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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DAS TURMAS RECURSAIS

CÍVEIS DO ESTADO DA BAHIA

COMPANHIA DE ELETRICIDADE O ESTADO DA BAHIA - COELBA, já devidamente


qualificada, por seus procuradores in fine assinados, nos autos do RECURSO INOMINADO nº
0000064-70.2017.8.05.0043, onde contende com GIVALDO LIMA SANTOS, parte também já
qualificada, inconformada com o Acórdão, vem, respeitosa e tempestivamente, à presença de
Vossa Excelência, nos termos dos arts. 1.029 e seguintes do NCPC, apresentar RECURSO
EXTRAORDINÁRIO, com fundamento no art. 102, inc. III, alínea “a” e “b”, da Constituição
Federal, com base nas razões que seguem anexas

Ante o exposto, requer a V. Exa. que seja deferido o processamento do presente


Recurso, recebido em seu efeito legal e encaminhado à Superior Instância, para que dele
conheça e lhe dê provimento, após o cumprimento das formalidades de estilo.

Nestes termos
Pede deferimento.
Salvador, 9 de outubro de 2017.

MILENA GILA FONTES


OAB/BA 25.510

Diogo Dantas de Morais Furtado


OAB/PE n° 33.668

Paula Rúbia Souza Torres da Silva


OAB/PE 39.009

Assinado eletronicamente por: MILENA GILA FONTES;


Código de validação do documento: 5dcfccba a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO
RECURSO INOMINADO Nº 0000064-70.2017.8.05.0043
RECORRENTE: COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA
RECORRIDO: GIVALDO LIMA SANTOS

Turmas Recursais do Estado da Bahia


5ª Turma Recursal Cível
Origem: Vara do Sistema dos Juizados Especiais da Comarca de Canavieiras/Ba.
Processo n° 0000064-70.2017.8.05.0043

EGRÉGIA CORTE DE JUSTIÇA,


COLENDA TURMA,
ÍNCLITOS MINISTROS.

1. DA TEMPESTIVIDADE

Ab initio, apenas para afastar quaisquer dúvidas acerca da tempestividade do presente


recurso, cumpre ressaltar que a ora Recorrente foi intimada do acordão em 25/09/2017
(Segunda-Feira), iniciando-se a contagem do prazo para interposição do competente recurso
extraordinário em 26/09/2017 (Terça-Feira), tem-se por termo final para interposição do
presente recurso em 10/10/2017 (Terça-Feira), em virtude do prazo de 15 dias estipulado por
lei .

Diante do exposto, tendo sido efetivamente demonstrada a tempestividade da presente


peça processual, requer desde já, bem como ao final, seu acolhimento, de forma que Vs. Exs.ª
possam apreciar as razões de fato e de direito nela aduzidas.

2. BREVE RESUMO DA LIDE.

O Recorrido declarou que a empresa esteve na sua residência e efetivou uma inspeção
na qual foi constatada irregularidade, tendo sido o mesmo informado da existência de desvio
antes do medidor. Alegou não estar presente no momento em que foi feita a vistoria.

Na peça vestibular fora relatado que a título de recálculo de consumo foi emitida fatura
no valor de R$ 569,31 e o mesmo só tomou conhecimento da existência da cobrança no dia
23.01.2017, quando teve o fornecimento da sua unidade suspenso. Que ao procurara a
empresa obteve o número do procedimento administrativo, sem que lhe tenha sido
oportunizada defesa em relação à cobrança, nem informação a qual período se refere a
cobrança.

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Assinado eletronicamente por: MILENA GILA FONTES;
Código de validação do documento: 5dcfccba a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Em sede de contestação, a concessionária ora Recorrente esclareceu que a fatura de
consumo questionada pela Recorrida, correspondeu ao consumo de energia efetivamente
realizado na sua unidade consumidora cadastrada, sendo a cobrança efetuada estritamente
legal, que agiu em estrito cumprimento das normas aplicáveis à espécie, seguindo orientação
traçada pela Agência Reguladora do setor energético: ANEEL, a respeito das formas
disponíveis de cobrança de valores não medidos pela existência de irregularidades na unidade,
e a possibilidade de suspensão do fornecimento da unidade.

