonológica cantando músicas que as Ferreiro e Ana Teberosky. Nesta teoria destaca-se que as
crianças conhecem trocando as palavras por sons de sílabas. crianças formulam uma série de ideias próprias sobre a escrita
Por exemplo: na música “Atirei o pau no gato...” cantam PA, PA, alfabética enquanto estão aprendendo a ler e a escrever.
PA... (de acordo com a melodia); depois com outras sílabas, Reinventam e atribuem aos símbolos da escrita significados
sucessivamente. bastante distintos dos que lhes transmitem os adultos que as
67 TEIXEIRA, F.S.; AMARO, M.; VIANA, V. Alfabetização e linguagem: refletindo 69 DIAS, Ana Iorio. Ensino da linguagem no Currículo. Fortaleza: Brasil
Tropical, 2001.
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alfabetizam. Estas hipóteses especificas foram classificadas conduzir as crianças à aquisição da oralidade, da leitura e da
por Emília Ferreiro e Ana Teberosky nos quatro níveis: pré- escrita com fruição, isto é, que se sinta o prazer ao estar em
silábico, silábico, silábico-alfabética e alfabético. sala de aula.
Nesta abordagem consideramos fundamental que os Alfabetizar é a arte da criatividade que representa o
professores construam um método de alfabetização que no mundo através da palavra, fundindo os sonhos e a realidade da
planejamento das atividades esteja atento para a vida prática, transformando-a em um processo de continuo
heterogeneidade do grupo, oferecendo atividades aprendizado no convívio escolar, formando leitores que
diferenciadas para alunos que apresentam hipóteses de tenham um envolvimento integral com aquilo que leem, para
escritas diferentes, considerando que as respostas dos alunos que a cada leitura adquiram mais profundidade e intimidade
nas atividades em sala são distintas, e nesse caso, o confronto com o mundo, fazendo perguntas e buscando respostas para
entre as diferentes respostas é interessante. produzir um continuo aprendizado, desenvolvendo a reflexão
O professor deverá, enfim, estabelecer um trabalho que e um espírito crítico.
possibilite aos alunos desenvolverem suas habilidades e se
tornarem leitores e escritores autônomos. Dando importância “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós
à linguagem pela necessidade humana de comunicar-se, sabemos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Paulo
decodificar o mundo, a sua realidade, para conhecê-lo e Freire
transformá-lo resignificando-os.
“A linguagem tem como objetivo principal a comunicação Como educadores devemos proporcionar aos discentes o
sendo socialmente construída e transmitida culturalmente. prazer e gosto pela leitura, valorizando suas experiências de
Portanto, o sentido da palavra instaura-se no contexto, vida através de atividades nas quais eles sejam participantes
aparece no diálogo e altera-se historicamente produzindo ativos na construção do seu processo de aprendizagem.
formas linguísticas e atos sociais. A transmissão racional de Passando a reconhecerem-se como sujeitos do conhecimento
experiência e pensamento a outros requer um sistema e poderem expressar suas opiniões sobre os temas abordados
mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da em sala.
necessidade de intercambio durante o trabalho.”70 Nesta nova concepção devemos estabelecer uma relação
O trabalho com a linguagem se constitui em um dos eixos dialógica, onde educador e educando vivenciem experiências
básicos no processo de alfabetização, dado a sua importância de trocas de conhecimento, para que possa haver um
para a formação do sujeito, para a interação com outras levantamento daquilo que os educandos já trazem do mundo e
pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção dessa forma elaborar estratégias de aprendizagem para se
de muitos conhecimentos e no desenvolvimento psicomotor e ampliar os conhecimentos.
afetivo. Embasadas nestas reflexões consideramos relevante que o
Compreendemos que o domínio da linguagem surge do seu sucesso do processo de alfabetização se dê através do
uso em variadas circunstâncias, nas quais as crianças podem posicionamento do professor em sensibilizar o aluno a
perceber a função social que ela exerce e por meio destas encontrar o caminho e o prazer pela descoberta de falar, de ler
aquisições desenvolverem diferentes capacidades. Desse e escrever, utilizando-as para desenvolver a capacidade de
modo, a aprendizagem da linguagem oral e escrita é um pensar e crescer, proporcionando atividades significativas
elemento essencial para que ampliem suas possibilidades de como: trabalhos em grupos, debates, contação de histórias,
inserção e participação em práticas sociais diversas. dramatização, considerando o nível de desenvolvimento
As palavras só têm sentido em enunciados e textos que cognitivo do aluno.
significam e são significados por situações. Neste contexto, a Sendo assim um sujeito atuante, que sente liberdade,
linguagem não é apenas o vocabulário, lista de palavras e prazer e gosto em ser alfabetizado, sentindo-se valorizado ao
sentenças, é por meio do diálogo que a comunicação acontece. participar desse processo.
São os sujeitos em interações singulares que atribuem Segundo Paulo Freire “A educação sozinha não transforma
sentidos únicos as falas. Assim sendo, a alfabetização não deve a sociedade, sem ela pouco a sociedade muda.” Percebemos que
ser entendida como um desenvolvimento de capacidades a sociedade moderna nos bombardeia com uma série de
relacionadas à percepção, memorização e treino de informações, na maioria das vezes sem significados, fazendo
habilidades sensório-motoras e sim como um processo no qual com que essa violência simbólica nos torne individualistas,
as crianças precisam resolver problemas de natureza lógica consumistas e meros reprodutores do sistema, ou seja,
até chegarem a compreender de que forma a escrita em alienados, impossibilitando nossa reflexão sobre as relações e
português representa a linguagem e assim poderem ler e problemas sociais, sobre a nossas práxis pedagógicas.
escrever com autonomia. Devemos então quebrar os grilhões que nos aprisionam a
Cabe ao processo de alfabetização ajudar o discente a se uma prática mecanicista de ensino, onde os alunos ainda são
constituir como pessoa, passando assim, a conhecer-se. Um vistos como meros armazenadores de “determinados”
importante caminho a ser seguido é a exploração dos vários conhecimentos.
tipos de textos de forma prazerosa, pondo em evidência a Devemos sair do discurso e buscar uma práxis para
prática de despertar o interesse e a atenção dos discentes, formarmos não apenas leitores de textos, mas leitores de
desenvolvendo a imaginação, a expressão das ideias e o prazer mundo e agentes transformadores da realidade.
pela leitura e escrita. Oportunizando situações nas quais as Devemos trabalhar a oralidade, a leitura e a escrita como
crianças possam interagir em seu processo de construção do base para alfabetizar, proporcionando ao educando a
conhecimento, possibilitando o seu desenvolvimento e oportunidade se apaixonar. Sim! E porque não se apaixonar
aprendizado de forma significativa, direcionando um saudável pelas letras? Pois a finalidade da educação é formar
diálogo entre a criança e o livro. apaixonados pela vida, pelo conhecimento, pelo outro, para
A grandiosidade do processo de alfabetizar não pode ser tornar o ambiente em que vivemos mais humano e
somente compreendida como uma forma de ensinar, mas de significativo, comprometido consigo e com a sociedade.
aprender e evoluir, permitindo assim, uma leitura de
interpretações do mundo e a compreensão daquilo que se lê.
Nesse sentido a alfabetização tem um importante papel, o de
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Estratégias de leitura isto é, de recursos para construir significado; sem elas não é
71Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua possível alcançar rapidez e proficiência.
Portuguesa ler, não se trata simplesmente de extrair
informações da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra Estratégias de seleção: permitem que o leitor se atenha
por palavra. aos índices úteis, desprezando os irrelevantes. Ao ler, fazemos
Trata-se de uma atividade que implica, necessariamente, isso o tempo todo: nosso cérebro “sabe”, por exemplo, que não
compreensão na qual os sentidos começam a ser construídos precisa se deter na letra que vem após o “q”, pois certamente
antes da leitura propriamente dita. Qualquer leitor experiente será o “u”; ou que nem sempre é o caso de se fixar nos artigos,
que conseguir analisar sua própria leitura constatará que a pois o gênero está definido pelo substantivo.
decodificação é apenas um dos procedimentos que utilizamos Estratégias de antecipação: tornam possível prever o
quando lemos: a leitura fluente envolve uma série de outras que ainda está por vir, com base em informações explícitas e
estratégias como seleção, antecipação, inferências e em suposições. Se a linguagem não for muito rebuscada e o
verificação, sem as quais não é possível rapidez e proficiência. conteúdo não for muito novo, nem muito difícil, é possível
É o uso desses procedimentos que permite constatar o que vai eliminar letras em cada uma das palavras escritas em texto, e
sendo lido, tomar decisões diante de dificuldades de até mesmo uma palavra a cada cinco outras, sem que a falta de
compreensão, arriscar-se diante do desconhecido, buscar no informações prejudique a compreensão. Além das letras,
texto a comprovação das suposições feitas, etc. sílabas e palavras antecipam significados.
Um leitor competente busca selecionar, dentre os textos O gênero, o autor, o título e muitos índices nos informam o
que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma que é possível que encontremos em um texto. Assim, se formos
necessidade sua. Um exemplo claro disso é quando se busca ler uma história de Monteiro Lobato chamada Viagem ao céu,
em um jornal, aquilo que interessa saber diante de tantas é previsível que encontremos determinados personagens,
outras informações: no caso da criança que não ler certas palavras do da astronomia e que, certamente, alguma
convencionalmente, busca selecionar por elementos que já travessura acontecerá.
conhece de cor. Estratégias de inferência: permitem captar o que não
A sociedade urgente exige um cidadão leitor e não “ledor”. está dito no texto de forma explícita. A inferência é aquilo que
Esse tem que compreender o que ler, pois terá que ler também “lemos”, mas não está escrito. São adivinhações baseadas tanto
o que não está implícito no texto, ou seja, tem que fazer em pistas dadas pelo próprio texto como em conhecimentos
inferências e checar se essas se confirmam ou não de acordo que o leitor possui. Às vezes essas inferências se confirmam, e
com as exigências do gênero. às vezes não; de qualquer forma, não são adivinhações
A utilização das estratégias de leitura é também utilizada aleatórias.
por quem ainda não lê convencionalmente. Por isso a Além do significado, inferimos também palavras, sílabas ou
importância e necessidade de se trabalhar em torno da letras. Boa parte do conteúdo de um texto pode ser antecipada
diversidade de textos que circulam socialmente. ou inferida em função do contexto: portadores, circunstâncias
As estratégias de leitura enquanto recurso utilizado para de aparição ou propriedades do texto. O contexto, na verdade,
construir significados se lê, é ainda pouco conhecida por contribui decisivamente para a interpretação do texto e, com
alguns educadores, inclusive observam-se relatos onde esses frequência, até mesmo para inferir a intenção do autor.
pensam que se ensina estratégia de leitura. Na verdade, há que Estratégias de verificação: tornam possível o controle da
se propiciarem momentos para que seja vivenciadas situações eficácia ou não das demais estratégias, permitindo confirmar,
onde a criança que anda não sabe ler convencionalmente ou não, as especulações realizadas. Esse tipo de checagem para
possa fazer uso desses recursos. confirmar - ou não - a compreensão é inerente à leitura.
Solé72, salienta-nos que “... muitas das estratégias são Utilizamos todas as estratégias de leitura mais ou menos
passíveis de trocas, e outras estarão presentes antes, durante ao mesmo tempo, sem ter consciência disso.
e depois da leitura.” Acrescenta ainda que as estratégias de
leitura devam estar presentes ao longo de toda a atividade. Produção escrita
Vale acrescentar que a primeira condição é despertar o 73Aprender a ler e a escrever é desafiador para qualquer
71 MENOR, Maria Aurilene da Silva, SANTOS, Maria Eliane dos & SOUSA, Maria 73SARTORETTO, Mara Lúcia. BERSCH, Rita de Cássia Reckziegel. A educação
Goreti da Silva. Vivência de algumas estratégias de Leitura: Experiência realizada especial na perspectiva da inclusão escolar: recursos pedagógicos acessíveis e
num grupo de Formação de Professores Alfabetizadores comunicação alternativa e aumentativa. Brasília: Ministério da Educação, 2010.
72 SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. 6.ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.194 (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Educação Escolar).
p.
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Foto 2 - O aluno pega o lápis especial e escreve. Uma mão segura a bola de Foto 7 - Números móveis. Números emborrachados, em material EVA, são
espuma que molda-se facilmente a ela, facilitando a preensão. fixados sobre uma tira de velcro, colada em cartolina preta. Na foto, vê-se a
representação da operação numérica 1 + 2 = 3.
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O aluno pode utilizar-se de teclados virtuais; nesse caso, as O impedimento de acesso ao texto para alguns alunos se dá
letras aparecem na tela do computador e são por ele em razão da forma ou da mídia por meio da qual ele é
selecionadas de várias formas, dependendo de sua habilidade. comumente apresentado na escola: livros, textos impressos,
O acesso às letras acontece por meio de mouses especiais ou textos lidos na tela do computador, textos escritos no quadro,
acionadores. O acionador é uma chave que realiza o "clique do nos cadernos dos colegas, etc.
mouse" e define a escolha da letra. Existem acionadores de O meio pelo qual o texto é apresentado na escola pode
pressão, de tração, de piscar, de sopro, de contração muscular limitar a acessibilidade do aluno com deficiência e privá-lo da
e outro. Com uma habilidade motora mínima, o aluno é capaz participação nas aulas. A dificuldade que um aluno encontra na
de selecionar uma letra e escrever. leitura deve ser bem avaliada e precisamos identificar se ela
está, ou não, no formato como o texto foi apresentado.
Alunos com impedimentos na expressão oral utilizam as
pranchas de comunicação para expressarem sua compreensão
e interpretação daquilo que está sendo lido. Os recursos
devem sempre mediar a ação que se realiza entre o aluno e o
texto e possibilitar que o professor da classe comum interprete
o processo de aquisição de conhecimento que está sendo
Foto 13 - Mouses especiais. Sete mouses de diferentes formatos, onde o
direcionamento do cursor é feito com joystick ou manuseando-se uma grande construído pelo aluno e planeje suas intervenções.
bola colocada sobre o mouse. Os botões de ativação do clique e da tecla direita O texto com símbolos apoia o aumento de vocabulário
são dispostos no próprio mouse. gráfico dos alunos que utilizam a comunicação alternativa. Os
alunos surdos, disléxicos ou com outras dificuldades
específicas na leitura podem ter o apoio dos símbolos para
compreensão das palavras e do seu sentido no texto.
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Foto 20 - Livro de história onde foram colados símbolos de comunicação Foto 25 - Réguas Braille de vários tamanhos. Das réguas Braille, emergem
alternativa em sequência, transcrevendo o texto em símbolos. dinamicamente pontos sensíveis ao toque que formam o texto. As réguas de
Braille podem ser conectadas no computador ou ao leitor autônomo.
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Período Intuitivo: dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente. mostram que ela ainda não escreve convencionalmente, que
É a “idade dos porquês”, pois a criança pergunta o tempo todo. ainda faltam letras para escrever as palavras que deseja.
Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar sem Nesse momento inicia-se uma transição entre o nível
acreditar nela. Quanto à linguagem não mantém uma silábico e o nível alfabético. É comum, por exemplo, que a
conversação longa, mas já é capaz de adaptar sua resposta às criança oscile entre escritas silábicas e escritas alfabéticas.
palavras do companheiro. Os Períodos Simbólico e Intuitivo Esse é um momento muito difícil para muitas crianças, pois
são também comumente apresentados como Período Pré- elas têm de abandonar uma hipótese na qual, em geral, se
Operatório. mostram muito seguras, justamente quando parece que “as
Período Operatório Concreto: dos 7 aos 11 anos, coisas” estão resolvidas atribuindo-se uma letra ou caractere
aproximadamente. Já é capaz de ordenar elementos por seu para cada silaba. Se nossa escrita fosse silábica, como a
tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então japonesa, tudo estaria resolvido, mas nossa língua exige uma
o mundo de forma lógica ou operatória. Já podem análise que vai além da silaba, considerando o fonema como
compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer unidade a ser representada.
compromissos.
d) Nível Alfabético: A escrita alfabética corresponde ao
Aquisição da base alfabética estágio em que a criança descobre como a escrita é
Baseadas em estudos relacionados à psicolinguística e representada (o que resulta na compreensão de que cada letra
também apoiadas nas pesquisas de Piaget, Ferreiro e corresponde a um valor sonoro menos do que a sílaba) e vai,
Teberosky concluíram que: as crianças procuram ativamente aos poucos, realizando uma análise sonora dos fonemas das
compreender a natureza da linguagem falada a sua volta e, na palavras que quer escrever. A criança não terá problemas de
tentativa de compreendê-la, formulam hipóteses, buscam “escrita propriamente dita”, mas os conflitos com o que a
regularidades, colocam à prova suas antecipações. O que rodeiam continuam, porque escrever alfabeticamente não
fazem em relação à fala, fazem também em relação à escrita. quer dizer escrever ortograficamente, convencionalmente
correto. As crianças passam a explicitar essas dúvidas e esse é
Apresenta-se os níveis elaborados por Ferreiro: um momento adequado para que um trabalho com a ortografia
a) Nível pré-silábico: Primeiro momento - escrever implica possa gradativamente ser iniciado.
reproduzir os traços típicos da escrita, que a criança identifica
como “forma básica da escrita”. Pode ser a letra continua; a Ambiente alfabetizador e as dificuldades de
letra cursiva ou de imprensa. As crianças costumam imitar o aprendizagem
traçado da letra cursiva ou utilizar grafismos separados entre 7576 O ambiente alfabetizador
si, compostos de linhas e curvas. Aqui, sempre o que conta O educador que tem como finalidade principal a
mais é a interação do “escritor”, pois todas as escritas são aprendizagem de seus alunos. Deve proporcionar uma sala de
bastante semelhantes: só o autor considera diferente, e, se aula que lhes permita ter acesso a diversos tipos de cultura
solicitado, lê o que “escreveu”, usando palavras diferentes. escrita, com os quais possam interagir.
Segundo momento: a ideia central das crianças passa a ser: Uma das funções estabelecidas pelos PCNs para língua
para se lerem coisas diferentes (dar significados diferentes), é portuguesa é levar o aluno a “utilizar a linguagem escrita de
preciso que existam diferenças entre as palavras escritas. Os modo atender as múltiplas demandas sociais, responder a
traçados passam a ser muito mais próximos as letras. diferentes propósitos comunicativos e expressivos e
Juntamente com essa ideia, segue a hipótese de que uma considerar as diferentes condições de produção de discurso”,
quantidade mínima de grafismos é necessária para se compor ou seja, que o aluno além de alfabetizado, faça uso da leitura e
uma palavra; um ou dois grafismos não são suficientes para ser da escrita em práticas sociais.
lidos e não podem compor uma palavra. Passa a haver um A partir dos anos 80, houve uma transformação no
controle de quantidade e da variedade de grafismos: é preciso conceito de aprendizagem da escrita e da leitura. Ao invés de
utilizar muitas letras e letras não se repetem. se preocupar “como se ensina”, o foco passou a ser “como se
aprende”.
b) Nível silábico: Esse nível caracteriza-se pela tentativa de Anteriormente as crianças ingressavam nas escolas apenas
se atribuir um valor sonoro a cada uma das letras que aos 7 anos, e tinham um contato mais direto com a cultura
compõem uma palavra: a criança passa a usar uma letra para escrita a partir desta idade. As histórias eram contadas
cada sílaba. O fato de se preocupar com essa atribuição de oralmente, não valorizando o material escrito. Hoje há uma
valores não quer dizer que ela o fará convencionalmente: uma grande diversidade de livros infantis, especialmente
letra poderá representar qualquer valor ou pode haver uma elaborados para crianças em processo de alfabetização.
atribuição diferente de valores (o B, por exemplo, poderá O contato com a língua escrita acontece desde a infância,
sempre equivaler ao som do C). os próprios pais, mesmo inconscientemente, facilitam o
Há um salto grande em relação ao período anterior, pois as processo de aprendizagem na medida em que proporcionam o
crianças passam a trabalhar com a hipótese de que a escrita contato com diversos portadores de texto.
representa partes sonoras da fala. Também é comum que, A criança urbana cresce em meio a uma sociedade letrada,
quando precisem utilizar, de apenas duas letras para escrever e está em contato com a linguagem escrita por meio de
palavras com duas sílabas, algumas crianças ainda se apoiem diferentes portadores de texto como livros, jornais,
na ideia de quantidade mínima de letras e acrescentem mais embalagens, revistas, cartazes, placas de ônibus, entre outras.
algumas nesse caso. O grande desafio do educador é alfabetizar letrando, ou
seja, proporcionar interações com a cultura escrita de forma
c) Nível silábico alfabético: Durante um período a criança que o aluno faça uso social da linguagem escrita, vista que, para
ficará convicta da hipótese anterior e escreverá silabicamente vivermos em uma sociedade letrada é necessário sermos
o que precisar. Mas acabará entrando em conflito com essa letrados. Para tanto, é indispensável, um ambiente
ideia, pois tanto a leitura dessas palavras escritas alfabetizador na sala de aula.
silabicamente quanto às formas gráficas que estão a sua volta Segundo o Referencial Curricular para Educação Infantil,
as crianças que são provenientes de famílias que a leitura e a
75 TEBEROSKY, Ana. Aprender a ler e escrever: uma proposta construtivista. 76 RAMALHO, Lisete Siqueira; SANTOS, Isabel de O. Souza dos. O papel do
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escrita são marcantes, apresentam maior facilidade para lidar exemplo: folders e impressos públicos; jornais; revistas;
com as questões da escrita, do que aquelas que não têm este rótulos de produtos domésticos, receitas, etc.; assim como:
modelo de práticas de leitura em seu lar. gibis, contos de fadas, alfabeto, calendário, parlendas, rimas,
De acordo com Ana Teberosky, um ambiente alfabetizador textos instrucionais, etc.
“é aquele em que há uma cultura letrada, com livros, textos - O aprendiz desenvolverá interesse pela leitura e escrita
digitais ou em papel - um mundo de escritos que circulam através da percepção de sua importância. Os materiais
socialmente. A comunidade que usa a todo o momento esses precisam fazer sentido para o seu mundo e trabalhar,
escritos, que faz circular ideias que eles contêm, é chamada simultaneamente, diversos aspectos, desde a leitura e escrita
alfabetizadora”. Permitindo desta maneira, a inserção da até a sistematização e reflexão dos conceitos abordados. Estes
língua escrita no cotidiano do alfabetizando, seja por meio de estímulos tornarão o aprendizado não mecânico, permitindo
revistas, jornais, gibis, livros, cartazes, das palavras na lousa, que ao processo que o educando aprenda consiga encontrar
ou de situações cotidianas, como outdoors, letreiro de ônibus significado no texto escrito.
ou metrô, caixas eletrônicos etc. As crianças que vivem em regiões urbanas possuem maior
O ambiente alfabetizador, portanto, deve ser organizado acesso à leitura e escrita; graças às informações disponíveis
de forma que se constitua uma ferramenta de aprendizagem, e em seu dia-a-dia. Ao serem expostas à um mundo letrado, estas
que inclua diversos gêneros textuais, os quais devem estar crianças passam a fazer a leitura de signos mesmo que ainda
acessíveis aos alunos e permitir uma interação com os não saibam ler convencionalmente, são capazes de reconhecer
mesmos. a marca do refrigerante predileto, assim como a marca do
Tal ambiente não valoriza apenas a aparência, o material produtos consumidos em casa, etc.
escrito deve estar relacionado com as atividades Segundo Ana Teberosky, os professores como guiadores
desenvolvidas, de acordo com as necessidades dos alunos, o deste processo possuem a responsabilidade de criar um
que possibilita as crianças construírem seu próprio ambiente alfabetizador rico em materiais apropriados,
conhecimento, e, neste processo dinâmico de aprendizagem, o levando em conta o conhecimento prévio dos alunos,
professor é o mediador. garantindo um trabalho contínuo e gradativo para o processo
O construtivismo defende, basicamente, a ideia de que não de aprendizagem.
há como integrar uma criança à leitura e escrita separando o A localização dos materiais escritos determina o nível de
ambiente material do ambiente social; já que as crianças interesse que as crianças terão em manuseá-los. Por esta
precisam criar hipóteses e comprová-las para que haja o razão, os materiais escritos, sejam os das prateleiras da
aprendizado. Cada indivíduo aprende a seu tempo levando em biblioteca ou os disponíveis em sala de aula, devem estar
conta sua leitura de mundo, por este motivo, um determinado sempre ao alcance das crianças e nunca sobre quadros negros
material é visto de maneira diferente por duas crianças, e até e armários.
pela mesma em um processo distinto de aprendizado. É imprescindível que o professor escolha os materiais de
O ato de ler e escrever não são inatos ao ser humano e forma criteriosa, visando garantir qualidade e atratividade,
depende de um período de aprendizagem, passando da facilitando a compreensão das crianças. Este processo é
alfabetização para a escrita e da escrita para a capacidade de possível através de materiais de linguagem simples, com
leitura. clareza de ilustrações e sentidos, características de
As famílias enviam as crianças à escola para aprenderem a previsibilidade do texto, níveis de repetições e etc.
ler, para que possam aprender lendo. Essa expectativa dos pais A troca do material em um ambiente alfabetizador é o
deve ser assumida pela escola através das intervenções termômetro que mostrará o desenvolvimento do trabalho.
docentes e das práticas curriculares. É necessário o Logo, os materiais que permanecem sem troca, ao longo do
impedimento da fragmentação da língua, afastando o método curso, provam que não foram usados como ferramentas de
tradicional da escola, que insiste em separar os materiais reais ensino, mas simplesmente como objetos decorativos. Já, os
da sala de aula, ignorando a evolução e necessidade da materiais que são trocados periodicamente provam seu valor
sociedade contemporânea. A criança em posse destes funcional e sua riqueza como recurso educativo.
materiais não recebe apenas estímulos escolares, mas também A escola encarregou-se de sistematizar e organizar a
sociais, assim conseguindo relacionar os materiais que já estão alfabetização, criando mecanismos para ensinar a ler e
disponíveis em casa com os disponíveis dentro da escola ela escrever, porém, transmutou o ensino da escrita tirando a
consegue aprender de maneira mais fácil, pois consegue característica social transformando-a em objeto escolar
enxergar o sentido da leitura. apenas, esquecendo que aprender a ler e a escrever é
Antes de entrar na escola as crianças já interagem com importante na escola por ser importante para o mundo, mas
múltiplas formas de textos, mas é no início da alfabetização não o contrário.
que elas passam a interagir de maneira mais sistematizada, O ensino não acompanhou o progresso e continua
tornando-se capazes de conhecer estruturas diversas, engessando os indivíduos que nela permanecem sendo
linguagens específicas, regras; exemplo: por que escreve, para obrigados, desde a primeira série a repetir de forma mecânica
que, para quem, quando acontece o fato, onde, como se um universo de exercícios que só os distanciam dos usos
escreve. O texto escrito se apresenta como objeto cultural significativos da linguagem escrita e, até mesmo, da linguagem
dentro ou fora da escola e, por esta razão, precisa ser objetivo oral. Isso contribui para que o indivíduo tenha apenas a ilusão
e apresentar singularidade. de alfabetização, pois uma vez que ele não consegue enxergar
Ler não implica apenas em que o leitor apreenda o essas atividades fora da escola, passa a acreditar que tudo o
significado, e sim, que consiga trazer para o texto lido a visão e que se espera dele é que ele cumpra os exercícios e desenvolva
experiência que possui, implica na interação direta entre leitor os métodos, e que ignore a apropriação que poderia fazer do
e texto, permitindo elementos para a construção de novos uso da linguagem.
textos. As atividades escolares são padronizadas e controladas
O aluno não lê para aprender a ler, lê para atingir objetivos, pelo método e pelo currículo escolar. Os professores também
para viver e interagir com os outros, estimular o lúdico, possuem grande culpa neste processo, pois, muitos não param
ampliar os esquemas cognitivos através de pesquisas e para tentar conhecer as diferentes hipóteses que passam pela
projetos criados. mente das crianças, fazem apenas engessar estas ideias e calar
Quando se tem o objetivo de estimular a criança a as vontades. Não se dão conta, em momento algum, que estas
descrever, falar sobre, e entender diversos tipos de leitura e crianças perderão o poder de criar, tornando-se escravos das
escrita, é indispensável o uso de materiais de seu cotidiano; práticas tradicionais, não sendo a eles permitido se
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aventurarem por caminhos mais autênticos e criativos, não Quais as principais manifestações dos problemas de
poderão desenhar seu cachorro cor de rosa, nem sua casa aprendizagem?
voadora, pois tudo tem que ser aprovado e sacramentado pela Comprometimento na interpretação de texto, disgrafia
escola. (deficiência na habilidade de escrever, em termos de caligrafia
Hoje as crianças, precisam ainda mais que as escolas criem e também de coerência), dislexia, discalculia (dificuldade no
um ambiente alfabetizador, pois vivendo em uma grande aprendizado dos números), dispersão em sala de aula e nos
metrópole é indispensável que esses alunos, momentos de realizar atividades e avaliações escolares.
independentemente de sua classe social, consigam se fazer Modalidades de aprendizagem que não favorecem a
valer da escrita e da leitura, pois é lendo que se aprende e assimilação e a acomodação dos conhecimentos de modo
escrevendo que se guarda as informações para lembrar nos satisfatório, entre outros sinais, podem ser manifestações de
dias seguintes. problemas de aprendizagem. Entretanto, é preciso diferenciar
Ana Teberosky reforça a riqueza dos textos problemas de aprendizagem de dificuldades de aprendizagem.
extracurriculares e a importância do “ambiente alfabetizador” Qualquer estudante pode atravessar, em algum momento da
rico em diversos materiais, sem restrições. Assim as crianças vida escolar, alguma dificuldade no aprender. Pode demorar
podem interagir com o seu mundo dentro e fora da escola, a um pouquinho mais para assimilar um conteúdo, para dar
leitura é um objeto do mundo e no mundo. Já, uma vez que a sentido ao que lhe é ensinado, por uma ou outra razão, sem,
escola não apresenta a diversidade de textos que o mundo contudo, configurar um sintoma ou fracasso do professor.
letrado oferece, mais deixa a errônea impressão de que os Um problema de aprendizagem pode ser considerado
textos e a leitura se tratam de uma tarefa apenas escolar, como tal quando descartadas causas socioeducativas. Ou seja,
tornando a aprendizagem fria e sem sentido. Quanto maior quando os sinais persistem, apesar das intervenções
familiaridade a criança tiver com os textos, maior será a sua educacionais. Nessas situações, muitas vezes, como foi
capacidade a adaptar-se a ele, identificando e criando assinalado anteriormente, há necessidade de investigação e
hipóteses. leitura especializada. Ressalto, entretanto, a importância de
É necessário que os educadores percebam que as crianças cautela por parte dos educadores ao “diagnosticar”. É preciso
não aprendem a ler e escrever apenas porque veem os outros cuidado com a tendência de atribuir a causas organicistas os
lendo e escrevendo. Elas só obterão este interesse uma vez que problemas e dificuldades de aprendizagem apresentados
sentirem-se estimuladas, criando experiências, tateando o pelos alunos. Considero muito válido o trabalho coletivo da
objeto de estudo, traçando possibilidades com os objetos que escola. O estudo de situações, a ajuda e o apoio de outros
o meio lhe oferece. Mas também existe a necessidade de profissionais - orientadores educacionais, coordenadores
adultos-condutores que sejam capazes de estimular suas pedagógicos, psicólogos, psicopedagogos - são sempre muito
curiosidades e ajuda-los a conduzirem este processo de forma positivos. Surgem novos olhares, tanto em relação à leitura dos
sistematizada. problemas quanto às possibilidades interventivas.
Uma sala de aula não se caracterizará um ambiente
alfabetizador por conta dos materiais que o compõe, mas sim, É possível que alunos que enfrentam problemas familiares
pelas ações voltadas para a leitura e escrita. O professor que se apresentem dificuldades para aprender?
mostra leitor, lendo e escrevendo aos seus alunos, fará com Não necessariamente. Muitos de nós conhecemos crianças
que seus alunos entendam a importância e complexidade e adolescentes filhos de lares muito complicados e
destes atos e sintam-se cada vez mais estimulados e desafiados problemáticos que aprendem bem e são alunos de destaque.
a descobrirem as funções sociais e culturais da linguagem. E Conflitos familiares vão gerar problemas de aprendizagem
para este fim, para ajudar no desempenho desta atividade que quando a inteligência - aqui entendida como a capacidade de
enfatizamos a utilização dos contos de fadas nas salas de aula. elaborar situações por meio da lógica, do pensamento, da
cognição -, encontra-se aprisionada pela dimensão afetiva. Nas
77Dificuldade de aprendizagem requer avaliação obras 'A inteligência aprisionada' e 'Os idiomas do
especializada aprendente', de Alicia Fernández, a autora explicita muito bem
O que são problemas de aprendizagem são sinais essas situações. Entretanto, normalmente, em famílias muito
indicativos de que algo não vai bem no aprender ou no ensinar. conflituosas, crianças e adolescentes podem sofrer de
São comportamentos, atitudes, modalidades de lidar com os depressão, apresentar transtornos variados, mostrar-se
objetos de conhecimento e de se posicionar nas situações de agressivos, hiperativos, ansiosos, desatentos, agitados e,
aprendizagem que não favorecem a alegria de aprender, a assim, apresentar conflitos na escola. Isso, porém, não significa
autoria de pensamento, o sucesso acadêmico. Os problemas de que tenham algum problema ou dificuldade de aprendizagem,
aprendizagem podem ser classificados em sintoma, inibição mesmo que os sintomas apresentados perturbem seu
cognitiva e reativos. Nos dois primeiros casos, as origens e desempenho e rendimento escolar.
causas encontram-se ligadas à estrutura individual e familiar
do indivíduo que “fracassa” em aprender. No último, Como saber se um aluno apresenta, por exemplo, déficit de
relacionam-se ao contexto socioeducativo. Ou seja, a questões atenção ou apenas passa por um momento difícil? Parece que
didáticas, metodológicas, avaliativas, relacionais. É importante tem crescido a prescrição de medicamentos a estudantes que
salientar que nos problemas de aprendizagem reativos o não conseguem ficar quietos na sala de aula. Isso está
fracasso escolar pode demandar redimensionamento que ocorrendo?
englobe desde órgãos superiores responsáveis pela educação
no país até as salas de aula. Já nos problemas em que os fatores É preciso ter cuidado com concepções calcadas
desencadeantes são externos ao contexto escolar, geralmente estritamente em determinismos genéticos ou ambientais. Um
há necessidade de uma avaliação especializada para buscar problema orgânico por si só, assim como o contexto ambiental
intervenções adequadas. por si mesmo, não responde isoladamente às causas dos
problemas de aprendizagem. Um aluno ou aluna com
comprometimentos orgânicos, em alguns casos, pode
apresentar alguma limitação. No entanto, ainda assim, pode
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suas necessidades e potencialidades. Minha experiência tem aprendizagem começou a ser usado na década de 60 e até hoje
mostrado que crianças e adolescentes diagnosticados com na maioria das vezes é confundido por pais e professores como
déficit de atenção são pessoas que têm sofrido sérios conflitos uma simples desatenção em sala de aula ou crianças
subjetivos e familiares. Conflitos sintomatizados em desobedientes. Mas a dificuldade de aprendizagem refere-se a
desatenção. Entendendo os sintomas (no caso, a desatenção) um distúrbio que pode ser gerado por uma série de problemas
como um modo de dizer algo, falar de algo, uma linguagem que cognitivos, emocionais ou neurológicos, que podem afetar
o sujeito usa para comunicar alguma coisa, um pedido de qualquer área do desempenho escolar.
socorro, é fundamental que os profissionais da educação e da De acordo com Brandão e Vieira, o termo aprendizagem e
saúde se perguntem sobre eles. Quais as possíveis causas que suas implicações (dificuldades e distúrbios) tratam de uma
levariam uma criança a se dispersar constantemente? Em que defasagem entre o desempenho real e o observável de uma
momentos e situações esse sintoma ocorre com maior criança e o que é esperado dela quando é comparada com a
frequência e intensidade? O que é atenção? O que é atender? média das crianças de uma mesma faixa etária, tanto no
Ser atendido? Quais as concepções teóricas ao levantar aspecto cognitivo como em uma visão psicrométrica.
hipóteses acerca do diagnóstico de TDAH (transtorno do Já, Kiguel, afirma que dificuldades de aprendizagem seriam
déficit de atenção com hiperatividade)? incapacidades funcionais ou dificuldades encontradas na
Sobre a prescrição de medicamentos, é alarmante o aprendizagem de uma ou de várias matérias escolares.
crescimento do número de crianças, adolescentes e adultos “As dificuldades de aprendizagem específicas dizem respeito
que os usam. E uma das grandes preocupações que tenho é à forma como um indivíduo processa a informação - a recebe, a
com o fato de, na maioria das vezes, não serem buscadas as integra, a retém e a exprime -, tendo em conta as suas
verdadeiras causas que geraram e mantêm os sintomas. De capacidades e o conjunto das suas realizações. As dificuldades
muitas vezes não ser incluída nos diagnósticos e nas de aprendizagem específicas podem, assim, manifestar-se nas
intervenções a visão analítica e sistêmica das situações. Enfim, áreas da fala, da leitura, da escrita, da matemática e/ou da
de não se abrir espaços de pensamento acerca dos motivos resolução de problemas, envolvendo défices que implicam
pelos quais uma criança, por exemplo, está desatenta, problemas de memória, preceptivos, motores, de linguagem, de
dispersa. “No mundo da lua”, como costumam falar muitos pensamento e/ou metacognitivos. Estas dificuldades, que não
professores e pais. resultam de privações sensoriais, deficiência mental, problemas
motores, défice de atenção, perturbações emocionais ou sociais,
As escolas estão preparadas para ajudar os estudantes que embora exista a possibilidade de estes ocorrerem em
apresentam dificuldades de aprendizagem e, assim, evitar o concomitância com elas, podem, ainda, alterar o modo como o
fracasso escolar? O que pode ser feito? indivíduo interage com o meio envolvente.”79
Dificuldade de aprendizagem específica significa uma
No Distrito Federal, por exemplo, cursos variados estão perturbação num ou mais dos processos psicológicos básicos
disponíveis na rede pública de ensino. São também envolvidos na compreensão ou na utilização da linguagem
programados momentos semanais de formação continuada falada ou escrita que pode manifestar-se por uma aptidão
nas escolas em que os professores atuam. Eles lecionam em um imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar, ou fazer
turno e no outro realizam diferentes atividades. Entre elas, as cálculos matemáticos. O tema inclui como problemas
mencionadas. Exemplo que deveria ser seguido por todas as perspectivos, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima,
unidades da Federação. Entretanto, na formação continuada dislexia e afasia de desenvolvimento. O termo não engloba
deveriam ser incluídos espaços objetivos e subjetivos que crianças que tem problemas de aprendizagem resultante de
permitam trabalhar questões psicopedagógicas essenciais deficiências, visuais, auditivas, ou motoras, de deficiência
para a qualificação do fazer pedagógico. O caráter subjetivo da mental, de perturbação emocional, ou de desenvolvimento
aprendizagem, muitas vezes esquecido, é tão importante ambientais, culturais ou econômicos.
quanto a didática, os métodos, as técnicas. Frente a estas colocações nasce a necessidade de
considerar, conforme Gusmão, que dificuldade de
Os professores da educação básica têm condições de aprendizagem representa uma falha no processo da
diagnosticar problemas de aprendizagem? aprendizagem que originou o não aproveitamento escolar.
Pensando não somente em termos de falhas na aquisição do
Professores atentos, sensíveis, amorosos, estudiosos, conhecimento (aprendizagem), mas também no ato de
éticos, que amam ensinar e aprender têm condições de ensinar, este problema não se traduz somente como um
perceber comportamentos e sinais indicativos de problemas problema inerente ao sujeito aprendiz no sentido de
de aprendizagem. Muitas vezes, é na escola que a criança competências e potencialidades, mas sim em uma constelação
apresenta algum sintoma alusivo a conflitos de naturezas maior de fatores e de sua inter-relação, que envolvem direta
diversas. Em se tratando de problemas de aprendizagem ou indiretamente esta complexa teia
reativos, ou seja, em que as causas são de ordem Ressalta-se, no entanto, que o desenvolvimento de uma
socioeducativa - falhas ou inadequações no modo de ensinar e criança começa no interior da família, por este motivo os pais
intervir -, docentes e demais profissionais da educação e da têm como missão criar um ambiente saudável de confiança,
saúde que atuam nas escolas deveriam ser formados para pois é na família que deveria se perceber as primeiras
identificá-los e resolvê-los. No entanto, quando há hipóteses dificuldades de uma criança, é nela que a criança forma o mapa
de causas individuais e familiares, o diagnóstico carece de cognitivo.
olhares clínicos. Contudo, os professores são Desde os primeiros momentos de vida a criança encontra-
importantíssimos no processo interventivo, se dependente dos outros para sobreviver. Para que conquiste
independentemente do problema. Seu olhar, sua postura, sua sua independência é preciso um processo de desenvolvimento
afetividade fazem toda a diferença. evolutivo para buscar uma personalidade madura e
harmoniosa com a combinação de fatores constitucionais,
78 AMARAL, S.A.T. Dificuldades de Aprendizagem: uma realidade no contexto Porto Editora. In <http://www.ciec-
escolar. uminho.org/documentos/ebooks/2307/pdfs/8%20Inf%C3%A2ncia%20e%20Inc
79 CORREIA, L. M. (2008). Dificuldades de Aprendizagem Específicas - lus%C3%A3o/Dislexia.pdf>. Acesso em julho de 2017.
Contributos para uma definição portuguesa. Coleção Impacto Educacional. Porto:
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desenvolvimento psicomotor, intelectual e afetivo social, com A criança que apresenta dificuldade na aprendizagem em
a integração destes elementos a criança vai traçando seu perfil sua maioria apresenta sintomas diversos como à tristeza, a
e sua identidade se completando com um modelo de conduto. timidez e a perda de iniciativa, agressividade, a ansiedade, tem
No momento em que a criança começa a frequentar a dificuldade em se relacionar com os colegas e muitas vezes o
escola, seus colegas e professores fazem parte de sua família; professor não percebe que aquela criança tem uma dificuldade
e esta fase da vida da criança que se pode perceber melhor se de aprendizagem e acaba por titulá-la como aluno problema.
ela tem algum tipo de dificuldade de aprendizagem. É neste Atualmente, vive-se um momento em que as necessidades
período que ela começa a ter novos desafios o que na maioria dos alunos com dificuldade de aprendizagem está cada dia
das vezes ela não tinha enquanto estava somente no convívio mais presente no dia a dia. Chega-se no momento que a escola
com a família. não pode ser apenas transmissora de conteúdos e
conhecimentos, muito mais que isso, a escola tem a tarefa
80Conceitos de dificuldades, distúrbios e transtornos de primordial de “reconstruir” o papel e a figura do aluno,
aprendizagem deixando o mesmo de ser apenas um receptor,
Dificuldades de aprendizagem: Está relacionado ao proporcionando ao aluno que seja o criador e protagonista do
ambiente físico e social da escola. Podem ser causados por seu conhecimento.
problemas passageiros, como falta de condições adequadas Levar o aluno a pensar e buscar informações para o seu
para o sucesso da criança, falta de materiais pedagógicos, desenvolvimento educacional, cultural e pessoal é uma das
mesa, cadeira, giz e etc. tarefas primordiais e básicas da educação. Para tanto é
primordial que se leve em consideração as dificuldades de
Distúrbio de aprendizagem: Está relacionado a um grupo aprendizagem, não como fracassos, mas como desafios e
de dificuldades específicas e pontuais, caracterizadas pela serem enfrentados, e ao se trabalhar essas dificuldades,
presença de uma disfunção neurológica, algum problema de trabalha-se respectivamente a dificuldades existentes na vida,
saúde que a criança apresente. dando- lhes a oportunidade de ser independente e de
reconstruir-se enquanto ser humano e indivíduo.
Transtorno: Conjunto e sinais que provocam uma série de Segundo Freire, o espaço pedagógico é um texto para ser
perturbações no aprender da criança, interferindo no processo constantemente “lido”, interpretado, “escrito” e “reescrito”.
de aquisição e manutenção de informações, como bullying, Essa leitura do espaço pedagógico pressupõe também uma
separação dos pais, abuso infantil, entre outros. releitura da questão das dificuldades de aprendizagem.
Infelizmente, a aprendizagem, em algumas instituições
81Alguns dos principais distúrbios de aprendizagem continua seguindo o modelo tradicionalista, onde é imposta e
- Dislexia: é a dificuldade que aparece na leitura, impedindo não mediada, criando uma passividade entre aquele que sabe
o aluno de ser fluente, pois faz trocas ou omissões de letras, e impõe e aquele que obedece calado.
inverte sílabas, apresenta leitura lenta, dá pulos de linhas ao É necessário levar em conta também os efeitos emocionais
ler um texto, etc. Estudiosos afirmam que sua causa vem de que essas dificuldades acarretam; se faz necessário para a
fatores genéticos, mas nada foi comprovado pela medicina. criança criar um suporte humano e apoiador para que a
- Disgrafia: normalmente vem associada à dislexia, porque mesma possa se libertar do que a faz ter dificuldade.
se o aluno faz trocas e inversões de letras consequentemente É importantíssimo ressaltar toda contribuição da
encontra dificuldade na escrita. Além disso, está associada a Psicopedagogia, promovendo uma análise mais aprofundada
letras mal traçadas e ilegíveis, letras muito próximas e da questão que envolve a aprendizagem proporcionando uma
desorganização ao produzir um texto. reestruturação e reinterpretação do verdadeiro fator que leva
- Discalculia: é a dificuldade para cálculos e números. De às dificuldades de aprendizagem, reconhecendo-se que essas
um modo geral os portadores não identificam os sinais das dificuldades fazem parte de um sistema biopsicossocial que
quatro operações e não sabem usá-los, não entendem envolve a criança, a família, a escola e o meio social em que
enunciados de problemas, não conseguem quantificar ou fazer vive.
comparações, não entendem sequências. É louvável dizer que só será possível mediar às
- Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala. Apresenta dificuldades de aprendizagem, quando se lidar com alunos de
pronúncia inadequada das palavras, com trocas de fonemas e igual para igual; quando se fizer da aprendizagem um processo
sons errados, tornando-as confusas. Manifesta-se mais em significativo, no qual o conhecimento a ser aprendido e
pessoas com problemas no palato, flacidez na língua ou lábio apreendido faça algum sentido para o aluno não somente na
leporino. sua existência educacional como também na sua vida
- Disortografia: é a dificuldade na linguagem escrita e cotidiana.
também pode aparecer como consequência da dislexia. Suas Enfim, não se devem tratar as dificuldades de
principais características são: troca de grafemas, aprendizagem como se fossem problemas insolúveis, mas,
desmotivação para escrever, aglutinação ou separação antes disso, como desafios que fazem parte do próprio
indevida das palavras, falta de percepção e compreensão dos processo da aprendizagem, a qual pode ser normal ou não-
sinais de pontuação e acentuação. normal. Também parece ser consensual a necessidade
- TDAH: O Transtorno de Déficit de Atenção e imperiosa de se identificar e prevenir o mais precocemente
Hiperatividade é um problema de ordem neurológica, que traz possível as dificuldades de aprendizagem, de preferência
consigo sinais evidentes de inquietude, desatenção, falta de ainda na pré-escola.
concentração e impulsividade. Hoje em dia é muito comum
vermos crianças e adolescentes sendo rotulados como DDA Alfabetização nos diferentes momentos históricos
(Distúrbio de Déficit de Atenção), porque apresentam alguma 82A fim de contribuir para o debate a respeito do tema,
agitação, nervosismo e inquietação, fatores que podem advir apresento neste texto uma síntese de alguns dos resultados de
de causas emocionais. É importante que esse diagnóstico seja pesquisas que venho desenvolvendo, há mais de duas décadas,
feito por um médico e outros profissionais capacitados. a respeito da história do ensino de língua e literatura no Brasil
e, em particular, a respeito do ensino da leitura e escrita na fase
80 HENNEMANN, Ana Lúcia. Sobre transtornos, dificuldades, distúrbios e 82 Texto adaptado de MORTATTI, M. R. L. História dos Métodos de
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inicial de escolarização de crianças, ou alfabetização, como Desse ponto de vista, os processos de ensinar e de
esse processo passou a ser denominado, entre nós, a partir do aprender a leitura e a escrita na fase inicial de escolarização de
início do século XX. crianças se apresentam como um momento de passagem para
Em nosso país, a história da alfabetização tem sua face um mundo novo - para o Estado e para o cidadão -: o mundo
mais visível na história dos métodos de alfabetização, em público da cultura letrada, que instaura novas formas de
torno dos quais, especialmente desde o final do século XIX, relação dos sujeitos entre si, com a natureza, com a história e
vêm-se gerando tensas disputas relacionadas com "antigas" e com o próprio Estado; um mundo novo que instaura, enfim,
"novas" explicações para um mesmo problema: a dificuldade novos modos e conteúdos de pensar, sentir, querer e agir.
de nossas crianças em aprender a ler e a escrever, No entanto, especialmente desde as últimas duas décadas,
especialmente na escola pública. as evidências que sustentam originariamente essa associação
Visando a enfrentar esse problema e auxiliar "os novos" a entre escola e alfabetização vêm sendo questionadas, em
adentrarem no mundo público da cultura letrada, essas decorrência das dificuldades de se concretizarem as
disputas em torno dos métodos de alfabetização vêm promessas e os efeitos pretendidos com a ação da escola sobre
engendrando uma multiplicidade de tematizações, o cidadão. Explicada como problema decorrente, ora do
normatizações e concretizações, caracterizando-se como um método de ensino, ora do aluno, ora do professor, ora do
importante aspecto dentre os muitos outros envolvidos no sistema escolar, ora das condições sociais, ora de políticas
complexo movimento histórico de constituição da públicas, a recorrência dessas dificuldades de a escola dar
alfabetização como prática escolar e como objeto de conta de sua tarefa histórica fundamental não é, porém,
estudo/pesquisa. exclusiva de nossa época.
Dada tal complexidade e considerando tanto os objetivos Decorridos mais de cem anos desde a implantação, em
deste evento quanto as urgências específicas deste momento nosso país, do modelo republicano de escola, podemos
histórico, optei por fazer delimitações no tema proposto para observar que, desde essa época, o que hoje denominamos
esta conferência, enfatizando, na história dos métodos de “fracasso escolar na alfabetização” se vem impondo como
alfabetização: a disputa pela hegemonia de determinados problema estratégico a demandar soluções urgentes e vem
métodos na situação paulista, devido ao caráter modelar que mobilizando administradores públicos, legisladores do ensino,
se buscou imprimir às iniciativas educacionais desse estado, a intelectuais de diferentes áreas de conhecimento, educadores
partir dos anos de 1890; e o período compreendido entre as e professores.
décadas finais do século XIX e os dias atuais, uma vez que, a Desde essa época, observam-se repetidos esforços de
partir da proclamação da República, iniciou-se processo mudança, a partir da necessidade de superação daquilo que,
sistemático de escolarização das práticas de leitura e escrita. em cada momento histórico, considerava-se tradicional nesse
Apesar de todos os riscos envolvidos na opção por abordar ensino e fator responsável pelo seu fracasso. Por quase um
um longo período histórico em tão breve exposição e por século, esses esforços se concentraram, sistemática e
abordar também um momento histórico ainda presente, oficialmente, na questão dos métodos de ensino da leitura e
mesmo ciente desses riscos, espero, com esta conferência, escrita, e muitas foram as disputas entre os que se
contribuir para a compreensão de importantes aspectos do consideravam portadores de um novo e revolucionário
passado e do presente da alfabetização em nosso país, e, em método de alfabetização e aqueles que continuavam a
decorrência, contribuir, também, para a elaboração de defender os métodos considerados antigos e tradicionais. A
projetos para o futuro, que possam auxiliar nossas crianças a partir das duas últimas décadas, a questão dos métodos
realizarem plenamente seu direito de aprender a ler e passou a ser considerada tradicional, e os antigos e
escrever. Outro não é, certamente, o objetivo maior e o "fim persistentes problemas da alfabetização vêm sendo pensados
último" deste evento e de todos os que dele participam. e praticados predominantemente, no âmbito das políticas
públicas, a partir de outros pontos de vista, em especial a
Escola e alfabetização compreensão do processo de aprendizagem da criança
Em nosso país, desde o final do século XIX, especialmente alfabetizanda, de acordo com a psicogênese da língua escrita.
com a proclamação da República, a educação ganhou destaque O que é esse “tradicional”? Quando e por quê se engendra
como uma das utopias da modernidade. A escola, por sua vez, um tipo de ensino de leitura e escrita que hoje é acusado de
consolidou-se como lugar necessariamente institucionalizado "tradicional"? O que representava para a(s) época(s) em que
para o preparo das novas gerações, com vistas a atender aos ocorre seu engendramento? Qual sua relação com a tradição
ideais do Estado republicano, pautado pela necessidade de que lhe é anterior? Quanto desse “tradicional” subsiste nas
instauração de uma nova ordem política e social; e a práticas alfabetizadoras, mesmo nas dos professores que
universalização da escola assumiu importante papel como querem superá-las? Como se pode explicar sua insistente
instrumento de modernização e progresso do Estado-Nação, permanência? Como dialogam entre si a tradição e os
como principal propulsora do “esclarecimento das massas repetidos esforços de mudança em alfabetização?
iletradas”.
No âmbito desses ideais republicanos, saber ler e escrever A questão dos métodos de alfabetização
se tornou instrumento privilegiado de aquisição de A fim de contribuir para a compreensão desse processo e
saber/esclarecimento e imperativo da modernização e para a busca de respostas às questões formuladas acima,
desenvolvimento social. A leitura e a escrita - que até então tomemos como exemplo a situação paulista. Analisando, com
eram práticas culturais cuja aprendizagem se encontrava base em fontes documentais, o ocorrido nessa
restrita a poucos e ocorria por meio de transmissão província/estado em relação à questão dos métodos de ensino
assistemática de seus rudimentos no âmbito privado do lar, ou inicial da leitura e escrita, desde as décadas finais do século
de maneira menos informal, mas ainda precária, nas poucas XIX, optei por dividir esse período em quatro momentos
“escolas” do Império (“aulas régias”) - tornaram-se cruciais, cada um deles caracterizado pela disputa em torno de
fundamentos da escola obrigatória, leiga e gratuita e objeto de certas tematizações, normatizações e concretizações
ensino e aprendizagem escolarizados. Caracterizando-se como relacionadas com o ensino da leitura e escrita e consideradas
tecnicamente ensináveis, as práticas de leitura e escrita novas e melhores, em relação ao que, em cada momento, era
passaram, assim, a ser submetidas a ensino organizado, considerado antigo e tradicional nesse ensino. Em decorrência
sistemático e intencional, demandando, para isso, a dessas disputas, tem-se, cada um desses momentos, a
preparação de profissionais especializados. fundação de uma nova tradição relativa ao ensino inicial da
leitura e escrita.
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Apresento a seguir cada um desses quatro momentos método, ou seja, enfatiza-se o como ensinar metodicamente,
cruciais com as respectivas disputas pela hegemonia de relacionado com o que ensinar; o ensino da leitura e escrita é
determinados métodos de alfabetização e, dentre outros tratado, então, como uma questão de ordem didática
múltiplos aspectos neles observáveis, menciono o papel subordinada às questões de ordem linguística (da época).
desempenhado pelas cartilhas, que, dada sua condição de
instrumento privilegiado de concretização dos métodos e 2º momento - A institucionalização do método analítico
conteúdos de ensino, permanecem no tempo e permitem A partir de 1890, implementou-se a reforma da instrução
recuperar aspectos importantes dessa história, contribuindo pública no estado de São Paulo. Pretendendo servir de modelo
significativamente para a criação de uma cultura escolar e para para os demais estados, essa reforma se iniciou com a
a transmissão da(s) tradição(ões). reorganização da Escola Normal de São Paulo e a criação da
Escola-Modelo Anexa; em 1896, foi criado o Jardim da Infância
1º momento - A metodização do ensino da leitura nessa escola. Do ponto de vista didático, a base da reforma
Até o final do Império brasileiro, o ensino carecia de estava nos novos métodos de ensino, em especial no então
organização, e as poucas escolas existentes eram, na verdade, novo e revolucionário método analítico para o ensino da
salas adaptadas, que abrigavam alunos de todas as “séries” e leitura, utilizado na Escola-Modelo Anexa (à Normal), onde os
funcionavam em prédios pouco apropriados para esse fim; normalistas desenvolviam atividades "práticas" e onde os
eram as “aulas régias”, já mencionadas. Em decorrência das professores dos grupos escolares (criados em 1893) da capital
precárias condições de funcionamento, nesse tipo de escola o e do interior do estado deveriam buscar seu modelo de ensino.
ensino dependia muito mais do empenho de professor e A partir dessa primeira década republicana, professores
alunos para subsistir. E o material de que se dispunha para o formados por essa escola normal passaram a defender
ensino da leitura era também precário, embora, na segunda programaticamente o método analítico para o ensino da
metade do século XIX, houvesse aqui algum material impresso leitura e disseminaram-no para outros estados brasileiros, por
sob a forma de livros para fins de ensino de leitura, editados meio de “missões de professores” paulistas. Especialmente
ou produzidos na Europa. Habitualmente, porém, iniciava-se o mediante a ocupação de cargos na administração da instrução
ensino da leitura com as chamadas “cartas de ABC" e depois se pública paulista e a produção de instruções normativas, de
liam e se copiavam documentos manuscritos. cartilhas e de artigos em jornais e em revistas pedagógicas,
Para o ensino da leitura, utilizavam-se, nessa época, esses professores contribuíram para a institucionalização do
métodos de marcha sintética (da "parte" para o "todo"): da método analítico, tornando obrigatória sua utilização nas
soletração (alfabético), partindo do nome das letras; fônico escolas públicas paulistas. Embora a maioria dos professores
(partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação das escolas primárias reclamasse da lentidão de resultados
(emissão de sons), partindo das sílabas. Dever-se-ia, assim, desse método, a obrigatoriedade de sua utilização no estado de
iniciar o ensino da leitura com a apresentação das letras e seus São Paulo perdurou até se fazerem sentir os efeitos da
nomes (método da soletração/alfabético), ou de seus sons “autonomia didática” proposta na "Reforma Sampaio Dória"
(método fônico), ou das famílias silábicas (método da (Lei 1750, de 1920).
silabação), sempre de acordo com certa ordem crescente de Diferentemente dos métodos de marcha sintética até então
dificuldade. Posteriormente, reunidas as letras ou os sons em utilizados, o método analítico, sob forte influência da
sílabas, ou conhecidas as famílias silábicas, ensinava-se a ler pedagogia norte-americana, baseava-se em princípios
palavras formadas com essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, didáticos derivados de uma nova concepção - de caráter
por fim, ensinavam-se frases isoladas ou agrupadas. Quanto à biopsicofisiológico - da criança, cuja forma de apreensão do
escrita, esta se restringia à caligrafia e ortografia, e seu ensino, mundo era entendida como sincrética. A despeito das disputas
à cópia, ditados e formação de frases, enfatizando-se o sobre as diferentes formas de processuação do método
desenho correto das letras. analítico, o ponto em comum entre seus defensores consistia
As primeiras cartilhas brasileiras, produzidas no final do na necessidade de se adaptar o ensino da leitura a essa nova
século XIX sobretudo por professores fluminenses e paulistas concepção de criança.
a partir de sua experiência didática, baseavam-se nos métodos De acordo com esse método analítico, o ensino da leitura
de marcha sintética (de soletração, fônico e de silabação) e deveria ser iniciado pelo “todo”, para depois se proceder à
circularam em várias províncias/estados do país e por muitas análise de suas partes constitutivas. No entanto, diferentes se
décadas. foram tornando os modos de processuação do método,
Em 1876, data que elegi como marco inicial do primeiro dependendo do que seus defensores consideravam o “todo”: a
momento crucial nessa história, foi publicada em Portugal a palavra, ou a sentença, ou a "historieta". O processo baseado
Cartilha Maternal ou Arte da Leitura, escrita pelo poeta na "historieta" foi institucionalizado em São Paulo, mediante a
português João de Deus. A partir do início da década de 1880, publicação do documento Instruções praticas para o ensino da
o “método João de Deus” contido nessa cartilha passou a ser leitura pelo methodo analytico - modelos de lições. Nesse
divulgado sistemática e programaticamente principalmente documento, priorizava-se a "historieta" (conjunto de frases
nas províncias de São Paulo e do Espírito Santo, por Antonio relacionadas entre si por meio de nexos lógicos), como núcleo
da Silva Jardim, positivista militante e professor de português de sentido e ponto de partida para o ensino da leitura.
da Escola Normal de São Paulo. As cartilhas produzidas no âmbito do 2º momento na
Diferentemente dos métodos até então habituais, o história da alfabetização, especialmente no início do século XX,
“método João de Deus” ou “método da palavração” baseava-se passaram a se basear programaticamente no método de
nos princípios da moderna linguística da época e consistia em marcha analítica (processos da palavração e sentenciação),
iniciar o ensino da leitura pela palavra, para depois analisá-la buscando se adequar às instruções oficias, no caso paulista.
a partir dos valores fonéticos das letras. Por essas razões, Silva Iniciou-se, assim, uma acirrada disputa entre partidários
Jardim considerava esse método como fase científica e do então novo e revolucionário método analítico para o ensino
definitiva no ensino da leitura e fator de progresso social. da leitura e os que continuavam a defender e utilizar os
Esse primeiro momento se estende até o início da década tradicionais métodos sintéticos, especialmente o da silabação.
de 1890 e nele tem início uma disputa entre os defensores do Concomitantemente a essa disputa, teve lugar uma outra
"método João de Deus" e aqueles que continuavam a defender relativa aos diferentes modos de processuação do método
e utilizar os métodos sintéticos: da soletração, fônico e da analítico, dentre as quais se destaca a travada entre os
silabação. Com essa disputa, funda-se uma nova tradição: o professores paulistas e o fluminense João Köpke.
ensino da leitura envolve necessariamente uma questão de
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Nesse 2º momento, que se estende até aproximadamente Vai-se, assim, constituindo um ecletismo processual e
meados dos anos de 1920, a ênfase da discussão sobre conceitual em alfabetização, de acordo com o qual a
métodos continuou incidindo no ensino inicial da leitura, já alfabetização (aprendizado da leitura e escrita) envolve
que o ensino inicial da escrita era entendido como uma obrigatoriamente uma questão de “medida”, e o método de
questão de caligrafia (vertical ou horizontal) e de tipo de letra ensino se subordina ao nível de maturidade das crianças em
a ser usada (manuscrita ou de imprensa, maiúscula ou classes homogêneas. A escrita continuou sendo entendida
minúscula), o que demandava especialmente treino, mediante como uma questão de habilidade caligráfica e ortográfica, que
exercícios de cópia e ditado. É também ao longo desse devia ser ensinada simultaneamente à habilidade de leitura; o
momento, já no final da década de 1910, que o termo aprendizado de ambas demandava um “período preparatório”,
“alfabetização” começa a ser utilizado para se referir ao ensino que consistia em exercícios de discriminação e coordenação
inicial da leitura e da escrita. viso-motora e auditivo-motora, posição de corpo e membros,
As disputas ocorridas nesse 2º momento fundam uma dentre outros.
outra nova tradição: no o ensino da leitura envolve Nesse 3º momento, que se estende até aproximadamente
enfaticamente questões didáticas, ou seja, o como ensinar, a o final da década de 1970, funda-se uma outra nova tradição
partir da definição das habilidades visuais, auditivas e motoras no ensino da leitura e da escrita: a alfabetização sob medida,
da criança a quem ensinar; o ensino da leitura e escrita é de que resulta o como ensinar subordinado à maturidade da
tratado, então, como uma questão de ordem didática criança a quem se ensina; as questões de ordem didática,
subordinada às questões de ordem psicológica da criança. portanto, encontram-se subordinadas às de ordem
psicológica.
3º momento - A alfabetização sob medida
Em decorrência da “autonomia didática” proposta pela 4º momento - Alfabetização: construtivismo e
"Reforma Sampaio Dória" e de novas urgências políticas e desmetodização
sociais, a partir de meados da década de 1920 aumentaram as A partir do início da década de 1980, essa tradição passou
resistências dos professores quanto à utilização do método a ser sistematicamente questionada, em decorrência de novas
analítico e começaram a se buscar novas propostas de solução urgências políticas e sociais que se fizeram acompanhar de
para os problemas do ensino e aprendizagem iniciais da leitura propostas de mudança na educação, a fim de se enfrentar,
e da escrita. particularmente, o fracasso da escola na alfabetização de
Os defensores do método analítico continuaram a utilizá- crianças. Como correlato teórico-metodológico da busca de
lo e a propagandear sua eficácia. No entanto, buscando soluções para esse problema, introduziu-se no Brasil o
conciliar os dois tipos básicos de métodos de ensino da leitura pensamento construtivista sobre alfabetização, resultante das
e escrita (sintéticos e analíticos), em várias tematizações e pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita desenvolvidas
concretizações das décadas seguintes, passaram-se a utilizar: pela pesquisadora argentina Emília Ferreiro e colaboradores.
métodos mistos ou ecléticos (analítico-sintético ou vice- Deslocando o eixo das discussões dos métodos de ensino para
versa), considerados mais rápidos e eficientes. A disputa entre o processo de aprendizagem da criança (sujeito cognoscente),
os defensores dos métodos sintéticos e os defensores dos o construtivismo se apresenta, não como um método novo,
métodos analíticos não cessaram; mas o tom de combate e mas como uma “revolução conceitual”, demandando, dentre
defesa acirrada que se viu nos momentos anteriores foi-se outros aspectos, abandonarem-se as teorias e práticas
diluindo gradativamente, à medida que se acentuava a tradicionais, desmetodizar-se o processo de alfabetização e se
tendência de relativização da importância do método e, mais questionar a necessidade das cartilhas.
restritamente, a preferência, nesse âmbito, pelo método global A partir de então, verifica-se, por parte de autoridades
(de contos), defendido mais enfaticamente em outros estados educacionais e de pesquisadores acadêmicos, um esforço de
brasileiros. convencimento dos alfabetizadores, mediante divulgação
Essa tendência de relativização da importância do método massivas de artigos, teses acadêmicas, livros e vídeos,
decorreu especialmente da disseminação, repercussão e cartilhas, sugestões metodológicas, relatos de experiências
institucionalização das então novas e revolucionárias bases bem sucedidas e ações de formação continuada, visando a
psicológicas da alfabetização contidas no livro Testes ABC para garantir a institucionalização, para a rede pública de ensino, de
verificação a maturidade necessária ao aprendizado da leitura certa apropriação do construtivismo.
e escrita (1934), escrito por M. B. Lourenço Filho. Nesse livro, Inicia-se, assim, uma disputa entre os partidários do
o autor apresenta resultados de pesquisas com alunos de 1º construtivismo e os defensores - quase nunca “confessos”, mas
grau (atual Ensino Fundamental), que realizou com o objetivo atuantes especialmente no nível das concretizações - dos
de buscar soluções para as dificuldades de nossas crianças no tradicionais métodos (sobretudo o misto ou eclético), das
aprendizado da leitura e escrita. Propõe, então, as oito provas tradicionais cartilhas e do tradicional diagnóstico do nível de
que compõem os testes ABC, como forma de medir o nível de maturidade com fins de classificação dos alfabetizandos,
maturidade necessária ao aprendizado da leitura e escrita, a engendrando-se um novo tipo de ecletismo processual e
fim de classificar os alfabetizandos, visando à organização de conceitual em alfabetização.
classes homogêneas e à racionalização e eficácia da Quanto aos métodos e cartilhas de alfabetização, os
alfabetização. questionamentos de que foram alvo parecem ter sido
Desse ponto de vista, a importância do método de satisfatoriamente assimilados, resultando: na produção de
alfabetização passou a ser relativizada, secundarizada e cartilhas “construtivistas” ou “socioconstrutivista” ou
considerada tradicional. Observa-se, no entanto, embora com “construtivistas-interacionistas”; na convivência destas com
outras bases teóricas, a permanência da função instrumental cartilhas tradicionais e, mais recentemente, com os livros de
do ensino e aprendizagem da leitura, enfatizando-se a alfabetização, nas indicações oficiais e nas estantes dos
simultaneidade do ensino de ambas, as quais eram entendidas professores, muitos dos quais alegam tê-las apenas para
como habilidades visuais, auditivas e motoras. consulta quando da preparação de suas aulas; e no ensino e
Também a partir dessa época, aproximadamente, as aprendizagem do modelo de leitura e escrita veiculado pelas
cartilhas passaram a se basear predominantemente em cartilhas, mesmo quando os professores dizem seguir uma
métodos mistos ou ecléticos (analítico-sintético e vice-versa) “linha construtivista” ou “interacionista” e seus alunos não
e começaram a se produzir os manuais do professor utilizarem diretamente esse instrumento em sala de aula.
acompanhando as cartilhas, assim como se disseminou a ideia De qualquer modo, nesse momento, tornam-se
e a prática do "período preparatório”. hegemônicos o discurso institucional sobre o construtivismo e
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No entanto, se houve desejos de mudanças assim como infinitas formas de comunicação. Ninguém pode impedir de a
mudanças efetivas, ao longo dessa história se podem criança ter contato com essas formas de comunicação, sejam
encontrar, também, permanências e semelhanças indicadoras elas, escritas, faladas, expressadas através de gestos ou apenas
de continuidades entre o quatro momentos cruciais. ouvidas e vistas. A escola é um elo entre o mundo e a criança,
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precisa acreditar que o educando não chega à sala de aula De acordo com Frith87, há três estratégias básicas para se
como uma "tábua rasa". Ele traz uma herança cultural, da lidar com a palavra escrita. A primeira é a logográfica. O uso
sociedade e do grupo familiar. Os professores necessitam desta estratégia implica no reconhecimento das palavras por
valorizar essas experiências. O ambiente urbano, também e meio de esquemas idiossincráticos. Desta forma, os aspectos
rico em informações e conhecimentos e diferentemente da críticos para a leitura podem não ser as letras, e sim dicas não
escola, está contextualizado trazendo mais sentindo para o alfabéticas. A segunda estratégia é a alfabética, e implica em
aluno em suas descobertas. Emília Ferreiro, diz: "Em alguns analisar as palavras em seus componentes (letras e fonemas)
momentos da história faz falta uma revolução conceitual. e em utilizar, para codificação e decodificação, regras de
Acreditamos ter chegado o momento de fazê-la a respeito da correspondência grafofonêmicas. Finalmente, a estratégia
alfabetização." ortográfica implica na construção de unidades de
E preciso muitas mudanças educacionais para que a reconhecimento no nível alfabético. Com isso, partes das
educação alcance a excelência e importância dentro de nossa palavras podem ser reconhecidas diretamente, sem conversão
sociedade. Sabemos que muito já foi construído, mas não fonológica. Assim, resumidamente, segundo Morton88, a
podemos ficar no passado, temos que continuar a caminhada, leitura se dá de acordo com um modelo de duplo processo: o
que é longa e árdua. A educação tem pressa, precisa de acesso ao som e ao significado pode ocorrer por meio de um
medidas urgentes, os professores querem resultados do seu processo direto ou por meio de um processo indireto,
trabalho, a sociedade exige cidadãos capazes de agir e envolvendo mediação fonológica.
profissionais qualificados. A rota fonológica, que se desenvolve com a estratégia
As competências para o trabalhador deste século, segundo alfabética, é essencial para a leitura e a escrita competentes,
relatório da UNESCO, compõem oito características, que pois faz uso de um sistema gerativo que converte a ortografia
coincidem com as necessidades da educação: flexibilidade, em fonologia e vice-versa, o que permite à criança ler e
criatividade, informação, comunicação, responsabilidade, escrever qualquer palavra nova, apesar de cometer erros em
empreendedorismo, sociabilização e tecnologia. Para que a palavras irregulares. A geratividade, característica das
escola tenha o papel de transformar a sociedade e acatar as ortografias alfabéticas, permite a autoaprendizagem pela
necessidades desta, é preciso que tenha em vista estas criança, pois ao encontrar um novo item a criança poderá fazer
competências, para a formação de futuros profissionais. Esses leitura/escrita por (de)codificação fonológica. Esse processo
parâmetros devem estar escritos e aplicados na proposta contribuirá para a criação de uma representação ortográfica
pedagógica da escola. Só a escola tem o poder de modificar do item que posteriormente poderá ser lido pela rota lexical.
conceitos. É através da educação que poderemos garantir um De acordo com o Relatório Francês "Aprender a Ler", à
futuro mais justo para a sociedade. medida que a criança inicia o processo de aprendizado da
leitura por decodificação grafo-fonêmica e passa a encontrar
Importância da consciência fonológica na as mesmas palavras escritas, aos poucos vai construindo um
alfabetização léxico mental ortográfico.
84A consciência fonológica pode ser entendida como um A instrução direta da consciência fonológica, combinada à
conjunto de habilidades que vão desde a simples percepção instrução da correspondência grafemofonêmica, acelera a
global do tamanho da palavra e de semelhanças fonológicas aquisição da leitura. No Brasil já foram realizados estudos no
entre as palavras até a segmentação e manipulação de sílabas intuito de desenvolver a consciência fonológica em crianças,
e fonemas. Fazendo parte do processamento fonológico, que se demonstrando que, também na ortografia da língua
refere às operações mentais de processamento de informação portuguesa, a consciência fonológica é um pré-requisito para a
baseadas na estrutura fonológica da linguagem oral. Assim, a aquisição de leitura e escrita. Instruções de consciência
consciência fonológica refere-se tanto à consciência de que a fonológica e instruções fônicas mostraram-se eficazes em
fala pode ser segmentada quanto à habilidade de manipular melhorar a leitura e escrita quando introduzidas em diferentes
tais segmentos, e se desenvolve gradualmente à medida que a níveis escolares.
criança vai tomando consciência do sistema sonoro da língua, Segundo Capovilla & Capovilla89, diversos trabalhos têm
ou seja, de palavras, sílabas e fonemas como unidades relatado que esta habilidade se correlaciona com o sucesso na
identificáveis. aquisição da linguagem escrita, de forma que a importância da
Enquanto a consciência de segmentos suprafonêmicos consciência fonológica para o processo de aquisição da leitura
desenvolve-se de modo espontâneo, o desenvolvimento da e da escrita tem sido bem reconhecida. Desta forma, em
consciência fonêmica necessita da introdução formal a um diversos estudos já conduzidos no Brasil, foi adotado um
sistema de escrita alfabético85. A precedência da consciência procedimento para desenvolver a consciência fonológica e
suprafonêmica em relação à consciência fonêmica é devida ao ensinar correspondências grafo-fonêmicas a escolares. Este foi
fato de que sílabas isoladas são manifestadas como unidades aplicado em crianças de níveis socioeconômico médio e baixo
discretas da fala, o que não ocorre com os fonemas. Segundo e mostrou-se eficaz em aumentar o desempenho em
Morais86, para a consciência de fonemas são necessárias consciência fonológica, leitura e escrita de crianças no início da
instruções expressas sobre a estrutura da escrita alfabética, no alfabetização.
intuito de familiarizar a criança com o mapeamento que está Este procedimento para desenvolver consciência
escrita faz dos sons da fala. Vale ressaltar que as instruções fonológica e ensinar correspondências grafo-fonêmicas
para o desenvolvimento da habilidade de manipular os sons da abrange diversos níveis de consciência, desde a consciência de
fala, bem como as instruções para desenvolver a habilidade de rimas e aliterações até a consciência de fonemas.
converter esses sons em escrita e vice-versa, devem ser Como exemplo de atividades propostas para esse treino
realizadas de modo a tornar explícito à criança estas em rima, propõe-se que a criança identifique palavras que
correspondências. terminem com o som pedido pelo aplicador, por exemplo:
"Diga o nome de um animal que termine com to, ou diga o
84 Texto adaptado de LOPES, Flavia. O desenvolvimento da consciência 88 MORTON, (1989). An information-processing account of reading
fonológica e sua importância para o processo de alfabetização. Psicol. Esc. Educ. acquisition. In A M. Galaburda (Ed.), From reading to neurons (43-68). Cambridge,
(Impr.) [online]. 2004, vol.8, n.2, pp.241-243. ISSN 2175-3539. MA: MIT Press.
85 MORAIS, J. (1995). A arte de ler. São Paulo, SP: Editora Unesp. 89 CAPOVILLA A. G. S. & CAPOVILLA, F. C. (2003) Alfabetização: Método fônico.
86 MORAIS, J. (1995). A arte de ler. São Paulo, SP: Editora Unesp. São Paulo, SP: Memnon.
87 FRITH (1985). Beneath the surface of developmental dyslexia. In K.
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nome de uma fruta que termine com ana". Nessa atividade é da leitura e escrita antes e depois de serem submetidas ao
esperado que a criança demonstre, falando, que percebeu que treino. As crianças que participaram das atividades de
as palavras terminam com o mesmo som. Em uma das consciência fonológica e de correspondência grafo-fonêmicas
atividades de aliteração, o aplicador começa contando uma apresentaram ganhos significativos, tanto em consciência
história curta com aliterações, em seguida deve fazer um jogo fonológica quanto em leitura e escrita quando comparadas às
em que pede às crianças que falem itens que comecem por um do grupo controle. Isto confirma a importância e a necessidade
determinado som, por exemplo, palavras que começam com de programas de ensino de leitura e escrita que incluam
/a/; animais cujos nomes começam com /ma/, é necessário atividades de consciência fonológica.
que possamos dizer à criança várias palavras com uma mesma 91A partir dos achados encontrados, concluímos que, a
sílaba, para que ela possa compreender a atividade, espera-se consciência fonológica ocorre paralelamente ao
que a criança fale ao menos uma palavra que comece com o desenvolvimento do letramento, porém inicialmente elas não
som solicitado. Como exemplo de atividade de consciência de têm um grau de dependência elevado. Na medida que a
palavras e segmentação de frases, o aplicador deve falar uma alfabetização vai se aprimorando a consciência fonológica
frase e depois a repete sem a última palavra, a criança deve também se lapida e caminham juntas auxiliando a criança no
dizer, então, a palavra que faltou, por exemplo, /Eu passeio de aperfeiçoamento de suas funções cognitivas, refletindo-se
bicicleta. Eu passeio de ____/. É preciso salientar que, apesar do assim em todo o processo de construção do aprendizado.
comando da atividade ser a segmentação de frases, o aplicador
não deve segmentar a frase, palavra por palavra. A frase deve Tecnologia a favor da alfabetização
ser enunciada por inteiro, sem interrupções, no intuito de Segundo Moran, Masetto e Behrens92, muitas formas de
evitar a desnaturalização da fala. ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais,
A consciência de sílabas é trabalhada, por exemplo, em aprendemos muito pouco, nos desmotivamos continuamente.
uma atividade em que o aplicador e as crianças cantam Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que
músicas familiares batendo palmas a cada sílaba falada. A muitas aulas convencionais estão ultrapassadas. Mas, para
consciência de sílaba pode ser trabalhada também em onde mudar? Como ensinar e aprender em uma sociedade
atividades que apresentem a síntese silábica. Como exemplo mais interconectada?
pode-se usar um jogo com fantoches em que esses dizem Avançaremos mais se soubermos adaptar os programas
palavras separando as sílabas, sendo que as crianças devem previstos às necessidades dos alunos, criando conexões com o
dizer a palavra inteira, unindo as sílabas faladas pelo fantoche. cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula
A identidade fonêmica pode ser trabalhada em atividade em uma comunidade de investigação.
na qual inicialmente, é proposto à criança trabalhar com Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade
histórias em que um fonema aparece repetidamente em várias espaço temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e
palavras, mostrando-se a letra correspondente a esse fonema, processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma
sendo solicitado em seguida à criança que repita as palavras das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a
ditas pelo aplicador e logo depois que faça a identificação do variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua
fonema inicial de cada palavra. compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados.
Como exemplo de atividade de consciência fonêmica pode- Temos informações demais e dificuldade em escolher quais
se utilizar o teatro de fantoches, em que um deles é são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da
caracterizado como aquele que fala "palavras bobas", ou seja, nossa mente e da nossa vida.
fala palavras trocando um fonema, por exemplo, em vez de A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez
/menino/, dizer /benino/. As crianças devem, então, assistir menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados,
ao teatro de fantoches e interagir corrigindo as "palavras imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do
bobas", dizendo as suas formas corretas. A atividade cobre professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar
tanto sons consonantais como vocálicos. esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los.
A consciência fonêmica pode também ser trabalhada com Aprender depende também do aluno, de que ele esteja
a síntese de fonemas em jogos nos quais o aplicador deve pronto, maduro, para incorporar a real significação que essa
apresentar palavras ou pseudopalavras em que cada fonema é informação tem para ele, para incorporá-la vivencialmente,
representado por uma forma geométrica. Adicionam-se, então, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do
formas geométricas no início, fim e meio dos itens para formar contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará
diferentes palavras. O aplicador deverá apresentar os cartões verdadeiramente significativa, não será aprendida
para as crianças e informar que cada um dos cartões irá verdadeiramente.
representar um fonema distinto. Essa atividade possui como Avançaremos mais pela educação positiva do que pela
principal objetivo mostrar que, pela modificação na repressiva. É importante não começar pelos problemas, pelos
arrumação dos fonemas nas palavras pode-se formar outras erros, não começar pelo negativo, pelos limites. E sim começar
palavras distintas. pelo positivo, pelo incentivo, pela esperança, pelo apoio na
No procedimento deverá ser feita no máximo uma nossa capacidade de aprender e de mudar.
atividade por dia, sendo realizado também um treino do Ajudar o aluno a que acredite em si, que se sinta seguro,
alfabeto em paralelo. É importante lembrar que sempre que que se valorize como pessoa, que se aceite plenamente em
trabalhar com pseudopalavras deve-se dizer à criança que se todas as dimensões da sua vida. Se o aluno acredita em si, será
trata de palavras inventadas. O treino pode ser administrado mais fácil trabalhar os limites, a disciplina, o equilíbrio entre
individualmente ou em grupos em sessões no consultório por direitos e deveres, a dimensão grupal e social.
psicólogos ou pelos professores nas classes, sendo estes
capacitados para tanto. As dificuldades para mudar na educação
No intuito de verificar a eficácia do procedimento descrito As mudanças demorarão mais do que alguns pensam,
foram Capovilla & Capovilla90 comparou-se o desempenho de porque nos encontramos em processos desiguais de
crianças na habilidade de consciência fonológica, na aquisição aprendizagem e evolução pessoal e social. Não temos muitas
90 CAPOVILLA A. G. S. & CAPOVILLA, F. C. (2003) Alfabetização: Método fônico. 92 Texto adaptado de MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas
fonológica no processo de alfabetização. Revista CEFAC, São Paulo, v.6, n.3, 237-
41, jul-set, 2004
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instituições e pessoas que desenvolvam formas avançadas de culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem
compreensão e integração, que possam servir como mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas.
referência. Predomina a média, a ênfase no intelectual, a
separação entre a teoria e a prática. Integrar os meios de comunicação na escola
Temos grandes dificuldades no gerenciamento emocional, Antes da criança chegar à escola, já passou por processos
tanto no pessoal como no organizacional, o que dificulta o de educação importantes: pelo familiar e pela mídia eletrônica.
aprendizado rápido. São poucos os modelos vivos de No ambiente familiar, mais ou menos rico cultural e
aprendizagem integradora, que junta teoria e prática, que emocionalmente, a criança vai desenvolvendo as suas
aproxima o pensar do viver. conexões cerebrais, os seus roteiros mentais, emocionais e
A ética permanece contraditória entre a teoria e a prática. suas linguagens. Os pais, principalmente a mãe, facilitam ou
Os meios de comunicação mostram com frequência como complicam, com suas atitudes e formas de comunicação mais
alguns governantes, empresários, políticos e outros grupos de ou menos maduras, o processo de aprender a aprender dos
elite agem impunemente. Muitos adultos falam uma coisa - seus filhos.
respeitar as leis - e praticam outra, deixando confusos os A criança também é educada pela mídia, principalmente
alunos e levando-os a imitar mais tarde esses modelos. pela televisão. Aprende a informar-se, a conhecer - os outros,
O autoritarismo da maior parte das relações humanas o mundo, a si mesmo - a sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo,
interpessoais, grupais e organizacionais espelha o estágio ouvindo, “tocando” as pessoas na tela, que lhe mostram como
atrasado em que nos encontramos individual e coletivamente viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia
de desenvolvimento humano, de equilíbrio pessoal, de eletrônica é prazerosa - ninguém obriga - é feita através da
amadurecimento social. E somente podemos educar para a sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa -
autonomia, para a liberdade com processos aprendemos vendo as estórias dos outros e as estórias que os
fundamentalmente participativos, interativos, libertadores, outros nos contam. Mesmo durante o período escolar a mídia
que respeitem as diferenças, que incentivem, que apoiem, mostra o mundo de outra forma - mais fácil, agradável,
orientados por pessoas e organizações livres. compacta - sem precisar fazer esforço. Ela fala do cotidiano,
As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, dos sentimentos, das novidades. A mídia continua educando
de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, como contraponto à educação convencional, educa enquanto
pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar estamos entretidos.
e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em Os Meios de Comunicação, principalmente a televisão,
contato, porque dele saímos enriquecidos. desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais de
O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo
sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. linguagens e mensagens, que facilitam a interação, com o
Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a nossa público. A TV fala primeiro do "sentimento" - o que você
ignorância, as nossas dificuldades. Ensina, aprendendo a sentiu", não o que você conheceu; as ideias estão embutidas na
relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. roupagem sensorial, intuitiva e afetiva.
Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que Os Meios de Comunicação operam imediatamente com o
dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses. sensível, o concreto, principalmente, a imagem em movimento.
Os grandes educadores atraem não só pelas suas ideias, Combinam a dimensão espacial com a cinestésica, onde o
mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a ritmo torna-se cada vez mais alucinante (como nos
atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que videoclipes). Ao mesmo tempo utilizam a linguagem
dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na conceitual, falada e escrita, mais formalizada e racional.
forma de comunicar-se, de agir. São um poço inesgotável de Imagem, palavra e música se integram dentro de um contexto
descobertas. comunicacional afetivo, de forte impacto emocional, que
Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não facilita e predispõe a aceitar mais facilmente as mensagens.
nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. São docentes A eficácia de comunicação dos meios eletrônicos, em
“papagaios”, que repetem o que leem e ouvem, que se deixam particular da televisão, se deve também à capacidade de
levar pela última moda intelectual, sem questioná-la. articulação, de superposição e de combinação de linguagens
É importante termos educadores/pais com um totalmente diferentes - imagens, falas, música, escrita - com
amadurecimento intelectual, emocional, comunicacional e uma narrativa fluida, uma lógica pouco delimitada, gêneros,
ético, que facilite todo o processo de organizar a conteúdos e limites éticos pouco precisos, o que lhe permite
aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que alto grau de entropia, de interferências por parte de
valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que concessionários, produtores e consumidores.
a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer A televisão combina imagens estáticas e dinâmicas,
formas democráticas de pesquisa e de comunicação. imagens ao vivo e gravadas, imagens de captação imediata,
As mudanças na educação dependem também de termos imagens referenciais (registradas diretamente com a câmara)
administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que com imagens criadas por um artista no computador. Junta
entendam todas as dimensões que estão envolvidas no imagens sem ligação referencial (não relacionadas com o real)
processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; com imagens "reais" do passado (arquivo, documentários) e as
que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o mistura com imagens "reais" do presente e imagens do
gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, passado não “reais”.
contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, A imagem na televisão, cinema e vídeo é sensorial,
intercâmbio e comunicação. sensacional e tem um grande componente subliminar, isto é,
As mudanças na educação dependem também dos alunos. passa muitas informações que não captamos claramente.
Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o O olho nunca consegue captar toda a informação. Então
processo, estimulam as melhores qualidades do professor, escolhe um nível que dê conta do essencial, do suficiente para
tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do dar um sentido ao caos, de organizar a multiplicidade de
professor-educador. sensações e dados. Foca a atenção, em alguns aspectos
Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, analógicos, nas figuras destacadas, nas que se movem e com
ajudam o professor a ajuda-los melhor. Alunos que provêm de isso conseguimos acompanhar uma estória. Mas deixamos de
famílias abertas, que apoiam as mudanças, que estimulam lado, inúmeras informações visuais e sensoriais, que não são
afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes percebidas conscientemente. A força da linguagem audiovisual
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está em que consegue dizer muito mais do que captamos, Preparar os professores para a utilização do
chegar simultaneamente por muitos mais caminhos do que computador e da Internet
conscientemente percebemos e encontra dentro de nós uma - O primeiro passo é facilitar o acesso dos professores e dos
repercussão em imagens básicas, centrais, simbólicas, alunos ao computador e à Internet. Procurar de todas as
arquetípicas, com as quais nos identificamos ou que se formas possíveis que todos possam ter o acesso mais fácil,
relacionam conosco de alguma forma frequente e personalizado possível às novas tecnologias. Ter
É uma comunicação poderosa, como nunca antes a tivemos salas de aula conectadas, salas ambiente para pesquisa,
na história da humanidade e as novas tecnologias de laboratórios bem equipados. Facilitar que os professores
multimídia e realidade virtual só estão tornando esse processo possam ter seus próprios computadores. Facilitar que cada
de simulação muito mais exacerbado, explorando-o até limites aluno possa ter um computador pessoal portátil. Sabemos que
inimagináveis. esta situação no Brasil é atualmente uma utopia, mas hoje o
A organização da narrativa televisiva, principalmente a ensino de qualidade passa também necessariamente pelo
visual, não se baseia somente - e muitas vezes, não acesso rápido, contínuo e abrangente a todas as tecnologias,
primordialmente- na lógica convencional, na coerência principalmente às telemáticas.
interna, na relação causa-efeito, no princípio de não- Um dos projetos políticos mais importantes é que a
contradição, mas numa lógica mais intuitiva, mais conectiva. sociedade encontre formas de diminuir a distância que separa
Imagens, palavras e música vão se agrupando segundo no acesso à informação entre os que podem e os que não
critérios menos rígidos, mais livres e subjetivos dos podem pagar por ela. As escolas públicas, comunidades
produtores que pressupõem um tipo de lógica da recepção carentes precisam ter esse acesso garantido para não ficarem
também menos racional, mais intuitiva. condenadas à segregação definitiva, ao analfabetismo
Um dos critérios principais é a contiguidade a justaposição tecnológico, ao ensino de quinta classe.
por algum tipo de analogia, de associação por semelhança ou - O segundo passo é ajudar na familiarização com o
por oposição, por contraste. Ao colocar pedaços de imagens ou computador, com seus aplicativos e com a Internet. Aprender
cenas juntas, em sequência, criam-se novas relações, novos a utilizá-lo no nível básico, como ferramenta. No nível mais
significados, que antes não existiam e que passam a ser avançado: dominar as ferramentas da WEB, do e-mail.
considerados aceitáveis, "naturais", "normais". Colocando, por Aprender a pesquisar nos search, a participar de listas de
exemplo, várias matérias em sequência, num mesmo bloco e discussão, a construir páginas.
em dias sucessivos - como se fossem capítulos de uma novela - O nível seguinte é auxiliar os professores na utilização
-, sobre o assassinato de uma atriz, o de várias crianças e pedagógica da Internet e dos programas multimídia. Ensiná-
outros crimes semelhantes, acontecidos no Brasil e em outros los a fazer pesquisa.
países, multiplica-se a reação de indignação da população, o Começar pela pesquisa aberta, onde há liberdade de
seu desejo de vingança. Isto favorece os defensores da pena de escolha do lugar (tema pesquisado livremente) e pesquisa
morte; o que não estava explícito em cada reportagem e nem dirigida, focada para um endereço específico ou um site
tal vez fosse a intenção dos produtores. determinado. Pesquisa nos sites de busca, nos bancos de
A televisão estabelece uma conexão aparentemente lógica dados, nas bibliotecas virtuais, nos centros de referência.
entre mostrar e demonstrar. Mostrar é igual a demonstrar, a Pesquisa dos temas mais gerais para os mais específicos,
provar, a comprovar. A força da imagem é tão evidente que se pesquisa grupal e pessoal.
torna difícil não fazer essa associação comprovatória ("se uma - A internet pode ser utilizada em um projeto isolado de
imagem me impressiona, é verdadeira"). Também é muito uma classe, como algo complementar ou um projeto
comum a lógica de generalizar a partir de uma situação voluntário, com alunos se inscrevendo. A Internet pode ser um
concreta. Do individual, tendemos ao geral. Uma situação projeto entre vários colégios ou grupos, na mesma cidade, de
isolada converte-se em situação paradigmática, padrão. A várias cidades ou países. O projeto pode evoluir para a
televisão, principalmente, transita continuamente entre as interdisciplinaridade, integrando várias áreas e professores. A
situações concretas e a generalização. Mostra dois ou três Internet pode fazer parte de um projeto institucional, que
escândalos na família real inglesa e tira conclusões sobre o envolve toda a escola de forma mais colaborativa.
valor e a ética da realeza como um todo. A escola pode utilizar a Internet em uma sala especial ou
Ao mesmo tempo, o não mostrar equivale a não existir, a laboratório, onde os alunos se deslocam especialmente, em
não acontecer. O que não se vê, perde existência. Um fato períodos determinados, diferentes da sala de aula
mostrado com imagem e palavra tem mais força que se convencional. A internet também pode ser utilizada na sala de
somente é mostrado com palavra. Muitas situações aula conectada, só pelo professor, como uma tecnologia
importantes do cotidiano perdem força, por não ter sido complementar do professor ou pode ser utilizada também
valorizadas pela imagem-palavra televisiva. pelos alunos conectados através de notebooks na mesma sala
A educação escolar precisa compreender e incorporar de aula, sem deslocamento.
mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar
as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É Alguns caminhos para integrar as tecnologias num
importante educar para usos democráticos, mais progressistas ensino inovador
e participativos das tecnologias, que facilitem a evolução dos Na sociedade da informação, todos estamos reaprendendo
indivíduos. O poder público pode propiciar o acesso de todos a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar; reaprendendo a
os alunos às tecnologias de comunicação como uma forma integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o
paliativa, mas necessária de oferecer melhores oportunidades grupal e o social.
aos pobres, e também para contrabalançar o poder dos grupos É importante conectar sempre o ensino com a vida do
empresariais e neutralizar tentativas ou projetos autoritários. aluno. Chegar ao aluno por todos os caminhos possíveis: pela
Se a educação fundamental é feita pelos pais e pela mídia, experiência, pela imagem, pelo som, pela representação
urgem ações de apoio aos pais para que incentivem a (dramatizações, simulações), pela multimídia, pela interação
aprendizagem dos filhos desde o começo das vidas deles, online e offline.
através do estímulo, das interações, do afeto. Quando a criança Partir de onde o aluno está. Ajuda-lo a ir do concreto ao
chega à escola, os processos fundamentais de aprendizagem já abstrato, do imediato para o contexto, do vivencial para o
estão desenvolvidos de forma significativa. Urge também a intelectual. Os professores, diretores, administradores terão
educação para as mídias, para compreendê-las, criticá-las e que estar permanentemente processo de atualização através
utilizá-las da forma mais abrangente possível. de cursos virtuais, de grupos de discussão significativos,
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participando de projetos colaborativos dentro e fora das 95A educação infantil possui especificidades
instituições em que trabalham. características, das quais, podemos mencionar o papel do
Tanto nos cursos convencionais como nós à distância brincar como ponto de destaque nesta fase da infância. Para
teremos que aprender a lidar com a informação e o Gomes96, a educação infantil deve ser pensada e fundamentada
conhecimento de formas novas, pesquisando muito e em uma pedagogia centrada na infância e suas especificidades,
comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais contemplando o prazer que o brincar proporciona.
rapidamente na compreensão integral dos assuntos Entre as falas das crianças é nítida a importância que elas
específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e atribuem ao brincar, assim como para Martins e Duarte:
intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos ...é preciso ensinar na e pela brincadeira. É preciso, para
aprender a mudar nossas ideias, sentimentos e valores onde isso, romper com a artificial dicotomia entre “atividades
se fizer necessário. dirigidas” (supostamente para ensinar) e “atividades livres”
Necessitamos de muitas pessoas livres nas escolas que (supostamente para brincar), ainda tão presente nas escolas
modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino - de Educação Infantil97.
escolar e gerencial - Só pessoas livres, autônomas - ou em A afetividade na mediação entre as crianças e a
processo de libertação - podem educar para a liberdade, alfabetização é um fator crucial, verificamos que as crianças
podem educar para a autonomia, podem transformar a possuem um carinho e uma vontade muito grande em ir para
sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma de educador. a escola todos os dias, seja para aprender ou para brincar com
Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que os coleguinhas, essa relação cria laços que permite ao
fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se somos pessoas professor tirar vantagem no processo de aprendizagem. A
abertas, as utilizaremos para comunicar-nos mais, para partir do momento em que as crianças sentem prazer em
interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, realizar determinada tarefa, tudo fica muito mais fácil.
utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se Também constatamos que um ambiente favorável à
somos pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para leitura, contribui para o processo de alfabetização, porém a
controlar, para aumentar o nosso poder. O poder de interação preocupação das professoras da educação infantil não deve ser
não está fundamentalmente nas tecnologias, mas nas nossas ensinar as crianças e sim, estimulá-las para que elas sejam
mentes. capazes de aprender e buscar por si só desenvolvimento pleno.
Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se Para as crianças, a concepção de alfabetização não está
mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do bem clara ou bem definida, para elas o importante é o brincar
ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso e a aprendizagem é algo que deve ocorrer naturalmente.
contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem
mexer no essencial. A Internet é um novo meio de Questões
comunicação, ainda incipiente, mas que pode ajudar-nos a
rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de 01. (Prefeitura de Lauro Muller/SC - Professor de
ensinar e de aprender. Pedagogia - Instituto Excelência - 2017) A alfabetização é a
aquisição do código da escrita e da leitura. O ato de ler ativa
Perspectiva infantil na fase da alfabetização uma série de ações e pensamentos que ocorrem ao mesmo
93A Educação Infantil tem papel importante no tempo, sendo assim surgem estratégias de leitura. Analise as
desenvolvimento da expressividade da criança, porque por afirmativas abaixo sobre essas estratégias:
essa expressividade um desdobramento de fatores I- Decodificação: aprender a decodificar pressupõe
psicológicos, afetivos e sociais pode ser promovido. O aprender as correspondências que existem entre sons da
educador infantil, consciente das possibilidades da linguagem e os signos, ou os conjuntos de signos gráficos.
expressividade intelectual e afetiva da criança para narrar e II- Inferência: contexto para interpretar o texto. Usar os
produzir histórias sobre a realidade que percebe ou que conhecimentos de mundo para entendê-lo.
imagina, pode criar um espaço simbólico importante para o III- Antecipação: não está escrito no texto. Vai se
desenvolvimento integral da criança, preparando bases para a confirmando ou não, de acordo com a leitura.
alfabetização. IV- Seleção: utilização durante a leitura do que é útil para a
Segundo Vygotsky94, a alfabetização é um processo formal interpretação do texto, desprezando o que não é importante.
que continua um processo anterior de uso da expressividade
da criança diante do mundo. Se a expressividade anterior ao Estão CORRETAS as afirmativas:
aprendizado formal dos códigos linguísticos for estimulada e (A) As afirmativas I-II-III e IV.
promovida, ganhos diretos sobre o domínio necessário não (B) As afirmativas II e III.
apenas para a aquisição da leitura e da escrita, mas para agir (C) As afirmativas I- II e IV.
sobre o mundo por meio da linguagem, podem ser obtidos pelo (D) Nenhuma das alternativas.
educador infantil consciente dessas questões.
Associar o brinquedo pedagogicamente orientado à 02. (SEGEP/MA - Analista Ambiental - Pedagogo - FCC)
expressividade e as formas de linguagem da criança, contribui Na alfabetização, o domínio da linguagem oral e escrita
para o desenvolvimento integral dessa criança frente ao constitui uma das dimensões da expressividade. O
cotidiano que vive e aos desafios do processo de aprendizagem aprendizado da leitura e da escrita não terá significado real se
escolar. Portanto, constituir na escola espaços de narrativas, ele se faz através da repetição puramente mecânica das
de linguagem, é permitir um aprendizado escolar que favorece sílabas. Este aprendizado só é válido quando,
o desenvolvimento global da criança, vista como produtora e simultaneamente com o domínio do mecanismo da formação
produto de sua cultura. vocabular, o educando vai percebendo o profundo sentido da
93 PESSOA, C.T.; NASCIMENTO, R.O. Uma perspectiva sócio-histórica do 96 GOMES, J. C. S. Brincar: uma história de ontem e hoje. Campinas - SP.
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infantis para a sociedade moderna, que teve início com os fundamental. Portanto a Educação Infantil atenderá crianças
movimentos populares dos anos de 197099. de 0 a 5 anos e 9 meses.
A partir desse período, as instituições passaram a ser A implantação de uma verdadeira Educação Infantil
pensadas e reivindicadas como lugar de educação e cuidados precisará contar com a colaboração do sistema de saúde e dos
coletivos das crianças de zero a seis anos de idade. órgãos de assistência social.
A abertura política permitia o reconhecimento social A responsabilidade deste nível inicial de educação
desses direitos manifestados pelos movimentos populares e pertence aos municípios, mas as empresas são chamadas a
por grupos organizados da sociedade civil. A Constituição de dividir este encargo, pela obrigação de garantir assistência
1988 (art.208, e inciso IV), pela primeira vez, na história do gratuita para os filhos e dependentes de seus empregados em
Brasil, definiu como direito das crianças de zero a seis anos de creches e pré-escolas, além da prevista com o recolhimento do
idade e dever do Estado o atendimento à infância. salário educação.
Muitos fatos ocorreram de forma a influenciar estas
mudanças: o desenvolvimento urbano, as reivindicações Diretrizes
populares, o trabalho da mulher, a transformação das funções Educar e cuidar de crianças de 0 a 5 anos supõe definir
familiares, as ideias de infância e as condições socioculturais previamente para que isto será feito e como se desenvolverão
para o desenvolvimento das crianças. as práticas pedagógicas, visando a inclusão das crianças e de
Ao constituir-se em um equipamento só para pobres, suas famílias em uma vida de cidadania plena.
principalmente no caso das instituições de educação infantil, As instituições de Educação Infantil são equipamentos
financiadas ou mantidas pelo poder público, significou, em educacionais e não apenas de assistência, nesse sentido, uma
muitas situações, atuar de forma compensatória para sanar as das características da nova concepção de Educação Infantil,
supostas faltas e carências das crianças e de seus familiares. reside na integração das funções de cuidar e educar.
A tônica do trabalho institucional foi pautada por uma As instituições infantis além de prestar cuidados físicos,
visão que estigmatizava a população de baixa renda. A criam condições para o seu desenvolvimento cognitivo,
concepção educacional era marcada por características simbólico, social e emocional. Nela se dão o cuidado e a
assistencialista, sem considerar as questões de cidadania educação de crianças que aí vivem, convivem, exploram,
ligadas aos ideais de liberdade e igualdade. conhecem, construindo uma visão de mundo e de si mesmas,
Modificar essa concepção de educação assistencialista constituindo-se como sujeitos. Para as crianças pequenas tudo
significa atentar para várias questões que vão além dos é novo, devendo ser trabalhado e aprendido. Não são
aspectos legais. Envolve principalmente, assumir as independentes e autônomas para os próprios cuidados
especificidades da educação infantil e rever concepções sobre pessoais, precisando ser ajudadas e orientadas a construir
a infância, as relações entre classes sociais, à responsabilidade hábitos e atitudes corretas, bem como estimuladas na fala e no
da sociedade e o papel do Estado em relação às crianças aprimoramento de seu vocabulário.
pequenas. O bom relacionamento entre pais, educadores e crianças, é
Embora haja um consenso sobre a necessidade de que a fundamental durante o processo de inserção da criança na vida
educação, para as crianças pequenas deva promover a escolar, além de representar a ação conjunta rumo à
integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, consolidação de uma pedagogia voltada pra a infância.
cognitivos e sociais da criança, considerando que esta é um ser A instituição de Educação Infantil deverá proporcionar às
completo e indivisível, as divergências estão exatamente no crianças momentos que a façam crescer, refletir e tomar
que se entende sobre o que seja trabalhar com cada um desses decisões direcionadas ao aprendizado com coerência e justiça.
aspectos.
Polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na Fundamentação filosófico-pedagógica
relação pedagógica e sobre educar para o desenvolvimento ou A educação deve ser essencialmente lúdica, prazerosa,
para o conhecimento tem-se constituído no pano de fundo fundada nas mais variadas experiências e no prazer de
sobre o qual se constroem as propostas em educação infantil. descobrir a vida, colocando as crianças em contato com uma
variedade de estímulos e experiências que propiciem a ela seu
Fundamentação Legal desenvolvimento integral. Essas ações são desenvolvidas e
A Constituição do Brasil Seção I - da Educação em seu fundamentadas numa concepção interdisciplinar e
artigo (205) destaca que: A educação direito de todos e dever totalizadora. As ações desenvolvidas fundamentam-se nos
do Estado e da família, será promovida e incentivada com a seguintes princípios:
colaboração da sociedade, visando pleno desenvolvimento 1) Educação ativa e relacionada com os interesses,
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua necessidades e potencialidades da criança;
qualificação para o trabalho. 2) Ênfase na aprendizagem através da resolução de
Já na LDB - Diretrizes e Bases da Educação Nacional - lei problemas;
9394/96 em seu art. 29 regulamenta a Educação Infantil, 3) Ação educativa ligada à vida e não entendida como
definindo-a como a primeira etapa da educação básica. preparação para a vida;
Tendo por finalidade o desenvolvimento integral da 4) Incentivo da solidariedade e não da concorrência.
criança até os 5 anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da A Estrutura Curricular e Seus Eixos Norteadores
família e da comunidade.
A lei também estabelece que a Educação Infantil seja A criança desde que nasce é um ser ativo. Possui um
oferecida em creches, para crianças de até 3 anos, e em pré- repertório de condutas ou reflexos inatos que lhe permite
escolas, para crianças de 4 a 5 anos. interagir com seu meio e experimentar as primeiras
Segundo o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da aprendizagens, consistindo nas adaptações que faz às novas
Educação Básica - FUNDEB (hoje FUNDEF) em seu Art. 60 condições de vida. O contato do bebê com o meio humano,
determina que: agora é definitivo, todas as crianças a partir transforma essas condutas inatas em respostas complexas.
dos seis anos de idade devem estar matriculadas no ensino Aos poucos, assimila novas experiências, integrando-as às que
já possui, gerando novas respostas. Este processo de
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adaptação às condições novas que surgem se dá ao longo de fundamentando-as nas suas formações, e na realidade de cada
toda a infância. um.
Durante o primeiro ano de vida, a criança constrói um Dentro desta perspectiva, a educação para todos constitui
pensamento essencialmente prático, ligado à ação, a um grande desafio: A Educação Inclusiva que é garantida pela
percepção e ao desenvolvimento motor. É através dessas ações Constituição Federal Brasileira, art. 208, III. A declaração da
que a criança processa informações, constrói conhecimentos e Salamanca em l994 reafirmou o direito de todos à educação,
se expressa desenvolvendo seu pensamento. independente de suas diferenças, enfatizando que a educação
Ao final do primeiro ano de vida, as ações das crianças para pessoas deficientes também é parte integrante do
passam a ser cada vez mais coordenadas e intencionais. sistema educativo, contemplando uma pedagogia voltada às
O desenvolvimento da função simbólica tem importância necessidades específicas e adoção de estratégias que se
ao desenvolvimento psicológico e social da criança; fizerem necessárias em benefício comum. A LDB 9.394/96,
internalizam funções e capacidade ao longo do seu processo de artigos 58 e 59 têm também como finalidade concretizar
desenvolvimento e vão situando e ampliando sua participação preceito constitucional e responder ao compromisso com a
no universo social. “Educação para Todos”. Assume-se assim, o compromisso de
O aperfeiçoamento da linguagem, o aumento do uma educação comprometida para a cidadania, considerando
vocabulário deverá ser permeado pela diversidade de sua diversidade. A educação inclusiva baseia-se na educação
experiências e oportunidades em contextos significativos para condizente com igualdade de direitos e oportunidades em
a criança. ambiente favorável.
No que se refere ao desenvolvimento físico motor, os três A participação da família e da criança na instituição, num
primeiros anos de vida, representam a fase em que o esforço conjunto de aprendizagem compartilhada é de suma
crescimento ocorre de maneira mais acelerada. Elas importância para aprender a conviver e se relacionar com
quadruplicam de peso e dobram a altura em relação ao pessoas que possuem habilidades e competências diferentes,
nascimento, adquirindo movimentos voluntários e considerando que expressões culturais e sociais são condições
coordenados. Controlam a posição de seu corpo e o necessárias para o desenvolvimento de valores éticos, dentro
movimento das pernas, braços e tronco, significa que correm, dos preceitos básicos pedagógicos, por isso a estrutura
rolam, deitam e tantas outras coisas. curricular se apoia nos Eixos Norteadores, que orientam a base
O desenvolvimento motor se dá quando a criança adquire educacional que são:
padrões de movimentos musculares, controle do próprio
corpo e habilidades motoras, com as quais alcança - Identidade e Autonomia: Busca possibilitar a formação
possibilidades de ação e expressão. Está relacionado com o da criança a partir das relações sócio-histórico-culturais, de
desenvolvimento psíquico, principalmente no primeiro ano de forma consciente e contextualizada, oferecendo condições
vida. Ao desenvolver a ação motora a criança está construindo para que elas aprendam a conviver com os outros, em uma
conhecimento de si própria e do mundo que a cerca. Esta atitude básica de respeito e confiança. O trabalho educativo
relação construtiva que a criança estabelece com objetos, pode assim, criar condições para as crianças conhecerem,
acontecimentos e pessoas constituirão uma base fundamental descobrirem e ressignificarem novos sentimentos, valores,
para o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. ideias, costumes e papéis sociais. A identidade é um conceito
Aos três anos, a criança já possui um repertório de de distinção, a começar pelo nome. A autonomia é a capacidade
conhecimentos construídos, a partir de suas experiências. Há de se conduzir e tomar decisões por si próprias, levando em
um desenvolvimento claro das habilidades sociais ampliando conta regras e valores. Identidade e autonomia é resultado da
os vínculos afetivos e sua capacidade de participação social. construção do próprio cotidiano em sala de educação infantil,
A criança dos três aos cinco anos de idade apresenta seu onde a criança necessita estar conhecendo, desenvolvendo e
desenvolvimento de forma menos acelerada, caracterizado utilizando seus recursos pessoais e naturais, para fazer frente
pelo progresso advindo das fases anteriores. às diferentes situações que surgirão.
O desenvolvimento da capacidade de simbolização
progride através da linguagem, da imaginação, e da imitação. - Conhecimento de Mundo: Refere-se à construção das
Ela faz uso do repertório cada vez mais rico de símbolos, diferentes linguagens pelas crianças e as relações que
signos, imagens e conceitos para mediar à relação com a estabelecem com os objetos de conhecimento. É importante
realidade e o mundo social. que tenham contato com diferentes áreas e sejam instigadas
A linguagem é bem desenvolvida, devido a diversificações por questões significativas, para observá-los, explicá-los se
de situações, pois amplia a expressão verbal, tendo quase que tenham várias maneiras de compreendê-los e representá-los.
um domínio completo de todos os sons da língua por volta dos As diferentes linguagens propiciam a interação com o outro,
cinco anos de idade. emoções e a mediação com a cultura.
Centrado nos eixos Formação Pessoal e Social e - Movimento: As crianças se movimentam desde que
Conhecimento do Mundo, o ensino e a aprendizagem são nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio
atividades conjuntas, compartilhadas, que asseguram à corpo. Ao movimentar-se, expressam sentimentos, emoções e
criança ir conhecendo e contribuindo, progressivamente com pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo
o mundo que a envolve, com os objetos, pessoas, sistemas de de gestos e posturas corporais. O movimento humano,
comunicação, valores, além de ir conhecendo a si mesma. portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no
Com o fazer lúdico, pensa reflete e organiza-se para espaço.
aprender em dado momento. Estas vivências são As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam
fundamentais para o processo de alfabetização e letramento. das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são
Devem-se considerar os conhecimentos que a criança já movimentos cujos significados têm sido construídos em
possui e suas várias experiências culturais para efetuar a ação função das diferentes necessidades, interesses e
pedagógica compartilhando, auxiliando a enfrentar novas possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes
perspectivas, mas do modo como à criança vê, apenas culturas. Diferentes manifestações dessa linguagem foram
orientando e praticando até encontrar o fortalecimento nas surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas
relações pessoais, sociais e de conhecimento geral. esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos,
Propor para as crianças um mundo de interação postura e expressões corporais com intencionalidade. Ao
contribuirá para um desenvolvimento emocional, social, brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças
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compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem emergentes e que reclamam ações sobre questões, como:
ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira100. diversidade cultural e biodiversidade, diversidade em relação
Desta forma, ao pensar em educação infantil devemos à religião, orientação sexual e configurações familiares,
pensar como sendo eixo integrador do Currículo da Educação diversidade étnico-racial, inclusão das crianças com
Infantil a junção de elementos e práticas das atividades deficiência, atendimento à heterogeneidade e à singularidade,
desenvolvidas com bebês e também com crianças pré- direito às aprendizagens, infâncias vividas ou roubadas,
escolares, ou seja, educar e cuidar, brincar e interagir. convivências entre as gerações etc.
Tanto no atendimento da creche quanto da pré-escola, a Nesse sentido, é importante a instituição, em seus planos e
elaboração da proposta curricular precisa ser pensada de ações:
acordo com a realidade da instituição: características, - contemplar as particularidades dos bebês e das crianças
identidade institucional, escolhas coletivas e particularidades pequenas, as condições específicas das crianças com
pedagógicas, de modo a estabelecer a integração dessas deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
experiências. Para tanto, é necessário que as instituições, em habilidades/superdotação e a diversidade social, religiosa,
seu projeto político-pedagógico e em suas práticas cotidianas cultural, étnico-racial e linguística das crianças, famílias e
intencionalmente elaboradas: comunidade regional;
I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio - considerar que as crianças do campo possuem seus
da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, singulares encantos, modos de ser, de brincar e de se
corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão relacionar. As crianças do campo têm rotinas, experiências
da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da estéticas e éticas, ambientais, políticas, sensoriais, afetivas e
criança; sociais próprias. O contexto rural marca possibilidades
II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes distintas de viver a infância;
linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros - promover o rompimento das relações de dominação de
e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e diferentes naturezas, tais como: a dominação etária (dos mais
musical; velhos sobre os mais novos ou o contrário); a socioeconômica
III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de (dos mais ricos sobre os mais pobres); a étnico-racial (dos que
apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e se dizem brancos sobre os negros); de gênero (dos homens
convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e sobre as mulheres); a regional (dos moradores de certa área
escritos; sobre os que nela não habitam); a linguística (dos que
IV - recriem relações quantitativas, medidas, formas e dominam uma forma de falar e escrever que julgam a correta
orientações de espaço temporais em contextos significativos sobre os que se utilizam de outras formas de linguagem
para as crianças; verbal); a religiosa (dos que professam um credo sobre os que
V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas não o fazem);
atividades individuais e coletivas; - cumprir os artigos 6º e 7º das DCNEIs, o que significa
VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas compreender os seres humanos como parte de uma rede de
para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de relações. Relações que possibilitam a preservação da Terra, os
cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar; processos de autorregulação, novos modos de sociabilidade e
VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras de subjetividade voltados para as interações solidárias entre
crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de pessoas, povos, outras espécies;
referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da - compreender que a sustentabilidade depende de novos
diversidade; valores, pautados numa ética em que os humanos se
VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o reconheçam como iguais e valorizem a flora, fauna, paisagens,
encantamento, o questionamento, a indagação e o ecossistemas;
conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e - prover condições para a construção de uma cidadania
social, ao tempo e à natureza; ativa, o que significa a não conformidade com a estrutura
IX - promovam o relacionamento e a interação das crianças social e o sim à luta no sentido de contribuir para a mudança
com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e social. A instituição educacional pode estabelecer-se como
gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura; lugar de direitos e deveres, ainda que localizada em contextos
X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o excludentes e violentos. Mesmo que sejam considerados os
conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida múltiplos fatores que levam a certas limitações, a cidadania
na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; ativa pode florescer na instituição de Educação Infantil, espaço
XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças de contraposição à exclusão social e de produção de uma
das manifestações e tradições culturais brasileiras; sociedade de afirmação de direitos;
XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores, - reconhecer a criança como sujeito de direitos e dizer que
computadores, máquinas fotográficas e outros recursos ela é cidadã desde já e não apenas no futuro. Trabalhar a
tecnológicos e midiáticos; cidadania na infância é colaborar com o presente e o futuro de
XIII - promovam práticas nas quais a criança perceba suas todos, inclusive por meio da promoção da participação ativa
necessidades em oposição às vontades de consumo. da criança, ouvindo sua voz e mostrando-lhe seus direitos e
O eixo integrador específico da Educação Infantil - Educar responsabilidades;
e cuidar, brincar e interagir - precisa ser considerado - exercer sua função social de ser o lócus privilegiado do
juntamente com os eixos gerais do Currículo da Educação saber sistematizado ao materializar o direito ao
Básica: Educação para a Diversidade, Cidadania e Educação em conhecimento, como propulsor do desenvolvimento infantil.
e para os Direitos Humanos e Educação para a Esse desenvolvimento demanda e é mediado pelas
Sustentabilidade. aprendizagens. É fruto, portanto, de uma atuação planejada,
Assim sendo, o trabalho pedagógico com a infância implica qualitativa, afetuosa e compromissada dos profissionais de
considerar esses eixos, ensinando a formar opinião, levando educação.
em consideração a base familiar e valores éticos e sociais. O
cotidiano escolar está repleto desses eixos concretos,
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Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a organização curricular, consideram a educação infantil em
Educação Infantil101 instituições criadas em territórios não-urbanos, a importância
O Parecer CNE/CEB nº 20/09 e a Resolução CNE/CEB nº da parceria com as famílias, as experiências que devem ser
05/09, que definem as DCNEIs, fazem, em primeiro lugar, uma concretizadas em práticas cotidianas nas instituições e fazem
clara explicitação da identidade da Educação Infantil, condição recomendações quanto aos processos de avaliação e de
indispensável para o estabelecimento de normativas em transição da criança ao longo de sua trajetória na Educação
relação ao currículo e a outros aspectos envolvidos em uma Básica. Vejamos cada um desses pontos.
proposta pedagógica. Eles apresentam a estrutura legal e
institucional da Educação Infantil - número mínimo de horas Os Objetivos Gerais e a Função Sociopolítica e
de funcionamento, sempre diurno, formação em magistério de Pedagógica das Instituições de Educação Infantil
todos os profissionais que cuidam e educam as crianças, oferta
de vagas próximo à residência das crianças, acompanhamento As novas DCNEIs consideram que a função sociopolítica e
do trabalho pelo órgão de supervisão do sistema, idade de pedagógica das unidades de Educação Infantil inclui
corte para efetivação da matrícula, número mínimo de horas (Resolução CNE/CEB nº 05/09 artigo 7º):
diárias do atendimento - e colocam alguns pontos para sua a. Oferecer condições e recursos para que as crianças
articulação com o Ensino Fundamental. usufruam seus direitos civis, humanos e sociais;
A versão institucional proposta nas Diretrizes se b. Assumir a responsabilidade de compartilhar e
contrapõe a programas alternativos de atendimento complementar a educação e cuidado das crianças com as
englobados na ideia de educação não-formal. Lembra o famílias;
Parecer CNE/CEB nº 20/09 que nem toda Política para a c. Possibilitar tanto a convivência entre crianças e entre
Infância, que requer esforços multisetoriais integrados, é uma adultos e crianças quanto à ampliação de saberes e
Política de Educação Infantil. Com isso, outras medidas de conhecimentos de diferentes naturezas;
proteção à infância devem ser buscadas fora do sistema de d. Promover a igualdade de oportunidades educacionais
ensino, embora articuladas com ele, sempre que necessário. entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao
Em segundo lugar, as Diretrizes expõem o que deve ser acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da
considerado como função sociopolítica e pedagógica das infância;
instituições de Educação Infantil. Tais pontos refletem grande e. Construir novas formas de sociabilidade e de subjetividade
parte das discussões na área e apontam o norte que se deseja comprometidas com a ludicidade, a democracia, a
para o trabalho com as crianças. sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações de
A questão pedagógica é tratada pensando que, se a dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero,
Educação Infantil é parte integrante da Educação Básica, como regional, linguística e religiosa.
diz a Lei nº 9.394/96 em seu artigo 22, cujas finalidades são
desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum Nessa definição, foram integrados compromissos
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe construídos na área em diferentes momentos históricos, mas
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores, articulados em uma visão inovadora e instigante do processo
essas finalidades devem ser adequadamente interpretadas em educacional. Não só a questão da família foi contemplada,
relação às crianças pequenas. Nessa interpretação, as formas como também a questão da criança como um sujeito de
como as crianças, nesse momento de suas vidas, vivenciam o direitos a serem garantidos, incluindo o direito, desde o
mundo, constroem conhecimentos, expressam-se, interagem e nascimento, a uma educação de qualidade no lar e em
manifestam desejos e curiosidades de modo bastante instituições escolares.
peculiares, devem servir de referência e de fonte de decisões O foco do trabalho institucional vai em direção à ampliação
em relação aos fins educacionais, aos métodos de trabalho, à de conhecimentos e saberes de modo a promover igualdade de
gestão das unidades e à relação com as famílias. oportunidades educacionais às crianças de diferentes classes
Por outro lado, as instituições de Educação Infantil, assim sociais e ao compromisso de que a sociabilidade
como todas as demais instituições nacionais, devem assumir cotidianamente proporcionada às crianças lhes possibilite
responsabilidades na construção de uma sociedade livre, justa, perceber-se como sujeitos marcados pelas ideias de
solidária e que preserve o meio ambiente, como parte do democracia e de justiça social, e apropriar-se de atitudes de
projeto de sociedade democrática desenhado na Constituição respeito às demais pessoas, lutando contra qualquer forma de
Federal de 1988 (artigo 3, inciso I). Elas devem ainda trabalhar exclusão social.
pela redução das desigualdades sociais e regionais e a A colocação dessa tarefa requer uma forma de organização
promoção do bem de todos (artigo 3 incisos II e IV da dos ambientes de aprendizagem que, na perspectiva do
Constituição Federal). Contudo, esses compromissos a serem sistema de ensino, é orientada pelo currículo.
perseguidos pelos sistemas de ensino e pelos professores
também na Educação Infantil enfrentam uma série de desafios, Currículo e Proposta Pedagógica na Educação Infantil
como a desigualdade de acesso às creches e pré-escolas entre
as crianças brancas e negras, ricas e pobres, moradoras do O debate sobre o currículo na Educação Infantil tem gerado
meio urbano e rural, das regiões sul/sudeste e norte/nordeste. muitas controvérsias entre os professores de creches e pré-
Também as condições desiguais da qualidade da educação escolas e outros educadores e profissionais afins. Além de tal
oferecida às crianças em creches e pré-escolas impedem que debate incluir diferentes visões de criança, de família, e de
os direitos constitucionais das crianças sejam garantidos a funções da creche e da pré-escola, para muitos educadores e
todas elas. Todos os esforços então se voltam para uma ação especialistas que trabalham na área, a Educação Infantil não
coletiva de superação dessas desigualdades. deveria envolver-se com a questão de currículo, termo em
Em terceiro lugar, as Diretrizes partem de uma definição geral associado à escolarização tal como vivida no ensino
de currículo e apresentam princípios básicos orientadores de fundamental e médio e associado à ideia de disciplinas, de
um trabalho pedagógico comprometido com a qualidade e a matérias escolares.
efetivação de oportunidades de desenvolvimento para todas Receosos de importar para a Educação Infantil uma
as crianças. Elas explicitam os objetivos e condições para a estrutura e uma organização que têm sido hoje muito
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criticadas, preferem usar a expressão ‘projeto pedagógico’ Organização do trabalho pedagógico - materiais,
para se referir à orientação dada ao trabalho com as crianças ambientes, tempos
em creches ou pré-escolas. Ocorre que hoje todos os níveis da Para mediar as aprendizagens promotoras do
Escola Básica estão repensando sua forma de trabalhar o desenvolvimento infantil, é preciso tencionar uma ação
processo de ensino- aprendizagem e rediscutindo suas educativa devidamente planejada, efetiva e avaliada. Por isto,
concepções de currículo. Com isso, as críticas em relação ao é imprescindível pensar o tempo, os ambientes e os materiais.
modo como a concepção de currículo vinha sendo trabalhada Ressalte-se, entretanto, que o que determina as aprendizagens
nas escolas não ficam restritas aos educadores da Educação não são os elementos em si, mas as relações propostas e
Infantil, mas são assumidas por vários setores que trabalham estabelecidas com eles.
no Ensino Fundamental e Médio, etapas que, inclusive, estão
também revendo suas diretrizes curriculares. Materiais: os materiais compõem as situações de
Por sua vez, nos últimos 20 anos, foram se acumulando aprendizagem quando usados de maneira dinâmica,
uma série de conhecimentos sobre as formas de organização apropriada à faixa etária e aos objetivos da intervenção
do cotidiano das unidades de Educação Infantil de modo a pedagógica. Assim, materiais são objetos, livros, impressos de
promover o desenvolvimento das crianças. Finalmente, a modo geral, brinquedos, jogos, papéis, tecidos, fantasias,
integração das creches e pré-escolas no sistema da educação tapetes, almofadas, massas de modelar, tintas, madeiras,
formal impõe à Educação Infantil trabalhar com o conceito de gravetos, figuras, ferramentas, etc. Podem ser recicláveis,
currículo, articulando-o com o de projeto pedagógico. industrializados, artesanais, de uso individual e ou coletivo,
O projeto pedagógico é o plano orientador das ações da sonoros, visuais, riscantes e/ou manipuláveis, de diferentes
instituição. Ele define as metas que se pretende para o tamanhos, cores, pesos e texturas, com diferentes
desenvolvimento dos meninos e meninas que nela são propriedades. Entretanto, a intencionalidade pedagógica não
educados e cuidados. É um instrumento político por ampliar pode ignorar ou ir além da capacidade da criança de tudo
possibilidades e garantir determinadas aprendizagens transformar, de simbolizar, de desprender-se do mundo dos
consideradas valiosas em certo momento histórico. adultos e ver possibilidades nos restos, nos destroços, no que
Para alcançar as metas propostas em seu projeto é desprezado. Significa dizer que as crianças produzem cultura
pedagógico, a instituição de Educação Infantil organiza seu e são produto delas, de modo que a interpretação e releitura
currículo. Este, nas DCNEIs, é entendido como “as práticas que a criança faz do mundo e das coisas que estão a sua volta
educacionais organizadas em torno do conhecimento e em reverte-se em possibilidades de novos conhecimentos e
meio às relações sociais que se travam nos espaços aprendizagens. Um objeto, um livro, um brinquedo podem
institucionais, e que afetam a construção das identidades das oportunizar diferentes ações, permitir a exploração e
crianças”. O currículo busca articular as experiências e os propiciar interações entre as crianças e os adultos. Para tanto,
saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte é fundamental que os materiais:
do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico da -provoquem, desafiem, estimulem a curiosidade, a
sociedade por meio de práticas planejadas e imaginação e a aprendizagem; fiquem ao alcance da criança,
permanentemente avaliadas que estruturam o cotidiano das tanto para serem acessados quanto para serem guardados;
instituições. -estejam disponíveis para o uso frequente e ativo;
Esta definição de currículo foge de versões já superadas de -não tragam danos à saúde infantil;
conceber listas de conteúdos obrigatórios, ou disciplinas -sejam analisados e selecionados em função das
estanques, de pensar que na Educação infantil não há aprendizagens e dos possíveis sentidos que as crianças
necessidade de qualquer planejamento de atividades, de reger possam atribuir-lhes;
as atividades por um calendário voltado a comemorar -estejam adequados às crianças com deficiência visual,
determinadas datas sem avaliar o sentido e o valor formativo auditiva ou física, com transtornos globais, com altas
dessas comemorações, e também da ideia de que o saber do habilidades / superdotação;
senso comum é o que deve ser tratado com crianças pequenas. -contemplem a diversidade social, religiosa, cultural,
A definição de currículo defendida nas Diretrizes põe o étnico-racial e linguística;
foco na ação mediadora da instituição de Educação infantil -possam ser colhidos e explorados em diversos ambientes,
como articuladora das experiências e saberes das crianças e os para além das salas de atividades, mas também em pátios,
conhecimentos que circulam na cultura mais ampla e que parques, quadras, jardins, praças, hortas etc;
despertam o interesse das crianças. Tal definição inaugura -sejam analisados e selecionados em função das
então um importante período na área, que pode de modo aprendizagens e de acordo com a idade.
inovador avaliar e aperfeiçoar as práticas vividas pelas
crianças nas unidades de Educação Infantil. Ambientes: quando planejamos, algumas questões nos
O cotidiano dessas unidades, como contextos de vivência, norteiam: que tipos de atividades serão selecionadas, em que
aprendizagem e desenvolvimento, requer a organização de momentos serão feitas e em que local é mais adequado realizá-
diversos aspectos: os tempos de realização das atividades las? A depender do espaço físico, podem ser mais qualitativas
(ocasião, frequência, duração), os espaços em que essas as aquisições sensoriais e cognitivas das crianças. O espaço é
atividades transcorrem (o que inclui a estruturação dos elemento fundamental para o desenvolvimento infantil. E qual
espaços internos, externos, de modo a favorecer as interações a relação entre espaço e ambiente? Espaço e ambientes são
infantis na exploração que fazem do mundo), os materiais elementos indissociáveis, ou seja, um não se constitui sem o
disponíveis e, em especial, as maneiras de o professor exercer outro. Dessa forma, apreende-se do termo espaço como as
seu papel (organizando o ambiente, ouvindo as crianças, possibilidades de abstração feita pelo ser humano, sobre um
respondendo-lhes de determinada maneira, oferecendo-lhes determinado lugar, de modo a torná-lo palpável. Já ambiente é
materiais, sugestões, apoio emocional, ou promovendo constituído por inúmeros significados, que são ressignificados
condições para a ocorrência de valiosas interações e pelo sujeito de acordo com suas experiências, vivências e
brincadeiras criadas pelas crianças etc.). Tal organização culturas. Os ambientes da Educação Infantil têm como centro
necessita seguir alguns princípios e condições apresentados a criança e precisam ser organizados em função de suas
pelas Diretrizes. necessidades e interesses, inclusive com mobiliário adequado.
É interessante que permitam explorações individuais, grupais,
simultâneas, livres e/ou dirigidas pelos profissionais. Para
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tanto, é fundamental que os ambientes sejam organizados para Existem muitas possibilidades de organização do trabalho
favorecer: pedagógico ao longo da jornada diária, semanal, bimestral.
-construção da identidade da criança como agente que Elegemos quatro situações didáticas que podem
integra e transforma o espaço; integrar/articular as linguagens não somente em cada turma,
-desenvolvimento da independência. Por exemplo: tomar mas também no coletivo escolar. Em qualquer uma das
água sozinha, alcançar o interruptor de luz, ter acesso à situações didáticas, cabe levar em consideração os objetivos,
saboneteira e toalhas, circular e orientar-se com segurança conteúdos, materiais, espaços / ambientes, tempos, interesses
pela instituição; e características das crianças. Ou seja, ter sempre em mente:
-amplitude e segurança para que a criança explore seus onde está a criança nas situações de aprendizagem propostas
movimentos corporais (arrastar-se, correr, pular, puxar pelos professores?
objetos, etc.);
-possibilidades estimuladoras dos sentidos das crianças, Atividades permanentes: ocorrem com regularidade
em relação a odores, iluminação, sons, sensação tátil e visual, (diária, semanal, quinzenal, mensal) e têm a função de
entre outros; familiarizar as crianças com determinadas experiências de
-observância da organização do espaço para que seja um aprendizagem. Asseguram o contato da criança com rotinas
ambiente estimulante, agradável, seguro, funcional e propício básicas para a aquisição de certas aprendizagens, visto que a
à faixa etária; constância possibilita a construção do conhecimento. É
-garantia da acessibilidade a crianças e adultos com visão importante planejar e avaliar com a criança e todos os
ou locomoção limitada; envolvidos no processo como o trabalho foi realizado.
-organização que evite, ao máximo, acidentes e conflitos; Sequência de atividades: trata-se de um conjunto de
-renovação periódica mediante novos arranjos no propostas que geralmente obedecem a uma ordem crescente
mobiliário, materiais e elementos decorativos. de complexidade. O objetivo é trabalhar experiências mais
específicas, aprendizagens que requerem aprimoramento com
Tempo: as aprendizagens e o desenvolvimento das a experiência. Os planejamentos diários, geralmente, seguem
crianças ocorrem dentro de um determinado tempo. Esse essa organização didática.
tempo é articulado. Ou seja, o tempo cronológico - aquele do Atividades ocasionais: permitem trabalhar com as
calendário - articula-se com o tempo histórico - aquele crianças, em algumas oportunidades, um conteúdo
construído nas relações socioculturais e históricas, - visto que considerado valioso, embora sem correspondência com o que
as crianças carregam e vivenciam as marcas de sua época e de está planejado. Trabalhada de maneira significativa, a
sua comunidade. E ainda podemos falar do tempo vivido, organização de uma situação independente se justifica, a
incorporado por nós como instituição social e que regula nossa exemplo de passeios, visitas pedagógicas, comemorações,
vida, segundo Norbert Elias, quando a criança tem a entre outras.
oportunidade de participar, no cotidiano, de situações que Projetos didáticos: os objetivos são claros, o período de
lidam com duração, periodicidade e sequência, ela consegue realização é determinado, há divisão de tarefas e uma
antecipar fatos, fazer planos e construir sua noção de tempo. É avaliação final em função do pretendido. Suas principais
importante que o planejamento e as práticas pedagógicas características são objetivos mais abrangentes e a existência
levem em conta a necessidade de: de um produto final.
-diminuir o tempo de espera na passagem de uma
atividade para outra; Inserção / Acolhimento / Adaptação
-evitar esperas longas e ociosas, especialmente ao final da É comum falarmos em adaptação na Educação Infantil. E,
jornada diária; neste caso, muitas vezes a adaptação vincula-se às
-flexibilizar o período de realização da atividade, ao experiências de separação. Daí a importância de apreciarmos
considerar os ritmos e interesses de cada um e/ou dos grupos; a adaptação como item a ser contemplado no planejamento
-distribuir as atividades de acordo com o interesse e as curricular. Mas por que realizar adaptação na Educação
condições de realização individual e coletiva; Infantil? Na verdade, todos os seres humanos vivenciam
-permitir a vivência da repetição do conhecido e o contato processos de adaptação, de crescimento, de mudança... O
com a novidade; processo de adaptação inicia já com o nascimento da criança,
-alternar os momentos de atividades de higiene, nos acompanha no decorrer de toda a vida e ressurge a cada
alimentação, repouso; atividades coletivas (entrada, saída, nova situação que vivenciamos.
pátio, celebrações, festas); atividades diversificadas Fala-se em adaptação todas as vezes que enfrentamos uma
(brincadeiras e explorações individuais ou em grupo); situação nova, ou readaptação quando entramos novamente
atividades coordenadas pelo professor (roda de conversa, em contato com algo já conhecido, mas por algum tempo
hora da história, passeios, visitas, oficinas etc); atividades de distante de nosso convívio diário. Como na Educação Infantil
livre escolha da criança, ainda que supervisionadas pelos lidamos com bebês e crianças pequenas, em processo de
profissionais. passagem da casa para o mundo mais amplo, a adaptação
Aqui, cabe uma breve consideração sobre as possíveis ganha ainda mais sentido. Ressalte-se que esse período pode
denominações que um currículo pode comportar em relação à ser enfocado de diferentes pontos de vista:
organização do trabalho pedagógico: atividades, temas -o da criança, pelo significado e emoção despertados pela
geradores, projetos, vivências, entre outras. É plausível insistir passagem de um espaço seguro e conhecido para outro em que
que o importante é que essas estratégias adquiram sentido é necessário um investimento afetivo e intelectual para poder
para a criança e não sirvam apenas para mantê-la ocupada, estar bem;
controlada, quieta, soterrada por uma avalanche de tarefas. -o das famílias, que compartilham a educação da criança
Não interessa banir essas denominações (e seus usos) de com a creche/pré-escola;
nosso vocabulário e cotidiano. Interessa fazer com que as -o do professor, que recebe uma criança desconhecida e
atividades, temas geradores, projetos, vivências e outras ainda tem as outras do grupo para acolher;
práticas sejam res-significadas, sejam objetos de reflexão, -o das outras crianças, que estão chegando ou que fazem
colocando as crianças em “situação de aprendizagem”. parte do grupo e precisam encarar o fato de que há mais um
Interessa, portanto, dialogar historicamente com essas com quem repartir, mas também com quem somar;
práticas, reexaminá-las e restituí-las na organização do
trabalho pedagógico.
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-o da instituição, nos aspectos organizacional e de gestão, ponderados pela instituição no período de uma adaptação
que precisam prever espaço físico, materiais, tempo e recursos acolhedora:
humanos capacitados para essa ação. -planejamento coletivo;
-envolvimento de todos os profissionais;
Não há unanimidade em relação ao termo utilizado para -participação das famílias e da comunidade;
nomear o período de ingresso da criança na instituição. Podem -atendimento à diversidade;
ser usados os termos adaptação, acolhimento e inserção. Como -consideração dos sentimentos das crianças e dos adultos.
se sabe, a escolha do termo revela concepções sobre as Mas não nos esqueçamos: a primeira regra é ter os braços
crianças e o modo de condução do trabalho dos profissionais. abertos.
Recorrendo à acepção da palavra adaptação, pode-se
inferir que é a ação ou efeito de adaptar-se ou tornar-se apto a Rotina
fazer algo que comumente não estava em seu contexto sócio É praticamente impossível a reflexão sobre a organização
histórico. É a capacidade do sujeito em acomodar-se, do tempo na Educação Infantil sem incluir a rotina
apropriar-se, ajustar-se às condições do meio ambiente. Por pedagógica. Entretanto, é importante enfatizar que a rotina é
inserção, é possível depreender que é o ato de inserir, apenas um dos elementos que compõem o cotidiano, como
introduzir, incluir ou integrar. Em síntese, é a capacidade do veremos a seguir.
sujeito de fazer parte de um contexto. Comumente, falamos em Geralmente, a rotina abrange recepção, roda de
adaptação. Mesmo levando em conta a questão conceitual conversa, calendário e clima, alimentação, higiene,
acima, usaremos a palavra adaptação na perspectiva do atividades de pintura e desenho, descanso, brincadeira
acolhimento. livre ou dirigida, narração de histórias, entre outras
Assim, a adaptação deve ser um período em que ações. Ao planejar a rotina de sua sala de aula, o professor
linguagens, sentimentos, emoções estejam a serviço da deve considerar os elementos: materiais, espaço e tempo,
liberdade, da autonomia e do prazer e não apenas para o bem como os sujeitos que estarão envolvidos nas
cumprimento de ordens com o objetivo de disciplinar os atividades, pois esta deve adequar-se à realidade das
corpos infantis para o modelo escolar tradicional. Para Ortiz crianças.
podemos falar em uma adaptação que supere apenas um Segundo Barbosa a rotina é “a espinha dorsal, a parte fixa
momento burocrático e vivenciar a adaptação em uma do cotidiano”, um artefato cultural criado para organizar a
perspectiva de acolhida. Todos, crianças e adultos, são cotidianidade. A partir dessa premissa, é importante definir
sensíveis ao acolhimento. Afinal, quem não gosta de ser bem rotina e cotidiano:
recebido? A qualidade do acolhimento garante o êxito da
adaptação. E, para que isso ocorra, fundamental se faz Rotina: É uma categoria pedagógica que os responsáveis
empreender esforços no sentido de compreender que o pela educação infantil estruturaram para, a partir dela,
processo de adaptação exigirá tanto da criança que busca desenvolver o trabalho cotidiano nas instituições de educação
adequar-se a essa nova realidade social e de seus pais, quanto infantil. [...] A importância das rotinas na educação infantil
do educador e da instituição que precisa preparar-se para provêm da possibilidade de constituir uma visão própria como
recebê-la. concretização paradigmática de uma concepção de educação e
Em suma, o estabelecimento de vínculos positivos de cuidado.
depende fundamentalmente da forma como a criança e sua Cotidiano: [...] refere-se a um espaço-tempo fundamental
família são acolhidas na escola. Uma adaptação para a vida humana, pois tanto é nele que acontecem as
compromissada com o acolhimento significa abrir-se ao atividades repetitivas, rotineiras, triviais, como também ele é
aconchego, ao bem-estar, ao conforto físico e emocional, ao o lócus onde há a possibilidade de encontrar o inesperado,
amparo. onde há margem para a inovação [...].
Aqui e em outros momentos, o ato de educar não se separa
do ato de cuidar. Sendo assim, amplia-se o papel e a José Machado Pais afirma que não se pode reduzir o
responsabilidade da instituição educacional nesse momento. cotidiano ao rotineiro, ao repetitivo e ao a-histórico, pois o
Por isto, a forma como cada instituição efetiva o período de cotidiano é o cruzamento de múltiplas dialéticas entre o
adaptação revela a concepção de educação e de criança que rotineiro e o acontecimento. Bem elaborada, a rotina é o
orientam suas práticas. O planejamento das atividades é caminho para evitar a atividade pela atividade, os rituais
fundamental, para não cair no espontaneísmo e na falta de repetitivos, a reprodução de regras, os fazeres automáticos.
reflexão e para favorecer o dinamismo e as interações. Pensar Para tanto, é fundamental que a rotina seja dinâmica, flexível,
como se dará a chegada das crianças (novas ou não) nos surpreendente. Barbosa aponta que a rotina inflexível e
primeiros dias do calendário escolar, pensar nos tempos, desinteressante pode vir a ser “uma tecnologia de alienação”,
materiais e ambientes, nos profissionais e suas atribuições, nas se não forem levados em consideração o ritmo, a participação,
famílias e suas inseguranças são aspectos importantes para a relação com o mundo, a realização, a fruição, a liberdade, a
assegurar a qualidade da adaptação. Também é bom que as consciência, a imaginação e as diversas formas de
atividades não se distanciem do dia a dia, evitando criar sociabilidade dos sujeitos nela envolvidos. A rotina é uma
expectativas que não se cumprirão. Ortiz reforça a necessidade forma de organizar o coletivo infantil diário e,
de considerar a diversidade nesse processo inicial. Dentro do concomitantemente, espelha o projeto político-pedagógico da
contexto escolar, manifestações, reações, sentimentos podem instituição. A rotina é capaz de apresentar quais as concepções
ser de caráter transitório ou permanente. Respeitar os jeitos de educação, de criança e de infância se materializam no
de ser e estar no mundo e os rituais das crianças ajudam em cotidiano escolar. Com o estabelecimento de objetivos claros e
uma transição suave e confiável. coerentes, a rotina promove aprendizagens significativas,
O acolhimento é um princípio a ser concretizado em várias desenvolve a autonomia e a identidade, propicia o movimento
situações que acontecem com as crianças: nos atrasos, no corporal, a estimulação dos sentidos, a sensação de segurança
retorno após viagem ou doença, em um acidente ou incidente e confiança, o suprimento das necessidades biológicas
durante o ano letivo. Isto porque o acolhimento, para além das (alimentação, higiene e repouso). Isto porque a rotina contém
datas, materializa a humanização da educação. Vale, portanto, elementos que podem (ou não) proporcionar o bem-estar e o
para os primeiros dias e também ao longo do processo desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, biológico.
educativo. Apresentamos alguns dos aspectos a serem De acordo com o Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil, a rotina deve adequar-se às necessidades
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infantis e não o inverso. Ao observar e documentar uma rotina ordenar e impor a sincronia e, ao mesmo tempo, abrir espaço
(diária ou semanal, por exemplo), algumas reflexões emergem: para deixar aparecerem as individualidades, a simultaneidade,
-Como as atividades são distribuídas ao longo do dia? E da a “desordem”.
semana? Desta forma, vivem cotidianamente um dilema, que é o de
-Com que frequência, em que momento e por quanto respeitar e partilhar a individualidade, a heterogeneidade, os
tempo as crianças brincam? diferentes modos de ser criança ou seguir a rotina
-Quanto do dia é dedicado à leitura de histórias, inclusive estabelecida, cuja tendência é a uniformização, a
para os bebês? homogeneidade, a rigidez que por vezes permeia as práticas
-A duração e a regularidade das atividades têm assegurado educativas. Assim, o grande desafio dos profissionais que
a aquisição das aprendizagens planejadas? atuam na Educação Infantil é o de preconizar novas formas de
-A criança passa muito tempo esperando entre uma e outra intervenção, distinta do modelo de educação fundamental e,
atividade? consequentemente, com sentido educativo próprio. Cresce a
-Como é organizado o horário das refeições? Onde são relevância do planejamento cuidadoso, flexível, reflexivo que
feitas? minimiza o perigo da rotina “cair na rotina”, no pior sentido da
-E os momentos dedicados ao cuidado físico, são previstos expressão: ser monótona, impessoal, sem graça, vazia, sem
e efetivados com que frequência e envolvem quais materiais? sentido para as crianças e até para os profissionais. Para tanto,
-Como o horário diário de atividades poderia ser conflito e tensão são elementos que estarão presentes e
aperfeiçoado, em favor de uma melhor aprendizagem? contrapõem-se a uma prática pedagógica idealizada. Como diz
-Há espaço para o imprevisto, o incidental, a imaginação, o a poeta Elisa Lucinda: “O enredo a gente sempre todo dia tece,
fortuito? o destino aí acontece (...)”.
-As crianças são ouvidas e cooperam na seleção e
organização das atividades da rotina? Datas comemorativas
-Como as interações adulto/criança e criança/criança são A exploração das datas, festejos, eventos comemorativos
contempladas na organização dos tempos, materiais e no calendário da Educação Infantil está bastante naturalizada
ambientes? nas instituições da Educação Infantil. Essas datas são
No caso da jornada em tempo integral, no período da geralmente, a “tradição cívica, religiosa ou escolar”.
manhã devem ser incluídos momentos ativos e calmos, dando Entretanto, a tradição não pode obscurecer a necessidade da
prioridade às atividades cognitivas. As crianças, depois de uma reflexão acerca da comemoração de “dias D”. Sousa adverte ser
noite de sono, estão mais descansadas para ampliar sua fundamental que “as escolas, professores e pais tenham muito
capacidade de concentração e interesse em atividades que claro que é preciso priorizar sempre e entender qual o
envolvem a resolução de problemas. É interessante, também, significado do conjunto dessas experiências para a vida das
incluir atividades físicas no período da manhã, observando o crianças - de todas e de cada uma delas. E não me refiro ao
tempo e a intensidade de calor e sol ou frio. Já o período da futuro da criança apenas, mas principalmente ao seu
tarde, em uma jornada de tempo integral, geralmente acaba presente”. Não nos cabe interditar ou eliminar a comemoração
por concentrar atividades como sono ou repouso, refeições, de datas especiais e a realização de festas. No entanto,
banho, ou seja, as práticas sociais. O que não significa que as propomos que, ao destacá-las no calendário escolar, façamos
Interações com a Natureza e a Sociedade, as Linguagens Oral e algumas reflexões. Entre elas:
Escrita, Digital, Matemática, Corporal, Artística e o Cuidado -Por que a instituição acredita ser válida a mobilização
Consigo e com o Outro não estejam presentes por meio de para celebrar este ou aquele dia?
atividades planejadas para surpreender e motivar em uma -Por que é necessário realizar atividades acerca das datas
sequência temporal que corre o risco da monotonia ou da comemorativas, todos os anos, com poucas variações em torno
“linha de montagem”. Nas jornadas de tempo parcial, por do mesmo tema?
serem mais curtas, as práticas sociais aparecem com menor -As atividades relacionadas à temática ampliam o campo
frequência, ainda que também estejam presentes. As de conhecimento das crianças?
Linguagens, as Interações com a Natureza e a Sociedade e o -Foram atividades escolhidas pelo professor, pelo coletivo
Cuidado Consigo e com o Outro são geralmente o foco do da instituição educacional, pela família ou pelas crianças?
trabalho pedagógico. Também é essencial abrir espaço e -Os sentimentos infantis e aprendizagens são levados em
reservar tempo para as brincadeiras, sejam livres, sejam conta?
dirigidas. -O trabalho desenvolvido em torno das datas está
Não se pode ignorar o fato de que muitas das ações da articulado com os objetivos relacionados às aprendizagens?
rotina estão pautadas nas relações de trabalho do mundo -Será que as crianças são submetidas, ao longo dos anos
adulto. Os horários de lanche, almoço, limpeza das salas, escolares, às mesmas atividades, ações, explicações?
funcionamento da cozinha, as atividades das crianças estão -Consideramos as idades das crianças, seus interesses e
sintonizadas de acordo com a produtividade, a organização e a capacidades ao elegermos as datas comemorativas?
eficácia que estão implicadas em uma organização capitalista. -Fazemos diferentes abordagens para diferentes faixas
Por vezes, as crianças querem ou propõem outros elementos etárias?
que transgridem as formalidades da rotina, das jornadas -Interrompemos trabalhos em andamento para incluir
integrais ou parciais, dos momentos instituídos pelos datas comemorativas?
profissionais, sejam no sono, na alimentação, na higiene, na -Quais são os critérios para a escolha das datas? Algumas
“hora da atividade”, nas brincadeiras, entre outros. são mais enfatizadas que outras? Por quê?
A partir da observação, é possível detectar como as -Os conteúdos e as atividades são problematizados pelos
crianças vivem o cotidiano da instituição. Esses sinais das adultos e crianças?
crianças ajudam a apontar possibilidades que não se limitam -Expomos as crianças, ainda que não intencionalmente, à
às rotinas formalizadas e dão subsídios para trazer à tona a “indústria das festas”?
valorização da infância em suas relações e práticas. Os -Incentivamos, ainda que não intencionalmente, a cultura
profissionais, em muitos momentos, percebem no contato do consumo?
diário com as crianças que entre elas coexistem necessidades -Como são tratados os aspectos culturais destas datas? Sob
e ritmos diferentes. Mostram-se preocupados em não qual enfoque? Com qual aprofundamento?
conseguir atender essa diversidade para que as crianças -Quais valores, conceitos, ideologias atravessam essas
possam vivenciá-la. Oscilam entre cumprir a tarefa que é celebrações?
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Coletivamente, promover a crítica e a reflexão em torno A fim de garantir às crianças o direito de viver a infância e
das datas comemorativas auxilia na problematização de desenvolverem-se; as escolas de educação infantil devem
experiências curriculares que, em um primeiro momento, proporcionar situações agradáveis, estimulantes e que
podem parecer “inquestionáveis”. O que importa é tornar ampliem as possibilidades infantis de cuidar de si e de outrem,
datas e festas significativas e lúdicas para a criança, de se expressar, comunicar e criar, de organizar pensamentos
priorizando-a como centro do planejamento curricular, suas e ideias, de conviver, brincar e trabalhar em grupo, de ter
aprendizagens e seu desenvolvimento, sua cidadania. iniciativa e buscar soluções para os problemas e conflitos que
Retomando: ao organizar tempo, ambientes e materiais, o se apresentam às mais diferentes idades, desde muito cedo.
profissional deve ter em mente a criança concreta. O O ambiente deve possibilitar uma variedade de
planejamento curricular deve considerar a riqueza e a experiências para exploração ativa e compartilhada por
complexidade da primeira etapa da Educação Básica. crianças e professores, que constroem significações nos
O campo de aprendizagens que as crianças podem realizar diálogos que estabelecem.
na Educação Infantil é muito grande. As situações cotidianas Sendo assim, a organização curricular das instituições de
criadas nas creches e pré-escolas podem ampliar as Educação Infantil deve considerar alguns desses pontos para
possibilidades das crianças viverem a infância e aprender a que garanta a eficácia do trabalho. Segundo as Diretrizes, essa
conviver, brincar e desenvolver projetos em grupo, expressar- organização deve assegurar a educação de modo integral,
se, comunicar-se, criar e reconhecer novas linguagens, ouvir e considerando o cuidado como parte integrante do processo
recontar histórias lidas, ter iniciativa para escolher uma educativo, combater o racismo e as discriminações de gênero,
atividade, buscar soluções para problemas e conflitos, ouvir socioeconômicas, étnico-raciais e religiosas; conhecer as
poemas, conversar sobre o crescimento de algumas plantas culturas plurais que constituem o espaço da creche e da pré-
que são por elas cuidadas, colecionar objetos, participar de escola, a riqueza das contribuições familiares e da
brincadeiras de roda, brincar de faz de conta, de casinha ou de comunidade, suas crenças e manifestações, e fortalecer formas
ir à venda, calcular quantas balas há em uma vasilha para de atendimento articuladas aos saberes e às especificidades
distribuí-las pelas crianças presentes, aprender a arremessar étnicas, linguísticas, culturais e religiosas de cada comunidade;
uma bola em um cesto, cuidar de sua higiene e de sua dar atenção cuidadosa e exigente às possíveis formas de
organização pessoal, cuidar dos colegas que necessitam de violação da dignidade da criança e cumprir o dever do Estado
ajuda e do ambiente, compreender suas emoções e sua forma com a garantia de uma experiência educativa com qualidade a
de reagir às situações, construir as primeiras hipóteses, por todas as crianças na Educação Infantil.
exemplo, sobre o uso da linguagem escrita, e formular um Com base nessas condições, as DCNEIs apontam que as
sentido de si mesmas (OLIVEIRA). O que caracteriza uma instituições de Educação Infantil, na organização de sua
instituição de Educação Infantil, que se diferencia de outros de proposta pedagógica e curricular, necessitam:
locais de convivências, sejam públicos ou privados, é -garantir espaços e tempos para participação, o diálogo e a
justamente a intencionalidade do projeto educativo, a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a valorização das
especificidade da escola como agência que promove as diferentes formas em que elas se organizam;
aprendizagens. -trabalhar com os saberes que as crianças vão construindo
ao mesmo tempo em que se garante a apropriação ou
Dica: Sempre devemos considerar, na montagem das construção por elas de novos conhecimentos;
salas de Educação Infantil, os diferentes conhecimentos e -considerar a brincadeira como a atividade fundamental
linguagens que compõem o currículo, entre eles a leitura, nessa fase do desenvolvimento e criar condições para que as
escrita matemática, artes, música, ciências sociais e crianças brinquem diariamente;
naturais, corpo e movimento. Ter material adequado, -propiciar experiências promotoras de aprendizagem e
intencionalmente selecionado para as atividades contribui consequente desenvolvimento das crianças em uma
significativamente para o aprendizado. É Importante frequência regular;
também ter os nomes das crianças em destaque como na -selecionar aprendizagens a serem promovidas com as
latinha de lápis de cor ou giz de cera assim como o varal de crianças, não as restringindo a tópicos tradicionalmente
alfabeto, a tabela numérica e o calendário e sempre, ao valorizados pelos professores, mas ampliando-as na direção
longo do ano, utilizar os materiais produzidos pelas do aprendizado delas para assumir o cuidado pessoal, fazer
próprias crianças para colorir e significar o espaço da sala amigos, e conhecer suas próprias preferências e
de aula. características;
-organizar os espaços, tempos, materiais e as interações
Subsídios para a elaboração do currículo na educação nas atividades realizadas para que as crianças possam
infantil expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade
e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho, na dança,
Para que se possa cuidar e ao mesmo tempo educar e em suas primeiras tentativas de escrita;
crianças através do trabalho pedagógico organizado em -Considerar, no planejamento do currículo, as
creches e pré-escola é necessário criar um ambiente que especificidades e os interesses singulares e coletivos dos bebês
transmita segurança, e no qual a criança se sinta segura, e das crianças das demais faixas etárias, vendo a criança em
satisfeita em suas necessidades, acolhida da forma como é, cada momento como uma pessoa inteira na qual os aspectos
onde ela consiga se relacionar de forma adequada com suas motores, afetivos, cognitivos e linguísticos integram-se,
emoções e seus medos, sua raiva, seus ciúmes, sua apatia ou embora em permanente mudança;
hiperatividade, e possa construir hipóteses sobre o mundo e -abolir todos os procedimentos que não reconheçam a
elaborar sua Identidade. atividade criadora e o protagonismo da criança pequena e que
A meta do trabalho pedagógico nas instituições de promovem atividades mecânicas e não significativas para as
Educação infantil é apoiar as crianças, desde cedo e ao longo crianças;
de todas as suas experiências cotidianas, no estabelecimento -oferecer oportunidade para que a criança, no processo de
de uma relação positiva com a instituição educacional, no elaborar sentidos pessoais, se aproprie de elementos
fortalecimento de sua autoestima, interesse e curiosidade pelo significativos de sua cultura não como verdades absolutas,
conhecimento do mundo, na familiaridade com diferentes mas como elaborações dinâmicas e provisórias;
linguagens, e na aceitação e acolhimento das diferenças entre -criar condições para que as crianças participem de
as pessoas. diversas formas de agrupamento (grupos de mesma idade e
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grupos de diferentes idades), formados com base em critérios -garantir-lhes a acessibilidade de espaços, materiais,
estritamente pedagógicos, respeitando o desenvolvimento objetos e brinquedos, procedimentos e formas de
físico, social e linguístico de cada criança; comunicação a suas especificidades e singularidades;
-possibilitar oportunidades para a criança fazer -estruturar os ambientes de aprendizagem de modo a
deslocamentos e movimentos amplos nos espaços internos e proporcionar-lhes condições para participar de todas as
externos às salas de referência das turmas e à instituição, e propostas com as demais crianças;
para envolver-se em exploração e brincadeiras; -garantir-lhes condições para interagir com os
-oferecer objetos e materiais diversificados às crianças, companheiros e com o professor;
que contemplem as particularidades dos bebês e das crianças -preparar cuidadosamente atividades que tenham uma
maiores, as condições específicas das crianças com deficiência, função social imediata e clara para elas;
transtornos globais do desenvolvimento e altas -organizar atividades diversificadas em sequências que
habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, culturais, lhes possibilitem a retomada de passos já dados;
étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias e -preparar o espaço físico de modo que ele seja funcional e
comunidade regional; possibilite locomoções e explorações;
-organizar oportunidades para as crianças brincarem em -cuidar para que elas possam ser ajudadas da forma mais
pátios, quintais, praças, bosques, jardins, praias, e viverem conveniente no aprendizado de cuidar de si, o que inclui a
experiências de semear, plantar e colher os frutos da terra, aquisição de autonomia e o aprendizado de formas de
permitindo-lhes construir uma relação de identidade, assegurar sua segurança pessoal;
reverência e respeito para com a natureza; -estabelecer rotinas diárias e regras claras para melhor
-possibilitar o acesso das crianças a espaços culturais orientá-las;
diversificados e a práticas culturais da comunidade, tais como -estimular a participação delas em atividades que
apresentações musicais, teatrais, fotográficas e plásticas, e envolvam diferentes linguagens e habilidades, como dança,
visitas a bibliotecas, brinquedotecas, museus, monumentos, canto, trabalhos manuais, desenho etc., e promover-lhes
equipamentos públicos, parques, jardins. variadas formas de contato com o meio externo;
Um tópico já citado anteriormente mas que deve ser -dar-lhes oportunidade de ter condições instrucionais
relembrado aqui para a elaboração da proposta curricular, diz diversificadas - trabalho em grupo, aprendizado cooperativo,
respeito às experiências de aprendizagem que podem ser uso de tecnologias, diferentes metodologias e diferentes
promovidas. Elas são descritas no artigo 9º da Resolução estilos de aprendizagem;
CNE/CEB nº5/09 como experiências que podem ser -oferecer, sempre que necessário, materiais adaptados
selecionadas para compor a proposta curricular das unidades para elas terem um melhor desempenho;
de Educação infantil. -garantir o tempo que elas necessitam para realizar cada
As experiências apontadas visam promover oportunidade atividade, recorrendo a tarefas concretas e funcionais por
para cada criança conhecer o mundo e a si mesma, aprender a meio de metodologias de ensino mais flexíveis e
participar de atividades individuais e coletivas, a cuidar de si e individualizadas, embora não especialmente diferentes das
a organizar-se. Visam introduzir as crianças em práticas de que são utilizadas com as outras crianças;
criação e comunicação por meio de diferentes formas de -realizar uma avaliação processual que acompanhe suas
expressão, tais como imagens, canções e música, teatro, dança aprendizagens com base em suas capacidades e habilidades, e
e movimento, assim como a língua escrita e falada, sem não em suas limitações, tal como deve ocorrer para qualquer
esquecer-se da língua de sinais, que pode ser aprendida por criança;
todas as crianças e não apenas pelas crianças surdas. -estabelecer contato frequente com suas famílias para
Conforme as crianças se apropriam das diferentes linguagens, melhor coordenação de condutas, troca de experiências e de
que se inter-relacionam, elas ampliam seus conhecimentos informações.
sobre o mundo e registram suas descobertas pelo desenho, O importante é reconhecer que a Educação Inclusiva só se
modelagem, ou mesmo por formas bem iniciais de registro efetiva se os ambientes de aprendizagem forem sensíveis às
escrito. questões individuais e grupais, e neles as diferentes crianças
Também a satisfação do desejo infantil de explorar e possam ser atendidas em suas necessidades específicas de
conhecer o mundo da natureza, da sociedade e da matemática, aprendizagem, sejam elas transitórias ou não, por meio de
e de apropriar-se de formas elementares de lidar com ações adequadas a cada situação.
quantidades e com medidas deve ser atendida de modo
adequado às formas das crianças elaborarem conhecimento de 2) A Educação infantil deve atender a demanda das
maneira ativa, criativa. populações do campo, dos povos da floresta e dos rios,
Todas essas preocupações, além de marcar indígenas e quilombolas por uma educação e cuidado de
significativamente todas as instituições de Educação Infantil qualidade para seus filhos. O trabalho pedagógico de creches e
do país, devem ainda estar presentes em três situações que são pré-escolas instaladas nas áreas onde estas populações vivem
apontadas nas DCNEIs: precisa reconhecer a constituição plural das crianças
1) O compromisso com uma Educação infantil de brasileiras no que se refere à identidade cultural e regional e à
qualidade para todas as crianças não pode deixar de ressaltar filiação socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional,
o trabalho pedagógico com as crianças com deficiência, linguística e religiosa. Para tanto ele deve:
transtornos globais de desenvolvimento e altas -estabelecer uma relação orgânica com a cultura, as
habilidades/superdotação. Em relação a elas, o planejamento tradições, os saberes e as identidades das diversas populações;
das situações de vivência e aprendizagem na Educação Infantil -adotar estratégias que garantam o atendimento às
deve: especificidades das comunidades do campo, quilombolas,
-garantir-lhes o direito à liberdade e à participação ribeirinhas e outras - tais como a flexibilização e adequação no
enquanto sujeitos ativos; calendário, nos agrupamentos etários e na organização de
-ampliar suas possibilidades de ação nas brincadeiras e tempos, atividades e ambientes - em respeito às diferenças
nas interações com as outras crianças, momentos em que quanto à atividade econômica e à política de igualdade, e sem
exercitam sua capacidade de intervir na realidade e participam prejuízo da qualidade do atendimento, com oferta de materiais
das atividades curriculares com os colegas; didáticos, brinquedos e outros equipamentos em
conformidade com a realidade das populações atendidas,
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o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra;
porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, realiza-se nela, a medida em que é a linguagem que permite a
organiza o pensamento. transmissão do seu pensamento para outra pessoa.
Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três Finalmente, cabe destacar que o pensamento não é o
fases: a linguagem social, que seria esta que tem por função último plano analisável da linguagem. Podemos encontrar um
denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que último plano interior: a motivação do pensamento, a esfera
surge. Depois teríamos a linguagem egocêntrica e a linguagem motivacional de nossa consciência, que abrange nossas
interior, intimamente ligada ao pensamento. inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos,
nossos afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente
A linguagem egocêntrica na nossa fala e no nosso pensamento.
O pensamento e a fala unem-se em pensamento verbal.
A progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o Neste significado há um sentido cognitivo e um afetivo, que
processamento de perguntas e respostas dentro de nós sempre estão intimamente entrelaçados.
mesmos - o que estaria bem próximo ao pensamento, Para Vygotsky, a criança se inscreve desde os seus
representa a transição da função comunicativa para a função primeiros dias num sistema de comportamento social em que
intelectual. Nesta transição, surge a chamada fala egocêntrica. suas atividades adquirem significado. Sua relação com o
Trata-se da fala que a criança emite para si mesmo, em voz ambiente se dá por meio da relação com outras pessoas,
baixa, enquanto está concentrado em alguma atividade. Esta situação em que é oferecido a ela um conjunto de acepções, já
fala, além de acompanhar a atividade infantil, é um culturalmente enraizado no grupo em que ela foi inserida. Os
instrumento para pensar em sentido estrito, isto é, planejar significados, por sua vez, são interiorizados ao longo de seu
uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual a processo de desenvolvimento, culminando com o
criança está entretida. aparecimento do pensamento verbal. Assim, o pensamento
A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa verbal - síntese entre a atividade prática e a fala - é uma forma
mesma, e não uma linguagem social, com funções de de comportamento que se circunscreve num processo
comunicação e interação. Esse “falar sozinho” é essencial histórico-cultural e suas características e propriedades não
porque ajuda a organizar melhor as ideias e planejar melhor podem ser vislumbradas nas formas naturais da fala e do
as ações. É como se a criança precisasse falar para resolver um pensamento.
problema que, nós adultos, resolveríamos apenas no plano do
pensamento / raciocínio. A teoria de Piaget sobre a Linguagem e o Pensamento
Uma contribuição importante de Vygotsky, descrita no das crianças
livro, é o fato de que, por volta dos dois anos de idade, o
desenvolvimento do pensamento e da linguagem - que até Piaget em seus estudos tentou descobrir as características
então eram estudados em separado - se fundem, criando uma que permeavam o pensamento das crianças, ou seja, buscou
nova forma de comportamento. mais saber sobre o que elas tinham do que o que lhes faltava.
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir Preferiu fazer isso do que enumerar as deficiências do
o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se - a fase da raciocínio infantil quando em comparação com os adultos103.
fala egocêntrica - é marcado pela curiosidade da criança pelas Dessa forma, entendeu que a diferença entre o pensamento
palavras, por perguntas acerca de todas as coisas novas (“o que das crianças e dos adultos era mais qualitativa do que
é isso?”) e pelo enriquecimento do vocabulário. quantitativa.
O declínio da vocalização egocêntrica é sinal de que a Com o uso de novos métodos e novos fatos conseguiu-se
criança progressivamente abstrai o som, adquirindo chegar as situações problemas, que deram origem as mais
capacidade de “pensar as palavras”, sem precisar dizê-las. Aí variadas teorias, embora Piaget evitasse o uso destas, pois
estamos entrando na fase do discurso interior. Se, durante a dava maior preferência aos fatos do que as experiências.
fase da fala egocêntrica houver alguma deficiência de Contudo, não podemos separar totalmente a teoria dos fatos.
elementos e processos de interação social, qualquer fator que O egocentrismo do pensamento das crianças é que liga as
aumente o isolamento da criança, iremos perceber que seu características da lógica infantil, pois demonstra todas as
discurso egocêntrico aumentará subitamente. Isso é outras características que foram descobertas, quais sejam, o
importante para o cotidiano dos educadores, em que eles realismo intelectual, o sincretismo, além da dificuldade em
podem detectar possíveis deficiências no processo de compreender as relações, de modo que o egocentrismo ocupa
socialização da criança. um lugar intermediário entre o pensamento autístico e o
pensamento orientado.
Discurso interior e pensamento Segundo Piaget, o pensamento egocêntrico é o elo entre o
O discurso interior é uma fase posterior à fala egocêntrica. autismo e a lógica, sendo que esta última aparece bem depois
É quando as palavras passam a ser pensadas, sem que do autismo.
necessariamente sejam faladas. É um pensamento em No pensamento orientado, há uma adaptação à realidade,
palavras. Já o pensamento é um plano mais profundo do é consciente, já no autístico, trabalha-se com o subconsciente,
discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver quer dizer, os problemas encontrados não estão presentes no
problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É consciente, não tem adaptação com à realidade externa,
algo feito de ideias, que muitas vezes nem conseguimos construindo dentro de si a mesmo a própria realidade.
verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as As observações levaram a conclusão que todas as
palavras certas para exprimir um pensamento. conversações das crianças podem ser classificadas em dois
O pensamento não coincide de forma exata com os grupos: o socializado e o egocêntrico. O que diferencia ambos
significados das palavras. O pensamento vai além, porque é o fato das suas funções.
capta as relações entre as palavras de uma forma mais Na fala egocêntrica, a criança fala apenas dela, sem se
complexa e completa que a gramática faz na linguagem escrita preocupar com o interlocutor, não tenta se comunicar, nem
e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às vezes é aguarda resposta ou sequer quer saber se alguém o escuta.
preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de Quando a criança tem sete ou oito anos de idades, a
uma reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto, vontade de trabalhar com os outros começa a manifestar-se, e
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a fala egocêntrica ainda subsiste. Em sua descrição do discurso de pontos de vista o que torna tanto mais significativo o
egocêntrico e desenvolvimento genético, Piaget sublinha que ninguém contestar os fatos ou a dedução que mais
esse discurso não cumpre função no comportamento da particularmente nos interessa: a independência entre as ações
criança, encontrando limitação quando a criança atinge a idade do chimpanzé e a linguagem. Isto é admitido de boa mente,
escolar. mesmo pelos psicólogos que, como Thorndyke e Borovski.
A teoria de Stern sobre o desenvolvimento da Nada veem nas ações do chimpanzé para lá dos mecanismos
linguagem instintuais e da aprendizagem por “tentativas e erros”, “nada
mais, salvo o já conhecido processo de formação de hábitos”. E
O sistema de Wilhelm Stern defende a concepção pelos introspeccionistas que fogem a rebaixar o intelecto ao
intelectual sobre o desenvolvimento da linguagem na criança. nível do comportamento dos macacos, mesmo dos mais
Para ele, há uma diferença entre a origem da linguagem: avançados.
tendência expressiva, tendência social e tendência intencional. Buehler diz com muito acerto que as ações dos chimpanzés
As duas primeiras estão subjacentes aos rudimentos de não têm qualquer relação com a linguagem; e que, no homem,
linguagem observados nos animais, enquanto a intencional é o pensamento mobilizado pela utilização dos utensílios
especificamente humana. (Werkzeugdenken) também tem uma relação muito mais
O que existe na mente de uma criança entre um ano e meio tênue com a linguagem e com os conceitos do que qualquer
e dois anos contrasta com a ideia segundo a qual ela poderia outra forma de pensamento.
ser capaz de adaptar com operações intelectuais complexas. A A questão seria bem simples se os macacos não tivessem
criança descobre de modo repentino que o discurso tem nenhum rudimento de linguagem, não tivessem nada que se
significado. assemelhasse à linguagem. Ora, acontece que encontramos no
A linguagem expressiva e a comunicativa tem seu chimpanzé uma linguagem relativamente bem desenvolvida,
desenvolvimento ocorrido desde os animais mais inferiores que, sob certos aspectos - sobretudo foneticamente - não deixa
até os antropoides e ao homem. Esse tipo de linguagem é de ser semelhante à humana. Esta linguagem tem uma
primordial e surge de uma vez, fazendo com que a criança característica notável: a de funcionar independentemente do
descubra a função da linguagem através de uma operação intelecto.
puramente lógica. Koehler, que estudou os chimpanzés durante muitos anos
A interpretação é uma das primeiras palavras das crianças, na Estação de Antropoides das Ilhas Canárias, ensina-nos que
pois é a pedra de toque de todas as teorias da linguagem as suas expressões fonéticas denotam apenas desejos e
infantil. estados subjetivos; são expressões de afetos e nunca um sinal
de algo objetivo” Mas a fonética dos chimpanzés e a humana
As raízes genéticas do pensamento e da linguagem têm tantas coisas em comum que podemos confiantemente
presumir que a ausência de um discurso do gênero humano
O fato mais importante posto a nu pelo estudo genético do não se deve a nenhuma causa periférica.
pensamento e a linguagem é o fato de a relação entre ambas O chimpanzé é um animal extremamente gregário e
passar por muitas alterações; os progressos no pensamento e responde de forma muito intensa à presença doutros
na linguagem não seguem trajetórias paralelas: as suas curvas exemplares da sua espécie. Koehler descreve formas
de desenvolvimento cruzam-se repetidas vezes, podem altamente diversificadas de “comunicação linguística” entre
aproximar-se e correr lado a lado, podem até fundir-se por chimpanzés. Em primeiro lugar vem o seu vasto repertório de
momentos, mas acabam por se afastar de novo. Isto aplica-se expressões afetivas: jogo facial, gestos, vocalização; a seguir
tanto ao desenvolvimento filogenético como ao encontram-se os movimentos que exprimem as emoções
ontogenético104. sociais; gestos de saudação, etc. Os macacos são capazes tanto
Nos animais, o pensamento e a linguagem têm várias raízes de “compreender mutuamente os seus gestos” como também
e desenvolvem-se segundo diferentes trajetórias de de “exprimir”, por meio de gestos, desejos que envolvem
desenvolvimento. outros animais.
Este fato é confirmado pelos estudos recentes de Koehler, Habitualmente, um chimpanzé executará o início de uma
Yerkes e outros sobre os macacos. Koehler provou que o ação que pretende que outro animal execute - por exemplo,
surgimento de um intelecto embrionário nos animais - isto é, o empurrá-lo-á e executará os movimentos iniciais de marcha
aparecimento de pensamento no sentido próprio do termo - para “convidar” o outro a segui-lo, ou agarrará o ar quando
não se encontra de maneira nenhuma relacionado com a pretende que o outro lhe dê uma banana. Todos estes gestos
linguagem. As “invenções” dos macacos na execução e são gestos relacionados diretamente com a própria ação.
utilização de instrumentos, ou no capítulo da descoberta de Koehler menciona que o experimentador é levado a utilizar
caminhos indiretos para a solução de determinados meios de comunicação elementares essencialmente
problemas, embora sejam sem sombra de dúvida pensamento semelhantes para transmitir aos macacos aquilo que espera
embrionário, pertencem a uma fase pré-linguística do deles.
desenvolvimento do pensamento. Estas observações confirmam sobejamente a opinião de
Na opinião de Koehler, as suas investigações mostram que Wundt segundo a qual os gestos de apontar que constituem o
o chimpanzé evidencia um esboço de comportamento primeiro estádio do desenvolvimento da linguagem humana
intelectual do mesmo gênero e do mesmo tipo que o do não aparecem ainda nos animais, mas alguns gestos dos
homem. São a ausência de linguagem, “esse instrumento macacos são uma forma de transição entre o movimento de
técnico auxiliar infinitamente valioso”, e a pobreza das preensão e o de apontar. Consideramos que este gesto de
imagens, “esse material intelectual extremamente transição é um passo muito importante da expressão afetiva
importante”, que explicam a tremenda diferença existente não adulterada para a linguagem objetiva.
entre os antropoides e os homens mais primitivos “e vedam ao Não há no entanto provas factuais de que os animais
chimpanzé o mais pequeno desenvolvimento cultural” tenham atingido o estádio da representação objetiva de
Vigora considerável desacordo entre os psicólogos das nenhuma das suas atividades. Os chimpanzés de Koehler
diferentes escolas acerca da interpretação teórica das brincavam com barro colorido, começando por “pintar, com os
descobertas de Koehler. A massa de literatura crítica a que lábios e a língua e passando mais tarde para pincéis a sério;
estes estudos deram origem representa uma grande variedade mas estes animais - que normalmente transferem para as suas
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brincadeiras o uso dos utensílios e outros comportamentos existe”. O seu aparelho vocal é tão desenvolvido e funciona tão
aprendidos em atividades “sérias” (isto é, em experiências) e, bem como o do homem. O que lhe falta é a tendência para
vice-versa - nunca evidenciaram a mínima intenção de imitar sons. A sua mímica está quase totalmente dependente
representar o quer que fosse nos seus desenhos nem o mais dos estímulos óticos; eles copiam ações, mas não sons. São
leve indício de atribuírem o mais pequeno significado aos seus incapazes de fazer o que o papagaio faz com tanto êxito.
produtos. Afirma Buehler: Se as tendências imitativas do papagaio se combinassem
Certos fatos põem-nos de sobreaviso no sentido de não com o calibre intelectual das do chimpanzé, este último
sobrestimarmos as ações dos chimpanzés. Sabemos que nunca possuiria sem dúvida linguagem, já que tem um mecanismo
nenhum viajante confundiu um gorila ou um chimpanzé com vocal semelhante ao do homem, assim como um intelecto de
um homem, e que nunca ninguém observou entre eles nenhum tipo e nível que lhe permitem utilizar os sons tendo em vista o
dos utensílios ou métodos tradicionais que, nos homens, discurso oral
embora variando com as tribos, indicam a transmissão de Ontogeneticamente, a relação entre a gênese do
geração em geração das descobertas já feitas, nenhuma das pensamento e a da linguagem é muito mais intrincada e
arranhadelas que executam na areia ou no barro poderia ser obscura; mas também aqui poderemos distinguir duas linhas
confundida com desenhos que representassem alguma coisa de evolução distintas, resultantes de duas raízes genéticas
ou com decorações traçadas durante a atividade lúdica; não há diferentes.
linguagem representacional, isto é, não há sons equivalentes a A existência de uma fase pré-linguística do
nomes. Todo este conjunto de circunstâncias deve ter alguma desenvolvimento do pensamento na infância só recentemente
causa intrínseca. foi corroborada por provas objetivas. Aplicaram-se a crianças
De entre os observadores modernos dos macacos, Yerkes que ainda não tinham aprendido a falar as mesmas
deve ser o único que explica a sua carência de linguagem por experiências que Koehler levou a cabo com chimpanzés. O
outras razões que não sejam as “causas intrínsecas”. A sua próprio Koehler havia já realizado ocasionalmente essas
investigação sobre o cérebro do orangotango produziu dados experiências com crianças com o objetivo de estabelecer
muito semelhantes aos de Koehler; mas levou as suas comparações e Buehler empreendeu um estudo sistemático
conclusões mais longe, pois admite uma “inteleção mais das crianças com a mesma orientação. Os resultados foram
elevada” nos orangotangos - ao nível é certo de uma criança de semelhantes para as crianças e os chimpanzés.
três anos, pelo menos. As raízes pré-intelectuais da linguagem no
Yerkes deduz esta intelecção com base em semelhanças desenvolvimento da criança há muito que são conhecidas. O
superficiais entre o comportamento dos homens e o dos papaguear das crianças, o seu choro e inclusivamente as suas
antropoides: não apresenta nenhuma prova objetiva de que os primeiras palavras são muito claramente estádios do
orangotangos resolvam os problemas socorrendo-se da desenvolvimento da linguagem que nada têm a ver com o
intelecção, isto é, de “imagens”, ou de que sigam e discirnam os desenvolvimento do pensamento. Tem-se encarado duma
estímulos. No estudo dos animais superiores, pode-se usar a forma generalizada estas manifestações como formas de
analogia com bons resultados, dentro dos limites da comportamento predominantemente emocionais.
objetividade, mas basear uma hipótese em analogias não será Contudo, nem todas servem apenas a função de alívio de
com certeza um procedimento científico correto. uma tensão. Investigações recentes das primeiras formas de
Koehler, por outro lado, foi mais além: não se limitou a comportamento das crianças e das primeiras reações das
utilizar a simples analogia na sua investigação da natureza dos crianças à voz humana (efetuadas por Charlotte Buehler e o
processos intelectuais dos chimpanzés. Mostrou também, por seu círculo) mostraram que a função social da linguagem já é
meio de uma análise experimental rigorosa, que o êxito das claramente evidente durante o primeiro ano de vida, quer
ações dos animais dependia do fato de eles poderem ver todos dizer, no estádio pré-intelectual do desenvolvimento da
os elementos da situação simultaneamente - este fator era linguagem de criança.
decisivo para o seu comportamento. Observaram-se reações bem definidas à voz humana logo
Se o pau que utilizavam para chegar a um fruto colocado no terceiro mês de vida e a primeira reação especificamente
para lá das barras fosse ligeiramente deslocado de forma que social à voz durante o segundo mês Estas investigações
o utensílio (o pau) e o objetivo (o fruto) deixassem de ser também estabeleceram que as gargalhadas, os sons
visíveis num só relance, a resolução do problema tornar-se-ia inarticulados, os movimentos etc., são meios de contato social
muito difícil, frequentemente impossível até (especialmente logo durante os primeiros meses da vida das crianças.
durante as primeiras experiências). Os macacos tinham Assim, as duas funções da linguagem que observamos no
aprendido a alongar os seus utensílios, inserindo um pau no desenvolvimento filogenético já existem e são evidentes nas
orifício praticado noutro pau. Se por acaso os dois paus se crianças com menos de um ano de idade.
cruzassem nas suas mãos formando um X, tornavam-se Mas a mais importante descoberta é o fato de em
incapazes de realizar a operação familiar muito praticada de determinado momento por alturas dos dois anos de idade, as
alongar o utensílio. Poderiam citar-se dúzias de exemplos curvas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem,
destes extraídos das experiências de Koehler. até então separadas, se tocarem e fundirem, dando início a
Koehler considera que a presença real de uma situação uma nova forma de comportamento. Foi Stern quem pela
bastante simples é condição indispensável em qualquer primeira vez e da melhor forma nos deu uma descrição deste
investigação do intelecto dos chimpanzés, condição sem a qual momentoso acontecimento. Ele mostrou como a vontade de
o seu intelecto não funcionará: conclui daqui que as limitações dominar a linguagem se segue à primeira compreensão difusa
intrínsecas da “imagética” (ou “ideação”) são uma dos propósitos desta, quando a criança “faz a maior descoberta
característica fundamental do comportamento intelectual do da sua vida”, a de que “todas as coisas têm um nome”
chimpanzé. Se aceitarmos as teses de Koehler, então a hipótese
de Yerkes parece mais do que duvidosa. Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir
Em conexão com estes recentes estudos experimentais e o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se, é
observações do intelecto e da linguagem dos chimpanzés, indicado por dois sintomas objetivos que não deixam lugar a
Yerkes apresenta novo material sobre o seu desenvolvimento dúvidas:
linguístico e uma nova e engenhosa teoria que pretende (I) a súbita e ativa curiosidade da criança pelas palavras, as
explicar a sua carência de verdadeira linguagem. “As reações suas perguntas acerca de todas as coisas novas (“o que é isto?”)
orais”, afirma ele, “são muito frequentes e variadas nos e,
chimpanzés jovens, mas a linguagem no sentido humano não
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(II) o consequente enriquecimento do vocabulário que Experiências feitas por Vygotsky concluíram que a fala da
progride por saltos e muito rapidamente. criança é tão importante quanto a ação para atingir um
objetivo. Sua fala e ação fazem parte de uma mesma função
Antes do ponto de viragem, a criança reconhece (como psicológica complexa, dirigida para a solução do problema em
alguns animais) um pequeno número de palavras que, tal questão. Conclui-se também que quanto mais complexa a ação
como no condicionamento, substituem objetos, pessoas, ações, exigida pela situação e menos direta a solução, maior a
estados, desejos. Nessa idade, a criança só conhece as palavras importância que a fala adquire na operação como um todo.
que lhe foram transmitidas por outras pessoas. Agora a “Essas observações, me levam a concluir que as crianças
situação altera-se: a criança sente a necessidade das palavras resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala, assim como
e, por meio das suas perguntas, tenta ativamente aprender os dos olhos e das mãos”. (Vygotsky)
signos relacionados com os objetos Parece ter descoberto a A criança quando se confronta com um problema mais
função simbólica das palavras. A linguagem, que no estádio complicado, apresenta ótima variedade complexa de respostas
anterior era afetiva-conotativa entra agora no estádio que incluem tentativas diretas de atingir o objetivo, uso de
intelectual. As trajetórias do desenvolvimento da linguagem e instrumentos, fala dirigidas as pessoas ou que simplesmente
do pensamento encontraram-se. acompanha a ação e apelos verbais direto ao objeto de atenção.
