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MARTIN EBON

ATLÂNTIDA
As Novas Provas

Tradução de MÁRCIO PUGLIESI

EDITORA PENSAMENTO
São Paulo

Título do original:
ATLANTIS: THE NEW EVIDENCE
Copyright © 1977 by Martin Ebon

AGRADECIMENTOS

O autor reconhece, agradecido, a cooperação, conselho e


orientação recebidos de pessoas e organizações, para a
preparação deste volume. Dentre estes, principalmente:
William R. Akins, Dra. Maxine Asher, Michael Ballantine,
Cha-riklia E. Baltazzi, Brett Bolton, Wanda Sue Childress,
Anne E. Cusack, Pa-nayotis Martakis, Dr. James W. Mavor,
Jr., Dr. William Niederland, Egerton Sykes e Dr. David D.
Zink. Dentre as organizações e agências que
proporcionaram ajuda para a pesquisa deste livro estão a
Association for Research and Enlightenment, Escritório
Nacional Grego de Turismo, Ancient Mediterranean
Research Organization, Institutos Arqueológicos
Germânicos em Atenas e Roma, Ministério Grego de
Cultura e Ciência e a Sociedade Arqueológica de Atenas. O
autor, tão-somente, é responsável pelos fatos e conclusões
apresentados nas páginas seguintes.
SUMÁRIO

Capítulo 1 — NO TOPO DO VULCÃO


Capítulo 2 — OS ECOS DE PLATÃO
Capítulo 3 — IMPACTO NO EGITO
Capítulo 4 — NO CENTRO DO CENTRO
Capítulo 5 — JACQUES COUSTEAU EM BUSCA DA
ATLÂNTIDA
Capítulo 6 — A VERSÃO DE DONNELLY
Capítulo 7 — O QUE ATINGIU A ATLANTIDA
Capítulo 8 — O GRANDE MISTÉRIO DE SCHLIEMANN
Capítulo 9 — A ATLÂNTIDA TERIA SIDO DESTRUÍDA POR
UM GRANDE METEORO?
Capítulo 10 — DA ATLÂNTIDA AO HAVAÍ
Capítulo 11 — PARALELOS VULCÂNICOS
Capítulo 12 — "ACREDITAMOS QUE ISTO FOI A ATLÂNTIDA!"
Capítulo 13 — POR QUE "ATLANTIDA"?
Capítulo 14 — AS "LEITURAS" SOBRE A ATLÂNTIDA
DE EDGARD GAYCE
Capítulo 15 — A "GEOMETRIA SAGRADA" DE BIMINI
Capítulo 16 — O PARAÍSO DO PASSADO E DO FUTURO
Capítulo 17 — ONDE ESTA A VERDADEIRA ATLÂNTIDA?
APÊNDICE — SOBRE A LENDA DA ATLÂNTIDA
BIBLIOGRAFIA

Capítulo 1
NO TOPO DO VULCÃO

Sob este mar jaz o segredo da legendária ilha-continente


da Atlântida. Escrevo estas palavras nas bordas do vulcão
que forma a ilha de Santorini, cercada pelas águas do Mar
Egeu, no Mediterrâneo oriental. Olhando por sobre as
rochas que separam a rodovia superior dos íngremes
rochedos vulcânicos, vejo lá embaixo a baía, que é, de fato,
por sua vez, um vulcão cheio de água, profundo e obscuro.
E no meio desta baía de Santorini, guardada agora pela
neblina da manhãzinha, duas ameaçadoras ilhas vulcânicas
que, com o passar do tempo geológico, se ergueram
apenas bem recentemente do mar. Fumaça sulfurosa ainda
emana delas, pois não são pacíficas; são um elo direto
entre a vasta força dilaceradora dentro da terra, e todos
nós, que vivemos precariamente na casca deste planeta.
Tememos os vulcões, e estamos certos. Nossa memória
curta pode nos isolar dos perigos potenciais que estão
abaixo de nossos pés, mas apenas enquanto escolhemos
ignorar a candente e borbuIhante realidade, logo abaixo.
Uma vez passei uma noite nas bordas de um vulcão
extinto, o Monte Quintamani, na ilha de Bali. Um hotel para
doze pessoas havia sido construído ali. O vulcão havia
muito estava apaziguado; as memórias do último desastre,
na década de 20, haviam desvanecido, e dormi sem sonhos
maus. Mas o Santorini é diferente: o passado turbulento,
que abrange pelo menos 3.500 anos de convulsões
violentas, está sempre ao nosso lado. A série de erupções
em Santorini (também conhecida como Thera) foi tão
severa que agora parece certo que causou a destruição de
avançada civilização, que o antigo filósofo-poeta grego,
Platão, chamou Atlântida.
Exatamente quando e em que seqüência temporal esta
lendária Atlântida foi destruída, é de pouca importância, se
olharmos para a baía aparentemente sem fundo, a
"caldeira", parcialmente cercada pelas ilhas menores que
formam este grupo. É realidade forte, tristonha e sombria
— em vivido contraste com as brilhantes e alegres pinturas
murais que os arqueólogos encontraram sob a poeira
vulcânica que cobre esta ilha.
Desde que Platão falou da Atlântida, muita especulação
sobre a vida e localização da ilha, ou continente, tem
cruzado nosso caminho. Os atlantes seriam capazes dos
feitos tecnológicos que rivalizariam ou excederiam os
nossos? Somos — ou alguns de nós são — antigos
residentes reencarnados da Atlântida? Houve aviso
suficiente antes da Atlântida ser engolfada, para permitir a
seus habitantes escapar e levar suas artes e ciências a
outras partes do mundo, do Egito às Américas? E a
Atlântida, como seu nome implica, situava-se no Oceano
Atlântico?
Tentaremos responder a estas perguntas mais tarde.
Agora, no topo deste vulcão, defrontamo-nos com a
realidade, não com a lenda, não com pensamentos
imaginosos ou combinações engenhosas de fatos dispersos
que poderiam sugerir uma ou outra resposta ao enigma da
Atlântida. A nova evidência que emergiu, e que promete
dar as mais definitivas réplicas às questões sobre a
Atlântida, está bem aqui, dentro da caldeira à nossa frente
e no sítio arqueológico de Acrotiri, em Santoríni mesmo.
Estas bordas rochosas da ilha-vulcão são por si mesmas
evidência concreta. Uma olhada para elas, e vemos
variadas camadas de vermelho, cinza, negro, marrom e
preto; explosões mesmo das entranhas da Terra causaram
esta palheta de cores. Cinzas, escórias, lavas e,
principalmente, pedra-pomes acumularam-se umas sobre
as outras. Vê-se-as primeiro do barco, ao chegar-se a uma
das duas pequenas enseadas — Thera, também conhecida
como Fira, e Atínios. Destaca-se claramente um nível
diferenciando-se acima do outro, cada um representando
um longo período da história vulcânica da ilha.
Ao passo que a caldeira é muito profunda para permitir a
ancoragem de embarcações, pequenos aparelhos visitam
os elementos concretos e visíveis do violento passado do
grupo de ilhas: a Palea Caimeni ("Ilha Queimada Velha"), e
Néa Caimeni ("Ilha Queimada Nova"), aboletadas dentro da
baía. Uma viagem a Néa Caimeni, que apareceu na
caldeira no começo do século XVIII, leva-nos à Baía de
Petrulion, desta ilha. É uma ladeira inclinada, até o pico da
ilha; não há sombras, e a subida é quente e exaustiva.
Sendo árdua, a subida oferece inúmeras razões de parar e
olhar a paisagem. Lava e cinza vulcânica são aqui e ali
misturadas com pequenas manchas de vegetação que,
com a persistente ousadia da natureza, irrompem pelas
encostas áridas. Aqui também, há camadas que sugerem o
crescimento intermitente da ilhota desde que emergiu do
mar, em 1707; ravinas, cortes na superfície, e recortes no
chão são uma evidência geológica do crescimento.
Quando atingimos o pico de Néa Caimeni, não há mais
dúvida de que é a própria borda do vulcão. Olhamos direto
para sua cratera, Rei Jorge I. Fumos de enxofre, escapando
aleatoriamente, relembram-nos que aqui temos um
vislumbre da Terra em sua essência mais inquieta. Para
qualquer um, é uma visão assombrosa, que não requer
recordação da história destrutiva do Santorini; a sensação
de drama violento, passado e futuro, é onipresente.
Mas como a existência do vulcão de Santorini une a
moderna ciência com a antiga Atlântida?
Mostra concretamente que, em tempos pré-históricos, este
vulcão, dentro do Mar Egeu, experimentou uma explosão
para a qual não há paralelo, na extensão de sua violência e
danos potenciais, muito além de seus horizontes. Há
evidências suplementares, a partir de escavações que
principiaram em 1967 em Santorini mesmo, na vila de
Acrotirí. Estas escavações demonstraram que a ilha era
parte ativa e culturalmente avançada da civilização
minóica, da qual o palácio de Cnossos — em Creta, ao sul
daqui — é o exemplo mais amplamente conhecido.
Sob a direção do professor Spiridion Marinatos, que morreu
num acidente no local da escavação, em 1973, Acrotirí tem
fornecido obras de arte, ferramentas, edifícios e outros
elementos da civilização que colocam seu papel cultural
firmemente dentro da vida minóica. Marinatos adiantou a
hipótese de que a explosão do Santorini causou tamanha
inundação nas costas cretenses que segmentos inteiros de
seu litoral foram destruídos; ao mesmo tempo, o vulcão
deve ter cuspido cinzas e pomes sobre Creta em tal
quantidade e densidade, de modo a enterrar a civilização
minóica, inclusive o palácio* de Cnossos, e expulsar seus
habitantes.
Exatamente qual a cronologia destes cataclismas, ou se
Santorini (Thera) era a Atlântida de que falava Platão,
ninguém pode dizer com certeza. Arqueólogos, geólogos,
vulcanólogos, e uma nova geração de cientistas —
arqueólogos submarinos, podem trazer diferentes fatos
para sustentar diferentes visões. Mesmo a ciência de
datação dos artigos encontrados em escavações é ainda
relativamente jovem, e os especialistas polemizam sobre
seus tópicos, nas publicações especializadas. O assunto
torna-se ainda mais complicado quando se encontram
restos de civilizações que foram submersas pelo mar por
séculos, ou milênios; água, areia e marés tornam a datação
extremamente difícil, e a erosão submarina comporta-se
diversamente da que se dá em terra emersa.
Se a vasta erupção do Santorini, cerca de 1.500 a.C. está
no cerne da idéia da Atlântida, que dizer de relatos dos
restos da Atlântida em outros lugares? Afinal, algumas
autoridades sustentam que a Atlântida era um continente
no Oceano Atlântico, sendo ilhas assim como os Açores,
meros remanescentes dele. E também, muito
recentemente, expedições submarinas perto de Bimini, no
Caribe, apontaram para uma civilização submergida;
evidências associadas com a Atlântida foram relatadas nas
costas da Espanha e Irlanda, no Mar do Norte, e ainda
alhures.
Não precisamos desencorajar explorações atuais e futuras,
sob os mares, quando presumimos que — presentemente
— as novas evidências de Santorini são provavelmente os
mais persuasivos dos dados ora disponíveis relacionados
com os textos de Platão. O que torna esta evidência
persuasiva é a própria natureza das escavações de Acrotiri;
aqui podemos medir evidências de campo contra
controvérsias acadêmicas e alegações coloridas, mas
fracamente documentadas.
Andei pelas escavações de Acrotiri uma década depois de
terem principiado. O que Marinatos e seus colegas
desenterraram era uma cidade suficientemente acessível
— isto é, não muito profundamente coberta por detritos
vulcânicos — de modo que as ferramentas e técnicas
modernas podem preservá-la consideravelmente. Ao passo
que os afrescos delicadamente coloridos e traçados estão
agora em exposição no Museu Arqueológico de Atenas, o
sítio de Acrotiri é claramente visível como uma série de
casas, ruas, centros artesanais e armazéns. Não há
praticamente dúvida nenhuma de que o povo que viveu
aqui por volta de 1.500 a.C. foi inicialmente expulso de
suas habitações por uma perturbação que pode ter sido um
forte terremoto; depois, a explosão vulcânica cobriu o
povoado com detritos.
A controvérsia sobre a Atlântida deve ser considerada à luz
da moderna arqueologia, seus feitos e limitações. Três
nomes agora se destacam, nomes que são marcos na
estrada que nos leva de volta à antiga Grécia. Um é
Heinrich Schliemann, de quem falaremos num capítulo
posterior, que descobriu Tróia e Micenas; o outro, é Sir
Arthur Evans, que desenterrou e reconstruiu o palácio de
Cnossos, em Creta, e cunhou o termo "civilização minóica";
o terceiro, é Marinatos, que primeiro chamou a atenção à
presença de pedra-pomes na cidade cretense de Amnissos
— que ele atribuiu a emanações vulcânicas do Santorini.
Spiridion Marinatos publicou os resultados deste trabalho
arqueológico de detetive no trabalho "Sobre a Lenda da
Atlântida", no jornal especializado Creta Chronica, em
1950; o texto completo de seu trabalho é um apêndice
deste livro. A Segunda Guerra Mundial interrompera seu
trabalho. Marinatos e seus colegas engajaram-se em outras
escavações durante o período imediatamente após a
guerra. Mas uma vez começando escavar em Acrotiri,
obtiveram resultados depressa, e em grande número.
Pode-se andar por um museu e ficar logo entediado com
vaso após vaso, estatueta após estatueta, estátua após
estátua. A virtude de se observar uma escavação assim
como Acrotiri está na qualidade intrínseca de seu traçado:
aqui, de fato, foi onde um povo viveu sua vida cotidiana, há
uns 3.500 anos; os produtos de sua imaginação e
habilidade estão claramente visíveis. Pondo o trabalho dos
artistas da Creta minóica lado a lado com os de Acrotiri, a
unidade de estilo torna-se óbvia na delicadeza de imagens
de flores, mulheres, animais — macacos azuis lançando-se
de ramo para ramo, por exemplo — bem como nos
assuntos e materiais usados.
Marinatos, relatando a estação de escavações de 1969,
afirmou que era altamente improvável que uma erupção
tal como a do Santorini tivesse deixado Creta intocada. — É
impossível — escreveu ele —, ignorar a potência
catastrófica das tsunamis — ondas fortíssimas e
destruidoras que teriam atingido o litoral cretense.
Acrescentava:
— É impossível, portanto, imaginar que Creta e outros
lugares no Egeu oriental escaparam a danos terríveis pelas
tsunamis, por volta de 1.500 a.C. — Isto, claro, sugere que
a busca da Atlântida de Platão não termina em Creta, nem
em Santorini, nem em nenhum outro lugar. Abre avenidas
totalmente novas ao cientista ativo e imaginativo.
O mágico nome "Atlântida" proporciona ímpeto poderoso a
novas aventuras no passado humano. Quando o explorador
marinho francês, Jacques Cousteau, trouxe seu barco
Calypso ao Mar Egeu, ele não só explorou a área em torno
a Santorini e Creta, mas fez uma pesquisa subaquática
particular de uma ilhota, Dia, ao norte de Creta e na
direção de Santorini. Sem dúvida, um amplo público pode
depreender dos filmes de Cousteau que a pesquisa de
civilizações perdidas deveria estender-se a outras áreas
sob o mar. Particularmente os platôs que se estendem do
continente e ilhas pelas águas do Egeu e em outros locais,
poderiam fornecer material valioso que poderia ser
superposto às novas evidências ora sendo descobertas.
Tudo isto, ou pelo menos muito disto, poderia não ter
acontecido, sem as palavras de Platão sobre a Atlântida
afundada. Como suas descrições foram preservadas,
foram-nos dados um termo e uma imagem que significam
muito mais que qualquer artefato trazido à luz por uma pá
ou pela haste de um mergulhador; Platão nos deu uma
visão do que uma vez fomos, e poderíamos ser, mais uma
vez.

Capítulo 2
OS ECOS DE PLATÃO

"Antes de Platão: silêncio; depois, ecos." É assim que Hans


Schindler Bellamy sumariou o papel do antigo poeta-
filósofo ateniense em seu livro O Mito da Atlântida.
Schindler é representante da crença acadêmica de que
nenhuma fonte verificável concernente à Atlântida
precedeu Platão. Ele escreve: "Um total de cerca de cem
referências à Atlântida é encontrado na literatura clássica
pós-platônica, mas não acrescenta novos aspectos ou
facetas ao mito do grande filósofo”.
A Atlântida começou com Platão, e nós que buscamos
provas de sua existência e ponderamos sobre seu destino e
significado, somos seus herdeiros. Mas quem, realmente,
foi este homem cuja face conhecemos apenas de
esculturas que podem ou não ser réplicas fiéis de sua
aparência? Qual era o mundo em que ele viveu, que
proporcionou um cenário à sua vida e obra, que o
alimentou, mas que o repeliu, e que o fez ansiar e escrever
sobre uma sociedade utópica que seria radicalmente
diferente da anárquica Atenas que ele conhecia demasiado
bem. Bem à parte da descrição platônica da Atlântida, há
uma fascinação dentro do homem com sociedades
contrastantes com o padrão de vida que via à sua volta.
Era um período em que as idéias democráticas tinham sido
derrubadas, por excessos. O quarto século antes do
nascimento de Cristo, não só na velha Atenas, mas em
muitas outras cidades-estado e comunidades no
Mediterrâneo oriental, era um século em que o caos e a
tirania estavam engajados numa das lutas cíclicas que têm
sido parte da existência registrada da humanidade —
naquela época, antes e depois.
As idéias políticas que Platão expressa em sua obra
máxima, a República, foram freqüentemente descritas
como utópicas. Este termo sugere que Platão visava ao
estado ideal; se bem que, olhando para trás, a forma de
governo de Platão contivesse elementos de uma impiedade
intolerável para nossa visão contemporânea. A Atlântida
que ele figurava era uma realidade diferente, ou uma visão
diferente — muito embora se possa ver a República e a
Atlântida como lados contrastantes da mesma moeda
filosófico-política. Mas, acima de tudo, devemos ver Platão
e suas visões como produtos de seu tempo e lugar. E quais
eram precisamente?
A dracma havia caído de novo, o exército que havia sido
enviado à Sicília tinha sido derrotado, o excesso de
democracia desregrada expunha agora seus erros, e o
governo estava caindo. Estes não eram assuntos,
entretanto, que pareciam preocupar alguém além das
classes patrícias; assim como os escravos para o homem
medíocre que andava pelas ruas da Atenas do século
quinto, estes eram assuntos sobre os quais não tinham
controle.
Descrever as ruas da antiga Atenas seria catalogar todas
as condições humanas dentro da sociedade ateniense.
Aqui, você encontraria mendigos maltrapilhos agachados
no pó, mercadores cantando suas melodias, escravos
fazendo algo para seus senhores, trabalhadores esperando
serem contratados para o dia, o escriba oferecendo-se-lhe
para escrever cartas, o estrangeiro procurando uma cama
para passar a noite, comerciantes e lojistas discutindo
preços — e, talvez, a despeito da confusão e do
movimento, alguém poderia ter observado Platão andando,
e suavemente debatendo com algum de seus jovens
discípulos, bem como seu mestre, Sócrates, havia feito
muitos anos antes.
Esses grupos irrequietos produziriam, inevitavelmente, um
lixo, inimaginável. Platão deve ter sempre esperado com
naturalidade a lama e os detritos nas ruas. A acumulação
de potes quebrados, tijolos, e lixo das casas, combinados
com a poeira, deviam formar um pântano a cada chuva. O
mau cheiro no verão seria muito pouco menos
desagradável. Para compreender as condições nas quais
Platão viveu, devemos esquecer todas as nossas noções
modernas de conforto e sanitarismo, e preparar-mo-nos
para ficarmos impressionados quando um arqueólogo
solenemente informa a descoberta de um esgoto primitivo.
Na República, o próprio Platão nos dá uma breve imagem
da vida cotidiana sob a democracia restaurada: "Os cavalos
e jumentos têm um modo de acompanhar todos os direitos
e dignidades dos homens livres; e arremeterão contra
qualquer um que encontrarem nas ruas, se não deixarem o
caminho livre para eles; e tudo está sempre prestes a
estourar de liberdade".
Platão (427-347 a.C.) foi um dos maiores escritores em
prosa, e, quiçá, epigramatistas poéticos da literatura grega,
bem como um dos mais influentes filósofos gregos. Ao
passo que pode ser um exagero dizer que toda a filosofia
ocidental "constitua apenas uma nota de rodapé a Platão",
quase todos os principais temas da filosofia ocidental
foram primeiro tratados por ele. A maioria de seus
pensamentos foi expressa sob a forma de diálogos, sendo
os primeiros vivazes e distintos por um uso quase ficcional
da caracterização, mais memoravelmente a de Sócrates.
Em suas últimas obras, seu estilo torna-se mais expositivo,
uma mudança dramática que tende a confirmar sua
identificação com Platon, o poeta cujo nascimento (429-
347 a.C.) quase coincidiu com o de Platão, o filósofo, e que
também foi discípulo de Sócrates. Se foram uma mesma
pessoa, o Fedro e o Symposium podem nos oferecer o elo
espiritual entre os epigramas amadorísticos e os livros
filosóficos. Certamente, sendo contemporâneos e
discípulos de Sócrates, os dois, se de fato não eram uma só
pessoa, devem ter-se conhecido. Talvez uma outra
confirmação de sua identidade possa ser achada na
República, seu trabalho mais famoso, onde o estado ideal é
apresentado, dando azo aos escritos sobre a Atlântida, e o
problema da justiça social é examinado minuciosamente. É
nesta obra que ocorre a condenação dos poetas, onde são
excluídos da participação no governo, e mesmo da
cidadania. Pode-se ver nestes escritos a opinião de um
ancião que fora poeta em sua juventude, e sabia bem que
tipos socialmente não-confiáveis e perturbadores são.
Ainda outras alegações pelo estado ditatorial são
apresentadas por Platão na República e, em menor
extensão, nos escritos da Atlântida, baseando-se na
infelicidade na Grécia, após a derrota na Sicília, a posição
da família de Platão na estrutura social, e as destruições da
democracia desgovernada, que vira em sua juventude. Um
aristocrata, ele e sua família, amigos e seguidores olhavam
a constituição vigente com descontentamento suspeito.
Seus escritos retinham o idealismo elevado da juventude, e
seu refúgio numa Utopia política era indubitavelmente
influenciado pelo desagrado que sentia em relação a uma
democracia auto-indulgente.
Ainda outras influências em sua filosofia social e política
seriam seus esforços poéticos (que sabemos que os fez,
mesmo que não seja o Platão cujos poemas sobreviveram),
sua atração por Crátilo, o filósofo heraclitiano, e depois por
Sócrates.
Sócrates foi a mais profunda e duradoura influência na vida
de Platão, mas devemos presumir que um jovem tão
educado e faminto de saber estava também informado a
respeito de outros filósofos, na era do declínio de Atenas.
Devemos presumir, com Benjamin Jowett, que é improvável
que Platão "não tivesse tentado informar-se até seu
trigésimo aniversário sobre os feitos dos filósofos
anteriores, que não tivesse aprendido nada de seu amigo
Euclides sobre os eleáticos, nem de Símias e Cebes sobre
Filolaus, que ele não tivesse perguntado nada a respeito
das doutrinas continuamente trazidas à superfície pelas
leituras públicas e disputas dos sofistas, e tenha deixado
sem ler os escritos de Anaxágoras, tão facilmente
disponíveis, em Atenas".
Durante o julgamento de seu mestre, Sócrates, Platão
estava ausente, alegando doença. No "entretanto, muitos
dos jovens discípulos aristocratas de Sócrates deram
desculpas similares. É possível que Platão estivesse sendo
cauteloso quanto a associar-se com seu mestre. Acusado
pelos tiranos de Atenas de "corromper a juventude",
Sócrates pode ter sido de fato, culpado, mas a "corrupção"
teria sido antes homossexualismo do que filosofia. Após a
morte de Sócrates, Platão e outros discípulos foram à
cidade de Megara, para estudar com. Euclides. A tradição
também quer que Platão tenha visitado o Egito, onde
obteve seu conhecimento sobre a Atlântida, a Cirene,
Magna Grécia e Sicília. Este exílio, ou viagem, consumiu
uns 10 ou 12 anos, e parece claro que Platão estudou com
os pitagóricos italianos, cujo conhecimento matemático ele
dominava. Na Sicília, visitou a corte de Dionísio, o Velho,
onde chegou a ofender, com sua fala direta. Por seu
moralismo, foi entregue ao embaixador Pollis e posto à
venda, no mercado de escravos. Foi devolvido a Atenas
após ter sido resgatado por um filósofo cirenaico, Anniceris.
Após seu exílio de Atenas, Platão parece ter se
estabelecido seriamente como professor pela primeira vez,
seguindo o exemplo de Sócrates. De acordo com o
testemunho de Aristóteles e outros de seus pupilos, Platão
parece ter ensinado com uma combinação de discurso e
diálogo, compartilhou uma vida comunal com seus alunos,
e raramente aceitou pagamento, na forma de presentes.
Seu desejo dominante parece não o de ter sido um
estadista ele mesmo, mas formar estadistas, lançar ideais
que regulariam as ações.
Com a morte de Dionísio, o Velho, seu filho convidou Platão
para ir a Siracusa. Platão aceitou, esperando ganhar um rei
em exercício para sua filosofia, mas o jovem logo se
cansou da seriedade de Platão e teve ciúmes de suas
amizades com outro estadista, Díon, a quem baniu. Platão
retornou a Atenas, presumivelmente mais triste, mas
também mais sábio.
Seus últimos anos foram bem descritos por seu mais
famoso tradutor para o inglês, Benjamin Jowett: "Após
alguns anos, com as renovadas solicitações do tirano e
insistência dos amigos, decidiu-se por mais uma viagem à
Sicília. Seu objetivo imediato era, sem dúvida, tentar uma
reconciliação entre Díon e Dionísio; a isto teriam se
associado, mais distantes, esperanças políticas; a empresa,
porém, resultou tão desafortunada que Platão esteve
mesmo em considerável perigo pela desconfiança do
apaixonado príncipe, e só se evadiu pela intervenção dos
pitagóricos, que estavam então encabeçando o estado
tarentino. Se, após retornar, aprovou a hostil agressão de
Díon para com Dionísio, não sabemos; mas de sua parte,
tendo agora atingido seu septuagésimo ano, parece
renunciar a todo envolvimento ativo com a política. A
atividade de seu intelecto, no entanto, continuou, em meio
à reverência de compatriotas e estrangeiros, inabalada até
sua morte, que, após uma velhice feliz e pacífica, diz-se tê-
lo levado durante uma boda.”
Com sua morte, o Crítias e daí o registro mais completo da
Atlântida, foi deixado inacabado, acrescendo nossas
dúvidas. Parece haver uma só referência à Atlântida
anterior a Platão. Em seu comentário ao Timeu, de Platão,
o filósofo Proclus diz que o historiador Marcellus escreveu,
em sua agora perdida História da Etiópia, que "os
habitantes de várias ilhas do Oceano Atlântico preservaram
uma tradição de seus ancestrais da prodigiosamente
grande ilha Atlântida, que era consagrada a Posseidon e
dominou todas as ilhas do Atlântico por um longo período".
Thomas Taylor, em sua tradução do Timeu, cita a seguinte
referência de Marcellus à Atlântida: — "Pois relatam que
em seu tempo haviam sete ilhas no Mar Atlântico,
consagradas a Prosérpina; e além destas, haviam outras de
imensa magnitude; uma das quais, consagrada a Plutão,
outra a Amon, e outra, que é a metade destas, e tem mil
estádios, a Netuno*. Todavia, Proclus nada diz quanto às
fontes de Marcellus; pode-se presumir que as ilhas citadas
sejam as Canárias e os Açores.
Considerando o enorme fascínio da Atlântida sobre a
imaginação das gerações subseqüentes, a falta de
referências anteriores parece realmente estranha. A razão
é, usualmente, e mais convenientemente, atribuída à perda
de documentos. Uma versão sobre o conhecimento de
Platão sobre a Atlântida é de que Sólon, o mais sábio dos
Sete Sábios, aprendeu o mito no Egito e pretendeu reviver
sua aceitação 150 anos antes de Platão, mas as
dificuldades políticas impediram-no. E como Platão
repetidamente enfatizou, a memória da Atlântida
desapareceu dentre os gregos, porque aqueles que a
conservavam morreram, de modo que a Atlântida
permaneceu como uma tradição familiar, os fatos passando
de Sólon ao parente de Platão, Drópidas, e então através
de Crítias, o velho, Calescrus, e Crítias o Jovem, para
Platão.
Presumivelmente, Crítias confiou estas informações, por
escrito ou oralmente, a seu sobrinho, Platão, que parece
ter "editado" estas supostas memórias e as escreveu nos
diálogos Timeu e Crítias. Comentadores clássicos após a
morte de Platão estavam em posição nada melhor que a
nossa para saber da verdade. Incapazes de avaliar o
conteúdo factual do material sobre a Atlântida,
restringiram-se aos aspectos filosóficos.
De acordo com Proclus (também chamado Diadocus), um
dos primeiros seguidores de Platão e membro da
Academia, Crantor, aceitava a história da Atlântida como
fato genuíno, assim como Sirianus, outro filósofo daquele
período. Mas, Aristóteles via os escritos de Platão sobre a
Atlântida apenas como mito.
Só dois séculos depois é que se fizeram comentários
importantes. Possidônio, Estrabão e Plínio, no primeiro
século a.C. foram cuidadosos em seguir a tradição e não
pronunciar nada pró ou contra a possível existência da
Atlântida. Havia muita indubitável evidência de que uma
violenta alteração geofísica poderia fazer desaparecer uma
ilha ou continente, e não tinham base para argumentar
contra a existência anterior da Atlântida. Típico dos
primeiros comentadores foi Plutarco, que lamentava que
"de todas as lindas obras de Platão, a fábula da perdida
Atlântida tenha permanecido inacabada". O primitivo padre
da igreja, Tertuliano, não via razão por que a Atlântida não
pudesse ter existido de fato, e não meramente na
imaginação de Platão.
No século III d.C. Longinus suportava a opinião de
Aristóteles sobre a Atlântida, mas a maioria dos
comentadores daquele período optaram por preservar uma
certa dúvida. Arnóbio, o Velho, e o historiador Ammianus
Marcelinus, e o filósofo neoplatônico Jâmblico estavam
dispostos a aceitar a existência da Atlântida, pela
autoridade de Platão. Dois séculos depois, sua opinião foi
sustentada pelo geógrafo bizantino, Cosmas
Indicopleustes. Com a Idade das Trevas, no século VI,
houve poucas adições aos escritos platônicos sobre a
Atlântida. Esta falta de interesse é de se esperar, pois todo
conhecimento sobre a Atlântida derivava dos dois diálogos
de Platão, que por sua vez baseavam-se em notas
particulares reunidas numa terra distante. As referências
históricas à perda da Atlântida diziam-se ter sido inscritas
numa série de colunas tio Egito, que supostamente
existiriam até uma geração após Platão, quando o filósofo
Crantor as viu e descobriu, de acordo com Proclus, que
seus textos conferiam com a história de Platão. Algum
tempo depois, provavelmente quando houve pessoas que
quiseram investigá-las para aumentar o fragmento do
Crítias (o fim do livro, entrementes, fora perdido), os
monumentos não mais puderam ser encontrados, e todas
as tradições egípcias sobre a Atlântida foram esquecidas
na geral e progressiva decadência da civilização na terra
do Nilo.
Uma exceção é o sofista Teopompo de Quios, que viveu no
século IV a. C., que falou em seu livro, Filípica, sobre
Meropis, uma terra maravilhosa no Mar Ocidental, maior
que a Ásia, Líbia, e Europa (portanto, excedendo a
Atlântida de Platão, quanto ao tamanho) e cujos
habitantes, os Méropes, construíram grandes cidades e
assemelhavam-se aos atlantes. Não obstante, esta obra
era vista pelos comentadores antigos como sendo
amplamente fruto da imaginação, e talvez um esforço para
criar uma segunda Atlântida.
Por volta do começo de nossa era, Diodoro Sículo relatou
em sua Biblioteca Histórica sobre uma ilha de tamanho não
desprezível, situada no Oceano Atlântico, ao largo da África
setentrional, a vários dias de viagem da costa. Era descrita
como fértil, montanhosa, com amplas e ondulantes
planícies, irrigada por rios navegáveis, ou talvez canais.
Como Hans Schindler Bellamy aponta em seu O Mito da
Atlântida, "Um total de cerca de cem referências à
Atlântida são encontradas na literatura clássica pós-
platônica, mas não acrescentam novos aspectos ou facetas
ao mito do grande filósofo. Antes de Platão: silêncio;
depois, ecos." Jowett via a Atlântida como "uma ilha nas
nuvens que poderia ser vista em qualquer lugar pelo olho
da fé".
A opinião de Jowett, porém, como suas traduções, é
colorida por sua moralidade do século dezenove, e ênfase
no raciocínio "científico" de Platão. Jowett escreve: "As
gestas dos poetas cômicos que chegaram até a nós são de
fato, bastante anódinas, e concernem ao filósofo mais que
ao homem; mas há outras alegações sobre as quais
silenciar pela apologia de Sêneca — de que a vida de um
filósofo nunca pode inteiramente corresponder à sua
doutrina — é dificilmente suficiente. Por um lado, ele é
acusado de conexões que, se provadas, para sempre
lançariam uma sombra sobre sua memória; por outro,
inamistoso e mesmo hostil comportamento para com
diversos de seus amigos discípulos. Ele também foi
acusado de parcialidade e amor próprio, para não
mencionar o comportamento sedicioso após a morte de
Sócrates, com o escândalo que lhe teria sido imputado.
Sua relação com a corte siracusana foi logo tornada
alavanca para diversas acusações, assim como amor do
prazer, avareza e adulação dos tiranos; e seu caráter
político sofreu particularmente nas mãos daqueles que, por
si mesmos, eram incapazes de alcançar suas idéias.
Finalmente, a crermos em seus detratores, ele não só,
como autor, permitiu-se numerosas falsas afirmações com
respeito a seus predecessores, mas também tantas
citações indiscriminadas de suas obras que uma
considerável proporção de seus escritos pode ser nada
mais que um roubo deles.”
Tão ansioso está Jowett para defender Platão de seus
acusadores, que ele faz Platão parecer um "gentleman"
vitoriano. Mas Platão era um grego antigo e deve ser
julgado, moralmente e de outros modos, pelos padrões de
seu tempo e local históricos. Apenas assim, muitos de seus
escritos, e especialmente aqueles que se referem ao mito
atlante, podem ser enfocados. Comecemos 'sumariando
brevemente as principais características do material sobre
a Atlântida.
Em primeiro lugar, os deuses dividiam a Terra entre eles,
em proporção ao nível de cada um. Estabeleceram templos
para si, ordenaram sacerdotes e um sistema de sacrifício. A
Posseidon, coube a Atlântida. No meio da ilha havia uma
montanha, talvez um vulcão, onde moravam humanos:
Evenor, sua mulher, Leucipa, e sua linda filha, Clito. Após a
morte de seus pais, Clito uniu-se a Posseidon e deu-lhe
cinco pares de meninos. Atlas, o mais velho, governou os
outros nove. Antes de seu nascimento, Posseidon dividira a
Atlântida em zonas concêntricas de terra e água. Duas
zonas de terra e três de água cercavam a ilha central, que
era irrigada por uma fonte de água quente e por outra, de
água fria.
Um sábio governo e indústria adiantaram a Atlântida em
relação às culturas vizinhas. Com recursos naturais
aparentemente inesgotáveis, os atlantes domesticaram
animais selvagens, mineraram metais preciosos, e
destilaram perfumes. Também erigiram palácios, templos,
canais e docas. A rede de canais unia várias partes do
reino.
Platão então descreve as pedras brancas, negras, e
vermelhas que eles lapidavam para seus edifícios públicos.
Circunscreviam cada uma das faixas de terra com uma
muralha; a externa coberta de latão, a média com zinco, e
a interior, que circundava o templo de Posseidon, com
oricalco. A cidadela, na ilha central, era cercada por uma
muralha de ouro. Aqui, os dez descendentes de Posseidon
nasceram, e aqui traziam suas oferendas. O próprio templo
de Posseidon estava coberto de prata, e seus pináculos, de
ouro. O interior era de marfim, ouro, prata, e oricalco,
mesmo os pilares e o chão. Uma enorme estátua de
Posseidon, num carro puxado por seis cavalos alados, e à
sua volta, cem nereidas cavalgando delfins, ficavam ao
centro do templo. Fora, havia estátuas de ouro dos
primeiros dez reis e suas esposas.
Nos bosques e jardins, havia fontes quentes e frias. Havia
lugares para exercícios de ginástica para o público, banhos
públicos, e um grande estádio para corridas. Havia
fortificações em todas as ilhas, em cujas baías aportavam
navios de toda nação do mundo então conhecido. Tamanha
era a população, que o som da voz humana era ouvido
sempre.
Aquela porção da Atlântida que se defrontava com o mar
era íngreme e acidentada, mas a cidade central estava
numa planície cercada por montanhas. Devido aos canais
de irrigação, a planície dava duas colheitas por ano. A
planície estava dividida em dez seções, cada uma devendo
fornecer sua quota de homens e materiais durante as
guerras.
As exigências militares de cada uma das dez comunidades
diferiam. Cada rei era soberano, mas seu relacionamento
mútuo era governado por um código central gravado numa
coluna de oricalco, pelos primeiros dez reis. A cada cinco
ou seis anos, faziam-se peregrinações ao templo principal,
de modo que se fizessem sacrifícios apropriados, e cada rei
renovava seu juramento de lealdade sobre a inscrição
sagrada. Então, os reis envergavam vestes azuis e
sentavam-se, em julgamento. Ao raiar do dia, escreviam
suas sentenças numa tabuinha de ouro, e deixavam-nas lá,
com suas vestes, como memorial. A lei principal da
Atlântida era que os reis não deveriam guerrear uns contra
os outros, e deveriam defender-se mutuamente contra
quaisquer ataques externos. Em tempos de crise, as
decisões finais ficavam com os descendentes diretos de
Atlas. Nenhum rei tinha poder de vida e morte sobre seus
súditos, sem a concordância de todos os dez.
Uma tal civilização poderia ter existido? "Não", como
Robert Ferro e Michael Grumley colocam a questão em
Atlântida: A Autobiografia de uma Busca, "existiu, quando,
ou como, ou onde, e o que significa?".
A narrativa de Platão é consistente, até o ponto da queda
do império num só dia, de acordo com os sacerdotes
egípcios, em 9.600 a.C. A Atlântida caiu por seu "orgulho
arrogante" de parte de seus cidadãos, que estavam então
engajados em atacar Atenas e o Egito. Mas, Atenas não
existia em 9.600 a.C. A escrita e a metalurgia ainda não
haviam sido inventadas. As comunidades agrícolas datam
de cerca de 7.000 a.C. e os cavalos não eram conhecidos
na Europa até a Idade do Bronze. A arquitetura do tipo que
Platão descreve, incluindo pirâmides, não existia antes de
4.000 a.C.
Por outro lado, a teoria de Aristóteles, de que a Atlântida
destinava-se a ser uma alegoria para ilustrar as teorias
políticas de Platão, não é sustentável. A narrativa,
diversamente da República, não esposa nenhuma teoria
em particular e parece-se mais a um fato histórico, mesmo
que confuso, do que a um mito. Mais plausível é a
especulação de Edward Bacon, em Homem, Mito e Magia
("Man, Myth and Magic"), que disse: "a Atlântida descrita
por Platão era muito semelhante ao que a arqueologia
descobriu das civilizações da alta Idade do Bronze do Egeu
e Oriente Próximo, assim como os minóicos, os micênios,
os hititas, os egípcios, e os babilônios — entre cerca de
2.500 e 1.200 a.C. Havia então algo errado com a data de
Platão? Os sacerdotes egípcios, ou Sólon, teriam
confundido 900 com 9.000 anos? Caso afirmativo, a data
do desastre teria sido 1.500 a.C. ao invés de 9.600 a.C.”
Esta suposição torna a existência da Atlântida e sua
subseqüente destruição muito mais verossímil. Um
cataclisma vulcânico ocorreu durante o império da Creta
minóica, por volta do século VI a.C. A civilização minóica
caiu por uma série de desastres naturais, incêndios,
inundações e terremotos. Por volta daquela época,
Santorini (ou Thera) sofreu uma explosão vulcânica cerca
de cinco vezes maior que a do Cracatoa, em 1883, que foi
ouvida em San Francisco, e enviou ondas gigantescas por
todo o Oceano Pacífico. Bacon conclui: "Estas duas
narrativas de um desastre sem par são similares quanto à
natureza, localização e data, de modo que devem ter
relatos diversos do mesmo desastre. E quando uma
expedição arqueológica, liderada pelo professor Marinatos,
de Atenas, descobriu, em 1967, restos minóicos sob a
pomes de Santorini, o elo final foi acrescido e a
identificação de Santorini com a antiga metrópole atlante,
e da Creta minóica com a Cidade Real e o império dos
atlantes, tornou-se virtualmente inevitável.”
Entretanto, a evidência meramente histórica da Atlântida
deixa sem explicação um ponto fundamental: por que
Platão se incomodou em escrever a respeito disto? Platão
não era historiador, e não há nada em suas outras obras
para indicar que ele teria algum interesse numa Atlântida
puramente histórica. Precisamos então procurar mais
explicações, menos evidentes, do mito da Atlântida.
O decano dos modernos ocultistas americanos, Manly P.
Hall, em Os Ensinamentos Secretos de Todas as Eras ("The
Secret Teachings of Ali Ages"), comenta que "Por uma
cuidadosa consideração da descrição de Platão da
Atlântida, é evidente que a história não deve ser vista
como totalmente histórica, mas sim como tanto alegórica
como histórica." Ele continua: "Orígenes, Porfírio, Proclus,
Jâmblico, e Siriano perceberam que a história escondia um
profundo mistério filosófico, mas discordaram quanto à sua
interpretação real. A Atlântida de Platão simboliza a
natureza tripla do universo e do corpo humano. Os dez reis
da Atlântida e a Tetractis (referindo-se ao fato aritmético
de que 1, 2 e 4 somados, dão 10), que nascem como cinco
pares de opostos. (Cf. Téon de Smirna quanto à doutrina
Pitagórica dos opostos.) Os números de 1 a 10 governam
toda criatura, e os números, por sua vez, são sob o domínio
da Mônada, ou 1 - o mais velho.”
Com o cetro em forma de tridente de Posseidon, estes reis
tinham poder sobre os habitantes de sete ilhas pequenas e
três grandes compreendendo a Atlântida. Filosoficamente,
as dez ilhas simbolizam os poderes tri-unos da Divindade
Superior e os sete regentes que assistem perante seu trono
eterno. Se a Atlântida for considerada como a esfera
arquetipal, então sua imersão significa a descida da
consciência racional, organizada, ao reino ilusório e
impermanente da ignorância mortal irracional. Tanto o
afundamento da Atlântida quanto a história bíblica da
"queda do homem" significam a involução espiritual — um
pré-requisito da evolução consciente.
"Ou o iniciado Platão usou a alegoria da Atlântida para
atingir dois fins amplamente diferentes ou então os relatos
preservados pelos sacerdotes egípcios foram modificados
para perpetuar a doutrina secreta. Isto não implica que a
Atlântida seja puramente mitológica, mas supera o mais
sério obstáculo à aceitação da história da Atlântida, a
saber, a narrativa fantástica quanto à sua origem,
tamanho, aparência, e data de destruição — 9.600 a.C. No
meio da ilha central da Atlântida havia uma grande
montanha que lançava uma sombra de cinco mil estádios
de comprimento, e cujo ápice, tocava-a esfera do éter. Esta
é a montanha-eixo do mundo, sagrada em muitas raças e
simbolizando a cabeça humana, que se eleva sobre os
quatro elementos do corpo. Esta montanha sagrada, sobre
cujo vértice estava o templo dos deuses, deu origem às
lendas do Olimpo, Meru e Asgard. A Cidade dos Portões
Dourados — a capital da Atlântida — é agora aquela
preservada em numerosas religiões como a "Cidade dos
Deuses" ou a "Cidade Sagrada". Aqui está o arquétipo da
"Nova Jerusalém", com suas ruas pavimentadas com ouro e
suas doze portas rebrilhando com pedras preciosas.”

