CARDOSO, Fernando Henrique; FALETTO, Enzo. Dependência e
Desenvolvimento na América Latina. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1984. p. 25- 52; 148-177 Para melhor entender esse capítulo proposto, é necessário perceber que a análise feita por Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Faletto “reconsidera os problemas do desenvolvimento a partir de uma perspectiva que insiste na natureza política dos processos de transformação econômica” (CARDOSO et al, 1984, p. 179). Então, apesar de utilizar-se de diversas categorias do materialismo histórico, os autores invertem o determinismo da infraestrutura sobre a superestrutura e focam mais em como as disputas políticas afetam a economia. Isto é, concorda-se com os condicionantes impostos pela base material das sociedades latino-americanas, porém os autores consideram uma abordagem insuficiente visto que “é por intermédio da ação dos grupos, classes, organizações e movimentos sociais dos países dependentes que estes vínculos se perpetuam, se transformam ou se rompem” (CARDOSO et al, 1984, p. 181). Por isso mesmo, os autores, no capítulo “A internacionalização do mercado: O novo caráter da dependência”, discorrem sobre um novo formato de dependência “marcado pela crise do populismo e da organização política representativa dos grupos dominantes” (CARDOSO et al, 1984, p. 149). Mesmo assim, não deixam de lado as transformações do próprio capitalismo, agora mais monopolista e financeiro. Primeiramente, demonstra-se o esgotamento da substituição das importações calcado numa “aliança desenvolvimentista” entre antigas elites e setores médios da burguesia industrial. Esse processo chega ao fim com o estrangulamento do setor exportador através da queda dos preços e, consequentemente, a impossibilidade de financiar a industrialização (p .151). Ao mesmo tempo, a industrialização levou a uma grande diferenciação social (p. 154) criando uma disputa pelo poder econômico e político e o aumento da participação das massas. Dessa forma, ou haveria uma política de austeridade e diminuição dos salários – pressão dos agroexportadores e empresários - ou a incorporação do capital estrangeiro na equação desenvolvimentista – que combinava melhor com as pressões populares. Dada a “coincidência transitória” (p. 153) entre interesses protecionistas, a pressão das massas e os investimentos estrangeiros optou-se pela abertura dos mercados nacionais aos capitais estrangeiros. Esse novo reagrumento perdura até o ‘auge da substituição fácil de importações’ quando os grupos empresarias nacionais e os trabalhadores iniciam seu protesto contra as multinacionais. “A dinâmica social e política”, dizem os autores, “deve ser buscada no enfrentamento e no ajuste entre os grupos, setores e classes que se redefinem em função dessa nova situação de desenvolvimento” (p. 161). Assim, os autores descrevem a nova dinâmica como a “internacionalização do mercado interno”. Visto que o mercado consumidor interno – aqui principalmente indústrias nacionais - foi desenvolvido em etapas anteriores e há o estabelecimento de empresas estrangeiras que reinvestem diretamente nessas economias dependendo da demanda efetiva interna. Por outro lado, ainda existem limitações principalmente tecnológicas e de endividamento externo que compõem essa nova dinâmica. Ainda há o aumento da exclusão social, devido a incorporação de capital poupador de mão-de-obra e a mudança do Estado-populista para empresarial. E às pressões contrárias a esse novo modelo, dá-se a resposta em forma da militarização através dos golpes.