O desenvolvimento da percepção e da atenção, o uso de
Em resumo, devemos concluir que: instrumentos e da fala afeta várias funções psicológicas:
(1) No seu desenvolvimento ontogenético, o pensamento e Operações sensório-motoras e atenção - cada uma das quais é
a linguagem têm raízes diferentes. parte de um sistema dinâmico de comportamento.
(2) No desenvolvimento linguístico da criança, podemos Para o desenvolvimento da criança principalmente na
estabelecer com toda a certeza uma fase pré-intelectual no primeira infância, o que se reveste de importância primordial
desenvolvimento linguístico da criança - e no seu são as interações com os adultos (assimétricas), portadores de
desenvolvimento intelectual podemos estabelecer uma fase todas as mensagens de cultura. Nessa interação o papel
pré-linguística. essencial corresponde aos diferentes sistemas semióticos
3) A determinada altura estas duas trajetórias encontram- seguida de uma função individual: começam a ser utilizado
se e, em consequência disso, o pensamento torna-se verbal e a como instrumentos de organização e de controle do
linguagem racional. comportamento individual. A abordagem dialética, admitindo
a influência da natureza sobre o homem, afirma que o homem,
Importante ainda traçarmos alguns pontos sobre a por sua vez, age sobre a natureza e cria, através das mudanças
obra de Vygostsky, L. S. Construção Social da Mente. São por ele provocadas, novas condições naturais para a sua
Paulo: Martins Fontes, 2002. existência. Essa posição representa o elemento-chave da
abordagem de estudo e interpretação das funções psicológicas
Vygotsky, L. S. Construção Social da Mente. São Paulo: superiores FPS, do homem e serve como base dos novos
Martins Fontes, 2002 métodos de experimentação e análise.
Com relação à interação entre aprendizado e ensino - O
No livro Construção Social da Mente - Vygotsky tem por aprendizado é considerado um processo puramente externo
objetivo caracterizar os aspectos tipicamente humanos do que não está envolvido ativamente no desenvolvimento,
comportamento e elaborar hipóteses de como essas simplesmente se utilizará dos avanços do desenvolvimento ao
características se desenvolveram durante a vida do indivíduo invés de fornecer um impulso para modificar seu curso. Para
e enfatiza três aspectos105: Vygotsky não existe melhor maneira de descrever a educação
- Relação entre seres humanos e o seu ambiente físico e do que considerá-la como a organização dos hábitos de
social. conduta e tendências comportamentais adquiridos. O
- Novas formas de atividade que fizeram com que o aprendizado não altera nossa capacidade global de focalizar a
trabalho fosse o meio fundamental de relacionamentos entre atenção, ao invés disso, desenvolve várias capacidades de
o homem e a natureza e as consequências psicológicas dessas focalizar a atenção sobre várias coisas.
formas de atividade. Numa abordagem sobre a zona de desenvolvimento
- A natureza das relações entre o uso de instrumento e proximal, o ponto de partida da discussão é o fato de que o
desenvolvimento da linguagem. aprendizado das crianças começa muito antes delas
frequentam a escola. A zona de desenvolvimento proximal é
O estudo do desenvolvimento infantil começou a ser feita resumidamente à distância entre o nível de desenvolvimento
por comparação à botânica, associado à maturação do real, que se costuma determinar através da solução independe
organismo como um todo. Como maturação por si só, é um de problemas e o nível de desenvolvimento potencial,
fator secundário e não explica o desenvolvimento de formas determinado através da solução de problemas sob orientação
mais complexas do comportamento humano, a psicologia de um adulto. O brinquedo tem um papel marcante para
moderna passou a estudar a criança a partir dos modelos desenvolvimento, o brinquedo não é uma atividade pura e
zoológicos, isto é, da experimentação animal. simples de prazer a uma criança, pois há outras atividades que
Segundo Vygotsky, o momento de maior significado no dão mais prazer, como o habito de chupar chupeta, em relação
curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às aos jogos que marcam a perda e ganho com frequência e é
formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acompanhado pelo desprazer da perda. A criança em idade
acontece quando a fala e a atividade prática estão juntas. A pré-escolar envolve-se num mundo ilusório para resolver suas
criança, antes de controlar o próprio comportamento, começa questões e considera essencial e reconhece a enorme
a controlar o ambiente com a ajuda da fala, produzindo novas influência do brinquedo no desenvolvimento da criança. O
relações com o ambiente, além de uma nova organização do brinquedo não é o aspecto predominante da infância, mas um
próprio ambiente. A criação dessas formas fator muito importante do desenvolvimento, demonstra o
caracteristicamente humanas de comportamento produz o significado da mudança que ocorre no desenvolvimento do
intelecto, e constitui a base do trabalho produtivo: à forma próprio brinquedo, de uma predominância de situações
especificamente humana do uso de instrumento. imaginárias para as predominâncias de regras e mostra as
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106 CAVA, Laura Célia S. Cabral. Fundamentos e metodologias do ensino das 107 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 20ª ed. São Paulo: Paz e Terra,
artes. In: RAMPAZZO, Sandra Regina dos Reis; KLAUS, Melina (Org.). 1996.
Instrumentação do trabalho pedagógico nos anos iniciais do ensino fundamental: 108 MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. Didática do ensino de arte: a língua
fundamentos e metodologias. Londrina: Unopar Virtual, 2008. mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.
Conhecimentos Pedagógicos 89
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possibilidade de observação, reflexão e compreensão da arte, experiência a um colega, diz: “estou atendendo um caso muito
não compreendem a arte como conhecimento, apenas como bonito”. Ao dizer isso, não significa que ele tenha um
“realização manual de técnicas”, consequentemente acreditam sentimento mórbido, que veja beleza em uma doença
ser apenas este, o objetivo de Artes, desenvolver a habilidade patológica, mas que seu sentimento de “belo” provém da
do aluno e ensiná-lo inúmeras técnicas. própria ciência que exerce. O ato de compreensão e de atuação,
Ao trabalhar com Artes, o aluno é estimulado à reflexão, fundado numa forma teórica, configura um todo harmônico e
investigação, experimentações, comparações, a ter equilibrado, percebido como “belo”. O outro exemplo é do
curiosidade, levantar hipóteses, ao trabalho em equipe, matemático, Poicaré (apud DUARTE JR., 1988), que dizia que a
proporcionando desta forma o seu desenvolvimento primeira coisa que ele verificava em uma equação era sua
cognitivo, afetivo, social, cultural e estético. A educação qualidade estética, isto é, se ela se mostrava bela. Para alguns,
em Artes propicia o desenvolvimento do pensamento matemática pode parecer um monstro de sete cabeças, no
artístico e esse pensamento artístico amplia, a entanto, para outros uma equação pode ser bela e é dessa
sensibilidade, criatividade, percepção, originalidade, beleza que estamos falando.
flexibilidade, reflexão, imaginação, inventividade, o senso A construção e compreensão de um saber e a articulação
crítico e o senso estético, possibilita também, ao aluno, um de determinados dados nos proporcionam essa experiência,
grande crescimento e um aumento de sua capacidade de nos faz ver beleza onde os outros não vêem.
visualização e memória visual, além de ajudá-lo a resolver Frente a uma obra de arte a experiência da beleza, tem
problemas de ordem técnica e estética. De acordo com Bosi como finalidade conduzir o espectador ao mundo do belo, mas
(1985)109, o trabalho de arte passa pela mente, pelo coração, não um belo superficial, mas um belo subjetivo, repleto de
pelos olhos, pela garganta, pelas mãos; e pensa e recorda e significados que nos sensibiliza, nos eleva, nos toca.
sente e observa e escuta e fala e experimenta e não recusa Durante a realização de propostas artísticas,
nenhum momento essencial do processo poético. principalmente o desenho, a criança brinca, canta, conversa
De acordo com os PCNs de Arte, Brasil (1997)110, o sozinha, desenvolve, portanto, a oralidade, a imaginação e
conhecimento em Artes possibilita ao aluno reconhecer as ainda, como já foi dito anteriormente, cria estratégias, diante
diversidades, construir uma autoimagem positiva, a se de possíveis imprevistos, ela faz experimentações, utiliza
integrar com o grupo, pois a maioria das propostas artísticas é agrupamentos, combinações, constrói, reconstrói e
desenvolvida em grupos, proporcionando também a ressignifica a matéria. Essa manipulação de materiais diversos
construção de sua autonomia. afronta a criança, a pensar, repensar, criar, transformar,
O ensino em Artes amplia o repertório cultural do provocando-a sempre a experimentar, isso nos remete a
aluno a partir dos conhecimentos estético, artístico e Bachelard (1986)112, em seus dizeres, o próprio papel, com seu
contextualizado, aproximando-o do universo cultural da grão e sua fibra, provoca a mão sonhadora pra rivalidade da
humanidade nas suas diversas representações. delicadeza. A matéria é, assim, o primeiro adversário do poeta
Quando falamos em estética, é bom lembrarmos que da mão. Possui todas as multiplicidades do mundo hostil, do
estética não está ligada apenas ao campo artístico, um físico, mundo a dominar.
um professor, uma dona de casa, dentre outros, podem ter uma A disciplina de Artes pode ser percebida como porta
experiência estética. Podemos ter uma experiência estética de entrada a uma compreensão mais significativa das
diante da natureza, de um objeto, de uma música, uma dança, questões sociais. Outra questão relevante da arte é seu
um filme, uma situação, um fato, uma obra de arte, etc. Para aspecto lúdico, pois para a criança, ela é como se fosse um
alguns filósofos, o prazer do “Belo” é o prazer estético. jogo, uma brincadeira. O lúdico se relaciona com a
O belo da experiência estética, não diz respeito ao “feio e brincadeira e com o jogo, no jogo, contém o desafio,
bonito”, “gosto ou não gosto” superficial, que segue rígidos acionando o corpo e a mente. Tem caráter integrador,
padrões de beleza convencionados. Este belo, que iremos propiciando ao aluno o desenvolvimento de habilidades
abordar a seguir, diz respeito a uma beleza subjetiva, sensível, que envolvem identificação, análise, síntese, comparação,
carregada de significado. A experiência estética é um olhar ajudando-o assim, a conhecer suas próprias
mais profundo, mais intenso, sobre as coisas em geral, é um possibilidades.
olhar que vai além de formas, cores, padrões, temáticas, moda Ao fazermos esta analogia entre o fazer artístico e o jogo e
dentre outros. a brincadeira, faz-se necessário ressaltar a relevância do
A beleza, não é um valor universal, pois o que é belo para brincar na vida da criança. Nos dizeres de Chateau (1987)113,
alguns, às vezes, não é belo para outros, pelo fato de sermos perguntar por que a criança brinca, é perguntar por que ela é
seres singulares, cada pessoa tem um jeito único e próprio de criança. “A infância serve para brincar e para imitar”. Sendo
ser, de ver e interpretar as coisas. O nosso conceito de beleza assim, diz ser uma aprendizagem necessária à idade adulta.
está relacionado com a nossa idade, nossa cultura, o nosso Em relação aos materiais, Benjamim (1987)114 faz
sexo, nosso jeito de ser e também o momento em que estamos alusão à capacidade e facilidade da criança em criar, a
vivendo. partir de um pedaço de pau, um brinquedo, isto porque
Quando falamos de arte, falamos também em algumas de tanto a arte como a brincadeira permeiam no campo da
suas características: emoção, prazer, encantamento, imaginação, criação e fantasia. Para o autor, nada é mais
sentimentos que estão intimamente ligados à experiência próprio da criança que combinar imparcialmente em suas
estética, sendo assim, podemos perceber que a experiência construções as substâncias mais heterogêneas, ninguém é
estética está ligada à sensibilidade, portanto ao trabalharmos mais sóbrio com relação aos materiais que a criança: um
com a disciplina de Artes, estimulamos o desenvolvimento simples fragmento de madeira, uma pinha ou uma pedra
cognitivo, afetivo, social e estético. reúnem na solidez e na simplicidade de sua matéria toda
Em uma abordagem sobre experiência estética, feita por uma plenitude das figuras mais diversas.
Duarte Júnior (1988)111, dois exemplos nos facilitam a As atividades lúdicas são indispensáveis para
compreensão: um diz respeito a um médico que atende um apreensão dos conhecimentos artísticos e estéticos, pois
paciente com problema de fígado e, ao relatar a sua
109 BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 1985. 112 BACHELARD, G. O direito de sonhar. São Paulo: Difel, 1986.
110 BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria e Ensino 113 CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. São Paulo. Summus, 1987.
Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: artes. Brasília, 1997. 114 BENJAMIM, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e
111 DUARTE, João Francisco Jr. Fundamentos estéticos da educação. Campinas: história da cultura. 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Papirus, 1988.
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possibilitam o desenvolvimento da percepção, aluno, faz-se necessário um breve retorno histórico, a partir da
imaginação, fantasia e dos sentimentos. década de 70.
De acordo com, Fusari e Ferraz (1992)115 o brincar na aula Em 1971, com a lei nº 5692, foi criado o componente
de Arte, pode ser um jeito da criança experimentar novas curricular “Educação Artística”. A lei determinava que fossem
situações, ajudando a compreender e assimilar mais abordados conteúdos de música, teatro, dança e artes plásticas
facilmente o mundo cultural e estético em que está inserida. nos cursos de 1º e 2º graus, com um único professor para
Todas as linguagens e modalidades artísticas são dominar essas linguagens. Por não ser disciplina, profissionais
relevantes para o desenvolvimento da criança, mas é dada de outras áreas do conhecimento ministravam essas aulas
maior ênfase ao desenho entre as demais linguagens. Derdyk (fato este, que ainda permanece em muitas escolas atuais) e
(1994)116 diz que enquanto a criança desenha ou cria objetos, que, por melhor que fossem suas intenções, não tinham
brinca de faz-de-conta e experimenta sua capacidade embasamento teórico, não tinham a formação específica da
imaginativa, ampliando sua forma de pensar o mundo no qual área, as aulas eram fragmentadas, sem contextualização
está inserida. Para ela, a criança desenha, entre outras coisas, histórica, cada dia uma técnica diferente enfim, havia uma
para divertir-se. É um jogo onde não existem companheiros, a confusão e distorção em relação aos conteúdos e objetivos da
criança é dona de suas próprias regras. Neste jogo solitário, ela disciplina.
vai aprender a estar só, „aprender a ser só ‟. O desenho é o Em meados dos anos oitenta, professores de Educação
palco de suas emoções, a construção de seu universo Artística começaram a se reunir em seminários, grupos de
particular. O desenho manifesta o desejo da representação, estudos, congressos e outros, para discutir questões
mas também o desenho, antes de tudo, é medo, é opressão, é relacionadas ao ensino de Artes. Desses encontros constituiu-
alegria, é curiosidade, é afirmação, é negação. Ao desenhar, a se um movimento denominado Arte-Educação, inicialmente
criança passa por um intenso processo vivencial e existencial. com a finalidade de conscientizar e organizar profissionais de
Educação Artística.
B) A arte como conhecimento O movimento Arte-Educação ampliou discussões sobre a
valorização e o aprimoramento deste profissional. As idéias e
Compreendida como área de conhecimento, a arte, princípios multiplicaram-se em diversas regiões do Brasil. O
apresenta relações com a cultura por meio das objetivo dessas reuniões era formar associações que
manifestações expressas em bens materiais (bens físicos discutissem questões referentes aos cursos de Educação
como: pintura, escultura, desenhos, dentre outros) e Artística, desde a Educação Infantil até a Universidade, pois a
imateriais (práticas culturais coletivas como: música, situação em que as aulas vinham sendo ministradas era
teatro, dança, etc.). Olhando a arte por uma perspectiva caótica. Infelizmente ainda hoje é comum as aulas de Artes
antropológica, é possível considerar que toda produção serem confundidas com lazer, terapia, descanso das aulas
artística e cultural é um modo pelo qual os sujeitos entendem “sérias”, o momento para fazer a decoração da escola, as festas,
e marcam a sua existência no mundo. comemorar determinada data cívica, preencher desenhos
A arte é conhecimento construído pelo homem através fotocopiados ou mimeografados, isto é, prontos para serem
dos tempos, portanto, importante na escola, ela é um coloridos, e muitas outras posturas e ações equivocadas.
patrimônio cultural da humanidade e todo ser humano Os encontros e congressos, do movimento arte-educação,
tem direito ao acesso a esse saber. Sendo assim, tratar a gerou concepções e novas metodologias para o ensino e a
arte como conhecimento é ponto fundamental e condição aprendizagem de Artes nas escolas. Eles contribuíram para
indispensável para o enfoque contemporâneo do ensino e uma pequena mudança, conquistando assim, um espaço no
aprendizagem de Artes. cenário nacional, se bem que há muito a percorrer.
Conta nos PCNs de Arte, Brasil (1997) que, no percurso Finalmente, nos anos 90, a disciplina de Artes, antiga
criador específico da arte, os alunos estabelecem relações Educação Artística, é reconhecida como disciplina, consta na
entre seu conhecimento prévio na área artística e as questões Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394),
que um determinado trabalho desperta entre o que querem aprovada em 20 de dezembro de 1996, em seu artigo 26,
fazer e os recursos internos e externos de que dispõe entre o parágrafo 2º que: “O ensino da arte, especialmente em suas
que observam nos trabalhos dos artistas, nos trabalhos dos expressões regionais, constituirá componente curricular
colegas e nos que eles mesmos vêm realizando. obrigatório da educação básica”.
A arte é linguagem, portanto, uma forma de expressão
e comunicação humana, ela tem um papel fundamental, C) Campos Conceituais da Disciplina de Artes
envolvendo os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais e
isso já é suficiente para que se justifique sua presença na Em relação ao conhecimento em Artes, se baseia nos
vida escolar. Por ser uma linguagem, é uma forma de Parâmetros Curriculares de Arte, Brasil (1997), que se
expressar emoções, ideias, vivências entre outros, é baseiam na Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa
também, uma forma de comunicação. Quando dizemos (2000)117 e, segundo esta mesma autora, sua Proposta
comunicação, pressupõe que não seja isolada, que exista Triangular é construtivista, interacionista, dialogal e
um outro para que haja essa comunicação. E a multicuturalista, é uma proposta pós-moderna que apresenta
compreensão dessa comunicação, só se torna possível, se a articulação de três Eixos ou Campos Conceituais que
o outro decodificar a mensagem, sendo assim, tornamos a envolvem a Produção, a Fruição e a Reflexão no ensino das
enfatizar a importância da arte na escola propiciando à Artes.
criança, que ela se expresse e compreenda certos dos Isto é, em uma aula de Artes, esses três Eixos deverão
códigos artísticos. se articular, não importando a ordem. Apesar de suas
Quando nos referirmos à disciplina de Artes, a especificidades, esses Campos Conceituais são
comunicação se dá por intermédio de formas, cores, texturas, interdependentes e articulam-se entre si, abrangendo
volumes, sons, movimentos, gestos, expressões dentre outros. todos os aspectos do objeto de estudo.
Para que haja uma compreensão melhor desta área do
conhecimento tão relevante no desenvolvimento pleno do
115 FUSARI, M. F. R E FERRAZ, M. H. C. T. Arte na educação escolar. São Paulo: 117 BARBOSA, Anamélia. Interdisciplinaridade. In: BARBOSA, Ana Mãe
Cortez, 1992. Tavares Bastos. Inquietações e Mudanças no ensino de arte. São Paulo: Cortez,
116 DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo 2000.
infantil. São Paulo: SCIPIONE, 1994.
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Produção: é a produção do aluno e de produtores de arte digital, computadorizada, televisiva, cinematográfica, placas e
em geral, é o fazer, a criação, é a parte prática. Na educação, sinais, gravura, desenho, pintura, escultura, etc.
esse fazer diz respeito ao conhecimento artístico do aluno e Coll (2000)119 ao abordar as formas visuais e a
está relacionado com o processo criativo. maneira, pela qual os nossos olhos identificam as coisas
Fruição: a palavra fruir origina-se da palavra usufruir, isto no mundo, diz ser esses códigos visuais importantes para
é, oportunizar o aluno a ver, ouvir, sentir, assistir a as pessoas se conduzirem em diferentes locais com
manifestações artísticas do universo relacionado à arte (obras independência, pois são formadas por desenhos, formas,
de arte, peças teatrais, espetáculos de danças, concertos cores que têm significados especiais como o semáforo, as
musicais e outros), é a apreciação significativa e essa placas de trânsito, os sinais que indicam onde ficam as
apreciação significativa diz respeito ao conhecimento estético saídas de emergência, o banheiro dentre outros. Todos
e está relacionado à apreensão do objeto artístico em seus devem conhecer e respeitar esses sinais visuais.
aspectos sensíveis e cognitivos. Para Cava (2008)120, a junção entre os meios tecnológicos,
Reflexão: é pensar sobre o trabalho artístico pessoal, os meios audiovisuais, mais as artes plásticas e os sinais
sobre o trabalho artístico dos colegas de sala de aula e sobre o visuais, pertence às artes visuais. Portanto quando nos
trabalho artístico de produtores de arte em geral, refletir sobre referimos às artes visuais, estamos falando de: desenho,
as formas encontradas na natureza e em culturas diversas e pintura, colagem, gravura, construções tridimensionais
também, é a compreensão da arte como processo cultural e (sucata, modelagem, escultura, instalação) imagens
histórico. A reflexão articula-se com o conhecimento fotográficas, cinematográficas, televisivas, virtuais etc.
contextualizado, pois envolve o contexto histórico (político, Consta nos Referenciais Curriculares Nacional de
econômico e sociocultural) dos objetos artísticos e contribui Educação Infantil, que, as Artes Visuais expressam,
para a compreensão de seus conteúdos explícitos e implícitos, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos,
possibilitando um aprofundamento na investigação desse pensamentos e realidade por meio da organização de
objeto. linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como
tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na
Para Antunes (2005)118, quando o professor traz para o pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na
contexto do aluno os conteúdos a serem apreendidos, arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc. O
conectando esses conteúdos com sua sala de aula e com o movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste,
cotidiano dos alunos, ele estará explorando contextos, a continuidade, a proximidade e a semelhança são
certamente estará contribuindo para transformar informação atributos da criação artística. A integração entre os
em conhecimento. aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e
D) Linguagens da disciplina de artes cognitivos, assim como a promoção de interação e
comunicação social, conferem caráter significativo às
Vamos refletir um pouco em torno das quatro linguagens Artes Visuais.
de Artes, artes visuais, música, dança e teatro, que propõe os Dessa forma, deve-se constar no cotidiano da criança as
PCN´s, Brasil (1997). artes visuais, quando a criança rabisca e desenha no chão, na
As linguagens artísticas dizem respeito à invenção, à areia e nos muros, nos objetos, nas paredes, no próprio corpo,
expressão e à imaginação. Quando se alia os elementos formais ao utilizar materiais encontrados ao acaso como: gravetos,
de cada uma das linguagens das artes visuais, da dança, do pedras, carvão e outros, as artes visuais estão sendo utilizadas
teatro e da música aos sentidos humanos (ver, olhar, cheirar, para expressar experiências sensíveis.
sentir, tocar, falar), torna-se possível (re)criar e expressar a A proposta contemporânea para o ensino e aprendizagem
experiência humano-social de diferentes formas. em Artes sugere trabalhar com muitas imagens como: obras de
arte, outdoors, propagandas (tanto estáticas como em
D.1) Artes visuais movimento), cartazes, convites, encartes, entre outros, em sala
de aula, pois, com tantas imagens a nossa volta, a alfabetização
Como havíamos mencionado no início deste texto, vivemos visual torna-se uma necessidade, precisamos estimular nossos
rodeados por imagens. As imagens se encontram por toda alunos a ver e aprender a ver. A leitura de imagens constitui-
parte, e ela foi o primeiro meio de comunicação com o se em canais de conhecimento, aprimorando, desse modo, a
outro, assim constrói significado e esse significado é sensibilidade, a criticidade e a imaginação.
simbólico. As pessoas só conseguem ver, perceber determinados
Dessa forma, aprender a ler imagens vem detalhes, nuances daquilo que conhecem que observam com
primeiramente da necessidade de compreensão do atenção, por isso a necessidade de trabalhar com imagens,
próprio mundo natural e depois, da construção e principalmente, obras de arte, para aprender interpretá-las,
compreensão do mundo da cultura, uma vez que elas propiciando assim, o desenvolvimento do senso crítico e
exercem uma função, como não são alheias aos fatos e estético dos alunos. Um médico, por exemplo, olha um exame
acontecimentos, elas revelam lugares, costumes, tempos, de ultrassom e entende certos significados que uma pessoa
enfim, se comunicam. leiga não compreende isso porque, ele conhece o assunto e
Ver significa conhecer, perceber, apropriar-se de algo. Pela aprendeu a decodificar aquelas imagens. Quando educamos o
visão alcançamos as pessoas, os objetos, às formas, enfim, o olhar dos nossos alunos, no sentido de diante de uma imagem,
mundo ao nosso redor. Ver também é um exercício de eles percebam cores, formas, texturas, temáticas, intenções,
construção perceptiva, onde os elementos selecionados e o conceitos, mensagens e outros.
percurso visual podem ser educados. Ao levar uma imagem, para a sala de aula, habilidades de
Mas afinal, por que estamos falando sobre imagens? É percepção, intuição, raciocínio e imaginação atuam. É bom que
porque, o assunto diz respeito às artes visuais e isso nos desde cedo os alunos tenham contato com obras artísticas,
remete às imagens. As artes visuais têm como objeto de estudo conhecendo o artista, a obra, as técnicas utilizadas, alguns
a imagem e nela encontramos as formas, as linhas, as cores, as aspectos formais, o contexto em que foi realizada, dentre
texturas, entre outros. Imagem é tudo que se vê: imagem outros.
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Para Barbosa (1995)121, quando o aluno observa obras de descontração contra o stress ou passos pré-determinados para
arte e é estimulado e não obrigado a escolher uma delas como a apresentação em datas comemorativas. A dança é uma
suporte de seu trabalho plástico a sua expressão individual se experiência sensível e deve ser usada em sala de aula, pois se
realiza da mesma maneira que se organiza quando o suporte trata de uma das linguagens artística. O educador deve
estimulador é a paisagem que ele vê ou a cadeira de seu articulá-la com as demais linguagens e também trabalhá-la de
quarto...O importante é que o professor não exija forma interdisciplinar, isto é, unir a dança com a música, teatro
representação fiel, pois a obra observada é suporte e artes visuais e trabalhar também com outras áreas do
interpretativo e não modelo para os alunos copiarem. Assim conhecimento, com expressividade e criatividade.
estaremos ao mesmo tempo preservando a livre-expressão, Os conhecimentos advindos da dança devem se articular
importante conquista do modernismo e nos tornando com a percepção do espaço, peso e tempo. A dança é uma
contemporâneos. forma de integração, expressão individual e coletiva, onde o
aluno exercita a atenção, a percepção, a colaboração e a
D.2) Dança solidariedade. Como atividade lúdica, permite a
experimentação e a criação, no exercício da espontaneidade.
Toda ação humana envolve a atividade corporal, e a Contribui à consciência e à construção de sua imagem
criança constantemente utiliza dela para buscar corporal, aspectos fundamentais para seu crescimento
conhecimento de si mesma e daquilo que a rodeia, individual e sua consciência social.
relacionando-se com objetos e pessoas. Ela corre, pula, Consta nos PCN’s de Arte, Brasil (1997), que nas
gira, sobe nos objetos, pois sente necessidade de atividades coletivas, as improvisações darão
experimentar seu corpo, para seu domínio e também oportunidade ao aluno de experimentar a plasticidade de
construção de sua autonomia. A ação física representa a seu corpo, de exercitar suas potencialidades motoras e
primeira forma de aprendizagem da criança, estando a expressivas. Na interação coletiva poderá reconhecer
motricidade ligada à atividade mental. semelhanças e contrastes, coordenando expressões e
Ela se movimenta pelo prazer do exercício, para explorar o habilidades com respeito e cooperação. No planejamento
ambiente, adquirir melhor mobilidade e se expressar com das aulas, o professor deve considerar o desenvolvimento
liberdade. Possui um vocabulário gestual fluente e expressivo. motor do aluno, ele deve também observar suas ações
Enfim, a ação física é necessária para que a criança harmonize físicas e habilidades naturais.
de maneira integradora as potencialidades motoras, afetivas e
cognitivas. D.3) Música
Ao refletir sobre a presença e relevância da dança na vida
das pessoas, percebe-se que desde o nascimento a criança já A música permeia nossas vidas, ela está presente no nosso
trabalha com elementos da dança como o equilíbrio, com a dia-a-dia, na televisão, nas ruas, nas igrejas, consultórios, no
relação do espaço do seu corpo e de seu corpo no espaço e a cinema, no carro, nas escolas, dentre outros e nós, na grande
fluência de seus movimentos. maioria, nos relacionamos muito bem com ela.
A dança também se faz presente nas manifestações O bebê, por exemplo, muito antes de estar no mundo, lá no
populares, no folclore, na vida social das pessoas, faz parte das ventre materno, segundo pesquisas, já reconhece a voz da mãe,
culturas humanas e sempre integrou o trabalho, as religiões e convive com o ritmo das pulsações do coração de sua mãe e
as atividades de lazer. Ela é um bem cultural inerente à com ruídos. Desde a infância, os sons dos objetos e
natureza humana. brinquedos, as vozes dos pais e das pessoas próximas
Na escola, a dança pode desenvolver a compreensão da chamam a atenção da criança e ela reage de diversas
capacidade de movimento da criança e maior formas, uma delas é emitindo sons.
entendimento do funcionamento de seu corpo, Ao nosso redor, combina-se uma infinidade de sons
possibilitando assim, a utilização de seu corpo com produzidos pela natureza ou pelas pessoas. Esses sons,
expressividade, com maior inteligência, autonomia, para Andrade e Cava (2007)123, fazem parte da vida dos
responsabilidade, criatividade e sensibilidade. Ou seja, o seres humanos desde as civilizações mais primitivas. O
conteúdo de Dança vai muito além de danças que estão na homem primitivo comunicava-se através de murmúrios
mídia ou danças relacionadas às datas comemorativas. da voz, a partir dos sons e ritmos de seu próprio corpo
De acordo com Cava e Minari (2004)122, o conhecimento (batimento cardíaco, andar, respirar, etc.) e também sons
em Dança conscientiza cada vez mais sobre a importância dela vindos da própria natureza (barulho dos ventos,
para o desenvolvimento sinestésico, cognitivos e sensíveis dos movimentos das árvores, chuvas, o cantar dos pássaros e
alunos. A educação pela dança proporciona ao aluno uma outros).
experiência através dos sentidos que são: A música, como forma de expressão do ser humano, traz
consigo a possibilidade de exteriorizar as alegrias, as tristezas
A) Tátil: Sentir que os movimentos e seus benefícios para e as emoções mais profundas. Ela faz emergir nas pessoas
o corpo emoções e sentimentos que as palavras são, muitas vezes,
B) Visual: Ver os movimentos e transformá-los em atos incapazes de evocar; a música impulsiona a expressão
C) Auditivo: Ouvir a música e dominar o seu ritmo. corporal fazendo com que o corpo vibre com a excitação que o
D) Cognitivo: Raciocínio, ritmo e coordenação. abala.
E) Motor: Esquema corporal. Na escola a música pode acontecer por meio da
musicalização. De acordo com Joly (2003)124 a vivência
A dança é muito mais que uma simples atividade física, musical promovida pela musicalização permite, na
mais do que movimentos para desenvolvimento da criança, o desenvolvimento da capacidade de expressar-
coordenação motora, um mero momento de lazer e se de modo integrado, realizando movimentos corporais
121 BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos (Org.). Teoria e prática da educação PARANÁ. Sistema de Ensino Presencial conectado. Curso de graduação em
artística. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. pedagogia: material didático - módulo 4. Londrina: UNOPAR Virtual, 2007.
122 CAVA, Laura Célia S. Cabral; MINARI, Ana Paula. Texto retirado da 124 JOLY, Ilza Zenker Leme. Educação e Educação Musical: conhecimentos
apostila: Dança na Escola, preparado pra o curso de formação continuada para para compreender a criança e suas relações com a música. In: Ensino de Música -
professores regentes de oficinas da Rede Municipal de Londrina. Londrina, 2004. propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003.
123 ANDRADE, Klésia Garcia; CAVA, Laura Célia S. Cabral. Fundamentos e
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enquanto canta ou ouve uma música. “O canto é usado reconstruídos podem ser armazenados na memória e podem
como forma de expressão e não como mero exercício ser repetidos no processo de construção da linguagem teatral.
musical”. A autora ainda ressalta, “dizer que uma pessoa é O aluno estabelecerá uma relação de trabalho com os
musicalizada significa dizer que ela possui sensibilidade outros, unindo imaginação, prática e observação de
para os fenômenos musicais e sabe expressar-se por meio regras. Por isso, a experiência com teatro na escola amplia
da música cantando, assobiando ou tocando um a capacidade dos alunos de dialogar, negociar, tolerar e
instrumento etc.” conviver com as diferenças.
De acordo com Andrade e Cava (2007), deve-se estar Conta nos PCN’s de Arte que, a criança ao começar a
atento ao fato da musicalização ser um processo constituído de frequentar a escola, possui a capacidade da teatralidade como
elementos especificamente musicais. Um professor que canta um potencial e como uma prática espontânea vivenciada nos
com seus alunos durante a entrada na sala de aula está jogos de faz de conta. Cabe à escola estar atenta ao
oferecendo a eles um tipo de vivência, mas essa vivência não desenvolvimento eficaz, para aquisição e ordenação
pode se limitar apenas a essa atividade. O professor bem progressiva da linguagem dramática. Deve tornar conscientes
fundamentado usa esses momentos de vivência cotidiana na as suas possibilidades, sem a perda da espontaneidade lúdica
escola, conectados a outros momentos nos quais a criança tem e criativa que é característica da criança ao ingressar na escola.
a oportunidade de criar e/ou compreender conceitos musicais O teatro, no processo de formação da criança, cumpre
a partir da vivência. não só a função integradora, mas dá oportunidade para
Os autores ainda ressaltam que, qualquer proposta de que ela se aproprie crítica e construtivamente dos
ensino que considere a diversidade cultural, precisa abrir conteúdos sociais e culturais de sua comunidade
espaço para o aluno trazer música para a sala de aula, mediante trocas com seus grupos. No dinamismo da
acolhendo- a, contextualizando-a oferecendo acesso a experimentação, da fluência, criativa propiciada pela
obras que possam ser significativas para o seu liberdade e segurança, a criança pode transitar
desenvolvimento pessoal em atividades de apreciação e livremente por todas as emergências internas integrando
produção. A diversidade permite ao aluno a construção de imaginação, percepção, emoção, intuição, memória e
hipóteses sobre o lugar de cada obra no patrimônio raciocínio.
musical da humanidade, aprimorando sua condição de De acordo com Cava (2007), assim como a dança e a
avaliar a qualidade das próprias produções e as música, trabalhar com teatro na escola não é apenas
produções de outros. representar peças no final do ano. Muitos pais e professores
Quase nunca a música é ensinada nas escolas, com a confundem o teatro na escola com escola de teatro, ambos têm
justificativa de não existir um profissional formado em música, objetivos diferentes. O objetivo de uma escola de teatro é
o professor regente, sente-se inseguro em ministrar essas formar atores e atrizes de teatro, diferente, portanto, do
aulas, pois acredita que para trabalhar com música precisa objetivo do teatro na escola, os professores não podem esperar
saber tocar um instrumento, compreender partituras, a mesma qualidade estética de uma apresentação na escola,
conhecer a vida de todos compositores eruditos, dentre com uma apresentação de uma peça teatral, também não é
outros. objetivo da escola formar atores mirins.
Certamente um professor formado em música seria mais Compete à escola oferecer um espaço para a realização
adequado, mas, na falta deste profissional, devemos trabalhar dessa linguagem, um espaço mais livre e mais flexível para que
com as possibilidades que temos e não excluir essa a criança possa ordenar-se de acordo com a sua criação.
oportunidade e esse direito do aluno, que são as aulas de Arte
e suas linguagens. E) Encaminhamento metodológico
D.4) Teatro
A disciplina de Artes, na escola, não tem como
Provavelmente, em algum momento, já nos perguntamos finalidade ilustrar conhecimentos, festas cívicas ou
quando o ser humano começou a representar, por que o fez e escolares. Como toda área do conhecimento, tem como
como teriam sido as primeiras apresentações. Segundo objetivo a construção e aquisição de conhecimento. Na
estudiosos, na pré-história, os homens primitivos já tinham verdade, há um grande equívoco em achar que nas aulas
necessidade de representar para expressar suas alegrias, de Artes tudo é válido, tudo é bonito, tudo é certo, o
tristezas e dúvidas, comunicando-se com os deuses, em rituais professor não faz intervenções, não dá explicações,
de magia e celebrações. Mas o teatro propriamente dito, com pensar que a disciplina está apenas ligada ao fazer, ao
atores e plateia surge na Grécia antiga em homenagem ao deus lazer, à espontaneidade e à expressividade. Outro
Dionísio. equívoco, é achar que as aulas de Artes, não precisam de
O teatro permitiu e permite que narremos fatos e que por planejamento, elas devem ser planejadas e o professor
intermédio da ação dramática os representemos. São deve ter bem claro o que irá propor e quais os objetivos
necessidades humanas o recriar da realidade em que vivemos pretende atingir.
e o transcender dos limites dessa mesma realidade. O jogo Dessa forma, o professor como mediador entre os
teatral pode ser relacionado aos processos de imitação, conteúdos de Artes e o aluno, deve fazer suas
simbolização e de jogo que permeiam a infância, sendo assim, intervenções, nos momentos oportunos, quando
é inerente ao homem. O teatro está presente em diversas necessário. Existe um pensamento equivocado, advindo
culturas de vários tempos e lugares. da Escola Nova, de que o professor não deve fazer nenhum
Os exercícios de expressão dramática estão comentário sobre o trabalho de seu aluno, para não
relacionados à fantasia e a imaginação, ao mundo do interferir em seu processo de criação. É importante que o
sonho e da representação, desenvolvendo a comunicação professor instigue seu aluno à reflexão sobre a arte de
e a criatividade. Pelo seu modo de ser, a linguagem teatral forma mais ampla, e também, em relação aos conteúdos
desperta nas crianças maiores aquela antiga sensação das de Artes que estão sendo trabalhados, que aceite suas
brincadeiras de quando eram pequenas, do faz de conta. contribuições, esclareça dúvidas, converse com ele, sugira
Os textos, no teatro, são transformados por meio da determinados procedimentos, explique novamente, caso
linguagem gestual. Essa linguagem se desenvolve pela perceba que o aluno não compreendeu, propicie rodas de
observação do cotidiano e no confronto texto/gestos. O texto conversas, dentre outros.
teatral também pode vir a ser um objeto de imitação e de O que o professor não deve fazer é interferir no trabalho,
crítica por parte dos alunos. Os gestos imitados e apagar desproporções, ditar as cores que o aluno deverá
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utilizar direcionar o trabalho, segundo o seu gosto, o seu que domina que determinará se um professor se desempenha
“padrão de beleza” e muito menos retocá-lo, para ficar mais bem ou não, mas sim seu envolvimento e compromisso em
“bonitinho”, pois irá para uma exposição! relação à educação e mais especificamente à disciplina de
O professor deve propiciar o manuseio de diferentes Artes.
materiais como: pincéis, giz de cera, lápis de cor, carvão, Após realizarem as atividades, é muito importante que
tinta, canetinhas etc. E também realizar os trabalhos em todos os trabalhos sejam expostos em painéis, paredes, varais,
diferentes suportes como: papéis, papelão, muro, tecido, rodas de apreciação ou outros. Todos os trabalhos deverão ser
chão, quadro de giz etc. E de diferentes tamanhos e formas expostos, inclusive os que, supostamente, saíram da proposta
- papéis circulares, retangulares, quadrados, pequenos, lançada e os alunos deverão fazer a leitura de seus trabalhos.
grandes, médios, de variadas cores e texturas. O espaço É muito importante a leitura do próprio trabalho. Essa
para que o aluno transite e manipule os materiais deve ser leitura diz respeito à apreciação estética, isto é, os alunos após
amplo, claro, arejado, não só o espaço entre as carteiras, o término de seus trabalhos irão apresentá-los aos demais
como também o espaço na carteira ou mesinha, para alunos e ao professor e falarão sobre eles.
realizar as propostas artísticas. O material, a ser utilizado, Fazer a leitura do trabalho é comentar sobre o trabalho, o
deve estar ao alcance dos alunos. que fez, por que fez, que materiais e procedimentos utilizou,
É de fundamental relevância, que o professor esteja como se sentiu ao realizá-lo, enfim, descrever o seu processo
motivado para poder contagiar seus alunos, com seu de criação. O aluno poderá fazer sua leitura indo à frente da
dinamismo e entusiasmo, mesmo sabendo que os materiais sala de aula, em seu lugar ou em círculo, que pode ser chamado
utilizados, por si só já os motivam. A alegria de mexer com de roda de apreciação dentre outros.
tintas, pincéis, cola, fantasias, instrumentos musicais, dentre Todos os trabalhos deverão ser apresentados, até os que,
outros já é bastante estimulador. supostamente, “fugiram” da proposta lançada, será nesse
O grupo é muito utilizado nas aulas de Artes por facilitar momento que o professor se certificará se realmente o aluno
na questão do espaço e por propiciar a integração dos alunos. fugiu da proposta ou se pensou de forma diferente, pois a
Essa integração propicia ao aluno o desenvolvimento da lógica do pensamento infantil é diferente da lógica do
tolerância, da autonomia e a compreensão da arte como pensamento do adulto. E também, será o momento de reflexão
linguagem. para o aluno que fugiu da proposta, pensar por que fugiu,
Em relação a situações aparentemente repensar seu trabalho e fazer comparações com os outros
“problemáticas”, principalmente nos desenhos infantis, trabalhos.
quanto às temáticas ou cores como: preto, marrom, etc.
são frequentes, no entanto, nem sempre essa situação Questões
significa problema. Existem inúmeros motivos para uma
criança abordar determinadas temáticas e cores. Não é 01. (EMSERH - Pedagogo - FUNCAB) “A presença das
função do professor, resolver situações “aparentemente Artes Visuais na educação infantil, ao longo da história, tem um
problemáticas”, ele deve ser um observador, sensível, descompasso entre os caminhos apontados pela produção
estar atento e ao detectar algo diferente, que possa ser um teórica e a prática pedagógica existente” (BRASIL, 2001, vol. 3,
possível problema, isto é, depois de várias observações, p. 87). De acordo com a proposta do Referencial Curricular
de ouvir o que seu aluno tem a dizer e com a persistência, Nacional para a Educação Infantil, as Artes Visuais devem ser
do possível problema, o melhor procedimento seria concebidas como:
encaminhar o caso ao supervisor ou diretor que tomará as (A) passatempos, atividades de desenhar, pintar, colar ou
devidas providências, conversando com a família, massinha.
orientando-a a levar o aluno a um profissional da área, um (B) decorativas, ilustrando tarefas de datas
psicólogo, por exemplo, se for o caso. comemorativas.
O professor não precisa ser obrigatoriamente um artista (C) reforço para aprendizagem dos mais variados
plástico profissional, mas uma pessoa com sensibilidade conteúdos.
curiosidade e responsabilidade. Pois como é possível (D) fixação e memorização de letras e números por meio
estimular a curiosidade nos alunos, se ele manifestar, frente de exercícios de coordenação motora.
aos objetos e as propostas lançadas, receio, insegurança, (E) uma linguagem que tem estrutura e características
desinteresse ou uma atitude passiva? Portanto, o que este próprias, cuja aprendizagem, no âmbito prático e reflexivo, se
profissional necessita é ter familiaridade com a disciplina, seus dá por meio da articulação dos seguintes aspectos: fazer
materiais e procedimentos, não só o professor como também artístico, apreciação e reflexão.
o aluno. Essa familiaridade faz com que se sintam seguros
diante de certos procedimentos, de imprevistos, da utilização 02. (SEDUC/AM - Professor de Artes - FGV) As opções a
de materiais e dos assuntos abordados. seguir exemplificam corretamente funções do professor como
Muitos professores acreditam que para ministrar aulas de mediador em artes, à exceção de uma. Assinale-a.
Artes, precisam saber inúmeras técnicas. Para ensinar Artes, (A) Incentivar a incorporação de conteúdos e linguagens
é necessário que o professor tenha segurança no que faz artísticas por seus alunos.
e, para que isso aconteça, ele precisa vivenciar certas (B) Propor reproduções de objetos de arte para apurar
situações práticas como, saber fazer um trabalho de capacidades práticas manuais.
colagem, pintura ou outro, saber alguns procedimentos, (C) Estimular a reflexão sobre a percepção e a
principalmente diante de imprevistos, saber como interpretação dos próprios alunos.
manusear determinadas ferramentas e também, estudar (D) Favorecer a recriação do objeto, plástica e
para que tenha embasamento teórico, para isso, são intelectualmente.
importantes os cursos de formação continuada, as (E) Apresentar questionamentos estéticos e historicizar
práticas pedagógicas e os grupos de estudos, para troca de critérios críticos da arte.
experiência, fundamentação teórica e a vivência com a
disciplina de Artes, teoria e prática caminhando juntos. É 03. (Prefeitura de Poá - Professor de Educação Infantil
fundamental que esse educador se sinta seguro ao lançar - VUNESP) Conforme o Referencial Curricular Nacional para a
uma proposta artística para melhor auxiliar seu aluno e Educação Infantil, a avaliação em Artes Visuais deve
transmitir-lhe confiança.
De acordo com Cava (2007), não é a quantidade de técnicas
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(A) buscar entender o processo de cada criança, a condições educacionais. Os docentes e demais profissionais
significação que cada trabalho comporta, incluindo julgamento trazem da sua formação profissional concepções de teorias e
se escalas valorativas. práticas pedagógicas que orientam sua ação.
(B) ser processual e ter um caráter de análise e reflexão O currículo é aqui compreendido como as intenções, as
sobre as produções das crianças. ações e as interações presentes no cotidiano: a vida na
(C) ser abolida da prática pedagógica desta área, tendo em educação infantil explicita uma concepção curricular. Mas a
vista que não há como avaliar o processo criativo. vida não é o currículo. O currículo, enquanto organização e
(D) ser contínua e cumulativa, com prevalência dos sistematização de intenções educacionais e ações pedagógicas,
critérios quantitativos sobre os qualitativos. não pode dar conta do excesso de sentidos, do indizível e do
(E) contemplar a observação e o registro da evolução invisível que há no viver cotidiano. A projeção e elaboração de
criativa da criança, utilizando critérios de valor, de acordo com um currículo é importante porque nos faz refletir e avaliar
parâmetros definidos. nossas escolhas e nossas concepções de educação,
conhecimento, infância e criança, reorientando nossas opções.
Gabarito E essas são sempre históricas, sempre redutoras diante da
imprevisibilidade que é viver no mundo. Isto é, o currículo diz
01.E / 02.B / 03.B respeito a acontecimentos cotidianos que não podem ser
objetivamente determinados, podem apenas ser planejados
tendo em vista sua abertura ao inesperado.
O trabalho com as múltiplas Convém ressaltar aqui que a linguagem pode ser não
verbal que, ao contrário da verbal, não se utiliza do vocábulo,
linguagens das palavras para se comunicar. O objetivo, neste caso, não é
de expor verbalmente o que se quer dizer ou o que se está
pensando, mas se utilizar de outros meios comunicativos,
Atualmente começam a emergir muitas propostas como: placas, figuras, gestos, objetos, cores, ou seja, dos signos
pedagógicas pautadas em linguagens. Como essa é uma visuais.
abordagem recente na educação infantil, a apresentação das Vejamos: um texto narrativo, uma carta, o diálogo, uma
bases teóricas ainda é muito sucinta e as compreensões entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou televisionado,
diferenciadas. Tal proposta de organização curricular traz uma um bilhete? Linguagem verbal!
série de questionamentos. Geralmente, a linguagem é Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida de futebol,
interpretada como um campo disciplinar - a linguagem verbal. o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma dança, o aviso de
Em outros momentos cada linguagem corresponde a uma “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a identificação de
disciplina, como a linguagem musical, a linguagem plástica e “feminino” e “masculino” através de figuras na porta do
ainda, outras vezes, aparecem como formas de expressão banheiro, as placas de trânsito? Linguagem não verbal!
relacionadas a instrumentos, ferramentas e tecnologias como A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao mesmo
a linguagem informática, a linguagem cinematográfica, etc125. tempo, como nos casos das charges, cartoons e anúncios
As linguagens algumas vezes aparecem condensadas publicitários.
como, por exemplo, em linguagens da arte ou linguagens
artísticas; outras subdivididas, como a linguagem do desenho, Observe alguns exemplos:
a linguagem da pintura, a linguagem da escultura.
- Cartão vermelho - denúncia de falta grave no futebol.
Na educação infantil as linguagens mais enfatizadas são, - Placas de trânsito - à frente “proibido andar de bicicleta”,
principalmente, as das artes visuais, do corpo e do movimento, atrás “quebra-molas”.
da música, da literatura, da linguagem oral, do letramento, da - Símbolo que se coloca na porta para indicar “sanitário
natureza e da sociedade. masculino”.
- Imagem indicativa de “silêncio”.
Independente da ausência de uma discussão mais
contundente que permita considerar a complexidade e Múltiplas linguagens e prática sociais de educação
ambiguidade do tema, a importância da ideia das linguagens
nos currículos é a de que permite considerar a Os gestos e o ato de brincar
multidimensionalidade das crianças. As linguagens ocorrem Conforme Vygotsky, a escrita tem início com os gestos, é o
no encontro de um corpo que simultaneamente age, observa, signo visual inicial que contém a futura escrita da criança. Para
interpreta e pensa num mundo imerso em linguagens, com Vygotsky, “[...] os gestos são a escrita no ar, e os signos escritos
pessoas que vivem em linguagens, em um mundo social são, frequentemente, simples gestos que formam fixados [...]”.
organizado e significado por elas.
Para pensar e propor outra formulação de currículo é Os gestos são uma representação visual, uma forma de
preciso compreender que, desde as primeiras páginas desse comunicação que a criança utiliza nos primeiros anos de vida.
documento, uma proposta curricular já vem sendo escrita, já Os rabiscos que as crianças costumam fazer tendem a ser mais
que ela evidencia as opções para compreender e interpretar a gestos do que desenhamos, pois “[...] Quando ela tem de
sociedade, a infância, as famílias e os estabelecimentos de desenhar o ato de pular, sua mão começa a fazer os
educação infantil. movimentos indicados do pular; o que acaba aparecendo no
Um currículo não pode ser previamente definido, ele só papel [...]”126.
pode ser narrado. O currículo acontece no tempo da ação. Ele Vygotsky afirma que “A segunda esfera de atividades que
emerge do encontro entre famílias, crianças e docentes. Nesse une os gestos e a linguagem escrita é a dos jogos das crianças”.
encontro as famílias e as crianças trazem valores, saberes Para o autor, os jogos fazem um elo entre os gestos e a
culturais e experiências de inserção social e econômica linguagem escrita. É através dos objetos que a criança
diversificados. As escolas oferecem modos de gestão e consegue estabelecer símbolos e assim chegar aos signos. De
organização dos ambientes escolares, propiciando as fato, “O mais importante é a utilização de alguns objetos como
125 BARBOSA, M. C. S. Práticas Cotidianas na Educação Infantil. Brasília, 2009. 126 NUNES, C. D. O.; SILVA, J. A. da. As Múltiplas Linguagens e a Apropriação
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brinquedos e a possibilidade de executar, com eles, um gesto X”, expressão usada por Buhler na qual a criança desenha
representativo. Essa é a chave para a função simbólica do partes que na verdade não se pode ver, como por exemplo, o
brinquedo das crianças”. dinheiro dentro da carteira. E o desenho que exclui partes do
Para a criança qualquer objeto pode ser usado para corpo como pernas e braços.
brincar, até mesmo um pedaço de pau pode ser uma boneca, Segundo Sully, “[...] as crianças não se preocupam muito
uma brincadeira simbólica como esta cheia de significados, com a representação; elas são muito simbólicas do que
pois a criança usa de gestos para brincar. naturalistas e não estão, de maneira alguma, preocupadas com
Logo, “[...] o brinquedo simbólico das crianças pode ser a similaridade completa e exata, contentando-se com as
entendido como um sistema muito complexo de ‘fala’ através indicações apenas superficiais”.
de gestos que comunicam e indicam os significados dos objetos O desenho é uma simples identificação, sem se preocupar
usados para brincar”. com detalhes de uma representação. Desta forma, podemos
Vygotsky ressalta que não se pode negar o papel que a dizer que “[...] o desenho das crianças como um estágio
brincadeira possui para o desenvolvimento da criança, pois a preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita”.
mesma contribui para a expansão da linguagem escrita “[...] Vygotsky afirma ainda a dificuldade de transição, mas,
consideramos a brincadeira de faz-de-conta como um dos esclarece que é através do desenho das coisas que a criança
grandes contribuidores para o desenvolvimento da linguagem desloca-se para o desenho das palavras. Ele frisa que esta
escrita - que é um sistema simbolismo da segunda ordem”. transição deve ser feita de maneira natural e após este
entendimento aperfeiçoar o método da escrita.
H. Hetzer, realizou vários estudos sobre a representação Ainda quanto ao desenhar, Vygotsky explica que a criança
simbólica dos objetos, fator de extrema importância que a tende a desenhar da mesma forma com que realiza o
criança de três a seis anos são capazes de desenvolver. movimento a ser desenhado, pois, “[...] Quando ela tem de
Concluiu que, desenhar o ato de pular, sua mão começa a fazer movimentos
indicativos do pular, que acaba aparecendo no papel, no
[...] mais importante desse estudo do desenvolvimento é que, entanto é a mesma coisa: traços e pontos [...]”
na atividade de brinquedo, a diferença entre uma criança de três
e outra de seis anos de idade não está na percepção do símbolo, A Dança e a Música
mas sim, no modo pelo qual são usadas as várias formas de No indivíduo, a dança e a música estimulam áreas do
representação. Na nossa opinião, essa é uma conclusão cérebro que aguçam a percepção, desenvolvendo a
extraordinariamente importante; ela indica que a sensibilidade, o raciocínio, a concentração, memória e
representação simbólica no brinquedo é, essencialmente, uma coordenação motora. Também ajudam na expressão das
forma particular de linguagem num estágio precoce, atividade emoções, facilitam as relações sociais, o enriquecimento
essa que leva, diretamente, à linguagem escrita. cultural, e auxilia na construção da cidadania.
No que tange a dança, quando inserida no âmbito da
Por isso, devemos tomar cuidado ao inserir o brincar e a educação infantil, propicia o autoconhecimento, estimulando a
brincadeira no projeto pedagógico, para não trabalharmos corporeidade na escola, além de proporcionar aos educandos
com estes de forma tradicional, que de certa forma relacionamentos estéticos com as outras pessoas e com o
desvalorizam o brincar. mundo, incentivando a expressividade dos indivíduos por
Sendo assim, os autores acrescentam que [...] nas meio de comunicação não verbal e diálogos corporais.
brincadeiras se aprendem e são incorporados conceitos, Barreto identifica dentre os sentidos estimulados pela
preconceitos e valores. Nelas se expressam nossas múltiplas dança a expressão artística, a expressão humana,
belezas, como também as mais sutis e grotescas molezas possibilitando também a expressão dos sentimentos, além de
humanas e sociais. Expressões humanas como a competição, a representar uma forma de conhecimento, comunicação e
cooperação, a violência, a brutalidade, a delicadeza, o sensibilização na educação, promovendo o desenvolvimento
sentimento de exclusão e inclusão [...] os combinados da criatividade e a liberação da imaginação na criança.
coletivos, o respeito e o desrespeito, aparecem de forma A dança pode ser expressa por meio de atividades lúdicas,
contraditória. tais como: “jogos, brincadeiras, mímicas, interpretações de
Ao brincar a criança participa das construções de regras, músicas”, ou atividades técnicas, como “exercícios técnicos de
sendo assim, “[...] as crianças constroem conhecimentos e dança, improvisação, atividades de conscientização corporal”.
vivem relações sociais específicas, repletas de valores e Outras formas são as atividades inspiradas no cotidiano, como
significados”. a exploração de danças e movimentos cotidianos e temas
Vygotsky “[...] apresenta a criança como sujeito marcado geradores da cultura brasileira.
pela história e pela sua cultura, que interage com a realidade a Marques considera que “[...] a escola, inicialmente, estaria
partir das suas relações com o mundo e revela uma mais engajada com as danças criadas com finalidades e
singularidade própria de suas experiências culturais e sociais intenções artísticas, já que os outros tipos de dança estão
[...]”. Portanto, para Vygotsky, as brincadeiras são disponíveis e mais acessíveis aos alunos no meio em que vivem
consideradas atividades importantes na educação da criança, [...]”. Contudo, Marques (2005) considera que o professor
uma vez que permite o desenvolvimento afetivo, motor, engajado aos contextos dos alunos se torna um propositor e
cognitivo, social e moral. Promove a aprendizagem de um articulador, entre estes contextos e o conhecimento em
conceitos e a aproximação entre as crianças e delas com os dança a ser desenvolvido na escola. Da mesma forma, cabe ao
adultos, além de colocá-las em contato com si mesma e com o professor, conectado ao universo sócio-político-cultural dos
mundo. alunos, escolher e mediar relações entre a dança dos alunos
“[...] seus repertórios pessoais e culturais [...] suas escolhas
Desenho pessoais de movimento [...]”, a dança dos artistas, tais como a
Existe uma grande relação entre o ato de desenhar com a capoeira, o passista de escola de samba ou um coreógrafo e, o
linguagem falada e escrita, que esta por sua vez é uma etapa conhecimento em sala de aula, com a intenção de não tornar as
próxima da criança no processo de apropriação do experiências vazias, repetitivas e enfadonhas.
conhecimento. De acordo com K. Buhler, a criança consegue Com relação à música, esta representa uma energia que
desenhar quando a linguagem falada já está bem formada. eleva e amplia a percepção infantil. Uma boa música multiplica
Seus desenhos são de memória e eles não tem nada em comum suas ações e auxilia no desenvolvimento da flexibilidade,
com o objeto original. Existem também os “desenhos de raios- energia, fluência verbal, além de desenvolvimento mental,
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emocional e espiritual. Além de motivante, a música é um sempre presente, uma colher pode ser uma boneca, a vassoura
referencial para o ajuste dos movimentos e, portanto, é pode ser um avião. As brincadeiras ajudam no
estimulante tornando-se este um dos objetivos da utilização da desenvolvimento da criança contribuindo para sua vida e na
mesma. construção da linguagem escrita. Como afirma Vygotsky:
Por meio da música o professor trabalhará o esquema
corporal, uma vez que a criança aponta as partes do corpo Para elas, alguns objetos podem, de pronto, denotar outros,
enquanto canta determinadas músicas. Passa a ter noção de substituindo-os e tornando-se seus signos [...] O mais importante
tamanho, além de outras experiências corporais que a música é a utilização de alguns objetos como brinquedo e a
lhe proporciona. Conforme Craidy; Kaercher “[…] A criança possibilidade de executar, com eles, um gesto representativo.
precisa de vivências mais ricas para construir uma imagem de Essa é a chave para toda a função simbólica do brinquedo nas
si mesma e a partir de sua identidade corporal, suas crianças [...].
possibilidades físicas, suas singularidades”. Craidy; Kaercher apontam que as atividades artísticas
realizadas pelas crianças devem ter a mediação do professor:
Além do aspecto envolvendo o esquema corporal, a música O professor deve apresentar os mais variados tipos de
engloba noções básicas de orientação espacial, tais como: em suportes planos para os trabalhos bidimensionais: papéis e
cima, embaixo, frente e atrás. Da mesma forma, a folhas de plástico, pedaços de lixas, tecidos, etc. Mesmo que o
expressividade da criança se desenvolve, contudo, as crianças trabalho seja desenho ou pintura, podemos explorar
não devem somente imitar os gestos de um modelo, no caso o superfícies de objetos tridimensionais como: balões, caixas de
professor, pois essa atitude limitaria a criatividade infantil. ovos, caixas diversas, objetos industriais [...].
Craidy; Kaercher evidenciam que, atualmente, existe uma Para uma utilização adequada por parte dos alunos, o
infinidade de produções musicais de qualidade para crianças, professor deve fazer um bom uso dos materiais disponíveis,
nas quais os autores se preocupam com a letra, os arranjos e o variando os objetos que serão utilizados para que suas
ritmo das músicas, além de contar com intérpretes que atividades não se tornem cansativas, tanto para si próprio,
expressam emoções diferentes nas canções. quanto para os alunos. Deve começar a explorar variações de
O professor deve estimular as crianças a cantarem e se todos os tipos, não apenas em relação ao material, mas
expressarem sem a preocupação com a afinação, pois trata-se principalmente ao espaço.
de uma área de conhecimento que muitas vezes é A aprendizagem com significado para a criança, deve ser
negligenciada no processo formativo das crianças. alicerçada na mediação pedagógica do professor. Dessa forma,
A criança que desafina não teve a sorte, ou não teve a a criança desenvolve sua criatividade através da mediação do
oportunidade, de conviver num ambiente em que a confiança educador que estimula o aluno a realizar suas próprias
e as interações fossem incentivadas. Contudo, ela não será uma produções artísticas. O professor deve estar em constante
pessoa desafinada para sempre, tudo vai depender do tipo de aperfeiçoamento e realizando escolha dos recursos didáticos
interação que vai realizar com a música, das oportunidades de forma condizente com a faixa etária das crianças, bem como
que terá para cantar e utilizar sua voz como forma de com os objetivos que pretende alcançar.
expressão. A criança ao ser colocada em contato com materiais
A música permite a criança aprender a combinação de diferentes tem a oportunidade de perceber sua verdadeira
sons, bem como atribuir significado a estes sons. “[...] É isso utilidade, ampliando seu conhecimento. Craidy; Kaercher
que fará dela um ser humano capaz de compreender os sons evidenciam a importância da mediação pedagógica do
de sua cultura e de se fazer entender pelo uso deliberado professor para que a criança realize suas atividades: “[...] é
dessas aprendizagens nas trocas sociais”. necessária a intervenção do professor para que os elementos
Além do aspecto cultural envolvendo a música, ela também fiquem onde a criança colocou na segunda ou terceira vez,
se revela como instrumento de socialização e criação de antes que rasguem o papel [...]”.
vínculos entre as crianças e professores. A música torna-se O contato com diversos materiais provoca novas
uma forma de desenvolvimento da linguagem oral, pois experiências nas crianças. O uso de materiais é como um
remete à interação do adulto com a criança, da interação entre desafio que deve ser estabelecido com as crianças,
as próprias crianças e também dos momentos em que as aumentando o grau de dificuldade gradativamente. As
crianças somente ouvem ou quando cantam suas músicas. crianças devem ter a oportunidade de experimentar coisas
Contudo, Craidy; Kaercher evidenciam que música não é novas, novas texturas. O professor deve acompanhar, mas não
somente o cantar, mas também a manipulação dos fazer pelo aluno, interferindo na sua criatividade.
instrumentos musicais ou objetos sonoros que são ofertados Ao fazer uso frequente das ferramentas, o aluno
às crianças. “As crianças precisam ter experiências concretas desenvolve sua coordenação motora, a criatividade, a
com objetos que emitem sons, instrumentos musicais ou sensibilidade. Esse é um trabalho que acontece de forma
outros e formar um vocabulário especifico para se referir a gradual, de acordo com o nível de desenvolvimento da criança.
eventos sonoros [...]”. Muitos são os materiais que podem ser explorados pelas
Ainda de acordo com Craidy; Kaercher, o trabalho com a crianças, tais como: pedaços de estopa, chumaços de algodão,
música não pode ser mera repetição das palavras e gestos do pazinhas de sorvete, talheres, tesouras sem pontas, dentre
professor, sendo importante que as crianças tenham em mãos outros. As tesouras servem para cortar e também para a
objetos musicais para que possam manipular e criar sons criança desenhar no papel e são indicadas para as crianças a
diversos. partir dos três anos, pois é o momento em que conseguem
manuseá-la com apenas uma mão.
Manipulação de objetos e materiais artísticos As crianças, segundo Craidy; Kaercher também podem
Segundo Craidy; Kaercher, a criança deve manipular os brincar de esculturas com materiais diversos como mistura de
materiais, livremente, pois experimentar novas sensações é água com terra e as massinhas de modelar, sendo que estas
importante para a criança. No entanto, é preciso delimitar devem ser comestíveis, pois com frequência as crianças as
locais apropriados para desenvolver suas pinturas. levam à boca devido as suas cores chamativas. Quanto aos
É através da manipulação de diferentes objetos que a pigmentos encontramos na natureza cores variadas e com um
criança consegue estabelecer símbolos e, assim, chegar aos custo acessível, servindo de estímulo para que a criança
signos, de fato os jogos fazem elo entre os gestos e a linguagem busque a sua volta cores diferentes em plantas, materiais como
escrita. Sempre que observamos uma criança brincar podemos terra, sementes e outros.
notar que em meio a sua brincadeira o faz-de-conta está
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O espaço onde serão realizadas estas atividades deve ser no entanto, de maneira nenhuma é novo para a ciência em geral;
organizado e os materiais dispostos em locais de fácil acesso é novo somente para a psicologia da criança. Portanto, apesar
para as crianças, com exceção daqueles objetos que as crianças de algumas tentativas ousadas, a psicologia infantil não possui
não poderão manusear sozinhas. Ao trabalhar a organização uma visão convincente do desenvolvimento da linguagem da
espacial o professor também estará trabalhando com temas escrita como um processo histórico, como um processo unificado
como socialização, utilização coletiva de materiais, respeito, de desenvolvimento.
cuidados com os materiais escolares.
O RCNEI aponta como orientações didáticas que o Vygotsky afirma ainda que o segredo está em a criança
professor oportunize às crianças momentos para que se sentir a necessidade de ler e escrever, no dia-a-dia, por isso
familiarizem com os procedimentos ligados aos materiais não se deve ensinar a criança somente as escritas das letras,
utilizados, bem como possibilite aos alunos a reflexão com mas, a linguagem da escrita.
relação ao resultado obtido. Tendo em vista que o RCNEI, DCNEI e os PCNEI ressaltam
a importância da organização do tempo e espaço na educação
Escrita infantil, destacou-se neste capítulo algumas reflexões que
No item anterior, destacamos a importância do priorizam uma prática pedagógica pautada nas múltiplas
desenvolvimento intelectual na criança, porém neste, linguagens.
ressaltaremos a forma com que a mesma se apropria da Evidenciou-se que os gestos e o brincar proporcionam a
escrita. Luria, fez várias pesquisas quanto ao processo de criança o início do que será sua escrita futuramente, uma vez
simbolização na escrita, desenvolveu experiências com as que trata-se de uma primeira forma de comunicação infantil.
crianças e fez várias comparações. Baseado nos estudos de Quando a criança brinca ela está socializando-se com as
Luria, Vygotsky acredita que, “[...] Gradualmente, as crianças demais crianças e estimulando sua comunicação. Com o
transformam esses traços indiferenciados. Simples sinais desenho a criança se expressa e estimula o desenvolvimento
indicativos e traços e rabiscos simbolizadores são substituídos da escrita que será uma fase futura.
por pequenas figuras e desenhos, e estes, por sua vez, são A dança e a música representam grande estímulo a criança,
substituídos por signos”. aguçando sua sensibilidade, criatividade e desenvolvendo, ao
mesmo tempo, a coordenação motora e suas emoções. Por
Para Vygotsky, [...] a criança precisa fazer uma descoberta meio da manipulação de objetos e materiais artísticos a
básica - a de que se pode desenhar, além de coisas também fala. criança também tem a possibilidade de desenvolver sua
Foi essa descoberta, e somente ela, que levou a humanidade ao criatividade e sua expressividade. Da mesma forma, as
brilhante método da escrita por letras e frases; a mesma brincadeiras de manipulação propiciam a criança a construção
descoberta conduz as crianças à escrita literal. Do ponto de vista da linguagem escrita, bem como ampliar seu conhecimento.
pedagógico, essa transição deve ser propiciada pelo Enfim, a escrita é o resultado das diversas experiências que
deslocamento da atividade da criança do desenhar coisas para a criança realiza durante sua infância, ou seja por meio dos
o desenhar a fala. gestos, brincadeiras, manipulações e pelo movimento do seu
corpo, proporcionado pelas atividades envolvendo a dança e a
O desenvolvimento da linguagem escrita, segundo música. Dessa forma, compreendemos que a escrita forma-se
Vygotsky se dá pelo deslocamento do desenho de coisas, para nas mais diversas relações estabelecidas pela criança no
o desenho de palavras. Na verdade, o segredo do ensino da decorrer das atividades que realiza.
linguagem escrita é preparar para organizar adequadamente Ao finalizar essas reflexões, ressaltamos que a criança não
essa transição de maneira natural. Após ser alcançado esse aprende somente por meio da repetição, ou da leitura e escrita,
processo, a criança passa a dominar o princípio da linguagem mas pelas múltiplas linguagens inerentes no processo de
escrita, desta forma, é necessário aperfeiçoá-la. apropriação do conhecimento. A infância é uma fase onde
Portanto, para ser alfabetizada, a criança precisa querer ocorre o desenvolvimento intelectual, emocional, motor e
aprender a ler e escrever, no entanto, é indispensável ressaltar social do ser humano. A criança vive a infância como um
que é o professor quem deve mediar esse processo, e não abrir momento próprio dela, tendo um tempo que possibilite
mão disso, sendo preciso competência e responsabilidade. diversas linguagens, na qual destacamos o gesto e o ato de
Enfim, é a própria criança que abre a porta para a alfabetização brincar, que a criança ao brincar utiliza um objeto e o
e para que isto aconteça é fundamental que a mesma perceba transforma em outro objeto, o que acaba sendo uma
sua utilização no seu cotidiano. No entanto, o professor deve brincadeira simbólica cheia de significados, onde a criança usa
ser o mediador desse processo. os gestos para brincar.
Vygotsky afirma que “A linguagem escrita é constituída por Os gestos, neste aspecto, são a primeira forma de
um sistema de signos que designam os sons e as palavras da comunicação utilizada pela criança. E, as brincadeiras, por sua
linguagem falada, os quais, por sua vez, são signos das relações vez determinam regras e desenvolvem nas crianças os
e entidades reais [...]”. Assim, o domínio de um complexo aspectos afetivos, motor, social, moral e cognitivo.
sistema de símbolo não pode ser alcançado de forma externa e A criança desenha quando sua linguagem falada está bem
mecânica. Ele ainda ressalta que esse domínio é o maior ponto formada. O desenho é considerado por Vygotsky como uma
do processo de desenvolvimento das funções fase que antecede à escrita, pois é pelo desenho das coisas que
comportamentais complexas. a criança transita para o desenho das palavras, essa transição
deve se dar naturalmente para só então depois haver o
A apropriação da linguagem escrita não segue uma linha aperfeiçoamento da escrita.
contínua, pois ocorrem transformações. No que diz respeito a A dança no ambiente da educação infantil contribui para
esse assunto, Vygotsky afirma que, que a criança expresse suas emoções, tenham mais facilidade
de relacionamento, enriquecendo-a culturalmente, bem como
[...] a história do desenvolvimento da linguagem escrita nas auxiliando-a na construção da cidadania e a mesma vivenciar
crianças é plena dessas descontinuidades [...] Mas somente a cada momento em seu significado.
visão ingênua de que o desenvolvimento é um processo Portanto, a aprendizagem na educação infantil ocorre
puramente evolutivo, envolvendo nada mais do que acúmulos quando existe a participação da criança, pois desde o seu
graduais de pequenas mudanças e uma conversão gradual de nascimento ela interage com o meio e com as próprias pessoas
uma forma em outra, pode-se esconder a verdadeira natureza destes, o que acaba assim resultando no seu próprio
desses processos. Esse tipo revolucionário de desenvolvimento, desenvolvimento.
Conhecimentos Pedagógicos 99
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Quando dizemos que a criança da educação infantil tem corpo como instrumento, mas como lugar e espaço da
direitos como ser humano, não podemos deixar de ressaltar os manifestação da nossa humanidade.
documentos que estão relacionados ao direito da criança e ao Sendo assim, a criança não aprende apenas a andar, a falar,
seu atendimento na educação infantil que é o RCNEI, DCNEI e a comer, a controlar os esfíncteres, etc. ela aprende, também, a
os PNQEI, que demonstram as políticas estabelecidas em leis maneira de andar, de se comportar e falar nos diferentes
que dão prioridade ao atendimento educativo, na qual lugares, o gosto por determinados alimentos, o manuseio dos
garantem o desenvolvimento integral da criança, servindo artefatos culturais para se alimentar, a forma correta de
como base para desenvolver um trabalho com as múltiplas utilizar o banheiro, entre outros. A cultura molda nossos
linguagens nesta etapa da educação básica. gestos, nossa forma de expressar sentimentos e emoções,
Cabe ressaltar ainda que dentre essas a dança por sua vez nossas sensações, nossos hábitos de higiene e saúde e nossa
pode ser expressa em várias atividades lúdicas, por meio dos sexualidade.
jogos, brincadeiras, interpretações de músicas, mímica. A Sob essa perspectiva, o corpo “não é apenas uma
música quando bem trabalhada na educação infantil auxilia no construção pessoal, mas social e política” que, ao inserir-se no
desenvolvimento de flexibilidade, energia, no mundo, também produz cultura, na medida em que imita,
desenvolvimento mental, emocional e espiritual. Assim, o repete, nega ou transgride os saberes, os conhecimentos, as
trabalho com a música não deve ser apenas repetitivo, mas sim normas e os costumes. Ao se tornar “cultural”, humanizado, o
que as crianças devem cantar e se expressar, além de corpo “fala”, manifestando emoções, ideias, valores,
manipular objetos musicais e criar diversos sons. preconceitos e sentimentos.
Quando a criança manipula objetos livremente a criança O corpo, como resultado da cultura, sente o mundo e, por
desenvolve a criatividade, pois a variação desses objetos isso, não é estático. Ele é provisório, mutável e mutante,
devem ser constantes, pois são muitos esses materiais. permitindo que os seres humanos, ao assumirem
O professor da educação infantil deve ter uma ação determinadas referências, façam cultura, realizando, dia após
pedagógica que articule as múltiplas linguagens inerentes no dia, uma educação que é também corporal. Uma educação que
processo de aquisição do conhecimento, colocando as mesmas explicite os modos de ver e tratar o corpo, possibilitando à
em prática para atingir suas metas educativas. Este professor criança a construção de suas identidades e subjetividades, que
deve estabelecer regras, desde que estas deem condições para perpassam por questões etnicorraciais, de gênero, etc.
que ele possa realizar um excelente trabalho com os alunos. Nesse sentido, passa a ser responsabilidade das
Todavia, se a criança for reprimida e obrigada a seguir um instituições de educação infantil - IEI - possibilitar que as
caminho comum, igual à de todos, ela não terá como crianças vivenciem o movimento, a expressividade, as
desenvolver sua criatividade e a capacidade intelectual. sensações, o cuidado/autocuidado e a sexualidade,
contemplando, nesse processo, a diversidade que nos
A Criança, o Corpo e a Linguagem Corporal caracteriza como humanos. Trata-se de refletir sobre a
integralidade da criança, admitindo que corpo, sensações e
Um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno. emoções são aspectos indissociáveis da humanidade,
Mais do que um conjunto de músculos, ossos, reflexos e determinados pelo biológico, pelo social e pelo cultural.
sensações, o corpo é também a roupa e os acessórios que o Esse olhar remete à necessidade de se criar possibilidades
adornam, as intervenções que nele se operam, a imagem que interativas que instiguem nas crianças o seu desejo natural de
dele se produz, as máquinas que nele se acoplam, os sentidos explorar a multiplicidade de manifestações culturais
que nele se incorporam, os silêncios que por ele falam, os relacionadas ao corpo.
vestígios que nele se exibem, a educação de seus gestos O debate sobre o trabalho com o corpo já se encontra
...enfim, é um sem limite de possibilidades sempre contemplado no campo das políticas públicas, o que pode ser
reinventadas e a serem descobertas. Não são, portanto, as verificado, entre outros documentos, nas diretrizes
semelhanças biológicas que o definem, mas curriculares nacionais para a educação infantil - DCNEI -, no
fundamentalmente os significados culturais e sociais que a ele referencial curricular para a educação infantil - RCNEI e na lei
se atribuem... 10639/03, que, ao modificar a lei de diretrizes e Bases da
Este campo de experiência, na educação infantil, diz educação nacional (LDBEN 9394/96), inclui no currículo
respeito a aspectos relacionados ao corpo, com ênfase nos oficial da educação Básica a obrigatoriedade do ensino da
movimentos, na expressividade, nas sensações, na saúde e na “História e cultura afro-brasileira e africana”.
sexualidade.
As DCNEI, aprovadas pelo conselho nacional de educação
O que é esse campo de experiência e qual o seu em dezembro de 2009, preconizam que [...] as práticas
significado? pedagógicas que compõem a proposta curricular da educação
Na interação com outros seres humanos, o corpo biológico infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a
vai, gradativamente, sendo marcado e continuamente alterado brincadeira, garantindo experiências que:
pela cultura e pelos valores de determinado tempo histórico; I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio
suas necessidades e desejos mudam progressivamente. da ampliação de experiências sensoriais, expressivas,
Ainda que ele seja lugar de expressão da nossa corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão
subjetividade, é nele que a cultura deixa suas marcas. É nele e da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da
com ele que conhecemos o mundo; é com ele que nos criança;
movimentamos; é ele que expressa nossos sentimentos e II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes
emoções; é nele que experimentamos as sensações linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros
despertadas pelos estímulos externos; é com ele que e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e
vivenciamos nossa sexualidade; é com ele que perpetuamos a musical; [...]
nossa espécie. A primeira forma de linguagem da criança é o III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de
movimento e ela utiliza o corpo para dialogar com o outro. A apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e
capacidade de movimentar-se e criar movimentos amplia a convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e
interação entre os humanos. escritos;
Enfim, é no corpo que a vida se consubstancia, se revela, se IV - recriem, em contextos significativos para as crianças,
apresenta, se materializa. Portanto, não se pode conceber o relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço-
temporais;
V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas Nesse sentido, a realização de atividades sensoriais,
atividades individuais e coletivas; expressivas e de movimentos corporais possibilita que a
VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas criança amplie sua noção espacial, uma vez que o corpo é o
para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de primeiro espaço que ela conhece e reconhece; é a partir dele
cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar que ela explora o espaço externo. Portanto, não há espaço
(...) externo que se configure sem envolvimento do corpo, assim
Uma das principais características da criança de 0 até 6 como não há corpo que não ocupe um espaço. O espaço é o
anos é que ela está em pleno desenvolvimento motor. Assim, lugar no qual o corpo pode mover-se e o corpo é o ponto em
do ponto de vista biológico, ela está potencialmente em torno do qual o sujeito organiza o espaço. Estimular a
condições de descobrir os limites e as possibilidades do seu linguagem corporal é possibilitar que a criança se conheça,
corpo. Na relação com o meio, mediada por outros sujeitos, seu conheça o mundo e se manifeste sobre o que conhece.
corpo se constrói e reconstrói na síntese das determinações Mas, além do desenvolvimento da linguagem corporal,
culturais, sociais, biológicas e psicológicas. manifestada no movimento, na expressividade e nas
Nessa direção, o RCNEI, aprovado em 1998, já afirmava sensações, o trabalho com o corpo possibilita à criança
que o movimento, os gestos e as expressões ganham construir sua autonomia e conquistar sua independência em
significado na cultura, assim como é na cultura que se aprende relação aos adultos. Para tanto, as profissionais das IEI devem
o manuseio de objetos específicos tais como pás, lápis, bolas, desenvolver atividades que visem consolidar as práticas de
bolas de gude e outros. Esse documento reconhece também autocuidado - higiene pessoal, movimentação segura nos
que, o movimento para a criança pequena significa muito mais diferentes espaços, limpeza da instituição e cuidado com o
que mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. meio ambiente -, que podem ser trabalhadas em momentos
A criança se expressa e se comunica por meio dos gestos e coletivos - escovação dos dentes, higienização das mãos,
das mímicas faciais e interage usando fortemente o apoio do recolhimento de brinquedos, deslocamentos dentro e fora da
corpo. A dimensão corporal integra-se ao conjunto de sala de atividades e da instituição, etc. - ou em momentos
atividade da criança. O ato motor faz-se presente em suas individuais - hora do banho, troca de fralda e uso do banheiro,
funções expressivas, instrumental ou de sustentação às por exemplo.
posturas e aos gestos. Além disso, a criança também precisa sentir que sua
Nesse trabalho com o corpo a ser desenvolvido natural curiosidade sobre as questões relacionadas à sua
cotidianamente nas IEI, é necessário atentar para o fato de que sexualidade é considerada, respeitada e respondida pelos
os corpos das crianças negras e pardas trazem marcas sociais adultos com os quais lida cotidianamente. É interessante levar
que os inferiorizam e desqualificam. Por isso, cabe, aqui, em conta que a sexualidade faz parte da vida da criança desde
especial atenção à lei 10639/03, cujo objetivo é possibilitar o seu nascimento e que uma postura mais tranquila e
“que a população negra apareça no espaço educacional de equilibrada diante dessa questão, por parte dos adultos,
forma efetiva e não apenas em datas comemorativas. Nestes exerce grande influência na construção de uma sexualidade
conteúdos estão incluídas, ainda, a luta, a resistência do povo sadia e sem culpa.
negro e a sua participação na formação da sociedade Finalmente, o que se deseja mesmo é que todos que lidam
brasileira.” com a educação da criança de 0 até 6 anos de idade
Contudo, mais do que atender a determinações legais, as compreendam o corpo como construção biológica e cultural e
profissionais que lidam cotidianamente com as crianças que trabalhar na perspectiva da formação humana exige
precisam estar atentas para o fato de que as características atenção a esse campo de experiência. Afinal, nossos corpos
físicas da criança, o meio no qual ela nasce e a cultura mais dizem muito de nós, de nossas origens, mas também dizem
ampla na qual está inserida deixam marcas no seu corpo. muito da instituição e da sociedade a que pertencemos.
Marcas que precisam ser compreendidas, significadas,
ressignificadas e, não raro, problematizadas. Assim como as Como o conhecimento sobre esse campo de experiência
crianças negras, também as meninas, as crianças com foi construído historicamente pela humanidade?
deficiência, as gordas, as altas, as muito magras, as que usam Atualmente, é bastante aceita a teoria de que o homem só
óculos podem sofrer preconceitos e discriminações por parte foi capaz de produzir conhecimento e se apropriar do
de outras crianças e de adultos. Ao serem detectadas, essas ambiente ao começar a se locomover de forma ereta,
situações precisam ser discutidas, esclarecidas e, na medida do ampliando, assim, seu campo de visão. Essa motricidade,
possível, desconstruídas. A intervenção do profissional deve específica do ser humano, aliada ao desenvolvimento das
ser sempre no sentido de ajudar todas as crianças a terem uma funções mentais superiores (a função simbólica, atenção,
autoimagem positiva, a respeitarem o próprio corpo e o corpo percepção e memória), à construção da cultura e ao
das outras pessoas, a reconhecerem e respeitarem a estabelecimento de relações sociais, permitiu a supremacia do
diversidade com a qual se deparam constantemente no homem sobre os demais animais. Portanto, o aumento da
convívio social, a ampliarem sua capacidade de comunicar com possibilidade de movimentação favoreceu o desenvolvimento
o corpo. intelectual da espécie humana.
Se o corpo fala, a linguagem corporal se manifesta quando Essas potencialidades físicas e mentais permitiram que o
a criança corre, anda, salta, rola, brinca com o corpo - homem, mesmo que, inicialmente, de maneira elementar,
movimento; quando ela dança, gesticula, faz mímica, passasse a se organizar política e socialmente, significando e
interpreta, dramatiza, expressa, oral e corporalmente, ressignificando continuamente o seu corpo de acordo com as
sentimentos, desejos e necessidades - expressividade; quando necessidades e exigências de cada tempo histórico.
externa bem estar ou mal-estar nas diversas situações que Ao traçarmos o percurso histórico das atividades físicas da
vivencia - sensações. Então, é fundamental que as IEI espécie humana, percebemos que o corpo é um espaço
procurem considerar os movimentos, as sensações e a ilimitado de possibilidades, fortemente influenciado pelo seu
expressividade do corpo como formas privilegiadas de entorno e que se constitui de sentidos, sentimentos, formas,
manifestação de cultura, de prazer e de aprendizagem. Sendo cores, gestos, sabores, cheiros, roupas, adornos, linguagens...
assim, a valorização das brincadeiras infantis, do teatro e da De fato, o homem pré-histórico, na luta pela sobrevivência,
dança são fortes aliados no processo de construção e utilizava o corpo para se defender dos animais e de outros
expressão de conhecimentos e saberes e de humanização da homens; para caçar, pescar e procurar moradias mais seguras;
criança. para cultuar seus deuses e realizar seus rituais. Ainda preso
aos mitos, combinava dança, música e dramatizações,
utilizando-as para comemorar a volta do sol na primavera, serve de base para entendermos o formato de escolarização
para reverenciar os deuses e pedir-lhes sucesso nas caçadas e que temos hoje, pois a escola não é natural. Ela nasce da
lutas, para se preparar para as guerras e competições, para necessidade de disciplinar os corpos dos meninos (e, mais
celebrar os nascimentos, para tentar curar um enfermo, para tarde, das meninas) para atender a demandas econômicas
lamentar uma morte. (mercado de trabalho), sociais (moral burguesa) e políticas
Na antiguidade clássica, a relação da humanidade com o (fortalecimento dos estados nacionais). Haja vista que o início
corpo sofreu grande influência das culturas grega e romana, da escolarização, no século XIX, desconsiderava a
que, muito competitivas, preparavam seus jovens para os subjetividade do corpo infantil, indo ao encontro da ideia de
grandes jogos olímpicos. Mas, enquanto o povo grego um corpo científico, biológico e psicológico, que precisava ser
valorizava a simetria, a perfeição das formas, a beleza e educado, disciplinado, controlado. Mas, como se deu esse
utilizava os exercícios físicos para o aprimoramento da beleza processo de escolarização? Qual o lugar ocupado pelo corpo
estética, os romanos, mais preocupados em formar jovens nele?
guerreiros para a conquista de novos territórios, relacionavam Rousseau, que viveu no século XVIII, se tornou um marco
as práticas esportivas a treinamentos intensivos, com importante para a pedagogia, ao romper com a ideia de que a
exercícios físicos para o aprimoramento militar, a disciplina criança era um ser desprezível, destituído de alma, um adulto
cívica, o caráter competitivo, o fortalecimento do corpo e a em miniatura. Para ele, a educação deveria, antes de qualquer
energia espiritual. coisa, formar o homem. Sugeria, então, a prática de exercícios
Porém, com o advento do cristianismo, começaram a se físicos, a alimentação pura e sadia e o arejamento do ambiente,
disseminar concepções que se pautavam na valorização do elementos para a saúde e o desenvolvimento corporal,
espírito em detrimento do corpo. A noção hegemônica era que aconselhando: cultivai a inteligência de nossos alunos, mas
o corpo submetia o homem à sua condição de animal. Mas foi cultivai antes de tudo, o seu físico por que é ele que vai orientar
na idade Média, com a consolidação do teocentrismo (a ideia o desenvolvimento intelectual; fazei primeiro vosso aluno são
de deus como centro do universo), que o corpo perdeu e forte para poder vê-lo inteligente e sábio.
definitivamente seu lugar privilegiado, passando a ser As ideias de Rousseau traduzem bem a consolidação da
associado a práticas pecaminosas. Assim, tanto os filósofos do concepção de infância como uma fase específica da vida
final da antiguidade como os medievais, dentre eles São Tomaz humana, o que permitiu a expansão de várias experiências
de Aquino, concebiam o corpo como instrumento da alma. pedagógicas. No final do século XIX e início do século XX, por
Por volta do século XV, a igreja católica começou a perder exemplo, surgiram tendências pedagógicas mais abertas, como
sua hegemonia econômica, política e ideológica, mas a as teorias de Montessori, Decroly, Freinet, Piaget, Vygotsky,
dicotomia entre corpo e mente já tinha se consolidado. Junto Froebel, que questionaram os métodos mais tradicionais e
com o corpo, foram “relegados a um segundo plano algumas colocaram os interesses e/ou necessidades dos sujeitos no
dimensões e canais de expressão da experiência humana, centro do processo de escolarização. Defendiam que a
entre elas as sensações físicas, as emoções, os afetos, os escolarização e a possibilidade de expressão permitiriam o
desejos, a intuição, a criação artística”. desenvolvimento do pensamento na infância.
No século XVII, em nome de uma racionalidade pura, No entanto, as discussões propostas pelos teóricos acima
descartes definiu o homem como sendo fundamentalmente não impediram que discursos de uma educação compensatória
espírito (“Penso, logo existo”). Sua teoria estabeleceu uma ganhassem força por volta dos anos 1970. Segundo essa
assimetria entre o corpo e a mente, onde o primeiro, com todas concepção, a criança pobre teria um déficit cultural e a escola
as suas potencialidades, tinha que se submeter a uma razão teria o papel de moralizar e controlar a vida social: ensinar
que, por ser pura, dirigiria os indivíduos à verdade. Segundo regras e valores, controlar corpos e comportamentos, definir a
tiriba, no texto a pele é a raiz cobrindo o corpo inteiro: as utilização dos espaços, diferenciar meninos e meninas. Essa
linguagens do corpo, crença favoreceu a proposição de atividades repetitivas e sem
Somos parte de uma civilização ocidental que, para realizar sentido, que visavam apenas desenvolver a disciplina, a
o seu projeto de modernidade, precisou provocar algumas concentração e a coordenação, sem nenhuma preocupação
cisões filosóficas e epistemológicas. [...] o projeto de com o desenvolvimento da linguagem corporal.
modernidade enquanto desenvolvimento/progresso material, Uma forma de trabalho que ilustra essa concepção e que
que foi gestado ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII e ainda persiste são as aulas de educação física baseadas em
floresceu nos séculos XIX e XX, está, ainda hoje, sustentado exercícios repetitivos que objetivam apenas disciplinar os
numa supervalorização da razão em detrimento de outras corpos dos pequenos e prepará-los para a alfabetização (os
dimensões humanas. famosos exercícios para desenvolver a coordenação motora) e
Mais tarde, com o surgimento dos estados nacionais e a em práticas esportivas que enfatizam a competição. Tais aulas
ascensão política e econômica da classe burguesa, a relação da não propiciam às crianças o que Vago chama de práticas
sociedade ocidental com o corpo modificou-se corporais lúdicas, ou seja, práticas de um corpo “brincante”.
completamente. Cada governante geria seu território de forma Observando algumas crianças consideradas “portadoras de
a preservar os bens e as pessoas, analisando os dados ‘grande defasagem intelectual, emocional e social’ realizando
estatísticos e demográficos e implantando políticas para suas práticas corporais lúdicas nos espaços e nos tempos da
controlar as questões pessoais (nascimentos, óbitos, escola”, tais como corridas no pátio, jogos de futebol e
casamentos, etc.) que podiam interferir na vida da população. cambalhotas no gramado, o autor afirma que “naquele
Concomitantemente, a burguesia fomentou a emergência de instante, elas provavam, sentiam, viviam, experimentavam seu
novas formas de relação com o corpo, com preocupações corpo, e construíam ali sua corporeidade.”
nunca antes cogitadas (vigilância sobre a masturbação da Nos dias de hoje, além de tentar ressignificar suas
criança, instabilidade do humor das mulheres, surgimento da concepções e práticas pedagógicas referentes ao corpo, a
sexualidade e da noção de complexo de Édipo). Como não tinha escola ainda tem que se haver com os apelos da mídia e da
“sangue azul”, a burguesia ofereceu seu próprio corpo para a indústria de produtos destinados ao corpo, com a erotização
validação de várias ciências, como a medicina, a psiquiatria, a do corpo infantil e com a banalização da sexualidade.
psicologia e a pedagogia. Portanto, segundo Goellner, falar de corpo é falar também
O percurso traçado mostra como o corpo é continuamente da identidade atribuída aos sujeitos pela cultura
ressignificado de acordo com os diferentes contextos contemporânea. Exige repensar o conflito entre corpo e mente,
históricos; tenta esclarecer a relação da sociedade ocidental na medida em que o processo de constituição da identidade é
com o corpo em cada contexto histórico. Toda essa discussão influenciado pelos conhecimentos adquiridos e pelos
desdobramentos do crescente mercado de produtos e serviços correr, pegar objetos, colocar objetos na boca, tocar a própria
direcionados ao corpo. pele e a das outras pessoas, imitar, expressar sentimentos e
É claro que a escola não pode, e nem deve desejar, ideias. Isso vai levar a criança a conhecer o próprio corpo, a
controlar a educação ofertada pela família e pela mídia, mas conhecer a si e o meio em que vive, a ampliar suas sensações e
essas discussões não podem ficar fora de um currículo que emoções, a significar e se apropriar dos gestos, hábitos e
conceba o corpo como uma dimensão importante do ser costumes da sua cultura, a se autocuidar, a descobrir o mundo,
humano. Deve ser uma preocupação constante das IEI a a construir conhecimentos e, acima de tudo, a sentir prazer,
garantia de um trabalho com a linguagem corporal que muito prazer.
contemple o movimento, a expressividade, as sensações, a Ao imitar os papéis desempenhados pelos adultos, por
saúde, o autocuidado e a sexualidade, mas que também exemplo, ela os compreende e começa a entender como se dão
questione estereótipos e “verdades” produzidas pela mídia e as relações sociais. Esse processo de apropriação deve ser
pela cultura. mediado pelos adultos da instituição, que vão observar e
É necessário atentar para o fato de que o modelo de corpo acompanhar as brincadeiras, participando e interagindo com
oferecido pela mídia é magro, alto, louro e de olhos claros. as crianças.
Portanto, corpos “anormais” não fazem parte dos As considerações acima se aplicam ao trabalho com todas
brinquedos encontrados nas escolas ou em nossas casas. [...] as crianças atendidas em IEI, mas existem algumas
esse modelo leva crianças de lugares os mais diferentes a especificidades quando se trata de crianças de 0 até 3 anos de
querer modificar seus corpos com o objetivo de fazê-los idade e de crianças com deficiência.
parecer o mais o possível com os “normais” e “bonitos”. As As crianças de 0 até 3 anos de idade estão iniciando o
imagens e discursos veiculados na mídia são carregados de processo de construção da linguagem oral e de significação de
significados, trazem embutida uma “pedagogia da beleza”. [...] gestos, o que vai exigir do adulto uma atenção especial no
Por isso é importante [...] apresentar diferentes repertórios de trabalho com essa faixa etária. Portanto, é necessário
brinquedos a serem utilizados nas atividades com bonecos e conversar muito com essas crianças, desafiá-las, possibilitar a
bonecas, a fim de questionar os tipos físicos tidos como sua locomoção, oferecer objetos diversos e permitir a
“certos”, pois é nos corpos que se inscrevem nossos modos de interação delas com crianças da mesma idade, com crianças
sermos sujeitos. mais velhas e com outros adultos. Quando o adulto acredita
Como a criança aprende, se desenvolve e torna-se que a construção do conhecimento passa também pelo corpo,
progressivamente humana, por meio desse campo de ele propõe atividades que privilegiam o movimento e a
experiência? expressividade, possibilitando que a criança se aproprie da
Quando nasce, o bebê não anda, não fala e não se alimenta cultura da forma mais intensa possível.
sozinho, sendo extremamente dependente do adulto. Uma de Outro grupo que precisa de atenção especial é o de crianças
suas primeiras manifestações é o choro, por meio do qual ele com deficiência, uma vez que seus ritmos de aprendizagem são
comunica que algo está acontecendo. Aos poucos, na relação muito diferentes. Não se pode esperar que uma criança com
com outros humanos, ele começa a perceber a função de deficiência conheça e reconheça o mundo do mesmo modo que
determinados gestos e expressões, conhece as potencialidades as demais. No entanto, cabe ao adulto realizar um trabalho de
do seu corpo e começa a usá-lo para se apropriar do mundo. observação sistemática dessa criança, com o objetivo de
Assim, ao ser inserido na cultura, o bebê, com seu corpo, inicia descobrir a melhor maneira de desenvolver a linguagem
seu processo de humanização. corporal dela. Isso só será possível se o adulto se desvencilhar
Na medida em que cresce e se desenvolve, a criança da ideia de déficit e trabalhar na perspectiva da
começa a perceber que pode imitar os gestos das pessoas que potencialidade. Portanto, a pergunta não é “o que essa criança
convivem mais intimamente com ela para comunicar e não dá conta de fazer?”, mas, sim, “o que ela já consegue
conseguir o que quer. Aprende a apontar os objetos que deseja, realizar?”, levando em consideração que toda criança é capaz
a se sentar para ter uma visão melhor das coisas e das pessoas, de aprender. Com deficiência ou não, a criança tem um corpo
a engatinhar para alcançar sozinha o que quer e, por fim, a que precisa ser inserido na cultura, que precisa ser
andar, ficando com as mãos livres para segurar os objetos que humanizado.
alcança. Se a criança tiver alguma deficiência física ou mental, Fica evidente, então, que a interação é a estratégia
esse processo pode ser mais lento e, em alguns casos, pode privilegiada para que todas as crianças possam desenvolver a
chegar a não acontecer, mas ela vai tentar se apropriar do linguagem corporal. E é nessa perspectiva de estimulação e
espaço da forma mais parecida possível com os modelos que troca que Pasqualini afirma que: As crianças vão construindo
possui e com os recursos que o seu corpo oferece. conhecimentos, valores, afetos a partir de sua experiência com o
Concomitantemente a esse processo de conseguir se mundo, experiência vivida num universo de corpos que tocam,
locomover, a criança experimenta o mundo com todo o seu olham, cheiram, comem, escutam. Corpos que sentem o mundo,
corpo. Na medida de suas potencialidades físicas e mentais, leem o mundo.
pega os objetos, leva-os à boca, conhece gostos e cheiros, Durante o brincar, os movimentos, os gestos vão
reconhece ruídos familiares. Essa exploração do espaço vai construindo a cultura, e se constituem como fontes de
ajudar a criança a desenvolver as habilidades necessárias para experiências, satisfações e insatisfações físicas e emocionais.
se locomover sozinha ou, no caso de crianças com deficiência, Nesse sentido, deve-se ampliar o leque de possibilidades
para se apropriar, ainda que de outras formas, do ambiente corporais por meio de atividades que incentivem o
que a cerca. movimento, a imitação, o contato físico, o
Para além da questão física, a infância é uma fase de grande cuidado/autocuidado, a degustação de diferentes alimentos, o
desenvolvimento da função simbólica, sendo necessário manuseio de diversos materiais, o autoconhecimento físico e
oferecer a todas as crianças condições para compreender esse emocional, as brincadeiras, os jogos, os passeios, as
mundo tão rico em informações e possibilidades. A linguagem dramatizações e a dança. É por meio das experiências vividas
corporal é uma das formas que a criança utiliza para que o indivíduo tem a possibilidade de levantar inúmeras
representar o mundo e, consequentemente, para consolidar o hipóteses para construir e reconstruir conhecimentos,
pensamento simbólico. adquirindo autonomia e independência. É nesse processo que
Para que os processos de locomoção e de desenvolvimento a criança constrói sua identidade e se apropria do mundo para
do pensamento simbólico sejam potencializados, o adulto que viver nele de forma cada vez mais humana.
cuida da criança deve proporcionar um ambiente estimulante, A construção de todo e qualquer tipo de conhecimento
que permita a ela, entre outras coisas, se movimentar, pular, inicia-se no corpo e a instituição de educação infantil - espaço
vertente propõe atividades repetitivas, entendendo que elas vivemos sugere duas categorias: o corpo interno e o externo.
serão suficientes para garantir que a criança se aproprie da sua Espaço interno refere-se à saúde e ótimo funcionamento do
corporeidade. Podemos citar como exemplo os pontilhados corpo como um todo, exigindo manutenção diante de doenças
para as crianças “passarem por cima”, a proposta de andar em e do declínio orgânico no processo de envelhecimento. E o
cima de uma linha riscada no chão, a nomeação das partes do segundo refere-se à aparência e a seu controle dentro do
corpo, a ideia de que o corpo deve ser trabalhado por partes, espaço social.
as aulas de educação física que privilegiam os polichinelos, as Nessa mesma direção, o Proinfantil, material de formação
flexões, os jogos de competição e a noção de disciplina como produzido pelo MEC, destaca: Hoje, cada vez mais, os corpos
silenciamento. têm sido solicitados e enfatizados na sociedade e na cultura.
Ademais, a despeito de termos vinte ou sessenta anos, a Nas revistas e nos canais de televisão anunciam-se novas
escola na qual estudamos operava nessa lógica restrita em modas, desejos e necessidades. Aparecem, dia após dia, novos
relação ao trabalho com o corpo, o que deixou marcas muito produtos e práticas que trazem promessas e receitas de
fortes em todos que passaram por ela. Portanto, ainda que a felicidade, prazer, juventude, diversão, eficiência, habilidade,
cisão provocada pelo pensamento cartesiano e a saúde, relaxamento. Mas os corpos têm sido valorizados tendo
disciplinarização da sociedade ocidental sejam bastante como princípio o direito, a dignidade, a liberdade, o
questionadas hoje, não podemos dizer que elas foram conhecimento, a sensibilidade e a vida em sua riqueza e
completamente abolidas da escola. Somos produto, mas totalidade? ou, ao contrário, revelam formas de controle e
também produtores delas, desenvolvendo atividades que incentivos ao consumo que, a cada dia, vão sendo elaboradas e
silenciam os corpos das crianças. Muitas instituições de impostas a todos?
educação infantil, ainda hoje, partem do pressuposto de que a Atentos às questões acima, as profissionais precisam
aprendizagem só é possível num ambiente em que impere a organizar os espaços, os tempos, as metodologias, os
ordem, o silêncio, a imobilidade. agrupamentos de crianças, os instrumentos de trabalho e os
Além disso, ninguém está descolado do presente, o que materiais de forma a favorecer a realização do trabalho com o
significa que os corpos de crianças, jovens, adultos e velhos corpo. Isso implica, entre outras coisas, deixar a sala de
continuam sendo marcados pelas exigências deste tempo atividades com o maior espaço livre possível para as crianças
também. Tempo em que as crianças têm maior liberdade de se movimentarem, levar as crianças para explorarem o espaço
expressão. Tempo em que os conceitos tradicionais sobre externo à sala de atividades e à instituição, diminuir o tempo
gênero e sexualidade estão sendo questionados. Tempo em que elas ficam sentadas, possibilitar a interação delas com o
que questões sobre a sexualidade adulta estão cada vez mais meio, dispor os materiais de maneira a favorecer o manuseio
expostas e banalizadas. Tempo em que os corpos infantis são fácil e seguro. As escolhas feitas pela profissional em relação a
erotizados pela mídia. Tempo em que os corpos, face à esses aspectos traduzem suas crenças, suas concepções de
voracidade do mercado, passam a ser mercadoria à qual se mundo, de criança, de sociedade, de educação infantil e de
acoplam outras mercadorias. desenvolvimento e aprendizagem nessa faixa etária, o que
Portanto, uma prática mais libertária em relação ao influencia fortemente, positiva ou negativamente, a formação
trabalho com o corpo vai requerer uma reflexão sobre a forma das crianças com as quais trabalha.
como o adulto se relaciona com o próprio corpo. Geralmente,
as experiências em relação ao corpo são bastante repressivas, Diante do exposto, é necessário que as profissionais:
dependendo, entre outros fatores, da idade, do gênero e da - reconheçam os interesses, gostos e desejos das crianças.
família, o que impõe o desvelamento das marcas que a escola, - proponham atividades significativas e, quando possível,
a família e a cultura deixaram e deixam nos sujeitos, em seus dentro de projetos de trabalho.
corpos, na sua sexualidade, na sua subjetividade. - ofereçam diversos materiais para as crianças
Então, trabalhar a dimensão corporal com as crianças de 0 manusearem, permitindo a elas tocá-los, levá-los à boca,
até 6 anos requer reconhecê-las como sujeitos que se conhecê-los e reconhecê-los.
apropriam da cultura e, ao mesmo tempo, produzem cultura; - organizem o espaço da sala de aula e do pátio, de forma a
como sujeitos de direitos que precisam ser respeitados nas privilegiar e favorecer o movimento das crianças.
suas especificidades e formados na sua integralidade de seres - privilegiem o uso do espaço externo à sala de atividades
humanos; como sujeitos de desejos que querem ser satisfeitos; e à instituição, em função da maior possibilidade de a criança
como meninas e meninos que têm necessidade de movimentar-se.
compreender o mundo para viver nele da forma mais humana - levem as crianças para assistir peças teatrais, concertos,
possível. shows e apresentações artísticas em geral.
Requer também questionar as relações que estabelecemos - promovam passeios e excursões aos mais variados locais.
com elas e com as colegas de trabalho, assim como as relações - preparem um cantinho com roupas, adornos e acessórios
que elas estabelecem com o coletivo de funcionários da escola, para as crianças.
na medida em que relações de respeito e de atenção são - envolvam as crianças na pesquisa e na identificação dos
importantes demais para serem relegados a segundo plano. conhecimentos que se relacionam aos movimentos corporais,
Ainda é preciso levar em conta o contexto onde essas crianças fazendo e ouvindo perguntas, formulando novas questões e
vivem, as especificidades da sua faixa etária e as exigências do estimulando a curiosidade, a criatividade e a inventividade
mundo contemporâneo. delas
Em relação a esse último aspecto, sabemos que a sociedade - proponham jogos coletivos que pressuponham a
atual sofre uma influência avassaladora da mídia, cujos colaboração e não a competição.
padrões levam famílias, adolescentes e até mesmo crianças a - favoreçam o desenvolvimento de noções básicas de
se entregarem a um consumo desmedido e a naturalizarem a higiene, segurança e autocuidado, ensinando as crianças a se
erotização dos corpos infantis e a banalização do sexo. Além vestir, a amarrar os sapatos, a lavar as mãos, a escovar os
disso, conforme discussão anterior, a mídia oferece o modelo dentes, a usar o banheiro, a tomar banho, etc.
“certo” de corpo, inferiorizando os corpos tidos como - garantam o aprendizado de técnicas (maneiras de fazer)
“anormais”. Sobre essa questão, oliveira esclarece que a que possibilitem às crianças realizarem movimentos e gestos
tecnologia, a indústria cultural e da beleza [...] continuamente com maior facilidade.
lançam para o indivíduo a responsabilidade pela qualidade de - favoreçam a interação entre as crianças, formando grupos
vida, pelo bem-estar, valorizando a manutenção do corpo. A com a mesma idade e com idades diferentes, bem como
manutenção e aparência do corpo na cultura de consumo que possibilitem a interação com os adultos da instituição
- ajudem a criança a construir uma autoimagem positiva, congênitos. Não é resultado das atividades praticadas de
intervindo nas situações em que preconceitos e/ou racismo se acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo se
apresente. desenvolve.
- ajudem as crianças a identificar, significar, ressignificar e, (D) É a linguagem que fornece os conceitos, as formas de
se necessário, apagar as marcas negativas deixadas no corpo organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto de
pela cultura. conhecimento.
- estabeleçam, sempre que possível, relações com o (E) É por meio da linguagem que as funções psicológicas
trabalho de outros profissionais da instituição. superiores são socialmente formadas e culturalmente
- trabalhem com as crianças a expressão de suas transmitidas.
singularidades, mas sem esquecer da produção coletiva de
gestos, movimentos, dramatizações e escolha de temas. Os 03. (SEARH/RN - Professor - IDECAN) Sobre as múltiplas
significados e sua compreensão emergem das relações linguagens no desenvolvimento infantil, assinale a afirmativa
compartilhadas, reconhecidas e apropriadas. INCORRETA.
- valorizem a identidade cultural de todas as crianças. (A) Através do jogo simbólico a criança inventa, imagina,
- ajudem as crianças a compreenderem sua cultura e sua representa e se expressa, podendo desempenhar vários
história. papéis.
- resgatem, por meio de conversas e entrevistas, as (B) É a linguagem do jogo simbólico que aguça na criança
experiências corporais coletivas da comunidade onde as a imaginação, fantasia, vontade de descobrir e compreender o
crianças vivem. mundo.
- procurem conhecer as diversas manifestações culturais (C) Trabalhar as múltiplas linguagens na educação infantil
que privilegiam o uso do corpo, como danças, músicas, significa contribuir nos aspectos cognitivos, psicomotores,
brincadeiras, teatro e outras. afetivos e sociais.
- estabeleçam relações entre a cultura mais ampla e o (D) A literatura infantil exerce um papel fundamental na
contexto das crianças. educação infantil pois, a linguagem literária organiza os fatos
- partilhem com as crianças danças, músicas e ritmos de forma similar da linguagem oral do cotidiano.
variados, o que significa dançar junto, dramatizar, produzir
sons com diferentes objetos e com o próprio corpo. 04. (DPU - Técnico em Assuntos Educacionais - CESPE)
- possibilitem que as crianças inventem movimentos, Acerca das teorias psicológicas que fundamentam a
gestos e jeitos de dançar, encenar, representar, se expressar e aprendizagem humana, julgue o item a seguir.
sons com diferentes objetos e com o próprio corpo.
- incentivem a produção e a apresentação de peças teatrais. Os estudos de Lev Vygotsky acerca do pensamento e da
linguagem humana corroboram teses anteriores sobre a
Enfim, trabalhar com o corpo na Educação Infantil é uma importância da imutabilidade do significado das palavras para
oportunidade de ajudar as crianças a desenvolverem essa o desenvolvimento do pensamento na criança.
dimensão tão importante do ser humano, mas é também a ( ) Certo ( ) Errado
oportunidade de a profissional se interrogar sobre as
experiências corporais que propõe cotidianamente às 05. (SEARH/RN - Professor - IDECAN) Sobre o
crianças. Portanto, não é um trabalho pronto, mas uma tarefa desenvolvimento da escrita, analise as afirmativas a seguir.
que, mesmo sistematizada e intencional, pode ser sempre I. É através da linguagem falada que a escrita vai
reiniciada de acordo com o que a realidade exigir. desenvolver. No brincar a criança cria situações, por isso é
importante o estímulo da criança para o desenho.
Questões II. Cabe à pedagogia desenvolver atividades que
proporcione o desenvolvimento da escrita, com práticas
01. (UFPE - Técnico em Assuntos Educacionais - pedagógicas em que o mediador deverá provocar experiências
COVEST/COPSET) “A linguagem é o mais importante sistema para as crianças com o ambiente rico e vivo, para que possam
de signos para o desenvolvimento cognitivo da criança, porque trabalhar com o imaginário.
a libera dos vínculos contextuais imediatos.” A que teoria essa III. Antes de entrar na escola a criança já traz consigo as
ideia está adequada? habilidades da escrita e essa escrita é instrumentada.
(A) Teoria do Desenvolvimento Cognitivo, de Piaget.
(B) Teoria Behaviorista, de Skinner. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
(C) Teoria da Mediação, de Vygotsky. (A) I, II e III.
(D) Teoria da Aprendizagem Significante, de Rogers. (B) I, apenas.
(E) Teoria das Hierarquias de Aprendizagem, de Gagné. (C) I e II, apenas.
(D) II e III, apenas.
02. (Prefeitura de Araraquara - Professor - CETRO) A
linguagem permite designar, qualificar e estabelecer relações Gabarito
entre objetos e ações. O surgimento da linguagem imprimiu
mudanças essenciais nos processos psíquicos do homem. É 01.C / 02.C / 03.D / 04.Errado / 05.C
justamente o poder da linguagem que diferencia os homens
dos demais animais. A linguagem dos animais não designa
coisas, não distingue ações e nem qualidades. Considerando os A FORMAÇÃO PESSOAL E
pensamentos de Vygotsky, assinale a alternativa incorreta. SOCIAL DA CRIANÇA: A criança,
(A) A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos,
representa um salto qualitativo na evolução da espécie. a natureza e a sociedade
(B) A linguagem, na qualidade de instrumento das relações
sociais, se transforma em instrumento de organização psíquica
interior da criança (o aparecimento da linguagem privada, da Concepção de sociedade
linguagem interior, do pensamento verbal).
(C) As habilidades cognitivas e as formas de estruturar o Vivemos num mundo onde a informação é diversificada e
pensamento do indivíduo são determinadas por fatores atualizada rapidamente, o mundo mudou, as pessoas
mudaram e, ao constatar a velocidade com que ocorrem Para o educador Paulo Freire, o homem só começa a ser um
transformações em nossa vida cotidiana, podemos afirmar que sujeito social, quando estabelece contato com outros homens,
estamos diante de um novo tempo, uma outra realidade que com o mundo e com o contexto de realidade que os determina
nos envolve e nos desafia. geográfica, histórica e culturalmente, é nessa perspectiva que
A forma com que compreendíamos a vida e tudo que a escola se torna um dos espaços privilegiados para a formação
acontecia, já não parece ser o que prevalece hoje. Vivemos uma do homem.
nova era, onde o conhecimento que tínhamos como
entendimento de se estar no mundo (algo pronto e acabado), Concepção de escola
não é mais aceito e absorvido pela maioria das instituições,
como também pelo processo que configura a produção do A Escola é um espaço privilegiado para o desenvolvimento
conhecimento. das relações sociais e, é nesse ambiente que a criança e o jovem
Isto significa que a sociedade atual exige uma prática interagem com grupos de sua idade, criam vínculos e laços de
pedagógica que assegure a construção da cidadania, fundada convivência, além de desenvolverem habilidades e
na criatividade, criticidade, nas responsabilidades advindas competências para continuar seu processo de aprendizagem.
das relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Essas Sabemos que os modos de vida também são vivenciados
reais exigências cognitivas e atitudinais requeridas nos pela escola. São variantes de diversos matizes, que se
permitem o questionamento: o que tem a educação a refletir multiplicam a cada dia e esses acontecimentos não podem ser
sobre as relações e transformações em curso e a formação do desprezados. As ações educativas vinculadas às práticas
homem? sociais compõem o rol de compromissos da educação formal.
A educação e a escola, por sua importância política, Por isso, o cotidiano escolar exerce um papel expressivo na
merecem um papel de destaque numa proposta de sociedade. formação cognitiva, afetiva, social, política e cultural dos
Neste esforço de reorganização da vida social e política, velhas alunos que passam parte de suas vidas nesse ambiente
instituições e antigos conceitos são redefinidos de acordo com pedagógico e educativo. Sendo assim,
essa lógica. Portanto, “o que está em jogo não é apenas uma
reestruturação das esferas econômicas, sociais e políticas, mas Concepção de ensino e aprendizagem
uma reelaboração e redefinição das próprias formas de
representação e significação social”. O caráter eminentemente pedagógico da Educação no
A escola tem muito que refletir sobre sua organização contexto escolar fundamenta-se numa perspectiva de
curricular, a começar pela compreensão de que a sua ação considerar que a criança está inserida em determinado
passa a ser uma intervenção singular no processo de formação contexto social e, portanto, deve ser respeitada em sua história
do homem na sociedade atual. Nesse paradigma, o professor já de vida, classe social, cultura e etnia. Nesse sentido, a escola é
não pode ser considerado como único detentor de um saber vista como espaço para a construção coletiva de novos
que simplesmente lhe basta transmitir, mas deve ser um conhecimentos sobre o mundo, na qual a sua proposta
mediador do saber coletivo, com competência para situar-se pedagógica permite a permanente articulação dos conteúdos
como agente do processo de mudança. escolares com as vivências e as indagações da criança e do
Assim, concebemos que a educação, a escola e o objeto de jovem sobre a realidade em que vivem.
conhecimento constituem os elementos essenciais para o Podemos considerar os processos interativos, a
processo de formação de homens e mulheres que contribuirão cooperação, o trabalho em grupo, a arte, a imaginação, a
para a organização da sociedade. brincadeira, a mediação do professor e a construção do
conhecimento em rede como eixos do trabalho pedagógico
Concepção de Homem voltado para o desenvolvimento da criança e do jovem visando
à constituição do sujeito solidário, criativo, autônomo, crítico
Partindo do que diz Morin127 ao se referir sobre a e com estruturas afetivo-cognitivas necessárias para operar
complexidade do ser humano: "ser, ao mesmo tempo, sua realidade social e pessoal.
totalmente biológico e totalmente cultural", apresentamos O processo de desenvolvimento, na perspectiva histórico-
nossa concepção de homem e, em consequência, as aspirações cultural, é compreendido como o processo por meio do qual o
pretendidas em relação ao cidadão que queremos formar. sujeito internaliza os modos culturalmente construídos de
Entendendo o sujeito tanto biológico como social, temos por pensar e agir no mundo. Este processo se dá nas relações com
objetivo desenvolver no aluno a consciência e o sentimento de o outro, indo do social para o individual.
pertencer ao mundo, de modo que possa compreender a O caminho do objeto do conhecimento até o indivíduo e
interdependência entre os fenômenos e seja capaz de interagir deste até o objeto passa através de uma outra pessoa. Essa
de maneira crítica, criativa e consciente com seu meio natural estrutura humana complexa é o produto de um processo de
e social. desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre
Alguns desafios são fundamentais no que se refere à história individual e história social.
formação do sujeito, desenvolver competências para Além dos aspectos abordados, importante lembrar que nos
contextualizar e integrar, para situar qualquer informação em processos de aprendizagem e desenvolvimento, os ambientes
seu contexto, para colocar e tratar os problemas, ou seja, o educacionais são espaços que possibilitam ampliar suas
grande desafio de formar sujeitos que possam enfrentar experiências e se desenvolver nas diferentes dimensões
realidades cada vez mais complexas. Assim, acreditamos na humanas: afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica,
possibilidade de formar um cidadão mais indignado com as estética, criativa, expressiva e linguística.
manifestações e acontecimentos da vida cotidiana, um cidadão As abordagens dos conteúdos não se limitam a fatos e
que saiba mediar conflitos e propor soluções criativas e conceitos, mas também aos procedimentos, atitudes, valores e
adequadas a favor da coletividade, que tenha liberdade de normas que são entendidos como conteúdos imprescindíveis
pensamento e atitudes autônomas para buscar informações no mesmo nível que os fatos e conceitos. Isto [...] pressupõe
nos diferentes contextos, organizá-las e transformá-las em aceitar até as suas últimas consequências o princípio de que
conhecimentos aplicáveis. tudo o que pode ser aprendido pelas crianças e jovens podem
e devem ser ensinado pelos professores.
127 MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de
128 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2001.
Referindo-se aos modos de trabalho, o ser humano busca o que serve para o ‘valor social’ e a autoestima do indivíduo”.
progresso, sendo visualizado como um caminho sem fim, que Neste sentido, o consumismo passa a ser algo de desejo
deve ser alcançado constantemente, através do esforço do imediato. Consome-se mais e, geralmente, para satisfazer
homem. Para o alcance do progresso, novos valores passam a desejos instantâneos e individuais. A sociedade do consumo
permear as relações de trabalho: a competição e a privilegia não só aquisição de bens e produtos, mas a busca
individualização que concorrem, simultaneamente, para o incessante de novas receitas para uma vida melhor; novos
alcance deste progresso. Todos esses processos mudam o exemplos, novas habilidades, novas competências em
modo de vida humana, sendo que cada indivíduo é responsável detrimento daquilo que ainda o indivíduo não é, para
por encontrar meios para o alcance de melhores condições de aparentar uma imagem, mostrar aos outros aquilo que não é,
vida. para agradá-los ou como um modo de atrair atenção. O
consumo não é mais caracterizado como a satisfação das
Bauman destaca: [...] são homens e mulheres individuais que necessidades, mas serve para satisfazer os desejos insaciáveis.
às suas próprias custas deverão usar, individualmente, seu As necessidades são sólidas, inflexíveis, já o desejo é marcado
próprio juízo, recursos e indústria para elevar-se a uma pela fluidez, são flexíveis, mutáveis e podem ser substituídos.
condição mais satisfatória e deixar para trás qualquer aspecto Desse modo, estar na sociedade de consumidores requer
de sua condição presente de que se ressintam. estar adaptado aos novos padrões do mercado. Consumir é
O trabalho, na modernidade sólida, era considerado uma estar de acordo com aquilo que o mercado impõe como
virtude, sendo fundamental para a vida nos tempos modernos símbolo de comodidade, de autoafirmação, de conforto, de
para alcançar status. Capital e trabalho eram emancipação dos indivíduos.
interdependentes. Os trabalhadores dependiam do emprego Bauman acrescenta a esses aspectos outros fatores que
para sobreviver e o capital dependia dos trabalhadores para auxiliam a compreender a configuração da nova sociedade.
seu crescimento. Com o trabalho, o trabalhador comandava Ressalta que a comunidade como defensora do direito à vida
seu próprio destino. Como o modelo fordista, o trabalhador decente transformou este projeto em promover o mercado
iniciava sua carreira em uma empresa e lá permanecia, ficando como garantia de auto enriquecimento, gerando maiores
“preso” em seu lugar, impedindo a sua mobilidade. Porém, na sofrimentos entre aqueles que não podem consumir como o
contemporaneidade, o trabalho não é mais um projeto de vida, mercado demanda. Ele completa essa ideia, enfatizando que,
uma base sólida, mas um significado de satisfação, assim como, na sociedade pós-moderna nenhum emprego é garantido,
não significa estabilidade, como nos tempos passados. “Neste nenhuma posição é segura. Além disso, ressalta:
mundo, estabilidade significa tão somente entropia, morte Em sua versão presente, os direitos humanos não trazem
lenta, uma vez que nosso sentido de progresso e crescimento consigo a aquisição do direito a um emprego, por mais que
é o único meio que dispomos para saber, com certeza, que bem desempenhado, ou - de um modo mais geral - o direito ao
estamos vivos”. cuidado e à consideração por causa de méritos passados. Meio
Da Era Industrial passa-se à Era do Acesso, sendo que, de vida, posição social, reconhecimento da utilidade e
nesta, máquinas inteligentes, na forma de programas de merecimento da autoestima podem todos desvanecer-se
computador, da robótica, da biotecnologia, substituíram simultaneamente da noite para o dia e sem se perceber.
rapidamente a mão-de-obra humana na agricultura, nas Bauman129 enfatiza que as relações entre as pessoas
manufaturas e nos setores de serviços. Segundo a lógica também se dão de forma diferente, dependendo da situação
reinante do mundo globalizado, comandado pelas linhas econômica das mesmas, do usufruto de bens e da posição de
mestras da tecnologia, uma multidão de seres humanos conforto que possuem. Noutras palavras, dependendo da
encontra-se sem razão para viver neste mundo. A ideologia de posição que se ocupa, as pessoas são consideradas como
sustentação da economia do mercado é excludente e busca “estranhos”, pois não ocupam a mesma posição social e servem
eliminar quem não entra e consegue seguir seus parâmetros. apenas para oferecer serviços e bens para o consumo,
Deve-se executar o ofício de separar e eliminar o refugo, o conforme afirma
descartável. Tudo se estrutura a partir do privilégio e do Para alguns moradores da cidade moderna, seguros em
padrão de vida e consumo. suas casas à prova de ladrões em bairros bem arborizados, em
Assim, mudar de emprego tornou-se algo comum, escritórios fortificados no mundo dos negócios fortemente
reafirmando o conceito de transitoriedade e flexibilidade que policiado, e nos carros cobertos de engenhocas de segurança
marcam a denominada modernidade líquida. “A vida de para levá-los das casas para os escritórios e de volta, o
trabalho está saturada de incertezas”. As incertezas são “estranho” é tão agradável quanto a praia da rebentação [...].
marcadas pelo descontrole e desconhecimento das situações. Os estranhos dirigem restaurantes, prometendo experiências
Não há, neste tempo, segurança em relação ao trabalho, no insólitas e excitantes para as papilas gustativas, vendem
sentido de permanecer nele a vida toda. objetos de aspecto esquisito e misterioso, [...], oferecem
Os conceitos de emancipação e individualidade ganham serviços que outras pessoas não se rebaixariam ou se
um peso maior nesta sociedade, sendo que o coletivo e a dignariam a oferecer, acenam com guloseimas de sensatez,
comunidade passam a ser conceitos abstratos, aquilo que vem revigorantemente diversas da rotina e da chateação.
depois das escolhas individuais. A solidariedade é um valor O poder de consumo avalia a posição social dos indivíduos.
que não possui mais fundamento. O indivíduo é capaz de Aquelas pessoas que não possuem certa posição de conforto
decidir sobre as ações e fins. na sociedade e que não detêm um mínimo de condições de
Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar escolha de consumo, acabam muitas vezes demonstrando
essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa revolta, estranheza para muitos e violência, assim, como ao
capacidade poderia melhor servir - isto é, com a máxima que se assiste nos novos tempos.
satisfação concebível. Uma vez que as únicas senhas para defender a liberdade de
Nesse sentido, nada está pronto e acabado. As escolha, moeda corrente na sociedade do consumidor, estão
oportunidades são infinitas ao indivíduo e sua liberdade de escassas em seu estoque ou lhes são inteiramente negadas,
escolha favorece um estado de ansiedade e incertezas. elas precisam recorrer aos únicos recursos que possuem em
O sentimento de felicidade está, em muitos casos, ligado a quantidade suficientemente grande para impressionar. Elas
situações de consumo. “O consumo é um investimento em tudo defendem o território sitiado através de “rituais, vestindo-se
Zahar, 1998.
estranhamente, inventando atitudes bizarras, quebrando Essas questões remetem à reflexão sobre a verdadeira
normas, quebrando garrafas, janelas, cabeças, e lançando missão da escola frente aos processos de mudança e ao
retóricos desafios à lei”. Reagem de maneira selvagem, furiosa, contexto atual que, de maneira geral, recebe as influências das
alucinada e aturdida [...]. mudanças, passando a adquirir novos pressupostos, novos
Além disso, cresceram as taxas de desemprego e um objetivos, novas concepções. Diante dos temas que perfazem a
grande número de excluídos socialmente, pois os empregos realidade, a educação é vista como um meio indispensável na
tomaram novas configurações, não sendo possível projetar constituição da sociedade e passa a ocupar um papel
uma vida em longo prazo, com projetos e planejamentos. fundamental.
De acordo com estas características, Bauman destaca que Nestes tempos de mutações profundas e de incerteza
aqueles que não possuem emprego não são considerados acentuada, deve-se investir muito na educação, facilitando
como “desempregados”, mas sim como consumidores falhos, assim o emprego, despertando as mentes e as consciências
pois não desempenham a função ativa de consumir e, portanto, diante dos novos desafios, facilitando o acesso à cultura e
não são aptos de usufruir dos bens e serviços que o mercado reduzindo a exclusão. A educação é o melhor investimento
pode oferecer, sendo definidos como os “pobres” da sociedade social.
atual. Ele enfatiza a esse respeito. Sabe-se que, entre outros fatores, pontos, movimentos e
Antes de mais nada, os pobres de hoje (ou seja, as pessoas tendências, o cientificismo positivista impôs a fragmentação
que são “problemas” para as outras) são “não- do conhecimento, sustentando a ordem econômica e social da
consumidores”, e não “desempregados”. São definidos em modernidade. Atualmente, não se pode mais conceber que esta
primeiro lugar por serem consumidores falhos, já que o mais fragmentação dê conta de formar e desenvolver o homem na
crucial dos deveres sociais que eles não desempenham é o de nova ordem social vigente. Como se vê, muitas transformações
ser comprador ativo e efetivo dos bens e serviços que o têm surgido ao longo dos tempos: as novas tecnologias, as
mercado oferece. Nos livros de contabilidade de uma comunicações, a preocupação com o meio ambiente, a
sociedade de consumo, os pobres entram na coluna dos produção econômica cada vez mais crescente e diversificada
débitos, e nem por exagero da imaginação poderiam ser com novos produtos no mercado, demandando novos cursos
registrados na coluna dos ativos, sejam estes presentes ou de capacitação e aperfeiçoamento, entre tantas outras
futuros. mudanças as quais a escola deve acompanhar e produzir
Nesse panorama da sociedade de consumidores e busca reflexões acerca destes novos elementos.
pela satisfação pessoal, alguns valores e princípios passaram a Além disso, a escola, mergulhada neste contexto, não pode
tomar outras configurações. O valor da responsabilidade, por ficar alheia às transformações sociais e culturais advindas da
exemplo, que, em outros tempos, residia no dever ético e na sociedade. Mas, pelo contrário, a escola pertence ao meio
preocupação pelo outro, atualmente, configurou-se em relação social e, por isso, sofre as influências do meio. “A escola é uma
a si próprio, levando o indivíduo a compreender-se como comunidade. Como parte da sociedade, ela está normalmente
único responsável por seus atos e deveres, excluindo a estruturada de forma a reproduzir a estrutura social.” Nesse
responsabilidade pelos interesses, necessidades e desejos do sentido, Bauman destaca que, muitas transformações estão
outro. permeando a sociedade contemporânea e essas acabam por
Entretanto, observa-se que, neste período atual, há certa invadir todos os contextos, inclusive a escola. O processo
ambiguidade em torno da vida responsável, pois surgem educativo escolar, de acordo com as novas estruturas, procura
reflexões, organizações e movimentos em favor da vida, do desenvolver um currículo que considera as mudanças e atenda
respeito à natureza, à sustentabilidade. Enquanto se afirma aos novos conceitos, novos pressupostos e novas demandas.
que o indivíduo preocupa-se com si mesmo, ao mesmo tempo, Relacionando os conceitos apresentados, pode-se dizer
surgem preocupações acerca do outro e do mundo. Percebe-se que a escola, na sociedade sólida, referenciando Bauman, era
que há uma evolução para a possibilidade de construção de aquela que educava para toda a vida. A escola era um espaço
uma vida responsável. que tinha como propósito estabelecer a ordem. A formação dos
O panorama apresentado até aqui, certamente, não indivíduos era responsabilidade de toda a sociedade, dos
contempla todos os aspectos referentes à sociedade governantes e do Estado, com vistas a formá-los para um
contemporânea, mas apresenta definições importantes que comportamento correto e moralmente aceitável. Desse modo,
levam a analisar e refletir sobre a configuração subjacente aos somente os professores eram capazes de fornecer esta
tempos atuais e que podem instigar a questão referente à formação para uma integração social, destacando uma vida
tarefa da escola frente a tais aspectos presentes na sociedade correta e moral, disciplinada e eficiente. Além disso, o
atual. conhecimento era um produto duradouro e a qualidade da
Desse modo, é urgente compreender sua missão como escola era medida pela transmissão deste conhecimento de
instituição educativa que, assim como outras instâncias, valor adaptado ao mundo sólido. As pessoas se ajustavam ao
desempenha um papel importante na formação dos sujeitos. mundo pela educação, entendendo que este mundo era
imutável e consideravelmente manipulável. O professor
A tarefa da escola detinha o poder de transmitir o conhecimento ao aluno,
compreendendo este conhecimento como justo e confiável.
Compreender a missão da escola perante as novas Para Pourtois e Desmet130, a escola contemporânea
configurações da sociedade, torna-se essencial para avaliar a continua a repetir os princípios defendidos pela escola
sua tarefa, diante das transformações sociais e culturais e de moderna, na qual enfatizava o modelo de que o aluno deveria
suas implicações no processo educativo atual. aprender as regras da vida em sociedade e o pensamento
Desse modo, diante dos processos sociais que se racional, sendo disciplinado por meio de recompensas ou
desencadeiam na atualidade, surgem algumas questões que se castigos, sendo que a personalidade individual deve ser
referem ao processo educativo escolar: qual é o papel da ocultada atrás da moral do dever. Para esses autores, a
escola? A escola está preparada para formar sujeitos oriundos pedagogia moderna ainda está fortemente enraizada nas
da sociedade descrita por Bauman? A educação escolar dá práticas escolares.
conta de compreender esses processos de transformação? Na passagem da modernidade sólida para a líquida, de
acordo com a visão de sociedade de Bauman, a escola assume
outras características, sendo que a ordem social, sólida e Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta-
imutável não é mais aceita na chamada modernidade líquida. se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do
O mundo é diferente daquele em que a escola estava preparada sistema escolar não tem dado conta da universalização da
para formar os alunos. “Em tais circunstâncias, preparar para educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes
toda a vida, essa invariável e perene tarefa da educação na teóricas não apresentam ainda a consistência global
modernidade sólida, vai adquirir um novo significado diante necessária para indicar caminhos realmente seguros numa
das atuais circunstâncias sociais.” O conhecimento não será época de profundas e rápidas transformações.
mais considerado como um produto conservado, pronto e Para esse propósito, é necessário que a escola fortaleça seu
acabado para toda a vida, assumindo, muito mais um caráter projeto educativo, relacionando-o com o contexto social e suas
inconcluso, podendo ser substituível. O conhecimento passa a características, sendo este um princípio da educação
ter o objetivo de oferecer eficiência, criatividade, contemporânea, no mesmo modo que esta educação possa
competitividade, habilidades básicas para o mundo do sempre superar os limites impostos pelo mercado, buscando a
trabalho. Em síntese, o conhecimento se transforma em transformação social.
informação que logo será substituída, por considerar que Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea
rapidamente estará ultrapassado. tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma
A escola então, transmissora deste conhecimento, passa educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo
agora a não ser a detentora do saber, pois as novas tecnologias Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais
oferecem as informações em um rápido espaço de tempo, no voltada para a transformação social.
qual todos têm acesso ao “conhecimento”. Os professores Nesse sentido, a educação, na era contemporânea, deve
perdem a autoridade sobre o domínio exclusivo dos saberes. A apropriar-se das informações e refletir sobre elas. O contexto
nova dinâmica do mercado passa a ter autoridade, decidindo deve ser de um agir comunicacional, ou seja, comunicação
sobre as formações de opiniões, verificação de valores, intersubjetiva em que os outros constituem uma forma de
definindo o que é bom ou mal, belo ou feio, verdadeiro ou falso. mediação entre saberes existentes e os saberes de base do
Os alunos passam a dar atenção àqueles que oferecem várias sujeito. O ato educativo deve ter sentido no contexto social
possibilidades de experiência, prazer e proveito (geralmente a atual e deixar transparecer seus objetivos.
mídia - televisão, internet), os seduzindo para a arte de saber Além disso, com as novas configurações da sociedade, a
viver. O professor, desse modo, não é mais aquele conselheiro escola passou a aceitar todas as visões de mundo que chegam
que orientava os alunos a seguirem, de modo seguro, sua vida, até ela, sem desconsiderar os direitos de propriedade das mais
através de seus estudos e saberes. Nesse sentido, a não mais diversas comunidades. Na modernidade, a construção da
inquestionável autoridade do professor em orientar a lógica da ordem era estabelecida pelos intelectuais, ou seja, professores
aprendizagem compete, [...], com as sedutoras e muito mais e teóricos educacionais detinham a função de “legislar acerca
atraentes mensagens das celebridades, sejam jogadores de do modo correto de separar a verdade da inverdade das
futebol, artistas, frequentadores de reality shows ou políticos culturas [...].” Atualmente, a escola enfrenta o desafio de
oportunistas. aceitar a multiplicidade de culturas e verdades que perpassam
Diante de todos esses desafios, Almeida131 enfatiza que, ao os saberes escolares, pois a verdade do conhecimento torna-se
mesmo tempo em que Bauman apresenta tais aspectos, o questionável nesse novo contexto.
próprio autor também oportuniza uma solução para a escola Almeida, parafraseando Bauman, destaca esta nova
poder enfrentá-los, destacando o poder da escola de facilitar a configuração da escola em detrimento de um espaço
socialização entre os indivíduos e de promover uma multicultural que aposta na pluralidade de culturas, no intuito
sensibilização acerca do mundo atual e conscientizar para a de compreendê-las, fortalecê-las e relacioná-las com outras
busca de novas formas de relações em suprimento das culturas, assinalando-as como parte de um diálogo que
relações individualistas. Almeida afirma: enriquece os saberes educativos:
Diante dos inúmeros “textos” que escrevem o mundo, a arte
[...] além de promover a socialização, ou seja, preparar as da conversação civilizada é algo que o espaço da escola
pessoas para o mundo cambiável em que vivemos, a necessita de maneira urgente. Dialogar com as distintas
individualização pressuposta nos mecanismos educacionais, ao tradições que chegam até ela, sem combatê-las; procurar
mesmo tempo em que evita decretar o que é certo ou verdadeiro entendê-las, sem aniquilá-las ou descartá-las como mutantes;
e provocar sua manifestação, consiste no exercício de “agitar” os fortalecer sua própria perspectiva (a do professor, por exemplo)
estudantes e incitar-lhes a dúvida sobre a imagem que têm de si com o livre recurso à experiências alheias (a dos alunos e suas
e da sociedade em que estão inseridos e, nesse movimento, culturas, por que não?). Levando isso em conta, extraímos da
desafiar o consenso prevalecente. Os professores seriam, assim, posição de Bauman o seguinte imperativo para a educação
intelectuais que ajudam a assegurar que a consciência moral de escolarizada na sociedade líquida: conversar ou perecer!
cada geração seja diferente da geração anterior. De acordo com essa nova forma curricular, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997), de acordo com a Lei de
A escola, articulada como uma instituição, em harmonia Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal n.
com a preparação de indivíduos adequados a habitar um 9.394/96) destacam a valorização dos temas transversais, os
mundo ordenado, não se configura nos tempos atuais. quais possuem a intenção de responder aos novos
Configura-se hoje como um espaço destinado a dar pressupostos e novas configurações da educação escolar.
oportunidades iguais a todos, inclusive às minorias e aos Dentre os temas transversais salientam-se a Ética e a
excluídos, sendo um ambiente no qual se recebe uma Pluralidade Cultural. De acordo com o enredo apresentado,
pluralidade de culturas e valores de uma mesma sociedade, entende-se que a educação escolar deve preocupar-se com as
respeitando diferenças e enfatizando os princípios de condutas humanas e não só com o desenvolvimento de
solidariedade. habilidades e competências técnicas, mas referenciar valores
Nesse enredo, Gadotti132 enfatiza que esta época de que valorizem a relação com o outro, já que ética e valores
rápidas transformações acaba por demandar uma nova estão imbuídos no currículo escolar e nas relações entre os
configuração da educação na busca de um melhor desempenho indivíduos.
do sistema escolar:
131 ALMEIDA, Felipe Quintão de; BRACHT, Valter; GOMES, Ivan Marcelo. 132 GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec.
Bauman e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. [online]. 2000, v.14, n. 2, p. 03-11.
Segundo Gómez133, a função educativa da escola deve “ilusão” e “utopia” pedagógica, o futuro como “possibilidade”.
cumprir não só o processo de socialização, mas oferecer às Fala-se muito hoje em “cenários” possíveis para a educação,
futuras gerações a possibilidade de questionar a validade dos portanto, em “panoramas”, representação de “paisagens”. Para
conteúdos, de elaborar alternativas e tomar decisões se desenhar uma perspectiva é preciso “distanciamento”. É
autônomas acerca das transformações sociais e culturais. O sempre um “ponto de vista”. Todas essas palavras entre aspas
conjunto de conhecimentos adquiridos na escola só será válido indicam uma certa direção ou, pelo menos, um horizonte em
se oferecer ao indivíduo um modo consciente de pensamento direção ao qual se caminha ou se pode caminhar. Elas
e ação. Afirma o autor que: A formação de cidadãos autônomos, designam “expectativas” e anseios que podem ser captados,
conscientes, informados e solidários requer uma escola onde capturados, sistematizados e colocados em evidência.
possa-se recriar a cultura, não uma academia para
aprendizagens mecânicas ou aquisições irrelevantes, mas uma Educação Tradicional
escola viva e comprometida com a análise e a reconstrução das Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade
contingências sociais, onde os estudantes e os docentes Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação
aprendem os aspectos mais diversos da experiência humana. tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista,
Nesse sentido, salienta-se que a existência da escola mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da
perante a todas as transformações culturais e sociais, deve escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação
assumir uma postura, não só de transmissão de conteúdos sem nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de
significados, de aprendizagens mecânicas, sem sentido, Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe
somente para atender às influências do mercado competitivo, consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das
mas assumir a condição de um espaço no qual valorize as ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito
experiências trazidas pelas culturas e assim, construir uma de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por
interlocução entre elas, permeadas pela reflexão, pela exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia.
socialização e pela relação de valores indispensáveis à Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova,
formação do homem. amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na
educação do futuro.
Educação e Sociedade no Brasil A educação tradicional e a nova têm em comum a
concepção da educação como processo de desenvolvimento
Nas últimas duas décadas do século XX assistiu-se a individual. Todavia, o traço mais original da educação desse
grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e político século é o deslocamento de enfoque do individual para o social,
quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia. Ocorreram para o político e para o ideológico. A pedagogia institucional é
grandes movimentos sociais, como aqueles no leste europeu, um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de
no final dos anos 80, culminando com a queda do Muro de educação nos países socialistas também o testemunha. A
Berlim. Ainda não se tem ideia clara do que deverá educação, no século XX, tornou-se permanente e social. É
representar, para todos nós, a globalização capitalista da verdade, existem ainda muitos desníveis entre regiões e
economia, das comunicações e da cultura. As transformações países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e
tecnológicas tornaram possível o surgimento da era da hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados.
informação. Entretanto, há ideias universalmente difundidas, entre elas a
É um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de de que não há idade para se educar, de que a educação se
concepções e paradigmas. É um momento novo e rico de estende pela vida e que ela não é neutra.
possibilidades. Por isso, não se pode falar do futuro da
educação sem certa dose de cautela. É com essa cautela que Educação Internacionalizada
serão examinadas, neste artigo, algumas das perspectivas No início da segunda metade deste século, educadores e
atuais da teoria e da prática da educação, apoiando-se políticos imaginaram uma educação internacionalizada,
naqueles educadores e filósofos que tentaram, em meio a essa confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países
perplexidade, apesar de tudo, apontar algum caminho para o altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino
futuro. A perplexidade e a crise de paradigmas não podem se fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas
constituir num álibi para o imobilismo. nacionais de educação trouxeram um grande impulso, desde o
No início deste século, H. G. Wells dizia que “a História da século passado, possibilitando numerosos planos de educação,
Humanidade é cada vez mais a disputa de uma corrida entre a que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de uma
educação e a catástrofe”. A julgar pelas duas grandes guerras educação internacional já existia deste 1899, quando foi
que marcaram a “História da Humanidade”, na primeira fundado, em Bruxelas, o Bureau Internacional de Novas
metade do século XX, a catástrofe venceu. No início dos anos Escolas, por iniciativa do educador Adolphe Ferrière. Como
50, dizia-se que só havia uma alternativa: “socialismo ou resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos sistemas
barbárie” (Cornelius Castoriadis), mas chegou-se ao final do de ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas
século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo educacionais contam com uma estrutura básica muito
soviético e enfraquecimento da ética socialista. E mais: pela parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização
primeira vez na história da humanidade, não por efeito de deu novo impulso à ideia de uma educação igual para todos,
armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial, agora não como princípio de justiça social, mas apenas como
pode-se destruir toda a vida do planeta. Mais do que a parâmetro curricular comum.
solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade.
Hoje muitos educadores, perplexos diante das rápidas Novas Tecnologias
mudanças na sociedade, na tecnologia e na economia, As consequências da evolução das novas tecnologias,
perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns com centradas na comunicação de massa, na difusão do
medo de perdê-la sem saber o que devem fazer. Então, conhecimento, ainda não se fizeram sentir plenamente no
aparecem, no pensamento educacional, todas as palavras ensino - como previra McLuhan já em 1969 -, pelo menos na
citadas por Abbagnano e Aurélio: “projeto” político- maioria das nações, mas a aprendizagem a distância,
pedagógico, pedagogia da “esperança”, “ideal” pedagógico, sobretudo a baseada na Internet, parece ter sido a grande
novidade educacional nos últimos tempos. A educação opera do que no passado. Sob diversas formas e com diferentes
com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive significados, essas categorias são encontradas em muitos
impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da intelectuais, filósofos e educadores, de ontem e de hoje: o
informática, particularmente a linguagem da Internet. A “sentido do outro”, a “curiosidade” (Paulo Freire), a
cultura do papel representa talvez o maior obstáculo ao uso “tolerância” (Karl Jaspers), a “estrutura de acolhida” (Paul
intensivo da Internet, em particular da educação a distância Ricoeur), o “diálogo” (Martin Buber), a “autogestão” (Celestin
com base na Internet. Por isso, os jovens que ainda não Freinet, Michel Lobrot), a “desordem” (Edgar Morin), a “ação
internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com comunicativa”, o “mundo vivido” (Jürgen Habermas), a
mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles “radicalidade” (Agnes Heller), a “empatia” (Carl Rogers), a
já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital. “questão de gênero” (Moema Viezzer, Nelly Stromquist), o
Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar “cuidado” (Leonardo Boff), a “esperança” (Ernest Bloch), a
suficientemente o impacto da comunicação audiovisual e da “alegria” (Georges Snyders), a unidade do homem contra as
informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar “unidimensionalizações” (Herbert Marcuse), etc.
as mentes. Ainda trabalha-se muito com recursos tradicionais Evidentemente, nem todos esses autores aceitariam
que não têm apelo para as crianças e jovens. Os que defendem enquadrar-se nos paradigmas holonômicos. Todas as
a informatização da educação sustentam que é preciso mudar classificações e tipologias, no campo das ideias, são
profundamente os métodos de ensino para reservar ao necessariamente reducionistas. Não se pode negar as
cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar, divergências existentes entre eles. Contudo, as categorias
em vez de desenvolver a memória. Para ele, a função da escola apontadas anteriormente indicam uma certa tendência, ou
será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para melhor, uma perspectiva da educação. Os que sustentam os
isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens, paradigmas holonômicos procuram buscar na unidade dos
inclusive a linguagem eletrônica. contrários e na cultura contemporânea um sinal dos tempos,
uma direção do futuro, que eles chamam de pedagogia da
Paradigmas Holonômicos unidade.
Entre as novas teorias surgidas nesses últimos anos,
despertaram interesse dos educadores os chamados Educação Popular
paradigmas holonômicos, ainda pouco consistentes. O paradigma da educação popular, inspirado
Complexidade e holismo são palavras cada vez mais ouvidas originalmente no trabalho de Paulo Freire nos anos 60,
nos debates educacionais. Nesta perspectiva, pode-se incluir encontrava na conscientização sua categoria fundamental. A
as reflexões de Edgar Morin, que critica a razão produtivista e prática e a reflexão sobre a prática levaram a incorporar outra
a racionalização modernas, propondo uma lógica do vivente. categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não
Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, basta estar consciente, é preciso organizar-se para poder
do conhecimento, em torno do ser humano, valorizando o seu transformar. Nos últimos anos, os educadores que
cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o permaneceram fiéis aos princípios da educação popular
acaso e outras categorias como: decisão, projeto, ruído, atuaram principalmente em duas direções: na educação
ambiguidade, finitude, escolha, síntese, vínculo e totalidade. pública popular - no espaço conquistado no interior do Estado
Essas seriam algumas das categorias dos paradigmas -; e na educação popular comunitária e na educação ambiental
chamados holonômicos. Etimologicamente, holos, em grego, ou sustentável, predominantemente não governamentais.
significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na Durante os regimes autoritários da América Latina, a educação
totalidade. Mais do que a ideologia, seria a utopia que teria popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e
essa força para resgatar a totalidade do real, totalidade apresentando projetos “alternativos”. Com as conquistas
perdida. Para os defensores desses novos paradigmas, os democráticas, ocorreu com a educação popular uma grande
paradigmas clássicos - identificados no positivismo e no fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou uma
marxismo - seriam marcados pela ideologia e lidariam com nova vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas
categorias redutoras da totalidade. Ao contrário, os políticas públicas; e, de outro, continuou como educação não-
paradigmas holonômicos pretendem restaurar a totalidade do formal, dispersando-se em milhares de pequenas
sujeito, valorizando a sua iniciativa e a sua criatividade, experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e
valorizando o micro, a complementaridade, a convergência e a conseguiu atravessar numerosas fronteiras. Hoje ela
complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o incorporou-se ao pensamento pedagógico universal e orienta
sonho milenarista de uma sociedade plena, sem arestas, em a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo, como
que nada perturbaria um consenso sem fricções. Ao aceitar o testemunha o Fórum Paulo Freire, que se realiza de dois em
como fundamento da educação uma antropologia que concebe dois anos, reunindo educadores de muitos países.
o homem como um ser essencialmente contraditorial, os As práticas de educação popular também constituem-se
paradigmas holonômicos pretendem manter, sem pretender em mecanismos de democratização, em que se refletem os
superar, todos os elementos da complexidade da vida. valores de solidariedade e de reciprocidade e novas formas
Os holistas sustentam que o imaginário e a utopia são os alternativas de produção e de consumo, sobretudo as práticas
grandes fatores instituintes da sociedade e recusam uma de educação popular comunitária, muitas delas voluntárias. O
ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a escuta. Os Terceiro Setor está crescendo não apenas como alternativa
enfoques clássicos, segundo eles, banalizam essas dimensões entre o Estado burocrático e o mercado insolidário, mas
da vida porque sobrevalorizam o macroestrutural, o sistema, também como espaço de novas vivências sociais e políticas
em que tudo é função ou efeito das superestruturas hoje consolidadas com as organizações não-governamentais
socioeconômicas ou epistêmicas, linguísticas e psíquicas. Para (ONGs) e as organizações de base comunitária (OBCs). Este
os novos paradigmas, a história é essencialmente está sendo hoje o campo mais fértil da educação popular.
possibilidade, em que o que vale é o imaginário (Gilbert Diante desse quadro, a educação popular, como modelo
Durand, Cornelius Castoriadis), o projeto. Existem tantos teórico reconceituado, tem oferecido grandes alternativas.
mundos quanto nossa capacidade de imaginar. Para eles, “a Dentre elas, está a reforma dos sistemas de escolarização
imaginação está no poder”, como queriam os estudantes em pública. A vinculação da educação popular com o poder local e
maio de 1968. a economia popular abre, também, novas e inéditas
Na verdade, essas categorias não são novas na teoria da possibilidades para a prática da educação. O modelo teórico da
educação, mas hoje são lidas e analisadas com mais simpatia educação popular, elaborado na reflexão sobre a prática da
educação durante várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos
das grandes contribuições da América Latina à teoria e à últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou
prática educativa em âmbito internacional. A noção de especialidade para se tornar uma dimensão de tudo,
aprender a partir do conhecimento do sujeito, a noção de transformando profundamente a forma como a sociedade se
ensinar a partir de palavras e temas geradores, a educação organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma
como ato de conhecimento e de transformação social e a Revolução da Informação, como ocorreram no passado a
politicidade da educação são apenas alguns dos legados da Revolução Agrícola e a Revolução Industrial.
educação popular à pedagogia crítica universal. Ladislau Dowbor134, após descrever as facilidades que as
novas tecnologias oferecem ao professor, se pergunta: o que
Universalização da Educação Básica e Novas Matrizes eu tenho a ver com tudo isso, se na minha escola não tem nem
Teóricas biblioteca e com o meu salário eu não posso comprar um
computador? Ele mesmo responde que será preciso trabalhar
A educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro.
lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso e, ao
universalização da educação básica de qualidade; de outro, as mesmo tempo, criar as condições para aproveitar amanhã as
novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência possibilidades das novas tecnologias.
global necessária para indicar caminhos realmente seguros As novas tecnologias criaram novos espaços do
numa época de profundas e rápidas transformações. Essa é conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o
uma das preocupações do Instituto Paulo Freire, buscando, a espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos.
partir do legado de Paulo Freire, consolidar o seu “Projeto da Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de casa,
Escola Cidadã”, como resposta à crise de paradigmas. A acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a
concepção teórica e as práticas desenvolvidas a partir do distância, buscar “fora” - a informação disponível nas redes de
conceito de Escola Cidadã podem constituir-se numa computadores interligados - serviços que respondem às suas
alternativa viável, de um lado, ao projeto neoliberal de demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil
educação, amplamente hegemônico, baseado na ética do (ONGs, associações, sindicatos, igrejas, etc.) está se
mercado, e, de outro lado, à teoria e à prática de uma educação fortalecendo não apenas como espaço de trabalho, em muitos
burocrática, sustentada na “estatolatria” (Antônio Gramsci). É casos, voluntário, mas também como espaço de difusão de
uma escola que busca fortalecer autonomamente o seu projeto conhecimentos e de formação continuada. É um espaço
político-pedagógico, relacionando-se dialeticamente - não potencializado pelas novas tecnologias, inovando
mecânica e subordinadamente - com o mercado, o Estado e a constantemente nas metodologias. Novas oportunidades
sociedade. Ela visa formar o cidadão para controlar o mercado parecem abrir-se para os educadores. Esses espaços de
e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pública quanto ao seu formação têm tudo para permitir maior democratização da
destino - isto é, para todos - estatal quanto ao financiamento e informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e
democrática e comunitária quanto à sua gestão. menos manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma
Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea questão de tempo, de políticas públicas adequadas e de
tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma iniciativa da sociedade. A tecnologia não basta. É preciso a
educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo participação mais intensa e organizada da sociedade. O acesso
Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais à informação não é apenas um direito. É um direito
voltada para a transformação social do que para a transmissão fundamental, um direito primário, o primeiro de todos os
cultural. Por isso, acredita-se que a pedagogia da práxis, como direitos, pois sem ele não se tem acesso aos outros direitos.
uma pedagogia transformadora, em suas várias manifestações, Na formação continuada necessita-se de maior integração
pode oferecer um referencial geral mais seguro do que as entre os espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial, etc.),
pedagogias centradas na transmissão cultural, neste momento visando equipar o aluno para viver melhor na sociedade do
de perplexidade. conhecimento. Como previa Herbert McLuhan, o planeta
tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereço. O
Sociedade da informação e educação ciberespaço não está em lugar nenhum, pois está em todo o
Costuma-se definir nossa era como a era do conhecimento. lugar o tempo todo. Estar num lugar significaria estar
Se for pela importância dada hoje ao conhecimento, em todos determinado pelo tempo (hoje, ontem, amanhã). No
os setores, pode-se dizer que se vive mesmo na era do ciberespaço, a informação está sempre e permanentemente
conhecimento, na sociedade do conhecimento, sobretudo em presente e em renovação constante. O ciberespaço rompeu
consequência da informatização e do processo de globalização com a ideia de tempo próprio para a aprendizagem. Não há
das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de fato, já tempo e espaço próprios para a aprendizagem. Como ele está
se tenha ingressado na era do conhecimento, mesmo todo o tempo em todo lugar, o espaço da aprendizagem é aqui
admitindo que grandes massas da população estejam - em qualquer lugar - e o tempo de aprender é hoje e sempre.
excluídas dele. Todavia, o que se constata é a predominância A sociedade do conhecimento se traduz por redes, “teias” (Ivan
da difusão de dados e informações e não de conhecimentos. Illich), “árvores do conhecimento” (Humberto Maturana), sem
Isso está sendo possível graças às novas tecnologias que hierarquias, em unidades dinâmicas e criativas, favorecendo a
estocam o conhecimento, de forma prática e acessível, em conectividade, o intercâmbio, consultas entre instituições e
gigantescos volumes de informações, que são armazenadas pessoas, articulação, contatos e vínculos, interatividade. A
inteligentemente, permitindo a pesquisa e o acesso de maneira conectividade é a principal característica da Internet.
muito simples, amigável e flexível. É o que já acontece com a O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é
Internet: para ser “usuário”, basta dispor de uma linha apenas o capital da transnacional que precisa dele para a
telefônica e um computador. “Usuário” não significa aqui inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de
apenas receptor de informações, mas também emissor de todos e, por isso, não deve ser vendido ou comprado, mas sim
informações. Pela Internet, a partir de qualquer sala de aula do disponibilizado a todos. Esta é a função de instituições que se
planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos.
partes do mundo. As novas tecnologias permitem acessar Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática,
conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e
nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas parâmetros curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que
públicas no setor, acabaram surgindo “indústrias do vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua
conhecimento”, prejudicando uma possível visão humanista, capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua
tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico. prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o
A educação, em particular a educação a distância, é um bem educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno
coletivo e, por isso, não deve ser regulada pelo jogo do que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir
mercado, nem pelos interesses políticos ou pelo furor conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa
legiferante de regulamentar, credenciar, autorizar, ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos
reconhecer, avaliar, etc. de muitos tecnoburocratas. Quem sentidos para o que fazer dos seus alunos.
deve decidir sobre a qualidade dos seus certificados não é nem Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos
o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito na escola e de buscar receitas fora dela quando é ela mesma
aprendente. Na era da informação generalizada, existirá ainda que deveria governar-se. É dever dela ser cidadã e desenvolver
necessidade de diplomas? na sociedade a capacidade de governar e controlar o
O que cabe à escola na sociedade informacional? Cabe a ela desenvolvimento econômico e o mercado. A cidadania precisa
organizar um movimento global de renovação cultural, controlar o Estado e o mercado, verdadeira alternativa ao
aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Hoje é a capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e
empresa que está assumindo esse papel inovador. A escola não autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o
pode ficar a reboque das inovações tecnológicas. Ela precisa futuro. Inovar é mais importante do que reproduzir com
ser um centro de inovação. Temos uma tradição de dar pouca qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão
importância à educação tecnológica, a qual deveria começar já do futuro.
na educação infantil. A escola está desafiada a mudar a lógica da construção do
Na sociedade da informação, a escola deve servir de conhecimento, pois a aprendizagem agora ocupa toda a nossa
bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando vida. E porque passamos todo o tempo de nossas vidas na
a visão utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a escola - não só nós, professores - devemos ser felizes nela. A
competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma felicidade na escola não é uma questão de opção metodológica
formação geral na direção de uma educação integral. O que ou ideológica, mas sim uma obrigação essencial dela. Como diz
significa servir de bússola? Significa orientar criticamente, Georges Snyders no livro ‘A alegria na escola, precisamos de
sobretudo as crianças e jovens, na busca de uma informação uma nova “cultura da satisfação”, precisamos da “alegria
que os faça crescer e não embrutecer. cultural’. O mundo de hoje é “favorável à satisfação” e a escola
Hoje vale tudo para aprender. Isso vai além da “reciclagem” também pode sê-lo.
e da atualização de conhecimentos e muito mais além da O que é ser professor hoje? Ser professor hoje é viver
“assimilação” de conhecimentos. A sociedade do intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e
conhecimento possui múltiplas oportunidades de sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a
aprendizagem: parcerias entre o público e o privado (família, humanidade sem educadores, assim como não se pode pensar
empresa, associações, etc.); avaliações permanentes; debate num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão
público; autonomia da escola; generalização da inovação. As emancipadora, não só transformam a informação em
consequências para a escola e para a educação em geral são conhecimento e em consciência crítica, mas também formam
enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos
pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e elaborações marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”,
teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber
para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular (não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque
o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a constroem sentido para a vida das pessoas e para a
distância. humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas
Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são
escola: amar o conhecimento como espaço de realização imprescindíveis.
humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e
rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser Educação do futuro
criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e Jacques Delors135, coordenador do “Relatório para a
não pura receptora; produzir, construir e reconstruir Unesco da Comissão Internacional Sobre Educação para o
conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva Século XXI”, no livro Educação: um tesouro a descobrir, aponta
emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso como principal consequência da sociedade do conhecimento a
em favor dos excluídos, não discriminando o pobre. Ela não necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida
pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir (Lifelong Learning) fundada em quatro pilares que são ao
conhecimentos, saber, que é poder. Numa perspectiva mesmo tempo pilares do conhecimento e da formação
emancipadora da educação, a tecnologia contribui muito continuada. Esses pilares podem ser tomados também como
pouco para a emancipação dos excluídos se não for associada bússola para nos orientar rumo ao futuro da educação.
ao exercício da cidadania.
Como diz Ladislau Dowbor, a escola deixará de ser Aprender a conhecer - Prazer de compreender, descobrir,
“lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Segundo o construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade,
autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe
determinante sobre o desenvolvimento”. A educação tornou- uma cultura geral, o que não prejudica o domínio de certos
se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que
basta “modernizá-la”, como querem alguns. Será preciso aprender a aprender. Aprender mais linguagens e
transformá-la profundamente. metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem
A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso
sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo prazos, aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas “pensar
fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus pensamentos”, pensar o já dito, o já feito, reproduzir o
UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo:
Cortez, 1998.
pensamento. É preciso pensar também o novo, reinventar o Educar para a cidadania ativa tornou-se hoje projeto e
pensar, pensar e reinventar o futuro. programa de muitas escolas e de sistemas educacionais.
B) Planetaridade - A Terra é um “novo paradigma”
Aprender a fazer - É indissociável do aprender a conhecer. (Leonardo Boff). Que implicações tem essa visão de mundo
A substituição de certas atividades humanas por máquinas sobre a educação? O que seria uma ecopedagogia (Francisco
acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou de ser Gutiérrez) e uma ecoformação (Gaston Pineau)? O tema da
puramente instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje a cidadania planetária pode ser discutido a partir desta
competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar novas categoria. Podemos nos perguntar como Milton Nascimento:
situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe, do que “para que passaporte se fazemos parte de uma única nação?”
a pura qualificação profissional. Hoje, o importante na Que consequências podemos tirar para alunos, professores e
formação do trabalhador, também do trabalhador em currículos?
educação, é saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa, C) Sustentabilidade - O tema da sustentabilidade
gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber originou-se na economia (“desenvolvimento sustentável”) e na
resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima ecologia, para se inserir definitivamente no campo da
de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações educação, sintetizada no lema “uma educação sustentável para
interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial. a sobrevivência do planeta”. O que seria uma cultura da
Existem hoje perto de 11 mil funções na sociedade contra sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos debates
aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas educativos das próximas décadas. O que estamos estudando
universidades. Como as profissões evoluem muito nas escolas? Não estaremos construindo uma ciência e uma
rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para cultura que servem para a degradação/deterioração do
um trabalho. planeta?
D) Virtualidade - Esse tema implica toda a discussão atual
Aprender a viver juntos - a viver com os outros. sobre a educação a distância e o uso dos computadores nas
Compreender o outro, desenvolver a percepção da escolas (Internet). A informática, associada à telefonia, nos
interdependência, da não-violência, administrar conflitos. inseriu definitivamente na era da informação. Quais as
Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter prazer consequências para a educação, para a escola, para a formação
no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa do professor e para a aprendizagem? Consequências da
é a tendência. No Brasil, como exemplo desta tendência, pode- obsolescência do conhecimento. Como fica a escola diante da
se citar a inclusão de temas/eixos transversais (ética, ecologia, pluralidade dos meios de comunicação? Eles abrem os novos
cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros espaços da formação ou irão substituir a escola?
Curriculares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares E) Globalização - O processo da globalização está
e trabalho em projetos comuns. mudando a política, a economia, a cultura, a história e,
portanto, também a educação. É um tema que deve ser
Aprender a ser - Desenvolvimento integral da pessoa: enfocado sob vários prismas. A globalização remete também
inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, ao poder local e às consequências locais da nossa dívida
responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento externa global (e dívida interna também, a ela associada). O
autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa. Para global e o local se fundem numa nova realidade: o “global”. O
isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de estudo desta categoria remete à necessária discussão do papel
cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico- dos municípios e do “regime de colaboração” entre União,
matemática e linguística. Precisa ser integral. estados, municípios e comunidade, nas perspectivas atuais da
Iniciou-se este texto procurando situar o que significa educação básica. Para pensar a educação do futuro, é
“perspectiva”. Sem pretender fazer qualquer exercício de necessário refletir sobre o processo de globalização da
futurologia e muito mais no sentido de estabelecer pontos para economia, da cultura e das comunicações.
o debate, serão apontados aqui algumas categorias em torno F) Transdisciplinaridade - Embora com significados
da educação do futuro, que indicam o surgimento de temas distintos, certas categorias como transculturalidade,
com importantes consequências para a educação. transversalidade, multiculturalidade e outras como
complexidade e holismo também indicam uma nova tendência
As categorias “contradição”, “determinação”, na educação que será preciso analisar. Como construir
“reprodução”, “mudança”, “trabalho”, “práxis”, “necessidade”, interdisciplinarmente o projeto pedagógico da escola? Como
“possibilidade” aparecem frequentemente na literatura relacionar multiculturalidade e currículo? É necessário
pedagógica contemporânea, sinalizando já uma perspectiva da realizar o debate dos PCN. Como trabalhar com os “temas
educação, a perspectiva da pedagogia da práxis. Essas transversais”? O desafio de uma educação sem discriminação
categorias tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno étnica, cultural, de gênero.
da educação, principalmente a partir de Hegel e de Marx. A G) Dialogicidade, dialeticidade - Não se pode negar a
dialética constitui-se, até hoje, no paradigma mais consistente atualidade de certas categorias freireanas e marxistas, a
para analisar o fenômeno da educação. Pode-se e deve-se validade de uma pedagogia dialógica ou da práxis. Marx, em O
estudá-la e estudar todas as categorias anteriormente capital, privilegiou as categorias hegelianas “determinação”,
apontadas. Elas não podem ser negadas, pois ajudarão muito “contradição”, “necessidade” e “possibilidade”. A
na leitura do mundo da educação atual. Elas não podem ser fenomenologia hegeliana continua inspirando nossa educação
negadas ou desprezadas como categorias “ultrapassadas”. e deverá atravessar os anos. A educação popular e a pedagogia
Porém, também podemos nos ocupar mais da práxis deverão continuar como paradigmas válidos para o
especificamente de outras, ao pensar a educação do futuro, futuro que virá.
categorias nascidas ao mesmo tempo da prática da educação e
da reflexão sobre ela. Eis algumas delas a título de exemplo: A análise dessas categorias e a identificação da sua
A) Cidadania - O que implica também tratar do tema da presença na pedagogia contemporânea podem constituir-se,
autonomia da escola, de seu projeto político-pedagógico, da sem dúvida, num grande programa a ser desenvolvido hoje em
questão da participação, da educação para a cidadania. Dentro torno das “perspectivas atuais da educação”. Não se pretende
desta categoria, pode-se discutir particularmente o significado aqui dar respostas definitivas. Com esse pequeno texto
da concepção de escola cidadã e de suas diferentes práticas. introdutório, procurou-se apenas iniciar um debate sobre as
perspectivas atuais da educação, sem a intenção de, com isso,
encerrá-lo. Existem muitos outros desafios para a educação. A Assim, podemos inferir que a participação efetiva da
reflexão crítica não basta, como também não basta a prática comunidade na escola é uma responsabilidade da escola. Essa
sem a reflexão sobre ela. Aqui, são indicadas apenas algumas participação traz, sem dúvidas, inúmeras vantagens, porém
pistas, dentro de uma visão otimista e crítica - não pessimista reconhece-se que há inúmeros obstáculos em relação a tal
e ingênua - para uma análise em profundidade daqueles que se participação. Mesmo assim, a escola não deve desistir, pois
interessam por uma “educação voltada para o futuro”, como essa participação deve ser entendida como uma questão
dizia o grande educador polonês, o marxista Bogdan política, que auxilia na construção da cidadania. Um bom
Suchodolski. começo para efetivas mudanças no padrão de participação da
comunidade é, por exemplo, um incentivo e a implantação dos
A integração da Escola x Família x Comunidade conselhos escolares que devem atuar de maneira ativa e
autônoma.
Não há como pensarmos em educação sem o envolvimento Pais e mães podem participar de várias formas no
da família nesse processo. Escola e família são instituições ambiente escolar e na própria educação dos filhos, basta que a
sociais muito presentes na vida escolar do aluno, de forma que escola ofereça opções e dedique um tempo para que isso
só se pode pensar em sucesso educativo se pensarmos aconteça. Claro que essa não é uma tarefa fácil, uma vez que os
também em trabalho conjunto. Educar é sem dúvida um papel professores estão envolvidos emocionalmente com seus
que recai sobre a família e a escola. Por isso, quanto mais alunos e famílias. Famílias e escola têm a responsabilidade de
estreita for essa relação, melhor será o resultado. Pais e educar as crianças, para isso precisam estabelecer uma relação
professores têm objetivos comuns e precisam ser os mais de parceria, aumentando as possibilidades de compartilhar
cordiais, coerentes e responsáveis nesse processo. critérios educativos que possam minimizar as possíveis
Não há como conceber um compartilhamento da ação diferenças entre os dois ambientes, escola e família.
educativa sem considerar os contatos entre as famílias e os Não há dúvidas que o ambiente escolar e a família
educadores. Essa é uma questão primordial que deve ser compõem o meio social no qual o aluno está inserido. Eles dois
muito mais frequente na educação dos anos iniciais do que nas mais o local em que localiza sua residência ou sua escola, bem
outras etapas, os contatos podem ser de várias naturezas: como os laços sociais e econômicos compõem o meio social
contatos rotineiros, reunião de pais, reuniões de, reuniões de com forte interferência no aprendizado e na motivação para
conselho de escola, comemorações, trabalho do professor e aprendê-lo.
informações da própria criança.
Todas as formas de contatos entre escola e família sevem A educação como responsabilidade de todos
para aproximar as famílias do universo escolar e para que a Observa-se nas últimas décadas, uma crescente
escola possa conhecer a dinâmica familiar daquele aluno, preocupação com essa inserção da comunidade na escola,
quanto mais à escola conhece o aluno e sua família mais inclusive com programas voluntários, como os famosos
próxima estarão do sucesso na educação dele. “Amigos na escola”. Independentemente das questões
Quando falamos na necessidade da relação entre família e ideológicas que esse tipo de participação possa suscitar
escola, falamos principalmente na possibilidade de sabemos que a comunidade tem um papel importante na
compartilhar critérios educativos para que possam minimizar construção da autonomia da escola, principalmente da escola
as possíveis diferenças entre os dois ambientes, Para o aluno, pública porque essa correrá uma medida em que a escola se
é muito mais produtivo que os ambientes tenham ideias coloca a serviço dos interesses da população que dela
parecidas sobre educação. O crescimento harmonioso do necessita.
aluno deve permear a colaboração entre as duas instâncias, Paro argumenta que a ausência da comunidade na escola
família e escola, de forma que possa contribuir para: pública torna-se mais difícil a avaliação da qualidade do ensino
Buscar meios para que a família possa criar o hábito de ofertado. Os pais, até mesmo mais que os alunos, como co-
participar da vida escolar dos seus filhos, percebendo o quanto usuário da escola, são capazes de apontar problemas e, muitas
a família é importante no processo Ensino Aprendizagem do vezes, sugerir ações para solução deles. Além de todos esses
aluno, através de ações previstas no Projeto Político aspectos é ainda importante realizar a divisão do poder na
Pedagógico, propor alteração no Projeto Político Pedagógico escola possibilitando a comunidade participar da tomada de
com o intuito de melhorar o processo ensino aprendizagem, decisões.
despertar as famílias, fazendo com que possam perceber a A relação entre escola e comunidade precisa ser um espaço
importância da participação nas atividades escolares dos aberto onde favoreça e solicite a participação de toda essa
filhos, promover atividades que permitam o envolvimento das abertura aponta para o caráter interdependente da escola.
famílias, criar momentos de integração entre pais, alunos e Essa interação entre escola e comunidade é amparada por leis
comunidade escolar, mostrando-lhes o quanto eles são que exigem, por exemplo, a criação dos conselhos escolares.
importantes na vida escolar de seus filhos. Essas são estratégias de interação e de democratização do
espaço escolar e favorecem a democratização do ensino.
Relação Escola x Comunidade
Para Libâneo136 a organização de atividades que Gestão escolar democrática
asseguram a relação entre escola e comunidade, implica ações A escola tem como uma de suas atribuições desenvolver
que envolvem a escola e suas relações externas, tais como os ações e atividades que ensinem e aprimorem o respeito ás
níveis superiores de gestão do sistema escolar, os pais, as diferenças entre todos. Para tanto, se faz necessário que a
organizações políticas e comunitárias, as cidades e os escola efetive ações em prol do desenvolvimento da cidadania.
equipamentos urbanos. O objetivo dessas atividades é buscar É nesse contexto que se destaca a gestão democrática do
as possibilidades de cooperação e de apoio, oferecidas pelas ensino público, princípio constitucional que traduz a
diferentes instituições, que contribuam para o aprimoramento participação ativa e cidadã da comunidade escolar e local na
do trabalho da escola, isto é, para as atividades de ensino e de condução da escola, pois a gestão da escola é um ato político
educação dos alunos. Espera-se especialmente, que os pais que implica tomada de decisões que não podem ser
atuam na gestão escolar mediante canais de participação bem individuais, mas coletivas.
definidos.
No contexto educacional, a democracia deve ser o princípio No modelo humanista, os pais se colocam mais como guias,
norteador da prática pedagógica, configurando-se como dando aos filhos o poder de decisão, numa política que
fundamento das ações escolares. Desse modo, o Bouchard chama de autogestão no poder pela criança. Entre as
desenvolvimento de práticas democrático é parte da estratégias educativas estão as seguintes: permite e estimula a
construção de um sistema que respeita os direitos individuais expressão das emoções pelos filhos, encoraja nos seus
e coletivos de todos. Assim, é fundamental que a escola efetive empreendimentos, reconhece e valoriza as capacidades dos
ações que concretizem a gestão democrática, entre elas, a filhos, favorece a autonomia e a autodeterminação nos seus
efetivação do Conselho da Escola e a realização de eleições filhos sua comunicação orienta-se necessidades dos filhos.
diretas para direção e vice direção. Os conflitos entre famílias e escolas podem advir das
No entanto, para que a gestão democrática se concretize é diferenças de classes sociais, valores, crenças, hábitos de
essencial o desenvolvimento de ações pautada nos princípios interação e comunicação subjacentes aos modelos educativos.
de autonomia e interculturalismo, em processos de Tanto crianças como pai pode comportar-se segundo modelos
participação e de cooperação na construção de uma sociedade que não são da escola. Isto pode não ser um problema para as
mais justo e igualitária. Para tanto, o processo de ensino- famílias das camadas sócias mais altas, quem tem a
aprendizagem é fundamental, pois por meio de práticas possibilidade de escolher uma escola que se assemelhe ao seu
democráticas desenvolvidas em sala de aula se vivencia e se próprio modelo. Esta não é a realidade para as classes
aprende o respeito às diferenças, possibilitando a resolução trabalhadoras. Os modelos adotados pelas escolas dependem,
positiva de conflitos e favorecendo a realização de objetivos em geral, da disposição das diretorias e de sua orientação.
coletiva.
Portanto, se a escola busca desenvolver valores A participação dos pais na vida da escola
democráticos como o respeito, a justiça, a liberdade e a Sabe-se que em geral, os pais poucas participações
solidariedade, devem necessariamente, democratizar os exercem na determinação do que acontece na escola. Algumas
métodos e os processos de ensino-aprendizagem e, vezes teme-se a participação de certos pais que, sendo muito
fundamentalmente, o relacionamento entre professor e aluno. eloquentes e de temperamento forte, tentam impor sua
Professores que estabelecem relações horizontais com seus vontade sobre procedimentos escolares e que muitas vezes
alunos, propiciando o diálogo sobre conteúdos e vivências, funcionariam mais para “facilitar” sua própria vida, ou de seus
conseguem concretizar intervenções que atendem ás questões filhos, do que para melhorar a qualidade do ensino, conforme
individuais e coletivas. Essa atitude, além de respeitar as percebido por gestores e professores. Em vista disso, muitas
condições e possibilidades de cada um, proporciona o êxito do vezes, os dirigentes escolares não apenas deixam de ouvir os
processo de ensino-aprendizagem. pais, como até evitam fazê-lo, e de dar espaço para a
participação familiar. É possível que ajam dessa forma
A relação Família x Escola também por terem receio de perder espaço e autoridade.
Há inúmeros fatores a serem levados em conta na Observando a escola, podemos perceber que a maioria dos
consideração da relação família/escola. O primeiro deles, é que pais por terem dificuldades em estarem frequentes na escola
a ação educativa dos pais difere, necessariamente, da escola, tem nos revelado não apenas uma carência, mas nos fez
dos seus objetivos, conteúdos, métodos, no padrão de perceber que estamos no caminho certo ao realizar ações que
sentimentos e emoções que estão em jogo, na natureza dos despertem neles o entendimento da importância dessa
laços pessoais entre os protagonistas e, evidentemente, nas participação. Porém não podemos deixar de registrar um
circunstâncias em que ocorrem. imobilismo ou incapacidade da escola em elaborar ações que
Outra consideração refere-se ao comportamento das superem ou ajudam superar essas limitações, pois o que mais
famílias das diferentes camadas sociais em relação à escola ouvimos a escola dizer que é muito difícil trazer os pais para a
pública, famílias de classe média desenvolvem estratégias de escola, isso tem caracterizado o desânimo e a falta de vontade
participação, tendo em vista a criação de condições para o em mudar situações.
sucesso escolar de seus filhos, além dos mais, o nível de Exemplificando esforços de mudanças dessa situação,
escolaridade e a facilidade de verbalização possibilitam a esses decidimos assumir juntamente com os diretores a realização
pais uma crítica que famílias das classes trabalhadoras não de trabalho para promover a superação dessas dificuldades, e
conseguem ou não ousam fazer. tomamos a iniciativa de promover encontros, realizar
Outro fator a ser considerado refere-se às estratégias de reuniões e palestras com pais de alunos de nossas escolas,
socialização escolar, se são complementares ou não às da abrindo-se para apoiar as famílias como forma de promover a
escola, e isto depende muito de classe social que a família integração dos mesmos ao seu trabalho.
pertence. As famílias podem desenvolver práticas que venham A participação dos pais na vida da escola tem sido
facilitar a aprendizagem escolar (por exemplo: preparar para observada em pesquisas, como um dos indicadores mais
a alfabetização) e desenvolver hábitos coerentes com os significativos na determinação da qualidade do ensino, isto é
exigidos pela escola (por exemplo: hábitos de conversação) ou aprendem mais os alunos cujos pais participam mais da vida
não. da escola.
Além de estratégias de socialização, as famílias diferem Questões
uma das outras quanto a modelos educativos. Bouchard137
distingue, de forma geral, três modelos: o “racional”, o 01. Assinale certo ou errado para a assertiva abaixo:
“humanista” e o “simbiossinérgico”. No racional, os pais Ao tratar da concepção de homem, Paulo Freire entende
mantêm uma hierarquia na qual decidem e impõem suas que o homem começa a ser sujeito social, independente do
decisões sobre as atividades e o futuro dos filhos. Dão muita contato com outros homens.
importância à disciplina, à ordem, à submissão, à autoridade. ( ) Certo ( ) Errado
Nas suas estratégias educativas, os pais distribuem ordens,
impõem, ameaçam, criticam, controlam, proíbem, dão as 02. Com relação ao convívio família/escola, a ação
soluções para a criança. Orientam mais para um conformismo educativa dos pais difere, necessariamente, da escola, dos seus
do que para a autonomia. objetivos, dentre outros aspectos.
( ) Certo ( ) Errado
03. O tema da sustentabilidade originou-se na economia posição que ocupa (filho mais velho, caçula etc.), ao papel que
(“desenvolvimento sustentável”) e na ecologia, para se inserir desempenha, às suas características físicas, ao seu
definitivamente no campo da educação, sintetizada no lema temperamento, às relações específicas com pai, mãe e outros
“uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta. membros.
( ) Certo ( ) Errado A criança participa, também, de outros universos sociais,
como festas populares de sua cidade ou bairro, igreja, feira ou
Gabarito clube, ou seja, pode ter as mais diversas vivências, das quais
resultam um repertório de valores, crenças e conhecimentos.
01.Errado / 02.Certo / 03.Certo Uma das particularidades da sociedade brasileira é a
diversidade étnica e cultural. Essa diversidade apresenta-se
com características próprias segundo a região e a localidade;
As interações faz-se presente nas crianças que frequentam as instituições de
criança/criança como recurso educação infantil, e também em seus professores.
O ingresso na instituição de educação infantil pode alargar
de desenvolvimento: o universo inicial das crianças, em vista da possibilidade de
identidade e autonomia conviverem com outras crianças e com adultos de origens e
hábitos culturais diversos, de aprender novas brincadeiras, de
adquirir conhecimentos sobre realidades distantes.
Saber o que é estável e o que é circunstancial em sua Dependendo da maneira como é tratada a questão da
pessoa, conhecer suas características e potencialidades e diversidade, a instituição pode auxiliar as crianças a
reconhecer seus limites é central para o desenvolvimento da valorizarem suas características étnicas e culturais, ou pelo
identidade e para a conquista da autonomia. A capacidade das contrário, favorecer a discriminação, quando é conivente com
crianças de terem confiança em si próprias e o fato de se preconceitos.
sentirem aceitas, ouvidas, cuidadas e amadas oferece A maneira como cada um vê a si próprio depende também
segurança para a formação pessoal e social. A possibilidade de do modo como é visto pelos outros. O modo como os traços
desde muito cedo efetuarem escolhas e assumirem pequenas particulares de cada criança são recebidos pelo professor, e
responsabilidades favorece o desenvolvimento da autoestima, pelo grupo em que se insere tem um grande impacto na
essencial para que as crianças se sintam confiantes e felizes138. formação de sua personalidade e de sua autoestima, já que sua
O desenvolvimento da identidade e da autonomia está identidade está em construção. Um exemplo particular é o caso
intimamente relacionado com os processos de socialização. das crianças com necessidades especiais. Quando o grupo a
Nas interações sociais se dá a ampliação dos laços afetivos que aceita em sua diferença está aceitando-a também em sua
as crianças podem estabelecer com as outras crianças e com os semelhança, pois, embora com recursos diferenciados, possui,
adultos, contribuindo para que o reconhecimento do outro e a como qualquer criança, competências próprias para interagir
constatação das diferenças entre as pessoas sejam valorizadas com o meio. Vale destacar que, nesse caso, a atitude de
e aproveitadas para o enriquecimento de si próprias. aceitação é positiva para todas as crianças, pois muito estarão
Isso pode ocorrer nas instituições de educação infantil que aprendendo sobre a diferença e a diversidade que constituem
se constituem, por excelência, em espaços de socialização, pois o ser humano e a sociedade.
propiciam o contato e o confronto com adultos e crianças de As crianças vão, gradualmente, percebendo-se e
várias origens socioculturais, de diferentes religiões, etnias, percebendo os outros como diferentes, permitindo que
costumes, hábitos e valores, fazendo dessa diversidade um possam acionar seus próprios recursos, o que representa uma
campo privilegiado da experiência educativa. condição essencial para o desenvolvimento da autonomia.
O trabalho educativo pode, assim, criar condições para as A autonomia, definida como a capacidade de se conduzir e
crianças conhecerem, descobrirem e ressignificarem novos tomar decisões por si próprio, levando em conta regras,
sentimentos, valores, ideias, costumes e papéis sociais. valores, sua perspectiva pessoal, bem como a perspectiva do
A instituição de educação infantil é um dos espaços de outro, é, nessa faixa etária, mais do que um objetivo a ser
inserção das crianças nas relações éticas e morais que alcançado com as crianças, é o princípio das ações educativas.
permeiam a sociedade na qual estão inseridas. Conceber uma educação em direção à autonomia significa
considerar as crianças como seres com vontade própria,
Concepção capazes e competentes para construir conhecimentos, e,
dentro de suas possibilidades, interferir no meio em que
A construção da identidade e da autonomia diz respeito ao vivem.
conhecimento, desenvolvimento e uso dos recursos pessoais Exercitando o autogoverno em questões situadas no plano
para fazer frente às diferentes situações da vida. das ações concretas, poderão gradualmente fazê-lo no plano
das ideias e dos valores.