Capítulo 3
IMPACTO NO EGITO

As pessoas que temem, ou sobrevivem a um cataclisma,


transformam-se. O que as faz mudar é a necessidade de
sobreviver. Nesta tentativa, tornam-se agressivas e
intensamente competitivas. Representam uma ameaça
àqueles cujo modo de vida não foi perturbado. Haverá
problemas até que os sobreviventes tenham sido
absorvidos.
Quanto maior uma catástrofe, mais gente estará em
movimento. Se for grande o bastante, os deslocados
formarão hordas de poder significativo. Edmund Burke, o
estadista britânico, disse que as calamidades públicas são
grandes niveladores. As pessoas em desgraça tendem a
esquecer suas diferenças e unem-se, seus instintos animais
prevalecem sobre ideologias. Formam um exército que só
tem um objetivo, ganhar uma vida segura — mesmo que
isto signifique acabar com a segurança dos mais
afortunados.
Se a explosão de Thera e seu impacto em Creta (ou
Atlântida) foi severa o bastante, poderia colocar um tal
exército em movimento. Se terremotos e inundações
acompanharam a erupção, a área envolvida seria maior e o
número de pessoas afetadas, proporcionalmente maior. Tal
migração deixaria sua marca na história dos povos
mediterrâneos que escaparam ao desastre. Seu impacto
definiria um período de migração e luta envolvendo
grandes seções do litoral mediterrâneo. Muito
provavelmente o princípio do período seria marcado por
registros de ocorrências naturais extraordinárias —
conseqüências e efeitos secundários do cataclisma
primário.
É possível identificar tal período? Parece que sim. Um tal
período pode ser especificamente identificado, muito
embora possam ter havido diversas erupções, tais como a
de Thera. O período parece ter sido no começo da
transição da 19ª. para a 20ª. dinastias do Egito,
muito embora as autoridades discordem quanto às datas.
Tal era começou no último terço do século XIV a.C. época
da morte do faraó Ramsés II, cujo reinado, em sua última
parte, foi um extenso período pacífico.
Nesta época, as principais potências do Mediterrâneo
oriental eram o Egito, o Império Hitita no Líbano e Ásia
Menor, e os caldeus, então sob os cassitas. O Egito e a
Caldéia nunca tinham tido qualquer problema sério, e os
hititas eram aliados dos egípcios por um tratado firmado
por Ramsés II. As coisas estavam quietas no cenário
internacional da região.
Mas, havia inquietação dentro do Egito. Os sacerdotes de
Amon não gostavam do modo que Ramsés parecia preferir
o deus Set, e trabalhadores estrangeiros — inclusive alguns
conhecidos como os habiru — reclamavam que eram
oprimidos em suas tarefas de construir as cidades do Delta
de Pithom e Ramsés. Entretanto, o faraó, homem dado à
ação direta, tinha tudo sob controle.
Ramsés foi substituído por seu décimo-terceiro filho,
Merneptá. Nunca um novo faraó teve sandálias tão grandes
para calçar. Seu pai havia sido um homem de grande
coragem pessoal e carisma. Merneptá tentava projetar sua
própria imagem, copiando o estilo grandioso das inscrições
de Ramsés e imitando seus extensos programas de
construção. Ele era, a despeito disto, visto como um
protegido, e pobre substituto, particularmente por seus
vizinhos líbios.
Pode ter sido a falta de uma forte imagem para Merneptá
que levou os batalhões de trabalhadores de Pithom e
Ramsés a irem embora. Podem ter sido apressados por
tempestades incomuns, terremotos, precipitações, e outros
fenômenos que parecem ter irrompido simultaneamente.
Os habiru fugiram do Egito, juntamente com uma multidão
variegada (Êxodo 12:38).
A natureza do fenômeno foi descrita na Bíblia e na tradição
hebraica. Os principais fenômenos são: fortes ventos,
escuridão, chuva de cinzas, terremotos e maremotos — o
que se poderia esperar no Egito se a erupção de Thera
atingiu a magnitude que lhe é atribuída.
Parece, porém, que estas manifestações eram apenas as
de uma erupção e distúrbio sísmico preliminares. Em
aproximadamente sete semanas, os hebreus fugitivos
estavam frente à montanha designada pela Bíblia como
Monte Sinai. Muito embora haja alguma dúvida sobre a
localização deste monte, ao longo da costa leste do Mar
Vermelho, ou em Edom (Monte Seir), este assunto não nos
afeta aqui. O que nos importa é a natureza do que os
israelenses observaram.
De acordo com o Êxodo, a montanha estava "envolta em
fumos", que subiam como "a fumaça de um forno". Relatos
posteriores descrevem a montanha tremendo tão
violentamente que parecia estar sendo brandida acima dos
espectadores. Havia relâmpagos, trovões, pedras e
carvões. Uma grande escuridão. E um som como o de uma
forte trombeta.
Despidos do vernáculo bíblico, os eventos do êxodo e a
aparição no Monte da transmissão da lei, descrevem o que
esperaríamos serem as conseqüências de um terremoto e
uma explosão vulcânica na bacia leste do Mediterrâneo,
com reverberações no Egito, na península do Sinai e para o
interior, talvez em Edom.
Ao passo que há muitas evidências que poderiam suportar
esta interpretação do êxodo — El-Arish, as narrativas
árabes de Masudi, e assim por diante — objetiva-se aqui
relatar os fenômenos observados com sinais de movimento
do povo deslocado.
Aqueles que colocam o êxodo no começo do reino de
Merneptá, podem bem ter razão. Em seu quarto ano, o
Egito foi atacado pelos líbios, que formaram uma
confederação com um misterioso "povo do mar". A Líbia
sempre foi problema para o Egito: sempre derrotada,
recusava-se a tomar a sério os reveses, e continuava
tentando uma revanche. Desta vez, com seus novos
aliados, tentou mais uma vez, apenas para sofrer mais uma
derrota, nas mãos dos arqueiros dos carros de Merneptá.
Quando terminou a batalha do Delta oeste, o faraó ordenou
que todos os seus prisioneiros fossem marcados com seu
nome, e enquanto isto estava sendo feito, ofereceu-lhes
uma chance para dissipar seu real desagrado. Gostariam
de ser integrados nas tropas egípcias e proteger o Egito
dos ataques nômades na Palestina meridional?
Concordaram, e cumpriram o prometido agressivamente.
Merneptá foi para a tumba como um faraó um tanto
inativo, comparado a seu pai. Mesmo suas inscrições lhe
foram infiéis, uma registrando, jubilante: "Israel morreu, e
não tem semente." Não teve problemas outros com o Povo
do Mar e sua reaparição só se deu três décadas depois; a
menos que nas convulsões que abalaram o Egito naquela
época, seus ataques ocasionais passassem despercebidos.
O faraó Seti II assumiu o poder e reinou por seis anos,
sendo o último da 19ª. dinastia. Os escribas egípcios,
sempre vagos quando se tratava de más notícias (nunca
registravam sentenças de morte exceto com alguma
espécie de eufemismo, assim como: "Ele foi julgado pelo
Faraó e os juizes concordaram com o Faraó..."), e não
mencionam as circunstâncias em que um homem chamado
Siptá tornou-se o primeiro faraó da 20ª. dinastia. Reinou
apenas seis anos.
Então, sua esposa Tawosfet subiu ao trono. Ela apossou-se
mesmo das inscrições de Siptá, alterando muitas delas, de
modo a indicarem que ela era a rainha (os egípcios não
tinham termo para "rainha") desde seu primeiro ano de
reinado. Seu reinado efetivo durou dois anos.
Houve um breve interregno por um usurpador sírio, e então
Setnakht tornou-se faraó. Tomou mesmo a tumba de
Tawosret como se fosse a sua, deixando seu filho, Ramsés
III.
Ramsés III foi o último grande faraó do Egito. Recebeu um
país dividido por revoltas e guerra civil, e tentou restaurá-
lo à seu esplendor antigo. Mal começara, quando recebeu
as tradicionais más notícias da fronteira líbia. Desta vez, os
líbios alegavam que Ramsés havia interferido na sucessão
de seus chefes, e iam atacar. Atacaram com os resultados
usuais. Os prisioneiros foram ferreteados com o nome de
Ramsés e foram tornados seus soldados. Ocasionalmente,
Ramsés os usaria para atacar os de seu próprio povo.
Dois anos depois, mais más notícias, desta vez da fronteira
leste. O Povo do Mar retornara com forças muito
aumentadas e estavam acampados em Amor, na Síria.
Graças às inscrições de Ramsés em seu templo mortuário
em Medinet Habu, sabemos onde estivera o Povo do Mar, e
o que estiveram fazendo. Tinham derrubado o poderoso
Império Hitita e efetivamente varreram-no da face da terra.
Agora, estavam em Amor e seu exército dispunha de uma
frota. Seguidos por suas famílias e gado, o Povo do Mar
começou a marchar sobre o Egito. Os arqueiros de seus
navios cobriam o avanço em terra.
Em dois mil anos de história, desde que seus nomos foram
unidos, o Egito nunca havia combatido no mar. Seu povo
simplesmente não contava com marujos, e alguns
escritores alegaram que os egípcios tinham um temor
supersticioso do mar. Pilotar pelo Nilo, era coisa diferente.
O Nilo era a principal artéria do Egito e era policiado por
uma guarda especial, conhecida como a Chama Branca. O
branco era a cor da pureza, nobreza e justiça; a chama
conotava a vingança, a punição e a retribuição.
Quando o exército egípcio foi ao encontro do Povo do Mar,
a Chama Branca acompanhou-o ao longo do ramo
pelusíaco do Nilo. Os pormenores da batalha travada estão
perdidos, muito embora os murais de Medinet Habu digam
muito a respeito. Os barcos da Chama Branca, com
pequeno calado, boas para navegar nas águas lodosas do
Nilo, eram idealmente adequados para uma cobertura
próxima do exército em terra. Em combate com outros
navios, tinham uma vantagem militar peculiar, um mastro
elevado com uma espécie de gávea, que podia abrigar
arqueiros. Estes ficavam localizados de modo que podiam
disparar para baixo, contra seus alvos. Alguns historiadores
afirmam que as unidades da Chama Branca atraíram os
navios do Povo do Mar para derivações traiçoeiras do Nilo,
esperaram que fossem para terra, e então atacavam com
uma fatal chuva de setas.
Em terra, o exército egípcio, sempre bem disciplinado e
treinado, com a espada curta, lançadeiras, dardos, e arcos,
atacaram a vanguarda do Povo do Mar. Olhando as
inscrições de Medinet Habu, temos a impressão de que
homens com o mesmo armamento nem sempre lutavam
juntos, em unidades. Parece mais que se compunham
equipes, digamos, de um espadachim, um arqueiro e um
lançador. Então, os carros tripulados por um auriga e
arqueiro e puxado por corcéis treinados para penetrar o
grosso das tropas adversárias — manobra que parece ter
sido inventada por Ramsés II, que quase perdeu a vida ao
demonstrar sua eficiência, na batalha de Cadesh.
Exceto pelos poucos que fugiram, o Povo do Mar que não
foi morto, foi capturado. As inscrições dizem-nos algo sobre
suas identidades. Haviam os Acaiwasha, que foram
associados aos gregos aqueus. Os Peleseti, que se
tornaram os filisteus, da Bíblia. Havia também os Tjekker e
os Turusa, sobre os quais ninguém sabe muito ainda. Os
peleseti são os mais facilmente identificáveis das inscrições
de Medinet, tão-somente pelos adereços que levam na
cabeça, que tem alguma semelhança com o cocar de
guerra dos índios norte-americanos. Juntamente com os
tjekkers, estavam acampados militarmente nas costas da
Palestina, entre Gaza e o Monte Carmelo. Eventualmente,
ficaram independentes do Egito.
Ramsés III reinou por mais 25 anos. Muito embora o Egito
se mantivesse, nunca mais recuperou as glórias antigas.
Estava carcomido pela corrupção interna. No tempo de
Ramsés, começamos a encontrar os nomes de estrangeiros
nas altas posições da corte. Alguns, assim como o de Iun
Turusa, sugeriam que pelo menos uns poucos do Povo do
Mar haviam caído nas graças dos círculos do governo
egípcio. O poderio egípcio começara a desaparecer
gradualmente.
Os hititas estavam destruídos. Na Caldéia, os cassitas
tinham perdido seu poder e desapareceriam da história em
umas duas décadas. Foi nesta era que a fabulosa Tróia
caiu, sob os aqueus. Novos habitantes foram para o
continente grego, e chamaram a seu território, Dóris. São
conhecidos por nós como "dórios"; tomaram o Peloponeso
e, na Argólida, destruíram Micenas.
Por esta época, os etruscos entravam na Itália. Heródoto
diz que vieram da Lídia, fugindo da fome. Lídia e Troada (a
região de Tróia) compunham a Anatólia, terra-mãe dos
desaparecidos hititas, que sabemos terem sido vencidos
pelo Povo do Mar. Um século depois da era que discutimos
aqui, a região se transformaria no Reino da Frígia, muito
embora já estivesse povoada desde o século XIII a.C. por
um "povo de origem incerta" — de acordo com o Webster's
Geographical Dictionary.
Coisa notável a respeito dos etruscos é que nunca se
conseguiu traduzir sua língua, muito embora possamos lê-
la: usam uma forma do alfabeto grego. Mas, mais notável é
o fato de que brinquedos, talismãs e outros objetos
etruscos comportavam o alfabeto como elemento
decorativo. Ora, seu isqueiro ou sua caneta-tinteiro não são
enfeitados com o ABC: não teria sentido, pois não
representa nenhuma novidade. Pode-se se imaginar, então,
que o alfabeto grego seria tão pouco familiar para os
etruscos que eles precisariam carregar "lembretes" para
que se acostumassem com ele. E se for este o caso, qual
era seu alfabeto original? Poderia ter sido uma das
escrituras indecifradas de Cnossos? Ou de alguma outra
terra imersa agora sob o Mar de Candia?
Neste capítulo, presumimos que certas condições
prevaleceriam se um grande cataclisma devastasse uma
porção do Mediterrâneo oriental. Procuramos por elas por
um período histórico, quando estas condições pareciam
existir, e as encontramos ao fim do século XIII e começo do
XII a.C.
Como temos evidências de uma ou mais grandes erupções
em Thera, parece razoável relacioná-las ao conjunto de
condições que reelaboramos. As erupções de Thera podem
ter causado as migrações e seu impacto econômico e
social em larga escala. Onde não há registro por escrito, o
movimento dos povos dá sua própria dramática evidência.

Capítulo 4
NO CENTRO DO CENTRO

Spiridion Marinatos era um homem obstinado e impaciente.


As escavações arqueológicas em Thera estavam indo muito
devagar para ele. E então, uma parede do local desabou,
esmagando-o, causando-lhe a morte. Isto ocorreu em 1973.
Mas, sua obra foi continuada por outros; em 1976 os
estudos finais do prof. Marinatos foram publicados, em
Atenas, sob o título modesto de Escavações em Thera VII, o
sétimo de uma série cobrindo a estação de 1973. "No
momento da devastadora catástrofe" — causada pela
gigantesca erupção da ilha, escrevia Marinatos,
"praticamente todos os edifícios foram desviados da
vertical." Isto tornava as escavações, a proteção dos
achados, e mesmo a segurança dos arqueólogos, muito
arriscadas. O distrito de Acrotiri, alvo dos esforços de
Marinatos desde ele tê-lo visto em primeiro lugar como a
chave do passado da ilha, em 1939, proporcionou
numerosos achados; mas os riscos e os custos
permaneciam elevados.
Vários novos afrescos, belamente coloridos, foram
localizados durante a última estação de Marinatos, em
Thera. Um era um grupo de moças colhendo flores,
enchendo cestas e esvaziando-as. Talvez fizessem parte de
uma oferenda à divindade. Marinatos escreveu que "a
existência de um santuário ou altar deve ser suposta, nas
proximidades, por causa de outras três mulheres pintadas
em tamanho natural, carregando grandes braçadas de
flores contra o peito". A representação, acrescentou ele, "é
admirável, pois cada uma das sete figuras forma uma
composição individual de incrível ousadia e originalidade".
Em outro lugar, os afrescos apresentam patos voando
entre caniços, "ao passo que aves menores foram
aparentemente apanhadas em redes". As duas figuras mais
atraentes dos afrescos estão "unidas e animadas pelo tema
de sua conversação. As moças encontraram-se, quando
passeavam pelo caminho e agora estão trocando
observações tipicamente femininas...”
Mesmo um arqueólogo devotado aos fatos pode se permitir
um ocasional vôo de imaginação: reconstruir uma
conversação entre garotas num dia ensolarado muito antes
de qualquer registro histórico. As ruínas do tipo minóico
(até então amplamente restritas a Creta) estão na área de
Acrotiri. Junto com as idéias de Marinatos, as idéias do prof.
A. G. Galanopoulos influenciaram o pensamento público e
científico quanto às ligações de Thera com a Atlântida. Um
engenheiro oceanográfico americano, um dos projetistas
do famoso submarino Alvin, que localizou uma Bomba H
perdida, nas costas da Espanha, apoiou-as ainda mais; é o
Dr. James W. Mavor Jr., do Instituto Oceanográfico de
Woods Hole, Cape Cod. Em seu livro Viagem à Atlântida
("Voyage to Atlantis") — 1969 — Mavor sumariou a posição
de Galanopoulos: Thera não só explodiu e causou um
maremoto que destruiu uma Atlântida que era, de fato,
Creta; mas sim, Thera foi a Atlântida! Em seu centro,
atualmente, uma cratera cheia d'água, estava a cidade-
estado que indiretamente inspirou Platão, acredita Mavor.
Em seu livro, Mavor escreveu que a "erupção e destruição
de Thera foi efetivamente um evento capaz de arrasar uma
Atlântida, reduzida a um tamanho razoável, e não com as
dimensões exageradas, transmitidas por Platão". Mavor
sugeriu que "o mito da Atlântida é o centro de um grande
corpo de mitos relacionados, pertinentes à grande
destruição de Thera, os minóicos e seu império marítimo,
os gregos micenianos e seus conflitos com os minóicos e as
origens do povo egeu". Em sua opinião, "a história da
Atlântida pode levar-nos a compreender as migrações e
outras dispersões culturais dos povos do Oriente Médio e
da Europa tão distantes do Egeu quanto, concebivelmente,
as Ilhas Britânicas".
Escrevendo para o jornal arqueológico suíço, Antike Welt
("Mundo Antigo"), Mavor reafirmou num artigo, "Jornada à
Atlântida" (vol. 1, n.° 4, 1970), o conceito de Galanopoulos,
de uma metrópole central dentro do complexo de Thera,
uma pequena ilha circular com um porto facilmente
acessível. Com sua experiência em pesquisa submarina,
Mavor estava particularmente interessado em atingir
ruínas submersas que estiveram inacessíveis por 3.500
anos. Esta expedição submarina deveria esperar,
particularmente, por Marinatos mostrar uma certa
ambivalência para com projetos não diretamente sob seu
controle.
Muito embora o destino de Thera tenha sido conhecido por
muito tempo, e muito embora a lenda da Atlântida possa
muito bem ter levado a uma exploração mais antiga do
passado geológico da ilha, as pesquisas são de data muito
recente. Isto é compreensível, desde que se recorde que
apenas há cerca de um século, em 1867, um engenheiro
francês, usando cinzas vulcânicas na construção do Canal
de Suez, publicou um trabalho chamado Santorini et ses
éruptions ("Santorini e Suas Erupções"). Historiadores e
arqueólogos compartilhavam de uma mesma ignorância
sobre a civilização minóica (nome referente ao rei
legendário, Minos), pois as escavações de Creta ainda não
haviam ocorrido, e o palácio de Cnossos, em toda sua
beleza, ainda não era conhecido.
O expertos divergem quanto ao significado real dos
afrescos lindamente executados, e de elegante estilo,
encontrados no local das escavações em Santorini, de
Acrotiri. São surpreendentemente similares às
desencavadas antes no palácio de Cnossos. Como você e
eu, meros leigos, podemos tratar das realidades por detrás
das discussões acadêmicas? Nosso melhor palpite, parece-
me, é ouvir uma apreciação de um homem que por sua
vez, é um erudito, mas que está fora da disputa sobre o
papel de Santorini na história da Atlântida.
Neste caso, voltamo-nos para o Dr. D. L. Page, erudito
britânico, Regius Professor de grego e Mestre do Jesus
College, em Cambridge. O prof. Page é um hábil juiz, apto a
avaliar os diversos argumentos, imparcialmente; ele
modestamente intitula-se "um amador, neste campo" da
arqueologia, mas ele é um estudioso do helenismo de
prestígio mundial. Em 1969, foi ao chamado "Congresso de
Thera"; na Grécia, uma conferência científica internacional,
que abordou "todos os aspectos do vulcão Santorini".
Em seu livro, O Vulcão Santorini e a Destruição da Creta
Minóica ("The Santorini Volcano and the Destruction of
Minoan Crete"), publicado em 1970 pela "Society for the
Promotion of Hellenic Studies" ("Sociedade para a
Promoção dos Estudos Helênicos"), de Londres, Page
examinou as evidências e conclusões, passo a passo.
Concordo, pessoalmente, com sua afirmação de que, na
ilha de Santorini "pode-se ver clara evidência de uma das
maiores erupções vulcânicas da Terra, desde a última era
glacial", ao passo que em Creta, "encontra-se em quase
todo lugar em sua metade oriental, que num certo período
foi habitada, foi destruída naquele período". Houve,
pergunta ele, causa e efeito? A "Creta minóica foi destruída
pela ação do vulcão em Santorini?" Quais são os "fatos
básicos" nos quais basear uma conclusão?”
Voltando à evidência de Creta, o prof. Page examinou a
natureza e os períodos dos achados de vários sítios
arqueológicos. Diferenciou três estilos artísticos diferentes,
proeminentes em Creta durante o segundo milênio a.C. o
chamado Estilo Floral (com o destaque de flores
decorativas), o Estilo Marinho (mostrando temas do mar), e
finalmente o Estilo Palacial, do qual Cnossos é o exemplo
mais conhecido e imponente. Ele notou que as autoridades
divergem ao colocar a destruição de vários edifícios da
grande ilha. Concluiu que "a catástrofe geral ocorreu por
volta dos meados do século XV e que Cnossos, muito
embora seu palácio tenha sido danificado, sobreviveu à
catástrofe, na época, e logo foi restaurada em sua
prosperidade".
- Creta, ao que poderia parecer a partir destes e de outros
dados, sofreu uma série de golpes devastadores — não foi
só um terremoto, ou possivelmente uma invasão
estrangeira (que parece muito duvidosa), mas uma série
de tremores, choques e maremotos — todos os quais
causaram danos severos, culminando com a explosão
vulcânica do Santorini. Page percebeu que um só
terremoto, sem atividade vulcânica, "não é uma resposta
provável à nossa questão", porque um terremoto "pode ser
responsabilizado pela destruição, mas não pelo abandono"
de grandes partes de Creta.
Agora, partindo da presunção de que "a maior parte de
Creta oriental foi destruída e abandonada num curto
espaço de tempo", por volta do meio do século XV a.C.
Page examinou Santorini como "efetivamente no passado,
como potencialmente no futuro, um dos mais violentos
vulcões da história da Terra". O que aconteceu a Santorini
não foi, como agora sabemos, uma súbita erupção da noite
para o dia, que virtualmente destruiu a ilha e teve enormes
repercussões em Creta e alhures — mas a destruição teve
lugar em estágios que são agora claramente visíveis. A
primeira grande erupção do vulcão resultou na ejeção de
uma enorme massa de pomes; conhecemos esta
substância comumente como "pedra-pomes", um material
abrasivo. Trata-se de vidro vulcânico cheio de bolhas de ar.
Mesmo ao nos aproximarmos da baía de Santorini,
podemos distinguir a rocha multicolorida que reflete as
camadas depositadas pela ação vulcânica. O Santorini
apresenta entre 12 e 15 pés de pomes, com uma faixa
colorida por cima — uma espécie de cascalho — de 3 a 4
pés de altura. E finalmente, uma camada superior de 60 a
75 pés de cinza vulcânica. O prof. Page descreve o
processo vulcânico que produziu este "bolo em camadas",
como se segue:
"O material ejetado numa erupção vulcânica consiste de
"magma" — rocha derretida cheia de gases. O magma sai
do vulcão de duas maneiras: fluindo como uma corrente de
lava; ou por violenta ejeção sob a forma de bombas, pomes
e cinzas. As bombas vulcânicas são pelotas de magma
ejetadas e solidificadas como lava, em seu trajeto aéreo. A
grande quantidade de material ejetada violentamente para
cima consiste de pomes e cinza. Pomes é a espuma no
topo do magma; quando o conteúdo gasoso do magma é
muito alto, a superfície torna-se espuma com o magma
subindo pelo cone através de zonas de pressão
decrescente, e a superfície espumante é atirada para cima
na forma de pomes. A cinza vulcânica é pomes reduzida a
partículas mínimas, consistindo principalmente de vidro.”
Não podemos ignorar estas minúcias, pois são essenciais à
compreensão da relação entre a explosão do Santorini e o
destino de Creta. "O que está envolvido aqui, Page nos diz,
é a evidência que mostra que a atividade vulcânica foi
deste, e não de outro tipo", pois só este tipo de erupção
"pode causar destruição a uma grande distância de seu
centro". Ele chama Santorini "um exemplo clássico do tipo;
aqui são visíveis os grandes depósitos de pomes e cinzas e
o vulcão desintegrado".
A cada ano, ouvimos falar de terremotos e inundações que
matam e ameaçam numerosas pessoas. Só em 1976,
terremotos atingiram o continente chinês, as Filipinas, a
Turquia e uma ilha francesa, no Caribe. O constante ajuste
de pressões dentro da crista da Terra provoca cataclismas
inter-relacionados, dos quais os maremotos são os
principais. São conhecidos, na literatura do ramo, como
tsunamis; uma tsunami — palavra japonesa — é
precisamente o tipo de perturbação devastadora do mar
que precede, acompanha, um terremoto ou ação vulcânica.
Se o Santorini foi a origem da destruição parcial de Creta,
uma tsunami provavelmente foi a causa maior dos danos à
costa da ilha e pode mesmo ser responsável pela
desaparição de partes de Creta sob o mar.
O prof. Page afirma: "A grandeza do paroxismo final do
Santorini — que deixou a grande camada de cinzas e
demoliu a montanha — foi tal que uma terra tão próxima
quanto Creta seria severamente danificada se ficasse na
trajetória da nuvem de cinza e do maremoto." Quando
primeiro visitei Santorini, olhando a ilha do mar, dentro da
caldeira, não estava preparado para encontrar o vasto
tamanho oval que havia sido a cratera do vulcão. Page
notou que "o volume de rocha deslocado em Santorini foi
muito maior que em outras erupções vulcânicas, daquele
tempo até hoje". Em outras palavras, somente a massa de
material lançada das entranhas da Terra foi tão enorme, a
ponto de ser inimaginável, e o dano que assim causou,
igualmente incalculável.
As camadas de vários locais construídos, artigos
domésticos, peças decorativas, juntamente com os níveis
de pomes e cinza em Santorini e Creta tornam difícil provar
que a erupção coincidiu com a desintegração da civilização
minóica. Os vulcanólogos descobriram que o tempo que
passa entre tremores de terra e uma grande erupção
vulcânica deve ser contado em dias, semanas, e
possivelmente meses — mas o lapso de uma década ou
duas, como algumas evidências indicam, é improvável.
Os terremotos atingiram Creta repetidamente, sem dúvida.
Três grandes palácios, em Cnossos, Festros, e Malía, bem
como outras construções, caíram cerca de 1.700 a.C. Mas,
Page aponta, ao passo que terremotos subseqüentes
abalaram a ilha de Creta, ao menos uma década passou
entre a destruição de Santorini e a de Creta: "A evidência
arqueológica não requer duas erupções vulcânicas
separadas por um intervalo desta ordem de grandeza —
uma erupção depositando a grande camada de pomes e
enterrando as habitações de Santorini, e outra de muito
maior violência numa data posterior, depositando a grande
camada de cinza em Santorini e causando a desolação de
Creta.”
O conjunto das devastações de Santorini, com efeito, foi o
de terremotos seguidos por erupções vulcânicas, muito
embora não em todos os casos. Uma séria atividade
vulcânica teve lugar em 236 a.C. separando o que é agora
a ilha de Therásia no noroeste de Santorini. Houve uma
erupção de quatro dias, em 197 a.C. esta produziu a ilha
Pálea Caimeni, que depois subiu até sua presente altura de
330 pés no centro da caldeira do Santorini. Em alguma
data no primeiro século d.C. uma ilhota apareceu
brevemente na caldeira. Em 726, uma grande erupção
vulcânica enviou nuvens de pomes até a Ásia Menor
(agora, Turquia) e a Macedônia (Grécia setentrional).
Em tempos relativamente recentes, 1570, a costa sul de
Santorini se desfez, e o antigo porto de Elêusis afundou no
mar; deve ter sido fundado pelos fenícios. Três anos
depois, uma erupção dentro da caldeira criou uma ilhota
ovalada, cerca de 220 pés de altura, chamada Micra
Caimeni ("Ilha Queimada Pequena"). Um equivalente
contemporâneo razoável do cataclisma pré-histórico teve
lugar em 1650, quando uma série de terremotos precedeu
uma erupção submarina na costa noroeste da ilha. Uma
pequena ilha foi formada por lava, e várias tsunamis
danificaram virtualmente todas as outras ilhas do Egeu. Um
gás venenoso cegou e matou pessoas, gado e
animais selvagens em Santorini. Um terremoto precedeu a
erupção em duas semanas.
Não estamos, absolutamente, tratando com vulcão
totalmente extinto. Entre 1707 e 1711, uma explosão criou
Néa Caimeni, dentro da caldeira. E uma série de erupções
durante o século passado, de 1866 a 1870, criou diversas
ilhotas, das quais duas juntaram-se a Néa Caimeni. A
erupção lançou pomes até Creta.
Micra Caimeni desapareceu, como entidade separada, na
década de 1920. A partir de agosto de 1925, 100 milhões
de pés cúbicos de lava encheram a maior parte do canal
entre Micra Caimeni e Néa Caimeni. A erupção durou até
maio de 1926. Dois anos mais tarde, uma nova explosão
completou a moldagem e a fusão das duas ilhas. O vulcão
em Néa Caimeni esteve ativo de 1939 a 1941, com lava
sendo acrescida à sua superfície. Outra erupção continuou
este movimento, em 1950.
Em 1956, Santorini foi a principal vítima de um tremor que
afetou toda a área do Egeu; na ilha mesmo, 48 pessoas
foram mortas, centenas feridas, e umas 1.000 casas
destruídas. Tremores menores continuam ocorrendo até
hoje, e gases escapam de rachaduras vulcânicas na região
da caldeira.
Como Page observa, não há "nada de insólito na hipótese
de um devastador terremoto em Creta acompanhado por
conflagrações e seguido imediatamente de uma erupção
excepcionalmente violenta do vulcão Santorini". As
explosões do séc. XIX, assinaladas acima, foram
acompanhadas por tremores em Creta, mais notavelmente
em 12 de outubro de 1865; só 18 de 3.620 casas foram
deixadas em pé na cidade de Heráclion. O prof. Page
comenta: "A única diferença foi a magnitude; a escala
moderna foi grande; a antiga, colossal.”
Se os desastres que atingiram a civilização minóica na
Creta pré-histórica vieram em ondas intermitentes, ao
invés de num só grande acontecimento, o mesmo parece
ter sido o caso de Santorini. O maior sítio de escavações na
ilha, que visitei em 1976, está no povoado de Acrotiri;
iniciado pelo prof. Marinatos, está sendo continuado sob a
direção de seu substituto, Dr. Cristos Dumas. As
escavações mostraram muito claramente que esta
povoação tipicamente minóica experimentou um grande
desastre, foi severamente danificada, mas depois
reocupada pelo que os arqueólogos chamam de
"squatters" ("acocorados"). Em outras palavras, os templos
impressionantes, oficinas, armazéns e residências de
Acrotiri desabaram durante o que foi seguramente um
terremoto — acompanhado ou não por uma explosão
vulcânica — e os habitantes, ou outros, voltaram aos
edifícios danificados e viveram neles sem nenhuma
reconstrução, até que houve outro desastre. Estes
"squatters" escavaram edificações demolidas, onde se
estabeleceram primitivamente, sob prédios cobertos de
pomes e cinzas.
O prof. Marinatos, em seu primeiro relato sobre estes
achados, Escavações em Thera, 1: Primeiro Relatório
Preliminar; Estação de 1967 (Atenas, 1968) sumariou a
hipótese que "atribuiu a grande destruição da Creta
minóica por volta de 1.500 a.C. a uma vasta erupção do
vulcão Thera". Este conceito, Marinatos, afirmou, encontrou
suporte nas escavações de Acrotiri, com sua reconstituição
geral destes eventos, de 3.500 anos atrás:
"Creta teria sido destruída por uma série de maremotos e
por repetidos terremotos. A maioria dos habitantes teria
abandonado a ilha. Os palácios foram destruídos e ficaram
fora de uso, exceção feita ao palácio de Cnossos, que,
porém, foi habitado por uma nova dinastia acaia. Os
minóicos expatriados fugiram para todas as partes do
Mediterrâneo, especialmente para o continente grego e
particularmente, para o Peloponeso ocidental.
Transplantaram sua arte, religião e cultura à Grécia
miceniana. Os últimos escribas palacianos sobreviventes
de Creta ofereceram seus serviços às cortes dos
governantes mais poderosos.”
Marinatos refere-se então ao que continua um dos grandes
mistérios da história da linguagem, a chamada escrita
"linear B" achada em Creta, que foi apenas parcialmente —
e sob muita controvérsia — decifrada. O prof. Marinatos
escreveu que os escribas cretenses "adaptaram sua escrita
à língua grega", com a primeira tentativa certamente feita
em Cnossos.
Minúcias à parte, a observação de Marinatos de que os
minóicos foram para "todas as partes" do Mediterrâneo,
contém ecos distintos da lenda da Atlântida, que presume
que alguns habitantes desta destruída ilha-continente
escaparam, levando suas habilidades e cultura com eles,
para outras partes do mundo. Contemplando a devastação
resultante do Santorini em 1.500 a.C. e que o prof. Page
descreve como "colossal", comparada com todas as
devastações recentes desde aquela, não pode haver
dúvida de que se a civilização minóica foi o centro de uma
destruição que deu origem ao mito da Atlântida, então
Santorini foi o próprio centro deste centro — da caldeira
desta ilha-vulcão, em círculos crescentes de destruição, o
mundo, tal como era conhecido para os habitantes desta
região, fora destruído, seus habitantes espalhados aos
quatro ventos, muitas de suas conquistas culturais
abandonadas, mas muito também transmitido à corrente
de técnicas, idéias, e imagens que vieram compor nossa
civilização ocidental.
CAPÍTULO 5
JACQUES COUSTEAU EM BUSCA DA ATLÂNTIDA