Entretanto, entendendo pela validade dos argumentos levantados pela parte recorrida,
o juízo originário sentenciou pela procedência parcial da ação, nos seguintes termos:

“Diante do exposto, rejeito a preliminar e JULGO PROCEDENTE A


AÇÃO, para RATIFICAR a medida liminar concedida, para que a ré
reestabeleça o fornecimento de energia elétrica para a parte autora,
no prazo de 10 (Dez) dias, sob pena de incidir na multa diária no valor
de R$ 200,00 (Duzentos reais). Em atenção ao que dispõe o Art. 55
da Lei nº 9099/95, deixo de impor à parte sucumbente o pagamento
de custas e honorários advocatícios, porque não caracterizada a
litigância de má-fé.”

Inconformada com a decisão supra a COELBA interpôs competente Recurso


Inominado, oportunidade em que ratificou toda a matéria defensiva. A Turma Recursal ratificou
a decisão de primeira instância, nos seguintes termos:

“Realizado o julgamento a QUINTA TURMA RECURSAL do Tribunal


de Justiça do Estado da Bahia, composta pelas Juízas de Direito,
MARIAH MEIRELLES DE FONSECA, LEONIDES BISPO DOS
SANTOS SILVA e PAULO CESAR BANDEIRA DE MELO JORGE,
decidiu, à unanimidade de votos, NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO, para manter a sentença impugnada, pelos seus próprios
fundamentos, condeno a Recorrente, porquanto ora vencidas em
sede recursal, às custas processuais e aos honorários advocatícios,
em 20% do valor da causa, ex vi art. 55, Lei nº 9.099/95.”

A Recorrente opôs Embargos de Declaração prequestionatórios em face do Acórdão,


para que este douto tribunal se manifeste quanto a matéria legal a seguir ventilada e, até
então, violada. Assim, a Egrégia Turma negou provimento ao recurso horizontal, decidindo:

“Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


PRIMEIRA TURMA, composta dos Juízes de Direito, ROSALVO
AUGUSTO VIEIRA DA SILVA, MARIAH MEIRELLES DE FONSECA
e PAULO CÉSAR BANDEIRA DE MELO JORGE, decidiu, à
unanimidade de votos, no sentido de conhecer dos presentes
embargos para rejeitá-los, mantendo o Acórdão invectivado em sua
totalidade.”

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Código de validação do documento: 5dcfccba a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Destarte, diante da clara afronta ao texto constitucional, bem como da legislação
federal aventada e, ainda, diante do interesse trans individual que envolve a matéria, tornando-
a tema de repercussão geral, não resta outra alternativa à ora Recorrente senão a interposição
do presente Recurso Extraordinário.

3. DO PREQUESTIONAMENTO

Como visto acima, a matéria encontra-se devidamente prequestionada, tendo sido,


portanto, a tese jurídica defendida por esta Recorrente enfrentada pelo órgão jurisdicional
inferior na instância ordinária. Vejamos.

A questão ora recorrida, referente à ilegalidade, ou não, da conduta desta


concessionária em realizar os reparos necessários na unidade consumidora, mesmo a parte
Recorrida não tendo comprovado qualquer fato alegado.

Destarte, queda cabalmente demonstrado que houve a devida obediência à exigência


do requisito de admissibilidade recursal do prequestionamento, razão pela qual impõe-se a
apreciação das violações ocorridas no processamento da presente demanda em face das
garantias constitucionais asseguradas pelos dispositivos constitucionais supra referidos.

4. DA REPERCUSSÃO GERAL DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

A emenda constitucional nº 45/2004 acrescentou o § 3º ao art. 102 da CF/88,


condicionando a admissibilidade do Recurso Extraordinário à demonstração da repercussão
geral da questão constitucional discutida no caso.

A lei nº 11.418/2006, disciplinando a matéria, acrescentou os arts. 543-A e 543-B ao


CPC, os quais pormenorizam a regência do instituto. Nesse passo, complementando a
normatividade, o STF, em maio de 2007, promoveu uma alteração no seu regimento interno de
modo a permitir a aplicação do instituto da repercussão geral, atualmente tratado no art. 1.030,
I, a do CPC.

