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Genie Milgrom
Nasci em uma família da alta sociedade romana católica de origem espanhola, na
cidade de Havana, em Cuba. Quando eu tinha 5 anos, minha família foi para Miami,
deixando para trás não apenas a Revolução Comunista, como também seus trabalhos
e suas residências.
Nós éramos apenas uma das muitas famílias que vieram para Miami no mesmo ano.
O ano era 1960.
O desejo de meus pais era que pudéssemos assimilar a cultura americana, o mais
rapidamente possível: falar Inglês perfeito e ter as mesmas oportunidades que as
crianças americanas.
Eu não tinha amigos que falavam espanhól durante muitos anos, fui uma estudante
modelo da Escola Católica, sapatos preto e branco, uniformes de estilo escocês,
orações em latim, missa todas as manhãs e cantava continuamente no coro dos
sacerdotes e das freiras.
Nunca pertenci ao grupo. Eu segui os outros, agia como eles, rezava em voz alta,
porém, no fundo, não me sentia parte dele.
Eu me sentia mais cômoda quando eu conhecia, por acaso, uma pessoa judia do que
quando eu estava dentro da igreja.
Eu não voltei a ver mais a Rachel, ela nunca saberá do impacto que sua amizade teve
sobre mim e sobre a transformação da minha alma.
Naquela época, eu tinha várias amigas judias. Meus pais nunca souberam disso.
Durante horas eu falava com elas por telefone, mas raramente as encontrava .
Eu era muito jovem quando chegou a hora de ir para a faculdade, pois pulei várias
classes. Eu tinha apenas 16 anos quando recebi uma bolsa de estudos para a melhor
universidade católica de Miami. Pelo fato de ser muito jovem, ainda não podia tirar
carteira de motorista, por isso morei nos dormitórios da Universidade, que estava sob
a responsabilidade das freiras. A única estudante que tinha a minha idade era a minha
companheira de quarto.
Um dos seus pais era judeu. O que ela estava fazendo naquela escola? Obviamente
não exitem coincid ências.Como era de se esperar, nos tornamos amigas. Ela cresceu
em uma família judia. Eu passava horas tentando decifrar cada pequeno detalhe sobre
a religião judaica.
Mais tarde soube que ela tinha ido de porta em porta para solicitar ajuda para a
construção do memorial do Holocausto que existe at é hoje. Uma mulher maravilhosa
que influenciou profundamente em minha vida.
Eu me casei muito jovem, com 17 anos de idade. Minha vida consistia em trabalhar
per íodo integral no negócio da fam ília, ser mãe em per íodo integral e estudante em
meio per íodo.
Aos 33 anos eu retomei o que tinha deixado para trás. Comecei a devorar volumes da
literatura judaica em várias disciplinas, tais como Halachá, feriados judaicos,
casamento, filosofia, Shabat e tudo o que veio às minhas mãos.
The earrings that were passed down through the generations
Comecei a visitar sinagogas e, ocasionalmente, participava de um serviço. Fiz muitas
amizades que eu nunca poderia compartilhar com meu ex-marido. Estávamos
divorciados e minha busca continuou. Meu filho tinha 14 anos e minha filha tinha 3.
Não foi possível fazer uma conversão para os meus filhos naquele momento.
O caminho foi difícil. Manter as regras de kashrut em uma casa onde as crianças
estavam acostumadas a comer o de sempre, ou não poder comer na casa dos meus
pais, tentar ajustar para cima e para baixo as atividades dos meus filhos para que o
sábado e os feriados judaicos não sejam afetados, não foi nada fácil. Mas, eu estava
tão feliz, me sentindo tão em casa e tão confortável, que eu persisti.
Alguns anos depois eu conheci meu marido, Michael, cuja família era originalmente da
Romênia e nos casamos. Ele sempre foi religioso e sempre será, e completou o meu
círculo. Michael teve a paciência de um santo (ao p é da letra) e sempre foi a ânchora
que me apoiou quando as coisas ficavam difíceis, quando minha vida passada se
chocava com minha vida atual. Juntos, temos criado a minha filha da melhor maneira
possível, dadas as circunstâncias incomuns.
Meus avós maternos eram de uma pequena cidade às margens do rio Douro, que
separa Espanha e Portugal, chamada Fermoselle. Meu avô nasceu lá e a avó da minha
avó era de lá. Eles eram primos de segundo grau. Durante anos eles tentaram me
ajudar a fazer uma árvore genealógica, mas tudo o que eu consegui foram pretextos.
Eu nunca fui capaz de obter a história da família deles. Minha avó sabia que eu tinha
me convertido ao judaísmo e muitas vezes me disse o quão perigoso era. Quão
perigoso era que eu tinha me convertido! Eu sempre pensei que significava que era
perigoso para minha alma, mas eu só percebi anos mais tarde que o que ela queria
dizer, o quão perigoso era ser judeu.
Minha avó materna morreu numa manhã de sexta-feira. Naquela manhã, minha mãe
me disse que a tradição da família era enterrar os mortos imediatamente. Eu fiquei
chocada. Que tipo de tradição era essa para uma família solidamente católica?