O Calypso, navio excepcionalmente bem equipado sob o


comando do explorador submarino francês, Jacques
Cousteau, está ancorado no principal porto grego, o Pireu.
Destaca-se dentre centenas de embarcações maiores e
menores, por causa de seu sofisticado equipamento para
mergulhos profundos, suas sondas eletrônicas — e, acima
de tudo, por causa do renome internacional de seu
comandante como pioneiro subaquático. Durante décadas,
o nome de Cousteau tem sido sinônimo de pesquisa
submarina, do Oceano Indico a civilizações costeiras
obscuras da América do Sul.
Cousteau é, indiscutivelmente, o elo mais eficaz deste
século entre o mundo submarino, invisível e desconhecido
da maioria de nós, e uma ampla audiência de
espectadores, ouvintes e leitores. Jacques Ives Cousteau
nasceu a 11 de junho de 1910, em St. André-de-Culzac, e
identifica-se nos catálogos biográficos simplesmente como
"explorador marinho". Depois de prestar serviços à
marinha francesa em vários postos, tornou-se diretor do
Museu Oceanográfico de Mônaco, onde tem trabalhado
junto com o Príncipe Rainier para estabelecer o Museu,
bem como o Instituto Oceanográfico, um centro único de
pesquisa marítima. Um evento-chave na vida de Cousteau
foi o "aqua-lung", em 1943, invenção sua que permitiu
abrir as fronteiras da vida subaquática, com seus
fascinantes conhecimentos. Em 1957, Jacques Cousteau
promoveu o Programa Conshelf de Saturação Direta; suas
pesquisas ganharam importância crescente à medida que
as nações do mundo procuram explorar depósitos minerais
no fundo dos oceanos.
Agora, ao vermos o Calypso parado para reparos e
suprimentos no Pireu, podemos observar com que
experiência e cuidado meticuloso suas explorações e os
filmes resultantes, programas de televisão e fotografias
são preparados. Cousteau, pelo fim de 1975 e durante
1976, cruzou todo o Mediterrâneo oriental, preparando
uma série para a televisão, "Em Busca da Atlântida —
Civilização Perdida".
Interrogado a respeito do tema dramático destes filmes,
Jacques Cousteau é cauteloso. A despeito do título, são
destinados a aumentar o conhecimento da arqueologia
submarina, mais do que perpetuar o que Cousteau vê
como "o mito da Atlântida". Seu tema, "a realidade é mais
interessante que a fantasia", sublinha que os fatos
históricos e contemporâneos não precisam ser adornados
pela lenda. Muitos dos filmes de Cousteau sobre a Atlântida
reúnem a dramática história da ilha de Santorini — suas
explosões vulcânicas, geologia em mutação rápida, o
impacto na civilização minóica de Creta, e seu papel atual
como centro de uma controvérsia sobre a Atlântida.
No entanto, Cousteau não conclui que a Atlântida, como
tal, de fato existiu. Apesar de ele descrever sua exploração
como um esforço para "achar a origem do mito atlante",
ele não a viu como "uma busca pela Atlântida perdida".
Acrescentou: "Estamos interessados em todas as
civilizações que existiram, mas desapareceram,
subitamente, e sem deixar traço.”
O aspecto mais desafiador da exploração do Calypso foi na
caldeira do Santorini, a cratera imersa do vulcão.
Mergulhadores anteriores, examinando a caldeira em 1963,
relatam terem visto colunas, paredes vitrificadas, e peixes
que pareciam ter perdido toda sua coloração externa,
talvez devido a elementos químicos na água da cratera. A
Organização Nacional Grega de Turismo delineando as
expedições de Cousteau, afirma: "A história de Santorini, a
civilização perdida durante sua terrível catástrofe
vulcânica, é mais significante e comovente que um mítico
Continente Submerso. E os tesouros arqueológicos que
emergiram do mar em Antikitira (ilha localizada a meio
caminho entre Creta e a costa meridional do Peloponeso),
Creta e Delos (a oeste da bem conhecida ilha de Miconos)
são mais importantes e impressionantes que os tesouros
hipotéticos que o pirata LaBoz disse ter escondido nas Ilhas
Seichelles (no Oceano Indico). A Atlântida representa a
busca por um ídolo perdido, um mito de caráter mundial.”
Assim, enquanto se usa o tema de Atlântida e de "tesouros
perdidos", mas tratados como mitos, as explorações de
Cousteau conseguiram atrair ampla atenção do público,
muito embora limitando seu escopo a fins mais ou menos
científicos. Usando equipamentos sofisticados para medida
de profundidade — magnetômetros e radares, o Calypso
varreu o Mar Egeu e examinou áreas costeiras
selecionadas por arqueólogos, quer porque pesquisas
indicaram a existência de estruturas submarinas, quer
porque a presença de navios afundados fosse conhecida ou
suspeitada.
Mares encapelados, águas turvas e visibilidade limitada
perturbaram Cousteau em vários pontos. Não obstante,
achados potencialmente significativos foram anunciados
pelo explorador francês, notavelmente na ilhota de Dia, ao
norte do principal porto cretense de Heráclion. Jacques
Cousteau anunciou que as pesquisas na área de Dia
resultaram num "achado importante", relacionado com a
história vulcânica do Santorini e a queda da civilização
minóica em Creta.
Dia está ao sul de Santorini; as águas entre as duas ilhas
podem esconder tesouros arqueológicos extensos. O
Ministério Grego da Ciência e Cultura criou especificamente
uma Divisão de Explorações Submarinas para encorajar e
dirigir a arqueologia submarina. A pesquisa de Cousteau
sobre Dia trouxe um certo número de objetos à superfície,
fortemente similares àqueles encontrados em Creta e
Santorini; estes, disse ele, "apontam para uma civilização
que subitamente desapareceu". Dia é uma ilha pitoresca,
com uma encantadora capelinha, povoada apenas por uns
poucos pastores e seus rebanhos. Cousteau observou que
Dia evidencia que "seus habitantes desapareceram, quer
como resultado da tremenda catástrofe em Thera
(Santorini), quer por superpopulação; mas a evidência de
sua civilização permanece nas profundezas do mar".
A pesquisa do Calypso em torno de Dia resultou na
localização e identificação de apenas 12 vasos, que foram
levados ao museu de Heráclion. A expedição Cousteau
limitou sua remoção de objetos das estruturas submersas a
amostras que possam ajudar a localizar alvos de buscas
futuras mais extensas. O explorador francês apontou a
presença de areia e lama, que teriam de ser removidas
com equipamento de sucção especial para mineração.
Obviamente, a expedição apenas lançou o trabalho básico
para explorações posteriores mais completas. Em estreita
cooperação com seu filho Phillippe, Jacques Cousteau
empreendeu a pesquisa do Calypso de um modo que
combinou o desejo grego de divulgar suas históricas ilhas
do Egeu com seu toque pessoal de showman, bem como
de progresso científico em arqueologia submarina; o
trabalho futuro, constante e sistemático, deverá ser
tomado por arqueólogos marinheiros menos vaidosos.
As buscas de Cousteau começaram em novembro de 1975
nas regiões setentrionais, incluindo uma busca no cabo
Sunion, península ao sul de Atenas, encimada pelo antigo
Templo a Apoio. Esta seguiu-se por explorações do Egeu
oriental e das proximidades de Creta.
Uma segunda busca, após reparos do Calypso no Pireu,
concentrou-se na localização de navios afundados, bem
como de outras estruturas afundadas. Algumas peças de
cerâmica foram coletadas pela equipe de Cousteau, mas
não se encontraram grandes embarcações afundadas: o
explorador francês atribuiu isto à "competência dos
marujos durante aqueles tempos remotos".
A pesquisa de Antikitira, mencionada, resultou em achados
datando do primeiro século d.C. Cousteau pagou tributo
aos mergulhadores gregos que foram pioneiros da
pesquisa submarina, nesta área, já em 1901, época em
que uma notável estátua em cobre de um cavalo
galopando, com um jovem em seu dorso, foi descoberta;
este fascinante exemplo da escultura, unindo movimento e
graça, está agora no Museu Arqueológico Nacional, em
Atenas. Ao mesmo tempo, os mergulhadores trouxeram
uma calculadora que havia sido usada pelos marinheiros
para localizar as estrelas e, possivelmente, calcular o
tempo.
Cousteau localizou um navio afundado neste mar, mas
notou que sua exploração "exigia boas condições
meteorológicas, que não se deram". Levou o trabalho de
1901, chamando o feito daqueles mergulhadores de
notável, acrescentando que sua própria pesquisa não havia
achado traços deste empreendimento anterior, "exceto por
duas hastes de ferro que usaram para deslocar as
estátuas". A gigantesca estátua de mármore de um cavalo,
de acordo com Cousteau, "está localizada a uma maior
profundidade, e muito embora a tenhamos alcançado em
um dia, as condições meteorológicas impossibilitaram uma
investigação mais pormenorizada".
As condições meteorológicas estavam consideravelmente
melhores quando o Calypso atingiu Creta, onde usou
Heráclion como base de operações. A costa sul da ilha
estava bem protegida contra ventos. Um naufrágio
recente, aparentemente uma embarcação turca, foi
localizado pela equipe. Durante a semana que a expedição
Cousteau dedicou à ilhota Dia, descobriu cinco naufrágios
que Cousteau datou do primeiro e segundo século d.C.
A pesquisa em Dia deu evidências de um antigo porto,
agora já submerso. Jacques Cousteau falou sobre Dia como
tendo possivelmente sido "a chave para Creta, há milhares
de anos, com uma grande população". Dia contém
consideráveis evidências da cultura minóica, muito embora
um "estudo destas ruínas exigisse anos de trabalho", de
acordo com Cousteau. As fotografias do fundo do mar
revelaram antigas estruturas em todos os lugares; potes de
cerâmica minóica entalados em rochas, onde "criam
grandes volumes"; recipientes datando do tempo de Roma
também foram avistados. A equipe de buscas descobriu
"um navio carregado com pilares, de um período
posterior". Vasos de cerâmica minóica foram encontrados
na baía da ilha de Ermupolis, ao norte de Santorini,
sugerindo que a civilização minóica estendeu-se
consideravelmente ao norte de Creta.
A expedição Cousteau tomou apenas algumas amostras
dos artigos encontrados. Cousteau notou que sua equipe
foi "frugal e cuidadosa", porque "nestas pesquisas no mar,
é importante não alterar o lugar onde uma peça está
localizada; desde que uma peça seja removida, torna-se
difícil a datação correta, e a remoção dela pode mudar o
caráter de um lugar, tanto quanto as pistas para uma boa
cronologia".
Afastando-se de sua pesquisa sobre a Atlântida, Cousteau
explorou os restos do transatlântico Britannic, irmão do
famigerado Titanic. O Britannic afundou em 1916, no sul do
Egeu, tendo sido torpedeado por um submarino alemão,
durante a Primeira Guerra Mundial. Cousteau, cujos filmes
sobre a Atlântida são acompanhados por música escrita
especialmente pelo compositor grego Miki Teodoráquis,
levou este ao navio britânico num batiscafo.
A principal contribuição de Cousteau ao conhecimento
científico e popular desta parte da pré-história do Egeu — e
assim para a tradição atlante — provavelmente é sua
pesquisa nas profundezas de Santorini e seus novos
achados perto de Dia. Mergulhando em Santorini,
notavelmente em sua caldeira, teremos uma boa
suplementação das escavações na ilha, particularmente
em Acrotiri.
Dia, como elo entre Creta e Santorini, provavelmente
emergirá como novo centro de interesse pela Atlântida,
quer Cousteau rotule ou não seu trabalho como um estudo
das "origens" deste "mito", quer seus achados suportem a
idéia de que estes restos minóicos sejam agora prova da
precisão das referências de Platão à civilização atlante.
"Queremos saber", pergunta Cousteau, "o que foi que
arruinou a ilha de Dia?". Ele notou que a ilha apresentava
sinais de já ter suportado uma grande população, "com
áreas florestais, rios, e terras cultivadas". Traços de fornos
de asbestos foram encontrados.
Cousteau mencionou que uma explicação para o destino de
Dia está na "explosão do vulcão em Thera (Santorini), que
também afetou Creta; porque, como sabemos, as cinzas
vulcânicas destas explosões chegaram a atingir mesmo
Creta". A despeito de suas negativas de que sua expedição
fosse uma "busca pela Atlântida", as novas e vividas
evidências de Cousteau tendem a apoiar a concepção
originada por Platão, com a erupção do Santorini no século
XVI a.C. e que seu impacto destruiu uma civilização da
qual, a despeito de todos os esforços durante o passado
meio século, ainda temos apenas fragmentos.
No ponto em que Cousteau deixou a pesquisa, o Ministério
Grego da Cultura e Ciência continuou. Sua Divisão para
Exploração Submarina estabeleceu em 1976 que utilizaria
um navio equipado para explorações arqueológicas
submarinas, a longo prazo.

CAPÍTULO 6
A VERSÃO DE DONNELLY

A moderna atlantologia sem dúvida não existiria — ou pelo


menos perderia muito de seu impulso — se não fosse pelos
esforços de um político de Minnesota, do século passado,
Ignatius L. Donnelly. Seu livro: Atlântida: O Mundo
Antediluviano ("Atlantis: The Antediluvian World"), escrito
em 1881 e publicado no ano seguinte por Harper &
Brothers, foi a primeira síntese completa de evidência pró-
Atlântida. Em sua obra, de 500 páginas, Donnelly cita
inumeráveis referências religiosas, mitológicas, folclóricas,
lendárias e científicas, para provar que o continente
perdido de Platão não foi uma fábula, mas um fato
esquecido da história mundial.
Suas teses, em resumo, foram: houve uma ilha no Oceano
Atlântico, à frente do Mar Mediterrâneo, conhecida pelos
antigos como Atlântida; esta ilha foi o verdadeiro Jardim do
Éden, a fonte de toda civilização; e num desastre natural,
afundou sob o oceano, com apenas poucos de seus
habitantes escapando em barcos, ou balsas. As lendas
destes sobreviventes, acreditava ele, perduraram na forma
das lendas do dilúvio, comuns a todas as raças e religiões.
A Atlântida de Donnelly foi amplamente lida e aclamada; é
a base da maior parte das pesquisas e especulações
subseqüentes. Escritores assim como Lewis Spence, H. S.
Bellamy e Edgerton Sykes abertamente reconheceram seu
débito ao vasto estudo de Donnelly.
Donnelly não tinha formação científica para tal
empreendimento. Sua experiência era em advocacia,
poesia, oratória e governo. Mas era um homem de
curiosidade e imaginação, com habilidade para ver
conexões entre diversos elementos de informação. Ignatius
Donnelly nasceu em Filadélfia, em 1831. Seu pai, aspirante
a sacerdote, desistiu de sua formação clerical para se
tornar médico. Contraiu tifo de um paciente, e morreu
quando Ignatius era ainda pequeno. Sua mãe, uma severa
católica irlandesa, tinha uma loja de penhores, a qual, após
a morte de seu marido, era o único meio de subsistência
para a grande família. Ignatius era um bom aluno e
distinguiu-se escrevendo poesia. Um de seus poemas,
tratando do tema liberdade e democracia, foi elogiado por
Oliver Wendell Holmes, a quem havia pedido opinião (a
irmã de Donnelly, Eleanor, mais tarde também veio a
publicar poesia).
Após deixar a escola, Donnelly tornou-se funcionário do
escritório de advocacia de Benjamin Harris Brewster. Não
se adaptando bem com os membros mais conformistas do
pessoal de Brewster, saiu antes de completar os estudos;
mas ele aparentemente aprendeu bem sua advocacia, e
admirava Brewster bastante. Foi provavelmente Brewster
(que depois tornou-se Promotor-geral dos Estados Unidos)
quem primeiro levou Donnelly à política.
Um dos primeiros escritos políticos de Donnelly foi uma
análise de frenologia de Horace Greeley (1811-72), o
controvertido e combativo político-escritor-editor. A
frenologia alega que a formação da superfície do crânio
indica o caráter. Donnelly, como é citado na obra de Martin
Ridge: Ignatius Donnelly: Retrato de um Político ("Ignatius
Donnelly: Portrait of a Politician"), escreveu: "As
características comuns às cabeças de reformadores
teóricos, revolucionários: largueza, excesso cerebral com a
deficiência frontal do desenvolvimento daqueles órgãos de
julgamento necessários a restringir e dirigir as forças ativas
do intelecto geral; deixando à mente sua atividade, sua
ambição, sua percepção, mas privando-a de espírito
prático, e sua visão cotidiana clara de um mundo
corriqueiro.'' Em 1854, Donnelly casou-se com Kate
McCaffrey, também de Filadélfia, irlandesa e católica. Sua
mãe desaprovou fortemente sua escolha; as duas mulheres
não dirigiram a palavra uma à outra, por 15 anos. No ano
posterior ou seu casamento, Donnelly começou a envolver-
se ligeiramente na política local. Seu primeiro discurso
político, uma oração para o 4 de julho em favor da
imigração, impressionou os Democratas de Filadélfia a
ponto de candidatá-lo a uma legislatura estadual. Mas ele
retirou sua candidatura no dia anterior à eleição e apoiou o
candidato conservador.
Mais ou menos na mesma época, Donnelly envolveu-se em
projetos de edificações por cooperativas. Intencionalmente,
ou por um mau cronograma, Donnelly decidiu mudar-se
com sua jovem família para o oeste, antes que quaisquer
projetos fossem completados, e foi acusado, por seu
próprio primo, de fraude. Havia rumores, na época, que ele
desviara dinheiro deixado para sua irmã mais jovem.
Os rumores eram falsos, mas sua mãe, em seu
ressentimento, não os desmentiu, prejudicando com isso a
reputação de Donnelly em Filadélfia.
A família Ignatius Donnelly instalou-se em St. Paul,
Minnesota, então uma cidade jovem, passando por um
"boom" econômico. Donnelly logo formou sociedade com
John Nininger, que planejava desenvolver uma cidade à
margem oeste do rio Mississipi, a 17 milhas ao sul de St.
Paul. O acordo entre os dois era que, enquanto Nininger e
outros grandes investidores desenvolviam a "Nininger
City", Donnelly usaria meios editoriais e de propaganda
para atrair imigrantes para a cidade. Com este fim, editou
um jornal anglo-germânico chamado Emigrant Aid Journal e
fez várias viagens para o leste, a fim de recrutar habitantes
e estabelecer uma Sociedade de Auxílio ao Emigrante. A
despeito do entusiasmo de Donnelly, o futuro de Nininger
City parecia nulo. As eleições locais determinaram que a
sede do condado seria numa cidade rival. Quando isto
aconteceu, muitos investidores retiveram seu dinheiro, e
seguraram os terrenos, para especular, e não desenvolver
Nininger City.
Após o fracasso de Nininger City, e pelo resto de sua vida,
Donnelly esteve sempre envolvido, direta ou
indiretamente, com a política. Disse muitas vezes que a
política era um péssimo negócio; o pior de todos para
quem perde. Ele falava com experiência. Sua história era
longa e variada, por vezes distinta (como vice-governador
ou senador), e por outras, não (como manipulador, por trás
do pano). Era homem de muitos partidos, por vezes
acusado de virar a bandeira por simples conveniências,
mas era normalmente claro quanto aos assuntos do dia.
Antes da guerra civil, era anti-escravagista e pró-
monopólio; depois, era antiferrovia e pró-índios. Favorecia
a reconstrução radical do Sul, com educação e voto para os
negros, educação universal com livros grátis para todos, e
conservação do oeste. Era mais conhecido por apoiar as
causas da agricultura, especialmente papel-moeda. Era um
orador vivaz e hábil manipulador de influências políticas.
Esteve fora da vida política, tantos anos quanto esteve
dentro, mas estava sempre por perto, fazendo campanha
por algo, ou por alguém. Durante os frios invernos de
Minnesota, porém, num ano fora da política, ele poderia
abandoná-la para ir para sua fazenda Nininger, para ler,
escrever e meditar longamente, nas noites frias. Foi
durante um desses anos que seu interesse voltou-se para o
continente perdido da Atlântida.
Não é bem claro o que estimulou seu interesse, mas
Donnelly sempre foi um ávido seguidor dos
desenvolvimentos científicos, e era muito lido.
Possivelmente foi influenciado pelas Vinte Mil Léguas
Submarinas, de Júlio Verne, publicado em 1870. Em
qualquer caso, Donnelly dispôs-se a provar algumas teorias
incomuns, e por fim reuniu o que para muitos parecia um
conjunto muito convincente de pesquisas e escritos.
O livro abre-se com uma clara definição de propósitos.
Donnelly queria provar que, tal como descrevera Platão,
não só havia existido uma Atlântida, onde começara a
civilização e se espalhara aos continentes vizinhos, mas
que a Atlântida havia sido o "verdadeiro mundo
antediluviano: o Jardim do Éden". Os deuses e deusas dos
gregos, fenícios, hindus e escandinavos tinham sido
simplesmente os reis e rainhas da Atlântida. As religiões
solares do Egito e do Peru também tinham tido suas
origens lá. Como a civilização egípcia era em particular
uma duplicata da Atlântida, o Egito provavelmente era sua
colônia mais antiga. O ferro foi fabricado pela primeira vez
na Atlântida; os alfabetos fenício (e, portanto, todos os
europeus) e maia derivaram do modelo atlante; e as raças
ariana ou indo-européia, semita e provavelmente turaniana
originaram-se de lá. A convicção de Donnelly era de que,
como resultado da horrível catástrofe, a ilha da Atlântida
afundou no oceano com quase todos os seus habitantes.
Os que escaparam para terras vizinhas contaram histórias
sobre o desastre, que foram perpetuadas nas lendas do
dilúvio.
As teorias de Donnelly eram surpreendentes; ele alegava:
"serão resolvidos muitos problemas que agora deixam
perplexa a humanidade; confirmadas em muitos aspectos
as afirmações dos primeiros capítulos do Gênesis; ampliada
a área da história humana; explicadas as notáveis
semelhanças entre as antigas civilizações em ambas as
margens do Oceano Atlântico, no velho e no novo mundo; e
seremos ajudados a reabilitar os pais de nossa civilização,
nosso sangue, e idéias fundamentais — os homens que
viveram, amaram e trabalharam eras antes dos arianos
desceram na Índia, ou os fenícios estabeleceram-se na
Síria, ou os godos atingiram o litoral báltico".
Os dois capítulos seguintes do livro são um relato da
história da Atlântida, segundo Platão, tal como está no
Timeu e no Crítias, e uma discussão das probabilidades de
a história de Platão ser verdadeira. Donnelly conclui que é
verdadeira, por diversas razões: não há nada de
maravilhoso ou improvável quanto aos pormenores da
cultura atlante; se Platão quisesse simplesmente entreter,
não criaria uma narrativa tão simples e razoável. Não havia
evidência de que Platão pretendia dar uma lição de moral
ou política; a sociedade que ele descrevera não era ideal.
Donnelly continua citando a evidência física em todo o
mundo, que corrobora a descrição que Platão dá da ilha.
Termina assinalando que a provável razão pela qual
gregos, romanos e a maioria dos modernos põem de lado a
história de Platão como fábula, é que, sem o conhecimento
da história geológica do mundo, não acreditavam ser
possível que qualquer grande parte da superfície da terra
pudesse ter sido engolida subitamente pelo mar.
Donnelly, a seguir, dirige-se à questão de se, de fato, uma
tal catástrofe fosse possível. Cita evidências geológicas
daquela época que indicavam que, na formação dos
continentes — e mesmo nos tempos modernos — as
massas de terra estão continuamente erguendo-se e
abaixando-se. Para ilustrar o fato de que violentas
alterações podem ocorrer, ele enumera um certo número
de terremotos e erupções vulcânicas na Islândia, Java, Ilhas
Canárias, Thera (Santorini), Espanha, Irlanda, etc. Um ano
após a publicação do livro de Donnelly, a mais violenta
erupção da história registrada ocorreu na pequena ilha de
Cracatoa.
A evidência seguinte apresentada por Donnelly é a
descoberta, feita independentemente por diversos navios
de exploração, ao mapear o fundo do Atlântico, de que há
uma grande elevação ao longo do comprimento do oceano;
na forma de ilhas tais como Açores, São Pedro e São Paulo,
Ascensão e Tristão da Cunha, atingindo a superfície. Isto,
ele percebeu, era a espinha dorsal do continente atlante, o
caminho que antes se estendeu entre os continentes e por
meio do qual as plantas, os animais e raças humanas
viajaram de um lado para outro. Ele fortifica esta suposição
no capítulo seguinte, citando exemplos de várias espécies
de animais e plantas, que se pensou fossem localizadas
apenas em áreas restritas, mas que depois foram
encontradas em regiões dessemelhantes do mundo. Ele
afirma que tudo isto teve origem na Atlântida.
A parte seguinte do livro é devotada a uma pesquisa e
comparação das lendas do dilúvio, em todo o mundo. A
história bíblica, tal como no Gênesis e nas lendas caldaicas
(as versões de Berose e de Gilgamesh), é tratada
separadamente. Então, segue-se a tradição diluviana dos
arameus, as cinco versões hindus sobre o dilúvio, a história
sobre a inundação iraniana, as três principais lendas
gregas sobre cataclismas, e alusões ao desastre nas
tríades gaulesas (mesmo que tenham se originado nos
séculos XII ou XIII) e nos Eddas escandinavos. Donnelly
atribui todas as semelhanças a uma memória popular
comum do grande desastre: a submersão da Atlântida. Que
os egípcios, tanto quanto ele pôde determinar, não tenham
uma só alusão à inundação, ele explicava com o
argumento: "Os egípcios preservaram em seus anais a
história precisa da destruição da Atlântida... Possuindo a
história real da catástrofe local... não se permitiram
quaisquer mitos sobre um dilúvio universal." Por causa de
seu grande número, tratou as lendas diluvianas das
Américas e de várias ilhas separadamente, mas tirou delas
as mesmas conclusões.
Uma comparação das novas e velhas civilizações do mundo
— em assuntos tais como arquitetura, metalurgia,
escultura, pintura, gravação, agricultura, obras públicas,
navegação, manufaturas, música, armas, religião e
crenças, costumes e jogos — revelam notáveis
semelhanças. Donnelly achou absurdo acreditar que o novo
e o velho mundo se desenvolveram separadamente ou que
um derivou do outro. Deveriam ter surgido de uma fonte
comum.
Num capítulo intitulado "Evidências de Intercâmbio com a
Atlântida", Donnelly reúne miríades de casos de
representações primitivas (em vários artefatos) de animais
e raças supostamente separados por oceanos. Ele aponta
para a possível conexão atlante e assevera que todas as
raças são misturas dos originais atlantes, vermelhos,
brancos, amarelos e negros.
A seguinte parte significante do livro é uma comparação
pormenorizada do folclore atlante e civilizações tais como
as da Grécia, Fenícia, Arábia e Egito, dos pontos de vista de
religião, comércio, arte e história. Por exemplo: a mitologia
grega é, de fato, uma história dos reis da Atlântida; ou a
extensão de terra coberta pelo comércio dos fenícios
representa a área do antigo império atlante; e assim por
diante. Um procedimento similar é seguido pela maioria
dos povos do mundo, agrupados por raça, religião,
nacionalidade ou localização geográfica.
A cruz e a pirâmide são objetos de intensa especulação por
Donnelly. A cruz, diz ele, simboliza os quatro rios do Jardim
do Éden, e, portanto, da Atlântida. Ele aponta a reverência
mostrada pelo sinal em todas as suas formas, mesmo
antes do cristianismo. Analogamente, a pirâmide simboliza
a montanha que ficava no meio do Éden — e na Atlântida.
Donnelly aponta as analogias entre todas as pirâmides,
particularmente entre as do Egito e do México.
Donnelly dá uma complexa argumentação quanto à origem
atlante do bronze e do ferro. Muito embora presuma-se que
a Idade do Bronze deva ter sido precedida por uma idade
em que o cobre e o estanho fossem usados
separadamente, uns poucos preciosos instrumentos desses
metais foram achados, em todo o mundo, Por esta razão,
Donnelly hipostásia que a fundição do bronze deve ter sido
introduzida — e não inventada — em várias civilizações
pelos atlantes. Como as lendas gregas falam de idades
anteriores do ferro, bem como do bronze, ele estende a
teoria para incluir o ferro.
Outro tema de especulação foi a comparação dos alfabetos
maia (como era então traduzido) e fenício, ambos
separados por grandes distâncias geográficas, sendo
antigas linguagens fonéticas. Ele observa que as lendas do
dilúvio — em muitas das quais os escritos sagrados são
preservados das águas, que sobem — valem alguma coisa,
indicam que a palavra escrita é pré-diluviana e, portanto,
atlante.
Num capítulo sintético, Donnelly detecta muitas
colaborações da cultura atlante à modernidade. Por
exemplo, a importância e o valor intrínseco do ouro e da
prata originam-se de ser sagrados na religião atlante: o
ouro era "as lágrimas do sol" e a prata, "as lágrimas da
lua". Ele também atribui invenções tais como a bússola, a
pólvora e o papel, à Atlântida.
O capítulo-suma de Donnelly, um esboço da civilização
atlante como ele a encarava, é um quadro imaginoso. Ele
conclui: "Estamos apenas começando a compreender o
passado: há cem anos, o mundo nada sabia sobre Pompéia
ou Herculano; nada do laço lingüístico que une as nações
indo-européias; nada dos templos do Egito; nada do
significado das inscrições em ponta de flecha, da Babilônia;
nada da maravilhosa civilização revelada nos restos do
Iucatã, México e Peru. Estamos no limiar. A investigação
científica avança a passos de gigante. Quem poderá dizer
se daqui a cem anos os grandes museus do mundo não
estarão adornados com gemas, estátuas, brasões e
instrumentos da Atlântida, ao passo que as bibliotecas do
mundo conterão traduções de suas inscrições, lançando
nova luz à história pretérita da raça humana, e todos os
grandes problemas que agora deixam perplexos os
pensadores de hoje?”
Assim que o manuscrito foi completado, Donnelly foi a
Nova Iorque com cartas de apresentação a todas as
principais editoras. Esperando uma rápida seqüência de
rejeições, ficou pasmo quando o primeiro editor que
abordou aceitou o manuscrito 48 horas depois da
apresentação. Quando o livro chegou às livrarias, no ano
seguinte, ele ficou igualmente pasmo pelas vendas e
críticas entusiásticas que apareciam mesmo em jornais
pequenos. Como escritor, conquistara a imaginação do
público muito melhor do que jamais o fizera como político.
Houve umas poucas reações negativas, principalmente
entre os acadêmicos, que, se bem que relutantemente
admirassem a grande massa de material que Donnelly
coletara, viam seu trabalho como ilógico e anticientífico.
Talvez a melhor descrição de Atlântida: o Mundo
Antediluviano, no ponto de vista da década de 1960, tenha
sido escrita por Martin Ridge, biógrafo de Donnelly, que
disse que ele "pilhou os trabalhos de eruditos respeitáveis
assim como Darwin e Fiske bem como os escritos de
charlatães e pseudocientistas e produziu uma massa de
material pormenorizado, muito do que é de credibilidade
duvidosa". Acrescentou:
"Seu material cuidadosamente estruturado, escrito como
narrativa envolvente e persuasiva, conseguiu um notável
ar de autoridade, não só pelo vasto âmbito de suas
referências, mas também por apoiar-se em comparações
simples e óbvias, e analogias. No uso de sua informação,
Donnelly combinou o senso comum com novas descobertas
científicas e os trabalhos de pseudocientistas. O estilo do
livro, vigoroso e direto, usava essencialmente os mesmos
floreios retóricos que empregara com sucesso no debate
político. Como a Atlântida era basicamente a voz de um
advogado em favor de uma teoria especulativa, Donnelly
conformou-se a regras de evidência legal, mais que
científicas. Descartou toda evidência contraditória e
mesmo destorceu ilustrações para provar sua tese. Mas
sua desvantagem mais séria foi a natureza de seu método
de análise. Como não era um cientista, Donnelly não
exerceu julgamento crítico de suas fontes. Ele
simplesmente aceitou e citou as autoridades que
apresentaram evidências que corroborariam sua hipótese,
mesmo que tivessem, há muito, sido desacreditadas.”
Donnelly não podia ficar muito tempo longe da política.
Dois anos mais tarde, concorreu ao Congresso. Perdeu,
mas logo depois envolveu-se na formação do Partido
Populista, cuja atividade ocupou-o pelo resto da vida.
Animado pelo sucesso da Atlântida, escreveu outros livros,
se bem que nenhum deles foi tão bem recebido. Rag-
norok: a Idade do Fogo e Cascalho ("Ragnorok: The Age of
Fire and Gravei") atribuía os depósitos de argila, cascalho e
aluvião da superfície da Terra ao contato pré-histórico com
um cometa. O Grande Criptograma ("The Great
Cryptogram") foi uma tentativa para provar por um artifício
engenhoso que Francis Bacon escreveu as obras
comumente atribuídas a Shakespeare. Também escreveu
duas novelas políticas que não tiveram sucesso. Sua morte
ocorreu no primeiro dia do século XX.
A versão de Donnelly da lenda da Atlântida teve um
impacto duradouro no conhecimento e imaginação de
várias gerações de atlantólogos. Um deles, Egerton Sykes,
de cujo trabalho trataremos em outros capítulos, traça seu
interesse de uma vida diretamente até as obras do Messias
Atlante de Minnesota. Ignatius Donnelly conseguiu
documentar e dramatizar seu próprio fascínio pela
Atlântida com tamanha convicção que suas idéias
permanecem vivas até nossos dias.

Capítulo 7
O QUE ATINGIU A ATLÂNTIDA?