A identidade é um conceito do qual faz parte a ideia de Do ponto de vista do juízo moral, nessa faixa etária, a
distinção, de uma marca de diferença entre as pessoas, a criança encontra-se numa fase denominada de heteronomia,
começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, em que dá legitimidade a regras e valores porque provêm de
de modos de agir e de pensar e da história pessoal. Sua fora, em geral de um adulto a quem ela atribui força e prestígio.
construção é gradativa e se dá por meio de interações sociais Na moral autônoma, ao contrário, a maturidade da criança lhe
estabelecidas pela criança, nas quais ela, alternadamente, imita permite compreender que as regras são passíveis de discussão
e se funde com o outro para diferenciar-se dele em seguida, e reformulação, desde que haja acordo entre os elementos do
muitas vezes utilizando-se da oposição. grupo. Além disso, vê a igualdade e reciprocidade como
componentes necessários da justiça e torna-se capaz de
A fonte original da identidade está naquele círculo de coordenar seus pontos de vista e ações com os de outros, em
pessoas com quem a criança interage no início da vida. Em interações de cooperação.
geral a família é a primeira matriz de socialização. Ali, cada um A passagem da heteronomia para a autonomia supõe
possui traços que o distingue dos demais elementos, ligados à recursos internos (afetivos e cognitivos) e externos (sociais e
138 Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. -
Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Brasília: MEC/SEF, 1998.
culturais). Para que as crianças possam aprender a gerenciar propiciando aos bebês novas referências sobre seu próprio
suas ações e julgamentos conforme princípios outros que não corpo, suas necessidades e sentimentos e sobre sua
o da simples obediência, e para que possam ter noção da sexualidade.
importância da reciprocidade e da cooperação numa
sociedade que se propõe a atender o bem comum, é preciso Construção de vínculos
que exercitem o autogoverno, usufruindo de gradativa Desde o nascimento, as crianças se orientam
independência para agir, tendo condições de escolher e tomar prioritariamente para o outro, inicialmente para os adultos
decisões, participando do estabelecimento de regras e próximos, que lhes garantem a sobrevivência, propiciando sua
sanções. alimentação, higiene, descanso. O bebê nasce e cresce, pois, em
Assim, é preciso planejar oportunidades em que as íntimo contato com o outro, o que lhe possibilita o acesso ao
crianças dirijam suas próprias ações, tendo em vista seus mundo. Ele expressa seu estado de bem ou mal estar pelas
recursos individuais e os limites inerentes ao ambiente. vocalizações, gestos e posturas que são percebidas,
Um projeto de educação que almeja cidadãos solidários e interpretadas e respondidas pelo(s) outro(s), conforme
cooperativos deve cultivar a preocupação com a dimensão aprenderam em suas experiências na cultura à qual
ética, traduzindo-a em elementos concretos do cotidiano na pertencem.
instituição. O bebê já nasce imerso nessa cultura. Entre o bebê e as
O complexo processo de construção da identidade e da pessoas que cuidam, interagem e brincam com ele se
autonomia depende tanto das interações socioculturais estabelece uma forte relação afetiva (a qual envolve
como da vivência de algumas experiências consideradas sentimentos complexos e contraditórios como amor, carinho,
essenciais, associadas à fusão e diferenciação, construção encantamento, frustração, raiva, culpa etc.). Essas pessoas não
de vínculos e expressão da sexualidade. apenas cuidam da criança, mas também medeiam seus
contatos com o mundo, atuando com ela, organizando e
Processos de fusão e diferenciação interpretando para ela esse mundo. É nessas interações, em
que ela é significada/ interpretada como menino/menina,
Ao nascer, o bebê encontra-se em um estado que pode ser como chorão ou tranquilo, como inteligente ou não, que se
denominado como de fusão com a mãe, não diferenciando o constroem suas características.
seu próprio corpo e os limites de seus desejos. Pode ficar As pessoas com quem construíram vínculos afetivos
frustrado e raivoso quando a mãe, ou o adulto que dele cuida, estáveis são seus mediadores principais, sinalizando e criando
não age conforme seus desejos - por exemplo, não lhe dando condições para que as crianças adotem condutas, valores,
de mamar na hora em que está com fome. Essas experiências atitudes e hábitos necessários à inserção naquele grupo ou
de frustração, quando inseridas num clima de afeto e atenção, cultura específica.
podem constituir-se em fatores importantes de Em seguida, as crianças orientam-se para outras pessoas à
desenvolvimento pessoal, já que explicitam divergências e medida que expandem seus campos de ação. Embora bem
desencontros, momentos favoráveis à diferenciação entre eu e pequenas, elas também demonstram forte motivação para a
o outro. interação com outras crianças. A orientação para o outro, além
Aos poucos, o bebê adquire consciência dos limites de seu de lhes garantir acesso a um grande conjunto de informações
próprio corpo, bem como das consequências de seus que este outro lhes proporciona, evidencia uma característica
movimentos. Essas conquistas podem ser exemplificadas pelo básica do ser humano que é a capacidade de estabelecer
encantamento em que fica quando descobre que pode vínculos.
comandar os movimentos de sua mão, ou pela surpresa com
que reage quando morde o próprio braço e sente dor. A Expressão da sexualidade
exploração de seu corpo e movimentos, assim como o contato A sexualidade tem grande importância no
com o corpo do outro, é fundamental para um primeiro nível desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois
de diferenciação do eu. independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-
É por meio dos primeiros cuidados que a criança percebe se com o prazer, necessidade fundamental dos seres humanos.
seu próprio corpo como separado do corpo do outro, organiza Nesse sentido, é entendida como algo inerente, que está
suas emoções e amplia seus conhecimentos sobre o mundo. O presente desde o momento do nascimento, manifestando-se
outro é, assim, elemento fundamental para o conhecimento de de formas distintas segundo as fases da vida. Seu
si. Quanto menor a criança, mais as atitudes e procedimentos desenvolvimento é fortemente marcado pela cultura e pela
de cuidados do adulto são de importância fundamental para o história, dado que cada sociedade cria regras que constituem
trabalho educativo que realiza com ela. Na faixa de zero a seis parâmetros fundamentais para o comportamento sexual dos
anos os cuidados essenciais assumem um caráter prioritário indivíduos. A marca da cultura faz-se presente desde cedo no
na educação institucional das crianças. desenvolvimento da sexualidade infantil, por exemplo, na
No ato de alimentar ou trocar uma criança pequena não é maneira como os adultos reagem aos primeiros movimentos
só o cuidado com a alimentação e higiene que estão em jogo, exploratórios que as crianças fazem em seu corpo.
mas a interação afetiva que envolve a situação. Ser carregado A relação das crianças com o prazer se manifesta de forma
ao colo e, ao mesmo tempo, ter o seio ou mamadeira para diferente da do adulto.
mamar é uma experiência fundamental para o ser humano. Na Em momentos diferentes de sua vida, elas podem se
relação estabelecida, por exemplo, no momento de tomar a concentrar em determinadas partes do corpo mais do que em
mamadeira, seja com a mãe ou com o professor de educação outras. A boca é uma das regiões pela qual as crianças
infantil, o binômio dar e receber possibilita às crianças vivenciam de modo privilegiado sensações de prazer, ao
aprenderem sobre si mesmas e estabelecerem uma confiança mesmo tempo em que se constitui em recurso de ação sobre o
básica no outro e em suas próprias competências. Elas mundo exterior. Para um bebê, o sugar está presente tanto nos
começam a perceber que sabem lidar com a realidade, que momentos em que mama ou é alimentado, como quando leva
conseguem respostas positivas, fato que lhes dá segurança e à boca objetos que estão ao seu alcance ou partes de seu corpo.
que contribui para a construção de sua identidade. Nesse contexto, a mordida pode ser entendida, também, como
Os constantes cuidados com o conforto que é efetivado uma ação sobre o meio. Também nessa fase, as crianças
pelas trocas de vestuário, pelos procedimentos de higiene da descobrem o poder que têm por meio de suas reações de
pele, pelo contato com a água do banho, pelos toques e recusa ou aceitação do alimento que lhe oferecem.
massagens, pelos apoios corporais e mudanças posturais vão
Na fase do controle esfincteriano, tudo o que diz respeito Assim, ser homem ou mulher varia conforme a cultura e o
às eliminações ganha uma importância enorme para as momento histórico, pois supõe, mais do que as características
crianças e para os adultos com quem convivem. Logo elas biológicas de um ou outro sexo, o desempenho de papéis
percebem o efeito que suas eliminações provocam nos adultos, atribuídos socialmente.
os quais tendem a reagir conforme hábitos e concepções muito Ao se perceber como menino ou como menina, as
arraigados acerca do que é limpo, sujo, “feio” ou “bonito”, preocupações das crianças não residem mais unicamente nas
podendo usá-las como recurso para manipular o adulto, diferenças anatômicas, mas nas características associadas ao
contrapondo o seu próprio desejo às expectativas dele. ser homem ou mulher.
Outra consequência que decorre do controle esfincteriano Após uma fase de curiosidade quanto às diferenças
é o favorecimento da exploração dos órgãos genitais, antes entre os sexos, por volta dos cinco e seis anos, a questão do
escondidos pelas fraldas. Aumenta a curiosidade por seus gênero ocupa papel central no processo de construção da
próprios órgãos, podendo entregar-se a manipulações por identidade. Isso se reflete nas ações e interações entre as
meio das quais pesquisam as sensações e o prazer que crianças, que tendem a uma separação espontânea entre
produzem. Paralelamente, cresce também o interesse pelos meninos e meninas.
órgãos das outras crianças que também podem se tornar A estrutura familiar na qual se insere a criança fornece-lhe
objeto de manipulação e de exploração, em interações sociais importantes referências para sua representação quanto aos
dos mais diversos tipos: na hora do banho, em brincadeiras de papéis de homem e mulher. Em um mesmo grupo de creche ou
médico etc. pré-escola, as crianças podem pertencer a estruturas
A reação dos adultos às explorações da criança de seu familiares distintas, como uma que é criada pelo pai e pela
próprio corpo e aos jogos sexuais com outras crianças lhe mãe, outra que é criada só pela mãe, ou só pelo pai, ou ainda
fornecem parâmetros sobre o modo como é vista a sua busca outra criada só por homens ou só por mulheres.
de prazer. Esse contexto influencia seus comportamentos Além do modelo familiar, as crianças podem constatar, por
atuais e a composição de sua vida psíquica. A recepção dos exemplo, que nas novelas ou desenhos veiculados pela
adultos a suas explorações ou perguntas ligadas à sexualidade televisão, homem e mulher são representados conforme
podem suscitar diferentes reações, desde atitudes de visões presentes na sociedade. Essas visões podem influenciar
provocação e exibicionismo até atitudes de extremo a sua percepção quanto aos papéis desempenhados pelos
retraimento e culpa. sujeitos dos diferentes gêneros.
Tanto nas famílias como na instituição, as explorações
sexuais das crianças mobilizam valores, crenças e conteúdos Aprendizagem
dos adultos, num processo que nem sempre é fácil de ser A criança é um ser social que nasce com capacidades
vivido. Sobretudo se virem na curiosidade e exploração das afetivas, emocionais e cognitivas. Tem desejo de estar próxima
crianças uma conotação de promiscuidade ou manifestação de às pessoas e é capaz de interagir e aprender com elas de forma
algo “anormal”. A tendência é que, quanto mais tranquila for a que possa compreender e influenciar seu ambiente.
experiência do adulto no plano de sua própria sexualidade, Ampliando suas relações sociais, interações e formas de
mais natural será sua reação às explorações espontâneas comunicação, as crianças sentem-se cada vez mais seguras
infantis. para se expressar, podendo aprender, nas trocas sociais, com
No cotidiano, as crianças recebem, com frequência, diferentes crianças e adultos cujas percepções e compreensões
mensagens contraditórias. Veem o sexo ser alardeado nas da realidade também são diversas.
propagandas, ou abertamente representado nas novelas, por Para se desenvolver, portanto, as crianças precisam
exemplo. Esse tema pode aparecer em suas brincadeiras de aprender com os outros, por meio dos vínculos que estabelece.
faz-de-conta. Se as aprendizagens acontecem na interação com as outras
Vale lembrar que, do ponto de vista da criança, porém, não pessoas, sejam elas adultos ou crianças, elas também
é necessário que ela tenha presenciado a cenas ou a dependem dos recursos de cada criança.
representação de cenas de sexo nos meios de comunicação Dentre os recursos que as crianças utilizam, destacam-se a
para que se envolvam em explorações ou jogos sexuais. A imitação, o faz-de-conta, a oposição, a linguagem e a
motivação para essas brincadeiras pode vir exclusivamente de apropriação da imagem corporal.
curiosidades e desejos, integrantes de um processo normal de
desenvolvimento. Imitação
A compreensão da sexualidade como um processo amplo, A percepção e a compreensão da complementaridade
cultural e inerente ao desenvolvimento das crianças pode presentes nos atos e papéis envolvidos nas interações sociais
auxiliar o professor diante das ações exploratórias das é um aspecto importante do processo de diferenciação entre o
crianças ou das perguntas que fazem a respeito do tema. eu e o outro. O exercício da complementaridade está presente,
Dentre as questões relacionadas à sexualidade, as relações por exemplo, nos jogos de imitação típico das crianças.
de gênero ocupam um lugar central. Há um vínculo básico É visível o esforço das crianças, desde muito pequenas, em
entre o gênero de uma pessoa e suas características biológicas, reproduzir gestos, expressões faciais e sons produzidos pelas
que a definem como do sexo feminino ou masculino. Perceber- pessoas com as quais convivem. Imitam também animais
se e ser percebido como homem ou mulher, pertencendo ao domésticos, objetos em movimento etc. Na fase dos dois aos
grupo dos homens ou das mulheres, dos meninos ou das três anos a imitação entre crianças pode ser uma forma
meninas, se dá nas interações estabelecidas, principalmente privilegiada de comunicação e para brincar com outras
nos primeiros anos de vida e durante a adolescência. crianças. A oferta de múltiplos brinquedos do mesmo tipo
Antes mesmo do nascimento, os familiares manifestam facilita essa interação.
curiosidade em saber se o bebê será menino ou menina. Já A imitação é resultado da capacidade de a criança observar
nesse momento começam a construir expectativas diferentes e aprender com os outros e de seu desejo de se identificar com
quanto ao futuro da criança, conforme a representação que é eles, ser aceita e de diferenciar-se. É entendida aqui como
feita do papel do homem e da mulher em seu grupo social. Com reconstrução interna e não meramente uma cópia ou repetição
o nascimento, as expectativas e os planos tendem a se mecânica. As crianças tendem a observar, de início, as ações
intensificar e se fazem presentes nas interações cotidianas mais simples e mais próximas à sua compreensão,
com a criança, desde a escolha da cor da roupa, passando pelos especialmente aquelas apresentadas por gestos ou cenas
brinquedos a serem oferecidos, até as atividades e atrativas ou por pessoas de seu círculo afetivo. A observação é
brincadeiras permitidas. uma das capacidades humanas que auxiliam as crianças a
construírem um processo de diferenciação dos outros e internalizar e elaborar suas emoções e sentimentos,
consequentemente sua identidade. desenvolvendo um sentido próprio de moral e de justiça.
Brincar Oposição
Brincar é uma das atividades fundamentais para o Além da imitação e do faz-de-conta, a oposição é outro
desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a recurso fundamental no processo de construção do sujeito.
criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de Opor-se, significa, em certo sentido, diferenciar-se do outro,
gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na afirmar o seu ponto de vista, os seus desejos.
brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas Vários são os contextos em que tal conduta pode ocorrer,
brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas sua intensidade depende de vários fatores, tais como:
capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a características pessoais, grau de liberdade oferecido pelo
memória, a imaginação. meio, momento específico do desenvolvimento pessoal em que
Amadurecem também algumas capacidades de se encontra.
socialização, por meio da interação e da utilização e É comum haver fases em que a oposição é mais intensa,
experimentação de regras e papéis sociais. ocorrendo de forma sistemática e concentrada.
A diferenciação de papéis se faz presente, sobretudo no A observação das interações infantis sugere que são
faz-de-conta, quando as crianças brincam como se fossem o diversos os temas de oposição, os quais tendem a mudar com
pai, a mãe, o filhinho, o médico, o paciente, heróis e vilões etc., a idade.
imitando e recriando personagens observados ou imaginados
nas suas vivências. Linguagem
A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais O uso que a criança faz da linguagem fornece vários
para que a criança aprenda mais sobre a relação entre as indícios quanto ao processo de diferenciação entre o eu e o
pessoas, sobre o eu e sobre o outro. outro. Por exemplo, a estabilização no uso do pronome “eu” em
No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir em função da substituição à forma usada pelos menores que costumam
imagem de uma pessoa, de uma personagem, de um objeto e referir-se a si mesmos pelo próprio nome, conjugando o verbo
de situações que não estão imediatamente presentes e na terceira pessoa - “fulano quer isso ou aquilo” - sugere a
perceptíveis para elas no momento e que evocam emoções, identificação da sua pessoa como uma perspectiva particular e
sentimentos e significados vivenciados em outras única. Por outro lado, a própria linguagem favorece o processo
circunstâncias. Brincar funciona como um cenário no qual as de diferenciação, ao possibilitar formas mais objetivas e
crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como diversas de compreender o real.
também de transformá-la. Os heróis, por exemplo, lutam Ao mesmo tempo em que enriquece as possibilidades de
contra seus inimigos, mas também podem ter filhos, cozinhar comunicação e expressão, a linguagem representa um potente
e ir ao circo. veículo de socialização.
Ao brincar de faz-de-conta, as crianças buscam imitar, É na interação social que as crianças são inseridas na
imaginar, representar e comunicar de uma forma específica linguagem, partilhando significados e sendo significadas pelo
que uma coisa pode ser outra, que uma pessoa pode ser uma outro. Cada língua carrega, em sua estrutura, um jeito próprio
personagem, que uma criança pode ser um objeto ou um de ver e compreender o mundo, o qual se relaciona a
animal, que um lugar “faz-de-conta” que é outro. Brincar é, características de culturas e grupos sociais singulares. Ao
assim, um espaço no qual se pode observar a coordenação das aprender a língua materna, a criança toma contato com esses
experiências prévias das crianças e aquilo que os objetos conteúdos e concepções, construindo um sentido de
manipulados sugerem ou provocam no momento presente. pertinência social.
Pela repetição daquilo que já conhecem, utilizando a ativação Por meio da linguagem, o ser humano pode ter acesso a
da memória, atualizam seus conhecimentos prévios, outras realidades sem passar, necessariamente, pela
ampliando-os e transformando-os por meio da criação de uma experiência concreta. Por exemplo, alguém que more no sul do
situação imaginária nova. Brasil pode saber coisas sobre a floresta ou povos da Amazônia
Brincar constitui-se, dessa forma, em uma atividade sem que nunca tenha ido ao Amazonas, simplesmente se
interna das crianças, baseada no desenvolvimento da baseando em relatos de viajantes, ou em livros. Com esse
imaginação e na interpretação da realidade, sem ser ilusão ou recurso, a criança tem acesso a mundos distantes e
mentira. Também se tornam autoras de seus papéis, imaginários. As histórias que compõem o repertório infantil
escolhendo, elaborando e colocando em prática suas fantasias tradicional são inesgotável fonte de informações culturais, as
e conhecimentos, sem a intervenção direta do adulto, podendo quais se somam a sua vivência concreta. O Saci Pererê pode
pensar e solucionar problemas de forma livre das pressões ser, por exemplo, uma personagem cujas aventuras façam
situacionais da realidade imediata. parte da vida da criança sem que exista concretamente na
Quando utilizam a linguagem do faz-de-conta, as crianças realidade.
enriquecem sua identidade, porque podem experimentar
outras formas de ser e pensar, ampliando suas concepções Apropriação da imagem corporal
sobre as coisas e pessoas ao desempenhar vários papéis A aquisição da consciência dos limites do próprio corpo é
sociais ou personagens. um aspecto importante do processo de diferenciação do eu e
Na brincadeira, vivenciam concretamente a elaboração e do outro e da construção da identidade.
negociação de regras de convivência, assim como a elaboração Por meio das explorações que faz, do contato físico com
de um sistema de representação dos diversos sentimentos, das outras pessoas, da observação daqueles com quem convive, a
emoções e das construções humanas. Isso ocorre porque a criança aprende sobre o mundo, sobre si mesma e comunica-
motivação da brincadeira é sempre individual e depende dos se pela linguagem corporal.
recursos emocionais de cada criança que são compartilhados
em situações de interação social. Questões
Por meio da repetição de determinadas ações imaginadas
que se baseiam nas polaridades presença/ausência, bom/mau, 01. (Prefeitura Municipal de Várzea Paulista/SP -
prazer/desprazer, passividade/atividade, dentro/fora, Agente de Políticas Sociais - Educador Infantil - BioRio
grande/pequeno, feio/bonito etc., as crianças também podem Concursos) Para fazer com que a turma do Jardim I
desenvolva os conceitos de identidade e de socialização, é
preciso estabelecer algumas atividades rotineiras porque as significação é o resultado da possibilidade de assimilação.
crianças precisam: Conhecer significa, pois, inserir o objeto num sistema de
(A) se familiarizar com o que é coletivo sem pedir coisas relações, a partir de ações executadas sobre esse objeto.
emprestadas. Para Piaget o conhecimento é fruto das trocas entre o
(B) saber diferenciar o que lhes pertence do que é organismo e o meio. Essas trocas são responsáveis pela
propriedade de todos; construção da própria capacidade de conhecer. Produzem
(C) entender que o que é próprio não pode ser dividido estruturas mentais que, sendo orgânicas não estão, entretanto,
com o outro; programadas no genoma, mas aparecem como resultado das
(D) compartilhar os objetos dos colegas de forma a validar solicitações do meio ao organismo.
o que é masculino do que é feminino; A alteração organismo-meio ocorre através do que Piaget
(E) explorar o que pertence ao grupo escolar e o que chama processo de adaptação, com seus dois aspectos
pertence ao professor na sala de aula; complementares: a assimilação e a acomodação. O conceito de
adaptação surge, inicialmente, na obra de Piaget com o sentido
02. (SESI/SP - Analista Pedagógico Educação Infantil - que lhe é dado na Biologia clássica, lembrando um fluxo
UnB/CESPE) A ideia de educação intercultural está alicerçada irreversível, vai se explicitando em momentos posteriores de
no acolhimento da diversidade, no reconhecimento dos outros sua obra, quando adquire o sentido de equilíbrio progressivo,
como sujeitos de sua individualidade, portadores de uma finalmente, adquire o sentido de um processo dialético através
identidade cultural própria. Com relação a esse assunto, do qual o indivíduo desenvolve as suas funções mentais, ao
assinale a opção correta. qual denomina “abstração reflexiva”. Esta adaptação do ser
(A) Embora na escola exista uma inter-relação entre os humano ao meio ambiente se realiza através da ação, elemento
diversos grupos culturais, não há como atender as central da teoria piagetiana, indicando o centro do processo
necessidades de todos. Assim, é o interesse da maioria que que transforma a relação com o objeto em conhecimento.
deve prevalecer. Ao tentar se adaptar ao meio ambiente o indivíduo utiliza
(B) A presença da diversidade humana na sociedade dois processos fundamentais que compõem o sistema
resulta na transversalidade de culturas, no sentido de que toda cognitivo a nível de seu funcionamento: a assimilação ou a
cultura é plural. incorporação de um elemento exterior (objeto, acontecimento
(C) Assumir o objetivo da educação intercultural significa etc), num esquema sensório-motor do sujeito e a acomodação,
reduzir o currículo aos interesses dos vários grupos culturais quer dizer, a necessidade em que a assimilação se encontra de
que frequentam a escola. considerar as particularidades próprias dos elementos a
(D) Na perspectiva da educação intercultural, basta assimilar. No sistema cognitivo do sujeito esses processos
direcionar o currículo formal para transformar a escola. estão normalmente em equilíbrio. A perturbação desse
equilíbrio gera um conflito ou uma lacuna diante do objeto ou
Gabarito evento, o que dispara mecanismos de equilibração. A partir de
tais perturbações produzem-se construções compensatórias
01.B / 02.B que buscam novo equilíbrio, melhor do que o anterior. Nas
sucessivas desequilibrações e reequilibrações o conhecimento
exógeno é complementado pelas construções endógenas, que
O desenvolvimento humano são incorporadas ao sistema cognitivo do sujeito. Nesse
processo, que Piaget denomina processo de equilibração, se
em processo de construção -
constroem as estruturas cognitivas que o sujeito emprega na
Piaget, Vygotsky e Wallon compreensão dos objetos, fatos e acontecimentos, levando ao
progresso na construção do conhecimento.
2º) um estágio corresponde a uma estrutura de conjunto A primeira etapa dessa reconstrução, que Piaget denomina
que se caracteriza por suas leis de totalidade e não pela período pré-operatório, é dominada pela representação
justaposição de propriedades estranhas umas às outras; simbólica. A criança não pensa, no sentido estrito desse termo,
3º) um estágio compreende, ao mesmo tempo, um nível de mas ela vê mentalmente o que evoca. O mundo para ela não se
preparação e um nível de acabamento; organiza em categorias lógicas gerais, mas distribui-se em
4º) é preciso distinguir, em uma sequência de estágios, o elementos particulares, individuais, em relação com sua
processo de formação ou gênese e as formas de equilíbrio final. experiência pessoal. O egocentrismo intelectual é a principal
forma assumida pelo pensamento da criança neste estádio. Seu
Com estes critérios Piaget distinguiu quatro grandes raciocínio procede por analogias, por transdução, uma vez que
períodos no desenvolvimento das estruturas cognitivas, lhe falta a generalidade de um verdadeiro raciocínio lógico.
intimamente relacionados ao desenvolvimento da afetividade O advento da capacidade de representação vai possibilitar
e da socialização da criança: estágio da inteligência sensório- o desenvolvimento da função simbólica, principal aquisição
motora (até, aproximadamente, os 2 anos); estágio da deste período, que assume as suas diferentes formas - a
inteligência simbólica ou pré-operatória (2 a 7-8 anos); estágio linguagem, a imitação diferida, a imagem mental, o desenho, o
da inteligência operatória concreta (7-8 a 11-12 anos); e jogo simbólico - compreendidos como diferentes meios de
estágio da inteligência formal (a partir, aproximadamente, dos expressão daquela função.
12 anos). Para Piaget a passagem da inteligência sensório-motora
O desenvolvimento por estágios sucessivos realiza em para a inteligência representativa se realiza pela imitação.
cada um deles um “patamar de equilíbrio” constituindo-se em Imitar, no sentido estrito, significa reproduzir um modelo. Já
“degraus” em direção ao equilíbrio final: assim que o equilíbrio presente no estágio sensório-motor, a imitação só vai se
é atingido num ponto a estrutura é integrada em novo interiorizar no sexto sub estágio, quando a criança pode
equilíbrio em formação. Os diversos estágios ou etapas praticar o “faz-de-conta”, agir “como se”, por imitação deferida
surgem, portanto, como consequência das sucessivas ou imitação interiorizada. Interiorizando-se a imitação, as
equilibrações de um processo que se desenvolve no decorrer imagens elaboram-se e tornam-se substitutos dos objetos
do desenvolvimento. Seguem o itinerário equivalente a um dados à percepção. O significante é, então, dissociado do
“creodo” (sequência necessária de desenvolvimento) e significado, tornando possível a elaboração do pensamento
supõem uma duração adequada para a construção das representativo.
competências cognitivas que os caracterizam, sendo que cada A inteligência tem acesso, então, ao nível da representação,
estádio resulta necessariamente do anterior e prepara a pela interiorização da imitação (que, por sua vez, é favorecida
integração do seguinte. pela instalação da função simbólica). A criança tem acesso,
O “creodo” é, então, o caminho a ser percorrido na dessa forma, à linguagem e ao pensamento. Ela pode elaborar,
construção da inteligência humana, que vai do período igualmente, imagens que lhe permitem, de certa forma,
sensório-motor (0-2 anos) aos períodos simbólico ou pré- transportar o mundo para a sua cabeça.
operatório (2-7 anos), lógico-concreto (7-12 anos) e formal Entre 2 e 5 anos, aproximadamente, a criança adquire a
(12 anos em diante). É preciso esclarecer que os estádios linguagem e forma, de alguma maneira, um sistema de
indicam as possibilidades do ser humano (sujeito epistêmico), imagens. Entretanto, a palavra não tem ainda, para ela, o valor
não dizendo respeito aos indivíduos (sujeitos psicológicos) em de um conceito; ela evoca uma realidade particular ou seu
si mesmos. A concretização ou realização dessas correspondente imagístico. Tendo que reconstruir o mundo no
possibilidades dependerá do meio no qual a criança se plano representativo, ela o reconstrói a partir de si mesma. O
desenvolve, uma vez que a capacidade de conhecer é resultado egocentrismo intelectual está no auge dessa etapa. A
das trocas do organismo com o meio. Da mesma forma, essa dominação do pensamento por imagens encerra a criança em
capacidade de conhecer depende, também, da organização si mesma.
afetiva, uma vez que a afetividade e a cognição estão sempre O pensamento imagístico egocêntrico, característico desta
presentes em toda a adaptação humana. fase, pode ser observado no jogo simbólico, no qual a criança
transforma o real ao sabor das necessidades e dos desejos do
O estágio da inteligência sensório-motor (0 a 2 anos) momento. O real é transformado pelo pensamento simbólico,
O período sensório-motor é de fundamental importância na medida em que o jogo se desenvolve, ao sabor das
para o desenvolvimento cognitivo. Suas realizações formam a exigências do desejo expresso pelo jogo. É por isso que Piaget
base de todos os processos cognitivos do indivíduo. Os considera o jogo simbólico como o egocentrismo no estado
esquemas sensório-motores são as primeiras formas de puro.
pensamento e expressão, são padrões de comportamento que Um pensamento assim dominado pelo simbolismo
podem ser aplicados a diferentes objetos em diferentes essencialmente particular, pessoal e, por isso, incomunicável,
contextos. A evolução cognitiva da criança nesse período pode não é um pensamento socializado. Ele não repousa em
ser descrita em seis sub estágios nos quais estabelecem-se as conceitos, mas no que Piaget chama pré-conceitos, que são
bases para a construção das principais categorias do particulares, no sentido em que evocam realidades
conhecimento que possibilitam ao ser humano organizar a sua particulares, tendo seu correlato imagístico ou simbólico
experiência na construção do mundo: objeto, espaço, próprio à experiência, de cada criança.
causalidade e tempo. Entre os 5 e 7 anos, período geralmente chamado de
“intuitivo”, ocorre uma evolução que leva a criança, pouco a
O estágio pré-operatório ou simbólico (2 a 6-7 anos) pouco, à maior generalidade. Seu pensamento agora repousa
O período pré-operatório realiza a transição entre a sobre configurações representativas de conjunto mais amplas,
inteligência propriamente sensório-motora e a inteligência mas ainda está dominado por elas. A intuição é uma espécie de
representativa. Essa passagem não ocorre através de mutação ação realizada em pensamento e vista mental mente:
brusca, mas de transformações lentas e sucessivas. Ao atingir transvasar, encaixar, seriar, deslocar etc. ainda são esquemas
o pensamento representativo a criança precisa reconstruir o de ação aos quais a representação assimila o real. Mas a,
objeto, o tempo, o espaço, as categorias lógicas de classes e intuição é, também, por outro lado, um pensamento imagístico,
relações nesse novo plano da representação. Tal reconstrução versando sobre configurações de conjunto e não mais sobre
estende-se dos dois aos doze anos, abrangendo os estádios simples coleções sincréticas, como no período anterior.
pré-operatório e operatório concreto. O pensamento da criança entre dois e sete anos é
dominado pela representação imagística de caráter simbólico.
A criança trata as imagens como verdadeiros substitutos do categoria teórico metodológica da mediação implica não
objeto e pensa efetuando relações entre imagens. A criança é aceitar dicotomias e, sobretudo, tentar se aproximar das
capaz de, em vez de agir em atos sobre os objetos, agir determinações que, dialeticamente, constituem o sujeito. É por
mentalmente sobre seu substituto ou imagem, que ela no meia. meio da mediação que se explica e se compreende como o
Proveniente da interiorização da imitação, a representação homem, membro da espécie humana, só se torna humano nas
simbólica possui o caráter estático da imitação, motivo pelo relações sociais que mantém com seus semelhantes e com sua
qual versa, essencialmente, sobre as configurações, por cultura. Nesse sentido, a escola, por meio de seus professores,
oposição às transformações. Com a instalação das estruturas exerce uma mediação central na constituição dos sujeitos-
operatórias do período seguinte, a imagem vai ser alunos, uma vez que é com seu auxílio que eles conquistam
subordinada às operações. Na passagem da ação sensório- novos saberes, apropriam-se de sua "humanidade" e
motora para a representação, pela imitação, é possível constroem, paulatinamente, formas próprias de pensar, sentir
aprender melhor as ligações entre as operações e a ação, e agir.
tornando mais compreensível a origem de certos distúrbios Uma segunda categoria importante a ser aqui discutida é a
dos processos figurativos: espaço, tempo, esquema corporal relação desenvolvimento-aprendizagem. Tendo Piaget como
etc. interlocutor, Vygotsky postula que o ensino, quando
adequadamente organizado, leva à aprendizagem, e essa
O estágio operatório concreto (7 a 11-12 anos) última, por sua vez, impulsiona ciclos de desenvolvimento que
Por volta dos sete anos a atividade cognitiva da criança até então estavam em estado embrionário: novas funções
torna-se operatória, com a aquisição da reversibilidade lógica. psicológicas superiores passam assim a existir. Esse novo
A reversibilidade aparece como uma propriedade das ações da desenvolvimento, mais adiantado, abre novas possibilidades
criança, suscetíveis de se exercerem em pensamento ou de aprendizagem que, se vierem a ocorrer, impulsionarão mais
interiormente. O domínio da reversibilidade no plano da uma vez o desenvolvimento, permitindo novas aprendizagens
representação - a capacidade de se representar uma ação e a e, assim, sucessivamente. Nesse sentido, aprendizagem e
ação inversa ou recíproca que a anula - ajuda na construção de desenvolvimento constituem uma unidade, visto um ser
novos invariantes cognitivos, desta vez de natureza constitutivo do outro, ou seja, um não é sem o outro.
representativa: conservação de comprimento, de distâncias, Vygotsky afirma que a relação dos indivíduos com o
de quantidades discretas e contínuas, de quantidades físicas mundo não é direta, mas mediada por sistemas simbólicos, em
(peso, substância, volume etc.). O equilíbrio das trocas que a linguagem ocupa um papel central, pois além de
cognitivas entre a criança e a realidade, característico das possibilitar o intercâmbio entre os indivíduos, é através dela
estruturas operatórias, é muito mais rico e variado, mais que o sujeito consegue abstrair e generalizar o pensamento.
estável, mais sólido e mais aberto quanto ao seu alcance do que Ou seja, "a linguagem simplifica e generaliza a experiência,
o equilíbrio próprio às estruturas da inteligência sensório- ordenando as instâncias do mundo real, agrupando todas as
motora. ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos,
O estágio das operações formais (11 a 15-16 anos) situações, sob uma mesma categoria conceituai cujo
Tanto as operações como as estruturas que se constroem significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem"
até aproximadamente os onze anos, são de natureza concreta, Oliveira140.
permanecem ligadas indissoluvelmente à ação da criança O uso da linguagem como instrumento de pensamento
sobre os objetos. Entre os 11 e os 15-16 anos, supõe um processo de internalização da linguagem, que ocorre
aproximadamente, as operações se desligam de forma gradual, completando-se em fases mais avançadas da
progressivamente do plano da manipulação concreta. Como aquisição da linguagem. Para Vygotsky, primeiro a criança
resultado da experiência lógico matemática, o adolescente utiliza a fala socializada, para se comunicar. Só mais tarde é
consegue agrupar representações em estruturas equilibradas que ela passará a usá-la como instrumento de pensamento,
(ocorrendo, portanto, uma nova mudança na natureza dos com a função de adaptação social. Entre o discurso socializado
esquemas) e tem acesso a um raciocínio hipotético-dedutivo. e o discurso interior há a fala egocêntrica, que é utilizada como
Agora, poderá chegar a conclusões a partir de hipóteses, sem apoio ao planejamento de sequências a serem seguidas,
ter necessidade de observação e manipulação reais. Esta auxiliando assim na solução de problemas.
possibilidade de operar com operações caracteriza o período Vygotsky observa que a criança apresenta em seu processo
das operações formais, com o aparecimento de novas de desenvolvimento um nível que ele chamou de real e outro
estruturas intelectuais e, consequentemente, de novos potencial. O nível de desenvolvimento real refere-se a
invariantes cognitivos. A mudança de estrutura, a etapas já alcançadas pela criança, isto é, a coisas que ela já
possibilidade de encontrar formas novas e originais de consegue fazer sozinha, sem a ajuda de outras pessoas. Já o
organizar os esquemas não termina nesse período, mas nível de desenvolvimento potencial diz respeito à
continua se processando em nível superior. As estruturas capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de outros. Há
operatórias formais são o ponto de partida das estruturas atividades que a criança não é capaz de realizar sozinha, mas
lógico-matemáticas da lógica e da matemática, que prolongam, poderá conseguir caso alguém lhe dê explicações,
em nível superior, a lógica natural do lógico e do matemático. demonstrando como fazer. Essa possibilidade de alteração no
desempenho de uma pessoa pela interferência da outra é
Teoria de Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) fundamental em Vygotsky. Para este autor, a zona de
desenvolvimento proximal consiste na distância entre o
Na abordagem da Psicologia Sócio Histórica, algumas nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento
categorias são centrais. Para efeitos da análise duas delas se potencial.
destacam e, por essa razão, serão brevemente apresentadas. A Vygotsky expõe assim seu pensamento:
primeira delas é a de mediação, entendida como "uma
instância que relaciona objetos, processos ou situações entre [...] a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento;
si ou, ainda, como um conceito que designa um elemento que mas uma correta organização da aprendizagem da criança
viabiliza a realização de outro e que, embora distinto dele, conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de
garante a sua efetivação, dando-lhe concretude". Adotar a
141 DAVIS, Claudia Leme Ferreira; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; RIBEIRO, vygotskiana, walloniana e piagetiana: diferentes olhares para a sala de aula.
Marilda Pierro de Oliveira; RACHMAN, Vivian Carla Bohm. Abordagens Psicologia da Educação, São Paulo, 34, 1º sem. de 2012, pp. 63-83.
(A) Aprendizagens intrínsecas de técnicas aprendidas haver uma necessidade de nomear as zonas do córtex
através dos pais. cerebral situadas mais além das regiões motoras, por
(B) Processos dependentes e influenciados pela volta do século XIX.
aprendizagem escolar. Segundo os estudiosos da psicomotricidade esta não é só
(C) Aprendizagens projetadas da sociedade e consideradas uma atividade voltada para a criança com deficiência, mas
verdades absolutas. também é de extrema relevância para a educação e na
(D) Processos autônomos que não são influenciados pela formação da criança dita normal, desenvolvendo no
aprendizagem escolar. indivíduo capacidades afetivas, cognitivas e motoras,
(E) Métodos de conhecimentos prévios influenciados pela devemos valorizá-la e como pedagogos trabalhar com as
aprendizagem escolar. crianças no sentido de efetivar seu verdadeiro significado.
142 SOUSA, J. M. de; SILVA, J. B. L. da. A Psicomotricidade na Educação Infantil. 144 LE BOULCH, J. Rumo a uma ciência do movimento humano. Porto Alegre:
v.4, n.2, p. 128 - 135, ago. - dez. 2013 Artes médicas, 1987.
143 FONSECA, V. Manual de Observação psicomotora: Significação 145 OLIVEIRA, Andreza, F, S; SOUZA, Jose, M. A importância da
psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. psicomotricidade no processo de aprendizagem infantil. Revista Fiar: Revista
Núcleo de Pesquisa e Extensão Ariquemes, 2013.
146 MARTÍN, M. C.; JÁUREGUI M. V. G.; LÓPEZ, M. L. S. Incapacidade motora: 149 HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, W. Desenvolvimento motor ao longo da vida.
orientações para adaptar a escola. Porto Alegre: Artmed, 2004. Editora Artmed; 2004.
147 GALAHHUE,D; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: 150 WILLRICH, A. AZEVEDO, C. C. F.; FERNANDES, J. O. Desenvolvimento motor
bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3ed. São Paulo: PHORTE, 2005. na infância: influência dos fatores de risco e programas de intervenção. Revista de
148 GALAHHUE,D; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: Neurociências, v. InPres, p. 1, 2008.
bebês, crianças, adolescentes e adultos. 2ed. São Paulo: PHORTE,2003. 151 Idem
uma forma de expressão da individualidade. A criança terá condições de realizar diversos movimentos ao mesmo
percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de seu tempo, cada membro realizando uma atividade diferente,
próprio corpo. Isto significa que, conhecendo-o, terá maior havendo uma conservação de unidade do gesto.
habilidade para se diferenciar, para sentir diferenças. Ela
passa a distingui-lo em relação aos objetos circundantes, Coordenação motora fina e óculo-manual: Diz respeito
observando-os, manejando-os. à habilidade e o exercício manual e institui uma aparência
Oliveira (2007)152 diz, “o esquema corporal não é um particular da coordenação global. É necessário ter condições
conceito aprendido, que se possa ensinar, pois não depende de de desenvolver formas diversas de pegar os diferentes objetos.
treinamento. Ele se organiza pela experienciação do corpo da Não é suficiente possuir somente a coordenação fina, é
criança”, nesse sentido, a autora diz ainda que essa imprescindível que haja também controle ocular, isto é, a visão
constituição do esquema corporal é feita pela criança aos acompanhando os gestos da mão. Chama-se a isto de
poucos, quando ela nasce tem diversas sensações e coordenação óculo-manual A coordenação óculo-manual se
percepções proprioceptivas, mas ainda não consegue efetua com precisão sobre a base de um domínio visual
organizá-las, logo que ela vai crescendo, vai se previamente estabelecido, ligados aos gestos executados,
reconhecendo e se adaptando a elas, essas sensações e facilitando, assim, uma maior harmonia do movimento.
percepções vão ganhando significações a partir da
influência mútua da criança com o mundo cultural que a Questões
cerca, por meio das intermediações dos adultos que vão
nomeando para a criança todas essas percepções e 01. (Prefeitura de Resende/RJ - Professor de educação
sensações que ocorrem com a mesma. física - CONSULPLAN) Sobre a importância da
Na educação das crianças, é preciso associar os psicomotricidade no desenvolvimento de crianças de 0 a 8
movimentos aos objetivos educacionais, criando relações e anos, podemos afirmar que, EXCETO:
situações apropriadas ao favorecimento da aprendizagem, (A) A psicomotricidade não tem influência considerável
salientando a importância do profissional da educação em sobre o rendimento escolar.
trabalhar essa ciência em sala de aula. (B) A psicomotricidade surge, nessa faixa etária, como um
A Psicomotricidade pode auxiliar de forma eficaz no meio de combater a inadaptação psicomotora, pois apresenta
rendimento da criança, levando em conta a personalidade uma finalidade reorganizadora nos processos de
e a vontade da mesma, favorecendo o desenvolvimento aprendizagem de gestos motores.
dos gestos e movimentos, desenvolvendo o equilíbrio e a (C) A psicomotricidade atua diretamente na organização
capacidade da percepção. Todo conhecimento e toda das sensações, das percepções e nas cognições, visando à sua
relação estão baseados nas vivências, a construção do utilização em respostas adaptativas previamente planificadas
esquema corporal, por exemplo, junto à consciência e o e programadas.
conhecimento, a organização dinâmica, e o uso do próprio (D) O professor que analisa os “erros" de seus alunos
corpo, devem ser a chave de toda a educação da criança. geralmente descobrirá a causa nas lacunas precipitadas e nas
perturbações psicomotoras.
Tônus e Equilíbrio: A tonicidade, que indica o tônus (E) É preciso oferecer suporte, para que o professor
muscular é a tensão fisiológica dos músculos que garante encaminhe de forma agradável e produtiva, o processo do
equilíbrio estático e dinâmico, coordenação e postura em ensino aprendizagem, sem os sofrimentos habituais que
qualquer posição adotada pelo corpo, esteja ele parado ou em ocorrem na realidade das práticas pedagógicas atuais.
movimento e tem um papel primordial no desenvolvimento
psicomotor é ela que garante as atitudes e as emoções através 02. A psicomotricidade tem fortes relações com o processo
das quais emergem todas as atividades motoras humanas. de aprendizagem, conforme Oliveira e Souza (2013).
Assim, o tônus muscular é o alicerce das atividades práticas. ( ) Verdadeiro ( ) Falso
Através desses embasamentos teóricos podemos
compreender que o tônus muscular está presente em todas as 03. O desenvolvimento motor não tem uma ordem a ser
funções motrizes, como o movimento, o equilibro e a seguidas, não há limite físico e mental.
coordenação. ( ) Verdadeiro ( ) Falso
Lateralidade: A lateralidade é a propensão que o ser 04. Fonseca (1995)153 define que a psicomotricidade pode
humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado do ser estudada através fatores como necessidades psicomotoras,
corpo do que o outro em três níveis: mão, olho e pé, são elas:
significando que o indivíduo utiliza um lado do corpo com (A) Tonicidade, equilíbrio, lateralidade, noção corporal,
maior predominância, com mais precisão, é ele quem executa estruturação espaço temporal.
a ação principal, ficando para o outro lado a função de auxiliar (B) Óculo manual, coordenação global e fina, estruturação
nessa ação, entretanto, os dois não funcionam isoladamente, espaço temporal, noção corporal, lateralidade, equilíbrio e
mas de forma complementar. tonicidade.
Estruturação espaço-temporal: É de fundamental (C) Tonicidade, equilíbrio, lateralidade, coordenação
importância para que se viva em sociedade. É por meio do global e fina, óculo manual
espaço e das relações espaciais que se situa no meio em que (D) Tonicidade, equilíbrio, lateralidade, estruturação
vive, em que se instituem semelhanças entre as coisas, em que espaço temporal, coordenação global e fina.
se fazem observações, comparando-as, combinando-as, vendo (E) Tonicidade, equilíbrio, lateralidade, noção corporal,
as semelhanças e diferenças entre elas. estruturação espaço temporal, coordenação global, óculo
manual.
Coordenação motora global: Diz respeito à atividade dos
grandes músculos. Depende da capacidade de equilíbrio Gabarito
postural do indivíduo A coordenação global leva a criança a
adquirir a dissociação de movimentos. Isto significa que ela 01.A / 02.Verdadeiro / 03.Falso / 04.B
154 CENTURIÓN, Marilia. Números e Operações, 2 ed. São Paulo: Scipione, 156 SOARES, Eduardo Sarquis. Múltiplas linguagens e formas de interação da
1995. criança com o mundo natural e social, conhecimentos do mundo social e natural.
155 CENTURIÓN, Marília. Assim nasce a ciência dos números. In: CENTURIÓN, 2007.
Marília. Conteúdo e metodologia da matemática: números e operações. São Paulo:
Scipione, 1994, cap. 1. (Coleção: Série Didática - Classes de Magistério).
busca do galho apropriado. Essa atitude inteligente estaria na geométricas que transmitem mensagens, regras de trânsito
base das primeiras experiências relacionadas ao ato de medir. são sinalizadas com desenhos geométricos; telefones e placas
Para atender à necessidade humana de medir, o homem de casas e veículos são numerados; notas e moedas contêm
desenvolveu estratégias para calcular distâncias, para valores impressos; os meios de comunicação mostram preços
registrar o tempo, o volume, a área, o peso. Os primeiros e porcentagens; gráficos e tabelas que apoiam previsões,
instrumentos de medida usados foram as partes do corpo desenhos arquitetônicos; pessoas utilizam balanças e fitas
como, por exemplo, o dedo polegar (polegada), a mão métricas para diversos fins; enfim, há uma infinidade de
espalmada (palmo), a prancha do pé (pés), da ponta do nariz à informações que se expressam em linguagem matemática.
ponta do polegar com o braço estendido (jarda), a abertura de Assim, a matemática precisa ser vista e trabalhada com as
uma passada (passo), os dois braços estendidos (braça). Por crianças como uma manifestação cultural de vários povos, ao
volta de 3500 a.c., na Mesopotâmia e no Egito começaram a ser longo dos tempos, é importante mostrar que a matemática
construídos os primeiros templos, e os projetistas tiveram de estudada nas escolas é apenas uma das muitas formas
encontrar unidades mais uniformes e precisas. Adotaram a desenvolvidas pela humanidade. Outro ponto a ser discutido
longitude das partes do corpo de um único homem com as crianças é que a matemática é indispensável, em todo o
(geralmente o rei) e com essas medidas construíram réguas de mundo, por consequência do desenvolvimento científico,
madeira e metal, ou cordas com nós, que foram as primeiras tecnológico e econômico que estamos vivendo.
medidas oficiais de comprimento.
Com a evolução do comércio, não era possível uma 2. O que é esse campo de experiência e qual o seu
negociação adequada com tantas e irregulares medidas, uma significado?158
vez que o corpo humano é variável de pessoa a pessoa. Logo,
fazia-se necessária uma uniformidade de pesos e medidas. A palavra matemática é de origem grega e significa aquilo
Para medir com eficiência tornou-se necessário o uso de que se pode aprender, é composta dos termos matema que
unidades padronizadas e universais que foram criadas a partir significa explicar, entender, conhecer, aprender para saber e
da revolução francesa e, até hoje, têm sido discutidas e fazer, e tica ligada à palavra techné, técnica, que se traduz em
refinadas, de acordo com as necessidades atuais. habilidades, artes e técnicas. A Matemática é, então, uma
Portanto, a ação de medir foi sempre praticada pela ciência que busca explicar o mundo por meio da reflexão e da
humanidade, primitivamente nas trocas de mercadorias, na observação, utilizando, para tanto, de uma linguagem
contagem de seus objetos, na astrologia e em todas as específica.
situações da vida onde as variações de grandezas se faziam Quando falamos em matemática, as primeiras imagens que
presentes. vêm à cabeça são: Números e contas. Só em segundo plano
Quanto às formas e orientações espaço-temporais é pensamos em formas geométricas; medidas de distância,
também possível remontarmos a história de como o homem comprimento, valor, capacidade, gráficos, tabelas, entre
foi construindo esses conhecimentos sobre a geometria a outros. Ao associarmos essas imagens à vivência escolar, a
partir de sua ação no mundo. A geometria tem origem lembrança que temos, muitas vezes, é da dificuldade de
provável na agrimensura ou medição de terrenos, segundo o aprendermos esses conceitos, suas relações e procedimentos
historiador grego Heródoto (séc. V a.c.). O termo “geometria” em função da falta de sentido que tinham para nossa vida. Isso
deriva do grego geometrein, que significa medição da terra gerou uma imagem negativa da matemática vista como difícil,
(geo=terra, metrein=medição). As origens da geometria, do abstrata e distante da realidade.
grego medir a terra, parecem coincidir com as necessidades do É considerado um dos campos de conhecimento mais
dia a dia. Partilhar terras férteis às margens dos rios, construir aplicados em nosso cotidiano, basta um simples olhar ao nosso
casas, observar e prever os movimentos dos astros são redor e nos certificaremos da presença da matemática nas
algumas das muitas atividades humanas que sempre formas, nos contornos, nas medidas. As operações básicas são
dependeram de operações geométricas. Documentos sobre as utilizadas constantemente e cálculos complexos estão
antigas civilizações egípcia e babilônica apresentam presentes no nosso dia a dia quando, por exemplo, calculamos
conhecimentos sobre o assunto, geralmente ligados à a área de uma parede para ser azulejada ou quando
astrologia. Apesar desses documentos, é na Grécia que a fracionamos ingredientes em uma receita. Nosso cotidiano
geometria ganha a forma que se aproxima da atualidade. consubstancia, nesse sentido, uma cultura matematizada.
Quanto ao tratamento da informação, desde a antiguidade Desde que nasce, a criança está imersa nessa cultura
vários povos já registravam o número de habitantes, de matematizada na qual, de acordo com Dias; Faria159 vivencia
nascimentos, de óbitos, faziam estimativas das riquezas ou presencia situações em que se torna necessário contar, ler
individuais e sociais, distribuíam equitativamente terras ao números, quantificar, numerar, fazer operações de soma,
povo, cobravam impostos e realizavam inquéritos subtração, multiplicação e divisão, utilizar medidas diversas
quantitativos por meio de processos que, hoje, chamaríamos de tamanho, de peso, de valor, de distância, de tempo, de
de estatística. A palavra estatística foi introduzida no século capacidade, organizar-se ou estruturar-se espacialmente, além
XVIII pelo economista alemão Gottfried Achmmel e deriva do de se utilizar de gráficos e tabelas.
latim statisticum, que significa “negócios do estado”. Pois se Nesse sentido, é fundamental pensar num trabalho com o
colhiam informações geralmente para atividades religiosas, conhecimento matemático que o torne significativo para as
bélicas ou para cobrar impostos. crianças, que considere seu modo de ser, que está intimamente
Entender essa história nos permite perceber que a ligado à sua classe social, origem étnico racial, gênero e
matemática vem se desenvolvendo, se transformando, cultura.
evoluindo e que o conhecimento matemático presente no É importante considerar, nesse contexto de construir um
cotidiano é construído por meio de práticas culturais e sociais trabalho com a matemática que seja significativo para a
dos sujeitos. De acordo com Soares157, a matemática está criança, que o conhecimento matemático não se constitua num
presente no nosso cotidiano desde o nascimento. as crianças, conjunto de fatos a serem memorizados. Aprender números,
em geral, crescem em ambientes onde as pessoas falam de por exemplo, é muito mais do que contar, muito embora a
números, de medidas, fazem operações, interpretam figuras contagem seja importante para a compreensão desse conceito,
157Idem 159 DIAS, Fátima Regina Teixeira de Salles; FARIA, Vitória Líbia Barreto de.
158Texto adaptado: Contagem. Minas Gerais. Prefeitura Municipal. Secretaria Como a criança constrói o conceito de número? In: Caderno AMAE, nº. 1, p. 18-25,
Municipal de Educação e Cultura. A criança e a matemática/ Prefeitura Municipal 1991.
de Contagem. - Contagem: Prefeitura Municipal de Contagem, 2012.
assim como saber o nome de figuras geométricas não significa experiências das crianças em relação a esses aspectos,
trabalhar com espaço e forma. ocorrem prioritariamente na atividade exploratória do espaço
Especificamente em relação ao conceito de número, e por meio de jogos e brincadeiras.
estudos realizados por Jean Piaget e seus colaboradores Considerando que o processo de aprendizagem da criança
afirmam que a criança constrói o conceito e que o fato de acontece a partir das relações que ela estabelece com o mundo
aprender a contar verbalmente não significa apropriação e com a cultura, explorar o espaço envolve organizar
desse conhecimento. Esse processo envolve o deslocamentos, traçar caminhos, estabelecer referências,
amadurecimento biológico da criança, as interações sociais, a identificar posicionamentos e comparar distâncias. Ao fazer
manipulação de objetos, nas várias experiências vividas. isso, a criança não lida só com o espaço físico, mas também
Implica estabelecer relações, pois o conhecimento não provém com o espaço social em que ela está inserida e com o espaço
simplesmente da manipulação de tampinhas ou botões, mas afetivo, representado por todas as relações que ela estabelece
sim da coordenação de ações em que a criança ordena, reúne, com o outro. O conceito de espaço é, então, amplo e tem como
estabelece correspondência, entre outras, possibilitando, referencial inicial o corpo do próprio sujeito. As noções de
dessa forma, a elaboração das ideias de totalidade, de corpo, espaço e tempo estão intimamente ligadas. O corpo
quantidade e de equivalência. coordena-se, movimenta-se continuamente dentro de um
O estabelecimento dessas relações envolve quatro outras espaço determinado, em função do tempo, em relação a um
operações mentais básicas: classificação, seriação, sistema de referência. É por essa razão que possibilitar
correspondência biunívoca e conservação, que possuem como experiências de orientação e estruturação espaço-temporal é
significado: A classificação é a operação lógica em que a fundamental para o processo de aprendizagem e
criança agrupa segundo um critério; A seriação significa desenvolvimento da criança.
colocar em série, em ordem, materiais diversos; A Para melhor entender as relações envolvidas na
correspondência biunívoca é a correspondência um a um, ou construção desses conceitos, é importante trabalhar três
seja, cada elemento de uma coleção deverá corresponder a um relações espaciais: as relações topológicas, projetivas e
e somente a um elemento de uma segunda coleção; Já a euclidianas.
conservação é o processo em que a criança reconhece que o Chamamos de relações topológicas as que não
número de elementos de um agrupamento não varia, necessitam de rigor formal para serem representadas.
quaisquer que sejam as maneiras como se agrupam esses Envolvem as noções de dentro e fora, interior e exterior,
elementos. fronteira e região. Tomemos como exemplo uma sala de
No processo de construção do conceito de número, a atividades. Uma criança pede para ir ao banheiro. Para a
criança realiza também inúmeras operações aritméticas, criança que saiu ela está fora da sala de atividades e, para as
apropriando-se de noções de cálculo, ao mesmo tempo em que outras crianças da turma que permaneceram na sala, ela
constrói esse conceito. Assim, na busca de resolver problemas também está fora. As localizações que podemos fazer
de seu cotidiano, ela junta, retira, separa, reparte quantidades, utilizando estas relações não variam de acordo com o ponto de
estabelecendo várias relações mentais. vista do observador. As relações topológicas envolvem a
Todas essas relações dizem respeito ao que Piaget construção de conceitos de vizinhança, ordem, separação,
denominou de conhecimento lógico matemático. Para que contorno e continuidade.
possamos compreender melhor o que significa esse tipo de Já as relações projetivas admitem localizações que
conhecimento, é necessário fazer a distinção entre os três tipos variam de acordo com o observador. São elas as noções de
de conhecimento, por ele apontados: direita e esquerda, em cima, em baixo, na frente, atrás e outras.
Continuando com o exemplo da sala de atividades, para uma
A) Conhecimento físico: É o conhecimento das criança colocada à frente de uma mesa, um objeto (lixeira)
características do objeto. A cor e a forma são exemplos de aparece à esquerda, para uma criança colocada atrás da mesa,
propriedades físicas e podem ser conhecidas pela observação. o mesmo objeto aparece à direita. As relações projetivas são
A fonte desse conhecimento é externa ao indivíduo. uma complexificação das topológicas. Exigem que o sujeito
B) Conhecimento lógico-matemático: É a coordenação de conserve as posições relativas dos objetos no espaço, uns em
relações criada mentalmente por cada indivíduo entre os relação aos outros e de todos estes com relação a um
objetos. Por exemplo, quando comparamos duas bolas de observador. A exploração das relações projetivas conduz à
tamanhos diferentes, a diferença que existe entre elas não se última categoria de relações: a euclidiana, esta surge a partir
encontra nem em uma, nem em outra, mas sim na relação que da articulação de duas referências: uma horizontal e uma
criamos mentalmente entre elas. A fonte do conhecimento vertical, gerando um eixo de coordenadas. As relações
lógico-matemático é interna. euclidianas necessitam de medidas para realizar localizações.
C) Conhecimento social: É o conhecimento adquirido por Por exemplo, as coordenadas geográficas, que nos permitem
meio das convenções sociais, sendo sua fonte externa ao localizar um ponto qualquer no planeta, a partir dos paralelos
indivíduo. e dos meridianos.
A notação numérica (representação do número) e o Quanto a grandezas e medidas, uma ideia básica que lhes
sistema de numeração são conhecimentos construídos e dá sustentação é a ideia de comparação. Medir significa
convencionados historicamente pela humanidade e são comparar grandezas da mesma natureza, por exemplo,
transmitidos socialmente. No entanto, para que a criança comparar o tamanho de duas crianças ou utilizar um pedaço
compreenda e signifique o conceito de número, ela necessita de barbante ou uma fita métrica para medir uma criança. A
reconstruir esse conhecimento, pois envolve uma série de construção de noções relativas a grandezas e medidas pelas
relações mentais. crianças envolve o estabelecimento de relações, tais como
Quanto ao trabalho com as formas e as orientações ordenação, estimativa e previsão. É possível salientar três
espaço temporais, diz respeito ao desenvolvimento das aspectos fundamentais do processo de medição: escolher um
relações espaciais e da geometria. De acordo com Araújo160 as objeto para servir de unidade de medida; comparar essa
formas na geometria são todas as possibilidades de unidade com o objeto, verificando quantas unidades de
representação da realidade, seja ela uma realidade concreta, medida “cabem” no objeto; e expressar o resultado da medição
externa, real, seja uma realidade interior ao indivíduo, por meio do número ou de outro tipo de registro.
subjetiva, imaginária. É importante salientar que as
Em relação às unidades de medida, as crianças devem, com experientes podem ajudar as outras a estabelecerem essas
o tempo, perceber que a escolha dessa unidade é relações, de modo informal, em situações do cotidiano e em
completamente arbitrária. Podemos comparar o peso de um brincadeiras.
estojo de lápis utilizando borrachas como unidade de medida.
Naturalmente, por razões sociais e pela necessidade de 4. A validação do conhecimento em Matemática
comunicação entre as pessoas, no decurso da história, foi
necessário o estabelecimento de um sistema unificado de Outra característica importante do conhecimento
medidas, adotando-se uma unidade padrão. Além desse matemático está relacionada a seu método científico de
padrão, foram criados instrumentos de medida para validação. Os homens recorreram, nas atividades matemáticas,
apresentar o resultado dessas medidas com precisão. a diversos métodos para validar e organizar o conhecimento
Perpassando os eixos desse campo de experiência, temos o nesse campo do saber. Entre esses, o método axiomático-
tratamento da informação, que se refere ao trabalho com dedutivo, em especial, desde a civilização grega, predomina na
estatística, com coleta e organização de dados. Essa forma de Matemática e assume a primazia de ser o único método aceito,
tratar as informações é uma necessidade social, uma vez que na comunidade científica, para a comprovação de um fato
faz parte do nosso cotidiano, aparecendo constantemente em matemático. Os conceitos de axioma, definição, teorema e
jornais, revistas, livros, internet. Desenvolver o tratamento da demonstração são centrais nesse método e, por extensão,
informação em todos os eixos da matemática nos possibilita passaram a ser, para muitos, a face mais visível da Matemática.
coletar, organizar, interpretar e tomar decisões frente aos A esse respeito, no entanto, várias ressalvas se impõem.
dados e às situações, utilizando, para tanto, de gráficos, Primeiramente, o próprio conceito de rigor lógico nas
quadros e tabelas como formas de representar ou interpretar demonstrações mudou, no decorrer da história, mesmo no
as informações matemáticas, sejam elas numéricas, espaciais âmbito da comunidade matemática. Em segundo lugar, trata-
ou de medidas. se de um método de validação do fato matemático, muito mais
Enfim, o trabalho com a matemática na educação infantil é do que um método de descoberta ou de uso do conhecimento
rico de possibilidades, pois ela está presente na arte, na matemático. Na construção efetiva desse conhecimento, faz-se
música, nas histórias, nas brincadeiras, na dança, no mundo uso permanente da imaginação, de raciocínios indutivos,
natural e social. as crianças estão vivendo a matemática plausíveis, de conjecturas, de tentativas, de verificações
quando descobrem coisas iguais e diferentes, organizam, empíricas, enfim, recorre-se a uma variedade complexa de
classificam e criam coleções, estabelecem relações, observam outros procedimentos.
os tamanhos das coisas, brincam com as formas, ocupam um Além desses aspectos, embora a validação pelo método
espaço. lógico-dedutivo seja privilegiada na Matemática, as questões
de ensino e aprendizagem, associadas a tal método, estão
3. Como a criança aprende, se desenvolve e torna-se longe de terem sido resolvidas. São conhecidas as dificuldades
progressivamente humana, por meio desse campo de didáticas quando se busca, gradualmente, estabelecer a
experiência? diferença entre os vários procedimentos de descoberta,
invenção e validação e, em particular, procura-se fazer o
Entender a forma como as crianças se apropriam dos estudante compreender a distinção entre uma prova lógico-
conhecimentos matemáticos significa discutir como, a partir dedutiva e uma verificação empírica, baseada na visualização
de suas especificidades, elas vão interagindo com essa de desenhos, na construção de modelos materiais ou na
matemática que está no seu cotidiano. Ou seja, como já vimos, medição de grandezas.
a criança já nasce em um mundo repleto de produções
culturais do qual o conhecimento matemático é parte 5. Os campos de conteúdos da Matemática escolar
integrante, enquanto um objeto de uso social.
De acordo com Dias e Faria161, para que a criança se Na cultura escolar, nas duas últimas décadas, os conteúdos
aproprie desse conhecimento é fundamental que ela seja matemáticos a serem ensinados e aprendidos têm sido
incentivada a elaborar hipóteses, a estabelecer relações, a organizados em grandes campos. Embora se observem
dialogar com adultos e com outras crianças em um ambiente algumas variações, há razoável concordância entre as várias
matematizador. Nesse sentido, o trabalho com a matemática propostas de classificação desses conteúdos. Neste texto
deve possibilitar à criança vivenciar e perceber, de forma adotam-se cinco campos: números e operações; geometria;
significativa, os usos e as funções da matemática na sociedade, álgebra; grandezas e medidas; estatística, probabilidades,
por meio da interação, das brincadeiras, da imitação, da combinatória.
experimentação, da exploração que são as formas como ela Esses agrupamentos têm tido um efeito positivo ao
aprende e se desenvolve. facilitarem o trabalho pedagógico, entretanto, é indispensável
Assim, é fundamental que observemos no dia a dia como as que tais campos não sejam vistos como blocos estanques e
crianças brincam e que atividades desenvolvem, pois as autossuficientes. Além disso, é preciso considerar que a
crianças, enquanto brincam, estão experimentando sua força, aprendizagem é mais eficiente quando os conhecimentos são
tomando consciência do espaço que ocupam e das revisitados, de forma progressivamente ampliada e
possibilidades de explorar o ambiente com suas pernas e com aprofundada, durante todo o percurso escolar. Ao mesmo
todo o corpo. Além disso, vão tomando contato com as tempo, é fundamental reconhecer que a elaboração desses
capacidades dos colegas, aprendendo sobre as diferenças. conhecimentos não ocorre de maneira espontânea, mas como
Essas aprendizagens vão ajudá-las a compreender os consequência da mobilização de recursos metodológicos
processos de comparação, de medição e de representação do adequados.
espaço.
Evidentemente a criança não vai aprender o conceito de 6. Matemática e Linguagem
número e suas relações apenas com nomeações e simbologias
(representação numérica), mas por meio das possibilidades Outro aspecto importante da Matemática é a diversidade
proporcionadas pelos seus pares ou pelos adultos de de formas simbólicas presentes em seu corpo de
estabelecer as relações necessárias para construir o conceito. conhecimento: língua natural, linguagem simbólica, desenhos,
Nesse aspecto, tanto o adulto como as crianças mais gráficos, tabelas, diagramas, ícones, entre outros, que
161 Idem
desempenham papel central, não só para representar os currículos, as modalidades de avaliação, a organização do
conceitos, relações e procedimentos, mas na própria formação tempo e dos espaços na escola, o livro didático, entre outros.
desses conteúdos. Por exemplo, um mesmo número racional Essa prática exige, em especial, mudanças nas formações
pode ser representado por símbolos, tais como ¼, 0,25, 25%, inicial e continuada dos educadores, que exercem inegável
ou pela área de uma região plana ou, ainda, pela expressão “um papel na moldagem de suas concepções.
quarto”. Convém observar, no entanto, que interdisciplinaridade
Uma função pode ser representada, entre outras não deve implicar uma diminuição da importância das áreas
possibilidades, por uma tabela, por um gráfico cartesiano ou específicas do conhecimento. Ao contrário, uma perspectiva
por símbolos matemáticos. interdisciplinar adequada nutre-se do aprofundamento nas
várias áreas do saber.
7. Habilidades matemáticas mais gerais Para o diálogo interdisciplinar, é necessário que cada área
específica contribua com saberes consistentes e
Indicar um conjunto de habilidades matemáticas mais aprofundados, que não sejam meras justaposições de
gerais a serem construídas no decorrer da formação escolar é conhecimentos superficiais, mas que favoreçam conexões
sempre uma tarefa difícil. Por isso, adverte-se que a relação significativas entre esses conhecimentos.
que se indica a seguir deve ser encarada com cautela. Seu Para tanto, é necessário um duplo movimento: em um
caráter abstrato torna indispensável que sua concretização sentido, procurar interligar vários saberes; buscar temas
seja fruto de um trabalho pedagógico para que essas comuns a diferentes campos do conhecimento; tentar
habilidades sejam incorporadas, em cada situação, levando em construir modelos para situações complexas presentes na
conta as características do contexto educacional em questão, a realidade; em outro, buscar aprofundar o conhecimento
maturidade cognitiva dos estudantes e seus conhecimentos disciplinar; construir modelos para um recorte específico da
prévios. realidade. Encontrar a organização e o tempo pedagógicos
Além disso, tais habilidades não se realizam num vazio, para garantir esse conjunto de ações constitui em um dos
mas apoiadas nos conhecimentos matemáticos a que estão maiores desafios para a concretização da perspectiva
intimamente associadas e sobre os quais serão tecidas interdisciplinar na escola atual.
considerações mais adiante, neste texto. Convém mencionar que várias experiências têm sido
Assim, sem esquecer as interdependências entre elas, propostas para incorporar a interdisciplinaridade na escola,
pode-se propor a seguinte relação de habilidades gerais para a como a pedagogia de projetos, o trabalho com temas
formação matemática do estudante: integradores e com temas transversais.
oferta de exemplos de aplicação e uma extensa bateria de E) Modelagem matemática no ensino e aprendizagem
exercícios de fixação do conteúdo estudado. Em anos recentes, os estudos em Educação Matemática
A opção por esse caminho demanda estudantes bastante têm posto em evidência a ideia de modelagem matemática: “a
motivados e com grande capacidade de concentração, o que arte de transformar problemas da realidade em problemas
não parece ser o caso na maioria de nossas escolas, matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na
particularmente com estudantes de menor idade. Na verdade, linguagem do mundo real”.
a predominância desse tipo de ensino em nosso sistema A modelagem matemática pode ser entendida como um
escolar tem sido apontada na literatura educacional como uma método de trabalho científico. Nessa perspectiva, há coerência
das causas das sérias dificuldades na aprendizagem. desse método com os pontos de vista expostos neste texto
sobre as características da matemática como fonte de modelos
C) O estudante como sujeito ativo da aprendizagem para o conhecimento dos fenômenos da natureza e da cultura.
No segundo caso, cabe ao professor promover uma No entanto, neste momento, é a modelagem matemática
recontextualização do conhecimento em jogo na relação como estratégia de ensino e aprendizagem que convém
didática, ou seja, promover uma situação de aprendizagem em destacar, pela estreita conexão dessa estratégia com ações
que o conhecimento que se deseja que o estudante aprenda envolvidas na resolução de problemas abertos e de situações-
apareça na forma de uma situação a ser enfrentada, a qual se problema.
apresenta de maneira contextualizada. É como se, em certa De fato, quando a modelagem matemática propõe uma
medida, o estudante fosse levado a ‘reconstruir’ ou ‘reinventar’ situação-problema ligada ao mundo real, com sua inerente
o conhecimento didaticamente transposto para a sala de aula. complexidade, o estudante é chamado a mobilizar um leque
Ao adotar esse caminho, os papéis docente e discente variado de conhecimentos e habilidades: selecionar variáveis
invertem-se de maneira significativa. Enquanto ao professor que serão relevantes para o modelo a construir;
cabe o papel de criar situações que levem os estudantes na problematizar, ou seja, formular um problema teórico, na
direção da aprendizagem, estes devem realizar uma espécie de linguagem do campo matemático envolvido; formular
reconstrução do objeto de conhecimento. Essa escolha hipóteses explicativas do fenômeno em causa; recorrer ao
metodológica caminha no sentido inverso à anterior: nesse conhecimento matemático acumulado para a resolução do
caso, o professor não parte da apresentação do conhecimento problema formulado (o que, muitas vezes, requer um esforço
matemático, mas de uma situação previamente elaborada para de simplificação, pelo fato de que o modelo originalmente
que, no processo de resolução, o aluno construa seu próprio pensado pode revelar-se matematicamente muito complexo);
conhecimento. Resumindo, o estudante assume, nessa validar, isto é, confrontar as conclusões teóricas com os dados
proposta metodológica, um papel essencial e ativo no empíricos existentes, o que, quase sempre, leva à necessidade
processo, que se dará por meio da vivência de situações de modificação do modelo, que é essencial para revelar o
preparadas pelo professor. aspecto dinâmico da construção do conhecimento.
O segundo caminho tem sido defendido, frequentemente, Evidencia-se, além disso, que a estratégia de modelagem
nos estudos em Educação Matemática, que têm colocado em matemática no ensino e na aprendizagem tem sido apontada
evidência três escolhas metodológicas coerentes com essa como um instrumento de formação de um estudante:
opção: a resolução de problemas, a utilização da modelagem e comprometido com problemas relevantes da natureza e da
o trabalho com projetos. cultura de seu meio; crítico e autônomo, na medida em que
toma parte ativa na construção do modelo para a situação
D) Resolução de problemas problema; envolvido com o conhecimento matemático em sua
De início, é preciso diferenciar a ideia de problema dupla dimensão de instrumento de resolução de problemas e
associada à metodologia em que se enfatiza a transmissão do de acervo de teorias abstratas acumuladas ao longo da
conhecimento daquela ligada à metodologia em que o história; que “faz Matemática”, com interesse e prazer.
estudante é colocado em situação de ator principal no
processo de aprendizagem. Na primeira escolha metodológica, 10. Matemática na Educação Infantil
é privilegiado o problema fechado, que se caracteriza por uma
aplicação de conhecimentos já supostamente aprendidos pelo A manutenção do interesse por matemática entre alunos
estudante. Nesse caso, já de antemão, o estudante é conduzido de 4 e 5 anos vem do atendimento de suas necessidades atuais,
a identificar o conhecimento a ser utilizado em sua resolução, e não da preparação para o futuro, assim, como conseguir
sem que haja maiores estímulos à construção de despertar e manter o desejo de saber matemática?
conhecimentos e à utilização do raciocínio matemático. Um dos princípios de Piaget162 é que ensinar matemática
O uso exclusivo desse tipo de problema consegue mascarar na educação infantil vai muito além de ensinar a contar, para o
a efetiva aprendizagem, à medida que, ao antecipar o autor, os fundamentos para o desenvolvimento matemático
conhecimento em jogo na situação, o estudante atua de forma das crianças estabelecem-se nos primeiros anos. A
mecânica e, muitas vezes, sem construir significado, na aprendizagem matemática constrói-se através da curiosidade
resolução do problema. e do entusiasmo das crianças e cresce naturalmente a partir
Em contraposição ao problema fechado, estudos em das suas experiências. A vivência de experiências matemáticas
Educação Matemática têm colocado em evidência o trabalho adequadas desafia as crianças a explorarem ideias
com problemas abertos e situações-problema. Apesar de relacionadas com padrões, formas, número e espaço duma
apresentarem objetivos diferentes, estes dois últimos tipos de forma cada vez mais sofisticada.
problemas colocam o estudante, em certo sentido, em situação Consequentemente, com o intuito de proporcionar uma
análoga àquela do matemático no exercício de sua atividade. educação infantil que atenda aos princípios de Piaget ligados à
Diante deles, o estudante deve realizar tentativas de curiosidade, entusiasmo e o desafio das descobertas, O
resolução, estabelecer hipóteses, testá-las e validar seus planejamento curricular para as creches e pré-escolas busca,
resultados. hoje, romper com a histórica tradição de promover o
isolamento e o confinamento das perspectivas infantis dentro
de um campo controlado pelo adulto e com a
descontextualização das atividades que muitas vezes são
propostas às crianças. O novo contexto educacional para a despertem a curiosidade e interesse das crianças para
educação infantil requer estruturas curriculares abertas e continuar conhecendo sobre as medidas.
flexíveis.
Neste sentido o Referencial Curricular Nacional para Espaço e forma:
Educação infantil163 afirma que é preciso ressaltar que esta Este bloco envolve a explicitação e/ou representação da
organização possui um caráter instrumental e didático, posição de pessoas e objetos, exploração e identificação de
devendo os professores ter consciência, em sua prática propriedades geométricas de objetos e figuras, representações
educativa, que a construção de conhecimentos se processa de bidimensionais e tridimensionais de objetos, identificação de
maneira integrada e global e que há inter-relações entre os pontos de referência e descrição de pequenos percursos e
diferentes âmbitos a serem trabalhados com as crianças. trajetos.
Dessa forma, fazer matemática é expor ideias próprias, As primeiras considerações que o homem faz da geometria
escutar a dos outros, formular e comunicar procedimentos de parecem ter sua origem em simples observações provenientes
resolução de problemas, confrontar, argumentar e procurar da capacidade humana de reconhecer configurações físicas,
validar seu ponto de vista, antecipar resultados de comparar formas e tamanhos. Inúmeras circunstâncias de vida
experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que devem ter levado o homem às primeiras elaborações
faltam para resolver problemas, entre outras coisas. Dessa geométricas como, por exemplo, a noção de distância, a
forma as crianças poderão tomar decisões, agindo como necessidade de delimitar a terra, a construção de muros e
produtoras de conhecimento e não apenas executoras de moradias e outras. Podemos afirmar que na origem de
instruções. problemas geométricos concretos com os quais o homem se
envolve desde suas atividades práticas, está a necessidade de
A) Os conteúdos da Matemática na Educação Infantil controlar as variações de dimensões com as quais se defronta
No que diz respeito à Matemática, o Referencial ao delimitar seu espaço físico para morar e produzir.
Curricular Nacional para Educação Infantil164 destaca três
blocos de conteúdos a serem trabalhados: 11. Matemática no Ensino Fundamental165
163 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Referenciais Curriculares 165 Texto adaptado de Marcelo Câmara dos SANTOS, M. C. dos; LIMA, P. F.
Nacionais de Educação Infantil. vol. 3. Brasília: 1998. Considerações sobre a Matemática no Ensino Fundamental.
164 Idem
contextualizadas, das operações nos naturais e nos inteiros e o nas práticas profissionais, no mundo da tecnologia e da
conceito básico de equivalência nos racionais. ciência. Por isso, a construção desses conceitos é tão
A noção de porcentagem é extremamente importante nas importante e recomenda-se que seja iniciada desde os
práticas sociais e é um conteúdo a ser abordado primeiros anos escolares, de maneira bastante informal no
simultaneamente ao de número racional. No entanto, é preciso ciclo de alfabetização, sendo ampliada e aprofundada nos anos
cuidado na progressão desses dois últimos conceitos, que só posteriores do Ensino Fundamental. A comparação de
deveriam ser formalizados a partir do 6º ano do Ensino grandezas, que são atributos de objetos ou de fenômenos
Fundamental. O número irracional tem sua origem ligada a físicos, pode ocorrer de maneira informal e quase
problemas no âmbito da própria Matemática, que é a despercebida. São corriqueiras perguntas como: Quem está
existência de segmentos que não têm uma medida comum. mais longe? Qual é a marca mais barata? Quanto tempo
Mas, atenção! Nesse caso, trata-se da medição abstrata e não demora? Quanto pesa? Quanto custa? Qual é o mais curto?
daquela realizada com instrumentos físicos. Também surgem, Cabe ao ensino escolar, progressivamente, sistematizar e
por exemplo, nas raízes quadradas de números inteiros que aprofundar tais questões, de modo que os estudantes possam
não são quadrados perfeitos. As dificuldades conceituais construir as noções de medição e de unidade de medida
associadas aos irracionais indicam que eles só sejam (padronizada ou não) para um leque amplo de grandezas e
estudados nos anos finais do Ensino Fundamental. Em uma começar a usar instrumentos de medição. No Ensino
formação matemática sintonizada com os desafios do século Fundamental, deve-se dar muita atenção às grandezas
XXI, não se pode deixar de lado o trabalho com o cálculo mental geométricas: comprimento (perímetro), área, volume
e as estimativas. Também não podemos prescindir do uso da (capacidade) e abertura de ângulo. Mas, outras grandezas
calculadora, assunto que será mais aprofundado adiante neste podem ser estudadas, sempre em situações com significado:
texto. A respeito disso, as questões relativas ao ensino e à valor monetário (dinheiro), tempo, massa e temperatura.
aprendizagem dessas habilidades são numerosas e Grandezas determinadas pela razão de duas outras (Kwh,
desafiadoras. velocidade, densidade, etc.) podem ser construídas com
estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental, bem como
Álgebra demandam alguma atenção as unidades de medida da
As tendências atuais em Educação Matemática encaram a informática: Kb, Mb, Gb, etc.
Álgebra como uma forma de pensar matematicamente,
caracterizada, entre outros aspectos, pela busca de Estatística, probabilidades e combinatória
generalizações e de regularidades. Adotado esse ponto de Muitos afirmam que uma grande inovação do
vista, é recomendável que o ensino desse conteúdo seja conhecimento na segunda metade do século XX foi o relevo
desenvolvido desde a primeira etapa do Ensino Fundamental. conquistado pelo campo da estatística, probabilidades e
Mas é importante preservar, cuidadosamente, no ciclo de combinatória, cujo desenvolvimento está muito relacionado
alfabetização, a informalidade da abordagem, bem como evitar ao advento do computador e das ciências da computação e da
reduzir, nos anos posteriores, a álgebra a simples manipulação informação. Novos conhecimentos tornaram indispensáveis
simbólica. Além disso, o trabalho com esse campo da mudanças na cultura escolar. As propostas curriculares mais
Matemática escolar, após o emprego do raciocínio algébrico de recentes têm incluído como um novo campo de conteúdos a
maneira informal, realizado nos cinco primeiros anos do estatística, por meio da qual se procuram abordar o
Ensino Fundamental, deve passar a abordar, levantamento de dados sobre determinada questão da
progressivamente, os conceitos de variável, expressão realidade física ou social, o tratamento, a organização, a
algébrica, igualdade algébrica, equações (do 1º e do 2º graus), apresentação e a interpretação desses dados (tabelas,
proporcionalidade e função. Em particular, o aprofundamento dispositivos gráficos, medidas estatísticas, etc.) e a formulação
desta última noção deve apoiar-se em situações do cotidiano de conclusões de natureza estatística. A teoria das
do estudante, evitando-se a sistematização precoce. probabilidades, em sua vertente escolar, serve como base para
a estatística e também como modelo teórico para os
Geometria fenômenos envolvendo a ideia de incerteza. As mencionadas
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em particular no propostas curriculares incluem, ainda, a combinatória, que
ciclo de alfabetização, sugere-se que o trabalho com a lida, entre outros conteúdos, com a contagem sistemática de
Geometria seja centrado na exploração do espaço que envolve conjuntos discretos. Todos esses conteúdos podem se fazer
a criança. As situações em que ela seja levada a se situar no presentes no ciclo de alfabetização, mas é preciso cuidado para
espaço que a cerca devem ser particularmente exploradas. se evitar a sua sistematização nessa fase.
Dessa maneira, em momentos iniciais, podem ser propostas
atividades que levem o estudante a compreender as ideias de 12. Matemática e a Formação para a Cidadania
pontos de referência e deslocamentos e, gradualmente, de
direção, sentido, ângulo, paralelismo, perpendicularidade e A convivência na complexa sociedade atual tem sido
coordenadas cartesianas. marcada por graves tensões sociais, geradas por persistentes
É também no espaço que cerca a criança que ela encontra desigualdades no acesso a bens e serviços e às esferas de
as diferentes figuras geométricas, planas e espaciais, e decisão política, e pela supervalorização das ideias de mercado
identifica, de modo progressivo, suas propriedades. Os difíceis e de consumo, entre outras razões. Além disso, ainda prevalece
caminhos didáticos que favorecem a passagem gradual do no mundo uma ordem social contrária aos princípios da
mundo concreto para os entes geométricos abstratos passam solidariedade e da igualdade de oportunidades para todos.
sempre pelo emprego adequado de desenhos, de construções Essa é uma situação indesejável, que precisa ser superada, e
geométricas, de planificações, do uso de programas devemos buscar encontrar o papel da formação matemática
tecnológicos ou softwares de geometria dinâmica, de que contribua para superá-la.
ampliação e de redução de figuras. Por esses caminhos, podem Uma formação que valorize a participação efetiva do
ser abordados importantes conceitos e resultados, tais como a estudante na sua aprendizagem e que incentive a sua
semelhança e os Teoremas de Tales e de Pitágoras. autonomia, certamente, colabora para a construção da
cidadania. O estímulo ao diálogo permanente entre todos que
Grandezas e medidas atuam na sala de aula ― estudantes e professor ― e o incentivo
Os conceitos de grandeza e de medida de grandezas estão ao trabalho coletivo são outras ações que favorecem o
presentes nas múltiplas atividades das pessoas: no dia a dia, desenvolvimento da capacidade de conviver harmonicamente
em sociedade e de respeitar as diferenças entre as pessoas. A I. A professora Adriana afirma que primeiro explica, depois
sala de aula de Matemática não é só um local para passa exercícios no caderno, depois faz a revisão para ver se
aprendizagem dessa disciplina e para a interação entre os entenderam.
estudantes, propiciada e mediada pelo professor; ela deve ser II. A professora Cristiane afirma que usa material concreto
sempre uma oportunidade valiosa para o cultivo de condutas para ensinar matemática e depois propõe aos alunos muitos
coletivas importantes para a vida social. exercícios para que repitam muitas vezes o que ensinou,
É preciso defender uma formação que reconheça saberes e depois dá exercícios de fixação.
práticas matemáticas dos cidadãos e das comunidades locais - III. A professora Vera afirma que ensina os conteúdos com
que são aptidões prévias relativamente eficientes - sem que se muito reforço e muitos exercícios, curtos, repetidos, cálculos
abdique do saber matemático mais universal. para que as crianças se exercitem por várias horas seguidas.
É preciso defender uma formação que reconheça saberes e As afirmações dessas professoras parecem revelar que elas
práticas matemáticas dos cidadãos e das comunidades locais compartilham uma conhecida concepção de ensino e
que são aptidões prévias relativamente eficientes. Essa aprendizagem. Qual das alternativas revela essa concepção?
formação deve-se abdicar do saber matemático mais (A) Ensinar matemática consiste em explicar, aprender
universal. consiste em repetir ou exercitar o ensinado até reproduzi-lo
fielmente.
Questões (B) Ensinar matemática consiste em partir do princípio de
que as crianças são capazes de aprender muitas coisas a partir
01. (Prefeitura de Maria Helena/PR - Professor - de sua experiência cotidiana.
Educação Infantil - FAFIPA) No ensino da matemática, o (C) Ensinar matemática de forma compartimentada evita
professor pode utilizar diversos jogos para as crianças se confusões e permite à criança aprender melhor.
apropriarem do conceito de número. São jogos matemáticos (D) O ensino de matemática por meio de jogos e materiais
apropriados a esse ensino, EXCETO: concretos garante às crianças aprenderem de forma
(A) Ábaco. significativa.
(B) Quebra-cabeça. (E) A Matemática não deve ser olhada de forma isolada de
(C) Material Dourado. outras áreas, é questão de praticá-la, analisá-la e relacioná-la
(D) Trilha matemática. para que os alunos aprendam.
02. (SEDUC/AM - Professor de Educação Especial - 05. Dentre as alternativas abaixo, qual não integra os
FGV) A “resolução de problemas é um caminho para o ensino conteúdos da matemática na Educação Infantil?
de Matemática que vem sendo discutido ao longo dos últimos (A) Números e sistemas de numeração.
anos”. (PCN - Matemática, 1997, p. 32). (B) Espaço e forma.
A respeito da resolução de problemas, assinale a afirmativa (C) Grandezas e medidas
incorreta. (D) Números e operações
(A) O ponto de partida da atividade matemática não é a
definição, mas o problema. Gabarito
(B) O problema certamente não é um exercício em que o
aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou um 01.B / 02.E / 03.C / 04.A / 05.D
processo operatório.
(C) Aproximações sucessivas ao conceito são construídas
para resolver um certo tipo de problema. ARRIBAS, Teresa Lleixà.
(D) O aluno não constrói um conceito em resposta a um Educação Infantil:
problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam
sentido num campo de problemas.
desenvolvimento, currículo e
(E) A resolução de problemas é uma atividade a ser organização escolar. Porto
desenvolvida em paralelo ou como aplicação da Alegre: Artmed, 2004
aprendizagem, não como uma orientação para esta.
03. (Prefeitura de Patos/PB - Professor de Matemática 166Esta obra apresenta propostas educativas, oferecendo
- PaqTcPB) Dentre os objetivos gerais para o Ensino um subsídio para uma educação de qualidade para crianças
Fundamental que constam nos PCN de Matemática, pequenas. No complexo processo que constitui a formação
encontram-se os seguintes itens, EXCETO integral do indivíduo, as referências aportadas pela família,
(A) fazer observações sistemáticas de aspectos pela escola e pelo conjunto de fatores sociais serão eficazes e
quantitativos e qualitativos da realidade. se converterão em elementos otimizantes da ação educativa se
(B) selecionar, organizar e produzir informações levarmos em conta as características e reais necessidades da
relevantes, para interpretá-las e avaliá-las criticamente. criança, bem como suas potencialidades e competências para
(C) verificar a presença dos conjuntos numéricos, tais adquirir e consolidar seus conhecimentos a partir das
como os números complexos, na realidade da vida do aluno. experiências com o meio. Contém os seguintes capítulos: O
(D) estabelecer conexões entre temas matemáticos de currículo na educação infantil; A criança e seu crescimento -
diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de aspectos motores, intelectuais, afetivos e sociais; Como é o
outras áreas curriculares. meu corpo?; Os hábitos na educação durante os seus primeiros
(E) sentir-se seguro da própria capacidade de construir anos de vida; Descoberta do ambiente natural e sociocultural;
conhecimentos matemáticos. Motricidade e expressão corporal; Língua oral e escrita na
04. (SEE/SP - Professor - Ensino Básico - VUNESP) educação infantil; A linguagem plástica; Expressão musical;
Analise as respostas de alguns professores para a pergunta: Introdução à linguagem matemática; Crianças com
como ensinam matemática para as crianças? necessidades educativas especiais; Organização e estratégias
educativas;
Meios e recursos na escola; O ambiente e a distribuição de sincretismo visual empreendida por Moshe Barash (1920-
espaços; A observação e a avaliação na escola infantil. 2004), nas libertárias abordagens da cultura como um quilt
bem desenhado de Lucy R. Lippard (1937-?), e em muitas
outras elucubrações de teóricos da cultura engajados nos
BARBOSA, Ana Mae e CUNHA, movimentos pós-colonialistas, principalmente na Austrália e
Fernanda Pereira da. na Índia.
Foi, portanto, no esforço dialogal entre o discurso pós-
Abordagem triangular no moderno global e o processo consciente de diferenciação
ensino das artes e cultura cultural também pós-moderno que, no ensino de Arte surgiu a
visuais. São Paulo: Cortez, 2010 abordagem que ficou conhecida no Brasil como “Metodologia
Triangular”, uma designação infeliz, mas uma ação
reconstrutora. Sistematizada no Museu de Arte
167A educadora e pesquisadora Ana Mae Tavares Bastos Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Barbosa (ou simplesmente conhecida como Ana Mae Barbosa), (1987/1993), a “Triangulação Pós- Colonialista do ensino de
preocupada com a democratização do conhecimento em artes, Arte no Brasil” foi denominada de metodologia pelos
vinculado a uma educação descontextualizada, percebeu a arte/educadores. O curioso é que essa denominação terminou
relevância de conhecer o processo histórico do ensino para sendo aceita pela própria Ana Mae Barbosa em seu livro A
interferir no mesmo com consciência. imagem no ensino da arte (1991). Ao compreender, porém,
Nesse sentido, Ana Mae Barbosa contribuiu com relatos e que não seria, nem deveria ter o rigor de uma metodologia, a
reflexões que conduziram o trabalho dos arte/educadores a autora realizou, no livro Tópicos utópicos (1998), revisões
posicionamentos mais claros. Igualmente importante, ela teóricas passando a chamá-la de “Proposta Triangular”,
considera fundamental a recuperação histórica do ensino de considerando então uma proposta que poderia ser seguida.
Arte para que se possam perceber as realidades pessoais e Posteriormente tornou-se “Abordagem Triangular”, porque
sociais, aqui e agora, e aprender a lidar criticamente com elas. além de compreender que metodologia quem faz é o
Sistematizou-se, então, no Museu de Arte Contemporânea arte/educador, ela percebeu que proposta é uma palavra
da Universidade de São Paulo (MAC/USP) (1987/1993), a desgastada pelas mil e uma que são despejadas, à guisa de
“Triangulação Pós-Colonialista do ensino de Arte no guias curriculares, pelos poderes, hierárquicos em cima da
Brasil”, um posicionamento teórico-metodológico, conhecido cabeça dos arte/educador. Ao compreender que, em arte e em
como “Metodologia Triangular” ou “Proposta Triangular”, educação, problemas semânticos nunca são apenas
ou ainda “Abordagem Triangular”, que se referiu à melhoria semânticos, pois envolvem conceituação, Ana Mae Barbosa
do ensino de Arte, tendo por base um trabalho pedagógico tomou a liberdade de substituir sempre que possível o termos
integrador onde o fazer artístico, a leitura ou análise da de “Metodologia” e “Proposta” por “Abordagem Triangular” em
obras de arte (ou do campo de sentido da arte e da imagem) e seus últimos livros, a saber: Ensino da arte: memórias e
a contextualização interagem ao desenvolvimento crítico, histórias (2008), Interterritoriedade: mídias, contextos e
reflexivo e dialógico do educando em uma dinâmica contextual educação (2008), A imagem no ensino da arte (2009),
sociocultural. Arte/Educação como mediação cultural e social (2009),
Partindo desta perspectiva, interessou ao presente estudo Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais
apresentar, em linhas gerais, as origens e ressignificações da (2010) e Redesenhando o desenho: educadores, política e
Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais, história (2015).
bem como registrar que os principais enganos de
interpretação da referida abordagem são encontrados, não em É de notar que, por diversas vezes, Ana Mae Barbosa foi, e
artigos, monografias, dissertações ou teses, mas nos processos continua sendo, criticada porque revê suas
pedagógicos dos arte/educadores ou em más interpretações propostas/abordagens. Ora, a sociedade muda, a arte muda, as
formuladas de caráter destrutivo. Assim, vamos acompanhar a necessidades de Educação e de Arte/Educação mudam. Por
seguir o que nos ensina a autora: que os teóricos não podem mudar com todas essas mudanças?
A afirmação do educador, filósofo e escritor Mario Sergio
Nos últimos dez anos em que me dediquei aos estudos e Cortella (2014, p. 33) cabe, a meu ver, perfeitamente aqui:
pesquisas acerca da História da Arte/Educação no Brasil, “Mudar é uma situação em que precisamos transbordar, isto é,
enveredando pelos conceitos de arte como expressão, cultura, ir além do nosso limite, alterar a nossa possibilidade de ser de
comunicação e cognição, me convenci completamente de que um único e exclusivo modo”. Ana Mae Barbosa teve a felicidade
nossa existência hoje é marcada pela tenebrosa sensação de de viver muito e de refazer pesquisas sobre os mesmos temas
sobrevivência. Vivemos um presente que não tem nome em diferentes tempos e isso oxigenou seu pensamento
próprio, mas é designado por um prefixo acrescentado ao provocando mudanças teóricas/práticas. Outros
passado. Trata-se, pois, do prefixo “pós” do Pós- pesquisadores, em geral seus ex-orientandos, também têm
Modernismo168, do Pós-Colonialismo, do Pós-Feminismo, contribuído para reorganizar seu pensamento. Obviamente,
enfim a era do Pós-Tudo apocalíptico do poeta brasileiro ela não é capaz de ler tudo que tem sido escrito sobre a
Augusto Luís Browne de Campos (1931-?). Queremos Abordagem Triangular feita por arte/educadores ao longo dos
explicitamente ultrapassar o passado sem deixá-lo de lado. A 25 anos que se seguiram à publicação do livro que a divulgou,
teoria do reconhecimento que sustenta as persistentes pós- A imagem no ensino da arte (1991), pois numa rápida consulta
utopias pós-colonialistas de nosso tempo se configuram no à internet é possível encontrar, sob os títulos: Metodologia
“terceiro espaço” de Homi K. Bhabha (1949-?), no combate à Triangular - 79.00 itens; Proposta Triangular - 117.000; e
estereotipia cultural de Edward Said (1935-2003), na Abordagem Triangular - 61.300.
alteridade secundária de Sanford Budick (1942-?), nas Há significativas apropriações da Abordagem Triangular
políticas de reconhecimento das minorias sugeridas por por educadores de outras áreas de conhecimento/disciplinas,
Charles Taylor (1931-?) e Susan Wolf (1952-?), na defesa do pois como esta não se baseia em conteúdos, mas em ações,
167 Texto adaptado de: Ângelo Roberto Silva Barros. Anais do XXVI CONFAEB (1999), Zygmunt Bauman (1998), Enrique Gervilla (1993), Anthony Giddens
- Boa Vista, novembro de 2016. (1991; 1994; 2002), Jacob Guinsburg e Ana Mae Barbosa (2005); Arnold Harvey
168 2 É de notar que não é pacífica a discussão sobre os termos ou expressões (1994), Gilles Lipovetsky (1983; 1994; 1998), Jean-François Lyotard (1989), Jair
modernidade e pós-modernidade. Desde a aceitação da expressão pós- Ferreira dos Santos (1986) e Alain Touraine (1994) são alguns de uma gama de
modernidade à sua rejeição, existem todas as possibilidades. Perry Anderson autores que conflituam entre si sobre o conceito “pós-modernidade”.
mentalmente e sensorialmente básicas, é facilmente afirmarem que a releitura vem da Abordagem Triangular. Li e
apropriada a diversos conteúdos. Seguramente, a Abordagem reli por cinco vezes a primeira edição do livro A imagem no
Triangular corresponde aos modos como se aprende, não é um ensino da arte (1991), de Ana Mae Barbosa, com a intenção de
modelo, um guia, para o que se aprende. encontrar um momento em que a autora falasse de releitura.
Não encontrei no texto, mas nas legendas dos desenhos das
Em O Humor dos quadrinhos como instrumento crianças. Penso, portanto, que os arte/educadores que
educacional (2007), Eduardo Carvalho entrevistou a confundem Abordagem Triangular com releitura não leram o
arte/educadora Betânia Libânio Dantas de Araújo, que livro, apenas as legendas das imagens. Assim, demonstrando
denunciou que os educadores e/ou arte/educadores pouco seu repúdio à ideia de que receita releitura, Ana Mae Barbosa
valorizam as linguagens que interessam aos jovens, como as decidiu substituir na sétima edição do livro A imagem no
Histórias em Quadrinhos (HQs), e continuam agarrados ao ensino da arte (2009) a palavra releitura por interpretação,
impressionismo. A referida arte/educadora, que tem toda isto é, interpretação visual, interpretação gráfica,
razão, afirmou ainda na entrevista o seguinte sobre a interpretação estética, interpretação imagética, interpretação
Abordagem Triangular: cultural, interpretação material ou interpretação virtual.
Conversando com sua filha, Ana Amália Tavares Bastos
Ana Mae Barbosa é uma referência em todo o Brasil. A sua Barbosa, Ana Mae Barbosa explicou que o termo releitura
proposta, a abordagem triangular, atua em todas as instâncias originou-se provavelmente da prática, do trabalho diário do
do conhecimento. É claro que alguns professores na História do museu (BARBOSA, A. A., 2005, p. 144). Já no texto, tanto da
Brasil já faziam isso no passado e foi necessário que Ana Mae primeira edição do livro A imagem no ensino da arte (1991,
pensasse o processo de conhecimento e nos explicasse sobre a p.107) quanto na sétima edição do livro A imagem no ensino
abordagem triangular para nos dizer que, se atuamos apenas no da arte (2009, p. 118), a autora argumentou que quando o
fazer sem reflexão ou só na leitura alheia ao fazer, quebra-se aí educando observa obras de arte ele é estimulado e não
o princípio da aprendizagem significativa. Esse é um problema obrigado a escolher uma delas como suporte de seu trabalho
em muitas escolas que ensinam quadrinhos apenas como plástico, a sua experiência individual se realiza da mesma
repetição de uma técnica determinada impedindo os seus maneira que se organiza quando o suporte estimulador é a
estudantes de criar os seus próprios personagens com traços paisagem que ele vê ou a cadeira de seu quadro. Destarte, o
próprios e perdem quando não leem sobre a história em importante é que o arte/educador não exija representação fiel,
quadrinho, não debatem. Enfim, permanece muito do pois a obra observada é suporte interpretativo e não modelo
procedimento das primeiras escolas de Arte no Brasil. Os para os educandos copiarem. Feito isto, estaremos ao mesmo
quadrinhos e toda a arte, todas as áreas do conhecimento só tempo preservando a livre-expressão, importante conquista
acontecem por esses três momentos da aprendizagem. Quer do modernismo que caracterizou a vanguarda do ensino da
dizer que se uma garota produz quadrinhos com repertório (ou arte no Brasil de 1948 aos anos de 1970, e nos tornamos
seja, se ela lê quadrinhos), com estudos dirigidos e livres, se contemporâneos.
repensa o que produziu, pesquisa, aprender a ver, debate, enfim, Nas palavras de Anamelia Bueno Buoro (2003, p. 23):
vai criar com mais propriedade169.
[…] Ao tentar copiar o trabalho do outro, um artista poderá
Em minhas conversas, pessoalmente e/ou virtualmente (e- querer, na verdade, apropriar-se de saberes técnicos de
mails), com Ana Mae Barbosa, percebi que ela, elaboração dominados por esse sujeito, cujo valor ele próprio
assumidamente, não tem muita paciência para pesquisas na reconhece, buscando ao mesmo tempo identificar-se e
internet. Sua paixão e vício estão na pesquisa histórica, em diferenciar-se do mestre. Esse método é experienciado pelo
documentos empoeirados que ao mesmo tempo em que lhe artista como uma operação transitória, a ser ultrapassada logo
dão alergia lhe dão alegria pelo encontro com o tempo passado que venha a fornecer-lhe as informações de que necessita para a
através das páginas amareladas. A própria Ana Mae Barbosa construção de sua própria realidade. E o professor? Que
contou com a ajuda de amigos que se tornaram seus significados atribui a esse trabalho? Resulta dessa indefinição
educandos de pós-graduação e/ou de educandos que se que muitos educadores - pouco preparados para dar conta da
tornaram amigos para encontrar aleatoriamente o uso da leitura de imagem em razão de uma formação que também nela
Abordagem Triangular em textos de arte e Arte/Educação. Há pouco investiu - não conseguem atribuir consistência a uma tal
muita coisa interessante na internet que esclarece o destino da operação, fato esse que não apenas enfraquece a proposta em si,
Abordagem Triangular. Ana Mae Barbosa não pretendia fazer mas todo o processo de aprendizagem.
uma pesquisa sobre a Abordagem Triangular, mas pontuar
como foi apropriada e reformulada ao longo desses anos, o que Há, segundo Analice Dutra Pillar (2011, p. 14), uma
resultou no livro, já citado, Abordagem Triangular no ensino enorme distância entre releitura e cópia: “A cópia diz respeito
das artes e culturas visuais (2010), organizado em parceria ao aprimoramento técnico, sem transformação, sem
com Fernanda Pereira da Cunha. interpretação e sem criação. Já na releitura há transformação,
Não apenas a ideia de integração, mas também o interpretação, criação com base num referencial, num texto
comentário de que a Abordagem Triangular deu um status visual que pode estar explícito ou implícito na obra final”.
mais respeitável e intelectual à arte na escola são afirmações Ambas, cópia e releitura, são atividades de ensino, mas uma é
encontradas em artigos, monografias, dissertações e teses. de ordem da reprodução e outra da criação.
Entretanto, os principais enganos de interpretação da
Abordagem Triangular não se encontram em artigos, Há outra perversa interpretação elaborada e fartamente
monografias, dissertações ou teses, mas nos processos divulgada por um projeto privado. De início parecia um avanço
pedagógicos dos arte/educadores ou em más interpretações e com ele muito me entusiasmei, mas hoje esse projeto se revela
formuladas de caráter destrutivo. Trata-se da identificação da prescritivo e colonizador pela desmedida ambição de dominar
Abordagem Triangular com a releitura e do uso da releitura todas as universidades federais do Brasil sem pesquisar
como cópia. resultados. É uma pena, pois foi um projeto que começou com
Ao longo de minha carreira profissional, tive a uma pesquisa. Foi esse projeto que divulgou em seu boletim
oportunidade de ouvir muitos educadores e arte/educadores informações completamente erradas contra mim, entre elas a
insinuação de que a Abordagem Triangular é cópia do DBAE Education through Art em Phoenix, Ana Mae Barbosa
[(Discipline-Based Arts Education)] americano. Protestei, mas respondeu à pergunta “Como vocês no Brasil conseguiram se
não foram capazes de reconhecer seus erros, pensam que não livrar da síndrome da cópia do DBAE que está dominando a
são mortais, acham que não erram nunca. Se realmente Ásia?” da seguinte maneira:
tratassem de educação e não de marketing saberiam muito bem
analisar seus erros. Em vez de me pedirem desculpas, Fomos alunos de Paulo [Reglus Neves] Freire e com ele
responderam com frases deste livro [(refere-se ao livro A aprendemos a recusar a colonizadora cópia de modelos, mas a
imagem no ensino das artes, publicado em 1991)] retiradas do escolher, reconstruir, reorganizar a partir da experiência direta
contexto num boletim publicado quando eu estava com minha com a realidade, com a cultura que nos cerca, com a cultura dos
filha [(Ana Amália Tavares Bastos Barbosa)] à beira da morte outros e com uma pletora de referenciais teóricos,
na UTI [(Unidade de Terapia Intensiva ou Unidade de intelectualmente desnacionalizados, como diz [Pierre] Bourdie,
Tratamento Intenso)] de um hospital. Não tive condição de por nós escolhidos e não impostos pelo poder dominante. A
discutir e agora só me resta a autodefesa. Nos textos de pessoas Abordagem Triangular respeita a ecologia da educação
ligadas, hoje, a esse projeto, quando se referem à Abordagem (BARBOSA, A. M., 2009, p. XXXI).
Triangular, há a afirmação de que ela foi “traduzida dos Estados
Unidos” (BARBOSA, A. M., 2009, p. XXX). Tomando como base a citação anterior, abro um parêntese
para destacar que Ana Mae Barbosa não queria ser educadora,
Defendo, indubitavelmente, a ideia de que a Abordagem mas não havia muitas opções para as mulheres no Brasil dos
Triangular não foi trazida, mas sistematizada a partir das anos 1950. Durante um cursinho preparatório para concurso,
condições estéticas e culturais da pós-modernidade. A palavra foi educanda de Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), que
trazer significa transpor algo que já existia. Não existia o dava aulas de Teoria da Educação e Português. O encontro com
sistema metodológico baseado em ações (Fazer, Ler, o educador mudou a vida da autora, e acabou transformando
Contextualizar). O DBAE é baseado em disciplinas (Produção também a história da Arte/Educação no Brasil. Em uma das
Artística, Crítica da Arte, estética, História da arte) e por isso conversas que tive com Ana Mae Barbosa170, ela elucidou:
muito criticado. O pensamento disciplinar é modernista.
Igualmente importante, não concordo com a afirmação de que Nasci numa família extremamente conservadora. Perdi
a Abordagem Triangular foi criada por Ana Mae Barbosa. meus pais muito cedo (3 anos e 6 anos) e por isso fui criada pela
Prefiro, assim como a própria Ana Mae Barbosa, usar o termo minha avó. Naquela época só se pensava em Engenharia,
sistematizada, pois estava implícita nas condições estética e Medicina e Direito. Quem como eu não gostava de matemática
culturais da pós-modernidade. A pós-modernidade em ou de ver sangue estudava Direito. Já existia Pedagogia, mas os
Arte/Educação caracterizou-se pela entrada da imagem, sua alunos melhores eram orientados pelos professores para
decodificação e interpretação na sala de aula junto à já escolher as profissões consideradas mais importantes. Eu até
conquistada expressividade. pensei em fazer Pedagogia, mas a minha professora de artes
dizia que era um absurdo, que eu ia ficar desperdiçada. Para ela,
Na Inglaterra essa pós-modernidade foi manifesta no eu deveria fazer uma coisa mais importante, porque gostava de
critical studies, nos Estados Unidos a mais forte manifestação estudar [...]. Eu comecei a estudar para o vestibular de Direito
foi o DBAE. O Disciplined Based Arte Education é baseada nas porque queria fazer curso superior a todo custo. Todos os
disciplinas: estética-história-crítica e numa ação, o fazer homens da minha família, desde a época do Império, fizeram
artístico. O DBAE foi o mais pervasivo dos sistemas curso superior. Fui a primeira mulher da família a fazer um
contemporâneos de arte/educação e bem influenciando toda a curso superior. Ninguém se dispôs a pagar o cursinho para mim.
Ásia. Se eu quisesse mesmo teria que trabalhar. Pensei em procurar
emprego, mas em casa me disseram que o único trabalho
No Brasil a ideia de antropologia cultural nos fez analisar decente para a mulher era ensinar. Não desisti de Direito que
vários sistemas e ressistematizar o nosso que é baseado não cursei até o fim, estimulada por Paulo [Reglus Neves] Freire que
em disciplinas, mas em ações: fazer-ler-contextualizar. me dizia que Direito dava capacidade hermenêutica que pode
Portanto, a Proposta Triangular e o DBAE são interpretações ser aplicada a qualquer área. Ele foi banca do meu concurso de
diferentes no máximo paralelas do pós- modernismo na livre docência na USP [(Universidade de São Paulo)] e minha
arte/educação. tese foi a Abordagem Triangular que introduziu no Brasil a
Leitura das imagens na sala de aula ao lado da expressão
O critical studies é a manifestação pós-moderna inglesa no individual. Aí ele lembrou que eu estava usando a minha
ensino da arte, como o DBAE é a manifestação americana e a capacidade hermenêutica desenvolvida no Direito. Mas
Proposta Triangular a manifestação pós-moderna brasileira, voltemos ao meu primeiro encontro com ele... Fui obrigada a me
respondendo às nossas necessidades, especialmente a de ler o tornar professora. Eu já tinha feito o “pedagógico”, como
mundo criticamente. naquela época se chamava o curso de magistério, obrigada por
minha avó. Resolvi então fazer o concurso para professora da
Há correspondência entre elas, sim. Mas, estas rede estadual. Paulo [Reglus Neves] Freire e sua mulher, Elza
correspondências são reflexo dos conceitos pós-modernos de Freire, organizaram um curso para preparar professores para o
arte e de educação. A Proposta Triangular começou a ser concurso do Estado de Pernambuco, que era muito concorrido.
sistematizada em 1983 no Festival de Inverno de Campos de Eu me matriculei. Paulo [Reglus Neves] Freire era professor de
Jordão, em São Paulo e foi intensamente pesquisada entre Teoria da Educação e de Português. Logo no início do curso, ele
1987 e 1993 no Museu de Arte Contemporânea da pediu que nós escrevêssemos uma redação sobre a seguinte
Universidade de São Paulo e na Secretaria Municipal de questão: “Por que vocês querem ser professoras?”. Eu escrevi que
Educação sob o comando de Paulo [Reglus Neves] Freire e eu não queria ser professora, mas que precisava trabalhar
Mário [Sérgio] Cortella (BARBOSA, A. M., 2008, p.14, grifos da porque a minha família não podia sustentar meus estudos e que
autora). só me deixavam trabalhar em ensino. Escrevi que a educação
não nos leva a nada, essas coisas de quem está com 18 anos de
Quando, em 2000, foi convidada a abrir, falando da idade. Paulo [Reglus Neves] Freire era extremamente cuidadoso,
Abordagem Triangular, o congresso da United States of anotava tudo em cada página que corrigia. Ele entregou as
redações na classe, mas não a minha e por isso eu lhe perguntei nossa cultura, da cultura do outro e relativize as novas e
sobre meu texto. Ele respondeu que preferia conversar valores da cultura de cada um, teríamos que considerar o
pessoalmente e me pediu para chegar mais cedo no dia seguinte Fazer Artístico, a Leitura de imagens (obras de arte ou não) e
[...]. Ele me fez muitas perguntas: “Em que colégio você estudou? a Contextualização, quer seja histórica, social, psicológica,
Como é que você estuda? Como é sua família? Você tem irmãs? antropológica, geográfica, ecológica, biológica etc.
Na conversa, ele me fez ver que a educação não era a que eu
tinha tido. E que, na realidade, eu havia vivido um processo de Por outro lado, nos 3º e 4º ciclos (5ª à 8ª série), os
repressão muito grande. Durante o curso, eu fui ficando PCNs/Arte recomendam a Produção, a Apreciação e a
fascinada por aquela educação que ele estava me apresentando, Contextualização. Mas, sobre a designação Apreciação, Ana
que podia ser um processo de libertação. Nessa época ele estava Mae Barbosa esclareceu (2009, p. XXXII-XXXIII):
começando a experimentar no SESI [(Serviço Social da
Indústria)] o seu método de alfabetização. Passei no concurso As elaboradoras dos PCNS preferiram designar a
em segundo ou terceiro lugar [...] No curso não só me apaixonei decodificação da obra de arte como apreciação. Escolhi usar a
pelas possibilidades reconstrutivas e conscientizadoras da expressão “leitura” da obra de arte na Abordagem Triangular
educação, como também conheci Noêmia [de Araújo] Varela que em lugar de apreciação por temer que o termo apreciação fosse
ensinou Metodologia do Ensino da Arte, clamando pela interpretado como um mero deslumbramento que vai do arrepio
liberdade de expressão. Com um passado desastroso em ao suspiro romântico. A palavra leitura sugere uma
aprendizagem de Arte imagina descobrir que podia me interpretação para a qual colaboram uma gramática, uma
expressar livremente. Logo que pude me transferi para a sintaxe, um campo de sentido decodificável e a poética pessoal
Escolinha de Arte e a partir daí me dediquei ao Ensino da Arte. do decodificador. Entretanto, meus argumentos em favor da
substituição do termo apreciação por outro qualquer, mais
Paulo Reglus Neves Freire foi educador de Ana Mae próximo ao esforço intelectual decodificador e menos sujeito a
Barbosa. Ana Mae Barbosa foi educadora da filha dele, uma possível aproximação banal ou epitelial com a obra, foram
Madalena Freire. Madalena Freire foi educadora da filha de vencidos pela opinião da maioria dos consultores. Ficou
Ana Mae Barbosa, Ana Amália Tavares Bastos Barbosa, que, apreciação mesmo. Um certo medo da óbvia identificação dos
por sua vez, foi educadora de Carolina Freire, neta de Paulo PCNS com a Abordagem Triangular parece ter influenciado a
Reglus Neves Freire. Filosoficamente, Paulo Reglus Neves decisão. De acordo com a retórica do governo, os PCNS tinham
Freire ao lado de John Dewey (1859-1952), Elliot Eisner que ser originais e não podiam sequer citar nenhum autor.
(1933-2014) e Richard Hoggart (1918-2014) são os quatro Apreciação era o que pretendiam promover os cursos para o
pensadores da educação que norteiam o trabalho de Ana Mae povo no final do século XIX na Inglaterra. O que se queria era
Barbosa. modelar o gosto do povo de acordo com o gosto das elites para
que os operários que começavam a ganhar algum dinheiro com
Retomando... Outro fator que atrapalhou a recepção da a industrialização passassem a desejar os produtos que as
Abordagem Triangular foi a apropriação que dela fizeram os fábricas dos ricos estavam colocando no mercado. Havia uma
Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (PCNs/Arte) dupla função nessa apreciação: colonizar o desejo de uma classe
(BRASIL, 1998a; 1998b; 1999), modificando seus nascente e conquistar mercado. O diálogo frente à imagem é o
eixos/campos/vértices/componentes para que não fosse melhor antídoto contra a “cultura do convencimento” das
reconhecida, o que resultou em conservadorismo. A escolas nas quais vicejam a prepotência, o autoritarismo e a
Arte/Educação andou alguns passos para trás, impedindo-se hipocrisia.
que a Abordagem Triangular, conceitualmente mais A substituição, nos PCNs/Arte de 3º e 4º ciclos, do termo
contemporânea e democrática que os PCNs/Arte, se ampliasse Reflexão pelo termo Contextualização, foi feita principalmente
pela ação inventiva dos arte/educadores. Estes passaram a graças ao respaldo de outra consultora, a educadora doutora
obedecer às normas ditadas pelo Ministério da Educação Ingrid Dormien Koudela (1948-?)172. A ênfase na
(MEC)171 através dos PCNs/Arte. Nos 1º e 2º ciclos (na época, contextualização é essencial em todas as vertentes
ensino de 1ª à 4ª série), recomendavam a Produção, a Fruição humanísticas da educação pós- modernista, quer seja ela
e a Reflexão, porém Ana Mae Barbosa sempre considerou que baseada em Paulo Reglus Neves Freire, Lev Semenovich
reflexão é operação envolvida tanto na produção quanto na Vygotsky (1896-1934) ou Michael Whitman Apple (1942-?).
fruição. Insistir, portanto, em destacá-la seria subscrever a Talvez seja em relação à contextualização que a Abordagem
estética escolástica que desprezava a arte “interessada” (entre Triangular mais tenha se transformado nos últimos anos pela
aspas) no social e temia o apelo aos sentidos, ou seja, à ação recriadora dos arte/educadores e pesquisadores.
sensoriedade e à sensualidade conatural à arte, como Platão
(427-348 a.C.) já antes o demonstrara. Exagerava na Foi buscando correspondência de estratégias pedagógicas
intelectualização da arte como correção aos seus aspectos e harmonia de experiências que Ana Mae Barbosa entendeu
sensoriais considerados enganador da mente. E mais, a que a metáfora do triangulo já não correspondia mais à
estética escolástica não dá conta da arte pós- moderna da qual organização ou estruturas metodológicas. Parece-nos mais
devemos também e principalmente tratar. Deste modo, para adequado representá-la pela figura do ziguezague, pois muitas
uma triangulação cognoscente que impulsione a percepção da das vezes os arte/educadores não têm ensinado o verdadeiro
171 O MEC é um órgão do governo federal do Brasil fundado no Decreto N.º muitas mudanças em sua estrutura organizacional e a criação de secretarias
19.402, em 14 de novembro de1930, com o nome de Ministério dos Negócios da como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
Educação e Saúde Pública, pelo então presidente Getúlio Dorneles Vargas (1882- (INEP) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), por exemplo,
1954) e era encarregado pelo estudo e despacho de todos os assuntos relativos ao o MEC passa a ter as seguintes competências: política nacional de educação;
ensino, saúde pública e assistência hospitalar. Em linhas gerais, a trajetória educação infantil; educação em geral, compreendendo ensino fundamental, ensino
histórica do MEC é a seguinte: Em 13 de janeiro de 1937, passou a se chamar médio, ensino superior, ensino de jovens e adultos (EJA), educação profissional,
Ministério da Educação e Saúde e suas atividades passaram a ser limitadas à educação especial e educação a distância (EaD), exceto ensino militar; avaliação,
administração da educação escolar, educação extraescolar e da saúde pública e informação e pesquisa educacional; pesquisa e extensão universitária; e o já
assistência médico-social. Em 1953, o governo federal criou o Ministério da Saúde extinto magistério.
e tira do Ministério da Educação e Saúde as responsabilidades de administração 172 Ingrid Dormien Koudela é educadora do Programa de Pós-Graduação em
destinadas a ela. A partir desse momento, passa a se chamar oficialmente de Artes da ECA/USP, uma das figuras centrais no estudo da didática do teatro e
Ministério da Educação e Cultura (MEC) pela Lei N.° 1.920, de 25 de julho de 1953. principal desenvolvedora do sistema de jogos teatrais e do pensamento de Viola
Em 15 de março de 1985, foi criado o Ministério da Cultura (MinC) pelo Decreto Spolin (1906-1994) no Brasil, tendo traduzido toda sua obra ao português. Ver:
N.º 91.144. Curiosamente a sigla MEC continuou, porém passa a se chamar SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 1979;
Ministério da Educação, como é conhecido até hoje. Em 12 de junho de 2000, após KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1984.
valor da Contextualização tanto para o Fazer como para a Ler. O quinto e o sexto trabalham com a idéia central de que não
O processo pode tomar diferentes caminhos existe uma estrutura única e fixa na construção de um projeto
Contextualizar/Fazer\Contextualizar/Ler ou de trabalho, discutindo diferentes modos de dirigi-lo e o papel
Ler/Contextualizar\Fazer/Contextualizar ou ainda que desenvolvem os diversos atores desse processo:
Fazer/Contextualizar\ Ler/Contextualizar. Assim, o contexto educadores, alunos e pais. O oitavo e o nono capítulos apontam
se torna mediador e propositor, dependendo da natureza das questões cruciais da metodologia de trabalho, demonstrando
obras, do momento e do tempo de aproximação do criador. o quanto é importante rompermos com as tradicionais
praticas usadas para avaliar os alunos.
A contextualização sendo a condição epistemológica básica E por fim o décimo capítulo traz a abordagem do trabalho
de nosso momento histórico, como a maioria dos teóricos desenvolvido na região da Reggio Emilia, na Itália, realizando
contemporâneos da educação comprovam, não poderia ser vista uma discussão metodológica e a exemplificação do cotidiano,
apenas como um dos lados dos processo de aprendizagem. O por meio do relato de um projeto desenvolvido em uma das
fazer arte exige contextualização, a qual é a conscientização do escolas dessa rede de ensino.
que foi feito, assim como também a leitura. Qualquer leitura Abaixo estudaremos algumas partes abordas no livro.
como processo de significação exige a contextualização para
ultrapassar a mera apreensão do objeto. Quando falo de Trajetos e Projetos173
contextualização não me refiro à mania vulgar de falar da vida A vida dos seres humanos é constituída por uma constante
do artista. Esta interessa apenas quando interfere na obra. Um elaboração e reelaboração de projetos. Esse vocábulo,
excelente exemplo de contextualização foi dado pelo historiador portanto, não é de domínio exclusivo do campo educacional.
Thimothy J. Clark em uma aula a qual assisti na USP em 2006. Observamos o uso dos projetos em diferentes áreas do
Falava ele de uma obra de Willem de Kooning, intitulada conhecimento, como a arquitetura, a engenharia, a sociologia.
Subúrbio em Havana, pintada e exibida pela primeira vez em Na área educacional o movimento denominado Escola
1958 em Nova York. Para mostrar a relação da obra e do artista Nova teve um papel importante no questionamento aos novos
como o meio da época, projetou várias fotos de Havana saídas sistemas educacionais que emergiam no mundo ocidental
em jornais norte-americanos daquele ano. Sublinhando o fazendo uma severa crítica à escola tradicional, bem como às
interesse dos Estados Unidos por Fidel Castro naquela época, concepções de criança, de aprendizagem e de ensino. Esse
mostrou-nos também uma capa da revista Life com a foto de movimento uniu educadores de vários pontos da Europa e da
Fidel. Deu para avaliarmos que o interesse de De Kooning não América do Norte, estendendo-se também para outros
era revolucionário, mas um sintoma de seu tempo ou daquele continentes.
ano em Nova York (BARBOSA, A. M., 2009, p. XXXIII-XXXIV, grifos As propostas teóricas e metodológicas emanadas da Escola
da autora). Nova não eram certamente unas em termos de alternativas
pedagógicas, mas em todos os lugares onde se constituiu tinha
Por fim, é importante lembrar que a contextualização, como objetivo a crítica e a construção de uma visão crítica à
prevista tanto pela Abordagem Triangular quanto pelos educação convencional: “... a necessidade de quebrar o quadro
PCNs/Arte, “não se refere apenas à apresentação do histórico coercitivo dos programas escolares para suscitar certa
da obra e do artista, o que se pretende é pôr a obra em contexto criatividade”.
que faz produzir sentido na vida daqueles que a observam, é Alguns de seus fundadores e principais representantes
permitir que cada um encontre, a partir da obra apresentada, foram Ovide Decroly (1871-1932), Maria Montessori (1870-
seu devir artista” (FLAUSINO apud BARBOSA, A. M., 1999, p. 1952) e John Dewey (1859- 1952). No Brasil, por meio da
XXXIV). escrita de um documento denominado Manifesto dos
Pioneiros da Educação (1932), educadores como Lourenço
Filho, Paschoal Lemme, Cecília Meireles e Anísio Teixeira
BARBOSA, Maria Carmen agruparam-se em torno de um grande movimento de
democratização da educação, uma causa que em seu
Silveira. Projetos Pedagógicos entendimento beneficiaria as crianças brasileiras.
na educação infantil. Porto Em geral, os escolanovistas procuraram criar formas de
Alegre: Grupo A, 2008 organização do ensino que tivessem as seguintes
características:
Para tanto, é fundamental “emergi-las” em experiências e mergulho, como as estrelas ficam presas no céu. Essas
vivências complexas que justamente instiguem sua perguntas são difíceis de serem respondidas, e o professor
curiosidade. Nessas situações, é importante ressignificar as precisa aprender a desdobrar a pergunta e partir, junto com as
diferentes formas de interpretar, representar e simbolizar tais crianças, à procura das respostas possíveis, através de
vivências, por meio do desenho, da expressão corporal, do estratégias adequadas ao seu modo de ser e pensar.
contato com diferentes matérias. E preciso compor o currículo com as necessidades que nós,
Constatamos simplificações não científicas e os adultos, acreditamos que sejam aquelas apresentadas pelas
empobrecedoras do mundo para as crianças e que partem do crianças e que podemos obter por meio da observação das
pressuposto de que, apenas porque elas são pequenas, não brincadeiras e de outras manifestações não-verbais, assim
merecem atenção ou a ampliação de horizontes e como da escuta de suas falas das quais emergem os interesses
aprendizagens complexas. Para construir uma programação imediatos.
curricular flexível, é preciso, em primeiro lugar, redefinir e As aprendizagens nos projetos acontecem a partir de
construir, de forma sintética e clara, os objetivos que temos situações concretas, das interações construídas em um
para a educação das crianças pequenas e os conhecimentos processo contínuo e dinâmico. O planejamento é feito
que consideramos essenciais para a sua inserção no mundo. concomitantemente com as ações e as atividades que vão
Outro grave problema que afeta a educação infantil é o do sendo construídas “durante o caminho”. Um projeto é uma
calendário de festividades. Alguns meses do ano, as crianças abertura para as possibilidades amplas e com uma vasta gama
ficam continuamente expostas àquilo que poderíamos chamar de variáveis, de percursos imprevisíveis, criativos, ativos,
da indústria das festas. Elas se tornam objetos de práticas inteligentes acompanhados de uma grande flexibilidade de
pedagógicas sem o menor significado, que se repetem todos os organização.
anos da sua vida na educação infantil, como episódios soltos
no ar. Manter tradições culturais, cívicas e/ou religiosas é algo Projetualidade na escola: a articulação entre proposta
fundamental para as crianças pequenas e precisa constar no pedagógica e a organização do ensino em projetos de
currículo, mas o importante é a construção do sentido (real ou trabalho
imaginário) dessas práticas e não apenas a comemoração. A construção de uma proposta pedagógica, legitimada
E possível afirmar que, para o desenvolvimento de um como o documento norteador de todo o trabalho na escola, é
projeto, o que se faz é uma opção pelo aprofundamento dos imprescindível quando se pretende alcançar uma educação de
conhecimentos e não pela extensão dos mesmos. qualidade desde a Educação Infantil a Universidade.
A organização do trabalho pedagógico por meio de Além disso, a proposta pedagógica deve ser construída por
projetos precisa partir de uma situação, de um problema real, todos os integrantes da comunidade escolar: alunos,
de uma interrogação, de uma questão que reflita as professores, funcionários, direção e pais dos alunos. Essa
“preocupações” do grupo. construção coletiva deverá ser responsável pela convergência
Os projetos propõem uma aproximação global dos de pensamento à qual as correntes da psicologia, da filosofia e
fenômenos a partir do problema e não da interpretação teórica da sociologia dão suporte, ao que entendemos por educação,
já sistematizada através das disciplinas. Ao aproximar-se do por ensino e aprendizagem, por criança, enfim, pelo tipo de
objeto de investigação, várias perguntas podem ser feitas e, cidadão que queremos formar.
para respondê-las, serão necessárias as áreas de Segundo Kramer (1997), uma proposta pedagógica
conhecimento ou as disciplinas. sempre contém uma aposta, não sendo um fim, mas um
Acreditamos que é preciso alertar que há dois tipos de caminho que se constrói no (ou ao) caminhar como um
conhecimentos funcionando em um projeto: o conhecimento instrumento que responda às necessidades sociais da
do professor, que deve possibilitar compreender as crianças comunidade onde se insere e, a partir disso, desvelar o “para
com as quais trabalha conhecer os temas importantes para a que” e “para quem” se ensina. Ter a clareza quanto ao papel
infância contemporânea, e também o conhecimento dos que a escola assume diante de sua comunidade leva-nos a
conteúdos das disciplinas. O professor precisa ter um explicitar que princípios nortearão esse documento. Portanto,
repertório suficientemente amplo para que, à medida que o caráter reflexivo e dialógico deverá guiar a construção desse
surge uma situação, ele possa compreendê-la e organizar-se instrumento de trabalho.
para encaminhar seus estudos pessoais, assim como o Discussões recentes acerca da organização por disciplina
trabalho com as crianças, criando perguntas e desafios. Os apontam para a necessidade da integração dos conteúdos
conhecimentos que o professor adquire ao realizar os projetos estruturados em núcleos que ultrapassam os limites das
não são os mesmos dos alunos da educação infantil eles são de disciplinas, centrados em temas, problemas, tópicos ou ideias.
ordem diferente. Segundo Hernández (1998), a definição sobre o sentido da
Saber os conteúdos gerais da área de biologia, por globalização se estabelece como uma questão que vai além da
exemplo, é uma competência dos professores para que eles escola e que, possivelmente, na atualidade, motivada pelo
possam fazer perguntas, oferecer experiências, contribuir no desenvolvimento das ciências, receba um novo sentido,
desenvolvimento dos projetos e no estabelecimento de centrando-se na forma de relacionar os diferentes saberes, em
relações e não para transmitir conceitos previamente vez de preocupar-se em como levar adiante sua acumulação. O
organizados. Ex: Saber que o peixe Beta é um animal originário mundo atual caracteriza-se pela globalização; as questões
do sudeste da Ásia, que é denominado peixe de guerra devido estão relacionadas tanto em nível local como também
a uma tribo muito guerreira, chamada Ikan Bettah, que internacionalmente. As dimensões financeiras, culturais,
habitava o antigo Sião, hoje Tailândia, pode ser importante políticas, ambientais, entre outras, são interligadas e
para o professor pensar em estratégias de desenvolvimento do interdependentes. Além disso, a velocidade com que novas
trabalho. Porém, para as crianças da educação infantil, essas pesquisas apontam outros caminhos, novas descobertas e,
informações isoladas não fazem o menor sentido. O que consequentemente, novos conhecimentos não permite
interessa para as crianças é poder ter a experiência de cuidar acompanhar todo esse processo, do mesmo modo que a escola
do peixe, saber o que ele come, conhecer as histórias do peixe de outros tempos deu conta de todas as informações
de briga, verificar pela aparência características como as cores, consideradas importantes da época.
o tipo de nadadeiras e aprender como se preparam para a luta. Nessa concepção, presta-se atenção a tudo o que se passa
É claro que muitas vezes as crianças nos surpreendem na escola, propiciando-se aos alunos as aprendizagens
querendo saber como é que funciona um motor de locomotiva consideradas mais significativas, na medida em que são
a vapor, como foi possível colocar o oxigênio nos tubos de oferecidas múltiplas possibilidades para a intervenção
alunos e dos professores. Porém, em sua essência, assim como A construção de projetos para crianças pequenas pode ter
qualquer tema pode ser abordado nessa perspectiva, também durações diferenciadas, sendo possível pensar em projetos
é possível utilizá-lo em qualquer etapa da escolaridade. que dure um dia ou talvez uma semana.
Com propósitos didáticos, para fins de uma melhor
abordagem, vamos organizar este capítulo inicialmente em Projetos na pré-escola
torno do trabalho com projetos com crianças pequenas na A segunda infância, período que vai dos 3 aos 6 anos, é
creche e, posteriormente, com as crianças maiores da pré- caracterizada por ser um momento importante de formação da
escola. criança. Nesse período, elas têm aumentadas as suas
motivações, seus sentimentos e seus desejos de conhecer o
Projetos na creche mundo, de aprender. Sem exagero, pode-se dizer que elas
A primeira infância, período que vai dos 0 aos 3 anos, é quase explodem de tanta curiosidade. Então, o adulto deverá
uma etapa que começa dominada pelos instintos e reflexos que desempenhar um papel desafiador, povoando a sala de aula
possibilitam as primeiras adaptações e que se estendem pela com objetos interessantes, bem como ampliando e
descoberta do ambiente geral e pelo início da atividade aprofundando as experiências das crianças. O fato de elas
simbólica. E o momento em que as crianças têm uma terem muito desenvolvida sua oralidade, ter domínio do seu
dependência vital dos adultos. O modo de viver e de próprio corpo, faz seu rol de experiências aumentar
manifestar-se, de conhecer e de construir o mundo, pauta-se cotidianamente, o que possibilita sua participação ativa não
na experiência pessoal, nas ações que realizam sobre os somente com relação ao surgimento das temáticas, mas
objetos e no meio que as circundam. Os primeiros anos de vida também na construção do projeto. Esta é uma das diferenças
da criança estão marcados por uma constante busca de de abordagem com relação ao trabalho com projetos na creche.
relações: as pessoas, os objetos e o ambiente são interrogados,
manipulados, mediante uma atitude de intercâmbio interativo, Comunidade de aprendizagem
juntamente com um processo de forte empatia. Na creche, Quando uma escola propõe um trabalho com projetos
desde muito pequenas, elas aperfeiçoam as experiências que todos aprendem! Aprendem os alunos, os professores, os
já existem e adquirem novas estratégias. funcionários, os pais, as instituições, a sociedade, isto é, toda a
Com essas características, fica evidente que as crianças comunidade troca informações, cria conhecimentos comuns,
bem pequenas necessitam de um modo muito específico de formula perguntas e realiza ações. Trabalhar com projetos é
organização do trabalho pedagógico e do ambiente físico. criar uma escola como uma instituição aberta e a escola como
Nessa perspectiva, os projetos podem constituir-se em um uma comunidade de investigação e de aprendizagens que
eficiente instrumento de trabalho para os educadores que estimula o pensamento renovado em todas as áreas. O
atuam com essa faixa etária. percurso de construção de um projeto não é apenas uma
Os projetos com bebês têm seus temas derivados forma, mas também é conteúdo de aprendizagem - de
basicamente da observação sistemática, da leitura que a solidariedade, de argumentação, de negociação, de trabalho
educadora realiza do grupo e de cada criança. Ela deve prestar coletivo, de escolhas.
muita atenção ao modo como as crianças agem e procurar dar
significado às suas manifestações. E a partir dessas O professor na pedagogia de projetos
observações que vai encontrar os temas, os problemas, a A pedagogia de projetos oferece aos professores a
questão referente aos projetos. possibilidade de reinventar o seu profissionalismo, de sair da
O trabalho com essa faixa etária, como já afirmamos antes, queixa, da sobrecarga de trabalho, do isolamento, da
requer como uma tarefa fundamental da educadora a de fragmentação de esforços para criar um espaço de trabalho
organizar o espaço: interno (da sala de aula) e externo (do cooperativo, criativo e participativo. “O professor passa a
pátio). Esse espaço deve incentivar e estruturar as ocupar o papel de co-criador de saber e de cultura, aceitando
experiências corporais, afetivas, sociais e as expressões das com plena consciência a ‘vulnerabilidade’ do próprio papel,
diferentes linguagens da criança. O ambiente bem- junto à dúvida, ao erro, ao estupor e à curiosidade” (Rinaldi,
estruturado, mas flexível e passível de mudanças, deverá 1994, p.15).
prever a possibilidade de os materiais também se modificarem A pedagogia de projetos também possibilita tratar o
ao longo do ano, acompanhando a trajetória do grupo, ou seja, trabalho docente como atividade dinâmica e não repetitiva. O
suas novas aquisições, suas necessidades e seus interesses. O professor pode repensar a sua prática, atualizar-se e
ambiente, isto é, a sala das crianças deve ser vista como um transformar a compreensão do mundo pelo estudo contínuo e
educador auxiliar que provoca aprendizagens: pode haver coletivo sobre diferentes temas, juntamente com as crianças. E
nessa sala materiais como caixas, instalações, tendas, tapetes, possível revisar seu modo de ensinar e, com isso, transformar
almofadas, cestas para jogo de manipulação, materiais vindos a própria história como sujeito educador. Analisar
da natureza, bonecos, brinquedos de construção, trapos de metacognitivamente o processo de aprendizagem realizado
pano, bolas de tamanhos e materiais diversos. pelo grupo, avaliar e reinstrumentalizar para continuamente
Um projeto pode iniciar durante as atividades de qualificar o seu ofício. A vida cooperativa que se estabelece na
exploração dos materiais da sala. O educador observa, anota sala de aula ajuda o professor a sair da sua solidão, já que ele
dados relevantes - data, criança, espaço, materiais, canais passa a compartilhar tarefas, a coproduzir estratégias
sensoriais, tipo de jogo - e, após um período inicial de pedagógicas, a criar e a aprender.
observação, pode preparar um projeto. Nessa faixa etária, é Ao professor cabe prioritariamente criar um ambiente
fundamental considerar que as coisas importantes da vida a propício em que a curiosidade, as teorias, as dúvidas e as
serem descobertas e conhecidas são a procura do olhar, o ser hipóteses das crianças tenham lugar, sejam realmente
correspondido, o sorrir, a conversa (seja ela qualquer tipo de escutadas, legitimadas e operacionalizadas para que se
relação vocal), o tocar (contato motor), o contato físico, a construa a aprendizagem. Pode-se complementar essa ideia
retenção de um objeto (dar, oferecer), o imitar, o esconder, os com o conceito de comunidade de investigação, que é um
jogos de linguagem, os jogos de manipulação, as músicas, as espaço onde há descoberta e invenção por toda a parte,
saídas para o espaço externo, as festas, a vida em grupo. As estimulando, assim, o pensamento renovado em todas as
atividades de sobrevivência, como alimentar-se, banhar-se, áreas. E preciso que a sala de aula e a escola em sua totalidade
brincar, dormir, comunicar-se verbalmente e relacionar-se tornem-se uma comunidade de investigação, na qual as
com os companheiros, também são as grandes aprendizagens crianças possam aprender umas com as outras e dialogar não
desse grupo etário. só com os professores, mas também com os textos, os
174BASSEDAS, Eulália. Aprender e ensinar na educação infantil. Porto Alegre: 175 EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. (Org.). As cem linguagens da
Esta abordagem inovadora incrementa o desenvolvimento torna possível um aprofundamento das aprendizagens por
intelectual das crianças através da focalização sistemática na meio do uso de muitos meios diferentes.
representação simbólica, levando as crianças pequenas (0 - 6 Na terceira parte da obra, capitulo oito acontece uma
anos) a um nível surpreendente de habilidades simbólicas e à análise entre a teoria e prática, mostra a reflexão sobre os
criatividade. espaços que reflete a cultura das pessoas, favorecendo a
O sistema não é privativo e elitista; pelo contrário, oferece interação e histórias e são agradáveis e acolhedores. Uma
atendimento integral à criança e está aberto para todas elas, abordagem em que a parceria e a interação são cruciais.
inclusive aquelas portadoras de alguma deficiência. Coordenadores, professores e pais encontravam-se com os
Este livro recolhe as reflexões dos educadores arquitetos para planejar como seria os espaços dos prédios ou
italianos que criaram e desenvolveram o sistema, bem reformas.
como dos norte-americanos que lá estudaram. O capitulo nove fala sobre o papel do professor em Reggio
É uma introdução abrangente que aborda história e Emilia, que permanece com o mesmo grupo de crianças por
filosofia, currículo e métodos de ensino, escola e sistema três anos, com a ajuda de uma co-professora.
organizacional, uso do espaço e o ambiente físico, além dos O trabalho deles centraliza-se em provocar oportunidades
papéis do adulto profissional. de crescimento intelectual, interação com as outras crianças,
É muito importante que professores que atuam ou encorajar a aprendizagem em todos os domínios e instruírem
pretendem atuar com turmas de educação infantil leiam esse as crianças no uso de ferramentas e materiais necessários para
livro, pois ele traz relatos importantes de valorização e sua expressão nos múltiplos meios artísticos e simbólicos.
respeito à primeira infância. Exploram com colegas de trabalho, criticas extensa,
Os autores apresentam ao leitor uma abrangente mutuas e auto avaliação a partir do seu comportamento de
introdução à experiência da cidade italiana, abordando em ensino. Veem seus trabalhos como público, que ocorre da vida
profundidade três temas centrais do trabalho realizado: o compartilhada da escola, da comunidade e cultura.
ensino e a aprendizagem por meio das relações, as cem No capitulo dez é apresentado um projeto único “O salto
linguagens da criança e como esse conceito se transformou e a em distância” onde apresenta o papel da confecção de
integração da documentação ao processo de observar, refletir símbolos e da comunicação como um meio de ajudar as
e comunicar. crianças a construir seu próprio conhecimento.
Na primeira parte da obra os autores dividem, em dois No capitulo onze mostra outro projeto que é o dinossauro.
capítulos. No capitulo inicial contextualizam a história de Os professores partem sem saber o resultado, embora não
Reggio Emilia e faz referências a algumas lições que se pode tenha um modo correto de conduta de um projeto, mas
aprender a partir da perspectiva desse sistema. existem algumas diretrizes e princípios. Colocam as
O segundo capítulo mostra que as crianças com os necessidades e direitos das crianças em primeiro lugar, além
professores analisam tópicos de interesse para trabalhar com de oferecer prazer e entusiasmo constante. Sempre
projetos. Iniciam-se os trabalhos a partir das capacidades das compartilham com os outros interessados experiências de
crianças de representarem seus pensamentos, sentimentos e salas de aulas.
observações, por meio de habilidades gráficas. Os professores Na parte quatro capitulo doze, o autor questiona qual seria
partem de uma suposição de que as crianças têm o desejo uma prática desenvolvimentalmente apropriada, ele fala que
inerente de crescer, saber e de compreender as coisas a sua está interpretação é altamente dependente das visões
volta. mantidas por professores e outros adultos sobre o
As experiências no uso de desenhos, pinturas, etc., nas desenvolvimento.
discussões fazem com que as crianças de importância a isso. E que variações na prática podem refletir diferenças
Essa representação observacional e realística não inibe as culturais tanto nas crenças quanto nas expectativas para as
capacidades ou desejos das crianças de usar meios de crianças.
expressão abstrata, criativa e imaginativa. O autor faz comparação com a prática americana, falando
A espécie de trabalho realizado nos projetos oferece conteúdo que lá eles estão trabalhando na direção de conjuntos de
para o relacionamento entre os professores e alunos. As competências diferentes dos valorizados em Reggio Emilia,
características dos comportamentos dos professores, frente que é o compromisso de esforço e investigação duradoura a
aos trabalhos das crianças transmitem a elas que seus educação precoce.
trabalhos são considerados com seriedade. O capitulo treze traz um projeto de Reggio “A cidade na
O modelo sobre o qual a vida escolar está baseada é Chuva” um grupo de professores transforma esse projeto em
próximo aos relacionamentos familiares e comunitários. uma nova versão inglesa “A cidade na Neve” que é organizado
Essas conquistas são possíveis, pois existem recursos e em torno de círculos de simbolização, para mostrar como as
compromisso da comunidade com as crianças pequenas. crianças precisam circular várias vezes pelo mesmo objeto de
Na segunda parte do livro, são apresentadas entrevistas representação.
com várias pessoas. O capitulo três mostra uma entrevista com No capitulo catorze fala sobre vários projetos e como eles
Lóris Magaluzzi, idealizador de uma pedagogia que valoriza o podem abranger toda a etapa do desenvolvimento em Reggio
pensamento das crianças e as linguagens utilizadas por elas. Emilia, nas idades de 2 a 3 anos. Nesse capitulo os professores
No capitulo quatro Sergio Spaggiari diretor do sistema percebem que tem alguns aspectos que dificultam
municipal de Reggio, apresenta a estrutura organizacional e transplantar essa abordagem para os Estados Unidos, mas sim
seu desenvolvimento. serviu para inspirar novas possibilidades para as crianças e
No capitulo cinco Carlina Rinaldi parceira de Magaluzzi na professores.
teoria do currículo, explica a base construtivista da prática em Usar as palavras e ações das crianças como fonte de inspiração
sala de aula, fundamentação no diálogo, comunicação e pelos currículos e muito mais difícil do que apenas elaborar
solução conjunta de problemas. atividades criativas.
O capitulo seis Tiziana Filippini, explicita o papel do O capitulo quinze assume a forma de uma entrevista entre
pedagogista (coordenador pedagógico), que liga o sistema de Baji Rankin e colegas na área de Boston. Esses educadores,
escolas e os pais em um todo coerente em termos de valores, membros de uma equipe de disseminação, contam como suas
objetivos didáticos e práticas educacional. atitudes gerais em relação à escolarização, as crianças e aos
No capitulo sete a Ateliarista (professora de recursos) Vea ambientes foram influenciadas pelas visitas a Reggio Emilia e
Vecchi explica como a presença do atelier (Studio/oficina) como usaram essas ideias em seus próprios contextos
educacionais.
O capitulo dezesseis, escrito por Meg Barden, uma na educação: seu estado constante de vir a ser, sua
participante a muito tempo das mudanças na educação e incompletude, como nos diria o querido mestre Paulo Freire.
cuidados para a primeira infância nos Estados Unidos, leva-
nos a refletir sobre se a mensagem de Reggio Emilia é diferente Pedagogia Freinetiana
daquela do movimento de educação progressista inspirado em Um Pouco sobre O Autor
John Dewey. Celèstin Freinet nasceu em outubro de 1896 na pequena
O capitulo dezessete, é um texto lírio escrito por Paul vila de Gars, nos Alpes Franceses. Teve uma infância e
Kaufman, um produtor de vídeos, que passou uma semana em juventude rural, em meio às paisagens, modo de produção
Reggio, nesse texto ele fala sobre o ambiente e sobre a estética artesanal, comportamentos e valores dos homens do campo do
de um dia típico na escola. início do século. Suas próprias condições de vida vieram mais
Na parte cinco capitulo 18 os autores fazem um resumo de tarde a influenciar sua pedagogia. A escola frequentada por
tudo que foi abordado em todos os capítulos, onde mostra que Freinet não era equipada com materiais didáticos nem possuía
a abordagem de Reggio Emilia, quer produzir uma criança livros e manuais escolares. Bom aluno, Freinet foi enviado para
protagonista, capaz de construir seus próprios poderes de uma cidade um pouco maior, Grasse, para complementar seus
pensamento através de uma síntese de todas as linguagens estudos e preparar-se para o concurso de ingresso na Escola
expressivas, comunicativas e cognitivas. Normal de Nice. Seu curso sofreu interrupção com o início da
Fala que a obra foi elaborada por várias colaborações, 1ª guerra mundial em 1914. Tão marcante foi esta experiência
através de um intercâmbio entre educadores de Reggio Emilia que Freinet afirma: “Minha formação como professor não se
e nos Estados Unidos. fez só na Escola Normal, mas também na guerra”.
A obra traz muito material para reflexão, não é possível Neste período sofreu muito com o uso dos gases tóxicos,
importar essa abordagem para nosso país, pois vivemos outra prejudicando para sempre a saúde de seus pulmões, teve que
realidade, nossa cultura e bem diferente da deles. Mas oferece dar baixa no exército, pois ficou muito doente e até sem
várias produções, possibilidades de estudos e investigação. esperança de cura, assim encontrou o tempo e a ocasião para
A abordagem nos faz parar para pensar, que as crianças repensar em profundidade a sua obra pedagógica. Dedicou o
possuem mais possibilidades do que imaginamos, mostra para melhor do seu tempo nas atividades quotidianas, como por
os educadores que existem cem maneiras de ensinar, criar, exemplo nas suas reflexões críticas. Foi nomeado em 1920,
instigar, cuidar, encorajar, etc., sempre com compromisso e professor adjunto numa escola rural dos Alpes Marítimos (Ban
intenção de proporcionar seu melhor. - sur - lamp). Não se limita a ser um mero professor. Participa
O livro traz um sistema de ensino que apresenta sugestões de estudos e pesquisas, viaja, debate, escreve artigos, sempre
e alternativas para educadores, estudantes e pesquisadores a em busca de práticas pedagógicas alternativas. Animado por
fim de que possam planejar e desenvolver suas pesquisas e Ferrière e pelos teóricos que já debatiam uma nova concepção
construção de conhecimento. de infância, de escola e de educação e com as ideias da Escola
Nova, Freinet constrói com seus alunos não um corpo
pedagógico teórico, mas práticas pedagógicas vivas em sua
FERREIRA, Gláucia de Melo classe. Freinet achava que a escola devia ser aberta à vida, ao
meio humano, meio social e acabar com as antigas relações
(org.). Palavra de professor(a): entre mestre e aluno. Para ele a pedagogia só era válida se
tateios e reflexões na prática apoiasse as necessidades do aluno, nos seus sentimentos, nas
Freinet. Campinas: Mercado das suas aspirações. Em 1927, as ideias e práticas de Freinet já
haviam extrapolado os limites de sua escola e de sua aldeia.
Letras, 2003
Freinet participa de um Congresso Internacional de
Educação em Tours, publica o primeiro número da Biblioteca
de Trabalho, composto por brochuras escritas por seus alunos,
A proposta desse livro é trazer ao leitor e à leitora as publica também o Fichário escolar cooperativo. Fica
situações de dia-a-dia de uma escola, fazendo isso a partir dos conhecendo Elise, uma artista plástica que começa a trabalhar
pontos de vista e das palavras das professoras e professores. como sua ajudante. Depois, de algum tempo Célestin Freinet
Nosso desejo é dialogar, contar "causos" do nosso cotidiano e casa-se com Elise e escreve o livro “A Imprensa na Escola”, cria
compartilhar algumas de nossas reflexões, um pouco dos também a revista “La Gerbe” (O Ramalhete) com vários
tateios que fazemos ao praticar a Pedagogia Freinet. Para esse poemas infantis. Funda também a Cooperativa de Ensino Leigo
diálogo escolhemos um fio condutor, um eixo central: relatar e os dois vão trabalhar na cidade de Saint Paul. Começam a
nossas vivências com as crianças e os adolescentes, enfocando receber muitas correspondências por causa das atividades
os instrumentos da Pedagogia Freinet. A escolha desse fio desenvolvidas na Escola e na Cooperativa. Em 1932 o
condutor aumenta a responsabilidade de explicitar nossa movimento educacional iniciado por Freinet já se espalha pela
compreensão de que a Pedagogia Freinet não é um conjunto Bélgica e Espanha. Suas ideias passam a incomodar os
de técnicas, um receituário a ser seguido. Ao adotarmos esses conservadores franceses e Freinet é afastado da Escola de
instrumentos, as concepções de educação que os criaram se Saint Paul. Após esta ruptura Freinet cria uma escola privada,
revelam, remetendo-nos a novas reflexões. Por outro lado, ao a célebre Escola de Vence, construída a partir de 1934 com
falarmos desses instrumentos, a prática se desvela com mais ajuda de doações.
clareza, favorecendo um diálogo mais vivo com aqueles que Aberta aos alunos em 1935, o Ministério da Educação
nos lerão. Uma outra proposta da obra é a de dar visibilidade recusa-se a reconhecê-la. Apesar disto, Freinet trabalha
à palavra de professoras e professores, que na sua prática arduamente criando o Conselho Cooperativo (gestão
cotidiana produzem saberes. Acreditamos que este seja um participativa), os jornais murais, a imprensa escolar, as fichas
passo na direção de realizar uma tarefa essencial: resgatar o autocorretivas, a correspondência escolar, os ateliers de arte,
valor da nossa profissão diante da sociedade. Ao assumirmos continuando suas aulas-passeio, o Livro da Vida. Durante a
a responsabilidade pelo ato de educar, sem nos perdermos em segunda guerra mundial a escola é devastada, Célestin Freinet
sentimentos de culpa pelos males da educação, construímos vai preso e encaminhado ao campo de concentração de Var, lá
respostas possíveis. Sem ficarmos somente esperando as ele fica seriamente doente, mas enquanto é mantido preso dá
respostas e prescrições de outros especialistas, queremos aula para os seus companheiros. Sua esposa Elise Freinet luta
propor o diálogo, mostrando nossos tateios e reflexões. Com pela sua libertação e consegue. Logo após a sua liberdade
esse passo esperamos mostrar o que há, talvez, de mais bonito Célestin Freinet se alia ao Movimento da Resistência Francesa.
Célestin Freinet cria o ICEM, na qual a cooperativa já reunia Técnicas Empregadas Na Pedagogia De Freinet
mais de 20 mil participantes. Depois da 2ª Guerra Mundial, Freinet construiu com seus alunos diversas práticas
Freinet é acusado de espionagem, mas não é isso que lhe tira a pedagógicas que tinham como objetivo aproximar a escola da
confiança na pedagogia. Apesar de ter tantos problemas, vida.
Freinet luta até à morte pelas suas ideias de pedagogia, As aulas-passeio atendiam a esta finalidade. Em vez de
morrendo a 8 de outubro de 1966 em Vence na França. discutir temas desvinculados da vida da comunidade, Freinet
saía com seus alunos passeando pelas proximidades, fazendo
Filosofia Da Educação Freinetiana observações e descobertas sobre aspectos da natureza, da vida
Célestin Freinet (1896-1966), crítico da escola tradicional social, econômica e cultural da região.
e das escolas novas, foi criador, na França, do movimento da Debates eram realizados e registrados no Livro da Vida.
escola moderna. Seu objetivo básico era desenvolver uma Não só os alunos tinham a oportunidade de realizar
escola popular. Na sua concepção, a sociedade é plena de observações sobre fatos relevantes, como conceitos e
contradições que refletem os interesses antagônicos das conteúdos se organizavam. Isto requeria uma série de
classes sociais que nela existem, sendo que tais contradições habilidades que iam sendo desenvolvidas: atenção,
penetram em todos os aspectos da vida social, inclusive na observação, análise, síntese, capacidade de organização de
escola. Para ele, a relação direta do homem com o mundo físico ideias, poder de argumentação, habilidades de expressão oral
e social é feita através do trabalho (atividade coletiva) e e escrita.
liberdade é aquilo que decidimos em conjunto. Em suas Gradativamente Freinet criou a imprensa escolar. Esta
concepções educacionais dirige pesadas críticas à escola criação possibilitou a construção de textos mais próximos dos
tradicional, que considera inimiga do “tatear experimental”, interesses dos alunos.
fechada, contrária à descoberta, ao interesse e ao prazer da Através da imprensa escolar, os alunos elaboravam jornais
criança. Analisou de forma crítica o autoritarismo da escola cuja leitura era compartilhada por amigos e familiares. A
tradicional, expresso nas regras rígidas da organização do correspondência interescolar abriu ainda mais estas
trabalho, no conteúdo determinado de forma arbitrária, fronteiras. Os alunos enviavam fotos, desenhos, cartas, jornais
compartimentados e defasados em relação à realidade social e para colegas distantes. Foi assim que as crianças da montanha
ao progresso das ciências. passaram a conhecer o mar, a pesca e os costumes de
Mas, critica também as propostas da Escola Nova, comunidades que viviam em aldeias marítimas. E estes,
particularmente Decroly e Montessori, questionando seus ficavam sabendo das colheitas, da vida dos pastores, dos
métodos, pela definição de materiais, locais e condições tecelões, das histórias das comunidades do interior.
especiais para a realização do trabalho pedagógico. Para Freinet desenvolveu a educação pelo trabalho. Seus alunos
Freinet as mudanças necessárias e profundas na educação lidavam com impressoras, tipos de impressão, com teares,
deveriam ser feitas pela base, ou seja, pelos próprios ateliers de artes, com a horta e até com a organização de
professores. O movimento pedagógico fundado por ele encanamentos que levavam água da aldeia até a escola.
caracteriza-se por sua dimensão social, evidenciada pela A livre expressão é muito valorizada na Pedagogia Freinet.
defesa de uma escola centrada na criança, que é vista não como Nos ateliers de arte os alunos tinham oportunidade de
um indivíduo isolado, mas, fazendo parte de uma comunidade. exercitar a criatividade exprimindo seus sentimentos, suas
Atribui grande ênfase ao trabalho: a atividade manual tem emoções, suas impressões, suas reflexões.
tanta importância quanto as intelectuais, a disciplina e a Os suportes para a livre expressão eram variados: a
autoridade resultam do trabalho organizado. Questiona as palavra oral e escrita, a música, a pintura, o teatro. Freinet se
tarefas escolares (repetitivas e enfadonhas) opostas aos jogos utilizava de diferentes recursos: máquinas fotográficas,
(atividades lúdicas, recreio), apontando como essa dualidade projetor de diapositivos, câmeras, toca-discos.
presente na escola, reproduz a dicotomia trabalho/prazer, Outra técnica criada por Freinet foram as fichas
gerada pela sociedade capitalista industrial. A escola por ele autocorretivas para trabalho individual. Seus alunos, também,
concebida, é vista como elemento ativo de mudança social e é faziam trabalhos agrícolas, de marcenaria, de jardinagem e
também popular por não marginalizar as crianças das classes horta.
menos favorecidas. No centro da Pedagogia Freinet estavam os princípios da
Propõe o trabalho/jogo como atividade fundamental. cooperação, solidariedade e autonomia.
Freinet elabora toda uma pedagogia, com técnicas construídas
com base na experimentação e documentação, que dão à São criações de Freinet:
criança instrumentos para aprofundar seu conhecimento e Aula-Passeio
desenvolver sua ação. “O desejo de conhecer mais e melhor Biblioteca
nasceria de uma situação de trabalho concreta e Cantos de Atividades
problematizadora. O trabalho de que trata aí não se limita ao Complexos de Interesse
manual, pois o trabalho é um todo, como o homem é um todo. Correspondência Inter escolar
Embora adaptado à criança, o trabalho deve ser uma atividade Estudo do Meio
verdadeira e não um trabalho para brincar, assim como a Fichário Autocorretivo
organização escolar não deve ser uma caricatura da Fichário Escolar Cooperativo
sociedade” O trabalho de que trata aí não se limita ao manual, Imprensa na Escola
pois o trabalho é um todo, como o homem é um todo. Embora Jornal Escolar
adaptado à criança, o trabalho deve ser uma atividade Jornal Mural
verdadeira e não um trabalho para brincar, assim como a Livro da Vida
organização escolar não deve ser uma caricatura da Planos de Trabalho
sociedade”. Dá grande importância à participação e integração Texto Livre
entre famílias/comunidade e escola, defendendo o ponto de
vista de que “se se respeita a palavra da criança, A Escola Centralizada Na Criança
necessariamente há mudanças”. A escola tradicional estava baseada na matéria a ensinar e
nos programas que definiam esta matéria hierarquizando-a. A
escola do futuro girará à volta da criança, membro da
comunidade.
“A própria criança constrói a sua personalidade com a escola ativa, dinâmica, historicamente inserida em um
nossa ajuda”. Trata-se de uma verdadeira correção pedagógica contexto social e cultural.
racional, eficiente e humana, que deve permitir à criança Logicamente em termos de nossa realidade atual, podemos
enfrentar com o máximo de realização, o seu destino de levantar questionamentos a algumas de suas concepções, tais
homem. como: uma visão otimista demais do poder de transformação
A criança deve ter a possibilidade de escolher o seu exercido pela escola, a identificação da dimensão social aos
caminho consoante as suas aptidões, gostos e necessidades. fatores de classe, deixando de fora os aspectos discriminativos
A escola do futuro deverá preparar os jovens para uma relativos a questões de cor e sexo, da proposta do professor ser
vida profissional, enfim para a realidade que as espera “lá o “escriba” dos alunos, quando as investigações mais atuais da
fora”. psicolinguística nos levam para outra direção.
Ser Humanista Segundo Freinet De forma clássica e humanista, a perfeição humana deveria
Ser humanista na visão de Célestin Freinet, é a capacidade servir de modelo para regularizar a educação e servir de ideal
que todo educador tem de desenvolver plenamente todas as para todos os seres humanos, em especial os educadores. A
capacidades da criança. Ele procurou aprimorar todas as suas educação humanista é formadora de pessoas livres,
atividades, tento como concepção o bem-estar e a dignidade da construtores de um juízo sólido e de nobre caráter em seus
criança como ser humano. Ele, foi muito além do que se refere alunos, para Célestin Freinet nenhum homem pode ser
a valores ideológicos e até mesmo religiosos, levou em conta a considerado educador se não for fiel as suas tradições, sendo
“ética humana”. Muitas das palavras ditas por Célestin Freinet crítico e liberal. Na sua pedagogia é necessário se praticar as
ao longo da sua vida vem de encontro com a Declaração virtudes enobrecendo o homem e a sabedoria humana, o
Universal dos Direitos das Crianças da ONU. exercício das faculdades naturais, a espontaneidade, o
Quem estuda a Pedagogia Freinet e trabalha com ela interesse pelas coisas naturais, fazem parte da filosofia
diariamente, percebe que se trata muito mais do que uma embutida na pedagogia de Célestin Freinet, a autenticidade
simples “Proposta Pedagógica”, diria que é uma “Filosofia de pessoal, a auto-realização e o ambiente democrático que é
Vida”. A criança é vista como um ser autônomo, para qual é construído, também fazem parte da sua filosofia.
capacitada a escolher sobre orientação, quais as atividades a Isso tudo, faz parte do processo de crescimento do jovem-
ser desenvolvida segundo o seu próprio interesse. É vista humano como ser realizador e conquistador, é o lado
também, como um ser racional, capaz de desde muito cedo a romântico intrínseco na forma de educação humanista.
opinar e criticar diante de fatos ou assuntos que lhe são Célestin Freinet foi atento, como todo humanista e educador, a
expostos, é dado o direito e a oportunidade de raciocinar sobre natureza interior de cada um de seus alunos, e criou meios
tudo aquilo que lhe é proposto, tudo passa a ser mais para que tal natureza desabrocha-se de forma saudável e
significativo. O livre arbítrio também é respeitado entre as plena. E é assim que seus seguidores pensam e tentam agir
crianças, sendo respeitada nas suas escolhas e recusas, sempre com seus educandos.
analisando o motivo de tal decisão. Célestin Freinet respeitava a essência do homem como ser
Assim como no adulto, toda criança já possui dentro de si livre e pensante, cabe a seus seguidores definirem e a criarem
mesma uma consciência moral, cabe ao educador ajudar a situações para tal desenvolvimento de cada ser humano,
desenvolver e a aprimorar essa moral primitiva. Quem tentando criar verdadeiros autores, e portanto, assim
conhece o trabalho da Pedagogia Freinet na prática, pode responsáveis. Os alunos, nessa visão na qual são educados não
presenciar um dos direitos do ser humano ser respeitado e são obrigados a aceitar as verdades alheias, mas cabe sim a
valorizado, que nada mais é, do que o direito de desenvolver a eles a opção de escolha, dando lhes oportunidades de criarem
capacidade criativa e imaginativa que cada um de nós temos suas próprias identidades e traçarem os seus projetos de vida.
dentro de si como seres humanos, geralmente as crianças que Muitos fatos da vida cotidiana afetam direta e
crescem sobre essa pedagogia são mais criativas e ousadas do indiretamente o desenvolvimento emocional, intelectual,
que outras, que são educadas sem terem os seus direitos moral e até mesmo físico das crianças, portanto, não se pode
humanos respeitados. negar a relação existente entre a política e a educação. Para
Todo indivíduo é sócio-político, ou seja, tem a sua parte de que ambas caminhem juntas e bem, seria necessário que a
responsabilidade na sociedade na qual está inserida e pedagogia se tornasse mais política e que a política se tornasse
consequentemente é envolvido politicamente mesmo não mais pedagógica, Célestin Freinet tinha esse pensamento
querendo. Célestin Freinet tinha tanta consciência disso, que também. Assim sendo, todos os educadores deveriam passar a
se envolveu em vários movimentos políticos e foi perseguido ter uma visão emancipada sobre todos os problemas
por isso, ele como todo humanista lutava por uma igualdade socioculturais, transmitindo e criando oportunidades para que
universal, sempre voltada para a área da educação que era o seus alunos estejam capacitados criticamente, tento
que realmente lhe interessava e preocupava mais. Em suas consciência e autocontrole de suas próprias vidas.
atividades, ele tentava ensinar aos seus alunos a serem mais Todos os educadores devem lutar coletivamente, assim
solidários através de cooperativas que criava dentro das como Freinet fez na sua época, agindo como sujeitos
escolas, ele também lutava por uma educação democrática, transformadores, fazendo das escolas um local democrático,
onde todos tinham voz para opinar, tentava passar o com objetivo de ensinar suas crianças a respeito do que é viver
significado de justiça e acima de tudo, tentava ensinar aos seus em uma sociedade justa como ser humano, independente de
alunos ser mais humanos. sua raça, classe, sexo ou idade. Há apenas uma preocupação
Célestin Freinet tinha compromisso em ajudar a todos os para a educação humanista de Célestin Freinet, e esta
indivíduos que necessitasse, quer estando envolvidos dentro preocupação é a de viver a vida em todas as suas
da escola ou não, ele se preocupava em aperfeiçoar e a manifestações. Um dos primordes do educador humanista
desenvolver as potencialidades de cada um, como ser humano. Freinet, nada mais é do que orientar e capacitar seus alunos
Sua proposta pedagógica é humanista e liberal, busca educar a como indivíduos capazes de levarem uma vida completa e
criança para ser um homem livre e crítico, apropriando-se da intensa, tendo envolvimentos políticos e uma boa conduta
sua vida humana por completo, assimilando a cultura em que moral, com sensibilidade para apreciar o que é belo tanto na
vive e a cidadania, primordial para qualquer ser humano. natureza quanto na arte, além de se preocupar em formar
Um dos objetivos da educação na visão de Célestin Freinet, pessoas íntegras e com conhecimento geral, ele também
é o alcance da vida humana plena e dignamente, apropriando- achava necessário se transmitir como se deve utilizar desses
se da cultura e da cidadania. A educação humanista é conhecimentos.
democrática, pluralista, aberta e crítica, acima de tudo é As crianças educadas na Pedagogia de Célestin Freinet, não
sensível e atenta às diferenças e necessidades culturais e até tem problemas de integração, quer seja em pequenos grupos
mesmo individuais, e é nessa visão que todas as crianças são ou em grandes comunidades; apesar disso tudo elas possuem
educadas na pedagogia freinetiana. Ele foi um educador um senso de individualidade bastante apurado, de autonomia
humanista contemporâneo, que tinha como uma de suas e são bastante autênticas, os educadores humanistas são vistos
metas, humanizar seus alunos e seus seguidores, Freinet tinha pelos seus alunos como um exemplo de vida. Deve-se criar um
um espírito libertador intelectual, era autônomo moralmente clima na escola de confiança, diálogo, respeito, tolerância, zelo,
e pluralista em seus pensamentos, tentou em sua pedagogia liberdade, compromisso e responsabilidade, se algum desses
libertar seus alunos da ignorância, do preconceito, do ingredientes vier a faltar, de nada adiantará os ensinamentos
capricho, da alienação e da falsa consciências, buscando assim, deixados pelo nosso saudoso Célestin Freinet.
desenvolver as potencialidades humanas de cada um.
Jean Piaget Fala De Célestin Freinet do método correto garantia ao professor o controle do
(Texto de Jean Piaget, retirado do livro “Psicologia e processo de alfabetização dos alunos. Na medida em que um
Pedagogia”, Rio de Janeiro, Editora Forense, 1985). número maior de alunos passou a ter acesso a educação,
Quanto às iniciativas individuais de mestres de escola ampliou-se também o número do fracasso escolar. Na ausência
particularmente inventivos ou devotados à infância e que de instrumentos para repensar a prática falida e os fracassos
encontram por meio da inteligência do coração os processos escolares, passou-se a buscar os culpados: os alunos, a escola
mais adaptados à inteligência propriamente dita (como e os professores. Tal momento promoveu uma revolução
outrora Pestalozzi), poder-se-ia citar um grande número nos conceitual, principalmente no que se refere à alfabetização. As
países mais diversos de língua francesa, alemã (um esforço pesquisas de Ferreiro e de seus colaboradores romperam o
considerável foi realizado na Alemanha e na Áustria depois da imobilismo lamuriento e acusatório, impulsionando um
queda do nazismo), italiana, inglesa etc. Entretanto, limitar- esforço coletivo na busca novos caminhos para que o educador
nos-emos, como exemplo do que pode ser feito com os rompa o círculo vicioso da reprodução do analfabetismo.
modestos meios e sem nenhum incentivo particular por parte
dos ministérios responsáveis, a lembrar a notável obra Apresentação (Por Emília Ferreiro)
realizada por Freinet, que se espalhou às mais diversas regiões Ferreiro afirma que o livro apresenta quatro trabalhos
francófonas, entre as quais inclui o Canadá francês. produzidos em momentos diferentes, porém dentro da mesma
Sem cuidar muito da psicologia da criança e movido linha de preocupação que é o de contribuir para uma reflexão
sobretudo pelas preocupações sociais (mas guardando a sobre a intervenção educativa alfabetizadora, a partir de novos
devida distância frente às doutrinas que põem mais em dados oriundos das investigações sobre a psicogênese da
evidência a transmissão pelo mestre, de que falamos acima), escrita na criança. Suas investigações evidenciam que o
Freinet interessou-se mais em fazer da escola um centro de processo de alfabetização nada tem de mecânico, do ponto de
atividades permanecendo em comunicação com as da vista da criança que aprende. Destaca que a criança
coletividade ambiente. desempenha um papel ativo na busca da compreensão desse
Sua célebre ideia da imprensa escolar constitui a esse objeto social, complexo, que é a escrita.
respeito uma ilustração particular entre outras, mas
especialmente instrutiva, porque é evidente que uma criança Capítulo 1 - A representação da linguagem e o processo
que imprime pequenos textos chegará a ler, a escrever e a de alfabetização
ortografar de uma maneira bem diferente do que se não Ferreiro destaca que, tradicionalmente, a alfabetização é
possuísse qualquer ideia sobre a fabricação dos documentos considerada em função da relação entre o método utilizado e o
impressos de que se serviu. Sem querer visar explicitamente o estado de 'maturidade' ou de 'prontidão' da criança. Os dois
objetivo de uma educação da inteligência e de uma aquisição polos do processo de aprendizagem - quem ensina e quem
dos conhecimentos gerais pela ação, Freinet atingiu, portanto, aprende - têm sido considerados sem levar em consideração o
esses objetivos constantes da escola ativa ao pensar terceiro elemento da relação que é a natureza do objeto de
principalmente no desenvolvimento dos interesses e na conhecimento envolvendo esta aprendizagem. A partir desta
formação social da criança. constatação, a autora aborda de que maneira este objeto de
E sem ostentar teorias, ele conseguiu juntar as duas conhecimento intervém no processo utilizando uma relação
verdades mais centrais, sem qualquer dúvida, da psicologia tríade: de um lado, o sistema de representação alfabética da
das funções cognitivas: que o desenvolvimento das operações linguagem com suas características específicas: por outro lado
intelectuais provém da ação efetiva no sentido mais completo as concepções de quem aprende (crianças) e as concepções
(isto é, inclusive dos interesses, o que não quer dizer, de modo dos que ensinam (professores), sobre este objeto de
algum, que sejam exclusivamente utilitários), porque a lógica conhecimento.
é, antes de tudo, e expressão da coordenação geral das ações;
e que esta coordenação geral das ações; e que esta 1. A Escrita como Sistema de Representação. A escrita pode
coordenação interindividual dos atos e sua coordenação intra- ser considerada como uma representação da linguagem ou
individual constituem um único e mesmo processo, sendo as como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras.
operações do indivíduo socializadas todas elas, e consistindo a A autora destaca que a invenção da escrita foi um processo
cooperação no sentido mais estrito em tornar comuns as histórico de construção de um sistema de representação e não
operações de cada um. um sistema de codificação. Dessa forma, se considerarmos o
sistema de representação do número e o sistema de
representação da linguagem, no início da escolarização, as
FERREIRO, Emília. Reflexões dificuldades que as crianças enfrentam são dificuldades
conceituais semelhantes às da construção do sistema e por
sobre alfabetização. São Paulo: isso pode-se afirmar que, em ambos os casos, a criança
Cortez, 2010 reinventa esses sistemas, ou seja, para poderem se servir
desses elementos como elementos de um sistema, as crianças
devem compreender seu processo de construção e suas regras
Telma Weisz, ao escrever o prefácio do livro de Emília de produção, o que coloca o problema epistemológico
Ferreiro, afirma que o mesmo não traz para o leitor nenhum fundamental: qual é a natureza da relação entre o real e a sua
novo método, nem novos testes, nada que se pareça com uma representação. A partir dos trabalhos de Saussure já
solução pronta. Porém, a autora (Ferreiro) oferece ideias a concebemos o signo linguístico como a união indissolúvel de
partir das quais é possível repensar a prática escolar da um significante com um significado. É o caráter bifásico do
alfabetização, por meio dos resultados obtidos em suas signo linguístico, a natureza complexa que ele tem e a relação
pesquisas científicas. de referência o que está em jogo. As escritas do tipo alfabético,
Emília Ferreiro, Doutora pela universidade de Genebra, e mesmo as silábicas, poderiam ser caracterizadas como
teve o privilégio de ter sido orientanda e colaboradora de Jean sistemas de representação cujo intuito é representar as
Piaget. Ferreiro realizou suas pesquisas sobre alfabetização, diferenças entre os significantes; enquanto que as escritas do
principalmente, na Argentina, país onde nasceu e também no tipo ideográfico poderiam representar diferenças nos
México. Anteriormente às pesquisas de Ferreiro, a crença significados. Se concebermos a escrita como um código de
implícita quanto à questão de alfabetização era de que tal transcrição do sonoro para o gráfico privilegiando-se o
processo começava e acabava na sala de aula e que a aplicação significante (grafia) dissociado do significado, destruímos o
signo linguístico por privilegiamos a técnica e a mecanização. como as crianças os colocam e da sequência de soluções que
Se concebermos aprendera língua escrita como a elas consideram aceitáveis, é, sem dúvida, essencial para um
compreensão da construção de um sistema de representação tipo de intervenção adequada á natureza do processo real da
em que a grafia das palavras e seu significado estão associados, aprendizagem. Reduzir esta intervenção ao método utilizado é
(apropriação de um novo objeto de conhecimento) estaremos limitar nossa indagação. É útil se perguntar por meio de que
realizando uma aprendizagem conceitual. tipos de práticas a criança é introduzida na linguagem escrita
e como se apresenta este objetivo no contexto escolar?
2 - As concepções das crianças a respeito do sistema de Há práticas que levam as crianças a supor que o
escrita. A criança realiza explorações para compreender a conhecimento é algo que os outros possuem e que só pode
natureza da escrita e isto pode ser observado através das suas obter da boca dos outros, sem participar dessa construção; há
produções espontâneas, que são valiosos documentos que práticas que levam a pensar que "o que existe para se
precisam ser interpretados para poder ser avaliados. As conhecer" é um conjunto, estabelecido de coisas, fechado,
escritas infantis têm sido consideradas como garatujas e 'puro sagrado, imutável e não modificável. Há práticas que levam a
jogo'. Aprender a lê-las, ou seja, interpretá-las é um criança a ficar de "fora" do conhecimento, como espectador ou
aprendizado que requer uma atitude teórica definida. Nas receptor mecânico, sem nunca encontrar respostas aos
práticas escolares tradicionais, há uma concepção de que a porquês. Nenhuma prática pedagógica é neutra e estão
criança só aprende quando submetida a um ensino repetitivo. apoiadas nas concepções do processo ensino e aprendizagem,
No entanto, elas ignoram que devem pedir permissão para bem como o objeto dessa aprendizagem. São essas práticas e
começar a aprender. Saber algo a respeito de certo objeto não não os métodos, que têm efeitos no domínio da língua escrita
significa saber algo socialmente aceito como 'conhecimento'. ou em outros conhecimentos.
'Saber' significa ter construído alguma concepção que explica A reflexão psicopedagógica necessita se apoiar em uma
certo conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade. reflexão epistemológica. A autora destaca que das suas
Ferreiro, analisando as produções espontâneas das crianças, diferentes experiências com profissionais de ensino aparecem
através de suas pesquisas confirmou que as mesmas possuem três dificuldades conceituais iniciais que necessitam ser
hipótese / ideias / teorias sobre a escrita, apresentando uma esclarecidas:
evolução psicogenética. As primeiras escritas infantis a) A visão adultocêntrica (adulto já alfabetizado);
aparecem, do ponto de vista gráfico, como linhas onduladas ou b) Confusão entre escrever e desenhar letras;
quebradas, contínuas ou fragmentadas, ou como uma série de c) E a redução do conhecimento do leitor ao conhecimento
elementos discretos repetidos. A aparência gráfica não é das letras e seu valor convencional.
garantia de escrita, a menos que se conheçam as condições de
produção. No referencial tradicional, as professoras prestam Esclarecendo essas dificuldades iniciais, é possível realizar
atenção nos aspectos gráficos das produções das crianças, a análise das concepções sobre a língua escrita subjacentes a
ignorando os aspectos construtivos. Do ponto de vista algumas dessas práticas:
construtivo, a escrita infantil segue uma linha de evolução a) As polêmicas sobre a ordem em que devam ser
surpreendentemente regular e podem ser distinguidos três introduzidas as atividades de leitura e as de escrita.
grandes períodos no interior dos quais cabem múltiplas b) Decisões metodológicas: a forma de se apresentar as
subdivisões. Para executar suas ideias (em seus escritos) a letras individuais bem como a ordem de apresentação de
criança: letras e de palavras, o que implica uma sequência do “fácil" ou
a) Faz distinção entre a modo de representação icônico "difícil".
(figurativo) e não icônico (não-figurativo).
b) Constrói formas de diferenciação; faz diferenciação A autora descreve as experiências pedagógicas realizadas
intrafigural que consistem no estabelecimento de por Ana Teberosky, em Barcelona, baseada em três ideias
propriedades que um texto deve possuir para poder ser simples, porém fundamentais:
interpretável. Os critérios intrafigurais se expressam sobre o a) Deixar entrar e sair para buscar informação extraescolar
eixo quantitativo (mínimo de três letras) e sobre o eixo disponível, com todas as consequências disso;
qualitativo (variação de caracteres); faz a diferenciação b) O professor não é mais o único que sabe ler e escrever
interfigurais que é a criação de modos sistemáticos de na sala de aula; todos podem ler e escrever, cada um ao seu
diferenciação entre uma escrita e a seguinte, para garantir a nível;
diferença de interpretação que será atribuída, c) As crianças não alfabetizadas contribuem na própria
c) Desvela a fonetização da escrita (descobre a relação som alfabetização e na dos companheiros quando a discussão a
/ grafia), começa com o período silábico e culmina no período respeito da representação escrita de linguagem se torna
alfabético. Ferreiro, analisando a evolução da escrita infantil prática escolar.
reconhece quatro períodos, que denomina como: período pré-
silábico, período silábico, período silábico-alfabético e período Conclusão
alfabético. É importante ter claro que as mudanças necessárias para
enfrentar sobre bases novas a alfabetização integral não se
Período Pré-Silábico: As crianças escrevem sem resolvem com um novo método de ensino; nem com novos
estabelecer qualquer correspondência entre a pauta sonora da testes de prontidão; nem com novos materiais didáticos.
palavra e a representação escrita. Escreve coisas diferentes Segundo Ferreiro, é preciso mudar os pontos por onde nós
apesar da identidade objetiva das escritas e relaciona a escrita fazemos passar o eixo central das nossas discussões. Para ela,
com o objetivo referente (Ex. coloca mais letras na palavra temos uma imagem empobrecida da língua escrita e uma
"elefante” do que na palavra borboleta - Realismo Nominal). imagem empobrecida de criança que aprende, um novo
método não resolve os problemas. É preciso reanalisar as
Capítulo 2 - As concepções sobre a língua subjacente à práticas de introdução da língua escrita. Ferreiro acredita ter
prática docente chegado a momento de se fazer uma revolução conceitual a
As discussões sobre a prática alfabetizadora têm se respeito da alfabetização.
centrado sobre os métodos utilizados: analíticos versus
sintéticos; fonético versus global, etc. Nenhuma dessas
discussões levou em conta as concepções das crianças sobre o
sistema de escrita. A nossa compreensão dos problemas, tal
Padrões Evolutivos - Ao longo do ano escolar: diários de classe, relatórios de avaliação, relatórios de estágio
- 33% passam de um nível de conceitualização sem omitir e outros.
passo.
- 38% seguiram passos semelhantes, porém omitindo o
nível silábico-alfabético. FONSECA, Vitor da.
- 13% não mostraram qualquer progressão de um nível ao Desenvolvimento Psicomotor e
seguinte e nenhuma permaneceu no silábico-alfabético.
- (25) crianças que entraram no nível silábico-alfabético Aprendizagem. Porto Alegre:
não tiveram problemas. Artmed, 2008
- 16% passaram do pré-silábico ao alfabético (cumprem as
expectativas da escola).
- 71% passaram por outros tipos de escrita. Ao abordar a temática “Desenvolvimento Psicomotor e
- 52% passaram pelo silábico (451 crianças). Aprendizagem”, numa perspectiva intercultural, uma vez que
- 87% ingressaram ao nível silábico e chegaram ao vamos servir de contributos de pioneiros europeus, norte-
alfabético. americanos e russos, temos que prioritariamente reformular,
ou refundar, epistemologicamente o que entendemos por
De outra parte, as crianças que ingressaram no pré-silábico Psicomotricidade.
(708) não chegaram ao alfabético na mesma proporção.
- 55,5% (das 393) chegaram ao alfabético. Serve portanto este trabalho para explicar as nossas fontes
- 14,5% (103) chegaram ao silábico-alfabético. de estudo e de inspiração e as nossas raízes reflexivas,
- 15% (107) chegaram ao nível silábico. pretéritas e prospectivas, sobre um tema tão interessante e
- 14,8% (105) permaneceram ao longo do processo sem abrangente. Abordaremos preferencialmente as relações
compreender a relação escrita na pauta sonora das emissões. entre o desenvolvimento psicomotor e a aprendizagem, mais a
psicomotricidade do que efetivamente a aprendizagem, e mais
Conclusão: A partir dos dados, observa-se que só as a aprendizagem não simbólica e não verbal, do que a
crianças de nível silábico ou silábico-alfabético apresentam-se aprendizagem simbólica e verbal.
"maduras" para ingressar no 1° grau. Isto significaria deixar
80% das crianças fora da escola sendo que são as que mais A Psicomotricidade pode ser definida, em termos
necessitam de escolarização. necessariamente reduzidos, como o campo transdisciplinar
que estuda e investiga as relações e as influências, recíprocas
Capítulo 4 - Deve-se ou não se deve ensinar a ler e e sistémicas, entre o psiquismo e a motricidade.
escrever na pré-escola? Um problema mal colocado.
A polêmica sobre a idade ótima para o acesso à língua O psiquismo nesta perspectiva é entendido como sendo
escrita ocupou milhares de páginas escritas por vários constituído pelo conjunto do funcionamento mental, ou seja,
pesquisadores. O problema sempre foi colocado tendo por integra as sensações, as percepções, as imagens, as emoções,
pressuposto serem os adultos que decidem quando essa os afetos, os fantasmas, os medos, as projeções, as aspirações,
aprendizagem deverá ou não ser iniciada. Para Ferreiro, a as representações, as simbolizações, as conceptualizações, as
função da pré-escola deveria ser de permitir às crianças que ideias, as construções mentais, etc., assim como a
não tiveram convivência com a escrita, informações básicas complexidade dos processos relacionais e sociais.
sobre ela, em situações de uso social (não meramente escolar).
Para tanto é necessária imaginação pedagógica para dar às O psiquismo, nesta dimensão integra a totalidade dos
crianças oportunidades ricas e variadas de interagir com a processos cognitivos, compreendendo as funções de atenção,
linguagem escrita: de processamento e integração multissensorial (inteiro,
- Formação psicológica para compreender as respostas e próprio e exteroceptiva), de planificação, regulação, controlo e
as perguntas das crianças. de execução motora.