Nenhuma quantidade de súplicas serviu. Minha avó foi enterrada em um cemitério, no
Sábado (Shabat), longe o suficiente que não pude ir, pois reservava o Shabat. Minha
dor foi insuportável. No dia seguinte, minha família veio me ver em minha casa, dado
ao fato de que eu não fui ao funeral. Fiquei muito surpreso quando todos eles vieram a
pé. Sinceramente, eu pensei que não iriam nunca mais falar comigo. Minha mãe
colocou uma pequena caixa na mesa e me disse que minha avó pediu para me
entregar no dia da sua morte. Dentro havia um velho Hamsa e uns brincos de ouro
com uma pequena estrela de David no centro. Nada mais. Sem quaisquer notas ou
comentários, somente esses dois objetos. Fiquei impressionada pelo significado.
Em um instante, me lembrei dos tempos em minha vida que eu tinha visto e sentido
muitas coisas, mas nunca imaginei que eu poderia ter sido descendente de marranos.
Sentada naquela cadeira, segurando a caixa, lembrei-me do cobertor que tinha sido
colocado sobre os nossos ombros durante meu primeiro casamento, como um antigo
costume da família que ainda se usa nos dias de hoje pelos Sephardim, colocar um talit
sobre os ombros do casal. Lembrei-me dos tempos em que minha avó e eu fazíamos
uma quantidade enorme de sobremesas para as festas, as receitas antigas da cidade
de Fermoselle, sempre "parve" (sem leite) e sempre colocando uma pouco da massa,
embrulhada em papel alumínio e colocava no forno. Às vezes ela abria os ovos em um
vidro para ver se havia sangue antes de jogá-los fora, o jeito que sempre me ensinou a
varrer o chão até o centro da sala (uma velha tradição sefardita de varrer as mezuzot
ao centro).
Foi muito para entender, no entanto, fez todo o sentido do mundo. Compreendi
claramente a maneira pela qual minha alma tinha procurado e havia desejado, todos
estes anos, algo que não era lógico. Eu comecei a minha busca por minhas raízes
judaicas. Meu avô me deixou a maior parte do trabalho pronto. Apesar de que não me
deu quando estava vivo, tinha escrito a mão, meticulosamente, uma árvore
genealógica que levou minha pesquisa até os princípios do ano de 1800. Com essas
informações em mãos, fontes da Internet, amigos na Espanha, blogs, etc., tive a
oportunidade de voltar, até duas gerações atrás, mas então, me deparei com um
muro, não era apenas um muro, mas era um muro católico. Até então, eu não tinha
encontrado nada.
Meus resultados até agora têm proporcionado uma rica tapeçaria de uma família de
marranos ou judeus-conversos. Esta tarefa não tem sido fácil, mas agora eu sei que
não é impossível, eu tinha que desembaraçar os fios que minha família tinha
arduamente trabalhado, tecendo mentiras e enganos com que tive que viver para
poder sobreviver. Eu testemunhei pessoalmente como eles mudaram seus nomes em
cada documento oficial subseqüente para que não fossem encontrados pela Inquisição.
Tenho traçado o nome de todos e cada um de minha árvore, para mostrar que cada
nome foi usado pelos marranos como um nome judeu. Inclusive, encontrei um nome
de um proprietário de um açougue casher antes de 1492. A maioria dos nomes são
nomes típicos de judeus que foram forçados a se converter. Nomes topográficos,
como Ramos ou Montana, Flores. Nomes como Diez e muitos outros. E encontrei nos
registros da Inquisição arquivos do Tribunal mostrando judeus com os mesmos nomes,
acusados de judaizantes, a cerca de 5 km do vilarejo da minha família. Eu comparei as
datas e elas coincidem com os nomes da família.
Eu estou no processo de documentar a história judaica de Fermoselle que não foi feita
até agora. Eu quero esclarecer as coisas. Eu quero ser a voz que meus antepassados
nunca tiveram. Mas, acima de tudo, só quero que os outros saibam que a busca é
possível, levando em conta os recursos disponíveis, atualmente, na Espanha e
Portugal, se pode alcançar.
Hoje, eu vivo uma vida completa, em Miami, com o meu marido. Eu sou muito ativa na
minha sinagoga e na Comunidade.
Agora acendo mais duas velas na noite de sexta-feira para minhas 15 avós. Uma para
aquelas que não poderam acender e outra para aquelas que se esqueceram de que
tinham que acender. Minha família judia é bem numerosa e composta, não apenas por
centenas de nomes em minha árvore genealógica, mas também por um grupo muito unido
de amigos próximos que se tornaram minha família. A eles eu sou muito grata por terem
sido sempre um grande apoio em minha busca e escutarem minhas histórias
repetidamente. Eu sou verdadeiramente abençoada. Eu voltei para casa.
Se você suspeita que seja descendente de Conversos ou de Cripto-Judeus (marranos
ou chuetas) da Espanha ou Portugal pode entrar em contato comigo Genie Milgrom-
spanishancestry@aol.com .