Um meteoro gigante, um asteróide ou outro objeto cósmico


teria atingido a Atlântida?
Seria esta a resposta dada por alguns pesquisadores dos
cataclismas do planeta. Analistas mais cuidadosos do
destino da Atlântida vêem seu desaparecimento como
tendo ocorrido em vários estágios. Seu principal teórico é
um austríaco, Hans Hoerbiger, que publicou um grosso
volume chamado Glazialkosmogonie (a tradução deste
título, que seria "Cosmogonia Glacial", não é muito
esclarecedora), em 1913. A Primeira Guerra Mundial
interrompeu a cooperação internacional, a discussão das
idéias de Hoerbiger e o tipo de análise científica que lhes
poderia dar circulação mais ampla.
O conceito mais surpreendente de Hoerbiger é o da
Captura Lunar. Quer dizer, em essência, que a Lua não foi
ejetada da Terra, mas de algum modo entrou no alcance
gravitacional de nosso planeta, fazendo estrepolias com
nossa geologia, em várias etapas. Agora, dispomos de
muito mais dados do que Hoerbiger; e podemos invalidar
muitas de suas idéias. Mas ele tem um valoroso porta-voz
no Sr. Egerton Sykes, de Brighton, Inglaterra, que publica o
periódico Atlantis, órgão da Sociedade Avalon e do Instituto
Hoerbiger.
É razoável descrever Egerton Sykes como a principal
autoridade viva no que diz respeito à Atlântida; nasceu a 9
de outubro de 1894, o que faz dele um octogenário. Ê um
homem energético, vivaz e curioso, que já teve uma
carreira bem pitoresca. Foi membro do serviço diplomático
britânico e diz que ele e sua esposa já estiveram no meio
de "um par de guerras, bem como de cinco ou seis
revoluções". Dá a ascendência de sua família até o século
XI e observa: "tenho um fantasma de verdade na família,
registrado como personagem histórico de Warwickshire".
Mas, como Sykes envolveu-se com a Atlântida?
Ele recorda-se que seu interesse começou "em sua
primeira infância". A mãe de Sykes era amiga de Helena
Blavatsky, a controvertida fundadora da Sociedade
Teosófica, e as idéias esotéricas eram comuns na família.
Ele diz: "Realmente fiquei interessado pela Atlântida em
1906, ao ler, em francês, a história de Júlio Verne sobre a
visita fictícia do Nautilus à Atlântida. Mas o ponto crucial foi
quando era soldado na Primeira Guerra, e, num hospital li e
reli Ignatius Donnelly." Outros compartilhavam seu
interesse, particularmente na França.
"Depois do fim da guerra, uma sociedade para o estudo da
Atlântida foi formada em Paris por Paul le Cour, em 1926.
Conheci a maioria dos fundadores, inclusive os bem
informados irmãos René e Jean Gatefosse, com quem me
correspondi até morrerem. O mesmo aconteceu com le
Cour. Sempre me preocupei com duas questões: Por que a
Atlântida desapareceu? E, havia alguma relação entre
Então e Agora?".
As investigações de Egerton Sykes expuseram-no aos
teóricos rivais: os "expertos em catástrofes" europeus, que
atribuíam o desaparecimento da ilha legendária a eventos
cataclísmicos; e aqueles que sustentavam que a atração da
Lua pela Terra, a "captura lunar", acarretara o desastre da
Atlântida. Ele também conheceu os "difusionistas", que
diziam que segmentos da população atlante e tradições
culturais difundiram-se por boa parte do globo.
Egerton, recordando-se, diz: "Tenho sido muito amigo de
todos que apresentaram um sério interesse nestes
aspectos do passado; infelizmente, sou quase o único
sobrevivente deste grupo." Mas Sykes passou seu
conhecimento e entusiasmo a uma nova geração de
atlantólogos, praticamente sozinho. Após a Segunda
Guerra Mundial, fundou o "Atlantis Research Center",
inicialmente localizado em Roma, depois em Londres, e
agora sediado em Brighton, Inglaterra, onde vive. "Durante
o processo", afirma ele, com alguma satisfação, "tive a boa
sorte de encontrar interessados na Atlântida; e, quer eu
concordasse com eles, quer não, publiquei suas idéias em
meus dois periódicos, Atlantis ou New World Antiquity.”
Ao passo que o interesse de Sykes pela Atlântida não
esmoreceu, ele publicou um jornal de radiestesia por 16
anos, que ele interrompeu "por falta de tempo", e um outro
tratando de Objetos Voadores Não-Identificados, do qual
ele desistiu ao "cansar-se com os OVNI’s, por parecerem
tão fúteis". Porém, Sykes não se cansa tão facilmente. Ele
e sua esposa "aproveitaram bem a vida, e uma companhia
de cinqüenta e nove anos". Estão bastante envolvidos com
a política britânica. Em sua vida "nunca houve um
momento de tédio", tendo sido engenheiro, diplomata,
jornalista e soldado; fala francês, alemão e polonês com
tamanha fluência que fez irradiações nas três línguas, bem
como em inglês.
Sykes e eu cruzamos o Oceano Atlântico em direções
opostas, no verão de 1976. Sykes estava a caminho de
uma conferência na Califórnia (a respeito da Atlântida,
claro), enquanto que eu estava a caminho de Nova Iorque
para a Grécia (para estudar os últimos achados da
arqueologia marinha sobre a Atlântida, claro). "Estou bom
para mais uns quinze anos, ainda", confiou-me o tenaz
octogenário. "Afinal, sou o último dos atlantólogos da Velha
Escola, e não vai encontrar outro como eu novamente."
Sykes, pesquisador da lenda atlante, é também uma lenda
— antigo membro da diplomacia britânica, e evasivo
quando se trata de localizar exatamente a base de seu
interesse apaixonado pelo Continente Perdido.
Sykes é como uma enciclopédia ambulante sobre fato e
folclore da Atlântida, um arquivo solitário internacional
sempre em perigo de ser soterrado sob pilhas de livros,
panfletos e correspondência do mundo todo. Está
trabalhando num livro definitivo sobre suas pesquisas e
conclusões, e eu, pelo menos, não posso esperar para lê-lo.
Entrementes, nas páginas de Atlantis, Egerton Sykes
colocou algumas de suas idéias às quais não faltam verve,
iconoclastia ou um non-sense de autoconfiança.
Fiquei francamente assombrado com o estilo definitivo de
Sykes numa apresentação em duas partes: "Atlântida: Um
Novo Conceito", que apareceu em seu periódico, de
maio/junho e julho/agosto de 1974. Nele, Sykes dava os
nomes das principais cidades da Atlântida, descrevia os
seus templos e rituais — em outras palavras, dava
pormenores que exigiriam documentação que seria, no
mínimo, muito difícil de se obter. Sykes disse que seu
trabalho foi possibilitado porque "os Tuatha deixaram-nos
alguns registros que nos transmitiram não só os nomes que
eles davam a quatro das cidades da Atlântida, de um total
de sete, de que nos fala a tradição". Acrescentou que
também obteve "registros dos tesouros dos diversos
templos, mais alguns pormenores quanto ao que foi deles".
Quem foram os Tuatha? — perguntei a Sykes. Sua resposta
foi que eram antigas tribos irlandesas, remontando a
tempos pré-védicos — o período da pré-história da Índia
que produziu as mais ricas tradições religiosas e filosóficas
do subcontinente. Sem mais pormenores de atribuição,
Sykes dá então nomes aos deuses e deusas da Atlântida
que são familiares à tradição egipcio-helênica. Esta
esquisitice faz sentido, claro, se se presume que os
refugiados da Atlântida selecionaram, dentre outras
regiões, o Mediterrâneo oriental e trouxeram não só sua
mitologia, práticas e tradições, mas igualmente os nomes
de suas divindades. Espalhando-se em muitas direções,
poderiam também ter transmitido idéias similares à ilha
que é hoje a Irlanda.
De acordo com Sykes, foi por volta de 9.500 a.C. que a
Atlântida "afundou sob as ondas e foi aí que os elos que
unem a Atlântida à cultura de hoje foram forjados". Creio
que devemos simplesmente aceitar o relato de Sykes tal
como é: a soma de um conhecimento que um homem
extremamente devotado e erudito conseguiu reunir. Seria
preciso uma comissão internacional de implicantes para
argumentar cada ponto com ele.
Sykes coletou dados de todo o mundo, que sugerem que a
Atlântida formava um continente em "S" que se estendia
paralelo à costa africana. Podemos olhar o mapa e ver a
cordilheira que se estende pelos Açores e ilha Ascensão, já
citada. De acordo com Sykes, a ilha ida Madeira, as
Canárias, e as ilhas Cabo Verde e Bimini, no litoral da
Flórida, também sobreviveram, "muito embora não ligadas
fisicamente com a ilha da Atlântida".
Enquanto que "o sacrifício em vidas humanas foi enorme",
Sykes afirma que "certos grupos pequenos conseguiram
escapar", graças a "suas profissões e situações". Estes
privilegiados deslocados eram de três categorias principais:
as sacerdotisas da Atlântida, que se tornaram as
Amazonas; os funcionários do templo, que vieram a ser os
Tuatha, da Irlanda; e, finalmente, os militares, que o Sr.
Sykes afirma terem se tornado "os Aesir".
Considerando as ilhas espalhadas pelo Atlântico e pelo
Caribe, Sykes acha que lá — e onde quer que as
civilizações atlantes e pós-atlantes foram estabelecidas —
ainda podem ser observados seus traços. Tal como ele diz,
"agora, milhares de anos mais tarde, vários dos tesouros
conseguiram sobreviver; alguns por desígnio, outros por
acidente". Acrescenta que "agora tornou-se possível
localizar quatro das sete cidades da Atlântida, com seus
templos e também mais uma cidade, com seu templo".
Como isto foi feito? Por um período de 25 anos, diz Syke,
foram feitas listas dos tesouros sagrados dos Tuatha, dos
celtas e dos Aesir, e daqui, foram deduzidas as origens
atlantes. Os nomes das cidades, de acordo com esta
narrativa, "são dados pelos Tuatha e outros, e podem ter
sido nomes muito diferentes nos tempos da Atlântida".
Sykes enfatiza muito a "continuidade de ocupação" destas
cidades, de uma forma ou de outra, dos dias da Atlântida
"até a atualidade". Sete cidades, então, devem ter existido,
e três delas estariam submersas, esperando por uma
sofisticada exploração submarina. Ele coloca a cidade que
chama Falaias no centro de um complexo consistindo de
duas ilhas dos Açores, San Miguel e Santa Maria. Citando
fontes dos Tuatha, diz que Falaias era conhecida como a
Cidade dos Portões Dourados, ao passo que "para os
atlantes pode ter tido um nome associado ao templo de
Posseidon, do qual os Portões Dourados formavam a
entrada; seus restos estão agora algumas milhas a
sudeste".
Posseidon, claro, era o deus das águas, na mitologia grega;
mas muito da mitologia antiga, para os atlantólogos, está
baseada nas tradições atlantes, de qualquer forma. Sykes
acrescenta estes pormenores intrigantes: "Havia um
templo egípcio a oeste de Santa Maria, perto da cidade de
Miau Miau, nome consoante o templo de Bast, a deusa
gata, que havia lá outrora. Em seu interior era conservada
a "Pedra da Morte, Coroada com Fogo Pálido", salva do
templo dos Portões Dourados. Talvez o artefato mais
importante a chegar da Atlântida até nossos dias.
Originalmente um meteoro, acabou com o Trono Britânico.”
Sykes diz que, à destruição da Atlântida, sobreviveram
apenas os habitantes de Falaias que estavam visitando o
templo, ou um segundo edifício notável, o Mosteiro ou
Colégio de San Miguel. Apenas as sacerdotisas amazonas,
ele escreve, puderam "continuar residindo". Ficaram
isoladas por algum tempo, mas depois estabeleceram
contato com outros centros sobreviventes da civilização
atlante. Como aparte, Egerton Sykes nota que este templo
tinha uma especialidade no ensino de música, inclusive
canto, e "a música Calypso foi inventada aqui, recebendo o
nome de uma antiga Suma Sacerdotisa".
Se for assim, o explorador submarino Jacques Cousteau
batizou seu famoso navio, o Calypso, com o nome de uma
deusa atlante — o que parece um bom presságio para seus
esforços de localizar a Atlântida na área de Thera e Creta
do Mediterrâneo. Navegantes foram dar na isolada cidade
atlante, e "uma das expedições bem sucedidas foi a dos
irmãos Tuirenn", originária do que hoje é a Irlanda, que
visitou as quatro cidades. De Falaias, "trouxeram a Pedra
da Morte, então transmutada na Pedra do Destino". Sykes
diz que "à sua chegada na Irlanda", a pedra "tornou-se o
Trono de Tara, que gritava se um impostor sentasse sobre
ele".
Outro visitante, ou explorador, foi Pepi I do Egito, "que
enviou equipamentos de exploração às ilhas atlânticas",
cerca de 2.800 a.C. Nesta época, o templo local tinha se
voltado da devoção a Posseidon, à deusa gata. Sykes cita
um historiador, Thevet, que visitou San Miguel em 1675 e
que descreveu uma caverna no lado norte da ilha, "onde
havia dois pilares/stellae de inscrições sobre a pedra, que
ele pensou serem em hebraico. Disse que a caverna teve
de ser selada, porque "vários visitantes morreram com os
fumos das crateras adjacentes e fontes termais".
De acordo com esta pesquisa, a "fraternidade das
amazonas" da Atlântida "conseguiu não só manter o
domínio das ilhas mais afastadas" — do litoral do norte da
África, presume-se — "adjacentes a seus templos, mas
também dominaram a linha litorânea de Thy-materium-
Mogador ao norte, a Kerne, no sul, em oposição às ilhas
Cabo Verde, que hoje são uma possessão portuguesa". E
rapidamente, Sykes passa sobre uma ampla faixa histórico-
geográfica, ao acrescentar: "Em terra, penetraram até
Nysa, a leste — a Cidade de Latão, no Hoggar, ao passo
que no Mediterrâneo tinham uma ilha chamada Kakhale, ou
Cabeça de Cavalo. Depois, tornou-se Cartago. Resta o
conhecimento, de todo o Mundo Clássico, de que os
templos das cidades de Górias e Fínias, para não falar de
Falias e Murias, guardavam tesouros de valor infinito. Um
destes era o Diadema ou Cinturão Oficial das rainhas das
amazonas (mantido em Górias, mas removido para maior
segurança quando de um ataque pelos heráclidas), que
existia até 1942, e do qual foram tiradas fotografias.”
Sykes coloca o templo de Górias no "que é hoje o Grande
Curral de Madeira, ao lado dos laranjais, onde crescem os
Pomos Dourados do Sol". Há registros de ataques a estas
diversas cidades, ou cidades-estado, com sucesso variável.
O artigo diz que "o único povo que conseguiu se
estabelecer em Górias ou Fínias foram os egípcios e os
cartagineses, que alternaram seu domínio por longos
períodos. Os templos de Bast e Ísis, Tantith e Selene
abundavam. Após a queda de Cartago, os romanos
deixaram intocados. A grande mudança ocorreu em 111
d.C. quando as hordas muçulmanas invadiram ou mataram
ou escravizaram toda a população, deixando só uma aridez
devastada".
Em sua descrição da cidade de Fínias, Sykes nota que seu
templo continha o chamado Carro dos Deuses, que tinha
sido "uma das Maravilhas do Mundo atlante", uma réplica
em tamanho natural do carro de Posseidon, completo, com
cavalos e rédeas, feito de ouro sólido. "Em ocasiões
cerimoniais, era tirado e desfilava pelas ruas." Era
conhecido de Hannon e Alexandre, o Grande. Acresce que
Fínias era um centro de trabalho em metais; cavalos e cães
eram criados por seus habitantes e fornecia "muitos tipos
de utilidades domésticas". Quanto ao Carro dos Deuses —
vários invasores podem ter tentado levá-lo, mas o Sr.
Sykes pensa que "provavelmente jaz em algum ponto do
mar, entre Lanzarotte e Tenerife".
Vamos falar de recentes buscas submarinas à volta da ilha
de Bimini, no Caribe, em outro capítulo, mas Sykes chegou
à conclusão de que este ponto, e especificamente a cidade
e o templo de Murias têm uma longa tradição atlante. Ele
acha que o templo sobreviveu ao cataclisma que
submergiu a Atlântida, principalmente porque repousava
numa colina, ao passo que a cidade de Murias estava
localizada num vale, que agora está em algum ponto sob o
Caribe, entre Bimini e uma das Bahamas.
Sykes diz que toda a região, incluindo a ilha relativamente
grande de Andros, nas Bahamas, era um complexo do
templo de' Bimini e seus "edifícios auxiliares, tais como
clínicas, escolas, residências para os funcionários e
acampamentos para as tropas". O templo de Bimini,
escreve, "tem janelas de cristal, mais translúcido que
transparente", porque a chapa de vidro ainda não havia
sido inventada. A famosa Caveira de Cristal, achada na
área, escavada numa só grande peça de cristal de rocha, é
um exemplo magnífico de uma era de elevada arte, seja
qual for seu nome ou origem específicos.
O entusiasmo de Sykes é contagiante. Ele crê que o templo
de Bimini estava, de algum modo, "em uso contínuo, até o
começo de nossa era". Ponce de Leon, diz ele, enganou-se,
ao descer na Flórida — esteve procurando a "Fonte da
Juventude", de fato; ele também crê que Miami
originalmente recebeu seu nome do templo do Gato
atlante-egípcio, Miau-Miau, aceitando a tribo Miami dos
índios do ramo lingüístico algonquiano relacionados ao
período egípcio, e não atlante. Ele menciona que há um elo
de ligação do culto da serpente, das índias ocidentais para
o norte, ainda em investigação.
Sykes conclui que a imersão final do templo de Bimini teve
lugar antes do começo de nossa era, depois de ter estado
"em constante uso por uma seita ou outra, até então". Ele
acha que o abaixamento da plataforma continental foi
"provavelmente um processo gradual que eventualmente
impediu a utilização do edifício". Como o resto dos templos
atlantes, ele aponta, o de Bimini tinha muitas funções que
o tornavam uma sede de governo, hospital, hospedaria
para viajantes necessitados, bem como estaleiro para
reparo de navios. Sykes vê os templos atlantes como sendo
"sólidos como qualquer igreja ou catedral de hoje, mas sem
teto, o arcobotante não tendo sido inventado ainda'', tendo
sido erigidos com "trabalho manual, mas bastante
idealização hábil no projeto".
Os mistérios que homens como o Sr. Sykes exploram em
sua busca da verdade á respeito da Atlântida
inevitavelmente dão enigmas inesperados, a meio
caminho. Dentre os mais fascinantes e desconcertantes, o
alegado testamento do grande arqueólogo amador
Heinrich Schliemann, que sugeria ter este procurado e
achado a Atlântida, será o próximo alvo de nossa
investigação.
Vista aérea de Santorini, mostrando o formato circular da
ilha, que resultou da erupção vulcânica pré-histórica, agora
vista como a origem da lenda da Atlântida.
FOTO: H. E. EDGERTON.
Aqui está um desenho de Thera, hoje. Tirado do livro
Viagem à Atlântida ("Voyage to Atlantis"), por James W.
Mavor, Jr. (Putnam, 1969).
Jacques Cousteau, discutindo sua exploração submarina do
Mar Egeu com Tzannis Tzannetakis, Secretário Geral da
Organização Grega Nacional de Turismo.

O S. S. Calypso, navio de exploração de Jacques Cousteau,


ancorado no porto de Passelemani (Pireu), Grécia.
Ignatius Donnelly, cujas pesquisas e obra sobre a Atlfintida
criaram um conjunto de idéias que influenciou o trabalho
de outros, no século passado.
MINNESOTA HISTORICAL SOCIETY
(Sociedade Histórica de Minnesota).
Ignatius Donnelly, o entusiasmado cidadão de Minnesota,
cuja obra, Atlantis: The Antediluvian World ("Atlântida: O
Mundo Antidiluviano" — 1882) teve um profundo e
duradouro efeito na opinião popular a respeito deste tema,
deduziu que os atlantes emigraram, colonizaram e
influenciaram culturalmente as extensas áreas que estão
em branco, neste mapa; incluem boa parte das áreas
litorâneas da Europa, o Mediterrâneo, norte da África, e
seções substanciais das Américas do Norte e do Sul.
A Dra. Maxine Asher, com seu sócio. Paço Salazar,
examinando uma urna trazida à superfície do oceano ao
largo de Cádiz, Espanha.

Segmentos do solo da antiga cidade de Dun An Aenghus,


Irlanda, explorada pela "Ancient Mediterranean Research
Association" e considerada por esta como possivelmente
parte da Atlântida.

Como encarada pelo prof. A. G. Galanopoulos, a narrativa


de Platão sobre a Atlântida, no Crítias, sugere que a
metrópole atlante estava localizada bem no centro da atual
cratera de Santorini-Thera, onde as duas ilhotas Caimeni
reemergiram no século XIX. No desenho acima,
Galanopoulos superpôs a Atlântida de Platio sobre Thera.
Dentro dos anéis concêntricos, os templos a Posseidon e
Clito estariam situados, com áreas residenciais, aquedutos,
quartéis, altares, e mesmo um estádio de corridas,
completando a cidade. Um palácio, possivelmente no estilo
daquele desenterrado em Cnossos (Creta), teria estado na
área central do templo.
Este desenho, cuidadosamente intitulado "Mapa
Conjectural da Atlântida" e publicado em 1803 pelo
cartógrafo francês Bory de Saint-Vincent, é baseado na
suposição de que vários grupos de ilhas dentro do Oceano
Atlântico, incluindo os Açores e Canárias, eram restos do
Continente Perdido.

Capítulo 8
O GRANDE MISTÉRIO DE SCHLIEMANN

As explorações subaquáticas à cata dos restos da Atlântida


na área de Bimini e no litoral Atlântico da Espanha tiveram
muito a ver com impressões psíquicas, intuitivas, e outras
extra-sensoriais, ou memórias da Atlântida.
Inevitavelmente, aqueles que hoje usam a extra-
sensorialidade em arqueologia lembram o feito fenomenal
do arqueólogo autodidata alemão Heinrich Schliemann
(1822-1890), que escavou a antiga cidade grega de Tróia;
Schliemann, de acordo com esta opinião, ao menos
inconscientemente recorreu a poderes psíquicos para
localizar Tróia, e as evidências submarinas da Atlântica
poderiam, portanto, ser localizadas analogamente.
Atualmente, o pioneiro da arqueologia "intuitiva" é o Dr. J.
Norman Emerson, professor de arqueologia e antropologia
da Universidade de Toronto.
As buscas em Bimini, em particular, relacionaram-se não só
às referências feitas por Edgar Cayce, como contendo
restos da Atlântida, mas com o auxílio de participantes que
procuraram recorrer à clarividência para estreitar a faixa a
ser investigada. O exemplo de Schliemann é uma
inspiração conveniente para amadores ousados e
arqueólogos profissionais. Ele descreveu sincera e
minuciosamente como, ainda menino, era atraído por
lendas folclóricas, na cidadezinha de Ankershagen, que
falavam de tesouros enterrados, e lendas dramáticas, de
violências passadas e mortes. Quando recebeu de presente
um livro de história em seu oitavo aniversário, Heinrich
discutiu com seu pai a respeito de um desenho de Tróia,
dizendo: "Papai, se ela tinha essas muralhas enormes, não
deve ter desaparecido, mas ainda deve estar escondida
sob o pó e as ruínas de séculos.”
Schliemann estava obcecado por Tróia e pela Grécia
antiga; a reencarnação poderia facilmente explicar esta
idéia fixa em termos adequados à sua doutrina: Heinrich
Schliemann deve ter sido habitante de Tróia, em outra
encarnação, e seu irresistível impulso para redescobrir a
antiga cidade baseava-se nas memórias de uma outra vida.
Estreitamente relacionada a este conceito está a hipótese
de que Schliemann tenha sido ajudado por clarividência a
localizar Tróia, em oposição às opiniões dos arqueólogos
profissionais.
É bem claro que Schliemann tinha um pendor místico. Ele
descreve sua vivida premonição de um incêndio que
destruiu a cidade de Memel. Presságios e palpites tiveram
importante papel na carreira deste homem que conseguiu
ter sucesso no comércio, ser um lingüista de admirável
capacidade, e, claro, um ousado arqueólogo. Não é de
surpreender que os atuais investigadores da Atlântida
achem inspirador o exemplo de Schliemann.
Um mistério inexplicado, ligando o nome de Schliemann à
lendária Atlântida, foi trazido à atenção do público por
Egerton Sykes: mais de duas décadas após a morte do
arqueólogo alemão, a 20 de outubro de 1912, apareceu um
artigo intitulado "Como Encontrei a Perdida Atlântida" (How
I Found the Lost Atlantis), no jornal nova-iorquino
American, de propriedade de William Randolph Hearst. O
artigo era de autoria do Dr. Paul Schliemann, identificado
como neto do grande arqueólogo. O artigo alegava que
Heinrich Schliemann, uns poucos dias antes de sua morte,
em Nápoles, deu um envelope fechado a um amigo, onde
se lia: "A ser aberto apenas por um membro de minha
família que solenemente prometa devotar sua vida às
pesquisas aqui delineadas." O artigo também alegava que,
em seu leito de morte, Schliemann pedira lápis e papel
para escrever a seguinte mensagem, em separado:
"Adição confidencial ao envelope lacrado: Quebre o vaso
com cabeça de coruja. Atente para o conteúdo. Concerne à
Atlântida. Investigue as ruínas do templo de Sais e o
cemitério do vale de Chacuna. Importante. Prova o
sistema. A noite se aproxima. Adeus.”
O neto de Schliemann, Paul — se, de fato, foi ele o autor
deste artigo sensacional — decidiu após anos de viagens
pelo mundo, agir por sua família, retirar a carta de um
banco francês, abrir o envelope e publicar seu conteúdo.
De acordo com este relato, Heinrich Schliemann deixou um
testamento de 19 itens de documentação e hipóteses (as
interpolações em itálico são do Sr. Sykes, que publicou o
texto em seu periódico Atlantis, vol. 4, n.° 5, janeiro de
1952), como se segue:
(1) Cheguei à conclusão de que a perdida Atlântida não só
era um grande território entre a América e a costa
ocidental da África e da Europa, mas também o berço de
nossa civilização. Tem havido muita disputa entre os
cientistas sobre este assunto. De acordo com um grupo, a
tradição da Atlântida é pura ficção, fundada em relatos
fragmentários de um dilúvio alguns milhares de anos antes
da era cristã. Outros declaram ser a tradição inteiramente
histórica, mas absolutamente impossível de ser provada.
(2) No material incluído, achar-se-ão registros, provas do
que tenho em mente sobre o assunto. Quem quiser
assumir esta missão, está solenemente obrigado a
continuar minhas pesquisas, e chegar a uma conclusão
definida, usando o material que deixo, e creditando-me
com minha parte na descoberta. Um fundo especial está
depositado no Banco da França, para ser pago ao portador
do recibo incluso, que deverá pagar as despesas da
pesquisa. Que o Todo-Poderoso esteja com este grande
esforço.
(3) Quando, em 1875, fiz a escavação das ruínas de Tróia,
em Hissarlik, e descobri na segunda cidade o famoso
tesouro de Príamo, descobri, naquele tesouro, um vaso
peculiar de bronze, de grande tamanho. Dentro dele havia
várias peças de cerâmica, várias imagens pequenas de um
metal peculiar, moedas do mesmo metal e objetos feitos
com ossos fossilizados. Alguns destes objetos e o vaso de
bronze estavam gravados com uma frase em hieróglifos
fenícios. A sentença dizia: Do Rei Cronos, da Atlântida.
(4) Você, leitor, pode imaginar minha excitação! Aqui
estava a primeira, absolutamente a primeira evidência
material daquele grande continente, cuja lenda vivera
durante eras, por todo o mundo. Este material, eu mantive
em segredo, ansioso por torná-lo base de investigações,
que percebi se mostrariam de importância infinitamente
maior que a descoberta de cem Tróias.
(5) Em 1883, descobri no Louvre uma coleção de objetos
escavados de Tiahunaca, na América Central... (Isto foi
obviamente um erro de grafia, foi em Tiahuanaco, na
América do Sul, ou Teotihuacân, na América Central. Se a
primeira está certa, sugeriria pela primeira vez uma ligação
entre a cultura do lago Titicaca e a Atlântida.) Dentre estes,
descobri peças de cerâmica, de forma exatamente igual, e
material, e objetos de osso fossilizado que reproduziam,
linha por linha, aquelas que encontrei no vaso de bronze do
tesouro de Príamo! A similaridade não podia ser uma
coincidência. A forma e a decoração eram muito simples
para isto. Está além do alcance da coincidência para dois
artistas em regiões tão amplamente separadas, assim
como a América Central e Creta — (Um erro óbvio de grafia
de Ásia Menor, e que parece ter passado despercebido
daqueles críticos da História, que se agarraram ao
primeiro) —, terem feito dois vasos, e menciono apenas um
dos objetos, exatamente do mesmo formato, mesmo
tamanho e com curiosas cabeças de coruja dispostas da
mesma maneira em ambos.
(6) Os vasos da América Central não tinham caracteres
fenícios, nem escrita de qualquer espécie. Apressei-me em
examinar meus próprios objetos e, através de testes e
exames exaustivos, convenci-me de que as inscrições
tinham sido feitas neles por outras mãos após a sua
manufatura.
(7) Tomei pedaços destes simulacros de Tiahuanca —
(aqui, as mesmas observações anteriores quanto aos erros
de grafia) — e submeti-os a análises químicas e
microscópicas. Os testes provaram conclusivamente que
tanto os vasos da América Central, quanto os de Tróia,
tinham sido feitos da mesma argila, e, como soube depois,
definitivamente, que esta argila não existiu na antiga
Fenícia, nem na América Central.
(8) Analisei os objetos de metal, porque não conseguia
discernir de que eram feitos. O metal era diferente de
qualquer um que já vira. A análise química mostrou que o
material era de platina, alumínio e cobre — uma
combinação nunca achada antes nos restos da antiguidade
e hoje desconhecida.
(9) Objetos, pois, perfeitamente similares e tendo
inquestionavelmente uma fonte comum, foram
encontrados em regiões tão afastadas quanto estas. Os
objetos mesmos não são fenícios, micenianos, nem centro-
americanos. Qual a conclusão? Que vieram a ambos os
lugares de um centro comum. A inscrição nos objetos dava
aquele centro — era a Atlântida.
(10) Que os objetos eram guardados com grande
veneração é mostrado por sua presença em meio ao
tesouro de Príamo, e o receptáculo especial que os
guardava. Seu caráter não me deixou dúvidas de que eram
objetos de cerimônias sagradas, e do mesmo templo.
(11) Esta descoberta extraordinária e minha saúde
claudicante induziram-me a impulsionar mais rapidamente
minhas investigações. Descobri, no museu de São
Petersburgo, um dos mais antigos papiros em existência.
Foi escrito no reinado do faraó Sent (Senedi) na segunda
dinastia, em 4.571 a.C. Continha uma descrição de como o
faraó citado enviou uma expedição "para o oeste", em
busca dos traços da terra da Atlântida, de onde, 3.350 anos
antes, os ancestrais dos egípcios chegaram carregando
consigo toda a sabedoria de sua terra natal. Outro papiro,
no mesmo museu, escrito por Maneto, refere-se a um
período de 13.900 anos, como o reinado dos sábios da
Atlântida. Este papiro coloca isto no começo da história
egípcia; aproximadamente, 16.000 anos atrás.
(12) Uma inscrição que escavei no Portal dos Leões, de
Micenas, Creta (aqui deveria estar escrito Grécia), reza que
Misor, de quem, consoante a inscrição, os egípcios
descendem, era filho de Taaut, ou Thoth, o Deus da
História, e que Taaut era o filho emigrado de um
"Sacerdote da Atlântida" que, tendo se apaixonado por
uma filha do Rei Cronos, escapou e desembarcou, após
muitos vagares, no Egito. Construiu o primeiro templo, em
Sais, e ali ensinou a sabedoria de sua terra natal. Toda esta
inscrição é muito importante e mantive-a em segredo.
Você a encontrará entre os papéis.
(13) Uma das tábuas de minhas escavações de Tróia
também dá um tratado médico dos sacerdotes egípcios —
pois havia comunicação entre Creta (leia-se Ásia Menor) e
o Egito por muitos séculos — para a remoção de catarata
do olho, e úlcera dos intestinos, por meio de cirurgia. Li
uma fórmula quase igual num manuscrito espanhol em
Berlim, cujo autor obteve-a de um sacerdote asteca, no
México. Esse sacerdote obtivera-a de um antigo manuscrito
maia.
(14) Chegando a minhas conclusões, devo dizer que nem
os egípcios nem os maias, que fizeram a civilização da
América Central, eram grandes navegadores. Não tinham
navios para cruzar o Atlântico. Tampouco os outros.
Podemos pôr de lado a intervenção dos fenícios como o elo
real entre os dois hemisférios. No entanto, a semelhança
da vida e civilização maia e egípcia é tão perfeita que é
impossível pensar nela como acidental. Não encontramos
tais acidentes na natureza ou na história. A única
possibilidade é que havia, como diz a lenda, um grande
continente que conectava o que agora chamamos o Novo
Mundo com o que chamamos Velho Mundo. Talvez, nesta
época, o que havia da Europa e América fosse povoado de
monstros. A África possivelmente apresentava uma raça
negra simiesca. O homem, tal como o entendemos, não os
tinha exterminado. Mas havia uma terra onde a civilização
era tão elevada quanto a que conhecemos agora, e talvez
mais, que florescia. Seus limites eram as bordas das
selvas. Era a Atlântida. Da Atlântida, saíram as colônias
que se estabeleceram no Egito e América Central.
(15) A religião egípcia era preeminentemente a adoração
do Sol. Rá era o Deus do Sol dos egípcios. A religião dos
maias, da América Central, era a mesma. Rá-Na era o deus
dos antigos peruvianos.
(16) Meus longos estudos arqueológicos sobre várias
nações provaram que todas elas mostram traços de sua
primeira infância e maturidade. Mas não consegui
encontrar nenhum traço de um Egito rude e selvagem, ou
de uma raça maia rude e bárbara. Achei estas duas nações
amadurecidas em seus primeiros períodos, hábeis, fortes e
cultas. Nunca achei uma época em que não tivessem
habilidade para organizar seu trabalho, nem incapacidade
para cavar seus canais, construir estradas, pirâmides e
templos, irrigar os campos, nem um tempo em que não
conhecessem medicina, astronomia e os princípios de um
governo altamente organizado. Como os maias, os egípcios
praticavam a monogamia e construíam suas cidades e
templos no mesmo estilo, exibindo uma habilidade e
conhecimento técnico que continuam um enigma para os
engenheiros desta era. Nem egípcios nem maias eram uma
raça negra, mas amarela. Ambas as nações tinham
escravos e uma classe intelectual, mas as relações entre as
classes eram cordiais e humanas. Seus princípios básicos
de governo eram os mesmos.
(17) Lepsius encontrou os mesmos símbolos sagrados nos
cerimoniais dos egípcios e dos peruvianos. Le Plongeon, o
grande arqueólogo francês (Le Plongeon foi cidadão
americano no fim de sua vida, mas era de ascendência
francesa) recuperou em Chichén-Itzá, no Iucatã, a escultura
de um deus, com o pé malformado, e que tinha todos os
atributos do grande deus Thoth dos egípcios.
(18) Nas pirâmides americanas e egípcias, o exterior era
coberto com um espesso revestimento de cimento liso e
brilhante, de tal resistência, que nossos construtores não
conseguiram igualá-la. Alexander von Humboldt
(explorador alemão da América Central e do Sul, 1769-
1859) considerava a pirâmide de Chula do mesmo tipo que
o templo de Júpiter, em Belus.
(19) Tanto na América quanto no Egito, as pirâmides eram
construídas no mesmo estilo. Encontrei as pirâmides de
ambos os lados do Atlântico com seus quatro lados
apontando astronomicamente como os braços de uma
cruz, nas mesmas direções. Em ambas, a linha central é o
meridiano astronômico. A construção em degraus é a
mesma, e em ambos os casos, as pirâmides maiores são
dedicadas ao Sol.
Eis tudo quanto ao alegado "testamento" da Atlântida, de
Heinrich Schliemann. O que devemos deduzir, passado
mais de meio século, deste escrito notável, mas
nitidamente exótico? Considerando sua fonte e a falta de
mais documentação durante o período interveniente, tudo
tem o aspecto de um logro. Egerton Sykes, em adição à
interpolação que fez ao publicar o texto, levantou um certo
número de questões que tratavam da aparência e
substância do artigo. Um colaborador de Schliemann,
Wilhelm Dorpfeld, comentou o assunto numa carta a
Alexander Bessmertny, que a publicou em seu livro
Átlântida. Dorpfeld diz: "Pelo que sei, Heinrich Schliemann
nunca se ocupou com qualquer profundidade da questão
da Atlântida. Pelo menos, nunca ouvi nenhuma alusão a
trabalho deste tipo, muito embora tenha sido seu
colaborador de 1882 até 1890. Mas Schliemann falou
algumas vezes da questão da Atlântida, e considero
possível que ele possa ter reunido algumas notas
relacionadas com ela." Dorpfeld duvidava da "existência de
um trabalho original dele quanto a este tema".
Sykes expressou surpresa em relação à natureza disjunta e
incompleta das pesquisas supostamente empreendidas por
Paul Schliemann, depois de ter lido o testamento de seu
avô sobre a Atlântida. De acordo com o artigo, reimpresso
no jornal dominical inglês, Weekly Budget (17 de novembro
de 1912), Paul procurou documentar as idéias de Heinrich
Schliemann, de início. Em meio à coleção de seu avô,
encontrou um vaso com cabeça de coruja, quebrou-o, e
achou um quadrado de metal branco coberto com
desenhos de figuras, e, em escrita fenícia, as palavras:
"Feito no Templo das Paredes Transparentes". Presumiu
que, como a medalha não podia ter sido introduzida pelo
pescoço estreito do vaso, Heinrich Schliemann deve ter
tido outros vasos, com diferentes inscrições. De acordo
com o artigo, Paul viajou pelo México, e outras áreas da
América Central, e pelo Peru. Encontrou vasos com cabeça
de coruja num cemitério do vale de Chuchuna, sem
medalhas, mas com inscrições supostamente
"surpreendentes". A pirâmide de Teotihuacan forneceu
medalhas, sem inscrições. Sykes sugeriu que estas
medalhas eram "símbolos de recibos de oferendas votivas".
Paul Schliemann asseverou ter encontrado "indicações
claras da localização da Cidade dos Portais Dourados, e
duas referências claras ao Templo das Paredes
Transparentes". Considerava se a palavra "transparente"
tinha apenas "significado simbólico, ou se existiria
realmente uma estrutura com muros transparentes?" Ele
não sabia a resposta à pergunta, mas alegou que podia
"provar" que os fenícios receberam seu conhecimento da
confecção do vidro do "Povo que vivia além das Colunas de
Hércules". O artigo concluía com o que Sykes descreveu
como "dois dos textos mais disputados em toda a história
da Busca da Atlântida", o chamado Códex Troiano, que se
refere à destruição, por terremotos, da "terra de Mu" e uma
inscrição que deve ter sido descoberta nas paredes de um
templo, em Lhasa, no Tibet, escrita em 2.000 a.C. em
língua caldaica, dizendo:
"Quando a estrela Bal caiu no lugar onde hoje há apenas
mar e céu, as Sete Cidades com os Portões Dourados e
seus Templos Transparentes tremeram e sacudiram-se
como as folhas de uma árvore, numa tempestade. E eis
que um dilúvio de fumaça e fogo ergueu-se dos palácios.
Agonia e gritos da multidão encheram o ar. Procuraram
refúgio em seus templos e cidades. E o sábio Mu, o
hierático de Rá-Mu, ergueu-se e disse-lhes: 'Não predisse
tudo isto?' E as mulheres, e os homens, com suas pedras
preciosas e vestes reluzentes, lamentavam-se: 'Mu, salva-
nos!' e Mu replicou: 'Morrereis, junto com vossos escravos
e riquezas, e de vossas cinzas erguer-se-ão novas nações.
Se esquecerem que são superiores, não pelo que
ostentam, mas pelo que produzem, o mesmo destino lhes
caberá.' As chamas e a fumaça sufocaram as palavras de
Mu. A terra e seus habitantes foram despedaçados e
engolidos pelas profundezas, em poucos meses".
Sykes, tentando ser justo, perante documentação
duvidosa, assinalou a "incerteza a respeito de Mu", uma
abreviação de Lemúria, um lendário continente submerso
no Oceano Pacífico, ou Índico. O termo "Lemúria" foi usado
pela primeira vez por Philip L. Slater, um naturalista, por
causa da suposta presença de "lêmures" no território deste
continente. Hoje, o lêmur é um mamífero noturno
encontrado principalmente em Madagascar; os lêmures,
parentes distantes dos símios, são tratados pelos
naturalistas, como um grupo distinto, Lemuroidea.
Se Slater inventou o termo -"Lemúria", e se Mu derivou
dele, como a palavra pôde ter aparecido no Códex Troiano,
escrito em 1550, ou numa antiga inscrição tibetana? Sykes
nota que "não é possível" detectar o uso da palavra "Mu"
antes do século XIX, mas acrescentou que "isto não exclui
sua existência". E o que Mu tinha a ver com a procura da
Atlântida por Schliemann? Creio que a maioria dos
atlantólogos concordam com Sykes em que "não importa o
que tenha acontecido no passado, o uso do nome Mu deve
restringir-se à área do Pacífico" — muito embora, como
observamos em nosso capítulo sobre o Havaí, as tradições
Kahuna incluem a possível colonização deste grupo de ilhas
do Pacífico por homens e mulheres descendentes da
Atlântida. Sykes atribuiu o estilo uniforme em que textos
variados aparecem no artigo de Paul Schliemann à
probabilidade de que todos foram traduzidos por uma só
pessoa. Atribui erros de fatos à "má edição e revisão".
Egerton Sykes, tolerante quanto ao suposto artigo de
Schliemann como um todo, comentou que, "embora as
afirmações sejam sensacionais, são convincentes", mas
acresce que "é difícil entender por que nos anos
posteriores, não tivemos nem confirmação nem refutação
dos advogados banqueiros e de outros envolvidos na
execução do testamento de Heinrich Schliemann”. Sykes
sugere que "a completa ausência de evidência negativa
tende a confirmar a precisão da História".
Mas, e sobre o Dr. Paul Schliemann? Novamente, os
esforços solitários de Sykes proporcionaram-nos os dados
biográficos relativamente escassos. Um explorador
britânico, Mitchell Hedges, que achou a famosa Caveira de
Cristal no Caribe, é citado por Sykes como tendo conhecido
o jovem Schliemann em Nova Iorque, onde vivia num
pequeno iate no porto da cidade. Paul Schliemann
desapareceu durante a Primeira Guerra Mundial, estando
alistado no exército alemão, morreu durante a guerra.
Sykes calcula que, com base na informação biográfica dada
no American, devia ter uns vinte e oito anos quando o
artigo foi publicado.
Egerton Sykes, com todo seu cuidado quanto ao artigo de
1912, credita Paul Schliemann com "as primeiras
referências ao Templo das Paredes Transparentes e à
Cidade dos Portões Dourados, o primeiro em Bimini e a
segunda, adjacente a Santa Maria, nos Açores". Também
nota que o jovem Schliemann "introduziu o fator do vaso
com cabeça de coruja que são encontrados em ambos os
lados do Atlântico". Conclui que enquanto Paul Schliemann
"pode não ter acertado em suas conclusões", ele
certamente "proporcionou um impulso à pesquisa atlante".
Mas, ainda resta a probabilidade de que o homem que deu
tal "impulso", possivelmente, nunca tenha existido. O
talentoso e obstinado financista-arqueólogo Heinrich
Schliemann casou-se duas vezes, primeiro na Rússia, e
depois, na Grécia. O primeiro casamento, em São
Petersburgo, com Catarina, durou de 1852 a 1868. Apesar
de o casamento ter sido insatisfatório desde o começo,
produziu um filho, Sergius, ou Serge, nascido em 1855, e
duas filhas, Nádia e Natália. Os Schliemann finalmente
divorciaram-se quando Heinrich morava em Indianápolis,
Indiana (EUA). De lá, correspondeu-se com o Arcebispo da
Grécia, pedindo um casamento helênico; por fim, a 24 de
setembro de 1869, casou-se com Sofia Engastrômenos, de
17 anos (Schliemann contava então 47); tiveram um filho,
Agamêmnon, nascido em 1871 e uma filha, Andrômaca,
nascida em 1878.
Sykes escreve que o misterioso Paul Schliemann casou-se
com uma mulher que depois se casou com um estadista
grego; engana-se: foi Agamêmnon Schliemann que se
casou com uma jovem atriz, Nadine, cujo segundo marido
fora o primeiro-ministro Constantino Tsaldaris; tive várias
oportunidades de encontrar o Sr. e Sra. Tsaldaris em
Atenas, durante o mandato deste primeiro-ministro, no fim
da década de 40 e começo de 50.
Como Agamêmnon e Nadine divorciaram-se após um
casamento sem filhos, a descendência grega de
Schliemann terminou com Agamêmnon, no país que
absorvera a apaixonada atenção de Schliemann durante a
parte mais criativa de sua vida. Sergius Schliemann, o filho
russo de Heinrich, teria tido um filho chamado Paul? Seus
maiores biógrafos, assim como os alemães Ernst Meyer e
Emil Ludwig, nada dizem a respeito. Os arquivos do
Instituto Arqueológico Alemão em Atenas, e os arquivos
ainda mais extensos de seu equivalente em Roma, não
contêm referências a escritos de nenhum Paul Schliemann.
Entrei em contato com historiadores gregos no campo
arqueológico, em Atenas, no verão de 1976, que não
puderam corroborar a hipótese da existência de Paul. A
coleção de Meyer das cartas de Heinrich Schliemann, com
uma introdução pelo colaborador de Schliemann, Wilhelm
Dörpfeld, não contém referência a tal neto, nem tampouco
à Atlântida.
O primeiro casamento de Heinrich Schliemann, com
Catarina, levou a tal alienação e recriminação, que o
próprio Heinrich proibiu que Sergius lhe escrevesse em
russo; o rompimento com sua esposa russa e seus filhos foi
quase total. A principal autoridade sobre Schliemann, na
Grécia hodierna, é o prof. George Korres, membro da
Faculdade de Filosofia da Universidade de Atenas. Baseado
em arquivos minuciosos e numa pesquisa meticulosa da
vida e obra de Heinrich Schliemann, Korres afirma: "Já ouvi
falar do nome de Paul Schliemann, mas só nos termos mais
efêmeros. Não há registros de nascimento ou morte
concernente a tal pessoa, nem cartas dele, ou a ele se
referindo, de que eu tenha conhecimento. Francamente,
duvido que tenha existido.”
A despeito do conflito de evidência, Sykes está certo de
que Paul Schliemann de fato existiu. Ele tem um amigo,
ainda vivo, que o conheceu pessoalmente e acredita que
ele tenha usado o nome "Paul", ao invés de "Agamêmnon",
nos Estados Unidos. Sykes continua a crer que Paul morreu
na Primeira Guerra Mundial, no exército alemão.
Sykes concorda que a alternativa de que possa ter sido
filho de Sergius explicaria seu conhecimento de fontes
russas. O ponto interessante é que ele e seu iate
desapareceram aproximadamente uma semana após a
publicação do artigo.
Sykes observa que a informação sobre o casamento com
Nadine veio da França, no tempo de Bessmertny. Todos os
registros foram perdidos, quando a Polônia foi invadida, em
1939.
Onde quer que tenha nascido, diz Sykes, a maioria das
fontes soviéticas tratam-no como alemão.
O único descendente de Heinrich Schliemann na Grécia
hoje é a Sra. Lilian Meias, a vivaz viúva, já encanecida, do
neto de Schliemann, Leno, um arquiteto que morreu nos
anos 60. A Sra. Meias disse-me que ela "certamente teria
sabido" de Paul Schliemann se um tal neto tivesse existido,
e sugeriu que ele tenha sido uma "personne imaginaire na
genealogia da família".
A Atlântida e Paul Schliemann parecem ser igualmente
desconcertantes.
Capítulo 9
A ATLÂNTIDA TERIA SIDO DESTRUÍDA POR UM GRANDE
METEORO?