- Entender que a aprendizagem da linguagem escrita é
muito mais que a aprendizagem de um código de transcrição e A ativação de tais funções psíquicas corresponde a vários
sim a construção de sistema de representação. substratos neurológicos de origem filogenética e emergidos
num contexto sociogenético, subentendendo uma plasticidade
neuronal, uma hierarquização funcional e uma auto-
FONSECA, Lúcia Lima da. O atualização internalizada que se desenvolvem ao longo da
universo na sala de aula: uma ontogénese, mas que tendem a delapidar-se no processo
experiência em pedagogia de inevitável da retro gênese.
projetos. Porto Alegre: A motricidade nesta dimensão é entendida como o
Mediação, 2009 conjunto de expressões mentais e corporais, envolvendo
funções tónicas, posturais, somatognósicas e práxicas que
suportam e sustentam as funções psíquicas. Com base neste
176Relatando em detalhes o dia a dia de uma sala de aula pressuposto, a motricidade não pode ser compreendida
com uma turma de crianças de quatro a seis anos, a autora apenas nos seus efeitos extrassomáticos, aliás como a
mostra como podem se articular vários projetos pedagógicos, linguagem, uma vez que ela depende de motivações,
ao longo de um semestre, apresentando também suas significações internas e fins que a justificam, não sendo
reflexões teóricas. Sua proposta pedagógica parte do Projeto possível portanto, separá-la dos processos psicológicos que a
Universo, cuja continuidade articula-se a partir dos interesses integram, representam, elaboram e executam, na medida em
ou necessidades das crianças e da professora, envolvendo que ela se encontra sempre em coesão e coibição com a
novas descobertas, conflitos afetivos e cognitivos. Indicado a fenomenologia das necessidades, com a contextualização das
estudantes e professores que se interessam pela escrita de situações e com a diversidade das circunstâncias, a partir das
176 FONSECA, Lúcia Lima da. O universo na sala de aula: uma experiência em
quais é desencadeada como ato significativo e intencional biológicas, mas também das ciências humanas e doutros
único entre os seres vivos. domínios que abrangem secâncias transdisciplinares que
integram outros paradigmas nomeadamente: da filosofia, da
Ao longo da evolução da espécie (filogénese e fenomenologia, da biosemiótica, da antropologia, da
sociogénese) e do desenvolvimento da criança e do jovem epistemologia genética, da psicologia evolutiva e diferencial,
(ontogénese), a motricidade permitiu, permite e permitirá, a da psicossomática, da psicofisiologia, da neuropsiquiatria, da
sobrevivência e afiliação, a manutenção de estilos de vida psicanálise, da psiquiatria, da neuropsicologia, da defectologia,
(caça, recolecção, etc.) e a fabricação de utensílios e da patologia, da psicopedagogia, da ecologia humana, da
tecnologias, a domesticação de animais e a produção de obras sociologia, etc. A construção do saber em psicomotricidade
de arte, a invenção e expressão da fala e da escrita, ou seja, foi, estabelece inevitavelmente relações com outros domínios
é e será a plataforma a partir da qual o pensamento reflexivo, conexos e apropria-se doutros fundamentos conceptuais
a cultura e a civilização se perpetuaram, se conservam e se co- exteriores a ela própria, sendo esta estratégia uma
construirão. virtualidade da sua orientação epistemológica.
- Multiexperiencial, dado que procura estudar e pesquisar
Neste pressuposto, a psicomotricidade tem como a implicação da psicomotricidade no processo do
finalidade principal o estudo da unidade e da complexidade desenvolvimento e des-desenvolvimento humano
humanas através das relações funcionais, ou disfuncionais, consubstanciando a diversidade da experiência e da
entre o psiquismo e a motricidade, nas suas múltiplas vivência, desde o recém- nascido ao idoso (sénior), desde o
manifestações biopsicossociais e nas suas mais diversificadas indivíduo inexperiente ou imaturo ao experiente ou
expressões, envolvendo concomitantemente, a investigação, a sobredotado, desde o indivíduo normal ao indivíduo com
observação e a intervenção ao nível das suas dissociações, deficiências, dificuldades e ou desvantagens (ou com
desconexões, perturbações ou transtornos ao longo do necessidades especiais), em qualquer atividade ou
processo do desenvolvimento. manifestação da sua conduta e cultura, etc.
Partindo duma matriz teórica original, multi e - Multicontextual, na medida em que visa projetar o nível
transdisciplinar, a psicomotricidade estuda e pesquisa as de aplicação do seu conhecimento e intervenção nos vários
complexas relações recíprocas e sistémicas da motricidade contextos onde se integra e observa a atividade humana
com o todo da personalidade que caracteriza o indivíduo, nos seus múltiplos envolvimentos, desde a família, aos centros
especificamente nas suas expressões afetivo-emocionais e materno-infantis, desde o hospital aos centros de saúde, desde
psico-sócio-cognitivas. a educação pré-escolar à escola primária, da escola secundária
O objetivo principal da psicomotricidade visa, à universidade, desde os centros de lazer e recreação aos
consequentemente, aprofundar a influência das interações clubes desportivos, desde os centros de emprego à total
recíprocas entre a motricidade e o psiquismo humanos, inclusão do indivíduo na sociedade em geral, isto é,
assumindo a unidade, a diversidade e a complexidade envolvendo todos os ecossistemas (micro, meso, exo e
transcendente da condição humana como componentes macrosistemas) e contextos onde o ser humano se desenvolve,
estruturantes do seu conhecimento. interage e integra como ser sócio-histórico.
Neste parâmetro de enquadramento conceptual, a A sua matriz científica e prática clínica encerra uma
motricidade é entendida como o conjunto de expressões concepção de educação, de reabilitação e de terapia
corporais não verbais e verbais (a linguagem não deixa de ser psicomotora, em cujo campo se integra a psicomotricidade
uma oromotricidade onde participam cerca de cem músculos), como um subsistema de conhecimento e de intervenção
que sustentam e suportam as manifestações do psiquismo, específica, para além doutros, que tem a finalidade de estudar
sendo este entendido como sendo composto pelo as condições predisponentes à maximização, optimização e
funcionamento mental total. modificabilidade máximas do potencial de adaptabilidade e
de aprendizibilidade, do indivíduo normal ou excepcional,
Cabem nesta concepção dinâmica, holística, sistémica e tendo em vista a sua acessibilidade eficaz aos vários
atuante do psiquismo, todos os processos cognitivos que ecossistemas, quer sejam naturais, culturais, quer
integram, planificam, regulam, controlam, monitorizam e arquitetônicos ou tecnológicos.
executam a motricidade, como uma resposta adaptativa
intencional, auto-engendrada e inteligível que ilustra a A visão de uma educação ou terapia ancorada à noção de
evolução da espécie e a evolução da criança, sendo este psicomotricidade, toma em consideração, não só o indivíduo
preferencialmente, o objeto nuclear da conferência. normal, como o indivíduo portador de deficiências, de
dificuldades e de desvantagens de vária ordem, como uma
A motricidade humana, a única que se pode designar como subjetividade transcendente como um todo único, original e
psicomotricidade, estudada em pressupostos claramente evolutivo, onde as funções da motricidade e da corporeidade
diferenciados da sensoriomotricidade animal, é portanto são consideradas indissociáveis das funções afetivas,
compreendida como suporte das funções mentais próprias e relacionais, linguísticas e cognitivas.
exclusivas do ser humano, donde emana a sua identidade O corpo e a motricidade, são concebidos em
singular e plural em muitos aspectos do seu psicomotricidade como uma imanência absoluta onde habita a
desenvolvimento, da sua adaptabilidade, da sua aprendizagem subjetividade e a auto-consciência, donde emana um ser vivo
e da sua socialização. e original situado no mundo e em perfeita interação com ele.
A concepção triárquica da psicomotricidade que tem Como entidades vivas, o corpo humano e a motricidade
sido estudada e investigada, ao longo de mais de cem anos humana não se reduzem a uma pura realidade biológica, na
pode apontar na nossa óptica, tendo por analogia a concepção medida em que agregam uma dimensão metafísica. Como
de sistemas complexos de conhecimento, para três vectores organismo complexo que é, o ser humano é portador de uma
paradigmáticos a saber: o multicomponencial, o experiência interna transcendente, ascende a uma
multiexperiencial e o multicontextual. dimensão ontológica onde emerge o sentimento íntimo e o
conhecimento interno imediato do Outro e do seu Eu, da sua
- Multicomponencial, porque procura integrar de forma consciência, atributos inseparáveis da sua natureza.
coerente e sistémica os contributos não só das ciências A psicomotricidade considera ainda preponderante em
duma psicoterapia mediada pelo corpo e pela motricidade Para Wallon 1925 apud Fonseca 2012, p.13, o movimento
do indivíduo, com base nela, procura reduzir os sintomas de é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo.
perturbação da sua personalidade evolutiva, reforça os seus Distinto, que também muito influenciou a teoria e a prática da
poderes relacionais e interacionais e promove a sua Psicomotricidade foi Piaget.
modificabilidade instrumental e operativa no sentido da Voltando a Wallon, a psicomotricidade a luz dele e de
maximização do seu potencial psicomotor, isto é, motor, Ayuriaguerra, concebe os determinantes biológicos e culturais
afetivo e cognitivo. do desenvolvimento da criança como dialéticos e não como
Em síntese, a psicomotricidade tem por objeto de estudo a redutíveis uns aos outros. Ganhando uma expressão
globalidade do ser humano, no plano teórico e prático, a ela significativa, que traduz a solidariedade profunda e original
combate a dicotomia do soma e do psíquico, ensaiando pelo entre a atividade psíquica e a atividade motora. Caminhando
contrário a sua fusão e unificação complexa e dialética. em outra direção, teremos de destacar na área da
Tendo por finalidade abordar nesta palestra as Psiconeurologia do movimento os nomes de: Ozeretsky
implicações recíprocas entre o desenvolvimento psicomotor e (divulgado muito antes por Guilman), Vygotsky, Bernstein,
a aprendizagem na criança e no jovem, com base no contributo Zaporozhets, Elkonin, Galperin e Luria.
de vários autores oriundos de várias culturas, não quisemos Fica por conta dos soviéticos, a introdução em Psicologia,
deixar de colocar nesta introdução abrangente, os paradigmas do conceito de que a origem de todo o movimento e de toda a
que hoje, na nossa perspectiva, desenham a matriz teórica da ação voluntária não ocorre dentro do organismo, mas a partir
psicomotricidade. da história social do homem.
Pensamos que desta forma os leitores podem apreciar de
forma mais contextualizada os diferentes abordagens sobre o A Psicomotricidade por Vitor da Fonseca
desenvolvimento psicomotor e a aprendizagem, propostas por
especialistas europeus, norte-americanos e russos. Vitor da Fonseca é professor catedrático agregado da
Apesar da origem da psicomotricidade ter sido em França Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica
e dela se ter expandido preferencialmente para os países de Lisboa. Mestrado em Dificuldades de Aprendizagem pela
mediterrânicos e latino-americanos, na nossa linha de Universidade de Northwestem (Evanston - Chicago).
pensamento os contributos dos autores norte-americanos e Especializado em Psicopedagogia, Neuropsicologia e
dos autores russos, apresentam contribuições muito Psicomotricidade.
relevantes para o desenvolvimento conceptual da Responsável Clínico, ao longo de 30 anos, em vários
psicomotricidade. centros de observação e reeducação psicoeducacional
Pretendemos com este livro, contribuir para uma privados, dedicados a crianças com atrasos de
perspectiva intercultural mais alargada da desenvolvimento e a crianças com as mais diversas
psicomotricidade, mesmo tendo consciência do muito que há dificuldades. Criador da Bateria Psicomotora.
a explorar noutras culturas para que ela se liberte de amarras A BPM é um conjunto de situações ou tarefas que buscam
conceptuais que a limitam na sua universalidade. analisar de forma dinâmica o perfil psicomotor da criança,
procurando em concordância com a organização funcional do
cérebro, proposta por A.R. Luria. Mas devemos nos atentar que
FONSECA, Vítor da. Manual essa bateria não nos fornece informações neurológicas e
de observação psicomotora: patológicas muito detalhadas.
significação psiconeurológica Entretanto, é interessante, a aproximação entre a
Psicomotricidade e a Psiconeurologia, pois tenta introduzir
dos fatores psicomotores. Rio uma ciência que estuda as relações entre o comportamento
de Janeiro: Wak, 2012 humano e as funções do sistema nervoso - a Psiconeurologia.
177 G r a z i e l le F a ch i n i -
h t t p : / / i n f i n i t y de se n v olv i me n t o. c o m. br / b l o g/ 2 0 1 6 / 1 2 / 0 6 / a -
p si c o m ot r i ci da de -p or -v i t or - da - f o n se ca /
É realizada assim, uma analogia entre o modelo campo fértil para a elaboração de uma Pedagogia ou de
psiconeurológico de Luria e os fatores psicomotores da BPM. Pedagogias diferenciadas para o século XXI.
A organização dos fatores (que são sete), apresentam-se em Trata-se de uma coletânea de textos cujos autores
termos ontogenéticos, confirmando a hierarquização vertical brasileiros e portugueses dialogam com o passado e
do modelo luriano: tonicidade (do nascimento aos 12 meses), apresentam a vida, as principais ideias e as contribuições
equilibração (dos 2 aos 3 anos), noção do corpo (dos 3 aos 4 desses pensadores para a sinalização de novas Pedagogias da
anos), estruturação espaço-temporal (dos 4 aos 5 anos), praxia Infância. Para que o leitor possa ter uma maior visibilidade
global (dos 5 aos 6 anos) e a praxia fina (dos 6 aos 7 anos). dessa importante obra, apresentamos as principais questões
Cada fator, será definido em termos psiconeurológicos e abordadas nos diferentes textos.
subdividido nos seus subfatores, conforme uma ficha de O livro inicia com o capítulo: “Pedagogia(s) da Infância:
registro da BPM. Na ficha, serão registradas as respostas da reconstruindo uma práxis de participação”. Neste, Júlia
criança e uma cotação definida em termos comportamentais. Oliveira-Formosinho procura contribuir para a construção de
Considerações serão apresentadas sobre a significação uma Pedagogia baseada em uma práxis alicerçada em crenças,
psiconeurológica e funcional dos sinais detectados. teorias e ações na forma de um movimento triangular que
Em todos os fatores e subfatores, o nível de realização é conduz a processos reflexivos contínuos. Para a autora “ser
medido numericamente, em uma cotação de 1 a 4, sendo: 1 profissional reflexivo é fecundar antes, durante e depois a
apraxia, 2 dispraxia, 3 eupraxia e 4 hiperpraxia. Segundo ação, as práticas nas teorias e nos valores, interrogar para
Fonseca, a qualidade do perfil psicomotor da criança, reflete o ressignificar o já feito em nome da reflexão que
grau de organização neurológica das três principais unidades, constantemente o reconstitui” (p. 14).
segundo Luria, está indubitavelmente associada ao seu Além disso, a autora apresenta e compara dois modos de
potencial de aprendizagem, quer fundamentalmente em fazer Pedagogia: a Pedagogia da Participação que é valorizada
termos de dificuldade. pelo fato de estar fundamentada nessa práxis e em constante
Enfim, a BPM apresenta-se com base nesta ideia, tendo processo interativo de diálogo com a sociedade, com as
como finalidade, detectar e identificar crianças com crianças e suas famílias; e a Pedagogia da Transmissão
dificuldades de aprendizagem, é um instrumento de avaliação baseada no modo tradicional de fazer Pedagogia e centrada no
psicopedagógico, pois pode ser utilizado para reconhecer conhecimento que se deseja transmitir, ignorando os
precocemente as dificuldades e assim poder intervir. contextos e os sujeitos envolvidos no processo de veiculação
de saberes.
No texto é apresentado também um confronto entre esses
FORMOSINHO, Julia Oliveira. dois modos de fazer Pedagogia a partir de John Dewey, com o
Pedagogia da infância: objetivo de afastar qualquer incompreensão acerca do que é
uma educação não- tradicional.
dialogando com o passado: É importante ressaltar que a autora expõe algumas tarefas
construindo o futuro. Porto para os envolvidos com a educação da infância, que segundo
Alegre: Artmed, 2007 ela, são centrais na Pedagogia de Participação, entre essas
tarefas está a escolha de gramáticas pedagógicas, um modo de
saber-fazer para fundamentar a práxis que pode
Dialogando com o passado, construindo o futuro178 ampliar/potencializar conhecimentos (janelas) ou limitá-los
Pedagogia(s) da Infância: dialogando com o passado: (muros). No decorrer do texto Oliveira- Formosinho
construindo o futuro, obra organizada por Júlia Oliveira- argumenta sobre a importância dos contextos e, no caso da
Formosinho, Tizuko Morchida Kishimoto e Mônica Appezzato escola, um contexto social de atores que partilham metas e
Pinazza, traz contribuições relevantes e significativas para a memórias e que constroem intencionalidades educativas. No
história da educação e da educação infantil. decorrer do texto discorre sobre cada uma dessas tarefas e
Em tempos de reprodução de modelos e modismos finaliza afirmando a importância dos educadores adotarem
assumidos acriticamente por muitos educadores e de busca algum modelo pedagógico e a necessidade de pertencerem a
por uma perspectiva de educação da infância, a obra se reveste um coletivo de educadores, como garantias para sustentação
de fundamental importância ao revisitar teorias e pensadores da sua autonomia docente, constituídos em comunidade de
do passado, que estão presentes em muitas propostas e aprendizagem, uma maneira de entender processos de
experiências pedagógicas para a infância no mundo e no Brasil, formação continuada que permita recriar uma cultura
anunciando caminhos férteis para perspectivas futuras de profissional e uma epistemologia da prática congruentes.
Pedagogia(s) da Infância. A Pedagogia da Infância insere-se, segundo Oliveira-
O projeto de elaboração da obra surgiu do princípio de que Formosinho, num mundo de interações orientadas para
a Pedagogia, sendo um produto de construção sócio-histórica, projetos colaborativos em um contexto promotor da
está em um contínuo processo de (re)construção. Sendo assim, participação, entendendo que sujeito e contexto unificam-se
para que essa (re)construção ocorra, é necessário fazermos no âmbito da cultura. Salienta que os processos principais de
uso da rica memória pedagógica para recriar e construir novas uma Pedagogia da Participação são: a observação, a escuta e a
pedagogias para o presente e para o futuro. Partindo dessa negociação, que conduzem à diferenciação pedagógica: “uma
ideia, o livro efetua um diálogo com grandes autores da base para desenvolver um fazer e um pensar pedagógico que
primeira metade do século XIX e do século XX, procurando fogem à fatalidade” (pg.29).
demonstrar “o movimento próprio da Pedagogia: Em: “Fröebel uma Pedagogia do brincar para a infância”,
desconstrução- reconstrução”. Tizuko Morchida Kishimoto e Mônica Appezzato Pinazza
Os autores com os quais o livro dialoga são: Fröebel, apresentam ao leitor um significativo panorama da vida e da
Dewey, Montessori, Freinèt, Piaget, Vygotsky, Bruner e obra do filósofo e educador alemão Friederich Fröebel, o
Malaguzzi. Esses autores trazem ideias e imagens novas de fundador do primeiro jardim-de-infância na Alemanha e
criança, de adulto, de professor, de desenvolvimento infantil e também o primeiro educador a enfatizar o brinquedo e a
de ensino aprendizagem. Suas ideias tornam-se, portanto, um atividade lúdica como instrumentos essenciais no
desenvolvimento da criança pequena e da linguagem.
178GOMES, M. O; PASCHOIM, A. S. -
http://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n37/a11v17n37.pdf
As autoras analisam a Pedagogia de Fröebel que está anual. Analisam ainda a questão do trabalho na Pedagogia
fundamentada em sua Lei de Desenvolvimento Humano: a lei Freinetiana, que é apresentado como uma atividade séria que
das conexões internas (unidade entre Deus, Homem e se distingue do jogo e das brincadeiras. São elencados também
natureza). A essência dessa Pedagogia é a ideia de auto- os princípios da filosofia educacional de Freinet sintetizados
atividade e liberdade, a educação deve basear-se na evolução no “Código de Educação”. Elias e Sanches reconhecem que a
natural das atividades da criança e estar, necessariamente, reflexão sobre a Pedagogia Freinetiana da infância promoveu
relacionada à vida. Kishimoto e Pinazza destacam também a uma desconstrução crítica acerca da dimensão social da
educação e o cuidado para crianças menores de três anos de educação, lançando luzes sobre os processos de aprendizagem
idade e a formação do professor que Fröebel propõe com pela criança, sobretudo devido à importância do trabalho
ênfase nas linguagens do brincar, além da consideração da criativo.
palavra e do desenho como formas de representação. Alertam Em: “Celéstin Freinèt: trabalho, cooperação e
ainda para a importância da relação adulto-criança, e a aprendizagem” novamente os autores Joaquim Machado de
necessária crítica por parte dos educadores a respeito de Araújo e Alberto Filipe Araújo analisam, por outro ângulo, a
práticas e de interpretações, por vezes, equivocadas da Teoria obra de Freinèt, no contexto educacional da época,
Froebeliana. apresentando o movimento de renovação pedagógica
Em: “John Dewey: inspirações para uma Pedagogia da desenvolvido por sua proposta educacional na valorização das
Infância”, de Mônica Appezzato Pinazza, realiza um encontro técnicas educativas e na proposição de uma nova escola para o
com a obra do filósofo americano Dewey e apresenta o povo trabalhador: a Escola-Oficina. Relevam nessa teoria a
conceito de experiência no qual a Pedagogia Deweyana está importância do trabalho escolar como práxis docente, da
assentada, o conceito de pensamento reflexivo, no qual o expressão livre e a imprensa escolar. Para os autores, a grande
filósofo propõe a formação reflexiva tanto da criança como do contribuição de Freinèt para a educação “está na sua proposta
professor e o conceito de educação como processo social e de metodologia da escola e das aulas e no compromisso do
democrático. A autora demonstra que, o filósofo defende uma professor com o contexto social” (p.188).
educação progressiva assentada na conexão entre a Em: “As contribuições da teoria de Piaget para a Pedagogia
experiência primária e a experiência mais elaborada e defende da Infância”, de Fátima Vieira e Dalila Lino, analisa a obra do
uma educação baseada na investigação protagonizada pela biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget, destacando os seus
própria criança, tornando-a sujeito de seu próprio principais conceitos de epistemologia genética, os processos
conhecimento (o aprender-fazendo). Finaliza o texto de construção do conhecimento e a teoria do desenvolvimento
afirmando que é necessário reconhecermos as “fontes da moral na criança. Vieira e Lino enfatizam que o autor nunca
inspiradoras” do passado para que realmente venhamos foi e nem pretendeu ser pedagogo, mas reconhecem que sua
construir novas Pedagogias da Infância com as grandes teoria apresenta importantes conceitos para a Pedagogia da
contribuições deixadas por Dewey. Nesse aspecto as Infância como, por exemplo, a noção de construção de
concepções sobre reflexão e investigação na formação do conhecimento e o papel ativo da criança nessa construção.
professor têm nesse autor uma fonte inspiradora. Em: “Vygotsky: uma abordagem histórico- cultural da
Em: “Maria Montessori: uma mulher que ousou viver educação infantil”, Alessandra Pimentel faz uma análise da
transgressões”, por Maristela Angotti, apresenta a vida e as teoria histórico-cultural desenvolvida por este autor e seus
sofridas conquistas alcançadas pela primeira mulher da Itália companheiros Luria e Leontiev. Vygotsky buscava por meio
a obter o diploma de médica e que, com muita ousadia dessa teoria a compreensão do desenvolvimento do psiquismo
enfrentou o fascismo e lutou a favor dos direitos das mulheres humano e tentava articular informações dos diferentes
e das crianças. componentes que integram os processos mentais:
A autora apresenta também alguns conceitos da Pedagogia neurológico, psicológico, linguístico e cultural. No decorrer do
Científica de Montessori. O princípio básico que sustenta essa texto, Pimentel apresenta algumas implicações do jogo no
Pedagogia está na organização de um ambiente adequado e desenvolvimento cognitivo da criança, focando a sua análise
motivador, que possibilita à criança educar os sentidos, a nas relações existentes entre aprendizagem e
despertar para a vida intelectual e se preparar para a vida desenvolvimento, procurando demonstrar a importância da
prática. O desenvolvimento dos sentidos é visto como sendo a brincadeira lúdica no desenvolvimento da linguagem, na
base para toda educação. Angotti conclui afirmando que é criação de Zonas de Desenvolvimento Proximal e,
inegável a riqueza e a contribuição educacional deixada por principalmente, na relação ensino-aprendizagem.
Montessori, pois ela estabelece elementos, principalmente a Em: “Brincadeiras e narrativas infantis: contribuições de J.
respeito da criança, que devem ser utilizados para a Bruner para a Pedagogia da Infância”, Tizuko Morchida
elaboração de uma nova educação para as crianças pequenas. Kishimoto, além de traçar algumas concepções principais da
Em: “Maria Montessori: infância, educação e paz”, Joaquim teoria do autor, apresenta uma das grandes contribuições de
Machado de Araújo e Alberto Filipe Araújo analisam, de Bruner para a educação infantil que é o desenvolvimento da
maneira específica, as principais ideias da perspectiva representação da mente narrativa pela brincadeira,
educacional de Montessori, os princípios que as sustentam apresentando o valor que Bruner atribui às histórias de contos
como a individualidade, o conceito de autoeducação, de fadas que auxiliam a criança na organização do pensamento
fundamentado na liberdade e no conceito de normalização e a por meio da “categorização” e a sua proposta de educação para
contradição que ela estabelece entre o mundo do adulto e da a equidade. Conclui afirmando que Bruner é um dos gigantes
criança. Além disso, fazem uma análise da natureza mitológica do século XX que, ao desenvolver uma Pedagogia sócio-
do discurso educativo e da concepção de criança da Pedagogia construtivista, propôs mudança nos conceitos educacionais,
de Montessori, afirmando que ela é marcada pela visão cristã em especial, pela importância que atribuiu à escuta das
de infância. múltiplas vozes da criança.
Em: “Freinèt e a Pedagogia - uma velha história muito Em: “Loris Malaguzzi e os direitos das crianças pequenas”,
atual”, Marisa Del Cioppo Elias e Emília Cipriano Sanches, Ana Lúcia Goulart de Faria analisa a Pedagogia da Infância do
apontam o contexto político, cultural e social em que viveu o italiano Malaguzzi, levada a efeito na região da Reggio Emilia
educador francês Celéstin Freinèt e sua formação e (situada ao norte da Itália). Segundo a autora, a Pedagogia de
engajamento políticos. Apresentam a proposta inovadora da Malaguzzi é uma Pedagogia inovadora, criativa que valoriza as
Pedagogia de Freinèt: uma nova organização de escola e um múltiplas relações e as diferentes linguagens da criança e que
novo modelo de gestão, de espaço e de tempo, com a abolição tem na arte, o seu fundamento e na equidade, sua finalidade.
da seriação, das divisões das disciplinas e de um programa Para Faria: “o trabalho coletivo na rede pública, com
professores especializados “em normalidade”, garante para as classificatória, pois para ela o professor exige critérios rígidos
crianças, parafraseando Marx, as “condições dadas” para elas de aprovação. A crítica é ao ensino e as condições
fazerem história.” (p. 286). A autora reproduz também “Uma socioeducacionais da rede pública como um todo. O educador
carta dos três direitos”, redigida por Malaguzzi, que apresenta deve ter o comprometimento de manter o aluno na escola,
direitos diversos, mas complementares, da criança, dos pais e favorecendo o acesso ao saber, dando continuidade aos
dos educadores e que fundamentam a gestão social, estudos. É necessário perceber que a educação é um direito da
participativa e ativa em instituições de educação infantil criança e ela precisa reivindicar uma escola com qualidade.
daquela região, acentuando que os direitos das crianças não Pensando de forma saudosista (tradicional), o ensino nos
estão dissociados dos direitos da família e da efetiva cidadania. leva a uma concepção elitista, ou seja, que nega as diferença
Em: “Anônimo do século XXI: a construção da Pedagogia dos alunos e tenta sistematizar a educação. Não podemos
Burocrática”, João Formosinho e Joaquim Machado Araújo negar o modo multicultural do o “viver” dos alunos, pois
apresentam a “Pedagogia Burocrática” pensada como limitaremos a nossa ação pedagógica.
“Pedagogia Ótima” fundamentando-se no caráter legal das Hoje uma boa escola entende que deve trabalhar pelos
normas e regulamentos oficiais que serviram e servem para alunos, encaminhando-os para o desenvolvimento e
despersonalizar as atividades dos professores e o trabalho trabalhando por uma educação igualitária, acolhendo a todos
pedagógico desenvolvidos na instituição escolar. Segundo os em sua realidade concreta. A inovação a respeito da aplicação
autores não é possível identificar um autor como personagem de provas e atribuição de notas é a maior expectativa dos
individual para essa Pedagogia, mas afirmam que o “autor educadores que sentem sua pratica (tradicional) pouco
anônimo” está presente nos níveis centrais de administração coerente com a realidade dos alunos.
da educação e nas diferentes formas de controle do trabalho A sociedade reage de forma negativa às mudanças de
pedagógico. Além desses aspectos, eles apresentam a paradigmas e ao fim do sistema tradicional de avaliação,
burocracia inspirada em Max Weber, a decisão do sistema de porque todos estão acostumados a esse modelo de ensino (a
ação burocrática e a imagem de criança, professor e de escola mudança gera insegurança). O projeto de “Progressão
que a “Pedagogia Burocrática” apresenta, lançando às margens Continuada” surgiu devido aos altos índices de evasão e
as propostas e práticas pedagógicas alternativas. retenção de alunos. O objetivo não foi extinguir a avaliação, ao
A obra sinaliza perspectivas e orienta educadores e contrário, o professor deve sim avaliar o rendimento e
pesquisadores interessados em revisitar as inspirações desenvolvimento escolar de seus alunos, mas não com a
teóricas dos autores analisados. Parafraseando Horckeimer finalidade de reprová-lo.
(1978) “não se trata de conservar o passado, mas de resgatar A proposta de progressão tira o compromisso de aplicar
as esperanças do passado”. Tempos e esperanças históricos avaliações apenas pela obrigação de ter uma nota no fim do
que se entrecruzam nos princípios e concepções que têm em bimestre, isso traz um grande choque para os professores que
comum o respeito e a valorização dos direitos das crianças utilizam a avaliação como ferramenta de autoridade
como produtoras de cultura e sujeitos capazes, desde o (intimidam o aluno a partir da nota), pois eles sentem que
nascimento. Consideramos que mais do que o “dom”, perdem parte de sua autoridade em sala, já que o aluno sabe
condições preexistentes que a concepção inatista apregoou que não vai “repetir de ano”.
para o desenvolvimento infantil, trata-se hoje de criar o “dão” Para professores tradicionais as provas e notas são “redes
(o dar, o criar, o construir condições) para a efetiva de segurança” para o trabalho docente, e essa ideologia já está
possibilidade de fruição e recriação dos direitos da infância e impregnada no sistema de ensino. Se esse paradigma de
dos educadores que se dedicam a esse segmento etário, qualidade escolar a partir de notas classificatórias não mudar
condições essas fundamentais para a emergência de novas nunca nos focaremos no verdadeiro objetivo da escola, que é
Pedagogias. “educar”.
O sucesso do aluno na escola tradicional representa o seu
desenvolvimento máximo possível? Não, pois há várias
HOFFMANN, Jussara Maria. contradições nesse modelo de avaliação, e o maior exemplo
Avaliação mediadora, uma disso é quando alunos tachados de “ruins” tornam-se
excelentes profissionais, enquanto outros alunos “excelentes”
prática em construção da pré- não conseguem se encaixar na sociedade e no mercado de
escola à universidade. Porto trabalho.
Alegre: Mediação, 2010 O que a autora pretende nos mostrar é que o sucesso
alcançado por alguns alunos em escolas tradicionais tem a ver
a “memorização”, estudar apenas para passar nos exames,
179Por uma escola de qualidade depois a maior parte do aprendizado acaba sendo esquecido.
Há a questão da melhoria da qualidade de ensino e da Essa memorização não agrega significado algum ao longo da
avaliação classificatória. Superar a pratica tradicional hoje em vida do aluno, por isso é descartada.
dia é uma tarefa difícil de pensar na avaliação classificatória As crianças e adolescentes frequentam a escola por
como garantia na melhoria de qualidade do ensino. imposição, seja de pais ou do Estado, e a escola muitas vezes
As escolas demonstram medo quando tratam de inovações acaba sendo insignificante para as suas vidas, pois não
da avaliação, pois essas mudanças acabam gerando as trabalha com o que eles entendem, não faz sentido na “vida
principais criticadas da sociedade em relação à educação real” do aluno.
(medo de uma avaliação fraca). A realidade atual das nossas No construtivismo a aprendizagem alcançada pela criança
escolas não pode ser considerada como competente, uma vez se dá a partir da convivência com o meio, e a escola da essa
que não atende adequadamente os alunos que recebe. Em oportunidade. O termo tratamento de qualidade é
muitas escolas públicas ocorrem sempre os mesmos casos: interpretado, então, de diversas maneiras, uma na qualidade
Muitas turmas, sala superlotada, e ao final de cada ciclo muita que se confunde com “quantidade”, e outra, na perspectiva
“evasão e retenção”. mediadora, onde se busca desenvolver o máximo possível do
A autora cita o acesso a todas as crianças no ensino aluno.
fundamental e critica a reprovação por meio de avaliação
Sendo assim, o objetivo de uma escola que segue o Uma pesquisa realizada com 30 professores estaduais de
paradigma construtivista é trabalhar por uma educação Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, em Porto
significativa, de qualidade, para todos os alunos do país, e não Alegre, apresenta justificativas para a indagação: “por que um
classificá-los e excluí-los, como ocorre no paradigma aluno não aprende?”. Com a análise dos resultados foi possível
tradicional. constatar que todos os professores justificam a não
aprendizagem pela metodologia inadequada do professor. Isso
As charadas da avaliação mostra a responsabilidade que o professor remete a si sobre o
A autora inicia o segundo capitulo com uma charada fracasso do aluno, porém, divide essa culpa com os alunos, os
destinada a um grupo de professores, levantando as possíveis quais não apresentam interesse.
respostas. A saber, a charada é: “Uma pessoa mora no 18º Outras respostas merecem destaque nessa pesquisa:
andar de um prédio de apartamentos, todos os dias desce pelo apenas três professores consideram que falta a relação de
elevador para ir ao seu local de trabalho, ao final do diálogo na escola, necessária para a construção do
expediente, retornando para casa, vai pelo elevador até o 13º conhecimento: o aluno não tem espaço para se expressar, falar
andar e sobe os demais andares pela escada. Isso se repete suas opiniões, discutir suas ideias e duvidas, e somente um
todos os dias. Você saberia dizer por quê?”. professor apresentou a falta de conhecimento do educador
Na discussão surgiram várias respostas válidas e lógicas e, quanto às questões de aprendizagem como justificativa.
um ou dois professores descobrem qual está no livro. É Os professores, reunidos em Conselho decidiram que essa
interessante revelar a necessidade dos professores em aluna deveria prestar mais atenção nas aulas, realizando todas
descobrir a resposta correta e apresentar dúvidas sobre quem as tarefas solicitadas e estudar mais em casa. Nesse contexto,
descobriu a charada. pode-se observar que a melhoria do desempenho é de
Essa situação objetiva uma reflexão sobre a indagação: responsabilidade exclusiva da aluna.
“por que o aluno não aprende?”, sendo esta uma das questões Ao levantar hipóteses sobre essa situação, percebe-se que
mais complexas que a pratica avaliativa propões. as disciplinas que a aluna apresenta dificuldades (História,
A forma tradicional procura respostas certas, uniformes, Geografia e Língua Portuguesa) envolvem práticas de leitura,
objetivas e precisas para perguntas, as quais podem ter várias escrita e interpretação de textos, trabalhadas, talvez, com
respostas possíveis e lógicas, semelhantes à charada intuito de memorização. Isso resulta uma visão beharovista,
mencionada anteriormente. Essa situação pode ser comparada que sugere que o aluno não aprende por não fazer as tarefas
ao processo de aprendizagem, no que diz respeito a respostas propostas, manter-se desatento as explicações do professor,
muito diferentes dos alunos ou apenas um que acerta todas as não ser um “bom aluno”.
questões da prova. Usam-se métodos convencionais na A teoria de Piaget contribui para o avanço de sérias
avaliação, deixando de refletir sobre como se constrói o questões da pratica avaliativa. Leva ao professor a reflexão
conhecimento. sobre suas tradicionais “culpas” e o entendimento de como se
Embora atualmente muitos questionem o método constrói o conhecimento em cada estágio de desenvolvimento
tradicional de avaliação, denunciando suas incoerências, está da criança, percebendo a aprendizagem como um processo
difícil de acreditar em caminhos possíveis para essa prática contínuo e inacabado (Teoria Construtivista).
que tenham significado. Daí surge à necessidade de se adotar O aluno constrói seu conhecimento na interação com o
a postura construtivista de educação. meio em que vive, dessa forma depende das condições que o
Hoffman nos atenta ao fato de existirem outras razões para meio oferece, da vivencia de objetos e situações para avançar
o aluno não aprender, e não exclusivamente a desatenção as determinados estágios de desenvolvimento e estabelecer
explicações do professor. Essa situação leva muitos relações mais complexas e abstratas. A compreensão dos
professores a pensarem em sua pratica avaliativa em sala de alunos decorre do seu desenvolvimento próprio em relação às
aula. áreas de conhecimento.
De forma tradicional, existem alunos que participam da Numa sala de aula não lidamos com pessoas iguais,
aula, fazem todas as atividades, são atentos às explicações e possuímos alunos de diversos ambientes, desde aqueles que
alcançam resultados; outros faltam às aulas, não realizam as vivem protegidos pelos pais (crianças que vivem em espaços
tarefas, são desatentos e não aprendem. Mas o que nos chama favoráveis a vivencias variadas), aos que ingressam cedo no
a atenção são situações que fogem da explicação tradicional: trabalho, para ajudar nas despesas do lar ou cuidar dos irmãos
alunos agitados que não apresentam dificuldades sérias e mais novos. Todos carregam consigo diversas experiências e
alunos que fazem as atividades, são atentos as explicações, aprendizagens, portanto não se pode esperar que eles tenham
“comportados”, e não aprendem. Para esta última situação a a mesma compreensão do material de leitura, de atividades
culpa é remetida ao professor ou ao aluno, encaminhando o dadas em aula.
educando a especialistas ou psicólogos. Considerando a aprendizagem como um processo em
A autora considera importante discutir os entendimentos construção, dependente das oportunidades que o meio
sobre os fracassos de aprendizagem, pois as “culpas” sobre tais oferece, o professor assume o compromisso diante das
fracassos podem significar um dos maiores obstáculos a diferenças individuais dos alunos. A explicação clara do
discussão entre professores sobre sua pratica avaliativa. educador não desencadeara a mesma compreensão por todos
Muitos professores consideram que qualquer assunto pode ser os alunos; esse entendimento ocorre de acordo com as
ensinado a qualquer aluno se for transmitido com vivencias anteriores e experiências de situações de cada aluno.
competência (concepção beharovista) e ainda são Muitos educadores não fazem perguntas durante as aulas, pois
responsáveis em elaborar técnicas para motivar o aluno pelo construíram entendimentos próprios, ao longo de suas vidas,
tema de estudo (influência apriorista). a respeito de determinados assuntos apresentados pelo
Nesse contexto o fracasso escolar se torna culpa do professor. Dessa forma, se a compreensão dos alunos deriva de
professor, pela sua incompetência em transmitir o conteúdo sua experiência de vida, o mesmo acontece com o educador: há
com eficiência e motivar os aluno a aprenderem, o que os torna diferentes maneiras do professor entender o aluno, pela sua
inaptos a perceberem aquela experiência como foi maior de menor facilidade em determinada área do
apresentada. conhecimento, expectativas predeterminadas.
Essas posturas conservadoras impedem o diálogo entre os Diante do exposto, voltaremos à questão inicial: por que
professores, e entre professores, alunos e família, não havendo um aluno não aprende? Considerando que o conhecimento se
uma reflexão conjunta e o aprofundamento teórico para constrói, portanto não acabado, “não aprender” é incoerente,
buscar superar e evoluir nessa situação. pois o aluno está permanentemente em processo de
aprendizagem. Nesse contexto a prática avaliativa deve O caráter seletivo ainda presente nas avaliações nos níveis
investigar os desentendimentos e o professor deve traçar esse escolares negam a relação dialógica resultantes de momentos
caminho negando metodologias precisas e generalistas, pois de interação entre professores e alunos, tão fundamentais
cada situação tem suas especificidades. para uma pratica significativa. Investigar e analisar as
Na avaliação do desempenho dos alunos é preciso superar respostas dos alunos, procurarem entender o motivo dessas
as posturas convencionais e isso requer conhecimento em respostas, planejarem novas ações educativas e repensar na
questões de aprendizagem e domínio de diferentes disciplinas. sua pratica em sala de aula é fundamental para que o aluno
Além disso, é necessário acreditar que há várias respostas construa seu conhecimento e veja sentido na aprendizagem.
coerentes e válidas para as charadas possíveis que Hoffman inicia o tópico com uma vivencia que certa aluna
enfrentamos e que devem ser respeitadas. teve suas respostas consideradas erradas numa atividade de
interpretação de texto. A professora justificou que uma das
Uma Visão Construtivista do erro respostas estava errada por não representar uma cópia fiel do
Hoffman, no terceiro capítulo do livro começa comentando texto e outra porque a aluna escrever de fato o que entendeu.
a postura de professores durante suas aulas alertando que Esse tipo de postura deixa claro que as expectativas do
suas próprias ideias influenciam no comportamento de seus professor se sobrepõem a reflexão sobre as possibilidades dos
alunos, mesmo aqueles educadores dóceis e gentis, com jeito alunos no seu processo de construção do conhecimento.
carinhoso, muitas vezes impossibilitam o educando de Portanto os alunos procuram respostas sugeridas pelo
discutir, interagir e apenas no decorrer da aula. professor para contentá-lo, evoluindo qualquer reflexão ou
A interação entre professor e aluno, segundo Kimii, é entendimento próprio ao elaborar suas respostas e assumindo
fundamental para o desenvolvimento da autonomia do posturas passivas diante das posturas autoritárias de correção
educando. Dessa forma é importante o educador refletir sobre dos professores.
suas atitudes autoritárias e sobre sua postura na correção de Para uma ação avaliativa mediadora, Hoffman aponta
tarefas e testes, atentando-se a questão de encontrar alguns princípios importantes, entre eles:
diferentes respostas dos alunos. - Oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar
A preocupação em elaborar anunciados claros e precisos suas ideias: considerando as tarefas como elementos
com a finalidade de respostas uniformes e, durante a correção importantes para observação das hipóteses construídas pelos
encontrar diferentes soluções, leva o professor a revisar a alunos, por meio delas os professores poderão traçar uma
formulação ou anular o exercício. Questões objetivas, de relação dialógica com os estudantes para identificarem o
múltipla escolha ou completar lacunas, requer do aluno momento em que estes se encontram com relação a produção
memorização do conteúdo, sendo uma atividade pouco do conhecimento.
significativa para o educando. A autora sugere muitas tarefas diversificadas em todos os
É preciso refletir sobre as tarefas propostas ao aluno a momentos da escola, respeitando os saberes elaborados pelos
partir das práticas cotidianas, analisando as questões que o alunos e garantindo espontaneidade ao realizá-las.
professor elabora e as diversas respostas dos alunos. É por - O professor deve estar atento a finalidade das tarefas que
essas respostas que se pode compreender o entendimento e o propõe: O motivo de tais perguntas nesse momento, o que se
que o leva a responder daquela maneira. pretende investigar em relação à compreensão do educando,
Entende-se objetividade como objetividade com a forma levantando as dificuldades dos alunos como ponto de partida
de elaboração de um teste e as respostas adquire tais para planejar novas ações educativas.
características pela correção. Questões objetivas são aquelas - Oportunizar discussão entre os alunos a partir de
que apresentam resposta única (alternativas, lacunas), não situações desencadeadoras: Promover tarefas e trabalhos em
considerando interpretações, apenas “certo ou errado” no que os alunos interajam entre si, discuta situações problemas,
momento da correção. Já questões subjetivas precisam de levantem hipóteses a partir de vários pontos de vista, refletir
respostas pessoais, onde o aluno apresenta opiniões e entre as diversas opiniões e encontrar uma alternativa. O
considerações e o professor, ao corrigi-la, necessita de professor nesse contexto aparece como mediador, que
interpretação para considerá-la certa ou errada. estabelece relações dinâmicas entre o aluno e o objeto do
A subjetividade é inerente tanto ao processo de elaboração conhecimento.
de tarefas quanto à interpretação da tarefa pelo aluno, e dessa Discussões em grupos, debates permitem que os alunos se
forma quando um professor elabora questões subjetivas ele expressem de forma espontânea, façam descobertas
seleciona temas que lhe convém, o vocabulário utilizado é de construam conceitos. Todo esse trabalho deve ser
suas práticas de vida, a pergunta segue um significado próprio. acompanhado pelo professor, oportunizando o
Essas questões revelam seu entendimento sobre o assunto, desenvolvimento de novas questões que façam os alunos
sua visão de conhecimento e a compreensão das progredirem na aprendizagem, mas nunca como elemento de
possibilidades ao aluno. Quanto à interpretação sobre as avaliação individual.
questões por parte dos educandos, ocorrem diferentes - Realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas,
compreensões com relação a termos utilizados, aos temas investigando teoricamente, procurando entender razões para
selecionados, a experiência do aluno com determinados as respostas apresentadas pelos estudantes: Avaliar de forma
exercícios, sua disposição para fazer o que lhe foi proposto. mediadora requer a observação individual de cada aluno, com
Na concepção tradicional de avaliação, evitar tarefas que atenção ao seu momento no processo de construção do
tragam como respostas interpretações dos alunos, ou seja, conhecimento. Para isso é necessária uma relação direta, por
respostas subjetivas seria o caminho mais viável, pois não se meio de muitas tarefas orais ou escritas para que se possa
cometeria injustiças na correção, visto que questões objetivas entender os motivos das soluções apresentadas, considerando
requerem respostas uniformes e facilita na contagem de o estágio de pensamento, a área do conhecimento e as
acertos e erros a fim de possibilitar a média final do aluno. experiências de vida dos alunos.
Já na concepção mediadora de avaliação a subjetividade na De acordo com a teoria construtivista o erro pode ser visto
elaboração e correção de tarefas é um elemento positivo, pois de forma positiva, mais produtiva e fecunda do que um acerto
o “erro” do aluno e as dúvidas do professor em interpretá-los imediato, pois o aluno vai criando estratégias de ação para
levarão a um momento de reflexão e discussão em sala, alcançar um resultado. Porém nem todos os erros são
analisando os conceitos criados pelos alunos, as considerações passiveis de descoberta, Cartorina (1988) aponta que há erros
que levaram aquela resposta e, portanto, a correção não é sistemáticos que um aluno consegue e não consegue fazer,
definitiva avaliando acertos e erros. erros que aparecem em um processo de descoberta onde os
alunos criam hipóteses, num primeiro momento e Outros questionamentos afloraram, como: “O que a ação de
gradativamente vão sendo reformulado por meio de corrigir significa para pais, alunos e professores?”, “Como
observação dos fenômenos em suas relações. trabalhar com os registros observados sem adotar as práticas
Essas hipóteses no processo de conhecimento são os erros tradicionais (qualitativa e quantitativa)?” e “É possível, a partir
construtivos. Nesse contexto a intervenção do professor deve dessas observações adotar uma ação mediadora que provoque
ser desafiador, propondo perguntas ou novas tarefas a fim de o aluno a refletir e descobrir melhores soluções sem a
confrontar o aluno com outras respostas para defenderem imposição do professor?”.
suas opiniões pelo momento do educando. Não se pode analisar as expectativas de professores,
O que acontece em muitas escolas é o fato do professor alunos e pais com relação as disciplinas e metodologias de
corrigir as respostas dos alunos não considerando ou avaliação de forma separada, excluindo uns e valorizando
impossibilitando que estes reformulem as hipóteses por meio outros pontos de vista, já que as expectativas de ambos devem
de suas descobertas. Os estudantes acabam memorizando as estar inter-relacionadas para o bom andamento das práticas
soluções sem compreendê-las, não tomando significado educacionais.
nenhum para sua aprendizagem. Sobre a “correção”, quando se utiliza métodos não
Se o educando não entender o assunto, deixará de tradicionais, os pais têm medo dos filhos receberem
responder questões, já que a tarefa não apresenta sentido e “instrução” de baixa qualidade, pois tem a impressão de que a
consequentemente não consegue elaborar uma resposta. Essa nova metodologia é menos exigente, já que valoriza mais as
situação deve chamar a atenção do professor, exigindo uma manifestações cognitivas da criança do que as notas obtidas
reflexão com outros educadores e uma revisão de suas em exames.
propostas pedagógicas. A maioria dos pais que não entende esquema de avaliação
- Em vez de certo/errado e da atribuição de pontos, fazer construtivista, que não classifica por notas os alunos, pede pela
comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a volta do tradicional, e os filhos, que estão entre os “temores
localizarem as dificuldades de descobrirem melhores e dos pais” e a “postura construtivista da escola”, tem no adulto
variadas soluções: A autora critica a atribuição de notas nas o modelo de “saber competente” esperado pela educação, e
atividades realizadas elos alunos. Provas e recuperação preocupam-se muito mais em “acertar” do que “construir”.
repercutem no educando como obrigação, induzindo a Com relação à postura do professor que trabalha com o
memorização, a reprodução de textos do livro e da fala do construtivismo avaliativo a autora cita dois modelos:
professor, deixando de lado sua crença verdadeiramente 1. Construtivista modinha: Preocupa-se com os rumos da
espontânea. É necessário respeitar e valorizar a tarefa dos escola e aceita mudanças, mas carece de estudos
estudantes, atribuindo significado ao que se observa em suas aprofundados. Segue metodologias sugeridas pelos
atividades, superando a ideia tradicional de buscar acertos e coordenadores ou imita colegas, mas não acredita plenamente
erros. no que está fazendo. Desenvolve uma metodologia tradicional
- Transformar os registros de avaliação em anotações “fantasiada de construtivista”.
significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu 2. Construtivista aprofundado: Sofre com grandes
processo de construção do conhecimento: Os registros de obstáculos entre a “teoria e pratica”, o que gera sentimento de
avaliação visam a responder questões que parecem insegurança com o trabalho realizado, resultando no
esquecidas na escola sobre a aprendizagem dos alunos. Se o retrocesso ao tradicional, isso por medo de não saber
aluno aprendeu, se ainda não aprendeu, o porquê de não ter mensurar ou atingir os objetivos esperados.
aprendido em encaminhamentos foram feitos ou estão por A prática de avaliação, ainda hoje, segue um modelo
fazer nesse sentido. secular, que segundo a autora é seletivo e excludente, sendo
A preocupação em atribuir nota as tarefas faz o educador assim são duas posturas opostas, a “classificatória” e a
deixar de lado tais questionamentos. “mediadora”:
1. Avaliação classificatória: Verificar respostas certas e
Por que corrigir, professor? erradas, tomar decisões sobre o aproveitamento, aprovar ou
É comum, hoje em dia, se dizer que as “respostas erradas” reprovar a partir desse aproveitamento (método tradicional
têm valor para a continuidade da ação educativa, mas três de “certo/errado”).
pontos, levantados por professoras municipais de Porto 2. Avaliação mediadora: Analisar as várias manifestações
Alegre, ainda geram dúvidas sobre o assunto. dos alunos em situações de aprendizagem de forma a exercer
1. Em que medida corrigir tarefas ajuda o aluno a uma ação educativa que lhe ajude na descoberta de novas
compreender seus erros? formas de encontrar soluções (acesso gradativo do aluno ao
2. Como ajudar o aluno a descobrir novos conceitos a partir saber).
de suas primeiras hipóteses (certo ou errado)? Tradicionalmente a escola enaltece os procedimentos
3. Qual o significado (para professores e alunos) do competitivos e classificatórios de avaliação (certo/errado), e
trabalho, tarefa, realizado? nesse modelo dificilmente o professor chama a atenção do
Esse grupo de professoras de Porto Alegre, tentando de aluno por uma “resposta interessante”, mas sim pelos erros,
responder tais perguntas, eliminou a atribuição de notas e com as seguintes afirmações, “O que é isso?”, “Não entendi”,
adotou “relatórios de avaliação bimestral e final” como forma como se o erro, ou a forma diferente de pensar do aluno, como
de avaliação, modificando também o regimento escolar. se o pensar diferente fosse algo absurdo ao seu entendimento
Acabaram com as “provas datadas”, realizando tarefas de resposta certa.
constantes sem a preocupação com notas, e a análise de A visão “Positivista” vai além do tradicional e trata com os
aprovação e retenção passou a ser feita a partir do benefício “absurdamente certos e errados”, isso na visão do professor, o
que essa decisão trará para a criança, significa o fim dos que dá um forte tom de autoritarismo na pratica docente,
parâmetros por nota ou comportamento colaborativo para a mesmo que o professor acredite não ser autoritário.
aprovação, e colocar o que o aluno aprendeu como critério Segundo Kamii (1991, p. 23), “Infelizmente, várias escolas
principal. tem a tendência de exigir respostas corretas”, pois isso
Outra grande questão que aflorou ao longo do trabalho foi: inferioriza o ponto de vista e a processo de criação de
“Como corrigir os alunos?”. A intervenção do professor sobre hipóteses do aluno. A solicitação de certo/errado faz o aluno
as tarefas completas ou não dos alunos muitas vezes ter dependência da “palavra final” do adulto, interiorizando
incomodava, pois eles não entendiam o motivo de “corrigir”. seu trabalho e entendendo a escola como um espaço que está
ali para “classificá-lo”.
O professor que segue esse modelo classificatório de acostumadas com o método tradicional é que o método de
conhecimentos dos alunos arma-se de critérios, métodos e registro do professor sobre as avaliações seja superficial, que
padrões avaliativos. A avaliação torna-se um meio de não mostre realmente o desenvolvimento real do aluno.
comprovar o juízo final do professor em aprovar ou reprovar Quando a correção é feita respeitando a criança em suas
o aluno. etapas de desenvolvimento o professor deixa de analisar
Conhecimentos impostos de forma pronta e com a friamente o “certo e errado” e analisa o que o aluno “aprendeu
“resposta correta absoluta” tiram do aluno a possibilidade de e não aprendeu”, reflete sobre o que ele “ainda” não sabe e o
criar sua própria metodologia para chegar à resposta certa, e que pode “vir a ser” aprendido.
fortalece o medo de errar.
Ao refazer alguma atividade professor e aluno devem ter
em mente que esse processo está em busca da compreensão KISHIMOTO, Tizuko
do erro, refazer sem reflexão é insignificante ao Morchida (org.). Jogo,
desenvolvimento cognitivo do educando.
brinquedo, brincadeira e a
Enquanto a perspectiva tradicional das respostas prontas
pune o aluno pelos erros, a construtivista o faz pensar, educação. São Paulo: Cortez,
valorizando o trabalho do aluno. Deve-se considerar a 2009
dificuldade do aluno e criar meios de induzi-lo a compreender
o erro e corrigi-lo, sem dar a ele a resposta esperada logo de
cara. O jogo e a educação infantil
Considerar, valorizar, não significa observar e deixar como Tizuko Morchida Kishimoto
está, mas sim refletir teoricamente e planejar situações
provocativas ao aluno. Não é nada fácil dar uma definição do que seja um jogo. Ao
Certo/Errado: Visão secular de avaliação. Não é fácil para pronunciarmos a palavra jogo cada um pode entende-la de
os pais, coordenadores e professores abandonarem essa visão, modo diverso. Eis que os jogos podem ser políticos, adultos, de
ainda mais que a visão construtivista de avaliação exige crianças, como amarelinha, xadrez, contar estórias, quebra-
confiança de todos para dar certo, e para isso é preciso que a cabeça.
escola envolva a família nesse processo. Ainda que a terminologia usada seja a mesma, cada um
No construtivismo a avaliação está voltada ao socioafetivo possui características específicas. No conto de fadas, por
e ao cognitivo, e não classificação por notas, isso gera surpresa exemplo, há um forte predomínio da imaginação, no xadrez
aos alunos, que precisam mensurar de imediato seu trabalho, temos a movimentação das peças, ao brincar de encher
e o método que conhecem é a nota. copinhos com areia, há satisfação de manipular o objeto.
Durante os trabalhos escolares os alunos exigem que o Quando se constrói um barquinho de papel, temos a
professor preste atenção na sua atividade, comente e escreva representação mental do objeto, com a habilidade para
algo a respeito. Comentários com caráter de questionamento manuseá-lo.
valorizam e desafiam o aluno a prosseguir na construção da O que pensar de um jogo político ou esportivo? Quais são
aprendizagem (método construtivista). os elementos que o caracterizam? Qual a diferença entre o
Diferente da censura do modelo tradicional, que faz o futebol profissional e o de várzea?
aluno apagar, mudar suas ideias particulares, o construtivismo Na partida de xadrez, temos regras externas que orientam
aponta seus avanços e encaminham questões que o auxiliam a as ações de cada jogador, sendo que essas ações dependem da
encontrar as respostas adequadas. estratégia do adversário. Contudo, nunca se tem a certeza do
A avaliação torna-se disciplinadora, punitiva e lance que será dado em cada passo do jogo.
discriminatória quando utiliza notas, conceitos e métodos de Será que um gato que rola uma bola tem o comportamento
classificação de alunos (os que não tiram notas tão boas igual ao de uma criança que brinca com a bola? A criança tem
sentem-se excluídos, inferiorizados). escolha de seus atos, escolhendo deliberadamente brincar, já
O sistema exige notas, mas não exige que os professores no caso do gato, temos os instintos biológicos do animal.
usem avaliações classificatórias para mensurar o A boneca é brinquedo para uma criança que brinca de
aproveitamento dos alunos. Essa forma de medir pode “filhinha”, mas para certas tribos indígenas, conforme
comprometer os progressos escolares dos alunos, pois eles pesquisas etnográficas, é símbolo de divindade, objeto de
comparam entre si suas notas e classificam uns aos outros de adoração.
burros ou inteligentes. Ampliando a complexidade entre materiais lúdicos, alguns
A ação mediadora não pode ser uniforme, já que os erros são chamados de jogos e outros de brinquedos.
dos alunos seguem cursos diversos (não existe um padrão para O jogo é entendido como o resultado de um sistema
o erro). É necessária a reflexão teórica sobre cada resposta do linguístico que funciona dentro de um contexto social, possui
aluno. Não dá para desenvolver procedimentos de intervenção um sistema de regras e um objeto. As línguas atuam como
que sirvam de regras gerais (verdades absolutas). fontes disponíveis de expressão e exigem o respeito de certas
A tentativa de inverter a hierarquia tradicional (resposta regras de construção que não tem nada a ver com o mundo.
certa é valorizada e o erro é punido) não deve seguir extremos, Eis que a noção de jogo não nos remete à língua particular,
pois nenhum extremo é válido, mas é preciso trabalhar para ciência, mas sim, ao uso cotidiano.
que os alunos entendam que o “erro não é um pecado”, pois O jogo, enquanto fato social, assume o sentido que a
isso fará com que eles fiquem mais confiantes em perguntar e sociedade lhe atribuir, e este, é o ponto que demonstra as
comentar suas tarefas, já que o peso da punição será significações distintas. Atualmente, o arco e flecha são
inferiorizado. brinquedos que remetem à cultura indígena.
Deve-se aplicar a ação mediadora entre uma tarefa do Quanto ao campo de visualização, o jogo em tempos
aluno e a posterior, analisando o entendimento dele sobre o passados já foi visto como algo inútil, desnecessário, já para o
assunto trabalhado e criando métodos que favoreçam a período do romantismo, ele aparece como algo sério,
criança na construção de um saber competente, próximo da destinado à educação.
“verdade cientifica” vigente. O brinquedo, por sua vez, supõe uma relação íntima com a
Cada tarefa do aluno é uma etapa de sua evolução criança e uma indeterminação quanto ao uso, quer dizer, a
cognitiva, e isso não dá pra somar, classificar ou medir por ausência de um sistema de regras que organizam sua
notas. O grande receio da família e da sociedade, que estão utilização.
Uma boneca, por exemplo, permite que várias formas de mergulhar na ação lúdica, pode-se dizer que o lúcido em ação.
brincadeiras, desde que a manipulação até a realização de Desta forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se
brincadeiras como “mamãe e filhinha”. O brinquedo estimula a diretamente com a criança e não se confundem com o Jogo.
representação, a expressão de imagens que evocam aspectos Após as distinções iniciais entre jogo, brinquedo e
da realidade. Ao contrário, jogos, como xadrez e jogos de brincadeira, vamos explorar mais detalhadamente: ente o
construção, exigem de modo explícito ou implícito, o termo jogo, analisando a grande família que o caracteriza.
desempenho de certas habilidades definidas por uma
estrutura preexistente no próprio objeto e suas regras. A 'família" do jogo
A infância é, também, a idade do possível. Pode-se projetar
sobre ela a esperança de mudança, de transformação social e Wittgenstein, em Investigações filosóficas estuda a grande
renovação moral. família composta por diferentes tipos de jogos e suas
A infância é portadora de uma imagem de inocência: de analogias. Diz ser o jogo um termo impreciso, com contornos
candura moral, imagem associada à natureza primitiva dos vagos, por assumir múltiplos significados.
povos, um mito que representa a origem do homem e da Considere, por exemplo, os processos que chamamos de
cultura. Como são construídas tais imagens tão diferentes e "jogos". Refiro-me a jogos de tabuleiro, de cartas, de bola,
contraditórias? tornetos esportivos etc. O que é comum a todos eles? Não diga:
A imagem de infância é reconstituída pelo adulto por meio "Algo deve ser comum a eles, senão não se chamariam 'jogos'"
de um duplo processo: de um lado, ela está associada a todo -, mas veja se algo é comum a eles todos - pois, se você os
um contexto de valores e aspirações da sociedade, e, de outro, contemplar, não verá na verdade algo comum a todos, mas
depende de percepções próprias do adulto, que incorporam semelhanças, parentescos, e até toda uma série deles. Como
memórias de seu tempo de criança. Assim, se a imagem de disse: não pense, mas veja! Considere, por exemplo, os jogos
infância reflete o contexto atual, ela é carregada, também, de de tabuleiro, com seus múltiplos parentescos. Agora passe
uma visão idealizada do passado do adulto, que contempla sua para os jogos de cartas: aqui você encontra muitas
própria infância. A infância expressa no brinquedo contém o correspondências com aqueles da primeira classe, mas muitos
mundo real, com seus valores, modos de pensar e agir e o traços comuns desaparecem e outros surgem.
imaginário do criador do objeto.
Bachelard, em A poética do devaneio (1988, p. 93-137), Características do jogo
nos mostra que há sempre uma criança em todo adulto, que o
devaneio sobre a infância é um retorno à infância pela Entre os autores que discutem a natureza do jogo, suas
memória e imaginação. A poesia é o estimulante que permite características ou, como diz Wittgenstein, "semelhanças de
esse devaneio, essa abertura para o mundo, para o cósmico, família", encontram-se Caillois (1958), Huizinga (1951),
que se manifesta no momento da solidão. Há em nós uma Henriot (1989) e, mais recentemente, Fromberg (1987) e
infância represada que emerge quando algumas imagens nos Christie (1991a e 1991b) e muitos outros.
tocam. Ao descrever o jogo como elemento da cultura, Huizinga
Bachelard considera as imagens que sobrevêm da infância (1951, p. 3-31) omite os jogos de animais e analisa apenas os
como resultado de dois elementos: a memória e a imaginação. produzidos pelo meio social, apontando as características: o
Os fatos ocorridos são metamorfoseados pela imaginação, que prazer, o caráter "não sério", a liberdade, a separação dos
recria as situações com novo olhar, com novo brilho. Daí nem fenômenos do cotidiano, as regras, o caráter fictício ou
sempre a memória ser aceita como documento factual em representativo e sua limitação no tempo e no espaço.
trabalhos de história. Embora predomine, na maioria das situações, o prazer
Por ser o devaneio composto de memória e imaginação é como distintivo do jogo, há casos em que o desprazer é o
que se entende Mário de Andrade, em "Vestida de Preto" elemento que o caracteriza. Vygotsky é um dos que afirmam
(1943, apud Faria, 1994, p. 130), falar da alegria de ter soltado que nem sempre o jogo possui essa característica, porque, em
balões quando na verdade não o fez. São suas fantasias, sua certos casos, há esforço e desprazer na busca do objetivo do
imaginação que criam situações de retorno à infância como a brincadeira. A psicanálise também acrescenta o desprazer
satisfação de saltar balões. Quantas memórias de infância como constitutivo do jogo, especialmente ao demonstrar como
povoam a imaginação quando nos deparamos com os poemas: a criança representa, em processos catárticos, situações
"Cai cai balão, cai cai balão, na Rua do Sabão!" ou "Café com extremamente dolorosas.
pão, café pão, café com pão, Virge Maria, que foi isto O caráter "não sério" apontado por Huizinga não implica
maquinista?" que a brincadeira infantil deixe de ser séria. Quando a criança
Os devaneios retomam as lembranças de infância, mas brinca, ela o faz de modo bastante compenetrado. A pouca
também nossos sonhos, ideais e vontades. Muitas vezes, o seriedade a que faz referência está mais relacionada ao
passado, de ausência de brinquedos, mistura-se como o cômico, ao riso, que acompanha, na maioria das vezes, o ato
presente, e alimenta o devaneio, dinamizando-o com a lúdico e se contrapõe ao trabalho, considerado atividade séria.
imaginação criativa. Mário não foi criança de soltar balão, mas, Ao postular a natureza livre do jogo, Huizinga a coloca
quando adulto, gostava de brincar com os sobrinhos, esconder como atividade voluntária do ser humano. Se imposta, deixa de
doces pela casa e pedir para achar, apertar a campainha das ser jogo.
portas e sair correndo. Suas obras retratam diferentes
imagens de infância: a miserável, a feliz, cada uma delas com Quando brinca, a criança toma certa distância da vida
graus diferentes de memória e imaginação. São seus devaneios cotidiana, entra no mundo imaginário. Embora Huizinga não
que permitiram o retorno à infância e a expressão de aprofunde essa questão, ela merecerá atenção de psicólogos
diferentes criança em sua vasta produção literária. que discutem o papel do jogo na construção da representação
O brinquedo contém sempre uma referência de infância do mental e da realidade.
adulto com representações veiculadas pela memória e
imaginação. O vocábulo "brinquedo” não pode ser reduzido à A existência de regras em todos os jogos é uma
pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem uma característica marcante. Há regras explícitas, como no xadrez
dimensão material, cultural e técnica. Enquanto objeto, é ou amarelinha, regras implícitas como na brincadeira de faz de
sempre suporte de brincadeira. É o estimulante material para conta, em que a menina se faz passar pela mãe que cuida da
fazer fluir o imaginário infantil. E a brincadeira? É a ação que a filha. São regras internas, ocultas, que ordenam e conduzem a
criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao brincadeira.
Finalmente, todo jogo acontece em um tempo e espaço, e não em seus resultados ou efeitos. O jogo infantil só pode
com uma sequência própria da brincadeira. receber esta designação quando o objetivo da criança é
brincar. O jogo educativo, utilizado em sala de aula, muitas
Seguindo quase a mesma orientação de Huizinga, Caillois vezes, desvirtua esse conceito ao dar prioridade ao produto, à
(1958, p. 42-3) aponta como características do jogo: a aprendizagem de noções e habilidades;
liberdade de ação do jogador, a separação do jogo em limites
de espaço tempo, a incerteza que predomina, o caráter 5. livre escolha: o jogo infantil só pode ser jogo quando
improdutivo de não criar nem bens nem riqueza e suas regras. escolhido livre e espontaneamente pela criança. Caso
Um novo elemento introduzido pelo autor é a natureza contrário, é trabalho ou ensino;
improdutiva do jogo. Entende-se que o jogo por ser uma ação
voluntária da criança, um fim em si mesmo, não pode criar 6. controle interno: no jogo infantil, são os próprios
nada, não visa a um resultado final. O que importa é o processo jogadores que determinam o desenvolvimento dos
em si de brincar que a criança se impõe. Quando ela brinca, não acontecimentos.
está preocupada com a aquisição de conhecimento ou
desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou física. Da Quando o professor utiliza um jogo educativo em sala de
mesma forma, a incerteza presente em toda conduta lúdica é aula, de modo coercitivo, não oportuniza aos alunos liberdade
outro ponto que merece destaque. No jogo, nunca se sabem os e controle interno. Predomina, neste caso, o ensino, a direção
rumos da ação do jogador, que dependerá, sempre, de fatores do professor.
internos, de motivações pessoais e de estímulos externos, Segundo Christie (1991b, p. 5), os indicadores mais úteis e
como a conduta de outros parceiros. relativamente confiáveis do jogo infantil podem ser
Uma dúvida que paira em torno do jogo é o fato de encontrados nas quatro primeiras características: a não
condutas semelhantes representarem jogo e não jogo. Nem literalidade, o efeito positivo, a flexibilidade e a finalidade em
sempre o pesquisador consegue identificar um jogo, uma vez si. Para auxiliar pesquisadores na tarefa de discriminar se os
que se pode manifestar um comportamento que, professores concebem atividades escolares como jogo ou
externamente, tem a semelhança de jogo sem que esteja trabalho, os dois últimos são os mais indicados. Se a atividade
presente a motivação interna para o lúdico. É preciso, também, não for de livre escolha e seu desenvolvimento não depender
estar em perfeita simbiose com o jogador para identificar, em da própria criança, não se terá jogo, mas trabalho. Já existem
sua atitude, o envolvimento no jogo. O jogo inclui sempre uma estudos no Brasil, como o de Costa (1991), que demonstram
intenção lúdica do jogador. que as criança: concebem como Jogo somente as atividades
Muitas vezes, ao observar brincadeiras infantis, o iniciadas e mantidas por elas.
pesquisador se depara com duas situações que externamente
são idênticas, em que a criança diz: "Agora eu não estou Para Fromberg (1987, p. 36), o jogo infantil inclui as
brincando", mas, logo em seguida, expressando a mesma características: simbolismo: representa a realidade e atitudes;
conduta diz que está brincando. O que diferencia o primeiro significação: permite relacionar ou expressar experiências;
momento (não brincar), que aparentemente é idêntico ao atividade: a criança faz coisas; voluntário ou intrinsecamente
segundo (brincar), é a intenção da criança, o que cria uma certa motivado: incorporar motivos e interesses; regrado: sujeito a
dificuldade para realizar pesquisas empíricas sobre o jogo regras implícitas ou explícitas; e episódico: metas
infantil. desenvolvidas espontaneamente.
Mais recentemente, Christie (1991b, p. 4) rediscute as
características do jogo infantil, apontando pesquisas atuais Em conferência proferida em 21 de setembro de 1994, na
que o distinguem de outros tipos de comportamentos. Faculdade de Educação da USP, o filósofo e antropólogo
Utilizando estudos de Garvey (1977), King (1979), Rubin e Brougère acentuou que o jogo inclui uma reflexão de segundo
outros (1983), Smith e Vollstedt (1985), a autora elabora os grau (a natureza simbólica), as regras, a incerteza dos
critérios para identificar seus traços: resultados, a futilidade (sem consequência) e a motivação
interna.
1. a não literalidade: as situações de brincadeira
caracterizam-se por um quadro no qual a realidade interna Em síntese (excetuando jogos de animais), os autores
predomina sobre a externa. O sentido habitual é substituído assinalam pontos comuns como elementos que interligam a
por um novo. São exemplos de situações em que o sentido não grande família dos jogos:
é literal o ursinho de pelúcia servir como filhinho e a criança 1. liberdade de ação do jogador ou o caráter voluntário, de
imitar o irmão que chora; motivação interna e episódica da ação lúdica; prazer (ou
desprazer), futilidade, o "não sério" ou efeito positivo;
2. efeito positivo: o jogo infantil é normalmente 2. regras (implícitas ou explícitas);
caracterizado pelos signos do prazer ou da alegria, entre os 3.relevância do processo de brincar (o caráter
quais o sorriso. Quando brinca livremente e se satisfaz, a improdutivo), incerteza de resultados;
criança o demonstra por meio do sorriso. Esse processo traz 4.não literalidade, reflexão de segundo grau,
inúmeros efeitos positivos aos aspectos corporal, moral e representação da realidade, imaginação; e
social da criança; 5.contextualização no tempo e no espaço.
3. flexibilidade: as crianças estão mais dispostas a ensaiar São tais características que permitem identificar
novas combinações de ideias e de comportamentos em fenômenos que pertencem à grande família dos jogos.
situações de brincadeira que em outras atividades não Após distinções iniciais entre jogo, brinquedo e
recreativas. Estudos como os de Bruner (1976) demonstram a brincadeira e a análise das características comuns aos jogos,
importância de brincadeira para a exploração. A ausência de pretende-se avançar nos múltiplos sentidos que o jogo assume
pressão do ambiente cria um clima propício para investigações na educação.
necessárias à solução de problemas. Assim, brincar leva a
criança a tornar-se mais flexível e buscar alternativas de ação; A relações entre o jogo infantil e a educação: paradigmas
4. prioridade do processo de brincar: enquanto a criança Antes da revolução romântica, três concepções
brinca, sua atenção está concentrada na atividade em si e não estabeleciam as relações entre o jogo infantil e a educação: (1)
recreação; (2) uso do jogo para favorecer o ensino de Renascimento: a criança dotada de valor positivo, de uma
conteúdos escolares; e (3) diagnóstico da personalidade natureza boa, que se expressa espontaneamente por meio do
infantil e recurso para ajustar o ensino às necessidades jogo, perspectiva que irá fixar-se com o Romantismo.
infantis. É dentro dos quadros do Romantismo que o jogo aparece
como conduta típica e espontânea da criança.
O jogo visto como recreação, desde a antiguidade greco-
romana, aparece como relaxamento necessário a atividades Recorrendo à metáfora do desenvolvimento infantil como
que exigem esforço físico, intelectual e escolar (Aristóteles, recapitulação da história da humanidade, o Romantismo, com
Tomás de Aquino, Sêneca, Sócrates). Por longo tempo, o jogo consciência poética do mundo, reconhece na criança uma
infantil fica limitado à recreação. natureza boa, semelhante à alma do poeta, considerando o
Durante a Idade Média, o jogo foi considerado "não sério", jogo sua forma de expressão. Mais que um ser em
por sua associação ao jogo de azar, bastante divulgado na desenvolvimento com características próprias, embora
época. transitórias, a criança é vista como ser que imita e brinca,
O jogo serviu para divulgar princípios de moral, ética e dotada de espontaneidade e liberdade.
conteúdos de história, geografia e outros, a partir do
Renascimento, o período de “compulsão lúdica". O O Romantismo constrói no pensamento da época um novo
Renascimento vê a brincadeira como conduta livre que lugar para a criança e seu jogo, tendo como representantes
favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. filósofos e educadores como Jean-Paul Richter, Hoffmann e
Ao atender necessidades infantis, o jogo infantil torna-se Fröebel, que consideram o jogo como conduta espontânea e
forma adequada para a aprendizagem dos conteúdos livre e instrumento de educação da pequena infância. O uso
escolares. Assim, para se contrapor aos processos verbalistas metafórico do jogo como conduta prazerosa e espontânea tem
de ensino, à palmatória vigente, o pedagogo deveria dar forma suas origens nas teorias da recapitulação, conforme estudos
lúdica aos conteúdos. Quintiliano Erasmo, Rabelais, Basedow recentes de Brougere (1993).
comungam dessa perspectiva.
Em tempos passados, as fases da vida do indivíduo
Na clássica obra, Gargântua e Pantagruel, Rabelais (s.d.) (infância, maturidade e velhice) eram comparadas às da
fala do jogo, utilizando personagens da. época para humanidade. Com o Romantismo, e seu foco na criança, surge
desenvolver a trama de suas histórias. O autor satiriza os a metáfora que correlaciona a infância do indivíduo à da
sofistas da época, mostrando a deseducação de Gargântua que humanidade, por influência de Rousseau que inicia a
não valorizava conhecimentos, hábitos saudáveis de higiene, perspectiva genética em sua obra Émile ou De l'Education
de alimentação, etc. Critica a educação dos sofistas (ou (1961).
deseducação): excesso de comida, bebidas e divertimento. Ao observar as brincadeiras infantis e a capacidade
Entre os passatempos cita cerca de 204 jogos em que imitativa da criança, o século XVIII erige o conhecimento da
predominam os de azar, com uso de cartas, movimentos, criança como via de acesso à origem da humanidade. Supondo
simulação, seleção, enfim jogos tradicionais da época. Se, na existir uma equivalência entre povos primitivos e a infância,
educação inadequada de Gargântua, o jogo aparece como poder-se-ia entender a infância como idade do imaginário, da
inutilidade e futilidade, passatempo, na educação do sábio poesia, à semelhança dos povos dos tempos da mitologia. Daí
pedagogo, o jogo é visto como instrumento de ensino: de ter sentido a afirmação de que o jogo é uma conduta
matemática e outros conteúdos. No fundo, Rabelais critica o espontânea, livre de expressão de tendências infantis, axioma
jogo como futilidade, como não sério, aliado ao dinheiro, e o que parte do princípio de que o mundo, em sua infância, era
valoriza como instrumento de educação para ensinar composto de povos poetas.
conteúdos, gerar conversas, ilustrar valores e práticas do Essa teoria, denominada recapitulação, influenciada pelo
passado ou, até, para recuperar brincadeiras dos tempos positivismo, recebe os sopros do darwinismo no fim do século
passados. Recomenda brincar de ossinhos, nos dias de chuva, XIX. A seleção natural justifica a sobrevivência apenas das
enquanto se discute como povos do passado pensam e espécies animais que se adaptam às novas condições de vida.
brincam (s.d., p. 110-14). Vista como elemento participante dessa seleção, a conduta
Entre os jogos citados por Rabelais (s.d., p. 93-9) aparecem lúdica parece incorporar a adaptabilidade dos animais que se
os de cartas, alguns já desaparecidos, que fizeram a desgraça tornam mais aptos para a sobrevivência. Dessa forma, o jogo
de muitos jogadores, como os "lesquenet", "aluett:", “crou recebe um estatuto científico nos quadros do darwinismo
madame" além de outros como o trunfo, vinte e um; Jogos de Ao surgir, no século XIX, a psicologia da criança recebe
seleção como par ou ímpar, cara ou coroa e uma grande forte influência da biologia e faz transposições dos estudos
quantidade de jogos tradicionais como volante, bilboquê, com mimais para o campo infantil. Nesse eixo, emerge a teoria
chicote queimado, carniça, beliscão, quebra-cabeça, pular o de Groos, que considera o jogo pré-exercício de instintos
carneiro, cata-vento ... herdados, lima ponte entre a biologia e a psicologia.
Para Groos, o jogo é uma necessidade biológica, um
Como Rabelais, Montaigne divulga o caráter educativo do instinto e, psicologicamente, um ato voluntário (apud
jogo. Considera inúteis jogos de caça, passatempo dos nobres, Brougere. 19 3, p. 182).
“a dança, tida como lazer popular. Para Montaigne, o jogo é um Se o jogo remete ao natural, universal e biológico, ele é o
instrumento de desenvolvimento da linguagem e do necessário para a espécie para o treino de instintos herdados.
imaginário, É o escritor, o poeta, sua prioridade. Privilegia Dessa forma, Groos retoma o jogo enquanto ação espontânea,
jogos que valorizam a escrita. Mas é Vives - Traité de l' natural (influência biológica), prazerosa e livre (influência
enseignement, 1612, apud Brougere (1993, p. 108) - que biológica) e já antecipa sua relação com a educação (treino de
completa o sentido do jogo, veiculado nos tempos atuais, como instintos).
um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais
da criança, como recriação, momento adequado para observar Groos adota o pressuposto biológico da necessidade da
a criança, que expressa através dele sua natureza psicológica e espécie e acrescenta a vontade e a consciência infantil em
inclinações. Uma tal concepção mantém o jogo à margem da busca do prazer para justificar os processos psicológicos.
atividade educativa, mas sublinha sua espontaneidade. Assim, as teorias da recapitulação e do pré-exercício
Tal forma de perceber o jogo está relacionada com a nova associadas ao darwinismo recebem nova roupagem que dão
percepção da infância que começa a constituir-se no estatuto ao jogo, permitindo sua divulgação no seio da
psicologia e da pedagogia. Entretanto, se considerarmos a Chomsky traz a questão cartesiana do caráter criativo da
inadequação da transposição de estudos no campo da etologia linguagem, de que o conhecimento das regras da linguagem
animal para os seres humanos, o jogo continua assentado na permitem infinitas construções das frases. A compreensão de
metáfora das idades da humanidade, tornando-se um conceito que as regras geram as sentenças e de que é possível criar
pouco objetivo e questionável. novas sentenças a partir de outras regras é a chave para a
compreensão da linguagem e de sua teoria sobre as
Claparède (1956), procurando conceituar brincadeiras infantis.
pedagogicamente a brincadeira, recorre à psicologia da Para Bruner (1978, 1986, 1983, 1976), brincadeiras
criança, embebida de influências da biologia e do romantismo. infantis como esconder o rosto com a fralda (peekaboo)
Para o autor, o jogo infantil desempenha papel importante estimulam a criatividade, não no sentido romântico, mas na
como o motor do autodesenvolvimento e, em consequência, acepção de Chomsky, de conduzir à descoberta das regras e
método natural de educação e instrumento de colaborar com a aquisição da linguagem. É a ação
desenvolvimento. É pela brincadeira e limitação que se dará o comunicativa que se desenrola nas brincadeiras entre mãe e
desenvolvimento natural como postula a psicologia e a filho que dá significado aos gestos e que permite à criança
pedagogia do escolanovismo. Piaget (1978,1977) adota, em decodificar contextos e aprender a falar. Ao descobrir as
parte, o referencial escolanovista, ao dar destaque à imitação, regras, nos episódios altamente circunstanciados, a criança
que participa de processos de acomodação, na forma de aprende ao mesmo tempo a falar; a iniciar a brincadeira e
assimilação. alterá-la. A aprendizagem da língua materna é mais rápida,
quando se inscreve no campo lúdico. A mãe, ao interagir com
Na teoria piagetiana, a brincadeira não recebe uma a criança, cria um esquema previsível de interação que serve
conceituação específica. Entendida como ação assimiladora, a de microcosmo para a comunicação e o estabelecimento de
brincadeira aparece como forma de expressão da conduta, uma realidade compartilhada.
dotada de características metafóricas como espontânea, Entre os paradigmas construídos com referenciais já
prazerosa, semelhantes às do Romantismo e da biologia: Ao apontados, a brincadeira da criança aparece como um
colocar a brincadeira dentro do conteúdo da inteligência e não processo metafórico relacionado a comportamentos naturais
na estrutura cognitiva, Piaget distingue a construção de e sociais. Especialmente na psicologia, teóricos do jogo infantil
estruturas mentais da aquisição de conhecimentos. A têm procurado elaborar conceitos que tentam se erigir como
brincadeira, enquanto cesso assimilativo, participa do científicos a partir da observação da conduta infantil. No
conteúdo da inteligência a semelhança da aprendizagem. campo da antropologia e sociologia, excetuando os trabalhos
Embora dotada de grande consistência, a teoria piagetiana do grupo do Laboratoire de Recherche sur le Jeu et le Jouet,
não discute a brincadeira em si. Em síntese, Piaget adota o uso geralmente não há discussão do jogo em si mas um uso
metafórico vigente na época, da brincadeira como conduta metafórico sem a explicitação de seu significado.
livre, espontânea, que a criança expressa por sua vontade e Brougère mostra que as metáforas do jogo aparecem em
pelo prazer que lhe dá. Para o autor, ao manifestar conduta várias áreas. Para alguns autores, o jogo é livre, sem
lúdica, a criança demonstra o nível de seus estágios cognitivos constrangimentos, se opõe à norma, a toda regra fixa.
e constrói conhecimentos. Jean Cazeneuve, em La vie dans Ia société moderne, é um
Da mesma forma, para psicólogos, especialmente exemplo desse emprego em que o jogo é visto como o símbolo
freudianos a brincadeira infantil é o meio de estudar a criança de nossa autonomia (apud Brougere, 1993, p. 60-5). Nessa
e perceber seus comportamentos. Melanie Klein usa a mesma linha, Goffman, em Manicômios, prisões e conventos
brincadeira como meio de diagnóstico de problemas da (1961), mostra como certas instituições, ao controlarem o
criança. Concebendo-a como meio de expressão natural, não cotidiano infantil, impedem a autonomia, a ação livre da
estuda sua especificidade. criança.
Outros teóricos, como Vygotsky e Bruner, focalizam o Em obras de Bourdieu, o modelo empregado é a estratégia
contexto sociocultural e a estrutura da linguagem para do jogo de xadrez, que serve como parâmetro para analisar a
subsidiar o estudo da brincadeira. reprodução das relações de matrimônio em certas culturas e
Para Vygotsky (1988, 1987, 1982), os processos da vida universitária parisiense (Brougere, 1993, P: 61-2).
psicológicos são construídos a partir de injunções do contexto Mead (1972) identifica o jogo a uma estrutura heurística
sociocultural. Seus paradigmas para explicitar o jogo infantil em que jogos coletivos como o futebol apresentam analogias
localizam-se na filosofia marxista-leninista, que concebe o com as relações que se estabelecem entre os indivíduos dentro
mundo como resultado de processos histórico-sociais que de uma sociedade. O jogo fornece um modelo simplificado para
alteram não só o modo de vida da sociedade mas inclusive as compreender essa interdependência.
formas de pensamento do ser humano. São os sistemas
produtivos geradores de novos modos de vida, fatores que Embora alguns autores construam um conceito operatório
modificam o modo de pensar do homem. Dessa forma, toda de Jogo, não discutem seu significado e utilizam o modelo
conduta do ser humano, incluindo suas brincadeiras, é heurístico, sem questionar o jogo em si. É, também, dentro do
construída como resultado de processos sociais. Considerada processo metafórico que se compreende a expressão jogo
situação imaginária, a brincadeira de desempenho de papéis é educativo (ou brinquedo educativo). O quebra-cabeça torna-
conduta predominante a partir de anos e resulta de influências se brinquedo educativo quando se transportam para o ensino
sociais recebidas ao longo dos anos anteriores. as propriedades do jogo.
Além das teorias de Piaget e Vygotsky, cresce a influência Com Henriot, começam a delinear-se os traços centrais do
do psicólogo americano Jerome Seymour Bruner. Com a jogo, uma espécie de definição stricto sensu. Para o autor, não."
fundação do Centro de Estudos Cognitivos da Universidade de pode chegar ao jogo, se não há a conjunção de uma conduta
Harvard, em 1960, em parceria com o linguista George Miller, (subjetiva, intencional) e uma situação (objetiva, constatável).
Bruner inicia a gestação de sua teoria sobre os jogos. Enquanto Para que exista jogo é necessário que o sujeito tenha
Bruner pesquisava os processos cognitivos e a educação, consciência de que está jogando e que manifeste conduta
Miller estudava a linguagem. Influenciado por Chomsky e sua compatível com a situação. Qualquer conduta pode
revolucionária teoria da gramática gerativa, os estudos de transformar-se em jogo, por meio de equivalência metafórica,
Miller sobre a linguagem seguem esse eixo. Posteriormente, quando a intenção do jogador está presente. Para Henriot, o
Bruner pesquisa o jogo, adotando o mesmo referencial, ou seja, jogo é sempre um processo metafórico: é-lhe próprio tomar
identificando a estrutura do jogo à linguagem. ausência como matéria, ultrapassar o presente no sentido do
futuro, transformar o real por meio do possível e lhe dar a possibilitam à criança o acesso a vários tipos de
dimensão do imaginário. Segundo o autor, pode-se chamar conhecimentos e habilidades.
Jogo todo processo metafórico resultante da decisão tomada e
mantida como um conjunto coordenado de esquemas Ao assumir a função lúdica e educativa, o brinquedo
conscientemente percebidos como aleatórios para a realização educativo merece algumas considerações:
de um tema deliberadamente colocado como arbitrário 1. função lúdica: o brinquedo propicia diversão, prazer e
(Henriot, 1989, p. 7). Essa interpretação permite compreender até desprazer, quando escolhido voluntariamente; e
por que condutas tão diferentes aparecem como jogo. 2. função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que
complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua
Como já foi visto, os paradigmas sobre o jogo infantil apreensão do mundo.
parecem equiparar o jogo ao espontâneo, "não sério", à
futilidade ou reivindicar o sério e associá-lo à utilidade O brincar, dotado de natureza livre, parece
educativa, em sua grande maioria, referenciais dos tempos do incompatibilizar-se com a busca de resultados, típica de
Romantismo. O aparecimento de novos paradigmas como os processos educativos. Como reunir dentro da mesma situação
de Bruner e de Vygotsky, partindo de pressupostos sociais e da o brincar e o educar? Essa é a questão que merece ser
linguística, oferece novos fundamentos teóricos ao papel dos detalhada.
brinquedos brincadeiras na educação pré-escolar.
Se a criança está diferenciando cores, ao manipular livre e
Tipos de brinquedos e brincadeiras prazerosamente um quebra-cabeça disponível na sala de aula,
a função educativa e a lúdica estão presentes. No entanto, se a
Não se pretende discutir as classificações existentes, criança prefere empilhar peças do quebra-cabeça, fazendo de
apenas ressaltar algumas modalidades de brincadeiras conta que está construindo um castelo, certamente estão
presentes na educação infantil. contemplados o lúdico, a situação imaginária, a habilidade
para a construção do castelo, a criatividade na disposição das
Brinquedo educativo (jogo educativo) cartas, mas não se garante a diferenciação das cores. Essa é a
especificidade do brinquedo educativo. Apesar da riqueza de
O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento, situações de aprendizagens que propicia, nunca se tem a
mas ganha força com a expansão da educação infantil, certeza de que a construção do conhecimento efetuado pela
especialmente a partir deste século. Entendido como recurso criança será exatamente a mesma desejada pelo professor.
que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, o A utilização do jogo potencializa a exploração e a
brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, construção do conhecimento, por contar com a motivação
destinado a ensinar formas ou cores, nos brinquedos de interna, típica do lúdico, mas o trabalho pedagógico requer a
tabuleiro que exigem a compreensão do número e das oferta de estímulos externos e a influência de parceiros, bem
operações matemáticas, nos brinquedos de encaixe, que como a sistematização de conceitos em outras situações que
trabalham noções de sequência, de tamanho e de forma, nos não jogos. Ao utilizar de modo metafórico a forma lúdica
múltiplos brinquedos e brincadeiras, cuja concepção exigiu um (objeto suporte de brincadeira) para estimular a construção
olhar para o desenvolvimento infantil e a materialização da do conhecimento, o brinquedo educativo conquistou espaço
função psicopedagógica: móbiles destinados à percepção definitivo na educação infantil.
visual, sonora ou motor a; carrinhos munidos de pinos que se
encaixam para desenvolver a coordenação motora; parlendas Brincadeiras tradicionais infantis
para a expressão da linguagem; brincadeiras envolvendo
músicas, danças, expressão motora, gráfica e simbólica. A brincadeira tradicional infantil, filiada ao folclore,
incorpora a mentalidade popular, expressando-se, sobretudo,
O uso do brinquedo /jogo educativo com fins pedagógicos pela oralidade. Considerada como parte da cultura popular,
remete-nos para a relevância desse instrumento para essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual
situações de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento de um povo em certo período histórico. A cultura não oficial,
infantil. Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende desenvolvida especialmente de modo oral, não fica
de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos cristalizada. Está sempre em transformação, incorporando
interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas criações anônimas das gerações que vão se sucedendo. Por ser
cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo um elemento folclórico, a brincadeira tradicional infantil
desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê- assume características de anonimato, tradicionalidade,
Ia. Ao permitir a ação intencional (afetividade), a construção transmissão oral, conservação, mudança e universalidade. Não
de representações mentais (cognição), a manipulação de se conhece origem da amarelinha, do pião, das parlendas, das
objetos e o desempenho de ações sensório-motor as (físico) e fórmulas de seleção. Seus criadores são anônimos. Sabe-se,
as trocas nas interações (social), o jogo contempla várias apenas, que provêm de práticas abandonadas por adultos, de
formas de representação da criança ou suas múltiplas fragmentos de romances, poesias, mitos e rituais religiosos.
inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o A tradicionalidade e universalidade das brincadeiras
desenvolvimento infantil. Quando as situações lúdicas são assentam-se no fato de que povos distintos e antigos, como os
intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular da Grécia e do Oriente, brincaram de amarelinha, empinar
certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. papagaios, jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase
Desde que mantidas as condições para a expressão do jogo, ou da mesma forma. Tais brincadeiras foram transmitidas de
seja, a ação intencional da criança para brincar, o educador geração em geração através de conhecimentos empíricos e
está potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar o permanecem na memória infantil.
jogo na educação infantil significa transportar para o campo do Muitas brincadeiras preservam sua estrutura inicial,
ensino-aprendizagem condições para maximizar a construção outras modificam-se, recebendo novos conteúdos. A força de
do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do tais brincadeiras explica-se pelo poder da expressão oral.
prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora. Enquanto manifestação livre e espontânea da cultura popular,
Ao usar a quadrilha para a apreensão de noções de conjunto, a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura
de pares e ímpares ou o boliche, para a construção de números, infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o
estão presentes propriedades metafóricas do jogo, que prazer de brincar. Por pertencer à categoria de experiências
contexto cultural, por sua vez, se estrutura por meio de A conquista da dimensão simbólica do pensamento: o
representações coletivas simbólicas, que vão ser, ao mesmo jogo como gênese da metáfora
tempo, alimento e produto do pensamento humano
(linguagem, arte, religião, mito, ciência). A realidade é, assim, Para Cassirer, a chave para a compreensão da verdadeira
construída; nunca capturada diretamente por um pensamento natureza do homem é o símbolo. Razão é um termo pouco
linear ou um discurso explícito. adequado para abranger as formas da vida cultural do homem
O ser humano é um ser sensível que, diante do mundo, em toda a sua riqueza e variedade. A definição de homem como
busca significações, o que torna seu pensamento dinâmico por animal racional aconteceu por um imperativo moral,
excelência; e é a metáfora, com suas múltiplas possibilidades fundamental.
de combinação, que possibilita a mediação entre realidade e Hoje se faz necessário resgatar o caráter simbólico do
pensamento. homem, quanto à percepção consciente, que se vê cada dia
O pensamento (metafórico por sua própria constituição) é mais reprimida, enrijecida e massificada, numa sociedade cuja
formado por uma rede de relações simbólicas apropriadas filosofia de vida é racionalista e reducionista e que, muitas
culturalmente, mas elaboradas e recriadas pelo sujeito a partir vezes, leva à alienação do próprio processo de criação e
de condições internas próprias. simbolização do sujeito, em que as crianças não têm mais
espaço para viver a infância de maneira plena e enriquecedora.
Também metafórica é a linguagem; seu uso baseia-se não
em definições precisas, mas na utilização de esquemas (não Em confronto com os outros animais, o homem não vive
necessariamente conscientes) que resultam de interações apenas nas numa realidade mais vasta, mas numa nova
ricas e complexas com a realidade física e social. dimensão da realidade. Existe uma diferença inequívoca entre
A teoria da linguagem como metáfora contrapõe-se à visão as reações orgânicas e as respostas humanas. No primeiro
positivista, literalista, rígida e fixa da linguagem que estanca o caso, a resposta dada a um estímulo é direta e imediata; no
fluxo da vida do pensamento. Propõe um modelo de linguagem segundo, a resposta é diferida e mediada por um lento e
como rede de significações que se constrói dentro e entre complexo processo de pensamento, Já não é dado ao homem
palavras, sentenças e unidades holísticas maiores da enfrentar diretamente a realidade. Em lugar de lidar com as
linguagem. É justamente este caráter holístico e dinâmico da próprias coisas, o homem pensa por meio de símbolos
linguagem, vista como instrumento de expressão do construídos pelo ser humano através de relações dialéticas
pensamento, fruto do confronto e da interação entre com o mundo cultural, social e físico.
indivíduos mergulhados em diálogo com o mundo simbólico e
cultural, que possibilitará, segundo Hesse e Arbid, o pluralismo O que, então, distingue o homem dos animais é que aquele
como instrumento social de crítica dinâmica. Também abrirá o possui uma imaginação e uma inteligência simbólicas que vão
caminho para a construção de lima "plataforma para a além de uma inteligência e imaginação práticas.
mudança", ou seja, de um espaço de confronto, diálogo e busca
para encaminhamento de questões que dizem respeito à No desenvolvimento das crianças, é evidente a transição de
convivência e à sobrevivência do homem no mundo. uma forma para outra através do jogo, que é a imaginação em
ação. A criança precisa de tempo e de espaço para trabalhar a
Como o recorte do mundo é dado por meio de diferentes construção do real pelo exercício da fantasia.
pontos de vista, o critério de uma objetividade, de uma
verdade única é questionado. O mundo presta-se a múltiplas A imaginação é um processo psicológico novo para a
Interpretações. Não se coloca ruptura entre significado literal criança; representa uma forma especificamente humana de
metafórico da linguagem, entre ciência social e natural. atividade consciente que não está presente na consciência das
Podemos dizer que nas ciências naturais predominam crianças muito pequenas e está ausente nos animais. Ela surge
objetivos práticos, mas considerações hermenêuticas primeiro em forma de jogo, que é a imaginação em ação.
colocam-se m relação a interpretações teóricas e "modelos de (Vygotsky)
mundo". Assim, as teorias de conhecimento, elas próprias, são
vistas orno construções, modelos provisórios, havendo Obrigada a adaptar-se sem cessar a um mundo social dos
sempre a perspectiva da transformação. mais velhos, cujos interesses e cujas regras lhe permanecem
exteriores, e a um mundo físico, que ela ainda mal compreende,
Enfatizando a importância da metáfora na nova a criança para seu equilíbrio afetivo e intelectual precisa dispor
compreensão da construção da realidade, Arbid e Hesse de um setor de atividade cuja motivação não seja a adaptação
(1987) sintetizam de maneira profunda as implicações dessa ao real senão, pelo contrário, a assimilação do real ao eu sem
nova epistemologia. coações nem sanções: tal é o jogo, que transforma o real por
assimilação mais ou menos pura às necessidades do eu, ao passo
Cada pessoa é um ser contingente. A evolução biológica que a imitação é acomodação mais ou menos pura aos modelos
criou as espécies, a evolução social deu forma a cada exteriores e a inteligência é o equilíbrio entre assimilação e
sociedade. Não há uma significação absoluta/verdadeira a ser acomodação. (Piaget)
alcançada. Mas, apesar de não acreditarmos num bem
absoluto, podemos valorizar tudo de bom que conhecemos e, Para Vygotsky, a imaginação em ação ou brinquedo é a
não acreditando num "mal" absoluto, lutamos contra o que primeira possibilidade de ação da criança numa esfera
acreditamos ser um mal. Mesmo vivendo numa sociedade cada cognitiva que lhe permite ultrapassar a dimensão perceptiva
pessoa não deixa de ser um indivíduo. A tensão dinâmica entre motor a do comportamento.
esquemas sociais e esquemas individuais propicia um espaço
no qual a liberdade pode ser construída/ definida. O objetivo Para Piaget, também é a representação em atos, através do
da educação é construir uma plataforma que possibilite este jogo simbólico, a primeira possibilidade de pensamento
espaço de liberdade mudança. propriamente dito, marcando a passagem de uma inteligência
sensório-motora, baseada nos cinco sentidos e na motricidade,
para uma inteligência representativa pré-operatória (material
e intuitiva) mediada por símbolos subjetivos, caminho para a
construção da inteligência operatória mediada por signos
históricos arbitrários.
Assim, na criança a imaginação criadora surge em forma de se em matéria da consciência: pensamentos e palavras.
jogo, instrumento primeiro de pensamento no enfrentamento Pensamentos e palavras que podem realmente ser fruto e
da realidade. Jogo sensório-motor que se transforma em jogo expressão genuína de uma práxis e, por isso mesmo,
simbólico, ampliando as possibilidades de ação e compreensão possibilitando a tornada de consciência dessa práxis. Ou, ao
do mundo. O conhecimento deixa de estar preso ao aqui e contrário, pensamentos e palavras vazios de significação,
agora, aos limites da mão, da boca e do olho e o mundo inteiro signos que amarram escravizam a possibilidade de
pode estar presente dentro do pensamento, uma vez que é compreensão do mundo e de si mesmo. Aqui, o pensar perde
possível "imaginá-Io", representá-lo com o gesto no ar, no seu caráter de jogo instintivo, em que cognição e afetividade
papel, nos materiais, com os sons, com palavras. estão imbricados na busca de significado- quer no estágio do
Representar é dar forma às experiências humanas jogo simbólico das crianças pequenas, quer no momento de
significativas; é reapresentar, tornar novamente presente, regras mais elaboradas-, mas em que as regras estão à mercê
presentificar vivências que, por sua importância, mereçam ser do jogador que as comanda e os signos prestam-se para
permanentemente lembradas. O imaginário não se confunde expressar o pensamento genuíno, como no caso da
com o real, ele é um instrumento para a compreensão e a alfabetização conscientizadora, que possibilita um
tomada de consciência do real. alargamento da leitura do mundo através da leitura da palavra
Para a criança, as linguagens expressivas, que se (Paulo Freire, 1985).
transformarão em linguagens artísticas para o adulto, são
instrumentos fundamentais no processo de construção do Infelizmente, nossas crianças, na maioria das escolas,
pensamento e da própria linguagem verbal socializada, pois recebem regras prontas, não significações. Elas devem aceitá-
são canais de pressão mais subjetivos, que darão forma às Ias para poder se transformar num "bom adulto". E o mesmo
experiências vividas e as transformarão em elementos de acontece com os professores.
pensamento interiorizado. As relações na escola estão congeladas e os conhecimentos
ritualizados. Existe um abismo entre o jogo metafórico e a
A realização da imaginação material, criadora, potencial aprendizagem mecanicista. A força da manipulação autoritária
inerente ao homem, é uma necessidade. faz sombra à força da vida instintiva da criança e à
possibilidade de construção do conhecimento significativo.
Toda criação é a ordenação de uma ideia, de um No entanto, o jogo está presente na escola, quer o professor
sentimento, expressão do diálogo entre o homem e o mundo permita quer não. Mas é um jogo de regras marcadas,
que o rodeia. Mas este diálogo, fruto de uma elaboração única predeterminadas, em que a única ação permitida à criança é a
e pessoal, dá-se também dentro de um todo social, pois a obediência, ou melhor, a submissão.
criação concretiza-se dentro de um espaço coletivo cultural. Por isso, é preciso resgatar o direito da criança a uma
Por um lado, a criação se faz não só através de símbolos educação que respeite seu processo de construção do
pessoais (jogo simbólico mais egocêntrico, centrado na pensamento, que lhe permita desenvolver-se nas linguagens
própria pessoa), mas também se transforma em possibilidade expressivas jogo, do desenho e da música. Estes, como
de comunicação entre os homens, pois é impregnada de instrumentos simbólicos de leitura e escrita de mundo,
significados transmitidos. Por outro lado, os próprios símbolos articulam-se ao sistema de representação da linguagem
pessoais são alimentados pela cultura que apresenta formas escrita, cuja elaboração mais complexa exige formas de
materiais e espirituais coletivas, simbolicamente estruturadas, pensamento mais sofisticadas para sua plena utilização.
historicamente construídas e passadas de geração a geração Faz-se necessário, então, ampliar o conceito de
(Cassirer, Arbid e Hesse). alfabetização presente na maioria das escolas e pré-escolas,
trazendo, dimensão político-estética da aquisição do
A cultura vai influenciar a visão de vida de cada um, conhecimento par, o bojo desta discussão e a questão da
orientando o fazer e o imaginar individual e interferindo na metáfora como elemento construtivo da linguagem e do
própria educação da sensibilidade, ampliando ou congelando pensamento.
suas possibilidades. A cultura torna-se parte da natureza Acredito que as ideias apresentadas no decorrer deste
humana. texto poderão contribuir para a melhoria do trabalho
É através das relações dialéticas com o meio físico e social pedagógico tanto nos cursos de formação do educador quanto
que a criança constrói seu pensamento, transformando os no trabalho efetivo junto às crianças.
processos psicológicos elementares em processos complexos,
fazendo com que a cultura torne-se parte de cada pessoa A brincadeira de faz de conta: lugar do simbolismo, da
(Vygotsky). representação, do imaginário
A arte, como parte da cultura, é um dos grandes Quando vemos uma criança brincando de faz de conta,
patrimônios da humanidade, ao qual todos os homens sentimo-nos atraídos pelas representações que ela
deveriam poder ter acesso para se nutrir cognitiva e desenvolve. A primeira impressão que nos causa é que as
espiritualmente, ampliando lias possibilidades de pensamento cenas se desenrolam de maneira a não deixar dúvida do
e de ação no mundo, enriquecendo o espaço imaginativo e significado que os objetos assumem dentro de um contexto.
simbólico, capazes de alargar e flexibilizar o pensamento Assim, os papéis são desempenhados com clareza: a menina
racional. torna-se mãe, tia, irmã, professora: o menino torna-se pai,
índio, polícia, ladrão sem script e sem diretor. Sentimo-nos
A capacidade de simbolizar e de jogar com à realidade como diante de um miniteatro, em que papéis e objetos são
através da fantasia e dos próprios símbolos coletivamente improvisados (Vieira, 1978).
estruturados - a linguagem verbal (oral e escrita), os mitos, a Esse tipo de jogo recebe várias denominações: jogo
religião, a ciência - é que permite ao homem viver numa nova imaginativo, jogo de faz de conta, jogo de papéis ou jogo
dimensão da realidade: o universo simbólico. É a sociodramático. A ênfase é dada à "simulação" ou faz de conta,
representação/ simbolização que possibilita a interiorização cuja importância é ressaltada por pesquisas que mostram sua
do mundo. eficácia para promover o desenvolvimento cognitivo e afetivo-
social da criança.
Neste processo de interiorização, porém, o mundo perde Os termos simbólico, representativo, imaginativo,
um pouco do seu caráter sensorial, material, para transformar- fantástico, de simulação, de ficção ou faz de conta podem ser
vistos como sinônimos, desde que sejam empregados para movimentos de atos complexos, que podem ter sido,
descrever o mesmo fenômeno. anteriormente, objeto de jogos de exercício sensório-motor
isolados. Esses movimentos são, no contexto do jogo
Referências literárias e teóricas simbólico, subordinados à representação e à simulação que
devem predominar na ação. O apogeu do jogo simbólico situa-
Remonta ao romântico século XIX o início da abertura do se entre 2 e 4 anos de idade declinando a partir daí.
mundo infantil, relacionado mais tarde, em parte, ao mundo da Podemos observar crianças que brincam imitando
experiência adulta da imaginação. Na Alemanha, Goethe e barulhos de canhão e roncos de aviões com apenas alguns
Schiller eram especialmente sensíveis ao componente pedaços de madeira e soldados de plásticos. Ainda, uma
imaginativo nos jogos das crianças e suas implicações no menina dá grandes instruções à sua amiga invisível para que
comportamento adulto, especialmente no que diz respeito à não molhe nem suje os sapatos em um lamaçal.
produção artística. Schiller desenvolveu uma teoria sobre a
natureza do jogo, que teve considerável influência sobre os Uma criança de 4 anos num balanço age "como se"
etologistas modernos, e Goethe ressaltava o relacionamento estivesse em um avião e precisasse mudar os planos de voo
com sua mãe como uma inspiração para contos e fantasias. porque tem pouca gasolina. Há um contraste entre este tipo de
Fröebel e Pestalozzi, pioneiros no campo da educação jogo de faz de conta e o brincar de uma criança que,
infantil, eram particularmente sensíveis à importância do jogo simplesmente se balança o mais alto que pode em um balanço.
na infância relacionado à prática do ensino e educação da A primeira criança, de acordo com Piaget, estaria introduzindo
criança. Contudo, havia pouca descrição dos jogos das crianças elementos de" como se" e graus de fantasia, os quais estariam
na literatura do século XIX. modificando a situação, enquanto a outra, na sua brincadeira,
estaria, apenas, procurando dominar dificuldades.
Mark Twain mostra muito bem o jogo de faz de conta ao
contar as peripécias de Tom Sawyer e seus amigos que De acordo com Singer (1973), a maior parte dos jogos de
brincavam de pirata, de capitão de barco e de muitos outros conta também tem qualidade social no sentido simbólico.
jogos. Envolve transações interpessoais, eventos e aventuras que
Parece improvável que o jogo imaginativo tenha tido seu engIobam outras características e situações no espaço e no
início apenas no século XIX. Antes, este jogo já existia de tempo. O jogo imaginativo acontece com pares ou grupos de
maneira mais simples, mas passava despercebido para o crianças que introduzem objetos inanimados, pessoas e
mundo adulto nas experiências da infância (Singer, 1973). animais que não tão presentes no momento.
Atualmente, tanto o cinema como a televisão, com seus Para Vygotsky (1984), o que define o brincar é a situação
fiImes infantis da era Disney, e os desenhos animados na TV, imaginária criada pela criança. Além disso, devemos levar em
um seus super-heróis como He-Man, Batman, Jaspion e outros, conta que brincar preenche necessidades que mudam de
provavelmente, influenciaram o desenvolvimento do jogo acordo com a idade. Exemplo: um brinquedo que interessa a
imaginativo, tornando-o mais elaborado e sofisticado. um bebê deixa de interessar a uma criança mais velha. Dessa
forma, a maturação dessas necessidades são de suma
Muitos teóricos e estudiosos do assunto, como Freud importância para entendermos o brinquedo da criança como
(llJ76a), Piaget (1971), Luria (1932) e Vygotsky (1984), uma atividade singular. As crianças querem satisfazer certos
afirmam que o jogo de fantasia possibilita observar a origem desejos que muitas vezes não podem ser satisfeitos
dos devaneios na fase adulta. imediatamente. Por exemplo: Uma criança quer ocupar o papel
da mãe, porém, esse desejo não pode ser realizado
Examinando, brevemente, algumas teorias e pontos de imediatamente. Como a criança pequena não tem a capacidade
vista, chega-se a jogos imaginativos naturais que enfatizam o de esperar, cria um mundo ilusório, onde os desejos
elemento faz de conta. Isso inclui crianças concentradas na irrealizáveis podem ser realizados. Esse mundo é que
construção de uma torre de blocos o mais alto possível, Vygotsky chama de brincadeira. Para ele, a imaginação lima
montando um quebra-cabeças, cortando roupas de papel e atividade consciente que não está presente na criança
vestindo figuras de brinquedo ou, ainda, passeando num pequena. Como todas as funções da consciência, surge
triciclo ou jogando xadrez. Estas e outras dúzias de atividades, originalmente da ação.
como “voar", cair, correr e pular corda, representam O brinquedo que comporta uma situação imaginária
experiências concretas que envolvem um mínimo de também comporta uma regra. Não uma regra explícita, mas
elementos, de imaginação e de faz de conta. uma regra que a própria criança cria. Segundo Vygotsky, à
Vejamos, agora, mais especificamente, a opinião de autores medida que criança vai se desenvolvendo, há uma
particularmente importantes para a compreensão do jogo modificação: primeiro predomina a situação e as regras estão
imaginativo ou de faz de conta. ocultas (não explícitas); quando ela vai ficando mais velha,
Para Piaget (1971), quando brinca, a criança assimila o predominam as regras (explícitas) e a situação imaginária fica
tundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois oculta.
sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto
mas da função que a criança lhe atribui. Ação e significado no brinquedo
É o que Piaget chama de jogo simbólico, o qual se apresenta
inicialmente solitário, evoluindo para o estágio de Jogo Vygotsky dá ênfase à ação e ao significado no brincar. Para
sociodramático, isto é, para a representação de papéis, como ele é praticamente impossível a uma criança com menos de 3
brincar de médico, de casinha, de mãe etc. anos envolver-se em uma situação imaginária, porque ao
O jogo simbólico implica a representação de um objeto por passar do concreto para o abstrato não há continuidade, mas
outro a atribuição de novos significados a vários objetos, a uma descontinuidade. Só brincando é que ela vai começar a
atribuição de novos significados a vários objetos, a sugestão de perceber o objeto não da maneira que ele é, mas como
temas, como: "Vamos dizer que isso e um cavalinho: desejaria que fosse. Na aprendizagem formal isso não é
(apontando para um pedaço de madeira) ou a adoção de possível, mas no brinquedo isso acontece, porque é onde os
papéis, como "sou o pai", "sou o médico", "sou a mãe" etc. objetos perdem a sua força determinadora. A criança não vê o
O jogo simbólico individual pode, também, de acordo com objeto como ele é, mas lhe confere um novo significado. Por
a ocasião transformar-se em coletivo com a presença de vários exemplo: quando a criança monta em uma vassoura e finge
participantes. A maior parte dos jogos simbólicos implica estar cavalgando um cavalo, ela está conferindo um novo
significado ao objeto. Esse significado precisa de um "pivô" que papéis da vida dos adultos como brincar de mãe, de médico,
comporte um gesto que se assemelhe à realidade, pois para enfermeira etc.
Vygotsky, o mais importante não é a similaridade do objeto
com a coisa imaginada, mas o gesto. Neste caso, a vassoura Assim são criadas as pré-condições para o jogo de papéis
comporta um gesto em relação ao objeto (cavalo) ao qual ela propriamente dito, cujo desenvolvimento ocorre na pré-
está conferindo um significado. Dessa forma, no brinquedo, o escola. A interpretação do papel do adulto pela criança é uma
significado conferido ao objeto torna-se mais importante que forma original de simbolização. A criança passa do brinquedo
o próprio objeto. cujo conteúdo básico é a reprodução das atividades dos
adultos com objetos para o brinquedo cujo conteúdo básico
O que foi dito sobre a separação do significado dos objetos toma-se a reprodução das relações de adultos entre si ou com
aplica-se, igualmente, às ações da criança. Por exemplo, crianças. A mudança no conteúdo da brincadeira da criança
quando uma criança bate com os pés no chão e imagina-se está intimamente relacionada com a mudança na natureza das
cavalgando um cavalo, ela está dando mais importância ao atividades apresentadas por ela. O jogo simbólico constitui,
significado que está conferindo à ação do que à própria ação. assim, mais do que um objeto da própria atividade, um
No brinquedo, uma ação substitui outra ação, assim como um expressivo gesto acompanhado pela fala (Elkonin, 1971).
objeto substitui outro objeto. Quer dizer que, ao mesmo tempo De acordo com Vygotsky, quando a criança começa a falar
que a criança é livre para determinar suas ações no brincar, as palavras são percebidas como uma propriedade antes que
estas estão subordinadas aos significados dos objetos, e a como um símbolo do objeto. Linguagem e jogo simbólico são
criança age de acordo com eles. expressões de um sistema mediado, no qual eventos internos,
Vygotsky ainda chama atenção para o fato de que, para a imagens ou palavras, servem para orientar e dirigir o
criança com menos de 3 anos, o brinquedo é coisa muito séria, comportamento. Jogo simbólico é um mecanismo
pois ela não separa a situação imaginária da real. Já na idade comportamental que possibilita a transição de coisas como
escolar, o brincar torna-se uma forma de atividade mais objetos de ação para coisas como objetos do pensamento
limitada que preenche um papel específico em seu (Vygotsky, 1984, p. 122-6).
desenvolvimento, tendo um significado diferente do que tem
para uma criança em idade pré-escolar. Finalmente gostaríamos de acrescentar: (1) para Vygotsky,
Dessa forma, o brinquedo tem grande importância no O brincar tem sua origem na situação imaginária criada pela
desenvolvimento, pois cria novas relações entre situações no criança, em que desejos irrealizáveis podem ser realizados,
pensamento e situações reais. com a função de reduzir a tensão e, ao mesmo tempo, para
constituir uma maneira de acomodação a conflitos e
Brinquedo e desenvolvimento simbólico frustrações da vida real; (2) para Piaget, o brincar representa
uma fase no desenvolvimento da inteligência, marcada pelo
A simbolização através dos objetos funciona como pré- domínio da assimilação sobre a acomodação, tendo como
condição para o aparecimento do jogo de papéis propriamente função consolidar a experiência passada.
dito.
Elkonin (1971), citando Vygotsky, diz que o jogo de papéis O faz de conta: ponte entre a realidade e a fantasia
l' desenvolve a partir das atividades da criança com o objeto,
principalmente, no 2° e 3° anos de vida. Essas atividades que Em seu livro Uma vida para seu filho, Bettelheim (1988)
desenvolvem o uso de vários objetos não são adquiridas pela afirma que, através das fantasias imaginativas e das
simples transferência do esquema sensório-motor, adquirido brincadeiras baseadas nelas, as crianças podem começar a
no 1° ano de vida, a novos objetos. Elas são desenvolvidas compensar as pressões que sofrem na realidade do cotidiano.
somente na relação da atividade da criança com os adultos. Na Assim, enquanto representam fantasias de ira e hostilidade em
criança de 1 a 2 anos, a atividade não é separada do objeto jogos de guerra ou preenchem seus desejos de grandeza,
assimilado nem é, de forma independente, transferida pela imaginando ser o Super-Man, o Hulk, o Batman ou um rei,
criança a um outro objeto. Isso constitui a principal diferença estão procurando a satisfação indireta através de devaneios
do esquema manipulativo sensório-motor no qual a irreais, ao mesmo tempo que procuram livrar-se do controle
assimilação do objeto aparece claramente na repetição de dos adultos, especialmente dos pais.
movimentos com os mais diversos brinquedos. Após isso, a
criança começa a reproduzir ações em suas brincadeiras. Por Kostelnik e colaboradores (1986) citam algumas
exemplo, ela alimenta não só o seu cãozinho, mas também características dos super-heróis e heroínas:
outros animais de brinquedo. Mais tarde, o limite de tais - bondade, sabedoria, coragem, inteligência e força;
transferências se expande, revelando no brinquedo não só a - solucionar qualquer problema e ultrapassar obstáculos.
identificação de suas atividades com a dos adultos, assim como Os super-heróis não têm de se preocupar com o.
seu brinquedo reflete momentos individuais de sua própria compromissos que caracterizam o mundo real e suas soluções
experiência de vida. são sempre aceitas;
- as pessoas os procuram para que os guiem e resolvam
Contudo, nenhum desses objetos substitui ou simboliza suas dúvidas, enquanto eles não recebem ordens de ninguém;
outros objetos. O que ocorre é a simples reprodução de uma - sabem sempre o que é certo, nunca se enganam, não estão
situação. A separação ação/ objeto só ocorre quando a criança sujeitos a dúvidas, frustrações e fraquezas como a maioria das
reproduz a situação na qual os objetos estão ausentes. Por pessoas. São aprovados e reconhecidos pelos adultos e todos
exemplo: dar banho na boneca em uma água imaginária ou dar querem ser seus amigos. Portanto, as crianças desejariam ter
de comer um alimento que não existe. os poderes que eles têm, como força, velocidade e resistência,
Simultaneamente, alguns objetos começam a ser usados além do poder de voar, nadar embaixo d'água a longas
como substitutos de outros. Exemplo: um pedaço de pau e um distâncias ou mudar a forma do corpo.
bloco funcionam como sabão e termômetro para a boneca. A
criança só consegue nomeá-los sozinha, sem a interferência do Ainda, de acordo com as mesmas autoras, por essas
adulto, mais ou menos aos 3 anos de idade. A partir desse características podemos entender por que as crianças são tão
momento, a criança não só substitui um objeto por outros ou atraídas pela imagem do super-herói e tentam imitá-lo. Não
reproduz aspectos de sua vida diária, mas passa a representar podemos esquecer que as crianças têm pouco poder num
mundo dominado pelos adultos, e elas têm consciência disso.
Brincando, portanto, a criança coloca-se num papel de O brinquedo aparece como um pedaço de cultura colocado
poder, em que ela pode dominar os vilões ou as situações que ao alcance da criança. É seu parceiro na brincadeira. A
provocariam medo ou que a fariam sentir-se vulnerável e manipulação do brinquedo leva a criança à ação e à
insegura. A brincadeira de super-herói, ao mesmo tempo que representação, a agir e a imaginar.
ajuda a criança a construir a autoconfiança, leva-a a superar Manipulação, posse, consumo ... o brinquedo introduz a
obstáculos da vida real, como vestir-se, comer um alimento criança nas operações associadas ao objeto. A apropriação se "
sem deixar cair, fazer amigos, enfim, corresponder às inscreve num contexto social: o brinquedo pode ser mediador
expectativas dos padrões adultos (Levinzon, 1989). de uma relação com outra ou com uma atividade solitária, mas
sempre sobre o fundo da integração a uma cultura específica.
Finalmente a brincadeira de super-herói pode ser Além disso, é suporte de representações, introduzindo a
considerada uma forma especializada de jogo de papéis ou criança num universo de sentidos e não somente de ações.
sociodramático. Entretanto, enquanto encorajamos as
crianças a desenvolverem outros tipos de jogos de papéis, O brincar da criança não está somente ancorado no
brincar de super-heróis é, muitas vezes, visto como prejudicial, presente, mas também tenta resolver problemas do passe do,
caótico ou violento. Esta brincadeira, porém, não é má, ao ao mesmo tempo que se projeta para o futuro. A menina que
contrário, oferece numerosas oportunidades para a criança brinca com bonecas antecipa sua possível maternidade e tenta
obter um sentido de domínio, bem como provê benefícios enfrentar as pressões emocionais do presente. Brincar de
comumente associados ao jogo dramático. boneca permite-lhe representar seus sentimentos
ambivalentes, como o amor pela mãe e os ciúmes do
A brincadeira, os brinquedos e a realidade irmãozinho que recebe os cuidados maternos. Brincar com
bonecas numa infinidade de formas está intimamente ligado à
No jogo simbólico as crianças constroem uma ponte entre relação da menina com a mãe (Bettelheim, 1988).
a fantasia e a realidade. Freud observou uma criança que sofria
a ansiedade da separação da mãe. A criança brincava com uma Melanie Klein (apud Geets, 1977) afirma que brincar com
colher presa a um barbante. Ela atirava a colher e puxava-a de bonecas revela a necessidade que a criança tem de ser consola
volta repetidamente. No jogo, a criança foi capaz de controlar da e tranquilizada. Alimentar e vestir bonecas com as quais se
ambos os fenômenos; perda e recuperação. Quando se está identifica funciona como uma prova de que sua mãe a ama e
aberto para tais simbolismos, pode-se reconhecer e apreciar o isso diminui o medo de ser abandonada e de ficar ao
brincar das crianças. Elas não podem fazer nada contra seus desamparo sem lar e sem mãe.
raptores. Não podem evitar que os adultos se envolvam em
conflitos armados, nem que membros de uma gangue Bomtempo e Marx (1993), em uma pesquisa com a boneca
espanquem suas mães. Mas quando brincam, elas podem ter o Ganha-Nenê, verificaram que as crianças pequenas (3 a 5
controle que lhes falta da realidade (Garbarino e colab., 1992). anos) parecem usar a boneca não só como instrumento de ação
As crianças são capazes de lidar com complexas mas também como faz de conta e, à medida que aumenta a
dificuldades psicológicas através do brincar. Elas procuram idade, a boneca passa a fazer parte de um contexto onde o faz
integrar experiências de dor, medo e perda. Lutam com de conta está presente de forma mais intensa.
conceitos de bom e mal. O triunfo do bem sobre o mal dos
heróis protegendo vítimas inocentes é um tema comum na Nas crianças de 6 a 8 anos há enriquecimento na
brincadeira das crianças (Bettelheim, 1988). representação de papéis que se tornam mais definidos,
Crianças que vivem em ambientes perigosos repetem suas embora a gravidez e o nascimento ainda façam parte de um
experiências de perigo em suas brincadeiras. Por exemplo: no mundo mágico.
Brasil, crianças que vivem nas favelas onde predomina a luta É através de seus brinquedos e brincadeiras que a criança
entre policiais e bandidos têm como tema preferido de suas tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação,
brincadeiras esses conflitos. uma abertura para o diálogo com o mundo dos adultos, onde
Quando a criança assume o papel de alguém que teme, a “ela restabelece seu controle interior, sua autoestima e
personificação é determinada por ansiedade ou frustração. desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os
Vários dos exemplos clássicos de Freud seguem esta linha: outros" (Garbarino e colab., 1992).
uma criança brinca de médico depois de ter tomado uma
injeção ou de ter sido submetida a uma pequena cirurgia. Ana O fantástico, o imaginário, expressos na brincadeira da
Freud relata o caso da criança que vence o medo de atravessar criança quando fala com um cabo de vassoura "como se" fosse
o corredor escuro fingindo ser o fantasma que teme encontrar. um cavalo, fica zangada com seu cãozinho imaginário porque
Escolhendo o papel do médico ou do fantasma, a criança pode faz sujeira no tapete da mamãe ou transforma a pedra m
passar do papel passivo para o ativo e aplicar a uma outra pássaro, mostram uma mistura de realidade e fantasia, em 1 It'
pessoa, a uma criança ou a uma boneca o que foi feito com ela. cotidiano toma outra aparência, adquirindo um novo
A passagem de um papel passivo para um papel ativo é o significado. Isso está muito próximo do sonho ou do "reverso
mecanismo básico de muitas atividades lúdicas. Reduz o efeito Do espelho" de que nos fala Lewis Carrol, no qual os
traumático de uma experiência recente e deixa o indivíduo contornos realidade e fantasia se misturam.
mais bem preparado para ser submetido novamente ao papel
passivo, quando necessário. Isso explica, em grande parte, o No sonho, na fantasia, na brincadeira de faz de conta
efeito benéfico da brincadeira (Peller, 1971). desejos que pareciam irrealizáveis podem ser realizados.
Dentro de uma mesma cultura, crianças brincam com
temas comuns: educação, relações familiares e vários papéis A séria busca no jogo: do lúdico na Matemática
que representem as pessoas que integram essa cultura. Os
temas, em geral, representam o ambiente das crianças e As referências ao uso do jogo no ensino de matemática, nos
aparecem no contexto da vida diária. Quando o contexto muda, últimos anos, têm sido constantes. Os congressos brasileiros
as brincadeiras também mudam. Pode-se dizer, então, que o sobre jogos realizados na Universidade de São Paulo, em 1989
ambiente é a condição para a brincadeira e, por conseguinte, e em 1990, já faziam referência ao jogo no ensino de
ele acondiciona (Garbarino e colab., 1992). Matemática. O mesmo podemos notar nos Encontros
Nacionais de Educação Matemática - ENEM - promovidos pela
Sociedade Brasileira de Educação Matemática, realizados
desde 1987 e nos encontros regionais de Educação conhecimentos. Há, no processo de aprendizagem,
Matemática. Nesses eventos, o tema jogo esteve presente determinados componentes internos que não podem ser
através de comunicações, grupos de trabalho ou minicursos. A ignorados pelos educadores. "A ideia de um ser humano
Fundação para o Desenvolvimento Escolar (FDE - São Paulo) relativamente fácil de moldar e dirigir a partir do exterior foi
também tem propiciado a discussão do jogo como proposta progressivamente substituída pela ideia de um ser humano
pedagógica através de cursos e de publicações. que seleciona, assimila, processa, interpreta e confere
significações aos estímulos e configurações de estímulos"
As evidências parecem justificar a importância que vem (Coll, 1994, p. 100). É esta perspectiva que, segundo Coll, tem
sumindo o jogo nas propostas de ensino de matemática. contribuído para pôr em relevo a inadequação de certos
Torna-se relevante a análise desta tendência para que métodos essencialmente expositivos que simplificam os
possamos assumir conscientemente o nosso papel de papéis dos professores e dos alunos como de simples
educadores. Isto se justifica em virtude de podermos estar transmissores e receptores de conhecimentos,
incorrendo em determinados erros que, muitas vezes, nos respectivamente. Esta nova perspectiva sobre a ação educativa
parecem irreparáveis, se deixarmos que crianças sejam tem servido, ainda segundo o autor, para "revitalizar as
submetidas a certas metodologias ou a conteúdos sem uma propostas pedagógicas que situam na atividade
análise detalhada dessas ações de modo a antecipar, do ponto autoestruturante do aluno, isto é, na atividade autoiniciada e
de vista teórico, sua pertinência. sobretudo autodirigida, o ponto de partida necessário para
A educação matemática está repleta de exemplos de ações uma verdadeira aprendizagem".
em que se destacam aspectos isolados dos problemas de Outros fatores que vêm se tornando relevantes são as
aprendizagem desta disciplina. A matemática moderna é contribuições de teóricos que destacam o papel do meio
apenas um dos exemplos mais significativos. Os congressos de cultural como definidores das possibilidades de aprendizagem
educação matemática patrocinados pela Unesco também do sujeitos (Sniders, 1988; Freire, 1983; D' Ambrósio, 1986
contribuíram para uma visão desarticulada dos problemas do etc.).
ensino de matemática. As discussões de D' Ambrósio (1986),
Matos (1989), Moura (1992) e Fiorentini (1994) sobre a Do ponto de vista da necessidade de se considerar os
evolução do conceito de educação matemática mostram que os sujeitos que aprendem como agentes culturais, Paulo Freire
problemas de ensino desta disciplina, até bem pouco tempo, deve ser citado como sendo, certamente, o pioneiro entre nós
eram abordados tomando-se apenas aspectos isolados dos a lembrar que o conhecimento tem suas bases em uma
elementos constitutivos desse ensino. Até meados da década determinada cultura e que esta deve ser considerada quando
de 70, as discussões procuravam ora nos objetivos, ora nos atentarmos para a educação como elemento libertador, isto é,
métodos, ora nos conteúdos a principal causa do fracasso do quando ensinarmos para conferir ao homem instrumentos
ensino da matemática. intelectuais para atuar criticamente no meio em que vive. As
A visão de que o ensino de matemática requer contribuição contribuições de Sniders, com suas publicações em que releva
de outras áreas de conhecimento e de que o fenômeno o papel dos conteúdos culturais, vêm corroborar com as
educativo é multifacetado é, para o professor de matemática, posições paulofreirianas.
algo recente e ainda, infelizmente, pouco difundido e aceito. Em relação à matemática, vamos encontrar em D'
A análise dessa tendência indica a necessidade de reflexões Ambrósio aquele que faz as primeiras defesas da inclusão no
sobre novas propostas de ensino, de modo que venhamos a ensino dos elementos culturais. Trabalhos como os de Paulus
considerar os múltiplos e variados elementos presentes na Gerdes (1993), em Moçambique, e de Bichop (1988), na
ação pedagógica do professor. Foi necessário que Inglaterra, também atestam o crescente destaque dado à
contribuições de outras áreas de conhecimento viessem a se cultura como norteadora de propostas de ensino de
incorporar à matemática para que pudéssemos avaliar os matemática.
erros cometidos em nome da melhoria do ensino. Recentemente as teorias de cunho sociointeracionista nos
A pressa por respostas às reivindicações para uma trazem outros elementos que vêm juntar-se àquelas que
melhoria imediata no ensino de matemática levou-nos a tomam o ato de ensinar como elemento complexo e
assumir modismos sem que atentássemos para o conjunto de multifacetado. Os conteúdos passam a ser vistos de forma mais
elementos I" sentes no ato de ensinar. Devemos lembrar que ampla. Não são apenas informações de uma determinada
apenas recentemente expressões como etnomatemática e disciplina e, sim, definidos a partir de um conjunto de valores
modelagem matemática incorporaram-se às perspectivas do sociais a serem preservados, criados ou recriados e difundidos
educador matemático. Isso foi feito na medida em que este através da escola. Os conteúdos passam a ser considerados
passou a observar os elementos culturais como sendo objetivos tornados conceitos possíveis de ser veiculados
relevantes na formação dos alunos. Esses pressupostos têm através de atividades de ensino (Coll e Gallart, 1987, León,
encontrado nas pesquisas com base em teorias psicológicas, 1991).
notadamente as construtivistas, evidências que enfatizam a
necessidade de se considerar os conhecimentos prévios dos A análise dos novos elementos incorporados ao ensino de
sujeitos (Driver, 1988). matemática não pode deixar de considerar o avanço das
Embora Kishimoto (1994), numa ampla revisão discussões a respeito da educação e dos fatores que
bibliográfica, encontre referências ao uso do jogo na educação contribuem para uma melhor aprendizagem. O jogo aparece,
que remontam à Roma e à Grécia antigas, se tomarmos como deste modo, dentro de um amplo cenário que procura
marco apenas a história mais recente, veremos que é deste apresentar a educação, em particular a educação matemática,
século, preponderantemente na sua segunda metade, que em bases cada vez mais científicas. Achamos que esse cenário
vamos ter entre nós as contribuições teóricas mais relevantes deve ser o nosso porto seguro para não cairmos em erros
para o aparecimento de propostas de ensino que incorporam grosseiros como os cometidos na recente história da
o uso de materiais pedagógicos em que os sujeitos possam matemática.
tomar parte ativa na aprendizagem. São as contribuições de Ao analisar o jogo no ensino de matemática, podemos fazer
Piaget, Bruner, Wallon e Vygotsky que, definitivamente, uma retrospectiva sobre como este foi sendo incorporado às
marcam as novas propostas ti ensino em bases mais atividades educativas para que, a partir daí, tenhamos
científicas. claramente a justeza de seu uso. Não é nossa pretensão fazer
É recente, portanto, a consciência de que os sujeitos, ao uma história do jogo na educação matemática. O nosso
aprenderem, não o fazem como meros assimiladores de objetivo é buscar as razões do uso do jogo na educação
matemática, atentos aos cuidados a serem tomados com os anterior. Diferencia-se daquela ao considerar o jogo como
modismos adotados, sem uma análise prévia das condições em impregnado de conteúdos culturais e que os sujeitos, ao tomar
que aparecem as propostas de ensino e das bases teóricas que contato com eles, fazem-no através de conhecimentos
as sustentam. adquiridos socialmente. Ao agir assim, estes sujeitos estão
O jogo recebe de teóricos como Piaget, Vygotsky, Leontiev, aprendendo conteúdos que lhes permitem entender o
Elkonin, entre outros, as contribuições para o seu conjunto de práticas sociais nas quais se inserem.
aparecimento em propostas de ensino de matemática.
Lembrado como importante elemento para a educação Neste sentido, as concepções sociointeracionistas partem
infantil, no processo de apreensão dos conhecimentos em do pressuposto de que a criança aprende e desenvolve suas
situações cotidianas, o jogo passa a ser defendido como estruturas cognitivas ao lidar com o jogo de regra. Nesta
importante aliado do ensino formal de matemática (Moura, concepção, o jogo promove o desenvolvimento, porque está
1991; Souza, 1994). impregnado de aprendizagem. E isto ocorre porque os
sujeitos, ao jogar, passam a lidar com regras que lhes
Kishimoto (1994) cita pelo menos duas dezenas de autores permitem a compreensão do conjunto de conhecimentos
que propõem ou utilizam jogos nas diversas áreas do veiculados socialmente, permitindo-lhes novos elementos
conhecimento escolar. São exemplos mais recentes de para apreender os conhecimentos futuros.
aplicação das contribuições teóricas da psicologia, da
antropologia e da sociologia para a educação. O jogo, nesta visão da psicologia, permite a apreensão dos
conteúdos porque coloca os sujeitos diante da impossibilidade
O lado sério do jogo: a possibilidade de aprender de resolver, na prática, as suas necessidades psicológicas. O
indivíduo experimenta, assim, situações de faz de conta do
O raciocínio decorrente do fato de que os sujeitos jogo regrado pela lógica, vivenciada ou criada, para solucionar
aprendem através do jogo é de que este possa ser utilizado as impossibilidades de tornar realidade o seu desejo (Leontiev,
pelo professor em sala de aula. As primeiras ações de 1988).
professores apoiados em teorias construtivistas foram no
sentido de tornar os ambientes de ensino bastante ricos em É uma decorrência desta visão o aparecimento dos
quantidade e variedade de jogos, para que os alunos pudessem cantinhos de jogos, das brincadeiras de faz de conta etc. O jogo,
descobrir conceitos inerentes às estruturas dos jogos por meio corno promotor da aprendizagem e do desenvolvimento,
de sua manipulação. Esta concepção tem levado a práticas passa a ser considerado nas práticas escolares como
espontaneístas da utilização dos jogos nas escolas. A importante aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante
sustentação de tal prática pode ser encontrada nas teorias de situações de jogo pode ser uma boa estratégia para
psicológicas que colocam apenas no sujeito as possibilidades aproximá-Io dos conteúdos culturais a serem veiculados na
de aprender, desconsiderando elementos externos como escola, além de poder estar promovendo o desenvolvimento
possibilitadores da aprendizagem. de novas estruturas cognitivas.
São tais concepções de aprendizagem subjetivistas que
colocam o conhecimento como produto de articulações O jogo, na educação matemática, passa a ter o caráter de
internas aos sujeitos. Segundo esta visão, a atividade direta do material de ensino quando considerado promotor de
aluno sobre os objetos de conhecimento é a única fonte válida aprendizagem. A criança, colocada diante de situações lúdicas,
de aprendizagem, e assume, implicitamente, que qualquer apreende a estrutura lógica da brincadeira e, deste modo,
tentativa de intervenção do professor para ensinar um apreende também a estrutura matemática presente. Esta
conhecimento estruturado está fadada ao fracasso ou à poderia ser tomada como fazendo parte da primeira visão de
produção de um conhecimento meramente repetitivo (Coll; jogo de que tratamos até aqui. Na segunda concepção, o jogo
1994, p. 102). deve estar carregado de conteúdo cultural e assim o seu uso
O jogo, ainda segundo essa concepção, deve ser usado na requer um certo planejamento que considere os elementos
educação matemática obedecendo a certos níveis de sociais em que se insere. O jogo, nessa segunda concepção, é
conhecimento dos alunos tidos como mais ou menos fixos. O visto como conhecimento feito e também se fazendo. É
material a ser distribuído para os alunos deve ter uma educativo. Esta característica exige o seu uso de modo
estruturação tal que lhes permita dar um salto na intencional e, sendo assim, requer um plano d ação que
compreensão dos conceitos matemáticos, É assim que permita a aprendizagem de conceitos matemáticos e culturais,
materiais estrutura dos, como blocos lógicos, material de uma maneira geral.
dourado, cuisenaire e outros - na maioria decorrentes destes -
, passaram a ser veiculados nas escolas. Nesta perspectiva, o jogo será conteúdo assumido com
A visão do conhecimento puro, que decorre apenas do finalidade de desenvolver habilidades de resolução de
madurecimento de estruturas internas, levou a práticas em problemas possibilitando ao aluno a oportunidade de
que os conteúdos eram pouco relevantes e, por priorizarem estabelecer planos de ação para atingir determinados
desenvolvimento das estruturas, a uma concepção de jogo objetivos, executar jogadas segundo este plano e avaliar sua
como promotor desse desenvolvimento. O uso de sucata para eficácia nos resultados obtidos.
a confecção de brinquedos, de jogos de montar, e a retomada Desta maneira, o jogo aproxima-se da matemática via
do uso de materiais de ensino sem objetivos pedagógicos desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas
claros são a concretização da concepção que entende a (Moura. 1991) e mais, permite trabalhar os conteúdos
construção do conhecimento como fenômeno essencialmente culturais inerentes ao próprio jogo.
individual e regido apenas por leis internas ao sujeito.
O surgimento de novas concepções sobre como se dá o O jogo como atividade: o sério e o lúdico se encontram
conhecimento tem possibilitado outras formas de considerar na matemática
o papel do jogo no ensino.
Pelo exposto até aqui, podemos perceber na educação
São as contribuições da psicologia de cunho matemática uma certa tendência para o uso do jogo. Mas
sociointeracionistas que vêm a estabelecer novos paradigmas devemos nos perguntar é se ele está sendo empregado com
para a utilização do jogo na escola. Esta concepção acredita no bases teóricas que garantam um ensino com maior
papel do jogo na produção de conhecimentos, tal como a embasamento científico.
Temos alguns indicadores que nos permitem inferir que docente tem levado os educadores a se utilizarem de múltiplas
estamos começando a sair de uma visão do jogo como puro experiências, tais como: geoplano, material dourado, réguas de
material instrucional para incorporá-lo ao ensino, tornando-o cuisenaire, blocos lógicos, ábacos, cartaz de prega, sólidos
mais lúdico e propiciando o tratamento dos aspectos afetivos geométricos, quadros de frações equivalentes, jogos de
que caracterizam o ensino e a aprendizagem como uma encaixe, quebra-cabeças e muitos outros. A grande
atividade, de acordo com a definição de Leontiev (1988). diversidade de uso do material concreto leva a autora a se
perguntar se tais experiências são exemplos de jogo ou de
Se tomarmos como jogo uma definição mais ampla, materiais pedagógicos.
veremos que este vem sendo usado no ensino de matemática
há muito mais tempo do que imaginamos. Perelman é A dúvida sobre se o jogo é ou não educativo, se deve ou não
seguramente um grande precursor do uso do jogo no ensino ser usado com fins didáticos poderia ser solucionada, se o
de matemática, tomando-o como possibilidade de explorar um educador tomasse para si o papel de organizador do ensino.
determinado conceito e colocando-o para o aluno de forma Isto quer dizer que ele deve ter consciência de que o seu
lúdica. Os quebra-cabeças, os quadrados mágicos, os trabalho é organizar situações de ensino que possibilitem ao
problemas-desafios etc. poderiam ser enquadrados nestas aluno tomar consciência do significado do conhecimento a ser
características de jogo como a forma lúdica de lidar com o adquirido e de que para que o apreenda torna-se necessário
conceito. um conjunto de ações a serem executadas com métodos
adequados. Dessas ações pode tomar parte o uso de algum
Outra forma de considerarmos o jogo no ensino é, por instrumento, para se atingir o objetivo decorrente da
exemplo, o modo como Malba Tahan aproxima a matemática negociação pedagógica acontecida no espaço escolar.
do aluno. Em o Homem que calculava temos a maestria de um
hábil jogador com a imaginação do leitor de modo a envolvê- O professor vivencia a unicidade do significado de jogo e
lo na solução de problemas matemáticos. Nesta linha também de material pedagógico, na elaboração da atividade de ensino,
podemos incluir Monteiro Lobato com a Matemática da Emília o considerar, nos planos afetivos e cognitivos, os objetivos, a
e até Walt Disney com sua Matemática. Como vemos, a opacidade do aluno, os elementos culturais e os instrumentos
matemática não é tão sisuda e os matemáticos não são tão (materiais e psicológicos) capazes de colocar o pensamento da
insensíveis ao riso. criança em ação. Isto significa que o importante é ter uma
atividade orientadora de aprendizagem (Moura, 1992). O
Acrescentemos a esta lista de exemplos tendências mais professor é, por isso, importante como sujeito que organiza a
recentes de publicações que recorrem ao lúdico no ensino de ação pedagógica, intervindo de forma contingente na atividade
matemática. Os livros paradidáticos, que se tornaram tão autoestruturante do aluno.
comuns no início desta década, são o exemplo da importância A atividade é orientadora no sentido de criar
que as editoras estão dando para os aspectos lúdicos do ensino possibilidades de intervenção que permitem elevar o
de matemática. O próprio nome "paradidático" parece indicar conhecimento do aluno. Dessa maneira, todo e qualquer
que estes livros devem ser utilizados não de forma totalmente material utilizado para ensino é ferramenta para ampliar a
didática, mas além da didática, de forma que os alunos não os ação pedagógica. O jogo, o material estruturado, o quebra-
confundam com as aulas sérias de matemática. Eles devem ver cabeça, o problema que serve para aplicação matemática no
a matemática de forma prazerosa e lúdica. cotidiano, o problema-desafio, as histórias virtuais (Moura,
1992) são ferramentas do educador, tanto quanto os
Talvez valesse a pena uma análise mais detalhada desta instrumentos que permitem amplificar e organizar a nossa
tendência da utilização dos paradidáticos no ensino, de modo comunicação: retroprojetor, vídeos, microfone, rádio,
que pudéssemos avaliar não só o seu aspecto pretensamente computador etc.
lúdico, mas também a maneira como tratam a criança que
pretendem formar e se são respeitadas as características de A questão do "que é melhor para o ensino" ficaria talvez
atividade lúdica. Mas esta análise não é o objeto em tela nesse resolvida se tomássemos o conjunto de propostas de materiais
momento. numa definição ou numa compreensão mais ampla do
O que nos parece importante por ora é discutir o significado das atividades escolares. Visto no conjunto da
significado do jogo e a sua importância na educação atividade orientadora, o material de ensino deixa de ser
matemática. E para isso teremos, mais uma vez, de lançar mão elemento isolado e passa a integrar-se no que Coll (1994)
de conceitos alheios à matemática. chama de três vértices que caracterizam as atividades
educativas: "o aluno que está levando a cabo a aprendizagem;
A psicologia é chamada a responder pelas razões da o objeto ou objetos de conhecimento que constituem o
utilização do jogo na educação matemática. O conceito de conteúdo da aprendizagem; e o professor que age, isto é, que
atividade desenvolvido por Leontiev (1988) talvez possa ensina com a finalidade de favorecer a aprendizagem dos
emprestar legitimidade ao jogo na educação matemática. Isto alunos" (Coll, 1994, p. 103).
porque, vinculado ao conceito de atividade, Leontiev
considera a necessidade como elemento preponderante para Tomar o jogo ou material pedagógico fora deste contexto
suscitar no sujeito o motivo para executar certas ações. Essas, parece levar a ações que se pautam em uma visão que
se forem realizadas com base em um motivo explícito e desconsidera as principais razões da escola: preservar, criar e
estiverem concordes com um objetivo, tornar-se-ão ampliar o conjunto de conhecimentos para que cada vez mais
atividades. Esse conceito parece-nos particularmente consigamos melhores condições de vida.
importante no caso da educação pré-escolar, já que nessa fase Para nós, a importância do jogo está nas possibilidades de
da vida a maneira preponderante de atuar no mundo é o jogo. aproximar a criança do conhecimento científico, levando-a a
Através dele, as crianças compreendem o mundo adulto vivenciar "virtualmente" situações de solução de problemas
trocando os seus significados e apreendendo conceitos. que a aproximem daquelas que o homem "realmente" enfrenta
ou enfrentou.
Ao analisar o papel do jogo na educação, Kishimoto (1994),
através de ampla bibliografia, aponta as inúmeras dúvidas dos A imitação através do jogo, a busca da compreensão de
muito autores que se referem ao uso do jogo como elemento regras, a tentativa de aproximação das ações adultas vividas
pedagógico. O uso do material concreto como subsídio à tarefa no jogo estão em acordo com pressupostos teóricos
construtivistas que asseguram ser necessário a promoção de escolas públicas para deficientes leves. Na maioria da vezes,
situações de ensino que permitam colocar a criança diante de nessas classes, encontram-se somente alunos que sofreram
atividades que lhe possibilitem a utilização de conhecimentos sucessivos fracassos escolares e que, após uma avaliação
prévios para a construção de outros mais elaborados. ineficaz, são identificados e rotulados como deficientes, sem
antes receberem uma intervenção pedagógica adequada à
Por tratar-se de ação educativa, ao professor cabe superação de suas dificuldades.
organizá-Ia de forma que se torne atividade que estimule a Vários trabalhos foram realizados com o objetivo de evitar
autoestruturação do aluno. Desta maneira é que a atividade a rotulação de deficiente imposta a essas crianças.
possibilitará tanto a formação do aluno como a do professor A maioria das crianças da escola pública, principalmente
que, atento “aos erros" e "acertos" dos alunos, poderá buscar o aquelas que frequentam as classes especiais para deficientes
aprimoramento do seu trabalho pedagógico. mentais leves, provém de ambientes pobres de estímulos
cognitivos. Ninguém conversa com elas nem estimula seu
O jogo na educação matemática parece justificar-se ao raciocínio. Textos escritos, como artigos de revistas, e jornais,
introduzir uma linguagem matemática que pouco a pouco será são praticamente ausentes em seu meio ambiente. Há poucos
incorporada aos conceitos matemáticos formais, ao informantes alfabetizados ao seu redor (Ide, 1993).
desenvolver capacidade de lidar com informações e ao criar
significados culturais para os conceitos matemáticos e estudo Soma-se a esse quadro uma escola na qual as iniciativas
de novos conteúdos. educacionais dirigidas a estas crianças derivam, quase que
totalmente, de métodos e técnicas que não aceitam a atividade
A matemática, dessa forma, deve buscar no jogo (com assimiladora da inteligência na construção do conhecimento,
sentido amplo) a ludicidade das soluções construídas para as ou seja, um ensino diretivo, verbalista, programado, preditivo
situações-problema seriamente vividas pelo homem. controlado, em que a imitação é um procedimento básico para
se obter comportamentos desejados garantidos pelo uso de
O jogo e o fracasso escolar reforçadores (Mantoan, 1989).
Sahda Marta Ide
O professor é aquele preconizado pela transmissão
I. A avaliação da capacidade de inteligência e a questão cultural (Kolhberg e Mayer, 1972), pois apregoa a
do fracasso escolar incorporação de valores e de conhecimentos próprios da
cultura como fundamentais, formação dos jovens, devendo o
Um dos problemas mais relevantes na moderna Psicologia professor ser um agente de manutenção da ordem social. Este
da Aprendizagem é, sem dúvida, o desenvolvimento e a professor dedica-se quase sempre a preparar seus alunos para
avaliação da capacidade de inteligência. Este tema motivou satisfazer os comportamentos sociais e acadêmicos
numerosas reuniões científicas nos últimos anos destinadas a socialmente desejáveis.
estabelecer parâmetros mínimos sobre a avaliação do
potencial de aprendizagem e sobre o modo de aumentar esse A leitura do mundo físico e social é excluída dos quadros
potencial através de intervenções cognitivas adequadas. interpretativos do sujeito. A verdade é apreendida pelos
Apesar de todos esses estudos, a avaliação para sentidos a partir do que é observado, sendo, pois, uma cópia
identificação das crianças portadoras de deficiências ainda é da r alidade.
feita por procedimentos tradicionais de medição da
subnormalidade intelectual e da adaptabilidade social (Testes O professor torna-se, assim, um profissional capaz, apenas,
de Inteligência), apesar das dúvidas existentes quanto à de transmitir um saber pronto, estabelecido para o
adequação para todos os casos. desenvolvimento social e intelectual do aluno.
Consequentemente, faz-se uma opção por métodos e técnicas
Essa avaliação tradicional não provoca tantos danos que não aceitam a atividade assimiladora da inteligência na
quando nos reportamos aos portadores de deficiências graves, construção dos conhecimentos.
uma vez que apresentam problemas orgânicos que afetam o
Sistema Nervoso Central, sendo, pois, de fácil diagnóstico. Estes fatos, na maioria das vezes, levam a "fracassos"
Entretanto, isso não ocorre com os deficientes mentais leves, sucessivos na primeira série do primeiro grau e as crianças
que, na maior parte das vezes, são confundidos com os que que “fracassam", por sua vez, são encaminhadas para
apresentam "problemas emocionais", "distúrbios" e/ou" avaliações psicológicas, que, como dissemos, não avaliam
dificuldades de aprendizagem" que levam ao "fracasso nem" descobrem a natureza do fracasso", não permitindo,
escolar". assim, uma intervenção pedagógica adequada na solução
desses problemas.
O deficiente mental leve, durante os primeiros anos de Dessa forma, a educação, ao invés de se converter numa
vida, não é reconhecido como tal. Durante muito tempo, seu experiência bem-sucedida, alicerçando a vida das crianças de
retardo não é evidente. A princípio pode ser identificado na forma positiva, acaba se tornando uma experiência sem êxito
fase escolar, época em que a capacidade de aprendizagem e se constituindo em uma série de aprendizagens inúteis e
torna-se elemento importante nas expectativas sociais. Na aborrecidas, que atingem diretamente a autoestima, o
maior parte dos casos, não há condições patológicas óbvias autoconceito, aumentando a ansiedade e a falta de motivação
que expliquem o retardo e isto leva, muitas vezes, a confundir para participar das tarefas de aprendizagem.
criança portadora de déficits intelectuais reais com crianças
vindas de ambientes socioeconômicos desprivilegiados, II. A reversão do fracasso
principalmente nos aspectos cognitivos, causando problemas
educacionais e, consequentemente, caracterizando a Se quisermos reverter este quadro e se for o objetivo
deficiência mental leve. desenvolver as capacidades cognitivas dessas crianças,
tornando-as capazes de pensar, refletir e construir o
A identificação entre deficiência mental leve e fracasso conhecimento de forma significativa, dois aspectos bastante
escolar levou muitos estudiosos a questionar essa deficiência, relevantes devem ser satisfeitos:
principalmente as determinadas por fatores ambientais,
colocando em dúvida a necessidade de classes especiais em
1. a presença de um mediador (pais, professores, O mediador deve respeitar o interesse do aluno e trabalhar
companheiros), ou seja, pessoas que se interpõem entre o a partir de sua atividade espontânea, ouvindo suas dúvidas,
estímulo e o organismo, criando, de forma sistemática ou formulando desafios à capacidade de adaptação infantil e
assistemática, situações que levem o indivíduo a se acompanhando seu processo de construção do conhecimento.
desenvolver; e Com esta filosofia pode-se organizar um programa que
2. os recursos, instrumentos pedagógicos que devem ser utilize recursos como jogos e brincadeiras.
adequados a essas crianças, possibilitando a construção do
conhecimento de forma pensante. IV. O jogo como instrumento
As interações entre a criança e o mundo, na maior parte O jogo não pode ser visto, apenas, como divertimento ou
das vezes, passam por um mediador. Este mediador cria na brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o
criança certos processos que não afetam unicamente os desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral. Para
estímulos mediados, mas também ajudam muito Piaget (1967), o jogo é a construção do conhecimento,
significativamente a capacidade dos indivíduos para principalmente, nos períodos sensório-motor e pré-
aproveitar o estímulo direto ao organismo (Feurstein, 1982). operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde
pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvem a
O mediador se encarrega não só de organizar, selecionar, noção de causalidade, chegando representação e, finalmente, à
estabelecer prioridades a certos estímulos mediados, mas lógica.
também pode eliminar ou fazer certos estímulos entrarem de
forma difusa na criança. As crianças ficam mais motivadas a usar a inteligência, pois
querem jogar bem; sendo assim, esforçam-se para superar
O mediador cria no indivíduo disposições que afetam o seu obstáculos, tanto cognitivos quanto emocionais. Estando mais
funcionamento de forma estrutural. O "fracasso", o "distúrbio", motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas
a "dificuldade" de aprendizagem são, quase sempre, fracassos, mentalmente.
distúrbios e dificuldades da mediação.
Essa preocupação com o mediador nos remete a dois Embora muitos filósofos e teóricos da educação tenham
aspectos: a qualidade de ação do mediador e os instrumentos apontado para o "paradoxo do jogo", lúdico e educativo ao
pedagógicos. mesmo tempo, acreditamos que seja um recurso eficaz, a ser
adotado pelo mediador para preencher as lacunas descritas
III. A qualidade de ação do mediador anteriormente.
Nesse contexto, o significado do jogo é o que ele tem na
Acreditamos que um mediador que tenha uma nova forma área de educação, ou seja, associado à função lúdica e à
de ver a criança que aprende, ou seja, uma criança ativa, que pedagogia de forma equilibrada. "O jogo com sua função lúdica
compara, exclui, ordena, categoriza, reformula em hipóteses, de propiciar diversão, prazer e mesmo desprazer ao ser
reorganiza em pensamento e em ação efetiva (Ferreiro, 1986), escolhido de forma voluntária e o jogo com sua função
segundo seu nível de desenvolvimento, terá a oportunidade de educativa, aquele que ensina, completando o saber, o
instigar o auto estímulo e a superação das dificuldades conhecimento e a descoberta do mundo pela criança
cognitivas nos alunos das classes especiais para deficientes (Campagne, 1989, p. 112, apud Kishimoto, 1992, p. 28).
mentais leves. O jogo, por ser livre de pressões e avaliações (conduta
frequente com as crianças deficientes mentais em classe
Sabe-se, hoje, que o desenvolvimento intelectual não especial), cria um clima de liberdade, propício à aprendizagem
consiste em acumular informações, mas, sim, em reestruturar e estimulando a moralidade, o interesse, a descoberta e a
as informações anteriores, quando estas entram num novo reflexão.
sistema de relações. O conhecimento é adquirido por um
processo de natureza assimiladora e não simplesmente Sabemos que as experiências positivas nos dão segurança
registradora. e estímulo para o desenvolvimento. O jogo nos propicia "
O conhecimento geral é um todo organizado e coerente que experiência do êxito, pois é significativo, possibilitando a
se vai construindo através da própria atividade do sujeito. Os autodescoberta a assimilação e a integração com o mundo por
conhecimentos específicos vão sendo assimilados pela meio de relações e de vivências.
estrutura de conhecimento geral, integrando-se a esta e
tornando-se cada vez mais ricos e específicos. O jogo possibilita à criança deficiente mental aprender de
acordo com o seu ritmo e suas capacidades. Há um
As pessoas deficientes mentais realizam as trocas com o aprendizado significativo associado à satisfação e ao êxito,
meio de maneira precária e isso prejudica o seu sendo este a origem da autoestima. Quando esta aumenta, a
desenvolvimento. A solicitação adequada do meio irá ansiedade diminui, permitindo à criança participar das tarefas
propiciar-lhes uma estimulação favorável, capaz de de aprendizagem com maior motivação.
compensar, na medida do possível, prejuízos da estruturação
mental. Prover condições que estimulem o desenvolvimento Nos jogos de papéis ou faz de conta, a criança é livre para
implica que o mediador conheça as capacidades de seus alunos escolher papéis a desempenhar e definir suas regras. Seu
e elabore as atividades a partir dessas informações. funcionamento é um processo que tem um fim em si mesmo. A
criança brinca e tem prazer de brincar. Nesses jogos, a criança
Devido à complexidade da inter-relação que envolve os toma iniciativas, organiza ações, enfim, planeja e substitui o
aspectos afetivos e cognitivos da aprendizagem, o mediador significado dos objetos com o objetivo de reproduzir as
deve desenvolver com a criança uma relação de respeito relações e os fenômenos observados por ela.
mútuo, de afeto e de confiança que favoreça o
desenvolvimento de sua autonomia. Um clima socioafetivo Os temas e a estruturação de jogos de papéis dependerão
tranquilo e encorajador, livre de tensões e imposições, é do nível de desenvolvimento em que se encontra a criança e da
fundamental para que este aluno possa interagir de forma complexidade dos conceitos do seu meio ambiente. Os jogos
confiante com o meio, saciando sua curiosidade, descobrindo, poderão tratar de temas como a família (educação dos filhos,
inventando e construindo, enfim, seu conhecimento. escola, festas); imitação do trabalho adulto (comércio,
chamadas estruturas de alienação no saber (Mrech, 1989, p. pedagógico: o lugar do professor e o lugar do aluno. Ou seja,
38). O termo foi cunhado por Roland Barthes em O rumor da elas são guias de ação, formas prévias de conceber como o
língua, para designar um fenômeno novo que ocorreria na professor e o aluno deverão agir e se comportar. Elas se
cultura: encontram fundamentalmente no âmbito da própria
linguagem, sendo compostas por hábitos, repetições,
a meu ver, existe uma antinomia profunda e irredutível entre estereótipos, cláusulas obrigatórias e palavras-chave,
a literatura como prática e a literatura como ensino. Esta estruturando o pensamento dos sujeitos.
antinomia é grave porque se liga ao problema que é talvez hoje Os símbolos introduzem no sujeito um processo de uso
o mais escaldante, e que é o problema da transmissão do saber; duplo tanto de aproximação quanto de distanciamento das
é aqui que reside sem dúvida o problema fundamental da coisas e das pessoas. Os símbolos tendem a formar dentro do
alienação, uma vez que, se as grandes estruturas de alienação sujeito verdadeiras cadeias simbólicas alienadas: as estruturas
econômica foram postas a nu, as estruturas de alienação no de alienação no saber. O seu papel fundamental é impedir um
saber não o foram (Barthes, 1987, p. 43). contato mais estreito entre os sujeitos ou dos sujeitos com o
saber. Ou seja, elas são estruturas defensivas que, em um
É bastante comum para todos aqueles que trabalham com determinado momento, são utilizadas pelo sujeito ou pela
Prática de Ensino e Didática vivenciarem uma situação onde o sociedade para introduzir um distanciamento entre as pessoas
aluno e os professores já formados assinalam que a ou em relação a um saber novo.
universidade tende a prepará-Ios inadequadamente para a sua
prática futura. Poderíamos pensar que se trata apenas de uma As estruturas de alienação no saber se dividem em dois
transmissão inadequada da universidade, apenas uma questão tipos básicos: as estruturas sociais de alienação no saber e as
de teoria x prática. estruturas individuais de alienação no saber.
As estruturas sociais de alienação no saber são sistemas
Os símbolos geram as estruturas do saber, podendo simbólicos utilizados pela sociedade para fornecer um código
posteriormente se transformar em estruturas de alienação no geral em que os sujeitos encontrarão sempre guias de ação
saber. Os mesmos símbolos ensinados para estabelecer uma predeterminados. Estas formas alienadas não surgem ao
comunicação podem levar à paralisação e à segmentação do acaso. Elas são os resíduos das estruturas de saber que, ao
saber. A mesma simbolização pode ter um caminho tanto de longo do tempo, perderam o seu potencial gerador de
aproximação quanto de afastamento do saber e das pessoas. conhecimento, tornando-se formas inadequadas e
Tentando delimitar melhor este fenômeno em nossa tese de preconcebidas de apreender a chamada realidade concreta.
doutoramento, utilizando a terminologia de Roland Barthes, Elas são formas de saber que perderam a capacidade de
resolvemos efetuar um estudo mais aprofundado das possibilitar uma comunicação efetiva entre os sujeitos.
estruturas de alienação no saber. Podemos associá-Ias aos processos vinculados ao cotidiano
As estruturas de alienação no saber se apresentam tanto das pessoas, principalmente ao saber-fazer das pessoas.
no plano dos idioletos (linguagem grupal e/ ou individual) Por exemplo, o professor, ao longo da sua prática
como no da língua (linguagem social). Em ambos a sua pedagógica, aprendeu a dar aula de um determinado modo.
característica maior é a coisificação ou reificação da Aos poucos, este processo transformou-se em um hábito,
linguagem. É estabelecido, através delas, um processo de passando a estruturar a sua prática diária. Como Chico
alienação de tal ordem que é como se o saber tivesse tomado Buarque de Holanda costuma cantar: "Todo dia ela faz tudo
forma e assumisse uma vida independente do pensamento sempre igual".
mais atualizado dos sujeitos. No plano do idioleto. na sua
família, a criança pode aprender certas palavras, que crê sejam As estruturas de alienação no saber são modos de ação
comuns a todos os sujeitos. Ela pode utilizar o fonema "Bu" e a socialmente determinados (hábitos, repetições, estereótipos,
mãe entender que com isto ela está pedindo um copo de água. cláusulas obrigatórias e palavras-chave) que estruturam o que
No entanto, se ela o empregar para pedir água fora de casa, escutar, o que dizer e o que fazer em um determinado
dificilmente as pessoas poderão compreendê-Ia. Ela ficou em momento. O mesmo conteúdo que o professor aprendeu na
um idioleto, em uma fala reificada, particularizada, que exclui universidade para formá-lo e informá-Io pode, em outro
outras possibilidades de articulação e significações. O mesmo momento, desinformá-lo e colidir com as suas novas
processo ocorre também no plano social, quando a linguagem necessidades de atuação docente.
chega a adquirir uma generalização tão ampla, que pode Quando se assinala a importância da constante reciclagem
perder o sentido e a precisão. Assim, ao se falar que uma coisa do professor não é porque as teorias simplesmente mudaram
é superlegal pode se estar frisando o fato de que é uma coisa mas porque os símbolos se reificaram impedindo o professor
ótima. No entanto, se essa palavra for frequentemente de estabelecer um melhor contato com os seus alunos. As
utilizada em múltiplas ocasiões, as pessoas poderão ficar em estruturas de alienação no saber enquanto sistemas
dúvida se o sujeito sabe o que é realmente uma coisa supero simbólicos acabam por se constituir em um sistema de crenças
Neste caso, a palavra super entrou no lugar do advérbio de a respeito do que-fazer pedagógico, impregnando de forma
quantidade muito. O sentido muito legal ficou camuflado. irreversível o processo de atuação do professor.
A palavra super, que se referia originariamente a um Aquilo que o professor aprendeu durante o período em que
contexto superlativo, perdeu o seu eixo original de inserção, era estudante passará a nortear a sua forma de ação docente.
tomando a aparência de um advérbio de quantidade. Gradativamente, o que eram guias de ação eficazes no
Em decorrência, pode-se dizer que nas estruturas de princípio, aos poucos se transformam em formas
alienação no saber é como se os sujeitos não se dessem conta estereotipadas de enxergar os seus alunos. Formas que o
do que estão fazendo e funcionassem em termos de uma levam a estabelecer certos hábitos, certas repetições, certas
elaboração inconsciente, em um nível automático de palavras-chave etc. Um outro nome que caberia às estruturas
conceitualização. Pierre Bourdieu designa este processo de sociais de alienação no saber são as formas prefixadas do
"instrumentos inconscientes de construção": cotidiano escolar. Formas que engolem as relações sociais
tendendo a despersonalizá-Ias, isto é, esvaziando-as de um
No caso da Pedagogia e da Psicopedagogia, as estruturas contato mais aprofundado entre os sujeitos.
de alienação no saber, como instrumentos inconscientes de
construção, atuam reificando os lugares do discurso
O mesmo processo ocorre com o aluno. Ele passa a lidar consegue desempenhar a atividade se ela for feita do modo que
com o professor ou com a situação escolar de uma forma aprendeu inicialmente.
preconcebida. O professor passa a ter uma imagem fixa, O professor pode acreditar que o aluno está querendo
estabelecida a partir da sua interação com a classe, ou através chamar a sua atenção. No entanto, o problema é bem mais
de situações passadas. Esta forma estereotipada passa a reger sério, o aluno foi captado em uma estrutura de alienação no
todo o contato do aluno com o professor e vice-versa. saber que comanda o seu processo de aprendizagem,
paralisando-o em um determinado ponto. Para sair desta
Além do efeito deletério nas relações sociais na escola, as situação, ele precisa ser trabalhado mais aprofundadamente
estruturas de alienação no saber tendem a gerar outro tipo de com o material anterior. O professor precisa atender a esta
processo de alienação: o das estruturas individuais de necessidade especial do aluno.
alienação no saber. Da mesma forma que as estruturas sociais A Educação Especial e a Psicopedagogia propiciam esta
de alienação no saber, elas são compostas por hábitos, forma mais aprofundada de se trabalhar com o aluno. Elas
repetições, estereótipos, cláusulas obrigatórias e palavras- levam em consideração as necessidades específicas de cada
chave. Em termos sociológicos, pode-se dizer que, enquanto as aluno, privilegiando-se a /I escuta" do que está realmente
estruturas sociais de alienação no saber se referem ao plano acontecendo naquele momento. Isso porque o sistema
macroestrutural, as estruturas individuais de alienação no simbólico e imaginário do aluno é único, não se devendo lidar
saber se referem ao plano microestrutural. As primeiras, mais com ele a partir de esquemas generalizadores.
abrangentes, delineiam a forma de ação; as segundas, mais No caso mencionado, o professor poderia analisar o
específicas e particularizadas, o conteúdo. processo da criança como uma resistência a materiais novos.
Na realidade, havia um eixo estruturando esse processo
As estruturas de alienação no saber chegam a atingir até aparentemente aleatório. A caneta fazia parte de um processo
certos contextos, em que se acreditaria tradicionalmente de estruturação do vínculo da criança com o pai. Todas as
haver apenas atuações espontâneas, tais como o uso dos noites, antes de dormir, o pai ia ao seu quarto para contar uma
brinquedos e materiais pedagógicos. Antes mesmo de entrar história. Sendo cartunista, acabava desenhando, com a caneta,
em contato com o material proposto, o aluno utiliza as uma história para o filho.
chamadas estruturas de alienação no saber. Estas têm uma
origem dupla: social individual. No primeiro caso, refletem os A caneta foi o objeto transferencial que propiciou tanto o
sistemas simbólicos onde os símbolos foram inicialmente contato e o seu oposto - o distanciamento dos sujeitos, ao se
cunhados: a família e a escola. No segundo caso, as estruturas constituir em uma estrutura de alienação no saber. A caneta
de alienação no saber refletem o próprio processo de não era um objeto qualquer. Retirá-lo rapidamente era excluir
construção dos símbolos pelo sujeito, ou seja, os recortes que o objeto que materializava afeto para a criança, um objeto que
o sujeito introduz nos conteúdos que recebeu da sua família e ligava ao pai. A caneta era o objeto gerador de afeto. A sua
da sua escola. retirada acabou tendo como consequência o fechamento
É importante que o professor perceba que a forma como a posterior da criança.
criança reage ao objeto não é simplesmente um produto do
processo da sua interação com o objeto no momento, mas um Em síntese, os objetos utilizados na aprendizagem não têm
produto de sua história pessoal e social. Ao ser apresentada a uma existência neutra. Eles refletem o próprio processo
um material pedagógico ou brinquedo, a criança pode bater ou interior do aluno e do professor. Se o professor não souber, em
jogar o material no chão, mordê-lo. olhá-lo fixamente, algum momento, trabalhar aprofundadamente com o material
perguntar a uma outra pessoa de quem é o material etc. Isso introduzido, os alunos perceberão a sua postura insegura. Com
porque as estruturas individuais de alienação no saber isso, como assinala Mauco, ele acabará expondo, direta ou
refletem verdadeiros maneirismos que antecedem o próprio indiretamente, aos alunos, os seus próprios fantasmas.
processo de ensino-aprendizagem.
Com as chamadas crianças normais, este processo de Percebe-se que, no ensino, o professor não introduz um
transição é muito rápido e pouco percebido. Com as chamada objeto qualquer. O objeto de ensino, enquanto um símbolo,
crianças excepcionais, ele se revela mais claramente, carrega em seu bojo toda a história passada do aluno e do
refletindo o processo duplo de implantação da aprendizagem: professor, podendo desencadear, em ambos, processos
a do desejo de aprender e a do desejo de não aprender. conscientes e inconscientes de atuação. É este sistema prévio
Por exemplo, o professor vai trabalhar com uma criança que chamamos de estruturas de alienação no saber. É ele que
tida como autista. No contato inicial, ele começa a desenhar precisa ser trabalhado antes mesmo de o professor e o aluno
algo com uma caneta em uma folha de papel. Aos poucos, a entrarem em contato com o material em si.
criança se desinibe e começa a desenhar também. O professor
faz um bonequinho. O aluno diz que o bonequinho é ele O uso de brinquedos, jogos e materiais pedagógicos, do
(aluno). Em seguida, dizendo que é ele outra vez, desenha o ponto de vista psicopedagógico, necessita da percepção do
mesmo bonequinho. O professor dá uma outra folha de papel, contexto em que se encontram inseridos. É preciso que o
pedindo à criança para desenhar outra coisa. O aluno faz outra professor e! ou psicopedagogo identifiquem a matriz simbólica
vez o mesmo bonequinho. anterior do objeto, para entender melhor as necessidades e
Querendo mudar o comportamento do aluno muito dificuldades mais imediatas dos alunos.
rapidamente, o professor introduz uma outra folha e um
material novo - o giz de cera. O aluno não aceita o giz de cera, O uso dos brinquedos, jogos e materiais pedagógicos e
preferindo a caneta. O professor insiste no desenho com o giz as estruturas de alienação no saber
de cera. O aluno se retrai e se fecha, negando-se a realizar as
suas atividades. Devido à estrutura individual de alienação no Um dos aspectos mais importantes a ser levado em conta
saber, o aluno continua preso ao objeto caneta e ao desenho do pelo professor e pelo psicopedagogo é o reconhecimento das
bonequinho, não tendo feito a passagem para o giz de cera e estruturas prévias de alienação no saber que o professor e o
para um outro assunto. Pode-se dizer que ele ainda não se aluno apresentam em relação ao uso de brinquedos, jogos e
sente livre o suficiente para trabalhar sem um modelo da materiais pedagógicos. São elas que impedem o objeto seja
atuação anterior. Volta-se para o que já sabe, tentando dar empregado em uma gama mais rica de utilização.
conta do momento presente. Para a cadeia simbólica,
apanhado em uma estrutura de alienação no saber. Só
Apresentamos abaixo algumas das estruturas de alienação desviar o professor ou o psicopedagogo de um trabalho mais
no saber mais comuns, tradicionalmente usadas pelos aprofundado com o material. É bastante comum os pais e os
professores e alunos: especialistas (professores e psicopedagogos) tomarem a
indicação das faixas etárias, colocadas nas caixas de
1. A concepção e capacidade lúdica do professor. Um brinquedos pelas indústrias, como verdades comprovadas.
professor que não sabe e / ou não gosta de brincar dificilmente Acontece que muitas classificações partem de indicadores
desenvolverá a capacidade lúdica dos seus alunos. Ele parte do empíricos, não de pesquisas abrangentes com faixas de
princípio de que o brincar é bobagem, perda de tempo. Assim, mercado estruturadas. A indústria pode ter testado em apenas
antes de lidar com a ludicidade do aluno, é preciso que o um pequeno grupo de crianças o uso dos brinquedos naquela
professor desenvolva a sua própria. A capacidade lúdica do faixa etária. Os resultados encontrados são generalizados em
professor é um processo que precisa ser pacientemente seguida a um público maior. É a criança que deve se
trabalhado. Ela não é imediatamente a1cançada. O professor pronunciar a respeito do material, não as indicações vagas do
que, não gostando de brincar, esforça-se por fazê-Ia, fabricante. Ela usa o brinquedo para atender a uma
normalmente assume postura artificial, facilmente identifica necessidade especial do momento. Este processo lúdico é que
da pelos alunos. A atividade proposta não anda. Em tem que ser privilegiado, e não quaisquer preconcepções dos
decorrência, muitas vezes os professores deduzem que brincar adultos e/ ou dos fabricantes a respeito do brinquedo.
é uma bobagem mesmo, e que nunca deveriam ter dado essa
atividade em sala de aula. A saída deste processo é um trabalho 6. As formas estereotipadas que envolvem o uso do
mais consistente e coerente do professor no desenvolvimento material a ser empregado. Muitas vezes o professor utiliza
da sua atividade lúdica. brinquedos, jogos e materiais pedagógicos de uma maneira
redutora e rotineira. O material a ser dado para o aluno deverá
2. Os modos estereotipados de o professor conceber o ser farto e variado. O professor ou psicopedagogo poderá criar
material apresentado. Diante de um material novo, é bastante locais onde, em seu próprio ritmo de trabalho, a criança
comum o professor estabelecer uma atitude distanciada em poderá escolher livremente o que quer fazer. Um dos exemplos
relação a este objeto, colocando-se como especialista e não mais eficazes desta forma de trabalho são os cantinhos de
como quem brinca com o material. O seu olhar é técnico, música, ciências, artes etc. bastante empregados na pré-escola.
basicamente o olhar do professor ou do psicopedagogo sobre O uso do material deverá levar em conta as necessidades
o objeto, isto é, um olhar adulto. Acontece que quem vai utilizar especiais e a singularidade do aluno. O aluno poderá se recusar
o objeto geralmente é uma criança ou um adolescente. Muitas em um momento a trabalhar com o material, preferindo ficar
vezes aí se estabelece uma incompatibilidade entre esses dois divagando ou conversando. No ensino de 1º grau é
olhares. fundamental que o professor respeite este processo. As
crianças chegam a trabalhar, às vezes, quatro horas seguidas
3. As formas estereotipadas de o professor conceber o em atenção contínua. Ao longo desse período, podem ter um
aluno. Esta estrutura de alienação no saber introduz um pequeno intervalo para se refazer, e depois voltar a prestar
problema bastante sério do ponto de vista da ludicidade. A atenção. Isso não quer dizer que não se irá trabalhar o porquê
imagem que o professor tem do aluno não é o aluno. Este está de a criança não ter desejado lidar com o objeto. No final da
em um outro lugar, tendo de ser resgatado através da fala na atividade, o professor ou psicopedagogo pode pedir a cada
relação professor / aluno, psicopedagogo / aluno. É o próprio criança para verbalizar livremente o que sentiu ao brincar com
aluno que tem de dizer quem ele é, do que gosta, com que quer o material. Elas podem dizer que não queriam brincar,
brincar etc. queriam conversar, ficar paradas etc.
Normalmente, este é um dos processos mais difíceis de o O aluno poderá fazer coisas totalmente imprevistas com o
professor alterar. Para muitos professores, a imagem do aluno material, ações que o professor ou psicopedagogo muitas
chega a adquirir a certeza de uma crença. O professor acredita vezes poderá considerar inadequadas. É preciso julgar estas
piamente que a imagem que ele tem do aluno é o próprio ações da perspectiva da criança. Somente o aluno, a partir da
aluno. Ele não percebe que, sendo uma imagem, é um sua história de vida, conhece as razões para agir daquela
estereótipo, uma construção na linguagem. Em suma, não se dá maneira.
conta de que a imagem do aluno é uma produção sua, uma Uma criança deficiente mental onde quer que fosse levava
interpretação sua de quem é este aluno. O aluno está em um um paninho e limpava muito bem os objetos, antes de tocá-los,
outro contexto, que deve ser resgatado através da própria Posteriormente o professor veio a saber que este era o
relação. procedimento que a mãe usava rotineiramente com o seu filho.
Ela limpava todos os objetos antes de passa-los à criança. Ao
4. As formas estereotipadas que o aluno concebe o agir desta forma, a criança estava simplesmente imitando a
professor, a instituição, o material proposto. Elas podem mãe e cuidando de si mesma da maneira como lhe fora
impedir ou atrapalhar o seu contato com a instituição, com o ensinado.
material proposto ou com o próprio professor. Crianças com problemas motores necessitam de materiais
Uma imagem prévia da instituição feita pelos alunos pode especialmente criados, para auxiliá-Ias nas atividades
se antecipar à própria captação da instituição real. Uma pedagógicas: cadeiras adaptadas, materiais específicos para a
imagem de uma escola boa ou ruim tende a se perpetuar na escrita etc. Principalmente com crianças portadoras de lesão
mente dos alunos. Da mesma forma, as imagens de bom e mau cerebral, que não falam, mas que apresentam nível de
professor também se antecipam à atuação docente, compreensão normal (quadriplégicos, paraplégicos etc.), é
determinando muitas vezes os rumos do processo de ensino- fundamental estar atento aos indicadores sutis de cansaço do
aprendizagem. Se o aluno não gosta do material proposto, é aluno. Quando a criança que não fala enrijece o corpo pode
bastante comum ele rejeitá-Ia, sem tentar estabelecer uma estar chegando a hora de mudar de atividade. Esta pode ser a
outra forma de interação. única forma de fazer o outro sentir que ela não quer fazer o
que é proposto. Assim, o professor pode, neste momento,
5. As formas estereotipadas que envolvem o uso do perguntar se ela deseja descansar ou continuar a trabalhar,
material a ser empregado na comunidade em geral. As grandes uma vez que ela não consegue sozinha fazer o deslocamento
indústrias de brinquedos e materiais pedagógicos estabelecem de atividade e material.
alguns parâmetros para o uso do material. Estes indicadores
podem constituir imagens tão impactantes que acabam por
O uso de brinquedos, jogos e materiais pedagógicos e Diversos fatores contribuem para a permanência dessa
o processo de construção da inteligência do aluno situação, obstaculizando a efetivação de medidas concretas
que propiciem a realização de mudanças significativas no
É importante não se fazer uma leitura rasa do processo de sentido de representar verdadeiros avanços que reflitam os
escolarização e construção da inteligência da criança. Howard interesses das crianças deficientes mentais. A discussão sobre
Gardner estudou a possibilidade de a criança apresentar mais a necessidade de mudanças no desenvolvimento curricular
de um tipo de inteligência: ocorre com frequência, mas ainda não surtiu os efeitos
desejados. Até agora, temos encontrado esforços isolados por
( ... ) Em certo sentido, ler abre o mundo. O estudo de parte de alguns educadores que realizam alterações em seu
Scribner-Cole nos relembra, porém, de que devemos ser modo de trabalhar, mas sem o necessário respaldo do estatuto
cuidadosos antes de supor que qualquer forma de educação científico da pesquisa, para documentar e divulgar suas
necessariamente acarreta amplas consequências. E, de fato, atividades, compartilhando-as com a comunidade, o que
quando consideramos as vastas diferenças entre uma escola produziria efeitos mais consistentes. As alterações a que me
rural e uma escola religiosa tradicional ou entre uma escola refiro são as que se restringem ao aspecto eminentemente
religiosa tradicional uma escola moderna, parece claro que o técnico da tarefa didática, não buscando sua radicalidade, ou
tipo de escola faz uma diferença intelectual tão grande quanto seja, não buscando a profundidade das concepções que as
o fato da escolarização em si (Gardner, 1994, p. 275). norteiam e as justificam.
Muitas vezes, ao longo da formação da modalidade de De acordo com Huberman (1973, p. 18), "a mudança é a
aprendizagem do sujeito apenas certas faixas de inteligência ruptura do hábito e da rotina, a obrigação de pensar de forma
foram privilegiadas. Na sociedade tradicional é bastante nova em coisas familiares e de tornar a pôr em causa antigos
comum um desenvolvimento baseado nas atividades de postulados". Ainda em Huberman (1973, p. 17), encontramos
memorização; assim como na sociedade moderna ocorre um a noção de que "a inovação é uma operação completa em si
privilegiamento do pensamento lógico-matemático. Por mesma cujo objetivo é fazer instalar, aceitar e utilizar
razões de ordem pessoaI o aluno pode ter ficado exposto a determinada mudança. Uma inovação deve perdurar, ser
outras faixas específicas do processo de conhecimento. amplamente utilizada e não perder as características iniciais.
Uma criança autista que gostava de música ficou muito O sistema de ensino frequentemente é tentado a mudar as
mais exposta a discos e fitas musicais do que uma outra que aparências para não alterar a essência". Desse modo, mudar
não gostava. O professor pode partir deste aspecto para em educação implica considerar a vontade de os profissionais
ensiná-la. Com isso, o aprendizado da música deixou de ser envolvidos repensarem os fundamentos que sustentam suas
apenas um efeito mecânico do processo de memorização da práticas e, consequentemente, mudarem a si mesmos. Esta
inteligência musical para tornar-se produto de uma pode ser uma das razões da resistência à mudança que
investigação e estruturação de outros tipos de inteligência. encontramos hoje em nossa realidade escolar.
Tradicionalmente se pressupõe um uso de brinquedos,
materiais e jogos em que se acredita que os conhecimentos de O brinquedo, o jogo, o aspecto lúdico e prazeroso que
um tipo de inteligência transitem facilmente para outro. existem nos processos de ensinar e aprender não se encaixam
Gardner revelou que este processo não ocorre de forma nas concepções tradicionalistas de educação que priorizam a
natural e precisa ser desencadeado pelo professor. aquisição de conhecimentos, a disciplina e a ordem como
valores primordiais a serem cultivados nas escolas. Esta
Os brinquedos, jogos e materiais pedagógicos geralmente dificuldade em olhar de modo inovador aspectos
são empregados a partir de um modelo de inteligência uni fundamentais e específicos da escola contribui para limitar as
dimensional que privilegia o eixo cognitivo. Estudos recentes ações que realmente colaborem para a efetivação de mudanças
têm revelado que as inteligências podem ser várias e não significativas nas práticas pedagógicas utilizadas hoje com
necessariamente intercambiáveis entre si. Embora a criança crianças deficientes mentais.
autista tenha uma excelente memória para a música, isto não
quer dizer que o mesmo ocorra com os seus outros tipos de No caso da prática com estas crianças, podemos agregar
inteligência. A sua inteligência linguística pode ainda não ter mais algumas dificuldades representadas pelas concepções
percebido o sentido das palavras. A sua inteligência lógico- preconceituosas vigentes que preconizam a diferença, as
temporal pode ainda não saber o que é passado, presente e impossibilidades, a deficiência e as limitações. Desse modo, a
futuro etc. prática pedagógica com deficientes mentais, embora
reconheça a existência das características acima, não se tem
Embora o mesmo material tenha a possibilidade de ser modificado na direção de suprí-Ias ou de atenuá-Ias como
utilizado por várias inteligências, isto não quer dizer que ele seria seu papel e continua reforçando esses aspectos, quando
seja efetivamente empregado na prática. Ele pode ficar apenas se mantém continuadamente selecionando atividades
no uso potencial. Conforme o aluno, um trabalho mais rotineiras e repetitivas.
específico pode ser necessário. Mesmo admitindo os direitos da pessoa portadora de
deficiência, principalmente nos casos mais leves, mesmo
O jogo na organização curricular para deficientes mentais considerando o forte apelo atual do discurso da cidadania, as
Maria Luisa Sprovieri Ribeiro posturas adotadas pelos profissionais não têm sido
suficientemente fortes para realizar mudanças curriculares
A prática pedagógica com deficientes mentais tem sido compatíveis.
marca da por forte e arraigado tradicionalismo e posições hoje
ultrapassadas. Ao considerarmos a rotina das classes de Essas mudanças serão possíveis quando os professores
educação especial, temos encontrado formas estereotipadas encararem com tranquilidade as mudanças no seu papel. De
de trabalhar, por parte dos professores, que provocam a acordo com as abordagens psicogenéticas, o ponto de partida
indiferença dos alunos, condenando-os a uma atividade é o entendimento de que o indivíduo é o centro na busca do
desinteressante, nada desafiadora, que nega seu potencial, seu próprio conhecimento e a aprendizagem é o produto da
conferindo-lhe um caráter definitivo. atividade do sujeito e depende do desenvolvimento de suas
estruturas cognitivas. Nesse sentido, o professor
construtivista tem um novo papel: é ele que desestabiliza, que
estimula, que promove oportunidades de o aluno realizar suas de se explorar o desenvolvimento dos papéis em toda a sua
trocas com o meio social, que desequilibra, que desafia, enfim, riqueza e complexidade, preservando-se o espaço do jogo,
ele deixa de ser o detentor de todo saber e autoridade para se protegendo-o das demandas de outras atividades da classe.
tornar um interlocutor que auxilia na busca de soluções para Por exemplo: no cantinho da fantasia, explorar o papel de mãe,
os conflitos cognitivos ou, numa palavra, assume o papel de pai, filho, na variedade de suas atividades de vida diária e
mediador. relações. Principalmente no caso de crianças deficientes
mentais, tais situações criariam disposição favorável ao
O problema da inserção do jogo na escola é difícil de desenvolvimento da função de autorregulação pela linguagem
resolver, pois, se, de um lado, a criança faz coisas interessantes, e da socialização como decorrência, na medida em que fossem
quando numa situação de jogo, de outro, os aspectos de estimuladas a expressar suas opiniões e sentimentos durante
incerteza, frivolidade não se coadunam com o estabelecimento as atividades de jogo.
de objetivos da escola.