Em sede de julgamento de questão de ordem no AI 664567-QO, conforme informativo


de jurisprudência 472 do STF, este decidiu que a demonstração de repercussão geral é
necessária em todo e qualquer RE, ainda que em matéria criminal, cujo acórdão tenha sido
publicado em data posterior à publicação da alteração feita no regimento interno da Corte, a
saber, maio de 2007.

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Nos termos do art. 1.035, § 1º, do CPC, haverá repercussão geral sempre que o
recurso versar sobre questões “relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou
jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do processo”.

De fato, a questão jurídica em debate neste recurso ultrapassa a esfera de interesse


endoprocessual, visto que trata do direito evento de abrangência social e que, por
consequência, afetará o patrimônio da concessionária e, por derradeiro, dos consumidores de
energia elétrica.

Do ponto de vista político, é clara a relevância do recurso em tela, uma vez que a
garantia constitucional e legal a ser processada tem como função, entre outras, a de permitir o
controle democrático das decisões proferidas nas instâncias inferiores, tratando-se de reflexo
do exercício da justiça, em nome do povo.

Nesta medida, resta solar o prequestionamento da matéria, sendo, portanto, necessária


a admissão do presente recurso.

5. FUNDAMENTOS DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

5.1. DA INTERPRETAÇÃO CONTRÁRIA À DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL –


INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA E DA ADEQUAÇÃO
DO SERVIÇO PÚBLICO.

Preconiza o art. 5º da CF/88 que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Tais
direitos e garantias fundamentais devem ser respeitados por todos, sem distinção, uma vez
que constituem direitos basilares do Sistema Jurídico Pátrio.

No que atine ao Poder Público, além de sujeitar-se às normas e princípios


constitucionais gerais, é regido pelas normas específicas dos art. 37 e seguintes, sendo que
toda sua atuação deve lastrear-se em determinações legais, lhe sendo vedadas condutas que
não estejam legalmente dispostas.

Nesse diapasão, a Administração Pública deve sempre atuar com vistas a atender o
interesse público, o qual deve sobrepor-se ao de indivíduos em particular.

A prestação de serviços de natureza pública deve, por conseguinte, submeter-se a


estas regras, ainda que fornecidos por terceiros, através de contratos de concessão ou
permissão. Encontra previsão constitucional no art. 175, in verbis:

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Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou
sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de
serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e
rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.

Conforme se infere do dispositivo supra transcrito, a prestação de serviços públicos,


pelo Estado ou pelas permissionárias e concessionárias deve se dar de forma adequada.
Significa dizer que o serviço público, para ser considerado adequado deve atender regras
como a modicidade das tarifas, a eficiência, a continuidade, a modernidade das técnicas e
equipamentos utilizados para o seu fornecimento e, sobretudo, a segurança para aqueles que
dele usufruem.

Doutos Julgadores, no caso dos autos, o aresto recorrido, sobrepondo-se à legislação


federal, bem como às disposições da Resolução 414/2010 da ANEEL, vez que a conduta da
recorrente foi de zelar pela coletividade.

Adotar condutas como esta representa uma verdadeira afronta à Constituição Federal,
ignorando-se os direitos dos cidadãos, e submetendo-os à riscos de forma imprudente, sem
mencionar a inadequação com a qual será prestado um serviço tão importante e essencial nos
dias atuais.

Conforme já mencionado, a COELBA, na qualidade de concessionária de um serviço


público, deve respeitar o dispositivo constitucional que assegura aos usuários um serviço
público adequado, e isto envolve, implicitamente, o reconhecimento dos riscos esperados pela
natureza do produto.

A concessionária ora Recorrente tem a pretensa ilegalidade que a sí é imputada,


afastada por força das próprias normas da Agência Reguladora do setor elétrico, que é quem
detém a competência para legislar sobre a referida matéria.

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Se a decisão recorrida prevalecer, de certo, haverá um prejuízo à segurança jurídica,
pois, frontalmente, estarão sendo violadas as determinações da ANEEL, à lei federal que a
instituiu – VERDADEIRA AFRONTA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

Do exposto, ressalta-se que o presente recurso tem fundamentos suficientes para a


sua admissão e provimento.

5.2. DA LEGALIDADE DA CONDUTA DA DEMANDADA. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA E


ADEQUAÇÃO DO SERVIÇO PRESTADO. SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO.