Os bem sucedidos estudos arqueológicos no Mar Egeu


desviaram a atenção pública de outras hipóteses
concernentes ao cataclisma que pode ter destruído a
Atlântida. Como foi notado, um destes conceitos atribui o
fim da legendária ilha ao impacto de um grande meteoro
ou mais. Hoerbiger, a autoridade austríaca no assunto, e as
associações que continuam a pesquisa que ele começou,
apontam diversas crateras enormes que podem ter sido
criadas por meteoros do tipo que destruiu a Atlântida, em
várias etapas ou num só cataclisma.
Um exame das crateras da superfície da Terra pode
também oferecer pistas para crateras a serem localizadas
sob os oceanos; possivelmente, no seu fundo e agora
cobertas com depósitos de milênios, sendo crateras que,
até agora, se esquivaram às buscas subaquáticas. Talvez
sofisticados equipamentos de mergulho, tais como os
empregados pelo conhecido explorador Jacques Cousteau
— que examinou O Mar Egeu em 1975 e 1976 — seriam
precisos para achar e analisar tais crateras.
Uma "cratera", de acordo com o Webster's New World
Dictionary é: a cavidade em forma de bacia na boca de um
vulcão; e um buraco, tal como o causado pela explosão de
uma bomba. Definida amplamente, uma cratera é uma
cavidade profunda qualquer, formada de matéria sólida por
ação natural espontânea ou por força induzida. As crateras
podem variar em tamanho, de uma fração de polegada a
muitas milhas de diâmetro. Em cada caso, porém, o
deslocamento de matéria ocorreu na formação da cratera.
Estranhamente, duas das maiores crateras deste tipo estão
nos Estados Unidos, mas nunca captaram a imaginação do
público, nem como atrações turísticas nem como focos de
especulação mística. São: a Grande Cratera do Meteoro
("Great Meteor Crater"), no Arizona (também conhecida
como "Cratera Barringer", com o nome de Daniel Moreau
Barringer, um engenheiro de minas de Filadélfia, que ficou
fascinado por este fenômeno, em 1902), e o Lago da
Cratera ("Crater Lake"), no sul do Oregon, que enche a
cratera de um vulcão extinto, cercado por rochedos de lava
de 600 metros de altura. Paradoxalmente, o Lago da
Cratera ganhou notoriedade pública recentemente,
quando, em 1975, visitantes do parque sofreram uma leve
intoxicação alimentar: a área teve de ser fechada e houve
algum pânico entre as famílias que visitaram o lago, isso
chegou aos cabeçalhos dos jornais.
A Cratera Barringer, do Arizona, não recebeu publicidade
positiva nem negativa, nos anos recentes, muito embora
seja uma vista magnífica — uma gigantesca boca,
bocejando em meio a uma vasta planície desértica.
Localizada a noroeste do Estado, à margem da Rodovia 66,
a leste de Flagstaff, o terreno da cratera já serviu de local
de treinamento para astronautas. O desenvolvimento de
especialistas em condições de solos de território espacial,
conhecidos como astrogeólogos, continuou com a
exploração da Lua e de Marte. Os astrogeólogos vêem a
Cratera do Meteoro do Arizona como um excelente
exemplo das crateras meteóricas da Terra. Seu solo é
muito semelhante à superfície esburacada da Lua, e pelas
fotografias de 1976, também à de Marte.
Mesmo antes de as expedições lunares atraírem a atenção
do público, o território da Cratera Barringer deu aos
astronautas uma oportunidade de simularem seus passeios
lunares antes de viajarem pelo espaço. Diversamente de
muitas outras crateras terrestres, que se encheram de
água e foram alteradas pela erosão ou simplesmente
desapareceram devido ao vento ou a outros fenômenos
naturais, a Cratera do Meteoro permanece virtualmente
inalterada por vento, água ou pelo tempo.
Descrita simplesmente, é um buraco em forma de bacia,
em meio ao deserto. A Cratera do Meteoro parece o topo
de um vulcão extinto. Sem fauna, nem flora, exceto a
microscópica, pode ser vista crescendo perto da cratera, ou
dentro dela. A terra é marrom-acinzentada em seu interior
e à sua volta. À leste da cratera, a Floresta Petrificada
contém vários acres de árvores fragmentadas — agora
transformadas em ágata — que floresceram há uns 160
milhões de anos. Rodeando a cratera e estendendo-se para
noroeste, há outeiros, cones e resíduos de cinzas
vulcânicas do Deserto Pintado.
Amostras do solo, tomadas do fundo da Cratera do
Meteoro, apresentaram fragmentos de conchas e outros
depósitos deixados há muitíssimo tempo atrás, quando as
águas cobriam aquele deserto, e o continente americano
esteve em parte submerso. Histórias a respeito de
meteoritos, ou outra matéria do espaço que atinge a Terra,
eram apenas lendas, até que a Grande Cratera do Meteoro
se apresentou como prova.
Esta é a maior cratera da Terra, de origem meteórica.
Conseguiram-se provas de sua origem, pelo achado de
meteoros, em sua circunvizinhança. Ao passo que esta
cratera já era conhecida em 1871, pensava-se então que
era um vulcão extinto. Pastores acharam alguns meteoros
acerca de duas milhas a oeste da cratera, em 1886. Este
achado atraiu cientistas ao local. Em 1902, Barringer ouviu
falar da cratera e comprou aquela terra, de baixíssimo
valor. Seu objetivo era descobrir o meteoro que abrira a
cratera. Explorações subseqüentes e a descoberta de
meteoros na área levaram os cientistas a concluir que a
grande cratera tinha sido, de fato, criada por impacto
meteorítico. Uma chuva de meteoros pode ter atingido a
Terra há uns 20.000 anos atrás; inevitavelmente, esta data
foi associada à do afundamento — ou deslocamento — da
Atlântida.
Acredita-se que esta mesma chuva de meteoros tenha
causado o grupo de crateras Odessa, no Texas. George
Foster, autor de A História da Cratera do Meteoro "The
Meteor Crater Story” (Winslow, Arizona), descreve os
meteoros como: detritos do céu que viajaram pelo espaço,
provavelmente por eras geológicas inteiras, até finalmente
atingirem a atmosfera da Terra. O calor gerado pela colisão
com as moléculas da atmosfera vaporizou estas partículas,
e o material fundido foi destacado, formando o rastro ígneo
que vemos. Usualmente, como a maioria das partículas
invasoras variam em tamanho, de alguns grãos até uma
fração de onça, a vaporização é completa e temos apenas
um clarão que rapidamente desaparece. Relativamente
umas poucas pedras de maior tamanho sobrevivem
parcialmente e atingem a Terra, fornecendo o único
material "de fora deste mundo", que podemos ver e tocar.
O tamanho relativamente grande dos meteoros que causou
o grupo de crateras Odessa, no Texas, e a Grande Cratera
do Meteoro, no Arizona, é desconhecido. Entretanto, as
dimensões da cratera do Arizona dão aos cientistas uma
idéia aproximativa da natureza e origem do meteoro que,
como a lendária Atlântida, acredita-se estar afundado na
terra.
Da borda da cratera, a profundidade até o fundo é de 171
metros. O diâmetro no topo, à volta da borda, é de mais de
1.200 metros. Um turista, caminhando à volta da borda,
anda três milhas antes de voltar ao ponto de partida.
George Foster escreve: "Hoje, pensa-se que esta cratera foi
aberta há uns 20.000 anos, quando um grande grupo de
meteoros caiu, vindo do norte. Acredita-se que pesava pelo
menos um milhão de toneladas e estava-se deslocando a
várias milhas por segundo. Bateu em ângulo, afundou-se
quase uma milha através de rocha sólida, enquanto estava
sendo desacelerado, e seus fragmentos finalmente
repousaram sob a base do rochedo que se vê no outro
extremo." Acrescenta que "se presume que uma explosão
cataclísmica ocorreu, quando o corpo cruzou o que agora é
o centro da cratera".
Vinte mil anos depois da explosão meteorítica, ainda
restam cerca de 300 milhões de toneladas de material na
borda da cratera. Aproximadamente 100 milhões de
arenito devem ter sido pulverizados finamente.
A massa meteórica do espaço interplanetário, que fez uma
cratera grande o bastante para engolir o Monumento a
Washington, ou a Pirâmide de Queóps, é composta de 92%
de ferro, 7% de níquel, mais entre 1 e 2% de outros
elementos, incluindo fósforo, silício, cobre, carbono, e
quantidades ainda menores de platina, irídio, cobalto, ouro,
prata e mesmo diamantes microscópicos. Cristais de
carbeto de silício, o único carborundum natural da terra,
também foram encontrados nos meteoros próximos à
cratera. Sua presença testemunha a tremenda pressão e
temperatura sob as quais estes meteoros foram formados.
A massa meteórica deve ter se deslocado entre 30.000 e
33.000 milhas por hora. Quando a Terra foi atingida, a
força de uma bomba de vários megatons deslocou meio
bilhão de toneladas de rochas da cratera, e possivelmente
destruiu toda a vida animal e vegetal num raio de 100
milhas.
Enquanto os estudos principais referem-se à Grande
Cratera, os cientistas que trabalharam com os meteoros de
Odessa concluíram que as crateras de ambos os locais
foram causadas pela mesma chuva de meteoros. A
distância entre a Cratera do Meteoro e o grupo de Odessa
é de 550 milhas. Ê a maior separação entre crateras
conhecidas, produzida por uma só precipitação. Estas
crateras estão acima do nível do mar. Ê possível que a
mesma chuva de meteoros que produziu as crateras do
sudoeste americano também tenha criado outras, ainda
desconhecidas, não reconhecidas como pertencentes à
mesma área, ou esquivando-se ao estudo humano por
estarem sob o solo, sob mato ou sob o mar.
Se um meteoro do tamanho e força do que atingiu a região
semidesértica do Arizona, com o poder de vários
megatons, atingisse o oceano perto da Atlântida, o impacto
da explosão transformaria as águas em vapor. Em outras
palavras, as águas do oceano poderiam se desintegrar,
assim como a rocha do deserto foi pulverizada finamente.
Retornando a natureza a seu calmo equilíbrio, os
elementos deslocados pelo impacto eventualmente se
recomporiam na atmosfera. Cairiam chuvas torrenciais, e
finalmente as águas voltariam ao mar. Haveria uma
diferença, porém. Uma enorme cratera existiria então no
fundo do mar, onde antes não havia nenhuma. As águas
reenche-riam o buraco. O enchimento da cratera resultaria
uma maré aspirante submarina. O efeito desta sucção em
massas emersas seria uma série de ondas de choque, ou
terremotos, antes da inundação.
A astrogeologia e a meteorologia são dois novos ramos da
ciência, a primeira tendo nascido no último quarto de
século, a segunda tendo apenas século e meio. Poderão
um dia correlacionar-se com a arqueologia, para escrever
toda a história do homem antigo e moderno.
Atualmente, o meteoro que abriu a cratera do deserto do
Arizona ainda não foi achado, a despeito de quase 30 anos
de esforço por Barringer, cujas escavações meramente
trouxeram grandes detritos à superfície, do interior da
cratera. Muito embora não seja parte do Serviço Nacional
de Parques dos Estados Unidos, a Cratera do Meteoro foi
designada como referência natural por este serviço, em
1967. Em 1971, a designação foi mudada para Referência
Natural Nacional. A Companhia da Cratera Barringer
arrendou os direitos de turismo da cratera a "Meteor Crater
Enterprises, Inc.", corporação formada por acionistas do
"Bar T Bar Ranch, Inc.", cujas terras cercam a cratera. A
data deste arrendamento expira em 2.157. Um museu,
bem como um local para estudos científicos estão situados
à borda do maior laboratório natural do mundo. Dentre os
que se valem das instalações estão grupos tão diversos
quanto escolares fazendo turismo e os cientistas da NASA.
Hodiernamente, as duas hipóteses sobre a Grande Cratera
são:
(1) Sua estrutura cristalina indica que muitos dos meteoros
na chuva de há 20.000 anos podem ser parte de um
planeta desintegrado, que já deve ter estado na órbita
entre Marte e Júpiter.
(2) A maioria das autoridades acreditam que o meteoro
que formou a Grande Cratera veio do norte.
Há uma certa discordância quanto ao tamanho real do
meteoro perdido. Ernst Opik, do Observatório Armagh,
Irlanda, calculou que a cratera foi causada pela queda, a
cerca de 12 milhas por segundo, de um corpo de
aproximadamente dois milhões de toneladas,
assemeIhando-se a uma esfera de ferro, de
aproximadamente 78 metros de diâmetro.
O deserto do Arizona está do outro lado do mundo, em
relação a qualquer suposto local da Atlântida. As
correlações entre um cataclisma no sudoeste americano e
a destruição de uma civilização do Mar Egeu são indiretas.
Há, não obstante, um elo distinto entre o grupo de crateras
de Odessa e a Grande Cratera do Meteoro, assim como o
há entre os dois locais das crateras e o local desconhecido
da Atlântida submersa. A correlação é: deslocamento.
Onde há uma cratera, há também evidência de matéria,
que foi deslocada, no estado sólido, líquido ou gasoso. As
crateras dão, pois, pistas para a questão crucial: para onde
foram nossas civilizações perdidas?
Desde 1970, foram registrados apenas 22 casos
autenticados de meteoros que atingiram e/ou danificaram
edifícios. O Dr. Lincoln La Paz do Departamento de
Matemática e Astronomia e o Instituto de Meteoros da
Universidade do Novo México calcularam, em 1951, que
talvez uma pessoa em três seriam atingidas por um
meteoro, neste século. Alguns dias após terem feito esta
afirmação, num encontro patrocinado conjuntamente pela
Escola de Medicina Aeronáutica da Força Aérea Norte-
americana e a Fundação Lovelace para Educação e
Pesquisa Médica, em San Antônio, no Texas, um meteoro
penetrou o teto de uma casa de Sylacuga, no Alabama. A
Sra. E. Hulitt Hodges foi atingida enquanto estava deitada,
sob dois cobertores. A pedra, que ricocheteou nas paredes,
atingindo seu quadril, pesava 4,5 kg.
Um fragmento menor da pedra meteorítica que atingiu a
Sra. Hodges caiu a várias milhas de distância, na fazenda
de J. K. McKinney. De novo, separação de meteoros numa
só precipitação — em pequena escala.
Não há evidência conhecida que refute a teoria de que um
grande meteoro, ou chuva de meteoros, possa ter caído na
Terra, resultando na extinção de uma grande população e
do local onde viviam. As crateras do Arizona e de Odessa
são testemunhos de que algo caiu, com um grande
impacto, vindo de algum lugar. Se outros meteoros caíram
da mesma chuva, em diferentes partes do planeta, a
Atlântida pode muito bem ter sido um dos alvos. Em algum
lugar sob a superfície do mar, pode existir não só uma
civilização submersa, mas uma ou mais crateras que
deslocaram uma cultura que se tornou lenda nas marolas
da imaginação humana.
A Grande Cratera do Meteoro do Arizona é a primeira
cratera meteorítica provada. Oferece à humanidade uma
oportunidade de estudar e correlacionar os efeitos de
deslocamento que uma tal catástrofe natural pode ter tido
em toda a superfície da Terra, e sobre seus habitantes. O
impacto que criou a Grande Cratera do Meteoro deve ter
aniquilado toda a fauna e a flora num raio de 100 milhas.
Um tal meteoro teria tido efeito análogo na vida animal e
vegetal, se atingisse o oceano com a mesma força?
A superfície de nosso planeta é 70% água. Talvez as
respostas à teoria da cratera estejam sob o mar. Se for
válida quanto ao desaparecimento da Atlântida, uma
cratera vulcânica, ou meteorítica, guarda a chave para
entender como e por que a Atlântida desapareceu. À
superfície, os efeitos de uma erupção vulcânica das
entranhas da Terra, e um chamejante meteoro
atravessando a atmosfera e explodindo, seriam similares: a
terra tremeria, as águas ferveriam e cairiam chuvas
torrenciais. Próximo alvo, portanto: pesquisa de crateras
submarinas.

Capítulo 10
DA ATLÂNTIDA AO HAVAÍ

Os havaianos há muito acreditam que quando Deus ou os


deuses retiram parte da superfície da Terra, uma
substituição de uma quantidade análoga de substância ou
forma é feita em algum ponto da superfície do planeta. Um
descendente atual dos Kahuna, da casta sacerdotal da ilha,
que se intitula simplesmente Doutor Karl, assim explica a
teoria:
"Assim como a ciência moderna sabe que a água desloca
seu próprio peso, a matéria também desloca seu próprio
peso. Se você tem uma banheira cheia d'água, e pega um
balde, retirando metade da água de um extremo dessa
banheira, você não tem um buraco, onde retirou a água. Ao
invés disto, a água corre para encher o buraco criado pela
remoção dela.
Quando os havaianos que seguem a velha religião falam
dos espíritos, freqüentemente referem-se a leis naturais
assim como a da água. A Divina Inteligência está em tudo o
que é Criado. Isto vale para a água, as rochas, o vento ou
seres vivos, encarnados ou não. Os espíritos de que
falamos podem ser mais bem compreendidos se se sabe
que 'espírito' refere-se àquela inteligência inata, o 'algo'
que faz a água deslocar seu próprio
peso. Profissionalmente, o Doutor Karl é motorista de um
ônibus de turismo, na ilha do Havaí, conhecida como "ilha
grande". Tomou o nome de Karl pouco depois que o
território havaiano tornou-se um dos Estados dos Estados
Unidos. "Karl é um nome haole (estrangeiro)", diz ele. "O
pessoal do continente, principalmente os brancos, pode
identificar-se mais facilmente como um nome assim como
Karl do que com um longo nome havaiano, de muitas
sílabas. O homem ou a mulher sábios sabem que é mais
fácil viver com as pessoas, quando se fala a língua delas. O
inglês é a principal língua nas ilhas havaianas, de modo
que tomei um nome inglês de fachada.
A razão para tanto conflito entre ciência, religião e política,
e outras expressões superficiais da verdade está no fato de
as pessoas falarem tantas línguas diferentes. Nós,
havaianos, atribuímos a erupção vulcânica, por exemplo, à
deusa Pele, ou Madame Pele. Os cientistas ocidentais têm
outras explanações mais científicas.
Permanece, porém, o fato de que uma erupção vulcânica
ainda é uma erupção vulcânica, qualquer que seja a
explicação humana. Quando um vulcão explode, algo se
move. Se algo é movido, como no caso da lava, então
aquela matéria deslocada é substituída por ar, água ou
outra matéria que se move em algum lugar.
Os elementos que se movem podem ser físicos, líquidos ou
gasosos, em sua natureza, mas o motor primeiro não-
identificável é espiritual — ou inteligente — em natureza.
O Doutor Karl é um escatólogo. "Eu estudo o livro da vida e
tento ajudar os outros a compreendê-lo", diz ele. Dirigir um
ônibus de turismo lhe dá a subsistência; seu trabalho mais
espiritual é gratuito. Quando os homens brancos vieram às
ilhas havaianas e converteram nosso povo ao cristianismo,
nossa velha religião não morreu. Meramente tornou-se
subterrânea.
Antes de os telefones, rádios ou televisores serem
inventados, usávamos uma forma simples de comunicação,
de ilha para ilha, hoje conhecida como Percepção Extra-
Sensorial. Enviávamos e recebíamos pensamentos, às
vezes a centenas de milhas de distância. Como poderíamos
ter-nos comunicado de ilha para ilha? A capacidade
telepática para comunicação é natural. A pessoa que pode
se comunicar com seus semelhantes através deste método
pode também se comunicar com os "espíritos'' dos seres
inteligentes não-encarnados. Assim o povo havaiano
estava, e muitos ainda estão, muito sintonizados com a
natureza.
Através desta capacidade de sintonizar com a natureza, o
homem é capaz de predizer cataclismas que se
aproximam. É realmente muito simples. O homem recebe
as vibrações muito antes que uma manifestação real
ocorra para causar uma perturbação vulcânica, ou um
maremoto. Se o homem está preparado, pode tomar
medidas para evitar ser atingido. Não soube de ninguém,
em minha vida, que foi ferido ou morto por erupções
vulcânicas, mesmo com a Ilha Grande sendo o maior
pedaço de terra que está nascendo hoje, na face da Terra.
O Doutor Karl diz que o povo havaiano pode ter vindo
originalmente do submerso continente da Atlântida, ou de
sua contra-parte lendária do Oceano Pacífico, Lemúria ou
Mu.
Nossa origem não é documentada. Há evidência de que o
povo havaiano descende de povos polinésios mais
meridionais. A lenda havaiana diz que pequenos grupos de
sobreviventes de um cataclisma que ocorreu há milhares
de anos, vagaram em barcos pelos mares. Há uma história
que diz que um coco caiu Uma vez no mar e vagou para o
norte, e uma grande onda arrastou-o para uma ilha. O coco
criou raízes e virou uma árvore. Deixou cair seu fruto no
mar, e mais cocos foram levados para outros litorais.
Eventualmente, havia coqueiros em todas as ilhas vizinhas,
e quando os primeiros havaianos chegaram de barco, havia
comida para eles. Como os cocos, estes primeiros povos
plantaram sua raízes nas ilhas. Muitos deles ficaram,
enquanto que outros grupos vagaram mais para o norte e
povoaram as ilhas agora conhecidas como Filipinas e
Guam, e mesmo o Japão.
A teoria racial havaiana difere da teoria científica da
povoação das Américas. Esta idéia sustenta que grupos de
pessoas cruzaram o Estreito de Behring e foram para o sul,
cruzando o atual Alasca, Canadá, e América do Norte, e
eventualmente foram para o sul, para as Américas Central
e do Sul. Muitos dos objetos de arte e características físicas
dos índios sul-americanos assemelham-se aos do antigo
povo havaiano.
De acordo com a teoria proposta pelo Doutor Karl, um
cataclisma ocorreu no Hemisfério Sul, que deslocou
porções de uma civilização agora extinta. Estes
sobreviventes viajaram para o norte, de barco,
eventualmente chegando mesmo ao Japão. Outros podem
ter navegado rumo a leste, ou oeste, alojando-se em
algumas ilhas mais ao sul, como Samoa ou Ilha da Páscoa,
fazendo seu habitat, as regiões da América do Sul ou
Central.
"Não falo por todo o povo havaiano", alega o Doutor Karl.
"Mas falo do sentimento e da crença daqueles que mantêm
contato com a velha religião.”
Ele diz que enquanto que os havaianos podem ter parecido
não-civilizados e pagãos para os primeiros colonizadores e
missionários cristãos, "de fato, possuímos uma nítida
consciência de que um dia os havaianos poderão desalojar
os brancos".
Este conhecimento não é meramente intuitivo, uma
especulação insubstancial. Baseia-se na compreensão do
princípio do deslocamento — que pode ter causado o
deslocamento dos habitantes atlantes ou lemurianos,
resultando na mistura destes povos com habitantes de
muitas ilhas do Pacífico, mistura que causou as diferenças
de características físicas entre os diferentes grupos de
ilhas. Como diz o Doutor Karl: "Como a Grande Ilha está
nascendo através de uma erupção vulcânica, algo, algures,
está sendo deslocado. Acreditamos que evidências deste
deslocamento possam ser encontradas ao longo do litoral
do continente norte-americano. Porções do litoral estão
afundando lentamente. Enquanto isto acontece, ejeções
esporádicas de lava estão lentamente construindo a Ilha
Grande.”
O Doutor Karl prediz que "se vier o dia em que a Ilha
Grande explodir numa explosão cataclísmica — similar
àquela que pode ter destruído a Atlântida — porções dos
Estados Unidos afundarão. A costa oeste, particularmente a
Califórnia, onde um afundamento notável da costa de fato
ocorre, é a primeira candidata para este deslocamento. O
afundamento poderia ocorrer de uma ou duas maneiras:
por maremotos causados por matéria quente derretida,
despejada no Oceano Pacífico e causando perturbações na
superfície; ou por sucção submarina, quando as águas
afluírem ao buraco aberto no solo submarino e a matéria
quente derretida for cuspida pela abertura vulcânica.
Então, a água encheria o buraco. Isto criaria uma ação sob
a superfície, cujo efeito poderia arrastar porções do litoral
para o mar. Quando as águas se acalmassem, haveria um
novo litoral.
"Nós, havaianos, que temos consciência do funcionamento
da natureza pelos deslocamentos, também sabemos que
nossos serviços podem ser necessários para os
sobreviventes de uma tal catástrofe. Talvez chegará o
tempo em que precisaremos navegar rumo ao homem
branco, em nossos barcos, assim como o capitão Cook uma
vez navegou para as nossas ilhas, entregando uma
mensagem de verdade. Isto, claro, dependerá do que
acontecer aqui.”
"Aqui" refere-se à ilha de Havaí, que pode ser percorrida de
carro em menos de um dia. Um visitante pode passar pela
costa, de carro, com gasolina bastante para cobrir seu total
de 300 milhas. Mas este pequenino pedaço de terra do
Oceano Pacífico está crescendo.
O turismo também está expandindo, à medida que os
habitantes do continente superam seu medo de explosões
vulcânicas e acorrem, todo ano, a esta ilhota. Muitos
americanos, antes com medo de possuírem terras na ilha
de Havaí, compraram virtualmente todos os locais
disponíveis. Nem toda a terra da Ilha Grande é habitável,
porém. Dois vulcões ativos impedem que os colonizadores
ocupem terras mais altas da ilha.
Em 1916, o congresso norte-americano criou um parque
nacional ia ilha de Havaí. Este parque nacional, sob
bandeira norte-americana, consistia de um lindo e plácido
lugar de recifes coralinos, palmeiras tropicais, abundantes
flores, abacaxis, terremotos e vulcões.
O Mauna Loa, com 4.104 metros de altura, é por vezes
chamado "o maior de todos os vulcões ativos". Em torno de
seu pico, uma nuvem vaporosa, um testemunho cinzento,
crescente, do fato de que a tecnologia humana não foi
capaz de trazer a luz do Sol ao topo desta montanha, nem
suprimir as forças naturais da Criação.
O vulcão Kilauea, conhecido por seu "lago de fogo", tem
por volta de 1.200 metros de altura. Diversamente do
Mauna Loa, que está em erupção, o Kilauea é comparado a
um pote de lava. Os havaianos chamam a este vulcão
Halemaumau, que significa "a casa do fogo sempiterno".
Os ônibus de turismo chegam à borda do vulcão Kilauea
diariamente. Os turistas mais ousados podem olhar pelas
aberturas da terra e receber lufadas de vapor, saunas para
o rosto e pescoço.
O visitante destes lugares sente algo tão estranho quanto
os astronautas quando pisaram pela primeira vez a
superfície da Lua. O terreno é notavelmente plano,
estendendo-se por centenas de metros. A ausência de
vegetação, tão evidente na encosta, mais abaixo, cria a
ilusão de estarmos em território virgem, porém morto.
Tudo tem uma cor marrom-acizentada.
A aparência da superfície do vulcão é similar à da Grande
Cratera do Meteoro, no Arizona — um vasto buraco
redondo, escavado, com um chão plano que se estende
sob muros circulares, que se erguem para encontrar o céu.
Passeios são continuamente abertos em zonas "seguras". A
aparição imprevisível de novos cones de cinzas sob e à
volta da cratera são prova de que esta zona vulcânica,
quieta e plácida, não é tão segura quanto aparenta. A
superfície de hoje pode ser mudada amanhã. Ao olhar o
vulcão, os visitantes observam que assim ficaria a
superfície da Terra após um holocausto nuclear. A maioria
dos turistas ficam contentes ao afastar-se do lugar.
Nem mesmo o nativo telepaticamente mais astuto pode
oferecer explicação. "Vivemos filosoficamente", diz o
Doutor Karl. "Hilo, nossa principal cidade na Ilha Grande, foi
praticamente varrida por um maremoto. Subimos as
colinas, quando a água veio. Quando o vulcão entra em
erupção, cuspindo fogo para o céu, avaliamos a direção em
que a lava escorrerá, e descemos as colinas, para evitá-la.
"Se algum dia a ilha explodir, ao invés de crescer, alguns
de nós escaparão de avião. Outros poderão ir de barco. O
resto? Provavelmente afundaremos, como a lenda diz que
aconteceu há milhares de anos na Atlântida. Desta vez,
porém, se uma civilização é deslocada por outra, há
evidência científica suficiente para provar ao homem que
as civilizações perdidas que afundaram não são apenas
histórias.”
"Talvez custe uma grande tragédia fazer com que o
homem perceba que a natureza desloca nações, e mesmo
os homens que vivem nelas. Seu profeta haole, Edgar
Cayce, disse que quando os terremotos atingirem o Japão e
as erupções vulcânicas, o Havaí, o litoral da Califórnia
poderá desaparecer. Ele também falou da vida na antiga
Atlântida. A questão não é tanto: 'quando isso
acontecerá?', mas: 'você está preparado para quando
acontecer?' Quando a natureza explode, o homem tem
pouca escolha, exceto acompanhar os fenômenos,
sobrevivendo da melhor maneira que pode.
"Sempre que você encontrar uma cratera, você tem uma
evidência de que um deslocamento ocorreu em algum
outro lugar. Talvez a Atlântida tenha afundado quando as
ilhas havaianas nasciam. A água é o grande meio que
equilibra as alterações da superfície da Terra. A distância
em milhas não afeta a ação desta lei natural. Se todo um
continente, como a Atlântida, afundou, algo mais teve de
erguer-se. A Terra é um pequenino planeta unitário, um
corpo no espaço. A distância, como o homem a mede, é
infinitesimal, comparada à vastidão de todo o espaço. Se a
ilha do Havaí explodisse e toneladas de lava saíssem do
interior da Terra, e a Califórnia afundasse, isso seria uma
alteração física mínima — um equilíbrio — no infinito.
"Para cada montanha há uma ilha afundada em potencial,
ou continente. A compreensão deste princípio de
deslocamento facilita aceitar a crença de que de fato a
Atlântida foi um lugar bem real, e que o povo havaiano de
hoje pode ter sido, uma vez, sobrevivente daquela
civilização. Não é improvável. Parece verossímil. Viemos de
algum lugar. A questão é, de onde?”