Estas reflexões nos levam a ponderar sobre a organização
O jogo contém um paradoxo. Se, por um lado, favorece a do trabalho escolar em momentos de trabalho e de
consecução de certos objetivos, há aprendizagens específicas brincadeira, de modo que as intervenções do adulto ensinem a
que terão dificuldades de passar por ele. É preciso ter criança a brincar e favoreçam seu desenvolvimento.
consciência dos limites da utilização do jogo na atividade Entretanto, o lugar que o jogo ocupa na escola, hoje, é
pedagógica, rompendo com uma visão romântica de que o jogo compatível com a representação de brincadeira e de escola
seria uma panaceia para todos os males. No entanto, Vygotsky que a sociedade oferece e, porque não dizer, também da
nos trauma importante contribuição com seu conceito de deficiência mental.
"zona de desenvolvimento proximal", que significa a distância Muitas escolas mantêm brinquedos e jogos em suas classe
entre o nível de desenvolvimento real e o nível de subutilizados, porque representam o aspecto da futilidade,
desenvolvimento potencial da criança. O jogo vivido pela inaceitável segundo a concepção da escola tradicional. Os
criança deficiente mental permite a redução desta distância e brinquedos podem ser utilizados na escola como objeto de
a revisão do papel do professor, porque, para que ele seja análise sob vários pontos de vista, possibilitando do sua
realmente um mediador, um articulador, ser-lhe-á exigido integração e favorecendo a comunicação.
muito estudo, coerência e comprometimento.
O professor, ao assumir o potencial que tem o jogo na Se o professor souber observar e intervir a partir da lógica
educação, será o responsável pela arrumação do espaço físico da atividade lúdica infantil, descobrirá explorações possíveis,
e o construtor do espaço lúdico, que não deixa de ser para se obter melhor aproveitamento do brinquedo como
sociocultural. Nessa organização, ele não pode suprimir a mediador das brincadeiras e dos trabalhos mais "escolares",
criança, mas devo criar um espaço para sua decisão, que podem se utilizar dos mesmos materiais.
valorizando ao máximo as possibilidades do jogo sem a Neste sentido, vários estudos, principalmente de Piaget e
intervenção adulta. No entanto, dadas as dificuldades do Vygotsky, referem-se à relevância do jogo como promotor de
portador de deficiência mental, o material não poderá ser aprendizagens, sejam elas de conteúdos sistematizados ou não
agrupado ao acaso, mas de tal forma que permita pela escola. Mas, certamente, esses conteúdos originam-se nas
ressignificações. A organização do espaço lúdico deverá estar interações entre as crianças em situação de jogo e permitem
coerente com as competências da criança, seu ritmo e nível de sua compreensão à medida que novos conteúdos vão sendo
desenvolvimento para não limitá-Ia a um universo simbólico incorporados às estruturas anteriores, modificando-as.
específico. O currículo deve corresponder à concepção que o
De acordo com o prof. Gilles Brougere (1994), o professor educador tem sobre o educando, suas características e
deve considerar alguns aspectos na utilização do jogo escola: necessidades. Assim, uma organização curricular para
1. coerência na organização do espaço. É importante que deficientes mentais deve considerar, como propõe Mantoan
não seja uma distribuição aleatória, mas lógica; (1989), que
2. possibilidade de oferecer materiais que permitam limitações estruturais de natureza orgânica, traduzidas por
crianças assumirem papéis complementares; déficits motores e sensoriais, favorecem trocas igualmente
3. oferecimento de materiais que permitam à criança deficitárias do sujeito com o meio, trazendo, como consequência,
desenvolver o papel em sua riqueza e complexidade; e prejuízos ao funcionamento intelectual e, portanto, deficiências
4. preservação do espaço do jogo, sem interferência das na forma de agir sobre o mundo, representá-lo em pensamento
demandas de outras atividades da sala. e sistematizá-lo, do ponto de vista lógico.
Estes aspectos nos remetem ainda às considerações sobre
Esses critérios nos fazem refletir sobre alguns aspectos o papel do professor como artífice de um currículo que
que dificultam ou deturpam a utilização do jogo na escola. Há privilegie as condições facilitadoras de aprendizagens que o
necessidade de se realizar um trabalho sistemático de jogo contém nos seus diversos domínios afetivo, social,
observação das crianças para, em função delas, proceder-se à perceptivo-motor cognitivo, retirando-o da "clandestinidade",
organização do espaço. Os espaços e os materiais disponíveis da subversão, explicitando-o corajosamente como meta da
para o jogo na escola nem sempre favorecem uma distribuição escola e não como pertencente ao seu currículo oculto.
coerente e lógica. Muitas vezes, os materiais estão quebrados O professor, muitas vezes, não se reconhece como capaz de
ou incompletos, mas continuam no acervo com as mesmas transformar a realidade em que atua, porque coloca a fonte de
funções. todos os problemas fora do seu âmbito de atuação. No entanto,
Do mesmo modo, não se prevê, como recomenda Gilles a proposição do currículo é sua tarefa e é nele, não somente em
Brougere, uma ação cultural paralela, ou seja, informar sobre sua elaboração, mas em todas as suas etapas de execução,
as possibilidades que o material oferece, a fim de que a criança acompanhamento, avaliação e reelaboração, que se projetam
descubra e crie outras, interagindo com ele. Nessa interação os sentidos das mudanças desejáveis e que se assumem as
com os brinquedos, a criança perceberá possibilidades de metas a ser efetivadas.
assumir papéis complementares como fazer a comida, lavar a
louça, comer, arrumar a mesa e outras. Esta tarefa de proposição curricular, pelo professor, foi, no
Ainda, trabalhar sobre os temas das brincadeiras daria à auge do tecnicismo, ignorada por instituições escolares que a
criança elementos culturais para utilização em outras atribuíam a especialistas de gabinete, restando aos
brincadeiras, ampliando seu universo de experiências. É o caso professores sua execução.
Na educação regular tal fato passou por salutares e práticas sobre as vivências comunicacionais cotidianas de
transformações. seus alunos.
Em educação especial, há situações diferenciadas. O As crianças praticam, desde pequenas, comunicações
professor habilitado geralmente se reserva o direito e a interpessoais na convivência com pessoas de suas famílias,
autoridade de estabelecer o currículo de suas classes e, de vizinhança, escola, entremeadas de significados elaborados
modo geral, recebe esta tarefa também como delegação do por elas também no contato com linguagens dos meios de
diretor ou coordenador, que raramente têm conhecimento das comunicação social (as mídias).
especificidades da clientela de educação especial. No entanto, As complexas relações comunicacionais entre
não raro, encontramos leigos atuando na área e, nestas "crianças/outras crianças/ mídias/ adultos educadores"
situações, é comum a utilização de Propostas Curriculares de desenvolvem-se, ao longo da vida infantil, em um conjunto de
gabinete, Guias Curriculares ou, ainda, planos prontos múltiplas e recíprocas influências. Enquanto professores
elaborados por "chefes", sem as necessárias adequações à participantes de conjunto de comunicações de várias origens
clientela a que se destinam. nas quais se encontram os alunos podemos nos perguntar:
com que finalidades emancipatórias sobre a vida no mundo
O professor é o elemento que deve interpretar a concepção contemporâneo, como e com que saberes práticos e teóricos já
de mundo e as aspirações de vida da população escolar, bem atuamos como professores comunicadores, incluindo a
como de seus condicionantes, adotando-os como ponto de recepção ativa infantil com mídias? Essas práticas podem ser
partida de todo o projeto pedagógico da escola. Deverá ser o aperfeiçoadas? Como e por quê? Conhecemos as formas e
mediador entre o sujeito e o objeto de conhecimento, se conteúdos das mídias preferidas pelas crianças? Com que
desejar promover a autonomia moral e intelectual dos práticas e teorias trabalhamos na educação infantil quando se
educandos. trata de participar da produção social da comunicação com
Se tais pressupostos estiverem explicitados na proposta mídias sobre brincadeiras e brinquedos?
curricular, certamente não serão atingidos com uma prática Na presencialidade das ambiências escolares, o processo
pedagógica conservadora. de comunicação interpessoal entre alunos bem como entre
Urge redimensioná-la no sentido de os próprios educado professores e alunos vem mobilizando educadores na busca de
res assumirem a tarefa de recriar seu papel, aprimorando sua conhecimentos profissionais mais aprofundados sobre essas
competência do ponto de vista teórico e prático. Neste relações.
contexto, o jogo na prática pedagógica com deficientes mentais Considerando-se que o desenvolvimento dessas
definitivamente não estaria excluído. comunicações presenciais cotidianas, nas escolas infantis,
encontram-se cada vez mais entremeadas de significados do
Esta postura supõe o repensar da formação dos processo de comunicação a distância, experienciados pelas
profissionais envolvidos na tarefa de propor, executar, crianças via televisão, vídeo, revistas, livros, cartazes, discos,
acompanhar e avaliar o desenvolvimento do currículo, bem rádio, multimídias etc., esses saberes profissionais precisam
como seu treinamento em serviço e aperfeiçoamento. ser elaborados desde a formação inicial de professores.
Em cursos de graduação que formam professores
É preciso coragem para ousar. É preciso coragem para (Magistério, Pedagogia, Licenciaturas), o estudo sobre
enfrentar as ambiguidades que o jogo nos oferece e estimular Educação, Comunicação e Mídias requer um conjunto de aulas
sua utilização de acordo com os objetivos pretendidos, e ainda em uma disciplina curricular voltada para essa finalidade. A
estar preparado para intervir de acordo com a incerteza da formação contínua de professores em cursos de graduação e
resposta infantil. em serviço nas escolas deve incluir práticas e análises que
ajudem esses profissionais a saber aperfeiçoar-se como
Neste sentido, permito-me afirmar que também é preciso recepção ativa e comunicadora com mídias. Além disso, devem
ter coragem de ousar rever a concepção de escola, que abriga saber organizar e produzir, nos cursos escolares sob sua
a correspondente organização curricular. responsabilidade, competentes e criativas atividades de
comunicação cultural com seus alunos, levando em
Brincadeiras e brinquedos na TV para crianças: consideração a participação das diversas mídias na vida das
mobilizando opiniões de professores em formação inicial crianças, dentre as quais a televisão.
Ao relacionarem-se com as formas e os conteúdos de
Maria Felisminda de Rezende e Fusari desenhos animados, programas infantis, comerciais, novelas
da TV, por exemplo, e com as pessoas presentes na sua vida
A recepção não é apenas uma etapa do processo de familiar, escolar etc., as crianças mostram-se como sujeitos
comunicação. É um lugar novo, de onde devemos repensar os ativos e interativos. Enquanto participantes dessas inter-
estudos e a pesquisa de comunicação. relações, recebem influências de diversas qualidades e níveis
(Jesús Martín-Barbsro, 1995, p. 39) para viverem no mundo contemporâneo mas também, e à sua
maneira, produzem suas influências infantis ao elaborar,
O olhar conhece sentíndo (desejando ou temendo) e sente recriar, expressar suas emoções, ideias, histórias junto a seus
conhecendo. familiares, colegas, professores, com significados encontrados
(Alfredo Bosi, 1988, p. 78) em programas assistidos pela TV.
Trata-se, portanto, de uma grande "teia de influências" de
O intuito deste texto é contribuir para as reflexões sobre muitas naturezas, poderes, procedências e na qual atuam
práticas comunicacionais e educacionais de professores que crianças (telespectadoras, sim, mas não só) em seus espaços
trabalham com crianças nas escolas, mediados por programas sociais mais favorecidos ou não, tecendo diferentes histórias.
de televisão assistidos pelo público infantil. Expõe, para isso, Esses múltiplos poderes comunicacionais de transmitir,
uma pesquisa realizada com um grupo de professorandos influir, transformar, dialogar, produzir - não reduzidos apenas
telespectadores sobre um programa televisivo para crianças. a mídias como a TV - são assinalados, dentre outros
Objetiva tecer nexos com estudos voltados à formação inicial pesquisadores, por Manuel Martin Serrano (1989, p. 61-65), a
de professores de crianças no âmbito da produção social de partir de investigações dirigidas por ele, na Espanha, sobre a
comunicação televisiva sobre brincadeiras e brinquedos. produção social da comunicação televisiva com e por crianças.
O trabalho de educação escolar infantil exige de seus
professores (veteranos e em iniciação profissional) discussões
Mesmo em se tratando da comunicação infantil com um crianças inclui outras fontes e ações informacionais mais
conjunto de formas e conteúdos audiovisuais produzidos com lúdicas ou não sobre a vida e a cidadania? Por quê? Para quê?
novas e novíssimas tecnologias informatizadas (TVs, vídeos
interativos), as responsabilidades, compromissos e reflexões Questões como essas nos mobilizam, então - como pais,
sobre o sentido dessas ações comunicacionais se colocam para professores, futuros professores -, a buscar perceber melhor a
os adultos que convivem com crianças no dia a dia, sobretudo largueza, a profundidade e a história dessas comunicações
os educadores. sensíveis e cognitivas das crianças entre si, com as outras
pessoas mais adultas (suas educadoras) e com os produtos
No plano ético contido no estético dos textos verbais, culturais televisivos. Essa busca requer dos educadores e
visuais, audiovisuais, sonoros, queremos compreender o pesquisadores um longo e consistente caminho de estudo e
sentido de nossas ações comunicacionais e educacionais com formação a partir de seus próprios conceitos, sentimentos e
as crianças nesse conjunto composto por seus participantes, preconceitos existentes (e a ser transformados) sobre essas
suas mídias, seus sentimentos e concepções sobre a vida comunicações.
humana. Ora, se as finalidades da educação escolar de crianças,
Na história dessa grande teia de transmissões, influências adolescentes e adultos (inclusive os alunos que se formam
e elaborações comunicacionais encontram-se, dentre outros, para ser professores) são as de contribuir para que seus
os sentimentos e ideias referentes a brincadeiras e brinquedos participantes - educandos e educadores - aperfeiçoem sua
infantis mediados pelos textos apresentados em visualidades, maneira de compreender, interpretar e ajudar a transformar,
sonoridades, audiovisualidades, verbalidades, poéticas na para melhor, o mundo contemporâneo da natureza e da
sociedade comunicacional. Para ajudar professores em cultura, torna-se necessária a criação de condições para que tal
formação a pensar e posicionar-se sobre os modos de brincar contribuição (cheia de possibilidades, embora limitadas)
e os brinquedos presentes nesses textos e no cotidiano da aconteça também com relação à produção social de
criança contemporânea, é importante estudá-los. brincadeiras e brinquedos na escola, considerando-se seus
Ao se emocionar e pensar diante de cenas de brincadeiras nexos e transformações com relação à encontrada nas diversas
e de brinquedos veiculados pelas mídias eletrônicas - que mídias e fora da escola.
produtores adultos lhes oferecem -, os jovens usuários Neste texto, não pretendemos dar conta de reflexões a
participam de um conjunto de práticas comunicacionais partir de todas as questões explicitadas nos parágrafos
prazerosas relacionadas a elas e desdobradas em seu cotidiano anteriores. Mas esperamos que tais questões (e outras)
de contatos com outras pessoas em outros ambientes. Tais continuem, em diversas instâncias, a mobilizar nossas análises
constatações sobre mídias como a TV na vida infantil, inclusive sobre práticas comunicacionais com a infância e mídias como
na escolar, mobilizando a formação contínua de professores de a televisão.
crianças, levam-nos a perguntas para estudo e pesquisa como No âmbito dessas indagações e para mobilizar análises dos
as seguintes: leitores, abordaremos a seguir algumas opiniões de estudantes
- As vivências comunicacionais infantis com a mídia TV em cursos formadores de professores, a respeito de
(dentre outras), bem como com as pessoas de sua família, seus brincadeiras e brinquedos veiculados em um programa de TV
vizinhos, sua escola, na atualidade, desenvolvem-se e muito apreciado por um grande número de crianças em nosso
renovam-se com que preferências ou gostos estéticos? E com país. Consideramos que o fato de tomarmos consciência de
que ideias? Como se processa esse desenvolvimento de concepções e sentimentos emitidos em programas de TV para
preferências e de ideias quando se trata, por exemplo, de crianças, nessa área de vivência comunicacional lúdica,
brincadeiras e brinquedos? constitui um dos passos para frente nos estudos, com vistas ao
- Ao participarem dessa rede viva de múltiplas influências, aperfeiçoamento de nossas práticas educativas com mídias e
que sensibilidades e entendimentos as crianças desvelam seus usuários presentes nos cursos escolares.
sobre suas vidas, as vidas das pessoas com as quais interagem
e do mundo da natureza e da cultura ao qual são Opiniões de professorandos sobre brincadeiras e
contemporâneas? Que desvelamentos sobre as relações brinquedos em um trecho televisivo para crianças
sociais se dão, permanecem ou se transformam na infância, no Com o objetivo de estudar práticas de análise e reflexão
caso de brincadeiras e brinquedos? Por quê? Para quê? sobre características de brincadeiras e brinquedos propostos
- Que sentimentos e conceitos os adultos educadores (pais, em programas de TV que as crianças veem, realizamos, entre
parentes, professores) assumem, desenvolvem e interferem 1987 e 1989, um trabalho com 235 alunos que se formavam
cotidianamente junto às crianças espectadoras de televisão e para atuar como professores. Participaram desse estudo 69
outras mídias? Com que finalidades e projeto educativo para a alunos de quatro turmas de Pedagogia da Faculdade de
infância? Como se caracterizam tais intervenções quando se Educação da USP e 166 alunos de cinco turmas em escolas de
trata de brincadeiras e brinquedos na vida infantil 2° Grau-Magistério, na cidade de São Paulo.
contemporânea? Em uma primeira fase da pesquisa, todos esses estudantes
- Que práticas educativas significativas e prazerosas já haviam se manifestado (individualmente e por escrito)
queremos/ devemos criar, enquanto educadores, para ajudar sobre a seguinte questão: "quais são os problemas enfrentados
crianças pequenas a transformarem para melhor, em suas por professores, em escolas públicas, quanto ao uso de
vidas cotidianas, as brincadeiras e brinquedos que praticam, televisão e vídeo com e por seus alunos com idades entre 5 a
vinculados a vivências comunicacionais também com as telas 11 anos?"
televisivas?
- Que sugestões e recomendações queremos/ devemos A maioria dos 235 professorandos, quase todos do sexo
fazer, enquanto educadores, aos comunicadores que feminino, com idades entre 15 e 30 anos, explicitou um alto
produzem televisão para a infância em nosso país? na América índice de problemas enfrentados por professores com
Latina? E para o fluxo televisivo entre os diversos países deste telespectadores infantis presentes nas escolas. Apontaram
nosso planeta? Que sugestões específicas devemos fazer a problemática enfrentadas sobretudo quanto às próprias
respeito de bons programas e comerciais de TV sobre crianças telespectadoras (por se mostrarem imitadoras
brinquedos e brincadeiras, tendo em vista os processos acríticas de personagens e conceitos televisivos, bem como
inteiros de comunicação com e para crianças nos tempos e pouco criativas nas aulas e brincadeiras desenvolvidas na
espaços contemporâneos? Que sugestões para melhorar a escola) e quanto a suas escolas e professores (por se
televisão recebida na infância sabendo que a comunicação com mostrarem com saberes insuficientes sobre os modos de
trabalhar pedagogicamente com a TV nas escolas e com as Crianças: Pique total, pique total, pique fraco, pique fraco,
concepções distorcidas da realidade, assimiladas pelas pique total, pique fraco, pique total, pique total, pique total,
crianças via TV). pique total...
Para estudar melhor essa problemática e os modos Xuxa: Pique total! oh, Duilson, quase, quase ... Se você
criativos e éticos de superá-Ia, alguns professorandos fizesse 8, seria nosso recordo Pra bater nosso record teria que
participantes da pesquisa manifestaram-se (durante aulas de ser 9. Volta outro dia pra ver se você ganha nessa, ein, que tal?
Didática e de Educação e Meios de Comunicação) a respeito de Vai ganhar muita coisa, mas o vencedor ainda é o Duilson. E a
um dos programas de TV para crianças. Encontram-se Nadege tirou 2° lugar e vai mandar o beijinho pra quem?
expostos nesta publicação aspectos mais ampliados (que em Nadege: Pra minha mãe, pras minhas irmãs e pra você.
outras publicações) dessa parte da pesquisa.' Serão Xuxa: Brigada, Nadege, parabéns, viu ... Agora o Duilson
apresentadas as opiniões e discussões de 67 dentre os 235 mesmo, que é o vencedor, vai dizer comigo: Guaraná
professorandos (sendo 22 de duas turmas de Pedagogia e 45 Antarctica que é puro e natural, guaraná Antarctica que é puro
de duas turmas de Magistério), frente a "brincadeiras e e natural, guaraná Antarctica é puro, puro, puro e natural... Mas
brinquedos" existentes em um trecho de cinco minutos de um tem que falar rápido, tá?
programa de TV brasileira (Globo) para a infância, veiculado Duilson (falando rápido): Guaraná Antarctica que é puro e
durante a "Semana da Criança", em 5 de outubro de 1987: o natural, guaraná Antarctica que é puro e natural, guaraná
"Xou da Xuxa'"? Antarctica é puro, puro, puro e natural. ..
Xuxa: Boa, Duilson ... E vai mandar beijinho pra quem?
Para se ter uma ideia da "audiovisualidade" do referido Duilson: Pra minha mãe, pro meu pai e pra você.
texto televisivo, segue-se um resumo que descreve aspectos de Xuxa: Brigada, Duilson, parabéns, viu ... E agora vamos
sua sequência sonora e de sua ambiência visual: curtir Ewoks e eu volto .... Legal ver você, que bom que você tá
aí...
a) a sequência sonora (verbal, oral, musical, cantada)
desenvolvendo a brincadeira com os brinquedos bambolês (Xuxa dirige sua fala para os telespectadores; em seguida,
coloridos (a serem acertados em garrafa gigante de guaraná dubla e dança trecho de música cantada por ela mesma e que
Antarctica) no tempo e espaço de cinco minutos do programa estava servindo de fundo musical durante a brincadeira.)
foi a seguinte:
Xuxa (cantando e dançando): "Todo mundo diz que eu sou
(fundo musical do Xou da Xuxa) louca por você/ nada do mundo me dá tanta emoção / de sentir
que você conquistou meu coração / diz bem baixinho que só
Xuxa: Grande astral, grande mesmo ... Você já sabe? Ai, gosta de mim/ não sei o que fazer/ tudo o que eu faço ( ... )"
Praga, que é isso Praga? Contenha-se, Praga, por favor! Você já
sabe que mês de outubro é mês de quê? Ah, você já sabe? Deixa (inicia-se o Desenho Animado Ewoks: Rampage of the
eu ver, deixa eu ver: quem tá a fim de falar pra mim? Então, Phlogs - O ataque dos Phlogs produzido por Paul Dini, uma
vem, Fernanda. Mês de outubro é mês de quê, Fernanda? distribuição Fox Filme do Brasil- versão brasileira Herbert
Criança (Fernanda): Da Criança. Richard.)
Xuxa: E o que mais, pra você?
Criança (Fernanda): da Xuxa. b) a ambiência visual desse trecho do Xou da Xuxa
Xuxa: Aaaai. Alô, alô, calma, calma, calma. Boa ideia, boa apresentou uma Xuxa vestida de cor-de-rosa, rodeada do
ideia, adorei a sua ideia, me amarrei. De novo, mês de personagem Praga e de crianças em movimento, muitas cores,
outubro... quem tá a fim de falar pra mim? mês de outubro além de uma garrafa de guaraná Antarctica (pouco maior que
Criança (Marcele): Eu ... eu ... eu ... a apresentadora) e de grandes bambolês coloridos destinados
Xuxa: Quem é, Marcele? Mês de outubro é mês ... ? a uma ação lúdica competitiva entre crianças presentes
Criança (Marcele): Da paz, do amor, da Xuxa. naquela situação comunicacional. As imagens iniciais do
Xuxa: Iiiich ... Oh! Brigada, ein Marcele. Viu só, gostaram? referido segmento televisivo apresentaram-se com tomadas
Bom, agora vai ser a brincadeira do "Acerte a Minha Colega de (em Grande Plano) em que apareciam na tela o grupo todo
Trabalho Antarctica que É Pura e Natural". Temos a Na ... Xuxa-crianças-cenário-Praga, este último, engatinhando pelo
Nadege com o Duilson. É isso? Duilson Nadege, né? Então, chão e tentando passar entre as pernas de Xuxa; em seguida,
vocês, cada vez que vocês jogarem o bambolê na Antarctica, se durante o diálogo da Xuxa com a primeira criança (Fernanda),
errar, é pique fraco, se acertar, pique total, tá? O nosso record os telespectadores as viram desde a cabeça até pouco mais que
foram 8. Se vocês conseguirem 9, vocês serão os vencedores, os ombros (ou seja, em Plano Médio Fechado) e, de novo, em
assim d record, tá? Vão ganhar além da Antarctica, brinquedos, imagens do grupo todo, incluindo a garrafa gigante do guaraná
revista, disco, pôster etc., etc., etc., tá bom? Vamos ver, então, Antarctica. Nos beijinhos trocados entre Xuxa e a criança
quem vai ganhar? An? Prr ... (Marcele), a imagem mostrou-as mais de perto pouco mais que
seus rostos (em dose). Após isso, as imagens abriram-se (em
(Inicia a brincadeira, acompanhada do coro de torcida das Plano Geral), apresentando na tela a Xuxa, a garrafa gigante de
crianças: primeiro a menina, depois, o menino, tentando guaraná Antarctica, as crianças competidoras e as do coro de
acertar o bambolê na garrafa gigante.) torcida na brincadeira. De novo, os telespectadores viram (em
dose) os rostos até pouco mais que os ombros das crianças
Crianças: Pique fraco, pique fraco, pique fraco, pique fraco, competidoras (Nadege e Duilson) e da Xuxa, quando enviaram
pique fraco, pique fraco, pique fraco, pique fraco, pique fraco, beijinhos, beijaram a Xuxa e quando uma delas repetiu várias
pique fraco, pique fraco ... vezes e rapidamente a frase sobre o guaraná Antarctica.
Xuxa: Nenhuma, ein Nadege, é mole? Nenhuma Nadege? Finalmente, a imagem da Xuxa apareceu de "rosto e ombros"
Duilson, se você conseguir acertar bambolê na Antarctica, você quando ela se dirigiu aos telespectadores, dançou e cantou o
já é o vencedor, ein? Boa sorte pra você, Duilson e "vamo" lá. trecho da música; passou-se, em seguida, para o desenho
(Reinicia a brincadeira com o menino, acompanhada do animado anunciado.
coro da torcida infantil.)
Os trabalhos de análise, pelos professorandos, desse
trecho televisivo do Xou da Xuxa foram organizados, como
dissemos, durante as aulas de Didática e de Educação e Meios
Para continuar a mobilizar opiniões e práticas de desenvolver uma relação professor-alunos propícia ao
professores sobre a TV e a vida das crianças: realizar processo de ensino-aprendizagem.
projetos de esperança a partir do existente Esta relação, que existe em função de um trabalho dos
alunos com o conhecimento, mediado pelo professor, o qual
A visão de mundo que as crianças adquirem, descobrem, deve ter o papel de facilitador, frequentemente assume
desenvolvem em diversas áreas - dentre elas a de ações lúdicas características desvirtuadoras de sua finalidade. Uma "boa
com brinquedos e brincadeiras - não pode ser considerada relação" confunde-se muitas vezes com aquela em que um
como originária exclusivamente, como já dissemos, dos meios professor "bonzinho", "camarada", "amigo", fecha os olhos
de comunicação dos quais partilham enquanto espectadoras, para as exigências do trabalho escolar, prioriza circunstâncias
usuárias ou coparticipantes de produção. particulares de existência do aluno, erigindo-as como pilares
Estudar aperfeiçoamentos na qualidade das brincadeiras e da inviabilização de um verdadeiro processo formador. Uma
brinquedos presentes em programas e comerciais televisivos outra versão, presente no cenário escolar, é a da "relação
continua sendo necessário. Ao mesmo tempo, transformações séria", em que o "bom professor", "rigoroso" eleva o
precisam ocorrer nos modos de pais, professores e conhecimento e suas exigências à condição de prioridade, em
professorandos participarem mais criativa e eticamente das detrimento das reais condições de existência do aluno,
elaborações e desdobramentos que as crianças fazem em suas constatando-se, contudo, resultado semelhante ao da situação
emoções, ideias, atitudes lúdicas diante dos programas de TV. anterior.
Essas intervenções educativas podem ser organizadas com o
intuito de propiciar outras experiências lúdicas modificadoras Fantasias? Realidade? ldeário de professor? ldeário de
dos sentimentos e ideias vivenciados pela mediação televisiva. aluno?
Para isso é necessário analisar os programas da televisão, das
outras mídias, as práticas de usuários com eles e com a vida De tudo um pouco.
cotidiana. É a psicanalista e jornalista Maria Rita Kehl (1991,
p. 70) quem nos diz: “quem poderá desencantar esta criança O que de fato se vem observando é a despersonalização das
enfeitiçada? O beijo da experiência talvez seja capaz disto - e relações vividas hoje na escola entre professores e alunos, que
aqui quero opor a experiência do contato direto com os nos permite considerá-Ias como "relações burocráticas", no
objetos, a experiência dos riscos reais da vida, das tentativas mau sentido do termo. Realizam-se a partir de posições
de transpor os limites, da obtenção de alguns sucessos mas legalmente definidas e de papéis mecanicamente
também de fracassos neste sentido, à experiência não vivida desempenhados.
'adquirida' pela assimilação do discurso televisivo". A aproximação desses agentes sociais no espaço escolar
configura-se através de um "contato categórico", no qual as
Esses estudos são necessários na atualidade porque as interações ocorrem antes entre as categorias concebidas (de
crianças, as mídias (e seus produtores) das quais elas são modo geral de forma estereotipada) pelos agentes, do que
assíduas usuárias e as pessoas de sua convivência mais entre os agentes reais, históricos, postos em presença. Nessas
próxima na infância (pais, irmãos, parentes, amigos, condições, o conhecimento, objeto de trabalho, destas
professores, colegas) compõem um complexo processo relações, transforma-se também em categoria estanque,
comunicacional e educativo de sentimentos, ideias e atitudes absoluta, que paira acima e além dos indivíduos que com ele
mais emancipatórias ou não sobre a vida contemporânea. As lidam.
crianças atuam e aprendem, nas relações comunicacionais Como o processo de ensino-aprendizagem escolar não é
cotidianas, a conservar ou a transformar aspectos da realidade um processo industrial, de massa, mas organiza-se em torno
e da imaginação sobre a vida e sobre sua história, partilhados de relações grupais e a apropriação do conhecimento baseia-
com múltiplos textos dos meios de comunicação visuais, se em grande parte em processos pessoais, o trabalho docente
sonoros, audiovisuais, verbais (informatizados ou não) e com encontra-se bastante prejudicado na atualidade.
pessoas de sua familiaridade, inclusive seus professores. Recorrer às propriedades formativas do jogo, tanto nos
cursos de formação de professores quanto na formação
Nos cursos de graduação e nas escolas, nós, os formadores continuada (ou formação em serviço), é uma maneira de
de educadores de crianças, precisamos aperfeiçoar nossas "vivificar" esta relação de tal forma a liberá-Ia para encontros
pesquisas e modos de organizar e de desenvolver melhores educacionais formadores.
projetos de iniciação e de formação contínua de professores
em comunicação escolar, também, a respeito da produção 1. O jogo: propriedades formativas
social do lúdico, incluindo saber sobre as mídias presentes na
vida das crianças, seus alunos. Na vida de criança, para além do entretenimento, o jogo
ganha espaço através da focalização de suas propriedades
Um dos modos de mobilizar estudantes de Educação a formativas, consideradas sob perspectivas educacionais
aperfeiçoar suas pesquisas sobre a comunicação e mídias progressistas, que valorizam a participação ativa do educando
referentes, no caso, a brincadeiras e brinquedos para crianças no seu processo de formação.
é ajudá-los a conhecer suas opiniões nessa área, conversar Na vida do adulto, o jogo destaca-se no campo do lazer,
sobre elas, pensar por que conservá-Ias ou em que transformá- sendo modesta e relativamente recente a sua presença no
Ias no âmbito de um projeto educativo lúdico para a infância, campo da formação específica.
mediado pela ética e estética. Este é um ideal que esperamos O jogo realiza-se através de uma atuação dos participantes
construir a partir das realidades comunicacionais e que concretizam as regras possibilitando a imersão na ação
midiatizadas em que vivemos na atualidade. lúdica, na brincadeira. Com Kishimoto (1994) entendemos
que" a brincadeira é o lúdico em ação". Enquanto tal, tem a
CAPÍTULO IX propriedade de liberar a espontaneidade dos jogadores, o que
Jogo e formação de professores: videopsicodrama significa colocá-los em condição de lidar de maneira peculiar
pedagógico e, portanto, criativa, com as possibilidades definidas pelas
Heloísa Dupas Penteado regras, chegando eventualmente até a criação de outras regras
e ordenações.
Dentre as competências a serem construídas e Nesta perspectiva, a brincadeira deixa de ser "coisa de
desenvolvidas por um professor encontra-se a capacidade de criança" e passa a se constituir em "coisa séria", digna de estar
presente entre recursos didáticos capazes de compor uma sair de seu papel e "se ver em cena", pode substituir qualquer
ação docente comprometida com os alvos do processo de personagem com a missão de acentuar, destacar determinadas
ensino-aprendizagem que se pretende atingir. características dos papéis que representam; introduzir
Dialeticamente, a "seriedade" do jogo utilizado em características novas nos papéis já traçados ou, até mesmo,
situações formativas consiste na "brincadeira" que ele implica. entrar com um papel novo, definido pelo diretor, fortemente
Só é possível viver na brincadeira um papel em toda a sua relacionado com a dramatização em curso (segundo hipótese
profundidade e complexidade, quando o ator se identifica de trabalho elaborada pelo diretor). Todas as alterações de
plenamente com ele, emergindo, portanto, simultaneamente, papéis introduzidas são apenas de conhecimento do diretor e
como seu autor. Nisto é que reside a propriedade liberadora do ego-auxiliar.
da espontaneidade, condição do ato criador. Entendido o ato
criador nesses termos, nada que se confunda com roteiros de Com o recurso do ego-auxiliar, cenas podem ser feitas e
atuação previamente definidos, configurando papéis, tem desfeitas; personagens podem ser trocados; acontecimentos
espaço no uso do jogo em situações formativas. modificados, tempo e espaço alterados, garantindo o emergir
do inesperado, do imponderável, da surpresa, provocadora de
No caso da relação professor/alunos, vivida hoje em reações afetivas espontâneas, facilitadas pelo" como se" do
grande parte da realidade escolar brasileira sob a forma de contexto psicodramático.
uma "relação burocrática" através de um contato categórico, o
problema que se enfrenta, na capacitação de docentes, é a Com tudo isso, o "campo tenso" do contexto social, de onde
liberação da espontaneidade e, portanto, da capacidade provém o material da dramatização, transforma-se num
criadora para que se atinja um "encontro vigoroso" do "campo relaxado", possibilitado pelo "como se" fosse verdade
educando com o conhecimento, mediado por ações que o jogo inclui, favorecendo o clima de brincadeira e de
significativas do professor. descontração, propícios ao aflorar da espontaneidade. A
Isso implica um "exercício de alteridade", em que o diminuição do compromisso real, propiciada pela situação de
profissional "coloca-se no lugar do outro". Para este exercício, brincadeira, descontrai as personagens do drama, liberando-
o jogo de papéis, os jogos de simulação ou de representação, as da condição de" atores" para a compreensão da condição de
os jogos dramáticos constituem recursos excelentes, se não "atores-autores" de seus próprios papéis e das múltiplas
únicos. facetas destes.
No elenco desses jogos destaca-se o psicodrama Esta situação oferece uma visão mais ampla e flexível do
pedagógico e, mais recentemente, a partir dos avanços amplo espectro de possibilidades de ação, preparadora de uma
tecnológicos, o videopsicodrama pedagógico. compreensão descentrada e abrangente do fenômeno em foco.
Trata-se de um exercício do papel de "significador" que o
2. Videopsicodrama pedagógico homem exerce ao longo da vida, muitas vezes sem consciência
dele, inconsciência esta responsável por posturas
O videopsicodrama pedagógico é um desdobramento do reprodutoras.
psicodrama pedagógico, possibilitado pelo avanço
tecnológico, que colocou as câmeras gravadoras de vídeo e Bermudez (1970, p. 20-21), exemplificando a diferença
aparelhos projetores ao alcance de um maior número de entre "campo tenso" e "campo relaxado" entre os diferentes
profissionais das diferentes áreas do conhecimento. contextos envolvidos no psicodrama, recorre ao exemplo do
Constitui jogo dramático que se realiza através do roubo. Se um elemento do contexto grupal pratica um roubo
desempenho de papéis delineados pelo próprio protagonista, no grupo, corre o risco, se descoberto, de sofrer sanções
auxiliado pelo diretor e egos-auxiliar num cenário criado da grupais que, todavia, poderão ser resolvidas no próprio
mesma forma que os papéis e cujo espaço é fisicamente âmbito grupal, sem ser levado às consequências legais (prisão,
delimitado. É acompanhado no seu desenvolvimento por um fiança) que enfrentaria se o roubo fosse praticado no contexto
auditório (elementos do grupo que não estão participando da social. No contexto grupal, um maior grau de tolerância, de
dramaturgia) e por um videodiretor, psicodramatista compreensão humana desenvolve-se, decorrente da
encarregado de gravar as cenas dramatizadas. O convivência pessoal, mais próxima, criadora de vínculos entre
videopsicodrama inclui o registro em teipe da leitura da sessão as pessoas. No contexto dramático, nenhuma consequência
psicodramática feita pelo videodiretor (Costa, 1993, p. 169). real advirá do ato de roubar, por ser um ato de ficção, o que
Protagonista, diretor, videodiretor, egos-auxiliares, o abre espaço para a espontaneidade, para a não censura, no seu
cenário e auditório são considerados os instrumentos desempenho.
fundamentais do videopsicodrama. A aquisição destes "climas" no "contexto grupal" e no
"contexto psicodramático" passa necessariamente pela
Ao diretor cabe o encaminhamento de todo o psicodrama, história do grupo e pela sistemática do desenvolvimento da
tendo no ego-auxiliar uma extensão sua, que entra em cena e dramatização que tem como etapas necessárias:
participa da dramatização com um papel específico de
definição do diretor e do conhecimento somente de ambos. a) aquecimento: compreende a preparação dos elementos
Na sua realização são acionados três contextos: o contexto do contexto grupal para que ele se encontre em condições de
social, de onde provém o material trazido para a dramatização jogo; esta etapa divide-se em dois momentos: 1) aquecimento
e os elementos do grupo; o contexto grupal, formado por todos inespecífico, que consiste no encontro do diretor com o
os elementos do grupo e que se diferencia do contexto social auditório, tendo em vista a realização de uma tarefa conjunta,
pela maior liberdade e tolerância entre os seus membros; o que se explicita na escolha de procedimentos, regras e material
contexto dramático que é a cena montada pelo protagonista e a ser trabalhado, através da participação do grupo, orientada
pelo diretor e que coloca no "aqui e agora" do cenário e no pelo diretor; é neste momento que a questão da gravação em
"como se" das dramatizações situações prenhes de vídeo e o uso do vídeo são combinados, o que só é feito a partir
significados, com as quais é possível lidar de diferentes da concordância dos participantes; 2) aquecimento especifico,
maneiras. É neste contexto que o diretor utiliza o instrumento que consiste na preparação do protagonista para que este
dramático chamado ego-auxiliar. alcance as melhores condições para dramatizar o material ou
Este, sempre a critério do diretor, pode desempenhar conteúdo que focaliza; no caso de curso de formação de
diferentes funções dentro da cena montada. Pode, por professores, este material é sempre relacionado com o
exemplo, substituir o próprio protagonista para que este possa exercício da profissão;
trajetória como aluno e como professor, a fim de extrair desta Os autores (protagonistas) de todas essas dramatizações
trajetória material para nossa dramatização. foram os alunos. O autor da quinta dramatização foi o
Quatro imagens foram construídas e dramatizadas a partir professor do curso. Foi construída por 3 grupos: um grupo de
daí. Na primeira delas, o professor era comparado a uma 3 pessoas representava os alunos na atividade de psicodrama
balança, representada por uma mulher com os braços erguidos e conversava; os outros dois grupos (duas duplas)
como se estivesse segurando dois pratos; num deles estava o representavam a classe em aula realizando o trabalho em
"conhecimento", representado por uma mulher na posição de grupo, proposto pelo grupo de colegas. Ligando as duas
O Pensador; no outro, estava o "indivíduo", representado por atividades ali representadas, fazendo a ponte entre elas, a
um homem, em posição ereta, com os braços caídos. cabeça de cada um, representada pelo capacete de um
Uma segunda imagem montada representava um motoqueiro.
professor descrito como "não autoritário", representado por Nas sessões de leitura dos vídeos, que se seguiram a cada
uma mulher que dava uma aula de História do Brasil, expondo videopsicodrama realizado, o grupo chegou a algumas
sobre a Inconfidência Mineira. Circulava entre os alunos, conclusões a respeito das dificuldades que vinham
conversava com eles, indagava sobre seus procedimentos; os enfrentando no tocante à relação professor / aluno, como
alunos foram representados por colegas de ambos os sexos, alunos do curso de Prática, e no que dizia respeito a essa
sendo que alguns representavam alunos atentos e relação, no ensino de 10 e 20 graus, para o qual o curso de
interessados no que o professor fazia; outros representavam Prática preparava e onde ocorriam seus estágios.
alunos desinteressados e não participantes. Essas conclusões foram amplas e variadas: algumas se
Uma modificação feita nesta segunda imagem deu origem deram no âmbito grupal e outras em âmbito individual. O
à quarta dramatização. Os alunos, todos eles, foram relato que aqui se fará não será exaustivo e se prende,
representados como desatentos e desinteressados e o principalmente, aos momentos em que essas leituras e
professor, ao conversar com os alunos para tentar entender o análises foram feitas, ou seja, no final do curso, em novembro
problema, nada conseguindo, virava-se para a classe e dizia: de 1983. Explicitou-se e verbalizou-se, nas sessões de leitura
"Assim não é possível; vocês querem que eu seja autoritária". das fitas e de análise do conteúdo dos videopsicodramas, o
Entre a segunda e a quarta dramatização, localizou-se uma seguinte:
terceira imagem do professor, representada por um rapaz, de
pé, com o braço direito erguido, o dedo em riste, apontando 1. São os valores que o professor vivencia e cultiva,
para o aluno. enquanto pessoa e profissional, que determinam o equilíbrio
No segundo videopsicodrama, na fase do aquecimento dos "pratos", "indivíduo" e "conhecimento", apresentados na
foram levantadas as expectativas que cada um dos presentes cena da balança.
trazia para aquela sessão. Eram elas: analisar e comentar as
imagens montadas no psicodrama anterior; trabalhar a 2. No curso de Ciências Sociais (de que provinham os
relação entre os colegas da classe, trabalhar o nosso curso; alunos) os professores elevavam ao máximo o prato do
trabalhar o papel do profissional professor. Em seguida, cinco "conhecimento" em detrimento do "indivíduo", devido ao fato
dramatizações foram construídas, versando sobre o curso de de assim estarem defendendo com "unhas e dentes" os seus
Prática de Ensino. lugares na Universidade e no Departamento, pois o "bom
A primeira delas representava o curso do 1° semestre, tal aluno", aquele que, a despeito quase da renúncia a si mesmo
como fora imaginado por uma aluna que ingressara no início (era assim que sentiam), chegasse a dominar um bom
do 2° semestre. O professor era uma mulher no centro de um conhecimento, seria uma ameaça para o professor, ao se
círculo de alunos, tentando voltar para si, através do converter em candidato ao Departamento de Ciências Sociais,
movimento de seus braços, os alunos que se posicionavam dada a exiguidade do mercado de trabalho para este
nesse círculo, de costas para o professor. Esses alunos tinham profissional.
sido descritos, cada um deles, pelas palavras: agressão,
oposição (em discordância com o professor) e expectativa 3. Isso os estava impedindo de aceitar um curso (o de
(representada pelos dois alunos que iniciavam o curso na Prática) cuja meta era prepará-los para assumir o papel de
altura do 2° semestre, que eram os únicos que se voltavam "professor", este "algoz" que rejeitavam.
para o professor).
4. Quando se punha a questão do professor de 10 e 20
A segunda dramatização constituiu-se de um círculo no graus, com quem estagiavam, identificavam-se com um
qual se sentavam, lado a lado, professor e alunos. Era uma modelo de professor dotado de valores" democráticos" na
imagem muda em que as pessoas se comunicavam através dos relação professor / aluno.
gestos das mãos. Incertezas, dúvidas, impasses, dinamismo
foram representados por mãos paradas sobre os joelhos, mãos 5. Quando tentavam viver este papel, não conseguiam pôr-
paradas sob o queixo, mãos em intenso movimento. se no lugar do aluno. Quando este não prestava atenção às
A terceira dramatização (também feita por uma aluna que aulas, sua conclusão era de que os alunos cobravam dele o
chegara ao curso no 2° semestre) se constituía de um círculo exercício autoritário da docência. Portanto, era preciso que
em que os alunos se dispunham, sendo que o professor ficava "eles", alunos, mudassem sua conduta. Era isso que revelara a
de pé, sobre um banquinho, com os braços abertos, inclinando- cena do professor voltado para os alunos dizendo: "Assim não
se sobre o círculo, como que querendo abarcá-lo. Diferentes é possível! Vocês querem que eu seja autoritário!" Criava-se,
comportamentos eram expressos pelos alunos: então, um impasse.
enfrentamento, colaboração, expectativa.
Na quarta dramatização, novamente todos sentaram-se em 6. Houve mudança na conduta do professor de Prática do
círculo no chão e a professora num banquinho; um aluno não primeiro para o segundo semestre. Neste, o papel do professor
se manifesta, mantendo-se sempre de cabeça baixa e braços passou a ser vivido pelo grupo que propôs o trabalho da sala
cruzados; um outro tenta discutir a questão do curso, olhando de aula.
para o professor, preocupado; um aluno é produtivo, mas se
opõe ao professor, um aluno é mais próximo do professor, mas 7. O grupo que assumiu o encaminhamento dos trabalhos
sua atitude é de confronto. O professor demonstra interesse de sala de aula (com orientação do professor) sentiu na
em relação à classe. própria pele e expôs aos colegas o "não assumir os acordos"
por parte da classe.
aprendizagem da leitura [...] A dificuldade de orientação e o e formar um indivíduo capaz de situar-se e atuar em um
problema de leitura não passam de dois sintomas ligados à mundo em constante transformação, por meio de:
mesma causa: a dislateralidade. - Melhor conhecimento e compreensão de si mesmo;
A questão da socialização também é abordada por Le - Melhor ajuste de sua conduta;
Boulch, como “função da boa evolução da imagem do corpo - Verdadeira autonomia e acesso às responsabilidades ao
próprio” Ela aconteceria desde o princípio do desenvolvimento longo da vida social (LE BOULCH, 1983).
psicomotor já que ele ocorre na relação com os outros. A
socialização seria construída por meio de reflexões e de Cabe ao educador conhecer as etapas do desenvolvimento
princípios afetivos e que estaria intimamente ligados a psicomotor da criança, características das faixas etárias,
imagem que a criança tem de seu corpo. Por isso o mais necessidades e interesses, para melhor planejar a ação
importante para garantir um bom relacionamento social e de docente.
interação com os outros é preciso que de início a imagem do Por isso, é de fundamental importância que o educador
corpo esteja já consolidada. desenvolva atividades com objetivos predefinidos, e não
O autor nos apresenta o desenvolvimento psicomotor, aleatoriamente, arrolando-as como necessárias ao domínio do
como aspecto essencial para o desenvolvimento de outras esquema corporal, como se esta expressão significasse apenas
habilidades, como é o caso da alfabetização. uma coisa.
Para Le Boulch180, a educação psicomotora deve ser O desenvolvimento psicomotor, tanto de crianças especiais
considerada como uma educação de base na escola infantil. Ela quanto as não especiais, solicita o auxílio constante do
condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança educador, por meio da estimulação em sala de aula e do
a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se encaminhamento/facilitação, quando se fizer necessário.
no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a O educador pode ajudar e muito, saudável em todos os
coordenação de seus gestos e movimentos. níveis, na estimulação do desenvolvimento cognitivo e para o
desenvolvimento de aptidões e habilidades, na formação de
A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais atitudes por meio de uma relação afetiva e estável (que crie
tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir uma atmosfera de segurança e bem-estar para a criança) e,
inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas. sobretudo, respeitando e aceitando a criança do jeito que ela é.
A educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de
Segundo Le Boulch, o período de três a sete anos qualquer coisa, um conhecimento ativo de comparação com o
corresponde ao estágio da “estruturação perceptiva”, o qual meio. O auxílio educativo originário dos pais e do meio escolar
deve responder a dois grandes objetivos: tem a finalidade não de ensinar à criança comportamentos
[...] permitir a criança alcançar seu desabrochamento no motores, todavia, sim de consentir-lhe desempenhar sua
plano da vivência corporal alcançando com bem estar o função de ajustamento, individualmente ou com outras
exercício da motricidade espontânea, prolongada pela crianças.
expressão verbal e gráfica; assegurar a passagem à escola Propriedades psicomotoras desenvolvidas nas sessões de
elementar tendo o papel de prevenção, a fim de evitar que a Psicomotricidade Educativa ou Psicocinética:
criança se depare, nessa época, com dificuldades na aquisição
das primeiras tarefas escolares. Espaço temporal
É possível, por intermédio de uma ação educativa, a partir Normalmente, até os dois anos e meio, o ambiente da
dos movimentos espontâneos da criança e das atitudes criança é um espaço vivido, dentro do qual ela se ajusta
corporais, beneficiar a formação da imagem do corpo, essência desenvolvendo seus movimentos coordenados em função de
da personalidade. A educação psicomotora refere-se a uma um objetivo a ser atingido. Entre os três e os seis anos, a
formação de base imprescindível a toda criança que seja criança chega à reprodução dos elementos do espaço,
normal ou com alguma limitação. encontrando formas e dimensões. No final do período pré-
Contrapõe a uma dupla finalidade: assegurar o escolar, o desenvolvimento da relação corpo-espaço deriva em
desenvolvimento funcional, considerando as possibilidades da uma disposição individualista do universo.
criança e auxilia sua afetividade a expandir-se e a equilibrar- A criança desvendou sua dominância, verbalizou-a,
se por intermédio da interação com o ambiente humano. chegando a um corpo orientado, que lhe convirá de padrão
Na educação infantil e no ensino fundamental é possível para situar os objetos alocados no espaço circundante. A
beneficiar-se da Psicocinética a qual toma a forma de uma orientação dos objetos faz-se, então, em função da posição
verdadeira educação psicomotora, estabelecida sobre o atual do corpo da criança.
conhecimento das leis do desenvolvimento, qualificando a Este equilíbrio favorece a interiorização, que é um fator
ação educativa global e integradora. indispensável, sem o qual a estruturação do espaço não pode
A Psicocinética, como método pedagógico, compõe um efetuar-se. Atividades de orientação espaço temporal: andar
meio educativo fundamental às primeiras etapas de devagar até o fim da sala; andar depressa, voltando ao ponto
desenvolvimento do ser humano, aos olhos de seu criador de partida; andar devagar e depois correr uma mesma
(Jean Le Boulch), bem como uma forma de desenvolvimento distância demarcada na quadra.
da tomada de consciência sobre seu próprio corpo e as
adaptações posturais indispensáveis durante a aprendizagem Equilíbrio
nas demais fases evolutivas do ser humano. Na faixa etária que
corresponde do zero aos doze anos de idade da criança, a É o cerebelo que ajusta permanentemente o tônus postural
educação psicocinética compreende-se como uma legítima em combinação com o desenvolvimento do ato motor. Ele fixa
educação psicomotora. essas reações como forma de automatismos posturais
Usualmente, toda ação educativa pressupõe tomada de inconscientes, tradução das experiências vividas
posições quanto à sua finalidade, assim sendo este método tem individualmente.
por objetivo beneficiar o desenvolvimento condicional do ser Essas atitudes de referência estabilizadas, verdadeiros
esquemas posturais inconscientes, são, porém,
180
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/psicomotricida
de-educacao-psicomotora/35749
que, no decorrer da marcha dos séculos, foi adquirindo novos como “momento de repouso” das outras disciplinas que são
instrumentos, como a linguagem gráfica, a cinematografia, o consideradas mais importantes, ou ainda recurso para
rádio, a televisão, os materiais impressos, dentre outros. O enfeitarem datas comemorativas, como nos relata os PCN -
mundo está mudando e os recursos didático-pedagógicos são Artes (1997).
ferramentas que ajudam as o aluno a compreender sua época, Além disso, ainda existem professores que intervém no
visto que tais recursos costumam ser autoexplicativos e de processo de construção do aluno, tentando impor suas
fácil uso, contribuindo para despertar os alunos para uma “técnicas” ou o que acham correto, desestimulando assim os
compreensão da Arte, além de fornecer aos professores os alunos e impedindo que desenvolvam sua própria poética, seu
instrumentos e as sugestões para continuarem a desenvolver próprio estilo. Para entendermos a importância que a arte
outras atividades de Arte-Educação. exerce na criança analisaremos algumas características do seu
desenvolvimento expressivo. Iniciaremos com as crianças de
Neste artigo, analisaremos de que forma a disciplina Arte 02 anos e seguiremos até aproximadamente seus 12 anos.
pode ser aplicada na educação da criança, por sentirmos A arte é vista e sentida de maneiras diferentes por crianças
necessidade de entender e responder qual o valor dessa e adultos. Para o adulto está associada ao belo, às exposições,
disciplina e como ela pode ajudar na educação da criança, a museus, à estética. Já para a criança, a arte é uma forma de se
visando estimular a sensibilidade do aluno, incentivando-o a expressar, pois “a natureza da criança é lidar com o mundo de
pensar, sentir e agir de maneira diferente, por meio do uso das modo lúdico, fazer o que lhe dá prazer e satisfação. Por isso
diversas linguagens artísticas, buscando favorecer o gosta tanto de brincar e desenhar”. A criança faz o que lhe dá
desenvolvimento do potencial criador do indivíduo. De acordo prazer e alegria, brincar e desenhar envolve-a por completo e,
com os autores que contribuíram para este artigo, podemos sempre que age, valoriza os seus desejos e as suas vontades.
notar, que a arte ainda não é ensinada e aprendida de uma Geralmente, a criança começa a desenhar por volta dos dois
maneira suficiente pela maioria das crianças e adolescentes anos. Nesse período está aberta a experiências, não tem medo
brasileiros. É necessário um espaço para o desenvolvimento de se arriscar, pois o seu corpo é ação e pensamento: ela pode
pessoal e social por meio de vivência e posse do conhecimento tocar, cheirar, pensar e experimentar com o corpo. Seu
artístico e estético do aluno, e para isso é preciso pensar uma pensamento se dá na ação, na sensação, na percepção, sempre
nova metodologia. A arte tem uma grande importância na regado pelo sentimento.
educação escolar e em geral ela tem função indispensável na Convive, sente, reconhece e repete os símbolos do seu
vida das pessoas desde o início das civilizações, tornando-se entorno, mas não é, ainda, um criador intencional de símbolos.
um fator essencial de humanização. “Cada um de nós, Sua criação focaliza a própria ação, o exercício, a repetição
combinando percepção, imaginação, repertório cultural e (MARTINS, PICOSQUE e GUERRA, 1998, p. 96). É nesse período
histórico, lê o mundo e o reapresenta à sua maneira, sob o seu que a criança inicia suas garatujas, ou seja, quando manifesta
ponto de vista, utilizando formas, cores, sons, movimentos, de forma gráfica, sonora ou corporal o que está sentindo, o que
ritmo, cenário...” (MARTINS, M. et al). conseguiu “pesquisar” no ambiente. É importante ressaltar
De acordo com Ferraz e Fusari, “a arte se constitui de que as garatujas não são apenas gráficas, pois os pequenos
modos específicos de manifestação da atividade criativa dos também podem explorar materiais sonoros e o próprio corpo
seres humanos ao interagirem com o mundo em que vivem, ao para se expressarem, como quando fazem movimentos com a
se conhecerem e ao conhecê-lo”. Assim, o propósito deste boca e produzem sons ou quando montam e desmontam pilhas
artigo é explicar qual a importância da Arte para a criança. de caixas por prazer. Em todas essas situações estão
Para isso, nos apoiaremos nas ideias apresentadas pelas pesquisando o que existe ao seu redor e o que podem fazer. A
autoras Martins, Picosque e Guerra (1998), quando se referem criança valoriza mais o material que está utilizando, o
a um estudo elaborado sobre o desenvolvimento expressivo da processo, do que o resultado final. Ao se expressar de forma
criança, que na obra gráfica faz vários rabiscos, livremente, faz traços horizontais,
verticais e inclinados até perceber que pode utilizar a linha
“Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, curva para construir círculos de tamanhos diferentes. Por mais
fruir e conhecer arte” foi separado em quatro movimentos. É que para os adultos esses rabiscos não possuam significado
importante deixar claro desde o início que “esses movimentos algum, devem ser estimulados. A criança deve ser encorajada
não são estáticos, não delimitam seu território de maneira a garatujar, pois esses traços são o início de sua expressão
estanque, definitiva” (1998, p. 94). gráfica e, posteriormente, a levarão até a escrita.
Vários estudos foram feitos para apresentar a evolução
São importantes para o desenvolvimento da criatividade dessas garatujas. Como mostram Martins, Picosque e Guerra
da criança, principalmente pelo trabalho do professor como (1998), a pesquisadora Rhoda Kellogg (1985) desenvolveu um
mediador. Por esse prisma, consideramos que a Arte deixe de mandala para expressar essas fases. Esse mandala é
ser apreciada como uma atividade e passe a ocupar a categoria representado por um círculo com diversas sequências de
de disciplina de Arte, para que ela passe a ser mais do que algo figuras, que mostram a evolução dos desenhos das crianças. Os
para ser tratado só na escola, mas algo que provoque desenhos se iniciam com círculos de vários tamanhos que tem
mudanças de comportamento. seu contorno cortado por riscos, que apresentam o formato de
um sol. Aos poucos, devido às interferências do meio e aos
A arte e a formação da criança processos que a criança vai assimilando seu desenho se
modifica, os círculos tornam-se casinhas, flores, carrinhos,
A arte é importante na vida da criança, pois colabora para figuras humanas etc.
o seu desenvolvimento expressivo, para a construção de sua Para Kellogg todos os desenhos que uma pessoa fará têm
poética pessoal e para o desenvolvimento de sua criatividade, por base os movimentos que tiveram início em sua primeira
tornando-a um indivíduo mais sensível e que vê o mundo com infância e que eram, geralmente, registrados em papel ou
outros olhos. Os seres humanos são dotados de criatividade e massinha. Como vemos em Lowenfeld e Brittain “a arte pode
possuem a capacidade de aprender e de ensinar. A criatividade contribuir imensamente para esse desenvolvimento, pois é na
da criança precisa ser trabalhada e desenvolvida, e é por meio interação entre a criança e seu meio que se inicia a
do trabalho realizado com a arte nas escolas que isso será aprendizagem”. A interação é importante, pois a criança gosta
possível, pois, nas palavras de Buoro “Arte se ensina, Arte se de imitar o que o adulto faz, ela observa seus gestos e ações e
aprende”. Porém, nas escolas podemos ver que ocorre o tenta reproduzir, ela se interessa pela ação e não pelo que o
contrário, a arte está sendo desvalorizada e colocada apenas adulto está fazendo. Por isso é fundamental o incentivo, tanto
da família como da escola, oferecendo-lhe repertório criação ficam evidentes, quando a criança inventa e representa
suficiente para que possa ampliar seus conhecimentos e suas situações através da imagem simbólica de objetos ausentes.
ações. Ela representa de forma espontânea, mas não tem intenção
Os pais e os professores devem ficar atentos para deixar a de representar teatralmente uma história com começo, meio e
criança se expressar livremente, evitar comentários negativos fim. Podemos dizer que a principal característica desse
e não devem apressá-la para que saia da fase das garatujas, segundo movimento expressivo é a possibilidade de inventar
pois essas manifestações são importantes para o seu da criança, de criar a partir de suas próprias ideias. Nessa fase
desenvolvimento e ações futuras. Quando a criança é o trabalho do professor é muito importante devendo
reprimida pode passar a ter medo de se arriscar e, incentivar a criança a se expressar, a imaginar outras
conseqüentemente, de se expressar. Podemos concordar com possibilidades, caso contrário o aluno poderá se tornar apenas
Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 102), quando dizem que um repetidor de respostas e modelos prontos, pois a “perda do
a “arte é a linguagem básica dos pequenos e deve merecer um ‘lúdico’ provoca na criança o envelhecimento precoce e a
espaço especial, que incentive a exploração, a pesquisa, o que atrofia da espontaneidade”.
certamente não será obtido com desenhos mimeografados e Aos poucos a criança apresenta novas características
„exercícios de prontidão‟”. Os processos pelos quais as quanto ao desenvolvimento expressivo. Por volta dos 07 anos,
crianças passam são mais importantes que o produto final e, quando já está sendo alfabetizada, sente necessidade de
por isso, merecem tanta atenção. Após a fase das garatujas, registrar tudo o que descobriu ou inventou, “as soluções
entre 04 e 07 anos a forma de se expressar da criança passa a gráficas que encontra, a invenção de novas relações, são
apresentar outras características: ela descobre que tudo tem algumas das peripécias criativas que a criança vai produzindo
um nome, um significado e um porquê. Nessa fase, o jogo do para registrar o que vê, sabe, intui e imagina” (Martins,
faz de conta está muito presente na vida da criança quando Picosque e Guerra, 1998, p. 110). A principal particularidade
uma vassoura pode ser seu cavalinho, ou uma caixa de papelão dessa fase do desenvolvimento expressivo é o aparecimento
pode representar seu carro. No desenho os seus rabiscos vão, da linha de base ou o “chão” e nela a criança irá apoiar todos
aos poucos, depois de inúmeras tentativas, se tornando letras os seus desenhos, sendo que em algumas ocasiões poderá
e ela passa a diferenciar a escrita do desenho. Seus traços também utilizar a borda do papel como “chão”.
começam a ser controlados e, geralmente, o primeiro símbolo Por ser exigente consigo mesma, busca fazer suas
que a criança constrói é a figura humana. representações da forma mais realista que conseguir o que,
Como vimos na mandala desenvolvida por Rhoda Kellogg, muitas vezes, a deixa insegura e com medo de errar. Tentando
as figuras nascem dos sóis e, em algumas ocasiões, a figura evitar os erros usa constantemente a borracha ou se apoia no
humana é representada por um círculo com olhos, nariz e boca. uso da régua. A linha de contorno também lhe dá segurança na
Para Sans (1995, p. 28), “depois que a criança desenha o sol representação. A busca pela realidade também influencia o uso
irradiante, parece descobrir um tipo de fórmula para das cores, pois as representações passam a ter cores
representar o rosto humano. Geralmente, ela desenha dois convencionais, como os telhados vermelhos, a grama sempre
pequenos círculos representando os olhos, um ponto como se verde e as nuvens sempre azuis sobre fundo branco. Outra
fosse o nariz e um risco horizontal como boca”. A criança nesta característica presente no desenho é a transparência que, de
fase busca em suas experiências um modo para representar o acordo com Sans [...] é comum, também, a criança desenhar o
homem como um todo. Ela não se preocupa em organizar as que sabe existir, mesmo que esteja escondido. Ao desenhar
cenas no papel, seus desenhos são dispostos de forma uma casa, ela pode colocar, no mesmo plano das linhas de
aleatória, os objetos podem aparecer acima, abaixo, ou nos contorno, os móveis que estão dentro dela.
cantos do papel, pois a criança os desenha da forma como os Por volta dos 09 e 10 anos a criança entra na fase do “eu
compreende e não conforme a realidade. Procede da mesma não sei desenhar”. O professor precisa estar atento à
maneira com as cores. Um cachorro pode ser azul ou rosa, uma autocrítica que está sendo desenvolvida por ela, ao comparar
vez que não se incomoda com o aspecto visual e sim o afetivo o real ao que foi produzido, “é comum um número grande de
que a cor proporciona. alunos perguntar ao professor se o seu trabalho de Arte está
A figura humana vai aos poucos se enriquecendo de certo ou errado. A noção de aprovação e reprovação é tão forte,
detalhes, como as orelhas e o umbigo e isto influenciará outros que eles se sentem tolhidos e inseguros para se expressar”.
desenhos, como por exemplo, ao representar flores ou animais Nesse momento o professor precisa mostrar à criança que há
manterá as características humanas como boca, nariz e olhos. outras possibilidades de representação e, para isso, pode
Nas representações com massinha ou argila a criança também enriquecer seu repertório através de observações de obras ou
apresentará evoluções, e aos poucos, as figuras deixam de ser figuras, podendo, também, discutir com a classe ou
bidimensionais, para serem tridimensionais. individualmente outras maneiras de representação.
Os desenhos das crianças, assim como todas as suas formas O importante é que o professor desafie seu aluno para que
de expressão podem ser considerados um reflexo da sua ele desenvolva sua poética pessoal. A presença da organização
criatividade infantil, pois são os registros dos seus e da regra faz surgir nas criações teatrais das crianças uma
sentimentos e das suas percepções do meio, o que proporciona outra linha, a linha de palco, que divide o palco da plateia. De
ao professor um modo de compreender melhor seu aluno e acordo com as autoras Martins, Picosque e Guerra (1998) é
assim ajudá-lo, pois “a arte infantil faculta-nos não só a importante que nesse período a criança aprenda uma música
compreensão da criança mas também a oportunidade de que goste, pois ela está em sintonia com a produção musical de
estimular seu desenvolvimento, através da educação artística”. seu meio. É importante ainda que o professor coloque a
É através das aulas de Arte que o professor irá estimular criança em contato com produções de outras épocas e culturas
seu aluno a investigar, inventar, explorar e, mesmo cometendo para que ela desenvolva a “escuta ativa” e perceba os
erros, ele não terá medo de liberar sua criatividade. O diferentes aspectos estruturais e emocionais da música
professor deve apresentar a atividade como algo essencial aumentando, dessa forma, seu repertório e valorizando a
para a criança, e também deve estar motivado com o trabalho, produção musical do ser humano. Nessa fase também tem
não apenas orientando de forma mecânica, mas fazendo a início o interesse por trabalhos em grupos, em todas as
criança sentir sua importância para que a atividade seja linguagens artísticas (teatro, dança, música e artes visuais) e
significativa para o aluno. De acordo com as ideias de Martins, essa necessidade será ainda maior na próxima fase do seu
Picosque e Guerra (1998) é no jogo de faz de conta, ou jogo desenvolvimento expressivo. Ainda de acordo com Martins,
simbólico que a espontaneidade estética e a capacidade de Picosque e Guerra (1998, p. 114) podemos levar “desse
terceiro movimento expressivo a invenção de relações e regras
que geram critérios próprios, na busca de soluções criativas de sua poética pessoal, pois: [...] valorizar o repertório pessoal
que vão alimentando um pensamento criador com maior de imagens, gestos, “falas”, sons, personagens, instigar para
autonomia”. que os aprendizes persigam ideias, respeitar o ritmo de cada
A cada fase que a criança passa, desenvolve mais sua um no despertar de suas imagens internas são aspectos que
criatividade e consequentemente sua autonomia, tendo assim não podem ser esquecidos pelo ensinante de arte. Essas
mais facilidade para se expressar e se comunicar com o atitudes poderão abrir espaço para o imaginário (MARTINS,
mundo. Quando tem entre 09 e 12 anos, aproximadamente, a PICOSQUE e GUERRA, 1998, p. 118).
criança começa a deixar de ser criança e tornar-se adolescente, É necessário que o educador analise e valorize o processo
entrando na Idade da “Turma” (início do realismo) de acordo e não o produto final, incentive o aluno a buscar e criar, a se
com Lowenfeld e Brittain, e/ou no quarto movimento, quando sensibilizar com as cores, gestos e sons. O trabalho do
desenvolve sua poética pessoal, como afirmam Martins, professor é incentivar e valorizar a imaginação dos alunos,
Picosque e Guerra (1998). Nesse período o adolescente sente ouvir e ver o que já sabem fazer. Segundo as autoras Martins,
a necessidade de estar em grupos, ele está mais crítico e Picosque e Guerra (1998, p. 118) “é exercitando esse pensar
autônomo, percebe que faz parte de uma sociedade, [...] a imaginativo que podemos encontrar soluções inovadoras e
descoberta de interesses semelhantes, de segredos ousadas, seja no campo da ciência, seja no da arte”. Já o autor
compartilhados em comum, do prazer de realizar coisas em Jorge Larrosa nos apresenta uma definição de professor um
conjunto, torna-se acontecimento fundamental. Existe a pouco mais poética. Afirma que professor é “alguém que
crescente conscientização de que se pode fazer mais em grupo conduz alguém até si mesmo” e, se olharmos para nossa vida
do que estando só, e de que o grupo é mais poderoso do que a encontraremos “alguém que, sem exigir imitação e sem
pessoa solitária. intimidar, mas suave e lentamente, nos conduziu até nossa
Essa necessidade não deve ser reprimida. Por mais que a própria maneira de ser”.
adolescência seja uma fase complicada na vida do ser humano, Após essas definições podemos dizer que o bom professor
a família e a escola precisam ser pacientes e saber trabalhar é aquele que se empenha no que faz e que tem como objetivo
esse quarto movimento, pois cada adolescente se expressa de o crescimento e o desenvolvimento de seus alunos. O professor
uma maneira particular. Podemos dizer que a principal nas aulas de Arte deve visar o desenvolvimento da poética do
característica dessa última fase é a autonomia que está sendo aluno e do seu modo de se expressar, não de forma impositiva,
desenvolvida pelo adolescente, a sua busca pela própria mas incentivando suas produções. É preciso estar atento, pois
identidade e poética pessoal, que se reflete diretamente em de acordo com os autores Lowenfeld e Brittain (1970, p. 78)
sua expressão artística. Podemos enfatizar mais uma vez que é “um mau professor é pior do que não haver professor algum”.
nas aulas de Arte, junto ao professor, que isso pode ocorrer, Ao conduzir o aluno a si mesmo, o professor pode trabalhar
desde que seu trabalho seja instigante e voltado para o estimulando o desenvolvimento de sua criatividade, o que
desenvolvimento pleno do aluno. facilitará a construção de sua poética pessoal e de sua forma
de ver, sentir e se expressar no mundo. Para Lowenfeld e
O professor como mediador Brittain “as crianças que ficam inibidas em sua criatividade,
por regras ou forças que lhe são alheias, podem retrair-se ou
Durante todo o seu desenvolvimento expressivo a criança recorrer à cópia ou ao desenho mecânico”. Para que isso não
conhece e aprimora saberes, técnicas e sensações, construindo ocorra é importante o trabalho do professor como mediador e
assim, sua poética pessoal. É nesse aprimorar/construir que se incentivador. A poética pessoal, assim como a criatividade e o
faz necessária uma boa prática pedagógica desenvolvida pelo gosto pela arte, só serão desenvolvidos se fizerem sentido para
professor. Podemos concordar com Ferraz e Fusari quando a criança. Para Martins, Picosque e Guerra (1998, p. 128) [...] o
explicam que “no encontro que se faz entre cultura e criança que ‘decoramos’ ou simplesmente copiamos mecanicamente
situa-se o professor cujo trabalho educativo será o de não fica em nós. É um conteúdo momentâneo, por isso
intermediar os conhecimentos existentes e oferecer condições conhecimento vazio que no decorrer do tempo é esquecido.
para novos estudos”. O papel do professor é mediar os Não faz parte de nossa experiência. Só aprendemos aquilo que,
conhecimentos, apresentar novos saberes aos que a criança já na nossa experiência, se torna significativo para nós.
possui. As aulas de Arte precisam ser significativas. O professor
Tudo o que ela adquire, seja por intermédio do professor precisa conhecer seus alunos, partir de suas preferências, do
ou do seu meio (família, colegas, sociedade), ajuda no que já sabem e ampliar o seu repertório. Para isso ele pode
desenvolvimento de suas expressões e percepções. O levar para a aula materiais diferentes, incentivar as produções
professor como principal mediador dos conhecimentos, dos alunos, questionar qual o significado do que fizeram e
precisa apresentar à criança situações que lhe possibilitem propor situações problemas para que busquem diferentes
ampliar e enriquecer suas experiências, de modo prazeroso e respostas, novas formas de se expressar, colocando em prática
lúdico. De acordo com os PCN - Artes (1997, pp.47 e 48) seu potencial. Nas aulas de Arte o professor deve utilizar as
“aprender com sentido e prazer está associado à compreensão quatro linguagens artísticas (artes visuais, dança, música e
mais clara daquilo que é ensinado”, dessa forma é função do teatro) como forma do aluno se expressar significativamente e
professor escolher quais os recursos didáticos mais eficientes não apenas as visuais, como ocorre na maioria das vezes. Após
para expor os conteúdos, “observando sempre a necessidade o surgimento da fotografia, as artes visuais foram pouco a
de introduzir formas artísticas, porque ensinar arte com arte é pouco se modernizando.
o caminho mais eficaz”. Vários fatores são importantes para Hoje, além das pinturas, gravuras e esculturas é possível
que as aulas sejam significativas para as crianças, como ter um trabalhar com vídeos, artes gráficas, programas de
ambiente estimulante e desafiador, acolher o que os alunos computador, etc. Para produzir, o aluno precisa conhecer os
trazem e trabalhar com o cotidiano das crianças, ou seja, com elementos que compõem as artes visuais, como ponto, linha,
o repertório oferecido pela comunidade. (PCN - Artes, 1997). volume, textura, cor, luz. Também precisa experimentar
De acordo com os PCN - Artes (1997, p. 110), o professor é diversos materiais como papéis, tintas, argila, máquinas
um “criador de situações de aprendizagem”. Ele é o fotográficas. Além disso, poderá apreciar e estudar obras de
incentivador, estimulador, o profissional que trabalha para arte, de modo que aprenda a unir todos esses conhecimentos
que suas aulas sejam significativas para seus alunos. O para se expressar, mas para isso é muito importante a
professor de Arte precisa estar atento ao trabalho que está mediação do professor. De acordo com os PCN - Artes (1997,
desenvolvendo com seus alunos, analisar se está ajudando a p.61) “tal aprendizagem pode favorecer compreensões mais
desenvolver mais sua percepção, buscando assim a construção amplas para que o aluno desenvolva sua sensibilidade,
afetividade e seus conceitos e se posicionar criticamente”. A trabalho de mediação e, o fundamental, é que ele conheça cada
dança também é uma linguagem que pode ser utilizada pelo um de seus alunos. Podemos concluir dizendo que a arte é
professor. Ela sempre esteve presente na cultura humana, seja importante para a criança, pois enquanto cria, desenha, canta,
como atividade de lazer, trabalho ou manifestação religiosa. A dança ou representa uma cena ela é livre para expressar suas
criança é um ser em constante movimento, é dessa maneira ideias e seus sentimentos. É durante as aulas de Arte que a
que ela explora seu corpo e o ambiente. A dança pode ser criança vai aprender a ouvir, a ver e a sentir.
utilizada como um estímulo à comunicação e à criatividade, Não queremos dizer que essas habilidades não possam
pois, através dela, o professor pode trabalhar de forma lúdica estar presentes nas outras disciplinas, até devem, pois os
e espontânea a estrutura e o funcionamento dos corpos, assim conhecimentos precisam ser integrados, mas é no contato com
como o trabalho em grupo e a atenção. a arte, com o professor que gosta de arte e que a leva para a
Os PCN - Artes (vol. 06, 1997, p. 67) apontam a dança na sala de aula, que a criança vai aprender a gostar de arte. Ele vai
escola, como uma atividade que “pode desenvolver na criança entender, através do comportamento de seu educando e dos
a compreensão de sua capacidade de movimento mediante um seus momentos de apreciação e reflexão que essa disciplina é
maior entendimento de como seu corpo funciona. Assim, mais do que um “momento de repouso”, ela representa um
poderá usá-lo expressivamente com maior inteligência, agente transformador de atitudes que poderão ser levadas
autonomia, responsabilidade e sensibilidade”. para toda a vida. Para Larrosa “se alguém lê ou escuta ou olha
A linguagem musical também sempre esteve presente na com o coração aberto, aquilo que lê, escuta ou olha ressoa nele;
cultura humana. Para ser trabalhada na sala de aula, o ressoa no silêncio que é ele, e assim o silêncio penetrado pela
professor precisa acolher o repertório trazido pelos alunos, forma se faz fecundo. E assim, alguém vai sendo levado à sua
contextualizá-lo e enriquecê-lo, levando até eles músicas às própria forma”. Podemos dizer que quando o professor e a
quais eles não têm acesso, para que conheçam e apreciem, criança alcançarem esse momento, terão entendido o
sempre de forma significativa e contextualizada. Assim como verdadeiro significado da arte.
nas artes visuais, o aprendiz precisa entrar em contato com
técnicas e nomenclaturas musicais, como altura, som, Buscamos no decorrer deste artigo oferecer informações,
partituras, instrumentos musicais (que já existem ou outros despertar reflexões e análises, com a expectativa de gerar
que podem ser fabricados). Também é importante apreciar caminhos para melhorar a forma como o ensino e a
apresentações musicais, conhecer a produção de grupos aprendizagem de Arte vêm sendo conduzidos nas escolas.
populares e participar, através do incentivo do professor, de Apontamos no decorrer desta análise a importância do
festivais, shows e concertos (PCN - Artes, vol. 06, 1997). professor estabelecer uma prática pedagógica que valorize a
A capacidade teatral está presente na vida da criança desde arte, assim como suas linguagens artísticas, procedimentos,
seu ingresso na escola, quando vivencia de forma espontânea desenvolvimento da criatividade e poética pessoal da criança
o jogo de faz de conta. Cabe à escola e ao professor incentivar como conteúdos que devem estar presentes constantemente.
desde esse momento as atividades teatrais. Para isso, pode Também um ambiente adequado, o domínio por parte do
utilizar jogos que trabalhem a imaginação, a ação e as relações professor do que está sendo ensinado e o conhecimento sobre
em grupo, sem perder as características lúdicas e espontâneas. o desenvolvimento expressivo da criança, seu entusiasmo e,
De acordo com os PCN - Artes (vol. 06, 1997, p. 84), [...] as acima de tudo, conhecer cada aluno e trabalhar com a sua
propostas educacionais devem compreender a atividade realidade, sempre de forma contextualizada, proporcionarão
teatral como uma combinação de atividade para o aulas de Arte significativas. Podemos concluir dizendo que
desenvolvimento global do indivíduo, um processo de para a arte ter o mesmo valor das outras disciplinas e ser
socialização consciente e crítico, em exercício de convivência considerada importante para o desenvolvimento da criança,
democrática, uma atividade artística com preocupações de será necessária uma conscientização e tomada de atitude por
organização estética e uma experiência que faz parte das parte do professor e de toda a escola. Não uma atitude
culturas humanas. Podemos utilizar as linguagens descritas conformista ou lamentadora, que olha para os acontecimentos
acima para conseguir despertar nos alunos uma aprendizagem com pesar, buscando culpados e prosseguindo com os mesmos
significativa e prazerosa, mas é preciso lembrar o que nos diz objetivos e atitudes já instaurados, mas um agir, que busque
Morin “o conhecimento das informações ou dos dados isolados uma verdadeira mudança, em que todos assumam a postura
é insuficiente. É preciso situar as informações e os dados em de educadores e trabalhem para essa conquista, visando
seu contexto para que adquiram sentido”, portanto é sempre o melhor para o aluno, com o objetivo de torná-lo um
necessário partir sempre da realidade dos alunos, do que já cidadão crítico, criativo e que saiba ver, ouvir e sentir com o
sabem, para então ampliar e instigar seus conhecimentos. coração, preparado para atuar na sociedade e construir a sua
De acordo com Fayga Ostrower, a criatividade da criança é história.
diferente da criatividade do adulto; “nas crianças, o criar - que
está em todo seu viver e agir - é um tomada de contato com o
mundo, em que a criança muda principalmente a si mesma”,
ela pode até mudar o ambiente, mas não é esse o seu propósito,
pois tudo o que faz é para saciar suas necessidades.
A criança se expressa através da arte com mais facilidade,
pois em sua produção artística, que é sua criação, não há certo
ou errado. Para Lowenfeld e Brittain, a criatividade é uma
ação, é um comportamento em que a criança produz e constrói
continuamente. O trabalho mediador desenvolvido pelo
professor ajuda no desenvolvimento da capacidade de criação
da criança. Através de suas orientações o professor pode
motivar os alunos. Para isso pode utilizar perguntas, situações
problemas, projetos, partindo sempre das necessidades dos
alunos e do que lhes desperta o interesse, ampliando seus
conhecimentos e sua visão. Outro fator importante é o
professor conhecer as características do desenvolvimento
expressivo das crianças, mesmo que estas não sigam regras
fixas de comportamento e idade, pois podem favorecer o seu
181 Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Brasília: MEC/SEF, 1998.
Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf
Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.
expressar-se e desenvolver as habilidades necessárias para parado, ocorre intensa atividade muscular para mantê-lo na
uma relação mais independente com o ambiente. mesma postura. Do ponto de vista da atividade muscular, os
recursos de expressividade correspondem a variações do
Crianças de um a três anos tônus (grau de tensão do músculo), que respondem também
Logo que aprende a andar, a criança parece tão encantada pelo equilíbrio e sustentação das posturas corporais.
com sua nova capacidade que se diverte em locomover-se de O maior controle sobre a própria ação resulta em
um lado para outro, sem uma finalidade específica. O exercício diminuição da impulsividade motora que predominava nos
dessa capacidade, somado ao progressivo amadurecimento do bebês.
sistema nervoso, propicia o aperfeiçoamento do andar, que se É grande o volume de jogos e brincadeiras encontradas nas
torna cada vez mais seguro e estável, desdobrando-se nos atos diversas culturas que envolvem complexas sequências
de correr, pular e suas variantes. motoras para serem reproduzidas, propiciando conquistas no
A grande independência que andar propicia na exploração plano da coordenação e precisão do movimento.
do espaço é acompanhada também por uma maior As práticas culturais predominantes e as possibilidades de
disponibilidade das mãos: a criança dessa idade é aquela que exploração oferecidas pelo meio no qual a criança vive
não para, mexe em tudo, explora, pesquisa. permitem que ela desenvolva capacidades e construa
Ao mesmo tempo em que explora, aprende gradualmente repertórios próprios. Por exemplo, uma criança criada num
a adequar seus gestos e movimentos às suas intenções e às bairro em que o futebol é uma prática comum poderá
demandas da realidade. Gestos como o de segurar uma colher interessar-se pelo esporte e aprender a jogar desde cedo. Uma
para comer ou uma xícara para beber e o de pegar um lápis criança que vive à beira de um rio utilizado, por exemplo, como
para marcar um papel, embora ainda não muito seguros, são forma de lazer pela comunidade provavelmente aprenderá a
exemplos dos progressos no plano da gestualidade nadar sem que seja preciso entrar numa escola de natação,
instrumental. O fato de manipular objetos que tenham um uso como pode ser o caso de uma criança de ambiente urbano.
cultural bem definido não significa que a manipulação se Habilidades de subir em árvores, escalar alturas, pular
restrinja a esse uso, já que o caráter expressivo do movimento distâncias, certamente serão mais fáceis para crianças criadas
ainda predomina. Assim, se a criança dessa idade pode pegar em locais próximos à natureza, ou que tenham acesso a
uma xícara para beber água, pode também pegá-la parques ou praças.
simplesmente para brincar, explorando as várias As brincadeiras que compõem o repertório infantil e que
possibilidades de seu gesto. variam conforme a cultura regional apresentam-se como
Outro aspecto da dimensão expressiva do ato motor é o oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no
desenvolvimento dos gestos simbólicos, tanto aqueles ligados plano motor, como empinar pipas, jogar bolinhas de gude,
ao faz-de-conta quanto os que possuem uma função indicativa, atirar com estilingue, pular amarelinha etc.
como apontar, dar tchau etc. No faz-de-conta pode-se observar
situações em que as crianças revivem uma cena recorrendo Objetivos
somente aos seus gestos, por exemplo, quando, colocando os
braços na posição de ninar, os balançam, fazendo de conta que Crianças de zero a três anos
estão embalando uma boneca. Nesse tipo de situação, a A prática educativa deve se organizar de forma a que as
imitação desempenha um importante papel. crianças desenvolvam as seguintes capacidades:
No plano da consciência corporal, nessa idade a criança - familiarizar-se com a imagem do próprio corpo;
começa a reconhecer a imagem de seu corpo, o que ocorre - explorar as possibilidades de gestos e ritmos corporais
principalmente por meio das interações sociais que estabelece para expressar-se nas brincadeiras e nas demais situações de
e das brincadeiras que faz diante do espelho. Nessas situações, interação;
ela aprende a reconhecer as características físicas que - deslocar-se com destreza progressiva no espaço ao andar,
integram a sua pessoa, o que é fundamental para a construção correr, pular etc., desenvolvendo atitude de confiança nas
de sua identidade. próprias capacidades motoras;
- explorar e utilizar os movimentos de preensão, encaixe,
Crianças de quatro a seis anos lançamento etc., para o uso de objetos diversos.
Nessa faixa etária constata-se uma ampliação do
repertório de gestos instrumentais, os quais contam com Crianças de quatro a seis anos
progressiva precisão. Atos que exigem coordenação de vários Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária
segmentos motores e o ajuste a objetos específicos, como de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados,
recortar, colar, encaixar pequenas peças etc., sofisticam-se. Ao garantindo-se, ainda, oportunidades para que as crianças
lado disso, permanece a tendência lúdica da motricidade, sejam capazes de:
sendo muito comum que as crianças, durante a realização de - ampliar as possibilidades expressivas do próprio
uma atividade, desviem a direção de seu gesto; é o caso, por movimento, utilizando gestos diversos e o ritmo corporal nas
exemplo, da criança que está recortando e que de repente põe- suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de
se a brincar com a tesoura, transformando-a num avião, numa interação;
espada etc. - explorar diferentes qualidades e dinâmicas do
Gradativamente, o movimento começa a submeter-se ao movimento, como força, velocidade, resistência e flexibilidade,
controle voluntário, o que se reflete na capacidade de planejar conhecendo gradativamente os limites e as potencialidades de
e antecipar ações - ou seja, de pensar antes de agir - e no seu corpo;
desenvolvimento crescente de recursos de contenção motora. - controlar gradualmente o próprio movimento,
A possibilidade de planejar seu próprio movimento mostra-se aperfeiçoando seus recursos de deslocamento e ajustando
presente, por exemplo, nas conversas entre crianças em que suas habilidades motoras para utilização em jogos,
uma narra para a outra o que e como fará para realizar brincadeiras, danças e demais situações;
determinada ação: “Eu vou lá, vou pular assim e vou pegar tal - utilizar os movimentos de preensão, encaixe, lançamento
coisa...”. etc., para ampliar suas possibilidades de manuseio dos
Os recursos de contenção motora, por sua vez, se traduzem diferentes materiais e objetos;
no aumento do tempo que a criança consegue manter-se numa - apropriar-se progressivamente da imagem global de seu
mesma posição. Vale destacar o enorme esforço que tal corpo, conhecendo e identificando seus segmentos e
aprendizado exige da criança, já que, quando o corpo está
elementos e desenvolvendo cada vez mais uma atitude de criança em pé ou sentada em seu colo e imita o movimento do
interesse e cuidado com o próprio corpo. serrador enquanto canta: “Serra, serra, serrador, Serra o papo
do vovô. Serra um, serra dois, serra três, serra quatro, serra
Conteúdos cinco, serra seis, serra sete, serra oito, serra nove, serra dez! ”.
É importante que nos berçários e em cada sala haja um
A organização dos conteúdos para o trabalho com espelho grande o suficiente para permitir que várias crianças
movimento deverá respeitar as diferentes capacidades das possam se ver refletidas ao mesmo tempo, oferecendo a elas a
crianças em cada faixa etária, bem como as diversas culturas possibilidade de vivenciar e compartilhar descobertas
corporais presentes nas muitas regiões do país. fundamentais. O espelho deve estar situado de forma a
Os conteúdos deverão priorizar o desenvolvimento das permitir a visão do corpo inteiro, ao lado do qual poderão ser
capacidades expressivas e instrumentais do movimento, colocados colchonetes, tapetes, almofadas, brinquedos
possibilitando a apropriação corporal pelas crianças de forma variados etc. Alguns materiais, em contato com o corpo da
que possam agir com cada vez mais intencionalidade. Devem criança, podem proporcionar experiências significativas no
ser organizados num processo contínuo e integrado que que diz respeito à sensibilidade corporal. As características
envolve múltiplas experiências corporais, possíveis de serem físicas de fluidez, textura, temperatura e plasticidade da terra,
realizadas pela criança sozinha ou em situações de interação. da areia e da água propiciam atividades sensíveis
Os diferentes espaços e materiais, os diversos repertórios de interessantes, como o banho de esguicho, construir castelos
cultura corporal expressos em brincadeiras, jogos, danças, com areia, fazer bolo de lama etc. Outra sugestão é o uso de
atividades esportivas e outras práticas sociais são algumas das tecidos de diferentes texturas e pesos, ou materiais de
condições necessárias para que esse processo ocorra. temperaturas diferentes, em brincadeiras prazerosas como
Os conteúdos estão organizados em dois blocos. O esconder sob um pano grosso; fazer cabanas; túneis e
primeiro refere-se às possibilidades expressivas do labirintos construídos com filó etc.
movimento e o segundo ao seu caráter instrumental. As mímicas faciais e gestos possuem um papel importante
na expressão de sentimentos e em sua comunicação. É
Expressividade importante que a criança dessa faixa etária conheça suas
A dimensão subjetiva do movimento deve ser contemplada próprias capacidades expressivas e aprenda
e acolhida em todas as situações do dia-a-dia na instituição de progressivamente a identificar as expressões dos outros,
educação infantil, possibilitando que as crianças utilizem ampliando sua comunicação. Brincar de fazer caretas ou de
gestos, posturas e ritmos para se expressar e se comunicar. imitar bichos propicia a descoberta das possibilidades
Além disso, é possível criar, intencionalmente, oportunidades expressiva de si própria e dos outros. Participar de
para que as crianças se apropriem dos significados brincadeiras de roda ou de danças circulares, como “A Galinha
expressivos do movimento. do Vizinho” ou “Ciranda, Cirandinha”, favorecem o
A dimensão expressiva do movimento engloba tanto as desenvolvimento da noção de ritmo individual e coletivo,
expressões e comunicação de ideias, sensações e sentimentos introduzindo as crianças em movimentos inerentes à dança.
pessoais como as manifestações corporais que estão Brincadeiras tradicionais como “A Linda Rosa Juvenil”, na
relacionadas com a cultura. A dança é uma das manifestações qual a cada verso corresponde um gesto, proporcionam
da cultura corporal dos diferentes grupos sociais que está também a oportunidade de descobrir e explorar movimentos
intimamente associada ao desenvolvimento das capacidades ajustados a um ritmo, conservando fortemente a possibilidade
expressivas das crianças. A aprendizagem da dança pelas de expressar emoções.
crianças, porém, não pode estar determinada pela marcação e O professor precisa cuidar de sua expressão e posturas
definição de coreografias pelos adultos. corporais ao se relacionar com as crianças. Não deve esquecer
que seu corpo é um veículo expressivo, valorizando e
Crianças de zero a três anos adequando os próprios gestos, mímicas e movimentos na
- Reconhecimento progressivo de segmentos e elementos comunicação com as crianças, como quando as acolhe no seu
do próprio corpo por meio da exploração, das brincadeiras, do colo, oferece alimentos ou as tocam na hora do banho. O
uso do espelho e da interação com os outros. professor, também, é modelo para as crianças, fornecendo-
- Expressão de sensações e ritmos corporais por meio de lhes repertório de gestos e posturas quando, por exemplo,
gestos, posturas e da linguagem oral. conta histórias pontuando ideias com gestos expressivos ou
Orientações didáticas usa recursos vocais para enfatizar sua dramaticidade.
Atividades como o banho e a massagem são oportunidades Conhecer jogos e brincadeiras e refletir sobre os tipos de
privilegiadas de explorar o próprio corpo, assim como de movimentos que envolvem é condição importante para ajudar
experimentar diferentes sensações, inclusive junto com outras as crianças a desenvolverem uma motricidade harmoniosa.
crianças.
Brincadeiras que envolvam o canto e o movimento, Crianças de quatro a seis anos
simultaneamente, possibilitam a percepção rítmica, a - Utilização expressiva intencional do movimento nas
identificação de segmentos do corpo e o contato físico. A situações cotidianas e em suas brincadeiras.
cultura popular infantil é uma riquíssima fonte na qual se - Percepção de estruturas rítmicas para expressar-se
podem buscar cantigas e brincadeiras de cunho afetivo nas corporalmente por meio da dança, brincadeiras e de outros
quais o contato corporal é o seu principal conteúdo, como no movimentos.
seguinte exemplo: “Conheço um jacaré, que gosta de comer. - Valorização e ampliação das possibilidades estéticas do
Esconda a sua perna, senão o jacaré come sua perna e o seu movimento pelo conhecimento e utilização de diferentes
dedão do pé”. Os jogos e brincadeiras que envolvem as modalidades de dança.
modulações de voz, as melodias e a percepção rítmica - tão - Percepção das sensações, limites, potencialidades, sinais
características das canções de ninar, associadas ao ato de vitais e integridade do próprio corpo.
embalar, e aos brincos, brincadeiras ritmadas que combinam
gestos e música - podem fazer parte de sequências de Orientações didáticas
atividades. Essas brincadeiras, ao propiciar o contato corporal O espelho continua a se fazer necessário para a construção
da criança com o adulto, auxiliam o desenvolvimento de suas e afirmação da imagem corporal em brincadeiras nas quais
capacidades expressivas. Um exemplo é a variante brasileira meninos e meninas poderão se fantasiar, assumir papéis, se
de um brinco de origem portuguesa no qual o adulto segura a olharem. Nesse sentido, um conjunto de maquiagem, fantasias
diversas, roupas velhas de adultos, sapatos, bijuterias e Crianças de zero a três anos
acessórios são ótimos materiais para o faz-de-conta nessa - Exploração de diferentes posturas corporais, como
faixa etária. Com eles, e diante do espelho, a criança consegue sentar-se em diferentes inclinações, deitar-se em diferentes
perceber que sua imagem muda, sem que modifique a sua posições, ficar ereto apoiado na planta dos pés com e sem
pessoa. ajuda etc.
Pode-se propor alguns jogos e brincadeiras envolvendo a - Ampliação progressiva da destreza para deslocar-se no
interação, a imitação e o reconhecimento do corpo, como “Siga espaço por meio da possibilidade constante de arrastar-se,
o Mestre” e “Seu Lobo”. engatinhar, rolar, andar, correr, saltar etc.
O professor pode propor atividades em que as crianças, de - Aperfeiçoamento dos gestos relacionados com a
forma mais sistemática, observem partes do próprio corpo ou preensão, o encaixe, o traçado no desenho, o lançamento etc.,
de seus amigos, usando-as como modelo, como, por exemplo, por meio da experimentação e utilização de suas habilidades
para moldar, pintar ou desenhar. Essa possibilidade pode ser manuais em diversas situações cotidianas.
aprofundada, se forem pesquisadas também obras de arte em
que partes do corpo foram retratadas ou esculpidas. Orientações didáticas
É importante lembrar que nesse tipo de trabalho não há Quanto menor a criança, maior é a responsabilidade do
necessidade de se estabelecer uma hierarquia prévia entre as adulto de lhe proporcionar experiências posturais e motoras
partes do corpo que serão trabalhadas. Pensar que para a variadas. Para isso ele deve modificar as posições das crianças
criança é mais fácil começar a perceber o próprio corpo pela quando sentadas ou deitadas; observar os bebês para
cabeça, depois pelo tronco e por fim pelos membros, por descobrir em que posições ficam mais ou menos confortáveis;
exemplo, pode não corresponder à sua experiência real. Nesse tocar, acalentar e massagear frequentemente os bebês para
sentido, o professor precisa estar bastante atento aos que eles possam perceber partes do corpo que não alcançam
conhecimentos prévios das crianças acerca de si mesmas e de sozinhos.
sua corporeidade, para adequar seus projetos e a melhor O professor pode organizar o ambiente com materiais que
maneira de trabalhá-los com o grupo de crianças. propiciem a descoberta e exploração do movimento. Materiais
O reconhecimento dos sinais vitais e de suas alterações, que rolem pelo chão, como cilindros e bolas de diversos
como a respiração, os batimentos cardíacos, assim como as tamanhos, sugerem às crianças que se arrastem, engatinhem
sensações de prazer, podem ser trabalhados com as crianças. ou caminhem atrás deles ou ainda que rolem sobre eles. As
Perceber esses sinais, refletir e conversar sobre o que acontece bolas podem ser chutadas, lançadas, quicadas etc. Túneis de
quando as crianças correm, rolam ou são massageadas pode pano sugerem às crianças que se abaixem e utilizem a força dos
garantir a ampliação do conhecimento sobre seu corpo e músculos dos braços e das pernas para percorrer seu interior.
expressão do movimento de forma mais harmoniosa. Móbiles e outros penduricalhos sugerem que as crianças
Representar experiências observadas e vividas por meio exercitem a posição ereta, nas tentativas de erguer-se para
do movimento pode se transformar numa atividade bastante tocá-los. Almofadas organizadas num ambiente com livros ou
divertida e significativa para as crianças. Derreter como um gibis e brinquedos convidam as crianças a sentarem ou
sorvete, flutuar como um floco de algodão, balançar como as deitarem, concentradas nas suas atividades.
folhas de uma árvore, correr como um rio, voar como uma O professor pode organizar atividades que exijam o
gaivota, cair como um raio etc., são exercícios de imaginação e aperfeiçoamento das capacidades motoras das crianças, ou
criatividade que reiteram a importância do movimento para que lhes tragam novos desafios, considerando seus
expressar e comunicar ideias e emoções. progressos.
No Brasil existem inúmeras danças, folguedos, Um bom exemplo são as organizações de circuitos no
brincadeiras de roda e cirandas que, além do caráter de espaço externo ou interno de modo a sugerir às crianças
socialização que representam, trazem para a criança a desafios corporais variados. Podem-se criar, com pneus,
possibilidade de realização de movimentos de diferentes bancos, tábuas de madeira etc., túneis, pontes, caminhos,
qualidades expressivas e rítmicas. A roda otimiza a percepção rampas e labirintos nos quais as crianças podem saltar para
de um ritmo comum e a noção de conjunto. Há muitas dentro, equilibrar-se, andar, escorregar etc.
brincadeiras de roda, como o coco de roda alagoano, o bumba- Algumas brincadeiras tradicionais podem contribuir para
meu-boi maranhense, a catira paulista, o maracatu e o frevo a qualidade das experiências motoras e posturais das crianças,
pernambucanos, a chula rio-grandense, as cirandas, as como, por exemplo, a brincadeira de estátua cuja regra
quadrilhas, entre tantas outras. O fato de todas essas principal é a de que as crianças fiquem paradas como estátua
manifestações expressivas serem realizadas em grupo a um sinal, promovendo a manutenção do tônus muscular
acrescentam ao movimento um sentido socializador e estético. durante algum tempo.
estereotipados, associados ao gênero masculino e feminino, Assim, cabe ao professor acolher suas preferências, sem
como, por exemplo, não deixar que as meninas joguem futebol impor-lhes, por exemplo, o uso da mão direita.
ou que os meninos rodem bambolê. A organização do ambiente, dos materiais e do tempo visa
A brincadeira de pular corda, tão popular no Brasil, propõe a auxiliar que as manifestações motoras das crianças estejam
às crianças uma pesquisa corporal intensa, tanto em relação às integradas nas diversas atividades da rotina.
diferentes qualidades de movimento que sugere (rápidos ou Para isso, os espaços externos e internos devem ser amplos
lentos; pesados ou leves) como também em relação à o suficiente para acolher as manifestações da motricidade
percepção espaço-temporal, já que, para “entrar” na corda, as infantil. Os objetos, brinquedos e materiais devem auxiliar as
crianças devem sentir o ritmo de suas batidas no chão para atividades expressivas e instrumentais do movimento.
perceber o momento certo. A corda pode também ser utilizada
em outras brincadeiras desafiadoras. Ao ser amarrada no Organização do tempo
galho de uma árvore, possibilita à criança pendurar-se e Os conteúdos relacionados ao movimento deverão ser
balançar-se; ao ser esticada em diferentes alturas, permite que trabalhados inseridos na rotina. As atividades que buscam
as crianças se arrastem, agachem etc. valorizar o movimento nas suas dimensões expressivas,
Os primeiros jogos de regras são valiosos para o instrumentais e culturais podem ser realizadas diariamente de
desenvolvimento de capacidades corporais de equilíbrio e maneira planejada ou não.
coordenação, mas trazem também a oportunidade, para as Também podem ser realizados projetos que integrem
crianças, das primeiras situações competitivas, em que suas vários conhecimentos ligados ao movimento. A apresentação
habilidades poderão ser valorizadas de acordo com os de uma dança tradicional, por exemplo, pode- se constituir em
objetivos do jogo. É muito importante que o professor esteja um interessante projeto para as crianças maiores, quando
atento aos conflitos que possam surgir nessas situações, necessitam:
ajudando as crianças a desenvolver uma atitude de competição - pesquisar diferentes danças tradicionais brasileiras para
de forma saudável. Nesta faixa etária, o professor é quem selecionar aquela que mais interessar às crianças.
ajudará as crianças a combinar e cumprir regras, - informar-se sobre a origem e história da dança
desenvolvendo atitudes de respeito e cooperação tão selecionada.
necessárias, mais tarde, no desenvolvimento das habilidades - desenvolver recursos expressivos e aprender os passos
desportivas. para a dança;
São muitos os jogos existentes nas diferentes regiões do - confeccionar roupas necessárias para a apresentação.
Brasil que podem ser utilizados para esse fim; cabe ao - planejar a apresentação, confeccionando cartazes,
professor levantar junto a crianças, familiares e comunidade convites, etc.
aqueles mais significativos. As brincadeiras e jogos envolvem Da mesma forma, podem ser desenvolvidos projetos
a descoberta e a exploração de capacidades físicas e a envolvendo jogos e brincadeiras de roda, circuitos motores
expressão de emoções, afetos e sentimentos. Além de alegria e etc.
prazer, algumas vezes a exposição de seu corpo e de seus
movimentos podem gerar vergonha, medo ou raiva. Isso Observação, registro e avaliação formativa
também precisa ser considerado pelo professor para que ele
possa ajudar as crianças a lidar de forma positiva com limites Para que se tenham condições reais de avaliar se uma
e possibilidades do próprio corpo. criança está ou não desenvolvendo uma motricidade saudável,
As diferentes atividades que ocorrem nas instituições faz-se necessário refletir sobre o ambiente da instituição e o
requerem das crianças posturas corporais distintas. Cabe ao trabalho ali desenvolvido: ele é suficientemente desafiador?
professor organizar o ambiente de tal forma a garantir a Será que as crianças não ficam muito tempo sentadas, sem
postura mais adequada para cada atividade, não as oportunidades de exercitar outras posturas? As atividades
restringindo a modelos estereotipados. oferecidas propiciam situações de interação? A avaliação do
Orientações gerais para o professor movimento deve ser contínua, levando em consideração os
processos vivenciados pelas crianças, resultado de um
É muito importante que o professor perceba os diversos trabalho intencional do professor. Deverá constituir-se em
significados que pode ter a atividade motora para as crianças. instrumento para a reorganização de objetivos, conteúdos,
Isso poderá contribuir para que ele possa ajudá-las a ter uma procedimentos, atividades e como forma de acompanhar e
percepção adequada de seus recursos corporais, de suas conhecer cada criança e grupo.
possibilidades e limitações sempre em transformação, dando- A observação cuidadosa sobre cada criança e sobre o grupo
lhes condições de se expressarem com liberdade e de fornece elementos que podem auxiliar na construção de uma
aperfeiçoarem suas competências motoras. prática que considere o corpo e o movimento das crianças.
O professor deve refletir sobre as solicitações corporais Devem ser documentados os aspectos referentes a
das crianças e sua atitude diante das manifestações da expressividade do movimento e sua dimensão instrumental. É
motricidade infantil, compreendendo seu caráter lúdico e recomendável que o professor atualize, sistematicamente,
expressivo. Além de refletir acerca das possibilidades suas observações, documentando mudanças e conquistas.
posturais e motoras oferecidas no conjunto das atividades, é São consideradas como experiências prioritárias para a
interessante planejar situações de trabalho voltadas para aprendizagem do movimento realizada pelas crianças de zero
aspectos mais específicos do desenvolvimento corporal e a três anos: uso de gestos e ritmos corporais diversos para
motor. Nessa perspectiva, o professor deverá avaliar expressar-se; deslocamentos no espaço sem ajuda. Para que
constantemente o tempo de contenção motora ou de isso ocorra é necessário que sejam oferecidas condições para
manutenção de uma mesma postura de maneira a adequar as que as crianças explorem suas capacidades expressivas,
atividades às possibilidades das crianças de diferentes idades. aceitando com confiança desafios corporais.
Outro ponto de reflexão diz respeito à lateralidade, ou seja, A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que tenham
à predominância para o uso de um lado do corpo. Durante o tido muitas oportunidades, na instituição de educação infantil,
processo de definição da lateralidade, as crianças podem usar, de vivenciar experiências envolvendo o movimento, pode-se
indiscriminadamente, ambos os lados do corpo. esperar que as crianças o reconheçam e o utilizem como
Espontaneamente a criança irá manifestar a preferência pelo linguagem expressiva e participem de jogos e brincadeiras
uso de uma das mãos, definindo-se como destra ou canhota. envolvendo habilidades motoras diversas.
É importante informar sempre as crianças acerca de suas alguns povos, ainda hoje é tocada e dançada por todos,
competências. Desde pequenas, a valorização de seu esforço e seguindo costumes que respeitam as festividades e os
comentários a respeito de como estão construindo e se momentos próprios a cada manifestação musical. Nesses
apropriando desse conhecimento são atitudes que as contextos, as crianças entram em contato com a cultura
encorajam e situam com relação à própria aprendizagem. É musical desde muito cedo e assim começam a aprender suas
sempre bom lembrar que seu empenho e suas conquistas tradições musicais.
devem ser valorizados em função de seus progressos e do Mesmo que as formas de organização social e o papel da
próprio esforço, evitando colocá-las em situações de música nas sociedades modernas tenham se transformado,
comparação. algo de seu caráter ritual é preservado, assim como certa
tradição do fazer e ensinar por imitação e “por ouvido”, em que
Música - Introdução se misturam intuição conhecimento prático e transmissão
oral. Essas questões devem ser consideradas ao se pensar na
A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras aprendizagem, pois o contato intuitivo e espontâneo com a
capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e expressão musical desde os primeiros anos de vida é
pensamentos, por meio da organização e relacionamento importante ponto de partida para o processo de musicalização.
expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar
todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e brinquedos rítmicos, jogos de mãos, etc., são atividades que
comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade
políticas etc. Faz parte da educação desde há muito tempo, musical, além de atenderem a necessidades de expressão que
sendo que, já na Grécia antiga, era considerada como passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender
fundamental para a formação dos futuros cidadãos, ao lado da música significa integrar experiências que envolvem a
matemática e da filosofia. vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para
A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos níveis cada vez mais elaborados.
e cognitivos, assim como a promoção de interação e Pesquisadores e estudiosos vêm traçando paralelos entre
comunicação social, conferem caráter significativo à o desenvolvimento infantil e o exercício da expressão musical,
linguagem musical. É uma das formas importantes de resultando em propostas que respeitam o modo de perceber,
expressão humana, o que por si só justifica sua presença no sentir e pensar, em cada fase, e contribuindo para que a
contexto da educação, de um modo geral, e na educação construção do conhecimento dessa linguagem ocorra de modo
infantil, particularmente. significativo. O trabalho com Música proposto por este
documento fundamenta-se nesses estudos, de modo a garantir
Presença da música na educação infantil: ideias e à criança a possibilidade de vivenciar e refletir sobre questões
práticas correntes musicais, num exercício sensível e expressivo que também
oferece condições para o desenvolvimento de habilidades, de
A música no contexto da educação infantil vem, ao longo de formulação de hipóteses e de elaboração de conceitos.
sua história, atendendo a vários objetivos, alguns dos quais Compreende-se a música como linguagem e forma de
alheios às questões próprias dessa linguagem. Tem sido, em conhecimento. Presente no cotidiano de modo intenso, no
muitos casos, suporte para atender a vários propósitos, como rádio, na TV, em gravações, jingles etc., por meio de
a formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as brincadeiras e manifestações espontâneas ou pela intervenção
mãos antes do lanche, escovar os dentes, respeitar o farol etc.; do professor ou familiares, além de outras situações de
a realização de comemorações relativas ao calendário de convívio social, a linguagem musical tem estrutura e
eventos do ano letivo simbolizados no dia da árvore, dia do características próprias, devendo ser considerada como:
soldado, dia das mães etc.; a memorização de conteúdos - Produção: centrada na experimentação e na imitação,
relativos a números, letras do alfabeto, cores etc., traduzidos tendo como produtos musicais a interpretação, a improvisação
em canções. Essas canções costumam ser acompanhadas por e a composição.
gestos corporais, imitados pelas crianças de forma mecânica e - Apreciação: percepção tanto dos sons e silêncios quanto
estereotipada. das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver
Outra prática corrente tem sido o uso das bandinhas por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação,
rítmicas para o desenvolvimento motor, da audição, e do analise e reconhecimento.
domínio rítmico. Essas bandinhas utilizam instrumentos - - Reflexão: sobre questões referentes à organização,
pandeirinhos, tamborzinhos, pauzinhos etc. - muitas vezes criação, produtos e produtores musicais.
confeccionados com material inadequado e
consequentemente com qualidade sonora deficiente. Isso Deve ser considerado o aspecto da integração do trabalho
reforça o aspecto mecânico e a imitação, deixando pouco ou musical às outras áreas, já que, por um lado, a música mantém
nenhum espaço às atividades de criação ou às questões ligadas contato estreito e direto com as demais linguagens expressivas
a percepção e conhecimento das possibilidades e qualidades (movimento, expressão cênica, artes visuais etc.), e, por outro,
expressivas dos sons. torna possível a realização de projetos integrados. É preciso
Ainda que esses procedimentos venham sendo cuidar, no entanto, para que não se deixe de lado o exercício
repensados, muitas instituições encontram dificuldades para das questões especificamente musicais.
integrar a linguagem musical ao contexto educacional. O trabalho com música deve considerar, portanto, que ela
Constata-se uma defasagem entre o trabalho realizado na é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível
área de Música e nas demais áreas do conhecimento, aos bebês e crianças, inclusive aquelas que apresentem
evidenciada pela realização de atividades de reprodução e necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio
imitação em detrimento de atividades voltadas à criação e à para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da
elaboração musical. Nesses contextos, a música é tratada como autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de
se fosse um produto pronto, que se aprende a reproduzir, e integração social.
não uma linguagem cujo conhecimento se constrói.
A música está presente em diversas situações da vida A criança e a música
humana. Existe música para adormecer, música para dançar,
para chorar os mortos, para conclamar o povo a lutar, o que O ambiente sonoro, assim como a presença da música em
remonta à sua função ritualística. Presente na vida diária de diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os
bebês e crianças iniciem seu processo de musicalização de movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam
forma intuitiva. Adultos cantam melodias curtas, cantigas de situações sonoras diversas, conferindo “personalidade” e
ninar, fazem brincadeiras cantadas, com rimas, parlendas etc., significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos
reconhecendo o fascínio que tais jogos exercem. Encantados musicais e à sua produção musical. O brincar permeia a relação
com o que ouvem, os bebês tentam imitar e responder, criando que se estabelece com os materiais: mais do que sons, podem
momentos significativos no desenvolvimento afetivo e representar personagens, como animais, carros, máquinas,
cognitivo, responsáveis pela criação de vínculos tanto com os super-heróis etc.
adultos quanto com a música. Nas interações que se A partir dos três anos, aproximadamente, os jogos com
estabelecem, eles constroem um repertório que lhes permite movimento são fonte de prazer, alegria e possibilidade efetiva
iniciar uma forma de comunicação por meio dos sons. para o desenvolvimento motor e rítmico, sintonizados com a
O balbucio e o ato de cantarolar dos bebês têm sido objetos música, uma vez que o modo de expressão característico dessa
de pesquisas que apresentam dados importantes sobre a faixa etária integra gesto, som e movimento.
complexidade das linhas melódicas cantaroladas até os dois Aos poucos ocorre um maior domínio com relação à
anos de idade, aproximadamente. Procuram imitar o que entoação melódica. Ainda que sem um controle preciso da
ouvem e também inventam linhas melódicas ou ruídos, afinação, mas já com retenção de desenhos melódicos e de
explorando possibilidades vocais, da mesma forma como momentos significativos das canções, como refrão,
interagem com os objetos e brinquedos sonoros disponíveis, onomatopeias, o “to-to” de “Atirei o pau no gato” etc. A criança
estabelecendo, desde então, um jogo caracterizado pelo memoriza um repertório maior de canções e conta,
exercício sensorial e motor com esses materiais. consequentemente, com um “arquivo” de informações
A escuta de diferentes sons (produzidos por brinquedos referentes a desenhos melódicos e rítmicos que utiliza com
sonoros ou oriundos do próprio ambiente doméstico) também frequência nas canções que inventa. Ela é uma boa
é fonte de observação e descobertas, provocando respostas. A improvisadora, “cantando histórias”, misturando ideias ou
audição de obras musicais enseja as mais diversas reações: os trechos dos materiais conhecidos, recriando, adaptando etc. É
bebês podem manter-se atentos, tranquilos ou agitados. comum que, brincando sozinha, invente longas canções.
Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam os Aos poucos, começa a cantar com maior precisão de
modos de expressão musical pelas conquistas vocais e entoação e a reproduzir ritmos simples orientados por um
corporais. Podem articular e entoar um maior número de sons, pulso regular. Os batimentos rítmicos corporais (palmas,
inclusive os da língua materna, reproduzindo letras simples, batidas nas pernas, pés etc.) são observados e reproduzidos
refrãos, onomatopeias etc., explorando gestos sonoros, como com cuidado, e, evidentemente, a maior ou menor
bater palmas, pernas, pés, especialmente depois de complexidade das estruturas rítmicas dependerá do nível de
conquistada a marcha, a capacidade de correr, pular e desenvolvimento de cada criança ou grupo.
movimentar-se acompanhando uma música. Além de cantar, a criança tem interesse, também, em tocar
No que diz respeito à relação com os materiais sonoros é pequenas linhas melódicas nos instrumentos musicais,
importante notar que, nessa fase, as crianças conferem buscando entender sua construção. Torna-se muito
importância e equivalência a toda e qualquer fonte sonora e importante poder reproduzir ou compor uma melodia, mesmo
assim explorar as teclas de um piano é tal e qual percutir uma que usando apenas dois sons diferentes e percebe o fato de que
caixa ou um cestinho, por exemplo. Interessam-se pelos modos para cantar ou tocar uma melodia é preciso respeitar uma
de ação e produção dos sons, sendo que sacudir e bater são ordem, à semelhança do que ocorre com a escrita de palavras.
seus primeiros modos de ação. Estão sempre atentas às A audição pode detalhar mais, e o interesse por muitos e
características dos sons ouvidos ou produzidos, se gerados por variados estilos tende a se ampliar. Se a produção musical
um instrumento musical, pela voz ou qualquer objeto, veiculada pela mídia lhe interessa, também se mostra
descobrindo possibilidades sonoras com todo material receptiva a diferentes gêneros e estilos musicais, quando tem
acessível. a possibilidade de conhecê-los.
Assim, o que caracteriza a produção musical das crianças
nesse estágio é a exploração do som e suas qualidades - que Objetivos
são altura, duração, intensidade e timbre - e não a criação de
temas ou melodias definidos precisamente, ou seja, diante de Crianças de zero a três anos
um teclado, por exemplo, importa explorar livremente os O trabalho com Música deve se organizar de forma a que as
registros grave ou agudo (altura), tocando forte ou fraco crianças desenvolvam as seguintes capacidades:
(intensidade), produzindo sons curtos ou longos (duração), - ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros diversos,
imitando gestos motores que observou e que reconhece como fontes sonoras e produções musicais.
responsáveis pela produção do som, sem a preocupação de - brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir
localizar as notas musicais (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si) ou criações musicais.
reproduzir exatamente qualquer melodia conhecida. E ainda
que possam, em alguns casos, manter um pulso (medida Crianças de quatro a seis anos
referencial de duração constante), a vivência do ritmo também Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária
não se subordina à pulsação e ao compasso (a organização do de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados,
pulso em tempos fortes e fracos) e assim vivenciam o ritmo garantindo-se, ainda, oportunidades para que as crianças
livre. Diferenças individuais e grupais acontecem, fazendo com sejam capazes de:
que, aos três anos, por exemplo, integrantes de comunidades - explorar e identificar elementos da música para se
musicais ou crianças cujos pais toquem instrumentos possam expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento
apresentar um desenvolvimento e controle rítmico diferente do mundo.
das outras crianças, demonstrando que o contato sistemático - perceber e expressar sensações, sentimentos e
com a música amplia o conhecimento e as possibilidades de pensamentos, por meio de improvisações, composições e
realizações musicais. interpretações musicais.
A expressão musical das crianças nessa fase é
caracterizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo e Conteúdos
pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. As
crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos: A organização dos conteúdos para o trabalho na área de
cantam enquanto brincam, acompanham com sons os Música nas instituições de educação infantil deverá, acima de
tudo, respeitar o nível de percepção e desenvolvimento É muito importante brincar, dançar e cantar com as
(musical e global) das crianças em cada fase, bem como as crianças, levando em conta suas necessidades de contato
diferenças socioculturais entre os grupos de crianças das corporal e vínculos afetivos. Deve-se cuidar para que os jogos
muitas regiões do país. e brinquedos não estimulem a imitação gestual mecânica e
Os conteúdos deverão priorizar a possibilidade de estereotipada que, muitas vezes, se apresenta como modelo às
desenvolver a comunicação e expressão por meio dessa crianças.
linguagem. Serão trabalhados como conceitos em construção, O canto desempenha um papel de grande importância na
organizados num processo contínuo e integrado que deve educação musical infantil, pois integra melodia, ritmo e -
abranger: frequentemente - harmonia, sendo excelente meio para o
- a exploração de materiais e escuta de obras musicais para desenvolvimento da audição. Quando cantam, as crianças
propiciar o contato e experiências com a matéria prima da imitam o que ouvem e assim desenvolvem condições
linguagem musical: o som (e suas qualidades) e o silencio. necessárias à elaboração do repertório de informações que
- a vivencia da organização dos sons e silêncios em posteriormente lhes permitirá criar e se comunicar por
linguagem musical pelo fazer e pelo contato com obras intermédio dessa linguagem. É importante apresentar às
diversas. crianças canções do cancioneiro popular infantil, da música
- a reflexão sobre a música como produto cultural do ser popular brasileira, entre outras que possam ser cantadas sem
humano é importante forma de conhecer e representar o esforço vocal, cuidando, também, para que os textos sejam
mundo. adequados à sua compreensão. Letras muito complexas, que
Os conteúdos estarão organizados em dois blocos: “O fazer exigem muita atenção das crianças para a interpretação,
musical” e “Apreciação musical”, que abarcarão, também, acabam por comprometer a realização musical. O mesmo
questões referentes à reflexão. acontece quando se associa o cantar ao excesso de gestos
marcados pelo professor, que fazem com que as crianças
O fazer musical parem de cantar para realizá-los, contrariando sua tendência
O fazer musical é uma forma de comunicação e expressão natural de integrar a expressão musical e corporal.
que acontece por meio da improvisação, da composição e da São importantes as situações nas quais se ofereçam
interpretação. Improvisar é criar instantaneamente, instrumentos musicais e objetos sonoros para que as crianças
orientando-se por alguns critérios pré-definidos, mas com possam explorá-los, imitar gestos motores que observam,
grande margem a realizações aleatórias, não determinadas. percebendo as possibilidades sonoras resultantes.
Compor é criar a partir de estruturas fixas e determinadas e
interpretar é executar uma composição contando com a Crianças de quatro a seis anos
participação expressiva do intérprete. Nesta fase ampliam-se as possibilidades de trabalho que já
Nessa faixa etária, a improvisação constitui-se numa das vinham sendo desenvolvidas com as crianças de zero a três
formas de atividade criativa. Os jogos de improvisação são anos. Os conteúdos podem ser tratados em contextos que
ações intencionais que possibilitam o exercício criativo de incluem a reflexão sobre aspectos referentes aos elementos da
situações musicais e o desenvolvimento da comunicação por linguagem musical.
meio dessa linguagem. As crianças de quatro a seis anos já - Reconhecimento e utilização expressiva, em contextos
podem compor pequenas canções. Com os instrumentos musicais das diferentes características geradas pelo silencio e
musicais ainda é difícil criar estruturas definidas, e as criações pelos sons: altura (graves ou agudos), duração (curtos ou
musicais das crianças geralmente situam-se entre a longos), intensidade (fracos e fortes) e timbre (característica
improvisação e a composição, ou seja, a criança cria uma que distingue e “personaliza” cada som).
estrutura que, no entanto, sofre variações e alterações a cada - Reconhecimento e utilização das variações de velocidade
nova interpretação. A imitação é a base do trabalho de e densidade na organização e realização de algumas produções
interpretação. Imitando sons vocais, corporais, ou produzidos musicais.
por instrumentos musicais, as crianças preparam-se para - Participação em jogos e brincadeiras que devolvam a
interpretar quando, então, imitam expressivamente. dança e/ ou a improvisação musical.
- Repertório de canções para desenvolver memória
Crianças de zero a três anos musical.
- Exploração, expressão e produção do silencio e de sons
com a voz, o corpo, o entorno e materiais sonoros diversos. Orientações didáticas
- Interpretação de músicas e canções diversas. O fazer musical requer atitudes de concentração e
- Participação em brincadeiras e jogos cantados e rítmicos. envolvimento com as atividades propostas, posturas que
devem estar presentes durante todo o processo educativo, em
Orientações didáticas suas diferentes fases. Entender que fazer música implica
No primeiro ano de vida, a prática musical poderá ocorrer organizar e relacionar expressivamente sons e silêncios de
por meio de atividades lúdicas. O professor estará acordo com princípios de ordem é questão fundamental a ser
contribuindo para o desenvolvimento da percepção e atenção trabalhada desde o início. Nesse sentido, deve-se distinguir
dos bebês quando canta para eles; produzem sons vocais entre barulho, que é uma interferência desorganizada que
diversos por meio da imitação de vozes de animais, ruídos etc., incomoda, e música, que é uma interferência intencional que
ou sons corporais, como palmas, batidas nas pernas, pés etc.; organiza som e silêncio e que comunica. A presença do silêncio
embala-os e dança com eles. As canções de ninar tradicionais, como elemento complementar ao som é essencial à
os brinquedos cantados e rítmicos, as rodas e cirandas, os organização musical. O silêncio valoriza o som, cria
jogos com movimentos, as brincadeiras com palmas e gestos expectativa e é, também, música. Deve ser experimentado em
sonoros corporais, assim como outras produções do acervo diferentes situações e contextos.
cultural infantil, podem estar presentes e devem se constituir Importa que todos os conteúdos sejam trabalhados em
em conteúdos de trabalho. Isso pode favorecer a interação e situações expressivas e significativas para as crianças, tendo-
resposta dos bebês, seja por meio da imitação e criação vocal, se o cuidado fundamental de não tomá-los como fins em si
do gesto corporal, ou da exploração sensório motora de mesmos. Um trabalho com diferentes alturas, por exemplo, só
materiais sonoros, como objetos do cotidiano, brinquedos se justifica se realizado num contexto musical que pode ser
sonoros, instrumentos musicais de percussão como chocalhos, uma proposta de improvisação que valorize o contraste entre
guizos, blocos, sinos, tambores etc. sons graves ou agudos ou de interpretação de canções que
enfatizem o movimento sonoro, entre outras possibilidades. O professor pode estimular a criação de pequenas canções,
Ouvir e classificar os sons quanto à altura, valendo-se das em geral estruturadas, tendo por base a experiência musical
vozes dos animais, dos objetos e máquinas, dos instrumentos que as crianças vêm acumulando. Trabalhar com rimas, por
musicais, comparando, estabelecendo relações e, exemplo, é interessante e envolvente. As crianças podem criar
principalmente, lidando com essas informações em contextos pequenas canções fazendo rimas com seus próprios nomes e
de realizações musicais pode acrescentar, enriquecer e dos colegas, com nomes de frutas, cores etc.
transformar a experiência musical das crianças. A simples Assuntos e acontecimentos vivenciados no dia-a-dia
discriminação auditiva de sons graves ou agudos, curtos ou também podem ser temas para novas canções. O professor
longos, fracos ou fortes, em situações descontextualizadas do deve observar o que e como cantam as crianças, tentando
ponto de vista musical, pouco acrescenta à experiência das aproximar-se, ao máximo, de sua intenção musical. Muitas
crianças. Exercícios com instruções, como, por exemplo, vezes, as linhas melódicas criadas contam com apenas dois ou
transformar-se em passarinhos ao ouvir sons agudos e em três sons diferentes, em sintonia com a percepção, experiência
elefante em resposta aos sons graves ilustram o uso e modo de expressar infantis.
inadequado e sem sentido de conteúdos musicais. Uma outra atividade interessante é a sonorização de
Em princípio, todos os instrumentos musicais podem ser histórias. Para fazê-lo, as crianças precisam organizar de
utilizados no trabalho com a criança pequena, procurando forma expressiva o material sonoro, trabalhando a percepção
valorizar aqueles presentes nas diferentes regiões, assim auditiva, a discriminação e a classificação de sons (altura,
como aqueles construídos pelas crianças. Podem ser duração, intensidade e timbre). Os livros de história só com
trabalhadas algumas noções técnicas como meio de obter imagens são muito interessantes e adequados para esse fim.
qualidade sonora, o que deve ser explorado no contato com Neste caso, após a fase de definição dos materiais, a
qualquer fonte produtora de sons. Assim, tocar um tambor de interpretação do trabalho poderá guiar-se pelas imagens do
diferentes maneiras, por exemplo, variando força; modos de livro, que funcionará como uma partitura musical. Os contos
ação como tocar com diferentes baquetas, com as mãos, pontas de fadas, a produção literária infantil, assim como as criações
dos dedos etc., e, especialmente, experimentando e ouvindo do grupo são ótimos materiais para o desenvolvimento dessa
seus resultados é um caminho importante para o atividade que poderá utilizar-se de sons vocais, corporais,
desenvolvimento da técnica aliada à percepção da qualidade produzidos por objetos do ambiente, brinquedos sonoros e
dos sons produzidos. Deve-se promover o crescimento e a instrumentos musicais. O professor e as crianças, juntos,
transformação do trabalho a partir do que as crianças podem poderão definir quais personagens ou situações deverão ser
realizar com os instrumentos. Numa atividade de imitação, por sonorizados e como, realizando um exercício prazeroso. Como
exemplo, ao perceber que o grupo ou uma criança não representar sonoramente um bater de portas, o trotar de
responde com precisão a um ritmo realizado pelo professor, cavalos, a água correndo no riacho, o canto dos sapos e, enfim,
este deve guiar-se pela observação das crianças em vez de a diversidade de sons presentes na realidade e no imaginário
repetir e insistir exaustivamente sua proposta inicial. das crianças é atividade que envolve e desperta a atenção, a
O gesto e o movimento corporal estão intimamente ligados percepção e a discriminação auditiva.
e conectados ao trabalho musical. A realização musical implica
tanto em gesto como em movimento, porque o som é, também, Apreciação musical
gesto e movimento vibratório, e o corpo traduz em movimento A apreciação musical refere-se a audição e interação com
os diferentes sons que percebe. Os movimentos de flexão, músicas diversas.
balanceio, torção, estiramento etc., e os de locomoção como
andar, saltar, correr, saltitar, galopar etc., estabelecem Crianças de zero e três anos
relações diretas com os diferentes gestos sonoros. - Escuta de obras músicas variadas.
As crianças podem improvisar a partir de um roteiro - Participação em situações que integrem músicas, canções
extramusical ou de uma história: nos jogos de improvisação e movimentos corporais.
temáticos desenvolvidos a partir de ideias extramusicais, cada
timbre (característica que diferencia um som do outro), por Orientações didáticas
exemplo, pode ser uma personagem; podem ser criadas A escuta musical deve estar integrada de maneira
situações para explorar diferentes qualidades sonoras quando intencional às atividades cotidianas dos bebês e das crianças
as crianças tocam com muita suavidade para não acordar pequenas. É aconselhável a organização de um pequeno
alguém que dorme, produzem impulsos sonoros curtos repertório que, durante algum tempo, deverá ser apresentado
sugerindo pingos de chuva, realizam um ritmo de galope para para que estabeleçam relações com o que escutam. Tal
sonorizar o trotar dos cavalos etc. Podem vivenciar contrastes repertório pode contar com obras da música erudita, da
entre alturas ou intensidades do som, ritmos, som e silêncio música popular, do cancioneiro infantil, da música regional etc.
etc., a partir de propostas especificamente musicais. A música, porém, não deve funcionar como pano de fundo
Os jogos de improvisação podem, também, ser realizados permanente para o desenvolvimento de outras atividades,
com materiais variados, como os instrumentos confeccionados impedindo que o silêncio seja valorizado. A escuta de
pelas crianças, os materiais disponíveis que produzem sons, os emissoras de rádio comerciais com programas de variedades
sons do corpo, a voz etc. O professor poderá aproveitar ou músicas do interesse do adulto durante o período em que
situações de interesse do grupo, transformando-as em se troca a fralda ou se alimenta o bebê é desaconselhada. O
improvisações musicais. Poderá, por exemplo, explorar os trabalho com a apreciação musical deverá apresentar obras
timbres de elementos ligados a um projeto sobre o fundo do que despertem o desejo de ouvir e interagir, pois para essas
mar (a água do mar em seus diferentes momentos, os diversos crianças ouvir é, também, movimentar-se, já que as crianças
peixes, as baleias, os tubarões, as tartarugas etc.), lidando com percebem e expressam-se globalmente.
a questão da organização do material sonoro no tempo e no Crianças de quatro a seis anos
espaço e permitindo que as crianças se aproximem do conceito - Escuta de obras musicais de diversos gêneros, estilos,
da forma (a estrutura que resulta do modo de organizar os épocas e culturas, da produção musical brasileira e de outros
materiais sonoros). povo e países.
Deverão ser propostos, também, jogos de improvisação - Reconhecimento de elementos musicais básicos: frases,
que estimulem a memória auditiva e musical, assim como a partes, elementos que se repetem etc. (a forma)
percepção da direção do som no espaço.
- Informações sobre as obras ouvidas e sobre seus específica em música, sugere-se que cada profissional faça um
compositores para iniciar seus compositores para iniciar seus contínuo trabalho pessoal consigo mesmo no sentido de:
conhecimentos sobre a produção musical. - sensibilizar-se em relação às questões inerentes à música.
- reconhecer a música como linguagem cujo conhecimento
Orientações didáticas se constrói.
Nessa faixa etária, o trabalho com a audição poderá ser - entender e respeitar como as crianças se expressam
mais detalhado, acompanhando a ampliação da capacidade de musicalmente em cada fase, para, a partir daí, fornecer os
atenção e concentração das crianças. A apreciação musical meios necessários (vivencias, informações, materiais) ao
poderá propiciar o enriquecimento e ampliação do desenvolvimento de sua capacidade expressiva.
conhecimento de diversos aspectos referentes à produção
musical: os instrumentos utilizados; tipo de profissionais que
atuam e o conjunto que formam (orquestra, banda etc.); A escuta é uma das ações fundamentais para a construção
gêneros musicais; estilos etc. O contato com uma obra musical do conhecimento referente à música. O professor deve
pode ser complementado com algumas informações relativas procurar ouvir o que dizem e cantam as crianças, a “paisagem
ao contexto histórico de sua criação, a época, seu compositor, sonora” de seu meio ambiente e a diversidade musical
intérpretes etc. existente: o que é transmitido por rádio e TV, as músicas de
Há que se tomar cuidado para não limitar o contato das propaganda, as trilhas sonoras dos filmes, a música do folclore,
crianças com o repertório dito “infantil” que é, muitas vezes, a música erudita, a música popular, a música de outros povos
estereotipado e, não raro, o mais inadequado. As canções e culturas.
infantis veiculadas pela mídia, produzidas pela indústria As marcas e lembranças da infância, os jogos, brinquedos e
cultural, pouco enriquecem o conhecimento das crianças. Com canções significativas da vida do professor, assim como o
arranjos padronizados, geralmente executados por repertório musical das famílias, vizinhos e amigos das
instrumentos eletrônicos, limitam o acesso a um universo crianças, podem integrar o trabalho com música.
musical mais rico e abrangente que pode incluir uma É importante desenvolver nas crianças atitudes de
variedade de gêneros, estilos e ritmos regionais, nacionais e respeito e cuidado com os materiais musicais, de valorização
internacionais. da voz humana e do corpo como materiais expressivos. Como
É importante oferecer, também, a oportunidade de ouvir o exemplo do professor é muito importante, é desejável que
música sem texto, não limitando o contato musical da criança ele fale e cante com os cuidados necessários à boa emissão do
com a canção que, apesar de muito importante, não se som, evitando gritar e colaborando para desenvolver nas
constitui em única possibilidade. Por integrar poesia e música, crianças atitudes semelhantes.
a canção remete, sempre, ao conteúdo da letra, enquanto o
contato com a música instrumental ou vocal sem um texto Organização do tempo
definido abre a possibilidade de trabalhar com outras Cantar e ouvir músicas podem ocorrer com frequência e de
maneiras. As crianças podem perceber sentir e ouvir, forma permanente nas instituições. As atividades que buscam
deixando-se guiar pela sensibilidade, pela imaginação e pela valorizar a linguagem musical e que destacam sua autonomia,
sensação que a música lhes sugere e comunica. Poderão ser valor expressivo e cultural (jogos de improvisação,
apresentadas partes de composições ou peças breves, danças, interpretação e composição) podem ser realizadas duas ou
repertório da música chamada descritiva, assim como aquelas três vezes por semana, em períodos curtos de até vinte ou
que foram criadas visando a apreciação musical infantil. trinta minutos, para as crianças maiores.
A produção musical de cada região do país é muito rica, de Podem ser, também, realizados projetos que integrem
modo que se pode encontrar vasto material para o vários conhecimentos ligados à produção musical. A
desenvolvimento do trabalho com as crianças. Nos grandes construção de instrumentos, por exemplo, pode se constituir
centros urbanos, a música tradicional popular vem perdendo em um projeto por meio do qual as crianças poderão:
sua força e cabe aos professores resgatar e aproximar as - explorar materiais adequados à confecção;
crianças dos valores musicais de sua cultura. - desenvolver recursos técnicos para a confecção do
As músicas de outros países também devem ser instrumento;
apresentadas e a linguagem musical deve ser tratada e - informar-se sobre a origem e história do instrumento
entendida em sua totalidade: como linguagem presente em musical em questões;
todas as culturas, que traz consigo a marca de cada criador, - vivenciar e entender questões relativas a acústica e
cada povo, cada época. O contato das crianças com produções produção do som;
musicais diversas deve, também, prepará-las para - fazer música, por meio da improvisação ou composição,
compreender a linguagem musical como forma de expressão no momento em que os instrumentos criados estiverem
individual e coletiva e como maneira de interpretar o mundo. prontos.
Da mesma forma, podem ser desenvolvidos projetos
Orientações gerais para o professor envolvendo jogos e brincadeiras de roda, gêneros musicais etc.
diferentes tamanhos; tubos de papelão e de conduíte; retalhos no Itororó”, “A linda rosa juvenil”, “A canoa virou”, ou
de madeira; caixas de frutas; embalagens etc. Também, é “Terezinha de Jesus”.
preciso ter grãos, pedrinhas, sementes, elásticos, bexigas, Os jogos sonoro-musicais possibilitam a vivência de
plásticos, retalhos de panos, fita crepe e/ou adesiva, cola etc., questões relacionadas ao som (e suas características), ao
além de tintas e outros materiais destinados ao acabamento e silêncio e à música.
decoração dos materiais criados. Brincar de estátuas é um exemplo de jogo em que, por meio
A experiência de construir materiais sonoros é muito rica. do contraste entre som e silêncio, se desenvolve a expressão
Acima de tudo é preciso que em cada região do país este corporal, a concentração, a disciplina e a atenção. A tradicional
trabalho aproveite os recursos naturais, os materiais brincadeira das cadeiras é um outro exemplo de jogo que pode
encontrados com mais facilidade e a experiência dos artesãos ser realizado com as crianças.
locais, que poderão colaborar positivamente para o Jogos de escuta dos sons do ambiente, de brinquedos, de
desenvolvimento do trabalho com as crianças. objetos ou instrumentos musicais; jogos de imitação de sons
Tão importante quanto confeccionar os próprios vocais, gestos e sons corporais; jogos de adivinhação nos quais
instrumentos e objetos sonoros é poder fazer música com eles, é necessário reconhecer um trecho de canção, de música
postura essencial a ser adotada nesse processo. conhecida, de timbres de instrumentos etc.; jogos de direção
sonora para percepção da direção de uma fonte sonora; e jogos
Jogos e brincadeiras de memória, de improvisação etc. são algumas sugestões que
A música, na educação infantil mantém forte ligação com o garantem às crianças os benefícios e alegrias que a atividade
brincar. Em algumas línguas, como no inglês (to play) e no lúdica proporciona e que, ao mesmo tempo, desenvolvem
francês (jouer), por exemplo, usa-se o mesmo verbo para habilidades, atitudes e conceitos referentes à linguagem
indicar tanto as ações de brincar quanto as de tocar música. musical.
Em todas as culturas as crianças brincam com a música. Jogos
e brinquedos musicais são transmitidos por tradição oral, Organização do espaço
persistindo nas sociedades urbanas nas quais a força da O espaço no qual ocorrerão as atividades de música deve
cultura de massas é muito intensa, pois são fonte de vivências ser dotado de mobiliário que possa ser disposto e
e desenvolvimento expressivo musical. Envolvendo o gesto, o reorganizado em função das atividades a serem desenvolvidas.
movimento, o canto, a dança e o faz-de-conta, esses jogos e Em geral, as atividades de música requerem um espaço
brincadeiras são expressão da infância. Brincar de roda, amplo, uma vez que estão intrinsecamente ligadas ao
ciranda, pular corda, amarelinha etc. são maneiras de movimento. Para a atividade de construção de instrumentos,
estabelecer contato consigo próprio e com o outro, de se sentir no entanto, será interessante contar com um espaço com
único e, ao mesmo tempo, parte de um grupo, e de trabalhar mesas e cadeiras onde as crianças possam sentar-se e
com as estruturas e formas musicais que se apresentam em trabalhar com calma.
cada canção e em cada brinquedo. O espaço também deve ser preparado de modo a estimular
Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem o interesse e a participação das crianças, contando com alguns
os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os brincos, as estímulos sonoros.
mnemônicas e as parlendas propriamente ditas); as rondas
(canções de roda); as adivinhas; os contos; os romances etc. Os As fontes sonoras
acalantos e os chamados brincos são as formas de brincar O trabalho com a música deve reunir toda e qualquer fonte
musical característicos da primeira fase da vida da criança. Os sonora: brinquedos, objetos do cotidiano e instrumentos
acalantos são entoados pelos adultos para tranquilizar e musicais de boa qualidade. É preciso lembrar que a voz é o
adormecer bebês e crianças pequenas; os brincos são as primeiro instrumento e o corpo humano é fonte de produção
brincadeiras rítmico-musicais com que os adultos entretêm e sonora.
animam as crianças, como “Serra, serra, serrador, serra o papo É importante que o professor possa estar atento a maior ou
do vovô”, e suas muitas variantes encontradas pelo país afora, menor adequação dos diversos instrumentos à faixa etária de
que é cantarolado enquanto se imita o movimento do serrador. zero a seis anos. Pode-se confeccionar diversos materiais
“Palminhas de guiné, pra quando papai vier...”, “Dedo mindinho, sonoros com as crianças, bem como introduzir brinquedos
seu vizinho, maior de todos...”, “Upa, upa, cavalinho...” são sonoros populares, instrumentos étnicos etc. O trabalho
exemplos de brincos que, espontaneamente, os adultos musical a ser desenvolvido nas instituições de educação
realizam junto aos bebês e crianças. infantil pode ampliar meios e recursos pela inclusão de
As parlendas propriamente ditas e as mnemônicas são materiais simples aproveitados do dia-a-dia ou presentes na
rimas sem música. As parlendas servem como fórmula de cultura da criança.
escolha numa brincadeira, como trava-línguas etc., como os Os brinquedos sonoros e os instrumentos de efeito sonoro
seguintes exemplos: “Rei, capitão, soldado, ladrão, moço bonito são materiais bastante adequados ao trabalho com bebês e
do meu coração...”; “Lá em cima do piano tem um copo de crianças pequenas. Com relação aos brinquedos, devem-se
veneno, quem bebeu morreu, o azar foi seu...”. Os trava-línguas valorizar os populares, como a matraca, o “rói-rói” ou “berra-
são parlendas caracterizadas por sua pronunciação difícil: boi” do Nordeste; os piões sonoros as sirenes e apitos etc., além
“Num ninho de mafagafos/ Seis mafagafinhos há/ Quem os dos tradicionais chocalhos de bebês, alguns dos quais
desmafagafizar/ Bom desmafagafizador será...”, ou ainda, “Nem portadores de timbres bastante especiais.
a aranha arranha o jarro, nem o jarro arranha a aranha...”. Pios de pássaros, sinos de diferentes tamanhos, folhas de
As mnemônicas referem-se a conteúdos específicos, acetato, brinquedos que imitam sons de animais, entre outros,
destinados a fixar ou ensinar algo como número ou nomes: são materiais interessantes que podem ser aproveitados na
“Um, dois, feijão com arroz/ Três, quatro, feijão no prato/ Cinco, realização das atividades musicais. Os pios de pássaros, por
seis, feijão inglês/ Sete, oito, comer biscoito/ Nove, dez, comer exemplo, além de servirem à sonorização de histórias, podem
pastéis...”, ou “Una, duna, tena, catena/ Bico de pena, solá, estimular a discriminação auditiva, o mesmo acontecendo com
soladá/ Gurupi, gurupá/ Conte bem que são dez...”. os diferentes sinos. Um tipo de sino, chamado de “chocalho”,
As rondas ou brincadeiras de roda integram poesia, música no Nordeste, e de “cencerro”, no Sul do país, e que costuma ser
e dança. No Brasil, receberam influências de várias culturas, pendurado no pescoço de animais com a função de sinalizar a
especialmente a lusitana, africana, ameríndia, espanhola e direção, pode, por exemplo, ser utilizado no processo de
francesa: “A moda da carranquinha”, “Você gosta de mim”, “Fui musicalização das crianças em improvisações ou pequenos
arranjos e também em exercícios de discriminação,
diferentes gêneros e estilos musicais e pela confecção de • IHU. TODOS OS SONS. Marlui Miranda, Pau Brasil, 1995.
materiais sonoros. Cantos indígenas.
A conquista de habilidades musicais no uso da voz, do • IMAGINATIONS. Pour l’expression corporelle. Vols. 1 a 6.
corpo e dos instrumentos deve ser observada, acompanhada e Andrée Huet, Auvidis Distribution.
estimulada, tendo-se claro que não devem constituir-se em • LULLABIES AND CHILDREN’S SONGS. Unesco Collection.
fins em si mesmas e que pouco valem se não estiverem • MADEIRA QUE CUPIM NÃO RÓI. Antonio Nóbrega,
integradas a um contexto em que o valor da música como Brincante, SP, 1997.
forma de comunicação e representação do mundo se faça • MA MÈRE L’OYE. Maurice Ravel.
presente. • MEU PÉ, MEU QUERIDO PÉ. Helio Ziskindi, Velas, 1997.
Uma maneira interessante de propiciar a auto avaliação • MONJOLEAR. Dércio e Doroty Marques, MG.
das crianças nessa faixa etária é o uso da gravação de suas • MÚSICA NA ESCOLA. Material didático, SEE-MG.
produções. Ouvindo, as crianças podem perceber detalhes: se • MÚSICA PARA BEBÊS. Movieplay Brasil, 1994.
cantaram gritando ou não; se o volume dos instrumentos ou • NA PANCADA DO GANZÁ. Antonio Nóbrega, Brincante,
objetos sonoros estava adequado; se a história sonorizada SP, 1996.
ficou interessante; se os sons utilizados aproximaram-se do • O APRENDIZ DE FEITICEIRO. Paul Dukas.
real etc. • O CARNAVAL DOS ANIMAIS. C. Saint-Saëns.
• O GRANDE CIRCO MÍSTICO. Edu Lobo e Chico Buarque,
Sugestões De Obras Musicais E Discografia Som Livre.
• O MENINO POETA. Antonio Madureira, Estúdio Eldorado.
• A ARCA DE NOÉ. Toquinho e Vinicius de Morais. Vols. 1 e • OS SALTIMBANCOS. Adaptação de Chico Buarque,
2. Polygram, 1980. Philips.
• ACALANTOS BRASILEIROS. Discos Marcus Pereira, 1978. • QUERO PASSEAR. Grupo Rumo/Velas.
• ACERVO FUNARTE, MÚSICA BRASILEIRA. Coleção • RÁ-TIM-BUM. TV Cultura/Fiesp/Sesi, Eldorado.
relançada em CD pelo Instituto Itaú Cultural, SP, 1997 e 1998. • RODA GIGANTE. Canções de Gustavo Kurlat, Escola Viva,
• AÇÃO DOS BACURAUS CANTANTES. João Bá, Devil SP.
Discos, SP, 1997. • RUIDOS Y RUIDITOS. Vols.1, 2, 3 e 4. Judith Akoschky,
• ADIVINHA O QUE É? MPB-4, Ariola, 1981. Tarka, Buenos Aires.
• ANJOS DA TERRA. Dércio Marques, Devil Discos, SP. • SEGREDOS VEGETAIS. Dércio Marques, Belo Horizonte,
• AS MAIS BELAS CANTIGAS DE RODA. M. Viana/Nave dos MG.
Sonhos. • SUÍTE QUEBRA-NOZES. Tchaikovsky.
• BANDEIRA DE SÃO JOÃO. Antonio José Madureira, Selo • THE CHILDREN’S ALBUM. Tchaikovsky.
Eldorado, 1987. • VILLA-LOBOS ÀS CRIANÇAS. Jerzy Milewski, Cantabile
• BAILE DO MENINO DEUS. Antonio José Madureira, Projetos de Arte, RJ.
Estúdio Eldorado. • VILLA-LOBOS DAS CRIANÇAS. Espetáculo musical de
• BORORO VIVE. UFMT. Cantos dos índios Bororo. cantigas infantis, Estúdio Eldorado, 1987.
• BRINCADEIRAS DE RODA, ESTÓRIAS E CANÇÕES DE • VILLA-LOBOS PARA CRIANÇAS. Seleção do Guia Prático
NINAR. Solange Maria, Antonio Nóbrega, Selo Eldorado, 1983. de Heitor Villa-Lobos, Acervo Funarte, Música Brasileira,
• BRINCANDO DE RODA. Solange Maria e Coral Infantil, Instituto Itaú Cultural, SP, 1996.
Selo Eldorado, 1997. Canções.
• CANÇÕES DE BRINCAR. Coleção Palavra Cantada, Velas, Artes Visuais - Introdução
1996.
• CANÇÕES DE NINAR. Coleção Palavra Cantada, As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem
Salamandra/Camerati. sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade
• CANTO DO POVO DAQUI. Teca-Oficina de Música, SP, por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto
1996. bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço,
• CARRANCAS. João Bá, Eldorado, SP. Canções. cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na
• CASA DE BRINQUEDOS. Toquinho, Polygram, 1995. arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc.
Canções. O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o
• CASTELO RA-TIM-BUM. TV Cultura/SESI, Velas, 1995. contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são
• COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO NORTE. Discos Marcus atributos da criação artística. A integração entre os aspectos
Pereira. sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim
• COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO NORDESTE. Discos como a promoção de interação e comunicação social, conferem
Marcus Pereira. caráter significativo às Artes Visuais.
• COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO CENTRO-OESTE. Discos As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da vida
Marcus Pereira. infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos muros,
• COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO SUDESTE. Discos ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gravetos, pedras,
Marcus Pereira. carvão), ao pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo, a
• COLEÇÃO MÚSICA POPULAR DO SUL. Discos Marcus criança pode utilizar-se das Artes Visuais para expressar
Pereira. experiências sensíveis.
• CORALITO. Thelma Chan, SP. Canções. Tal como a música, as Artes Visuais são linguagens e,
• CIRANDAS E CIRANDINHAS, H. VILLA- LOBOS. Roberto portanto, uma das formas importantes de expressão e
Szidon, piano, Kuarup, RJ, 1979. comunicação humanas, o que, por si só, justifica sua presença
• CLÁSSICOS DIVERTIDOS. Globo/Polydor. no contexto da educação, de um modo geral, e na educação
• DOIS A DOIS. Grupo Rodapião, Belo Horizonte, MG, 1997. infantil, particularmente.
• ESTRELINHAS. Carlos Savalla, RJ.
• ETENHIRITIPÁ. Cantos da Tradição Xavante, Quilombo Presença das artes visuais na educação infantil: ideias
Música, 1994. e práticas correntes
• FOR CHILDREN. Béla Bartók. Piano solo, vols. 1 e 2, Zoltán
Kocsis, piano, Paulus. A presença das Artes Visuais na educação infantil, ao longo
da história, tem demonstrado um descompasso entre os
caminhos apontados pela produção teórica e a prática cuja aprendizagem, no âmbito prático e reflexivo, se dá por
pedagógica existente. Em muitas propostas as práticas de meio da articulação dos seguintes aspectos:
Artes Visuais são entendidas apenas como meros passatempos - fazer artístico: centrado na exploração, expressão e
em que atividades de desenhar, colar, pintar e modelar com comunicação de produção de trabalhos de arte por meio de
argila ou massinha são destituídas de significados. práticas artísticas, propiciando o desenvolvimento de um
Outra prática corrente considera que o trabalho deve ter percurso de criação pessoal.
uma conotação decorativa, servindo para ilustrar temas de - apreciação: percepção do sentindo que o objeto propõe,
datas comemorativas, enfeitar as paredes com motivos articulando-o tanto aos elementos da linguagem visual quanto
considerados infantis, elaborar convites, cartazes e pequenos aos materiais e suportes utilizados, visando desenvolver, por
presentes para os pais etc. meio da observação e da fruição, a capacidade de construção
Nessa situação, é comum que os adultos façam grande do sentido, reconhecimento, análise e identificação de obras
parte do trabalho, uma vez que não consideram que a criança de arte e de seus produtores.
tem competência para elaborar um produto adequado. - reflexão: considerado tanto no fazer artístico como na
As Artes Visuais têm sido, também, bastante utilizadas apreciação é um pensar sobre todos os conteúdos do objeto
como reforço para a aprendizagem dos mais variados artístico que se manifesta em sala, compartilhando perguntas
conteúdos. São comuns as práticas de colorir imagens feitas e afirmações que a criança realiza instigada pelo professor e
pelos adultos em folhas mimeografadas, como exercícios de no contato com suas próprias produções e as dos artistas.
coordenação motora para fixação e memorização de letras e
números. O desenvolvimento da imaginação criadora, da expressão,
As pesquisas desenvolvidas a partir do início do século em da sensibilidade e das capacidades estéticas das crianças
vários campos das ciências humanas trouxeram dados poderão ocorrer no fazer artístico, assim como no contato com
importantes sobre o desenvolvimento da criança, sobre o seu a produção de arte presente nos museus, igrejas, livros,
processo criador e sobre as artes das várias culturas. Na reproduções, revistas, gibis, vídeos, CD-ROM, ateliês de
confluência da antropologia, da filosofia, da psicologia, da artistas e artesãos regionais, feiras de objetos, espaços
psicanálise, da crítica de arte, da psicopedagogia e das urbanos etc. O desenvolvimento da capacidade artística e
tendências estéticas da modernidade, surgiram autores que criativa deve estar apoiado, também, na prática reflexiva das
formularam os princípios inovadores para o ensino das artes, crianças ao aprender, que articula a ação, a percepção, a
da música, do teatro e da dança. Tais princípios reconheciam a sensibilidade, a cognição e a imaginação.
arte da criança como manifestação espontânea e auto
expressiva: valorizavam a livre expressão e a sensibilização A criança e as artes visuais
para o experimento artístico como orientações que visavam ao
desenvolvimento do potencial criador, ou seja, as propostas O trabalho com as Artes Visuais na educação infantil
eram centradas nas questões do desenvolvimento da criança. requer profunda atenção no que se refere ao respeito das
Tais orientações trouxeram inegável contribuição para peculiaridades e esquemas de conhecimento próprios a cada
que se valorizasse a produção criadora infantil, mas o faixa etária e nível de desenvolvimento. Isso significa que o
princípio revolucionário que advogava a todos a necessidade e pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a percepção, a
a capacidade da expressão artística aos poucos se transformou intuição e a cognição da criança devem ser trabalhados de
em “um deixar fazer” sem nenhum tipo de intervenção, no qual forma integrada, visando a favorecer o desenvolvimento das
a aprendizagem das crianças pôde evoluir muito pouco. capacidades criativas das crianças.
O questionamento da livre expressão e da ideia de que a No processo de aprendizagem em Artes Visuais a criança
aprendizagem artística era uma consequência automática dos traça um percurso de criação e construção individual que
processos de desenvolvimento resultaram em um movimento, envolve escolhas, experiências pessoais, aprendizagens,
em vários países, pela mudança nos rumos do ensino de arte. relação com a natureza, motivação interna e/ou externa. O
Surge a constatação de que o desenvolvimento artístico é percurso individual da criança pode ser significativamente
resultado de formas complexas de aprendizagem e, portanto, enriquecido pela ação educativa intencional; porém, a criação
não ocorre automaticamente à medida que a criança cresce. artística é um ato exclusivo da criança. É no fazer artístico e no
A arte da criança, desde cedo, sofre influência da cultura, contato com os objetos de arte que parte significativa do
seja por meio de materiais e suportes com que faz seus conhecimento em Artes Visuais acontece. No decorrer desse
trabalhos, seja pelas imagens e atos de produção artística que processo, o prazer e o domínio do gesto e da visualidade
observa na TV, em revistas, em gibis, rótulos, estampas, obras evoluem para o prazer e o domínio do próprio fazer artístico,
de arte, trabalhos artísticos de outras crianças etc. da simbolização e da leitura de imagens.
Embora seja possível identificar espontaneidade e O ponto de partida para o desenvolvimento estético e
autonomia na exploração e no fazer artístico das crianças, seus artístico é o ato simbólico que permite reconhecer que os
trabalhos revelam: o local e a época histórica em que vivem; objetos persistem, independentes de sua presença física e
suas oportunidades de aprendizagem; suas ideias ou imediata. Operar no mundo dos símbolos é perceber e
representações sobre o trabalho artístico que realiza e sobre a interpretar elementos que se referem a alguma coisa que está
produção de arte à qual têm acesso, assim como seu potencial fora dos próprios objetos. Os símbolos reapresentam o mundo
para refletir sobre ela. a partir das relações que a criança estabelece consigo mesma,
As crianças têm suas próprias impressões, ideias e com as outras pessoas, com a imaginação e com a cultura.
interpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico. Tais Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz
construções são elaboradas a partir de suas experiências ao de, ocasionalmente, manter ritmos regulares e produzir seus
longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte, primeiros traços gráficos, considerados muito mais como
com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças movimentos do que como representações. É a conhecida fase
exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas dos rabiscos, das garatujas. A repetida exploração e
experiências. A partir daí constroem significações sobre como experimentação do movimento amplia o conhecimento de si
se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a próprio, do mundo e das ações gráficas. Muito antes de saber
respeito da arte. representar graficamente o mundo visual, a criança já o
Nesse sentido, as Artes Visuais devem ser concebidas como reconhece e identifica nele qualidades e funções. Mais tarde,
uma linguagem que tem estrutura e características próprias, quando controla o gesto e passa a coordená-lo com o olhar,
começa a registrar formas gráficas e embora todas as
modalidades artísticas devam ser contempladas pelo As atividades em artes plásticas que envolvem os mais
professor, a fim de diversificar a ação das crianças na diferentes tipos de materiais indicam às crianças as
experimentação de materiais, do espaço e do próprio corpo, possibilidades de transformação, de reutilização e de
destaca-se o desenvolvimento do desenho por sua construção de novos elementos, formas, texturas etc. A relação
importância no fazer artístico delas e na construção das que a criança pequena estabelece com os diferentes materiais
demais linguagens visuais (pintura, modelagem, construção se dão, no início, por meio da exploração sensorial e da sua
tridimensional, colagens). O desenvolvimento progressivo do utilização em diversas brincadeiras. Representações
desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem bidimensionais e construção de objetos tridimensionais
respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para nascem do contato com novos materiais, no fluir da
construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os imaginação e no contato com as obras de arte.
primeiros símbolos. Para construir, a criança utiliza-se das características
Imagens de sol, figuras humanas, animais, vegetação e associativas dos objetos, seus usos simbólicos, e das
carros, entre outros, são frequentes nos desenhos das crianças, possibilidades reais dos materiais, a fim de, gradativamente,
reportando mais a assimilações dentro da linguagem do relacioná-los e transformá-los em função de diferentes
desenho do que a objetos naturais. Essa passagem é possível argumentos.
graças às interações da criança com o ato de desenhar e com
desenhos de outras pessoas. Objetivos
Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é
simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente Crianças de zero a três anos
prazer ao constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. A instituição deve organizar sua prática em torno da
A percepção de que os gestos, gradativamente, produzem aprendizagem em arte, garantindo oportunidades para que as
marcas e representações mais organizadas permite à criança o crianças sejam capazes de:
reconhecimento dos seus registros. - ampliar o conhecimento de mundo que possuem,
No decorrer do tempo, as garatujas, que refletiam manipulando diferentes objetos e materiais, explorando suas
sobretudo o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e características, propriedades e possibilidades de manuseio e
vir, transformam-se em formas definidas que apresentam entrando em contato com formas diversas de expressão
maior ordenação, e podem estar se referindo a objetos artística;
naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros desenhos. - utilizar diversos materiais gráficos e plásticos sobre
Na medida em que crescem, as crianças experimentam diferentes superfícies para ampliar suas possibilidades de
agrupamentos, repetições e combinações de elementos expressão e comunicação.
gráficos, inicialmente soltos e com uma grande gama de
possibilidades e significações, e, mais tarde, circunscritos a Crianças de quatro a seis anos
organizações mais precisas. Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária
Apresentam cada vez mais a possibilidade de exprimir de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados,
impressões e julgamentos sobre seus próprios trabalhos. garantindo-se, ainda, oportunidades para que as crianças
Enquanto desenham ou criam objetos também brincam de sejam capazes de:
“faz-de-conta” e verbalizam narrativas que exprimem suas - interessar-se pelas próprias produções, pelas de outras
capacidades imaginativas, ampliando sua forma de sentir e crianças e pelas diversas obras artísticas (regionais, nacionais
pensar sobre o mundo no qual estão inseridas. ou internacionais) com as quais entrem em contato, ampliando
Na evolução da garatuja para o desenho de formas mais seu conhecimento do mundo e da cultura;
estruturadas, a criança desenvolve a intenção de elaborar - produzir trabalhos de arte, utilizando a linguagem do
imagens no fazer artístico. Começando com símbolos muito desenho, da pintura, da modelagem, da colagem, da
simples, ela passa a articulá-los no espaço bidimensional do construção, desenvolvendo o gosto, o cuidado e o respeito pelo
papel, na areia, na parede ou em qualquer outra superfície. processo de produção e criação.
Passa também a constatar a regularidade nos desenhos
presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem
acesso, incorporando esse conhecimento em suas próprias Conteúdos
produções.
No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que o Os conteúdos estão organizados em dois blocos. O
desenho serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre o primeiro bloco se refere ao fazer artístico e o segundo trata da
mundo e esse saber estará relacionado a algumas fontes, como apreciação em Artes Visuais.
a análise da experiência junto a objetos naturais (ação física e A organização por blocos visa a oferecer visibilidade às
interiorizada); o trabalho realizado sobre seus próprios especificidades da aprendizagem em artes, embora as crianças
desenhos e os desenhos de outras crianças e adultos; a vivenciem esses conteúdos de maneira integrada.
observação de diferentes objetos simbólicos do universo
circundante; as imagens que cria. O fazer artístico
No decorrer da simbolização, a criança incorpora Crianças de zero a três anos
progressivamente regularidades ou códigos de representação - Exploração e manipulação de materiais, como lápis e
das imagens do entorno, passando a considerar a hipótese de pinceis de diferentes texturas e espessuras, brochas, carvão,
que o desenho serve para imprimir o que se vê. carimbo, etc: de meios como tintas, água, areia, terra, argila,
É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria etc.: e de variados suportes gráficos, como jornal, papel,
individualmente formas expressivas, integrando percepção, papelão, parede, chão, caixas, madeiras, etc.
imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser - Exploração e reconhecimento de diferentes movimentos
apropriadas pelas leituras simbólicas de outras crianças e gestuais, visando a produção de marcas gráficas.
adultos. - Cuidado com o próprio corpo e dos colegas no contato
A imitação, largamente utilizada no desenho pelas crianças com os suportes e materiais de artes.
e por muitos combatida, desenvolve uma função importante - Cuidado com os materiais e com os trabalhos e objetos
no processo de aprendizagem. Imitar decorre antes de uma produzidos individualmente ou em grupo.
experiência pessoal, cuja intenção é a apropriação de
conteúdos, de formas e de figuras por meio da representação.
Orientações didáticas principalmente com os olhos, boca, nariz e pele, quando elas
Considera-se aqui a utilização de instrumentos, materiais manuseiam diferentes materiais, instrumentos e objetos.
e suportes diversos, como lápis, pincéis, tintas, papéis, cola A seleção dos materiais deve ser subordinada à segurança
etc., para o fazer artístico a partir do momento em que as que oferecem. Devem-se evitar materiais tóxicos, cortantes ou
crianças já tenham condições motoras para seu manuseio. aqueles que apresentam possibilidade de machucar ou
As crianças podem manusear diferentes materiais, provocar algum dano para a saúde das crianças.
perceber marcas, gestos e texturas, explorar o espaço físico e Os diversos materiais para produções artísticas devem ser
construir objetos variados. Essas atividades devem ser bem organizados de maneira a que as crianças tenham fácil acesso
dimensionadas e delimitadas no tempo, pois o interesse das a eles. Isso contribui para que elas possam cuidar dos
crianças desta faixa etária é de curta duração, e o prazer da materiais de uso individual e coletivo, desenvolvendo noções
atividade advém exatamente da ação exploratória. Nesse relacionadas à sua conservação.
sentido, a confecção de tintas e massas com as crianças é uma
excelente oportunidade para que elas possam descobrir Crianças de quatro a seis anos
propriedades e possibilidades de registro, além de observar - Criação de desenhos, pinturas, colagens, modelagens a
transformações. Vários tipos de tintas podem ser criados pelas partir de seu próprio repertório e da utilização dos elementos
crianças, utilizando elementos da natureza, como folhas, da linguagem das Artes Visuais: ponto, linha, forma, cor,
sementes, flores, terras de diferentes cores e texturas que, volume, espaço, textura etc.
misturadas com água ou outro meio e peneiradas, criam - Exploração e utilização de alguns procedimentos
efeitos instigantes quando usadas nas pinturas. Há também necessários para desenhar, pintar, modelar, etc.
diversas receitas de massas caseiras com corantes comestíveis - Exploração e aprofundamento das possibilidades
que são excelentes para modelagem. Outra possibilidade é oferecidas pelos diversos materiais, instrumentos e suportes
pesquisar junto com as crianças a existência de locais necessários para o fazer artístico.
próximos à instituição de onde se podem extrair tipos de barro - Exploração dos espaços bidimensionais e tridimensionais
propícios a modelagens. na realização de seus projetos artísticos.
O trabalho com estruturas tridimensionais também pode - Organização e cuidado com os materiais no espaço físico
ser desenvolvido por meio da colagem, montagem e da sala.
justaposição de sucatas previamente selecionadas, limpas e - Respeito e cuidado com os objetos produzidos
organizadas, provenientes de embalagens diversas, elementos individualmente e em grupo.
da natureza, tecidos etc. É preciso observar cuidadosamente - Valorização de suas próprias produções, das de outras
que as sucatas selecionadas sejam adequadas ao trabalho que crianças e da produção de arte em geral.
se quer desenvolver. Assim, para um jogo de construção, por
exemplo, é preciso oferecer sucatas que possam ser Orientações didáticas
empilhadas, encaixadas, justapostas etc. Da mesma forma, Para que as crianças possam criar suas produções, é
para trabalhos de colagem, as sucatas devem oferecer uma preciso que o professor ofereça oportunidades diversas para
superfície que aceite a cola e que permitam a composição com que elas se familiarizem com alguns procedimentos ligados
diferentes suportes e materiais. É importante considerar, aos materiais utilizados, aos diversos tipos de suporte e para
ainda, o percurso individual de cada criança, evitando-se a que possam refletir sobre os resultados obtidos.
construção de modelos padronizados. É aconselhável, portanto, que o trabalho seja organizado
Quando se tratar de atividades de desenho ou pintura, é de forma a oferecer às crianças a possibilidade de contato, uso
aconselhável que o professor esteja atento para oferecer e exploração de materiais, como caixas, latinhas, diferentes
suportes variados e de diferentes tamanhos para serem papéis, papelões, copos plásticos, embalagens de produtos,
utilizados individualmente ou em pequenos grupos, como pedaços de pano etc. É indicada a inclusão de materiais típicos
panos, papéis ou madeiras, que permitam a liberdade do gesto das diferentes regiões brasileiras, pois além de serem mais
solto, do movimento amplo e que favoreçam um trabalho de acessíveis, possibilitam a exploração de referenciais regionais.
exploração da dimensão espacial, tão necessária às crianças Para que a criança possa desenhar, é importante que ela
desta faixa etária. possa fazê-lo livremente sem intervenção direta, explorando
As marcas gráficas realizadas em diferentes superfícies, os diversos materiais, como lápis preto, lápis de cor, lápis de
inclusive no próprio corpo, permitem a percepção das cera, canetas, carvão, giz, penas, gravetos etc., e utilizando
variadas possibilidades de impressão. A articulação entre as suportes de diferentes tamanhos e texturas, como papéis,
sensações corporais e as marcas gráficas, bem como o registro cartolinas, lixas, chão, areia, terra etc.
gráfico que surgir daí, fornecerá às crianças um maior Há várias intervenções possíveis de serem realizadas e que
conhecimento de si mesmas e poderá contribuir para as contribuem para o desenvolvimento do desenho da criança.
atividades de representação da própria imagem, dos Uma delas é, partindo das produções já feitas pelas crianças,
sentimentos e de suas experiências corporais. Essas atividades sugerir-lhes, por exemplo, que copiem seus próprios desenhos
podem se dar sobre a areia seca ou molhada, na terra, sobre em escala maior ou menor. Esse tipo de atividade possibilita
diferentes tipos e tamanhos de papel etc. Pode-se, por que a criança reflita sobre seu próprio desenho e organize de
exemplo, utilizar tinta para imprimir marcas em um papel maneira diferente os pontos, as linhas e os traçados no espaço
comprido sobre o qual as crianças caminham e vão do papel. Outra possibilidade é utilizar papéis que já
percebendo, aos poucos, que as inscrições, que no início eram contenham algum tipo de intervenção, como, por exemplo, um
bem visíveis, vão ficando cada vez mais fracas até risco, um recorte, uma colagem de parte de uma figura etc.,
desaparecerem. para que a criança desenhe a partir disso.
Sugere-se que sejam apresentadas atividades variadas que É interessante propor às crianças que façam desenhos a
trabalhem uma mesma informação de diversas formas. Pode- partir da observação das mais diversas situações, cenas,
se, por exemplo, eleger um instrumento, como o pincel, para pessoas e objetos. O professor pode pedir que observem e
crianças que já manejem esse instrumento, e usá-lo sobre desenhem a partir do que viram. Por exemplo, as crianças
diferentes superfícies (papel liso, rugado, lixa, argila etc.) ou podem perceber as formas arredondadas dos calcanhares,
um mesmo meio, como a tinta, por exemplo, em diversas distinguir os diferentes tamanhos dos dedos, das unhas,
situações (soprada em canudo, com esponjas, com carimbos observar a sola do pé e a parte superior dele, bem como as
etc.). É preciso trabalhar com as crianças os cuidados características que diferenciam os pés de cada um.
necessários com o próprio corpo e com o corpo dos outros,
As histórias, as imagens significativas ou os fatos do e o interesse das crianças, como: “O que você mais gostou?”,
cotidiano podem ampliar a possibilidade de as crianças “Como o artista conseguiu estas cores?”, “Que instrumentos e
escolherem temas para trabalhar expressivamente. Tais meios ele usou?”, “O que você acha que foi mais difícil para ele
intervenções educativas devem ser feitas com o objetivo de fazer?”. Este é um bom momento para descobrir que temas são
ampliar o repertório e a linguagem pessoal das crianças e mais significativos para elas. O professor poderá criar espaços
enriquecer seus trabalhos. Os temas e as intervenções podem para a construção de uma observação mais apurada,
ser um recurso interessante desde que sejam observados seus instigando a descrição daquilo que está sendo observado.
objetivos e função no desenvolvimento do percurso de criação É aconselhável que o professor interfira nessas
pessoal da criança. É preciso, no entanto, ter atenção quanto a observações, aguçando as descobertas, fomentando as
programação de atividades para as crianças para se favorecer verbalizações e até ajudando as crianças na apreensão
também aquelas originárias das suas próprias ideias ou significativa do conteúdo geral da imagem, deixando sempre
geradas pelo contato com os mais diversos materiais. que as crianças sejam as autoras das interpretações. É
O professor, conhecendo bem o grupo, pode apresentar interessante fornecer dados sobre a vida do autor, suas obras
sugestões e auxiliar as crianças a desenvolverem as propostas e outras características. As informações vão sendo
pelas quais optaram, indicando materiais mais adequados a simplificadas ou aprofundadas conforme a curiosidade e as
cada uma. possibilidades do grupo. Algumas crianças destacarão cores e
As criações tridimensionais devem ser feitas em etapas, outras, dependendo da sensibilidade, poderão arriscar
pois exigem diversas ações, como colagem, pintura, montagem comentários sobre a similaridade gráfica entre o trabalho do
etc. Fazer maquetes de cidades ou brinquedos são exemplos de artista e de suas próprias produções. Evidentemente, é
atividades que podem ser realizadas e que envolvem a necessário que o professor escolha um determinado contexto
composição de volumes, proporcionalidades, equilíbrios etc. para que certa imagem possa ser apresentada, permitindo,
Guardar, organizar a sala e documentar as produções são inclusive, que os trabalhos em Artes Visuais aconteçam
ações que podem ajudar cada criança na percepção de seu também em atividades interdisciplinares, que são muito
processo evolutivo e do desenrolar das etapas de trabalho. pertinentes nas relações de ensino e aprendizagem.
Essa é uma tarefa que o professor poderá realizar junto ao As crianças têm prazer em reconhecer certas figuras,
grupo. A exposição dos trabalhos realizados é uma forma de identificando-as às personagens de uma história já conhecida,
propiciar a leitura dos objetos feitos pelas crianças e a de um desenho e, até mesmo, de alguns filmes vistos na
valorização de suas produções. televisão. Então, a partir da visualização de certas imagens, o
professor poderá trabalhar com essas personagens por meio
Apreciação em Artes Visuais de jogos simbólicos, fazendo pequenas dramatizações dentro
Crianças de zero a três anos do próprio espaço que a sala oferece, aproveitando os objetos
- Observação e identificação de imagem diversas; presentes.
As crianças podem observar imagens figurativas fixas ou
Orientações didáticas em movimento e produções abstratas. Se for dada a
No que diz respeito às leituras das imagens, deve-se eleger oportunidade para o trabalho com objetos e imagens da
materiais que contemplem a maior diversidade possível e que produção artística (regional, nacional ou internacional), se for
sejam significativos para as crianças. É aconselhável que, por possibilitado o contato com artistas, as visitas às exposições
meio da apreciação, as crianças reconheçam e estabeleçam etc., o professor estará criando possibilidade para que as
relações com o seu universo, podendo conter pessoas, animais, crianças desenvolvam relações entre as representações
objetos específicos às culturas regionais, cenas familiares, visuais e suas vivências pessoais ou grupais, enriquecendo seu
cores, formas, linhas etc. Entretanto, imagens abstratas ou conhecimento do mundo, das linguagens das artes e
renascentistas, por exemplo, também podem ser mostradas instrumentalizando-as como leitoras e produtoras de
para as crianças. Nesses casos, há que se observar o sentido trabalhos artísticos.
narrativo que elas atribuem a essas imagens e considerá-lo Outra questão ainda merece destaque: o que fazer com as
como parte do processo de construção da leitura de imagens. produções das crianças? As respostas são múltiplas. Elas
É aconselhável que as crianças realizem uma observação livre podem virar um brinquedo que será utilizado tão logo a
das imagens e que possam tecer os comentários que quiserem atividade termine; podem ser documentadas e arquivadas
de tal forma que todo o grupo participe. O professor pode atuar para que as crianças adquiram aos poucos a percepção do seu
como um provocador da apreciação e leitura da imagem. processo criativo como um todo e possam atinar para o
Nesses casos o professor deve acolher e socializar as falas das montante de trabalho produzido; podem ser enviadas para
crianças. suas casas para servirem de enfeites nas paredes etc. Mas,
antes disso, as produções devem ser expostas, durante um
Crianças de quatro a seis anos certo período, nas dependências das instituições de educação
- Conhecimento da diversidade de produção artísticas, infantil, tanto nos corredores quanto nas paredes das salas, o
como desenhos, pinturas, esculturas, construções, fotografias, que favorece a sua valorização pelas crianças. Produção,
colagens, ilustrações, cinema, etc. comunicação, exposição, valorização e reconhecimento
- Apreciação das suas produções e das dos outros, por meio formam um conjunto que alimenta a criança no seu
da observação e leitura de alguns dos elementos da linguagem desenvolvimento artístico. A participação em exposições
plástica. organizadas especialmente para dar destaque à produção
- Observação dos elementos constituintes da linguagem infantil colabora com a autoestima das crianças e de seus
visual: ponto, linha, forma, cor, volume, contrastes, luz, familiares.
texturas. É essencial que se incluam atividades que se concentrem
- Leitura de obras de arte a partir da observação, narração, basicamente na leitura das imagens produzidas pelas próprias
descrição e interpretação de imagens e objetos. crianças (desenhos, colagens, recortes, objetos
- Apreciação das Artes Visuais e estabelecimento de tridimensionais, pinturas etc.). Permitir que elas falem sobre
correlação com as experiências pessoais. suas criações e escutem as observações dos colegas sobre seus
trabalhos é um aspecto fundamental do trabalho em artes. É
Orientações didáticas assim que elas poderão reformular suas ideias, construindo
Ao trabalhar com a leitura de imagens, é importante novos conhecimentos a partir das observações feitas, bem
elaborar perguntas que instiguem a observação, a descoberta como desenvolver o contato social com os outros.
Nesta etapa é possível fortalecer o reconhecimento da que querem fazer, é um exemplo de atividade permanente.
singularidade de cada indivíduo na criação, mostrando que Esses ateliês permitem o desenvolvimento do percurso
não existe um jeito certo ou errado de se produzir um trabalho individual de cada criança, na medida em que elas podem fazer
de arte, mas sim um jeito individualizado, singular. Comentar suas escolhas, regular por si mesmas o tempo dedicado a cada
os resultados dos trabalhos possibilita a descoberta do produção e experimentar diversas possibilidades. É
percurso na criação e a percepção das soluções encontradas no aconselhável também que se garanta um tempo na rotina para
processo de construção. Nas leituras grupais, as crianças que as crianças possam desenhar diariamente sem a
elaboram não somente os conteúdos comentados, mas intervenção direta do professor.
estabelecem uma experiência de contato e diálogo com as
outras crianças, desenvolvendo o respeito, a tolerância à Sequências de atividades
diversidade de interpretações ou atribuição de sentido às A sequência de atividades se constitui em uma série
imagens, a admiração e dando uma contribuição às produções planejada e orientada de tarefas, com objetivo de promover
realizadas, por intermédio de uma prática de solidariedade e uma aprendizagem específica e definida. São sequências que
inclusão. É nessa interação ativa que acontecem podem fornecer desafios com diferentes graus de
simultaneamente a observação, a apreciação, a verbalização e complexidade, auxiliando as crianças a resolverem problemas
a ressignificação das produções. Nessas situações, novamente, a partir de diferentes proposições. Por exemplo, se o objetivo
a imaginação, a ação, a sensibilidade, a percepção, o é fazer com que elas avancem em relação à representação da
pensamento e a cognição são reativados. figura humana por meio do desenho, pode-se planejar várias
etapas de trabalho complementares, ajudando-as numa
Orientações gerais para o professor elaboração progressiva e cada vez mais rica de seus
conhecimentos e habilidades, como:
Os conteúdos da aprendizagem em artes poderão ser - jogos de percepção e observação do seu corpo e do corpo
organizados de modo a permitir que, por um lado, a criança de seus colegas.
utilize aquilo que já conhece e tem familiaridade, e, por outro - desenhar a partir de uma interferência colocada
lado, que possa estabelecer novas relações, alargando seu previamente no papel, que pode ser um desenho ou uma
saber sobre os assuntos abordados. colagem de uma parte do corpo humano.
Convém ainda lembrar que a necessidade e o interesse - observação de figuras humanas nas imagens da arte.
também são criados e suscitados na própria situação de - desenho a partir do que foi observado.
aprendizagem. Tendo clareza do seu projeto de trabalho, o - observação de corpos em movimento pesquisados em
professor poderá imprimir maior qualidade à sua ação revistas, em vídeos e, fotos.
educativa ao garantir que: - representação figurativa por meio do desenho das
- a criança possa compreender e conhecer a diversidade da apreensoes perceptivas do corpo.
produção artística na medida em que estabelece contato com - montagem de paineis que contenham ampliações dos
as imagens das artes nos diversos meios, como livros de arte, desenhos de figuras humanas elaboradas pelas crianças do
revistas, visitas às exposições, contato com artistas, filmes, etc. grupo.
- exista a possibilidade do uso de diferentes materiais pelas
crianças, fazendo com que estes sejam percebidos em sua Tanto quanto as atividades livres, as sequências de
diversidade, manipulados e transformados. atividades também levam a apreciar, a refletir, e a buscar
- os pontos de vistas de cada criança sejam respeitados, significados nas imagens da arte.
estimulando e desenvolvendo suas leituras singulares e
produções individuais. Projetos
- as trocas de experiência entre as crianças acontecem nos Os projetos são formas de trabalho que envolve diferentes
momentos de conversa e reflexão sobre os trabalhos, conteúdos e que se organizam em torno de um produto final
elaborações conjuntas e atividades de grupos. cuja escolha e elaboração são compartilhadas com as crianças.
- o prazer lúdico seja o gerador do processo de produção. Muitas vezes eles não terminam com esse produto final, mas
- a arte seja compreendida como linguagem que constrói geram novas aprendizagens e novos projetos.
objetos plenos de sentido. A construção de um cenário para brincar ou de uma
- a valorização da ação artística e o respeito pela maquete, a ornamentação de um bolo de aniversário ou de
diversidade dessa produção sejam elementos sempre uma mesa de festa, a elaboração de um painel, de uma
presentes. exposição, ou a ilustração de um livro são exemplos de
projetos de artes. Os projetos em artes são permeados de
Organização do tempo negociação e de pesquisas entre professores e crianças. Se de
A organização do tempo em Artes Visuais deve respeitar as um lado o professor planeja as etapas e pode antecipar o
possibilidades das crianças relativas ao ritmo e interesse pelo produto final, por sua vez, as crianças interferem no
trabalho, ao tempo de concentração, bem como ao prazer na planejamento, alterando o processo a partir das soluções que
realização das atividades. É aconselhável que o professor encontram nas suas produções.
esteja atento para redimensionar as atividades propostas, seja Os projetos podem ter como ponto de partida um tema, um
em relação ao tempo, ou à própria atividade. Cada criança, pelo problema sugerido pelo grupo ou decorrente da vida da
seu ritmo, demonstra a necessidade de prolongar o tempo de comunidade, uma notícia de televisão ou de jornal, um
trabalho ou de reduzi-lo, quando for o caso. interesse particular das crianças etc. Uma das condições para
No que diz respeito à organização do tempo pode-se sua escolha é que ele mobilize o interesse do grupo como um
apontar três possibilidades de organização: as atividades todo. As crianças, em primeiro lugar, mas também os
permanentes, as sequências de atividades e os projetos. professores devem sentir-se atraídos pela questão.