Primeiramente, registre-se que a empresa Recorrente, quer diretamente demonstrar


que não incorreu em qualquer ação ou omissão lesiva a parte Recorrida, não praticando,
comissiva ou omissivamente, ato ilícito algum.

Explica-se. Na qualidade de concessionária de serviço público de fornecimento e


distribuição de energia, a Recorrente submete-se à observância de um conjunto de normas e
padrões estabelecidos por entidades oficiais competentes, a exemplo da Aneel e da
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT ou outra entidade credenciada ao Conselho
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – CONMETRO.

Neste ínterim, a concessionária deve valer-se das normas vigentes para desenvolver
suas atividades. Sendo assim, para que a mesma efetue a instalação dos postes e redes
elétricas, tanto nas unidades consumidoras quanto em vias públicas, é realizado um estudo de
viabilidade técnica, através do qual são determinados os locais mais adequados à instalação
de postes e fiações que possibilitam o fornecimento do serviço público de sua
responsabilidade.

É imperioso destacar ainda, no tocante à instalação e fornecimento de energia elétrica


(seja na hipótese de ligação inicial, seja no caso de religação ou relocação de rede), que versa
o artigo 3º da Resolução nº 456 da ANEEL, in litteris:

Art. 3º Efetivado o pedido de fornecimento à concessionária, esta


cientificará ao interessado quanto à:

I - obrigatoriedade de:
a) observância, nas instalações elétricas da unidade consumidora,
das normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes, pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT ou outra
organização credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia,

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Normalização e Qualidade Industrial - CONMETRO, e das normas e
padrões da concessionária, postos à disposição do interessado;
b) instalação, pelo interessado, quando exigido pela concessionária,
em locais apropriados de livre e fácil acesso, de caixas, quadros,
painéis ou cubículos destinados à instalação de medidores,
transformadores de medição e outros aparelhos da concessionária,
necessários à medição de consumos de energia elétrica e demandas
de potência, quando houver, e à proteção destas instalações;

Também deve o consumidor – sendo necessário – responsabilizar-se pela


execução de obras e/ou serviços nas redes e/ou instalação de equipamentos, da
concessionária e/ou do consumidor, conforme a tensão de fornecimento e a carga
instalada a ser atendida (art. 3º, inciso II, “a”), participando financeiramente nas
adequações necessárias1.

A preocupação com a regularidade e adequação das instalações é tamanha que


nossos tribunais, acertadamente, defendem a suspensão do fornecimento, quando não
atendidos os requisitos técnicos:

APELAÇÃO CÍVEL. ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO DECLARATÓRIA.


CORTE NO FORNECIMENTO. EXIGÊNCIA DE INSTALAÇÃO DE
MEDIDOR EM POSTE PADRONIZADO. OCORRÊNCIA DE HIPÓTESE
PREVISTA NO ARTIGO 3º DA RESOLUÇÃO Nº 456/00 DA ANEEL.
Consoante o disposto no artigo 3º da Resolução nº 456/00 da ANEEL cabe
a suspensão do fornecimento de energia elétrica diante de razões de ordem
técnica ou de segurança das instalações, caracterizando-se como exercício
regular de direito o corte pela concessionária nestas hipóteses mediante
prévia cientificação. Assim, demonstrada a ocorrência de uma das
hipóteses autorizadoras da suspensão do fornecimento, uma vez que as
instalações do autor não oferecem a segurança exigida, mostra-se legítimo
o agir da concessionária. Pela análise da prova produzida, verifica-se a
existência de fios desencapados na instalação elétrica, expondo a perigo
não só os que habitam a sua residência, mas, também, vizinhos. Desta
forma, a exigência de colocação de medidor em poste padronizado é
medida que se impõe para a continuidade da prestação do serviço de
fornecimento da energia. Apelo desprovido. (Apelação Cível Nº
70019411875, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
João Armando Bezerra Campos, Julgado em 20/06/2007)

1
Alínea “e” do mesmo inciso e artigo citados.

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Isso se dá, principalmente, porque a adequação das instalações elétricas evita curtos-
circuitos, incêndios e/ou eletropressão, acidentes que contém alto potencial de óbito. Trata-se,
inclusive, de respeito aos usuários, que não devem pôr em risco seu bem de maior valia, a
vida.
O próprio Código de Defesa do Consumidor, no artigo 6º, incisos I e VI, estabelece
como direitos básicos os de proteção à vida, saúde e segurança, bem como o da efetiva
prevenção de danos patrimoniais e morais, decorrendo de tais direitos o dever do fornecedor
de sanear o serviço, quando este apresente riscos ao consumidor, ainda que por culpa do
próprio interessado.