Capítulo 11
PARALELOS VULCÂNICOS

O que atingiu a Atlântida? A lista de calamidades


hipotéticas poderia continuar, infinitamente, mas o
desastre natural mais comum neste planeta — com efeitos
tais como os descritos por Platão — é a erupção vulcânica.
O vulcanismo é parte integral do processo geológico que
forma a crosta da Terra, o soerguimento e o abaixamento
de cordilheiras, e a abertura de grandes fendas. De fato,
por causa da natureza sempre mutável da superfície da
Terra, provavelmente não há parte do mundo que em
alguma data passada não tenha sido cenário de atividade
vulcânica. Como evidência disto, a maioria dos quinhentos
vulcões (aproximadamente) ainda em atividade hoje estão
num cinturão que circunda o Oceano Pacífico e coincide
geralmente com regiões de montanhas recentes. Há
também bolsões de vulcões na Islândia, Açores,
Mediterrâneo e sudeste da África.
Há muitos tipos de vulcões. Alguns são enormes
montanhas, de milhares de metros de altura, cobertos de
neve; alguns são meras fissuras em formações rochosas;
outros (provavelmente muito mais do que os que
conhecemos) estão ocultos sob o mar. Os vulcões são
geralmente classificados pelo tipo de erupção, tanto
quanto pela força da explosão e volume de material
ejetado. Um tipo distinto, o havaiano, é caracterizado por
fontes de lava que jorram do topo ou do lado do vulcão e
fluem para as áreas mais baixas, adjacentes. Outro tipo,
igual ao do Stromboli, ritmicamente ejeta cinza
incandescente, ao passo que o Peleano apresenta a
formação de domos e avalanches incandescentes de
matéria e gás. Há outras variantes.
Independentemente do tipo, os vulcões sempre inspiraram
e terrificaram a humanidade. Sua capacidade destrutiva é
temível: um fluxo de lava, se bem que avance muito
devagar, engolfa e incinera tudo em seu caminho. Flui
sobre neve ou gelo, gerando também inundações de lama
que engolfam campos e cidades. Uma pesada precipitação
de cinzas destrói toda a vegetação num raio de muitas
milhas do vulcão. Destrói os animais, em parte de fome, e
em parte obstruindo seus aparelhos digestivos. Pode
causar irritação respiratória nas pessoas e animais e
indiretamente, uma ampla faixa de outras desordens. Uma
avalanche em brasa, como é a lava, varre tudo em seu
caminho. Os gases vulcânicos podem matar ou afetar
adversamente as pessoas, animais e vegetais. Uma
erupção vulcânica, particularmente se acompanhada de
terremoto ou maremoto — como é freqüentemente o caso
— pode simplesmente dizimar quilômetros de toda uma
região, e os sons e as imagens de tal espetáculo abalam a
imaginação.
Se presumimos que o prof. Marinatos e outros estão certos
na teoria de que a Atlântida era Creta, destruída em 1.500
a.C. pela erupção de Thera, podemos, em certo grau,
reconstruir o que aconteceu. A cratera pré-histórica
encontrada no oceano e circundando o que é agora o
Santorini tem 32 milhas quadradas. Seu tamanho eleva a
cratera à classificação de caldeira, uma formação
associada a uma erupção Pliniana.
Este tipo de erupção começa assim: fracas explosões de
pomes e cinzas do cone (vértice). O pomes e as cinzas são
lançados em alto-mar e cobrem as áreas circunjacentes.
Neste ponto, o magma (a matéria vulcânica), que estava
alto no conduto que vai até o cone do vulcão, começa a
retroagir. As explosões aumentam sua violência, e o
magma desce ainda mais pelo conduto até a principal
câmara vulcânica, no subsolo. As explosões culminantes
lançam mais pomes e cinzas para o ar, e avalanches ígneas
e/ou fluxos de cinzas podem ocorrer e ser mais volumosas
que os detritos já no ar, se bem que não sejam assim.
Agora, o nível de magma está baixo na câmara. As paredes
do cone, enfraquecidas pelas explosões e sem o suporte do
magma, esboroam-se sobre a câmara. O vulcão parece
agora como se tivesse sido decapitado. Em lugar do cone e
cratera anteriores, há uma enorme caldeira.
Eventualmente, novos cones podem crescer no chão da
caldeira.
Este tipo de vulcão recebeu um nome derivado de Plínio, o
Velho, famoso naturalista romano que morreu na erupção
do Vesúvio, em 79 d.C., mas foi Plínio, o Jovem, seu
sobrinho, quem registrou o evento para a posteridade. Pelo
relato de Plínio, o Jovem, na forma de cartas ao historiador
Tácito, combinadas com estudos geológicos posteriores,
podemos deduzir o que aconteceu quando o Vesúvio
explodiu.
Começou em 63 d.C. com o primeiro de uma série de
terremotos que, ao longo dos anos seguintes, causou
grandes danos às cidades perto do sopé da montanha. Os
romanos, porém, não reconheceram nisto o começo de um
ciclo eruptivo (o vulcão estivera adormecido por milhares
de anos, provavelmente), e ficaram surpresos quando uma
nuvem apareceu na montanha a 24 de agosto de 79.
Cinzas claras e pomes começaram a cair. Plínio, o Velho,
que então era o almirante, em comando de uma frota,
levou suas galeras através da baía de Nápoles rumo à
montanha, onde ele poderia observar melhor a erupção e
também salvar algumas pessoas. A costa havia subido
vários metros, de modo que ele não podia atracar, então
levou seus navios para o sul, para Stábia, onde pensava
passar a noite. Durante a noite, ele e seus companheiros
acharam melhor fugir, e, amarrando almofadas na cabeça,
para se protegerem das rochas que caíam, correram para o
campo. Durante a fuga, Plínio, que era muito gordo,
morreu, aparentemente, de um ataque do coração.
Entrementes, Plínio, o Jovem, que estava nas vizinhanças
de Micena, estava sob a mesma pesada precipitação de
cinzas e pomes, numa escuridão impenetrável, terremotos
e terríveis flutuações na linha da costa.
Afinal, as ejeções de cinzas e pomes do Vesúvio
enterraram Pompéia e Stábia. Com a regressão do magma
e a ocorrência de novas explosões, o cone da montanha
caiu sobre si mesmo três vezes, e a lava escapou por uma
abertura ao norte. Uma chuva pesada começou a cair e
saturou cinza e pomes no oeste, criando as inundações de
lama que enterraram Herculano. Finalmente, abalada pelas
explosões e sem suporte, a parte superior da montanha
caiu pela última vez, de modo que tudo o que restou de
sua elevação original de 1.800 metros foi uma enorme
caldeira. O Vesúvio ficou adormecido então por quase um
século, mas novas erupções, menores, construíram, desde
então, um novo cone. O atual monte Vesúvio está nos
restos do antigo, conhecido como Monte Soma.
Mais espetacular foi a erupção do atual Monte Mazama, na
Cordilheira Cascade, no Estado do Oregon (EUA). Tal como
outros vulcões da região, o Mazama esteve ativo durante e
logo depois do Período Glacial. Pelo tamanho das
depressões deixadas pelas geleiras às margens da caldeira
atual, os geólogos avaliam a altura original da montanha
como sendo de cerca de 4.600 metros.
As primeiras explosões da erupção que formou a caldeira,
ouvidas apenas por índios pré-históricos, indubitavelmente
eram do tipo pliniano usual. Deve ter havido um terremoto
e então sobre o topo, a aparição de vapor branco. Em
umas poucas horas, aumentando o volume de cinzas, o
vapor teria se transformado numa coluna negra, e com o
passar dos dias, o rumor da montanha aumentou e o
tamanho dos fragmentos cadentes, também. Chuveiros de
cinza fina caíram a centenas de quilômetros de distância, a
leste e nordeste do vulcão. Quando as erupções
preliminares acabaram, os geólogos confirmaram que
havia um manto de cinzas cobrindo milhares de milhas
quadradas. Sobre a montanha, a pomes tinha mais de 15
metros de profundidade, e ainda a 113 quilômetros, tinha
15 centímetros de profundidade. Provavelmente, seguiu-se
um período de alarmante quietude. Mas, mais uma
baforada de vapor deve ter assinalado as catastróficas
explosões finais. A baforada teria crescido numa imensa
nuvem. Então, um ensurdecedor rugido, e a nuvem teria
irrompido pelos lados da montanha a velocidades de até
160 quilômetros por hora. Sob a nuvem, oculta a distância,
uma avalanche de cinza e pomes em brasa, que calcinou a
terra num raio de 56 quilômetros. A terra tremeu; houve
um bramido tumultuado; e então, silêncio. Em poucos dias,
os ventos dissiparam as nuvens e desvelaram o que
restara da que fora a montanha coberta de neve: uma
caldeira de oito a nove quilômetros de diâmetro, e 120
metros de profundidade. Setenta mil metros cúbicos da
montanha haviam desaparecido pela câmara abaixo.
Não podemos saber quanto tempo o vulcão dormiu depois
disto, mas séculos depois um pequeno cone de cinzas
formou-se na caldeira. Pela idade das árvores mais velhas
no cone atual, as últimas erupções da caldeira ocorreram
há não mais de mil anos. Formou-se um lago. A caldeira
agora é conhecida como Lago da Cratera, e o cone como
Ilha do Feiticeiro (Wizard Island). A área, uma das
maravilhas cênicas dos Estados Unidos, é um parque
nacional visitado anualmente por milhares de pessoas.
Os dois casos precedentes são perfeitos exemplos de
erupções com formação de caldeira. Entretanto, a erupção
da ilha indonésia de Cracatoa, em 1883, quase igualou a
de Thera e possivelmente, Creta. A erupção do Cracatoa foi
a mais dramática e bem documentada do mundo.
Cracatoa, como Thera, é uma ilha vulcânica. Antes da
erupção em 1883, a parte visível do vulcão consistia de
três ilhotas: Cracatoa, Verlaten e Lang. Estas eram
projeções ao longo da borda de uma caldeira pré-histórica,
no solo oceânico. A maior, a ilha de Cracatoa, consistia de
três cones superpostos: o mais velho, e maior, era o
Racata; Danan e Perbuvatã eram sucessivamente mais
jovens e menores. A última atividade havia sido a do
Perbuvatã, 200 anos antes.
A 20 de maio, o vulcão retornou à atividade, de novo com
explosões moderadas do Perbuvatã. Os habitantes
tomaram o evento tão superficialmente que uma semana
depois, quando as erupções abrandaram um pouco, um
barco a vapor foi alugado para visitar a ilha de Cracatoa
(que era desabitada). Os visitantes encontraram uma
coluna de vapor subindo por uma abertura de cerca de
trinta metros de largura, e uma fina camada de cinzas que
matara toda a vegetação da ilha.
Não houve mais atividade até 19 de junho, quando as
explosões recomeçaram. Poucos dias depois, ocorreu uma
segunda abertura, em Danan. A 11 de agosto, da última
vez que a ilha foi visitada antes das erupções finais, um
grupo de observadores avistaram três chaminés, todas
com atividade moderada. Ninguém ficou alarmado. Até 25
de agosto, um jornal local dizia: "Tempo bom, sem
explosões extraordinárias ao cair da tarde”.
A 26 de agosto, à uma hora da tarde, a primeira de uma
série de tremendas explosões ocorreu, e uma nuvem de
cinzas negras ergueu-se acima do Cracatoa, a 28
quilômetros de altura. Observadores a bordo de um navio,
o Charles Bal, disseram que as nuvens a leste pareciam as
de uma furiosa tempestade marinha. Às 5 da tarde,
ocorreu o primeiro desabamento da caldeira, e o choque
sísmico criou uma tsunami que varreu as enseadas e o
litoral de Java e Sumatra, nas proximidades. Os navios na
área informaram perturbações no mar, mas não percebiam
o que estava acontecendo. Os habitantes da região, que se
acostumaram durante semanas ao ruído do Cracatoa,
ainda não estavam inquietos.
As coisas pioraram durante a noite. O ruído era constante.
Ninguém a oeste de Java conseguia dormir, e as explosões
foram ouvidas em Batávia, 160 quilômetros de distância.
Havia severas ondas de choque, mas sem terremotos. A
tripulação do Charles Bal, ancorado a 18 quilômetros a
sudeste do Cracatoa, teve uma noite inquieta. De acordo
com o diário de bordo, "... cadeias de fogo pareciam subir e
descer entre o céu e a ilha, ao passo que no extremo
sudoeste parecia haver um rolar contínuo de bolas de fogo
branco; o vento, muito embora forte, era quente e
sufocante, sulfúreo, com um odor como o de cinzas
quentes, pedaços caindo sobre nós como ferro em brasa, e
a sonda, com uma profundidade de 30 braças, voltava
bastante quente. Da meia-noite às 4 horas da manhã (dia
27), vento forte, mas inconstante, entre sul-sudoeste e
oeste-sudoeste, a escuridão impenetrável continuando, o
rugido do Cracatoa menos contínuo, mas com som mais
explosivo, o céu, em momentos, intensamente negro, em
outros, em chamas; a gávea e o laís destacavam-se com o
santelmo, e uma chama rosada peculiar vinha das nuvens,
parecendo tocar as gáveas e os laíses".
Entre 4 e 7 da manhã de 27 de agosto, várias tsunamis
espalharam-se do Cracatoa, provavelmente devido a
desmoronamentos adicionais da caldeira. Mas o pior ainda
estava para vir. Às 10 da manhã, houve uma detonação
que foi ouvida a 5.000 quilômetros de distância pela Gurda
Costeira da ilha Rodríguez. Meia hora mais tarde, houve
uma onda de 36 metros de altura que varreu o litoral de
Java e Sumatra, destruindo 295 cidades e matando 36 000
pessoas. A chuva de lama e cinzas desta explosão, a mais
violenta, continuou durante horas. Alguns navios foram
carregados vários quilômetros terra adentro; outros foram
impedidos de navegar naquele mar de pomes flutuante.
Um sobrevivente do tsunami disse: "... Ouvi um grito — 'A
água vem vindo!'. Olhando à volta, vi uma onda enorme à
qual não pude escapar; fui erguido do chão, mas agarrei-
me a uma árvore. Então, notei várias ondas, que seguiam a
primeira; o lugar onde antes estivera Anjer estava coberto
por um mar turbulento, do qual ainda algumas árvores e
telhados se projetavam. Depois que a onda passou, deixei
a árvore e achei-me em meio à devastação.”
A nuvem de cinzas resultantes da explosão subiu 80
quilômetros pelo ar e escureceu regiões até 443
quilômetros de distância. A poeira espalhou-se pela alta
atmosfera e foi levada à volta da Terra várias vezes, pelas
correntes de vento. Os raios de Sol que atingiram a
superfície da Terra durante o ano seguinte foram de 87%
do normal, e o brilho resultante, antes do nascer do Sol e
do ocaso, atraíram a atenção de todo o mundo, por meses.
(A 30 de outubro de 1883, cidadãos alarmados chamaram
os bombeiros em Poughkeepsie, Nova Iorque, e em New
Haven, Connecticut (EUA)!)
Seguiram-se explosões intermitentes, mais suaves, e
ondas, mas no meio da manhã de 28 de agosto, a erupção
tinha passado. Faltavam dois terços do Cracatoa:
Perbuvatfi e Danan tinham desaparecido, e Racata estava
cortada pela metade. O que restou foi uma caldeira com
duas bacias, aproximadamente a 270 metros abaixo
do nível do mar e a 8 quilômetros de diâmetro. Acima do
nível do mar, o que restou do Racata e duas pequenas
novas ilhas, projeções da borda dá nova caldeira.
O Cracatoa ficou quieto por mais de meio século. Em 1927,
pescadores descobriram bolhas de gás e, à noite, um brilho
rubro na área a meio caminho entre a antiga região de
Danan e Perbuvatã. No ano seguinte, apareceu uma ilha,
desapareceu, tornando a aparecer várias vezes. Umas
poucas explosões tiveram lugar, mas a nova chaminé
permaneceu basicamente submersa até 1952. Nessa
época, emergiu um cone de cinza de 60 metros de altura,
que em 1959 se estendera com um novo cone dentro de
sua cratera. A ilha continua a crescer. É chamada Anac
Cracatoa — "Filha de Cracatoa".
O prof. Marinatos, James Mavor e Anton Galanopulus
compararam favoravelmente as erupções do Cracatoa e de
Thera. A caldeira em Thera é quase cinco vezes o tamanho
do Cracatoa e o resíduo de cinzas na área é supostamente
mais espesso e mais espalhado. Isto sugeriria uma
explosão mais violenta que a do Cracatoa, se bem que a
evidência seja inconclusiva. Sabe-se que o Cracatoa emitiu
mais potência que muitos outros cones maiores. Mas se a
grandeza da explosão de Thera foi, de fato, tão grande ou
maior que a do Cracatoa, e se as tsunamis resultantes
foram comparáveis, então o efeito da erupção sobre a
vizinha Creta, e de fato, sobre toda a área do Mediterrâneo,
teria sido devastador.

Capítulo 12
"ACREDITAMOS QUE ISTO FOI A ATLÂNTIDA!”

A descrição de Platão da localização da Atlântida "... a


oeste do estreito que chama as Colunas de Hércules..." foi
interpretada por alguns pesquisadores como sendo a oeste
do Estreito de Gibraltar, além das costas da Espanha e
norte da África. Um dos propositores mais fortes desta
teoria é a Dr.a Maxime Asher, educadora californiana e
pesquisadora psíquica, fundadora e diretora de uma
organização chamada Associação de Pesquisas do Antigo
Mediterrâneo (Ancient Mediterranean Reserch Association
— AMRA). Em 1973, a Dra. Asher chefiou uma expedição à
Espanha e tentou combinar a capacidade física e psíquica
de cientistas para descobrir o continente perdido. Sua
expedição ergueu um interesse público sem precedentes,
quando iniciada, e uma quantidade igual de criticismo por
seus resultados.
A Sra. Asher era uma professora primária quando, em
1960, decidiu voltar à Faculdade para um curso de verão
sobre História da Antigüidade. Enamorou-se tanto pelo
assunto que decidiu fazer um curso de mestrado em
História Antiga e Medieval. Sendo mulher empreendedora,
não tinha problemas para continuar a cuidar de seus três
filhos e escrever, em casa. Quando terminou o curso', foi
ensinar História numa pequena escola da Califórnia,
conservando ainda seu interesse no campo da Educação.
Apresentaram-se desafios. Sob seu ponto de vista, os
preconceitos sociais contra ela, enquanto mulher (loira, por
sinal), pesquisadora psíquica e educadora inovadora, foram
as causas de seus atritos com a oficialidade acadêmica.
Eventualmente, seu interesse pela antiguidade estreitou-se
nas civilizações anteriores aos impérios conhecidos, e ela
começou uma série de viagens em busca de cidades
soterradas. Sua pesquisa, que tinha sido um tanto difusa,
encontrou seu escopo quando ela deu com o livro:
Atlântida: A Verdade Atrás da Lenda, de Anghelos
Galanopulus; Maxine Asher ficou estupefata ao descobrir
que o que ela estivera procurando sempre fora a Atlântida.
Intuitivamente, porém, ela rejeitou a alegação de
Galanopulus que encontrara a Atlântida em Creta. Ela
achou que ele pode ter encontrado uma colônia atlante,
mas não a Atlântida, e tratou de começar suas próprias
investigações.
Leu muito sobre a Atlântida, e viajou muito, entrevistando
e fotografando, na Espanha, Ilhas Canárias, Irlanda e ilhas
gregas. Entrementes, tentou inscrever-se em vários
programas de doutoramento, na América do Norte, mas foi
recusada, pelas exigências de línguas. Sem se abalar,
engajou-se no sistema universitário espanhol e continuou a
procurar pistas da Atlântida.
Não lhe parecia coincidência que os mesmos padrões de
espirais concêntricas apareciam nos petróglifos dos
guanches, das ilhas Canárias, nas cavernas de New
Grange, Irlanda, e em muitas áreas do Mediterrâneo. Ela
percebeu que estas espirais poderiam representar a capital
da Atlântida, que Platão descrevera como circular. Por
intuição, ela fotografou algumas inscrições numa rocha em
Gibraltar. Estas inscrições foram depois identificadas por
um lingüista, o Dr. Cyrus Gordon, da Universidade de Nova
Iorque, como pertencentes a uma linguagem, mas
intraduzível. Adicionalmente, ela achou outras inscrições
intraduzíveis em rochas vulcânicas no sul da Espanha, com
notáveis semelhanças com inscrições dos Pireneus, e na
Irlanda. Por causa deste e de outros indícios, mas
principalmente por um forte palpite (a Sra. Asher não
exclui a possibilidade de que ela seja uma atlante
reencarnada), decidiu que o melhor lugar para procurar a
Atlântida seria nas águas a sudoeste da Espanha, perto de
Cádiz.
No verão de 1973, a Sra. Asher fundou a AMRA e recrutou
seu velho professor de História, Dr. Julian Nava, presidente
do "Los Angeles Board of Education", para servir como co-
diretor de uma expedição à Espanha. Ela planejava alistar
estudantes, professores, pesquisadores, expertos em
vários campos, bem como videntes, para ajudá-la na
procura. Incapaz de financiar o projeto sozinha (seu marido
é corretor de'ações), ela sugeriu que o Pepperdine College,
uma pequena escola de artes liberais de Los Angeles
adotasse a expedição como um curso de verão de seis
créditos. Um porta-voz da escola, porém, deixou bem claro
para a imprensa na época, que a escola não sustentava
necessariamente quaisquer teorias sobre a Atlântida,
mas endossava os métodos de investigação que a Sr.a
Asher e seu grupo empregariam.
Os planos da expedição impressionavam bem. A Sra. Asher
pensava levar consigo cerca de duzentos estudantes (a
US$ 1.995 cada) e um número não especificado de outras
pessoas interessadas (a US$ 3.000 cada). Mais verba viria
de doações e dos membros da AMRA. Numa entrevista com
Walt Murray, para o número de agosto de 1973 a revista
Probe, ela deu uma longa lista do pessoal de expedição:
Egerton Sykes, decano da tradição atlante, seria um dos
assessores. Brendan Doyle, fotógrafo-chefe do Museu da
Irlanda, daria aulas de fotografia. Bruce Rosendhal, do
Instituto Scripps, dirigiria os mergulhos. Mary Smith, do
arquivo das índias, em Sevilha, Espanha, tentaria coligir e
processar dados deixados por Cristóvão Colombo e outras
fontes européias. O Dr. John Hartley, professor de
lingüística no Colégio Azusa, traria uma grande coleção de
inscrições fenícias em "slides" fotográficos. O Dr. J. Manson
Valentine, que recentemente explorara as possibilidades
atlantes ao largo de Bimini, e Gail Cayce, neta do famoso
médium falecido, que traria consigo os volumosos arquivos
das "leituras" de Edgar Cayce sobre a Atlântida. Michael
Hughes e Jim Hart serviriam como médiuns da expedição. E
haveria numerosos outros psicólogos, geólogos,
arqueólogos e oceanógrafos americanos e europeus. Nava
e Asher, claro, seriam co-diretores, mas supervisionando
todas estas pessoas e seus talentos, estaria Bill Schell,
diretor do serviço audiovisual das Escolas LaMesa, e a Dra.
Rhoda Freeman, diretora da escola de Los Angeles.
Muito embora ela tenha sido cuidadosa na seleção de
pessoas bem treinadas para a expedição, a Sr.a Asher
insistiu que as credenciais não fossem prioritárias. Mais
importante, disse ela, eram "coração, alma, dedicação e o
desejo de fazer algo pelo mundo". Além do mais,
"vibrações negativas" eram estritamente proibidas — todos
deveriam pensar positivamente. E não haveria ostentação
de autoridade. Amadores e expertos trabalhariam juntos,
porque "independentemente de graus acadêmicos, somos
todos noviços nos problemas da Atlântida".
Além do pessoal e do equipamento especializado, o grupo
levaria toda uma biblioteca sobre a Atlântida, bem como
equipamento audiovisual e fotográfico. Iriam via Ibéria
("Existe a Atlântida? A Ibéria acha que sim" — propaganda
da companhia aérea), até Sevilha, e ficariam no luxuoso
Hotel Isecotal, em Cádiz, onde estabeleceriam uma rotina
diária. Havia módulos flexíveis de horário com
programações individuais... Pela manhã, os alunos teriam
pequenos grupos de discussão, sessões de laboratório,
conferências de especialistas assim como Sykes. À tarde,
mergulhos arqueológicos, aulas de joalheria, a partir de
modelos atlantes, aulas de espanhol. O plano era ficar por
seis semanas, e, acreditava a Dra. Asher, achariam restos
da Atlântida — ou pelo menos uma cidade enterrada.
Baseou suas idéias em pesquisas submarinas prévias que
conduziria com um mergulhador espanhol, Francisco
Salazar Casero.
A Dra. Asher deixou claro que obteve algumas de suas
evidências sobre a Atlântida através de percepção extra-
sensorial e que confiava em certas vibrações psíquicas
daquela região para ajudar a expedição. Foi esta ênfase em
conhecimento intuitivo, combinada com um método
científico, que provocou as críticas de muitos acadêmicos
norte-americanos. A Dra. Asher, porém, acostumada com
este tipo de críticas, respondeu apontando as descobertas
intuitivas de heróis arqueológicos do século XIX, como
Heinrich Schliemann, que descobriu Tróia e Micenas, e
Mareei Marcelino, que datou os desenhos das cavernas de
Altamira em 20.000 anos, muito antes de existirem os
meios físicos para esta datação. O assim chamado
"enfoque científico" para descobrir o passado, disse ela, foi
superenfatizado pelos arqueólogos do século XX.
O número de alunos que de fato foi na viagem — cerca de
quarenta e cinco — foi inferior ao antecipado. Havia
aproximadamente um número igual de leigos. A maioria,
mas não todos, do elenco de profissionais, estava presente.
Pesquisadores assim como o geógrafo Robert Seger e o
antropólogo Joseph Tomchak desistiram. O próprio Dr.
Nava, por causa de negócios pessoais nos Estados Unidos,
deixou o grupo logo após as primeiras sessões, mas apoiou
publicamente o projeto através de seu período difícil, na
Espanha.
Nunca foi esclarecido exatamente ao público o que
aconteceu quando o grupo chegou à Espanha. Os acordos
feitos antecipadamente entre Maxine Asher e funcionários
do governo espanhol, que sempre relutaram em admitir
escavadores estrangeiros em seu solo, ficaram de pé,
mesmo o grupo experimentando o que a Dra. Asher
denominou "extrema perseguição poi forças ocultas".
De acordo com a Dra. Asher, logo depois que a expedição
chegou a Cádiz, indivíduos dos governos espanhol e norte-
americano começaram a interferir nos movimentos do
grupo. As restrições tornavam-se cada dia mais
constrangedoras, até que finalmente os estudantes não
podiam nem mesmo nadar na praia à frente do Isecotal. A
esta altura, num ato desesperado, Asher, ainda de posse
da permissão oficial para mergulhar, enviou
mergulhadores, no meio da noite, a um ponto entre 20 e
22 quilômetros ao largo de Cádiz, onde ela, Paço Salazar e
Egerton Sykes acreditavam estar a Atlântida. Os
mergulhadores retornaram, no dia seguinte, com alguns
rolos de filme e descrições de uma cidade submarina.
Fizeram-se desenhos a partir de suas descrições (ao que
tudo indica, muito embora o filme tenha sido revelado no
hotel perante testemunhas, nada de conclusivo foi
depreendido do filme), e a Dra. Asher logo passou informes
à imprensa, em Gibraltar e Portugal (pois as comunicações
telefônicas na Espanha estavam muito más), dizendo que
haviam encontrado o que acreditavam ser a Atlântida, e
que isto poderia mostrar-se a "maior descoberta da história
do mundo".
Houve tempestades no mar nos dois dias seguintes, de
modo que os mergulhadores não puderam tirar fotografias
quando retornaram ao lugar. Houve também tempestades
de protestos do governo espanhol, que insistiu na cessação
imediata da exploração e num inquérito sobre os achados
da expedição. A Sra. Asher, o Dr. Sykes e três dos
mergulhadores foram intimados a comparecer perante a
corte naval espanhola.
A esta altura, outras pessoas estavam reagindo à notícia
publicada. Olga Villespin, uma arqueóloga associada à
expedição pelo Departamento Espanhol de Belas-artes,
disse aos repórteres: "Não creio que eles tenham achado
muito. Podem ter achado construções antigas, mas os
desenhos de seus achados não são convincentes." A Sra.
Villespin, no entanto, correu para o local depois que o
grupo da AMRA deixou a Espanha, persuadindo Paço
Salazar a mostrar-lhe a cidade submarina. Concepción
Blanco, arqueóloga e curadora do Museu Arqueológico de
Cádiz, disse: "O grupo forneceu desenhos de fragmentos
de ânforas e colunas, mas que parecem ser da era púnica,
do século III a.C. e já vimos muito disso por aqui." César
Peman, outro arqueólogo de Cádiz, disse: "É difícil aceitar
estas alegações seriamente... Eles podem ter achado
alguns interessantes restos romanos, mas isto não é muito
surpreendente num velho porto, como Cádiz." Os jornais
norte-americanos divulgaram a história, os pais dos
estudantes envolveram-se e os funcionários da escola
Pepperdine ficaram ansiosos. Os próprios estudantes,
impossibilitados de mergulhar, ou deslocarem-se
livremente, ficaram descontentes. Subseqüentemente, o
litoral foi oficialmente fechado, e, quando este livro está
sendo escrito, a Espanha continua a barrar mergulhadores.
A Sra. Asher, o Dr. Sykes e os mergulhadores
compareceram perante a corte naval espanhola e tiveram
10 dias para conseguir um advogado. A Dra. Asher então
convocou uma reunião da expedição e anunciou que o
grupo iria se dividir. Os Drs. Freeman, Hartley e Gail Cayce
ficariam e executariam o programa na Espanha, ao passo
que ela e os que pudessem iriam à Irlanda e tentariam
levar o programa a cabo. A Sra. Asher estava tratando de
fazer as malas e fazendo uma procuração para Freeman,
quando recebeu notícia de que o governo espanhol estava
emitindo outra intimação. Sem mais preparações, ela
deixou a Espanha imediatamente, de carro, acompanhada
apenas por dois membros do grupo. Os três rumaram para
o norte, de táxi, trem e avião, numa série tragicômica de
incidentes e conduções perdidas. A caminho, descobriram
que a procuração deixada em Cádiz era ilegal, então um
deles foi enviado para a Irlanda para confirmar as reservas,
e outro foi enviado de volta para Cádiz com uma nova
procuração, legal. A Dra. Asher eventualmente chegou a
Dublin e foi para Galway, onde logo começou a coletar
alguns estudantes irlandeses.
De volta a Cádiz, os funcionários espanhóis aparentemente
decidiram não se apressar em acusações, mas confiscaram
todo o equipamento e biblioteca da expedição. O grupo
começou a dispersar. Alguns voltaram para casa, mas a
maioria dirigiu-se para a Irlanda, onde continuaram
mergulhando e estudando as relações da Irlanda com a
Atlântida. E, finalmente, o Colégio Pepperdine deu-lhes seis
créditos pelo trabalho.
Por esta data, a imprensa norte-americana estava
publicando relatos injuriosos do episódio; a cobertura da
imprensa européia foi melhor. A revista Newsweek publicou
um artigo — particularmente prejudicial à reputação da
Sra. Asher e à credibilidade do achado — em que John
Sims, porta-voz oficial da AMRA, confessava que as
descobertas tinham sido um logro para forçar as
autoridades espanholas a cooperar, apresentando-lhes um
fait accompli. (A Sra. Asher depois declarou, em entrevista
posterior, que tinha uma gravação em fita de John Sims,
negando que ele tinha feito aquelas afirmações ao repórter
da Newsweek.)
Na Irlanda, a combativa Maxine Asher fez o melhor que
pôde com as chamadas telefônicas de pais irados, reuniu
os restos de sua equipe e biblioteca, e começou a explorar
a costa irlandesa e a região perto de Galway e New
Grange. Nunca encontrou nenhuma evidência conclusiva
da Atlântida, mas sim alguns "fortes sentimentos" de que a
Irlanda, Bimini e outros lugares do Atlântico são todos
partes de um gigantesco quebra-cabeças que foi a
Atlântida. O programa foi ficando cada vez mais
improvisado até que, no fim, eles estavam comendo o que
conseguiam pescar na baía de Galway, e a Dra. Asher
estava cozinhando para o grupo.
Finalmente, de volta a Los Angeles, no fim de agosto,
Maxine Asher pô-se a avaliar suas perdas (perdeu US$
75.000 de seu próprio bolso), garantindo os créditos para
os estudantes que foram na viagem, dando entrevistas à
imprensa para "dar satisfações diretas", e, incrível, planejar
sua próxima expedição. Por certo, algumas de suas
alegações desafiam a credibilidade, se bem que ela diga
que muitos de seus relatos estão documentados. Disse à
imprensa que ela e membros do grupo foram ameaçados,
perseguidos, tiveram seus quartos invadidos, e sua
correspondência violada, enquanto estiveram na Espanha.
Acreditava que a razão para o fracasso da expedição se
deveu a uma conspiração internacional envolvendo o
governo, a grupos de interesse econômicos e à indústria
cinematográfica de Hollywood, os quais, por razões
diversas, temiam os resultados de suas pesquisas. No
entanto, haveria expedições futuras, novamente baseadas
na Espanha e Irlanda, mas com possíveis viagens
secundárias a locais assim como Egito e o país basco.
Isto foi em 1973. Muito embora ninguém mais ouça falar
muito sobre sua busca pela Atlântida, a Dra. Asher e
membros da sua AMRA ainda estão na vanguarda da
arqueologia intuitiva. Praticaram seus métodos nó deserto
do sudoeste norte-americano e no Equador, e têm
excursões planejadas para investigar a antropologia antiga
em diversos países.
A Dra. Asher informa que seu escritório, museu e biblioteca
estão em Westwood, um subúrbio de Los Angeles. A
própria Maxine é professora adjunta na Universidade de
São Francisco. Está estabelecendo um projeto para
procurar no Egito os registros perdidos sobre a Atlântida.
Inabalada, ela diz que "o que pareceu ser uma desastrosa
busca pela Atlântida em 1973 pode de fato ter sido a
primeira novidade em arqueologia desde que Schliemann
fez suas incríveis descobertas em Tróia...". Maxine Asher
descreve a si mesma como “muito clarividente" e diz: "a
maioria de minhas descobertas estão baseadas
inicialmente em pré-cognição". Ela diz serem "cerca de
90% acuradas" nestas funções psíquicas, mas prefere
"trabalhar sozinha, porque as vibrações de outras pessoas
causam interferências". Seu enfoque é mais bem resumido
com esta observação: "Estou trabalhando constantemente
em minha pesquisa para validar o enfoque psíquico de um
modo científico.”

Capitulo 13
POR QUE "ATLÂNTIDA"?

Muitas pessoas, fascinadas pela idéia de que houve um


continente, agora perdido, chamado Atlântida, ficam
desencantadas quando ouvem que pode não ter-se
localizado no Oceano Atlântico. "Afinal", é assim seu
raciocínio, consciente ou inconsciente, "é lá onde deveria
ter estado!".
Este argumento silencioso freqüentemente presume que o
Oceano Atlântico recebeu este nome, inicialmente, da
legendária Atlântida afundada. Bem, a Atlântida e o
Oceano Atlântico são certamente pomos da mesma árvore
lingüística. Uma árvore grega, como só vai acontecer.
Atlânticos originalmente referia-se a um mar além dos
montes Atlas -— e Atlas, pela mitologia grega, era o titã
condenado a sustentar o mundo, ou pelo menos o céu, em
seus ombros. Em esculturas mais recentes, Atlas
usualmente sustenta um globo simbolizando a Terra.
Homero escreveu na Odisséia que Atlas sustenta os "altos
pilares que seguram o céu e a terra em seus lugares". (Os
primeiros mapas da Europa costumavam mostrar Atlas
segurando o mundo, em suas capas, e é por isto que agora
chamamos "atlas" a uma coleção de mapas.)
A mitologia grega confunde, ao menos quando se olha para
trás por alguns milhares de anos. Quando Platão falava
sobre a Atlântida como localizada além das "colunas de
Hércules", ele poderia estar falando a respeito das colunas
que Atlas estaria sustentando. Numa história, Atlas e
Hércules trocaram de lugar; Edith Hamilton sumaria
deliciosamente esta história em sua Mitologia. Hércules era
enormemente forte, bondoso, mas de compreensão um
tanto lerda. Sempre lhe eram dadas tarefas virtualmente
impossíveis a serem feitas (provavelmente você já ficou
pensando como ele teria limpado as cavalariças de Augias;
considerando que Augias tinha milhares de cabeças, e os
estábulos não haviam sido limpos por vários anos; bem,
Hércules simplesmente desviou dois rios, fez com que
passassem pelos estábulos e tudo ficou limpo em pouco
tempo). Mas, voltando ao seu encontro com Atlas: Dentre
os conhecidíssimos "trabalhos de Hércules", está a tarefa
de ir buscar os Pomos Dourados dás Hespérides. Hércules
não sabia onde encontrá-los, e foi perguntar a Atlas, que
era o pai das Hespérides. A Dra. Hamilton escreve:
"Ele (Hércules) ofereceu para tomar sobre si o peso do céu
enquanto Atlas se afastasse (para ir buscar os pomos
dourados). Atlas, procurando uma oportunidade para ser
aliviado para sempre de sua pesada tarefa, concordou.
Voltou com os pomos, mas não os deu a Hércules. Disse a
Hércules que podia continuar segurando o céu, pois ele
mesmo levaria os pomos a Euristeu (que era quem os
pedira). Nesta ocasião, Hércules só podia confiar em sua
inteligência, pois toda sua força estava sustentando o céu.
Teve sucesso, mais por causa da estupidez de Atlas, do
que por sua própria sabedoria. Concordou com o plano de
Atlas, mas pediu a este para segurar o céu só por mais um
momento, para pôr uma almofada nos ombros, a fim de
aliviar a pressão. Atlas assim o fez, e Hércules pegou os
pomos e foi-se embora.”
Hércules, cujos inumeráveis feitos sobre-humanos
oferecem uma mistura de tragédia e comédia, pode ter
sido personagem real, cuja força e aventuras foram
exageradas, entretecidas, e transformadas em mito. As
colunas que Platão menciona eram, provavelmente, em
sua mente, e na de seus contemporâneos, o ponto final do
mundo então conhecido. Exatamente quando as colunas de
Hércules foram identificadas com o Estreito de Gibraltar,
colocando assim a Atlântida no Oceano Atlântico, não pode
ser determinado; pode apenas ter sido a imaginação
geopoética de um escritor renascentista — que assim
superpôs uma lenda a outra, na grande e longa tradição da
elaboração de mitos.
Platão também pôde ter escrito a respeito das Ilhas dos
Bem-Aventurados, ou Ilhas Afortunadas, uma espécie de
Paraíso — arquipélago habitado por mortais a quem os
deuses concederam a imortalidade. Os cartógrafos
medievais usaram o nome Fortunatae insuldae para as
Ilhas da Madeira e Canárias. Os escritores medievais não
receberam a lenda da Atlântida diretamente de Platão, mas
dos geógrafos árabes. Durante a Idade Média, ou
Renascença, o Atlas da mitologia grega deu seu nome ao
Oceano Atlântico, como o fizera antes para a Atlântida. A
Enciclopédia Britânica simplesmente diz que o termo
"Oceano Atlântico supõe-se tenha derivado da Atlântida,
um suposto continente submerso sob o atual oceano".
Subtrai-se muito do encanto e fascinação da Atlântida,
separar-se da imagem de um grande continente — parece
ter havido espaço bastante para um — bem no meio do
Oceano Atlântico. Pedaços e cacos, assim como os Açores
(a 1.600 km da Europa, 3.200 km do continente
americano), parecem restos lógicos de um tal continente,
possivelmente os topos de montanhas altíssimas,
indicando uma grande cordilheira lá embaixo. A
oceanografia moderna tem idéias diversas, como veremos
em capítulos mais adiante. Mas, mais uma vez, o que
queriam dizer Platão e outros autores gregos antigos?
Homero, na Odisséia, fala da ilha lendária de Ogígia e da
filha de Atlas, Calipso: "Um deusa habita esta ilha de
densas florestas; é a filha de Atlas, que explora todo o
Desconhecido, que conhece a mais obscura profundeza dos
oceanos e que sustenta sozinha os pilares gigantes que
mantêm separados o céu e a terra." O antigo historiador
Heródoto refere-se em seu quarto diário de viagem ao
noroeste da África: "Por fim, após quase dez dias de
viagem, atingimos outra colina de sal e um oásis habitado.
Perto da colina de sal, ergue-se uma montanha com o
nome Atlas. Ê uma montanha estreita, arredondada, mas
acredita-se ser muito alta, de modo que seu topo é
invisível, estando coberto de nuvens tanto no inverno como
no verão. A gente do lugar diz que na verdade é uma
coluna, que chega ao céu.”
O truque que Atlas usou contra Hércules, só para ser
trapaceado de novo, foi localizado, numa versão tardia da
mitologia grega, neste ponto, a Cordilheira Atlas, ou
Montes Atlas, com uma altura média de 3.300 m. O povo
que Heródoto cita deve ser ancestral das tribos bérberes.
Dois pontos próximos desta cordilheira, o cabo Bom e
Ceuta, em outras datas já foram considerados as "Colunas
de Hércules". Podem ter realmente sido, ao menos nas
mentes dos gregos que conheciam Platão, e para quem,
em certa época, estas montanhas eram os limites
exteriores do mundo que conheciam. Incidentalmente, o
próprio nome Montes Atlas foi superposto à cordilheira, que
corre paralela à costa noroeste da África, pelos gregos ou
outros habitantes da costa norte, oposta, do Mediterrâneo.
O escritor-cientista alemão Otto Munck sustenta em seu
Alies über Atlantis ("Tudo sobre a Atlântida" — 1976) que
os Montes Atlas "receberam este nome relativamente
tarde" e eram conhecidos pelos habitantes locais
originariamente como Diris, ou Daran. Acrescente-se: "O
batizado do Oceano além das 'Colunas de Hércules', como
Atlântico — o próprio nome da Ilha — pode ter sido muito
anterior. O oceano não poderia ter sido batizado por causa
da montanha do noroeste africano. Estás montanhas e
notavelmente seu pico principal foram re-batizados, e
Heródoto mostra-nos por que isto aconteceu." Muck
sustenta que o tamanho da montanha, desaparecendo
entre as nuvens, e seu aspecto geral imponente, fez com
que se assemelhasse muito ao Ur-Atlas, o Atlas original que
desapareceu no Atlântico, juntamente com a Ilha e tudo o
que ela continha. Muck diz que os Açores oferecem
"relíquias esparsas", restos de sua grandeza pretérita.
Muck também escreve: "A Ilha Atlântida, que deu seu
nome ao Oceano Atlântico, recebeu este nome de uma
grande montanha que a dominava e servia como um marco
gigante." Quando a Atlântida desapareceu, sugere o
escritor alemão, "a imagem original foi recuperada" e
transferida aos Montes Atlas, e assim "o símbolo mítico foi
recriado".