É aconselhável que o professor observe atentamente e
Atividades permanentes avalie continuamente o processo, tendo em vista a
São situações didáticas que acontecem com regularidade reestruturação do trabalho a cada etapa do projeto.
diária ou semanal, na rotina das crianças. Os ateliês ou os
ambientes de trabalho nos quais são oferecidas diversas
atividades simultâneas, como desenhar, pintar, modelar e
fazer construções e colagens, para que as crianças escolham o
ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das progressiva: primeiro as vogais, depois as consoantes; em
capacidades associadas às quatro competências linguísticas seguida as sílabas, até chegar às palavras. Outra face desse
básicas: falar, escutar, ler e escrever. trabalho de segmentação e sequenciação é a ideia de partir de
um todo, de uma frase, por exemplo, decompô-la em partes até
Presença da linguagem oral e escrita na educação chegar às sílabas. Acrescenta-se a essa concepção a crença de
infantil: ideias e práticas correntes que a escrita das letras pode estar associada, também, à
vivência corporal e motora que possibilita a interiorização dos
A linguagem oral está presente no cotidiano e na prática movimentos necessários para reproduzi-las.
das instituições de educação infantil à medida que todos que Nas atividades de ensino de letras, uma das sequências,
dela participam: crianças e adultos, falam, se comunicam entre por exemplo, pode ser: primeiro uma atividade com o corpo
si, expressando sentimentos e ideias. As diversas instituições (andar sobre linhas, fazer o contorno das letras na areia ou na
concebem a linguagem e a maneira como as crianças lixa etc.), seguida de uma atividade oral de identificação de
aprendem de modos bastante diferentes. Em algumas práticas letras, cópia e, posteriormente, a permissão para escrevê-la
se considera o aprendizado da linguagem oral como um sem copiar. Essa concepção considera a aprendizagem da
processo natural, que ocorre em função da maturação linguagem escrita, exclusivamente, como a aquisição de um
biológica; prescinde-se nesse caso de ações educativas sistema de codificação que transforma unidades sonoras em
planejadas com a intenção de favorecer essa aprendizagem. unidades gráficas. As atividades são organizadas em
Em outras práticas, ao contrário, acredita-se que a sequências com o intuito de facilitar essa aprendizagem às
intervenção direta do adulto é necessária e determinante para crianças, baseadas em definições do que é fácil ou difícil, do
a aprendizagem da criança. Desta concepção resultam ponto de vista do professor.
orientações para ensinar às crianças pequenas listas de Pesquisas realizadas, nas últimas décadas, baseadas na
palavras, cuja aprendizagem se dá de forma cumulativa e cuja análise de produções das crianças e das práticas correntes,
complexidade cresce gradativamente. Acredita-se também têm apontado novas direções no que se refere ao ensino e à
que para haver boas condições para essa aprendizagem é aprendizagem da linguagem oral e escrita, considerando a
necessário criar situações em que o silêncio e a perspectiva da criança que aprende. Ao se considerar as
homogeneidade imperem. Eliminam-se as falas simultâneas, crianças ativas na construção de conhecimentos e não
acompanhadas de farta movimentação e de gestos, tão comuns receptoras passivas de informações há uma transformação
ao jeito próprio das crianças se comunicarem. substancial na forma de compreender como elas aprendem a
Nessa perspectiva a linguagem é considerada apenas como falar, a ler e a escrever.
um conjunto de palavras para nomeação de objetos, pessoas e A linguagem oral possibilita comunicar ideias,
ações. pensamentos e intenções de diversas naturezas, influenciar o
Em muitas situações, também, o adulto costuma imitar a outro e estabelecer relações interpessoais. Seu aprendizado
maneira de falar das crianças, acreditando que assim se acontece dentro de um contexto. As palavras só têm sentido
estabelece uma maior aproximação com elas, utilizando o que em enunciados e textos que significam e são significados por
se supõe seja a mesma “língua”, havendo um uso excessivo de situações. A linguagem não é apenas vocabulário, lista de
diminutivos e/ou uma tentativa de infantilizar o mundo real palavras ou sentenças. É por meio do diálogo que a
para as crianças. comunicação acontece. São os sujeitos em interações
O trabalho com a linguagem oral, nas instituições de singulares que atribuem sentidos únicos às falas. A linguagem
educação infantil, tem se restringido a algumas atividades, não é homogênea: há variedades de falas, diferenças nos graus
entre elas as rodas de conversa. Apesar de serem organizadas de formalidade e nas convenções do que se pode e deve falar
com a intenção de desenvolver a conversa, se caracterizam, em em determinadas situações comunicativas. Quanto mais as
geral, por um monólogo com o professor, no qual as crianças crianças puderem falar em situações diferentes, como contar o
são chamadas a responder em coro a uma única pergunta que lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado,
dirigida a todos, ou cada um por sua vez, em uma ação explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão
totalmente centrada no adulto. desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira
Em relação ao aprendizado da linguagem escrita, significativa.
concepções semelhantes àquelas relativas ao trabalho com a Pesquisas na área da linguagem tendem a reconhecer que
linguagem oral vigoram na educação infantil. o processo de letramento está associado tanto à construção do
A ideia de prontidão para a alfabetização está presente em discurso oral como do discurso escrito. Principalmente nos
várias práticas. Por um lado, há uma crença de que o meios urbanos, a grande parte das crianças, desde pequenas,
desenvolvimento de determinadas habilidades motoras e está em contato com a linguagem escrita por meio de seus
intelectuais, necessárias para aprender a ler e escrever, é diferentes portadores de texto, como livros, jornais,
resultado da maturação biológica, havendo nesse caso pouca embalagens, cartazes, placas de ônibus etc., iniciando-se no
influência externa. Por meio de testes considera-se possível conhecimento desses materiais gráficos antes mesmo de
detectar o momento para ter início a alfabetização. Por outro ingressarem na instituição educativa, não esperando a
lado, há os que advogam a existência de pré-requisitos permissão dos adultos para começarem a pensar sobre a
relativos à memória auditiva, ao ritmo, à discriminação visual escrita e seus usos. Elas começam a aprender a partir de
etc., que devem ser desenvolvidos para possibilitar a informações provenientes de diversos tipos de intercâmbios
aprendizagem da leitura e da escrita pelas crianças. Assim, os sociais e a partir das próprias ações, por exemplo, quando
exercícios mimeografados de coordenação perceptivo-motora, presenciam diferentes atos de leitura e escrita por parte de
como passar o lápis sobre linhas pontilhadas, ligar elementos seus familiares, como ler jornais, fazer uma lista de compras,
gráficos (levar o passarinho ao ninho, fazer os pingos da chuva anotar um recado telefônico, seguir uma receita culinária,
etc.), tornam-se atividades características das instituições de buscar informações em um catálogo, escrever uma carta para
educação infantil. um parente distante, ler um livro de histórias etc.
Em outra perspectiva, a aprendizagem da leitura e da A partir desse intenso contato, as crianças começam a
escrita se inicia na educação infantil por meio de um trabalho elaborar hipóteses sobre a escrita. Dependendo da
com base na cópia de vogais e consoantes, ensinadas uma de importância que tem a escrita no meio em que as crianças
cada vez, tendo como objetivo que as crianças relacionem sons vivem e da frequência e qualidade das suas interações com
e escritas por associação, repetição e memorização de sílabas. esse objeto de conhecimento, suas hipóteses a respeito de
A prática em geral realiza-se de forma supostamente como se escreve ou se lê podem evoluir mais lentamente ou
mais rapidamente. Isso permite compreender por que crianças poderá, repeti-los nas interações com os adultos ou com outras
que vêm de famílias nas quais os atos de ler e escrever tem crianças, como forma de estabelecer uma comunicação.
uma presença marcante apresentam mais desenvoltura para Além da linguagem falada, a comunicação acontece por
lidar com as questões da linguagem escrita do que aquelas meio de gestos, de sinais e da linguagem corporal, que dão
provenientes de famílias em que essa prática não é intensa. significado e apoiam a linguagem oral dos bebês. A criança
Esse fato aponta para a importância do contato com a escrita aprende a verbalizar por meio da apropriação da fala do outro.
nas instituições de educação infantil. Esse processo refere-se à repetição, pela criança, de
Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir fragmentos da fala do adulto ou de outras crianças, utilizados
um conhecimento de natureza conceitual: precisa para resolver problemas em função de diferentes
compreender não só o que a escrita representa, mas também necessidades e contextos nos quais se encontre. Por exemplo,
de que forma ela representa graficamente a linguagem. Isso um bebê de sete meses pode engatinhar em direção a uma
significa que a alfabetização não é o desenvolvimento de tomada e, ao chegar perto dela, ainda que demonstre vontade
capacidades relacionadas à percepção, memorização e treino de tocá-la, pode apontar para ela e menear a cabeça
de um conjunto de habilidades sensório-motoras. É, antes, um expressando assim, à sua maneira, a fala do adulto.
processo no qual as crianças precisam resolver problemas de Progressivamente, passa a incorporar a palavra “não”
natureza lógica até chegarem a compreender de que forma a associada a essa ação, que pode significar um conjunto de
escrita alfabética em português representa a linguagem, e ideias como: não se pode mexer na tomada; mamãe ou a
assim poderem escrever e ler por si mesmas. professora não me deixam fazer isso; mexer aí é perigoso etc.
Nessa perspectiva, a aprendizagem da linguagem escrita é Aprender a falar, portanto, não consiste apenas em
concebida como: memorizar sons e palavras. A aprendizagem da fala pelas
- a compreensão de um sistema de representação e não crianças não se dá de forma desarticulada com a reflexão, o
somente como a aquisição de um código de transcrição da fala. pensamento, a explicitação de seus atos, sentimentos,
- um aprendizado que coloca diversas questões de ordem sensações e desejos.
conceitual e não somente perceptivo- motoras, para a criança. A partir de um ano de idade, aproximadamente, as crianças
- um processo de construção do conhecimento pelas podem selecionar os sons que lhe são dirigidos, tentam
crianças por meio de práticas que tem como ponto de partida descobrir sobre os sentidos das enunciações e procuram
e de chegada o uso da linguagem e a participação nas diversas utilizá-los. Muitos dos fenômenos relacionados com o discurso
práticas sociais de escrita. e a fala, como os sons expressivos, alterações de volume e
Quais são as implicações para a prática pedagógica e quais ritmo, ou o funcionamento dialógico das conversas nas
as principais transformações provocadas por essa nova situações de comunicação, são utilizados pelas crianças
compreensão do processo de aprendizagem da escrita pela mesmo antes que saibam falar. Isso significa que muito antes
criança? A constatação de que as crianças constroem de se expressarem pela linguagem oral as crianças podem se
conhecimentos sobre a escrita muito antes do que se supunha fazer compreender e compreender os outros, pois a
e de que elaboram hipóteses originais na tentativa de competência linguística abrange tanto a capacidade das
compreendê-la amplia as possibilidades de a instituição de crianças para compreenderem a linguagem quanto sua
educação infantil enriquecer e dar continuidade a esse capacidade para se fazerem entender. As crianças vão testando
processo. Essa concepção supera a ideia de que é necessário, essa compreensão, modificando-a e estabelecendo novas
em determinada idade, instituir classes de alfabetização para associações na busca de seu significado. Passam a fazer
ensinar a ler e escrever. Aprender a ler e a escrever fazem experiências não só com os sons e as palavras, mas também
parte de um longo processo ligado à participação em práticas com os discursos referentes a diferentes situações
sociais de leitura e escrita. comunicativas. Por exemplo, nas brincadeiras de faz-de-conta
de falar ao telefone tentam imitar as expressões e entonações
A criança e a linguagem que elas escutam dos adultos. Podem, gradativamente, separar
e reunir, em suas brincadeiras, fragmentos estruturais das
Desenvolvimento da linguagem oral frases, apoiando-se em músicas, rimas, parlendas e jogos
Muito cedo, os bebês emitem sons articulados que lhes dão verbais existentes ou inventados. Brincam, também, com os
prazer e que revelam seu esforço para comunicar-se com os significados das palavras, inventando nomes para si próprias
outros. Os adultos ou crianças mais velhas interpretam essa ou para os outros, em situações de faz-de-conta. Nos diálogos
linguagem peculiar, dando sentido à comunicação dos bebês. com adultos e com outras crianças, nas situações cotidianas e
A construção da linguagem oral implica, portanto, na no faz-de-conta, as crianças imitam expressões que ouvem,
verbalização e na negociação de sentidos estabelecidos entre experimentando possibilidades de manutenção dos diálogos,
pessoas que buscam comunicar-se. Ao falar com os bebês, os negociando sentidos para serem ouvidas, compreendidas e
adultos, principalmente, tendem a utilizar uma linguagem obterem respostas.
simples, breve e repetitiva, que facilita o desenvolvimento da A construção da linguagem oral não é linear e ocorre em
linguagem e da comunicação. Outras vezes, quando falam com um processo de aproximações sucessivas com a fala do outro,
os bebês ou perto deles, adultos e crianças os expõem à seja ela do pai, da mãe, do professor, dos amigos ou aquelas
linguagem oral em toda sua complexidade, como quando, por ouvidas na televisão, no rádio etc.
exemplo, na situação de troca de fraldas, o adulto fala: “Você Nas inúmeras interações com a linguagem oral, as crianças
está molhado? Eu vou te limpar, trocar a fralda e você vai ficar vão tentando descobrir as regularidades que a constitui,
sequinho e gostoso!”. usando todos os recursos de que dispõem: histórias que
Nesses processos, as crianças se apropriam, conhecem, vocabulário familiar etc. Assim, acabam criando
gradativamente, das características da linguagem oral, formas verbais, expressões e palavras, na tentativa de
utilizando-as em suas vocalizações e tentativas de apropriar-se das convenções da linguagem. É o caso, por
comunicação. exemplo, da criação de tempos verbais de uma menina de
As brincadeiras e interações que se estabelecem entre os cinco anos que, escondida atrás da porta, diz à professora:
bebês e os adultos incorporam as vocalizações rítmicas, “Adivinha se eu ‘tô’ sentada, agachada ou empezada?”, ou então
revelando o papel comunicativo, expressivo e social que a fala no exemplo de uma criança que, ao emitir determinados sons
desempenha desde cedo. Um bebê de quatro meses que emite na brincadeira, é perguntada por outra: “Você está chorando?”,
certa variedade de sons quando está sozinho, por exemplo, ao que a criança responde: “Não, estou graçando!”.
As crianças têm ritmos próprios e a conquista de suas processo de ensino, porque informam o adulto sobre o modo
capacidades linguísticas se dá em tempos diferenciados, sendo próprio de as crianças pensarem naquele momento. E
que a condição de falar com fluência, de produzir frases escrever, mesmo com esses “erros”, permite às crianças
completas e inteiras provém da participação em atos de avançarem, uma vez que só escrevendo é possível enfrentar
linguagem. certas contradições. Por exemplo, se algumas crianças pensam
Quando a criança fala com mais precisão o que deseja, o que não é possível escrever com menos de três letras, e
que gosta e o que não gosta, o que quer e o que não quer fazer pensam, ao mesmo tempo, que para escrever “gato” é
e a fala passa a ocupar um lugar privilegiado como necessário duas letras, estabelecendo uma equivalência com
instrumento de comunicação, pode haver um predomínio as duas sílabas da palavra gato, precisam resolver essa
desta sobre os outros recursos comunicativos. Além de contradição criando uma forma de grafar que acomode a
produzirem construções mais complexas, as crianças são mais contradição enquanto ainda não é possível ultrapassá-la.
capazes de explicitações verbais e de explicar-se pela fala. O Desse modo, as crianças aprendem a produzir textos antes
desenvolvimento da fala e da capacidade simbólica ampliam mesmo de saber grafá-los de maneira convencional, como
significativamente os recursos intelectuais, porém as falas quando uma criança utiliza o professor como escriba ditando-
infantis são, ainda, produto de uma perspectiva muito lhe sua história. A situação inversa também é possível, quando
particular, de um modo próprio de ver o mundo. as crianças aprendem a grafar um texto sem tê-lo produzido,
A ampliação de suas capacidades de comunicação oral como quando escrevem um texto ditado por outro ou um que
ocorre gradativamente, por meio de um processo de idas e sabem de cor. Isso significa que, ainda que as crianças não
vindas que envolvem tanto a participação das crianças nas possuam a habilidade para escrever e ler de maneira
conversas cotidianas, em situações de escuta e canto de autônoma, podem fazer uso da ajuda de parceiros mais
músicas, em brincadeiras etc., como a participação em experientes - crianças ou adultos - para aprenderem a ler e a
situações mais formais de uso da linguagem, como aquelas que escrever em situações significativas.
envolvem a leitura de textos diversos.
Objetivos
Desenvolvimento da linguagem escrita
Nas sociedades letradas, as crianças, desde os primeiros Crianças de zero a três anos
meses, estão em permanente contato com a linguagem escrita. As instituições e profissionais de educação infantil deverão
É por meio desse contato diversificado em seu ambiente social organizar sua prática de forma a promover as seguintes
que as crianças descobrem o aspecto funcional da capacidades nas crianças:
comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade - participar de variadas situações de comunicação oral,
por essa linguagem. Diante do ambiente de letramento em que para interagir e expressar desejos, necessidades e sentimentos
vivem, as crianças podem fazer, a partir de dois ou três anos por meio da linguagem oral, contando suas vivências;
de idade, uma série de perguntas, como “O que está escrito - interessar-se pela leitura de histórias;
aqui?”, ou “O que isto quer dizer?”, indicando sua reflexão - familiarizar-se aos poucos com a escrita por meio da
sobre a função e o significado da escrita, ao perceberem que participação em situações nas quais ela se faz necessária e do
ela representa algo. contato cotidiano com livros, revistas, histórias em quadrinhos
Sabe-se que para aprender a escrever a criança terá de etc.
lidar com dois processos de aprendizagem paralelos: o da
natureza do sistema de escrita da língua - o que a escrita Crianças de quatro a seis anos
representa e como - e o das características da linguagem que Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária
se usa para escrever. A aprendizagem da linguagem escrita de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados,
está intrinsicamente associada ao contato com textos diversos, promovendo-se, ainda, as seguintes capacidades nas crianças:
para que as crianças possam construir sua capacidade de ler, e - ampliar gradativamente suas possibilidades de
às práticas de escrita, para que possam desenvolver a comunicação e expressão, interessando-se por conhecer
capacidade de escrever autonomamente. vários gêneros orais e escritos e participando de diversas
A observação e a análise das produções escritas das situações de intercâmbio social nas quais possa contar suas
crianças revelam que elas tomam consciência, vivências, ouvir as de outras pessoas, elaborar e responder
gradativamente, das características formais dessa linguagem. perguntas;
Constata-se, que, desde muito pequenas, as crianças podem - familiarizar-se com a escrita por meio do manuseio de
usar o lápis e o papel para imprimir marcas, imitando a escrita livros, revistas e outros portadores de texto e da vivência de
dos mais velhos, assim como utilizam-se de livros, revistas, diversas situações nas quais seu uso se faça necessário;
jornais, gibis, rótulos etc. para “ler” o que está escrito. Não é - escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo
raro observar-se crianças muito pequenas, que têm contato professor;
com material escrito, folhear um livro e emitir sons e fazer - interessar-se por escrever palavras e textos ainda que
gestos como se estivessem lendo. não de forma convencional;
As crianças elaboram uma série de ideias e hipóteses - reconhecer seu nome escrito, sabendo identificá-lo nas
provisórias antes de compreender o sistema escrito em toda diversas situações do cotidiano;
sua complexidade. - escolher os livros para ler e apreciar.
Sabe-se, também, que as hipóteses elaboradas pelas
crianças em seu processo de construção de conhecimento não Conteúdos
são idênticas em uma mesma faixa etária, porque dependem
do grau de letramento de seu ambiente social, ou seja, da O domínio da linguagem surge do seu uso em múltiplas
importância que tem a escrita no meio em que vivem e das circunstâncias, nas quais as crianças podem perceber a função
práticas sociais de leitura e escrita que podem presenciar e social que ela exerce e assim desenvolver diferentes
participar. capacidades.
No processo de construção dessa aprendizagem as Por muito tempo prevaleceu, nos meios educacionais, a
crianças cometem “erros”. Os erros, nessa perspectiva, não são ideia de que o professor teria de planejar, diariamente, novas
vistos como faltas ou equívocos, eles são esperados, pois se atividades, não sendo necessário estabelecer uma relação e
referem a um momento evolutivo no processo de continuidade entre elas. No entanto, a aprendizagem
aprendizagem das crianças. Eles têm um importante papel no pressupõe uma combinação entre atividades inéditas e outras
que se repetem. Dessa forma, a organização dos conteúdos de demais portadores de textos é incorporada pelas crianças,
Linguagem Oral e Escrita deve se subordinar a critérios que também, quando o professor organiza o ambiente de tal forma
possibilitem, ao mesmo tempo, a continuidade em relação às que haja um local especial para livros, gibis, revistas etc. que
propostas didáticas e ao trabalho desenvolvido nas diferentes seja aconchegante e no qual as crianças possam manipulá-los
faixas etárias, e a diversidade de situações didáticas em um e “lê-los” seja em momentos organizados ou
nível crescente de desafios. espontaneamente. Deixar as crianças levarem um livro para
A oralidade, a leitura e a escrita devem ser trabalhadas de casa, para ser lido junto com seus familiares, é um fato que
forma integrada e complementar, potencializando-se os deve ser considerado. As crianças, desde muito pequenas,
diferentes aspectos que cada uma dessas linguagens solicita podem construir uma relação prazerosa com a leitura.
das crianças. Neste documento, os conteúdos são Compartilhar essas descobertas com seus familiares é um
apresentados em um único bloco para as crianças de zero a fator positivo nas aprendizagens das crianças, dando um
três anos, considerando-se a especificidade da faixa etária. sentido mais amplo para a leitura.
Para as crianças de quatro a seis anos, os conteúdos são Considerando-se que o contato com o maior número
apresentados em três blocos: “Falar e escutar”, “Práticas de possível de situações comunicativas e expressivas resulta no
leitura” e “Práticas de escrita”. desenvolvimento das capacidades linguísticas das crianças,
uma das tarefas da educação infantil é ampliar, integrar e ser
Crianças de zero a três anos continente da fala das crianças em contextos comunicativos
- Uso da linguagem oral para conversar, comunicar-se, para que ela se torne competente como falante. Isso significa
relatar suas vivências e expressar desejos, vontades, que o professor deve ampliar as condições da criança de
necessidades e sentimentos, nas diversas situações de manter-se no próprio texto falado. Para tanto, deve escutar a
interação presentes no cotidiano. fala da criança, deixando-se envolver por ela, ressignificando-
- Participação em situações de leitura de diferentes a e resgatando-a sempre que necessário.
gêneros feita pelos adultos, como contos, poemas, parlendas, Em uma roda de conversa, por exemplo, a professora pediu
trava-línguas etc. que uma criança relatasse o motivo de suas faltas, explicitada
- Participação em situações cotidianas nas quais se faz pelo seguinte diálogo:
necessário o uso da leitura e da escrita. Criança: Porque sim.
- Observação e manuseio de materiais impressos, como Professor: Porque sim não é resposta. (Ri.)
livros, revistas, histórias em quadrinhos etc. Criança: Eu “tava” doente.
Professor: Você faltou então porque estava doente? E que
Orientações didáticas doença você teve? Você sabe?
A aprendizagem da fala se dá de forma privilegiada por (Criança faz que não com a cabeça.)
meio das interações que a criança estabelece desde que nasce. Professor: Não? Você não consegue falar pra gente como
As diversas situações cotidianas nas quais os adultos falam era sua doença?
com a criança ou perto dela configuram uma situação rica que Criança: Deu umas... era vermelho... que coçava.
permite à criança conhecer e apropriar-se do universo Professor: Você teve catapora, que dá umas bolinhas que
discursivo e dos diversos contextos nos quais a linguagem oral se coçar viram feridas, né? Alguém já ouviu falar dessa doença?
é produzida. As conversas com o bebê nos momentos de Cabe ao professor, atento e interessado, auxiliar na construção
banho, de alimentação, de troca de fraldas são exemplos conjunta das falas das crianças para torná-las mais completas
dessas situações. Nesses momentos, o significado que o adulto e complexas. Ouvir atentamente o que a criança diz para ter
atribui ao seu esforço de comunicação fornece elementos para certeza de que entendeu o que ela falou, podendo checar com
que ele possa, aos poucos, perceber a função comunicativa da ela, por meio de perguntas ou repetições, se entendeu mesmo
fala e desenvolver sua capacidade de falar. o que ela quis dizer, ajudará a continuidade da conversa. Para
É importante que o professor converse com bebês e as crianças muito pequenas uma palavra, como “água”, pode
crianças, ajudando-os a se expressarem, apresentando-lhes ser significada pelo adulto, dependendo da situação, como:
diversas formas de comunicar o que desejam, sentem, “Ah! Você quer água?”, ou “Você derrubou água no chão”. Os
necessitam etc. Nessas interações, é importante que o adulto professores podem funcionar como apoio ao desenvolvimento
utilize a sua fala de forma clara, sem infantilizações e sem verbal das crianças, sempre buscando trabalhar com a
imitar o jeito de a criança falar. interlocução e a comunicação efetiva entre os participantes da
A ampliação da capacidade das crianças de utilizar a fala de conversa.
forma cada vez mais competente em diferentes contextos se dá O professor tem, também, o importante papel de
na medida em que elas vivenciam experiências diversificadas “evocador” de lembranças. Objetos e figuras podem ser
e ricas envolvendo os diversos usos possíveis da linguagem desencadeadores das lembranças das crianças e seu uso pode
oral. Portanto, eleger a linguagem oral como conteúdo exige o ajudar a enriquecer a narrativa delas.
planejamento da ação pedagógica de forma a criar situações de
fala, escuta e compreensão da linguagem. Crianças de quatro a seis anos
Além da conversa constante, o canto, a música e a escuta Falar e escutar
de histórias também propiciam o desenvolvimento da - Uso da linguagem oral para conversar, brincar, comunicar
oralidade. A leitura pelo professor de textos escritos, em voz e expressar desejos, necessidades, opiniões, ideias,
alta, em situações que permitem a atenção e a escuta das preferências e sentimentos e relatar suas vivências nas
crianças, seja na sala, no parque debaixo de uma árvore, antes diversas situações de interação presentes no cotidiano.
de dormir, numa atividade específica para tal fim etc., fornece - Elaboração de perguntas e respostas de acordo com os
às crianças um repertório rico em oralidade e em sua relação diversos contextos de que participa.
com a escrita. - Participação em situações que envolvem a necessidade de
O ato de leitura é um ato cultural e social. Quando o explicar e argumentar suas ideias e pontos de vista.
professor faz uma seleção prévia da história que irá contar - Relato de experiências vividas e narração de fatos em
para as crianças, independentemente da idade delas, dando sequência temporal e causal.
atenção para a inteligibilidade e riqueza do texto, para a - Reconto de histórias conhecidas com aproximação às
nitidez e beleza das ilustrações, ele permite às crianças características da história original no que se refere à descrição
construírem um sentimento de curiosidade pelo livro (ou de personagens, cenários e objetos, com ou sem a ajuda do
revista, gibi etc.) e pela escrita. A importância dos livros e professor.
- Conhecimento e reprodução oral de jogos verbais, como participação na roda permite que as crianças aprendam a
trava-línguas, parlendas, adivinhas, quadrinhas, poemas e olhar e a ouvir os amigos, trocando experiências. Pode-se, na
canções. roda, contar fatos às crianças, descrever ações e promover
uma aproximação com aspectos mais formais da linguagem
Orientações didáticas por meio de situações como ler e contar histórias, cantar ou
O trabalho com a linguagem oral deve se orientar pelos entoar canções, declamar poesias, dizer parlendas, textos de
seguintes pressupostos: brincadeiras infantis etc.
- escutar a criança, dar atenção ao que ela fala, atribuir A ampliação do universo discursivo das crianças também
sentido, reconhecendo que quer dizer algo; se dá por meio do conhecimento da variedade de textos e de
- responder ou comentar de forma coerente aquilo que a manifestações culturais que expressam modos e formas
criança disse, para que ocorra uma interlocução real, não próprias de ver o mundo, de viver e pensar. Músicas, poemas,
tomando a fala do ponto de vista normativo, julgando-a se está histórias, bem como diferentes situações comunicativas,
certa ou errada. Se não se entende ou não se dá importância ao constituem-se num rico material para isso. Além de propiciar
que foi dito, a resposta oferecida pode ser incoerente com a ampliação do universo cultural, o contato com a diversidade
aquilo que permite conhecer e aprender a respeitar o diferente.
- a criança disse, podendo confundi-la. A resposta coerente Algumas crianças, porém, por diversas razões, não chegam
estabelece uma ponte entre a fala do adulto e a da criança; a desenvolver habilidades comunicativas por meio da fala,
- reconhecer o esforço da criança em compreender o que como, por exemplo, crianças com deficiência auditiva, algumas
ouve (palavras, enunciados, textos) a partir do contexto portadoras de paralisia cerebral, autistas etc. Nesses casos, a
comunicativo; inclusão das crianças nas atividades regulares favorece o
- integrar a fala da criança na prática pedagógica, desenvolvimento de várias capacidades, como a sociabilidade,
ressignificando-a. a comunicação, entre outras. Convém salientar que existem
certos procedimentos que favorecem a aquisição de sistemas
O trabalho com as crianças exige do professor uma escuta alternativos de linguagem, como a que é feita por meio de
e atenção real às suas falas, aos seus movimentos, gestos e sinais, por exemplo, mas que requerem um conhecimento
demais ações expressivas. A fala das crianças traduz seus especializado. Cabe ao professor da educação infantil uma
modos próprios e particulares de pensar e não pode ser ação no cotidiano visando a integrar todas as crianças no
confundida com um falar aleatório. Ao contrário, cabe ao grupo. As crianças com problemas auditivos criam recursos
professor ajudar as crianças a explicitarem, para si e para os variados para se fazerem entender. O professor deve também
demais, as relações e associações contidas em suas falas, buscar diferentes possibilidades para entender e falar com
valorizando a intenção comunicativa para dar continuidade elas, valorizando várias formas de expressão. Além da inclusão
aos diálogos. em creches e pré-escolas regulares, as crianças portadoras de
A criação de um clima de confiança, respeito e afeto em que necessidades especiais deverão ter paralelamente um
as crianças experimentam o prazer e a necessidade de se atendimento especializado.
comunicar apoiadas na parceria do adulto, é fundamental. A narrativa pode e deve ser a porta de entrada de toda
Nessa perspectiva, o professor deve permitir e compreender criança para os mundos criados pela literatura. A criança
que o frequente burburinho que impera entre as crianças, mais aprende a narrar por meio de jogos de contar e de histórias.
do que sinal de confusão, é sinal de que estão se comunicando. Como jogos de contar entendem-se as situações em parceria
Esse burburinho cotidiano é revelador de que dialogam, com o adulto, os jogos de perguntar e responder, em que o
perguntam e respondem sobre assuntos relativos às adulto, inicialmente, assume a condução dos relatos sobre
atividades que estão desenvolvendo - um desenho, a leitura de acontecimentos, fatos e experiências da vida pessoal da
um livro etc. - ou apenas de que têm intenção de se comunicar. criança. Estimulando as perguntas e respostas, o professor
Ao organizar situações de participação nas quais as propicia o estabelecimento da alternância dos sujeitos
crianças possam buscar materiais, pedir informações ou fazer falantes, ajudando as crianças a detalharem suas narrativas. As
solicitações a outros professores ou crianças, elaborar avisos, histórias, diferentemente dos relatos, são textos previamente
pedidos ou recados a outras classes ou setores da instituição construídos, estão completos. As histórias estão associadas a
etc., o professor possibilita às crianças o uso contextualizado convenções, como “Era uma vez”, frase de abertura formal, “e
dos pedidos, perguntas, expressões de cortesia e formas de foram felizes para sempre”, fecho formal. Distinguem-se dos
iniciar conversação. Deve-se cuidar que todos tenham relatos por se configurarem como ficção e não como fato, como
oportunidades de participação. realidade; relacionam-se, portanto, com o construído e não
É importante planejar situações de comunicação que com o real.
exijam diferentes graus de formalidade, como conversas, Uma atividade bastante interessante para se fazer com as
exposições orais, entrevistas e não só a reprodução de crianças é a elaboração de entrevistas. A entrevista, além de
contextos comunicativos informais. possibilitar que se ressalte a transmissão oral como uma fonte
Uma das formas de ampliar o universo discursivo das de informações, propicia às crianças pensarem no assunto que
crianças é propiciar que conversem bastante, em situações desejam conhecer, nas pessoas que podem ter as informações
organizadas para tal fim, como na roda de conversa ou em de que necessitam e nas perguntas que deverão fazer. Para
brincadeiras de faz-de-conta. Podem-se organizar rodas de tanto, deve-se partir dos conhecimentos prévios das crianças
conversa nas quais alguns assuntos sejam discutidos sobre entrevistas para preparar um roteiro de perguntas. É
intencionalmente, como um projeto de construção de um preciso, também, pensar sobre a melhor forma de registrar a
cenário para brincar, um passeio, a ilustração de um livro etc. fala dos entrevistados. Pode-se incluir essa atividade em
Pode-se, também, conversar sobre assuntos diversos, como a projetos que envolvam, por exemplo, o levantamento de
discussão sobre um filme visto na TV, sobre a leitura de um informações junto aos pais sobre a história do nome de cada
livro, um acontecimento recente com uma das crianças etc. um, sobre as histórias da comunidade etc.
A roda de conversa é o momento privilegiado de diálogo e Outra atividade a ser realizada refere-se às apresentações
intercâmbio de ideias. Por meio desse exercício cotidiano as orais ao vivo, de textos memorizados, nas quais as crianças
crianças podem ampliar suas capacidades comunicativas, reproduzem os mais diferentes gêneros, como histórias,
como a fluência para falar, perguntar, expor suas ideias, poesias, parlendas etc., em situações que envolvem público
dúvidas e descobertas, ampliar seu vocabulário e aprender a (seu grupo, outras crianças da instituição, os pais etc.), como
valorizar o grupo como instância de troca e aprendizagem. A sarau de poesias, recital de parlendas. Outra possibilidade é a
preparação de fitas de áudio ou vídeo para a gravação de repetições etc.), permitindo localizar o que o texto diz em cada
poesias, músicas, histórias etc. linha;
- situações em que as crianças precisam descobrir o
Práticas de leitura sentido do texto apoiando-se nos mais diversos elementos,
- Participação nas situações em que os adultos leem textos como nas figuras que o acompanham, na diagramação, em seus
de diferentes gêneros, como contos, poemas, notícias de jornal, conhecimentos prévios sobre o assunto, no conhecimento que
informativos, parlendas, trava-línguas etc. têm sobre algumas características próprias do gênero etc.
- Participação em situações que as crianças leiam, ainda Nesses casos, os textos mais adequados são as embalagens
que não o façam de maneira convencional. comerciais, os folhetos de propaganda, as histórias em
- Reconhecimento do próprio nome dentro do conjunto de quadrinhos e demais portadores que possibilitam às crianças
nomes do grupo nas situações em que isso se fizer necessário. deduzir o sentido a partir do conteúdo, da imagem ou foto, do
- Observação e manuseio de materiais impressos, como conhecimento da marca ou do logotipo.
livros, revistas, histórias em quadrinhos etc., previamente Os textos de histórias já conhecidos possibilitam
apresentados ao grupo. atividades de buscar “onde está escrito tal coisa”. As crianças,
- Valorização da leitura como fonte de prazer e levando em conta algumas pistas contidas no texto escrito,
entretenimento. podem localizar uma palavra ou um trecho que até o momento
não sabem como se escreve convencionalmente. Podem
Orientações didáticas procurar no livro a fala de alguma personagem. Para isso,
Práticas de leitura para as crianças têm um grande valor devem recordar a história para situar o momento no qual a
em si mesmas, não sendo sempre necessárias atividades personagem fala e consultar o texto, procurando indícios que
subsequentes, como o desenho dos personagens, a resposta de permitam localizar a palavra ou trecho procurado.
perguntas sobre a leitura, dramatização das histórias etc. Tais A leitura de histórias é um momento em que a criança pode
atividades só devem se realizar quando fizerem sentido e conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores,
como parte de um projeto mais amplo. Caso contrário, pode-se costumes e comportamentos de outras culturas situadas em
oferecer uma ideia distorcida do que é ler. outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode
A criança que ainda não sabe ler convencionalmente pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de
fazê-lo por meio da escuta da leitura do professor, ainda que ser do grupo social ao qual pertence. As instituições de
não possa decifrar todas e cada uma das palavras. Ouvir um educação infantil podem resgatar o repertório de histórias que
texto já é uma forma de leitura. as crianças ouvem em casa e nos ambientes que frequentam,
É de grande importância o acesso, por meio da leitura pelo uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de
professor, a diversos tipos de materiais escritos, uma vez que informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as
isso possibilita às crianças o contato com práticas culturais emoções e com as questões éticas, contribuindo na construção
mediadas pela escrita. da subjetividade e da sensibilidade das crianças.
Comunicar práticas de leitura permite colocar as crianças Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informação
no papel de “leitoras”, que podem relacionar a linguagem com cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela
os textos, os gêneros e os portadores sobre os quais eles se leitura. A intenção de fazer com que as crianças, desde cedo,
apresentam: livros, bilhetes, revistas, cartas, jornais etc. apreciem o momento de sentar para ouvir histórias exige que
As poesias, parlendas, trava-línguas, os jogos de palavras, o professor, como leitor, preocupe-se em lê-la com interesse,
memorizados e repetidos, possibilitam às crianças atentarem criando um ambiente agradável e convidativo à escuta atenta,
não só aos conteúdos, mas também à forma, aos aspectos mobilizando a expectativa das crianças, permitindo que elas
sonoros da linguagem, como ritmo e rimas, além das questões olhem o texto e as ilustrações enquanto a história é lida.
culturais e afetivas envolvidas. Quem convive com crianças sabe o quanto elas gostam de
Quando o professor realiza com frequência leituras de um escutar a mesma história várias vezes, pelo prazer de
mesmo gênero está propiciando às crianças oportunidades reconhecê-la, de apreendê-la em seus detalhes, de cobrar a
para que conheçam as características próprias de cada gênero, mesma sequência e de antecipar as emoções que teve da
isto é, identificar se o texto lido é, por exemplo, uma história, primeira vez. Isso evidencia que a criança que escuta muitas
um anúncio etc. histórias pode construir um saber sobre a linguagem escrita.
São inúmeras as estratégias das quais o professor pode Sabe que na escrita as coisas permanecem, que se pode voltar
lançar mão para enriquecer as atividades de leitura, como a elas e encontrá-las tal qual estavam da primeira vez.
comentar previamente o assunto do qual trata o texto; fazer Muitas vezes a leitura do professor tem a participação das
com que as crianças levantem hipóteses sobre o tema a partir crianças, principalmente naqueles elementos da história que
do título; oferecer informações que situem a leitura; criar um se repetem (estribilhos, discursos diretos, alguns episódios
certo suspense, quando for o caso; lembrar de outros textos etc.) e que por isso são facilmente memorizados por elas, que
conhecidos a partir do texto lido; favorecer a conversa entre as aguardam com expectativa a hora de adiantar-se à leitura do
crianças para que possam compartilhar o efeito que a leitura professor, dizendo determinadas partes da história.
produziu, trocar opiniões e comentários etc. Diferenciam também a leitura de uma história do relato oral.
O professor, além de ler para as crianças, pode organizar No primeiro caso, a criança espera que o leitor leia
as seguintes situações de leitura para que elas próprias leiam: literalmente o que o texto diz.
- situações em que as crianças estabelecem uma relação Recontar histórias é outra atividade que pode ser
entre o que é falado e o que está escrito (embora ainda não desenvolvida pelas crianças. Elas podem contar histórias
saibam ler convencionalmente). Nessas atividades de “leitura”, conhecidas com a ajuda do professor, reconstruindo o texto
as crianças devem saber o texto de cor e tentar localizar onde original à sua maneira. Para isso podem apoiar-se nas
estão escritas determinadas palavras. Para isso, as crianças ilustrações e na versão lida. Nessas condições, cabe ao
precisam buscar todos os indicadores disponíveis no texto professor promover situações para que as crianças
escrito. Não é qualquer texto que garante que o esforço de compreendam as relações entre o que se fala, o texto escrito e
atribuir significado a imagem. O professor lê a história, as crianças escutam,
- às partes escritas coloque problemas que ajudem a observam as gravuras e, frequentemente, depois de algumas
criança a refletir e a aprender. Nesse caso, os textos mais leituras, já conseguem recontar a história, utilizando algumas
adequados são as quadrinhas, parlendas e canções porque expressões e palavras ouvidas na voz do professor. Nesse
focalizam a sonoridade da linguagem (ritmos, rimas, sentido, é importante ler as histórias tal qual estão escritas,
imprimindo ritmo à narrativa e dando à criança a ideia de que número de pessoas, escrever para identificar um objeto ou
ler significa atribuir significado ao texto e compreendê-lo. uma produção etc.
Para favorecer as práticas de leitura, algumas condições O tratamento que se dá à escrita na instituição de educação
são consideradas essenciais. infantil pode ter como base a oralidade para ensinar a
São elas: linguagem que se usa para escrever. Ditar um texto para o
- dispor de um acervo em sala com livros e outros professor, para outra criança ou para ser gravado em fita
materiais, como histórias em quadrinhos, revistas, cassete é uma forma de viabilizar a produção de textos antes
enciclopédias, jornais etc., classificados e organizados com a de as crianças saberem grafá-los. É em atividades desse tipo
ajuda das crianças; que elas começam a participar de um processo de produção de
- organizar momentos de leitura livre nos quais o professor texto escrito, construindo conhecimento sobre essa
também leia para si. Para as crianças é fundamental ter o linguagem, antes mesmo que saibam escrever
professor como um bom modelo. O professor que lê histórias, autonomamente.
que tem boa e prazerosa relação com a leitura e gosta Ao participar em atividades conjuntas de escrita a criança
verdadeiramente de ler, tem um papel fundamental: o de aprende a:
modelo para as crianças; - repetir palavras ou expressões literais do texto original;
- possibilitar às crianças a escolha de suas leituras e o - controlar o ritmo do que está sendo ditado, quando a fala
contato com os livros, de forma a que possam manuseá-los, por se ajusta ao tempo da escrita;
exemplo, nos momentos de atividades diversificadas; - diferenciar as atividades de contar uma história, por
- possibilitar regularmente às crianças o empréstimo de exemplo, da atividade de ditá-la para o professor, percebendo,
livros para levarem para casa. Bons textos podem ter o poder portanto, que não se diz as mesmas coisas nem da mesma
de provocar momentos de leitura em casa, junto com os forma quando se fala e quando se escreve;
familiares. - retomar o texto escrito pelo professor, a fim de saber o
que já está escrito e o que ainda falta escrever;
Uma prática constante de leitura deve considerar a - considerar o destinatário ausente e a necessidade da
qualidade literária dos textos. A oferta de textos supostamente clareza do texto para que ele possa compreender a mensagem;
mais fáceis e curtos, para crianças pequenas, pode resultar em - diferenciar entre o que o texto diz e a intenção que se teve
um empobrecimento de possibilidades de acesso à boa antes de escrever;
literatura. - realizar várias versões do texto sobre o qual se trabalha,
Ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo em que produzindo alterações que podem afetar tanto o conteúdo
o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado como a forma em que foi escrito.
do texto, apoiando-se em diferentes estratégias, como seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e de tudo o que O professor pode chamar a atenção sobre a estrutura do
sabe sobre a linguagem escrita e o gênero em questão. O texto, negociar significados e propor a substituição do uso
professor não precisa omitir, simplificar ou substituir por um excessivo de “e”, “aí”, “daí” por conectivos mais adequados à
sinônimo familiar as palavras que considera difíceis, pois, se o linguagem escrita e de expressões que marcam temporalidade,
fizer, correrá o risco de empobrecer o texto. A leitura de causalidade etc., como “de repente”, “um dia”, “muitos anos
histórias é uma rica fonte de aprendizagem de novos depois” etc. A reelaboração dos textos produzidos, realizada
vocabulários. Um bom texto deve admitir várias coletivamente com o apoio do professor, faz com que a criança
interpretações, superando-se, assim, o mito de que ler é aprenda a conceber a escrita como processo, começando a
somente extrair informação da escrita. coordenar os papéis de produtor e leitor a partir da
intervenção do professor ou da parceria com outra criança
Práticas de escrita durante o processo de produção.
- Participação em situações cotidianas nas quais se faz As crianças e o professor podem tentar melhorar o texto,
necessário o uso da escrita. acrescentando, retirando, deslocando ou transformando
- Escrita do próprio nome em situações em que isso é alguns trechos com o objetivo de torná-lo mais legível para o
necessário. leitor, mais claro ou agradável de ler.
- Produção de textos individuais e/ou coletivos ditados No caso das crianças maiores, o ditado entre pares
oralmente ao professor para diversos fins. favorece muito a aprendizagem, pois elas se ajudam
- Prática de escrita de próprio punho, utilizando o mutuamente. Quando uma criança dita e outra escreve, aquela
conhecimento de que dispõe, no momento, sobre o sistema de que dita atua como revisora para a que escreve, por meio de
escrita em língua materna. diversas ações, como ler o que já foi escrito para não correr o
- Respeito pela produção própria e alheia. risco de escrever duas vezes a mesma palavra, diferenciar o
que “já está escrito” do que “ainda não está escrito” quando a
Orientações didáticas outra se perde, observar a conexão entre os enunciados, ajudar
Na instituição de educação infantil, as crianças podem a pensar em quais letras colocar e pesquisar, em caso de
aprender a escrever produzindo oralmente textos com destino dúvida, buscando palavras ou parte de palavras conhecidas em
escrito. Nessas situações o professor é o escriba. A criança outro contexto etc.
também aprende a escrever, fazendo-o da forma como sabe, Saber escrever o próprio nome é um valioso conhecimento
escrevendo de próprio punho. Em ambos os casos, é que fornece às crianças um repertório básico de letras que lhes
necessário ter acesso à diversidade de textos escritos, servirá de fonte de informação para produzir outras escritas.
testemunhar a utilização que se faz da escrita em diferentes A instituição de educação infantil deve preocupar-se em
circunstâncias, considerando as condições nas quais é marcar os pertences, os objetos pessoais e as produções das
produzida: para que, para quem, onde e como. crianças com seus nomes. É importante realizar um trabalho
O trabalho com produção de textos deve se constituir em intencional que leve ao reconhecimento e reprodução do
uma prática continuada, na qual se reproduz contextos próprio nome para que elas se apropriem progressivamente
cotidianos em que escrever tem sentido. Deve-se buscar a da sua escrita convencional. A coleção dos nomes das crianças
maior similaridade possível com as práticas de uso social, de um mesmo grupo, registrados em pequenas tiras de papel,
como escrever para não esquecer alguma informação, pode estar afixada em lugar visível da sala. Os nomes podem
escrever para enviar uma mensagem a um destinatário estar escritos em letra maiúscula, tipo de imprensa (conhecida
ausente, escrever para que a mensagem atinja um grande também como letra de fôrma), pois, para a criança,
inicialmente, é mais fácil imitar esse tipo de letra. Trata-se de de entendimento, ajude a percepção de detalhes do texto etc.
uma letra mais simples do ponto de vista gráfico que Deixando de ser o único informante, o professor pode
possibilita perceber cada caractere, não deixando dúvidas organizar grupos, ou duplas de crianças que possuam
sobre onde começa e onde termina cada letra. hipóteses diferentes (porém próximas) sobre a língua escrita,
As atividades de reescrita de textos diversos devem se o que favorece intercâmbios mais fecundos. As crianças podem
constituir em situações favoráveis à apropriação das utilizar a lousa ou letras móveis e, ao confrontar suas
características da linguagem escrita, dos gêneros, convenções produções, podem comparar suas escritas, consultarem-se,
e formas. Essas situações são planejadas com o objetivo de corrigirem-se, socializarem ideias e informações etc.
eliminar algumas dificuldades inerentes à produção de textos, Para favorecer as práticas de escrita, algumas condições
pois consistem em recriar algo a partir do que já existe. são consideradas essenciais.
Essas situações são aquelas nas quais as crianças
reescrevem um texto que já está escrito por alguém e que não Orientações gerais para o professor
é reprodução literal, mas uma versão própria de um texto já
existente. Ambiente alfabetizador
Podem reescrever textos já escritos e para tal precisam Diz-se que um ambiente é alfabetizador quando promove
retirar ou acrescentar elementos com relação ao texto original. um conjunto de situações de usos reais de leitura e escrita nas
Pode-se propor às crianças que reescrevam notícias da quais as crianças têm a oportunidade de participar. Se os
atualidade que saíram no jornal que lhes interessou, ou uma adultos com quem as crianças convivem utilizam a escrita no
lenda, uma história etc. seu cotidiano e oferecem a elas a oportunidade de presenciar
Nas atividades de escrita, parte-se do pressuposto que as e participar de diversos atos de leitura e de escrita, elas podem,
crianças se apropriam dos conteúdos, transformando-os em desde cedo, pensar sobre a língua e seus usos, construindo
conhecimento próprio em situações de uso, quando têm ideias sobre como se lê e como se escreve.
problemas a resolver e precisam colocar em jogo tudo o que Na instituição de educação infantil, são variadas as
sabem para fazer o melhor que podem. situações de comunicação que necessitam da mediação pela
As crianças que não sabem escrever de forma escrita. Isso acontece, por exemplo, quando se recorre a uma
convencional, ao receberem um convite para fazê-lo, estão instrução escrita de uma regra de jogo, quando se lê uma
diante de uma verdadeira situação-problema, na qual se pode notícia de jornal de interesse das crianças, quando se informa
observar o desenvolvimento do seu processo de sobre o dia e o horário de uma festa em um convite de
aprendizagem. Tal prática deve favorecer a construção de aniversário, quando se anota uma ideia para não esquecê-la ou
escritas de acordo com as ideias construídas pelas crianças e quando o professor envia um bilhete para os pais e tem a
promover a busca de informações específicas de que preocupação de lê-lo para as crianças, permitindo que elas se
necessitem, tanto nos textos disponíveis como recorrendo a informem sobre o seu conteúdo e intenção.
informantes (outras crianças e o professor). O fato de as Todas as tarefas que tradicionalmente o professor
escritas não convencionais serem aceitas não significa realizava fora da sala e na ausência das crianças, como
ausência de intervenção pedagógica. O conhecimento sobre a preparar convites para as reuniões de pais, escrever uma carta
natureza e o funcionamento do sistema de escrita precisa ser para uma criança que está se ausentando, ler um bilhete
construído pelas crianças com a ajuda do professor. Para que deixado pelo professor do outro período etc., podem ser
isso aconteça é preciso que ele considere as ideias das crianças partilhadas com as crianças ou integrarem atividades de
ao planejar e orientar as atividades didáticas com o objetivo de exploração dos diversos usos da escrita e da leitura.
desencadear e apoiar as suas ações, estabelecendo um diálogo A participação ativa das crianças nesses eventos de
com elas e fazendo-as avançar nos seus conhecimentos. As letramento configura um ambiente alfabetizador na
crianças podem saber de cor os textos que serão escritos, instituição. Isso é especialmente importante quando as
como, por exemplo, uma parlenda, uma poesia ou uma letra de crianças provêm de comunidades pouco letradas, em que têm
música. pouca oportunidade de presenciar atos de leitura e escrita
Nessas atividades, as crianças precisam pensar sobre junto com parceiros mais experientes. Nesse caso, o professor
quantas e quais letras colocar para escrever o texto, usar o torna-se uma referência bastante importante. Se a educação
conhecimento disponível sobre o sistema de escrita, buscar infantil trouxer os diversos textos utilizados nas práticas
material escrito que possa ajudar a decidir como grafar etc. sociais para dentro da instituição, estará ampliando o acesso
As crianças de um grupo encontram-se, em geral, em ao mundo letrado, cumprindo um papel importante na busca
momentos diferentes no processo de construção da escrita. da igualdade de oportunidades.
Essa diversidade pode resultar em ganhos no Algumas vezes, o termo “ambiente alfabetizador” tem sido
desenvolvimento do trabalho. Daí a importância de uma confundido com a imagem de uma sala com paredes cobertas
prática educativa que aceita e valoriza as diferenças de textos expostos e, às vezes, até com etiquetas nomeando
individuais e fomenta a troca de experiências e conhecimentos móveis e objetos, como se esta fosse uma forma eficiente de
entre as crianças. As atividades de escrita e de produção de expor as crianças à escrita. É necessário considerar que expor
textos são muito mais interessantes, portanto, quando se as crianças às práticas de leitura e escrita está relacionada com
realizam num contexto de interação. No processo de a oferta de oportunidades de participação em situações nas
aprendizagem, o que num dado momento uma criança quais a escrita e a leitura se façam necessárias, isto é, nas quais
consegue realizar apenas com ajuda, posteriormente poderá tenham uma função real de expressão e comunicação.
ser feito com relativa autonomia. A experiência com textos variados e de diferentes gêneros
A criação de um clima favorável para o trabalho em grupo é fundamental para a constituição do ambiente de letramento.
possibilita ricos intercâmbios comunicativos de enorme valor A seleção do material escrito, portanto, deve estar guiada pela
social e educativo. Para que a interação grupal cumpra seu necessidade de iniciar as crianças no contato com os diversos
papel, é preciso que as crianças aprendam a trabalhar juntas. textos e de facilitar a observação de práticas sociais de leitura
Para que desenvolvam essa capacidade, é necessário um e escrita nas quais suas diferentes funções e características
trabalho intencional e sistemático do professor para organizar sejam consideradas. Nesse sentido, os textos de literatura
as situações de interação considerando a heterogeneidade dos geral e infantil, jornais, revistas, textos publicitários etc. são os
conhecimentos das crianças. Além disso, é importante que o modelos que se pode oferecer às crianças para que aprendam
professor escolha as crianças que possam se informar sobre a linguagem que se usa para escrever.
mutuamente, favoreça os intercâmbios, pontue as dificuldades
O professor, de acordo com seus projetos e objetivos, pode Da mesma forma, preparar uma entrevista ou uma
escolher com que gêneros vai trabalhar de forma mais comunicação oral, como um convite para que outro grupo
contínua e sistemática, para que as crianças os conheçam bem. venha assistir a uma apresentação, são atividades que podem
Por exemplo, conhecer o que é uma receita culinária, seu integrar projetos de diversas áreas. Os projetos de linguagem
aspecto gráfico, formato em lista, combinação de palavras e oral podem propor, por exemplo, a gravação em fita cassete de
números que indicam a quantidade dos ingredientes etc., histórias contadas pelas famílias para fazer uma coleção para
assim como as características de uma poesia, histórias em a sala, ou de parlendas, ou, ainda, de brincadeiras cantadas
quadrinhos, notícias de jornal etc. para o acervo de brincadeiras da instituição ou para outro
Alguns textos são adequados para o trabalho com a lugar a ser definido pelo professor e pelas crianças. A pesquisa
linguagem escrita nessa faixa etária, como, por exemplo, e o reconto de casos ou histórias da tradição oral envolvendo
receitas culinárias; regras de jogos; textos impressos em as famílias e a comunidade, que contarão sobre as histórias
embalagens, rótulos, anúncios, slogans, cartazes, folhetos; que povoam suas memórias, é outro projeto que oferece ricas
cartas, bilhetes, postais, cartões (de aniversário, de Natal etc.); possibilidades de trabalho com a linguagem oral.
convites; diários (pessoais, das crianças da sala etc.); histórias Pode-se também organizar saraus literários nos quais as
em quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos crianças escolhem textos (histórias, poesias, parlendas) para
infantis; parlendas, canções, poemas, quadrinhas, adivinhas e contar ou recitar no dia do encontro. Elaborar um
trava-línguas; contos (de fadas, de assombração etc.); mitos, documentário em vídeo ou exposição oral sobre o que as
lendas, “causos” populares e fábulas; relatos históricos; textos crianças sabem de assuntos tratados num projeto de outro
de enciclopédia etc. eixo, como, por exemplo, instruções sobre como se faz uma
pipa.
Organização do tempo No que se refere à linguagem escrita, os projetos
Atividades permanentes favorecem o planejamento do texto por meio da elaboração de
Contar histórias costuma ser uma prática diária nas rascunhos, revisão (com ajuda) e edição (capa, dedicatória,
instituições de educação infantil. Nesses momentos, além de índice, ilustrações etc.), na busca de uma bem cuidada
contar, é necessário ler as histórias e possibilitar seu reconto apresentação do produto final.
pelas crianças. É possível também a leitura compartilhada de Os diversos textos que podem ser produzidos em cada
livros em capítulos, o que possibilita às crianças o acesso, pela projeto devem utilizar modelos de referência correspondentes
leitura do professor, a textos mais longos. aos gêneros com os quais se está trabalhando. É aconselhável
Outra atividade permanente interessante é a roda de que sejam apresentados textos impressos de diferentes
leitores em que periodicamente as crianças tomam autores. Se o texto for um cartaz, devem-se apresentar às
emprestado um livro da instituição para ler em casa. No dia crianças alguns cartazes sobre diversos assuntos, para que
previamente combinado, as crianças podem relatar suas elas possam perceber como são organizados, como o texto é
impressões, comentar o que gostaram ou não, o que pensaram, escrito, como são as imagens etc. Se for um jornal, é necessário
comparar com outros títulos do mesmo autor, contar uma que as crianças possam identificar, entre outras coisas, as
pequena parte da história para recomendar o livro que a diversas seções que o compõem, como se caracteriza uma
entusiasmou às outras crianças. manchete, uma propaganda, uma seção de classificados etc.
A leitura e a escrita também podem fazer parte das Para se montar uma história em quadrinhos, é necessário o
atividades diversificadas, por meio de ambientes organizados conhecimento de vários tipos de histórias em quadrinhos para
para: que as crianças conheçam melhor suas características. Pode-
- leitura: são organizados de forma atraente, num ambiente se identificar os principais temas que envolvem cada
aconchegante, livros de diversos gêneros, de diferentes personagem, os recursos de imagens usadas etc. Assim, se
autores, revistas, histórias em quadrinhos, jornais, amplia o repertório em uso pelas crianças e elas avançam no
suplementos, trabalhos de outras crianças etc.; conhecimento desse tipo de texto. Ao final, as crianças podem
- jogos de escrita: no ambiente criado para os jogos de produzir as próprias histórias em quadrinhos.
mesa, podem-se oferecer jogos gráficos, como caça-palavras, Os projetos que envolvem a escrita podem resultar em
forca, cruzadinhas etc. Nesses casos, convém deixar à diferentes produtos: uma coletânea de textos de um mesmo
disposição das crianças cartelas com letras, letras móveis etc. gênero (poemas, contos de fadas, lendas etc.); um livro sobre
- faz-de-conta: a criação de ambientes para brincar no um tema pesquisado (a vida dos tubarões, das formigas etc.);
interior ou fora da sala possibilita a ampliação contextualizada um cartaz sobre cuidados com a saúde ou com as plantas, para
do universo discursivo, trazendo para o cotidiano da afixar no mural da instituição; um jornal; um livro das receitas
instituição novas formas de interação com a linguagem. Esse aprendidas com os pais que estiverem dispostos a ir preparar
espaço pode um prato junto com as crianças; produção de cartas para
- conter diferentes caixas previamente organizadas pelo correspondência com outras instituições etc.
professor para incrementar o jogo simbólico das crianças, nas Pode-se planejar projetos específicos de leitura,
quais tenham diversos materiais gráficos, próprios às diversas articulados ou não com a escrita: produzir uma fita cassete de
situações cotidianas que os ambientes do faz-de-conta contos ou poesias recitadas por um grupo, para ouvir em casa
reproduzem, como embalagens diversas, livros de receitas, ou para enviar a uma turma de outra instituição; elaborar um
blocos para escrever, talões com impressos diversos etc. álbum de figuras (de animais ou de plantas, de fotos, de ícones
diversos, de logotipos da publicidade ou marcas de produtos
Projetos etc.) colecionadas pelas crianças; elaborar uma antologia de
Os projetos permitem uma interseção entre conteúdos de letras das músicas prediletas do grupo, para recordá-las e
diferentes eixos de trabalho. Há projetos que visam o trabalho poder cantá-las; elaborar uma coletânea de adivinhas para
específico com a linguagem, seja oral ou escrita, levando em “pegar” os pais e irmãos etc.
conta as características e função próprias do gênero. Nos
projetos relacionados aos outros eixos de trabalho, é comum Sequência de atividades
que se faça uso do registro escrito como recurso de Nas atividades sequenciadas de leitura, pode-se eleger
documentação. Elaborar um livro de regras de jogos, um temporariamente, textos que propiciem conhecer a
catálogo de coleções ou um fascículo informativo sobre a vida diversidade possível existente dentro de um mesmo gênero,
dos animais, por exemplo, podem ser produtos finais de como por exemplo, ler o conjunto da obra de um determinado
projetos.
autor ou ler diferentes contos sobre saci-pererê, dragões ou possuem sobre a escrita, a leitura e a linguagem oral, sobre
piratas, ou várias versões de uma mesma lenda etc. suas diferenças individuais, sobre suas possibilidades de
aprendizagem e para que, com isso, se possa planejar a prática,
Os recursos didáticos e sua utilização selecionar conteúdos e materiais, propor atividades e definir
Dentre os principais recursos que precisam estar objetivos com uma melhor adequação didática.
disponíveis na instituição de educação infantil estão os textos, As situações de avaliação devem se dar em atividades
trazidos para a sala do grupo nos seus portadores de origem, contextualizadas para que se possa observar a evolução das
isto é, nos livros, jornais, revistas, cartazes, cartas etc. É crianças. É possível aproveitar as inúmeras ocasiões em que as
necessário que esses materiais sejam colocados à disposição crianças falam, leem e escrevem para se fazer um
das crianças para serem manuseados. Algumas vezes, por acompanhamento de seu progresso. A observação é o principal
medo de que os livros se estraguem, acaba-se restringindo o instrumento para que o professor possa avaliar o processo de
acesso a eles. Deve-se lembrar, no entanto, que a construção da linguagem pelas crianças.
aprendizagem em relação aos cuidados no manuseio desses Em uma avaliação formativa é importante a devolução do
materiais implica em procedimentos e valores que só poderão processo de aprendizagem à criança, isto é, o retorno que o
ser aprendidos se as crianças puderem manuseá-los. professor dá para as crianças a respeito de suas conquistas e
Além disso, sempre que possível, a organização do espaço daquilo que já aprenderam. Por exemplo: “Você já sabe
físico deve ser aconchegante, com almofadas, iluminação escrever o seu nome”, “Você já consegue falar o nome do seu
adequada e livros, revistas, etc. organizados de modo a amigo”, “Você já consegue ler o nome de fulano” etc. É
garantir o livre acesso às crianças. Esse acervo deve conter imprescindível que os parâmetros de avaliação tenham
textos dos mais variados gêneros, oferecidos em seus estreita relação com as situações didáticas propostas às
portadores de origem: livros de contos, poesia, enciclopédias, crianças.
dicionários, jornais, revistas (infantis, em quadrinhos, de São consideradas experiências prioritárias para as
palavras cruzadas), almanaques etc. Também aqueles que são crianças de zero a três anos a utilização da linguagem oral para
produzidos pelas crianças podem compor o acervo: coletâneas se expressar e a exploração de materiais escritos. Para isso, é
de contos, de trava-línguas, de adivinhas, brincadeiras e jogos preciso que as crianças participem de situações nas quais
infantis, livros de narrativas, revistas, jornais etc. Se possível, possam conversar e interagir verbalmente, ouvir histórias
é interessante ter também vários exemplares de um mesmo contadas e lidas pelo professor, presenciar diversos atos de
livro ou gibi. Isso facilita os momentos de leitura escrita realizados pelo professor, ter acesso a diversos
compartilhada com o professor ou entre as crianças. materiais escritos, como livros, revistas, embalagens etc. Há
O gravador é um importante recurso didático por permitir um conjunto de indícios que permitem observar se as
que se ouça posteriormente o que se falou. Pode ser usado oportunidades oferecidas para as crianças dessa faixa etária
para a organização de acervos ou coletâneas de histórias, têm sido suficientes para que elas se familiarizem com as
poesias, músicas, “causos” etc.; para viabilizar o diálogo entre práticas culturais que envolvem a leitura e a escrita. Por
interlocutores distantes ou que não se encontram no mesmo exemplo, se a criança pede que o professor leia histórias, se
ambiente; para realizar entrevistas; para troca de procura livros e outros textos para ver, folhear e manusear, se
informações, entre outras possibilidades. Pode ser utilizado brinca imitando práticas de leitura e escrita. O professor pode
para gravar histórias contadas pelas crianças por meio de um também observar se a criança reconhece e utiliza gestos,
rodízio de contadores. expressões fisionômicas e palavras para comunicar-se e
Nessa situação, as crianças podem observar o tom e o ritmo expressar-se; se construiu um repertório de palavras, frases e
de suas falas, refletir sobre a melhor entonação a ser dada em expressões verbais para fazer perguntas e pedidos; se é capaz
cada momento da história etc. de escutar histórias e relatos com atenção e prazer etc.
Outra possibilidade interessante é utilizar a gravação das A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que tenham
rodas de conversa ou outras situações de interlocução. Com tido muitas oportunidades na instituição de educação infantil
isso, o professor pode promover novas atividades para que as de vivenciar experiências envolvendo a linguagem oral e
crianças reformulem suas perguntas, justifiquem suas escrita, pode-se esperar que as crianças participem de
opiniões, expliquem a informação que possuem, explicitem conversas, utilizando-se de diferentes recursos necessários ao
desacordos. diálogo; manuseiem materiais escritos, interessando-se por
Além disso, o gravador é também um excelente ler e por ouvir a leitura de histórias e experimentem escrever
instrumento para que o professor tenha documentado o que nas situações nas quais isso se faça necessário, como, por
aconteceu e possa a partir daí, refletir, avaliar e reorientar sua exemplo, marcar seu nome nos desenhos. Para que elas
prática. possam vivenciar essas experiências, é necessário oferecer
O trabalho com a escrita pode ser enriquecido por meio da oportunidades para que façam perguntas; elaborem respostas;
utilização do computador. Ainda são poucas as instituições ouçam as colocações das outras crianças; tenham acesso a
infantis que utilizam computadores na sua prática, mas esse diversos materiais escritos e possam manuseá-los, apreciá-los
recurso, quando possível, oferece oportunidades para que as e incluí-los nas suas brincadeiras; ouçam histórias lidas e
crianças tenham acesso ao manuseio da máquina, ao uso do contadas pelo professor ou por outras crianças; possam
teclado, a programas simples de edição de texto, sempre com brincar de escrever, tendo acesso aos materiais necessários a
a ajuda do professor. isso.
Em relação às práticas de oralidade pode-se observar
Observação, registro e avaliação formativa também se as crianças ampliaram seu vocabulário,
incorporando novas expressões e utilizando de expressões de
A avaliação é um importante instrumento para que o cortesia; se percebem quando o professor está lendo ou
professor possa obter dados sobre o processo de falando e se reconhecem o tipo de linguagem escrita ou falada.
aprendizagem de cada criança, reorientar sua prática e Em relação às práticas de leitura, é possível observar se as
elaborar seu planejamento, propondo situações capazes de crianças pedem que o professor leia; se procuram livros de
gerar novos avanços na aprendizagem das crianças. histórias ou outros textos no acervo; se consideram as
A avaliação deve se dar de forma sistemática e contínua ao ilustrações ou outros indícios para antecipar o conteúdo dos
longo de todo o processo de aprendizagem. É aconselhável que textos; se realizam comentários sobre o que “leram” ou
se faça um levantamento inicial para obter as informações escutaram; se compartilham com os outros o efeito que a
necessárias sobre o conhecimento prévio que as crianças
leitura produziu; se recomendam a seus companheiros a propiciarem aberturas para propostas criativas de trabalho,
leitura que as interessou. muitas vezes os temas não ganham profundidade e nem o
Em relação às práticas de escrita e de produção de textos cuidado necessário, acabando por difundir estereótipos
pode-se observar se as crianças se interessam por escrever seu culturais e favorecendo pouco a construção de conhecimentos
nome e o nome de outras pessoas; se recorrem à escrita ou sobre a diversidade de realidades sociais, culturais,
propõem que se recorra quando têm de se dirigir a um geográficas e históricas. Em relação aos índios brasileiros, por
destinatário ausente. exemplo, as crianças, em geral, acabam desenvolvendo uma
O professor deve colecionar produções das crianças, como noção equivocada de que todos possuem os mesmos hábitos e
exemplos de suas escritas, desenhos com escrita, ensaios de costumes: vestem-se com tangas e penas de aves, pintam o
letras, os comentários que fez e suas próprias anotações como rosto, moram em ocas, alimentam-se de mandioca etc. As
observador da produção de cada uma. Com esse material, é crianças ficam sem ter a oportunidade de saber que há muitas
possível fazer um acompanhamento periódico da etnias indígenas no Brasil e que há grandes diferenças entre
aprendizagem e formular indicadores que permitam ter uma elas.
visão da evolução de cada criança. Outra proposta comum nas instituições de educação
Mesmo sem a exigência de que as crianças estejam infantil são as atividades voltadas para o desenvolvimento da
alfabetizadas aos seis anos, todos os aspectos envolvidos no noção de tempo e espaço. Nessas práticas, geralmente, os
processo da alfabetização devem ser considerados. Os conteúdos são tratados de forma desvinculada de suas
critérios de avaliação devem ser compreendidos como relações com o cotidiano, com os costumes, com a História e
referências que permitem a análise do seu avanço ao longo do com o conhecimento geográfico construído na relação entre os
processo, considerando que as manifestações desse avanço homens e a natureza. Em algumas práticas, tem sido
não são lineares, nem idênticas entre as crianças. priorizado o trabalho que parte da ideia de que a criança só
tem condições de pensar sobre aquilo que está mais próximo
Natureza e Sociedade - Introdução a ela e, portanto, que seja materialmente acessível e concreto;
e também da ideia de que, para ampliar sua compreensão
O mundo onde as crianças vivem se constitui em um sobre a vida em sociedade, é necessário graduar os conteúdos
conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis diante de acordo com a complexidade que apresentam. Assim, para
do qual elas se mostram curiosas e investigativas. Desde muito que elas possam conhecer algo sobre os diferentes tipos de
pequenas, pela interação com o meio natural e social no qual organização social, devem centrar sua aprendizagem, primeiro
vivem, as crianças aprendem sobre o mundo, fazendo sobre os grupos menores e com estruturas mais simples e,
perguntas e procurando respostas às suas indagações e posteriormente, sobre as organizações sociais maiores e mais
questões. Como integrantes de grupos socioculturais complexas. Dessa forma, desconsideram-se o interesse, a
singulares, vivenciam experiências e interagem num contexto imaginação e a capacidade da criança pequena para conhecer
de conceitos, valores, ideias, objetos e representações sobre os locais e histórias distantes no espaço e no tempo e lidar com
mais diversos temas a que têm acesso na vida cotidiana, informações sobre diferentes tipos de relações sociais.
construindo um conjunto de conhecimentos sobre o mundo Propostas e práticas escolares diversas que partem
que as cerca. fundamentalmente da ideia de que falar da diversidade
Muitos são os temas pelos quais as crianças se interessam: cultural, social, geográfica e histórica significa ir além da
pequenos animais, bichos de jardim, dinossauros, capacidade de compreensão das crianças têm predominado na
tempestades, tubarões, castelos, heróis, festas da cidade, educação infantil. São negadas informações valiosas para que
programas de TV, notícias da atualidade, histórias de outros as crianças reflitam sobre paisagens variadas, modos distintos
tempos etc. As vivências sociais, as histórias, os modos de vida, de ser, viver e trabalhar dos povos, histórias de outros tempos
os lugares e o mundo natural são para as crianças parte de um que fazem parte do seu cotidiano.
todo integrado. No trabalho com os conteúdos referentes às Ciências
O eixo de trabalho denominado Natureza e Sociedade Naturais, por sua vez, algumas instituições limitam-se à
reúne temas pertinentes ao mundo social e natural. A intenção transmissão de certas noções relacionadas aos seres vivos e ao
é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao mesmo tempo corpo humano. Desconsiderando o conhecimento e as ideias
em que são respeitadas as especificidades das fontes, que as crianças já possuem, valorizam a utilização de
abordagens e enfoques advindos dos diferentes campos das terminologia técnica, o que pode constituir uma formalização
Ciências Humanas e Naturais. de conteúdos não significativa para as crianças. Um exemplo
disso são as definições ensinadas de forma
Presença dos conhecimentos sobre natureza e descontextualizadas sobre os diversos animais: “são
sociedade na educação infantil: ideias e práticas correntes mamíferos” ou “são anfíbios” etc., e as atividades de classificar
animais e plantas segundo categorias definidas pela Zoologia e
Determinados conteúdos pertinentes às áreas das Ciências pela Biologia. Desconsidera-se assim a possibilidade de as
Humanas e Naturais sempre estiveram presentes na crianças exporem suas formulações para posteriormente
composição dos currículos e programas de educação infantil. compará-las com aquelas que a ciência propõe.
Na maioria das instituições, esses conteúdos estão Algumas práticas também se baseiam em atividades
relacionados à preparação das crianças para os anos voltadas para uma formação moralizante, como no caso do
posteriores da sua escolaridade, como no caso do trabalho reforço a certas atitudes relacionadas à saúde e à higiene.
voltado para o desenvolvimento motor e de hábitos e atitudes, Muitas vezes nessas situações predominam valores,
no qual é fundamental a aquisição de procedimentos como estereótipos e conceitos de certo/errado, feio/bonito,
copiar, repetir e colorir produções prévias (desenhos, limpo/sujo, mau/bom etc., que são definidos e transmitidos de
exercícios etc.). modo preconceituoso.
Algumas práticas valorizam atividades com festas do Outras práticas de Ciências realizam experiências pontuais
calendário nacional: o Dia do Soldado, o Dia das Mães, o Dia do de observação de pequenos animais ou plantas, cujos passos já
Índio, o Dia da Primavera, a Páscoa etc. Nessas ocasiões, as estão previamente estabelecidos, sendo conduzidos pelo
crianças são solicitadas a colorir desenhos mimeografados professor. Nessas atividades, a ênfase recai apenas sobre as
pelos professores, como coelhinhos, soldados, bandeirinhas, características imediatamente perceptíveis. Em muitas
cocares etc., e são fantasiadas e enfeitadas com chapéus, faixas, situações, os problemas investigados não ficam explícitos para
espadas e pinturas. Apesar de certas ocasiões comemorativas as crianças e suas ideias sobre os resultados do experimento,
bem como suas explicações para os fenômenos, não são pensamento se dão simultaneamente ao desenvolvimento da
valorizadas. linguagem e de suas capacidades de expressão. À medida que
O trabalho com os conhecimentos derivados das Ciências crescem se deparam com fenômenos, fatos e objetos do
Humanas e Naturais deve ser voltado para a ampliação das mundo; perguntam, reúnem informações, organizam
experiências das crianças e para a construção de explicações e arriscam respostas; ocorrem mudanças
conhecimentos diversificados sobre o meio social e natural. fundamentais no seu modo de conceber a natureza e a cultura.
Nesse sentido, refere-se à pluralidade de fenômenos e Nos primeiros anos de vida, o contato com o mundo
acontecimentos - físicos, biológicos, geográficos, históricos e permite à criança construir conhecimentos práticos sobre seu
culturais -, ao conhecimento da diversidade de formas de entorno, relacionados à sua capacidade de perceber a
explicar e representar o mundo, ao contato com as explicações existência de objetos, seres, formas, cores, sons, odores, de
científicas e à possibilidade de conhecer e construir novas movimentar-se nos espaços e de manipular os objetos.
formas de pensar sobre os eventos que as cercam. Experimenta expressar e comunicar seus desejos e emoções,
É importante que as crianças tenham contato com atribuindo as primeiras significações para os elementos do
diferentes elementos, fenômenos e acontecimentos do mundo, mundo e realizando ações cada vez mais coordenadas e
sejam instigadas por questões significativas para observá-los intencionais, em constante interação com outras pessoas com
e explicá-los e tenham acesso a modos variados de quem compartilha novos conhecimentos.
compreendê-los e representá-los. Ao lado de diversas conquistas, as crianças iniciam o
Os conhecimentos socialmente difundidos e as culturas reconhecimento de certas regularidades dos fenômenos
dos diversos povos do presente e de outras épocas apresentam sociais e naturais e identificam contextos nos quais ocorrem.
diferentes respostas para as perguntas sobre o mundo social e Costumam repetir uma ação várias vezes para constatar se
natural. Por exemplo, para os antigos hindus, a Terra tinha a dela deriva sempre a mesma consequência. Inúmeras vezes
forma plana e era sustentada por diversos animais. Para os colocam e retiram objetos de diferentes tamanhos e formas em
ianomâmis, o mundo está dividido em três terras: a “terra de baldes cheios d’água, constatando intrigadas, por exemplo,
cima”, que é muito velha e cheia de rachaduras por onde que existem aqueles que afundam e aqueles que flutuam.
escoam as águas dos rios e dos lagos, formando a chuva que cai Observam, em outros momentos, a presença da lua em noites
sobre a “terra do meio”, que é o lugar onde vivem os seres de tempo bom e fazem perguntas interessantes quando a
humanos; e a “terra de baixo”, que, mais recente, está sob localizam no céu durante o dia.
nossos pés. Movidas pelo interesse e pela curiosidade e confrontadas
Para algumas crianças, na perspectiva da superfície com as diversas respostas oferecidas por adultos, outras
terrestre, a Terra pode parecer um grande disco plano crianças e/ou por fontes de informação, como livros, notícias
recoberto por um gigantesco guarda-chuva - o céu. Assim, e reportagens de rádio e TV etc., as crianças podem conhecer o
diferentes formas de compreender, explicar e representar mundo por meio da atividade física, afetiva e mental,
elementos do mundo coexistem e fazem parte do repertório construindo explicações subjetivas e individuais para os
sociocultural da humanidade. Os mitos e as lendas diferentes fenômenos e acontecimentos.
representam uma das muitas formas de explicar os fenômenos Quanto menores forem as crianças, mais suas
da sociedade e da natureza e permitem reconhecer representações e noções sobre o mundo estão associadas
semelhanças e diferenças entre conhecimentos construídos diretamente aos objetos concretos da realidade conhecida,
por diferentes povos e culturas. observada, sentida e vivenciada. O crescente domínio e uso da
O conhecimento científico socialmente construído e linguagem, assim como a capacidade de interação,
acumulado historicamente, por sua vez, apresenta um modo possibilitam, todavia, que seu contato com o mundo se amplie,
particular de produção de conhecimento de indiscutível sendo cada vez mais mediado por representações e por
importância no mundo atual e difere das outras formas de significados construídos culturalmente.
explicação e representação do mundo, como as lendas e mitos Na medida em que as experiências cotidianas são mais
ou os conhecimentos cotidianos, ditos de “senso comum”. Por variadas e os seus critérios de agrupamento não dão mais
meio da ciência, pode-se saber, por exemplo, que a Terra é conta de explicar as relações, as associações passam a serem
esférica, ligeiramente achatada nos polos. As descobertas revistas e reconstruídas. Nesse processo constante de
científicas, ao longo da história, marcaram a relação entre o reconstrução, as estruturas de pensamento das crianças
homem e o mundo. Se por um lado o conhecimento científico sofrem mudanças significativas que repercutem na
imprime novas possibilidades de relação do homem com o possibilidade de elas compreenderem de modo diferenciado
mundo, por outro, as transformações dessa relação permitem tanto os objetos quanto a linguagem usada para representá-
que algumas ideias sejam modificadas e que novas teorias e los.
novos conhecimentos sejam produzidos. Ainda que revistos e O brincar de faz-de-conta, por sua vez, possibilita que as
modificados ao longo do tempo e em função de novas crianças reflitam sobre o mundo. Ao brincar, as crianças
descobertas, algumas ideias, hipóteses e teorias e alguns podem reconstruir elementos do mundo que as cerca com
diagnósticos produzidos em diferentes momentos da história novos significados, tecer novas relações, desvincular-se dos
possuem uma inegável importância no processo de construção significados imediatamente perceptíveis e materiais para
do conhecimento científico atual. atribuir-lhes novas significações, imprimir-lhes suas ideias e
O trabalho com este eixo, portanto, deve propiciar os conhecimentos que têm sobre si mesma, sobre as outras
experiências que possibilitem uma aproximação ao pessoas, sobre o mundo adulto, sobre lugares distantes e/ou
conhecimento das diversas formas de representação e conhecidos.
explicação do mundo social e natural para que as crianças Na medida em que se desenvolve e sistematiza
possam estabelecer progressivamente a diferenciação que conhecimentos relativos à cultura, a criança constrói e
existe entre mitos, lendas, explicações provenientes do “senso reconstrói noções que favorecem mudanças no seu modo de
comum” e conhecimentos científicos. compreender o mundo, permitindo que ocorra um processo de
confrontação entre suas hipóteses e explicações com os
Criança, a natureza e a sociedade conhecimentos culturalmente difundidos nas interações com
os outros, com os objetos e fenômenos e por intermédio da
As crianças refletem e gradativamente tomam consciência atividade interna e individual.
do mundo de diferentes maneiras em cada etapa do seu Nesse processo, as crianças vão gradativamente
desenvolvimento. As transformações que ocorrem em seu percebendo relações, desenvolvendo capacidades ligadas à
identificação de atributos dos objetos e seres, à percepção de no tempo. Podem também trocar ideias e informações, debatê-
processos de transformação, como nas experiências com las, confrontá-las, distingui-las e representa-las, aprendendo,
plantas, animais ou materiais. Valendo-se das diferentes aos poucos, como se produz um conhecimento novo ou por
linguagens (oral, desenho, canto etc.), nomeiam e representam que as ideias mudam ou permanecem.
o mundo, comunicando ao outro seus sentimentos, desejos e Contudo, o professor precisa ter claro que esses domínios
conhecimentos sobre o meio que observam e vivem. e conhecimentos não se consolidam nesta etapa educacional.
No que se refere ao pensamento, uma das características São construídos, gradativamente, na medida em que as
principais nesta fase é a tendência que a criança apresenta crianças desenvolvem atitudes de curiosidade, de crítica, de
para eleger alguns aspectos de cada situação, construindo uma refutação e de reformulação de explicações para a pluralidade
lógica própria de interpretação. As hipóteses que as crianças e diversidade de fenômenos e acontecimentos do mundo
se colocam e a forma como resolvem os problemas social e natural.
demonstram uma organização peculiar em que as associações
e as relações são estabelecidas de forma pouco objetiva, Objetivos
regidos por critérios subjetivos e afetivamente determinados.
A forma peculiar de elaboração das regularidades dos Crianças de zero a três anos
objetos e fenômenos, porém, não significa que a formação de A ação educativa deve se organizar para que as crianças, ao
conceitos, pela criança, comece forçosamente do concreto, do final dos três anos, tenham desenvolvido as seguintes
particular ou da observação direta de objetos e fenômenos da capacidades:
realidade. A formação de conceitos pelas crianças, ao - explorar o ambiente, para que possa se relacionar com
contrário, se apoia em concepções mais gerais acerca dos pessoas, estabelecer contato com pequenos animais, com
fenômenos, seres, e objetos e, à medida que elas crescem, plantas e com objetos diversos, manifestando curiosidade e
dirige-se à particularização. Nesse processo, as crianças interesse;
procuram mencionar os conceitos e modelos explicativos que
estão construindo em diferentes situações de convivência, Crianças de quatro a seis anos
utilizando-os em momentos que lhes parecem convenientes e Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária
fazendo uso deles em contextos significativos, formulando-os de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados,
e reformulando-os em função das respostas que recebem às garantindo-se, ainda, oportunidades para que as crianças
indagações e problemas que são colocados por elas e para elas. sejam capazes de:
Isso significa dizer que a aprendizagem de fatos, conceitos, - interessar-se e demonstrar curiosidade pelo mundo
procedimentos, atitudes e valores não se dá de forma social e natural, formulando perguntas, imaginando soluções
descontextualizada. O acesso das crianças ao conhecimento para compreendê-lo, manifestando opiniões próprias sobre os
elaborado pelas ciências é mediado pelo mundo social e acontecimentos, buscando informações e confrontando ideias;
cultural. - estabelecer algumas relações entre o modo de vida
Assim, as questões presentes no cotidiano e os problemas característico de seu grupo social e de outros grupos;
relacionados à realidade, observáveis pela experiência - estabelecer algumas relações entre o meio ambiente e as
imediata ou conhecidos pela mediação de relatos orais, livros, formas de vida que ali se estabelecem, valorizando sua
jornais, revistas, televisão, rádio, fotografias, filmes etc., são importância para a preservação das espécies e para a
excelentes oportunidades para a construção desse qualidade da vida humana.
conhecimento. É também por meio da possibilidade de
formular suas próprias questões, buscar respostas, imaginar Conteúdos
soluções, formular explicações, expressar suas opiniões,
interpretações e concepções de mundo, confrontar seu modo Os conteúdos aqui indicados deverão ser organizados e
de pensar com os de outras crianças e adultos, e de relacionar definidos em função das diferentes realidades e necessidades,
seus conhecimentos e ideias a contextos mais amplos, que a de forma a que possam ser de fato significativos para as
criança poderá construir conhecimentos cada vez mais crianças.
elaborados. Esses conhecimentos não são, porém, Os conteúdos deverão ser selecionados em função dos
proporcionados diretamente às crianças. Resultam de um seguintes critérios:
processo de construção interna compartilhada com os outros, - relevância social e vínculo com as práticas sociais
no qual elas pensam e refletem sobre o que desejam conhecer. significativas;
É preciso reconhecer a multiplicidade de relações que se - grau de significado para a criança;
estabelecem e dimensiona-las, sem reduzi-las ou simplificá- - possibilidade que oferecem de construção de uma visão
las, de forma a promover o avanço na aprendizagem das de mundo integrada e relacional;
crianças. É preciso também considerar que a complexidade - possibilidade de ampliação do repertório de
dos diversos fenômenos do mundo social e natural nem conhecimentos a respeito do mundo social e natural.
sempre pode ser captada de forma imediata. Muitas relações Propõe-se que os conteúdos sejam trabalhados junto às
só se tornam evidentes na medida em que novos fatos são crianças, prioritariamente, na forma de projetos que integrem
conhecidos, permitindo que novas ideias surjam. Por meio de diversas dimensões do mundo social e natural, em função da
algumas perguntas e da colocação de algumas dúvidas pelo diversidade de escolhas possibilitada por este eixo de
professor, as crianças poderão aprender a observar seu trabalho.
entorno de forma mais intencional e a descrever os elementos
que o caracterizam, percebendo múltiplas relações que se Crianças de zero a três anos
estabelecem e que podem, igualmente, ser estabelecidas com O trabalho nessa faixa etária acontece inserido e integrado
outros lugares e tempos. no cotidiano das crianças. Não serão selecionados blocos de
Dada a grande diversidade de temas que este eixo oferece, conteúdos, mas destacam-se ideias relacionadas aos objetivos
é preciso estruturar o trabalho de forma a escolher os assuntos definidos anteriormente e que podem estar presentes nos
mais relevantes para as crianças e o seu grupo social. As mais variados contextos que integram a rotina infantil, quais
crianças devem, desde pequenas, ser instigadas a observar sejam:
fenômenos, relatar acontecimentos, formular hipóteses, - participação em atividades que envolvam histórias,
prever resultados para experimentos, conhecer diferentes brincadeiras, jogos e canções que digam respeito às tradições
contextos históricos e sociais, tentar localizá-los no espaço e culturais de sua comunidade e de outros grupos;
- exploração de diferentes objetos, de suas propriedades e meios, como água, leite, óleo etc., passam por processos de
de relações simples de causa e efeito; transformação, ocasionando diferentes resultados,
- contato com pequenos animais e plantas; proporciona às crianças experiências interessantes.
- conhecimento do próprio corpo por meio do uso e da As crianças podem gradativamente desenvolver uma
exploração de suas habilidades físicas, motoras e perceptivas. percepção integrada do próprio corpo por meio de seu uso na
realização de determinadas ações pertinentes ao cotidiano.
Orientações didáticas Devem ser evitadas as atividades que focalizam o corpo de
A observação e a exploração do meio constituem-se duas forma fragmentada e desvinculada das ações que as crianças
das principais possibilidades de aprendizagem das crianças realizam. É importante que elas possam perceber seu corpo
desta faixa etária. É dessa forma que poderão, gradualmente, como um todo integrado que envolve tanto os diversos órgãos
construir as primeiras noções a respeito das pessoas, do seu e funções como as sensações, as emoções, os sentimentos e o
grupo social e das relações humanas. A interação com adultos pensamento. A aprendizagem dos nomes das partes do corpo
e crianças de diferentes idades, as brincadeiras nas suas mais e de algumas de suas funções também deve ser feita de forma
diferentes formas, a exploração do espaço, o contato com a contextualizada, por meio de situações reais e cotidianas.
natureza, se constituem em experiências necessárias para o
desenvolvimento e aprendizagem infantis. Crianças de quatro a seis anos
O contato com pequenos animais, como formigas e tatus- Nesta faixa etária aprofundam-se os conteúdos indicados
bola, peixes, tartarugas, patos, passarinhos etc. pode ser para as crianças de zero a três anos, ao mesmo tempo em que
proporcionado por meio de atividades que envolvam a outros são acrescentados. Os conteúdos estão organizados em
observação, a troca de ideias entre as crianças, o cuidado e a cinco blocos: “Organização dos grupos e seu modo de ser, viver
criação com ajuda do adulto. O professor pode, por exemplo, e trabalhar”; “Os lugares e suas paisagens”; “Objetos e
promover algumas excursões ao espaço externo da instituição processos de transformação”; “Os seres vivos” e “Fenômenos
com o objetivo de identificar e observar a diversidade de da natureza”.
pequenos animais presentes ali. A organização dos conteúdos em blocos visa assim a
A criação de alguns animais na instituição, como contemplar as principais dimensões contidas neste eixo de
tartarugas, passarinhos ou peixes, também pode ser realizada trabalho, oferecendo visibilidade às especificidades dos
com a participação das crianças nas atividades de alimentação, diferentes conhecimentos e conteúdos. Deve-se ter claro, no
limpeza etc. Por meio desse contato, as crianças poderão entanto, que essa divisão é didática, visando a facilitar a
aprender algumas noções básicas necessárias ao trato com os organização da prática do professor. Os conteúdos, sempre
animais, como a necessidade de lavar as mãos antes e depois que possível, deverão ser trabalhados de maneira integrada,
do contato com eles, a possibilidade ou não de segurar cada evitando-se fragmentar a vivência das crianças.
animal e as formas mais adequadas para fazê-lo, a Os procedimentos indispensáveis para a aprendizagem
identificação dos perigos que cada um oferece, como das crianças neste eixo de trabalho e que se aplicam a todos os
mordidas, bicadas etc. blocos foram abordados de forma destacada. São eles:
Cuidar de plantas e acompanhar seu crescimento podem se
constituir em experiências bastante interessantes para as Organização dos grupos e seu modo de ser, viver e
crianças. O professor pode cultivar algumas plantas em trabalhar
pequenos vasos ou floreiras, propiciando às crianças As crianças, desde que nascem, participam de diversas
acompanhar suas transformações e participar dos cuidados práticas sociais no seu cotidiano, dentro e fora da instituição
que exigem, como regar, verificar a presença de pragas etc. Se de educação infantil. Dessa forma, adquirem conhecimentos
houver possibilidade, as crianças poderão, com o auxílio do sobre a vida social no seu entorno. A família, os parentes e os
professor, participar de partes do processo de preparação e amigos, a instituição, a igreja, o posto de saúde, a venda, a rua
plantio de uma horta coletiva no espaço externo. entre outros, constituem espaços de construção do
O trabalho com as brincadeiras, músicas, histórias, jogos e conhecimento social. Na instituição de educação infantil, a
danças tradicionais da comunidade favorece a ampliação e a criança encontra possibilidade de ampliar as experiências que
valorização da cultura de seu grupo pelas crianças. O professor traz de casa e de outros lugares, de estabelecer novas formas
deve propiciar o acesso das crianças a esses conteúdos, de relação e de contato com uma grande diversidade de
inserindo-os nas atividades e no cotidiano da instituição. Fazer costumes, hábitos e expressões culturais, cruzar histórias
um levantamento das músicas, jogos e brincadeiras do tempo individuais e coletivas, compor um repertório de
que seus pais e avós eram crianças pode ser uma atividade conhecimentos comuns àquele grupo etc.
interessante que favorece a ampliação do repertório histórico Os conteúdos deste bloco são:
e cultural das crianças. - participação em atividades que envolvam histórias,
Para desenvolver noções relacionadas às propriedades dos brincadeiras, jogos e canções que digam respeito às tradições
diferentes objetos e suas possibilidades de transformação, é culturais de sua comunidade e de outras;
necessário que as crianças possam, desde pequenas, brincar - conhecimento de modos de ser, viver e trabalhar de
com eles, explorá-los e utilizá-los de diversas formas. As alguns grupos sociais do presente e do passado;
crianças devem ter liberdade para manusear e explorar - identificação de alguns papéis sociais existentes em seus
diferentes tipos de objetos. O professor pode colocar diversos grupos de convívio, dentro e fora da instituição;
materiais e objetos na sala, dispostos de forma acessível: - valorização do patrimônio cultural do seu grupo social e
objetos que produzem sons, como chocalhos de vários tipos, interesse por conhecer diferentes formas de expressão
tambores com baquetas etc.; brinquedos; livros; almofadas; cultural.
materiais para construção, que possam ser empilhados e
justapostos etc. As atividades que permitem observar e lidar Orientações didáticas
com transformações decorrentes de misturas de elementos e O trabalho com estes conteúdos pode fomentar, entre as
materiais são sempre interessantes para crianças pequenas. crianças, reflexões sobre a diversidade de hábitos, modos de
Elaborar receitas culinárias, fazer massas caseiras, tintas que vida e costumes de diferentes épocas, lugares e povos, e
não sejam tóxicas ou as mais diversas misturas pelo simples propiciar o conhecimento da diversidade de hábitos existentes
prazer do manuseio são possibilidades de trabalho. Portanto, no seu universo mais próximo (as crianças da própria turma,
oferecer diversos materiais, como terra, areia, farinha, os vizinhos do bairro etc.). Esse trabalho deve incluir o
pigmentos etc., que, misturados entre si ou com diferentes respeito às diferenças existentes entre os costumes, valores e
hábitos das diversas famílias e grupos, e o reconhecimento de mesmos meios de transporte que utilizamos? Será que elas
semelhanças. Deve se ter sempre a preocupação para não brincam das mesmas brincadeiras? Quais serão os alimentos
expor as crianças a constrangimentos e não incentivar a preferidos delas?” são algumas das questões que se pode
discriminação. tentar responder ao desenvolver um trabalho sobre a vida das
O professor deve eleger temas que possibilitem tanto o pessoas em diferentes paisagens brasileiras
conhecimento de hábitos e costumes socioculturais diversos Outro aspecto que pode ser trabalhado está relacionado
quanto a articulação com aqueles que as crianças conhecem, com as mudanças que ocorrem na paisagem local, conforme a
como tipos de alimentação, vestimentas, músicas, jogos e variação do dia e da noite, a sucessão das estações do ano, a
brincadeiras, brinquedos, atividades de trabalho e lazer etc. passagem dos meses e dos anos, à época das festas etc. A
Assim, as crianças podem aprender a estabelecer relações paisagem é dinâmica e observar as mudanças e as
entre o seu dia-a-dia e as vivências socioculturais, históricas e permanências que ocorrem no lugar onde as crianças vivem é
geográficas de outras pessoas, grupos ou gerações. uma estratégia interessante para que elas percebam esse
É importante que as crianças possam também aprender a dinamismo. Aqui também é fundamental que elas aprendam a
indagar e a reconhecer relações de mudanças e permanências estabelecer relações entre essas mudanças, reconhecendo os
nos costumes. Para isso, as vivências de seus pais, avós, vínculos que existem, por exemplo, entre a época do ano e a
parentes, professores e amigos podem ser de grande ajuda. vida das plantas, dos animais e das pessoas de uma forma
Nesse caso, a intenção é que reflitam sobre o que é específico geral.
da época em que vivem e da cultura compartilhada no seu Ao observar a paisagem, as crianças poderão também
meio social. constatar as variações decorrentes da ação humana,
observando, por exemplo, as construções do lugar onde vivem:
Os lugares e suas paisagens “Para que e quando foram feitas?”, “Com que materiais?”, “O
Os componentes da paisagem são tanto decorrentes da que existe de semelhante e de diferente entre elas?”, “Elas
ação da natureza como da ação do homem em sociedade. A sempre foram assim ou sofreram transformações?”, “Como são
percepção dos elementos que compõem a paisagem do lugar as construções de outros lugares?”, “As pessoas utilizam-nas
onde vive é uma aprendizagem fundamental para que a com as mesmas finalidades?”. Questões semelhantes poderão
criança possa desenvolver uma compreensão cada vez mais ser feitas focando outros temas, como o trabalho, a origem e
ampla da realidade social e natural e das formas de nela produção dos alimentos, as festas e comemorações etc.
intervir. Se por um lado, os fenômenos da natureza No trabalho com este bloco de conteúdos, o professor
condicionam a vida das pessoas, por outro lado, o ser humano poderá recorrer a diferentes encaminhamentos. Poderá
vai modificando a paisagem à sua volta, transformando a conversar com as crianças utilizando como suporte
natureza e construindo o lugar onde vive em função de fotografias, cartões postais e outros tipos de imagens que
necessidades diversas - para morar, trabalhar, plantar, se retratem as paisagens variadas. Poderá também trabalhar com
divertir, se deslocar etc. O fato da organização dos lugares ser textos informativos e literários, músicas, documentários e
fruto da ação humana em interação com a natureza abre a filmes que façam referências a outras paisagens. A conversa
possibilidade de ensinar às crianças que muitas são as formas com pessoas da comunidade é outro recurso que pode ser
de relação com o meio que os diversos grupos e sociedades utilizado, principalmente com aquelas que testemunharam as
possuem no presente ou possuíam no passado. São conteúdos transformações pelas quais a paisagem do lugar já passou.
deste bloco: As vivências e percepções dessas pessoas é uma
- observação da paisagem local (rios, vegetação, importante fonte de informação que o professor poderá
construções, florestas, campos, dunas, açudes, mar, resgatar convidando-as para compartilharem com as crianças
montanhas etc.); suas lembranças e experiências de vida.
- utilização, com ajuda dos adultos, de fotos, relatos e O contato com representações como as plantas de rua, os
outros registros para a observação de mudanças ocorridas nas mapas, globos terrestres e outros tipos de representação,
paisagens ao longo do tempo; como os desenhos feitos pelos adultos para indicar percursos
- valorização de atitudes de manutenção e preservação dos (chamados croquis) poderá ocorrer com a mediação do
espaços coletivos e do meio ambiente. professor. Esse contato permitirá às crianças reconhecerem a
função social atribuída a essas representações nos contextos
Orientações didáticas cotidianos e de trabalho, e se aproximarem das características
A percepção dos componentes da paisagem local e de da linguagem gráfica utilizada pela cartografia. Algumas
outras paisagens pode se ampliar na medida em que as brincadeiras, como caça ao tesouro, por exemplo, apresentam
crianças aprendem a observá-los de forma intencional, desafios relacionados à representação gráfica do espaço e
orientada por questões que elas se colocam ou que os adultos podem ser desenvolvidas com as crianças desta faixa etária.
à sua volta lhes propõem. Elas podem ser convidadas a
reconhecer os componentes da paisagem por meio de algumas Objetos e processos de transformação
questões colocadas pelo professor, realizadas em função do Há uma grande variedade de objetos presentes no meio em
tema que está sendo trabalhado: “Que animais e plantas que a criança está inserida, com diferentes características,
convivem conosco?”, “Existem animais e plantas que só naturalmente constituídos ou elaborados em função dos usos
podemos perceber em determinadas épocas do ano?”, “Quais e estéticas de diferentes épocas, com maior ou menor
os sons que marcam este lugar?”. Temas relacionados ao resistência, que se transformam ao longo do tempo, que
relevo, ao clima, à presença da água nos rios, lagos ou no mar, reagem de formas diferentes às ações que lhes são impressas,
às construções, ao trabalho, aos meios de transporte e de que possuem mecanismos que consomem energia etc.
comunicação, à vida no campo e na cidade podem ser Conhecer o mundo implica conhecer as relações entre os
abordados com as crianças, em função do significado que seres humanos e a natureza, e as formas de transformação e
podem ter para elas e das intenções pedagógicas definidas utilização dos recursos naturais que as diversas culturas
pelo professor. É fundamental, porém, que as crianças possam desenvolveram na relação com a natureza e que resultam,
estabelecer relações entre os temas tratados e o seu cotidiano, entre outras coisas, nos diversos objetos disponíveis ao grupo
vinculando aspectos sociais e naturais. “Como será a vida das social ao qual as crianças pertencem, sejam eles ferramentas,
crianças que moram na praia, perto de um grande rio ou máquinas, instrumentos musicais, brinquedos, aparelhos
floresta?”, “Como é viver em uma cidade muito grande ou eletrodomésticos, construções, meios de transporte ou de
muito pequena?”, “Será que todas as crianças utilizam os comunicação, por exemplo.
São conteúdos deste bloco: - conhecimento dos cuidados básicos de pequenos animais
- participação em atividades que envolvam processos de e vegetais por meio da sua criação e cultivo;
confecção de objetos; - conhecimento de algumas espécies da fauna e da flora
- reconhecimento de algumas características de objetos brasileira e mundial;
produzidos em diferentes épocas e por diferentes grupos - percepção dos cuidados necessários à preservação da
sociais; vida e do ambiente;
- conhecimento de algumas propriedades dos objetos: - valorização da vida nas situações que impliquem
refletir, ampliar ou inverter as imagens, produzir, transmitir cuidados prestados a animais e plantas;
ou ampliar sons, propriedades ferromagnéticas etc.; - percepção dos cuidados com o corpo, à prevenção de
- cuidados no uso dos objetos do cotidiano, relacionados à acidentes e à saúde de forma geral;
segurança e prevenção de acidentes, e à sua conservação. - valorização de atitudes relacionadas à saúde e ao bem-
estar individual e coletivo.
Orientações didáticas
Para que os objetos possam ser utilizados como fonte de Orientações didáticas
conhecimentos para as crianças, é necessário criar situações O contato com animais e plantas, a participação em
de aprendizagem nas quais seja possível observar e perceber práticas que envolvam os cuidados necessários à sua criação e
suas características e propriedades não evidentes. Para que cultivo, a possibilidade de observá-los, compará-los e
isso ocorra é preciso oferecer às crianças novas informações e estabelecer relações é fundamental para que as crianças
propiciar experiências diversas. O professor pode organizar possam ampliar seu conhecimento acerca dos seres vivos. O
uma atividade para a confecção de objetos variados, como professor pode criar situações para que elas percebam os
brinquedos feitos de madeira, tecido, papel e outros tipos de animais que compartilham o mesmo espaço que elas: “Quais
materiais, alguns jogos de tabuleiro e de mesa, como dama ou são esses animais?”, “Onde vivem?”, “Existem épocas em que
dominó, ou objetos para uso cotidiano feitos de embalagens de eles desaparecem?”, “Nas árvores da redondeza vivem muitos
papelão e plástico, por exemplo. Pode também oferecer às bichos?”, “E nas ruas, que tipos de animais se encontram?”,
crianças diferentes tipos de materiais (pedaços de madeira, “Eles podem ser vistos de noite e de dia?”. Formigas, caracóis,
tecidos, cordas, embalagens etc.) e propor alguns problemas tatus-bola, borboletas, lagartas etc. podem ser observados no
para as crianças resolverem e poderem aplicar os jardim da instituição, pesquisados em livros ou mantidos
conhecimentos que possuem, como, por exemplo, construir temporariamente na sala. Oferecer oportunidades para que as
uma ponte de modo que ela não caia, montar uma cabana, crianças possam expor o que sabem sobre os animais que têm
descobrir se um barco feito de pedaços de madeira ou de papel em casa, como cachorros, gatos etc., também é uma forma de
flutua etc. promover a aprendizagem sobre os seres vivos. O cultivo de
As crianças podem ser convidadas a conhecer diferentes plantas também pode ser realizado por meio da manutenção
objetos e modos de usá-los por meio de fontes escritas, de pequenos vasos na sala ou do cultivo de uma horta no
ilustrações ou de entrevistas com pessoas da comunidade. espaço externo da instituição. Algumas hortaliças e plantas
Também poderão ser realizadas perguntas e colocações frutíferas podem ser cultivadas em vasos, como é o caso do
relacionadas ao uso que é dado a diferentes objetos pelas tomate, do morango, da pimenta, da salsinha e de vários
crianças e pelos adultos; às transformações pelas quais temperos. No caso de haver possibilidade de se manter
passam ao longo do tempo; aos materiais de que são feitos; à pequenos animais e plantas no espaço da sala, as atividades de
sua confecção em outros tempos ou ainda àqueles objetos observação, registro etc. podem integrar a rotina diária. Da
feitos por grupos que vivem em outros lugares ou viveram em mesma forma, se for possível manter uma horta na instituição,
outros tempos. as crianças também podem observar o crescimento das
O professor deverá também trabalhar de forma constante hortaliças e vegetais, além de aproveitá-los nas refeições. Cabe
e permanente com as atitudes de cuidado necessárias para ao professor planejar os momentos de visita e de cuidados,
lidar com os diferentes objetos, de forma a evitar o integrando-os na rotina como atividades permanentes.
desperdício, conservá-los e prevenir acidentes. Para isso é Na educação infantil, é possível realizar um trabalho por
necessário que as crianças possam interagir com os diferentes meio do qual as crianças possam conhecer o seu corpo, e o que
objetos, fazer uso deles e receber do professor as informações acontece com ele em determinadas situações, como quando
sobre suas características, funções e usos em contextos correm bastante, quando ficam muitas horas sem comer etc.
significativos para elas. Partindo sempre das ideias e representações que as crianças
possuem, o professor pode fazer perguntas instigantes e
Os seres vivos oferecer meios para que as crianças busquem maiores
O ser humano, os outros animais e as plantas provocam informações e possam reformular suas ideias iniciais.
bastante interesse e curiosidade nas crianças: “Por que a Ao conhecer o funcionamento do corpo, as crianças
lagartixa não cai do teto?”, “Existem plantas carnívoras?”, “Por poderão aprender também a cuidar de si de forma a evitar
que algumas flores exalam perfume e outras não?”, “O que acidentes e manter a saúde: “Que cuidados ter para não se
aconteceria se os sapos comessem insetos até que eles machucar durante uma brincadeira?”, “Por que é importante
acabassem?”. São muitas as questões, hipóteses, relações e tomar água após um esforço físico prolongado?”. O trabalho
associações que as crianças fazem em torno deste tema. Em com este bloco de conteúdo poderá ocorrer de forma
função disso, o trabalho com os seres vivos e suas intricadas concomitante ao trabalho com os conteúdos propostos no
relações com o meio oferece inúmeras oportunidades de documento de Identidade e Autonomia, no capítulo que se
aprendizagem e de ampliação da compreensão que a criança refere à Saúde, promovendo aprendizagens relacionadas aos
tem sobre o mundo social e natural. A construção desse cuidados com o corpo, à prevenção de acidentes, à saúde e ao
conhecimento também é uma das condições necessárias para bem-estar.
que as crianças possam, aos poucos, desenvolver atitudes de
respeito e preservação à vida e ao meio ambiente, bem como Os fenômenos da natureza
atitudes relacionadas à sua saúde. A seca, as chuvas e as tempestades, as estrelas e os
São conteúdos deste bloco: planetas, os vulcões, os furacões etc. são assuntos que
- estabelecimento de algumas relações entre diferentes despertam um grande interesse nas crianças. Alguns são
espécies de seres vivos, suas características e suas fenômenos presenciados e vividos pelas crianças, outros são
necessidades vitais; conhecidos por serem comumente veiculados pelos meios de
comunicação e outros por estarem presentes no imaginário passagem da luz, como panos grossos; se querem modificar a
das pessoas e nos mitos, nas lendas e nos contos. Algumas cor da luz, poderão escolher tecidos e papéis translúcidos e
perguntas, como “Por que as sombras dos objetos mudam de coloridos etc. As crianças poderão observar como se faz para a
lugar ao longo do dia?”, “As estrelas são fixas no céu ou será sombra crescer ou diminuir na parede e observar como isso
que elas se movimentam?”, “Como fica a cidade depois de uma também ocorre em função da posição do sol, durante o dia. O
pancada forte de chuva?”, ou “O que acontece quando fica professor deve buscar informações que possam ser úteis para
muito tempo sem chover?”, podem desencadear um trabalho essa aprendizagem.
intencional, favorecendo a percepção sobre a complexidade e
diversidade dos fenômenos da natureza e o desenvolvimento Orientações gerais para o professor
de capacidades importantes relacionadas à curiosidade, à
dúvida diante do evidente, à elaboração de perguntas, ao Ampliar o conhecimento das crianças em relação a fatos e
respeito ao ambiente etc. acontecimentos da realidade social e sobre elementos e
A compreensão de que há uma relação entre os fenômenos fenômenos naturais requer do professor trabalhar com suas
naturais e a vida humana é um importante aprendizado para a próprias ideias, conhecimentos e representações sociais
criança. A partir de questionamentos sobre tais fenômenos, as acerca dos assuntos em pauta. É preciso, também, que os
crianças poderão refletir sobre o funcionamento da natureza, professores reflitam e discutam sobre seus preconceitos,
seus ciclos e ritmos de tempo e sobre a relação que o homem evitando transmiti-los nas relações com as crianças. Todo
estabelece com ela, o que lhes possibilitará, entre outras trabalho pedagógico implica transmitir, conscientemente ou
coisas, ampliar seus conhecimentos, rever e reformular as não, valores e atitudes relacionados ao ato de conhecer. Por
explicações que possuem sobre eles. exemplo, o respeito pelo pensamento do outro e por opiniões
São conteúdos deste bloco: divergentes, a valorização da troca de ideias, a posição
- estabelecimento de relações entre os fenômenos da reflexiva diante de informações são algumas entre outras
natureza de diferentes regiões (relevo, rios, chuvas, secas etc.) atitudes que o professor deve possuir. É preciso também
e as formas de vida dos grupos sociais que ali vivem; avançar para além das primeiras ideias e concepções acerca
- participação em diferentes atividades envolvendo a dos assuntos que se pretende trabalhar com as crianças. A
observação e a pesquisa sobre a ação de luz, calor, som, força atuação pedagógica neste eixo necessita apoiar-se em
e movimento. conhecimentos específicos derivados dos vários campos de
conhecimento que integram as Ciências Humanas e Naturais.
Orientações didáticas Buscar respostas, informações e se familiarizar com conceitos
As atividades relacionadas com os fenômenos da natureza, e procedimentos dessas áreas se faz necessário.
além de tratarem de um tema que desperta bastante interesse Para que a criança avance na construção de novos
nas crianças, permitem que se trabalhe de forma privilegiada conhecimentos é importante que o professor desenvolva
a relação que o homem estabelece com a natureza. Podem ser algumas estratégias de ensino:
trabalhados por meio da observação direta quando ocorrem - partir de perguntas interessantes - em lugar de
na região onde se situa a instituição de educação infantil, como apresentar explicações, de passar conteúdos utilizando
as chuvas, a seca, a presença de um arco-íris etc., ou de forma didáticas expositivas sobre fatos sociais, elementos ou
indireta, por meio de fotografias, filmes de vídeo, ilustrações, fenômenos da natureza, é necessário propor questões
jornais e revistas etc. que tragam informações a respeito do instigantes para as crianças. Boas perguntas, questionamentos
assunto. Sair para um passeio na região próxima à instituição interessantes, dúvidas que mobilizem o processo de indagação
após uma pancada de chuva, para observar os efeitos causados acerca dos elementos, objetos e fatos são imprescindíveis para
na paisagem, por exemplo, pode ser bastante interessante. Ao o trabalho com este eixo. As boas perguntas além de
mesmo tempo em que se destaca um fenômeno natural, promoverem o interesse da criança, possibilitam que se
permitindo que as crianças reflitam sobre como ele ocorre, conheça o que pensam e sabem sobre o assunto. É importante
pode-se também observar a sua interferência na vida humana que as perguntas ou problematizações formuladas pelo
e as suas consequências, como a situação das ruas, das plantas professor permitam às crianças relacionar o que já sabem ou
e das árvores, os odores, o movimento das pessoas, a erosão dominam com o novo conhecimento. Esse tipo de
causada nos locais onde há terra descoberta etc. Da mesma questionamento pode estar baseado em aspectos práticos do
forma, pode-se trazer, para conhecimento das crianças, livros, dia-a-dia da criança, relacionados ao modo de vida de seu
fotos e ilustrações de diversos fenômenos ocorridos em outras grupo social (seus hábitos alimentares, sua forma de se vestir,
regiões e suas consequências, como, por exemplo, a neve, os o trabalho e as profissões que seus familiares realizam, por
furacões, os vulcões etc. exemplo); ou ainda ser formulado a partir de fotografias,
O trabalho com os fenômenos naturais também é uma notícias de jornais, histórias, lendas, filmes, documentários,
excelente oportunidade para a aprendizagem de alguns uma exposição que esteja ocorrendo na cidade, a
procedimentos, como a observação, a comparação e o registro, comemoração de um acontecimento histórico, um evento
entre outros. esportivo etc.;
Há muitas atividades que podem ser desenvolvidas com as - considerar os conhecimentos das crianças sobre o
crianças que permitem a observação dos efeitos de luz, calor, assunto a ser trabalhado - a interação das crianças com os
força e movimento. As atividades de cozimento de alimentos, adultos, com outras crianças, com os objetos e o meio social e
por exemplo, oferecem uma ótima oportunidade para que as natural permitem que elas ampliem seus conhecimentos e
crianças possam observar as transformações ocasionadas pelo elaborem explicações e “teorias” cada vez mais complexas
calor. Um trabalho interessante para se desenvolver junto com sobre o mundo. Estes conhecimentos elaborados pelas
as crianças são os jogos que envolvem luz e sombra. Por meio crianças oferecem explicações para as questões que as
de diferentes atividades, as crianças poderão refletir sobre as preocupam. São construções muito particulares e próprias do
diversas fontes de luz possíveis de serem utilizadas - desde a jeito das crianças serem e estarem no mundo. É fundamental
luz natural do dia ou aquela proveniente do fogo, até as considerar esses conhecimentos, pois isso permite ao
artificiais originadas por lanternas ou abajures. Poderão professor planejar uma sequência de atividades que
também perceber quais são os materiais que permitem ou não possibilite uma aprendizagem significativa para as crianças,
a passagem da luz e selecioná-los em função da atividade que nas quais elas possam reconhecer os limites de seus
desejam realizar: se querem ver as sombras projetadas, conhecimentos, ampliá-los e/ou reformulá-los;
deverão escolher materiais ou superfícies que não permitem a
- utilizar diferentes estratégias de busca de informações - organizados e registrados como produtos concretos dessa
os conhecimentos das crianças podem ser ampliados na aprendizagem. O registro pode ser apresentado em diferentes
medida em que elas percebam a existência de algumas lacunas linguagens e formas: textos coletivos ou individuais, murais
nas ideias que possuem e possam obter respostas para as ilustrados, desenhos, maquetes, entre outros. A sistematização
perguntas que têm. É necessário, portanto, prever atividades acontece não só ao final do processo, mas principalmente no
que facilitem a busca de novas informações por meio de várias decorrer dele. É possível planejar situações em que os
formas; resultados de uma pesquisa de um grupo de crianças possam
- coleta de dados - as crianças poderão pesquisar ser socializados também para outros grupos da instituição.
informações em diferentes fontes, na forma de pesquisas, Nesse momento, as crianças recuperam todas as etapas do
entrevistas, histórias de vida e pedidos de informações às processo vivido para poderem construir seu relato sobre ele,
famílias, sempre com a ajuda do professor e de outras pessoas selecionam materiais a serem expostos e decidem sobre a
adultas. As pesquisas se constituem de perguntas sobre configuração da mostra.
determinado assunto, dirigidas a diferentes pessoas, É interessante também que o professor organize registros
elaboradas pelas crianças com ajuda do professor. A história coletivos do trabalho realizado, confeccionando, com as
de vida é uma excelente forma de coleta de dados, por meio da crianças, álbuns, diários ou cadernos de anotações de campo
reconstrução da trajetória de uma pessoa, que possibilita o nos quais elas possam escrever ou desenhar aquilo que
acesso às informações sobre a comunidade, a vida em tempos aprenderam durante o trabalho. O registro escrito poderá ser
passados ou ainda sobre as transformações que a paisagem feito em diferentes momentos da pesquisa, com o objetivo de
local já sofreu; relembrar as informações obtidas e as conclusões a que as
- experiência direta - os passeios com as crianças nos crianças chegaram.
arredores da instituição de educação infantil ou em locais mais
distantes, a ida a museus, centros culturais, granjas, feiras, Cooperação
teatros, zoológicos, jardins botânicos, parques, exposições, Considerando que o desenvolvimento de atitudes
percursos de rios, matas preservadas ou transformadas pela cooperativas e solidárias, entre outras, é um dos objetivos da
ação do homem etc. permitem a observação direta da educação infantil, e considerando as especificidades da faixa
paisagem, a exploração ativa do meio natural e social, etária abrangida, torna-se imprescindível que a instituição
ampliando a possibilidade de observação da criança. A trabalhe para propor à criança a cooperação como desafio, de
observação direta de forma que ela reconheça seus limites como próprios dessa
idade, ao mesmo tempo em que se sinta instigada a ultrapassá-
Diversidade de recursos materiais los. Nesse sentido, o trabalho com este eixo pode promover a
Os recursos materiais usados pelo professor não precisam capacidade das crianças para cooperarem com seus colegas,
ser necessariamente materiais didáticos tampouco por meio das situações de explicação e argumentação de ideias
circunscritos àquilo que a instituição possui. Há várias e opiniões, bem como por meio dos projetos, nos quais a
organizações governamentais e não governamentais que participação de cada criança é imprescindível para a
dispõem de um acervo de livros, filmes etc. e que podem ser realização de um produto coletivo.
requisitados para empréstimo.
É importante que o professor considere as pessoas da Atividades permanentes
comunidade, principalmente as mais idosas, como Atividades permanentes que podem ser desenvolvidas
importantes fontes de informação e convide-as para referem-se principalmente aos cuidados com os animais e
compartilhar com as crianças os conhecimentos que possuem plantas criados e cultivados na sala ou no espaço externo da
a respeito do modo de ser, viver e trabalhar da comunidade instituição. O professor pode estabelecer um rodízio ou
local, das características de paisagens distantes, daquilo que se marcar um horário diário para que se possa aguar as plantas,
transformou no lugar onde as crianças vivem. dar comida aos animais, observá-los, fazer a limpeza
É interessante que os materiais informativos e necessária no local etc.
explicativos, trabalhados como fontes de informação - sejam Outro exemplo de atividade permanente são os cuidados
eles textos, imagens, filmes, objetos, depoimentos de pessoas com o meio ambiente, relacionados à organização e
etc. -, apresentem informações divergentes ou conservação dos materiais e espaços coletivos, à coleta
complementares na maneira como explicam o assunto seletiva de lixo, à economia de energia e água etc. Diariamente,
abordado. Isso será especialmente importante para as o professor poderá organizar o grupo para recolher o lixo
crianças, que a partir de informações diversas poderão ter produzido nas brincadeiras e atividades.
mais elementos sobre os quais refletir.
As fontes de informação devem ser apresentadas, Jogos e brincadeiras
debatidas ou pesquisadas quanto ao lugar em que foram Os momentos de jogo e de brincadeira devem se constituir
obtidas, sua autoria e a época em que foram feitas. É em atividades permanentes nas quais as crianças poderão
importante que as crianças tenham a oportunidade de saber estar em contato também com temas relacionados ao mundo
que existem estudiosos, jornalistas, artistas, fotógrafos, entre social e natural. O professor poderá ensinar às crianças jogos
outros profissionais, que produzem as versões, as explicações, e brincadeiras de outras épocas, propondo pesquisas junto aos
as representações e diferentes registros. Ou seja, que as fontes familiares e outras pessoas da comunidade e/ ou em livros e
de informação também são produtos da pesquisa e do trabalho revistas. Para a criança é interessante conhecer as regras das
de muitas pessoas. brincadeiras de outros tempos, observar o que mudou em
É possível montar junto com as crianças um acervo dos relação às regras atuais, saber do que eram feitos os
materiais obtidos - cartazes, livros, objetos etc. - sobre os brinquedos etc.
diversos assuntos, para que possam recorrer a eles se
precisarem ou se interessarem. Projetos
A elaboração de projetos é, por excelência, a forma de
Diferentes formas de sistematização dos conhecimentos organização didática mais adequada para se trabalhar com
O processo de investigação de um tema, por meio dos este eixo, devido à natureza e à diversidade dos conteúdos que
problemas identificados, da coleta de dados e da busca de ele oferece e também ao seu caráter interdisciplinar.
informações para confirmá-las, refutá-las ou ampliá-las, A articulação entre as diversas áreas que compõem este
resulta na construção de conhecimentos que devem ser eixo é um dos fatores importantes para a aprendizagem dos
conteúdos propostos. A partir de um projeto sobre animais, prática de observar as crianças indica caminhos para
por exemplo, o professor pode ampliar o trabalho, trazendo selecionar conteúdos e propor desafios, a partir dos objetivos
informações advindas do campo da História ou da Geografia. que se pretende alcançar por meio deles. O trabalho de
Inúmeras culturas atribuem a certos animais valores reflexão do professor se faz pela observação e pelo registro.
simbólicos (míticos e religiosos) e existem muitas histórias a O registro é entendido aqui como fonte de informação
respeito. A partir de uma pergunta, como, por exemplo, “Qual valiosa sobre as crianças, em seu processo de aprender, e
o maior animal existente na terra?”, as crianças, além de sobre o professor, em seu processo de ensinar. O registro é o
exporem suas ideias, poderão pesquisar o que pensam as acervo de conhecimentos do professor, que lhe possibilita
outras crianças, os adultos da instituição, os familiares etc. As recuperar a história do que foi vivido, tanto quanto lhe
lendas, as fábulas e os contos sobre grandes animais, presentes possibilita avaliá-la propondo novos encaminhamentos.
nos repertórios e memórias populares, podem se tornar No que se refere à aprendizagem neste eixo, são
excelentes recursos para confronto de ideias. Os consideradas como experiências prioritárias para as crianças
conhecimentos científicos sobre animais pré-históricos e de zero a três anos participar das atividades que envolvam a
sobre os animais de grande porte existentes hoje, sua relação exploração do ambiente imediato e a manipulação de objetos.
com a vida humana, onde e como vivem, a necessidade de sua Para tanto, é preciso que sejam oferecidas a elas muitas
preservação etc. são informações valiosas para que as crianças oportunidades de explorar o ambiente e manipular objetos
possam pensar sobre o assunto. Ao final, as crianças poderão desde o momento em que ingressam na instituição. Andar,
desenhar coletivamente, por etapas, um animal entre aqueles engatinhar, rastejar, rolar, interagir com outras crianças e
que passaram a conhecer. Este produto final é interessante, adultos, brincar etc. são algumas das ações que lhes permitirão
pois envolve pesquisar medidas, formas de trabalhar para explorar o ambiente e adquirir confiança nas suas
fazer desenhos grandes, envolve a cooperação de adultos da capacidades.
instituição para ver onde expor etc. A oferta de materiais diversificados que possibilitem
Pode-se também desenvolver um projeto sobre o modo de diferentes experiências e a proposta de atividades
ser, viver e trabalhar das pessoas de épocas passadas. Para interessantes também são condições necessárias que
isso, podem-se propor entrevistas com os pais e avós, incentivam as ações exploratórias das crianças.
pesquisas sobre as brincadeiras que as crianças faziam, sobre A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que tenham
a alimentação etc. Também se pode desenvolver um projeto tido muitas oportunidades na instituição de educação infantil
semelhante sobre a vida das crianças de uma determinada de vivenciar experiências envolvendo aprendizagens
região do Brasil ou de uma cultura específica, como a indígena, significativas relacionadas com este eixo, pode-se esperar que
por exemplo. as crianças conheçam e valorizem algumas das manifestações
culturais de sua comunidade e manifestem suas opiniões,
Organização do espaço hipóteses e ideias sobre os diversos assuntos colocados. Para
O espaço da sala deve ser organizado de modo a privilegiar tanto, é preciso que o professor desenvolva atividades
a independência da criança no acesso e manipulação dos variadas relacionadas a festas, brincadeiras, músicas e danças
materiais disponíveis ao trabalho, e deve traduzir, na forma da tradição cultural da comunidade, inserindo-as na rotina e
como é organizado, a memória do trabalho desenvolvido pelas nos projetos que desenvolve junto com as crianças. Por meio
crianças. Tudo aquilo que foi produzido, trazido ou coletado dessas atividades, elas poderão conhecer e aprender a
pelo grupo deve estar exposto e ao alcance de todos, valorizar sua cultura. Vale lembrar que os valores se
constituindo-se referência para outras produções e concretizam na prática cotidiana e são construídos pelas
encaminhamentos. crianças também por meio do convívio social. Assim, o
O grupo deverá participar tanto da montagem e professor e a instituição devem organizar sua prática de forma
organização do espaço quanto da sua manutenção. As a manter a coerência entre os valores que querem desenvolver
produções expostas, sempre referentes ao momento vivido e a ação cotidiana.
e/ou temas pesquisados, podem ser recolhidas ao término do O contato com a natureza é de fundamental importância
projeto e levadas pelas crianças para casa, que poderão para as crianças e o professor deve oferecer oportunidades
compartilhá-las, recuperando a história das etapas vividas diversas para que elas possam descobrir sua riqueza e beleza.
junto a seus familiares. Fazer passeios por parques e locais de área verde, manter
contato com pequenos animais, pesquisar em livros e
Observação, registro e avaliação formativa fotografias a diversidade da fauna e da flora, principalmente
brasileira, são algumas das formas de se promover o interesse
O momento de avaliação implica numa reflexão do e a valorização da natureza pela criança.
professor sobre o processo de aprendizagem e sobre as Para que se sintam confiantes para expor suas ideias,
condições oferecidas por ele para que ela pudesse ocorrer. hipóteses e opiniões é preciso que o professor promova
Assim, caberá a ele investigar sobre a adequação dos situações significativas de aprendizagem nas quais as crianças
conteúdos escolhidos, sobre a adequação das propostas possam perceber que suas colocações são acolhidas e
lançadas, sobre o tempo e ritmo impostos ao trabalho, tanto contextualizadas e ofereça atividades que as façam avançar
quanto caberá investigar sobre as aquisições das crianças em nos seus conhecimentos por meio de problemas que sejam ao
vista de todo o processo vivido, na sua relação com os objetivos mesmo tempo desafiadores e possíveis de serem resolvidos.
propostos.
A avaliação não se dá somente no momento final do Matemática - Introdução
trabalho. É tarefa permanente do professor, instrumento
indispensável à constituição de uma prática pedagógica e As crianças, desde o nascimento, estão imersas em um
educacional verdadeiramente comprometida com o universo do qual os conhecimentos matemáticos são parte
desenvolvimento das crianças. integrante. As crianças participam de uma série de situações
A observação também deve ser planejada para que o envolvendo números, relações entre quantidades, noções
professor possa perceber manifestações importantes das sobre espaço. Utilizando recursos próprios e pouco
crianças. Por meio dela, pode-se conhecer mais acerca do que convencionais, elas recorrem a contagem e operações para
as crianças sabem fazer, do que pensam a respeito dos resolver problemas cotidianos, como conferir figurinhas,
fenômenos que observam, do que ainda lhes é difícil entender, marcar e controlar os pontos de um jogo, repartir as balas
assim como conhecer mais sobre os interesses que possuem. A entre os amigos, mostrar com os dedos a idade, manipular o
dinheiro e operar com ele etc. Também observam e atuam no caracterizam como duas realidades dissociadas, em que o
espaço ao seu redor e, aos poucos, vão organizando seus concreto é identificado com o manipulável e o abstrato com as
deslocamentos, descobrindo caminhos, estabelecendo representações formais, com as definições e sistematizações.
sistemas de referência, identificando posições e comparando Essa concepção, porém, dissocia a ação física da ação
distâncias. Essa vivência inicial favorece a elaboração de intelectual, dissociação que não existe do ponto de vista do
conhecimentos matemáticos. Fazer matemática é expor ideias sujeito. Na realidade, toda ação física supõe ação intelectual. A
próprias, escutar as dos outros, formular e comunicar manipulação observada de fora do sujeito está dirigida por
procedimentos de resolução de problemas, confrontar, uma finalidade e tem um sentido do ponto de vista da criança.
argumentar e procurar validar seu ponto de vista, antecipar Como aprender é construir significados e atribuir sentidos, as
resultados de experiências não realizadas, aceitar erros, ações representam momentos importantes da aprendizagem
buscar dados que faltam para resolver problemas, entre outras na medida em que a criança realiza uma intenção.
coisas. Dessa forma as crianças poderão tomar decisões,
agindo como produtoras de conhecimento e não apenas Atividades pré-numéricas
executoras de instruções. Portanto, o trabalho com a Algumas interpretações das pesquisas psicogenéticas
Matemática pode contribuir para a formação de cidadãos concluíram que o ensino da Matemática seria beneficiado por
autônomos, capazes de pensar por conta própria, sabendo um trabalho que incidisse no desenvolvimento de estruturas
resolver problemas. do pensamento lógico-matemático. Assim, consideram-se
Nessa perspectiva, a instituição de educação infantil pode experiências-chave para o processo de desenvolvimento do
ajudar as crianças a organizarem melhor as suas informações raciocínio lógico e para a aquisição da noção de número as
e estratégias, bem como proporcionar condições para a ações de classificar, ordenar/seriar e comparar objetos em
aquisição de novos conhecimentos matemáticos. O trabalho função de diferentes critérios.
com noções matemáticas na educação infantil atende, por um Essa prática transforma as operações lógicas e as provas
lado, às necessidades das próprias crianças de construírem Piagetianas em conteúdos de ensino. A classificação e a
conhecimentos que incidam nos mais variados domínios do seriação têm papel fundamental na construção de
pensamento; por outro, corresponde a uma necessidade social conhecimento em qualquer área, não só em Matemática.
de instrumentalizá-las melhor para viver, participar e Quando o sujeito constrói conhecimento sobre conteúdos
compreender um mundo que exige diferentes conhecimentos matemáticos, como sobre tantos outros, as operações de
e habilidades. classificação e seriação necessariamente são exercidas e se
desenvolvem, sem que haja um esforço didático especial para
Presença da matemática na educação infantil: ideias e isso.
práticas correntes A conservação do número não é um pré-requisito para
trabalhar com os números e, portanto, o trabalho com
A atenção dada às noções matemáticas na educação conteúdos didáticos específicos não deve estar atrelado à
infantil, ao longo do tempo, tem seguido orientações diversas construção das noções e estruturas intelectuais mais gerais.
que convivem, às vezes de maneira contraditória, no cotidiano
das instituições. Dentre elas, estão destacadas a seguir aquelas Jogos e aprendizagem de noções matemáticas
mais presentes na educação infantil. O jogo tornou-se objeto de interesse de psicólogos,
educadores e pesquisadores como decorrência da sua
Repetição, memorização e associação importância para a criança e da ideia de que é uma prática que
Há uma ideia corrente de que as crianças aprendem não só auxilia o desenvolvimento infantil, a construção ou
a Matemática, mas todos os outros conteúdos, por repetição e potencialização de conhecimentos. A educação infantil,
memorização por meio de uma sequência linear de conteúdos historicamente, configurou-se como o espaço natural do jogo e
encadeados do mais fácil para o mais difícil. São comuns as da brincadeira, o que favoreceu a ideia de que a aprendizagem
situações de memorização de algarismos isolados, por de conteúdos matemáticos se dá prioritariamente por meio
exemplo, ensina-se o 1, depois o 2 e assim sucessivamente. dessas atividades. A participação ativa da criança e a natureza
Propõem-se exercícios de escrita dos algarismos em situações lúdica e prazerosa inerentes a diferentes tipos de jogos têm
como: passar o lápis sobre numerais pontilhados, colagem de servido de argumento para fortalecer essa concepção, segundo
bolinhas de papel crepom sobre numerais, cópias repetidas de a qual se aprende Matemática brincando. Isso em parte é
um mesmo numeral, escrita repetida da sucessão numérica. Ao correto, porque se contrapõe à orientação de que, para
mesmo tempo, é comum enfeitar os algarismos, grafando-os aprender Matemática, é necessário um ambiente em que
com figuras de bichos ou dando-lhes um aspecto humano, com predomine a rigidez, a disciplina e o silêncio. Por outro lado,
olhos, bocas e cabelos, ou ainda, promovendo associação entre percebe-se certo tipo de euforia, na educação infantil e até
os algarismos e desenhos, por exemplo, o número 2 associado mesmo nos níveis escolares posteriores, em que jogos,
a dois patinhos. Acredita-se que, dessa forma, a criança estará brinquedos e materiais didáticos são tomados sempre de
construindo o conceito de número. modo indiferenciado na atividade pedagógica: a manipulação
A ampliação dos estudos sobre o desenvolvimento infantil livre ou a aplicação de algumas regras sem uma finalidade
e pesquisas realizadas no campo da própria educação muito clara. O jogo, embora muito importante para as crianças
matemática permitem questionar essa concepção de não diz respeito, necessariamente, à aprendizagem da
aprendizagem restrita à memorização, repetição e associação. Matemática.
Apesar das crenças que envolvem a brincadeira como uma
Do concreto ao abstrato atividade natural e auto instrutiva, algumas investigações
Outra ideia bastante presente é que, a partir da sobre seu significado, seu conteúdo e o conteúdo da
manipulação de objetos concretos, a criança chega a aprendizagem em Matemática têm revelado a aproximação
desenvolver um raciocínio abstrato. A função do professor se entre dois processos com características e alcances diferentes.
restringe a auxiliar o desenvolvimento infantil por meio da O jogo é um fenômeno cultural com múltiplas manifestações e
organização de situações de aprendizagem nas quais os significados, que variam conforme a época, a cultura ou o
materiais pedagógicos cumprem um papel de autoinstrução, contexto. O que caracteriza uma situação de jogo é a iniciativa
quase como um fim em si mesmo. Essa concepção resulta da da criança, sua intenção e curiosidade em brincar com
ideia de que primeiro trabalha-se o conceito no concreto para assuntos que lhe interessam e a utilização de regras que
depois trabalhá-lo no abstrato. O concreto e o abstrato se permitem identificar sua modalidade. Apesar de a natureza do
jogo propiciar também um trabalho com noções matemáticas, aprendizagem matemática não dispensa a intencionalidade e
cabe lembrar que o seu uso como instrumento não significa, o planejamento. Reconhecer a potencialidade e a adequação de
necessariamente, a realização de um trabalho matemático. A uma dada situação para a aprendizagem, tecer comentários,
livre manipulação de peças e regras por si só não garante a formular perguntas, suscitar desafios, incentivar a
aprendizagem. O jogo pode tornar-se uma estratégia didática verbalização pela criança etc., são atitudes indispensáveis do
quando as situações são planejadas e orientadas pelo adulto adulto. Representam vias a partir das quais as crianças
visando a uma finalidade de aprendizagem, isto é, elaboram o conhecimento em geral e o conhecimento
proporcionar à criança algum tipo de conhecimento, alguma matemático em particular.
relação ou atitude. Para que isso ocorra, é necessário haver Deve-se considerar o rápido e intenso processo de
uma intencionalidade educativa, o que implica planejamento e mudança vivido pelas crianças nessa faixa etária. Elas
previsão de etapas pelo professor, para alcançar objetivos apresentam possibilidades de estabelecer vários tipos de
predeterminados e extrair do jogo atividades que lhe são relação (comparação, expressão de quantidade),
decorrentes. representações mentais, gestuais e indagações, deslocamentos
Os avanços na pesquisa sobre desenvolvimento e no espaço.
aprendizagem, bem como os novos conhecimentos a respeito Diversas ações intervêm na construção dos conhecimentos
da didática da Matemática, permitiram vislumbrar novos matemáticos, como recitar a seu modo a sequência numérica,
caminhos no trabalho com a criança pequena. Há uma fazer comparações entre quantidades e entre notações
constatação de que as crianças, desde muito pequenas, numéricas e localizar-se espacialmente. Essas ações ocorrem
constroem conhecimentos sobre qualquer área a partir do uso fundamentalmente no convívio social e no contato das
que faz deles em suas vivências, da reflexão e da comunicação crianças com histórias, contos, músicas, jogos, brincadeiras
de ideias e representações. etc.
Historicamente, a Matemática tem se caracterizado como As respostas de crianças pequenas a perguntas de adultos
uma atividade de resolução de problemas de diferentes tipos. que contenham a palavra “quantos?” podem ser
A instituição de educação infantil poderá constituir-se em aleatoriamente “três”, “cinco”, para se referir a uma suposta
contexto favorável para propiciar a exploração de situações- quantidade. O mesmo ocorre às perguntas que contenham
problema. “quando?”. Nesse caso, respostas como “terça-feira” para
Na aprendizagem da Matemática o problema adquire um indicar um dia qualquer ou “amanhã” no lugar de “ontem” são
sentido muito preciso. Não se trata de situações que permitam frequentes. Da mesma forma, uma criança pequena pode
“aplicar” o que já se sabe, mas sim daquelas que possibilitam perguntar “quanto eu custo?” ao subir na balança, no lugar de
produzir novos conhecimentos a partir dos conhecimentos “quanto eu peso?”. Esses são exemplos de respostas e
que já se tem e em interação com novos desafios. Essas perguntas não muito precisas, mas que já revelam algum
situações-problema devem ser criteriosamente planejadas, a discernimento sobre o sentido de tempo e quantidade. São
fim de que estejam contextualizadas, remetendo a indicadores da permanente busca das crianças em construir
conhecimentos prévios das crianças, possibilitando a significados, em aprender e compreender o mundo.
ampliação de repertórios de estratégias no que se refere à À medida que crescem, as crianças conquistam maior
resolução de operações, notação numérica, formas de autonomia e conseguem levar adiante, por um tempo maior,
representação e comunicação etc., e mostrando-se como uma ações que tenham uma finalidade, entre elas atividades e jogos.
necessidade que justifique a busca de novas informações. As crianças conseguem formular questões mais elaboradas,
Embora os conhecimentos prévios não se mostrem aprendem a trabalhar diante de um problema, desenvolvem
homogêneos porque resultam das diferentes experiências estratégias, criam ou mudam regra de jogos, revisam o que
vividas pelas crianças, eles são o ponto de partida para a fizeram e discutem entre pares as diferentes propostas.
resolução de problemas e, como tal, devem ser considerados
pelos adultos. Cada atividade e situação-problema proposta Objetivos
pelo adulto deve considerar esses conhecimentos prévios e
prever estratégias para ampliá-los. Crianças de zero a três anos
Ao se trabalhar com conhecimentos matemáticos, como A abordagem da Matemática na educação infantil tem
com o sistema de numeração, medidas, espaço e formas etc., como finalidade proporcionar oportunidades para que as
por meio da resolução de problemas, as crianças estarão, crianças desenvolvam a capacidade de:
consequentemente, desenvolvendo sua capacidade de - estabelecer aproximações a algumas noções matemáticas
generalizar, analisar, sintetizar, inferir, formular hipótese, presentes no seu cotidiano, como contagem, relações espaciais
deduzir, refletir e argumentar. etc.
exemplo, como uma sucessão de palavras, no controle do código de endereçamento postal, nas etiquetas de preço, nas
tempo para iniciar uma brincadeira, por repetição ou com o contas de luz etc., para diferenciar e nomear classes ou
propósito de observar a regularidade da sucessão. Nessa ordenar elementos e com os quais as crianças entram em
prática, a criança se engana, para, recomeça, progride. A contato, interpretando e atribuindo significados.
criança pode, também, realizar a recitação das palavras, numa São muitas as possibilidades de a criança investigar as
ordem própria e particular, sem necessariamente fazer regras e as regularidades do sistema numérico. A seguir, são
corresponder as palavras da sucessão aos objetos de uma apresentadas algumas.
coleção (1, 3, 4, 19, por exemplo). Quando o professor lê histórias para as crianças, pode
Embora a recitação oral da sucessão dos números seja uma incluir a leitura do índice e da numeração das páginas,
importante forma de aproximação com o sistema numérico, organizando a situação de tal maneira que todos possam
para evitar mecanização é necessário que as crianças participar.
compreendam o sentido do que se está fazendo. O grau de É importante aceitar como válidas respostas diversas e
desafio da recitação de uma série depende dos conhecimentos trabalhar a partir delas. Histórias em capítulos, coletâneas e
prévios das crianças, assim como das novas aprendizagens que enciclopédias são especialmente propícias para o trabalho
possam efetuar. Ao elaborar situações didáticas para que com índice. Ao confeccionar um livro junto com as crianças é
todos possam aprender e progredir em suas aprendizagens, o importante pesquisar, naqueles conhecidos, como se organiza
professor deve levar em conta que elas ocorrem de formas o índice e a numeração das páginas.
diferentes entre as crianças. Colecionar em grupo um álbum de figurinhas pode
Na contagem propriamente dita, ou seja, ao contar objetos interessar às crianças. Iniciada a coleção, pode-se pedir que
as crianças aprendem a distinguir o que já contaram do que antecipem a localização da figurinha no álbum ou, se abrindo
ainda não contaram e a não contar duas (ou mais) vezes o em determinada página, devem folhear o álbum para frente ou
mesmo objeto; descobrem que tampouco devem repetir as para trás. É interessante também confeccionar uma tabela
palavras numéricas já ditas e que, se mudarem sua ordem, numérica (com o mesmo intervalo numérico do álbum) para
obterão resultados finais diferentes daqueles de seus que elas possam ir marcando os números das figurinhas já
companheiros; percebem que não importa a ordem que obtidas.
estabelecem para contar os objetos, pois obterão sempre o Há diferentes tipos de calendários utilizados socialmente
mesmo resultado. Podem-se propor problemas relativos à (folhinhas anuais, mensais, semanais) que podem ser
contagem de diversas formas. É desafiante, por exemplo, apropriados para diferentes usos e funções na instituição,
quando as crianças contam agrupando os números de dois em como marcar o dia corrente no calendário e escrever a data na
dois, de cinco em cinco, de dez em dez etc. lousa; usar o calendário para organizar a rotina, marcando
compromissos importantes do grupo, como os aniversários
Notação e escrita numéricas das crianças, a data de um passeio etc.
A importância cultural dos números e do sistema de As crianças podem pesquisar as informações numéricas de
numeração é indiscutível. A notação numérica, na qual os cada membro de seu grupo (idade, número de sapato, número
símbolos são dotados de valores conforme a posição que de roupa, altura, peso etc.). Com ajuda do professor, as
ocupam, característica do sistema hindu-arábico de crianças podem montar uma tabela e criar problemas que
numeração, é uma conquista do homem, no percurso da comparem e ordenem escritas numéricas, buscando as
história, e um dado da realidade contemporânea. informações necessárias no próprio quadro, a partir de
Ler os números, compará-los e ordená-los são perguntas como: “quantas crianças vestem determinado
procedimentos indispensáveis para a compreensão do número de roupa?”, “quantos anos um tem a mais que o
significado da notação numérica. Ao se deparar com números outro?”, “quanto você precisará crescer para ficar do tamanho
em diferentes contextos, a criança é desafiada a aprender, a de seu amigo?”.
desenvolver o seu próprio pensamento e a produzir É possível também pesquisar a idade dos familiares, da
conhecimentos a respeito. Nem sempre um mesmo número pessoa mais velha da instituição, da cidade, do país ou do
representa a mesma coisa, pois depende do contexto em que mundo.
está. Por exemplo, o número dois pode estar representando Jogos de baralho, de adivinhação ou que utilizem dados
duas unidades, mas, dependendo da sua posição, pode também oferecem inúmeras situações para que as crianças
representar vinte ou duzentas unidades; pode representar pensem e utilizem a sequência ordenada dos números,
uma ordem, segundo, ou ainda representar um código (como considerando o antecessor e o sucessor, façam suas próprias
nos números de telefone ou no código de endereçamento anotações de quantidades e comparem resultados.
postal). Compreender o atual sistema numérico envolve uma Fichas que indicam a ordinalidade - primeiro, segundo,
série de perguntas, como: “quais os algarismos que o terceiro - podem ser sugeridas às crianças como material para
compõem?”, “como se chamam?”, “como são escritos?”, “como uso nas brincadeiras de faz-de-conta, quando é necessário, por
podem ser combinados?”, “o que muda a cada combinação?”. exemplo, decidir a ordem de atendimento num posto de saúde
Para responder essas questões é preciso que as crianças ou numa padaria; em jogos ou campeonatos.
possam trabalhar desde pequenas com o sistema de
numeração tal como ele se apresenta. Operações
Propor situações complexas para as crianças só é possível Nos contextos mencionados, quando as crianças contam de
se o professor aceitar respostas diferentes das convencionais, dois em dois ou de dez em dez, isto é, quando contam
isto é, aceitar que o conhecimento é provisório e compreender agregando uma quantidade de elementos a partir de outra, ou
que as crianças revisam suas ideias e elaboram soluções cada contam tirando uma quantidade de outra, ou ainda quando
vez melhores. distribuem figuras, fichas ou balas, elas estão realizando ações
Para as crianças, os aspectos relevantes da numeração são de acrescentar, agregar, segregar e repartir relacionadas a
os que fazem parte de suas vidas cotidianas. Pesquisar os operações aritméticas. O cálculo é, portanto, aprendido junto
diferentes lugares em que os números se encontram, com a noção de número e a partir do seu uso em jogos e
investigar como são organizados e para que servem, é tarefa situações-problema. Nessas situações, em geral as crianças
fundamental para que possam iniciar a compreensão sobre a calculam com apoio dos dedos, de lápis e papel ou de materiais
organização do sistema de numeração. diversos, como contas, conchinhas etc. É importante, também
Há diversos usos de números presentes nos telefones, nas que elas possam fazê-lo sem esse tipo de apoio, realizando
placas de carro e de ônibus, nas camisas de jogadores, no cálculos mentais ou estimativas. A realização de estimativas é
uma necessidade, por exemplo, de quem organiza eventos. conhecimentos. As atividades de culinária, por exemplo,
Para calcular quantas espigas de milho precisarão ser assadas possibilitam um rico trabalho, envolvendo diferentes unidades
na fogueira da festa de São João, é preciso perguntar: “quantas de medida, como o tempo de cozimento e a quantidade dos
pessoas participarão da festa?”, “quantas espigas de milho ingredientes: litro, quilograma, colher, xícara, pitada etc.
cada um come?”. As crianças pequenas também já utilizam A comparação de comprimentos, pesos e capacidades, a
alguns procedimentos para comparar quantidades. marcação de tempo e a noção de temperatura são
Geralmente se apoiam na contagem e utilizam os dedos, experimentadas desde cedo pelas crianças pequenas,
estabelecendo uma correspondência termo a termo, o que permitindo-lhes pensar, num primeiro momento,
permite referir-se a coleções ausentes. essencialmente sobre características opostas das grandezas e
Pode-se propor para as crianças de cinco e seis anos objetos, como grande/pequeno, comprido/curto, longe/perto,
situações em que tenham de resolver problemas aritméticos e muito/pouco, quente/frio etc. Entretanto, esse ponto de vista
não contas isoladas, o que contribui para que possam pode se modificar e as comparações feitas pelas crianças
descobrir estratégias e procedimentos próprios e originais. As passam a ser percebidas e anunciadas a partir das
soluções encontradas podem ser comunicadas pela linguagem características dos objetos, como, por exemplo, a casa branca
informal ou por desenhos (representações não é maior que a cinza; minha bola de futebol é mais leve e menor
convencionais). Comparar os seus resultados com os dos do que a sua etc. O desenvolvimento dessas capacidades
outros, descobrir o melhor procedimento para cada caso e comparativas não garante, porém, a compreensão de todos os
reformular o que for necessário permite que as crianças aspectos implicados na noção de medida.
tenham maior confiança em suas próprias capacidades. Assim, As crianças aprendem sobre medidas, medindo. A ação de
cada situação de cálculo constitui-se num problema aberto que medir inclui: a observação e comparação sensorial e
pode ser solucionado de formas diversas, pois existem perceptiva entre objetos; o reconhecimento da utilização de
diferentes sentidos da adição e da subtração, os problemas objetos intermediários, como fita métrica, balança, régua etc.,
podem ter estruturas diferentes, o grau de dificuldade varia para quantificar a grandeza (comprimento, extensão, área,
em função dos tipos de perguntas formuladas. Esses peso, massa etc.). Inclui também efetuar a comparação entre
problemas podem propiciar que as crianças comparem, dois ou mais objetos respondendo a questões como: “quantas
juntem, separem, combinem grandezas ou transformem dados vezes é maior?”, “quantas vezes cabe?”, “qual é a altura?”, “qual
numéricos. é a distância?”, “qual é o peso?” etc. A construção desse
conhecimento decorre de experiências que vão além da
Grandezas e medidas educação infantil.
Exploração de diferentes procedimentos para comparar Para iniciar esse processo, as crianças já podem ser
grandezas. solicitadas a fazer uso de unidades de medida não
- Introdução às noções de medida de comprimento, peso, convencionais, como passos, pedaços de barbante ou palitos,
volume e tempo, pela utilização de unidades convencionais e em situações nas quais necessitem comparar distâncias e
não convencionais. tamanhos: medir as suas alturas, o comprimento da sala etc.
- Marcação do tempo por meio de calendários. Podem também utilizar-se de instrumentos convencionais,
- Experiências com dinheiro em brincadeiras ou em como balança, fita métrica, régua etc., para resolver
situações de interesse das crianças. problemas. Além disso, o professor pode criar situações nas
quais as crianças pesquisem formas alternativas de medir,
Orientações didáticas propiciando oportunidades para que tragam algum
De utilidade histórica reconhecida, o uso de medidas instrumento de casa. O uso de uma unidade padronizada,
mostrou-se não só como um eficiente processo de resolução de porém, deverá aparecer como resposta às necessidades de
problemas práticos do homem antigo como teve papel comunicação entre as crianças, uma vez que a utilização de
preponderante no tecido das inúmeras relações entre noções diferentes unidades de medida conduz a resultados diferentes
matemáticas. A compreensão dos números, bem como de nas medidas de um mesmo objeto.
muitas das noções relativas ao espaço e às formas, é possível O tempo é uma grandeza mensurável que requer mais do
graças às medidas. Da iniciativa de povos (como os egípcios) que a comparação entre dois objetos e exige relações de outra
para demarcar terras fazendo medições resultou a criação dos natureza. Ou seja, utiliza-se de pontos de referência e do
números fracionários ou decimais. Mas antes de surgir esse encadeamento de várias relações, como dia e noite; manhã,
número para indicar medidas houve um longo caminho e tarde e noite; os dias da semana; os meses; o ano etc. Presente,
vários tipos de problemas tiveram de ser resolvidos pelo passado e futuro; antes, agora e depois são noções que
homem. auxiliam a estruturação do pensamento.
As medidas estão presentes em grande parte das O uso dos calendários e a observação das suas
atividades cotidianas e as crianças, desde muito cedo, têm características e regularidades (sete dias por semana, a
contato com certos aspectos das medidas. O fato de que as quantidade de dias em cada mês etc.) permitem marcar o
coisas têm tamanhos, pesos, volumes, temperaturas diferentes tempo que falta para alguma festa, prever a data de um
e que tais diferenças frequentemente são assinaladas pelos passeio, localizar as datas de aniversários das crianças, marcar
outros (está longe, está perto, é mais baixo, é mais alto, mais as fases da lua.
velho, mais novo, pesa meio quilo, mede dois metros, a O dinheiro também é uma grandeza que as crianças têm
velocidade é de oitenta quilômetros por hora etc.) permite que contato e sobre a qual podem desenvolver algumas ideias e
as crianças informalmente estabeleçam esse contato, fazendo relações que articulam conhecimentos relativos a números e
comparações de tamanhos, estabelecendo relações, medidas. O dinheiro representa o valor dos objetos, do
construindo algumas representações nesse campo, atribuindo trabalho etc. As cédulas e moedas têm um valor convencional,
significado e fazendo uso das expressões que costumam ouvir. constituindo-se em rico material que atende várias finalidades
Esses conhecimentos e experiências adquiridos no âmbito da didáticas, como fazer trocas, comparar valores, fazer
convivência social favorecem a proposição de situações que operações, resolver problemas e visualizar características da
despertem a curiosidade e interesse das crianças para representação dos números naturais e dos números decimais.
continuar conhecendo sobre as medidas. Além disso, o uso do dinheiro constitui-se uma oportunidade
O professor deve partir dessas práticas para propor que por si só incentiva a contagem, o cálculo mental e o cálculo
situações-problema em que a criança possa ampliar, estimativo.
aprofundar e construir novos sentidos para seus
trabalho, é possível introduzir nomes de referência da região, pequenos objetos, como pedrinhas, tampinhas de garrafa,
como bairros, zonas ou locais aonde se vai, e procurar localizá- conchas, folhas, figurinhas etc.
los nos mapas ou guias da cidade. Semanalmente, as crianças trazem novas peças e agregam
ao que já possuíam, anotam, acompanham e controlam o
Orientações gerais para o professor crescimento de suas coleções em registros. O professor propõe
o confronto dos registros para que o grupo conheça diferentes
Jogos e brincadeiras estratégias, experimente novas formas e possa avançar em
Às noções matemáticas abordadas na educação infantil seus procedimentos de registro. Essas atividades, que se
correspondem uma variedade de brincadeiras e jogos, desenvolverão ao longo de vários dias, semanas ou meses,
principalmente aqueles classificados como de construção e de permitem às crianças executar operações de adição, de
regras. subtração, assim como produzir e interpretar notações
Vários tipos de brincadeiras e jogos que possam interessar numéricas em situações nas quais isso se torna funcional. Por
à criança pequena constituem-se rico contexto em que ideias outro lado, é possível comparar, em diferentes momentos da
matemáticas podem ser evidenciadas pelo adulto por meio de constituição da coleção, as quantidades de objetos
perguntas, observações e formulação de propostas. São colecionados por diferentes crianças, assim como ordenar
exemplos disso cantigas, brincadeiras como a dança das quantidades e notações do menor ao maior ou do maior ao
cadeiras, quebra-cabeças, labirintos, dominós, dados de menor. Estes problemas tornam-se mais complexos conforme
diferentes tipos, jogos de encaixe, jogos de cartas etc. aumentam as coleções. O aumento das quantidades com a qual
Os jogos numéricos permitem às crianças utilizarem se opera funciona como uma “variável didática”, na medida em
números e suas representações, ampliarem a contagem, que exige a elaboração de novas estratégias, ou seja, uma coisa
estabelecerem correspondências, operarem. Cartões, dados, é agregar 4 elementos a uma coleção de 5, e outra bem
dominós, baralhos permitem às crianças se familiarizarem diferente é agregar 18 a uma coleção de 25. As estratégias, no
com pequenos números, com a contagem, comparação e último caso, podem ser diversas e supõem diferentes
adição. Os jogos com pistas ou tabuleiros numerados, em que decomposições e recomposições dos números em questão. É
se faz deslocamento de um objeto, permitem fazer comum, por exemplo, as crianças utilizarem “risquinhos” ou
correspondências, contar de um em um, de dois em dois etc. outras marcas para anotar a quantidade de peças que
Jogos de cartas permitem à distribuição, comparação de possuem, sem necessariamente corresponder uma marca para
quantidades, a reunião de coleções e a familiaridade com cada objeto.
resultados aditivos. Os jogos espaciais permitem às crianças Ao confrontar os diferentes tipos de registro, surgem
observarem as figuras e suas formas, identificar propriedades questões, como ter de contar tudo de novo. Dessa forma,
geométricas dos objetos, fazer representações, modelando, analisando e discutindo seus procedimentos, as crianças
compondo, decompondo ou desenhando. Um exemplo desse podem experimentar diferentes tipos de registro até achar o
tipo de jogo é a modelagem de dois objetos em massa de que consideram mais adequados.
modelar ou argila, em que as crianças descrevem seu processo Conforme a quantidade de peças aumenta, surgem novos
de elaboração. problemas: “como desenhar todas aquelas peças?”, “como
Pelo seu caráter coletivo, os jogos e as brincadeiras saber qual número corresponde àquela quantidade?”. Usar o
permitem que o grupo se estruture, que as crianças conhecimento que possuem para buscar a solução de seu
estabeleçam relações ricas de troca, aprendam a esperar sua problema é tarefa fundamental.
vez, acostumem-se a lidar com regras, conscientizando-se que Uma das formas de procurar resolver essa questão é
podem ganhar ou perder. utilizar a correspondência termo a termo e a contagem
associada a algum referencial numérico, como fita métrica,
Organização do tempo balança etc. Essa busca de soluções para problemas reais que
As situações de aprendizagem no cotidiano das creches e surgem ao longo do registro e da contagem, levando as
pré-escolas podem ser organizadas de três maneiras: as crianças a estabelecerem novas relações, refletir sobre seus
atividades permanentes, os projetos e as sequências de procedimentos, argumentar sobre aquelas que consideram a
atividades. melhor forma de organização de suas coleções, possibilita um
Atividades permanentes são situações propostas de forma avanço real nas suas estratégias.
sistemática e com regularidade, mas não são necessariamente Projetos são atividades articuladas em torno da obtenção
diárias. A utilização do calendário assim como a distribuição de um produto final, visível e compartilhado com as crianças,
de material, o controle de quantidades de peças de jogos ou de em torno do qual são organizadas as atividades. A organização
brinquedos etc., no cotidiano da instituição pode atrair o do trabalho em projetos possibilita divisão de tarefas e
interesse das crianças e se caracterizar como atividade responsabilidades e oferece contextos nos quais a
permanente. Para isso, além de serem propostas de forma aprendizagem ganha sentido. Organizar uma festa junina ou
sistemática e com regularidade, o professor deverá ter o construir uma maquete são exemplos de projetos. Cada
cuidado de contextualizar tais práticas para as crianças, projeto envolve uma série de atividades que também se
transformando-as em atividades significativas e organizando- organiza numa sequência.
as de maneira que representem um crescente desafio para
elas. Pelo fato de essas situações estarem dentro de uma Observação, registro e avaliação formativa
instituição educacional, requerem planejamento e intenção
educativa. Considera-se que a aprendizagem de noções matemáticas
É preciso lembrar que os jogos de construção e de regras na educação infantil esteja centrada na relação de diálogo
são atividades permanentes que propiciam o trabalho com a entre adulto e crianças e nas diferentes formas utilizadas por
Matemática. estas últimas para responder perguntas, resolver situações-
As sequências de atividades se constituem em uma série de problema, registrar e comunicar qualquer ideia matemática. A
ações planejadas e orientadas com o objetivo de promover avaliação representa, neste caso, um esforço do professor em
uma aprendizagem específica e definida. São sequenciadas observar e compreender o que as crianças fazem, os
para oferecer desafios com graus diferentes de complexidade. significados atribuídos por elas aos elementos trabalhados nas
Pode-se, por exemplo, organizar com as crianças, uma situações vivenciadas. Esse é um processo relacionado com a
sequência de atividades envolvendo a ação de colecionar observação da criança nos jogos e atividades e de seu
entendimento sobre diferentes domínios que vão além da
própria Matemática. A avaliação terá a função de mapear e sua identidade e autonomia. A respeito do RCNEI, é CORRETO
acompanhar o pensamento da criança sobre noções afirmar:
matemáticas, isto é, o que elas sabem e como pensam para (A) O RCNEI aspira a apontar metas de qualidade que
reorientar o planejamento da ação educativa. Deve-se evitar a contribuam para que as crianças tenham um desenvolvimento
aplicação de instrumentos tradicionais ou convencionais, integral de sua identidade, capazes de crescerem como
como notas e símbolos com o propósito classificatório, ou cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos.
juízos conclusivos. (B) De acordo com o RCNEI, cuidar é propiciar situações de
Os significados e pontos de vista infantis são dinâmicos e cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientados de forma
podem se modificar em função das perguntas dos adultos, do singular e que possam contribuir para o desenvolvimento das
modo de propor as atividades e do contexto nas quais ocorrem. capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com
A partir do que observa, o professor deverá propor atividades os outros.
para que as crianças avancem nos seus conhecimentos. Deve- (C) De acordo com o RCNEI, para educar é preciso antes de
se levar em conta que, por um lado, há uma diversidade de tudo estar comprometido com o outro, com sua singularidade,
respostas possíveis a serem apresentadas pelas crianças, e, ser solidário com suas necessidades, não confiar em suas
por outro, essas respostas estão frequentemente sujeitas a capacidades. É necessário também ajudar o outro a se
alterações, tendo em vista não só a forma como pensam, mas a desenvolver como ser humano.
natureza do conceito e os tipos de situações-problema (D) Na escola, a organização das turmas por idade é
envolvidos. dispensável na educação infantil, uma vez que a sua função
Nesse sentido, a avaliação tem um caráter instrumental primordial, nessa fase, é cuidar das crianças.
para o adulto e incide sobre os progressos apresentados pelas (E) As crianças de 0 a 6 anos e com necessidades especiais
crianças. deverão ser acolhidas em instituições próprias para seu
São consideradas como experiências prioritárias para a cuidado, não sendo aconselhável sua inclusão em classes
aprendizagem matemática realizada pelas crianças de zero a regulares da educação infantil.
três anos o contato com os números e a exploração do espaço.
Para isso, é preciso que as crianças participem de situações nas 02. (Prefeitura de Tibagi/PR - Professor - UNIUV) O
quais sejam utilizadas a contagem oral, referências espaciais e RCNEI tem por princípio:
temporais. Também é preciso que se criem condições para que (A) O desenvolvimento das crianças a partir da realização
as crianças engatinhem, arrastem-se, pulem etc., de forma a de estímulos aos aspectos cognitivos.
explorarem o máximo seus espaços. (B) O respeito à dignidade e aos direitos das crianças,
A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que tenham consideradas nas suas diferenças individuais, sociais,
tido muitas oportunidades na instituição de educação infantil econômicas, culturais, étnicas, religiosas.
de vivenciar experiências envolvendo aprendizagens (C) O desenvolvimento afetivo das crianças a partir das
matemáticas, pode-se esperar que as crianças utilizem atividades de brincar.
conhecimentos da contagem oral, registrem quantidades de (D) Fortalecer aspectos cognitivos como ênfase do
forma convencional ou não convencional e comuniquem trabalho nas escolas.
posições relativas à localização de pessoas e objetos. (E) Articular os fazeres cognitivos e racionais das crianças.
A criança utiliza seus conhecimentos para contar
oralmente objetos. Um aspecto importante a observar é se as 03. (Prefeitura de Tibagi/PR - Professor - UNIUV) O fato
crianças utilizam a contagem de forma espontânea para de uma instituição de educação infantil informar que trabalha
resolver diferentes situações que se lhe apresentam, isto é, se com as múltiplas linguagens da criança, significa que:
fazem uso das ferramentas. Por exemplo: se, ao distribuir os (A) Os professores priorizam duas formas de linguagem
lápis, distribuem um de cada vez, tendo de fazer várias em projetos didáticos orientados pelos interesses das crianças.
“viagens” ou se contam primeiro as crianças para depois pegar (B) Foram construídos espaços criativos para
os lápis. Também pode-se observar se, ao contar objetos, brincadeiras, interações e projetos voltados para expressão
sincronizam seus gestos com a sequência recitada; se musical, corporal, artes plásticas e teatro.
organizam a contagem; se deixam de contar algum objeto ou (C) A instituição considera que as crianças se comunicam e
se o contam mais de uma vez. O professor deverá acompanhar se expressam com dificuldade; assim, precisam ser
os usos que as crianças fazem e os avanços que elas adquirem estimuladas.
na contagem. (D) As professoras, pautadas nas manifestações, interesses
Em relação ao registro de quantidades, pode-se observar e necessidades das crianças, orientarão os pais a alfabetizá-las.
as diferentes estratégias usadas pelas crianças, como se (E) As crianças são respeitadas em suas múltiplas vozes, ou
desenham o próprio objeto, se desenham uma marca como seja, necessidades e desejos.
pauzinhos, bolinhas etc., se colocam um número para cada
objeto ou se utilizam um único numeral para representar o 04. (Prefeitura de Tibagi/PR - Professor -UNIUV) Não
total de objetos. faz parte do perfil profissional do professor de educação
A localização de pessoas e objetos e sua comunicação infantil, segundo o RCNEI:
podem ser observadas nas situações cotidianas nas quais esses (A) Ser polivalente;
conhecimentos se façam necessários. Pode-se observar se as (B) Ter comprometimento com a prática educacional;
crianças usam e comunicam posições relativas entre objetos e (C) Ser capaz de trabalhar conteúdos de diversas áreas do
se denominam as posições de localização. conhecimento;
(D) Evitar o envolvimento com a família das crianças;
Questões (E) Ser, além de professor, um aprendiz, refletindo
continuamente sobre sua prática;
01. (Prefeitura de Tibagi/PR - Professor - UNIUV) De
acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação 05. De acordo com o RCNEI os conteúdos de ensino devem
Infantil (RCNEI), elaborado pelo MEC em 1998, a educação abranger as seguintes categorias:
infantil deve oferecer às crianças de 0 (zero) a 6(seis) anos de (A) Procedimentais, normativos e atitudinais;
idade uma formação pessoal e social, bem como o (B) Factuais, conceituais e atitudinais;
conhecimento de mundo que lhes oportunize a construção de (C) Conceituais, procedimentais e atitudinais;
(D) Conceituais, atitudinais e normativos; que é natural da criança ela não conseguirá desenvolver
(E) Afetivos, motores e morais. novamente essa habilidade, pois se sentirá com medo de
transmitir aquilo que deseja no papel. Então, percebe-se a
Gabarito volta do passado, porque ela irá desenhar através de cópias e
não mais por meio de expressão.
01.A / 02.B / 03.B / 04.D / 05.C Os rabiscos são as primeiras manifestações das crianças
sobre o papel, sendo que muitos acreditam que esse gesto de
rabiscar não há significado nenhum, mas iremos apresentar
MEREDIEU, Florence de. O que através dos rabiscos é que tudo se inicia, é a primeira
expressão significativa da criança. Portanto, podemos chamar
desenho infantil. São Paulo: este estágio de evolução do desenho informal, ou seja, a
Cultrix, 2006 criança não tem um desejo de traçar com precisão, o que se
torna no plano plástico: o borrão ou aglomerado e no plano
gráfico, que são os rabiscos. Toda esta produção artística da
A partir do século XIX, o estudo do grafismo infantil se deu criança já é capaz de ser entendida em sua vida futurista, pois
por diversos pesquisadores que analisaram através disto, o estas manifestações que elas nos trazem são consideradas
desenvolvimento das crianças e distinguiram diversas como uma verdadeira “pré-história” do desenho.
concepções pedagógicas para desvendar o que ocorre quando Conforme mencionamos sobre os borrões que as crianças
elas desenham. executam, estes estão relacionados o que Merèdieu chama de
Em primeiro momento, o que se notava eram as jogos e manipulações, que ocorrem quando as crianças
observações sobre as visões adultas, ou seja, o produto final estiverem em contato com suas papinhas, chocolates, mingaus
era o principal a ser avaliado, pois teriam que ser ou outros alimentos, pois sentem a necessidade de se sujar
caracterizados padrões sobre as estéticas da arte adulta, que causando um imenso prazer. Este fato está relacionado aos
se embasava na proposta pedagógica do ensino tradicional, estudos da Psicologia, que corresponde à fase sádico-anal, que
que se exigia características de destreza e cópia, na qual o diz:
enfoque para esta modalidade estava centrada na imitação da “A mancha é anterior ao traço por razões ao mesmo tempo
realidade, enquanto na escola renovada centrava-se na psicológicas (por estar ligada ao fato de se manchar, de se
expressão através do desenho. sujar) e técnicas (o traçado ganha em precisão acompanhando
Para Costa, o desenho na perspectiva tradicional deixa os os progressos motores”
alunos atormentados pelas críticas adultas, perdendo assim, a Mèredieu contribui em seu livro “O desenho infantil”, os
própria confiança em si e em seu mundo imaginário, onde tudo estudos de William Preyer, que no século passado faz
pode acontecer, descobrir e criar coisas. Desta forma, eles se pesquisas sobre o tema e percebe as primeiras manifestações
sentem inseguros, acham seus desenhos ridículos e o erro é em bebês. Segundo este autor, os rabiscos acontecem por meio
um temor. Para este método de ensino, a representação de expressões de um ritmo biopsíquico que é próprio de cada
deveria ser de acordo com uma linguagem que traria uma criança, portanto os rabiscos surgem em meio a aprendizagens
imagem mais próxima da realidade, seja ela por meio de fatos do andar e do sentido ao equilíbrio, surgindo análises
históricos, por meio da natureza, figuras e também objetos. psicomotoras do gesto gráfico.
Isto representaria uma visão exata de objetos da natureza na A partir desse gesto, pode-se perceber que tudo depende
qual foi observada. Assim, seguindo este modelo o autor fica da apreensão do eixo corporal. Antes mesmo de descobrir o
em posição de secundarismo, pois a técnica é a principal forma traço voluntário, que é quando ela já está entendendo o gesto
de perceber se o objeto observado foi bem transmitido no que liga a ação de rabiscar com a persistência do traço, ela
papel. primeiramente irá desenhar pelo prazer do movimento, a
Para Wojnar as mudanças ocorreram sobre o modo de partir daí ela desenha para satisfazer-se.
olhar para o desenho infantil como algo natural de seu Berson colabora com os seus estágios de desenvolvimento
desenvolvimento e também como meio de expressão. De no livro de Mèredieu, que analisa três estágios dos rabiscos,
acordo com essa concepção, as necessidades dos aprendizes, são eles:
que têm como objetivo fazer deles “criadores, inventores
futuros e personalidade nova”, direcionando-os para a 1 - Estágio Vegetativo Motor (por volta dos dezoito
formação cultural, aperfeiçoando seus gostos e as estéticas dos meses): Acontece quando a criança desenha de formas
desenhos, que deveriam estar de acordo com o olhar dos circulares (arredondado, convexo ou alongado) sem tirar o
pequeninos e não dos adultos como afirma a concepção lápis do papel, estilo próprio de cada indivíduo. Estas muitas
tradicional. informações que partem do centro são nada mais do que uma
Além do mais, uma perspectiva mais progressista de simples excitação motora, ou seja, ela rabisca por prazer.
educação acredita que o indivíduo é o centro da aprendizagem
e não a técnica como mencionado acima. Defende que a
atividade realizada é “expressiva, livre e natural da infância”,
que a questão de exploração está centrada nos materiais e
técnicas, mas, com o foco no processo e não no produto final.
Desta forma, esta tendência de ensino acredita que o
“desenvolvimento do potencial criativo deve ocorrer
naturalmente com o apoio dos adultos”, mas que ocorre
separadamente da arte adulta, pois a criança faz do desenho
uma função lúdica, na qual se expressa através de seus traços
e que é algo essencialmente de sua infância.
Ainda acredita, que o aluno é o aprendiz ativo e que não
deve seguir o modelo de treino de habilidades ou cópias de
imagens ou figuras como defende o ensino tradicional, pois
enfatiza que não é considerada esta linguagem como Figura 1: Traçado Circular sem tirar o lápis do papel (MÈREDIEU, 2006, p.
conteúdos de ensino. Posto que, o desenho é um meio de 26)
expressão, consideramos que ao interromper esse processo
MEUR, A. de.
Psicomotricidade: educação e
reeducação: níveis maternal e
infantil. São Paulo: Manole,
Figura 3: Imitação da escrita do adulto (MÈREDIEU, 2006, p. 28) 1991
Figura 4: Evolução dos Rabiscos (aparecimento dos ângulos) (MÈREDIEU, Neste contexto necessário abordarmos questões acerca da
2006, p. 29) Psicomotricidade, a qual, em uma primeira fase, a pesquisa
teórica fixou-se, sobretudo, no desenvolvimento motor da
Ao perceber que é capaz de traçar, levantar e abaixar o criança. Posteriormente estudou-se a relação entre o atraso no
lápis ela se sente contente e a partir daí ela começa a elaborar desenvolvimento e o atraso intelectual da criança. Seguiram-
traços mais ricos, com mais detalhes, complexos. É possível se estudos sobre o desenvolvimento das habilidades manuais
verificarmos no desenho seguinte, chamado pela autora de e aptidões em função da idade.
boneco girino esta capacidade da criança, neste desenho
ocorre também o aparecimento da irradiação. Atualmente o estudo sobre o tema ultrapassa os problemas
motores: pesquisa também as ações com a lateralidade, a
estruturação espacial e a orientação temporal por um lado e, fundamental e médio e associado à ideia de disciplinas, de
por outro, as dificuldades escolares das crianças de matérias escolares.
inteligência normal. Faz também com que se tome consciência Receosos de importar para a Educação Infantil uma
das relações existentes entre o gesto e a afetividade, como no estrutura e uma organização que têm sido hoje muito
seguinte caso: uma criança segura de si caminha de forma criticadas, preferem usar a expressão ‘projeto pedagógico’
muito diferente de uma criança tímida. para se referir à orientação dada ao trabalho com as crianças
em creches ou pré-escolas. Ocorre que hoje todos os níveis da
A estrutura de estudo sobre a psicomotricidade abrange Escola Básica estão repensando sua forma de trabalhar o
cinco capítulos bem distintos: processo de ensino-aprendizagem e rediscutindo suas
concepções de currículo. Com isso, as críticas em relação ao
1. A formação do “eu”, da personalidade da criança, o modo como a concepção de currículo vinha sendo trabalhada
desenvolvimento do esquema corporal, por meio do qual a nas escolas não ficam restritas aos educadores da Educação
criança toma consciência de seu corpo e das possibilidades de Infantil, mas são assumidas por vários setores que trabalham
expressar-se por meio deste corpo. no Ensino Fundamental e Médio, etapas que, inclusive, estão
2. A criança percebe que seus membros não reagem da também revendo suas diretrizes curriculares.
mesma forma (lado esquerdo e lado direito reagem de forma Por sua vez, nos últimos anos, foi se acumulando uma série
diferente), daí a necessidade do estudo sobre a lateralidade. de conhecimentos sobre as formas de organização do
3. A maneira como a criança se localiza no espaço que a cotidiano das unidades de Educação Infantil de modo a
circunda e como as coisas, umas em relação as outras. promover o desenvolvimento das crianças. Finalmente, a
4. A orientação temporal diz respeito a maneira como a integração das creches e pré-escolas no sistema da educação
criança se situa no tempo. formal impõe à Educação Infantil trabalhar com o conceito de
5. Como a criança se expressa também através do desenho, currículo, articulando-o com o de projeto pedagógico.
completa-se o estudo com domínio progressivo do desenho e O projeto pedagógico é o plano orientador das ações da
do grafismo. instituição. Ele define as metas que se pretende para o
desenvolvimento dos meninos e meninas que nela são
Segundo o autor, para a maioria das crianças que passam educados e cuidados. É um instrumento político por ampliar
por dificuldades de escolaridade, a causa do problema não está possibilidades e garantir determinadas aprendizagens
no nível da classe a que chegaram, mas bem antes disso, no consideradas valiosas em certo momento histórico.
nível das bases.
Para alcançar as metas propostas em seu projeto
“Uma criança cujo esquema corporal é mal constituído não pedagógico, a instituição de Educação Infantil organiza seu
coordena bem os movimento. Vemos que é atrasada quando se currículo. Este, nas DCNEIs, é entendido como “as práticas
despe, que as habilidade manuais lhe são difíceis. Na escola a educacionais organizadas em torno do conhecimento e em
caligrafia é feia, e a leitura expressiva, não harmoniosa: o gesto meio às relações sociais que se travam nos espaços
vem após a palavra, a criança não segue o ritmo da leitura ou institucionais, e que afetam a construção das identidades das
então para no meio de uma palavra.” crianças”. O currículo busca articular as experiências e os
saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte
O esquema corporal é, portanto, um elemento básico do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico da
indispensável para a formação da personalidade da criança. É sociedade por meio de práticas planejadas e
a representação relativamente global, cientifica e diferenciada permanentemente avaliadas que estruturam o cotidiano das
que a criança tem de seu próprio corpo. instituições.
Esta definição de currículo foge de versões já superadas de
Sua personalidade se desenvolvera graças a uma conceber listas de conteúdos obrigatórios, ou disciplinas
progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de estanques, de pensar que na Educação infantil não há
suas possibilidades de agir e transformar o mundo em sua necessidade de qualquer planejamento de atividades, de reger
volta. as atividades por um calendário voltado a comemorar
determinadas datas sem avaliar o sentido e o valor formativo
dessas comemorações, e também da ideia de que o saber do
OLIVEIRA, Zilma Ramos de e senso comum é o que deve ser tratado com crianças pequenas.
A definição de currículo defendida nas Diretrizes põe o
outros. O trabalho do professor foco na ação mediadora da instituição de Educação infantil
na educação infantil. São Paulo: como articuladora das experiências e saberes das crianças e os
Biruta, 2015 conhecimentos que circulam na cultura mais ampla e que
despertam o interesse das crianças. Tal definição inaugura
então um importante período na área, que pode de modo
inovador avaliar e aperfeiçoar as práticas vividas pelas
Currículo E Proposta Pedagógica Na Educação
crianças nas unidades de Educação Infantil.
Infantil182
O cotidiano dessas unidades, como contextos de vivência,
aprendizagem e desenvolvimento, requer a organização de
O debate sobre o currículo na Educação Infantil tem gerado
diversos aspectos: os tempos de realização das atividades
muitas controvérsias entre os professores de creches e pré-
(ocasião, frequência, duração), os espaços em que essas
escolas e outros educadores e profissionais afins. Além de tal
atividades transcorrem (o que inclui a estruturação dos
debate incluir diferentes visões de criança, de família, e de
espaços internos, externos, de modo a favorecer as interações
funções da creche e da pré-escola, para muitos educadores e
infantis na exploração que fazem do mundo), os materiais
especialistas que trabalham na área, a Educação Infantil não
disponíveis e, em especial, as maneiras de o professor exercer
deveria envolver-se com a questão de currículo, termo em
seu papel (organizando o ambiente, ouvindo as crianças,
geral associado à escolarização tal como vivida no ensino
respondendo-lhes de determinada maneira, oferecendo-lhes
182Fonte: Zilma de Moraes Ramos de Oliveira. O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO de Morais Ramos (org.) et. al. O trabalho do professor na Educação Infantil. São
INFANTIL: O QUE PROPÕEM AS NOVAS DIRETRIZES NACIONAIS? OLIVEIRA, Zilma Paulo: Biruta, 2012
materiais, sugestões, apoio emocional, ou promovendo transcender a prática pedagógica centrada no professor e
condições para a ocorrência de valiosas interações e trabalhar, sobretudo, a sensibilidade deste para uma
brincadeiras criadas pelas crianças etc.). Tal organização aproximação real da criança, compreendendo-a do ponto de
necessita seguir alguns princípios e condições apresentados vista dela, e não do ponto de vista do adulto.
pelas Diretrizes.
O impacto das práticas educacionais no desenvolvimento
A Visão De Criança E Seu Desenvolvimento das crianças se faz por meio das relações sociais que as
crianças desde bem pequenas estabelecem com os professores
Um conjunto de representações, valores e conceitos que e as outras crianças e que afetam a construção de suas
expressam alguns pontos de consenso na área em relação à identidades. Em função disso, a preocupação básica do
criança e ao papel do professor face aos processos de professor deve ser garantir às crianças oportunidades de
desenvolvimento e aprendizagem das crianças está por trás interação com companheiros de idade, dado que elas
das orientações defendidas pelas Diretrizes. aprendem coisas que lhes são muito significativas quando
A criança, centro do planejamento curricular, é interagem com companheiros da infância e que são diversas
considerada um sujeito histórico e de direitos. Ela se das coisas de que elas se apropriam no contato com os adultos
desenvolve nas interações, relações e práticas cotidianas a ela ou com crianças já mais velhas.
disponibilizadas e por ela estabelecidas com adultos e crianças À medida que o grupo de crianças interage, são construídas
de diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais as culturas infantis.
se insere. A maneira como ela é alimentada, se dorme com Além de reconhecer o valor das interações das crianças
barulho ou no silêncio, se outras crianças ou adultos brincam com outras crianças e com parceiros adultos e a importância
com ela ou se fica mais tempo quietinha, as entonações de voz de se olhar para as práticas culturais em que as crianças se
e contatos corporais que ela reconhece nas pessoas que a envolvem, as DCNEIs ainda destacam a brincadeira como
tratam, o tipo de roupa que ela usa, os espaços mais abertos ou atividade privilegiada na promoção do desenvolvimento nesta
restritos em que costuma ficar, os objetos que manipula, o fase da vida humana.
modo como conversam com ela, etc. - são elementos da Brincar dá à criança oportunidade para imitar o conhecido
história de seu desenvolvimento em uma cultura. e construir o novo, conforme ela reconstrói o cenário
necessário para que sua fantasia se aproxime ou se distancie
A atividade da criança não se limita à passiva incorporação da realidade vivida, assumindo personagens e transformando
de elementos da cultura, mas ela afirma sua singularidade objetos pelo uso que deles faz. Na brincadeira de faz-de-conta
atribuindo sentidos à sua experiência através de diferentes se produz um tipo de comunicação rica em matizes e que
linguagens, como meio para seu desenvolvimento em diversos possibilita às crianças indagar sobre o mundo a sobre si
aspectos (afetivos, cognitivos, motores e sociais). Assim a mesmas e por à prova seus conhecimentos no uso interativo
criança busca compreender o mundo e a si mesma, testando de de objetos e conversações. Através das brincadeiras e outras
alguma forma as significações que constrói, modificando-as atividades cotidianas que ocorrem nas instituições de
continuamente em cada interação, seja com outro ser humano, Educação infantil, a criança aprende a assumir papéis
seja com objetos. Em outras palavras, a criança desde pequena diferentes e, ao se colocar no lugar do outro, aprende a
não só se apropria de uma cultura, mas o faz de um modo coordenar seu comportamento com os de seus parceiros e a
próprio, construindo cultura por sua vez. desenvolver habilidades variadas, construindo sua Identidade.
Outro ponto importante em relação à aprendizagem
infantil considera que as habilidades para a criança O campo de aprendizagens que as crianças podem realizar
discriminar cores, memorizar poemas, representar uma na Educação Infantil é muito grande. As situações cotidianas
paisagem através de um desenho, consolar um coleguinha que criadas nas creches e pré-escolas podem ampliar as
chora etc., não são fruto de maturação orgânica, mas são possibilidades das crianças viverem a infância e aprender a
produzidas nas relações que as crianças estabelecem com o conviver, brincar e desenvolver projetos em grupo, expressar-
mundo material e social, mediadas por parceiros diversos, se, comunicar-se, criar e reconhecer novas linguagens, ouvir e
conforme buscam atender suas necessidades no processo de recontar histórias lidas, ter iniciativa para escolher uma
produção de objetos, ideias, valores, tecnologias. atividade, buscar soluções para problemas e conflitos, ouvir
Assim, as experiências vividas no espaço de Educação poemas, conversar sobre o crescimento de algumas plantas
Infantil devem possibilitar o encontro de explicações pela que são por elas cuidadas, colecionar objetos, participar de
criança sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma brincadeiras de roda, brincar de faz-de-conta de casinha ou de
enquanto desenvolvem formas de sentir, pensar e solucionar ir à venda, calcular quantas balas há em uma vasilha para
problemas. Nesse processo, é preciso considerar que as distribuí-las pelas crianças presentes, aprender a arremessar
crianças necessitam envolver-se com diferentes linguagens e uma bola em um cesto, cuidar de sua higiene e de sua
valorizar o lúdico, as brincadeiras, as culturas infantis. Não se organização pessoal, cuidar dos colegas que necessitam ajuda
trata assim de transmitir à criança uma cultura considerada e do ambiente, compreender suas emoções e sua forma de
pronta, mas de oferecer condições para ela se apropriar de reagir às situações, construir as primeiras hipóteses, por
determinadas aprendizagens que lhe promovem o exemplo, sobre o uso da linguagem escrita, e formular um
desenvolvimento de formas de agir, sentir e pensar que são sentido de si mesmo.
marcantes em um momento histórico. Finalmente, considerar as crianças concretas no
Quando o professor ajuda as crianças a compreender os planejamento curricular das instituições de Educação infantil
saberes envolvidos na resolução de certas tarefas - tais como significa também compreender seus grupos culturais, em
empilhar blocos, narrar um acontecimento, recontar uma particular suas famílias. Creches e pré-escolas, ao possibilitar
história, fazer um desenho, consolar outra criança que chora, às crianças uma vivência social diversa da experiência no
etc. - são criadas condições para desenvolvimento de grupo familiar, desempenham importante papel na formação
habilidades cada vez mais complexas pelas crianças, que têm da personalidade da criança. É bom lembrar, no entanto, que
experiências de aprendizagem e desenvolvimento diferentes os contextos coletivos de educação para crianças pequenas
de crianças que têm menos oportunidades de interação e diferem do ambiente familiar e requerem formas de organizá-
exploração. lo diferentes do modelo de substituto materno, anteriormente
Face essa visão de criança, o desafio que se coloca para a usado para analisar o trabalho em creches e escolas maternais.
elaboração curricular e para sua efetivação cotidiana é
As instituições precisam conhecer a comunidade atendida, sentido diferente do sentido do adulto), desenvolvimento de
as culturas plurais que constituem o espaço da creche e da pré- artigos e pronomes que asseguram coesão a seus discursos e
escola, a riqueza das contribuições familiares e da correção das palavras e frases. Esse sistema continua a se
comunidade, as crenças e manifestações dessa comunidade, desenvolver e aperfeiçoar até a pré-adolescência, enriquecido
enfim, os modos de vida das crianças vistas como seres pelas experiências.
concretos e situados em espaços geográficos e grupos O processo de aprendizagem evolui de uma participação
culturais específicos. Esse princípio reforça a gestão de um parceiro mais experiente - geralmente o professor, mas
democrática como elemento imprescindível, uma vez que é também pode ser outro aluno ou o discurso existente em um
por meio dela que a instituição também se abre à comunidade, livro didático - empresta à criança suas funções psicológicas.
permite sua entrada, e possibilita sua participação na De princípio, pensamento e linguagem têm várias origens.
elaboração e acompanhamento da proposta curricular. Tem o pensar sensório-motor e a linguagem não cognitiva, por
A gestão democrática da proposta curricular deve contar exemplo, balbuciar. Porém, ambos os elementos se
na sua elaboração, acompanhamento e avaliação, tendo em concentram no desenvolvimento para a formação do
vista o Projeto Políticopedagógico da unidade educacional, pensamento discursivo.
com a participação coletiva de professoras e professores, A narrativa da criança pequena é, inicialmente, um relato
demais profissionais da instituição, famílias, comunidade e das enumerativo de origem perceptiva e motora, reunindo objetos
crianças, sempre que possível e à sua maneira. segundo a relação deles na atividade. O relato infantil de
determinado caso ou evento não busca o equilíbrio entre
causas e efeitos, a proporcionalidade entre ação e resultado, a
coerência entre as partes. É formado pelo encadeamento de
OLIVEIRA, Zilma Ramos.
circunstâncias organizado segundo locuções (então, depois),
Educação Infantil: fundamentos sendo a própria relação de tempo simples coincidência de
e métodos. São Paulo: Cortez, circunstâncias (OLIVEIRA).