Ao exigir a adequação técnica, a concessionária, além de obedecer à legislação


aplicável2, protege o indivíduo e a coletividade, visando a integridade física do cidadão, bem
juridicamente indisponível e devidamente tutelado pela nossa Carta Magna, o que de certo está
acontecendo na situação in examine, face a adequação da conduta da Recorrente em não
instalar o poste nos moldes ora discutidos.

Cumpre ressaltar que a COELBA, na qualidade de concessionária de serviço público,


submete-se ao Regime Jurídico de Direito Público quando no desenvolvimento de sua
atividade primordial, qual seja, o fornecimento de energia, devendo observar, sobretudo, os
princípios e normas constitucionais, bem como aqueles que regem a Administração Pública.

Ressalte-se, pois, que cabe à Constituição Federal, bem como à legislação pátria,
estabelecer os limites de atuação das concessionárias de serviços públicos, conforme se infere
do dispositivo in verbis:

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob


regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços
públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem
como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou
permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.

Daí depreende-se que não existe amparo legal para que a COELBA proceda à
instalação ou remoção de forma arbitrária de postes nas unidades de consumo, considerando

2
Principalmente: artigo 6º da Lei 8.987/95; artigo 6º, I e VI, da Lei 8.078/90 e Resolução ANEEL 456

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apenas uma simples pretensão de um usuário, visto serem os postes alocados em áreas
predeterminadas.

Ademais, o art. 5º, inciso II, da Carta Magna estabelece que ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Desta forma, evidenciamos que
a empresa, ora Recorrente, em verdade apenas agiu em consonância com as determinações
da Agência Reguladora, que é quem detém a competência para legislar sobre a referida
matéria.

5.3 DA LEGALIDADE DO PROCEDIMENTO ADOTADO – EXERCÍCIO REGULAR DO PODER


DE POLÍCIA DA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO.

A Resolução nº 414/2010 da ANEEL, em seu art. 77, que preconiza a necessidade de


inspeção periódica nas unidades consumidoras:

“A verificação periódica dos equipamentos de medição, instalados na


unidade consumidora, deve ser efetuada segundo critérios
estabelecidos na legislação metrológica, devendo o consumidor
assegurar o livre acesso dos inspetores credenciados aos locais em
que os equipamentos estejam instalados.”

O procedimento acima descrito deve ser respeitado por todas as concessionárias de


energia elétrica do Brasil e restou totalmente atendido pela Coelba. Ressalte-se, neste ponto,
que os tribunais pátrios reconhecem a legalidade do procedimento administrativo.

Deveras importante ressaltar ainda, que não há outra forma de detectar e coibir
irregularidades, além de verificar erros porventura existentes na medição das unidades. Este é
um procedimento padrão e aceito em todos os quadrantes. Se contrariar esta fórmula
legalmente disciplinada, definitivamente abriremos as portas para as irregularidades e, por via
transversa, descriminalizaremos (na prática) o furto de energia.

6. PEDIDO

Diante das razões explicitadas, a COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA


BAHIA - COELBA requer:

1. A intimação do Recorrido, abrindo-lhe vista pelo prazo de 15 dias para apresentar


contrarrazões e, findo o prazo, com ou sem contrarrazões, determine a remessa dos
autos ao Egrégio Supremo Tribunal Federal.

2. Que seja reformado o r. aresto recorrido, para negar o pleito originalmente perseguido
na exordial, de acordo com as razões defendidas alhures.

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Nestes termos,
Pede deferimento.
Salvador, 9 de outubro de 2017.

Milena Gila Fontes


OAB/BA 25.510

Diogo Dantas de Morais Furtado


OAB/PE n° 33.668

Paula Rúbia Souza Torres da Silva


OAB/PE 39.009

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