Capítulo 14
AS "LEITURAS" SOBRE A ATLÂNTIDA, DE EDGAR CAYCE

Já vivemos uma outra vida? Talvez no antigo Egito, Grécia


ou Roma — ou talvez mesmo naquela legendária origem de
todas estas civilizações, o Continente Perdido da Atlântida?
A idéia de ter vivido na Atlântida, ou em seu equivalente
hindu, a Lemúria (ou o Continente Perdido de Mu),
indubitavelmente fascina a todos nós. Através de
clarividentes, escrita automática, ou visões com ou sem
drogas, milhares de pessoas em todo o mundo chegaram à
conclusão de terem passado por muitas reencarnações
prévias e de que se reencarnarão de novo, e de novo.
De todas estas versões de reencarnações, fantasia ou
realidade, o conceito da Atlântida é o mais intrigante. Um
"clarividente astral", W. Scott-Elliot, disse em seu livro A
História da Atlântida ("The Story of Atlantis"), publicado na
década de 1890, que os atlantes existiam, mais de um
milhão de anos atrás. Escreveu que eram compostos
inclusive de, aborígenes negros, de 3 a 3,6 metros de
altura, que foram escravizados pelos toltecas, que tinham
aproximadamente 2,5 m de altura.
De acordo com Scott-Elliot, os toltecas recorreram à magia
negra, e, como retribuição, um cataclisma vulcânico
afundou a Atlântida. Isto, disse ele, foi há 200.000 anos
atrás; os toltecas emigraram para o Egito e levaram sua
avançada civilização tecnológica consigo. Seus
descendentes migraram para outras regiões, inclusive
América Central, Oriente Médio, e partes da Europa; a
construção de pirâmides foi uma de suas habilidades. Há
semelhanças entre esta versão e o trabalho de Ignatius
Donnelly, bem como com as de outros que alegam ter
recebido suas informações de "fontes superiores",
presumivelmente por escrita automática ou mensagens
auditivas de natureza mais ou menos alucinatória.
O corpo mais completo de escritos razoavelmente
contemporâneos sobre a Atlântida, como cenário de
encarnações prévias, vem de Edgar Cayce, o vidente que
fez 14.246 "leituras", entre 1901 e 1945. Eram geralmente
dirigidas a homens ou mulheres que procuravam conselhos
quanto à sua saúde ou carreira, e destinavam-se a ser
pistas para resolver problemas atuais — em eventos
durante encarnações anteriores. As leituras, que ele ditava
de modo meio convulsivo, em transe, ou dormindo, tinham
um vocabulário especial; a pessoa a quem a leitura se
destinava, por exemplo, era normalmente, citada como "a
entidade".
Se se reúnem os fragmentos esparsos da informação sobre
a Atlântida, das leituras individuais de Cayce, forma-se um
mosaico de desenho irregular. Referiu-se a encarnações
atlantes anteriores nas vidas de 664 pessoas a quem ele se
dirigiu. Se se imagina onde se teria localizado a Atlântida,
ele citou três locais, especificamente: (1) Ao largo da costa
da Flórida, onde hoje se localiza a ilha de Bimini; (2) Nas
inscrições de um templo "encontradas no Egito" e (3) na
península mexicana de Iucatã, onde existiam "aquelas
pedras" que ele chamava "o Emblema do mesmo", a serem
trazidas "às preservações de Washington", ou "para
Chicago". As leituras de Cayce sugeriam que três
convulsões catastróficas destruíram a Atlântida, cada uma
durando meses ou anos: a primeira, em 50.700 a.C.; a
segunda, em 28.000 a.C. — ponto em que o continente foi
partido, por raios cósmicos, em várias ilhas, a maior das
quais, chamada Posseidia. Cayce disse que a destruição
final ocorreu por volta de 10.000 a.C. que foi o cataclisma
citado por Platão.
Os seres espirituais da Atlântida, sugeriu Cayce, primeiro
fizeram sua aparição na Terra como almas, ou formas-
pensamento. Eram conhecidos como Filhos da Lei do Um,
mas o egoísmo e a cobiça levaram alguns a se
manifestarem materialmente, desejando experimentar um
estado de consciência.
De acordo com Cayce, era uma de cinco nações que
"desceram" à Terra. Ele associa o número cinco, à maneira
hindu, como Pracriti — os cinco gunas — ou cinco sentidos:
"Quando a terra mostrou a semente em sua estação, e o
homem veio ao plano da Terra como senhor do que há
nessa esfera, o homem apareceu então em cinco lugares —
os cinco sentidos, as cinco razões, as cinco esferas, os
cinco desenvolvimentos das cinco nações, das quais a
Atlântida era a mais avançada." Ele aproxima sua
localização entre o Golfo do México e o Mediterrâneo. "As
evidências desta civilização perdida serão encontradas nos
Pireneus e no Marrocos, nas Honduras Britânicas, Iucatã e
América... especial, ou notavelmente, em Bimini e na
Corrente do Golfo, nestas vizinhanças..." As cinco raças a
principiarem a vida na Terra eram amarela, branca,
vermelha (atlantes e índios americanos), castanha e negra.
Partes da Atlântida existiam já há 10 milhões de anos, mas
não em forma física.
Cayce sugeriu que isto aconteceu para que se
conhecessem os cinco sentidos e, gradualmente, assumiu-
se a forma que hoje vemos como humana. Opuseram-se à
vontade de Deus, que ficassem como seres espirituais, e
escolheram o mundo da carne. Seguindo os animais,
separaram-se em macho e fêmea, e aparentemente,
tinham relações com animais. As criaturas nascidas deles,
ele nos conta, eram "coisas" que utilizavam como
escravos. Aqueles que se agarravam a seus direitos
espirituais congênitos eram conhecidos como Filhos da Lei
do Um. Aqueles que buscavam prazeres sensuais ficavam
aprisionados às formas materiais que criaram para suas
experiências sensuais. Eventualmente, não puderam mais
se mover livremente para dentro e para fora de seus
corpos materiais. Ficaram conhecidos como Filhos de
Belial, e como os animais, passaram a experimentar a
morte e o renascer.
Edgar Cayce descreve os Filhos da Lei do Um numa leitura
para alguém a quem ele identifica, naquela vida, como
Réa: Através daquele período particular, de experiências na
Atlântida, os Filhos da Lei do Um dedicavam-se
periodicamente à concentração de pensamento, para o uso
das forças universais, através da orientação e supervisão
dos santos (como seriam chamados hoje).
Há poucos termos hoje que indicariam aquele estado de
consciência; exceto que, através da concentração da
mente grupal, os Filhos da Lei do Um entravam numa
consciência tetradimensional — ou ficavam ausentes do
corpo. Parece que eles pensavam como grupo, mais do que
como individualidades; Cayce, referindo-se à gente de
Belial, referia-se a "coisas materiais e pessoais para auto-
engran-decimento ou indulgência sem a devida
consideração pela liberdade de escolha ou decisão por
aqueles que estavam, então, numa experiência física,
naquele estado de evolução de desenvolvimento de sua
habilidade mental para atividade única, ou separada".
As "coisas" ou descendência de Belial, ele descreve assim:
"Aqueles que, em suas estadias na Terra como almas,
entraram na matéria, de modo a se tornarem entidades
separadas, sem consideração de princípio ou da habilidade
do autocontrole, podem ser considerados animais
domésticos de hoje — como o atual desenvolvimento do
cavalo, da mula, cão ou gato." Aqui Cayce assevera que
não está se referindo à transmigração da alma do animal
para o humano; no entanto, a gente de Belial assumiu a
forma animal, ou aparentemente, pelo menos, gerou
formas de criaturas híbridas... eles não se originavam de
Deus? Os beliais não eram irmãos dos seres espirituais? De
qualquer modo, a guerra que os assolaria durante milhares
de anos foi em torno da geração monstruosa, da qual os
filhos de Belial abusavam e maltratavam. Os seres
espirituais procuraram o auxílio das criaturas que Cayce
chama "filhos dos homens", para desenvolver sua
espiritualidade e livrá-los da escravidão. Mas o sexo
tornara-se a preocupação da gente de Belial e uma lenta
guerra começou então entre os divididos, mas outrora
puros seres espirituais. Os Filhos da Lei do Um criaram o
homem; através desta forma, eles poderiam se comunicar
melhor e ajudar os que se haviam perdido, para permitir-
lhes reconquistar seu estado primordial e reunir-se a Deus.
Isto está associado à frase do Gênesis: "Façamos o homem
à nossa imagem..." Muito embora os beliais tivessem se
apartado de sua origem divina, ainda tinham os mesmos
poderes e construíram uma grande "pedra de fogo" com
que regenerariam seus corpos e evitariam a morte. Esta
pedra também fornecia-lhes energia para operar seus
navios, aviões, e todas as outras fontes de energia.
Os animais começaram a invadir a Terra, rapidamente.
Numa tentativa de controlar o excesso de população,
foram usados explosivos, que resultaram em erupções
vulcânicas e no colapso, eventualmente, da Atlântida.
Eles eram, consoante Cayce, uma civilização altamente
técnica, avançada nos usos da energia atômica. Os
explosivos, ele nos diz, "não eram apenas os raios do Sol,
reunidos pelas facetas das pedras, cristalizadas a partir do
calor do interior dos elementos da própria Terra, mas eram
como que combinações destes... O uso destas influências
pelos filhos de Belial trouxe, então, a primeira das
convulsões; ou o desvio da influência dos raios etéricos do
Sol — como era usada pelos Filhos da Lei do Um para seus
próprios fins — produziu... uma convulsão vulcânica... ".
A data era 50.700 a.C.
O êxodo começou pelas Américas do Sul e Central, Egito,
Espanha e Portugal. O que aconteceu durante este tempo,
não sabemos, mas o fato de que os dois grupos
continuaram sua guerra pelas "coisas", parece inalterado,
por sua migração...
Em 28.000 a.C. ocorreu o cataclisma seguinte, desta vez
por excesso de ativação de suas fontes de energia. Ele se
refere a estas como "pedra de fogo". Numa leitura,
encontramos: "Sobre a pedra de fogo das experiências, as
atividades da entidade fizeram aquelas aplicações que
tratam tanto com as forças construtivas, quanto com as
destrutivas...".
Cayce disse que "tanto forças construtivas quanto
destrutivas eram geradas pela atividade desta pedra”. E
especificou: No centro de uma construção, que hoje dir-se-
ia estar revestida com materiais não-condutores, ou pedra
não-condutora — algo parecido com asbestos, com outros
não-condutores que agora estão sendo fabricados na
Inglaterra com um nome bem conhecido da maioria
daqueles que lidam com estas coisas.
A construção acima da pedra era oval, ou um domo onde
ela ficava, ou poderia ser movida, de modo que a atividade
da pedra era recebida dos raios do Sol, ou das estrelas; a
concentração das energias que emanam de corpos (eles
mesmos, incandescentes) juntamente com a energia dos
elementos que são e não são encontrados na atmosfera da
Terra. A concentração através dos prismas, ou lentes,
como seriam chamados hoje, era tal que agia sobre os
instrumentos que estavam ligados aos diversos meios de
transporte, por meio de indução — que tinha bem o caráter
de controle, como o controle remoto por vibrações de
rádio, como seria feito hoje em dia; muito embora aquela
força que saía da pedra agisse sobre as forças motivantes
dos próprios aparelhos.
Havia uma preparação para que, quando o domo fosse
aberto, houvesse pouca ou nenhuma perturbação na
aplicação direta a vários aparelhos que deveriam ser
impelidos pelo espaço, ou no raio de visão do olho, como
se poderia dizer, ou dirigidos sob a água ou sob outros
elementos, ou através deles.
A preparação desta pedra estava só nas mãos dos iniciados
da época, e a entidade estava entre aqueles que dirigiam
as influências da radiação que surgia na forma dos raios
que eram invisíveis a olho nu, mas que agiam sobre as
próprias pedras, de acordo com as forças motivantes —
quer o aparelho fosse erguido pelos gases ou para guiar os
veículos de passeio, que se deslocavam próximos à terra,
ou os que seriam chamados aparelhos aquáticos ou
subaquáticos.
Estes, pois, eram impelidos pela concentração dos raios da
pedra que estava centrada no meio da usina de força
(como,seria chamada hoje).
Nas forças ativas desta a entidade introduziu forças
destrutivas estabelecendo — em várias porções da terra —
o caráter que deveria produzir as energias sob as várias
formas das atividades do povo nas cidades, vilas e no
campo adjacente a elas. Estas energias, não
intencionalmente, foram sintonizadas muito alto — e isto
trouxe o segundo período de forças destrutivas aos povos
daquela terra, que foi dividida nas ilhas, as quais mais
tarde sofreram as outras forças destrutivas que a elas
foram trazidas... De início, não fora a intenção nem o
desejo, obter forças destrutivas. Depois, foi pelo próprio
aumento da energia.
Quanto à descrição da construção da pedra, era um grande
vidro cilíndrico (como seria chamado hoje), como facetas
cortadas de modo que o topo era o concentrador da
energia captada entre o extremo do cilindro e ele.
Como indicado, os registros do modo de construção desta
estão em três lugares da Terra, atualmente. Nas porções
submersas da Atlântida, ou Posseidia, onde uma parte dos
templos ainda pode ser descoberta, sob o lodo de eras, sob
a água do mar — perto do que hoje é conhecido como
Bimini, ao largo da costa da Flórida. E nos registros do
templo que estavam no Egito, onde a entidade (a pessoa a
quem a mensagem era dirigida) depois agiu em
cooperação com outros para preservar os registros que
vieram da terra onde eram guardados. Registros foram
também levados ao que é hoje o Iucatã, na América, onde
estas pedras (de que se sabe tão pouco) estão agora,
nestes últimos meses, sendo descobertas...
O segundo período de destruição desencadeado por raios
cósmicos fragmentaram a terra em ilhas — cinco ao todo.
Muitos foram para a América, em Nevada e Colorado. Os
que ficaram continuaram a florescer e combater, do
material rumo ao espiritual.
A terceira e final destruição, que encerra esta história
bizarra, foi na época citada por Platão. Dos 113 milhões de
atlantes, muitos zarparam para a terra do Egito, mas
também adentraram pelos Pireneus, e pelo que é hoje
Portugal, França e Espanha. E ainda se pode ver nos
rochedos calcários em Calais... onde as marcas dos
seguidores da entidade foram feitos, pois foram feitas
tentativas para criar um templo ativo dos seguidores da Lei
do Um... a começar pelo estabelecimento da biblioteca de
todo conhecimento em Alexandria; dez mil e trezentos
anos antes do Príncipe da Paz...
Esta "revelação" de Cayce permanecerá mito ou hipótese,
até que a arqueologia marinha tenha achado provas no
solo oceânico. Mas muito do que Cayce disse quanto à
idade do homem e aos locais onde se poderiam achar
indicações, ganhou crescente atenção. Suas leituras foram
feitas entre 1923 e 1944. A energia atômica só começou a
ser produzida por volta de 1942.
Até 1960, o homem mais antigo, acreditava-se ser o
homem de Java, ou o de Pequim, com 300.000 e 500.000
anos, mas naquele ano, o Dr. L. S. B. Leakey descobriu o
zinjantropo, de 600.000 anos, na garganta do rio Olduvai,
na Tanzânia, África. Três anos depois, achou outro homem,
o "homo habilis", provavelmente com 1.850.000 anos. Mas
o Dr. Johannes Heurezeler, da Universidade de Basiléia,
Suíça, achou um esqueleto completo a umas centenas de
metros numa mina de carvão italiana. Sua conclusão foi de
que era definitivamente humanóide, classificado como um
homem de 10 milhões de anos. Animais e plantas
modernos, em condições notáveis de conservação,
estavam perto do fóssil, e todos eram da mesma idade.
Tais animais e plantas, não se sabia existirem naquela data
— mas, lá estavam. Isto abrange a distância agrícola entre
o Velho e o Novo Mundo.
Em Nevada, outro suposto canto da civilização atlante,
ferramentas foram encontradas juntamente com vários
ossos de animais em Tule Springs. A idade, determinada
por W. F. Libby, é de 23.800 anos. Outro local citado por
Cayce, na ilha de Santa Rosa (litoral da Califórnia) forneceu
ossos com cerca de 29.500 anos de idade. Muitos outros
locais evidenciaram a existência do homem em partes do
mundo que Cayce citou como sendo atlantes.
A batalha entre o bem e o mal continuará entre as almas
reencarnadas, que certamente são cada vez mais
numerosas em nossa população — previu Cayce — e os
holocaustos e alterações do planeta se repetirão, a menos
que desistamos de nossa herança de Belial e retornemos à
Lei do Um: "Novamente, quanto às alterações físicas: A
Terra será rompida na porção oeste da América. A maior
parte do Japão afundará num piscar de olhos. Aparecerá
terra na costa leste da América do Norte. Haverá
convulsões no Ártico e nas áreas tropicais, e haverá um
deslocamento dos pólos — de modo que regiões que foram
frias ou semitropicais se tornarão mais tropicais, onde o
feno e a grama nascerão. E isto começará no período de 58
a 98, quando serão estes os períodos proclamados em que
a Sua luz será de novo vista entre as nuvens.
Em 1932, quando fez estas leituras, concentrou-se na
América do Norte: a cidade de Nova Iorque desaparecerá,
porções do sul da Carolina e Geórgia desaparecerão numa
noite. Os Grandes Lagos escoarão no Golfo do México... As
terras seguras serão as praias de Virgínia, onde agora a
fundação de Cayce se localiza; porções de Ohio, Indiana,
Illinois, e uma boa parte do sul e leste do Canadá.
Cayce acertou na mosca muitas vezes. Por exemplo, os
manuscritos do Mar Morto foram descobertos 11 anos
depois que ele fez uma leitura sobre a encarnação de uma
mulher que fora membro da comunidade dos essênios,
exatamente no ponto em que os rolos foram encontrados.
E mais, em 1936, data da leitura, referências históricas
indicavam que eram comunidades apenas masculinas. As
escavações de 15 anos depois forneceram esqueletos
femininos, bem como masculinos.
Salomé, personagem bíblica que Cayce disse numa leitura
de 1939 estar presente na morte e ressurreição de Lázaro,
foi citada num manuscrito descoberto em 1960 no
monastério de Mar Sabá, perto de Jerusalém. Uma antiga
carta, que se acreditava escrita por São Marcos, narra o
milagre de Lázaro, assistido por uma mulher chamada
Salomé.
O complexo drama de Edgar Cayce sobre os atlantes é tão
surpreendente como a própria história, fascinante para
aqueles que entreviram suas próprias encarnações
anteriores durante uma das diversas evoluções da
Atlântida. Mas, pelo menos no caso de suas referências aos
restos do Continente Perdido perto da ilha do Caribe, de
Bimini, a descrição de Cayce teve confirmação parcial. A
busca da Atlântida perto de Bimini está em curso!

Capítulo 15
A "GEOMETRIA SAGRADA" DE BIMINI

Edgar Cayce, como vimos, não só previu a descoberta da


Atlântida, mas sugeriu um local específico: "Uma porção do
templo ainda pode ser descoberta sob o lodo de eras de
água do mar — perto do que hoje é conhecido como Bimini,
ao largo da costa da Flórida". Poucos anos depois, Cayce
previu uma data para a descoberta: "E Possei-dia estará
entre as primeiras porções da Atlântida a erguer-se de
novo. Esperem por volta de 68 e 69. Por volta destas
datas!".
Não muito longe, no tempo ou no espaço — Bimini está a
um dia de viagem, por mar, de Miami, pelo Estreito da
Flórida. Em 1956, algumas colunas de mármore foram
notadas, de pé, sob 18 metros de água. Dois anos depois, o
Dr. William Bell, de Marion, Carolina do Norte, fotografou
uma "coluna de 1,8 m, ou pináculo protundindo de uma
base circular dupla, fincada no solo oceânico". As
fotografias, Robert Ferro e Michael Grumley informam em
seu livro: Atlantis: The Autobiography of a Search
("Atlântida: A Autobiografia de Uma Busca" — 1970),
exibem "emanações peculiares de luz, da base do eixo".
Seu guia, o pescador Evangelo, conhecia a coluna, que
segundo ele, os guias de Bimini usaram até que a areia a
cobriu.
Uma década mais tarde, e bem a tempo de cumprir a
predição de Cayce, as areias de Bimini afastaram-se para
revelar outros achados. Em 1967, Dimitri Rebikoff,
especialista em fotografia e óptica submarina, viu, do ar,
uma área retangular no mar ao norte da ilha Andros,
Bahamas. Em 1968, Trigg Adams e Robert Brush, pilotos
que também eram membros da organização de Cayce, a
Associação para Pesquisa e Iluminação ("Association for
Research and Enlightenment" — ARE), também a viram. O
Dr. Manson Valentine, zoólogo e pesquisador de culturas
perdidas, examinou o achado.
Descreveu a estrutura, de pé, com 1,8 m de altura, sob a
água, como "a primeira de seu tipo no hemisfério
ocidental" e especulou sobre se seria um templo. "O topo",
relatou no Daily American de Roma, falando também de
Ferro e Grumley, este cerca de 60 cm acima do solo
oceânico. As paredes estão inclinadas... O material é uma
espécie de alvenaria, e definitivamente, feito pelo homem".
Alguns recordaram-se imediatamente da predição de
Cayce sobre um templo a ser encontrado perto de Bimini.
Acharam notável semelhança entre seu plano e o do
"Templo das Tartarugas" em Uxmal, Iucatã. Cayce
predissera, afinal, que as "evidências da civilização atlante"
poderiam ser encontradas "nas Honduras Britânicas,
Iucatã, e partes das Américas, especialmente perto de
Bimini e na Corrente do Golfo, em suas vizinhanças".
As fotografias aéreas tomadas por Trigg Adams mostraram
várias formações submersas nas águas do "templo". Os
restos submarinos de alguma cidade pré-histórica, de fato,
teriam sido achados? Ou, como outros sugeriram, era a
construção de um forte espanhol, uma concentração de
esponjas, ou uma armadilha para peixes? Ninguém sabia.
Mas Charles Berlitz, que colaborava com o Dr. Valentine
para produzir, o livro Mysteries from Forgotten Worlds
("Mistérios de Mundos Esquecidos"), achou provável que
eram edifícios construídos em terra seca que depois
submergiu, ou foi inundado pela subida do mar.
Em setembro de 1968, o Dr. Valentine, trabalhando com
Rebikoff e Jacques Mayol, mergulhador recordista, achou
mais rochas. Desta vez, uma formação de grandes blocos
de pedra a cerca de mil metros do litoral de Bimini do
Norte. Este pavimento, como o Dr. Valentine o descreveu
num artigo para Muse News, publicação do Museu de
Ciências de Miami, corria por 540 m, aproximadamente,
paralelo à costa.
Depois, ainda neste outono, Robert Ferro e Michael
Grumley zarparam para a ilhota de Manasquan em seu iate
de 37 pés, Tana. Em fevereiro de 1969, foram
apresentados ao Dr. Valentine em Miami e cruzaram o
estreito da Flórida, rumo a Bimini. Com Valentine e outros,
da "Marine Archeological Research Society" (Sociedade de
Pesquisa Arqueológica Marinha) à bordo, levaram o Tana
até a costa oeste de Bimini do Norte até um ponto a
aproximadamente 1 km da Ponta Paraíso. Aqui, o guia
Evangelo indicou algumas rochas descobertas sob as
ondas. Ferro e Grumley mergulharam e logo voltaram, para
dizer aos outros que estavam ancorados sobre um "amplo
muro ou leito de estrada", com pedras de até 5,5 a 6 m de
comprimento e 3 m de largura. Estimaram a formação com
700 m de comprimento. Ferro e Valentine tiraram fotos, e
Ferro tirou uma amostra de uma das pedras menores.
O Dr. Valentine lançou a hipótese, no barco, de que o
achado poderia ser uma Sac Bey ou Estrada Branca, como
as encontradas no Iucatã. Ferro e Grumley, e depois o
Conde Pino Turolla, preferiram vê-la como um quebra-mar
ou dique. Em março, o Conde Turolla fotografou a
formação e trouxe à superfície uma pequena pedra que, ao
secar, "dava um som metálico, quando golpeada" e que,
como foi informado por Cari Holm, presidente da "Global
Oceanics", aparentemente não era nativa de Bimini ou das
Bahamas.
Outras expedições e achados seguiram-se. O Conde Turolla
descobriu mais três seções da formação em parede, uma a
cerca de 80 metros de comprimento, ao largo de Bimini do
Norte e mais duas ao largo de Bimini do Sul. Como esta
seção parece Virar para leste em torno da ponta de Bimini
do Sul, Turolla acredita que a formação pode circundar
ambas as ilhas. Turolla também localizou e fotografou
grupos de colunas. "As seções visíveis destas colunas",
escreveu para Ferro e Grumley, "variavam o diâmetro
entre 60 e 90 cm... Na última viagem, a 29 de novembro
de 1969, conseguimos pegar parte do pilar para um exame
mais próximo. Análises subseqüentes e a opinião de
especialistas é de que a composição da amostra da coluna
não é de pedra nativa dos bancos das Bahamas ou material
artificial, mas parece ter sido extraída das jazidas talvez da
América do Sul.”
Dimitri Rebikoff, usando sua plataforma submarina
"Pegasus", e uma lente corrigida, conseguiu um mosaico
estereoscópico da parede central sul, que mostrava
grandes blocos de calcário, num padrão que lembra as
antigas estradas romanas. Rebikoff também fotografou do
ar outras formações submarinas inusitadas nos Bancos das
Bahamas e encontrou um muro construído em volta de
uma fonte de água doce, no oceano.
Outros achados relatados por Charles Berlitz, na área,
incluem raízes sobre um dos muros que, de acordo com a
datação de carbono-14, podem ter de 6 a 12.000 anos de
idade e uma possível plataforma de templo em água mais
profunda, nos bancos das Bahamas. Há boatos sobre uma
acrópole submarina de 4 ou 5 acres de extensão, e colunas
afiladas sobre pilares, à moda das docas mediterrâneas.
A reticência dos pesquisadores de Bimini em localizar
exatamente suas descobertas, o que normalmente seria
muito suspeito, cientificamente, o é menos, neste caso. A
arqueologia submarina está infestada de mergulhadores
amadores à caça de souvenirs. Navios naufragados de dois
mil anos, no Mediterrâneo, foram totalmente saqueados
por tais mergulhadores, numa só estação. Assim, a
obscuridade dos locais e descrições dos achados de Bimini,
se bem que frustrando aqueles que tentam verificá-los, é
compreensível, particularmente numa região onde o
mergulho é um esporte popular.
John Gifford, estudante graduado da Divisão de Geologia
Marinha da Universidade de Miami, dirigiu uma expedição
em 1970 em busca das formações ao largo da Ponta
Paraíso. Retornou em 1971 com George Lindstrom,
presidente da Sociedade Arqueológica e de Exploração
Científica, de Washington, D. C, patrocinado pela
Universidade de Miami e pela Sociedade Geográfica
Nacional. Em 1972, Gifford e Lindstrom fizeram uma
terceira excursão. Em 1974, o Dr. David Zink, professor de
inglês na Universidade Lamar, de Beaumont, Texas, passou
cinco semanas mergulhando, fotografando e tomando
perfis batimétricos sobre a área da Ponta Paraíso. Também
investigou uma área a leste de Bimini que alguns
acreditam ser um antigo reservatório. O Dr. Zink informou
sobre seus achados num artigo, "A Busca Pela Atlântida
Continua" (The Search for Atlantis Continues), no A. R. E.
Journal (vol. X, n.° 3, maio de 1975).
O verdadeiro significado destas formações continua
controvertido. São difíceis de estudar, pois são
freqüentemente cobertas pelas areias do fundo, poucos
meses depois de sua descoberta. O Dr. John E. Hall,
professor adjunto de arqueologia da Universidade de Miami
e membro da expedição de 1970, acredita que estas
pedras "constituem um fenômeno natural chamado erosão
e quebra de rochas de praia do pleistoceno". Não observou
"nenhuma evidência de trabalho da mão humana ou de
qualquer tipo de engenharia".
John Gifford não estava tão certo; achou estranho que as
tensões que teriam rachado estas formações não as
produziram em outros locais. Notou que os blocos não
podiam ser correlacionados com outros tipos de rochas das
vizinhanças. "Nenhuma evidência", escreveu ele,
"desautoriza a intervenção humana em sua formação." Mas
num artigo de alguns meses depois, numa publicação
especializada, chamou as rochas de Bimini "um depósito
natural de rochas de praia".
O Dr. David Zink teve acesso à pesquisa de campo de
Gifford e ao artigo de Hall e foi informado pessoalmente
pelo Dr. Valentine antes de sair para pesquisar a região de
Bimini. Voltou após cinco semanas de exploração,
convencido de que o local era arqueológico e não natural.
Os blocos, disse ele, não estão ligados ao solo oceânico,
são de espessuras diferentes, e de formatos quadrados e
retangulares. Sua composição é de micrita, ao invés da
oolita branca das praias das Bahamas, não se inclinando
como as rochas de praia da região.
Durante o verão de 1975, uma segunda expedição teve
lugar. Como informado pelo Dr. Zink sob o título "Posseidia
75: Relatório dos Progressos", que apareceu no A. R. E.
Journal (vol. XI, n.° 3, maio de 1976), dois barcos auxiliares
foram usados para explorar a área do Bimini, o Makai II e o
Gypsy. Zink, agora numa licença sabática da Universidade
Lamar, usou sua habilidade pessoal como mergulhador e
sua experiência de navegação em águas azuis. Enquanto
havia umas doze pessoas nos dois barcos, outros estavam
aquartelados em terra no apartamento do escritor Peter
Tompkins, em Bimini. Em outras palavras, umas 20
pessoas estavam envolvidas na aventura, incluindo
mergulhadores, arqueólogos, um biólogo marinho,
geólogos, um cartógrafo, e — alinhado com a nova
tendência da arqueologia parapsicológica — um médium;
de fato, habilidades psíquicas que envolvem transe,
clarividência, ou uma mescla de habilidades extra-
sensoriais, recentemente foram utilizadas por arqueólogos
com resultados aparentemente significativos. O médium
que auxiliou a expedição a Bimini de 1975 foi a Sra. Carol
Hufstickler, que previamente fora cobaia das experiências
de telepatia durante o sono no Laboratório do Sono da
Clínica Maimônides, de Brooklyn, Nova Iorque, sob a
direção do Dr. Stanley Krippner.
A expedição concentrou-se em definir a natureza de uma
"estrada" submarina a noroeste de Bimini do Norte. Esta
formação, queriam eles saber, é de natureza geológica ou
artificial? Zink escreveu que os achados confirmam a
alegação do Dr. J. Manson Valentine de que é, de fato,
"uma formação artificial do tipo normalmente conhecido
como megalítica", que a "coloca na mesma categoria de
construções como as partes pré-incaicas de Sacsaihuamán,
no Peru, Tiahuanaco na Bolívia, Stonehenge na Inglaterra e
Carnac, na Bretanha."
Zink acrescenta que tais lugares, dos quais Stonehenge é o
mais bem conhecido, foram identificados com
"alinhamentos astronômicos e terrestres significativos", e
foram chamados "geometria sagrada". Acresce que "a
pesquisa feita por Posseidia também descobriu evidências
que apontam uma geometria sagrada contida na região de
Bimini. Isto inclui "um alinhamento de estrelas crucial", e
um "alinhamento solar e estelar parece estar presente",
muito embora isto precisa de confirmação posterior". Zink
relembra que os locais submarinos não podem ter sua
idade avaliada tal como os locais em terra seca. As
correntes submarinas perturbam todas as técnicas da
medição.
A expedição comparou a estrutura da estrada de Bimini a
fenômenos submarinos similares da região. Concluíram
aqui, realmente, que havia pedras de natureza e
dimensões que sugeriam fortemente, uma habilidade
arquitetônica; em três pontos observaram estruturas "em
que as pedras eram empilhadas à altura de uma árvore", e
freqüentemente uma das pedras maiores da "estrada"
estava no topo. Muitas outras pistas menores convenceram
a expedição de que a evidência que achou "aponta mais
para construções feitas pelo homem do que uma
característica geológica natural".
Zink pergunta: "Se é um sítio arqueológico, qual sua
função?" Deveria ser chamado de "estrada", ele sugere.
Talvez fosse parte de um porto. Ou, talvez porque pode
originalmente ter tido a forma de ferradura (seus restos
parecem em "J"), tem semelhança com os "locais sagrados
megalíticos da Europa", assim como Stonehenge. Isto não
quer dizer que a estrutura de Bimini precisa ser parte da
mesma cultura, mas que, como diz Zink, "sua função
dominante" pode ter sido "um uso sagrado" — o que o leva
de volta ao conceito de "geometria sagrada". Zink diz que
a estrutura parece favorecer uma orientação de 90°, "o
alinhamento solar dos equinócios, apontando um culto
solar". E também "a disposição dramática das próprias
pedras" dá pistas apontando para a geometria sagrada.
As expedições futuras farão escavações à procura de
cerâmica ou outros artefatos que permitirão datar o local.
Zink diz que "6.000 a.C. é uma data razoável para sua
última ocupação humana". Ele achou um fragmento de
edifício de pedra "com um sofisticado sistema de junta de
lingüeta e sulco”, de uma composição "não-nativa das
Bahamas". Diz que "foi avaliado em pelo menos 3.000 anos
de idade". Um dos mergulhadores da expedição, Garry
Varney, encontrou "uma cabeça de mármore estilizada
com uma superfície bastante “rodida", com mais de 150
kg. A identificação de tais artigos será um desafio
considerável.
Há não muito tempo, a idéia de enseadas e cidades
submersas trazia sorrisos "entendidos" às faces de
geólogos e arqueólogos expertos. Estavam convencidos de
que o nível do mar permanecera inalterado durante pelo
menos 10.000 anos, e que as muito difundidas histórias de
cidades submersas, comuns entre os povos litorâneos em
ambas as margens do Atlântico, nada mais eram senão
mitos e lendas. Mais recentemente, estudos no
Mediterrâneo e no Mar do Norte deixaram bem claro que o
nível do mar flutuou marcadamente em tempos históricos.
As variações do nível do mar têm três causas possíveis.
Podem ser devidas a alterações eustáticas — uma variação
nos oceanos devida a derretimento glacial. Alterações
tectônicas — terremotos e atividade vulcânica, que podem
elevar ou abaixar o nível do mar, localmente. E
movimentos isostáticos — resultado de tensões devidas à
formação ou fusão de geleiras, ou deslocamento do peso
de massas de águas e terra.
Durante a última glaciação, o nível do mar provavelmente
caiu cerca de 200 metros, abaixo de seu nível atual. Vastas
áreas das plataformas continentais, incluindo a maior parte
da área ao redor das Bahamas, seriam então terra seca. A
plataforma continental estende-se bastante ao largo do
Iucatã, América Central e costa norte da América do Sul.
Possivelmente o homem poderia andar, e transportar
pedras da América Central, ou do Sul, até as Bahamas.
Qual poderia ser a idade dos achados de Bimini? O Dr.
Valentine estimou entre 8.000 e 10.000 a.C.
Provavelmente foi a última vez que Bimini esteve acima do
nível do mar. Mas, ele não pode ter certeza. As cidades de
Jamestown, em Nevis, e Orangetown, em St. Eustatius,
afundaram no mar, depois de um terremoto a 30 de abril
de 1680, e agora estão sob 20 metros de água. Port Royal,
na Jamaica, deslizou para baixo do mar no terremoto de 7
de junho de 1692. As teorias controvertidas do Dr.
Immanuel Velikovsky aceitam recentes e catastróficas
alterações na superfície da Terra, resultantes de quase-
colisões com a Lua, ou outros corpos celestes. Estas teorias
estão sendo reexaminadas. Uma data mais recente para o
sítio de Bimini poderia ser possível.
Qual a idade das construções pré-históricas da América
Latina? Algumas avaliações da idade da vasta cidade em
ruínas de Tiahuanaco chegam a 15.000 anos. Datas mais
conservadoras de algumas destas construções ciclópicas
ficam por volta de 2.000 a.C. Os antigos portos do
Mediterrâneo poderiam também ter esta idade. É
fascinante especular se os povos que construíram tais
portos, podem ter visto, ou construído, a primeira. Povos
relacionados a isto poderiam ter construído um grande
quebra-mar, um templo, ou algumas misteriosas estruturas
no litoral de Bimini? As sementes da história da Atlân-tida
poderiam ter se originado de lendas de viagens
transatlânticas, cuja narrativa foi destorcida? Mais
mergulhos, mais escavações, mais esforços e cálculos
serão necessários antes que estas questões sejam sequer
parcialmente respondidas.