2002 A descrição de algo pela criança requer coordenar suas
próprias impressões e processos mentais.
Para representar algo, a criança o exterioriza como um
objeto distinto, por meio de imagens. Mas, essas imagens
A partir do nascimento, a criança é capaz de realizar encontram-se combinadas com atos e situações vividas. Isso
movimentos com o corpo com o estímulo visual. Se expressa faz com que a experiência da criança apareça misturada com
por gestos, assume posturas, que, com o tempo, são cada vez seus desejos, lembranças e rotinas. Por isso, ao tentarem
mais desenvolvidos. responder sobre significado de uma palavra, as crianças
No primeiro momento, o recém-nascido somente muitas vezes reúnem elementos de experiências anteriores e
diferencia seu corpo do resto do mundo. Depois toma seu os ajustam a aspectos distintivos de cada situação. Algumas
próprio corpo como ponto de referência para perceber tudo ao vezes as crianças se referem a um conceito de modo mais
seu redor. descritivo, por fazerem parte de algo que já viveram.
A motricidade também pode ser desenvolvida por meio da Entretanto, a criança tem dificuldade para articular os
manipulação de objetos com formas, cores, texturas, pesos e conteúdos provenientes das diversas fontes. Na verdade, os
volumes diferentes. Ao lidar com esses objetos, a criança altera ambientes linguísticos em que ela se insere desempenham
sua postura conforme as diferenças de um objeto para o outro. papel fundamental no aumento ou superação das confusões, o
Isso faz com que a criança se desenvolva. que novamente desloca o olhar sobre a criança, vista
Com o tempo a criança passa a usar a fala. Para adquirir a isoladamente, para o contexto em que ela vive.
língua, precisa de um sistema anatômico e neurofisiológico Na realidade, a capacidade da criança de recombinar sinais
adaptado, mas a linguagem também é adquirida por um e sentidos, respondendo de forma sempre nova a cada
processo sócio histórico. O desenvolvimento da fala tem forte situação-característica da criatividade humana interage com a
incentivo da necessidade de comunicação verbal com outra tentativa sistemática das instituições educacionais de
pessoa. As crianças entram em um processo de comunicação controlar suas respostas, inclui-las em moldes determinados
no qual são motivadas a indagar sobre o mundo. Cada que ofereçam ilusório compartilhar de sentidos, provisória
descoberta é uma nova questão. A capacidade de entender e estabilidade, constantemente desafiada. Para superar essa
produzir sons da fala são o precursor mais direto da barreira, devemos transformar as formas como as práticas
linguagem. Os bebês distinguem sons e passam a ter reações a educativas são pensadas e considerar a interação social como
sons próprios de sua língua materna enquanto esquecem elemento mais importante para promover oportunidades de
outros. Esse desenvolvimento vai se esquecer conforme a aprendizagem e desenvolvimento.
capacidade de categorização de objetos, imitação e memória,
que são necessárias para reproduzir gestos e sons. Esse 183Uma nova introdução ao tema
desenvolvimento se prolongará pela vida toda, principalmente Em nosso país, as instituições mantidas pelo poder público
pela formação escolar. têm dado prioridade de matrícula aos filhos de trabalhadores
Durante o primeiro ano de vida, várias habilidades de de baixa renda, invocando a noção de “risco social”. Por vezes,
comunicação e questionamento se concentram para formar o argumento é que a educação das crianças em idade anterior
um conjunto de habilidades da linguística. É nessa fase que a à do ingresso no ensino fundamental deve ser um serviço de
criança começa a compreender certos pedidos e proibições. assistência às famílias, para que pais e mães possam trabalhar
Logo depois se percebe a produção das palavras e uma despreocupadas com os cuidados básicos a serem ministrados
explosão de vocabulário. A capacidade de formar palavras é a seus filhos pequenos. Em outras ocasiões, sustenta-se,
observada em torno dos vinte meses, seguida pela linguística. particularmente por parte dos grupos sociais privilegiados,
A língua é mais operável por volta dos quatro ou cinco que a creche e pré-escola devem ser organizações
anos, período em que a criança domina o essencial da fala. A preocupadas em garantir a aprendizagem e o
partir dos cinco anos, acontecem novos progressos: o domínio desenvolvimento global das crianças desde o nascimento.
de estruturas linguísticas mais complexas, reorganização
semântica (a criança emprega um mesmo termo em um
183https://goo.gl/BwZjSz
(...) não é possível ter guarda das crianças sem as educar, e enfatizou a importância da educação para o desenvolvimento
educá-las envolve também tomar conta delas. A existência social. Nesse momento, a criança passou a ser o centro do
desse tipo de argumentação só se explica por razões históricas, interesse educativo dos adultos, o que tornava a escola (pelo
como uma das formas que a sociedade brasileira, com suas menos para os que podiam frequentá-la) um instrumento
marcantes desigualdades sociais para regular as fundamental.
oportunidades de acesso aos bens culturais de que dispõem as
diferentes camadas da população. Alguns setores das elites políticas dos países europeus
sustentavam que não seria correto para a sociedade como um
Pode-se falar em uma escola da infância? todo que se educassem as crianças pobres, para as quais era
Na educação grega do período clássico, “infância” referia- proposto apenas o aprendizado de uma ocupação e da piedade.
se a seres com tendências selvagens a serem dominadas pela Opondo-se, alguns reformadores protestantes defendiam a
razão e pelo bem ético e político. Já o pensamento medieval educação como um direito universal.
entendia a infância como evidência da natureza pecadora do
homem, pois nela a razão, reflexo da luz divina, não se Autores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly,
manifestaria. Froebel e Montessori, entre outros, estabeleceram as bases
(...) propomos que creches e pré-escolas busquem para um sistema de ensino mais centrado.
aproximar cultura, linguagem, cognição e afetividade como
elementos constituintes do desenvolvimento humano e Um olhar sobre as novas propostas educacionais
voltados para a construção da imaginação e da lógica, Educar crianças menores de 6 anos de diferentes
considerando que estas, assim como a sociabilidade, condições sociais já era uma questão tratada por COMÊNIO
afetividade e a criatividade, têm muitas raízes e gêneses. (1592 - 1670), educador e bispo protestante checo.
A forte influência, na área da educação infantil, de uma (...) Em 1637 elaborou um plano de escola maternal em que
história higienista, de priorização de cuidados de saúde, e recomendava o uso de materiais audiovisuais, como livros de
assistencialista, que ressalta o auxílio a população de risco imagens, para educar crianças pequenas.
social, tem feito com que as propostas de creches e pré-escolas Afiançava ele que o cultivo dos sentidos e da imaginação
oscilem entre uma ênfase maior ou no cuidar ou no educar, precedia o desenvolvimento do lado racional da criança.
apresentando dificuldades para integrar as duas tarefas. Impressões sensoriais advindas da experiência com manuseio
de objetos seriam internalizadas e futuramente interpretadas
1. Metas almejadas pela razão. Também a exploração do mundo no brincar era
“A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, vista como uma forma de educação pelos sentidos.
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até
seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, (...) o filósofo genebrino Jean Jacques ROUSSEAU (1712 -
intelectual e social, complementando a ação da família e da 1778) criou um proposta educacional em que combatia
comunidade” (Lei 9394/ 96, artigo 29). preconceitos, autoritarismos e todas as instituições sociais que
violentassem a liberdade característica da natureza. Ele se
Na educação infantil, hoje, busca-se ampliar certos opunha à prática familiar vigente de delegar a educação dos
requisitos necessários para adequada inserção da criança no filhos a preceptores, para que estes os tratassem com
mundo atual: sensibilidade (estética e interpessoal), severidade, e destacava o papel da mãe como educadora
solidariedade (intelectual e comportamental) e senso crítico natural das crianças.
(autonomia, pensamento divergente).
As ideias de Rousseau abriram caminho para as
2. Educação para a cidadania e para o convívio com concepções educacionais do suíço PESTALOZZI (1746 - 1827),
diferenças que também reagiu contra o intelectualismo excessivo da
Ser cidadão significa ser tratado com urbanidade e educação tradicional.
aprender a fazer o mesmo em relação às demais pessoas, ter
acesso a formas mais interessantes de conhecer e aprender a Pestalozzi destacou ainda valor educativo do trabalho
enriquecer-se com a troca de experiências com outros manual e a importância de a criança desenvolver destreza
indivíduos. prática.
Isso implica tomar consciência de problemas coletivos e Levou adiante a ideia de prontidão, já presente em
relacionar experiências da própria comunidade com o que Rousseau, e de organização graduada do conhecimento, do
ocorre em outros contextos. A educação para a cidadania inclui mais simples ao mais complexo, que já aparecia em Comênio.
aprender a tomar a perspectiva do outro (...) e ter consciência Sua pedagogia enfatizava ainda a necessidade de a escola
dos direitos e deveres próprios e alheios. treinar a vontade e desenvolver as atitudes morais dos alunos.
Os primeiros passos na construção das ideias e As ideias de Pestalozzi foram levadas adiante por
práticas de educação infantil FROEBEL (1782 - 1852), educador alemão (...) criou em 1857
No que se refere à educação da criança pequena em o kindergarden (‘jardim de infância”), onde crianças e
creches e pré-escolas, práticas educativas e conceitos básicos adolescentes (...) estariam livres para aprender sobre si
foram sendo constituídos com base em situações sociais mesmos e sobre o mundo.
concretas que, por sua vez, geraram regulamentações e leis
como parte de políticas públicas historicamente elaboradas. O manuseio de objetos e a participação em atividades
Concepções, muitas vezes, antagônicas, defendidas na diversas de livre expressão por meio da música, de gestos, de
educação infantil têm raízes em momentos históricos diversos construções com papel, argila e blocos ou da linguagem
e são postas em prática hoje sem considerar o contexto de sua possibilitariam que o mundo interno da criança se
produção. exteriorizasse, a fim de que ela pudesse, então, ver-se
objetivamente e modificar-se, observando, descobrindo e
3. A construção de concepções teóricas sobre a encontrando soluções.
educação da infância
A discussão sobre a escolaridade obrigatória, que se
intensificou em vários países europeus nos séculos XVIII e XIX,
A educação infantil europeia no século XX problema para debaixo do tapete”: criação de creches, asilos e
No período que se seguiu a Primeira Guerra Mundial, por internatos, vistos na época como instituições assemelhadas e
exemplo, com o aumento do número de órfãos e a deterioração destinadas a cuidar de crianças pobres.
ambiental, as funções de hospitalidade e de higiene exercidas
pelas instituições que cuidavam da educação infantil se O Brasil República
destacaram. Particulares fundaram em 1899 o Instituto de Proteção e
Assistência a Infância, que precedeu a criação, em 1919, do
A sistematização de atividades para crianças pequenas Departamento da Criança, iniciativa governamental
com o uso de materiais especialmente confeccionados foi decorrente de uma preocupação com a saúde pública que
realizada por dois médicos interessados pela educação: acabou por suscitar a ideia de assistência científica à infância
Ovídeio Decroly e Maria Monterossi. DECROLY (1871 - 1932), (...) surgiu uma série de escolas infantis e jardins de infância,
médico belga, trabalhando com crianças excepcionais, alguns deles criados por imigrantes europeus para o
elaborou, em 1901, uma metodologia de ensino que propunha atendimento de seus filhos.
atividades didáticas baseadas na ideia de totalidade do
funcionamento psicológico e no interesse da criança, Enquanto isso, a urbanização e a industrialização nos
adequadas ao sincretismo que ele julgava ser próprio do centros urbanos maiores, intensificadas no início do século XX,
pensamento infantil. produziram um conjunto de efeito que modificaram a
(...) psiquiatra italiana Maria Montessori (1879 - 1952) estrutura familiar tradicional no que se refere ao cuidado com
inclui-se também na lista dos principais construtores de os filhos.
propostas sistematizadas para a educação infantil no século
XX. Tendo sido encarregada da seção de crianças com Como a maioria da mão de obra masculina estava na
deficiência mental em uma clínica psiquiátrica de Roma, lavoura, as fábricas criadas na época tiveram de admitir
produziu uma metodologia de ensino com base nos estudos grande número de mulheres no trabalho. O problema do
dos médicos Itard e Segun, que haviam proposto o uso de cuidado de seus filhos enquanto trabalhavam não foi, todavia,
materiais apropriados como recursos educacionais. considerado pelas indústrias que se estabeleciam, levando as
mães operárias a encontrar soluções emergenciais em seus
Ao contrário de Rousseua, que defendia a autoeducação, próprios núcleos familiares ou em outras mulheres.
Montessori não aceitava a natureza como o ambiente
apropriado para o desenvolvimento infantil. (...) a vida da população das cidades, conturbadas pelo
projeto de industrialização e urbanização do capitalismo
Montessori criou instrumentos especialmente elaborados monopolista e excludente em expansão, exigia paliativos aos
para a educação motora (...) e para a educação dos sentidos e seus efeitos nocivos nos centros urbanos, que se
da inteligência - por exemplo, letras móveis, letras recortadas industrializavam rapidamente e não dispunham de
em cartões-lixa para aprendizado de operações com números. infraestrutura urbana em termos de saneamento básico,
Foi ainda quem valorizou a diminuição do tamanho do moradias, etc., trazendo o perigo de constantes epidemias. A
mobiliário usado pelas crianças nas pré-escolas e a exigência creche seria um desses paliativos, na visão de sanitaristas
de diminuir os objetos domésticos cotidianos a serem preocupados com as condições de vida da população operária,
utilizados para brincar na casinha de bonecas. ou seja, com a preservação e reprodução da mão de obra, que
geralmente habitava ambientes insalubres.
Destacaram-se, na pedagogia e na psicologia, no período
seguinte à Primeira Guerra Mundial (quando era proposta a Entendidas como “mal necessário”, as creches eram
salvação social pela educação), as ideias a respeito da infância planejadas como instituições de saúde, com rotinas de triagem,
como fase de valor positivo e de respeito à natureza. Tais lactário, preocupação com a higiene do ambiente físico. Por
ideias impulsionara um espírito de renovação escolar que trás disso, buscava-se regular todos os atos da vida,
culminou com o Movimento das Escolas Novas. Esse particularmente dos membros das camadas populares.
movimento se posicionava contra a concepção de que a escola
deveria preparar para a vida com uma visão centrada no No imaginário da época, a mãe continuava sendo a dona do
adulto, desconhecendo as características do pensamento lar devendo limitar-se a ele (...). O trabalho com as crianças nas
infantil e os interesses e necessidades próprias da infância. creches tinham assim um caráter assistencial-protetoral. A
preocupação era alimentar, cuidar da higiene e da segurança
Celestin Freinet (1896 - 1966) (...) Para ele, a educação que física, sendo pouco valorizado um trabalho orientado à
a escola dava ás crianças deveria extrapolar os limites da sala educação e ao desenvolvimento intelectual e afetivo das
de aula e integrar-se às experiências por elas vividas em seu crianças.
meio social.
Novos tópicos na história da educação infantil no
A pedagogia de Freinet organiza-se ao redor de uma série Brasil
de técnicas e atividades, entre elas as aulas-passeio, o desenho (...) debates nacionais sobre os problemas das crianças
livre, o texto livre, o jornal escolar, a correspondência provenientes dos extratos sociais desfavorecidos afiançavam
interescolar, o livro da vida. Inclui ainda oficinas de trabalhos que o atendimento pré-escolar público seria elemento
manuais e intelectuais, o ensino por contratos de trabalho, a fundamental para remediar as carências de sua clientela,
organização de cooperativas na escola. Apesar de ele não ter geralmente mais pobre. Segundo essa perspectiva
trabalhado diretamente com crianças pequenas, sua compensatória, o atendimento às crianças dessas camadas em
experiência teve lento mas marcante impacto sobre as práticas instituições como creches, parques infantis e pré-escolas
didáticas em creches e pré-escolas em vários países. possibilitaria a superação das condições sociais a que estavam
sujeitas, mesmo sem alteração das estruturas sociais
Os primeiros passos da história da Educação Infantil geradores daqueles problemas.
Ademais, a abolição da escravatura no Brasil (...) concorreu
para o aumento do abandono de crianças e para a busca de
novas soluções para o problema da infância, as quais, na
verdade, representavam apenas uma “arte de varrer o
184http://www.webartigos.com/artigos/breve-analise-do-ensino-e-
aprendizagem-matematico-nas-series-iniciais/34069/#ixzz4TgY3cAL2
precisaram colocar em prática todos os conhecimentos por exemplo, 7.456 diríamos sete quatro cinco seis, mas em
necessários para tratar a situação. vias do conhecimento que possuímos lemos de outra forma.
Apesar da importância de levar em conta ambos os A didática da matemática não é um novo "método" de
aspectos - os conhecimentos prévios dos alunos e a ensino. Não se dedica à produção e meio para atuar no ensino,
organização do conhecimento - com frequência o conjunto de na maior medida possível, os processos que acontecem no
atividades que são propostas parecem responder mais a domínio do ensino escolar da matemática.
experiências isoladas do que a uma organização conforme uma Esses processos dependem não somente dos tipos de
sequência de ensino do tema. problemas que são propostos, mas da sequência dos mesmos,
das modificações intencionais (variáveis didáticas) que se
As primeiras ideias práticas embasadas na teoria de realizam com o objetivo dos alunos para o saber que se tenta
desenvolvimento de Piaget acreditavam que o papel do transmitir, das interações que se promovem entre os alunos e
professor era o de apenas oferecer os recursos e o aluno dos tipos de intervenção docente durante os processos de
aprenderia por si só, sem intervenções específicas. A aplicação ensino e aprendizagem desse saber
das provas operatórias de Piaget (1974) era atividade de "Tendências atuais propõem constituir, no âmbito escolar,
praxe, segundo Sangiorgi nas salas de Educação Infantil e um domínio de experiências em que a quantificação ocupe um
séries iniciais do Ensino Fundamental. A essência dessa linha lugar de importância para ampliar e para consolidar os
de estudo estava sim em fazer avaliações prévias do aluno com conhecimentos que as crianças já têm sobre o numérico.
ferramentas descobertas em pesquisas feitas sobre o Embora os números naturais "sejam usados" cotidianamente
desenvolvimento humano, porém a popularização sem um em diversas circunstâncias, o meio natural ou social raramente
estudo sistêmico da mesma acabou criando vertentes apresenta problemas para os quais os números naturais sejam
errôneas sobre essa concepção matemática, o que levou a solução. Propor estes problemas é responsabilidade da
matemáticos a questionarem sua real eficiência. Transformar escola, e elaborá-los é uma tarefa específica da didática da
atividades diagnósticas em atividades de aprendizado não era matemática"
o objetivo desse movimento que buscava uma popularização
do ensino matemático de forma a desenvolver competências a Panizza, 2006: A princípio pode ser difícil para o professor
partir do que o indivíduo já conhecia e acreditar no enfoque de encontrar intervenções que permitam essa relação do aluno
que as ideias evoluem por um movimento de assimilação e com o problema, sem fazer indicações sobre como resolvê-los. Se
acomodação e a interação social entre indivíduos com não é o silêncio do professor o que caracteriza essas fases, mas o
diferentes potencialidades cognitivas é um meio favorecedor que posso dizer? A forma que se deve intervir é dizendo palavras
para a ocorrência da evolução das ideias. para encorajar a resolução, como por exemplo, que há diferentes
O que está acontecendo é que as práticas pedagógicas maneiras de resolvê-lo e anunciar que logo serão discutidas.
adotadas pelos professores ao ensinar matemática, de certo Os conhecimentos não são produzidos somente pela
modo, refletem as visões que os professores possuem sobre a experiência que o sujeito tem sobre os objetos, nem tampouco
forma como o aluno aprende matemática. Em muitos casos, por uma programação inata preexistente nele, mas por
essa visão é desconectada das teorias, mas decorrente da construções sucessivas que acontecem pela interação desse
experiência com a sala de aula. sujeito com o meio. Assim, o objetivo central da didática é
poder identificar as condições nas quais os alunos mobilizam
Didática da matemática (considerações da construção saberes na forma de ferramentas que conduzam à construção
do pensamento sobre o número) e o que torna um de novos conhecimentos.
indivíduo competente na matemática? As crianças elaboram conceitualizações a respeito da
escrita dos números, baseando-se nas informações que
Os questionamentos que eram feitos até então sempre extraem da numeração falada e em seu conhecimento da
giravam em torno do como a criança deveria aprender a escrita convencional dos "nós". Ë o que nos relata Panizza
matemática de um jeito realmente eficiente e condizente com (2006).
sua realidade biológica e social, porém alguns autores Para produzir os números cuja escritura convencional
começaram a refletir sobre o significado dos mesmos e a real ainda não adquiriu, elas misturam os símbolos que conhecem,
necessidade de se ensinar número por número. colocando-os de maneira tal que se correspondam como a
"Que conclusões poderiam tirar as crianças a partir de seu ordenação dos termos na numeração falada.
contato cotidiano com a numeração escrita? Que informações Essa concepção toma da teoria de Piaget o fundamento de
relevantes poderiam obter ao escutar seus pais queixar-se do que o conhecimento se constrói por meio da ação de um aluno
aumento dos preços, ao tentar entender como é que sua mãe diante de situações que lhe provoquem desequilíbrios. Esses
sabe qual das marcas de determinado produto é mais barata, desequilíbrios acontecem quando existe uma situação que o
ao ver que seu irmão recorre ao calendário para calcular os aluno tenha de resolver, mas, além disso, quando possui alguns
dias que ainda faltam para seu aniversário, ao alegrar-se conhecimentos básicos que, ao mesmo tempo, se mostrem
porque na fila da padaria "já estão atendendo a ficha trinta insuficientes para enfrentar o problema.
e..."E seu pai tem a trinta e quatro...".
Parra e Saiz, 2008, p. 76 As crianças constroem ideias próprias sobre o saber
Acreditávamos que as crianças construíam desde cedo matemático, algumas, por exemplo, podem afirmar que um
critérios para comparar números e pensávamos que muito número é maior que outro apenas porque tem mais algarismos
antes de suspeitar da existência de centenas, dezenas e ou porque o primeiro é maior e ele é quem manda. E nós
unidades alguma relação elas deveriam estabelecer entre a estamos tão acostumados a conviver com a linguagem
posição dos algarismos e o valor que eles representam e para numérica que em geral não distinguimos o que é próprio dos
a didática da matemática as crianças constroem ideias sobre números (significado) e o que é próprio do sistema de
os números e sobre o sistema de numeração ainda antes de numeração (para serem representados). Afinal as
terem chegado à escola. Aprender o número está diretamente propriedades dos números são universais, já as leis que regem
ligado ao cálculo e não a noção de conservação (aprende o 1 os diferentes sistemas de numeração não são. Um exemplo
depois o 2...). pode vir quando uma criança afirma que o número 10 pode ser
maior que 8 não pela sua quantidade, mas pela quantidade de
Diferentemente da numeração escrita, que é posicional, a algarismos, o que se torna válido ao considerarmos um
numeração falada não o é. Se fosse assim ao ler um número, sistema não posicional.
As crianças estão a todo o momento buscando e assimilação das argumentações defendidas pela autora sem
regularidades e o papel do educador não é podá-lo em seus que haja a necessidade de recorrer aos outros estudos da obra.
erros, mas tentar entender seu raciocínio e intervir da melhor No primeiro capítulo, intitulado, “Teorias da
forma. aprendizagem”, a autora inicia “destacando alguns teóricos e
seus conceitos de aprendizagem”. O texto é organizado a partir
da dicotomia que divide os autores enfocados em dois grandes
PARO, Vitor Henrique. grupos: os que defendem o paradigma comportamental e os
Qualidade do ensino: a partidários do paradigma cognitivista.
contribuição dos pais. São De modo sintético, porém claro, Evelise Portilho comenta
os conceitos dos principais teóricos do comportamentalismo.
Paulo: Xamã, 2000 Ivan Pavlov, John Watson, Eduard Lee Thorndike e Burrhus
Skinner são os cientistas que têm suas ideias a respeito da
185Neste livro, Vitor Paro traz uma dimensão até hoje
educação comentadas pela autora, através de um recorte
esquemático dos tópicos principais das obras mais
pouco explorada do tema da participação da comunidade na
importantes de cada um dos educadores.
escola. Trata-se de reconhecer não apenas o direito de os
Defensora da visão cognitivista da aprendizagem, a autora
responsáveis pelos educandos participarem, mas também a
dedica a maior parte do capítulo para estudar os autores do
necessidade que uma boa escola tem dessa participação.
segundo paradigma, sem esquecer de avisar que “não temos
Assim, Paro examina os múltiplos ângulos da questão,
uma linha única na teoria cognitivista, que explique o
buscando dimensionar as perspectivas de uma adesão ativa de
funcionamento da mente”. Trabalhando com destreza as
pais ou responsáveis aos propósitos educativos da instituição
concepções dos diversos pensadores que encaixam nesse
escolar, de modo a favorecer a melhoria do aprendizado.
paradigma, a autora não se limita a dissertar sobre os
A escola que toma como objeto de preocupação levar o
conceitos mais significativos de cada um dos teóricos estudos,
aluno a querer aprender precisa ter presente a continuidade
mas aproveita para ilustrar os raciocínios teóricos com
entre a educação familiar e a escolar, buscando formas de
exemplos práticos que podem ser encontrados em sala de aula
conseguir a adesão da família para sua tarefa de desenvolver
e que podem auxiliar o profissional da educação em suas
nos educandos atitudes positivas e duradouras com relação ao
atividades diárias.
aprender e ao estudar.
Nessa segunda parte do capítulo inicial, são estudados os
Grande parte do trabalho do professor seria facilitado se o
seguintes autores: Robert Gagné, Albert Bandura, Jean Piaget,
estudante já viesse para a escola predisposto para o estudo e
Jerome Bruner, David Ausubel, Lev Vygotsky, Jorge Visca e
se, em casa, ele tivesse quem, convencido da importância da
Juan Ignácio Pozo. No tópico dedicado a cada um dos
escolaridade, o estimulasse a esforçar-se ao máximo para
pensadores cognitivistas, a autora, além de sintetizar de modo
aprender. Mas a escola não pode deixar de fazer a sua parte.
claro e objetivo as principais teses defendidas pelos
Isso inclui - além de um ensino efetivamente agradável - o
educadores escolhidos, aproveita para fazer críticas
acolhimento dos pais, o cumprimento do dever de atender a
fundamentadas a respeito da importância de cada um deles
seus interesses educativos e o oferecimento de uma escola da
para os estudos dos processos de ensino-aprendizagem e
qual todos possam gostar.
também, quando necessário, apontar algumas incongruências
conceituais que poderiam inviabilizar a aplicação de algumas
teorias na prática docente.
PORTILHO, Evelise. Como se Para encerrar o primeiro capítulo, o leitor tem um
aprende? Estratégias, estilos e subtópico intitulado “Vislumbrando mais possibilidades para
metacognição. Rio de Janeiro: a mente humana”, no qual a autora procura entrecruzar os dois
Wak, 2009 paradigmas abordados anteriormente, já que “o aprender
envolve todas as capacidades da mente”.
O segundo capítulo do livro concentra-se nas “modalidades
de aprendizagem” e parte da concepção de que “a pessoa
Como se aprende? Estratégias, estilos e cognição186
quando aprende precisa, também, desenvolver um
Entender como uma pessoa aprende é um desejo antigo
conhecimento sobre si mesma”. Devendo também preocupar-
dos profissionais voltados para o processo ensino
se em desvendar os mecanismos utilizados na própria
aprendizagem.
aprendizagem. A seguir, a autora diferencia capacidade e
Diversos livros, artigos e teses já foram dedicados a essa
habilidade e depois, baseada nas teorias de diversos
fonte inesgotável de estudo que é a Educação, mas alguns são
estudiosos, apresenta várias estratégias de aprendizagem,
destinados apenas a quem já tem domínio teórico, e outros
como por exemplo, revisão, elaboração (defendida por J. I.
pecam pela superficialidade.
Pozo); organização, holística, serialista (propostas por G. Pask)
O essencial é que houvesse uma obra que mesclasse
e apoio, atenção, processamento de informação, memorização,
cientificidade e praticidade, sem perder de vista a legibilidade
personalização, aproveitamento das aulas, expressão da
do texto.
informação (na concepção de J. B. Carrasco).
Em 2009 chegou às livrarias o livro Como se aprende?
Como continuação do capítulo, Portilho trabalha também
Estratégias, estilos e cognição, da professora e pesquisadora
os enfoques de aprendizagem, que “têm referência na
Evelise Portilho, que, a partir de sua experiência docente, de
diversidade das formas existentes de abordar este processo”.
seus cursos e palestras ministradas e de suas pesquisas reúne
Embasando-se nas teorias de Ference Maton, Noel Entwistle e
alguns trabalhos que buscam responder à indagação feita no
Juan Ignácio Pozo, a autora discute as noções de enfoque
título.
profundo/superficial (ativo ou passivo), estratégico e
O livro está dividido em quatro partes que se completam,
lucrativo, antes de passar para o último tópico, que enfoca os
formando uma unidade temática. Apesar de os capítulos
estilos de aprendizagem, que segundo os pensadores
seguirem uma sequência, eles podem também ser lidos como
pesquisados, podem ser de experimentação concreta,
estudos independentes, pois cada um deles mantém uma
observação reflexiva, conceituação abstrata, experimentação
organização interna que permite a compreensão do conteúdo
ativa; convergente, divergente, assimilativo ou criativo (na conservação e manutenção dos jogos e brinquedos. Exemplos:
teoria de David Kolb); ativo, reflexivo, teórico ou pragmático "quem brincou guarda"; "no final da brincadeira todos ajudam
(na concepção de Peter Honey). a guardar os materiais" etc.
O terceiro capítulo é dedicado à metacognição, estudo “que Estimular a imaginação infantil, para isso o professor
parece estar ligado à própria existência do ser humano”. Para deve oferecer materiais dos mais simples aos mais complexos,
desenvolver o tema, a autora inicia recorrendo às podendo estes brinquedos ou jogos serem estruturados
conceituações de autores consagrados e, depois, passa a (fabricados) ou serem brinquedos e jogos confeccionados com
dissertar sobre as estratégias metacognitivas, lembrando que material reciclado (material descartado como lixo), por
“nenhuma estratégia pode desenvolver-se sem um mínimo de exemplo: pedaço de madeira; papel; folha seca; tampa de
planejamento, controle e avaliação”, elementos que estes que garrafa; latas secas e limpas; garrafa plástica; pedaço de pano
servirão de base para os estudos de metaconhecimento, teoria etc. Todo e qualquer material cria para a criança uma
estruturada por Flavell e que será bastante explorada pela possibilidade de fantasiar e brincar.
autora ao longo do capítulo. Para finalizar a terceira parte do É interessante que o professor providencie para que as
livro, Portilho comenta os instrumentos de avaliação cognitiva crianças tenham espaço para brincar (área livre), e que
e transcreve alguns questionários que podem ser aplicados a possam mexer no mobiliário, montar casinhas, fazer cabanas,
crianças ou adultos, dependendo dos objetivos que se queira tendas de circo etc.
alcança. O professor deve dar o tempo necessário às crianças para
No último e breve capítulo, a pesquisadora volta à ideia de que as brincadeiras apareçam, se desenvolvam e se encerrem.
cabe ao professor, “antes mesmo de conhecer como seu aluno Ser aquele que coordena sua ação a ação da criança, pelo
aprende, tomar consciência e controle das estratégias que conhecimento e ligação com as emoções desta.
utiliza para aprender”. Nessa parte do livro, Portilho apresenta
reflexões sobre a atuação dos professores e dá sugestões para
que o processo ensino-aprendizagem se torne mais efetivo e
afetivo, sendo “necessário que os professores sejam, além de
SILVA, Lucilene.
ensinantes, também aprendentes”. Brincadeiras: para crianças de
De modo geral, o livro Como se aprende: estratégias, todo o mundo. São Paulo:
estilos e metacognição, da professora Evelise Portilho, atinge UNESCO, 2007
seu objetivo de despertar a reflexão acerca dos
questionamentos de como alguém é levado a aprender algo.
Com uma linguagem que permite a leitura e o aproveitamento
dos conteúdos discutidos tanto por pessoas expertas no A pesquisadora Lucilene Silva, cantora e brincante,
assunto quanto por iniciantes, o livro pode ser lido por todos descobriu que a música que procurava estudar estava muito
aqueles que tenham como objetivo compreender os processos mais próxima dela do que podia imaginar. Eram canções,
de aprendizagem. ritmos e melodias que fizeram parte de sua infância. Desde
então, vem percorrendo o Brasil e o mundo em busca dessas
infâncias sonoras. Coordenadora do Centro de Estudos e
Irradiação da Cultura Infantil do projeto OCA - Escola Cultural,
REGO, Teresa Cristina. em Carapicuíba (SP), ela diz que a riqueza da música
Brincar é coisa séria. São Paulo: tradicional da infância não pode ficar de fora do currículo da
Fundação Samuel, 1992 educação musical no país.
Como exemplo ela cita as brincadeiras que registrou em
Pântano do Sul (SC), lugar que teve uma colonização
portuguesa, açoriana e traz impressa na música da infância
O educador tem como papel ser um facilitador das aspectos dessa cultura. A Bahia, que tem a força e a beleza da
brincadeiras, sendo necessário mesclar momentos onde cultura negra, tem visivelmente as características dessa
orienta e dirige o processo, com outros momentos onde as música na música da infância. A geografia e o modo de vida de
crianças são responsáveis pelas suas próprias brincadeiras. cada lugar também são fatores determinantes nos tipos de
É papel do educador observar e coletar informações brincadeiras: os lugares montanhosos trazem um repertório
sobre as brincadeiras das crianças para enriquecê-las em diferente do de lugares planos; nas regiões cercadas por mares
futuras oportunidades. ou rios, as brincadeiras são outras; nas áreas rurais, as
Sempre que possível o educador deve participar das brincadeiras também têm diferenças das áreas urbanas.
brincadeiras e aproveitar para questionar com as crianças
sobre as mesmas. A infância e as brincadeiras nas diferentes culturas
É importante organizar e estruturar o espaço de forma a
estimular na criança a necessidade de brincar, também Hoje, as questões referentes à infância têm sido objeto de
visando facilitar a escolha das brincadeiras. notícias e debates porém, entre nós, parece ainda não estar
Nos jogos de regras o professor não precisa estimular os claro o significado do termo.
valores competitivos, e sim tentar desenvolver atitudes Enquanto a palavra criança, de origem latina “creator,
cooperativas entre as crianças. Que o mais importante no creatoris”, significa o ser humano de pouca idade, aliando-se a
brincar é participar das brincadeiras e dos jogos. ela a ideia de desenvolvimento, a palavra infância, com origem
Devemos respeitar o direito da criança participar ou não na mesma língua “infans, infantis”, indica a ideia daquele que
de um jogo. Neste caso o professor tem que criar uma situação não fala, mostrando o lugar que os pequenos ocupavam na
diferente de participação dela nas atividades como: auxiliar sociedade.
com materiais, fazer observações, emitir opiniões etc. Historicamente, as crianças nem sempre foram
Em uma situação de jogo ou brincadeira é importante que consideradas nas sociedades e nem foram representadas na
o educador explique de forma clara e objetiva as regras às arte, porque não conseguiam sobreviver. Eram muito grandes
crianças. E se for necessário pode mudá-las ou adaptá-las de os índices de mortalidade infantil, dada a falta de higiene e de
acordo com as faixas etárias. alimentação. Como muito bem colocou Áries (1981) faziam-se
Estimular nas crianças a socialização do espaço lúdico e muitos filhos para que poucos sobrevivessem.
dos brinquedos, criando assim o hábito de cooperação,
Entre os povos primitivos, cuja principal característica era Embora a presença de bonecas entre diversos grupos
o nomadismo, as famílias evitavam ter mais do que quatro humanos parece estar mais ligada à religião, com o tempo elas
filhos, dada a dificuldade que se tinha em carregá-los e acabaram por representar a figura feminina, quer através da
alimentá-los por ocasião dos deslocamentos. maternagem, quer como mensageiras da moda
Pouco se sabe sobre as crianças nos grupos nômades mais Os gregos tiveram grandes contribuições no universo
primitivos, presume-se que aprendiam com os mais velhos as lúdico infantil. Entre eles, as crianças comumente se divertiam
habilidades necessárias para a sobrevivência, pois o fato de se com brinquedos de cerâmica e com o aro, um arco que rolava
mudarem continuamente de uma parte para outra impedia pelo chão. Em 400 a. C., Hipócrates, o “Pai da Medicina”, como
que deixassem resquícios que pudessem favorecer um estudo era conhecido, já recomendava sua prática como um excelente
mais profundo dos pequenos em determinados momentos exercício para as pessoas de fraca constituição física. Sua
históricos. popularização, entretanto, acabou ocorrendo somente no
Apesar da dificuldade em conhecer as diferentes infâncias século XIX.
e como viviam as crianças nos distintos povos, o pouco que se Dada a sua forma cúbica, os astrágalos dos carneiros (ossos
sabe sobre elas deve-se aos objetos que utilizavam e às do joelho), parecem ter sido os ancestrais dos dados. Na Grécia
atividades que mais praticaram em suas vidas, ou seja, seus eram usados como uma forma de consulta aos deuses, por essa
brinquedos e suas brincadeiras. razão, uma vez lançados ao ar e dependendo da posição em
Deve-se ressaltar, porém, que grande parte das que caiam tinham um significado.
brincadeiras teve origem nos costumes populares cujas Naquele país os dados confeccionados com ossos, conchas
práticas eram mais realizadas pelos adultos do que pelas e varetas parecem ter sido usados pelo herói Palamedes para
próprias crianças, mostrando assim o desconhecimento da distrair suas tropas durante a guerra de Tróia. Também na
infância. Odisseia de Homero há uma passagem em que os pretendentes
Com o Concílio de Trento, os jogos e brincadeiras foram da rainha Penélope jogavam dados sobre peles de boi, diante
considerados pecaminosos pela Igreja Católica e banidos da do palácio real de Ítaca.
cultura popular, permanecendo sua realização entre os Mas não só os mesopotâmios, egípcios e gregos nos
pequenos. No entanto, dadas as transformações pelas quais deixaram algumas brincadeiras como herança, os romanos, os
vêm passando a sociedade, eles tendem a desaparecer se nós chineses, os indígenas mesoamericanos e brasileiros também.
educadores não fizermos um movimento de resgate das Os romanos, graças a algumas ruínas encontradas em
atividades lúdicas ressaltando sua importância para o várias partes da Europa, tiveram importantes contribuições na
desenvolvimento da criança. área lúdica. As ruínas de Conímbriga, em Portugal, ou de
É importante salientar, que as brincadeiras infantis que Tarragona, na Espanha, guardam importantes testemunhos da
ainda persistem em todo o mundo são quase sempre jogos infância de nossos antepassados.
muito simples e divertidos. Não demandam objetos, No que diz respeito a Conímbriga, segundo Namora
desenvolvem muitas habilidades e, historicamente, se (2000) encontramos nas suas coleções até o presente
originaram de práticas culturais e religiosas realizadas pelos momento, um interessante e precioso conjunto de jogos e
adultos ao longo dos tempos. brinquedos que chegaram até nós cuja origem remonta à
Quanto aos brinquedos, objetos feitos para brincar, muitos antiguidade clássica. Dentre eles está o Labirinto de Creta,
constituem o único registro da vida dos pequenos em algumas conhecido também como Labirinto do Minotauro, usado para
épocas, sabendo-se que, em sua grande maioria, chegaram até decorar os pisos dos quartos das crianças.
nós após terem sido encontrados junto aos túmulos das Flautas e apitos de ossos, dados e objetos miniaturizados
crianças ou de seus mestres. do mundo adulto faziam parte da cultura infantil romana.
Evidentemente que muitos desses objetos pertenceram No Museu de Tarragona pode-se observar a existência de
aos pequenos das classes mais abastadas da população, ou uma boneca de marfim, com braços e pernas articulados, que
seja, da nobreza ou da aristocracia, sendo poucos registros testemunha o papel que tal objeto representou na vida das
daqueles pertencentes às camadas populares ou aos filhos de crianças romanas.
escravos, até mesmo porque viver a infância, do ponto de vista Historicamente é possível perceber que, entre os romanos,
da importância dos pequenos em várias sociedades, pode ter não apenas as crianças possuíam atividades lúdicas, mas os
sido um privilégio de poucos. jovens e adultos também. Assim, os labirintos, o jogo de damas,
De qualquer forma, as crianças, em diferentes momentos o jogo do soldado e inúmeras outras atividades eram
históricos e em diversos povos, deixaram-nos um legado praticadas por aquele povo.
importante, seus brinquedos e brincadeiras, dando pistas aos Tais exemplos mostram que algumas atividades lúdicas
estudiosos da maneira como viviam. eram comuns a todas as pessoas, não sendo, portanto
Sabe-se, portanto, que muitos jogos e brincadeiras não se reservadas apenas às crianças.
originaram entre as crianças, mas entre os adultos que nem Conta-se que a amarelinha pode ter sido criada pelos
sempre os utilizavam enquanto divertimento, mas como ritos soldados romanos como forma de entreter as crianças pelos
religiosos carregados de conteúdos simbólicos. locais por onde passavam. Como as estradas eram
Dentre eles podemos lembrar, por exemplo, do jogo Real pavimentadas com pedras, a superfície tornava-se ideal para a
de Ur encontrado na Mesopotâmia, com peças de madrepérola prática da atividade, difundindo-se, posteriormente, por toda
e lápis lazuli e o Senet, muito comum entre os egípcios cujo a Europa.
tabuleiro era de ébano e as peças, os bailarinos, eram de ouro. Sabe-se, ainda, que as crianças romanas jogavam bolinhas
Este jogo tinha um significado religioso simbolizando a de gude, cuja origem não se pode precisar. Inicialmente,
passagem do mundo terrestre para a outra vida. usavam nozes, pedras e grãos de cereais.
Muitos jogos de percurso que existem ainda hoje tiveram É interessante notar, por exemplo, que no Líbano hoje, o
sua origem no Senet e foram se modificando. jogo de bolinhas de gude é realizado na época da Páscoa,
Além do Senet, que parece ter sido um jogo de adultos, quando são utilizados ovos no lugar das bolinhas sendo
sabe-se que na Antiguidade, também as crianças egípcias posteriormente ingeridos pelas crianças e adultos.
tinham vários brinquedos. Era comum entre elas o uso de É importante salientar que embora, à primeira vista os
bolas coloridas de argila com pedras dentro para atrair a romanos parecem ter criado muitas atividades lúdicas, a
atenção. Possuíam, também, animais de madeira com a cabeça história mostrou que a maioria delas não passou de atividades
articulada e os olhos de vidro, além de bonecas confeccionadas já conhecidas e praticadas pelos egípcios e gregos.
com diversos materiais, inclusive ouro
Além dos romanos, os chineses também tiveram Muitas das brincadeiras realizadas pelas crianças, ainda
importantes contribuições do ponto de vista lúdico. Da China hoje, são produtos de diferentes culturas e deveriam ser
parece ter vindo o jogo de palitos ou de varetas de bambu, cuja preservadas.
prática era comum especialmente entre os adultos. Através Em sua pesquisa, a estudiosa Renata Meirelles (2007)
dele os oráculos consultavam as divindades. investigou os brinquedos e brincadeiras que ainda persistem
As pipas ou papagaios, como são chamados entre nós, entre as crianças brasileiras. Estão entre elas as brincadeiras
também tiveram sua origem no Oriente o os registros de seu de roda, o pião feito com diferentes materiais, inclusive com
uso antecedem ao nascimento de Cristo, quando um general tampas dos frascos de detergente, a amarelinha também
chinês utilizou-os para enviar mensagens à tropas sitiadas. chamada de macaca, o caracol, as brincadeiras de mão, os
Mas não foram só os antigos que deixaram suas heranças currupios, os brinquedos que reproduzem o meio adulto feitos
culturais mantidas através das práticas lúdicas infantis. de materiais naturais ou de sucata, as cinco marias, a cama de
Também os indígenas Mesoamericanos e brasileiros tiveram gato, as pernas de pau, o cavalo de pau, a casinha, a bolinha de
importantes contribuições nessa área. gude e o elástico.
Entre os indígenas mexicanos (olmecas, astecas e maias) o No entanto, as transformações que vimos sofrendo
jogo era mais do que uma diversão. Tinha um caráter religioso. produto de um mundo globalizado, caracterizado pelo
O mais conhecido e praticado era o jogo da pelota (bola) A bola crescimento da urbanização, da industrialização e aumento no
feita de látex, pesava entre 3 e 4 quilos. A quadra em forma de consumo, têm ameaçado a infância, sua cultura e seu direito à
I representava o universo, a bola o sol em sua viagem diária brincadeira. A infância está desaparecendo, porque as crianças
pelo céu e as regras do jogo indicavam a luta do bem contra o estão se transformando em adultas antes do tempo. A cultura,
mal. porque uma vez distantes do repertório infantil, muitas
As crianças dessas civilizações aprendiam no convívio com brincadeiras desaparecerão carregando consigo saberes
os adultos, o que nos leva a deduzir que as atividades dos milenares. Quanto ao direito à brincadeira, ele só parece
pequenos confundiam-se com as dos mais velhos, uma vez que existir no papel, pois, na prática a realidade é bem outra.
meninos e meninas tinham os tinham como modelos a serem Diante desse quadro surgem algumas questões que
seguidos. merecem ser analisadas
Apesar da violência de algumas práticas lúdicas, sabe-se Do que brincam, hoje, as crianças brasileiras? Como e onde
que, entre aqueles indígenas, os pais tinham muito afeto e realizam suas brincadeiras, quais os seus parceiros? Até que
consideração pelas suas crianças. ponto elas ainda possuem o direito à infância?
Os indígenas brasileiros também nos deixaram um Uma investigação realizada por Dodge e Carneiro (2007)
importante legado no plano dos brinquedos e brincadeiras. Ao com pais, de crianças entre 6 e 12 anos, dos diversos
tratar do assunto, Altmann (1999) mostrou que a princípio a segmentos sociais, em 77 municípios brasileiros das diversas
criança é seu próprio brinquedo. A exploração do seu corpo e regiões do país, observou-se que além de se modificarem, as
do corpo materno tornaram-se interessantes brincadeiras. A atividades lúdicas realizadas antigamente estão
observação da natureza e a utilização de folhas, troncos e desaparecendo. As brincadeiras mais comuns, ou seja,
sementes, acabam transformando-se em objetos-brinquedos realizadas por seus filhos pelo menos três vezes na semana
dando asas à imaginação infantil. eram assistir TV, vídeos e DVDs, brincar com animal de
Folhas e cascas de árvores servem como fôrma para os estimação, cantar e ouvir música, desenhar, andar de bicicleta,
objetos de barro, utilizados durante as brincadeiras. patins, patinetes, carrinhos de rolimã, jogar bola, brincar de
O barro, colhido pelas mães na beira dos rios, triturado, pega-pega, polícia-e-ladrão, esconde-esconde, brincar de
modelado e seco, recebe inúmeros adornos de sementes ou boneca, brincar com coleções e ficar no computador.
penas, dando origem às mais diferentes figuras. A TV e os demais equipamentos tecnológicos, videogames,
Assim, mesmo que as bonecas indígenas não tenham sido jogos de internet, vêm crescendo assustadoramente entre os
transmitidas à cultura brasileira pela cultura europeia, elas pequenos. Enquanto os últimos ainda, constituem o universo
surgem como a representação da maternagem e são de uma pequena camada da população, a primeira tem sido um
geralmente de barro, apresentando seios fartos, nádegas movimento universal. Isso não significa negar a sua existência,
grandes, tentando imitar mulher grávida. mas analisá-la de forma mais criteriosa de modo que não traga
Também é com o barro que as crianças xavantes, por tantas consequências funestas às nossas crianças.
exemplo, ainda hoje constroem suas casas. Primeiro espetam Quanto ao computador e os vídeos embora se constituam
os paus no chão e como essa atividade é mais difícil de fazer, em equipamentos reservados, no Brasil, ainda, a uma classe
costumam a reaproveitar casas construídas pelas maiores que social mais privilegiada, são aspirados pelas crianças e pais
já as abandonaram. Usam, ainda para a decoração os materiais com condições econômicas inferiores. E isso nos parece uma
encontrados na natureza. viagem sem volta.
Além do barro, as crianças indígenas usam a madeira para Tais alterações, contudo, não ocorreram somente no plano
confeccionar seus brinquedos. É com os troncos de árvores das escolhas das brincadeiras, mas puderam ser observadas
que elas constroem o bodoque _ arma manejada por elas_ para também no que tange aos companheiros, aos espaços e aos
abater caças, aves e lagartixas. tempos de brincar.
É, ainda, com madeira e barro que os indígenas A atividade lúdica para ser aprendida necessita de
confeccionam piões que fazem girar eximiamente, num parceiros, pais, amigos, irmãos, professores... Eis a grande
movimento ágil das mãos. dificuldade.
Das cabaças surgem os chocalhos utilizados para espantar Por um lado, a falta de disponibilidade de tempo dos pais e
os maus espíritos, transformando-se, também, em das gerações mais velhas de estarem com seus filhos, facilita o
instrumentos de festividades ou cerimônias religiosas. Com desconhecimento de repertórios de brincadeiras. O brincar se
fios entrelaçados entre os dedos das mãos, constroem aprende num processo de imitação, portanto os pequenos só
inúmeras figuras dando asas à imaginação, que é o caso da podem aprender com seus pares, sejam eles adultos ou
cama-de-gato crianças.
Espetam penas no sabugo do milho, que atiram ao ar. Por outro, como as famílias atualmente estão menores, há
Confeccionam petecas com base de palha de milho ou de couro. um grande número de crianças que brincam sozinhas e, por
Divertem-se em atividades lúdicas coletivas imitando os vezes, apenas com um animal de estimação. Logo, a falta de
animais. Garantem sua cultura. relacionamento com os outros tanto dificulta a construção de
espírito empreendedor, com capacidade de tomar decisões e risco de exageros, que em se tratando de Matemática um aluno
de resolver problemas, que seja criativo, com capacidade para será levado a construir competências somente confrontando-
ser um cidadão do mundo, isto é, poder "navegar" em se, regular e intensamente, com situações problematizadoras
diferentes contextos, mesmo fora de sua área de atuação que mobilizem diversos tipos de recursos cognitivos e
específica, sem perder o rumo. metacognitivos.
Em uma pequena ampliação dessa análise poderíamos A resolução de problemas nesse sentido não é uma
dizer que desse cidadão do próximo século seria exigido que situação qualquer, focada em achar uma resposta de forma
conciliasse uma cultura geral suficientemente ampla com a rápida, mas deve colocar o resolvedor diante de uma série de
possibilidade de aprofundamento em uma área específica, de decisões a serem tomadas para alcançar um objetivo
forma que adquirisse aptidão para enfrentar novas situações e previamente traçado por ele mesmo ou que lhe foi proposto,
realizar um ofício. O perfil delineado exige ainda uma maior mas com o qual ele interage, se desafia e envolve. Essa
capacidade de autonomia e discernimento e o fortalecimento estratégia está centrada na ideia de superação de obstáculo
da responsabilidade pessoal na realização do destino coletivo. pelo resolvedor, devendo, portanto, não ser de resolução
Dito de outro modo, seria preciso ao cidadão do próximo imediata pela aplicação de uma operação ou fórmula
século, desenvolver o conhecimento dos outros, e sua história, conhecida, mas oferecer uma resistência suficiente, que leve o
criando uma nova mentalidade, a da análise compartilhada dos resolvedor a mobilizar seus conhecimentos anteriores
riscos e desafios, que conduzisse à realização de projetos disponíveis, bem como suas representações, e seu
comuns e à gestão "inteligente" e pacífica dos conflitos que se questionamento para a elaboração de novas ideias e de
mostrarem inevitáveis. caminhos que visem a solucionar os desafios estabelecidos
Ao mesmo tempo em que se exige um cidadão capaz de pela situação problematizadora, gerando então novas
conhecer, aprender e fazer, também é exigido dele que saiba aprendizagens e formas de pensar.
ser e viver junto ou seja, já não há mais lugar para alguém Sendo assim, refletir sobre o ensino e a aprendizagem da
puramente racional se é que isso algum dia tenha ocorrido, Matemática na escola é necessariamente identificar a aula
insensível a sentimentos, incapaz de controlar suas próprias como um espaço problematizador, no qual os alunos se
emoções e de perceber que não está sozinho no mundo. deparam com desafios constantes, por meio dos quais buscam
Para formar o cidadão próximo a esse perfil esperado, regularidades, formulam, testam, justificam ou refutam
consideramos que uma concepção de inteligência como a hipóteses, refletem a partir de experiências bem sucedidas ou
proposta por Gardner é importante. Ao inserir em seu modelo não, defendem suas ideias por meio de argumentações e
inteligências como a musical, a interpessoal e a intrapessoal e, discussões com seus pares. É um recurso que auxilia os alunos
mais recentemente a naturalista, Gardner também atende à a desenvolver um fazer matemático indo além do mero
exigência do equilíbrio entre razão e emoção e abre caminho domínio de técnicas e exercícios típicos. Enfrentar e resolver
para que possamos como pais, educadores, pesquisadores e uma situação-problema não significa apenas compreender o
cidadãos caminhar na busca de uma sociedade mais feliz, justa que é exigido, aplicar as técnicas ou fórmulas adequadas e
e que use seu conhecimento, tecnologia e progresso científico obter a resposta correta, mas, além disso, uma atitude de
em benefício do progresso social e da convivência pacífica com investigação científica em relação aquilo que está sendo
as diferenças. resolvido e mesmo diante da solução que se obtém. Dessa
Para alguns de nós pode parecer utópico, mas, sem entrar forma, um problema não acaba na conferência da resposta,
nesse nível de discussão, e considerando essa utopia porque exige a discussão das soluções, a análise dos dados e,
necessária e vital para sair do ciclo perigoso e cínico da finalmente, uma revisão e o questionamento da própria
resignação em que nos encontramos hoje diante da sociedade situação inicial.
que temos, preferimos destacar desse perfil o traço que nos Por isso, ao resolvedor deve ficar claro que a resposta
parece mais marcante e que justificaria a adoção de uma nova correta é tão importante quanto o processo de resolução. Ele
concepção de inteligência: o equilíbrio entre razão e emoção. deve perceber ainda que podem surgir diferentes soluções,
Sem termos a pretensão de esgotar o assunto, sabendo que que precisam ser comparadas entre si e justificadas em relação
aceitar uma teoria é render-se perante o encanto do àquilo que se desejava resolver. Podemos afirmar que a
importante, do prometedor, das possibilidades e do resolução de problemas se caracteriza por uma postura de
chamamento sugestivo que ela nos apresenta, deixamos aqui o inconformismo frente aos obstáculos e ao que foi estabelecido
convite a um longo caminho, cheio de percalços, de por outros, sendo um exercício contínuo de desenvolvimento
necessidade de debates, de reflexões que podemos fazer do senso crítico e da criatividade, que são características
juntos. primordiais daqueles que fazem ciência e que são objetivos
importantes do ensino de Matemática.
Atitudes naturais do aluno que não encontram espaço
SMOLE, Kátia Stocco, DINIZ, dentro do modelo tradicional de ensino, como é o caso da
Maria Ignez e CÂNDIDO, curiosidade e da confiança em suas próprias ideias, passam a
Patrícia. Resolução de ser valorizadas nesse processo investigativo. Para que esse
processo se desenvolva plenamente, o ensino de Matemática
problemas: matemática de 0 a deve primeiramente favorecer um ambiente de aprendizagem
6. Porto Alegre: Artmed, 2003 que simule na sala de aula uma comunidade matemática, onde
todos possam participar, opinar, comunicar e trocar
informações e experiências.
188A resolução de problemas e o pensamento matemático Nessa comunidade, os alunos - mediados por um professor
A necessidade atual de desenvolver nos jovens competências que questiona, instiga a análise, valoriza a troca de impressões
de pensamento, que privilegiem a capacidade de aprender a e opiniões - desenvolvem um conhecimento matemático que
aprender como uma forma de garantir a sua adaptação aos lhes permite identificar, selecionar e utilizar estratégias
desafios que a sociedade do conhecimento lhes coloca, justifica adequadas ao resolver situações-problema por meio de
a necessidade de promover em contexto escolar o ensino de diferentes processos de resolução, em detrimento das
Matemática por meio de problemas. Podemos afirmar, sem respostas mecânicas para problemas sem sentido para eles.
188http://www.smbrasil.com.br/sm_resources_center/somos_mestres/forma
cao-reflexao/a-resolucao-de-problemas-pensamento-matematico.pdf
Como ingredientes desse processo, defendemos a resolução de Para o autor, o postulado de Wallon de que o homem é
problemas com características variadas, além daqueles “geneticamente social” (impossível de ser pensado fora do
rotineiros. As tarefas e os problemas discutidos devem contexto da sociedade) também vale para a teoria de Piaget,
apresentar um potencial que permita aos estudantes propor pois são suas palavras: “desde o nascimento, o
conjecturas, usar exemplos e contraexemplos. desenvolvimento intelectual é, simultaneamente, obra da
Acrescentamos, também, a necessidade de manter sociedade e do indivíduo” (p.12).
periodicamente problemas novos em sala de aula, de conduzir Para Piaget, o homem não é social da mesma maneira aos
os alunos à observação das diversas estratégias que utilizam seis meses ou aos vinte anos. A socialização da inteligência só
quando enfrentam situações novas e a testar algumas começa a partir da aquisição da linguagem. Assim, no estágio
alternativas em oportunidades de verificar as destrezas e as sensório-motor a inteligência é essencialmente individual, não
dificuldades no processo de resolver problemas de seus pares. há socialização. No estágio pré-operatório, as trocas
São fundamentais o valor, as estratégias, as habilidades e os intelectuais equilibradas ainda são limitadas pelo pensamento
processos, pois fornecem aos alunos uma forma flexível e egocêntrico (centrado no eu): as crianças não conseguem
independente de pensar. Além disso, ganha força a opção pelo seguir uma referência única (falam uma coisa agora e o
processo de socialização da aprendizagem, pautado em contrário daí a pouco), colocar-se no ponto de vista do outro e
trabalhos em grupo, estratégia fundamental na formação de não são autônomas no agir e no pensar. No estágio operatório-
um ambiente matemático. concreto, começam a se efetuar as trocas intelectuais e a
As discussões entre pares permitem que o resolvedor- criança alcança o que Piaget chama de personalidade - o
aluno analise várias alternativas, o que é essencial para o indivíduo se submetendo voluntariamente às normas de
desenvolvimento das ideias matemáticas, e desenvolva a reciprocidade e universalidade. A personalidade é o ponto
percepção de que a resolução de problemas não é uma tarefa mais refinado da socialização: o eu renuncia a si mesmo para
solitária. inserir seu ponto de vista entre os outros, em oposição ao
Em todos os sentidos, o que se busca é que os alunos egocentrismo, em que a criança elege o próprio pensamento
exerçam maior e melhor controle sobre o seu fazer e o seu como absoluto. O ser social de mais alto nível é aquele que
pensar matemático, adquirindo sistemas de controle e consegue relacionar-se com seus semelhantes realizando
autorregulação que os auxiliem a escolher ou optar por trocas em cooperação, o que só é possível quando atingido o
determinada estratégia, abandoná-la ou buscar outra que estágio das operações formais (adolescência).
melhor se ajuste à situação e, ao final, avaliar o processo vivido.
O que garante os processos metacognitivos aos quais nos O processo de socialização
referimos anteriormente. O enfoque apresentado até agora A socialização vai do grau zero (recém-nascido) ao grau
implica um repensar o ensino de Matemática, sua concepção e máximo (personalidade). O indivíduo mais evoluído pode
as situações didáticas propostas, visando ao processo de usufruir tanto de sua autonomia quanto das contribuições dos
aprendizagem que, para ocorrer, atribui ao professor um papel outros. Para Piaget, “autonomia significa ser capaz de se situar
essencial. consciente e competentemente na rede dos diversos pontos de
Cabe ao professor escolher bons problemas, planejar vista e conflitos presentes numa sociedade” (p.17). Há uma
formas de explorá-los para que os alunos sejam colocados em “marcha para o equilíbrio”, com bases biológicas, que começa
situação de ver e confrontar diferentes pontos de vista, no período sensório-motor, com a construção de esquemas de
explicitar o que é difícil, justificar como pensou uma solução, ação, e chega às ações interiorizadas, isto é, efetuadas
avaliar o processo vivido, valorizar a análise de erros, entre mentalmente.
tantas outras ações. Podemos concluir afirmando que, se por Embora tudo pareça resumir-se à relação sujeito-objeto,
um lado, a resolução de problemas é o processo que permite para La Taille, as operações mentais permitem o
atribuir sentido e significado ao fazer matemático na escola, conhecimento objetivo da natureza e da cultura e são,
serão o planejamento e a condução do processo da aula que portanto, necessidades decorrentes da vida social. Para ele,
permitirão ou não a ampliação das capacidades reflexivas do Piaget não compartilha do “otimismo social” de que todas as
aluno. Portanto, a mudança da visão da Matemática como uma relações sociais favorecem o desenvolvimento. Para La Taille,
disciplina na qual reproduzimos modelos, ou fazemos a peculiaridade da teoria piagetiana é pensar a interação pela
exercícios, para uma outra marcada pela investigação, pela perspectiva da ética (igualdade, respeito mútuo, liberdade,
possibilidade de diálogo e de aprendizagem significativa é uma direitos humanos). Ser coercitivo ou cooperativo depende de
decisão didática em profunda relação com aquilo que uma atitude moral, sendo que a democracia é condição para o
acreditamos que seja ensinar e aprender Matemática. desenvolvimento da personalidade. Diz ele: “A teoria de Piaget
é uma grande defesa do ideal democrático” (p. 21).
espécie e do desenvolvimento individual” (p. 24). Para ele, o organicamente social, isto é, sua estrutura orgânica supõe a
cérebro é formado por sistemas funcionais complexos, isto é, intervenção da cultura. A metodologia do seu trabalho ancora-
as funções não se localizam em pontos específicos, mas se se no materialismo dialético, concebendo a vida dos
organizam a partir da ação de diversos elementos que atuam organismos como uma pulsação permanente, uma alternância
de forma articulada. O cérebro tem uma estrutura básica, de opostos, um ir e vir permanente, com avanços e recuos.
resultante da evolução da espécie, que cada membro traz
consigo ao nascer. Essa estrutura pode ser articulada de A motricidade: do ato motor ao ato mental.
diferentes formas pelo sujeito, isto é, um mesmo problema A questão da motricidade é o grande eixo do trabalho de
pode ser solucionado de diferentes formas e mobilizar Wallon. Para ele, o ato mental se desenvolve a partir do ato
diferentes partes do cérebro. motor. Ao longo do desenvolvimento mental, a motricidade
Há uma forte ligação entre os processos psicológicos e a cinética (de movimento) tende a se reduzir, dando lugar ao ato
inserção do indivíduo num contexto sócio-histórico específico. mental. Assim, mesmo imobilizada no esforço mental, a
Instrumentos e símbolos construídos socialmente é que musculatura permanece em atividade tônica (músculo parado,
definem quais possibilidades de funcionamento cerebral serão atitude). A tipologia de movimento que Wallon adota parte de
concretizadas. Vygotsky apresenta a ideia de mediação: a atos reflexos, passa pelos movimentos involuntários e chega
relação do homem com os objetos é mediada pelos sistemas aos voluntários ou praxias, só possíveis graças à influência
simbólicos (representações dos objetos e situações do mundo ambiental aliada ao amadurecimento cerebral.
real no universo psicológico do indivíduo), que lhe possibilita Ao nascer, é pela expressividade ou mímica que o ser
planejar o futuro, imaginar coisas, etc. humano atua sobre o outro. A motricidade disponível consiste
Em resumo: operar com sistemas simbólicos permite o em reflexos e movimentos impulsivos, incoordenados. A
desenvolvimento da abstração e da generalização e define o exploração da realidade exterior só é possível quando surgem
salto para os processos psicológicos superiores, tipicamente as capacidades de fixar o olhar e pegar. A competência no uso
humanos. Estes têm origem social, isto é, é a cultura que das mãos só se completa ao final do primeiro ano de vida,
fornece ao indivíduo o universo de significados quando elas chegam a uma ação complementar (mão
(representações) da realidade. As funções mentais superiores dominante e auxiliar). A etapa dominantemente práxica da
baseiam-se na operação com sistemas simbólicos e são motricidade ocorre paralelamente ao surgimento dos
construídas de fora para dentro num processo de movimentos simbólicos ou ideativos1. O movimento, a
internalização. princípio, desencadeia o pensamento. Por exemplo, uma
O processo de formação de conceitos criança de dois anos, que fala e gesticula, tem seu fluxo mental
A linguagem é o sistema simbólico fundamental na atrofiado se imobilizada. O controle do gesto pela ideia
mediação entre sujeito e objeto do conhecimento e tem duas inverte-se ao longo do desenvolvimento. Há uma transição do
funções básicas: interação social (comunicação entre ato motor para o mental.
indivíduos) e pensamento generalizante (significado
compartilhado pelos usuários). Nomear um objeto significa As fases da inteligência - as etapas de construção do eu
colocá-lo numa categoria de objetos com atributos comuns. No processo de desenvolvimento da inteligência há
Palavras são signos mediadores na relação do homem com o preponderância (a cada período mais marcado pelo afetivo
mundo. segue-se outro mais marcado pelo cognitivo) e alternância de
O desenvolvimento do pensamento conceitual segue um funções (a criança ora está mais voltada para a realidade das
percurso genético que parte da formação de conjuntos coisas/conhecimento do mundo - fases centrípetas, ora mais
sincréticos (baseados em nexos vagos e subjetivos), passa pelo voltada para a edificação da pessoa/conhecimento de si - fases
pensamento por complexos (baseado em ligações concretas e centrífugas).
factuais) e chega à formação de conceitos (baseados em 1ª fase: impulsivo-emocional (de zero a um ano). Voltada
ligações abstratas e lógicas). para o desenvolvimento motor e para a construção do eu. No
Esse percurso não é linear e refere-se à formação de recém-nascido, os movimentos impulsivos que exprimem
conceitos cotidianos ou espontâneos, isto é, desenvolvidos no desconforto ou bem estar são interpretados pelos adultos e se
decorrer da atividade prática da criança em suas interações transformam em movimentos comunicativos através da
sociais imediatas e são, portanto, impregnados de mediação social; até o final do primeiro ano a relação com o
experiências. Já os conceitos científicos são os transmitidos em ambiente é de natureza afetiva e a criança estabelece com a
situações formais de ensino-aprendizagem e geralmente mãe um “diálogo tônico” (toques, voz, contatos visuais).
começam por sua definição verbal e vão sendo expandidos no 2ª fase: sensório-motor e projetivo (de um a três anos).
decorrer das leituras e dos trabalhos escolares. Assim, o Aprendendo a andar a criança ganha mais autonomia e volta-
desenvolvimento dos conceitos espontâneos é ascendente (da se para o conhecimento do mundo. Surge uma nova fase de
experiência para a abstração) e o de conceitos científicos é orientação diversa, voltada para a exploração da realidade
descendente (da definição para um nível mais elementar e externa. Com a linguagem, inicia-se o domínio do simbólico.
concreto). 3ª fase: personalismo (três a seis anos). Novamente
A partir do exposto, duas conclusões são fundamentais: voltada para dentro de si, a preocupação é agora construir-se
1ª - diferentes culturas produzem modos diversos de como ser distinto dos demais (individualidade diferenciada).
funcionamento psicológico; Com o aperfeiçoamento da linguagem, desenvolve-se o
2ª - a instrução escolar é de enorme importância nas pensamento
sociedades letradas. 1 Ideomovimento é expressão peculiar de Wallon e indica
o movimento que contém ideias discursivo. Sucedem-se uma
Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência etapa de rejeição (atitudes de oposição), outra de sedução do
segundo Wallon outro e conciliação (idade da graça) e outra de imitação (toma
Heloysa Dantas o outro como modelo).
4ª fase: categorial (seis a onze anos). Voltada para o
Wallon tem uma preocupação permanente com a infra- cognitivo, é a fase escolar. Ao seu final, há a superação do
estrutura orgânica de todas as funções psíquicas. Seus estudos sincretismo do pensamento em direção à maior objetividade e
partem de pessoas com problemas mentais, portanto, seu abstração. A criança torna-se capaz de diferenciações
ponto de partida é o patológico, isto é, utiliza a doença para intelectuais (pensamento por categorias) e volta-se para o
entender a normalidade. Para Wallon, o ser humano é conhecimento do mundo.
5ª fase: puberdade e adolescência (a partir dos onze anos). intelectual e moral e detém uma autonomia possível perante
Nesta fase, caracterizada pela autoafirmação e pela os ditames da sociedade.
ambivalência de atitudes e sentimentos, a criança volta-se As relações interindividuais são divididas em duas
novamente para a construção da pessoa. Há uma reconstrução categorias:
do esquema corporal e o jovem tem a tarefa de manter um eu - coação: derivada da heteronomia, é uma relação
diferenciado (dos outros) e, ao mesmo tempo, integrado (ao assimétrica, em que um dos polos impõe suas verdades, sendo
mundo), o que não é fácil. contraditória com o desenvolvimento intelectual;
- cooperação: é uma relação simétrica constituída por
PARTE II - AFETIVIDADE E COGNIÇÃO iguais, regida pela reciprocidade; envolve acordos e exige que
Desenvolvimento do juízo moral e afetividade na teoria o sujeito se descentre para compreender o ponto de vista
de Jean Piaget alheio; com ela o desenvolvimento moral e intelectual ocorre,
Yves de La Taille pois ele pressupõe autonomia e superação do realismo moral.
Em resumo: para Piaget, a coerção é inevitável no início da
A obra “O julgamento moral da criança”(1932) traz educação, mas não pode permanecer exclusiva para não
implícita a relação que existe entre afetividade e cognição para encurralar a criança na heteronomia. Assim, para favorecer a
Piaget, bem como a importância que ele atribui à autonomia conquista da autonomia, a escola precisa respeitar e
moral. aproveitar as relações de cooperação que espontaneamente,
nascem das relações entre as crianças.
a) As regras do jogo
Segundo Piaget, toda moral consiste num sistema de Afetividade e inteligência na teoria piagetiana do
regras, sendo que a essência da moralidade deve ser desenvolvimento do juízo moral
procurada no respeito que o indivíduo tem por elas. Piaget Para La Taille, o notável na teoria piagetiana é que nela
utilizou o jogo coletivo de regras como campo de pesquisa por “não assistimos a uma luta entre afetividade e moral”(p.70).
considerá-lo paradigmático para a moralidade humana Afeto e moral se conjugam em harmonia: o sujeito autônomo
porque: é atividade interindividual regulada por normas que não é reprimido mas um homem livre, convencido de que o
podem ser modificadas e que proveem de acordos mútuos respeito mútuo é bom e legítimo. A afetividade adere
entre os jogadores, sendo que o respeito às normas tem um espontaneamente aos ditames da razão. Ele considera que na
caráter moral (justiça, honestidade..). obra “O juízo moral na criança” intui-se um Piaget movido por
Piaget dividiu em três etapas a evolução da prática e da alguma “emoção”, que sustenta um grande otimismo em
consciência de regras: relação ao ser humano. No entanto, para ele, o estudo sobre o
1ª - anomia (até 5/6 anos): as crianças não seguem juízo moral poderia ter sido completado por outros que se
atividades com regras coletivas; detivessem mais nos aspectos afetivos do problema.
2ª - heteronomia (até 9/10 anos): as crianças vêm as
regras como algo de origem imutável e não como contrato O problema da afetividade em Vygotsky
firmado entre os jogadores; ao mesmo tempo, quando em jogo, Marta Kohl de Oliveira
introduzem mudanças nas regras sem prévia consulta aos
demais; as regras não são elaboradas pela consciência e não Vygotsky pode ser considerado um cognitivista
são entendidas a partir de sua função social; (investigou processos internos relacionados ao conhecimento
3ª - autonomia: é a concepção adulta de jogo; o respeito às e sua dimensão simbólica), embora nunca tenha usado o termo
regras é visto como acordo mútuo em que cada jogador vê-se cognição, mas função mental e consciência. Para ele há uma
como possível “legislador”. distinção básica entre funções mentais elementares (atenção
involuntária) e superiores (atenção voluntária, memória
b) O dever moral lógica). É difícil compreender cada função mental
O ingresso da criança no universo moral se dá pela isoladamente, pois sua essência é ser inter-relacionada com
aprendizagem dos deveres a ela impostos pelos pais e demais outras funções. Sua abordagem é globalizante. Ele utiliza o
adultos, o que acontece na fase de heteronomia e se traduz termo consciência para explicar a relação dinâmica
pelo “realismo moral” que tem as seguintes características: (interfuncionalidade) entre afeto e intelecto e, portanto,
- a criança considera que todo ato de obediência às regras questiona a divisão entre as dimensões cognitiva e afetiva do
impostas é bom; funcionamento psicológico. Para ele, não dá para dissociar
- as regras são interpretadas ao pé da letra e não segundo interesses e inclinações pessoais (aspectos afetivo-volitivos)
seu espírito; do ser que pensa (aspectos intelectuais).
- há uma concepção objetiva de responsabilidade: o
julgamento é feito pela consequência do ato e pela Consciência
intencionalidade. Vygotsky concebe a consciência como “organização
objetivamente observável do comportamento, que é imposta
c) A justiça aos seres humanos através da participação em práticas sócio-
A noção de justiça engloba todas as outras noções morais e culturais”(p.78). É evidente a fundamentação em postulados
envolve ideias matemáticas (proporção, peso, igualdade). marxistas: a dimensão individual é considerada secundária e
Quanto menor a criança mais forte a noção de justiça imanente derivada da dimensão social, que é a essencial. Carrega ainda
(todo crime será castigado, mesmo que seja por força da um fundamento sócio-histórico, isto é, a consciência humana,
natureza), mais ela opta por sanções expiatórias (o castigo tem resultado de uma atividade complexa, formou-se ao longo da
uma qualidade estranha ao delito) e mais severa ela é (acha história social do homem durante a qual a atividade
que quanto mais duro o castigo, mais justo ele é). A partir dos manipuladora e a linguagem se desenvolveram.
8/9 anos a desobediência já é vista como ato legítimo quando As impressões que chegam ao homem, vindas do mundo
há flagrante injustiça. exterior são analisadas de acordo com categorias que ele
adquiriu na interação social. A consciência seria a própria
As duas morais da criança e os tipos de relações sociais essência da psique humana, o componente mais elevado das
Mesmo concordando que a moral é um ato social, para funções psicológicas humanas e envolve a inter-relação
Piaget o sujeito participa ativamente de seu desenvolvimento dinâmica e em transformação entre: intelecto e afeto,
atividade e representação simbólica, subjetividade e interação orgânico e o social. Daí sua natureza contraditória de
social. participar de dois mundos.
A opção metodológica adotada por Wallon é o
Subjetividade e intersubjetividade materialismo dialético. Isso quer dizer que não dá para pensar
As funções psicológicas superiores, tipicamente humanas, o desenvolvimento como um processo linear, continuísta, que
referem-se a processos voluntários, ações conscientemente só caminha para a frente. Pelo contrário, é um processo com
controladas, mecanismos intencionais. idas e vindas, contraditório, paradoxal. Assim, sua teoria da
Apresentam alto grau de autonomia em relação a fatores emoção é genética (para acompanhar as mudanças funcionais)
biológicos, sendo, portanto, o resultado da inserção do homem e dialética.
em determinado contexto sócio-histórico. A origem da conduta emocional depende de centros
O processo de internalização de formas culturais de subcorticais (de expressão involuntária e incontrolável) e
comportamento, que corresponde à própria formação da torna-se susceptível de controle voluntário com a maturação
consciência, é um processo de constituição da subjetividade a cortical. Para Wallon, as emoções podem ser de natureza
partir de situações de intersubjetividade. Assim, a passagem hipotônica ou redutora do tônus (como o susto e a depressão)
do nível interpsicológico para o intrapsicológico envolve e hipertônica ou estimuladora do tônus (como a cólera e a
relações interpessoais e a construção de sujeitos únicos, com ansiedade).
trajetórias pessoais singulares e experiências particulares em
sua relação com o mundo e, fundamentalmente, com as outras Características do comportamento emocional
pessoas. A longa fase emocional da infância tem correspondência na
história da espécie humana: é a emoção que garante a
Sentido e significado solidariedade afetiva e a sobrevivência do indivíduo.
Para Vygotsky, os processos mentais superiores são Da função social da emoção resultam seu caráter
mediados por sistemas simbólicos, sendo a linguagem o contagioso (a ansiedade infantil pode provocar irritação ou
sistema simbólico básico de todos os grupos humanos. O angústia no adulto, por exemplo) e a tendência para nutrir-se
significado é componente essencial da palavra, o filtro através com a presença do outro (uma plateia alimenta uma chama
do qual o indivíduo compreende o mundo e age sobre ele. Nele emocional entre os participantes, por exemplo). Devido a seus
se dá a unidade de duas funções básicas da linguagem: a efeitos desorganizadores, anárquicos e explosivos, a emoção
interação social e o pensamento generalizante. Na concepção pode reduzir o funcionamento cognitivo, se a capacidade
sobre o significado há uma conexão entre os aspectos cortical da ação mental ou motora para retomar o controle da
cognitivos e afetivos: significado é núcleo estável de situação for baixa. Se a capacidade cortical for alta, soluções
compreensão e sentido é o significado da palavra para cada inteligentes poderão ser encontradas.
indivíduo, no seu as contexto de uso e relacionado às suas Para Wallon não existe estado não emocional. Até a
vivências afetivas. serenidade exprime emoção. Assim, a educação da emoção
A linguagem é, assim, polissêmica: requer interpretação deveria ser incluída entre os propósitos da ação pedagógica
com base em fatores linguísticos e extralinguísticos. Para para evitar a formação do “circuito perverso de emoção”: a
entender o que o outro diz, não basta entender suas palavras, emoção surge num momento de incompetência do sujeito e,
mas também seu pensamento e suas motivações. não conseguindo transformar-se em atividade racional,
provoca mais incompetência. O efeito desorganizador da
O discurso interior emoção concentra a sensibilidade no próprio corpo e diminui
O discurso interior corresponde à internalização da a percepção do exterior.
linguagem. Ao longo de seu desenvolvimento, a pessoa passa
de uma fala socializada (comunicação e contato social) a uma Afetividade e inteligência
fala internalizada (instrumento de pensamento, sem O ser humano é afetivo por excelência. É da afetividade que
vocalização), correspondente a um diálogo consigo mesma. se diferencia a vida racional. No início da vida, afetividade e
inteligência estão sincreticamente misturadas. Ao longo do
A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética desenvolvimento, a reciprocidade se mantém de tal forma que
de Wallon as aquisições de uma repercute sobre a outra. A pessoa se
Heloysa Dantas constitui por uma sucessão de fases com predomínio, ora do
afetivo, ora do cognitivo. Cada fase incorpora as aquisições do
A teoria da emoção nível anterior. Para evoluir, a afetividade depende da
Para Wallon a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto inteligência e vice-versa. Dessa forma, não é só a inteligência
do ponto de vista da construção da pessoa quanto do que evolui, mas também a emoção. Com o desenvolvimento, a
conhecimento. A emoção é instrumento de sobrevivência afetividade incorpora as conquistas da inteligência e tende a
típico da espécie humana. O bebê humano, frágil como é, se racionalizar. Por isso, as formas adultas de afetividade são
pereceria não fosse sua capacidade de mobilizar diferentes das infantis. No início a afetividade é somática,
poderosamente o ambiente para atender suas necessidades. A tônica, pura emoção. Alarga seu raio de ação com o surgimento
função biológica do choro, por exemplo, é atuar fortemente da função simbólica. Na adolescência, exigências racionais são
sobre a mãe, fornecendo o primeiro e mais forte vínculo entre colocadas: respeito recíproco, justiça, igualdade de direitos.
os humanos. Assim, a emoção tem raízes na vida orgânica e
também a influência. Um estado emocional intenso, por Inteligência e pessoa
exemplo, provoca perda de lucidez. O processo que começa com a simbiose fetal tem por
Segundo Wallon, a atividade emocional é simultaneamente horizonte a individualização. Para Wallon, não há nada mais
social e biológica. Através da mediação cultural (social), realiza social do que o processo pelo qual o indivíduo se singulariza,
a transição do estado orgânico para a etapa cognitiva e em que o eu se constrói alimentando-se da cultura, sendo que
racional. A consciência afetiva cria no ser humano um vínculo o destino humano, tanto no plano individual quanto no social,
com o ambiente social e garante o acesso ao universo é uma obra sempre inacabada.
simbólico da cultura - base para a atividade cognitiva -
elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história.
Dessa forma, para Wallon, o psiquismo é uma síntese entre o
Pensando nisto, selecionamos o artigo "As etapas da evolução Após um período em que a criança leva os objetos à boca
psicológica da criança", que Wallon escreveu com base em seu para explorá-los, porque apenas as sensações de sua boca são
livro A evolução psicológica da criança, em 1947. bastante diferenciadas para informá-la sobre a forma e a
Transcrevemos duas partes do texto original - "as grandes matéria dos objetos (período do "espaço bucal" de Stern), a
etapas do desenvolvimento da criança" e "conclusão" - que criança fica capaz de apalpar utilmente com a mão; período do
representam quase a sua totalidade. "espaço próximo" ao qual sucederá, uma vez adquirida a
Do ponto de vista do raciocínio, o artigo selecionado é marcha, o "espaço locomotor".
exemplar. Deixa patente o enfoque globalizante que Wallon O segundo ano é a época da marcha e da aquisição da
dirige para a criança e faz transparecer a mobilidade de seu linguagem.
pensamento. Contudo, do ponto de vista do estilo, o artigo Aprendendo a andar, a criança vai libertar-se da sujeição,
selecionado não é muito representativo da peculiaridade do em que estava até então, ao seu meio familiar; isso aparece de
autor. uma maneira concreta quando a criança se diverte em fugir
Texto claro como poucos, traz uma apresentação dos braços que lhe são estendidos.
sistemática e organizada dos estágios, num procedimento É extrema a importância desse progresso: até aí, a criança,
igualmente raro. levada no colo ou no carrinho, conhecia diversos espaços
parciais justapostos, não coordenados.
As Grandes Etapas Do Desenvolvimento Da Criança Deslocando-se de um lugar para outro, ela pode construir,
com sua atividade, um espaço único no qual pode alcançar ou
1. As primeiras semanas da vida são inteiramente ultrapassar cada objeto, ir e vir, meio contínuo e homogêneo,
dominadas por funções de ordem fisiológica, vegetativa; além e não mais somente ambiente fortuito do momento.
da respiração, contemporânea do nascimento, são o sono, a A linguagem é de início subjetiva, optativa; mas é também
fome e um sentimento confuso do próprio corpo realista, pois a palavra pela qual a criança se interessa
(sensibilidade proprioceptiva). vivamente é para ela algo muito diferente que um símbolo ou
O ato de nutrição é que reúne e orienta os primeiros um rótulo posto no objeto, é um equivalente do objeto, o
movimentos ordenados da criança. Mas suas gesticulações próprio objeto sob um de seus aspectos essenciais.
difusas não se restringem a esse campo. Do ponto de vista Com a linguagem aparece a possibilidade de objetivação
motor, a evolução consiste na análise e na resolução dos desejos. A permanência e a objetividade da palavra
progressivas dessas contorções, dessas contrações globais, permitem à criança apartar-se de suas motivações
desses sistemas "sincinésicos" em movimentos mais bem momentâneas, prolongar na lembrança uma experiência,
diferenciados e mais bem adaptados. antecipar, combinar, calcular, imaginar, sonhar. A linguagem,
2. A partir de três meses, a criança começa a estabelecer com a marcha, abre à criança um mundo novo, mas de outra
ligações entre seus desejos e as circunstâncias exteriores; o natureza: o mundo dos símbolos.
reflexo condicionado se torna possível. 5. A crise de personalidade por volta dos três anos,
Desde então, e mesmo anteriormente, aparece o sorriso, marcada por um novo movimento de alternância, por um
manifestação notável, aliás interpretada diferentemente por ensimesmamento da criança, para um novo esforço de
diferentes observadores (Ch. Bühler, Valentine). libertação. Esforço voluntarista, idade negativista do NÃO, do
Deve-se ver nele o indicio do despertar da criança a seu EU, do MEU.
meio humano. Enquanto o pequeno animal fica muito cedo em Aos dois anos ainda, a criança era incapaz de diferenciar-
contato direto com a natureza, o filhote do homem fica muito se do outro; num jogo, por exemplo, ela desempenha dois
tempo sob a dependência imediata do meio humano. papéis ao mesmo tempo, assumindo sozinha todo o diálogo;
3. A idade de seis meses, a gama de que a criança dispõe ela parece confundir-se com as pessoas de seu meio e, se
para traduzir suas emoções é bastante rica para dar-lhe uma ameaçam sua mãe, ela se refugia em seus braços, como se ela
vasta superfície de troca com o meio humano: período própria estivesse ameaçada.
emocional, de participação humana: intuicionismo fecundo. Aos três anos, ao contrário, emerge a necessidade de auto-
Foi possível dizer, a propósito do adulto, que a emoção era afirmação, de impor seu ponto de vista pessoal, às vezes com
um distúrbio, um acidente, uma espécie de degradação da intemperança sistemática. A criança se entrega, como respeito
atividade. Mas isso não é verdadeiro para a criança que está aos adultos, a uma espécie de esgrima, jogo destinado a fazer
num estágio do desenvolvimento humano em que a emoção é triunfar seu capricho ou sua oposição.
uma manifestação plenamente normal. Conhece-se toda a Se essa crise ocorre de modo precoce demais ou exclusivo
importância dos movimentos emocionais entre os primitivos, demais, traduz certa dureza, a insensibilidade da criança às
e a ação deles é metodicamente reforçada pelas práticas da repercussões que tem no outro o desenvolvimento de sua
dança, das cerimônias, dos ritos. Nesse estágio, a emoção atividade; mas se suas manifestações são minguadas demais,
estabelece um vínculo muito forte entre os indivíduos do isso traduz uma grande maleabilidade mental, uma
grupo, cuja coesão garante. Sem estabelecer um paralelismo inconsistência de conduta, uma impotência de experimentar,
muito acentuado entre a história da espécie e o adotar ou prosseguir algo, a não ser sob a influência de outrem.
desenvolvimento do indivíduo, cumpre admitir que a criança, Nessa idade, a criança fica mais ciosa da propriedade. Faz
nessa idade, está num estágio emocional inteiramente com que ponham seu nome no objeto possuído, quer guardar
análogo. Mais tarde, ela terá de distinguir sua pessoa do grupo, para si seus brinquedos, enfim, sente o matiz particular
terá de delimitá-la por meios mais intelectuais: por ora, trata- expresso pela palavra emprestar (distinção entre propriedade
se de uma participação total, de uma absorção no outro, e uso ou posse).
profundamente fecunda. 6. A idade da graça (Homburger). Por volta dos quatro
4. Depois dos nove meses, aparece uma nova etapa por um anos, a criança torna se atenta às suas atitudes, ao seu
movimento de inversão ou de oscilação de que veremos outros comportamento. Desenvolve o gesto compassadamente para
exemplos: Etapa sensório-motora (e não mais emocional) que si mesma, conferindo-lhe uma espécie de valor estético.
cobrirá o segundo ano. Então surge a timidez; a criança fica atenta ao efeito que
Estabelecem-se, entre as sensações e os movimentos, as pode produzir no outro, à imponência de seu porte, por uma
ligações necessárias. espécie de narcisismo motor.
Nessa época, a voz apura o ouvido, e o ouvido modula a Seu nome, sua idade, seu domicílio se lhe tornam uma
voz; a mão que a criança desloca e segue com os olhos distribui imagem de sua pequena personagem, da qual faz, aliás, como
os primeiros pontos de referência no campo visual. que uma testemunha de seus próprios pensamentos.
Já apta para observar, ele se dispersa menos e prossegue 8. A época da puberdade parece pôr em xeque essa
com mais calma e perseverança uma ocupação empreendida. objetividade conquistada.
Pela mesma época, aparece a necessidade de imitação. A Sem estendermo-nos longamente sobre essa crise
criança tenta imitar para tomar o lugar do outro, para essencial, podemos dizer que, no plano afetivo, o Eu volta a
proporcionar-se o espetáculo de seu eu enriquecido pelo adquirir uma importância considerável; e, no plano intelectual,
outro, assim, a imitação tem o caráter de uma rivalidade com a criança supera o mundo das coisas, para atingir o mundo das
o adulto que a criança gostaria de excluir. leis.
Observemos, de passagem, que os psicanalistas
consideram esse período particularmente decisivo na Conclusão
formação da personalidade. As relações afetivas entre a
criança e seu meio familiar adquirem uma forma precisa. O Nenhuma dessas etapas jamais é completamente superada
ciúme pode aparecer, notadamente em relação ao pai, sentido e, em certas afeições, assiste-se à ressurgência de estágios
a um só tempo como um rival e como um modelo e, de um mais antigos.
modo mais geral, símbolo do Outro. De etapas em etapas, o desenvolvimento psíquico da
Nessa idade, a criança ainda tem grandes exigências criança mostra, através das diversidades e das oposições das
afetivas, tem sede de solicitude e deve ser cercada de uma crises que o pontuam, uma espécie de unidade solidária, tanto
atmosfera de ternura: a disciplina da escola maternal não pode no interior de cada fase como entre todas elas.
apresentar a frieza objetiva que assumirá na escola primária. É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente.
Do ponto de vista intelectual, a criança tornou-se capaz de Em cada idade ela constitui um conjunto indissociável e
classificar e distribuir os objetos conforme certas categorias original. Na sucessão de suas idades, ela é um único e mesmo
genéricas: cores, formas, dimensões, etc. ser em metamorfose. Por ser feita de contraste e de conflitos,
Mas sua personalidade não está inteiramente diferenciada. sua unidade será ainda mais suscetível de ampliamento e de
Em sua família, ela se pensa sempre dentro de uma constelação enriquecimento.
de pessoas na qual não sabe distinguir muito bem sua própria
pessoa do lugar que ela ocupa entre os outros.
Assinalaram com acerto a importância, para a formação da ZABALZA, Miguel A.
personalidade, da forma da constelação familiar (número de
Qualidade em educação
filhos) e do lugar aí ocupado por tal criança (que, por exemplo,
se conduzirá como "primogênito" a vida inteira). infantil. Porto Alegre: Artmed,
7. A idade escolar. Depois dos 6 anos, com uma nova 1998
reviravolta, o interesse da criança vai voltar-se sobretudo para
as coisas. A idade da entrada na escola primária marca uma
etapa importante: assim como a atmosfera de ternura é O autêntico desafio da Educação Infantil no final do nosso
natural à escola maternal, assim também se mostra superada século é o desafio da qualidade. Ao longo deste importante
na escola primária. A criança mais lenta e delicada, a livro, organizado por Miguel A. Zabalza, os diferentes
"queridinha", é caçoada e até duramente maltratada pelos especialistas abordam os aspectos fundamentais de uma
colegas, espécie de iniciação a um clima mais viril. Os colegas Educação Infantil de qualidade, chegando a traçar as
o põem na linha, por uma exigência da sociedade escolar, que características concretas que uma escola infantil ( do presente
traduz uma grande maturidade das crianças dessa idade. e do futuro) precisa ter - desde a cultura da infância, os valores
Por outro lado, as vicissitudes da vida escolar vão e crenças, até a programação de aula e a organização dos
possibilitar a diferenciação da personalidade da criança. Até espaços e tempos, tudo isso avalizado pela descrição de
então engastado na constelação familiar, ela vai, daí em diante, experiências e realizações de centros de ensino modelos, como
continuamente, passar de uma situação para outra: ora as Escolas Infantis Municipais de Módena ou o currículo
mocinho e ora bandido, primeiro na corrida, mas último em High/Scope contextualizado no Projeto Infância de Portugal,
história..., ela distingue a noção de uma personalidade sem esquecer a formação do corpo docente, ponto-chave da
constante através dessas permutas perpétuas. É por isso que qualidade.
os jogos que acarretam mudanças de papel têm a preferência
das crianças dessa idade; e essa instabilidade transposta para Em seu livro, Miguel A. Zabalza levanta dez aspectos
o plano intelectual prepara o caminho para um pensamento ou básicos para uma Educação Infantil de qualidade. São aspectos
um desenvolvimento menos subjetivos. conhecidos pela maioria dos professores, mas, muitas vezes
Na escola maternal, a monotonia das ocupações é a regra; não reconhecidos como essenciais.
a criança persevera em seu esforço até esgotar o interesse; na Segundo Zabalza os dez aspectos-chaves de uma educação
escola primária, a criança é capaz de mudar de ocupação e de infantil de qualidade são:
interesse em hora fixa e por imposição. 1. Organização dos espaços
No plano intelectual, o período de 7 a 12 anos é aquele em Os espaços devem ser amplos e diferenciados que possam
que o sincretismo recua ante a análise e a síntese: as categorias permitir e facilitar a realização de todas as atividades,
intelectuais dissolvem e pulverizam aos poucos o global coletivas e individuais.
primitivo. A criança se aproxima da objetividade da percepção A preocupação com o espaço da escola não é apenas uma
e do pensamento dos adultos. questão de tamanho, ou de oferecer vários ambientes, onde a
Do ponto de vista social, a criança se liberta das equipe pedagógica teria pouca participação. É preciso
constelações puramente afetivas, é com vistas a tarefas considerar em que momento esses espaços serão organizados,
determinadas que se agrupa com colegas, escolhendo, por como serão organizados, quais os materiais estarão
exemplo, uns colegas para tal jogo, outros para o trabalho. disponíveis neles.
Entre companheiros, as conversas se reduzem a discussões
sobre as aventuras comuns. 2. Equilíbrio entre iniciativa Infantil e Trabalho
Daí resulta uma diversidade e uma reversibilidade de dirigido no momento de planejar e desenvolver as
relações de cada um com cada um, da qual cada um tira a noção atividades
de sua própria diversidade conforme as circunstâncias, mas Nesse aspecto o papel do planejamento torna-se
também de sua unidade fundamental através da diversidade fundamental para o professor. Ainda que, as simples situações
das situações. do cotidiano sejam suficientes para despertar aprendizagens
na educação infantil, é preciso um planejamento claro e Existem dois tipos de análise que devem ser feitas: análise
flexível, proporcionando ao professor traçar uma trajetória. de funcionamento do grupo em seu conjunto e análise do
progresso individual de cada criança.
3. Atenção privilegiada aos aspectos emocionais
Esse aspecto reforça a necessidade do desenvolvimento da 10. Trabalho com os pais e as mães e com o meio
criança em todos os âmbitos. Se desenvolver a afetividade é ambiente (escola aberta)
tão importante quanto o cognitivo, essa deve ser uma A presença da família na equipe escolar é fundamental e de
preocupação do professor em todas suas ações e falas, inquestionável importância.
incentivando as crianças expressarem o que estão sentindo. O É necessário que ocorra uma interação e compreensão de
incentivo do professor ao aluno deve estar presente em ambas as partes, pois essa aproximação traz benefícios à
diferentes situações, buscando possibilitar segurança à família, que passa a compreender os conhecimentos ensinados
criança, o que é fundamental para a construção de todos os na escola e também a instituição, pois se aproxima da
desenvolvimentos. realidade de seus alunos.
É papel de o professor acolher as famílias e propor uma
4. Utilização de uma linguagem enriquecida troca de informações. Essa proximidade nos leva a um dos
A interação com os educadores é um dos requisitos principais para que os dez aspectos apresentados por Zabalza
fundamentais para que a criança se desenvolva neste sentido. resultem em uma educação de qualidade: a participação de
A troca de informações por meio da fala deve ser significativa toda equipe.
e constante. As histórias contadas, as músicas cantadas, as Ao término da análise dos aspectos, é possível notar uma
expressões durante as brincadeiras são fatores que integração entre os critérios para uma educação infantil de
enriquecem o repertório de linguagem. qualidade e as características do desenvolvimento da criança
5. Diferenciação de atividades para abordar todas as A qualidade no trabalho com a educação infantil em
dimensões do desenvolvimento e todas as capacidades creches está relacionada à capacidade que o educador tem de
As atividades que desenvolvidas em sala de aula podem compreender a importância da educação para o ser humano.
atingir diferentes objetivos, e variam de uma criança para Desta forma, defendem-se que compete aos educadores, junto
outra. Por isso, necessita-se diversificá-las constantemente com as crianças e as famílias, construir o espaço educacional
garantindo que todos aprendam um determinado conceito ou um programa que favoreça experiências provocativas nas
conteúdo. diferentes linguagens as práticas sociais e culturais de cada
comunidade.
6. Rotinas Estáveis A Qualidade em educação pode ser constatada pela
Direcionar um olhar crítico sobre as rotinas estáveis pode organização do ambiente e do tempo, pela valorização docente
parecer uma prática simples e exercida facilmente. Entretanto, caracterizada pela formação prévia e em contexto, pela relação
a rotina envolve outros aspectos já discutidos, como espaço, o com as famílias, pelo mobiliário e pelas atividades que são
planejamento e as atividades diversificadas, o que demonstra propostas.
sua amplitude. O conceito de qualidade é diferente, dependendo da
Definir o conceito de rotina inclui não somente as maneira que se olha. Quando se discute qualidade da educação
atividades pedagógicas, mas, também aquelas relacionadas ao infantil emergem considerações filosóficas, antropológicas,
cuidar. sociológicas, psicológicas, linguísticas que se estruturam em
A rotina deve ser pensada com atenção e quando crenças, valores, interesses que permeiam o cotidiano das
necessário reorganizada, pois ela transmite a mensagem creches. Porém, a quantidade excessiva de crianças atendidas
formativa da escola. pela instituição influência de forma negativa, e os profissionais
envolvidos no processo educacional encontram dificuldades
7. Materiais diversificados e Polivalentes para exercerem suas práticas, e ocupam-se apenas com o
É necessário que o professor faça uma seleção abrangente. cuidar, deixando de lado as propostas pedagógicas, que
Não só em solicitar ou confeccionar materiais com serventia também precisam ser mais apoiadas pela coordenação.
unicamente pedagógica, mas em estar atento a outras É preciso levar em consideração o papel fundamental dos
possibilidades que possa ser inseridas na sala de aula. Esses pais no crescimento e desenvolvimento de seus filhos.
recursos podem surgir como sugestões das próprias crianças. Participando ativamente das atividades realizadas pelo CEI
interagindo e trocando informações necessárias para a
8. Atenção individualizada a cada criança aprendizagem significativa.
A criança é um ser único, que possui suas particularidades Então, a qualidade está relacionada ao próprio
e seu ritmo de desenvolvimento depende do ambiente cultural funcionamento da instituição e dos agentes que fazem parte da
e das interações vivenciadas por elas. mesma. É fundamental inserir a ação institucional em um
Uma relação de proximidade entre professor e aluno processo de melhoria da própria instituição e dos serviços que
precisa ser construída para que os avanços e as dificuldades a mesma oferece, um processo de aperfeiçoamento planejado
sejam percebidos individualmente. com metas a curto e em médio prazo.
É responsabilidade de o professor considerar as diferenças Tais planos de aperfeiçoamento deveriam ocorrer nos três
culturais, cognitivas e de todas as outras dimensões, de cada níveis de atuação que tem lugar nas escolas infantis: a própria
uma das crianças. instituição, os educadores e as famílias. Na instituição:
aperfeiçoamento dos equipamentos, aperfeiçoamento dos
9. Sistema de avaliação, anotações, etc. que permitam o programas e convênios de colaboração. Nos educadores:
acompanhamento global do grupo e de cada uma das desenvolvimento profissional pessoal, aperfeiçoamento das
crianças competências e formação em contexto banalizando as
O relatório é uma prática comum e eficaz de avaliação na interfaces da prática docente como conteúdos, técnicas,
educação infantil. Permite destacar características teorias, conceitos, métodos, saberes, práticas, interações,
demonstradas por cada criança, que podem não ser convicções profissionais, vinculadas à instituição.
pertencentes aos objetivos gerais do grupo, mas representam E das famílias: programas de reforço da participação,
grandes superações pessoais. desenvolvimento de uma cultura compartilhada sobre a
infância e a educação.
Anotações
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APOSTILAS OPÇÃO
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado
19881. mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
PREÂMBULO aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em idade própria;
Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos III - atendimento educacional especializado aos portadores
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças
de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, até 5 (cinco) anos de idade;
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
[...] educação básica, por meio de programas suplementares de
TÍTULO VIII material didático-escolar, transporte, alimentação e
DA ORDEM SOCIAL assistência à saúde.
[...] § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
público subjetivo.
CAPÍTULO III § 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder
DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da
SEÇÃO I autoridade competente.
DA EDUCAÇÃO § 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos
no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para seguintes condições:
o trabalho. I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes Público.
princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino
escola; fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e
pensamento, a arte e o saber; regionais.
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e § 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa,
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; constituirá disciplina dos horários normais das escolas
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos públicas de ensino fundamental.
oficiais;
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
Acesso em: 04/07/2018
Legislação 1
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APOSTILAS OPÇÃO
§ 2º - O ensino fundamental regular será ministrado em cursos regulares da rede pública na localidade da residência
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir
também a utilização de suas línguas maternas e processos prioritariamente na expansão de sua rede na localidade.
próprios de aprendizagem. § 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e
fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os instituições de educação profissional e tecnológica poderão
Municípios organizarão em regime de colaboração seus receber apoio financeiro do Poder Público. (Redação dada pela
sistemas de ensino. Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos
Territórios, financiará as instituições de ensino públicas Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação,
federais e exercerá, em matéria educacional, função de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema
redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de nacional de educação em regime de colaboração e definir
oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação
ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em
ao Distrito Federal e aos Municípios; seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino integradas dos poderes públicos das diferentes esferas
fundamental e na educação infantil. federativas que conduzam a:
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão I - erradicação do analfabetismo;
prioritariamente no ensino fundamental e médio. II - universalização do atendimento escolar;
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os III - melhoria da qualidade do ensino;
Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de IV - formação para o trabalho;
colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.
obrigatório. VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente públicos em educação como proporção do produto interno
ao ensino regular. bruto.
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de Brasília, 5 de outubro de 1988.
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte
e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de Questões
impostos, compreendida a proveniente de transferências, na
manutenção e desenvolvimento do ensino. 01. (IF/PI - Professor - Administração) A Constituição
§ 1º - A parcela da arrecadação de impostos transferida Federal de 1988, também denominada de Constituição Cidadã,
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, estabeleceu no Capítulo III, especificamente no Art. 206, os
ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é princípios que regem o ensino no Brasil. Dentre estes, a gestão
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, do ensino público passou a ser:
receita do governo que a transferir. (A) Autônoma e livre de qualquer poder, considerando os
§ 2º - Para efeito do cumprimento do disposto no "caput" princípios de igualdade e liberdade do ensino.
deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, (B) Democrática em todos estabelecimentos de ensino
estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. públicos e privados.
213. (C) Democrática do ensino público, na forma da lei.
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará (D) Oligárquica em todas as escolas em conformidade com
prioridade ao atendimento das necessidades do ensino o projeto pedagógico de cada escola.
obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de (E) Participativa e democrática em todas as instituições de
padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional ensino, em consonância com o que preconiza o direito público.
de educação.
§ 4º - Os programas suplementares de alimentação e 02. (IF/TO - Técnico de laboratório - 2017)
assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados Considerando as normas constitucionais sobre a educação,
com recursos provenientes de contribuições sociais e outros assinale a alternativa INCORRETA.
recursos orçamentários. (A) As instituições de pesquisa científica e tecnológica
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adicional gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de
de financiamento a contribuição social do salário-educação, gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio de
recolhida pelas empresas na forma da lei. (Vide Decreto nº indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
6.003, de 2006) (B) O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da público subjetivo do cidadão.
contribuição social do salário-educação serão distribuídas (C) O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder
proporcionalmente ao número de alunos matriculados na Público, ou de sua oferta irregular, importa responsabilidade
educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. da autoridade competente.
(D) É vedado às instituições de pesquisa científica e
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas tecnológica admitir professores, técnicos e cientistas
públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, estrangeiros.
confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: (E) A gestão democrática do ensino público é um dos
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus princípios do sistema educacional brasileiro.
excedentes financeiros em educação;
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra Gabarito
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
Público, no caso de encerramento de suas atividades. 01.C / 02.D.
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e
médio, na forma da lei, para os que demonstrarem
insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e
Legislação 2
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APOSTILAS OPÇÃO
Título II
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 19902 Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Dispõe sobre o estatuto da criança e do adolescente e dá Do Direito à Vida e à Saúde
outras providências.
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Título I
Das Disposições Preliminares Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
programas e às políticas de saúde da mulher e de
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada,
e ao adolescente. atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e
atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação dada pela Lei nº
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente 13.257, de 2016)
aquela entre doze e dezoito anos de idade. § 1o O atendimento pré-natal será realizado por
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se profissionais da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e 13.257, de 2016)
vinte e um anos de idade. § 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante
garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da direito de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, de 2016)
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e § 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e hospitalar responsável e contra referência na atenção
de dignidade. primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos de
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam- apoio à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de 2016)
nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, § 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência
religião ou crença, deficiência, condição pessoal de psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal,
desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, inclusive como forma de prevenir ou minorar as
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição consequências do estado puerperal.
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que § 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser
vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) prestada também a gestantes e mães que manifestem
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em gestantes e mães que se encontrem em situação de privação de
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à § 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à acompanhante de sua preferência durante o período do pré-
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído
liberdade e à convivência familiar e comunitária. pela Lei nº 13.257, de 2016)
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: § 7o A gestante deverá receber orientação sobre
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer aleitamento materno, alimentação complementar saudável e
circunstâncias; crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de
relevância pública; estimular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído
c) preferência na formulação e na execução das políticas pela Lei nº 13.257, de 2016)
sociais públicas; § 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
relacionadas com a proteção à infância e à juventude. estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras
intervenções cirúrgicas por motivos médicos. (Incluído pela
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de Lei nº 13.257, de 2016)
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, § 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-
2 Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm - Acesso em
20.02.2019.
Legislação 3
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APOSTILAS OPÇÃO
natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento,
pós-parto. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades
mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que § 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único frequente de crianças na primeira infância receberão
de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o formação específica e permanente para a detecção de sinais de
sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para o
integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela Lei nº
13.257, de 2016)
Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Prevenção
da Gravidez na Adolescência, a ser realizada anualmente na Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
semana que incluir o dia 1º de fevereiro, com o objetivo de inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
disseminar informações sobre medidas preventivas e cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
educativas que contribuam para a redução da incidência da para a permanência em tempo integral de um dos pais ou
gravidez na adolescência. (Incluído pela Lei nº 13.798, de responsável, nos casos de internação de criança ou
2019) adolescente. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o disposto
no caput deste artigo ficarão a cargo do poder público, em Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo
conjunto com organizações da sociedade civil, e serão físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos
dirigidas prioritariamente ao público adolescente. (Incluído contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente
pela Lei nº 13.798, de 2019) comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade,
sem prejuízo de outras providências legais.
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores § 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em
propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente
inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da
liberdade. Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde § 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, entrada, os serviços de assistência social em seu componente
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de especializado, o Centro de Referência Especializado de
ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de
e à alimentação complementar saudável, de forma contínua. Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na
§ 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação
deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta de violência de qualquer natureza, formulando projeto
de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se
necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção 13.257, de 2016)
à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas
de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; de assistência médica e odontológica para a prevenção das
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil,
impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e
prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade alunos.
administrativa competente; § 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do
terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém- parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
nascido, bem como prestar orientação aos pais; § 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal,
necessariamente as intercorrências do parto e do integral e inter setorial com as demais linhas de cuidado
desenvolvimento do neonato; direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº 13.257,
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato de 2016)
a permanência junto à mãe. § 3º A atenção odontológica à criança terá função educativa
VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer,
prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no
mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações
técnico já existente. (Incluído pela Lei nº 13.436, de 2017) sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontológicos
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. (Incluído
voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio pela Lei nº 13.257, de 2016)
do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade § 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus
no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro
recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de instrumento construído com a finalidade de facilitar a
2016) detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da
§ 1o A criança e o adolescente com deficiência serão criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico.
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas (Incluído pela Lei nº 13.438, de 2017)
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente,
àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e
Legislação 4
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Legislação 5
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da criança sob a guarda provisória de quem estiver habilitado Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
a adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados
acolhimento familiar ou institucional. (Incluído pela Lei nº no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado
13.509, de 2017) o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas,
§ 5º Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei.
ambos os genitores, se houver pai registral ou pai indicado, (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
deve ser manifestada na audiência a que se refere o § 1º do art.
166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. (Incluído pela Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
Lei nº 13.509, de 2017) constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do
§ 6º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) poder familiar.
§ 7º Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 § 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a
(quinze) dias para propor a ação de adoção, contado do dia decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido
seguinte à data do término do estágio de convivência. (Incluído em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser
pela Lei nº 13.509, de 2017) incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e
§ 8º Na hipótese de desistência pelos genitores - promoção. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
manifestada em audiência ou perante a equipe § 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará
interprofissional - da entrega da criança após o nascimento, a a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de
criança será mantida com os genitores, e será determinado condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra
pela Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento outrem igualmente titular do mesmo poder familiar ou contra
familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias. (Incluído pela filho, filha ou outro descendente. (Redação dada pela Lei nº
Lei nº 13.509, de 2017) 13.715, de 2018)
§ 9º É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o
nascimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos
§ 10 (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de alude o art. 22.
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de
programa de apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de Seção II
2017) Da Família Natural
§ 1º O apadrinhamento consiste em estabelecer e
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
instituição para fins de convivência familiar e comunitária e formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou
moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. (Incluído pela ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e
Lei nº 13.509, de 2017) filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
§ 3º Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou vínculos de afinidade e afetividade.
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento.
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser
§ 4º O perfil da criança ou do adolescente a ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no
apadrinhado será definido no âmbito de cada programa de próprio termo de nascimento, por testamento, mediante
apadrinhamento, com prioridade para crianças ou escritura ou outro documento público, qualquer que seja a
adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar origem da filiação.
ou colocação em família adotiva. (Incluído pela Lei nº 13.509, Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
de 2017) nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar
§ 5º Os programas ou serviços de apadrinhamento descendentes.
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser
executados por órgãos públicos ou por organizações da Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito
sociedade civil. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
§ 6º Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
responsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento restrição, observado o segredo de Justiça.
deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária
competente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Seção III
Da Família Substituta
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, Subseção I
ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, Disposições Gerais
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação. Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á
mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a Lei.
legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em § 1º Sempre que possível, a criança ou o adolescente será
caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado
competente para a solução da divergência. seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre
as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e considerada
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse § 2º Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será
destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as necessário seu consentimento, colhido em audiência.
determinações judiciais.
Legislação 6
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APOSTILAS OPÇÃO
Legislação 7
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APOSTILAS OPÇÃO
manutenção da criança ou adolescente na família natural ou durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a
extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. conveniência da constituição do vínculo.
§ 2º É vedada a adoção por procuração. § 2º A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
§ 3º Em caso de conflito entre direitos e interesses do dispensa da realização do estágio de convivência.
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, § 2º-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo
devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando. pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito § 3º Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou
anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela domiciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no
dos adotantes. mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco)
dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
impedimentos matrimoniais. deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o
outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o deferimento da adoção à autoridade judiciária. (Incluído pela
cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes. Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus § 4º O estágio de convivência será acompanhado pela
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
hereditária. responsáveis pela execução da política de garantia do direito à
convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, acerca da conveniência do deferimento da medida.
independentemente do estado civil. § 5º O estágio de convivência será cumprido no território
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do nacional, preferencialmente na comarca de residência da
adotando. criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união juízo da comarca de residência da criança. (Incluído pela Lei nº
estável, comprovada a estabilidade da família. 13.509, de 2017)
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais
velho do que o adotando. Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
§ 4º Os divorciados, os judicialmente separados e os ex judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado
companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que do qual não se fornecerá certidão.
acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como
estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do pais, bem como o nome de seus ascendentes.
período de convivência e que seja comprovada a existência de § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o
vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da registro original do adotado.
guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. § 3º A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
§ 5º Nos casos do § 4º deste artigo, desde que demonstrado lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua
efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda residência.
compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei nº § 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá
10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil constar nas certidões do registro.
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após § 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante
inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a
procedimento, antes de prolatada a sentença. modificação do prenome.
§ 6º Caso a modificação de prenome seja requerida pelo
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.
§ 7º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista
saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o no § 6º do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à
pupilo ou o curatelado. data do óbito.
§ 8º O processo relativo à adoção assim como outros a ele
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu
do representante legal do adotando. armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à criança a sua conservação para consulta a qualquer tempo.
ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
destituídos do poder familiar. adoção em que o adotando for criança ou adolescente com
§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos de deficiência ou com doença crônica.
idade, será também necessário o seu consentimento. § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção
será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade
com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
(noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente
e as peculiaridades do caso. (Redação dada pela Lei nº 13.509, Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem
de 2017) biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no
§ 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após
adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante completar 18 (dezoito) anos.
Legislação 8
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APOSTILAS OPÇÃO
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, II - for formulada por parente com o qual a criança ou
a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;
psicológica. III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de
familiar dos pais naturais. laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a
ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca arts. 237 ou 238 desta Lei.
ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o
condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que
na adoção. preenche os requisitos necessários à adoção, conforme
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia previsto nesta Lei.
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas
Público. interessadas em adotar criança ou adolescente com
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não deficiência, com doença crônica ou com necessidades
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das específicas de saúde, além de grupo de irmãos. (Incluído pela
hipóteses previstas no art. 29. Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3º A inscrição de postulantes à adoção será precedida de
um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual
pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, o pretendente possui residência habitual em país-parte da
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção
execução da política municipal de garantia do direito à das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
convivência familiar. Internacional, promulgada pelo Decreto no3.087, de 21 junho
§ 4º Sempre que possível e recomendável, a preparação de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da
referida no § 3º deste artigo incluirá o contato com crianças e Convenção. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em § 1o A adoção internacional de criança ou adolescente
condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando
supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância restar comprovado:
e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada
programa de acolhimento e pela execução da política ao caso concreto; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
municipal de garantia do direito à convivência familiar. II - que foram esgotadas todas as possibilidades de
§ 5º Serão criados e implementados cadastros estaduais e colocação da criança ou adolescente em família adotiva
nacional de crianças e adolescentes em condições de serem brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da
adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil com
§ 6º Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta
residentes fora do País, que somente serão consultados na aos cadastros mencionados nesta Lei; (Redação dada pela Lei
inexistência de postulantes nacionais habilitados nos nº 13.509, de 2017)
cadastros mencionados no § 5º deste artigo. III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi
§ 7º As autoridades estaduais e federais em matéria de consultado, por meios adequados ao seu estágio de
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida,
troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do mediante parecer elaborado por equipe interprofissional,
sistema. observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.
§ 8º A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 § 2º Os brasileiros residentes no exterior terão preferência
(quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança
em condições de serem adotados que não tiveram colocação ou adolescente brasileiro.
familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que § 3º A adoção internacional pressupõe a intervenção das
tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de
estadual e nacional referidos no § 5º deste artigo, sob pena de adoção internacional.
responsabilidade.
§ 9º Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes
posterior comunicação à Autoridade Central Federal adaptações:
Brasileira. I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar
§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de
pretendentes habilitados residentes no País com perfil habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria
compatível e interesse manifesto pela adoção de criança ou de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido
adolescente inscrito nos cadastros existentes, será realizado o aquele onde está situada sua residência habitual;
encaminhamento da criança ou adolescente à adoção II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar
internacional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar,
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado emitirá um relatório que contenha informações sobre a
em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes
possível e recomendável, será colocado sob guarda de família para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio
cadastrada em programa de acolhimento familiar. social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa uma adoção internacional;
dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
Público. relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de Autoridade Central Federal Brasileira;
candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente IV - o relatório será instruído com toda a documentação
nos termos desta Lei quando: necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por
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equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da internacionais efetuadas no período, cuja cópia será
legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de encaminhada ao Departamento de Polícia Federal;
vigência; V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a
V - os documentos em língua estrangeira serão Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade
devidamente autenticados pela autoridade consular, Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois)
observados os tratados e convenções internacionais, e anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia
acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país
juramentado; de acolhida para o adotado;
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal
postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento
acolhida; estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade sejam concedidos.
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira § 5º A não apresentação dos relatórios referidos no §
com a nacional, além do preenchimento por parte dos 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar
postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos a suspensão de seu credenciamento.
necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta § 6º O credenciamento de organismo nacional ou
Lei como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, internacional terá validade de 2 (dois) anos.
no máximo, 1 (um) ano; § 7º A renovação do credenciamento poderá ser concedida
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será mediante requerimento protocolado na Autoridade Central
autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao
Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança término do respectivo prazo de validade.
ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade § 8º Antes de transitada em julgado a decisão que
Central Estadual. concedeu a adoção internacional, não será permitida a saída
§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, do adotando do território nacional.
admite-se que os pedidos de habilitação à adoção § 9º Transitada em julgado a decisão, a autoridade
internacional sejam intermediados por organismos judiciária determinará a expedição de alvará com autorização
credenciados. de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando,
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente
credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão
internacional, com posterior comunicação às Autoridades digital do seu polegar direito, instruindo o documento com
Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado.
imprensa e em sítio próprio da internet. § 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das
organismos que: crianças e adolescentes adotados.
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção § 11. A cobrança de valores por parte dos organismos
de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade credenciados, que sejam considerados abusivos pela
Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam
do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil; devidamente comprovados, é causa de seu
II - satisfizerem as condições de integridade moral, descredenciamento.
competência profissional, experiência e responsabilidade § 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser
exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central representados por mais de uma entidade credenciada para
Federal Brasileira; atuar na cooperação em adoção internacional.
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua § 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou
formação e experiência para atuar na área de adoção domiciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano,
internacional; podendo ser renovada.
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento § 14. É vedado o contato direto de representantes de
jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com
Autoridade Central Federal Brasileira. dirigentes de programas de acolhimento institucional ou
§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda: familiar, assim como com crianças e adolescentes em
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições condições de serem adotados, sem a devida autorização
e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do judicial.
país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela § 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
Autoridade Central Federal Brasileira; limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo
e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada fundamentado.
formação ou experiência para atuar na área de adoção
internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e
Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de
Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal organismos estrangeiros encarregados de intermediar
competente; pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a
III - estar submetidos à supervisão das autoridades pessoas físicas.
competentes do país onde estiverem sediados e no país de Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser
acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente
situação financeira; e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a Direitos da Criança e do Adolescente.
cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem
como relatório de acompanhamento das adoções
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APOSTILAS OPÇÃO
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em III - atendimento educacional especializado aos portadores
país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
tenha sido processado em conformidade com a legislação IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de
vigente no país de residência e atendido o disposto na Alínea zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306,
“c” do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente de 2016)
recepcionada com o reingresso no Brasil. V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
§ 1º Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. condições do adolescente trabalhador;
§ 2º O pretendente brasileiro residente no exterior em país VII - atendimento no ensino fundamental, através de
não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no programas suplementares de material didático-escolar,
Brasil, deverá requerer a homologação da sentença transporte, alimentação e assistência à saúde.
estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
público subjetivo.
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder
o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da
de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela autoridade competente.
Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no
habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos
Autoridade Central Federal e determinará as providências pais ou responsável, pela frequência à escola.
necessárias à expedição do Certificado de Naturalização
Provisório. Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de
§ 1º A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
da criança ou do adolescente. I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
§ 2º Na hipótese de não reconhecimento da adoção, II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar,
prevista no § 1º deste artigo, o Ministério Público deverá esgotados os recursos escolares;
imediatamente requerer o que for de direito para resguardar III - elevados níveis de repetência.
os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-se as
providências à Autoridade Central Estadual, que fará a Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências
comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo,
Autoridade Central do país de origem. metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de
crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental
Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for obrigatório.
o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país
de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores
ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da
adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da
Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da criação e o acesso às fontes de cultura.
adoção nacional.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União,
Capítulo IV estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas
para a infância e a juventude.
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo Capítulo V
para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho
assegurando-se lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
escola; quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada
recorrer às instâncias escolares superiores; por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei
IV - direito de organização e participação em entidades
estudantis; Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da
residência. legislação de educação em vigor.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
ciência do processo pedagógico, bem como participar da Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
definição das propostas educacionais. seguintes princípios:
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao regular;
adolescente: II - atividade compatível com o desenvolvimento do
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive adolescente;
para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; III - horário especial para o exercício das atividades.
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade
ao ensino médio; Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
assegurada bolsa de aprendizagem.
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APOSTILAS OPÇÃO
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas as
são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários. formas de violência contra a criança e o adolescente;
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é de conflitos que envolvam violência contra a criança e o
assegurado trabalho protegido. adolescente;
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a
familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e
entidade governamental ou não-governamental, é vedado responsáveis com o objetivo de promover a informação, a
trabalho: reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no
e as cinco horas do dia seguinte; processo educativo;
II - perigoso, insalubre ou penoso; VI - a promoção de espaços inter setoriais locais para a
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao articulação de ações e a elaboração de planos de atuação
seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; conjunta focados nas famílias em situação de violência, com
IV - realizado em horários e locais que não permitam a participação de profissionais de saúde, de assistência social e
frequência à escola. de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos
direitos da criança e do adolescente;
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes
educativo, sob responsabilidade de entidade governamental com deficiência terão prioridade de atendimento nas ações e
ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar políticas públicas de prevenção e proteção.
ao adolescente que dele participe condições de capacitação
para o exercício de atividade regular remunerada. Art. 70-B.As entidades, públicas e privadas, que atuem nas
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, em
em que as exigências pedagógicas relativas ao seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e
desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-
sobre o aspecto produtivo. tratos praticados contra crianças e adolescentes.
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela
trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarregadas,
seu trabalho não desfigura o caráter educativo. por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou
ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças e
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustificado
proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre retardamento ou omissão, culposos ou dolosos.
outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em Art. 71. A criança e o adolescente têm direito à informação,
desenvolvimento; cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e
II - capacitação profissional adequada ao mercado de serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
trabalho. desenvolvimento.
Título III Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da
Da Prevenção prevenção especial outras decorrentes dos princípios por ela
Capítulo I adotados.
Disposições Gerais
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
ou violação dos direitos da criança e do adolescente. nos termos desta Lei.
Legislação 12
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APOSTILAS OPÇÃO
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau,
no horário recomendado para o público infanto juvenil, comprovado documentalmente o parentesco;
programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e 2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai,
informativas. mãe ou responsável.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou
anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua responsável, conceder autorização válida por dois anos.
transmissão, apresentação ou exibição.
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a
Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários autorização é dispensável, se a criança ou adolescente:
de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;
programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado
locação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão expressamente pelo outro através de documento com firma
competente. reconhecida.
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão
exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial,
faixa etária a que se destinam. nenhuma criança ou adolescente nascido em território
nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro
Art. 78. As revistas e publicações contendo material residente ou domiciliado no exterior.
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão
ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência Parte Especial
de seu conteúdo. Título I
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas Da Política de Atendimento
que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam Capítulo I
protegidas com embalagem opaca. Disposições Gerais
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e
infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de
legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, ações governamentais e não-governamentais, da União, dos
armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e estados, do Distrito Federal e dos municípios.
sociais da pessoa e da família.
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que I - políticas sociais básicas;
explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por II - serviços, programas, projetos e benefícios de
casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, assistência social de garantia de proteção social e de
ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja prevenção e redução de violações de direitos, seus
permitida a entrada e a permanência de crianças e agravamentos ou reincidências; (Redação dada pela Lei nº
adolescentes no local, afixando aviso para orientação do 13.257, de 2016)
público. III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico
e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos,
Seção II exploração, abuso, crueldade e opressão;
Dos Produtos e Serviços IV - serviço de identificação e localização de pais,
responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
I - armas, munições e explosivos; direitos da criança e do adolescente.
II - bebidas alcoólicas; VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
III - produtos cujos componentes possam causar abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a
dependência física ou psíquica ainda que por utilização garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de
indevida; crianças e adolescentes;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de
pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio
qualquer dano físico em caso de utilização indevida; familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
adolescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento I - municipalização do atendimento;
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional
responsável. dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos
e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a
Seção III participação popular paritária por meio de organizações
Da Autorização para Viajar representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos,
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da observada a descentralização político-administrativa;
comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e
responsável, sem expressa autorização judicial. municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos
§ 1º A autorização não será exigida quando: da criança e do adolescente;
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, V - integração operacional de órgãos do Judiciário,
se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e
região metropolitana; Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local,
b) a criança estiver acompanhada:
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para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem
a quem se atribua autoria de ato infracional; como às resoluções relativas à modalidade de atendimento
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e
Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e do Adolescente, em todos os níveis;
encarregados da execução das políticas sociais básicas e de II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
assistência social, para efeito de agilização do atendimento de atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela
crianças e de adolescentes inseridos em programas de Justiça da Infância e da Juventude;
acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida III - em se tratando de programas de acolhimento
reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar institucional ou familiar, serão considerados os índices de
comprovadamente inviável, sua colocação em família sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família
substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 substituta, conforme o caso.
desta Lei;
VII - mobilização da opinião pública para a indispensável Art. 91. As entidades não-governamentais somente
participação dos diversos segmentos da sociedade. poderão funcionar depois de registradas no Conselho
VIII - especialização e formação continuada dos Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual
profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade
primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos judiciária da respectiva localidade.
da criança e sobre desenvolvimento infantil; (Incluído pela Lei § 1º Será negado o registro à entidade que:
nº 13.257, de 2016) a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas
IX - formação profissional com abrangência dos diversos de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
direitos da criança e do adolescente que favoreça a b) não apresente plano de trabalho compatível com os
intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente princípios desta Lei;
e seu desenvolvimento integral; (Incluído pela Lei nº 13.257, c) esteja irregularmente constituída;
de 2016) d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
X - realização e divulgação de pesquisas sobre e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
desenvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do
Adolescente, em todos os níveis.
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos § 2º O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
adolescente é considerada de interesse público relevante e não Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua
será remunerada. renovação, observado o disposto no § 1º deste artigo.
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assistência social, estimularão o contato da criança ou XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos
adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao adolescentes;
disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo. XVIII - manter programas destinados ao apoio e
§ 5º As entidades que desenvolvem programas de acompanhamento de egressos;
acolhimento familiar ou institucional somente poderão XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício
receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos da cidadania àqueles que não os tiverem;
princípios, exigências e finalidades desta Lei. XX - manter arquivo de anotações onde constem data e
§ 6º O descumprimento das disposições desta Lei pelo circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus
dirigente de entidade que desenvolva programas de pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade,
acolhimento familiar ou institucional é causa de sua acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences
destituição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade e demais dados que possibilitem sua identificação e a
administrativa, civil e criminal. individualização do atendimento.
§ 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos § 1º Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes
em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à deste artigo às entidades que mantêm programas de
atuação de educadores de referência estáveis e acolhimento institucional e familiar.
qualitativamente significativos, às rotinas específicas e ao § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recursos
como prioritárias. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) da comunidade.
Art. 93. As entidades que mantenham programa de Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e abriguem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que
de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia em caráter temporário, devem ter, em seus quadros,
determinação da autoridade competente, fazendo profissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho
comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.
da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade Seção II
judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o Da Fiscalização das Entidades
apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas
necessárias para promover a imediata reintegração familiar da Art. 95. As entidades governamentais e não-
criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for governamentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo
isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.
programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei. Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas
serão apresentados ao estado ou ao município, conforme a
Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de origem das dotações orçamentárias.
internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
I - observar os direitos e garantias de que são titulares os Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de
adolescentes; atendimento que descumprirem obrigação constante do art.
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus
objeto de restrição na decisão de internação; dirigentes ou prepostos:
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas I - às entidades governamentais:
unidades e grupos reduzidos; a) advertência;
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito b) afastamento provisório de seus dirigentes;
e dignidade ao adolescente; c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da d) fechamento de unidade ou interdição de programa.
preservação dos vínculos familiares; II - às entidades não-governamentais:
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os a) advertência;
casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas
dos vínculos familiares; públicas;
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os d) cassação do registro.
objetos necessários à higiene pessoal; § 1º Em caso de reiteradas infrações cometidas por
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos
adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, Ministério Público ou representado perante autoridade
odontológicos e farmacêuticos; judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive
X - propiciar escolarização e profissionalização; suspensão das atividades ou dissolução da entidade.
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; § 2º As pessoas jurídicas de direito público e as
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, organizações não governamentais responderão pelos danos
de acordo com suas crenças; que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes,
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo das atividades de proteção específica.
máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
autoridade competente;
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado
sobre sua situação processual;
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
casos de adolescentes portadores de moléstias
infectocontagiosas;
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atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou conforme previsto pela Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de
do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável. 1992.
§ 6º Constarão do plano individual, dentre outros: § 4º Nas hipóteses previstas no § 3º deste artigo, é
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; dispensável o ajuizamento de ação de investigação de
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; paternidade pelo Ministério Público se, após o não
e comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para
a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou adoção.
responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja § 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a
esta vedada por expressa e fundamentada determinação qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento são
judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta
em família substituta, sob direta supervisão da autoridade prioridade. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
judiciária. § 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação
§ 7º O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no requerida do reconhecimento de paternidade no assento de
local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada pela
como parte do processo de reintegração familiar, sempre que Lei nº 13.257, de 2016)
identificada a necessidade, a família de origem será incluída
em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção Título III
social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança Da Prática de Ato Infracional
ou com o adolescente acolhido. Capítulo I
§ 8º Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o Disposições Gerais
responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
institucional fará imediata comunicação à autoridade Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita
judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de como crime ou contravenção penal.
5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
§ 9º Em sendo constatada a impossibilidade de Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de
reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
após seu encaminhamento a programas oficiais ou Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser
comunitários de orientação, apoio e promoção social, será considerada a idade do adolescente à data do fato.
enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade corresponderão as medidas previstas no art. 101.
ou responsáveis pela execução da política municipal de
garantia do direito à convivência familiar, para a destituição Capítulo II
do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda. Dos Direitos Individuais
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo
de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de destituição Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem
estudos complementares ou de outras providências escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
indispensáveis ao ajuizamento da demanda. (Redação dada Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação
pela Lei nº 13.509, de 2017) dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado
§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou acerca de seus direitos.
foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas
sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local
familiar e institucional sob sua responsabilidade, com onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à
informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou
um, bem como as providências tomadas para sua reintegração à pessoa por ele indicada.
familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de
modalidades previstas no art. 28 desta Lei. responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
implementação de políticas públicas que permitam reduzir o basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade,
número de crianças e adolescentes afastados do convívio demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
familiar e abreviar o período de permanência em programa de
acolhimento. Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será
submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais,
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação,
serão acompanhadas da regularização do registro civil. havendo dúvida fundada.
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o
assento de nascimento da criança ou adolescente será feito à Capítulo III
vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da Das Garantias Processuais
autoridade judiciária.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua
que trata este artigo são isentos de multas, custas e liberdade sem o devido processo legal.
emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
§ 3º Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as
procedimento específico destinado à sua averiguação, seguintes garantias:
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APOSTILAS OPÇÃO
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem
infracional, mediante citação ou meio equivalente; como em programas comunitários ou governamentais.
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar- Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as
se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante
necessárias à sua defesa; jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
III - defesa técnica por advogado; domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de
necessitados, na forma da lei; trabalho.
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
competente; Seção V
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou Da Liberdade Assistida
responsável em qualquer fase do procedimento.
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se
Capítulo IV afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar,
Das Medidas Socioeducativas auxiliar e orientar o adolescente.
Seção I § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
Disposições Gerais acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por
entidade ou programa de atendimento.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de
autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada,
seguintes medidas: revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
I - advertência; orientador, o Ministério Público e o defensor.
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade; Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a
IV - liberdade assistida; supervisão da autoridade competente, a realização dos
V - inserção em regime de semiliberdade; seguintes encargos, entre outros:
VI - internação em estabelecimento educacional; I - promover socialmente o adolescente e sua família,
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;
sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar
da infração. do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será III - diligenciar no sentido da profissionalização do
admitida a prestação de trabalho forçado. adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência IV - apresentar relatório do caso
mental receberão tratamento individual e especializado, em
local adequado às suas condições. Seção VI
Do Regime de Semiliberdade
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e
100. Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado
desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto,
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II possibilitada a realização de atividades externas,
a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes independentemente de autorização judicial.
da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização,
hipótese de remissão, nos termos do art. 127. devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre existentes na comunidade.
que houver prova da materialidade e indícios suficientes da § 2º A medida não comporta prazo determinado
autoria. aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à
internação.
Seção II
Da Advertência Seção VII
Da Internação
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal,
que será reduzida a termo e assinada. Art. 121. A internação constitui medida privativa da
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
Seção III excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
Da Obrigação de Reparar o Dano desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, determinação judicial em contrário.
que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo
do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a fundamentada, no máximo a cada seis meses.
medida poderá ser substituída por outra adequada. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de
Seção IV internação excederá a três anos.
Da Prestação de Serviços à Comunidade § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o
adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na semiliberdade ou de liberdade assistida.
realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de
não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, idade.
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APOSTILAS OPÇÃO
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão
de autorização judicial, ouvido o Ministério Público. do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do
§ 7º A determinação judicial mencionada no § 1º poderá fato, ao contexto social, bem como à personalidade do
ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. adolescente e sua maior ou menor participação no ato
infracional.
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da
quando: remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ou extinção do processo.
ameaça ou violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações Art. 127. A remissão não implica necessariamente o
graves; reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem
III - por descumprimento reiterado e injustificável da prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir
medida anteriormente imposta. eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas
§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a
artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser internação.
decretada judicialmente após o devido processo legal.
§ 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá
havendo outra medida adequada. ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido
expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade Ministério Público.
exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele
destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por Título IV
critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
Parágrafo único. Durante o período de internação,
inclusive provisória, serão obrigatórias atividades Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
pedagógicas. I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
entre outros, os seguintes: II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
Ministério Público; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; psiquiátrico;
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; IV - encaminhamento a cursos ou programas de
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que orientação;
solicitada; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar
V - ser tratado com respeito e dignidade; sua frequência e aproveitamento escolar;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a
naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou tratamento especializado;
responsável; VII - advertência;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; VIII - perda da guarda;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; IX - destituição da tutela;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio X - suspensão ou destituição do poder familiar.
pessoal; Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts.
e salubridade; 23 e 24.
XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o
desde que assim o deseje; afastamento do agressor da moradia comum.
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a
local seguro para guardá-los, recebendo comprovante fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança
daqueles porventura depositados em poder da entidade; ou o adolescente dependentes do agressor.
XVI - receber, quando de sua desinternação, os
documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. Título V
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. Do Conselho Tutelar
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender Capítulo I
temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se Disposições Gerais
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade
aos interesses do adolescente. Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e
autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adolescente, definidos nesta Lei.
adequadas de contenção e segurança.
Art. 132. Em cada Município e em cada Região
Capítulo V Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
Da Remissão Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1
apuração de ato infracional, o representante do Ministério (uma) recondução, mediante novo processo de escolha.
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Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos: poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
I - reconhecida idoneidade moral; quem tenha legítimo interesse.
II - idade superior a vinte e um anos;
III - residir no município. Capítulo III
Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, Da Competência
dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive
quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais é Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de
assegurado o direito a: competência constante do art. 147.
I - cobertura previdenciária;
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 Capítulo IV
(um terço) do valor da remuneração mensal; Da Escolha dos Conselheiros
III - licença-maternidade;
IV - licença-paternidade; Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
V - gratificação natalina. Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos
da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do
funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e Ministério Público.
formação continuada dos conselheiros tutelares. § 1º O processo de escolha dos membros do Conselho
Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial.
de idoneidade moral. § 2º A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10
de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha.
Capítulo II § 3º No processo de escolha dos membros do Conselho
Das Atribuições do Conselho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou
entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: natureza, inclusive brindes de pequeno valor.
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no Capítulo V
art. 101, I a VII; Dos Impedimentos
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando
as medidas previstas no art. 129, I a VII; Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho
III - promover a execução de suas decisões, podendo para marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro
tanto: ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho,
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, padrasto ou madrasta e enteado.
educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; Parágrafo único. Estende-se o impedimento do
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de conselheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
descumprimento injustificado de suas deliberações. judiciária e ao representante do Ministério Público com
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na
constitua infração administrativa ou penal contra os direitos comarca, foro regional ou distrital.
da criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua Título VI
competência; Do Acesso à Justiça
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade Capítulo I
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o Disposições Gerais
adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações; Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao
criança ou adolescente quando necessário; Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da § 1º A assistência judiciária gratuita será prestada aos que
proposta orçamentária para planos e programas de dela necessitarem, através de defensor público ou advogado
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; nomeado.
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da
violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos,
Constituição Federal; ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações
de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão
possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente representados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e
junto à família natural. um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos forma da legislação civil ou processual.
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses
adolescentes. destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o quando carecer de representação ou assistência legal ainda
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do que eventual.
convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério
Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e
entendimento e as providências tomadas para a orientação, o administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes
apoio e a promoção social da família. a que se atribua autoria de ato infracional.
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Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não c) suprir a capacidade ou o consentimento para o
poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se casamento;
fotografia, referência ao nome, apelido, filiação, parentesco, d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. ou materna, em relação ao exercício do poder familiar;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se faltarem os pais;
refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade f) designar curador especial em casos de apresentação de
judiciária competente, se demonstrado o interesse e queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais
justificada a finalidade. ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
adolescente;
Capítulo II g) conhecer de ações de alimentos;
Da Justiça da Infância e da Juventude h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento
Seção I dos registros de nascimento e óbito.
Disposições Gerais
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua desacompanhado dos pais ou responsável, em:
proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de a) estádio, ginásio e campo desportivo;
infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em b) bailes ou promoções dançantes;
plantões. c) boate ou congêneres;
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
Seção II e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
Do Juiz II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da b) certames de beleza.
Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
forma da lei de organização judiciária local. judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei;
Art. 147. A competência será determinada: b) as peculiaridades locais;
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; c) a existência de instalações adequadas;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à d) o tipo de frequência habitual ao local;
falta dos pais ou responsável. e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
§ 1º Nos casos de ato infracional, será competente a frequência de crianças e adolescentes;
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras f) a natureza do espetáculo.
de conexão, continência e prevenção. § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
autoridade competente da residência dos pais ou responsável, determinações de caráter geral.
ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou
adolescente. Seção III
§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão Dos Serviços Auxiliares
simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma
comarca, será competente, para aplicação da penalidade, a Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da
retransmissoras do respectivo estado. Infância e da Juventude.
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras
para: atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local,
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou
Público, para apuração de ato infracional atribuído a verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade
extinção do processo; judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; técnico.
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao servidores públicos integrantes do Poder Judiciário
adolescente, observado o disposto no art. 209; responsáveis pela realização dos estudos psicossociais ou de
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em quaisquer outras espécies de avaliações técnicas exigidas por
entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; esta Lei ou por determinação judicial, a autoridade judiciária
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de poderá proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156
infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente; da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou
adolescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar,
perda ou modificação da tutela ou guarda;
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Capítulo III Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
Dos Procedimentos dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
Seção I produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas e
Disposições Gerais documentos.
§ 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam- meios para sua realização.
se subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação § 2º O requerido privado de liberdade deverá ser citado
processual pertinente. pessoalmente.
§ 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, § 3º Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver
prioridade absoluta na tramitação dos processos e procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o
procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execução encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, informar
dos atos e diligências judiciais a eles referentes. qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, na hora
procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da Lei nº
do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público. (Incluído (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
pela Lei nº 13.509, de 2017) § 4º Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local
incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo de 10
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios
corresponder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a para a localização. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de
ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
Público. constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado
o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta,
família de origem e em outros procedimentos contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de
necessariamente contenciosos. nomeação.
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento
da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor.
Seção II
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária
requisitará de qualquer repartição ou órgão público a
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
poder familiar terá início por provocação do Ministério a requerimento das partes ou do Ministério Público.
Público ou de quem tenha legítimo interesse.
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido
Art. 156. A petição inicial indicará: concluído o estudo social ou a perícia realizada por equipe
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judiciária
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias,
requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se salvo quando este for o requerente, e decidirá em igual prazo.
tratando de pedido formulado por representante do (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Ministério Público; § 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento
III - a exposição sumária do fato e o pedido; das partes ou do Ministério Público, determinará a oitiva de
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de
logo, o rol de testemunhas e documentos. suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos arts.
1.637 e 1.638 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade (Código Civil), ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada pela Lei
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão nº 13.509, de 2017)
do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o § 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou 2017)
adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de § 3º Se o pedido importar em modificação de guarda, será
responsabilidade. obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança
§ 1º Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e
determinará, concomitantemente ao despacho de citação e grau de compreensão sobre as implicações da medida.
independentemente de requerimento do interessado, a § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem
realização de estudo social ou perícia por equipe identificados e estiverem em local conhecido, ressalvados os
interprofissional ou multidisciplinar para comprovar a casos de não comparecimento perante a Justiça quando
presença de uma das causas de suspensão ou destituição do devidamente citados. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
poder familiar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta 2017)
Lei, e observada a Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017. § 5º Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) autoridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva
§ 2º Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas,
é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária
interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1º deste dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo
artigo, de representantes do órgão federal responsável pela quando este for o requerente, designando, desde logo,
política indigenista, observado o disposto no § 6º do art. 28 audiência de instrução e julgamento.
desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
2017)
Legislação 22
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providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo
adulto à repartição policial própria. anterior, o representante do Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos autos;
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido II - conceder a remissão;
mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade III - representar à autoridade judiciária para aplicação de
policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo medida socioeducativa.
único, e 107, deverá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou
adolescente; concedida a remissão pelo representante do Ministério
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo
III - requisitar os exames ou perícias necessários à dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para
comprovação da materialidade e autoria da infração. homologação.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a § 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a
lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o
ocorrência circunstanciada. cumprimento da medida.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho
o adolescente será prontamente liberado pela autoridade fundamentado, e este oferecerá representação, designará
policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou
apresentação ao representante do Ministério Público, no ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a
mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, autoridade judiciária obrigada a homologar.
exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua
repercussão social, deva o adolescente permanecer sob Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do
internação para garantia de sua segurança pessoal ou Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder
manutenção da ordem pública. a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
propondo a instauração de procedimento para aplicação da
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada.
encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do § 1º A representação será oferecida por petição, que
Ministério Público, juntamente com cópia do auto de conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
apreensão ou boletim de ocorrência. infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas,
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada
autoridade policial encaminhará o adolescente à entidade de pela autoridade judiciária.
atendimento, que fará a apresentação ao representante do § 2º A representação independe de prova pré-constituída
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas. da autoria e materialidade.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a
À falta de repartição policial especializada, o adolescente conclusão do procedimento, estando o adolescente internado
aguardará a apresentação em dependência separada da provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese,
exceder o prazo referido no parágrafo anterior. Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária
designará audiência de apresentação do adolescente,
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da
policial encaminhará imediatamente ao representante do internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
ocorrência. cientificados do teor da representação, e notificados a
comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
indícios de participação de adolescente na prática de ato autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
infracional, a autoridade policial encaminhará ao § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
representante do Ministério Público relatório das judiciária expedirá mandado de busca e apreensão,
investigações e demais documentos. determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva
apresentação.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a
infracional não poderá ser conduzido ou transportado em sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou
compartimento fechado de veículo policial, em condições responsável.
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela
autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do estabelecimento prisional.
Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de § 1º Inexistindo na comarca entidade com as
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, características definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais adolescente aguardará sua remoção em repartição policial,
ou responsável, vítima e testemunhas. desde que em seção isolada dos adultos e com instalações
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de
representante do Ministério Público notificará os pais ou cinco dias, sob pena de responsabilidade.
responsável para apresentação do adolescente, podendo
requisitar o concurso das polícias civil e militar.
Legislação 24
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Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou II - dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público
responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos ou representação de delegado de polícia e conterá a
mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado. demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e,
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que
proferindo decisão. permitam a identificação dessas pessoas; (Incluído pela Lei nº
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de 13.441, de 2017)
internação ou colocação em regime de semiliberdade, a III - não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem
autoridade judiciária, verificando que o adolescente não prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não
possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua
desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial. (Incluído
realização de diligências e estudo do caso. pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no § 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão
prazo de três dias contado da audiência de apresentação, requisitar relatórios parciais da operação de infiltração antes
oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas. do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste artigo.
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as § 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste artigo,
diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
será dada a palavra ao representante do Ministério Público e I - dados de conexão: informações referentes a hora, data,
ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet
para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da (IP) utilizado e terminal de origem da conexão. (Incluído pela
autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão. Lei nº 13.441, de 2017)
II - dados cadastrais: informações referentes a nome e
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado
comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação, a para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário
autoridade judiciária designará nova data, determinando sua ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da
condução coercitiva. conexão.
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão admitida se a prova puder ser obtida por outros meios.
do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
procedimento, antes da sentença.
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
medida, desde que reconheça na sentença: autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela
I - estar provada a inexistência do fato; Lei nº 13.441, de 2017)
II - não haver prova da existência do fato; Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso
III - não constituir o fato ato infracional; aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo
o ato infracional. de garantir o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o 13.441, de 2017)
adolescente internado, será imediatamente colocado em
liberdade. Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua
identidade para, por meio da internet, colher indícios de
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240,
internação ou regime de semiliberdade será feita: 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A,
I - ao adolescente e ao seu defensor; 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela Lei nº
ou responsável, sem prejuízo do defensor. 13.441, de 2017)
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de
unicamente na pessoa do defensor. observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença.
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
Seção V-A poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investigação informações necessárias à efetividade da identidade fictícia
de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança e de criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Adolescente Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta
Seção será numerado e tombado em livro específico. (Incluído
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet pela Lei nº 13.441, de 2017)
com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241,
241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217- Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de eletrônicos praticados durante a operação deverão ser
dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e
regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) ao Ministério Público, juntamente com relatório
I - será precedida de autorização judicial devidamente circunstanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no
da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e
Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito
policial, assegurando-se a preservação da identidade do
Legislação 25
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APOSTILAS OPÇÃO
agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a
adolescentes envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441, de autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministério
2017) Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.
Legislação 26
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APOSTILAS OPÇÃO
preparados por equipe interprofissional antes da inclusão em fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo
família adotiva. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) de cinco dias;
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da remeterá os autos ou o instrumento à superior instância
participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo
autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos
decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do
Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da
designando, conforme o caso, audiência de instrução e intimação.
julgamento.
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art.
sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a 149 caberá recurso de apelação.
juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos
autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito
igual prazo. desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida
exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável
inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a ou de difícil reparação ao adotando.
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer
crianças ou adolescentes adotáveis. dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que
§ 1º A ordem cronológica das habilitações somente poderá deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas
hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de
comprovado ser essa a melhor solução no interesse do destituição de poder familiar, em face da relevância das
adotando. questões, serão processados com prioridade absoluta,
§ 2º A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que
trienalmente mediante avaliação por equipe interprofissional. aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com
§ 3º Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção, parecer urgente do Ministério Público.
será dispensável a renovação da habilitação, bastando a
avaliação por equipe interprofissional. (Incluído pela Lei nº Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa
13.509, de 2017) para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
§ 4º Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à contado da sua conclusão.
adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do perfil Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da
escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida. data do julgamento e poderá na sessão, se entender
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) necessário, apresentar oralmente seu parecer.
§ 5º A desistência do pretendente em relação à guarda para
fins de adoção ou a devolução da criança ou do adolescente Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a
depois do trânsito em julgado da sentença de adoção instauração de procedimento para apuração de
importará na sua exclusão dos cadastros de adoção e na responsabilidades se constatar o descumprimento das
vedação de renovação da habilitação, salvo decisão judicial providências e do prazo previstos nos artigos anteriores.
fundamentada, sem prejuízo das demais sanções previstas na
legislação vigente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Capítulo V
Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habilitação Do Ministério Público
à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável por igual
período, mediante decisão fundamentada da autoridade Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
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APOSTILAS OPÇÃO
a) expedir notificações para colher depoimentos ou Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo
injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
polícia civil ou militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos Art. 205. As manifestações processuais do representante
de autoridades municipais, estaduais e federais, da do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
administração direta ou indireta, bem como promover
inspeções e diligências investigatórias; Capítulo VI
c) requisitar informações e documentos a particulares e Do Advogado
instituições privadas;
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou
investigatórias e determinar a instauração de inquérito responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse
policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que
proteção à infância e à juventude; trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial,
legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as respeitado o segredo de justiça.
medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas integral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos
interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática
ao adolescente; de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade processado sem defensor.
por infrações cometidas contra as normas de proteção à § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á
infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo,
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível; constituir outro de sua preferência.
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de § 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento
atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto,
pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
remoção de irregularidades porventura verificadas; § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido
serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência indicado por ocasião de ato formal com a presença da
social, públicos ou privados, para o desempenho de suas autoridade judiciária.
atribuições.
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações Capítulo VII
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e esta Coletivos
Lei.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de
outras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
Público. criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de oferta irregular:
suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre I - do ensino obrigatório;
criança ou adolescente. II - de atendimento educacional especializado aos
§ 4º O representante do Ministério Público será portadores de deficiência;
responsável pelo uso indevido das informações e documentos III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças de
que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. zero a cinco anos de idade (Redação dada pela Lei nº 13.306,
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII de 2016).
deste artigo, poderá o representante do Ministério Público: IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, educando;
instaurando o competente procedimento, sob sua presidência; V - de programas suplementares de oferta de material
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando
reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou do ensino fundamental;
acertados; VI - de serviço de assistência social visando à proteção à
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como
públicos e de relevância pública afetos à criança e ao ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;
adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
adequação. VIII - de escolarização e profissionalização dos
adolescentes privados de liberdade.
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e
parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do
dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.
terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar X - de programas de atendimento para a execução das
documentos e requerer diligências, usando os recursos medidas socioeducativas e aplicação de medidas de proteção.
cabíveis. XI - de políticas e programas integrados de atendimento à
criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência.
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer (Incluído pela Lei nº 13.431, de 2017)
caso, será feita pessoalmente. § 1º As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos
pela Constituição e pela Lei.
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APOSTILAS OPÇÃO
§ 2º A investigação do desaparecimento de crianças ou promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos,
adolescentes será realizada imediatamente após notificação facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro
portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em
transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes conta com correção monetária.
todos os dados necessários à identificação do desaparecido.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas recursos, para evitar dano irreparável à parte.
no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou
omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser
a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa de
competência originária dos tribunais superiores. peças à autoridade competente, para apuração da
responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses atribua a ação ou omissão.
coletivos ou difusos, consideram-se legitimados
concorrentemente: Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado
I - o Ministério Público; da sentença condenatória sem que a associação autora lhe
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
os territórios; facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos
um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao
dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a réu os honorários advocatícios arbitrados na conformidade do
autorização da assembleia, se houver prévia autorização § 4º do art. 20 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código
estatutária. de Processo Civil), quando reconhecer que a pretensão é
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os manifestamente infundada.
Ministérios Públicos da União e dos estados na defesa dos Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a
interesses e direitos de que cuida esta Lei. associação autora e os diretores responsáveis pela
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por propositura da ação serão solidariamente condenados ao
associação legitimada, o Ministério Público ou outro décuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade por
legitimado poderá assumir a titularidade ativa. perdas e danos.
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo quaisquer outras despesas.
extrajudicial.
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-
por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação
pertinentes. civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
normas do Código de Processo Civil. Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério
poder público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Público para as providências cabíveis.
Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da
lei do mandado de segurança. Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
poderá requerer às autoridades competentes as certidões e
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela prazo de quinze dias.
específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua
adimplemento. presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa,
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo organismo público ou particular, certidões, informações,
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá
juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação ser inferior a dez dias úteis.
prévia, citando o réu. § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na diligências, se convencer da inexistência de fundamento para
sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de a propositura da ação cível, promoverá o arquivamento dos
pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do fundamentadamente.
preceito. § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior do
o dia em que se houver configurado o descumprimento. Ministério Público.
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério
pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do público, poderão as associações legitimadas apresentar razões
respectivo município. escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito inquérito ou anexados às peças de informação.
em julgado da decisão serão exigidas através de execução
Legislação 29
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APOSTILAS OPÇÃO
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado
disposições da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Título VII
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade
Capítulo I judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
Dos Crimes Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Seção I Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Disposições Gerais
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem o fim de colocação em lar substituto:
prejuízo do disposto na legislação penal. Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, a terceiro, mediante paga ou recompensa:
as pertinentes ao Código de Processo Penal. Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública ou efetiva a paga ou recompensa.
incondicionada.
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato
Seção II destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
Dos Crimes em Espécie com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
obter lucro:
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça
registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo ou fraude:
referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, correspondente à violência.
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do
parto e do desenvolvimento do neonato: Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou
Pena - detenção de seis meses a dois anos. registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
Parágrafo único. Se o crime é culposo: pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
desta Lei: comete o crime:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. I - no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de
Parágrafo único. Se o crime é culposo: exercê-la;
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. II - prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação
ou de hospitalidade; ou
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua III - prevalecendo-se de relações de parentesco
liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem,
judiciária competente: a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu
Pena - detenção de seis meses a dois anos. consentimento.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que
procede à apreensão sem observância das formalidades legais. Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela pornográfica envolvendo criança ou adolescente.
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
comunicação à autoridade judiciária competente e à família do Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
apreendido ou à pessoa por ele indicada: distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
Pena - detenção de seis meses a dois anos. por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
constrangimento: § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Legislação 30
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APOSTILAS OPÇÃO
I - assegura os meios ou serviços para o armazenamento Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a
artigo; adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
II - assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de produtos cujos componentes possam causar dependência
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o física ou psíquica:
caput deste artigo. Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o
§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1º deste fato não constitui crime mais grave.
artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de
acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer dano físico em caso de utilização indevida:
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente: Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de exploração sexual
pequena quantidade o material a que se refere o caput deste Pena - reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda
artigo. de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor do
§ 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da
finalidade de comunicar às autoridades competentes a Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o
ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. (Redação
241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: dada pela Lei nº 13.440, de 2017)
I - agente público no exercício de suas funções; § 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente
II - membro de entidade, legalmente constituída, que ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste
processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes artigo.
referidos neste parágrafo; § 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação
III - representante legal e funcionários responsáveis de da licença de localização e de funcionamento do
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de estabelecimento.
computadores, até o recebimento do material relativo à notícia
feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor
Judiciário. de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou
§ 3º As pessoas referidas no § 2º deste artigo deverão induzindo-o a praticá-la:
manter sob sigilo o material ilícito referido. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, internet.
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: § 2º As penas previstas no caput deste artigo são
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, induzida estar incluída no rol do art. 1º da Lei nº 8.072, de 25
expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por de julho de 1990.
qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material
produzido na forma do caput deste artigo. Capítulo II
Das Infrações Administrativas
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por
qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
praticar ato libidinoso. estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental,
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou
I - facilita ou induz o acesso à criança de material contendo confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela Pena - multa de três a vinte salários de referência,
praticar ato libidinoso; aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
II - pratica as condutas descritas no caput deste artigo com
o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade
sexualmente explícita. de atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos
II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a Pena - multa de três a vinte salários de referência,
expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
compreende qualquer situação que envolva criança ou
adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização
simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou
adolescente para fins primordialmente sexuais. documento de procedimento policial, administrativo ou
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou infracional:
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, Pena - multa de três a vinte salários de referência,
munição ou explosivo: aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. § 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido
Legislação 31
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APOSTILAS OPÇÃO
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de
respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma programação em vídeo, em desacordo com a classificação
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. atribuída pelo órgão competente:
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
da publicação ou a suspensão da programação da emissora até
por dois dias, bem como da publicação do periódico até por Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79
dois números. (Expressão declara inconstitucional pela ADIN desta Lei:
869-2) Pena - multa de três a vinte salários de referência,
duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
Art. 248. (Revogado pela Lei nº 13.431, de 2017) apreensão da revista ou publicação.
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua
Tutelar: participação no espetáculo:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente
desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de
escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros
motel ou congênere: previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
Pena - multa. Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de mil reais).
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade
fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou
30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em
fechado e terá sua licença cassada. regime de acolhimento institucional ou familiar.
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar
desta Lei: imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de
Pena - multa de três a vinte salários de referência, que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. entregar seu filho para adoção:
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo mil reais).
público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de
do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da programa oficial ou comunitário destinado à garantia do
diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no direito à convivência familiar que deixa de efetuar a
certificado de classificação: comunicação referida no caput deste artigo.
Pena - multa de três a vinte salários de referência,
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso
II do art. 81:
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00
representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade (dez mil reais);
a que não se recomendem: Medida Administrativa - interdição do estabelecimento
Pena - multa de três a vinte salários de referência, comercial até o recolhimento da multa aplicada.
duplicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou Disposições Finais e Transitórias
publicidade.
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo
espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da
sua classificação: política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; o Título V do Livro II.
duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária Parágrafo único. Compete aos estados e municípios
poderá determinar a suspensão da programação da emissora promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às
por até dois dias. diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos
classificado pelo órgão competente como inadequado às Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional,
crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo: distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas,
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na sendo essas integralmente deduzidas do imposto de renda,
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do obedecidos os seguintes limites:
espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido
dias. apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro
real; e
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II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado ano-calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos
pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado Direitos da Criança e do Adolescente municipais, distrital,
o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de estaduais e nacional concomitantemente com a opção de que
1997. trata o caput, respeitado o limite previsto no inciso II do art.
§ 1º Revogado. 260.
§ 1º-A. Na definição das prioridades a serem atendidas com
os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260
municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão poderá ser deduzida:
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promoção, I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à jurídicas que apuram o imposto trimestralmente; e
Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacional II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para
pela Primeira Infância. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente.
2016) Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos período a que se refere a apuração do imposto.
direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei
subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente podem ser efetuadas em espécie ou em bens.
percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem
guarda, de crianças e adolescentes e para programas de ser depositadas em conta específica, em instituição financeira
atenção integral à primeira infância em áreas de maior pública, vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art.
carência socioeconômica e em situações de calamidade. 260.
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das
Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos deste nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo
artigo. em favor do doador, assinado por pessoa competente e pelo
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a presidente do Conselho correspondente, especificando:
forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos I - número de ordem;
Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e
referidos neste artigo. endereço do emitente;
§ 5º Observado o disposto no § 4º do art. 3º da Lei nº 9.249, III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do
de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata o inciso I doador;
do caput: IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a V - ano-calendário a que se refere a doação.
limite em conjunto com outras deduções do imposto; e § 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode
II - não poderá ser computada como despesa operacional ser emitido anualmente, desde que discrimine os valores
na apuração do lucro real. doados mês a mês.
§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário conter a identificação dos bens, mediante descrição em campo
de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata próprio ou em relação anexa ao comprovante, informando
o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração também se houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço
de Ajuste Anual. dos avaliadores.
§ 1º A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até
os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador
na declaração: deverá:
I - (Vetado); I - comprovar a propriedade dos bens, mediante
II - (Vetado); documentação hábil;
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos,
§ 2º A dedução de que trata o caput: quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto pessoa jurídica; e
sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II do III - considerar como valor dos bens doados:
caput do art. 260; a) para as pessoas físicas, o valor constante da última
II - não se aplica à pessoa física que: declaração do imposto de renda, desde que não exceda o valor
a) utilizar o desconto simplificado; de mercado;
b) apresentar declaração em formulário; ou b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens.
c) entregar a declaração fora do prazo; Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será
III - só se aplica às doações em espécie; e considerado na determinação do valor dos bens doados,
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária.
vigor.
§ 3º O pagamento da doação deve ser efetuado até a data Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D
de vencimento da primeira quota ou quota única do imposto, e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo
observadas instruções específicas da Secretaria da Receita de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução
Federal do Brasil. perante a Receita Federal do Brasil.
§ 4º O não pagamento da doação no prazo estabelecido no
§ 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução, Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das
ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
de imposto devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com nacional, estaduais, distrital e municipais devem:
os acréscimos legais previstos na legislação. I - manter conta bancária específica destinada
§ 5º A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na exclusivamente a gerir os recursos do Fundo;
Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo II - manter controle das doações recebidas; e
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APOSTILAS OPÇÃO
3http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm. Acesso em
20.02.2019.
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V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa Prezado(a) Candidato(a), o Artigo 7-A foi acrescido
e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; pela Lei nº 13.796, de 3 de janeiro de 2019), entrando em
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às vigência apenas após 60 (sessenta) dias de sua publicação
condições do educando; oficial, sendo assim no dia 04 de março de 2019.
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
adultos, com características e modalidades adequadas às suas
“Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em
necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem
instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é
trabalhadores as condições de acesso e permanência na
escola; assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de
crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento,
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que,
educação básica, por meio de programas suplementares de
segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de
material didático-escolar, transporte, alimentação e
tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição
assistência à saúde;
e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos
alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da
como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de
Constituição Federal:
insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser
ensino-aprendizagem.
realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou
X - vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino
em outro horário agendado com sua anuência expressa;
fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de
partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela
instituição de ensino.
Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, durante
o período de internação, ao aluno da educação básica § 1º A prestação alternativa deverá observar os parâmetros
curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.
internado para tratamento de saúde em regime hospitalar ou
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alternativa de
domiciliar por tempo prolongado, conforme dispuser o Poder
que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos
Público em regulamento, na esfera de sua competência
os efeitos, inclusive regularização do registro de frequência.
federativa. (Incluído pela Lei nº 13.716, de 2018).
§ 3º As instituições de ensino implementarão
progressivamente, no prazo de 2 (dois) anos, as providências e
Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direito
adaptações necessárias à adequação de seu funcionamento às
público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
medidas previstas neste artigo. (Vide Lei nº 13.796, de 2019)
cidadãos, associação comunitária, organização sindical,
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a
entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
que se refere o art. 83 desta Lei.”
Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
§ 1º O poder público, na esfera de sua competência
TÍTULO IV
federativa, deverá:
Da Organização da Educação Nacional
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
idade escolar, bem como os jovens e adultos que não
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
concluíram a educação básica;
Municípios organizarão, em regime de colaboração, os
II - fazer-lhes a chamada pública;
respectivos sistemas de ensino.
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de
escola.
educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em
assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório,
relação às demais instâncias educacionais.
nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização
níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades
nos termos desta Lei.
constitucionais e legais.
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
Art. 9º A União incumbir-se-á de:
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração
hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e
instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos
para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela
Territórios;
ser imputada por crime de responsabilidade.
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de
Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de
ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso
seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à
aos diferentes níveis de ensino, independentemente da
escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva
escolarização anterior.
e supletiva;
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a
matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que
(quatro) anos de idade.
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a
assegurar formação básica comum;
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as
seguintes condições: IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e
para identificação, cadastramento e atendimento, na educação
do respectivo sistema de ensino;
básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade
ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
pelo Poder Público;
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o
educação;
previsto no art. 213 da Constituição Federal.
Legislação 36
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APOSTILAS OPÇÃO
VI - assegurar processo nacional de avaliação do Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele
em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a um sistema único de educação básica.
definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
pós-graduação; normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das incumbência de:
instituições de educação superior, com a cooperação dos I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
ensino; financeiros;
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de estabelecidas;
educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada
ensino. docente;
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor
Nacional de Educação, com funções normativas e de rendimento;
supervisão e atividade permanente, criado por lei. VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a processos de integração da sociedade com a escola;
União terá acesso a todos os dados e informações necessários VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais. filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a
delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que execução da proposta pedagógica da escola;
mantenham instituições de educação superior. VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação
dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30%
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: (trinta por cento) do percentual permitido em lei; (Redação
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições dada pela Lei nº 13.803, de 2019)
oficiais dos seus sistemas de ensino; IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na de combate a todos os tipos de violência, especialmente a
oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas;
distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018)
com a população a ser atendida e os recursos financeiros X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de
disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; paz nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018)
III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, I - participar da elaboração da proposta pedagógica do
integrando e coordenando as suas ações e as dos seus estabelecimento de ensino;
Municípios; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos
ensino; de menor rendimento;
V - baixar normas complementares para o seu sistema de V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
ensino; além de participar integralmente dos períodos dedicados ao
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, VI - colaborar com as atividades de articulação da escola
respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; com as famílias e a comunidade.
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
estadual. Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as gestão democrática do ensino público na educação básica, de
competências referentes aos Estados e aos Municípios. acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes
princípios:
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: I - participação dos profissionais da educação na
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições elaboração do projeto pedagógico da escola;
oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas II - participação das comunidades escolar e local em
e planos educacionais da União e dos Estados; conselhos escolares ou equivalentes.
II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
III - baixar normas complementares para o seu sistema de Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
ensino; escolares públicas de educação básica que os integram
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa
estabelecimentos do seu sistema de ensino; e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, financeiro público.
com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em
outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
plenamente as necessidades de sua área de competência e com I - as instituições de ensino mantidas pela União;
recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela II - as instituições de educação superior criadas e mantidas
Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do pela iniciativa privada;
ensino. III - os órgãos federais de educação.
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
municipal. Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
Federal compreendem:
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Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
responsáveis alcançar relação adequada entre o número de de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o
alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
do estabelecimento. § 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
vista das condições disponíveis e das características regionais caracterizam a formação da população brasileira, a partir
e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da
neste artigo. África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas
no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional contribuições nas áreas social, econômica e política,
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em pertinentes à história do Brasil.
cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, § 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados
cultura, da economia e dos educandos. no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, educação artística e de literatura e história brasileiras.
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
realidade social e política, especialmente do Brasil. observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social,
regionais, constituirá componente curricular obrigatório da aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem
educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) comum e à ordem democrática;
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da II - consideração das condições de escolaridade dos alunos
escola, é componente curricular obrigatório da educação em cada estabelecimento;
básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: III - orientação para o trabalho;
I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas
horas; desportivas não-formais.
II - maior de trinta anos de idade;
III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em Art. 28. Na oferta de educação básica para a população
situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações
IV - amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e
de 1969; de cada região, especialmente:
V - (Vetado) I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às
VI - que tenha prole. reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as II - organização escolar própria, incluindo adequação do
contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, climáticas;
africana e europeia. III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo,
ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do
13.415, de 2017) órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que
§ 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de
linguagens que constituirão o componente curricular de que Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a
trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de manifestação da comunidade escolar.
2016).
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério Seção II
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os Da Educação Infantil
temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela
Lei nº 13.415, de 2017) Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
componente curricular complementar integrado à proposta criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico,
pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
mínimo, 2 (duas) horas mensais. família e da comunidade.
§ 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
prevenção de todas as formas de violência contra a criança e Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
ao adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até
currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo três anos de idade;
como diretriz a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
da Criança e do Adolescente), observada a produção e anos de idade.
distribuição de material didático adequado.
§ 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluída Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com
entre os temas transversais de que trata o caput. (Incluído pela as seguintes regras comuns:
Lei nº 13.666, de 2018) I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção,
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas,
de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) educacional;
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III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas § 2º O ensino fundamental será ministrado
diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas
integral; de ensino.
IV - controle de frequência pela instituição de educação
pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por Seção IV
cento) do total de horas; Do Ensino Médio
V - expedição de documentação que permita atestar os
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
Seção III I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
Do Ensino Fundamental adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos;
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
cidadão, mediante: aperfeiçoamento posteriores;
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo III - o aprimoramento do educando como pessoa humana,
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
cálculo; intelectual e do pensamento crítico;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema IV - a compreensão dos fundamentos científico-
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
fundamenta a sociedade; com a prática, no ensino de cada disciplina.
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
formação de atitudes e valores; direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415,
assenta a vida social. de 2017)
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
fundamental em ciclos. 13.415, de 2017)
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
por série podem adotar no ensino fundamental o regime de 13.415, de 2017)
progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela
de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo Lei nº 13.415, de 2017)
sistema de ensino. IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em nº 13.415, de 2017)
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a § 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá
aprendizagem. estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino articulada a partir do contexto histórico, econômico, social,
a distância utilizado como complementação da aprendizagem ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
ou em situações emergenciais. § 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de
obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 13.415, de 2017)
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será
Adolescente, observada a produção e distribuição de material obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às
didático adequado. comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
como tema transversal nos currículos do ensino fundamental. § 4º Os currículos do ensino médio incluirão,
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina preferencialmente o espanhol, de acordo com a
dos horários normais das escolas públicas de ensino disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e
procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela
admissão dos professores. Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a esperados para o ensino médio, que serão referência nos
definição dos conteúdos do ensino religioso. processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a
pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho
sendo progressivamente ampliado o período de permanência voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua
na escola. formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio emocionais.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
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I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído possibilitando a construção de diferentes itinerários
o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a formativos, observadas as normas do respectivo sistema e
conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível nível de ensino.
médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se § 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os
matrícula única para cada aluno; seguintes cursos:
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino I - de formação inicial e continuada ou qualificação
médio ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas profissional;
distintas para cada curso, e podendo ocorrer: II - de educação profissional técnica de nível médio;
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as III - de educação profissional tecnológica de graduação e
oportunidades educacionais disponíveis; pós-graduação.
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as § 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de
oportunidades educacionais disponíveis; graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios a objetivos, características e duração, de acordo com as
de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. Nacional de Educação.
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissional
técnica de nível médio, quando registrados, terão validade Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em
nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias
educação superior. de educação continuada, em instituições especializadas ou no
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional ambiente de trabalho.
técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante e
subsequente, quando estruturados e organizados em etapas Art. 41. O conhecimento adquirido na educação
com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser
de qualificação para o trabalho após a conclusão, com objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma prosseguimento ou conclusão de estudos.
qualificação para o trabalho.
Art. 42. As instituições de educação profissional e
Seção V tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
Da Educação de Jovens e Adultos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à
capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada de escolaridade.
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos
nos ensinos fundamental e médio na idade própria e CAPÍTULO IV
constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao Da Educação Superior
longo da vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, espírito científico e do pensamento reflexivo;
consideradas as características do alunado, seus interesses, II - formar diplomados nas diferentes áreas de
condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a e para a participação no desenvolvimento da sociedade
permanência do trabalhador na escola, mediante ações brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
integradas e complementares entre si. III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
§ 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-se, científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
preferencialmente, com a educação profissional, na forma do tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
regulamento. desenvolver o entendimento do homem e do meio em que
vive;
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais,
supletivos, que compreenderão a base nacional comum do científicos e técnicos que constituem patrimônio da
currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
caráter regular. publicações ou de outras formas de comunicação;
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os cultural e profissional e possibilitar a correspondente
maiores de quinze anos; concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
de dezoito anos. conhecimento de cada geração;
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo
educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
mediante exames. serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta
uma relação de reciprocidade;
CAPÍTULO III VII - promover a extensão, aberta à participação da
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL população, visando à difusão das conquistas e benefícios
Da Educação Profissional e Tecnológica resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
tecnológica geradas na instituição.
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no VIII - atuar em favor da universalização e do
cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a
aos diferentes níveis e modalidades de educação e às capacitação de profissionais, a realização de pesquisas
dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão
§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica que aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, 13.174, de 2015)
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Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular,
e programas: independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos
níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos exames finais, quando houver.
requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde § 1º As instituições informarão aos interessados, antes de
que tenham concluído o ensino médio ou equivalente; cada período letivo, os programas dos cursos e demais
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham componentes curriculares, sua duração, requisitos,
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios
classificados em processo seletivo; de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições,
III - de pós-graduação, compreendendo programas de e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras
mestrado e doutorado, cursos de especialização, formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168,
aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados de 2015).
em cursos de graduação e que atendam às exigências das I - em página específica na internet no sítio eletrônico
instituições de ensino; oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte:
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como
ensino. título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de
§ 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso 2015)
II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas b) a página principal da instituição de ensino superior, bem
instituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a
da relação nominal dos classificados, a respectiva ordem de forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma
classificação, bem como do cronograma das chamadas para finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica
matrícula, de acordo com os critérios para preenchimento das prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
vagas constantes do respectivo edital. c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições eletrônico, deve criar página específica para divulgação das
públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168,
candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez de 2015)
salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais d) a página específica deve conter a data completa de sua
de um candidato preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
nº 13.184, de 2015) II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará superior, por meio de ligação para a página referida no inciso
as competências e as habilidades definidas na Base Nacional I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) III - em local visível da instituição de ensino superior e de
fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
Art. 45. A educação superior será ministrada em IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de
instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido,
variados graus de abrangência ou especialização. observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem diferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela
como o credenciamento de instituições de educação superior, lei nº 13.168, de 2015)
terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início
após processo regular de avaliação. das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este docente até o início das aulas, os alunos devem ser
artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o comunicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168,
caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção de 2015)
na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei
autonomia, ou em descredenciamento. nº 13.168, de 2015)
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de
responsável por sua manutenção acompanhará o processo de ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários, b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular
para a superação das deficiências. de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela
§ 3º No caso de instituição privada, além das sanções lei nº 13.168, de 2015)
previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em
poderá resultar em redução de vagas autorizadas e em cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele
suspensão temporária de novos ingressos e de oferta de curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação
cursos. (Alterado pela Lei 13.530/2017). profissional do docente e o tempo de casa do docente, de forma
§ 4º É facultado ao Ministério da Educação, mediante total, contínua ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168, de
procedimento específico e com aquiescência da instituição de 2015)
ensino, com vistas a resguardar os interesses dos estudantes, § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento
comutar as penalidades previstas nos §§ 1o e 3o deste artigo nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros
por outras medidas, desde que adequadas para superação das instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca
deficiências e irregularidades constatadas. (Alterado pela Lei examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos
13.530/2017). seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino.
§ 5º Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Federal § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
deverão adotar os critérios definidos pela União para salvo nos programas de educação a distância.
autorização de funcionamento de curso de graduação em § 4º As instituições de educação superior oferecerão, no
Medicina.” (Incluído pela Lei 13.530/2017). período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de
qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a
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oferta noturna nas instituições públicas, garantida a VII - firmar contratos, acordos e convênios;
necessária previsão orçamentária. VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, geral, bem como administrar rendimentos conforme
quando registrados, terão validade nacional como prova da dispositivos institucionais;
formação recebida por seu titular. IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos
elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições estatutos;
não-universitárias serão registrados em universidades X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. cooperação financeira resultante de convênios com entidades
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por públicas e privadas.
universidades estrangeiras serão revalidados por § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das
universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e
área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
de reciprocidade ou equiparação. disponíveis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
por universidades que possuam cursos de pós-graduação II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada pela
reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e Lei nº 13.490, de 2017)
em nível equivalente ou superior. III - elaboração da programação dos cursos; (Redação dada
pela Lei nº 13.490, de 2017)
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a IV - programação das pesquisas e das atividades de
transferência de alunos regulares, para cursos afins, na extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo. V - contratação e dispensa de professores; (Redação dada
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na pela Lei nº 13.490, de 2017)
forma da lei. VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei nº
13.490, de 2017)
Art. 50. As instituições de educação superior, quando da § 2º As doações, inclusive monetárias, podem ser dirigidas
ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus a setores ou projetos específicos, conforme acordo entre
cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade doadores e universidades. (Incluído pela Lei nº 13.490, de
de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio. 2017)
§ 3º No caso das universidades públicas, os recursos das
Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas doações devem ser dirigidos ao caixa único da instituição, com
como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de destinação garantida às unidades a serem beneficiadas.
seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
desses critérios sobre a orientação do ensino médio,
articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas de Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
ensino. gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para
atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e
Art. 52. As universidades são instituições financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos
pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.
nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições
do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento) asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas
I - produção intelectual institucionalizada mediante o poderão:
estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e administrativo, assim como um plano de cargos e salários,
nacional; atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação disponíveis;
acadêmica de mestrado ou doutorado; II - elaborar o regulamento de seu pessoal em
III - um terço do corpo docente em regime de tempo conformidade com as normas gerais concernentes;
integral. III - aprovar e executar planos, programas e projetos de
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
especializadas por campo do saber. geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
Poder mantenedor;
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas
atribuições: peculiaridades de organização e funcionamento;
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com
programas de educação superior previstos nesta Lei, aprovação do Poder competente, para aquisição de bens
obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do imóveis, instalações e equipamentos;
respectivo sistema de ensino; VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial
observadas as diretrizes gerais pertinentes; necessárias ao seu bom desempenho.
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser
científica, produção artística e atividades de extensão; estendidas a instituições que comprovem alta qualificação
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação
institucional e as exigências do seu meio; realizada pelo Poder Público.
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em
consonância com as normas gerais atinentes; Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e
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APOSTILAS OPÇÃO
desenvolvimento das instituições de educação superior por ela Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
mantidas. estabelecerão critérios de caracterização das instituições
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
Art. 56. As instituições públicas de educação superior exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a financeiro pelo Poder Público.
existência de órgãos colegiados deliberativos, de que Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa
participarão os segmentos da comunidade institucional, local preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com
e regional. deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão habilidades ou superdotação na própria rede pública regular
setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e de ensino, independentemente do apoio às instituições
comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e previstas neste artigo.
modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
de dirigentes. TÍTULO VI
Dos Profissionais da Educação
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o
professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar
aulas. básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido
formados em cursos reconhecidos, são:
CAPÍTULO V I - professores habilitados em nível médio ou superior para
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e
médio;
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos II - trabalhadores em educação portadores de diploma de
desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida pedagogia, com habilitação em administração, planejamento,
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
altas habilidades ou superdotação. III - trabalhadores em educação, portadores de diploma de
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim.
especializado, na escola regular, para atender às IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
peculiaridades da clientela de educação especial. respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das atestados por titulação específica ou prática de ensino em
condições específicas dos alunos, não for possível a sua unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
integração nas classes comuns de ensino regular. corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei
deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao nº 13.415, de 2017)
longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo V - profissionais graduados que tenham feito
único do art. 60 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.632, complementação pedagógica, conforme disposto pelo
de 2018) Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415,
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos de 2017)
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e Parágrafo único. A formação dos profissionais da
altas habilidades ou superdotação: educação, de modo a atender às especificidades do exercício
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes
organização específicos, para atender às suas necessidades; etapas e modalidades da educação básica, terá como
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem fundamentos:
atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, I - a presença de sólida formação básica, que propicie o
em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
menor tempo o programa escolar para os superdotados; competências de trabalho;
III - professores com especialização adequada em nível II - a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
médio ou superior, para atendimento especializado, bem como supervisionados e capacitação em serviço;
professores do ensino regular capacitados para a integração III - o aproveitamento da formação e experiências
desses educandos nas classes comuns; anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação
adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura
no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos plena, admitida, como formação mínima para o exercício do
oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do
habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
psicomotora; modalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais 2017)
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios,
regular. em regime de colaboração, deverão promover a formação
inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro magistério.
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação § 2º A formação continuada e a capacitação dos
matriculados na educação básica e na educação superior, a fim profissionais de magistério poderão utilizar recursos e
de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao tecnologias de educação a distância.
desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado. § 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará
(Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo
uso de recursos e tecnologias de educação a distância.
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§ 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios Art. 65. A formação docente, exceto para a educação
adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas
em cursos de formação de docentes em nível superior para horas.
atuar na educação básica pública. Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
§ 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente
incentivarão a formação de profissionais do magistério para em programas de mestrado e doutorado.
atuar na educação básica pública mediante programa Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por
institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes universidade com curso de doutorado em área afim, poderá
matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena, suprir a exigência de título acadêmico.
nas instituições de educação superior.
§ 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer nota Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização
mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos
médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério
graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho público:
Nacional de Educação - CNE. I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas
§ 7º (Vetado). e títulos;
§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive
terão por referência a Base Nacional Comum com licenciamento periódico remunerado para esse fim;
Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) III - piso salarial profissional;
IV - progressão funcional baseada na titulação ou
Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o habilitação, e na avaliação do desempenho;
inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo incluído na carga de trabalho;
habilitações tecnológicas. VI - condições adequadas de trabalho.
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para § 1º A experiência docente é pré-requisito para o exercício
os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos
em instituições de educação básica e superior, incluindo termos das normas de cada sistema de ensino.
cursos de educação profissional, cursos superiores de § 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no §
graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. 8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas
funções de magistério as exercidas por professores e
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de especialistas em educação no desempenho de atividades
educação básica a cursos superiores de pedagogia e educativas, quando exercidas em estabelecimento de
licenciatura será efetivado por meio de processo seletivo educação básica em seus diversos níveis e modalidades,
diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) incluídas, além do exercício da docência, as de direção de
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput unidade escolar e as de coordenação e assessoramento
deste artigo os professores das redes públicas municipais, pedagógico.
estaduais e federal que ingressaram por concurso público, § 3º A União prestará assistência técnica aos Estados, ao
tenham pelo menos três anos de exercício da profissão e não Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos
sejam portadores de diploma de graduação. (Incluído pela Lei públicos para provimento de cargos dos profissionais da
nº 13.478, de 2017) educação.
§ 2º As instituições de ensino responsáveis pela oferta de
cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão critérios TÍTULO VII
adicionais de seleção sempre que acorrerem aos certames Dos Recursos financeiros
interessados em número superior ao de vagas disponíveis
para os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº 13.478, de Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os
2017) originários de:
§ 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do
definidos em regulamento pelas universidades, terão Distrito Federal e dos Municípios;
prioridade de ingresso os professores que optarem por cursos II - receita de transferências constitucionais e outras
de licenciatura em matemática, física, química, biologia e transferências;
língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) III - receita do salário-educação e de outras contribuições
sociais;
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: IV - receita de incentivos fiscais;
I - cursos formadores de profissionais para a educação V - outros recursos previstos em lei.
básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
formação de docentes para a educação infantil e para as Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
primeiras séries do ensino fundamental; dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte
II - programas de formação pedagógica para portadores de e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas
diplomas de educação superior que queiram se dedicar à Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de
educação básica; impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na
III - programas de educação continuada para os manutenção e desenvolvimento do ensino público.
profissionais de educação dos diversos níveis. § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou
Art. 64. A formação de profissionais de educação para pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
administração, planejamento, inspeção, supervisão e considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
orientação educacional para a educação básica, será feita em receita do governo que a transferir.
cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos
graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta mencionadas neste artigo as operações de crédito por
formação, a base comum nacional. antecipação de receita orçamentária de impostos.
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§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão,
mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos,
estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição
caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais, Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
com base no eventual excesso de arrecadação. Transitórias e na legislação concernente.
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as
efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito
percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de
a cada trimestre do exercício financeiro. oportunidades educacionais para o ensino fundamental,
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios assegurar ensino de qualidade.
ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação, Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo
observados os seguintes prazos: será calculado pela União ao final de cada ano, com validade
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada para o ano subsequente, considerando variações regionais no
mês, até o vigésimo dia; custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino.
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo
dia de cada mês, até o trigésimo dia; Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente,
de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente. as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção qualidade de ensino.
monetária e à responsabilização civil e criminal das § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula
autoridades competentes. de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e
a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e Federal ou do Município em favor da manutenção e do
desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas desenvolvimento do ensino.
à consecução dos objetivos básicos das instituições § 2º A capacidade de atendimento de cada governo será
educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se definida pela razão entre os recursos de uso
destinam a: constitucionalmente obrigatório na manutenção e
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo
demais profissionais da educação; ao padrão mínimo de qualidade.
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a
instalações e equipamentos necessários ao ensino; União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada
III - uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos
ensino; que efetivamente frequentam a escola.
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
expansão do ensino; Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua
V - realização de atividades-meio necessárias ao responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V
funcionamento dos sistemas de ensino; do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas atendimento.
públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos
VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei,
de programas de transporte escolar. sem prejuízo de outras prescrições legais.
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de confessionais ou filantrópicas que:
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam
não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela
ou à sua expansão; de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
caráter assistencial, desportivo ou cultural; III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
III - formação de quadros especiais para a administração escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; Público, no caso de encerramento de suas atividades;
IV - programas suplementares de alimentação, assistência IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos
médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras recebidos.
formas de assistência social; § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos,
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede
quando em desvio de função ou em atividade alheia à pública de domicílio do educando, ficando o Poder Público
manutenção e desenvolvimento do ensino. obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua rede
local.
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se mediante bolsas de estudo.
refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
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às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir 02. (Prefeitura Municipal de Alumínio/SP - Auxiliar de
da data de sua publicação. Desenvolvimento Infantil - VUNESP) A Lei Federal nº 9.394,
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos de 20.12.1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos Nacional), introduziu uma série de inovações em relação à
respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes Educação Básica, dentre as quais,
estabelecidos. (A) a construção de identidade das creches e pré-escolas
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o com base nas diferenciações em relação à classe social das
disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. crianças.
(B) o atendimento obrigatório e gratuito no ensino
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham fundamental e gratuidade extensiva apenas à Educação
a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da Infantil das crianças a partir dos 4 anos de idade.
publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de (C) o atendimento em creches e pré-escolas pelos órgãos
ensino. de assistência social, prioritariamente.
(D) o entendimento da creche e pré-escola como um favor
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime aos socialmente menos favorecidos.
anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo (E) a integração das creches nos sistemas de ensino,
Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da
pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a Educação Básica.
autonomia universitária. 03. (TJ/GO - Analista Judiciário - Pedagogia - FGV) A
educação escolar, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, é dever da família
e do Estado.
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de Cabe ao Estado garantir, a partir da nova redação do Art.
20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, 4º da LDB instituída pela Lei nº 12.796, de 2013:
não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de 1995 (A) educação básica obrigatória e gratuita dos seis aos
e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, quatorze anos de idade;
de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e (B) educação infantil e ensino fundamental obrigatórios e
as demais leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer gratuitos;
outras disposições em contrário. (C) ensino fundamental e ensino médio obrigatórios e
gratuitos;
Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º da Independência e (D) educação básica obrigatória e gratuita a todos que
108º da República. desejarem cursá-la;
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (E) educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos
Paulo Renato Souza dezessete anos de idade.
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IV - o estabelecimento de uma relação efetiva com a da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da
comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão criança;
democrática e a consideração dos saberes da comunidade; II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes
V - o reconhecimento das especificidades etárias, das linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros
singularidades individuais e coletivas das crianças, e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e
promovendo interações entre crianças de mesma idade e musical;
crianças de diferentes idades; III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de
VI - os deslocamentos e os movimentos amplos das apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e
crianças nos espaços internos e externos às salas de referência convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e
das turmas e à instituição; escritos;
VII - a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, IV - recriem, em contextos significativos para as crianças,
brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço
transtornos globais de desenvolvimento e altas temporais;
habilidades/superdotação; V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas
VIII - a apropriação pelas crianças das contribuições atividades individuais e coletivas;
histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas
asiáticos, europeus e de outros países da América; para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de
IX - o reconhecimento, a valorização, o respeito e a cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
interação das crianças com as histórias e as culturas africanas, VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras
afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de
discriminação; referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da
X - a dignidade da criança como pessoa humana e a diversidade;
proteção contra qualquer forma de violência - física ou VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o
simbólica - e negligência no interior da instituição ou encantamento, o questionamento, a indagação e o
praticadas pela família, prevendo os encaminhamentos de conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e
violações para instâncias competentes. social, ao tempo e à natureza;
§ 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na escolha IX - promovam o relacionamento e a interação das crianças
dos modos de educação de suas crianças de 0 a 5 anos de idade, com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e
as propostas pedagógicas para os povos que optarem pela gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;
Educação Infantil devem: X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o
I - proporcionar uma relação viva com os conhecimentos, conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida
crenças, valores, concepções de mundo e as memórias de seu na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais;
povo; XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças
II - reafirmar a identidade étnica e a língua materna como das manifestações e tradições culturais brasileiras;
elementos de constituição das crianças; XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores,
III - dar continuidade à educação tradicional oferecida na computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos
família e articular-se às práticas socioculturais de educação e tecnológicos e midiáticos.
cuidado coletivos da comunidade; Parágrafo único - As creches e pré-escolas, na elaboração
IV - adequar calendário, agrupamentos etários e da proposta curricular, de acordo com suas características,
organização de tempos, atividades e ambientes de modo a identidade institucional, escolhas coletivas e particularidades
atender as demandas de cada povo indígena. pedagógicas, estabelecerão modos de integração dessas
§ 3º - As propostas pedagógicas da Educação Infantil das experiências.
crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas,
pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar
da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da floresta, procedimentos para acompanhamento do trabalho
devem: pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças,
I - reconhecer os modos próprios de vida no campo como sem objetivo de seleção, promoção ou classificação,
fundamentais para a constituição da identidade das crianças garantindo:
moradoras em territórios rurais; I - a observação crítica e criativa das atividades, das
II - ter vinculação inerente à realidade dessas populações, brincadeiras e interações das crianças no cotidiano;
suas culturas, tradições e identidades, assim como a práticas II - utilização de múltiplos registros realizados por adultos
ambientalmente sustentáveis; e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.);
III - flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e III - a continuidade dos processos de aprendizagens por
atividades respeitando as diferenças quanto à atividade meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes
econômica dessas populações; momentos de transição vividos pela criança (transição
IV - valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da
populações na produção de conhecimentos sobre o mundo e instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-
sobre o ambiente natural; escola/Ensino Fundamental);
V - prever a oferta de brinquedos e equipamentos que IV - documentação específica que permita às famílias
respeitem as características ambientais e socioculturais da conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os
comunidade. processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na
Educação Infantil;
Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a proposta V - a não retenção das crianças na Educação Infantil.
curricular da Educação
Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a
a brincadeira, garantindo experiências que: proposta pedagógica deve prever formas para garantir a
I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio continuidade no processo de aprendizagem e
da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, desenvolvimento das crianças, respeitando as especificidades
corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão etárias, sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados
no Ensino Fundamental.
Legislação 51
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Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar (B) assumir a responsabilidade de compartilhar e
orientações para a implementação dessas Diretrizes. complementar a educação e o cuidado das crianças com as
famílias.
Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data de (C) possibilitar tanto a convivência entre crianças e entre
sua publicação, revogando-se as disposições em contrário, adultos e crianças quanto à ampliação de saberes e
especialmente a Resolução CNE/CEB nº 1/99. conhecimentos de diferentes naturezas.
(D) promover o treinamento necessário para garantir a
CESAR CALLEGARI prontidão da alfabetização e introduzir a criança na rotina
. escolar, que é diferente da doméstica, quer em termos de
Questões convivências ou de atividades. A educação infantil é a pré-
escolarização da criança.
01. (Prefeitura de Foz de Iguaçu/PR - Agente de Apoio (E) construir novas formas de sociabilidade e de
- FUNDATEC) De acordo com a Resolução nº 5/2009, as subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia,
propostas pedagógicas das instituições de educação infantil a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações
deverão prever condições para o trabalho coletivo e para a de dominação etária, socioeconômica, étnico racial, gênero,
organização de materiais, espaços e tempos que assegurem: regional, linguística e religiosa.
I. A educação em sua integralidade, entendendo o cuidado
como algo indissociável ao processo educativo. 05. (SESC/PE - Professor I - UPENET/IAUPE) Quanto à
II. A participação, o diálogo e a escuta cotidiana das jornada escolar na Educação Infantil, conforme as Diretrizes
famílias, o respeito e a valorização de suas formas de Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), é
organização. considerada:
III. Os deslocamentos e os movimentos amplos das (A) em tempo integral, a jornada com duração igual ou
crianças nos espaços internos e externos às salas de referência superior a oito horas diárias, compreendendo o tempo total
das turmas e à instituição. que a criança permanece na instituição.
IV. O estabelecimento de uma relação efetiva com a (B) em tempo parcial, a jornada de, no mínimo, cinco horas
comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão diárias, compreendendo o tempo total que a criança
democrática e a consideração dos saberes da comunidade. permanece na instituição.
Quais estão corretas? (C) em tempo parcial, a jornada de, no mínimo, quatro
(A) Apenas II. horas diárias e, em tempo integral, a jornada com duração
(B) Apenas I e III. igual ou superior a oito horas diárias, compreendendo o tempo
(C) Apenas II e IV. total que a criança permanece na instituição.
(D) Apenas I, III e IV. (D) em tempo parcial, a jornada de, no mínimo, quatro
(E) I, II, III e IV. horas diárias e, em tempo integral, a jornada com duração
igual ou superior a sete horas diárias, compreendendo o tempo
02. (Prefeitura de Salesópolis/SP - Professor de Ensino total que a criança permanece na instituição.
Infantil - INTEGRI) De acordo com os Parâmetros Nacionais (E) em tempo parcial, a jornada de, no mínimo, três horas
de Qualidade para a Educação Infantil vol II, as propostas diárias e, em tempo integral, a jornada com duração igual ou
pedagógicas das instituições de Educação Infantil contemplam superior a sete horas diárias, compreendendo o tempo total
princípios: que a criança permanece na instituição.
(A) morais, políticos e estéticos.
(B) éticos, formativos e morais. Gabarito
(C) éticos, políticos e estéticos.
(D) morais, formativos e estéticos. 01.E / 02.C / 03.A / 04.D / 05.D
5http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/pceb020_09.pdf
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tempo, uma política caracterizada pela ausência de junto às crianças, ou seja, às questões de orientação curricular.
investimento público e pela não profissionalização da área. Também a tramitação no Congresso Nacional da proposta de
Em sintonia com os movimentos nacionais e Emenda Constitucional que, dentre outros pontos, amplia a
internacionais, um novo paradigma do atendimento à infância obrigatoriedade na Educação Básica, reforça a exigência de
- iniciado em 1959 com a Declaração Universal dos Direitos da novos marcos normativos na Educação Infantil.
Criança e do Adolescente e instituído no país pelo artigo 227 Respondendo a estas preocupações, a Coordenadoria de
da Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e Educação Infantil do MEC estabeleceu, com a Universidade
do Adolescente (Lei 8.069/90) - tornou-se referência para os Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), convênio de
movimentos sociais de “luta por creche” e orientou a transição cooperação técnica na articulação de um processo nacional de
do entendimento da creche e pré-escola como um favor aos estudos e debates sobre o currículo da Educação Infantil, que
socialmente menos favorecidos para a compreensão desses produziu uma série de documentos, dentre eles “Práticas
espaços como um direito de todas as crianças à educação, cotidianas na
independentemente de seu grupo social. Educação Infantil: bases para a reflexão sobre as
O atendimento em creches e pré-escolas como um direito orientações curriculares” (MEC/COEDI, 2009a). Esse processo
social das crianças se concretiza na Constituição de 1988, com serviu de base para a elaboração de “Subsídios para as
o reconhecimento da Educação Infantil como dever do Estado Diretrizes Curriculares Nacionais Específicas da Educação
com a Educação, processo que teve ampla participação dos Básica” (MEC, 2009b), texto encaminhado a este colegiado
movimentos comunitários, dos movimentos de mulheres, dos pelo Senhor Ministro de Estado da Educação.
movimentos de redemocratização do país, além, A proposta do MEC foi apresentada pela professora Maria
evidentemente, das lutas dos próprios profissionais da do Pilar Lacerda Almeida e Silva, Secretária de Educação
educação. A partir desse novo ordenamento legal, creches e Básica do MEC, na reunião ordinária do mês de julho do
pré-escolas passaram a construir nova identidade na busca de corrente ano da Câmara de Educação Básica, ocasião em que
superação de posições antagônicas e fragmentadas, sejam elas foi designada a comissão que se encarregaria de elaborar nova
assistencialistas ou pautadas em uma perspectiva Diretriz Curricular Nacional para a Educação Infantil,
preparatória a etapas posteriores de escolarização. presidida pelo Conselheiro Cesar Callegari, tendo o
A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Conselheiro Raimundo Moacir Mendes Feitosa como relator
Nacional), regulamentando esse ordenamento, introduziu (Portaria CNE/CEB nº 3/2009).
uma série de inovações em relação à Educação Básica, dentre Em 5 de agosto, com a participação de representantes das
as quais, a integração das creches nos sistemas de ensino entidades nacionais UNDIME, ANPED, CNTE, Fórum Nacional
compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da de Conselhos Estaduais de Educação, MIEIB (Movimento
Educação Básica. Essa lei evidencia o estímulo à autonomia das Interfóruns de Educação Infantil do Brasil), da
unidades educacionais na organização flexível de seu currículo SEB/SECAD/MEC e de especialistas da área de Educação
e a pluralidade de métodos pedagógicos, desde que assegurem Infantil, Maria Carmem Barbosa (coordenadora do Projeto
aprendizagem, e reafirmou os artigos da Constituição Federal MECUFRGS/2008), Sonia Kramer (consultora do MEC
acerca do atendimento gratuito em creches e pré-escolas. responsável pela organização do documento de referência),
Neste mesmo sentido deve-se fazer referência ao Plano Fulvia Rosemberg (da Fundação Carlos Chagas), Ana Paula
Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, que Soares Silva (FFCLRP-USP) e Zilma de Moraes Ramos de
estabeleceu metas decenais para que no final do período de Oliveira (FFCLRP-USP), o relator da Comissão apresentou um
sua vigência, 2011, a oferta da Educação Infantil alcance a 50% texto-síntese dos pontos básicos que seriam levados como
das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos, metas que indicações para o debate em audiências públicas nacionais
ainda persistem como um grande desafio a ser enfrentado pelo promovidas pela Câmara de Educação Básica do CNE,
país. realizadas em São Luis do Maranhão, Brasília e São Paulo.
Frente a todas essas transformações, a Educação Infantil Este parecer incorpora as contribuições apresentadas,
vive um intenso processo de revisão de concepções sobre a nestas audiências e em debates e reuniões regionais
educação de crianças em espaços coletivos, e de seleção e (encontros da UNDIME - Região Norte e do MIEIB em
fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras de Santarém, PA, ocorrido em agosto de 2009; o debate na ANPED
aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Em ocorrido em outubro de 2009), por grupos de pesquisa e
especial, têm se mostrado prioritárias as discussões sobre pesquisadores, conselheiros tutelares, Ministério Público,
como orientar o trabalho junto às crianças de até três anos em sindicatos, secretários e conselheiros municipais de educação,
creches e como garantir práticas junto às crianças de quatro e entidades não governamentais e movimentos sociais. Foram
cinco anos que se articulem, mas não antecipem processos do consideradas também as contribuições enviadas por
Ensino Fundamental. entidades e grupos como: OMEP; NDI-UFSC; Fórum de
Nesse contexto, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil do Pará (FEIPA); Fórum Amazonense de
Educação Infantil elaboradas anteriormente por este Conselho Educação Infantil (FAMEI); Fórum Permanente de Educação
(Resolução CNE/CEB nº 1/99 e Parecer CNE/CEB nº 22/98) Infantil do Tocantins (FEITO); Fórum de Educação Infantil do
foram fundamentais para explicitar princípios e orientações Amapá; Fórum de Educação Infantil de Santa Catarina
para os sistemas de ensino na organização, articulação, (contemplando também manifestações dos municípios de
desenvolvimento e avaliação de propostas pedagógicas. Jaguaré, Cachoeiro e Vitória); Fórum Paulista de Educação
Embora os princípios colocados não tenham perdido a Infantil; Fórum Gaúcho de Educação Infantil; GT de Educação
validade, ao contrário, continuam cada vez mais necessários, Infantil da UNDIME; CEERT; GT 21 da ANPEd (Educação das
outras questões diminuíram seu espaço no debate atual e Relações Étnico-Raciais); grupo de estudos em Educação
novos desafios foram colocados para a Educação Infantil, Infantil do Centro de Educação da UFAL conjuntamente com
exigindo a reformulação e atualização dessas Diretrizes. equipe técnica das Secretarias de Educação do Município de
A ampliação das matrículas, a regularização do Maceió e do Estado de Alagoas; alunos do curso de Pedagogia
funcionamento das instituições, a diminuição no número de da UFMS; CINDEDI-USP; representantes do Setor de Educação
docentes não-habilitados na Educação Infantil e o aumento da do MST São Paulo; técnicos da Coordenadoria de Creches da
pressão pelo atendimento colocam novas demandas para a USP; participantes de evento da Secretaria de Educação,
política de Educação Infantil, pautando questões que dizem Esporte e Lazer de Recife e do Seminário Educação Ambiental
respeito às propostas pedagógicas, aos saberes e fazeres dos e Educação Infantil em Brasília. Ainda pesquisadores das
professores, às práticas e projetos cotidianos desenvolvidos seguintes Universidades e Instituições de Pesquisa fizeram
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considerações ao longo desse processo: FEUSP; FFCLRP-USP; finais de semana e em períodos esporádicos. Contudo, esse
Fundação Carlos Chagas; Centro Universitário Claretiano tipo de atendimento, que responde a uma demanda legítima da
Batatais; PUC-RIO; UNIRIO; UNICAMP; UFC; UFPA; UFRJ; UERJ; população, enquadra-se no âmbito de “políticas para a
UFPR; UNEMAT; UFMG; UFRGS; UFSC; UFRN; UFMS; UFAL, Infância”, devendo ser financiado, orientado e supervisionado
UFMA, UEMA, UFPE. por outras áreas, como assistência social, saúde, cultura,
esportes, proteção social. O sistema de ensino define e orienta,
2. Mérito com base em critérios pedagógicos, o calendário, horários e as
demais condições para o funcionamento das creches e pré-
A revisão e atualização das Diretrizes Curriculares escolas, o que não elimina o estabelecimento de mecanismos
Nacionais para a Educação Infantil é essencial para incorporar para a necessária articulação que deve haver entre a Educação
os avanços presentes na política, na produção científica e nos e outras áreas, como a Saúde e a Assistência, a fim de que se
movimentos sociais na área. Elas podem se constituir em cumpra, do ponto de vista da organização dos serviços nessas
instrumento estratégico na consolidação do que se entende instituições, o atendimento às demandas das crianças. Essa
por uma Educação Infantil de qualidade, “ao estimular o articulação, se necessária para outros níveis de ensino, na
diálogo entre os elementos culturais de grupos marginalizados Educação Infantil, em função das características das crianças
e a ciência, a tecnologia e a cultura dominantes, articulando de zero a cinco anos de idade, se faz muitas vezes
necessidades locais e a ordem global, chamando a atenção para imprescindível.
uma maior sensibilidade para o diverso e o plural, entre o As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em
relativismo e o universalismo” (MEC, 2009b). estabelecimentos educacionais públicos ou privados que
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade por
Infantil, de caráter mandatório, orientam a formulação de meio de profissionais com a formação específica legalmente
políticas, incluindo a de formação de professores e demais determinada, a habilitação para o magistério superior ou
profissionais da Educação, e também o planejamento, médio, refutando assim funções de caráter meramente
desenvolvimento e avaliação pelas unidades de seu Projeto assistencialista, embora mantenha a obrigação de assistir às
Político-Pedagógico e servem para informar as famílias das necessidades básicas de todas as crianças.
crianças matriculadas na Educação Infantil sobre as As instituições de Educação Infantil estão submetidas aos
perspectivas de trabalho pedagógico que podem ocorrer. mecanismos de credenciamento, reconhecimento e supervisão
do sistema de ensino em que se acham integradas (Lei nº
3. A identidade do atendimento na Educação Infantil 9.394/96, art. 9º, inciso IX, art.10, inciso IV e art.11, inciso IV),
assim como a controle social. Sua forma de organização é
Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira variada, podendo constituir unidade independente ou integrar
etapa da Educação Básica e tem como finalidade o instituição que cuida da Educação Básica, atender faixas
desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de etárias diversas nos termos da Lei nº 9.394/96, em jornada
idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e integral de, no mínimo, 7 horas diárias, ou parcial de, no
social, complementando a ação da família e da comunidade mínimo, 4 horas, seguindo o proposto na Lei nº 11.494/2007
(Lei nº 9.394/96, art. 29). (FUNDEB), sempre no período diurno, devendo o poder
O atendimento em creche e pré-escola a crianças de zero a público oferecer vagas próximo à residência das crianças (Lei
cinco anos de idade é definido na Constituição Federal de 1988 nº 8.069/90, art. 53). Independentemente das nomenclaturas
como dever do Estado em relação à educação, oferecido em diversas que adotam (Centros de Educação Infantil, Escolas de
regime de colaboração e organizado em sistemas de ensino da Educação Infantil, Núcleo Integrado de Educação Infantil,
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Unidade de Educação Infantil, ou nomes fantasia), a estrutura
incorporação das creches e pré-escolas no capítulo da e funcionamento do atendimento deve garantir que essas
Educação na Constituição Federal (art. 208, inciso IV) impacta unidades sejam espaço de educação coletiva.
todas as outras responsabilidades do Estado em relação à Uma vez que o Ensino Fundamental de nove anos de
Educação Infantil, ou seja, o direito das crianças de zero a cinco duração passou a incluir a educação das crianças a partir de
anos de idade à matrícula em escola pública (art. 205), gratuita seis anos de idade, e considerando que as que completam essa
e de qualidade (art. 206, incisos IV e VI), igualdade de idade fora do limite de corte estabelecido por seu sistema de
condições em relação às demais crianças para acesso, ensino para inclusão no Ensino Fundamental necessitam que
permanência e pleno aproveitamento das oportunidades de seu direito à educação seja garantido, cabe aos sistemas de
aprendizagem propiciadas (art. 206, inciso I). ensino o atendimento a essas crianças na pré-escola até o seu
Na continuidade dessa definição, a Lei de Diretrizes e ingresso, no ano seguinte, no Ensino Fundamental.
Bases da Educação Nacional afirma que “a educação abrange
os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, 4. A função sociopolítica e pedagógica da Educação
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino Infantil
e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais” (Lei nº Delineada essa apresentação da estrutura legal e
9.394/96, art. 1º), mas esclarece que: “Esta Lei disciplina a institucional da Educação Infantil, faz-se necessário refletir
educação escolar que se desenvolve, predominantemente, por sobre sua função sociopolítica e pedagógica, como base de
meio do ensino, em instituições próprias” (Lei nº 9.394/96, apoio das propostas pedagógica e curricular das instituições.
art. 1º, § 1º). Em função disto, tudo o que nela se baseia e que Considera a Lei nº 9.394/96 em seu artigo 22 que a
dela decorre, como autorização de funcionamento, condições Educação Infantil é parte integrante da Educação Básica, cujas
de financiamento e outros aspectos, referem-se a esse caráter finalidades são desenvolver o educando, assegurar-lhe a
institucional da educação. formação comum indispensável para o exercício da cidadania
Fica assim evidente que, no atual ordenamento jurídico, as e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
creches e pré-escolas ocupam um lugar bastante claro e posteriores. Essa dimensão de instituição voltada à introdução
possuem um caráter institucional e educacional diverso das crianças na cultura e à apropriação por elas de
daquele dos contextos domésticos, dos ditos programas conhecimentos básicos requer tanto seu acolhimento quanto
alternativos à educação das crianças de zero a cinco anos de sua adequada interpretação em relação às crianças pequenas.
idade, ou da educação não-formal. Muitas famílias necessitam O paradigma do desenvolvimento integral da criança a ser
de atendimento para suas crianças em horário noturno, em necessariamente compartilhado com a família, adotado no
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artigo 29 daquela lei, dimensiona aquelas finalidades na Educação Infantil ao sistema educacional impõe à Educação
consideração das formas como as crianças, nesse momento de Infantil trabalhar com esses conceitos, diferenciando-os e
suas vidas, vivenciam o mundo, constroem conhecimentos, articulando-os.
expressam-se, interagem e manifestam desejos e curiosidades A proposta pedagógica, ou projeto pedagógico, é o plano
de modo bastante peculiares. orientador das ações da instituição e define as metas que se
A função das instituições de Educação Infantil, a exemplo pretende para o desenvolvimento dos meninos e meninas que
de todas as instituições nacionais e principalmente, como o nela são educados e cuidados, as aprendizagens que se quer
primeiro espaço de educação coletiva fora do contexto promovidas. Na sua execução, a instituição de Educação
familiar, ainda se inscreve no projeto de sociedade Infantil organiza seu currículo, que pode ser entendido como
democrática desenhado na Constituição Federal de 1988 (art. as práticas educacionais organizadas em torno do
3º, inciso I), com responsabilidades no desempenho de um conhecimento e em meio às relações sociais que se travam nos
papel ativo na construção de uma sociedade livre, justa, espaços institucionais, e que afetam a construção das
solidária e socioambientalmente orientada. identidades das crianças. Por expressar o projeto pedagógico
A redução das desigualdades sociais e regionais e a da instituição em que se desenvolve, englobando as
promoção do bem de todos (art. 3º, incisos II e IV da experiências vivenciadas pela criança, o currículo se constitui
Constituição Federal) são compromissos a serem perseguidos um instrumento político, cultural e científico coletivamente
pelos sistemas de ensino e pelos professores também na formulado (MEC, 2009b).
Educação Infantil. É bastante conhecida no país a desigualdade O currículo da Educação Infantil é concebido como um
de acesso às creches e pré-escolas entre as crianças brancas e conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os
negras, moradoras do meio urbano e rural, das regiões saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte
sul/sudeste e norte/nordeste e, principalmente, ricas e do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. Tais
pobres. Além das desigualdades de acesso, também as práticas são efetivadas por meio de relações sociais que as
condições desiguais da qualidade da educação oferecida às crianças desde bem pequenas estabelecem com os professores
crianças configuram-se em violações de direitos e as outras crianças, e afetam a construção de suas identidades.
constitucionais das mesmas e caracterizam esses espaços Intencionalmente planejadas e permanentemente
como instrumentos que, ao invés de promover a equidade, avaliadas, as práticas que estruturam o cotidiano das
alimentam e reforçam as desigualdades socioeconômicas, instituições de Educação Infantil devem considerar a
étnico-raciais e regionais. Em decorrência disso, os objetivos integralidade e indivisibilidade das dimensões expressivo-
fundamentais da República serão efetivados no âmbito da motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e
Educação Infantil se as creches e pré-escolas cumprirem sociocultural das crianças, apontar as experiências de
plenamente sua função sociopolítica e pedagógica. aprendizagem que se espera promover junto às crianças e
Cumprir tal função significa, em primeiro lugar, que o efetivar-se por meio de modalidades que assegurem as metas
Estado necessita assumir sua responsabilidade na educação educacionais de seu projeto pedagógico.
coletiva das crianças, complementando a ação das famílias. Em A gestão democrática da proposta curricular deve contar
segundo lugar, creches e pré-escolas constituem-se em na sua elaboração, acompanhamento e avaliação tendo em
estratégia de promoção de igualdade de oportunidades entre vista o Projeto Político-Pedagógico da unidade educacional,
homens e mulheres, uma vez que permitem às mulheres sua com a participação coletiva de professoras e professores,
realização para além do contexto doméstico. Em terceiro lugar, demais profissionais da instituição, famílias, comunidade e das
cumprir função sociopolítica e pedagógica das creches e pré- crianças, sempre que possível e à sua maneira.
escolas implica assumir a responsabilidade de torná-las
espaços privilegiados de convivência, de construção de 6. A visão de criança: o sujeito do processo de educação
identidades coletivas e de ampliação de saberes e
conhecimentos de diferentes naturezas, por meio de práticas A criança, centro do planejamento curricular, é sujeito
que atuam como recursos de promoção da equidade de histórico e de direitos que se desenvolve nas interações,
oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela
classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos
possibilidades de vivência da infância. Em quarto lugar, grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas
cumprir função sociopolítica e pedagógica requer oferecer as condições ela faz amizades, brinca com água ou terra, faz-de-
melhores condições e recursos construídos histórica e conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta,
culturalmente para que as crianças usufruam de seus direitos questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades
civis, humanos e sociais e possam se manifestar e ver essas pessoal e coletiva, produzindo cultura.
manifestações acolhidas, na condição de sujeito de direitos e O conhecimento científico hoje disponível autoriza a visão
de desejos. Significa, finalmente, considerar as creches e pré- de que desde o nascimento a criança busca atribuir significado
escolas na produção de novas formas de sociabilidade e de a sua experiência e nesse processo volta-se para conhecer o
subjetividades comprometidas com a democracia e a mundo material e social, ampliando gradativamente o campo
cidadania, com a dignidade da pessoa humana, com o de sua curiosidade e inquietações, mediada pelas orientações,
reconhecimento da necessidade de defesa do meio ambiente e materiais, espaços e tempos que organizam as situações de
com o rompimento de relações de dominação etária, aprendizagem e pelas explicações e significados a que ela tem
socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística acesso.
e religiosa que ainda marcam nossa sociedade. O período de vida atendido pela Educação Infantil
caracteriza-se por marcantes aquisições: a marcha, a fala, o
5. Uma definição de currículo controle esfincteriano, a formação da imaginação e da
capacidade de fazer de conta e de representar usando
O currículo na Educação Infantil tem sido um campo de diferentes linguagens. Embora nessas aquisições a dimensão
controvérsias e de diferentes visões de criança, de família, e de orgânica da criança se faça presente, suas capacidades para
funções da creche e da pré-escola. No Brasil nem sempre foi discriminar cores, memorizar poemas, representar uma
aceita a ideia de haver um currículo para a Educação Infantil, paisagem através de um desenho, consolar uma criança que
termo em geral associado à escolarização tal como vivida no chora etc., não são constituições universais biologicamente
Ensino Fundamental e Médio, sendo preferidas as expressões determinadas e esperando o momento de amadurecer. Elas
‘projeto pedagógico’ ou ‘proposta pedagógica’. A integração da são histórica e culturalmente produzidas nas relações que
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estabelecem com o mundo material e social mediadas por crianças oportunidades para ampliarem as possibilidades de
parceiros mais experientes. aprendizado e de compreensão de mundo e de si próprio
Assim, a motricidade, a linguagem, o pensamento, a trazidas por diferentes tradições culturais e a construir
afetividade e a sociabilidade são aspectos integrados e se atitudes de respeito e solidariedade, fortalecendo a autoestima
desenvolvem a partir das interações que, desde o nascimento, e os vínculos afetivos de todas as crianças.
a criança estabelece com diferentes parceiros, a depender da Desde muito pequenas, as crianças devem ser mediadas na
maneira como sua capacidade para construir conhecimento é construção de uma visão de mundo e de conhecimento como
possibilitada e trabalhada nas situações em que ela participa. elementos plurais, formar atitudes de solidariedade e
Isso por que, na realização de tarefas diversas, na companhia aprender a identificar e combater preconceitos que incidem
de adultos e de outras crianças, no confronto dos gestos, das sobre as diferentes formas dos seres humanos se constituírem
falas, enfim, das ações desses parceiros, cada criança modifica enquanto pessoas. Poderão assim questionar e romper com
sua forma de agir, sentir e pensar. formas de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de
Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de gênero, regional, linguística e religiosa, existentes em nossa
colocar-se nos relacionamentos e nas interações, de sociedade e recriadas na relação dos adultos com as crianças e
manifestar emoções e curiosidade, e elabora um modo próprio entre elas. Com isso elas podem e devem aprender sobre o
de agir nas diversas situações que vivencia desde o nascimento valor de cada pessoa e dos diferentes grupos culturais,
conforme experimenta sensações de desconforto ou de adquirir valores como os da inviolabilidade da vida humana, a
incerteza diante de aspectos novos que lhe geram liberdade e a integridade individuais, a igualdade de direitos
necessidades e desejos, e lhe exigem novas respostas. Assim de todas as pessoas, a igualdade entre homens e mulheres,
busca compreender o mundo e a si mesma, testando de alguma assim como a solidariedade com grupos enfraquecidos e
forma as significações que constrói, modificando-as vulneráveis política e economicamente. Essa valorização
continuamente em cada interação, seja com outro ser humano, também se estende à relação com a natureza e os espaços
seja com objetos. públicos, o respeito a todas as formas de vida, o cuidado de
Uma atividade muito importante para a criança pequena é seres vivos e a preservação dos recursos naturais.
a brincadeira. Brincar dá à criança oportunidade para imitar o
conhecido e para construir o novo, conforme ela reconstrói o b) Princípios políticos: dos direitos de cidadania, do
cenário necessário para que sua fantasia se aproxime ou se exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática.
distancie da realidade vivida, assumindo personagens e A Educação Infantil deve trilhar o caminho de educar para
transformando objetos pelo uso que deles faz. a cidadania, analisando se suas práticas educativas de fato
Na história cotidiana das interações com diferentes promovem a formação participativa e crítica das crianças e
parceiros, vão sendo construídas significações criam contextos que lhes permitem a expressão de
compartilhadas, a partir das quais a criança aprende como agir sentimentos, ideias, questionamentos, comprometidos com a
ou resistir aos valores e normas da cultura de seu ambiente. busca do bem estar coletivo e individual, com a preocupação
Nesse processo é preciso considerar que as crianças aprendem com o outro e com a coletividade.
coisas que lhes são muito significativas quando interagem com Como parte da formação para a cidadania e diante da
companheiros da infância, e que são diversas das coisas que concepção da Educação Infantil como um direito, é necessário
elas se apropriam no contato com os adultos ou com crianças garantir uma experiência bem sucedida de aprendizagem a
já mais velhas. Além disso, à medida que o grupo de crianças todas as crianças, sem discriminação. Isso requer
interage, são construídas as culturas infantis. proporcionar oportunidades para o alcance de conhecimentos
Também as professoras e os professores têm, na básicos que são considerados aquisições valiosas para elas.
experiência conjunta com as crianças, excelente oportunidade A educação para a cidadania se volta para ajudar a criança
de se desenvolverem como pessoa e como profissional. a tomar a perspectiva do outro - da mãe, do pai, do professor,
Atividades realizadas pela professora ou professor de brincar de outra criança, e também de quem vai mudar-se para longe,
com a criança, contar-lhe histórias, ou conversar com ela sobre de quem tem o pai doente. O importante é que se criem
uma infinidade de temas, tanto promovem o desenvolvimento condições para que a criança aprenda a opinar e a considerar
da capacidade infantil de conhecer o mundo e a si mesmo, de os sentimentos e a opinião dos outros sobre um
sua autoconfiança e a formação de motivos e interesses acontecimento, uma reação afetiva, uma ideia, um conflito.
pessoais, quanto ampliam as possibilidades da professora ou
professor de compreender e responder às iniciativas infantis. c) Princípios estéticos: valorização da sensibilidade, da
criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifestações
7. Princípios básicos artísticas e culturais.
O trabalho pedagógico na unidade de Educação Infantil, em
Os princípios fundamentais nas Diretrizes anteriormente um mundo em que a reprodução em massa sufoca o olhar das
estabelecidas (Resolução CNE/CEB nº 1/99 e Parecer pessoas e apaga singularidades, deve voltar-se para uma
CNE/CEB nº 22/98) continuam atuais e estarão presentes sensibilidade que valoriza o ato criador e a construção pelas
nestas diretrizes com a explicitação de alguns pontos que mais crianças de respostas singulares, garantindo-lhes a
recentemente têm se destacado nas discussões da área. São participação em diversificadas experiências.
eles: As instituições de Educação Infantil precisam organizar
um cotidiano de situações agradáveis, estimulantes, que
a) Princípios éticos: valorização da autonomia, da desafiem o que cada criança e seu grupo de crianças já sabem
responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem sem ameaçar sua autoestima nem promover competitividade,
comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades ampliando as possibilidades infantis de cuidar e ser cuidada,
e singularidades. de se expressar, comunicar e criar, de organizar pensamentos
Cabe às instituições de Educação Infantil assegurar às e ideias, de conviver, brincar e trabalhar em grupo, de ter
crianças a manifestação de seus interesses, desejos e iniciativa e buscar soluções para os problemas e conflitos que
curiosidades ao participar das práticas educativas, valorizar se apresentam às mais diferentes idades, e lhes possibilitem
suas produções, individuais e coletivas, e trabalhar pela apropriar-se de diferentes linguagens e saberes que circulam
conquista por elas da autonomia para a escolha de em nossa sociedade, selecionados pelo valor formativo que
brincadeiras e de atividades e para a realização de cuidados possuem em relação aos objetivos definidos em seu Projeto
pessoais diários. Tais instituições devem proporcionar às Político Pedagógico.
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8. Objetivos e condições para a organização curricular Um bom planejamento das atividades educativas favorece
a formação de competências para a criança aprender a cuidar
Os direitos da criança constituem hoje o paradigma para o de si. No entanto, na perspectiva que integra o cuidado, educar
relacionamento social e político com as infâncias do país. A não é apenas isto. Educar cuidando inclui acolher, garantir a
Constituição de 1988, no artigo 227, declara que “É dever da segurança, mas também alimentar a curiosidade, a ludicidade
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao e a expressividade infantis.
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, Educar de modo indissociado do cuidar é dar condições
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à para as crianças explorarem o ambiente de diferentes
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência maneiras (manipulando materiais da natureza ou objetos,
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fazendo
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, perguntas etc) e construírem sentidos pessoais e significados
crueldade e opressão”. coletivos, à medida que vão se constituindo como sujeitos e se
Nessa expressão legal, as crianças são inseridas no mundo apropriando de um modo singular das formas culturais de agir,
dos direitos humanos e são definidos não apenas o direito sentir e pensar. Isso requer do professor ter sensibilidade e
fundamental da criança à provisão (saúde, alimentação, lazer, delicadeza no trato de cada criança, e assegurar atenção
educação lato senso) e à proteção (contra a violência, especial conforme as necessidades que identifica nas crianças.
discriminação, negligência e outros), como também seus As práticas que desafiam os bebês e as crianças maiores a
direitos fundamentais de participação na vida social e cultural, construírem e se apropriarem dos conhecimentos produzidos
de ser respeitada e de ter liberdade para expressar-se por seu grupo cultural e pela humanidade, na Educação
individualmente. Esses pontos trouxeram perspectivas Infantil, pelas características desse momento de vida, são
orientadoras para o trabalho na Educação Infantil e articuladas ao entorno e ao cotidiano das crianças, ampliam
inspiraram inclusive a finalidade dada no artigo 29 da Lei nº suas possibilidades de ação no mundo e delineiam
9.394/96 às creches e pré-escolas. possibilidades delas viverem a infância.
Com base nesse paradigma, a proposta pedagógica das
instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo 2) O combate ao racismo e às discriminações de gênero,
principal promover o desenvolvimento integral das crianças socioeconômicas, étnico-raciais e religiosas deve ser objeto
de zero a cinco anos de idade garantindo a cada uma delas o de constante reflexão e intervenção no cotidiano da
acesso a processos de construção de conhecimentos e a Educação Infantil.
aprendizagem de diferentes linguagens, assim como o direito As ações educativas e práticas cotidianas devem
à proteção, à saúde, à liberdade, ao respeito, à dignidade, à considerar que os modos como a cultura medeia as formas de
brincadeira, à convivência e interação com outras crianças. Daí relação da criança consigo mesma são constitutivos dos seus
decorrem algumas condições para a organização curricular. processos de construção de identidade. A perspectiva que
acentua o atendimento aos direitos fundamentais da criança,
1) As instituições de Educação Infantil devem assegurar compreendidos na sua multiplicidade e integralidade, entende
a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado que o direito de ter acesso a processos de construção de
como algo indissociável ao processo educativo. conhecimento como requisito para formação humana,
As práticas pedagógicas devem ocorrer de modo a não participação social e cidadania das crianças de zero a cinco
fragmentar a criança nas suas possibilidades de viver anos de idade, efetua-se na interrelação das diferentes práticas
experiências, na sua compreensão do mundo feita pela cotidianas que ocorrem no interior das creches e pré-escolas e
totalidade de seus sentidos, no conhecimento que constrói na em relação a crianças concretas, contemplando as
relação intrínseca entre razão e emoção, expressão corporal e especificidades desse processo nas diferentes idades e em
verbal, experimentação prática e elaboração conceitual. As relação à diversidade cultural e étnico-racial e às crianças com
práticas envolvidas nos atos de alimentar-se, tomar banho, deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas
trocar fraldas e controlar os esfíncteres, na escolha do que habilidades/superdotação.
vestir, na atenção aos riscos de adoecimento mais fácil nessa A valorização da diversidade das culturas das diferentes
faixa etária, no âmbito da Educação Infantil, não são apenas crianças e de suas famílias, por meio de brinquedos, imagens e
práticas que respeitam o direito da criança de ser bem narrativas que promovam a construção por elas de uma
atendida nesses aspectos, como cumprimento do respeito à relação positiva com seus grupos de pertencimento, deve
sua dignidade como pessoa humana. Elas são também práticas orientar as práticas criadas na Educação Infantil ampliando o
que respeitam e atendem ao direito da criança de apropriar- olhar das crianças desde cedo para a contribuição de
se, por meio de experiências corporais, dos modos diferentes povos e culturas. Na formação de pequenos
estabelecidos culturalmente de alimentação e promoção de cidadãos compromissada com uma visão plural de mundo, é
saúde, de relação com o próprio corpo e consigo mesma, necessário criar condições para o estabelecimento de uma
mediada pelas professoras e professores, que relação positiva e uma apropriação das contribuições
intencionalmente planejam e cuidam da organização dessas histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes,
práticas. asiáticos, europeus e de outros países da América,
A dimensão do cuidado, no seu caráter ético, é assim reconhecendo, valorizando, respeitando e possibilitando o
orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e contato das crianças com as histórias e as culturas desses
sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da povos.
proteção integral da criança. O cuidado, compreendido na sua O olhar acolhedor de diversidades também se refere às
dimensão necessariamente humana de lidar com questões de crianças com deficiência, transtornos globais de
intimidade e afetividade, é característica não apenas da desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Também
Educação Infantil, mas de todos os níveis de ensino. Na o direito dessas crianças à liberdade e à participação, tal como
Educação Infantil, todavia, a especificidade da criança bem para as demais crianças, deve ser acolhido no planejamento
pequena, que necessita do professor até adquirir autonomia das situações de vivência e aprendizagem na Educação
para cuidar de si, expõe de forma mais evidente a relação Infantil. Para garanti-lo, são necessárias medidas que
indissociável do educar e cuidar nesse contexto. A definição e otimizem suas vivências na creche e pré-escola, garantindo
o aperfeiçoamento dos modos como a instituição organiza que esses espaços sejam estruturados de modo a permitir sua
essas atividades são parte integrante de sua proposta condição de sujeitos ativos e a ampliar suas possibilidades de
curricular e devem ser realizadas sem fragmentar ações. ação nas brincadeiras e nas interações com as outras crianças,
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momentos em que exercitam sua capacidade de intervir na instalações, são inadequados os materiais e os professores
realidade e participam das atividades curriculares com os geralmente não possuem formação para o trabalho com essas
colegas. Isso inclui garantir no cotidiano da instituição a populações, o que caracteriza uma flagrante ineficácia no
acessibilidade de espaços, materiais, objetos e brinquedos, cumprimento da política de igualdade em relação ao acesso e
procedimentos e formas de comunicação e orientação vividas, permanência na Educação Infantil e uma violação do direito à
especificidades e singularidades das crianças com deficiências, educação dessas crianças. Uma política que promova com
transtornos globais de desenvolvimento e altas qualidade a Educação Infantil nos próprios territórios rurais
habilidades/superdotação. instiga a construção de uma pedagogia dos povos do campo -
construída na relação intrínseca com os saberes, as realidades
3) As instituições necessariamente precisam conhecer e temporalidades das crianças e de suas comunidades - e
as culturas plurais que constituem o espaço da creche e da requer a necessária formação do professor nessa pedagogia.
pré-escola, a riqueza das contribuições familiares e da Em relação às crianças indígenas, há que se garantir a
comunidade, suas crenças e manifestações, e fortalecer autonomia dos povos e nações na escolha dos modos de
formas de atendimento articuladas aos saberes e às educação de suas crianças de zero a cinco anos de idade e que
especificidades étnicas, linguísticas, culturais e religiosas as propostas pedagógicas para esses povos que optarem pela
de cada comunidade. Educação Infantil possam afirmar sua identidade
O reconhecimento da constituição plural das crianças sociocultural. Quando oferecidas, aceitas e requisitadas pelas
brasileiras, no que se refere à identidade cultural e regional e comunidades, como direito das crianças indígenas, as
à filiação socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, propostas curriculares na Educação Infantil dessas crianças
linguística e religiosa, é central à garantia de uma Educação devem proporcionar uma relação viva com os conhecimentos,
Infantil comprometida com os direitos das crianças. Esse crenças, valores, concepções de mundo e as memórias de seu
fundamento reforça a gestão democrática como elemento povo; reafirmar a identidade étnica e a língua materna como
imprescindível, uma vez que é por meio dela que a instituição elementos de constituição das crianças; dar continuidade à
também se abre à comunidade, permite sua entrada, e educação tradicional oferecida na família e articular-se às
possibilita sua participação na elaboração e acompanhamento práticas socioculturais de educação e cuidado da comunidade;
da proposta curricular. Dessa forma, a organização da adequar calendário, agrupamentos etários e organização de
proposta pedagógica deve prever o estabelecimento de uma tempos, atividades e ambientes de modo a atender as
relação positiva com a comunidade local e de mecanismos que demandas de cada povo indígena.
garantam a gestão democrática e a consideração dos saberes
comunitários, seja ela composta pelas populações que vivem 4) A execução da proposta curricular requer atenção
nos centros urbanos, ou a população do campo, os povos da cuidadosa e exigente às possíveis formas de violação da
floresta e dos rios, os indígenas, quilombolas ou dignidade da criança.
afrodescendentes. O respeito à dignidade da criança como pessoa humana,
Na discussão sobre as diversidades, há que se considerar quando pensado a partir das práticas cotidianas na instituição,
que também a origem urbana das creches e pré-escolas e a sua tal como apontado nos “Indicadores de Qualidade na Educação
extensão como direito a todas as crianças brasileiras remetem Infantil” elaborados pelo MEC, requer que a instituição garanta
à necessidade de que as propostas pedagógicas das a proteção da criança contra qualquer forma de violência -
instituições em territórios não-urbanos respeitem suas física ou simbólica - ou negligência, tanto no interior das
identidades. instituições de Educação Infantil como na experiência familiar
Essa exigência é explicitada no caso de crianças filhas de da criança, devendo as violações ser encaminhadas às
agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, instâncias competentes. Os profissionais da educação que aí
ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, trabalham devem combater e intervir imediatamente quando
quilombolas, caiçaras, nas Diretrizes Operacionais para a ocorrem práticas dos adultos que desrespeitem a integridade
Educação Básica nas Escolas do Campo (Resolução CNE/CEB das crianças, de modo a criar uma cultura em que essas
nº 1/2002). Essas Diretrizes orientam o trabalho pedagógico práticas sejam inadmissíveis.
no estabelecimento de uma relação orgânica com a cultura, as
tradições, os saberes e as identidades dessas populações, e 5) O atendimento ao direito da criança na sua
indicam a adoção de estratégias que garantam o atendimento integralidade requer o cumprimento do dever do Estado
às especificidades dessas comunidades - tais como a com a garantia de uma experiência educativa com
flexibilização e adequação no calendário, nos agrupamentos qualidade a todas as crianças na Educação Infantil.
etários e na organização de tempos, atividades e ambientes - As instituições de Educação Infantil devem tanto oferecer
em respeito às diferenças quanto à atividade econômica e à espaço limpo, seguro e voltado para garantir a saúde infantil
política de igualdade e sem prejuízo da qualidade do quanto se organizar como ambientes acolhedores,
atendimento. Elas apontam para a previsão da oferta de desafiadores e inclusivos, plenos de interações, explorações e
materiais didáticos, brinquedos e outros equipamentos em descobertas partilhadas com outras crianças e com o
conformidade com a realidade da comunidade e as professor. Elas ainda devem criar contextos que articulem
diversidades dos povos do campo, evidenciando o papel diferentes linguagens e que permitam a participação,
dessas populações na produção do conhecimento sobre o expressão, criação, manifestação e consideração de seus
mundo. A Resolução CNE/CEB nº 2/2008, que estabelece interesses.
Diretrizes complementares, normas e princípios para o No cumprimento dessa exigência, o planejamento
desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da curricular deve assegurar condições para a organização do
Educação Básica do Campo e regulamenta questões tempo cotidiano das instituições de Educação Infantil de modo
importantes para a Educação Infantil, proíbe que se agrupe em a equilibrar continuidade e inovação nas atividades,
uma mesma turma crianças da Educação Infantil e crianças do movimentação e concentração das crianças, momentos de
Ensino Fundamental. segurança e momentos de desafio na participação das mesmas,
A situação de desvantagem das crianças moradoras dos e articular seus ritmos individuais, vivências pessoais e
territórios rurais em relação ao acesso à educação é conhecida experiências coletivas com crianças e adultos. Também é
por meio dos relatórios governamentais e por trabalhos preciso haver a estruturação de espaços que facilitem que as
acadêmicos. Não bastasse a baixíssima cobertura do crianças interajam e construam sua cultura de pares, e
atendimento, esses relatórios apontam que são precárias as favoreçam o contato com a diversidade de produtos culturais
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(livros de literatura, brinquedos, objetos e outros materiais), Um ponto inicial de trabalho integrado da instituição de
de manifestações artísticas e com elementos da natureza. Educação Infantil com as famílias pode ocorrer no período de
Junto com isso, há necessidade de uma infraestrutura e de adaptação e acolhimento dos novatos. Isso se fará de modo
formas de funcionamento da instituição que garantam ao mais produtivo se, nesse período, as professoras e professores
espaço físico a adequada conservação, acessibilidade, estética, derem oportunidade para os pais falarem sobre seus filhos e
ventilação, insolação, luminosidade, acústica, higiene, as expectativas que têm em relação ao atendimento na
segurança e dimensões em relação ao tamanho dos grupos e Educação Infantil, enquanto eles informam e conversam com
ao tipo de atividades realizadas. os pais os objetivos propostos pelo Projeto Político-
O número de crianças por professor deve possibilitar Pedagógico da instituição e os meios organizados para atingi-
atenção, responsabilidade e interação com as crianças e suas los.
famílias. Levando em consideração as características do Outros pontos fundamentais do trabalho com as famílias
espaço físico e das crianças, no caso de agrupamentos com são propiciados pela participação destas na gestão da proposta
criança de mesma faixa de idade, recomenda-se a proporção pedagógica e pelo acompanhamento partilhado do
de 6 a 8 crianças por professor (no caso de crianças de zero e desenvolvimento da criança. A participação dos pais junto com
um ano), 15 crianças por professor (no caso de criança de dois os professores e demais profissionais da educação nos
e três anos) e 20 crianças por professor (nos agrupamentos de conselhos escolares, no acompanhamento de projetos
crianças de quatro e cinco anos). didáticos e nas atividades promovidas pela instituição
Programas de formação continuada dos professores e possibilita agregar experiências e saberes e articular os dois
demais profissionais também integram a lista de requisitos contextos de desenvolvimento da criança. Nesse processo, os
básicos para uma Educação Infantil de qualidade. Tais pais devem ser ouvidos tanto como usuários diretos do serviço
programas são um direito das professoras e professores no prestado como também como mais uma voz das crianças, em
sentido de aprimorar sua prática e desenvolver a si e a sua particular daquelas muito pequenas.
identidade profissional no exercício de seu trabalho. Eles Preocupações dos professores sobre a forma como
devem dar-lhes condições para refletir sobre sua prática algumas crianças parecem ser tratadas em casa - descuido,
docente cotidiana em termos pedagógicos, éticos e políticos, e violência, discriminação, superproteção e outras - devem ser
tomar decisões sobre as melhores formas de mediar a discutidas com a direção de cada instituição para que formas
aprendizagem e o desenvolvimento infantil, considerando o produtivas de esclarecimento e eventuais encaminhamentos
coletivo de crianças assim como suas singularidades. possam ser pensados.
A perspectiva do atendimento aos direitos da criança na Em função dos princípios apresentados, e na tarefa de
sua integralidade requer que as instituições de Educação garantir às crianças seu direito de viver a infância e se
Infantil, na organização de sua proposta pedagógica e desenvolver, as experiências no espaço de Educação Infantil
curricular, assegurem espaços e tempos para participação, o devem possibilitar o encontro pela criança de explicações
diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma enquanto
valorização das diferentes formas em que elas se organizam. desenvolvem formas de agir, sentir e pensar.
A família constitui o primeiro contexto de educação e O importante é apoiar as crianças, desde cedo e ao longo
cuidado do bebê. Nela ele recebe os cuidados materiais, de todas as suas experiências cotidianas na Educação Infantil
afetivos e cognitivos necessários a seu bem-estar, e constrói no estabelecimento de uma relação positiva com a instituição
suas primeiras formas de significar o mundo. Quando a criança educacional, no fortalecimento de sua autoestima, no interesse
passa a frequentar a Educação Infantil, é preciso refletir sobre e curiosidade pelo conhecimento do mundo, na familiaridade
a especificidade de cada contexto no desenvolvimento da com diferentes linguagens, na aceitação e acolhimento das
criança e a forma de integrar as ações e projetos educacionais diferenças entre as pessoas.
das famílias e das instituições. Essa integração com a família Na explicitação do ambiente de aprendizagem, é
necessita ser mantida e desenvolvida ao longo da permanência necessário pensar “um currículo sustentado nas relações, nas
da criança na creche e pré-escola, exigência inescapável frente interações e em práticas educativas intencionalmente voltadas
às características das crianças de zero a cinco anos de idade, o para as experiências concretas da vida cotidiana, para a
que cria a necessidade de diálogo para que as práticas junto às aprendizagem da cultura, pelo convívio no espaço da vida
crianças não se fragmentem. coletiva e para a produção de narrativas, individuais e
O trabalho com as famílias requer que as equipes de coletivas, através de diferentes linguagens” (MEC, 2009a).
educadores as compreendam como parceiras, reconhecendo- A professora e o professor necessitam articular condições
as como criadoras de diferentes ambientes e papéis para seus de organização dos espaços, tempos, materiais e das
membros, que estão em constante processo de modificação de interações nas atividades para que as crianças possam
seus saberes, fazeres e valores em relação a uma série de expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade
pontos, dentre eles o cuidado e a educação dos filhos. O e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas
importante é acolher as diferentes formas de organização primeiras tentativas de escrita.
familiar e respeitar as opiniões e aspirações dos pais sobre A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e
seus filhos. Nessa perspectiva, as professoras e professores movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas
compreendem que, embora compartilhem a educação das de referência das turmas e à instituição, envolver-se em
crianças com os membros da família, exercem funções explorações e brincadeiras com objetos e materiais
diferentes destes. Cada família pode ver na professora ou diversificados que contemplem as particularidades das
professor alguém que lhe ajuda a pensar sobre seu próprio diferentes idades, as condições específicas das crianças com
filho e trocar opiniões sobre como a experiência na unidade de deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
Educação Infantil se liga a este plano. Ao mesmo tempo, o habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, culturais,
trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Infantil pode étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias e
apreender os aspectos mais salientes das culturas familiares comunidade regional.
locais para enriquecer as experiências cotidianas das crianças. De modo a proporcionar às crianças diferentes
experiências de interações que lhes possibilitem construir
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saberes, fazer amigos, aprender a cuidar de si e a conhecer expressão de ideias, sentimentos e imaginação. A aquisição da
suas próprias preferências e características, deve-se linguagem oral depende das possibilidades das crianças
possibilitar que elas participem de diversas formas de observarem e participarem cotidianamente de situações
agrupamento (grupos de mesma idade e grupos de diferentes comunicativas diversas onde podem comunicar-se, conversar,
idades), formados com base em critérios estritamente ouvir histórias, narrar, contar um fato, brincar com palavras,
pedagógicos. refletir e expressar seus próprios pontos de vista, diferenciar
As especificidades e os interesses singulares e coletivos conceitos, ver interconexões e descobrir novos caminhos de
dos bebês e das crianças das demais faixas etárias devem ser entender o mundo. É um processo que precisa ser planejado e
considerados no planejamento do currículo, vendo a criança continuamente trabalhado.
em cada momento como uma pessoa inteira na qual os Também a linguagem escrita é objeto de interesse pelas
aspectos motores, afetivos, cognitivos e linguísticos integram- crianças. Vivendo em um mundo onde a língua escrita está
se, embora em permanente mudança. Em relação a qualquer cada vez mais presente, as crianças começam a se interessar
experiência de aprendizagem que seja trabalhada pelas pela escrita muito antes que os professores a apresentem
crianças, devem ser abolidos os procedimentos que não formalmente. Contudo, há que se apontar que essa temática
reconhecem a atividade criadora e o protagonismo da criança não está sendo muitas vezes adequadamente compreendida e
pequena, que promovam atividades mecânicas e não trabalhada na Educação Infantil. O que se pode dizer é que o
significativas para as crianças. trabalho com a língua escrita com crianças pequenas não pode
Cabe à professora e ao professor criar oportunidade para decididamente ser uma prática mecânica desprovida de
que a criança, no processo de elaborar sentidos pessoais, se sentido e centrada na decodificação do escrito. Sua
aproprie de elementos significativos de sua cultura não como apropriação pela criança se faz no reconhecimento,
verdades absolutas, mas como elaborações dinâmicas e compreensão e fruição da linguagem que se usa para escrever,
provisórias. Trabalha-se com os saberes da prática que as mediada pela professora e pelo professor, fazendo-se presente
crianças vão construindo ao mesmo tempo em que se garante em atividades prazerosas de contato com diferentes gêneros
a apropriação ou construção por elas de novos conhecimentos. escritos, como a leitura diária de livros pelo professor, a
Para tanto, a professora e o professor observam as ações possibilidade da criança desde cedo manusear livros e revistas
infantis, individuais e coletivas, acolhe suas perguntas e suas e produzir narrativas e “textos”, mesmo sem saber ler e
respostas, busca compreender o significado de sua conduta. escrever.
As propostas curriculares da Educação Infantil devem Atividades que desenvolvam expressão motora e modos de
garantir que as crianças tenham experiências variadas com as perceber seu próprio corpo, assim como as que lhe
diversas linguagens, reconhecendo que o mundo no qual estão possibilitem construir, criar e desenhar usando diferentes
inseridas, por força da própria cultura, é amplamente marcado materiais e técnicas, ampliar a sensibilidade da criança à
por imagens, sons, falas e escritas. Nesse processo, é preciso música, à dança, à linguagem teatral, abrem ricas
valorizar o lúdico, as brincadeiras e as culturas infantis. possibilidades de vivências e desenvolvimento para as
As experiências promotoras de aprendizagem e crianças.
consequente desenvolvimento das crianças devem ser Experiências que promovam o envolvimento da criança
propiciadas em uma frequência regular e serem, ao mesmo com o meio ambiente e a conservação da natureza e a ajudem
tempo, imprevistas, abertas a surpresas e a novas descobertas. elaborar conhecimentos, por exemplo, de plantas e animais,
Elas visam a criação e a comunicação por meio de diferentes devem fazer parte do cotidiano da unidade de Educação
formas de expressão, tais como imagens, canções e música, Infantil. Outras experiências podem priorizar, em contextos e
teatro, dança e movimento, assim como a língua escrita e situações significativos, a exploração e uso de conhecimentos
falada, sem esquecer da língua de sinais, que pode ser matemáticos na apreciação das características básicas do
aprendida por todas as crianças e não apenas pelas crianças conceito de número, medida e forma, assim como a habilidade
surdas. de se orientar no tempo e no espaço.
É necessário considerar que as linguagens se inter- Ter oportunidade para manusear gravadores, projetores,
relacionam: por exemplo, nas brincadeiras cantadas a criança computador e outros recursos tecnológicos e midiáticos
explora as possibilidades expressivas de seus movimentos ao também compõe o quadro de possibilidades abertas para o
mesmo tempo em que brinca com as palavras e imita certos trabalho pedagógico na Educação Infantil.
personagens. Quando se volta para construir conhecimentos As experiências que permitam ações individuais e em um
sobre diferentes aspectos do seu entorno, a criança elabora grupo, lidar com conflitos e entender direitos e obrigações, que
suas capacidades linguísticas e cognitivas envolvidas na desenvolvam a identidade pessoal, sentimento de autoestima,
explicação, argumentação e outras, ao mesmo tempo em que autonomia e confiança em suas próprias habilidades, e um
amplia seus conhecimentos sobre o mundo e registra suas entendimento da importância de cuidar de sua própria saúde
descobertas pelo desenho ou mesmo por formas bem iniciais e bem-estar, devem ocupar lugar no planejamento curricular.
de registro escrito. Por esse motivo, ao planejar o trabalho, é Na elaboração da proposta curricular, diferentes arranjos
importante não tomar as linguagens de modo isolado ou de atividades poderão ser feitos, de acordo com as
disciplinar, mas sim contextualizadas, a serviço de características de cada instituição, a orientação de sua
significativas aprendizagens. proposta pedagógica, com atenção, evidentemente, às
As crianças precisam brincar em pátios, quintais, praças, características das crianças.
bosques, jardins, praias, e viver experiências de semear, A organização curricular da Educação Infantil pode se
plantar e colher os frutos da terra, permitindo a construção de estruturar em eixos, centros, campos ou módulos de
uma relação de identidade, reverência e respeito para com a experiências que devem se articular em torno dos princípios,
natureza. Elas necessitam também ter acesso a espaços condições e objetivos propostos nesta diretriz. Ela pode
culturais diversificados: inserção em práticas culturais da planejar a realização semanal, mensal e por períodos mais
comunidade, participação em apresentações musicais, longos de atividades e projetos fugindo de rotinas mecânicas.
teatrais, fotográficas e plásticas, visitas a bibliotecas,
brinquedotecas, museus, monumentos, equipamentos 10. O processo de avaliação
públicos, parques, jardins.
É importante lembrar que dentre os bens culturais que As instituições de Educação Infantil, sob a ótica da garantia
crianças têm o direito a ter acesso está a linguagem verbal, que de direitos, são responsáveis por criar procedimentos para
inclui a linguagem oral e a escrita, instrumentos básicos de
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avaliação do trabalho pedagógico e das conquistas das reuniões) e providenciar instrumentos de registro - portfólios
crianças. de turmas, relatórios de avaliação do trabalho pedagógico,
A avaliação é instrumento de reflexão sobre a prática documentação da frequência e das realizações alcançadas
pedagógica na busca de melhores caminhos para orientar as pelas crianças - que permitam aos docentes do Ensino
aprendizagens das crianças. Ela deve incidir sobre todo o Fundamental conhecer os processos de aprendizagem
contexto de aprendizagem: as atividades propostas e o modo vivenciados na Educação Infantil, em especial na pré-escola e
como foram realizadas, as instruções e os apoios oferecidos às as condições em que eles se deram, independentemente dessa
crianças individualmente e ao coletivo de crianças, a forma transição ser feita no interior de uma mesma instituição ou
como o professor respondeu às manifestações e às interações entre instituições, para assegurar às crianças a continuidade
das crianças, os agrupamentos que as crianças formaram, o de seus processos peculiares de desenvolvimento e a
material oferecido e o espaço e o tempo garantidos para a concretização de seu direito à educação.
realização das atividades. Espera-se, a partir disso, que o
professor possa pesquisar quais elementos estão Questões
contribuindo, ou dificultando, as possibilidades de expressão
da criança, sua aprendizagem e desenvolvimento, e então 01. (Prefeitura de Goiânia/GO - Auxiliar de Atividades
fortalecer, ou modificar, a situação, de modo a efetivar o Educativas - CS-UFG) De acordo com o Parecer CNE/CEB n.
Projeto Político-Pedagógico de cada instituição. 20/2009, o período de vida atendido pela educação infantil
A avaliação, conforme estabelecido na Lei nº 9.394/96, caracteriza-se por marcantes aquisições, dentre elas,
deve ter a finalidade de acompanhar e repensar o trabalho encontra-se:
realizado. Nunca é demais enfatizar que não devem existir (A) a formação da imaginação e da capacidade de fazer de
práticas inadequadas de verificação da aprendizagem, tais conta.
como provinhas, nem mecanismos de retenção das crianças na (B) a formação do conceito de causalidade
Educação Infantil. Todos os esforços da equipe devem (C) a capacidade de realizar abstrações, envolvendo o
convergir para a estruturação de condições que melhor conceito de ordem.
contribuam para a aprendizagem e o desenvolvimento da (D) a aprendizagem da escrita por meio da mera
criança sem desligá-la de seus grupos de amizade. decodificação do escrito.
A observação sistemática, crítica e criativa do
comportamento de cada criança, de grupos de crianças, das 02. (Prefeitura de Fortaleza/CE - Assistente da
brincadeiras e interações entre as crianças no cotidiano, e a Educação Infantil Substituto - Prefeitura de Fortaleza - CE)
utilização de múltiplos registros realizados por adultos e Segundo o Parecer CNE/CEB nº 20/2009, a proposta
crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.), feita ao pedagógica, ou projeto pedagógico, é:
longo do período em diversificados momentos, são condições (A) o plano orientador das ações da instituição e define as
necessárias para compreender como a criança se apropria de metas que se pretendem para o desenvolvimento dos meninos
modos de agir, sentir e pensar culturalmente constituídos. e meninas.
Conhecer as preferências das crianças, a forma delas (B) o currículo de atividades direcionadas ao cuidado e
participarem nas atividades, seus parceiros prediletos para a educação da criança na creche ou pré-escola.
realização de diferentes tipos de tarefas, suas narrativas, pode (C) o projeto de práticas desenvolvidas pelas secretarias
ajudar o professor a reorganizar as atividades de modo mais de educação de cada município e repassadas às instituições de
adequado ao alcance dos propósitos infantis e das Educação Infantil.
aprendizagens coletivamente trabalhadas. (D) o documento que rege o funcionamento de cada escola
A documentação dessas observações e outros dados sobre de Educação Infantil e regulamenta o papel dos professores e
a criança devem acompanhá-la ao longo de sua trajetória da funcionários.
Educação Infantil e ser entregue por ocasião de sua matrícula
no Ensino Fundamental para garantir a continuidade dos 03. (Prefeitura de São José dos Campos/SP - Agente
processos educativos vividos pela criança. Educador - VUNESP) Geraldo é agente educador de um centro
educacional de educação infantil municipal de uma cidade da
11. O acompanhamento da continuidade do processo Grande São Paulo. Para estudar a avaliação relativa à faixa
de educação etária com a qual atua, consultou o Parecer CNE/CEB n°
20/2009 e constatou corretamente que a avaliação, na
Na busca de garantir um olhar contínuo sobre os processos educação infantil,
vivenciados pela criança, devem ser criadas estratégias
adequadas aos diferentes momentos de transição por elas (A) é instrumento de reflexão sobre a prática pedagógica
vividos. As instituições de Educação Infantil devem assim: na busca de melhores caminhos para orientar as
a) planejar e efetivar o acolhimento das crianças e de suas aprendizagens das crianças.
famílias quando do ingresso na instituição, considerando a (B) pode acompanhar o desenvolvimento integral do
necessária adaptação das crianças e seus responsáveis às pré-escolar, fazendo uso de provinhas que verificam seu
práticas e relacionamentos que têm lugar naquele espaço, e desempenho global.
visar o conhecimento de cada criança e de sua família pela (C) precisa recorrer à retenção dos educandos ao final da
equipe da Instituição; pré-escola, quando estes não estão prontos para ingressar no
b) priorizar a observação atenta das crianças e mediar as Ensino Fundamental.
relações que elas estabelecem entre si, entre elas e os adultos, (D) deve utilizar instrumentos que meçam a prontidão das
entre elas e as situações e objetos, para orientar as mudanças crianças e as selecionem para a organização de turmas
de turmas pelas crianças e acompanhar seu processo de homogêneas.
vivência e desenvolvimento no interior da instituição; (E) tem como objetivo primordial observar a criança
c) planejar o trabalho pedagógico reunindo as equipes da pequena para selecionar a que requer atendimento
creche e da pré-escola, acompanhado de relatórios descritivos especializado precoce.
das turmas e das crianças, suas vivências, conquistas e planos,
de modo a dar continuidade a seu processo de aprendizagem; 04. (Prefeitura de São José dos Campos/SP - Agente
d) prever formas de articulação entre os docentes da Educador - VUNESP). Gabriela é agente educadora num
Educação Infantil e do Ensino Fundamental (encontros, visitas, centro municipal de educação infantil e, com outros colegas,
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01.A / 02.A / 03.A / 04.D / 05.B Art. 3º O Plano de Carreira e Remuneração do Magistério
Público Municipal de Osasco estrutura-se em um Quadro
Permanente com os respectivos cargos e um Quadro
Suplementar com os respectivos cargos em extinção na
vacância, constituintes dos anexos que integram a presente
Lei.
6http://pmo.osasco.sp.gov.br/portal/conteudo/leis-municipais.xhtml -
Acesso em 20.02.2019 as 08:49
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VII - funções de magistério: atividades de docência e de Art. 13 Os cargos do Quadro de Pessoal do Magistério que
suporte pedagógico incluindo o planejamento, orientação, vierem a vagar, bem como os que forem criados, só poderão
coordenação, administração, avaliação, supervisão e inspeção ser providos na forma prevista neste Capítulo e no Estatuto
do processo pedagógico, bem como a participação na dos Servidores Públicos Municipais de Osasco.
elaboração de projetos educacionais e das propostas
pedagógicas do Sistema Municipal de Ensino; Art. 14 O provimento dos cargos integrantes do Anexo I
VIII - classe livre: turma de alunos da educação infantil, do desta Lei Complementar será autorizado pelo Prefeito
ensino fundamental, da educação de jovens e adultos ou da Municipal mediante solicitação do titular da Secretaria
educação especial, cujo titular afastou-se por exoneração, Municipal de Educação, desde que haja vaga e dotação
aposentadoria ou falecimento; orçamentária para atender às despesas dele decorrentes.
IX - classe vaga: turma de alunos da educação infantil, do Parágrafo Único. Da solicitação deverá constar:
ensino fundamental, da educação de jovens e adultos ou da I - denominação e vencimento do cargo;
educação especial cujo titular afastou-se temporariamente por II - quantitativo dos cargos a serem providos;
faltas, licenças ou férias. III - prazo desejável para provimento;
IX A - Aula livre: período de tempo reservado a aula de IV - justificativa para a solicitação de provimento.
conteúdo específico cujo titular afastou-se por exoneração,
aposentadoria ou falecimento. (Redação acrescida pela Lei Art. 15 O ingresso no Quadro do Magistério Público
Complementar nº 189/2010) Municipal dar-se-á por concurso público de provas e títulos.
X - aula vaga: período de tempo reservado a aula de
conteúdo específico cujo titular afastou-se temporariamente Art. 16 Além das normas gerais, os concursos públicos
por faltas, licença ou férias. serão regidos por instruções especiais que farão parte do
XI - progressão funcional: passagem do servidor do edital.
magistério de sua referência para as referências seguintes, § 1º A aprovação em concurso não gera direito à
dentro da faixa de vencimento do cargo que ocupa, pelo nomeação, mas esta, quando se der, far-se-á em rigorosa
critério do merecimento. ordem de classificação dos candidatos, após exame
XII - enquadramento: é o processo de posicionamento do admissional de saúde.
servidor dentro da nova estrutura de cargos. § 2º É assegurado às pessoas com deficiência para as quais
XIII - função gratificada: vantagem pecuniária, de caráter serão reservadas vagas no percentual estabelecido no Estatuto
transitório, criada para remunerar cargos em nível de direção, dos Servidores Municipais de Osasco, o direito de inscrição em
chefia e assessoramento, exercida exclusivamente por concurso público para provimento de cargo efetivo do Quadro
servidores ocupantes de cargo público efetivo na Prefeitura do Magistério, desde que as atribuições do referido cargo
Municipal; sejam compatíveis com a necessidade de que são portadoras.
XIV - cargos de provimento em comissão: é o cargo de § 3º Ao servidor do Quadro do Magistério, nomeado nos
confiança de livre nomeação e exoneração, a ser preenchido termos do parágrafo anterior, não será concedido qualquer
também por servidor efetivo, nos casos, condições e direito, vantagem ou benefício em razão de necessidade
percentuais mínimos estabelecidos em lei conforme a especial existente à época da nomeação.
circunstância. CAPÍTULO V
XV - emprego público: conjunto de atribuições, deveres e DA HABILITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
responsabilidades criado por lei, com denominação própria,
em número certo e com vencimento específico, pago pelos Art. 17 A formação de docentes para atuar na educação
cofres públicos cometido ao empregado contratado através de básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura de
concurso público, regido pelas normas da Consolidação das graduação plena ou em curso de graduação com
Leis do Trabalho. complementação pedagógica, obtidos em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação
Art. 10 VETADO mínima para o exercício do magistério na educação infantil e
nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a
CAPÍTULO IV oferecida em nível médio na modalidade Normal.
DO PROVIMENTO DOS CARGOS § 1º A educação básica consiste na educação infantil, no
ensino fundamental e no ensino médio, nos termos do art. 21
Art. 11 Os cargos de natureza efetiva, constantes do Anexo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
I desta Lei Complementar, serão providos: § 2º VETADO
I - pelo enquadramento dos atuais servidores, conforme as
normas estabelecidas nas Disposições Finais e Transitórias CAPÍTULO VI
desta Lei Complementar; DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
II - por nomeação, precedida de concurso público de
provas e títulos. Art. 18 Fica instituída como atividade permanente da
Secretaria Municipal de Educação, a qualificação profissional
Art. 12 Para provimento dos cargos efetivos serão dos servidores efetivos do Quadro do Magistério Público de
rigorosamente observados os requisitos básicos e os Osasco.
indicadores do anexo IV desta Lei Complementar, sob pena de Parágrafo Único. A qualificação profissional, para os efeitos
ser o ato de nomeação considerado nulo, além de acarretar desta Lei Complementar, objetiva a formação continuada do
responsabilidade a quem lhe der causa. servidor efetivo do Quadro do Magistério Público Municipal e
§ 1º Nenhum servidor efetivo poderá desempenhar seu desenvolvimento na carreira.
atribuições que não sejam próprias de seu cargo, ficando
expressamente vedado qualquer tipo de desvio de função. Art. 19 São objetivos da qualificação profissional:
§ 2º Excetuam-se do disposto no § 1º e no caput deste I - VETADO
artigo, os casos de readaptação previstos no Estatuto dos II - possibilitar o aproveitamento da formação e das
Servidores Públicos Municipais de Osasco. experiências anteriores em instituições de ensino e em outras
atividades;
III - propiciar a associação entre teoria e prática;
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IV - criar condições propícias à efetiva qualificação III - através da realização de programas de diferentes
pedagógica de seus servidores através de cursos, seminários, formatos utilizando, inclusive, os recursos da educação à
conferências, oficinas de trabalho, implementação de projetos distância.
e outros instrumentos, para possibilitar a definição de novos
programas, métodos e estratégias de ensino adequadas às Art. 23 Os resultados obtidos nas avaliações dos servidores
transformações educacionais; nortearão o planejamento e a definição das novas ações
V - criar e desenvolver hábitos e valores adequados ao necessárias para seu constante desenvolvimento bem como
digno exercício das atribuições do Quadro do Magistério; para assegurar a qualidade do ensino oferecido pela Prefeitura
VI - possibilitar a melhoria do desempenho do servidor no Municipal de Osasco.
exercício de atribuições específicas, orientando-o no sentido
de obter os resultados esperados pela Secretaria Municipal de Art. 24 Os servidores do Quadro do Magistério cedidos
Educação; para outros órgãos ou afastados das funções do magistério
VII - promover a valorização do profissional da Educação. poderão participar dos cursos de qualificação profissional,
respeitada a prioridade para os servidores em efetivo
Art. 20 A qualificação profissional poderá ser exercício.
implementada através de programas específicos que
habilitarão o servidor para seu desenvolvimento funcional nas Art. 25 Independentemente dos programas de
carreiras que compõem o Quadro do Magistério Público aperfeiçoamento, a Secretaria Municipal de Educação deverá
Municipal, abrangendo as seguintes ações: realizar reuniões para estudo e discussão de assuntos
I - incentivo à formação em nível superior para todos os pedagógicos, análise e divulgação de leis, normas legais e
integrantes do Quadro do Magistério; aspectos técnicos referentes à educação e à orientação
II - incentivo à complementação pedagógica, através de educacional, propiciando seu cumprimento e execução.
cursos de pós-graduação ou especialização, reconhecidos pelo Parágrafo Único. Os diretores das unidades educacionais
Ministério da Educação, em áreas ligadas à Educação; que integram a Rede Municipal de Ensino do Município de
III - incentivo ao aprimoramento profissional através de Osasco deverão participar das reuniões e encontros
cursos de mestrado ou doutorado, reconhecidos pelo mencionados no caput deste artigo e atuar como agentes
Ministério da Educação, em áreas ligadas à Educação; multiplicadores das informações e da divulgação dos assuntos
IV - atualização permanente dos servidores, através de pedagógicos, normativos, técnicos e legais, no âmbito de sua
cursos de aperfeiçoamento e capacitação. atuação.
§ 1º Os cursos de pós-graduação e especialização referidos
no inciso II deste artigo deverão ter a duração mínima de 360 CAPÍTULO VII
(trezentas e sessenta) horas. DA PROGRESSÃO FUNCIONAL
§ 2º Os cursos de aperfeiçoamento e capacitação referidos
no inciso IV deste artigo deverão ter a duração mínima de 30 Art. 26 Progressão funcional é a passagem de referência do
(trinta) horas. servidor do magistério, no cargo que ocupa, pelos critérios de
§ 3º Os cursos de mestrado ou doutorado serão desempenho e/ou pelos critérios de titulação, de acordo com
incentivados, desde que atendam às necessidades do a tabela de vencimentos constante em anexo desta Lei
Magistério Público Municipal e que sua realização se dê em Complementar. (Redação dada pela Lei Complementar nº
universidades ou instituições reconhecidas oficialmente. 230/2012)
§ 1º O processo de definição dos servidores que fazem jus
Art. 21 Compete à Secretaria Municipal de Educação: à progressão funcional por títulos dar-se-á duas vezes por ano,
I - identificar as áreas e os servidores carentes de em até 30 de abril e em até 31 de outubro. (Redação dada pela
qualificação profissional e estabelecer ações prioritárias; Lei Complementar nº 230/2012)
II - adotar as medidas necessárias para que fiquem § 2º O critério de desempenho será aferido pelo processo
asseguradas iguais oportunidades de qualificação a todos os de Avaliação de Desempenho a ser regulamentado por decreto
servidores do Magistério; municipal.
III - planejar a participação do servidor do Quadro do § 3º O período de realização da Avaliação de Desempenho
Magistério nas atividades de qualificação profissional e adotar de que trata o Capítulo VIII desta Lei Complementar, deve
as medidas necessárias para que os afastamentos que ocorram anteceder em, pelo menos, 03 (três) meses o período da
não causem prejuízo às atividades educacionais; elaboração da lei do orçamento anual, de forma que os
IV - estabelecer a data de realização dos programas de recursos necessários à aplicação do instituto da progressão
qualificação contínua de modo que coincidam, sejam assegurados no instrumento legal próprio.
preferencialmente, com os períodos de recesso escolar.
Art. 27 Para fazer jus à progressão funcional por
Art. 22 Os cursos de aperfeiçoamento e capacitação desempenho o servidor do Quadro do Magistério Municipal de
profissional que integrarão o Programa Anual de Qualificação Osasco deverá, cumulativamente:
Profissional, objetivarão a permanente atualização e avaliação I - ter sido aprovado no estágio probatório;
do servidor, habilitando-o para seu desenvolvimento na II - cumprir o interstício mínimo de 03 (três) anos de
carreira. efetivo exercício em funções do magistério entre uma
Parágrafo Único. Os cursos de aperfeiçoamento e progressão funcional e outra;
capacitação serão conduzidos, sempre que possível, III - obter, na média do resultado das três últimas
diretamente pela Secretaria Municipal de Educação, das Avaliações de Desempenho pelo menos 70% (setenta por
seguintes formas: cento) da soma total dos pontos atribuídos aos fatores de
I - através de contratação de especialistas ou instituições avaliação.
especializadas, mediante convênios, observada a legislação Art. 28 Preenchidos os requisitos estabelecidos no art. 27,
pertinente; incisos I, II e III desta Lei Complementar, o servidor passará
II - mediante encaminhamento do servidor a organizações para o grau seguinte, reiniciando-se a contagem de tempo e
especializadas, sediadas ou não no Município; anotação de ocorrências para nova apuração de merecimento.
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Art. 29 Para fazer jus à progressão funcional por de efetivo exercício para efeito de nova apuração de
titularidade, o servidor que possua as habilitações ou merecimento.
titulações adiante relacionadas poderá avançar para as Parágrafo Único. Os docentes que já foram beneficiados, e
referências seguintes, de acordo com os seguintes critérios: enquadrados em referência superior, só poderão ser
I - apresentando comprovante de conclusão de curso de beneficiados novamente se apresentarem titulação diversa da
graduação com licenciatura plena em área que não se apresentada anteriormente. (Redação acrescida pela Lei
configure como requisito do cargo: uma referência. Complementar nº 230/2012)
II - apresentando comprovantes de conclusão de cursos de
aperfeiçoamento de duração mínima de 30 (trinta) horas, e/ou CAPÍTULO VIII
de especialização em Educação, totalizando no mínimo 360 DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO FUNCIONAL
(trezentas e sessenta) horas, no período de 03 (três) anos: uma
referência. (Redação dada pela Lei Complementar nº Art. 36 A Avaliação de Desempenho, feita de forma
230/2012) permanente e apurada anualmente em instrumento próprio,
III - apresentando comprovante de conclusão de curso de será coordenada pela Comissão de Análise do Plano de
Mestrado e título de Mestre em área ligada à Educação: duas Carreira do Magistério, criada pelo art. 39 desta Lei
referências. Complementar, observadas as normas estabelecidas em
IV - apresentando comprovante de conclusão de curso de regulamento específico.
Doutorado e título de Doutor em área ligada à Educação: três § 1º A Avaliação de Desempenho Funcional à qual se refere
referências. o caput deste artigo deverá, de acordo com o art. 6º, inciso VI
V - apresentando comprovante de conclusão de curso de da Resolução nº 3, de 08 de outubro de 1997, do Conselho
Pós-Doutorado em área ligada à Educação: 4 referências. Nacional de Educação, contemplar, entre outros, os seguintes
(Redação acrescida pela Lei Complementar nº 230/2012) fatores:
Parágrafo Único. A progressão prevista nos incisos I a V, I - tempo efetivo de serviço docente ou de suporte
não dá ao servidor o direito de atuar em área diferente daquela pedagógico;
para a qual for concursado. (Redação dada pela Lei II - conhecimento na área pedagógica e na área curricular
Complementar nº 230/2012) na qual o servidor do Quadro do Magistério exerce as
atividades;
Art. 30 A percepção dos valores decorrentes de III - participação em atividades dedicadas ao
titularidade conforme disposto no artigo 29 desta Lei planejamento, atividades escolares e trabalho pedagógico.
Complementar, e seus incisos, não serão, em hipótese alguma, § 2º A época da conclusão da Avaliação de Desempenho
acumuláveis. deve anteceder em 03 (três) meses a data da elaboração da lei
do orçamento anual, para que os recursos necessários à
Art. 31 O servidor do Quadro do Magistério Municipal aplicação do instituto da progressão funcional sejam
aprovado em concurso deverá cumprir interstício mínimo de assegurados na referida lei.
03 (três) anos no cargo, a partir da nomeação, período § 3º Os instrumentos próprios de avaliação, referido no
necessário para ser submetido à Avaliação Especial de caput deste artigo, deverão ser preenchidos anualmente, pela
Desempenho, relativa ao estágio probatório, para fazer jus, equipe gestora, pela equipe docente e pelo servidor avaliado.
caso preencha os requisitos, à percepção dos percentuais § 4º Compreende-se como equipe gestora da Unidade
correspondentes à sua habilitação ou titulação, previsto no Educacional o Diretor, o Vice- Diretor e o Coordenador
artigo 29. Pedagógico.
§ 5º Caberá à chefia imediata dar ciência do resultado da
Art. 32 Os efeitos financeiros decorrentes da progressão avaliação ao servidor.
funcional de títulos serão devidos a partir do requerimento e § 6º Havendo discordância em relação ao resultado da
pagos no mês subsequente, e o enquadramento ocorrerá uma avaliação, os documentos deverão ser remetidos ao
vez por ano. (Redação dada pela Lei Complementar nº Supervisor de Ensino para análise e manifestação.
230/2012) § 7º Havendo alteração da avaliação, esta deverá ser
acompanhada de considerações que justifiquem a mudança e
Art. 33 O comprovante de curso que habilita o servidor do devolvida à Unidade para ciência das partes.
Quadro do Magistério Municipal a receber qualquer dos § 8º Persistindo a discordância, a Direção da Unidade
percentuais a que se refere o artigo 29 desta Lei Educacional encaminhará à Comissão de Gestão do Plano de
Complementar, é o diploma expedido pela instituição Carreira do Magistério os documentos para análise e parecer
formadora, registrado na forma da legislação. final.
Art. 34 O servidor somente poderá concorrer à progressão Art. 37 Regulamento específico, a ser baixado pelo Prefeito
funcional por desempenho se estiver no efetivo exercício de Municipal, definirá a implantação e manutenção do sistema de
funções de Magistério nas Unidades Educacionais da Avaliação de Desempenho funcional dos integrantes do
Prefeitura Municipal de Osasco, incluindo os ocupantes de Quadro do Magistério Público Municipal de Osasco.
Funções Gratificadas referentes, exclusivamente, à área Parágrafo Único. O Decreto de que trata este artigo deverá
educacional da estrutura administrativa da Secretaria ser publicado no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da data
Municipal de Educação. de aprovação desta Lei Complementar.
Parágrafo Único. O servidor do Quadro de Pessoal do
Magistério de Osasco cedido para órgãos, poderá, quando de CAPÍTULO IX
seu retorno ao efetivo exercício, apresentar habilitação ou DA COMISSÃO DE ANÁLISE DO PLANO DE CARREIRA DO
título para efeito de progressão funcional, considerando o MAGISTÉRIO
interstício disciplinado no inciso II do artigo 27 desta Lei
Complementar; Art. 38 Fica criada a Comissão de Análise do Plano de
Carreira do Magistério, com a atribuição de analisar os
Art. 35 Caso não alcance o grau de merecimento mínimo na recursos relativos ao processo de Avaliação de Desempenho
Avaliação de Desempenho, o servidor permanecerá, no grau Funcional dos servidores do Quadro do Magistério Público
em que se encontra, devendo cumprir novo interstício exigido Municipal, com base nos fatores constantes do instrumento de
Legislação 66
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Art. 39 A Comissão de Análise do Plano de Carreira do Art. 44 A Carga Suplementar será devida ao Professor que,
Magistério reunir-se-á, ordinariamente, em época a ser por necessidade do Projeto Político Pedagógico da unidade
definida em regulamento específico e, extraordinariamente, educacional, com a aprovação do Conselho de Gestão
quando necessário. Compartilhada, criado pela Lei 4.136 de 05 de julho de 2007 e
mediante aprovação do Secretário Municipal de Educação,
Art. 40 A Comissão de Análise do Plano de Carreira do desenvolver projetos especiais além de sua jornada normal de
Magistério, no exercício de suas atribuições, contará com o trabalho, em qualquer escola da rede pública municipal de
suporte técnico e administrativo dos setores responsáveis das Osasco ou na Secretaria Municipal de Educação.
Secretarias Municipais de Educação e de Administração. § 1º Havendo mais de um interessado na alteração da
jornada, terá preferência, sucessivamente, o autor do projeto
Art. 41 A Comissão de Análise do Plano de Carreira do que, avaliado pelo Conselho de Gestão Compartilhada e
Magistério terá sua organização e funcionamento Secretaria de Educação, melhor atenda ao Projeto Político
regulamentados por decreto do Prefeito Municipal. Pedagógico de sua unidade educacional.
§ 2º A remuneração de que trata o caput deste artigo será
CAPÍTULO X equivalente ao número de horas/aula ministradas que exceder
DA JORNADA DE TRABALHO sua jornada normal de trabalho, calculada sobre o valor do
vencimento base percebido pelo servidor, sobre o qual
Art. 42 A jornada de trabalho semanal do servidor do incidirão, de forma proporcional, valores relativos a férias e
Quadro do Magistério Público de Osasco será de acordo com outros valores de direito.
seu cargo e desempenho de funções, a saber: § 3º A Carga Suplementar de Trabalho é caracterizada
I - Professor de Desenvolvimento Infantil I - com como o exercício temporário de atividade de desenvolvimento
desempenho de funções na Educação Infantil, com crianças de de projetos de excepcional interesse do ensino, só podendo ser
04 (quatro) meses até 03 (três) anos, 11 (onze) meses e 29 atribuída ao Professor efetivo que esteja em efetivo exercício
(vinte e nove) dias - 31 (trinta e uma) horas; e que tenha compatibilidade de horário conforme a Lei.
II - Professor de Desenvolvimento Infantil II - com § 4º A remuneração por Carga Suplementar de Trabalho só
desempenho de funções na Educação Infantil, com crianças de será devida ao servidor que estiver em exercício, cessando no
04 (quatro) meses até 03 (três) anos, 11 (onze) meses e 29 caso de licenças a qualquer título.
(vinte e nove) dias - 31 (trinta e uma) horas; § 5º A atuação em Carga Suplementar de Trabalho é
III - Professor de Educação Básica I - com desempenho de limitada ao período máximo de 01 (um) ano.
funções na Educação Infantil, com alunos de 04 (quatro) a 05
(cinco) anos - 21 (vinte e uma) horas; (Redação dada pela Lei Art. 44 Os Professores de Educação Básica I, os Professores
Complementar nº 189/2010) de Educação Básica II e os Professores Adjuntos poderão
IV - Professor de Educação Básica I - com desempenho de exercer carga suplementar de trabalho.
funções no Ensino Fundamental, anos iniciais - 27 (vinte e § 1º Entende-se por carga suplementar de trabalho, o
sete) horas; número de horas de trabalho que o servidor passa a exercer
V - Professor de Educação Básica II, com atividades durante determinado período, além da jornada normal de
exclusivas de Educação Especial - 27 (vinte e sete) horas; trabalho, correspondente ao cargo que ocupa no Quadro de
VI - Professor de Educação Básica II com desempenho de Profissionais do Magistério.
funções no Ensino Fundamental - 27 (vinte e sete) horas; § 2º Poderão ser atribuídas aos docentes a título de carga
VII - Professor de Educação Básica I, com atividades em suplementar, horas aulas de classes livres, classes em
Educação de Jovens e Adultos - 21 (vinte e uma) horas; substituição ou Projetos Educacionais desenvolvidos pela
§ 1º Da jornada de 21 (vinte e uma) horas semanais, 20 Secretaria de Educação.
(vinte) horas serão cumpridas em sala de aula e 01 (uma) hora § 3º A hora aula exercida na forma de carga suplementar
será cumprida na unidade escolar, destinada, essa última, à de trabalho será remunerada pelo mesmo padrão de
preparação e avaliação do trabalho didático, à colaboração vencimentos que o docente recebe pela sua jornada normal de
com a administração escolar, às reuniões pedagógicas, à trabalho, incidindo sobre a mesma, o adicional por tempo de
Legislação 67
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serviço, a sexta-parte quando de direito e os valores perceberá, somente enquanto permanecer nesta condição o
proporcionais relativos aos 13º salário e férias adicional de 10% (dez por cento) sobre seu vencimento base,
§ 4º Para efeito de cálculo do pagamento das horas aulas Parágrafo Único. Aos servidores do quadro do magistério
exercidas a título de carga suplementar, serão considerados os que estiverem em atividade pedagógica, de acordo com o
descansos semanais remunerados, os feriados e os pontos disposto no art. 43, em horário após as 19 (dezenove) horas,
facultativos. será devido o adicional de 10% (dez por cento) sobre seu
§ 5º A remuneração da hora aula exercida a título de carga vencimento base, calculado sobre o número de horas
suplementar não incorpora na aposentadoria. efetivamente cumpridas.
§ 6º As disposições do caput desse artigo não se aplicam
aos Professores de Desenvolvimento Infantil I e II e aos Art. 49 O servidor do Quadro Permanente do Magistério,
Professores contratados por tempo determinado. (Redação lotado em Unidade Educacional em área de risco ou de difícil
dada pela Lei Complementar nº 189/2010) acesso, perceberá, somente enquanto permanecer nesta
condição, um adicional de 10% (dez por cento) sobre o seu
Art. 44 A - O servidor que se ausentar da unidade em razão grau, a título de Adicional de Local de Exercício.
de faltas previstas em Lei, por um período superior a 05 Parágrafo Único. A classificação das unidades escolares
(cinco) dias consecutivos ou 10 (dez) dias intercalados, referidas no caput deste artigo será fixada anualmente, por
perderá automaticamente a Carga Suplementar, podendo proposição do titular da Secretaria Municipal de Educação,
participar de nova atribuição quando do retorno ao exercício considerando-se como ponto de referência para cálculo do
de seu cargo. Adicional de Local de Exercício, o Largo de Osasco, marco zero
§ 1º Quando o servidor se ausentar da unidade do Município.
injustificadamente na carga suplementar ou dela desistir pelos
períodos estabelecidos no caput desse artigo, perderá a Carga CAPÍTULO XII
Suplementar e só poderá participar de nova atribuição no ano DAS FÉRIAS E DOS AFASTAMENTOS
letivo seguinte.
§ 2º A remuneração por Carga Suplementar só será devida Art. 50 Todo servidor do Quadro do Magistério Público
ao servidor que a estiver exercendo. (Redação acrescida pela Municipal, inclusive o ocupante de Cargo em Comissão, terá
Lei Complementar nº 189/2010) direito, após cada período de 12 (doze) meses de efetivo
exercício, ao gozo de 01 (um) período de férias de 30 (trinta)
CAPÍTULO XI dias, sem prejuízo da remuneração. (Redação dada pela Lei
DO VENCIMENTO, DA REMUNERAÇÃO E DOS ADICIONAIS Complementar nº 172/2008)
§ 1º A integralidade das férias dos docentes será sempre
Art. 45 Vencimento é a retribuição pecuniária pelo gozada no mês de janeiro. (Redação dada pela Lei
exercício de cargo público, com valor fixado em Lei, não Complementar nº 172/2008)
inferior a um salário mínimo, com reajustes periódicos que lhe § 2º No caso de o docente ingressar após o mês de janeiro,
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação ou suas férias deverão ser gozadas no período a que se refere o
equiparação para qualquer fim, nos termos do art. 37, inciso parágrafo 1º, sem prejuízo de seu tempo de efetivo exercício.
XIII, da Constituição Federal. § 3º Além das férias regulamentares, o servidor do Quadro
do Magistério poderá ser dispensado do ponto durante os
Art. 46 Remuneração é o vencimento do cargo acrescido períodos de recesso escolar, nos meses de julho e dezembro,
das vantagens pecuniárias estabelecidas em lei, permanentes de acordo com o calendário a ser elaborado pela Secretaria
e temporárias, respeitado o que estabelece o art. 37, inciso XI, Municipal de Educação.
da Constituição Federal. § 4º A dispensa que se refere este artigo é facultativo e de
competência e definição da secretaria Municipal de Educação.
Art. 47 O vencimento dos servidores públicos do Quadro § 5º À servidora do quadro do Magistério que estiver em
do Magistério Público Municipal somente poderá ser fixado ou licença gestante no período de férias coletivas, será garantido
alterado por lei, observada a iniciativa do Poder Executivo, o gozo de férias após o término da licença.
assegurada a revisão geral anual, sempre na mesma data e sem § 6º Um servidor do Quadro do Magistério por unidade
distinção de índices, desde que não ultrapasse os limites da escolar será dispensado do ponto uma vez por bimestre para
despesa com pessoal previstas em lei federal. participar de reuniões sindicais ou de entidade de classe.
§ 1º O vencimento dos cargos públicos é irredutível,
ressalvado o disposto no art. 37, inciso XV, da Constituição Art. 51 O afastamento do integrante do Quadro
Federal. Permanente do Magistério de seu cargo ou função poderá
§ 2º A fixação dos padrões de vencimento e demais ocorrer, além das outras hipóteses previstas no Estatuto dos
componentes do sistema de remuneração dos servidores do Servidores Públicos do Município de Osasco, quando de real
Magistério observará: interesse para o ensino municipal, ficando-lhe assegurados o
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade vencimento, os direitos e as vantagens garantidos para todos
dos cargos que compõem seu Quadro; os fins, nos seguintes casos:
II - os requisitos de escolaridade para a investidura no I - para integrar comissão especial ou grupo de trabalho,
cargo; estudo ou pesquisa da Prefeitura Municipal de Osasco, a fim de
III - as peculiaridades dos cargos. desenvolver projetos específicos da área educacional;
§ 3º O vencimento dos servidores do Magistério obedecerá II - para participar de congressos, simpósios ou outros
à tabela de vencimentos constante do Anexo III desta Lei eventos similares, desde que referentes a área ligada à
Complementar. Educação, respeitado o limite de até 05 (cinco) dias letivos no
§ 4º O Chefe do Poder Executivo fará publicar, anualmente, ano.
os valores da remuneração dos cargos do Quadro de Pessoal III - para frequentar cursos de habilitação,
do Magistério Público. aperfeiçoamento, especialização, mestrado ou doutorado, na
área da Educação.
Art. 48 O servidor do Quadro Permanente do Magistério no IV - para exercício de mandato em sindicato ou associação
exercício de atividades docentes a partir das 19 horas, de classe, sem prejuízo dos vencimentos e das demais
vantagens do cargo.
Legislação 68
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APOSTILAS OPÇÃO
§ 1º Havendo afastamento, parcial ou total, em qualquer III - por permuta entre servidores.
dos cursos relacionados no inciso III, será obrigatória a § 2º As remoções a pedido do servidor e por permuta entre
contrapartida de permanência mínima na rede municipal de servidores somente poderão ocorrer no período
ensino pelo período correspondente a 100% (cem por cento) compreendido entre 30 (trinta) dias antes do término de um
do período de afastamento. (Redação dada pela Lei ano letivo e o início do outro, atendida a conveniência de
Complementar nº 189/2010) serviço.
§ 2º Caberá ao Prefeito Municipal, ouvido o titular da § 3º O docente que tiver sua jornada de trabalho alterada,
Secretaria Municipal de Educação, autorizar de forma receberá os vencimentos equivalentes a partir do efetivo
expressa o afastamento de servidores nos casos previstos exercício. (Redação acrescida pela Lei Complementar nº
neste Capítulo, respeitado o limite de 05% (cinco por cento) 189/2010)
do total de servidores do Quadro do Magistério.
§ 3º Não se incluem nas vantagens permanentes no caput Art. 57 Para atender os pedidos de remoção, o Secretário
deste artigo, gratificações por exercício de cargo em comissão Municipal de Educação fará elaborar lista classificatória dos
ou função gratificada, por se constituírem em vantagens servidores que a solicitaram, obtida através da observância
transitórias. das seguintes normas:
I - aferição da antiguidade do servidor, através da
CAPÍTULO XIII conversão em pontos do tempo de efetivo exercício em
DA LOTAÇÃO funções do magistério nesta ordem:
a) tempo de serviço no cargo e/ou função no Magistério do
Art. 52 A lotação é o número de servidores que devem ter Município de Osasco.
exercício em cada órgão ou unidade responsáveis pelo b) tempo de serviço no Magistério do Município de Osasco.
desempenho das atividades do Magistério Público Municipal (Redação dada pela Lei Complementar nº 189/2010)
de Osasco. II - aferição da titulação do servidor, através da conversão
em pontos do resultado obtido na última progressão funcional
Art. 53 Caberá aos Diretores de Unidades Escolares por títulos.
organizar e compatibilizar horários das classes e turnos de § 1º A escolha, pelo servidor, de vagas disponibilizadas
funcionamento, visando o cumprimento da proposta para a remoção obedecerá, rigorosamente, à lista
educacional da Secretaria Municipal de Educação, de acordo classificatória, organizada por ordem decrescente das
com o plano de lotação aprovado. pontuações obtidas.
§ 1º A atribuição de classes ou aulas ao professor, se fará § 2º A validade da lista classificatória prescreverá com a
de acordo com os seguintes critérios: escolha do total das vagas disponibilizadas para a remoção.
I - aferição da antiguidade do servidor, através da § 3º Será divulgado, em ato próprio do Secretário
conversão em pontos do tempo de efetivo exercício em Municipal de Educação, nas Unidades Educacionais do
funções do magistério na seguinte ordem: Município, a época e o prazo destinado à solicitação, análise e
a) tempo de serviço na unidade escolar; concessão das remoções.
b) tempo de serviço no cargo e/ou função no magistério do
Município de Osasco; Art. 58 A remoção por permuta entre servidores far-se-á
c) tempo de serviço no Magistério do Município de Osasco. através de requerimento de ambos os interessados não sendo
(Redação dada pela Lei Complementar nº 189/2010) possível, todavia, permutar servidores que:
II - aferição da titulação do servidor, através da conversão I - não estejam no efetivo exercício de seu cargo;
em pontos do resultado obtido na última Avaliação de II - já tenham alcançado o tempo de serviço necessário à
Desempenho funcional. aposentadoria;
§ 2º A atribuição de classes e/ou aulas ao servidor III - a quem faltem até 03 (três) anos para complementar o
obedecerá rigorosamente a lista classificatória, organizada por tempo de serviço necessário à aposentadoria;
ordem decrescente das pontuações obtidas, que será utilizada IV - encontrem-se na condição de servidor readaptado,
em todas as atribuições que ocorrerem durante o ano letivo. mesmo que com laudo temporário;
§ 3º A validade da lista classificatória prescreverá após o V - tenham sido contemplados por este processo em
término do ano letivo. (Redação dada pela Lei Complementar período inferior a 03 (três) anos.
nº 189/2010)
CAPÍTULO XV
Art. 54 É vedada a designação de servidor efetivo do DA SUBSTITUIÇÃO
Quadro do Magistério Público Municipal para o exercício de
funções alheias à área educacional. Art. 59 A substituição de servidores efetivos do Quadro de
Pessoal do Magistério Público de Osasco, durante seus
Art. 55 A classificação no concurso público para ingresso impedimentos legais e temporários, será exercida,
na carreira, deverá ser utilizada, por parte do servidor, como preferencialmente, por servidor do referido quadro com a
critério de escolha para definição da sua primeira lotação. devida habilitação requerida para o cargo para o qual foi
concursado, pelo período mínimo de 30 (trinta) dias, desde
CAPÍTULO XIV que não haja aprovados em concurso vigente.
DA REMOÇÃO § 1º A substituição mencionada no caput deste artigo será
remunerada com pagamento de horas adicionais ao servidor
Art. 56 - Remoção é a movimentação do ocupante de cargo substituto na forma de Carga Suplementar. (Redação dada pela
do Quadro do Magistério, de uma para outra unidade de ensino Lei Complementar nº 189/2010)
da Secretaria Municipal de Educação de Osasco, na mesma ou § 2º A Direção da Unidade Educacional onde ocorrer
em outra jornada de trabalho. (Redação dada pela Lei substituição atestará o número de horas adicionais
Complementar nº 189/2010) eventualmente trabalhadas pelo servidor substituto.
§ 1º Dar-se-á a remoção por lista classificatória que § 3º Os efeitos financeiros decorrentes da substituição
obedecerá aos seguintes critérios: deverão ser autorizados pelo titular da Secretaria Municipal de
I - de ofício, quando na condição de excedente; Educação.
II - a pedido do servidor;
Legislação 69
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APOSTILAS OPÇÃO
Art. 60 Havendo excepcional interesse público e, na avaliação pelos órgãos competentes da Administração
inexistência de servidores do Quadro de Pessoal do Magistério Municipal.
Público Municipal capazes de atender à necessidade
temporária de substituição de servidor efetivo, a Prefeitura Art. 66 O servidor readaptado desempenhará atribuições e
Municipal de Osasco poderá contratar pessoal por tempo responsabilidades compatíveis com as suas limitações e com
determinado, na forma de lei municipal específica, de acordo seu cargo, preferencialmente na Unidade onde se encontrava
com o Art. 37, inciso IX da Constituição Federal. lotado antes da readaptação.
§ 1º As substituições de que trata o caput deste artigo não
deverão ultrapassar o ano letivo para o qual foi elaborada a Art. 67 Ao servidor readaptado é assegurada a manutenção
escala de classificação e serão por período determinado. dos direitos e vantagens adquiridos, de acordo com o previsto
§ 2º Os profissionais contratados por tempo determinado na Constituição Federal.
não terão os direitos e vantagens concedidos aos servidores Parágrafo Único. Caso o docente permaneça na condição de
efetivos. readaptado por período superior a 02 (dois) anos, perderá a
§ 3º A substituição remunerada ocorrerá também nos titularidade da classe.
impedimentos legais e temporários, definidos nesta Lei
Complementar e no Estatuto dos Servidores Públicos CAPÍTULO XVIII
Municipais de Osasco, e nos afastamentos dos servidores que DAS FUNÇÕES GRATIFICADAS
se encontrem nas seguintes situações:
I - investidos em funções de Direção de Unidades Art. 68 Para efeito desta Lei Complementar, função
Escolares; gratificada é a vantagem pecuniária, de caráter transitório,
II - ocupantes de funções gratificadas ou cargos em criada para remunerar funções em nível de direção, chefia e
comissão da estrutura organizacional da Secretaria Municipal assessoramento, exercida exclusivamente por servidores
de Educação de Osasco. ocupantes de cargo público no Magistério Público Municipal.
§ 1º Nos termos do art. 37, inciso V, da Constituição
Art. 61 A substituição também poderá ocorrer nos casos Federal, serão designados para o exercício de funções
em que o titular de classe tiver interesse, de forma interina, em gratificadas, servidores do Quadro Permanente do Magistério
mudar de unidade, sem perder sua titularidade original, Público Municipal ocupantes de cargo público.
ficando-lhe assegurado o retorno à sua unidade de origem § 2º É vedada a acumulação de duas ou mais funções
quando houver vagas ou aulas disponíveis. gratificadas.
Parágrafo Único. A substituição de que trata o caput deste § 3º Ao vencimento do servidor designado para o exercício
artigo e demais normas serão regulamentadas por ocasião do de Função Gratificada, será acrescida vantagem pecuniária,
evento por portaria da Secretaria de Educação. (Redação conforme o disposto em lei municipal específica, bem como
acrescida pela Lei Complementar nº 189/2010) valor referente à eventual diferença entre a jornada do cargo
que ocupa em caráter efetivo e a jornada estabelecida para o
CAPÍTULO XVI exercício da Função Gratificada.
DA SITUAÇÃO DE EXCEDÊNCIA § 4º Será assegurado aos ocupantes de Funções
Gratificadas o instituto da progressão funcional, observados os
Art. 62 Fica caracterizada a excedência do professor, mesmos critérios estabelecidos nesta Lei Complementar para
podendo ser removido de ofício, quando na sua Unidade os demais servidores.
Educacional de lotação ocorrerem as seguintes hipóteses:
I - inexistência de classes; CAPÍTULO XIX
II - extinção da escola; DOS CARGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO
III - inexistência de aula relativa à sua área de atuação.
Art. 69 Cargo em Comissão é o cargo de confiança, de livre
Art. 63 Caberá à Secretaria Municipal de Educação atribuir nomeação e exoneração pelo Prefeito Municipal, a ser
ao professor em situação de excedência, classes ou aulas livres preenchido por servidor de carreira nos casos, condições e
de seu componente curricular, observadas as atribuições do percentuais mínimos estabelecidos em lei, conforme o caso,
cargo, nas situações de7: nos termos do art. 37, inciso V da Constituição Federal.
I - classe ou aula livre;
II - vaga de titular em impedimento legal. Art. 70 Ficam criados os seguintes cargos de provimento
§ 2º O servidor excedente deverá cumprir o calendário em comissão da Secretaria Municipal de Educação, nas
escolar da Secretaria Municipal de Educação, exercendo quantidades, símbolos, denominações, níveis de vencimentos,
normalmente sua jornada de trabalho. bem como descrições de competências e requisitos de acesso
§ 3º O período de tempo em que o servidor permanecer especificados nos anexo V, VI e VII integrante desta Lei
como excedente, será considerado como de efetivo exercício. Complementar.
I - Diretor de Desenvolvimento Infantil;
Art. 64 Ficará assegurado ao excedente o retorno à sua II - Diretor de Escola I;
Unidade de origem, quando surgirem vagas ou aulas durante o III - Diretor de Escola II;
ano letivo em que ocorreu a excedência. IV - Diretor de Escola III;
V - Supervisor de Ensino;
CAPÍTULO XVII VI - Coordenador Pedagógico I;
DA READAPTAÇÃO VII - Coordenador Pedagógico II;
VIII - Coordenador Pedagógico III;
Art. 65 O servidor do Quadro do Magistério que tenha IX - Vice Diretor de Escola I;
sofrido limitação em sua capacidade física e/ou mental, X - Vice Diretor de Escola II;
comprovada por perícia médica, será readaptado, passando a XI - Vice Diretor de Escola III. (Redação dada pela Lei
exercer atribuições compatíveis com a sua limitação, após Complementar nº 181/2009)
7 No próprio site da Prefeitura Municipal ocorrido erro na numeração dos parágrafos. Informamos que isso não afeta nem
(http://pmo.osasco.sp.gov.br/portal/conteudo/leis-municipais.xhtml, acesso em prejudica seus estudos.
23.05.2017) consta a ausência do §1º do respectivo artigo. Acreditamos que tenha
Legislação 70
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APOSTILAS OPÇÃO
Art. 71 (Revogada pela Lei Complementar nº 181/2009) § 3º A gratificação do cargo de Coordenador Pedagógico
corresponde a: (Redação dada pela Lei Complementar nº
Art. 72 Ficam criados na Tabela do Anexo VI da Lei 193/2010)
Complementar nº 128, de 10 de fevereiro de 2005, os I - 133% (cento e trinta e três por cento) para o
seguintes cargos de provimento em comissão, na quantidade e Coordenador Pedagógico I, que é aquele lotado nas unidades
vencimentos fixados no Anexo V desta Lei Complementar: escolares com até 16 classes; (Redação dada pela Lei
I - Supervisor de Ensino; Complementar nº 193/2010)
II - VETADO II - 152% (cento e cinquenta e dois por cento), para o
II - (Revogada pela Lei Complementar nº 181/2009) Coordenador Pedagógico II, que é aquele lotado nas unidades
escolares entre 17 e 29 classes; (Redação dada pela Lei
Art. 73 Ficam acrescidos na Tabela do Anexo VI da Lei Complementar nº 193/2010)
Complementar nº 128, de 10 de fevereiro de 2005, os III - 172% (cento e setenta e dois por cento), para o
seguintes cargos de provimento em comissão, nas seguintes Coordenador Pedagógico III, que é aquele lotado nas unidades
quantidades: escolares a partir de 30 classes. (Redação dada pela Lei
I - 180 cargos de Diretor de Escola; Complementar nº 193/2010)
II - 50 cargos de Vice Diretor; § 4º A gratificação do cargo de Supervisor de Ensino
III - (Revogada pela Lei Complementar nº 181/2009) corresponde a 152% (cento e cinquenta e dois por cento).
(Redação dada pela Lei Complementar nº 193/2010)
Art. 74 (Revogada pela Lei Complementar nº 181/2009)
Art. 77 Os Cargos de provimento em comissão da
Art. 75 A designação para ocupação de Cargos em Secretaria Municipal de Educação cumprirão jornada de 40
Comissão e das Funções Gratificadas será feita por Portaria do (quarenta) horas semanais.
Chefe do Executivo, respeitando-se o percentual de 50%
(cinquenta por cento) das vagas para preenchimento por CAPÍTULO XX
servidores efetivos. (Redação dada pela Lei Complementar nº DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
181/2009)
§ 1º Os ocupantes dos cargos de Diretor, Vice-Diretor de Art. 78 Os cargos de Pajem serão enquadrados, nos termos
Unidade Educacional, Supervisor de Ensino e Coordenador desta Lei Complementar, em cargos de Professor de
Pedagógico deverão ter formação em Pedagogia ou Desenvolvimento Infantil I e Professor de Desenvolvimento
complementação pedagógica, experiência mínima de 05 Infantil II, respectivamente, na medida em que seus titulares
(cinco) anos na docência e não estar afastado das atividades comprovarem possuir a habilitação exigida e o preenchimento
educacionais por igual período, à época da designação. das exigências específicas para o provimento desses cargos.
§ 2º Os ocupantes dos cargos de Diretor de (Redação dada pela Lei Complementar nº 172/2008)
Desenvolvimento Infantil deverão ter formação em Pedagogia
ou complementação pedagógica, experiência mínima de 03 Art. 79 Aos atuais titulares dos cargos de Pajem e Professor
(três) anos na área de Educação e não estar afastado das de Desenvolvimento Infantil I que não preenchem os
atividades educacionais por igual período, à época da requisitos necessários, fica assegurado, até o ano de 2014, a
designação. partir da data de publicação desta Lei Complementar, o
enquadramento de que trata esse artigo na medida em que
Art. 76 A gratificação dos cargos de Diretor, Vice Diretor e preencherem os requisitos exigidos. (Redação dada pela Lei
Coordenador Pedagógico será fixada de acordo com o número Complementar nº 189/2010)
de classes da Unidade Educacional onde o servidor exerça as
suas funções, nos termos deste artigo. (Redação dada pela Lei Art. 80 Após o prazo previsto no artigo anterior, não
Complementar nº 193/2010) apresentada a habilitação exigida os servidores que
§ 1º A gratificação do cargo de Diretor corresponde a: titularizam cargos de Pajem deverão permanecer exercendo as
(Redação dada pela Lei Complementar nº 193/2010) atribuições inerentes aos cargos que ocupam, notadamente no
I - 133% (cento e trinta e três por cento) para o Diretor I, auxílio dos Professores de Desenvolvimento Infantil no que
que é aquele lotado nas unidades escolares com até 16 classes; atine aos cuidados com a criança, sendo vedado o exercício de
(Redação dada pela Lei Complementar nº 193/2010) atribuições inerentes ao cargo desse último.
II - 152% (cento e cinquenta e dois por cento) para o
Diretor II, que é aquele lotado nas unidades escolares entre 17 Art. 80 A - O cargo público de Coordenador Educacional de
e 29 classes; (Redação dada pela Lei Complementar nº Creche enquadrado na referência 7, nos termos da Lei
193/2010) Complementar nº 06, de 12 de dezembro de 1991 e suas
III - 172% (cento e setenta e dois por cento) para o Diretor posteriores alterações fica reenquadrado na referência 13.
III, que é aquele lotado nas unidades escolares a partir de 30 Parágrafo Único. As vantagens pecuniárias, concedidas em
classes. (Redação dada pela Lei Complementar nº 193/2010) qualquer caráter, a título de adicional, gratificação e
§ 2º A gratificação do cargo de Vice Diretor corresponde a: progressão de letras, percebidas pelos Coordenadores de
(Redação dada pela Lei Complementar nº 193/2010) Creche, permanecem inalteradas e mantêm os mesmos
I - 152% (cento e cinquenta e dois por cento), para o Vice critérios de concessão previstos na legislação vigente.
Diretor I, que é aquele lotado nas unidades escolares com até (Redação dada pela Lei Complementar nº 172/2008)
16 classes; (Redação dada pela Lei Complementar nº
193/2010) Art. 81 (Revogada pela Lei Complementar nº 181/2009)
II - 172% (cento e setenta e dois por cento) para o Vice
Diretor II, que é aquele lotado nas unidades escolares entre 17 Art. 82 (Revogada pela Lei Complementar nº 181/2009)
e 29 classes; (Redação dada pela Lei Complementar nº
193/2010) Art. 83 Os cargos de Pajem, de Professor de Educação
III - 192% (cento e noventa e dois por cento), para o Vice Especial, de Pedagogo, de Professor de Educação Física e de
Diretor III, que é aquele lotado nas unidades escolares a partir Coordenador Educacional de Creche permanecem extintos na
de 30 classes. (Redação dada pela Lei Complementar nº vacância. (Redação dada pela Lei Complementar nº 172/2008)
193/2010)
Legislação 71
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Art. 83 A - Fica extinta a carga horária semanal de 21 horas (D) Promover a valorização do profissional da Educação.
semanais para os Professores de Educação Básica II a partir do (E) Propiciar a separação entre teoria e prática.
início do ano letivo de 2011, devendo os titulares desse cargo
participar do processo de remoção e de atribuição de classes 03. (FGV) Conforme preceitua a Lei Complementar nº
ou aulas no ano de 2010, considerando a carga horária única 168/08, a qualificação profissional é incentivada como
de 27 horas. (Redação acrescida pela Lei Complementar nº complementação pedagógica por meio de cursos de pós-
189/2010) graduação ou especialização, reconhecidos pelo Ministério da
Educação, em áreas ligadas à Educação.
Art. 84 Os ocupantes de cargos efetivos do Quadro de
Pessoal do Magistério serão aposentados conforme o disposto Assinale a opção que indica a duração mínima exigida para
na legislação federal e municipal reguladora. esses cursos.
(A) 240 horas
Art. 85 Ao Professor Adjunto é aplicado o instituto da (B) 320 horas
progressão funcional e do quinquênio. (C) 360 horas
Parágrafo Único. Aos ocupantes do emprego de Professor (D) 380 horas
Adjunto não se aplicam os demais dispositivos específicos dos (E) 460 horas
ocupantes dos cargos regidos sob o regime jurídico
estatutário. 04. Acerca do que dispõe a Lei Complementar nº
168/2008, julgue o item abaixo:
Art. 86 Os cargos de Diretor e Vice Diretor serão providos
na medida em que forem criadas novas unidades escolares. O vencimento dos servidores públicos do Quadro do
Parágrafo Único. O disposto no caput deste artigo não se Magistério Público Municipal somente poderá ser fixado ou
aplica aos cargos de Diretor e Vice Diretor atualmente alterado por lei, observada a iniciativa do Poder Executivo,
providos. assegurada a revisão geral anual, sempre na mesma data e sem
distinção de índices, desde que não ultrapasse os limites da
Art. 87 O provimento dos cargos de Supervisor de Ensino despesa com pessoal previstas em lei federal.
fica condicionado à criação, através de Lei, do Sistema ( ) Certo
Municipal de Educação. ( ) Errado
Art. 88 As despesas decorrentes da implantação do 05. Acerca do que dispõe a Lei Complementar nº
presente Estatuto e Plano de Carreira e Remuneração do 168/2008, julgue o item abaixo:
Magistério Público Municipal de Osasco correrão à conta de
dotação própria do orçamento vigente, suplementada, se O docente que tiver sua jornada de trabalho alterada,
necessário. receberá os vencimentos equivalentes a partir do efetivo
exercício.
Art. 89 São partes integrantes da presente Lei os Anexos I, ( ) Certo
II, III, IV, V, VI e VII que a acompanham. (Redação dada pela Lei ( ) Errado
Complementar nº 181/2009)
Gabarito
Art. 90 Esta Lei Complementar entrará em vigor em 1º de
janeiro de 2008. 01. E. / 02. E. / 03. C. / 04. Certo. / 05. Certo.
Questões
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8 Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/Leis/L7853compilado.htm - Acesso em
20.02.2019
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atendam à demanda e às necessidades reais das pessoas propositura de ação civil, promoverá fundamentadamente o
portadoras de deficiências; arquivamento do inquérito civil, ou das peças informativas.
c) o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico Neste caso, deverá remeter a reexame os autos ou as
em todas as áreas do conhecimento relacionadas com a pessoa respectivas peças, em 3 (três) dias, ao Conselho Superior do
portadora de deficiência; Ministério Público, que os examinará, deliberando a respeito,
V - na área das edificações: conforme dispuser seu Regimento.
a) a adoção e a efetiva execução de normas que garantam § 2º Se a promoção do arquivamento for reformada, o
a funcionalidade das edificações e vias públicas, que evitem ou Conselho Superior do Ministério Público designará desde logo
removam os óbices às pessoas portadoras de deficiência, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
permitam o acesso destas a edifícios, a logradouros e a meios
de transporte. Art. 7º Aplicam-se à ação civil pública prevista nesta Lei, no
que couber, os dispositivos da Lei nº 7.347, de 24 de julho de
Art. 3º As medidas judiciais destinadas à proteção de 1985.
interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e
individuais indisponíveis da pessoa com deficiência poderão Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a
ser propostas pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, 5 (cinco) anos e multa: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
pela União, pelos Estados, pelos Municípios, pelo Distrito 2015)
Federal, por associação constituída há mais de 1 (um) ano, nos I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender,
termos da lei civil, por autarquia, por empresa pública e por procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em
fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público
suas finalidades institucionais, a proteção dos interesses e a ou privado, em razão de sua deficiência; (Redação dada pela
promoção de direitos da pessoa com deficiência. (Redação Lei nº 13.146, de 2015)
dada pela Lei nº 13.146, de 2015) II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de
§ 1º Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua
às autoridades competentes as certidões e informações que deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
julgar necessárias. III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à
§ 2º As certidões e informações a que se refere o parágrafo pessoa em razão de sua deficiência; (Redação dada pela Lei nº
anterior deverão ser fornecidas dentro de 15 (quinze) dias da 13.146, de 2015)
entrega, sob recibo, dos respectivos requerimentos, e só IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de
poderão se utilizadas para a instrução da ação civil. prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à pessoa
§ 3º Somente nos casos em que o interesse público, com deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
devidamente justificado, impuser sigilo, poderá ser negada V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de
certidão ou informação. ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
§ 4º Ocorrendo a hipótese do parágrafo anterior, a ação (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
poderá ser proposta desacompanhada das certidões ou VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos
informações negadas, cabendo ao juiz, após apreciar os indispensáveis à propositura da ação civil pública objeto desta
motivos do indeferimento, e, salvo quando se tratar de razão Lei, quando requisitados. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
de segurança nacional, requisitar umas e outras; feita a 2015)
requisição, o processo correrá em segredo de justiça, que § 1º Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência
cessará com o trânsito em julgado da sentença. menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3 (um
§ 5º Fica facultado aos demais legitimados ativos terço). (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
habilitarem-se como litisconsortes nas ações propostas por § 2º A pena pela adoção deliberada de critérios subjetivos
qualquer deles. para indeferimento de inscrição, de aprovação e de
§ 6º Em caso de desistência ou abandono da ação, qualquer cumprimento de estágio probatório em concursos públicos
dos co-legitimados pode assumir a titularidade ativa. não exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do
administrador público pelos danos causados. (Incluído pela
Art. 4º A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível Lei nº 13.146, de 2015)
erga omnes, exceto no caso de haver sido a ação julgada § 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta
improcedente por deficiência de prova, hipótese em que o ingresso de pessoa com deficiência em planos privados de
qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico assistência à saúde, inclusive com cobrança de valores
fundamento, valendo-se de nova prova. diferenciados. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
§ 1º A sentença que concluir pela carência ou pela § 4º Se o crime for praticado em atendimento de urgência
improcedência da ação fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço). (Incluído
não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo pela Lei nº 13.146, de 2015)
tribunal.
§ 2º Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da Art. 9º A Administração Pública Federal conferirá aos
ação e suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer assuntos relativos às pessoas portadoras de deficiência
legitimado ativo, inclusive o Ministério Público. tratamento prioritário e apropriado, para que lhes seja
efetivamente ensejado o pleno exercício de seus direitos
Art. 5º O Ministério Público intervirá obrigatoriamente nas individuais e sociais, bem como sua completa integração
ações públicas, coletivas ou individuais, em que se discutam social.
interesses relacionados à deficiência das pessoas. § 1º Os assuntos a que alude este artigo serão objeto de
ação, coordenada e integrada, dos órgãos da Administração
Art. 6º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua Pública Federal, e incluir-se-ão em Política Nacional para
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, na qual
física ou jurídica, pública ou particular, certidões, informações, estejam compreendidos planos, programas e projetos sujeitos
exame ou perícias, no prazo que assinalar, não inferior a 10 a prazos e objetivos determinados.
(dez) dias úteis. § 2º Ter-se-ão como integrantes da Administração Pública
§ 1º Esgotadas as diligências, caso se convença o órgão do Federal, para os fins desta Lei, além dos órgãos públicos, das
Ministério Público da inexistência de elementos para a
Legislação 74
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autarquias, das empresas públicas e sociedades de economia Art. 17. Serão incluídas no censo demográfico de 1990, e
mista, as respectivas subsidiárias e as fundações públicas. nos subsequentes, questões concernentes à problemática da
pessoa portadora de deficiência, objetivando o conhecimento
Art. 10. A coordenação superior dos assuntos, ações atualizado do número de pessoas portadoras de deficiência no
governamentais e medidas referentes a pessoas portadoras de País.
deficiência caberá à Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República. Art. 18. Os órgãos federais desenvolverão, no prazo de 12
Parágrafo único. Ao órgão a que se refere este artigo caberá (doze) meses contado da publicação desta Lei, as ações
formular a Política Nacional para a Integração da Pessoa necessárias à efetiva implantação das medidas indicadas no
Portadora de Deficiência, seus planos, programas e projetos e art. 2º desta Lei.
cumprir as instruções superiores que lhes digam respeito, com
a cooperação dos demais órgãos públicos. Art. 19. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
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JORGE LAPAS
PREFEITO
9http://pmo.osasco.sp.gov.br/portal/conteudo/leis-municipais.xhtml -
Acesso em 20.02.2019
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2.8) Desenvolver formas alternativas de oferta do ensino salas de recursos multifuncionais e serviços especializados,
fundamental, garantida a qualidade, para atender aos filhos e públicos ou conveniados e divulgá-lo.
filhas de profissionais que se dedicam a atividades de caráter
itinerante; Estratégias:
2.9) Promover atividades de desenvolvimento e estímulo a 4.1) Promover, no prazo de vigência deste PME, a
habilidades esportivas nas escolas interligadas a um plano de universalização do atendimento escolar à demanda manifesta
disseminação do desporto educacional e de desenvolvimento pelas famílias de crianças de 4 (quatro) meses a 3 (três) anos
esportivo municipal, estadual e nacional. com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades ou superdotação, observado o que dispõe a
PME - OSASCO - Meta 3: Universalizar, até 2016, o Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e diretrizes e bases da educação nacional;
elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio 4.2) Manter e ampliar a oferta de educação inclusiva,
para 98% nesta faixa etária. vedada a exclusão do ensino regular sob alegação de
deficiência e promovida a articulação pedagógica entre o
Estratégias: ensino regular e o atendimento educacional especializado;
3.1) Promover em regime de colaboração entre Estado de 4.3) Manter e ampliar o número de salas de recursos
São Paulo e União a busca ativa da população de 15 (quinze) a multifuncionais e fomentar a formação continuada dos (as)
17 (dezessete) anos fora da escola, em articulação com os profissionais da educação para o atendimento educacional
serviços de assistência social, saúde e proteção à adolescência especializado nas escolas públicas e privadas;
e à juventude; 4.4) Fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do
3.2) Fomentar, em regime de colaboração entre Estado de acesso à escola e ao atendimento educacional especializado,
São Paulo e União, programas de educação e de cultura para a bem como da permanência e do desenvolvimento escolar dos
população urbana de jovens, na faixa etária de 15 (quinze) a (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais do
17 (dezessete) anos, e de adultos, com qualificação social e desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
profissional para aqueles que estejam fora da escola e com beneficiários (as) de programas de transferência de renda,
defasagem no fluxo escolar; juntamente com o combate às situações de discriminação,
3.3) Fomentar a expansão das matrículas gratuitas no preconceito e violência, com vistas ao estabelecimento de
PRONATEC, ETEC`s e outros, observando-se as peculiaridades condições adequadas para o sucesso educacional, em
das comunidades e das pessoas com deficiência; colaboração com as famílias e com os órgãos públicos de
3.4) Auxiliar em regime de colaboração entre Estado de assistência social, saúde e proteção à infância, à adolescência e
São Paulo e União o redimensionamento da oferta de ensino à juventude;
médio nos turnos diurno e noturno, bem como a distribuição 4.5) Promover a articulação entre órgãos e políticas
territorial das escolas de ensino médio, de forma a atender a públicas de saúde, assistência social e direitos humanos, em
toda a demanda, de acordo com as necessidades específicas parceria com as famílias, com o fim de desenvolver modelos de
dos (as) alunos (as); atendimento voltados à continuidade do atendimento escolar,
3.5) Desenvolver em regime de colaboração entre Estado na educação de jovens e adultos, das pessoas com deficiência e
de São Paulo e União formas alternativas de oferta do ensino transtornos globais do desenvolvimento com idade superior à
médio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e filhas faixa etária de escolarização obrigatória, de forma a assegurar
de profissionais que se dedicam a atividades de caráter a atenção integral ao longo da vida fomentando o controle
itinerante; social e mobilização comunitária mediante a realização de
3.6) Implementar em regime de colaboração entre Estado conferências, fóruns e seminários voltados para a construção
de São Paulo e União políticas de prevenção à evasão motivada de políticas públicas específicas;
por preconceito ou quaisquer formas de discriminação, 4.6) Garantir o AEE (Atendimento Educacional
criando rede de proteção contra formas associadas de Especializado) AEE em salas de recursos multifuncionais e
exclusão fortalecendo a participação nos fóruns existentes em serviços especializados, públicos, nas formas complementar e
âmbito municipal como a prevenção do uso do álcool e outras suplementar a todos os estudantes com deficiência,
drogas, demais redes de proteção e núcleo de prevenção e transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
enfrentamento às violências; superdotação, matriculados na rede pública de educação
3.7) Fortalecer a estrutura de acompanhamento e o básica, conforme necessidade identificada por equipe técnica
monitoramento do acesso e da permanência dos jovens especializada e professores especialistas de AEE, ouvidas as
beneficiários (as) de programas de transferência de renda, no famílias;
ensino médio, quanto à frequência, ao aproveitamento escolar 4.7) Estabelecer parceria com a rede Estadual, para que os
e à interação com o coletivo, bem como das situações de alunos com deficiência, transtornos globais de
discriminação, preconceitos e violências, práticas irregulares desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, ao
de exploração do trabalho, consumo de drogas, gravidez darem continuidade aos estudos na rede estadual (Ensino
precoce, em colaboração com as famílias e com órgãos Fundamental II e Ensino Médio), tenham garantida além do
públicos de assistência social, saúde e proteção à adolescência processo de aprendizagem, o acesso ao Atendimento
e juventude utilizando inclusive dados de programas de educacional Especializado em sua nova fase escolar.
transferência de renda na atenção básica, do programa de 4.8) Manter e ampliar a acessibilidade nas instituições
vigilância de violências e saúde do trabalhador; públicas, para garantir o acesso e a permanência dos (as)
3.8) Estimular a participação dos adolescentes nos cursos alunos (as) com deficiência por meio da adequação
das áreas tecnológicas e científicas; arquitetônica, da oferta de transporte acessível e da
disponibilização de material didático próprio e de recursos de
PME - OSASCO - Meta 4: Universalizar para a população de tecnologia assistiva, assegurando, ainda, no contexto escolar,
4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos em todas as etapas, níveis e modalidades de ensino, a
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou identificação dos (as) alunos (as) com altas habilidades ou
superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento superdotação;
educacional especializado, preferencialmente na rede regular 4.9) Garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua
de ensino, com a garantia do sistema educacional inclusivo, de Brasileira de Sinais - LIBRAS como primeira língua e na
modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda
Legislação 78
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língua, aos (às) alunos (as) surdos e com deficiência auditiva escolar e a aprendizagem dos(as) alunos(as), consideradas as
de 4 (quatro) meses a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes diversas abordagens metodológicas e sua efetividade;
bilíngues e em escolas inclusivas, nos termos do art. 22 do 5.5) Garantir a alfabetização de todas as crianças,
Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e indígenas, quilombolas e de populações itinerantes
30 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com matriculadas nas escolas, com a produção e disponibilização
Deficiência, bem como a adoção do Sistema Braille de leitura de materiais didáticos específicos, e desenvolver instrumentos
para cegos e surdos-cegos; de acompanhamento que considerem a cultura e a identidade
4.10) Ampliar e divulgar o ensino de Libras para pais, mães das comunidades indígenas, quilombolas e população
e familiares de pessoas surdas, bem como para os alunos, itinerante;
funcionários e professores da unidade escolar. 5.6) Promover e estimular a formação inicial e continuada
4.11) Garantir parcerias com instituições comunitárias, de professores(as) para a alfabetização de crianças, com o
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas conhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas
com o poder público, visando a ampliar a oferta de formação pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre
continuada e a produção de material didático acessível, assim programas de pós-graduação stricto sensu de instituições de
como os serviços de acessibilidade necessários ao pleno ensino superior públicas e ações de formação continuada de
acesso, participação e aprendizagem dos estudantes com professores(as) para a alfabetização;
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas 5.7) Apoiar a alfabetização das pessoas com deficiência,
habilidades ou superdotação matriculados na rede pública de considerando as suas especificidades, inclusive a alfabetização
ensino; bilíngue de pessoas surdas, sem estabelecimento de
4.12) Criar centros multidisciplinares de apoio, pesquisa e terminalidade temporal.
assessoria, articulados com instituições acadêmicas e
integrados por profissionais das áreas de saúde, assistência PME - OSASCO - Meta 6: Manter e ampliar a oferta da
social, pedagogia e psicologia, para apoiar o trabalho dos (as) educação integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de
professores, funcionários e funcionárias da educação básica forma a atender, pelo menos, 25% dos (as) alunos (as) da
com os (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais do educação básica.
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
4.13) Apoiar a ampliação das equipes de profissionais da Estratégias:
educação para atender à demanda do processo de 6.1) Promover, com o apoio da União, a oferta de educação
escolarização dos (das) estudantes com deficiência, básica pública integral, por meio de atividades de
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou acompanhamento pedagógico e multidisciplinares, inclusive
superdotação, garantindo a oferta de professores (as) do culturais e esportivas, de forma que o tempo de permanência
atendimento educacional especializado, profissionais de apoio dos (as) alunos (as) na escola, ou sob sua responsabilidade,
ou auxiliares, tradutores (as) e intérpretes de Libras, guias- passe a ser igual ou superior a 7 (sete) horas diárias durante
intérpretes para surdos-cegos, professores de Libras, todo o ano letivo, com a ampliação progressiva da jornada de
prioritariamente surdos, e professores bilíngues; professores em uma única escola;
4.14). Promover parcerias com instituições comunitárias, 6.2) Manter e ampliar em regime de colaboração,
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas programa de construção de escolas com padrão arquitetônico
com o poder público, a fim de favorecer a participação das e de mobiliário adequado para atendimento integral,
famílias e da sociedade na promoção da educação inclusiva no prioritariamente em comunidades pobres ou com crianças em
âmbito do Sistema Municipal de Educação. situação de vulnerabilidade social;
6.3) Manter a adesão ao programa nacional de ampliação e
PME - OSASCO - Meta 5: Alfabetizar todas as crianças no reestruturação das escolas públicas, por meio da instalação de
máximo até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental quadras poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática,
em consonância com o Programa Nacional de Alfabetização na espaços para atividades culturais, bibliotecas, auditórios,
Idade Certa - PNAIC. cozinhas, refeitórios, banheiros e outros equipamentos, bem
como da produção de material didático e da formação de
Estratégias: recursos humanos para a educação integral;
5.1) Estruturar os processos pedagógicos de alfabetização, 6.4) Fomentar a articulação da escola com os diferentes
nos anos iniciais do ensino fundamental, articulando-os com espaços educativos, culturais e esportivos e com
as estratégias desenvolvidas na Educação Infantil, com equipamentos públicos, como centros comunitários,
qualificação e valorização dos(as) professores(as) bibliotecas, praças, parques, museu, teatros e cinemas;
alfabetizadores e com apoio pedagógico específico, a fim de 6.5) Garantir a ampliação do tempo de permanência para
garantir a alfabetização plena de todas as crianças; pessoas com deficiência, transtornos globais do
5.2) Manter e aprimorar instrumentos de avaliação desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na faixa
municipal periódicos e específicos para aferir a alfabetização etária de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, assegurando
das crianças, aplicados a cada ano, bem como estimular os atendimento educacional especializado complementar e
sistemas de ensino e as escolas a criarem os respectivos suplementar ofertado em salas de recursos multifuncionais da
instrumentos de avaliação e monitoramento, implementando própria escola ou em instituições especializadas;
medidas pedagógicas para alfabetizar todos os alunos e alunas 6.6) Adotar medidas para otimizar o tempo de
até o final do terceiro ano do ensino fundamental; permanência dos alunos na escola, direcionando a expansão
5.3) Selecionar e divulgar tecnologias educacionais para a da jornada para o efetivo trabalho escolar, combinado com
alfabetização de crianças, assegurada a diversidade de atividades recreativas, esportivas e culturais.
métodos e propostas pedagógicas, bem como o 6.7) Promover a discussão de forma participativa com o
acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino envolvimento dos profissionais da educação, estudantes e
municipal e estadual em que forem aplicadas, devendo ser comunidades para a atualização da matriz curricular;
disponibilizadas, preferencialmente, como recursos 6.8) Manter e garantir a atualização da infraestrutura e
educacionais abertos; acesso às tecnologias digitais.
5.4) Fomentar o desenvolvimento de tecnologias
educacionais e de práticas pedagógicas inovadoras que PME - OSASCO- Meta 7: Fomentar a qualidade da educação
assegurem a alfabetização e favoreçam a melhoria do fluxo básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do
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fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as médias melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem, assegurada a
para o IDEB estabelecidas para o município. diversidade de métodos e propostas pedagógicas, com
preferência para softwares livres e recursos educacionais
Estratégias: abertos, bem como o acompanhamento dos resultados nos
7.1) Participar de pactuação inter federativa que sistemas de ensino em que forem aplicadas;
estabeleça e implante, diretrizes pedagógicas para a educação 7.11) Melhorar o desempenho dos alunos da educação
básica e a base nacional comum dos currículos, com direitos e básica nas avaliações da aprendizagem no Programa
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos(as) Internacional de Avaliação de Estudantes - PISA, tomado como
alunos(as) para cada ano do ensino fundamental, respeitada a instrumento externo de referência internacional reconhecido,
diversidade local; de acordo com as seguintes projeções:
7.2) Assegurar que: _____________________________________________
a) no quinto ano de vigência deste PME, pelo menos 70% | PISA | 2015 | 2018 | 2021 |
(setenta por cento) dos (as) alunos (as) do ensino fundamental |========================|======|======|======
tenham alcançado nível suficiente de aprendizado em relação |
aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento |Média dos resultados em| 438| 455| 473|
de seu ano de estudo, e 50% (cinquenta por cento), pelo |matemática, leitura e| | | |
menos, o nível desejável; |ciências | | | |
b) no último ano de vigência deste PME, todos os (as) |________________________|______|______|______|
estudantes do ensino fundamental tenham alcançado nível
suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos 7.12) Manter e aprimorar o acesso à rede mundial de
de aprendizagem e desenvolvimento de seu ano de estudo, e computadores em banda larga de alta velocidade e triplicar,
80% (oitenta por cento), pelo menos, o nível desejável; até o final da década, a relação computador/aluno(a) nas
7.3) Participar para a constituição do conjunto nacional de escolas da rede pública de educação básica, promovendo a
indicadores de avaliação institucional com base no perfil do utilização pedagógica das tecnologias da informação e da
alunado e do corpo de profissionais da educação, nas comunicação;
condições de infraestrutura das escolas, nos recursos 7.13) Apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar
pedagógicos disponíveis, nas características da gestão e em mediante transferência direta de recursos financeiros à escola,
outras dimensões relevantes, considerando as especificidades garantindo a participação da comunidade escolar no
das modalidades de ensino; planejamento e na aplicação dos recursos, visando à ampliação
7.4) Aprimorar e manter o processo contínuo de auto- da transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão
avaliação das escolas de educação básica, por meio da democrática;
constituição de instrumentos de avaliação que orientem as 7.14) Ampliar programas e aprofundar ações de
dimensões a serem fortalecidas, destacando-se a elaboração atendimento ao(à) aluno(a), em todas as etapas da educação
de planejamento estratégico, a melhoria contínua da qualidade básica, por meio de programas suplementares de material
educacional, a formação continuada dos (as) profissionais da didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à
educação e o aprimoramento da gestão democrática; saúde;
7.5) Manter o monitoramento dos planos de ações 7.15) Assegurar a todas as escolas públicas de educação
articuladas dando cumprimento às metas de qualidade básica o acesso a energia elétrica, abastecimento de água
estabelecidas para a educação básica pública e às estratégias tratada, esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sólidos,
de apoio técnico e financeiro voltadas à melhoria da gestão garantir o acesso dos alunos a espaços para a prática esportiva,
educacional, à formação e valorização de professores e a bens culturais e artísticos e a equipamentos e laboratórios de
professoras e profissionais de serviços e apoio escolares, à ciências e, em cada edifício escolar, garantir a acessibilidade às
ampliação e ao desenvolvimento de recursos pedagógicos e à pessoas com deficiência;
melhoria e expansão da infraestrutura física da rede escolar; 7.16) Prover equipamentos e recursos tecnológicos
7.6) Associar a prestação de assistência técnica financeira digitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a
à fixação de metas intermediárias, priorizando escolas da rede todas as escolas públicas municipais da educação básica,
de ensino com IDEB abaixo da média municipal; criando, inclusive, mecanismos para implementação das
7.7) Aprimorar continuamente os instrumentos de condições necessárias para a universalização das bibliotecas
avaliação da qualidade do ensino fundamental, de forma a nas instituições educacionais, com acesso a redes digitais de
englobar o ensino de ciências nos exames aplicados nos anos computadores, inclusive a internet;
finais do ensino fundamental, assegurada a sua 7.17) Colaborar com a União no objetivo de viabilizar, no
universalização, ao sistema de avaliação da educação básica, prazo de 2 (dois) anos contados da publicação da lei do PNE, a
bem como apoiar o uso dos resultados das avaliações implantação do Custo-Aluno-Qualidade inicial (CAQi) e Custo-
nacionais pelas escolas e redes de ensino para a melhoria de Aluno-Qualidade (CAQ), como instrumento para a melhoria da
seus processos e práticas pedagógicas; qualidade do ensino;
7.8) Orientar as políticas das redes e sistemas de ensino, de 7.18) Informatizar integralmente a gestão das escolas
forma a buscar atingir as metas do IDEB diminuindo a públicas e das secretarias de educação - estado e município -
diferença entre as escolas com os menores índices e a média bem como manter programa de formação inicial e continuada
municipal, garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo para o pessoal técnico das escolas públicas e da secretarias;
pela metade, até o último ano de vigência deste PME, as 7.19) Garantir políticas de combate à violência na escola,
diferenças entre as médias dos índices do Município; inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à
7.9) Estabelecer, acompanhar e divulgar bienalmente os capacitação de educadores para detecção dos sinais de suas
resultados pedagógicos dos indicadores dos sistemas nacional causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a
e estadual de avaliação da educação básica e do IDEB, relativos adoção das providências adequadas para promover a
às escolas, assegurando a contextualização desses resultados e construção da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de
garantindo a transparência e o acesso público às informações segurança para a comunidade inclusive fomentando a
técnicas de concepção e operação do sistema de avaliação; participação intersetorial no Grupo de Prevenção e
7.10) Incentivar o desenvolvimento, selecionar, e divulgar Enfrentamento às Violências;
tecnologias educacionais para o ensino fundamental e 7.20) Implementar políticas de inclusão e permanência na
incentivar práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a escola para adolescentes e jovens que se encontram em regime
Legislação 80
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de liberdade assistida e em situação de rua, assegurando os PME - Osasco - Meta 8: Elevar a escolaridade média da
princípios da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da população a partir de 18 anos de modo a alcançar mínimo de
Criança e do Adolescente; 12 anos de estudo até o final da vigência deste Plano para as
7.21) Garantir nos currículos escolares conteúdos sobre a populações, privadas de liberdade, das regiões de menor
história e as culturas afrobrasileira e indígenas e implementar escolaridade no município de Osasco, dos 25% mais pobres,
ações educacionais, nos termos das Leis nº 10.639, de 9 de bem como igualar a escolaridade média entre negros e não
janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008, negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.
assegurando-se a implementação das respectivas diretrizes
curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas com Estratégias:
fóruns de educação para a diversidade étnico-racial, conselhos 8.1) Apoiar a ampliação de programas e desenvolver
escolares, equipes pedagógicas e a sociedade civil; tecnologias para correção de fluxo, para acompanhamento
7.22) Consolidar a educação escolar de populações pedagógico individualizado e para recuperação e progressão
tradicionais, de populações itinerantes e de comunidades parcial, bem como priorizar estudantes com rendimento
indígenas e quilombolas, respeitando a articulação entre os escolar defasado, considerando as especificidades dos
ambientes escolares e comunitários e garantindo: o segmentos populacionais considerados;
desenvolvimento sustentável e preservação da identidade 8.2) Manter e aprimorar políticas de educação de jovens e
cultural; a participação da comunidade na definição do modelo adultos para os segmentos populacionais considerados, que
de organização pedagógica e de gestão das instituições, estejam fora da escola e com defasagem idade-série,
consideradas as práticas socioculturais e as formas associados a outras estratégias que garantam a continuidade
particulares de organização do tempo; a reestruturação e a da escolarização, após a alfabetização inicial;
aquisição de equipamentos; a oferta de programa para a 8.3) Garantir e divulgar o acesso gratuito a exames de
formação inicial e continuada de profissionais da educação; e certificação da conclusão dos ensinos fundamental e médio;
o atendimento em educação especial; 8.4) Assegurar, em parceria com as áreas de saúde e
7.23) Mobilizar as famílias e setores da sociedade civil, assistência social, o acompanhamento e o monitoramento do
articulando a educação formal com experiências de educação acesso à escola, específicos para os segmentos populacionais
popular e cidadã, com os propósitos de que a educação seja considerados, identificar motivos de absenteísmo para a
assumida como responsabilidade de todos e de ampliar o garantia de frequência e apoio à aprendizagem, de maneira a
controle social sobre o cumprimento das políticas públicas estimular a ampliação do atendimento desses(as) estudantes
educacionais; na rede pública regular de ensino;
7.24) Promover a articulação dos programas da área da 8.5) Manter e aprimorar a busca ativa de jovens fora da
educação, de âmbito local e nacional, com os de outras áreas, escola pertencentes aos segmentos populacionais
como saúde - com o fortalecimento do programa Saúde na considerados, em parceria com as áreas de assistência social,
Escola, trabalho e emprego, assistência social, esporte e saúde e proteção à juventude.
cultura, possibilitando a criação de rede de apoio integral às 8.6) Apoiar a expansão da oferta gratuita de educação
famílias, como condição para a melhoria da qualidade profissional técnica, preferencialmente na rede publica, de
educacional; forma concomitante ao ensino regular para os segmentos
7.25) Universalizar, mediante articulação entre os órgãos populacionais considerados.
responsáveis pelas áreas da saúde e da educação, o
atendimento aos(às) estudantes da rede escolar pública de PME - Osasco - Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da
educação básica por meio de ações de prevenção, promoção e população com 15 (quinze) anos ou mais para 98% (noventa e
atenção à saúde qualificando os mecanismos de referência e oito cento) até 2016 e, até o final da vigência deste PME,
contra referência; reduzir a 0% o analfabetismo absoluto e em pelo menos 50%
7.26) Estabelecer ações efetivas especificamente voltadas (cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional.
para a promoção, prevenção, atenção e atendimento à saúde e
à integridade física, mental e emocional dos(das) profissionais Estratégias:
da educação, como condição para a melhoria da qualidade 9.1) Assegurar a oferta gratuita da educação de jovens e
educacional criando inclusive um grupo de discussão com adultos a todos os que não tiveram acesso à educação básica
professores para refletir e intervir nos processos de trabalho na idade própria;
visando à melhoria da qualidade de vida; 9.2) Realizar diagnóstico dos jovens e adultos com ensino
7.27) Promover a articulação dos programas das aéreas de fundamental e médio incompletos, para identificar a demanda
educação, de âmbito local, com de outras áreas, como o meio ativa por vagas na educação de jovens e adultos;
ambiente - com fortalecimento de programas de 9.3) Garantir e ampliar ações de alfabetização de jovens e
sustentabilidade ambiental; adultos com garantia de continuidade da escolarização básica;
7.28) Fortalecer, com a colaboração técnica e financeira da 9.4) Manter chamadas públicas regulares para educação
União, em articulação com o sistema nacional de avaliação, os de jovens e adultos, com ampla divulgação utilizando recursos
sistemas estaduais de avaliação da educação básica, com audiovisuais e meios de comunicação de massa, promovendo-
participação, por adesão, das redes municipais de ensino, para se busca ativa em regime de colaboração entre entes federados
orientar as políticas públicas e as práticas pedagógicas, com o e em parceria com organizações da sociedade civil e com
fornecimento das informações às escolas e à sociedade; outras secretarias de governo;
7.29) Promover, com especial ênfase, em consonância com 9.5) Realizar a cada ano a partir da aprovação deste plano,
as diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a avaliação, por meio de exames específicos, que permita aferir
formação de leitores e leitoras e a capacitação de professores o grau de alfabetização de jovens e adultos com mais de 15
e professoras, técnicos em bibliotecas escolares e agentes da (quinze) anos de idade;
comunidade e/ou bibliotecário para atuar como mediadores e 9.6) Em cooperação com a União e o Estado executar ações
mediadoras da leitura, de acordo com a especificidade das de atendimento ao (à) estudante da educação de jovens e
diferentes etapas do desenvolvimento e da aprendizagem; adultos por meio de programas suplementares de transporte,
7.30) Promover a regulação da oferta da educação básica alimentação e saúde, inclusive atendimento oftalmológico e
pela iniciativa privada, de forma a garantir a qualidade e o fornecimento gratuito de óculos, em articulação com a área da
cumprimento da função social da educação. saúde;
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9.7) Apoiar a oferta de educação de jovens e adultos, nas 9.20) Criar iniciativas de Educação Popular em direitos
etapas de ensino fundamental e médio, às pessoas privadas de humanos e fomentar as já existentes;
liberdade em todos os estabelecimentos penais, assegurando- 9.21) Reverter o fechamento das classes de EJA
se formação específica dos professores e das professoras e Fundamental II e Médio, retomando a ampliação da oferta
implementação de diretrizes nacionais em regime de educativa de qualidade para adolescentes, jovens e adultos,
colaboração; próximas aos locais de moradia, bem como assegurar a
9.8) Apoiar projetos inovadores na educação de jovens e permanência das escolas com recursos financeiros, humanos e
adultos que visem ao desenvolvimento de modelos adequados valorização da identidade da população.
às necessidades específicas desses (as) alunos (as);
9.9) Ampliar mecanismos de incentivos que integrem os PME - Osasco- Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e
segmentos empregadores, públicos e privados, e os sistemas cinco por cento) das matrículas de educação de jovens e
de ensino, para promover a compatibilização da jornada de adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada
trabalho dos empregados e das empregadas com a oferta das à educação profissional.
ações de alfabetização e de educação de jovens e adultos;
9.10) Implementar programas de capacitação tecnológica Estratégias:
da população jovem e adulta, direcionados para os segmentos 10.1) Garantir o atendimento, em regime de colaboração
com baixos níveis de escolarização formal e para os (as) alunos com as esferas de governo, no programa nacional de educação
(as) com deficiência, articulando os sistemas de ensino, a Rede de jovens e adultos voltado à conclusão do ensino fundamental
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, as e à formação profissional inicial, de forma a estimular a
universidades, as cooperativas e as associações, por meio de conclusão da educação básica;
ações de extensão desenvolvidas em centros vocacionais 10.2) Expandir as matrículas na educação de jovens e
tecnológicos, com tecnologias assistivas, que favoreçam a adultos, de modo a articular a formação inicial e continuada de
efetiva inclusão social e produtiva dessa população; trabalhadores com a educação profissional, nas redes de
9.11) Considerar, nas políticas públicas de jovens e ensino objetivando a elevação do nível de escolaridade do
adultos, as necessidades dos idosos, com vistas à promoção de trabalhador e da trabalhadora;
políticas de erradicação do analfabetismo, com professores 10.3) Fomentar a integração da educação de jovens e
qualificados em tecnologias educacionais e atividades adultos com a educação profissional, em cursos planejados, de
recreativas, culturais e esportivas, à implementação de acordo com as características do público da educação de
programas de valorização e compartilhamento dos jovens e adultos e considerando as especificidades das
conhecimentos e experiência dos idosos e à inclusão dos temas populações itinerantes e das comunidades indígenas e
do envelhecimento e da velhice nas escolas; quilombolas, juridicamente constituídas como tal, inclusive na
9.12) Considerar metodologia específica para o trabalho modalidade de educação à distância;
com a EJA, em consonância com os princípios defendidos nos 10.4) Ampliar as oportunidades profissionais dos jovens e
documentos dos ENEJAs - Encontro Nacional de Educação de adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por meio
Jovens e Adultos, dos EREJAs - Encontro Regional de Educação do acesso à educação de jovens e adultos articulada à educação
de Jovens e Adultos; profissional;
9.13) Reconhecer a Educação Popular como política 10.5) Estimular a diversificação curricular da educação de
pública para execução efetiva do direito à Educação, jovens e adultos, articulando a formação básica e a preparação
entendendo como Educação Popular as práticas educacionais para o mundo do trabalho e estabelecendo inter-relações
organizadas pelos movimentos sociais; entre teoria e prática, nos eixos da ciência, do trabalho, da
9.14) Ampliar a proposta pedagógica interdisciplinar, que tecnologia e da cultura e cidadania, de forma a organizar o
leve em conta as vivências de jovens e adultos e os aspectos tempo e o espaço pedagógicos adequados às características
históricos, sociais e culturais, por meio de um processo de desses alunos e alunas;
escolarização que respeite a relação teoria-prática e vise ao 10.6) Fomentar a produção de material didático, o
exercício pleno da cidadania; desenvolvimento de currículos e metodologias específicas, os
9.15) Manter e elaborar, um projeto político-pedagógico instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e
interdisciplinar, com fundamentação nas vivências de jovens e laboratórios e a formação continuada dos profissionais da
adultos, nos aspectos históricos, sociais e culturais e na relação educação das redes públicas que atuam na educação de jovens
teoria-prática; e adultos articulada à educação profissional;
9.16) Em regime de colaboração com os demais entes 10.7) Apoiar a expansão da oferta de educação de jovens e
federados, assegurar que a rede estadual de ensino, mantenha adultos articulada à educação profissional, de modo a atender
programas de atendimento e de formação, capacitação e às pessoas privadas de liberdade nos estabelecimentos penais,
habilitação de educadores de jovens e adultos, para atuar de assegurando-se formação específica dos professores e das
acordo com o perfil deste alunado, de forma a atender a professoras e implementação de diretrizes nacionais em
demanda de órgãos públicos envolvidos no esforço de regime de colaboração;
erradicação do analfabetismo; 10.8) Manter e ampliar mecanismos de reconhecimento de
9.17) Incentivar as instituições de Educação Superior e os saberes dos jovens e adultos trabalhadores, a serem
Institutos de Pesquisa a desenvolverem estudos capazes de considerados na articulação curricular dos cursos de formação
oferecer subsídios ao esforço de erradicação do analfabetismo inicial e continuada e dos cursos técnicos de nível médio e
e de criação de mecanismos de acesso aos diversos níveis formação profissional;
subsequentes da escolaridade; 10.9) Promover a educação para o mundo do trabalho sem
9.18) Implementar, no prazo máximo de dois (2) anos a abrir mão da formação para a cidadania;
contar da aprovação do PME, na EJA, a formação contínua dos 10.10) Favorecer, durante a formação, a problematização
profissionais em educação, a partir de uma proposta conjunta e a apropriação de conhecimentos relativos ao currículo e
das instituições de Educação Superior e Institutos de Pesquisa; metodologias para a EJA, construídos a partir de um trabalho
9.19) Continuar realizando anualmente a avaliação e de caracterização dos sujeitos envolvidos, identificando qual é
divulgação dos resultados dos programas e políticas públicas o perfil da EJA em cada contexto. Mediante a identificação dos
de educação de jovens e adultos, de forma a possibilitar o diferentes sujeitos, deve ser desenvolvida a formação voltada
cotejo dos resultados obtidos e o aperfeiçoamento da para o trabalho com projetos que promovam a integração
sistemática de coleta de dados;
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entre as disciplinas ou áreas do conhecimento e a integração inovações acadêmicas que valorizem a aquisição de
ao mundo do trabalho; competências de nível superior;
10.11) Articular as políticas de educação de jovens e 12.4) Fomentar a oferta de educação superior pública e
adultos com as de proteção contra o desemprego e de geração gratuita prioritariamente para a formação de professores e
de empregos; professoras para a educação básica, bem como para atender ao
10.12) Manter e ampliar a Economia Solidária no currículo déficit de profissionais em áreas específicas por meio de
de EJA e MOVA, na perspectiva de discussões sobre o mundo parcerias com instituições educacionais da administração
do trabalho na atualidade e a perspectiva e que outra indireta.
economia é possível. 12.5) Proporcionar condições e mecanismos de
disponibilizar recursos, aos estudantes, em suas modalidades
PME - Osasco - Meta 11: Estimular a expansão de e etapas de ensino, durante sua permanência nos cursos,
matrículas na educação profissional de nível médio, inclusive com o passe-livre;
assegurando a qualidade da oferta e pelo menos em 50% da 12.6) Apoiar a ampliação de políticas de inclusão e de
expansão no segmento público. assistência estudantil dirigidas aos estudantes de instituições
públicas e bolsistas de instituições privadas de educação
Estratégias superior, de modo a reduzir as desigualdades étnico-raciais e
11.1) Incentivar a expansão da oferta de educação ampliar as taxas de acesso e permanência na educação
profissional e técnica de nível médio na rede publica estadual superior de estudantes egressa escola pública,
de ensino; afrodescendentes, indígenas e de estudantes com deficiência,
11.2) Incentivar a expansão da oferta da educação transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
profissional técnica de nível médio na modalidade de educação super dotação, de forma a apoiar seu sucesso acadêmico;
à distancia, com a finalidade de ampliar a oferta e 12.7) Motivar que seja assegurado, no mínimo, 10% (dez
democratizar o acesso à educação profissional pública e por cento) do total de créditos curriculares exigidos para a
gratuita, assegurando padrão de qualidade; graduação em programas e projetos de extensão universitária,
11.3) Apoiar a institucionalização do sistema de avaliação orientando sua ação, prioritariamente, para as áreas de grande
da qualidade da educação profissional técnica de nível médio pertinência social;
das redes escolares públicas e privadas; 12.8) Apoiar a ampliação da oferta de estágio como parte
11.4) Estimular a elevação gradual da taxa de conclusão estratégica da formação na educação superior;
média dos cursos técnicos de nível médio na rede federal de 12.9) Apoiar a ampliação da participação proporcional de
educação profissional, científica e tecnológica; e elevar, nos grupos historicamente excluídos na educação superior,
cursos presenciais a relação de alunos(as)/professor para 20 inclusive mediante a adoção de políticas afirmativas, na forma
(vinte); da lei, estabelecendo uma política de cotas nas IES públicas
11.5) Apoiar ações que visem à redução das desigualdades estaduais e municipais;
étnicos raciais e regionais no acesso e permanência na 12.10) Fiscalizar para assegurar condições de
educação profissional técnica de nível médio, inclusive acessibilidade nas instituições de educação superior, na forma
mediante a adoção de políticas afirmativas na forma da lei; da legislação;
11.6) Estimular a oferta de programas de reconhecimento 12.11) Apoiar o fomento de estudos e pesquisas que
de saberes para fins de certificação profissional em nível analisem uma necessidade de articulação entre formação,
técnico. currículo, pesquisa e mundo do trabalho, considerando as
11.7) Apoiar a expansão a oferta da educação profissional necessidades econômicas, sociais e culturais do País;
técnica de nível médio para as pessoas com deficiências, 12.12) Apoiar a ampliação das linhas de pesquisa nos
transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades ou cursos de pós-graduação, que visem ao estudo da educação
superdotação. inclusiva, que atendam as demandas dos programas de
educação continuada no município.
PME - Osasco meta 12: Estimular a elevação da taxa bruta 12.13) Apoiar a consolidação e ampliação dos programas e
de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por ações de incentivo à mobilidade estudantil e docente em
cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da cursos de graduação e pós-graduação, em âmbito nacional e
população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, internacional, tendo em vista o enriquecimento da formação
assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, de nível superior;
40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento 12.14) Apoiar a expansão do atendimento específico a
público. comunidades indígenas e quilombolas, em relação a acesso,
permanência, conclusão e formação de profissionais para
Estratégias: atuação nestas populações;
12.1) Apoiar a otimização da capacidade instalada da 12.15) Colaborar com o mapeamento da demanda e
estrutura física e de recursos humanos das instituições fomentar a oferta de formação de pessoal de nível superior,
públicas de educação superior estaduais, mediante ações destacadamente a que se refere à formação nas áreas de
planejadas e coordenadas, de forma a ampliar e interiorizar o ciências e matemática, considerando as necessidades do
acesso à graduação; desenvolvimento do País, a inovação tecnológica e a melhoria
12.2) Apoiar a ampliação da oferta de vagas de nível da qualidade da educação básica;
superior, por meio da expansão e interiorização das 12.16) Apoiar a institucionalização do programa de
Universidades Estaduais de São Paulo (USP, UNESP e composição de acervo digital de referências bibliográficas e
UNICAMP) e do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) audiovisuais para os cursos de graduação, assegurada a
e Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, em acessibilidade às pessoas com deficiência;
pelo menos 20%; 12.17) Apoiar a consolidação dos processos seletivos
12.3) Apoiar a elevação gradual da taxa de conclusão nacionais e regionais para acesso à educação superior como
média dos cursos de graduação presenciais nas universidades forma de superar exames vestibulares isolados;
públicas para 90% (noventa por cento), ofertar, no mínimo, 12.18) Estimular mecanismos para ocupar as vagas
1/3 (um terço) das vagas em cursos noturnos e elevar a ociosas em cada período letivo na educação superior pública;
relação de estudantes por professor para 18 (dezoito) e da administração indireta;
mediante estratégias de aproveitamento de créditos e
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12.19) Estimular a expansão e reestruturação das privadas, para 75% (setenta e cinco por cento), em 2020, e
universidades estaduais existentes na data de promulgação da fomentar a melhoria dos resultados de aprendizagem, de
Constituição Federal de 1988, a partir de apoio técnico e modo que, em 5 (cinco) anos, pelo menos 60% (sessenta por
financeiro do Governo Federal, mediante termo de adesão a cento) dos estudantes apresentem desempenho positivo igual
programa de reestruturação, na forma de regulamento; ou superior a 60% (sessenta por cento) no Exame Nacional de
12.20) Apoiar a fixação de prazo não superior a 180 (cento Desempenho de Estudantes - ENADE e, no último ano de
e oitenta) dias para a conclusão de processos autorizativos de vigência, pelo menos 75% (setenta e cinco por cento) dos
cursos ou instituições, de reconhecimento ou renovação de estudantes obtenham desempenho positivo igual ou superior
reconhecimento de cursos superiores, de credenciamento ou a 75% (setenta e cinco por cento) nesse exame, em cada área
recredenciamento de instituições; de formação profissional;
12.21) Estimular a expansão das matrículas de educação 13.5) Incentivar a promoção de formação inicial e
profissional tecnológica de nível superior do Centro Estadual continuada dos/as profissionais técnico-administrativos da
de Educação Tecnológica Paula Souza com a sua vinculação educação superior;
com arranjos produtivos, sociais e culturais locais e regionais, 13.6) Em sistema de colaboração entre União e Estado
bem como a interiorização da educação profissional somente estabelecer convênio entre as IES (Instituições de Ensino
vinculada a progressivo aumento de recursos; Superior) públicas do Estado de São Paulo e o MEC (Ministério
12.22) Estimular a expansão de oferta de financiamento da Educação) para a implementação de programas de primeira
estudantil à educação profissional tecnológica de nível e segunda licenciaturas aos professores das redes públicas
superior oferecida no Centro Estadual de Educação municipais e estadual;
Tecnológica Paula Souza; 13.7) Apoiar a oferta através da Universidade Aberta do
12.23) Apoiar a instituição de sistema de avaliação da Brasil da primeira semipresencial ou segunda licenciatura aos
qualidade da educação profissional tecnológica de nível professores das redes públicas e à comunidade local.
superior da rede escolar do setor privado;
12.24) Apoiar a elevação gradual do investimento em PME - Osasco Meta 14: Apoiar a elevação gradual do
programas de assistência estudantil e mecanismos de número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de
mobilidade acadêmica, visando a garantir as condições modo a atingir a titulação anual de 60.000 (sessenta mil)
necessárias à permanência dos (as) estudantes e à conclusão mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores, conforme meta
dos cursos tecnológicos de nível superior; 14 do PNE.
12.25) Apoiar a redução das desigualdades étnico-raciais e
regionais no acesso e permanência na educação profissional Estratégias:
tecnológica de nível superior, inclusive mediante a adoção de 14.1) Apoiar a expansão do financiamento da pós-
políticas afirmativas, na forma da lei; graduação stricto sensu por meio das agências oficiais de
12.26) Apoiar a estruturação de sistema estadual de fomento;
informação profissional, articulando a oferta de formação das 14.2) Estimular a integração e a atuação articulada entre a
instituições especializadas em educação profissional aos Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
dados do mercado de trabalho e as consultas promovidas em Superior - CAPES e a FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa
entidades empresariais e de trabalhadores. do Estado de São Paulo;
14.3) Apoiar a expansão da oferta de cursos de pós-
PME - Osasco - Meta 13: apoiar a elevação da qualidade da graduação stricto sensu na IES públicas, utilizando inclusive
educação superior e ampliar a proporção de mestres e metodologias, recursos e tecnologias de educação à distância;
doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do 14.4) Apoiar a consolidação de programas, projetos e
sistema de educação superior para 75% (setenta e cinco por ações que objetivem a internacionalização da pesquisa e da
cento), sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por pós-graduação estadual, incentivando a atuação em rede e o
cento) doutores. fortalecimento de grupos de pesquisa;
14.5) Apoiar a implementação de ações para redução de
Estratégia: desigualdades étnico-raciais e regionais e para favorecer o
13.1) Apoiar a promoção de melhoria da qualidade dos acesso das comunidades indígenas e quilombolas a programas
cursos de pedagogia e licenciaturas, por meio da aplicação de de mestrado e doutorado;
instrumento próprio de avaliação aprovado pela Comissão 14.6) Apoiar a oferta de programas de pós-graduação
Nacional de Avaliação da Educação Superior - CONAES, stricto sensu nas IES públicas, especialmente os de doutorado;
integrando-os às demandas e necessidades das redes de 14.7) Apoiar a manutenção e expansão do programa de
educação básica, de modo a permitir aos graduandos a acervo digital de referências bibliográficas para os cursos de
aquisição das qualificações necessárias a conduzir o processo pós-graduação, assegurada a acessibilidade às pessoas com
pedagógico de seus futuros alunos/as, combinando formação deficiência;
integral geral, além de prática didática; 14.8) Estimular a participação das mulheres nos cursos de
13.2) Incentivar a elevação do padrão de qualidade das pós-graduação stricto sensu, em particular aqueles ligados às
universidades estaduais e do Centro Estadual de Educação áreas de engenharia, matemática, física, química, informática e
Tecnológica Paula Souza, direcionando sua atividade, de modo outros no campo das ciências;
que realizem, efetivamente, pesquisa institucionalizada, 14.9) Estimular que seja garantido aos professores da
articulada a programas de pós-graduação stricto sensu; educação profissional e tecnológica, bacharéis nas diversas
13.3) Apoiar o fomento a formação de consórcios entre áreas do conhecimento tecnológico, a obtenção de habilidades
instituições públicas de educação superior, com vistas em pedagógicas a partir de programa especial de pós-graduação
potencializar a atuação regional, inclusive por meio de plano em educação, ensino e prática docente;
de desenvolvimento institucional integrado, assegurando 14.10) apoiar a promoção e a valorização dos
maior visibilidade nacional e internacional às atividades de trabalhadores em educação, professores e técnicos
ensino, pesquisa e extensão; administrativos através de formação continuada ofertada em
13.4) Incentivar a elevação da qualidade da educação IES públicas, plano de carreira, combate ao assédio moral e à
superior, por meio do aumento gradual da taxa de conclusão intensificação do trabalho, condições de trabalho, redução do
média dos cursos de graduação presenciais, nas universidades número de alunos por sala de aula, salários dignos e
públicas, para 90% (noventa por cento) e, nas instituições participação nas instâncias decisórias das IES;
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14.11) Apoiar a garantia da qualidade social da Educação e da instituição de programa nacional de disponibilização de
Superior para além dos conceitos e avaliações do MEC, recursos para acesso a bens culturais pelo magistério público;
possibilitando a consciência crítica e a competência técnica 16.6) Divulgar e apoiar os cursos de pós graduação
através da pesquisa, da extensão que evitem a massificação e oferecidos também pela Universidade Aberta do Brasil.
sim o desenvolvimento soberano do país.
PME - Osasco - Meta 17: Valorizar os profissionais do
PME- Osasco - Meta 15: estimular a garantia, em regime magistério da rede pública municipal de educação básica de
de colaboração da União, Estado e município que forma a equiparar seu rendimento médio ao dos demais
gradativamente os profissionais da educação tenham acesso a profissionais com escolaridade equivalente, observado o
programas de formação preferencialmente em nível superior disposto na Lei Complementar 101/2000.
nos cursos de licenciatura na área em que atuam.
Estratégias:
17.1) Viabilizar, atendendo o disposto na Lei
Estratégias:
Complementar nº 101/2000, aos profissionais do magistério,
15.1) Atuar conjuntamente, com base em plano estratégico
vencimentos ou salários iniciais nunca inferiores aos valores
que apresente diagnóstico das necessidades de formação de
correspondentes ao Piso Salarial Profissional Nacional, nos
profissionais da educação e da capacidade de atendimento, por
termos da Lei nº 11.738/2008;
parte de instituições públicas e comunitárias de educação
17.2) Promover o reconhecimento da importância da
superior existentes no Estado e município e defina obrigações
carreira dos profissionais da educação e o desenvolvimento de
recíprocas entre os partícipes;
ações que visem à equiparação salarial com outras carreiras
15.2) Apoiar programas específicos para formação dos
profissionais de formação equivalente, de acordo com a Meta
profissionais da educação bem como para as comunidades
17 do Plano Nacional de Educação;
indígena, quilombolas e educação especial;
17.3) Construir por iniciativa da SED (Secretaria da
15.3) Apoiar a ampliação da plataforma eletrônica para
Educação) até o final do 1º ano de vigência desse Plano, comitê
organizar a oferta de matriculas em cursos de formação inicial
permanente com representação das secretarias de finanças,
e continuada de profissionais da educação, bem como divulgar
administração e dos trabalhadores da educação, para
e atualizar seus currículos;
apresentar plano de atualização progressiva para alcance da
15.4) Apoiar a oferta de fomento de cursos de formação
meta 17 do Plano Nacional de Educação, até o final de 2021,
continuada e técnicos de nível médio e tecnológicos de nível
observadas as disposições da Lei Complementar nº 101/2000;
superior destinados à formação nas respectivas áreas de
17.4) Fixar vencimentos ou salário inicial para as carreiras
atuação dos(as) profissionais da educação e outros segmentos
profissionais da educação, de acordo com a jornada de
que não o do magistério;
trabalho definida nos respectivos planos de carreira, devendo
15.5) Apoiar o desenvolvimento de formação docente para
os valores, no caso dos profissionais do magistério, nunca ser
educação profissional que valorize a experiência prática, por
inferiores ao do Piso Salarial Profissional Nacional, observadas
meio da oferta, nas redes federal, estadual e municipal de
as disposições da Lei Complementar nº 101/2000;
educação profissional, de cursos voltados à complementação e
17.5) Manter diferenciação dos vencimentos ou salários
certificação didático-pedagógica de profissionais experientes.
iniciais da carreira dos profissionais da educação escolar
PME - Osasco Meta 16: Estimular e apoiar a formação em básica por progressão de títulos, entre os habilitados em nível
nível de pós-graduação, de 50% (cinquenta por cento) dos médio e os habilitados em nível superior e pós-graduação lato
professores da educação básica, até o último ano de vigência sensu, e percentual compatível entre estes últimos e os
deste PME e garantir a todos (as) os (as) profissionais da detentores de cursos de mestrado e doutorado;
educação básica formação continuada em sua área de atuação, 17.6) Assegurar condições adequadas ao trabalho dos
considerando as necessidades, demandas e contextualizações profissionais da educação, visando prevenir o adoecimento e
dos sistemas de ensino. promover a qualidade do ensino com a criação da CIPA
(Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) específica da
Estratégias: educação;
16.1) Realizar, em regime de colaboração, o planejamento 17.7) Manter comissão paritária, prevendo a participação
estratégico para dimensionamento da demanda por formação de todos os atores da comunidade escolar para estudar as
continuada e fomentar a respectiva oferta por parte das condições de trabalho e prover políticas públicas voltadas ao
instituições públicas de educação superior, de forma orgânica bom desempenho profissional e à qualidade dos serviços
e articulada às políticas de formação dos Estados, do Distrito educacionais prestados à comunidade;
Federal e dos Municípios; 17.8) Adequar, no âmbito do Município, plano de Carreira
16.2) Apoiar e garantir a expansão de programa de para os (as) profissionais do magistério da rede pública de
composição de acervo de obras didáticas, paradidáticas e de educação básica, observados os critérios estabelecidos na Lei
literatura e de dicionários, e programa específico de acesso a nº 11.738, de 16 de julho de 2008, com implantação gradual
bens culturais, incluindo obras e materiais produzidos em do cumprimento da jornada de trabalho em um único
Libras e em Braille, sem prejuízo de outros, a serem estabelecimento escolar; destacando o direto dos professores
disponibilizados para os professores e as professoras da rede acumularem 2 cargos públicos.
pública de educação básica, favorecendo a construção do
conhecimento e a valorização da cultura da investigação; PME - Osasco - Meta 18: Revisar e implantar planos de
16.3) Apoiar e divulgar o acesso a portal eletrônico para carreiras que assegurem os direitos dos profissionais da
subsidiar a atuação dos professores e das professoras da educação do Município, até 2 anos a partir da vigência do PME,
educação básica, disponibilizando gratuitamente materiais com critérios de evolução e promoção que reconheçam e
didáticos e pedagógicos suplementares, inclusive aqueles com valorizem seu trabalho e sua experiência, tendo como objetivo
formato acessível; a qualidade do ensino.
16.4) Estimular a ampliação de oferta de bolsas de estudo
Estratégias:
para pós-graduação dos professores e das professoras e
18.1) Adequar o plano de carreira para os profissionais da
demais profissionais da educação básica;
educação, criando instrumentos que permitam o alcance do
16.5) Apoiar a formação dos professores e das professoras
nível salarial mais elevado da categoria, respeitados os
das escolas públicas de educação básica, por meio da
requisitos legais;
implementação das ações do Plano Nacional do Livro e Leitura
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18.2) Instituir Curso de Formação para o profissional representantes educacionais em demais conselhos de
ingressante, com carga horária de, no mínimo, 120 (cento e acompanhamento de políticas públicas, garantindo a esses
vinte) horas, cuja avaliação não terá caráter eliminatório, colegiados recursos financeiros, espaço físico adequado,
como parte integrante do período de estágio probatório, na equipamentos e meios de transporte para visitas à rede
forma a ser disciplinada pelos sistemas de ensino, podendo ser escolar, com vistas ao bom desempenho de suas funções;
apostilado à evolução funcional; 19.3) Favorecer processos de autonomia pedagógica,
18.3) Aplicar o disposto no artigo 2º da lei 11.738/2008, administrativa e de gestão financeira nos estabelecimentos de
que determina que na composição da jornada de trabalho, ensino através de legislação estadual e municipal específica;
observar-se-á o limite máximo de 2/3 (dois terços) da carga 19.4) Estabelecer legislação própria que regulamente a
horária para o desempenho das atividades de interação com gestão democrática no âmbito dos sistemas de ensino;
os estudantes; 19.5) Manter e ampliar a participação e a consulta de
18.4) Regulamentar, por meio de leis de iniciativa dos profissionais da educação, alunos (as) e seus familiares na
entes federados e em consonância com o parágrafo único do formulação dos projetos político-pedagógicos, currículos
artigo 11 da Lei nº 9.394/96 e o artigo 23 da Constituição escolares, planos de gestão escolar e regimentos escolares;
Federal, a recepção de profissionais de outras redes públicas. 19.6) Manter e promover a participação dos profissionais
Os planos de carreira poderão prever a recepção de da educação e demais segmentos na elaboração e no
profissionais da educação de outros entes federados por planejamento, execução e avaliação do projeto político-
permuta ou cessão temporária, havendo interesse das partes e pedagógico da escola e da rede de ensino.
coincidência de cargos, no caso de mudança de residência do 19.7) Estimular em todas as escolas públicas municipais, a
profissional e existência de vagas, na forma de regulamentação constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e
específica de cada rede de ensino, inclusive para fins de associações de pais, assegurando-lhes, inclusive, espaços
intercâmbio entre os diversos sistemas, como forma de adequados e condições de funcionamento nas escolas e
propiciar ao profissional da educação sua vivência com outras fomentando a sua articulação orgânica com os conselhos
realidades laborais, como uma das formas de aprimoramento escolares, por meio das respectivas representações;
profissional; 19.8) Manter o Fórum Permanente de Educação, com o
18.5) Estabelecer, no âmbito dos sistemas e redes de intuito de coordenar as conferências municipais de educação,
ensino, critérios objetivos para a movimentação dos bem como efetuar o acompanhamento da execução do PME;
profissionais entre unidades escolares e outras unidades da 19.9) Estimular o fortalecimento de conselhos escolares e
pasta, tendo como base os interesses da aprendizagem dos do Conselho Municipal de Educação, como instrumentos de
estudantes; participação e fiscalização na gestão escolar e educacional,
18.6) Regulamentar entre as esferas de administração, inclusive por meio de programas de formação de conselheiros,
quando operando em regime de colaboração, nos termos do assegurando-se condições de funcionamento autônomo;
artigo 241 da Constituição Federal, para a remoção e o 19.10) Manter e ampliar os programas de formação de
aproveitamento dos profissionais, quando da mudança de diretores e gestores escolares, priorizando a capacitação para
residência e da existência de vagas nas redes de destino, sem construção e aprimoramento da gestão democrática na rede
prejuízos para os direitos dos servidores no respectivo quadro municipal e nas unidades escolares.
funcional;
18.7) Implantar gradativamente, na rede pública de PME: Osasco- Meta 20: Discutir e fomentar alteração no
educação básica, acompanhamento dos profissionais sistema tributário nacional que permitam maior
iniciantes, a fim de fundamentar, com base em avaliação disponibilização de recursos para a Educação e assegurem
documentada, a decisão pela efetivação após o estágio maior justiça social, aplicando de forma eficiente, eficaz,
probatório e oferecer, durante esse período, cursos de efetiva e transparente os recursos vinculados à manutenção e
aprofundamento de estudos na área de atuação do (a) desenvolvimento do Ensino.
professor;
18.8) Realizar anualmente, a partir do segundo ano de Estratégias:
vigência deste PME, por iniciativa do Ministério da Educação, 20.1) Fortalecer o mecanismo de acompanhamento da
em regime de colaboração, o censo dos (as) profissionais da aplicação dos recursos previstos para a manutenção e
educação básica de outros segmentos que não os do desenvolvimento em educação, nos Conselhos dos Fundeb`s
magistério; municipal e estadual, em regime de colaboração entre o
18.9) Estimular a existência de comissões permanentes de Ministério da Educação, a Secretaria de Educação do Estado e
profissionais da educação para subsidiar os órgãos o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo;
competentes na elaboração, reestruturação, implementação e 20.2) Desenvolver estudos e acompanhamento regular dos
avaliação dos planos de Carreira. investimentos e custos por aluno da educação básica, em todas
as suas etapas e modalidades, acompanhando as orientações e
PME - Osasco Meta 19: Manter as condições para a definições estabelecidas pelo Ministério de Educação - MEC
efetivação da gestão democrática da educação. com acompanhamento do Fórum Municipal de Educação;
20.3) Gradativamente implementar o Custo-Aluno-
Estratégias: Qualidade - CAQ como parâmetro para o financiamento da
19.1) Priorizar para a nomeação de gestores de educação educação básica, a partir do cálculo e do acompanhamento
que esta ocorra através de concurso público ou associada a regular dos indicadores de gastos educacionais;
critérios técnicos de mérito e desempenho no âmbito das 20.4) Apoiar a aprovação, da Lei de Responsabilidade
escolas públicas, preferencialmente com a participação da Educacional, assegurando padrão de qualidade na educação
comunidade escolar; básica, em cada sistema e rede de ensino destacadas pelo
19.2) Fomentar a expansão da oferta dos programas de processo de metas de qualidade aferidas por institutos oficiais
apoio e formação aos(às) conselheiros (as) dos conselhos de de avaliação educacionais;
acompanhamento e controle social do Fundeb (Fundo 20.5) Apoiar a desvinculação das despesas de pessoal
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de referente aos profissionais da educação e os ainda não
Valorização dos Profissionais da Educação), do Conselho de profissionalizados da Lei Complementar nº 101/2000 - Lei de
Alimentação Escolar (CAE), do Conselho Municipal de Responsabilidade Fiscal.
Educação, dos conselhos regionais e de outros e aos (às)
Legislação 86
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