Capítulo 16
O PARAÍSO DO PASSADO E DO FUTURO

A Atlântida mantém e renova seu poderio sobre nossa


imaginação, porque sua imagem responde a uma
permanente necessidade humana: a crença num mundo
ideal, um exemplo que esperamos copiar. Platão, que jogou
a imagem da Atlântida no lago da memória de nossa
civilização, foi ele mesmo um sonhador de sonhos
fantásticos. Sua República entrevia a ordem e a beleza na
cultura humana, mas exigia um autoritarismo que viemos a
conhecer demasiado bem em nosso século — e sem o qual
sua sociedade utópica não poderia sobreviver.
E por que não? Por que não podemos ter uma sociedade
utópica livre? E por que não teria sido a Atlântida, seja o
que for que saibamos dela, essa sociedade?
A nau dos sonhos de Platão afundou na realidade da
natureza humana. Sua sociedade ideal só podia ser
mantida como um estado policial; hoje em dia, teria de ser
uma versão computadorizada da antiga Esparta, ou talvez,
da antiga Creta — parte da própria Atlântida que agora
vemos em retrospecto. E, para responder à última
pergunta, a Atlântida de Platão, a antiga Creta com sua
deliciosa civilização minóica, não poderia de fato ter sido a
sociedade de sonho que imaginamos.
A Atlântida que sucumbiu ao terremoto e ao maremoto da
antiguidade, cujos palácios, casas e lojas de artífices
queimaram e foram cobertos de cinzas, não emerge da
névoa do tempo como o lugar paradisíaco que Platão e
seus sucessores descreveram. No entanto, em linhas
gerais, a versão platônica pode ter sido correta.
Descontando a patina de muitos séculos, e a versão
poética que Platão nos deu; como retrospecto, a Atlântida
cretensé era uma sociedade de elevados padrões, afluente,
bela e artística. Não podemos ter certeza do ponto em que
esta Atlântida egéia sucumbiu aos maremotos, terremotos
e incêndios. Mas, se a arqueologia moderna tem feito
aproximações satisfatórias, o desastre atingiu esta ilha
bem perto do piná-culò de sua existência.
A Atlântida pode muito bem ser vista como uma expressão
de dois impulsos bastante contraditórios do inconsciente
humano: um desejo de perfeição paradisíaca, e a
fascinação por catástrofes.
Por um lado, todos desejamos a inocência e a natureza
paradisíaca do Jardim do Éden; por outro, parecemos nos
alegrar, e mesmo esperar, por um desastre. É um simples
palpite psicológico, e um palpite bastante razoável de que
o fascínio milenar pela Atlântida está no fato de que, fato
ou lenda, ela acomoda estes impulsos aparentemente
diametralmente opostos. Não faz muito sentido, nos
termos cotidianos de praticidade, ser atraído por opostos.
No entanto, olhemos à volta e vejamos se não
encontramos padrões de mini-Atlântida no mundo que nos
é familiar.
Por exemplo, certos esportes modernos nos servem bem —
e devemos lembrar que a civilização minóica tinha seus
equivalentes. As touradas vieram-nos diretamente de lá,
tal como vemos nas pinturas dos vasos e afrescos da
antiga Creta. A população "torce" pelo toureiro, idolatra-o,
e as mulheres o desejam; mas se ele é derrotado, se o
touro o atinge, a multidão é ainda mais estimulada pelo
espetáculo de sangue, perigo, ferimentos e, possivelmente,
morte. A tradição mediterrânea das touradas, que tem sua
presença no Novo Mundo, no México, tem outros
equivalentes regionais. Mais notável, por seus contrastes
externos, pelo elemento tecnológico, é a corrida de
automóveis. As grandes corridas de hoje, desde as 500
milhas de Indianápolis ao Rallye de Monte Cario, agradam
às multidões precisamente porque contêm todos os
elementos psicodinâmicos da tourada.
O corredor e o toureiro são feitos do mesmo material, em
caráter e impulso inconsciente. A multidão de espectadores
das corridas incluem seus aficcionados, seus elementos
eroticamente envolvidos, exatamente como a assistência
da tourada. O elemento supermasculino do risco corrido foi
dramatizado de muitas formas por escritores que, eles
mesmos, procuram identificação com a virilidade, grandes
perigos e o risco de morte. O nome de Ernest Hemingway
vem à mente quase que de imediato, pois ele representou
uma geração de homens que procurou realização em
arriscar e desafiar a morte. Hemingway matou-se, ao invés
de esperar que a morte natural viesse buscá-lo.
A Atlântida então, na mente humana, essencialmente,
nada mais é senão uma supertourada?
Claro que não é assim tão simples. A lenda da Atlântida
apresenta um glorioso Éden que foi devorado pela água e
pelo fogo, por terremotos e maremotos, possivelmente por
divindades vingadoras ou ciumentas. A imagem de uma
civilização florescente, talvez "melhor" — de algum modo
— que a nossa, desaparecendo da noite para o dia, tem
muito do encanto que vemos constantemente expresso em
filmes que mostram terremotos, o afundamento de um
navio enquanto seus passageiros estão em meio a festas, o
inferno de um prédio de escritórios que é devorado pelas
chamas, o exagerado perigo que um tubarão pode
representar no mar, os horrores de forças sobrenaturais
vencendo-nos, vindo do espaço sideral, ou de outras
dimensões.
Os psicólogos não sabem direito por que crianças
pequenas têm um voraz apetite por filmes de horror e por
histórias e figuras de monstros. Por que estes perigos estão
obviamente fora do campo do real e do possível? Estes
monstros estão seguramente enjaulados, dentro da tela do
cinema ou da televisão? Sim, provavelmente; mas também
agem como canal para a agressividade de uma criança, ou
de um adulto; eles podem se identificar alternadamente
com o "mocinho" ou com o "bandido", horrorizar-se e
exaltar-se, ao mesmo tempo.
A imagem de todo um continente sendo engolido pelo mar,
que se tornou a versão-padrão dos "últimos dias da
Atlântida" em muita literatura sobre o assunto, aproxima-
se do máximo em horror. Ê estranho, portanto, que a
psicologia moderna não tenha prestado atenção a
elementos inconscientes que obviamente mantiveram a
lenda da Atlântida tão viva. Juntamente com os padrões de
pensamento apresentados pelo fundador da psicanálise, o
Dr. Sigmund Freud, o fascínio pela Atlântida seria uma
versão do "Paraíso Perdido", que seria o desejo constante
de retornar ao útero materno, à perfeição total de ser
sustentado sem esforço ou responsabilidade. Isto, em
miúdos, seria uma explicação freudiana para a farta
variedade de mitos do Jardim do Éden que encheram a
esperança, a poesia e os mitos da humanidade através de
sua história.
Outros elementos freudianos podem também aplicar-se ao
fascínio de dois gumes pela Atlântida. Mas o próprio Freud
nunca se referiu à Atlântida, em sua volumosa obra. E o
que é ainda mais surpreendente, o Dr. C. G. Jung, o filósofo
suíço que fundou a escola da psicologia analítica,
tampouco procurou um elo entre o interesse pela Atlântida
e o que ele chamou de elementos "arquetipais" no
inconsciente humano. Apenas muito brevemente, num
trabalho chamado "Um Enfoque Psicológico do Dogma da
Trindade" ("A Psychological Approach to the Dogma of the
Trinity"), Jung referiu-se à descrição da Atlântida, feita por
Platão. Ele sugeriu que Platão estava tentando "trazer à
baila a estrutura de mandala que depois apareceu como a
capital da Atlântida, no Crítias". O mandala tem um papel-
chave na visão de Jung, de que o inconsciente coletivo da
humanidade desenvolve certos motivos básicos, dos quais
o mandala, um desenho ou escultura intrincadamente
circular, é talvez a maior expressão artística.
Outros, mais recentemente, trataram com nossa
aparentemente contínua necessidade de mitos, num nível
mais contemporâneo. O New York Times, numa série de
entrevistas com psicólogos (4 de julho de 1976), sobre um
assunto relacionado, apresentou um número de respostas
que chegaram mais ou menos à mesma conclusão:
precisamos do mito, porque nossa realidade é muito rígida
e confinadora. A Dra. Gertrude Williams, psicóloga de St.
Louis, foi citada dizendo que tais mitos "representam um
desejo existencial de ir além do mundo real, monótono,
previsível e plástico". Acrescentou: "Assim como pode
haver um medo do desconhecido, está incrustado na
psique humana um desejo pelo desconhecido, um desejo
de explicar o insólito.”
Mas, é suficiente observar e afirmar o que, pelo menos
para nossa geração, tornou-se o óbvio? É suficiente dizer
que o homem, neste estágio de sua evolução, ainda se
entusiasma com a idéia do Paraíso Descoberto e Paraíso
Destruído?
Procuremos uma resposta a esta questão nas tendências
gigantescas, eficientes, e muitas vezes, enormemente
comercializadas da indústria cinematográfica. A televisão
levou os industriais do cinema a safaris cada vez mais
ambiciosos e profundos e primitivos aos elementos básicos
da psicologia de massas — necessidades da massa,
temores da massa, desejos da massa. A versão da
Atlântida que herdamos do prodigioso e multifacetado
Ignatius Donnelly não nos deixará — persiste, e teve um
paralelo menor dentro de um passado relativamente
recente. O mais dramático foi o afundamento do grande
transatlântico, o Titanic, a 14 de abril de 1912. O navio
atingiu um "iceberg", e afundou em 3 horas, e afogaram-se
mais de 1.500 pessoas, dentre seus passageiros e
tripulação de mais de 2.200 membros. Há não muito
tempo, uma versão romanceada deste acontecimento, The
Poseidon Adventure ("A Aventura do Posseidon"), tornou-se
um filme de sucesso — um daqueles de uma longa e
contínua fila de filmes que exploraram os desastres.
O naufrágio do Titanic, em termos de psicologia de massas,
foi uma Atlântida em miniatura. Os elementos principais
foram idênticos. Mas, acima de tudo havia a imagem de
uma sociedade — aquela, supostamente desenvolvida, da
ilha, e a dos passageiros bebedores de champanha, do
navio de luxo — sendo engolida pelo oceano faminto. A
imagem vai além, eu creio, da simples fascinação pelo
Paraíso Descoberto e pelo Paraíso Destruído. O Titanic era
o melhor produto de uma civilização autoconfiante,
arrogante, pré-Primeira Guerra Mundial. O navio fora
considerado insubmersível; os antigos narradores gregos
veriam imediatamente em tal proclamação da hubris
humana como um desafio a deuses vingativos ou
ciumentos.
De algum modo, os horrorizados leitores das notícias sobre
o desastre do Titanic, lá no fundo de suas florestas de
inveja inconsciente, podem muito bem ter pensado: "Bem
feito para eles". E mais: "Eu não era um deles, dos Altos e
Poderosos, com suas pérolas e roupas caras, suas bebidas
e bailes — e eu fui poupado, com minha humilde
existência!". O naufrágio do Titanic, assim como a lenda da
Atlântida, remonta -— como Donnelly corretamente
observou — ao dilúvio bíblico. Deus achara a humanidade
pecaminosa e decidiu varrê-la, exceto por um casal de
cada espécie, para recomeçar tudo. O preço do pecado foi
a morte pela água, pelo afogamento; a água cobre,
purifica, renova.
O ritual do batismo abrange este elemento de purificação
em sua forma mais primitiva e simples. Sem ele, a criança
é ainda considerada impura: o Pecado Original está aderido
a seu corpo e alma. Além disso, o rito batismal é um
exorcismo, imunização contra a invasão por demônios ou
maus espíritos. A água lava os pecados passados e imuniza
contra os pecados do futuro, ou ao menos sua tentação.
Tudo isto é virtualmente território virgem na literatura da
psicologia, muito embora o conceito de "mitopoiesis" tenha
sido explorado por pelo menos um psicanalista eminente
dos Estados Unidos, o Dr. Harry Slochower, editor do The
American Imago, jornal dedicado ao estudo psicológico da
cultura, ciência e artes. Slochower nota que a
revivescência de um mito em nossa época "é uma
tentativa de satisfazer a necessidade humana para se
relacionar com os nossos companheiros da mesma
jornada", incluindo civilizações que precederam à nossa.
Em linguagem mítica, diz ele, "os problemas referem-se à
Criação, ao Destino, à Missão" do homem. O tema da visão
apocalíptica, tão essencial para uma visão moderna da
lenda da Atlântida — agora que podemos ter encontrado
remanescentes físicos de suas origens — é um drama
sempre vivo da natureza e ação humanas.
O Dr. Joost A. Merloo escreve, em "Criatividade e
Exteriorização", que "odiámos e amamos a destruição",
observando "as atitudes contrastantes do homem para
com o perigo e a catástrofe". Ele vê "por trás da
manifestação de horror, nosso desejo primitivo
megalomaníaco por uma devastação terrível",
cumprimento de "um sonho infantil de onipotência
revanchista".
Jung, em seu ensaio "Resposta a Jó", luta com o dilema que
o conceito apocalíptico apresenta ao homem, como
criatura de fé e um receptáculo de impulsos contraditórios.
Jung, nesta obra, assemelha-se a Jacó lutando com o Anjo.
Ele não pergunta: se Deus fez a Atlântida como o Paraíso
terrestre, por que permitiu que caísse em maus hábitos, e
por que usou o mar para destruí-la? Mas sim: por que Deus
permitiu que Satã torturasse Jó — ou, pergunta das
perguntas — por que Ele permitiu que Cristo morresse na
Cruz? Amor, Caridade, Pecado, Morte e Destruição; Jung
procurou lidar com todos estes temas. "Que espécie de pai
é este", perguntou com simplicidade, "que preferia ver seu
filho destruído a perdoar suas más intencionadas criaturas,
corrompidas por seu precioso Satã?" O homem, de acordo
com Jung, é "um vaso cheio do divino conflito".
E isto é precisamente o qüe é nossa visão de hoje da
Atlântida. Sua ascensão e queda, sua fugaz realidade e
inescapável mito dramatizam o "divino conflito" dentro de
nós mesmos.
Chegamos a uma questão final: a Atlântida teria sido um
ensaio de nosso eventual fim apocalíptico? A humanidade
tem habilidade para ver seus temores se realizarem —
talvez por causa de seu fascínio inconsciente por
desastres, como uma criança brincando com fósforos,
tenda a trazer exatamente aquilo que teme. A energia
nuclear nos deu o meio de fazermos de nós o que os
terremotos e o mar consumidor fizeram com a civilização
atlante. Se a imagem retrospectiva da Atlântida que temos
hoje, um fato de milênios atrás, ampliado pelas narrativas,
reflete nossa própria dualidade — não deveríamos ao
menos ter uma chance?
Comecei este livro com uma recordação impressionante,
uma noite à margem do Monte Kintamani, em Bali, a ilha
que é a imagem dos sonhos paradisíacos do mundo.
Poucos dias depois de ter escrito aquelas memórias,
chegam notícias de que um terremoto a poucos
quilômetros de Kintamani destruiu a cidade de Seririt,
matando pelo menos 233 pessoas e ferindo mais de 2.000.
No meio do verão de 1976, fomos relembrados de que
nunca podemos ser complacentes, e que o destino real ou
imaginado da Atlântida permanece como uma ameaça
onipresente.
Agora, podemos fazer nossas próprias erupções. Desde
Hiroshima e Nagasaki, não precisamos de cataclismas de
Santorini ou do Cracatoa para nos recordarmos de nossa
precária existência sobre a fina casca que é a crosta da
Terra. A resposta simplesmente é que devemos,
precisamos absolutamente, afastarmo-nos de nosso
fascínio pela destruição. Não obstante, somos o que somos:
Crianças suspirando pelo Paraíso Perdido, e ainda
fascinadas pelo Desastre Final que recebeu o nome de
Atlântida.

Capítulo 17
ONDE ESTA A VERDADEIRA ATLÂNTIDA?

A última noite que passei em Santorini, centro das


hodiernas pesquisas sobre a Atlântida, um cordial grupo de
visitantes reuniu-se na taverna local. Nossa refeição mal
terminara. Todos nós, que viéramos à ilha vulcânica por
uma variedade de interesses, estávamos com uma alegre
disposição. Ergui um copo do vinho branco local,
naturalmente chamado "Atlantis", e propus um brinde
simples: "A Platão, cujos fatos e idéias nos reuniram aqui e
agora!".
Tudo começou com Platão e sua vaga, senão dramática
descrição de uma adiantada, mas condenada Atlântida.
Pode-se argumentar sobre o período real de tal civilização,
acerca dos pormenores informados por Platão, e sobre o
tamanho e a população do lugar — mas que uma
sociedade altamente desenvolvida existiu, dentro do
alcance da memória dos ancestrais e informantes de
Platão, e que pereceu num cataclisma, não se pode
duvidar.
Examinamos algumas das razões psicológicas do porquê do
fascínio do destino da Atlântida sobre nós. Nossa geração
reviveu este interesse dramaticamente; as descobertas
arqueológicas e as explorações submarinas deram ímpeto
científico a estas novas hipóteses. Inevitavelmente, cada
idéia de quando e onde a Atlântida existiu é identificada
com as conclusões tiradas por uma personalidade
devotada e de firmes convicções. O íngreme e estreito
caminho que leva da enseada a Thera, a principal cidade
de Santorini, à margem do vulcão, é chamado "Rua
Spyridion Marinatos", em memória do imaginativo
arqueólogo que viu Santorini como o centro do cataclisma
que destruiu a civilização minóica, em Creta.
Hoje, no sítio de Acrotiri, que já forneceu graciosos afrescos
e outras evidências da cultura minóica em Santorini, o
sucessor de Marinatos, Dr. Christos Doumas, continua o
projeto de escavação que já nos deu esclarecimentos sem
precedentes. Doumas tinha suas próprias idéias sobre o
papel que Santorini teve para criar o. conceito da Atlântida.
Ele assinala que "a forma, dimensões, localização e vida
social, tais como estabelecidas por Platão, não concordam
com o que a arqueologia revelou” e acrescenta a que
"Platão estava usando a Atlântida como um recurso
filosófico para apresentar suas idéias sobre política e
sociedade".
Doumas acredita que a lenda da Atlântida tem "alguma
base factual" em Santorini, como "o afundamento de uma
ilha" e a "queda de uma civilização", a minóica, que se
estendeu por uma boa parte do Mar Egeu. O Dr. Doumas
polidamente discorda da hipótese de que a própria
Santorini (Thera) tenha sido a Atlântida, com todos os
aperfeiçoamentos culturais arrolados por Platão. Doumas
aponta que a idéia da Atlântida abarca "duas ocorrências
separadas devidas às mesmas causas", que, com a
passagem do tempo, foram fundidas "num só
acontecimento". Ele acha que os achados arqueológicos
modernos sugerem que os sacerdotes egípcios que
relataram a lenda a Sólon no século VII a.C. registraram,
por sua vez, informações de segunda mão, que poderiam
ser errôneas".
Podemos olhar para trás, atualmente, e ver a emergência
da lenda atlante sem ficarmos presos dogmaticamente a
uma só hipótese. Obviamente, como a nova ciência da
arqueologia subaquática ilustra, somos herdeiros de uma
variedade de civilizações que afundaram sem registros que
pudéssemos achar ou decifrar. A escrita minóica ainda não
forneceu textos que possam ser comparados à minuciosa
informação decodificada das tabuinhas babilônicas. Mesmo
o termo "minóico" é um rótulo inspirado, mas artifical: o
arqueólogo britânico, Sir Arthur Evans, que desenterrou o
Palácio de Cnossos, em Creta, simplesmente adaptou o
nome do lendário rei Minos e usou-o para nomear a
civilização que descobrira.
Se Evans tivesse chamado a avançada civilização que
desenterrou de "atlante", ao invés de "minóica", muitos
agora acreditariam que a Atlântida, de fato, foi encontrada.
Afinal, o que há num nome? O Oceano Atlântico, como
vimos, foi batizado muito depois da Atlântida de Platão,
muito embora ambos tenham sua raiz lingüística no
lendário homem forte, Atlas. Se Colombo tivesse recebido
crédito total por sua descoberta, o continente que
descobriu teria sido chamado Colômbia; ao invés disto,
tornou-se América, por causa de Américo Vespúcio, o
explorador italiano da região amazônica da América do Sul.
Mais um exemplo: a Europa. Na mitologia grega, Europa
era uma princesa fenícia que Zeus, transformado em touro,
levou para Creta. O rei Minos foi o resultado desta união.
Agora, todo um continente recebeu o nome de Europa, e a
maioria de nós fica sem a menor consciência desta ligação
entre o mito e o rótulo geográfico. E, claro, estamos de
novo de volta a Creta, com o rei Minos e a "civilização
minóica" — que, por mera preferência de Arthur Evans, não
foi chamada "Atlântida".
Quando paramos para perguntar, a esta altura, "Onde está
a verdadeira Atlântida?", somos forçados a replicar: nas
mentes dos homens. Pela inspiração de Platão, regiões tão
diferentes como Bimini, no Caribe, e a ilha alemã de
Helgoland, no Mar do Norte, foram identificadas com o
lendário continente submerso. Uma hipótese, associada à
idéia de que a Atlântida devia estar no Oceano Atlântico,
conclui mesmo que, pela trajetória da migração das
enguias, estes animais fazem um semicírculo em certas
regiões do oceano, porque coletivamente "lembram-se" da
Atlântida como um obstáculo, nos milênios passados. A
engenhosidade de um tal raciocínio especulativo é
admirável, muito embora não precise ser convincente.
A admirável diligência de Ignatius Donnelly como
pesquisador, impulsionado por seu vigor intelectual e
paixão por documentação pormenorizada, é responsável
por muitas das idéias que encontramos ainda hoje. Egerton
Sykes disse-nos que foram os escritos de Donnelly que
primeiro focalizaram sua atenção na Atlântida; Sykes, por
sua vez, reuniu as idéias de outros, variando desde a
"captura" da Lua pela Terra ao conceito da "difusão" da
civilização atlante pelo mundo.
Edgar Cayce popularizou uma combinação de idéias:
Atlântida e reencarnação. Suas "leituras de vidas"
apaixonaram muitos que eram informados de terem vivido
uma série de encarnações, muitas vezes no antigo Egito,
Grécia e Roma — e claro, na Atlântida. Quem não pode
deixar de ficar intrigado com esta visão pretérita de sua
própria identidade? Ter sido galeota, sob os faraós, um
ousado soldado da antiga Esparta, e um escriba, viajando
com as legiões romanas pela Gália — após ter sido um
sacerdote atlante — certamente acresce um glamour
restropectivo à vida de um corretor de seguros de Iowa.
Sob hipnose, é bem possível que a memória de um
indivíduo "retroaja" e acrescente pormenores coloridos de
encarnações anteriores. Tais memórias ou fantasias podem
ter resultados positivos ou negativos para uma existência
contemporânea, variando da auto-afirmação à ilusão
escapista.
Wanda Sue Childress, que foi repórter de um jornal de Los
Angeles durante vários anos, diz que a Califórnia contém
provavelmente "o maior corpo mundial de atlantófilos de
pijama". A Califórnia meridional, especificamente, tem uma
grande concentração de estudantes das artes místicas,
alguns dos quais acreditam ter renascido na Califórnia
juntamente com outros atlantes que foram seus irmãos ou
irmãs há milhares de anos atrás.
Entre estes neo-atlantes há uma popular crença de que os
Estados Unidos são a "Nova Atlântida". Acham que os
Estados Unidos estão dando à humanidade uma "segunda
chance"; devem, porém, evitar os mesmos erros dos
atlantes, que puseram o poder acima do desenvolvimento
espiritual e foram, portanto, condenados à extinção. Estas
idéias estão freqüentemente ligadas a sentimentos
ambivalentes quanto a um destino catastrófico, assim
como o muito profetizado terremoto que poderia resultar
de um deslocamento da falha de San Andreas. Um
pequeno grupo de reencarnacionistas acredita que a
porção ocidental da Califórnia é o último vestígio acima do
mar daquele outro lendário continente afundado, a
Lemúria, mencionada anteriormente nesta obra. Na
hierarquia oculta de "bicadas na cabeça" da Califórnia, faz
diferença ser um lêmure ou um atlante reencarnado.
Dizem que os atlantes ostentam uma atitude de
superioridade, ao passo que os lêmures são mais passivos
e menos tendentes a dar demonstrações de poderes
sobrenaturais. Os lêmures reencarnados procuram ser
naturalmente mediúnicos, com um ar de suave
autoconfiança, ao passo que os atlantes reencarnados
tendem a exibir habilidades assim como leitura de
pensamentos, curas ou profecias.
A pesquisa científica dos fatos atrás da idéia da Atlântida,
assim como a exploração submarina de Jacques Cousteau
no Egeu, dá novo crédito a conceitos relacionados assim
como reencarnação e profecias do juízo final. Os atlantes
tinham uma escolha em seu desenvolvimento espiritual:
erraram e foram destruídos. Nós, de acordo com estes
reencarnacionistas da crença atlante, deveríamos
compensar este erro do passado; mas se falharmos mais
uma vez, um cataclisma nos atingirá, assim como durante
a encarnação atlante.
Quando eu disse que a Atlântida verdadeira está nas
mentes dos homens, eu sabia que isto poderia parecer
uma saída "à francesa". Mas não é! É precisamente a
conclusão a que cheguei após mais de um quarto de século
de um fascínio variável pela lenda atlante, variando de
paixão juvenil a verificações cuidadosas e maduras das
evidências. Falar da Atlântida como o "Paraíso do passado
e do futuro", em termos religioso-psicológicos, coloca-a,
creio, corretamente na área do desejo humano básico por
uma existência mais perfeita; o presente tem sua quota de
medo e horror; que o passado e o futuro compensem as
deficiências que conhecemos demasiado bem.
Vejo pouco erro, e muito a ganhar, pelos atuais esforços
em nome de uma busca da Atlântida. Cousteau, tão
austuto e conhecedor quanto um aventureiro moderno
poderia ser, está querendo usar a lenda da Atlântida como
ponto de partida para explorações de civilizações do
passado. Se as pessoas quiserem ver suas excursões em
termos da Atlântida, tudo bem. O mesmo, acho, vale para
outros esforços, assim como as explorações de Bimini
baseadas em Cayce, e esforços para achar estruturas
submersas ao largo da costa atlântica da Europa, e
projetos arqueológicos em outras regiões do mundo.
Quanto mais apreendemos de nosso passado, mais
percebemos que o conhecimento vem em fragmentos que
devem ser reunidos com habilidade e imaginação — assim
como os afrescos minóicos de Creta e Santorini tiveram de
ser montados, pedaço por pedaço, em graciosos mosaicos.
Se formos realmente objetivos, devemos mesmo encarar a
reconstrução do Palácio de Cnossos por "Sir" Arthur Evans,
e imaginar se foi realmente como Evans nos contou. O
arqueólogo britânico foi criticado por outros expertos,
principalmente pelo prof. Hans G. Wunderlich, autoridade
em geologia da Universidade de Stuttgart; ele acredita que
a estrutura de Cnossos era, assim como as pirâmides, um
templo para os mortos, e não uma residência para os vivos.
Mas isto, também, é outro palpite, a despeito de indícios
geológicos e argumentos engenhosos. Mesmo se
Wunderlich estivesse certo, as belezas de Cnossos refletem
a alegria de viver e um esforço para que os mortos a
tivessem na outra vida. Mas os achados de Santorini são
definitivamente partes de habitações, onde encontramos
os encantos da civilização minóica, além de quaisquer
argumentos concernentes às realidades e destino de Creta.
Tudo se concentra no seguinte: a lenda da Atlântida levou
homens imaginosos a procurar traços de civilizações
perdidas, e deu-lhes apoio popular para tarefas que, de
outro modo, seriam tidas como especializadas e esotéricas.
Promoveu pessoas a verificar as áreas geográficas de que
Platão não poderia ter conhecimento; o nome mágico
"Atlântida" inspira pesquisas valiosas que nos esclarecerão
acerca de nosso passado, independentemente de rótulos.
Mas aqueles que acreditam que a Atlântida de Platão era
uma extrapolação de um, ou uma série de desastres no
Egeu, relacionados com o vulcão de Santorini, têm a lógica
geográfica a seu lado.
Outras ilhas poderão logo dar indícios adicionais quanto ao
destino da civilização minóica: sob o "mar escuro como
vinho", de Homero, há uma multidão de evidências. Há
pouco, o Dr. Doumas estendeu suas pesquisas de Santorini
à ilha de Rhodes, onde o sítio de Trianda promete outras
evidências da civilização minóica e seu destino; outros
locais em perspectiva são o sítio de Filacópi na ilha de
Meios, e Santa Irene em Kéa.
Mas, voltando a Santorini: após a erupção vulcânica no
século XVI a. C, a ilha foi abandonada. Doumas escreve em
"Retrato de Uma Ilha: Santorini'' que, de acordo com
Heródoto, ela ficou desabitada até por volta de 1330 a.C.
cinco gerações antes das guerras de Tróia. Os fenícios
vieram e ficaram até cerca de 1.115 a.C. seguidos pelos
dórios. O Dr. Doumas acresce: "Após uma Idade das Trevas
de quase dois séculos, Thera emerge, no século IX a.C.
como uma escala na rota da costa sudeste do continente
grego via Meios, e Creta, para Chipre." Após sete anos de
seca, em 630 a.C. os habitantes de Thera deixaram sua
terra estéril e estabeleceram na costa norte da África. Nos
tempos helenísticos, Thera de novo ganhou proeminência e
era uma, comunidade ativa; sua importância desvaneceu-
se durante o Império Romano.
Hoje, a ilha de Santorini tornou-se quase que acessível
demais, para seu tamanho e recursos limitados. Uma
enseada, não muito profunda, para ancoragem, foi aberta
para permitir viagens de carro e de ônibus. Em meados de
1976, conexões diárias de avião com Atenas foram
estabelecidas. A palavra mágica "Atlântida" fez de
Santorini uma atração turística. Lentamente, as mulas
estão dando lugar a ônibus Mercedes.
Santorini é certamente o centro dos cataclismas que
inspiraram as histórias narradas pelos sacerdotes egípcios
a Sólon, e registradas por Platão. Neste sentido, é o centro
de tudo o que a Atlântida pode significar para nós hoje.
Simboliza — e a arqueologia acima e abaixo do mar o
documenta — o significado poderoso que o conceito
atlante tem para nossa geração. Estamos à procura de
nosso passado desconhecido, porque estamos à procura de
nossa própria identidade; esforçamo-nos por entender suas
origens, assim como vivemos admirando o passado e
temendo o futuro. A Atlântida é mais real que pedras e
murais; a Atlântida é tão real quanto nossos corações e
mentes.

APÊNDICE SOBRE A LENDA DA ATLÂNTIDA


Por Spyridion Marinatos .

A moderna pesquisa arqueológica e da geologia marinha


no Mar Egeu, no Mediterrâneo oriental, deve-se largamente
à visão e energia de um erudito, o falecido Dr. Spyrídion
Marinatos; sua morte, em 1973, ocorreu no local de suas
investigações: os remanescentes em pedra, forma e arte
que formam a atual pesquisa do passado da ilha de
Santorini (Thera). Mas o trabalho básico, ao menos em
termos de hipóteses e planejamento concreto, foi
estabelecido mais de 25 anos antes. É vividamente
delineado pelo Dr. Marinatos no seguinte trabalho,
tradução do jornal especializado Cretica Chronica, vol. IV,
1950.
Mais uma contribuição a mais de dois mil livros e
publicações que foram impressos sobre a Atlântida, pode
talvez parecer vão; do ângulo puramente científico, pode
até parecer presunçoso. Com estas reservas em mente,
Robert L. Scranton, conhecido por seu estudo sobre
fortificações gregas e um dos últimos americanos a
pesquisar a Atlântida, acrescentou mais uma página. Num
artigo, ele propôs a originalíssima hipótese, se bem que um
tanto ousada, de que a lenda da Atlântida fundou-se na
destruição dos grandes esgotos construídos pelos
minóicos, resultando na inundação da planície de
Orcômenos, pelas águas do lago Copais.
Também tentarei expor o assunto com reservas similares,
mas principalmente porque mesmo de uma bibliografia
brevemente informativa não posso dispor. Talvez isto não
seja muito importante, porque pretendo basear-me numa
teoria anterior, pela qual sou o único responsável. Esta
teoria relaciona-se com a grande erupção de Thera,
aproximadamente em 1.500 a.C. e que indubitavelmente
deve ter deixado horrível marca nas memórias dos
habitantes do Mediterrâneo oriental daquela época. Foram
publicados breves sumários de duas conferências que dei
sobre o assunto, em Atenas, nas Transactions of the
Anthropological Society of Athens (1948, p. 50-55).
Um exame do caso sob o aspecto geológico, creio, não
seria útil e de fato estaria além de meu âmbito, de modo
que simplesmente citarei meu colega neste campo, prof. J.
Trikkalinos, que escreve: "... não há evidência que possa
justificar a hipótese de uma extensa área de terra no
Atlântico, isto é, a Atlântida, que poderia
subseqüentemente ter desaparecido em tempos
históricos".
Proponho aqui examinar pormenorizadamente o problema
da lenda da Atlântida, o que poderá levar à conclusões
mais concretas. Primeiro precisamos resolver se nos
confrontamos com fábula ou lenda histórica. Neste caso, a
forma típica pela qual todos os mitos contendo um núcleo
histórico são transmitidos deve ser estudada e então,
sempre que possível, devemos tentar destacar os
elementos puramente históricos e combiná-los uns com os
outros, para atingirmos uma conclusão mais ou menos
histórica.
Creio que podemos seguramente excluir a fábula. A
imaginação de Platão não inventaria um relato tão único e
inusitado na literatura clássica — foi só depois que esta
forma de escrito aparece, assim como Luciano, em sua
"História Verdadeira" — e tampouco o relato segue a esta
forma. Por esta razão, o relato é usualmente chamado
"tradição" por Platão. Gostaria também de acrescentar que
se em algumas partes a narrativa parece levar o caráter da
fábula, deve-se atribuir isto aos egípcios, e não a Platão. De
fato, possuímos uma história do tempo do Médio Império
(2000-1750 a.C., aproximadamente), preservada em
papiro, e que atualmente pode ser encontrada em
Leningrado. É a famosa "fábula do viajante náufrago", onde
um egípcio conta como sofreu um naufrágio enquanto
navegava rumo às minas do faraó — presumivelmente
Sina. Suas prudentes precauções mostram-se inúteis, não
obstante escolhera um navio de 120 côvados de
comprimento e 40 de largura, no qual "estavam os
melhores marujos egípcios. Conheciam o céu, conheciam a
terra e seu coração era mais inabalável que o de um leão.
Podiam prever a tempestade antes que se desencadeasse
e o mau tempo, antes que se manifestasse". No entanto,
uma terrível tempestade principiou e uma onda de 8
côvados de altura, trazida pelo vento, destroçou o navio e
todos se perderam, exceto nosso viajante náufrago que,
agarrado a um tronco, foi lançado a uma ilha. Lá, um
maravilhoso dragão vivia, que tinha 30 côvados de
comprimento e cujo corpo era revestido de ouro; sua
barba, com mais de 2 côvados de comprimento, e seus
sobrolhos eram de puro lápis-lazuli. Agarrou o náufrago
com suas mandíbulas e levou-o a seu covil. Porém, não lhe
fez mal, e ao ouvir sua história, informou-lhe de que ele
estava "numa ilha, no mar, e ambas as suas praias
estavam em meio às águas... Esta é uma ilha de seres
venturosos onde tudo o que o coração desejar pode ser
encontrado, e suas riquezas abundam...". Prossegiu,
contando-lhe que seus irmãos com seus filhos, ao todo 75
dragões sublimemente felizes, viviam naquela ilha, mas
certa feita, quando ele estava ausente, uma estrela caiu e
queimou-os todos, incinerando-os. Continuou então,
profetizando que muito em breve o egípcio seria levado
embora por uma nau pertencente a seus compatriotas e
que ele morreria feliz com a família à sua volta. Cumulou-o
de presentes e revelou-lhe ser o soberano de Punt e que
todos os perfumes e a mirra lhe pertenciam. Mas,
acrescentou, "nunca mais verás esta ilha, pois será
engolida pelas ondas". Esta lenda de uma ilha
supremamente feliz, com seu povo contente, que depois
submergiu e desapareceu era, pois, claramente familiar
aos egípcios. Esta é a lenda que o sacerdote saíta
confundiu com outros relatos tradicionais concernentes à
Atlân-tida, por conterem similaridades. Agora devemos
examinar a maneira pela qual lendas históricas são
transmitidas às pessoas, de boca em boca.
Os instintos da alma de um povo são idênticos em todas as
eras e civilizações, talvez por isto as lendas históricas de
todas as nações sejam transmitidas de uma maneira típica,
usualmente possuindo os seguintes elementos: Os nomes
são transformados ou corrompidos. Os eventos que
efetivamente sucederam são misturados com narrações
imaginadas. As regiões onde os eventos tiveram lugar são
mudadas para outras e, principalmente, o tempo é
deslocado infinitamente para trás, no passado. Várias eras
e personalidades são fundidas num só período e numa só
figura. Alguns dos nomes são usualmente preservados e,
mui freqüentemente, algumas das aquisições culturais que,
entretanto, são entretecidas à trama da história. A tradição
é diversificada por acontecimentos insignificantes, do tipo
que apela para a imaginação popular, ao passo que outros,
que podem ter uma significância histórica capital, são
omitidos. Exemplos deste tipo, pertencentes a data
posterior, são as tradições relacionadas com Alexandre, o
Grande e Atila, o Huno — onde Edgel torna-se Nibel e, na
Escandinávia, Atli.
Eduard Meyer, o famoso historiador, não deixa este ponto
passar despercebido e assinala: Os eventos históricos são
introduzidos em ciclos mitológicos populares... são
mesclados com material de outra proveniência, em parte
de mitos, em parte de fábulas, e assim são submetidos a
alterações radicais. A guerra de Tróia é incorporada ao
mito de Helena e de Aquiles, expandindo-se depois,
constantemente — o mito de Odisseu. O mito dos Sete de
Tebas aparece em conjunto com o mito de Édipo e Tirésias
e este, além do mais, é associado com o mito relacionado a
Anfiarau, um deus da vizinha Oropos, no país dos Graeuss
Estas tradições, originalmente independentes, depois
tornaram-se parte do mito da guerra contra Tebas... donde
o mito do duelo entre dois irmãos — Etéocles é o rei da
vizinha Orcõmene, mas o nome Polinice é uma invenção —
que é um tema popular amplamente disseminado. O
núcleo histórico é claro, entretanto. Este famoso erudito da
história e da pré-história vai adiante: Não precisamos
imaginar que a guerra dos Sete foi um evento que abalou o
mundo; mitos heróicos de outros povos, especialmente dos
germanos, apontam para o fato de que acontecimentos
insignificantes — a derrubada do estado burgúndio de
Worms — recebem freqüentemente lugar de honra nos
mitos, ao passo que eventos de muito maior importância,
assim como a invasão romana, virtualmente não deixaram
traços na memória dos povos... A derrubada de Tebas de
Cadmo, pelos beócios durante o Võlkerwanderung dos
povos, é erroneamente atribuída ao período remoto.
Eduard Meyer refere-se aqui ao bem conhecido fato de que
o épico dos Nibelungen é relacionado aos eventos na
Burgúndia. Um exemplo análogo, tomado da civilização
suméria, seria a rivalidade entre duas dinastias
empobrecidas, as de Larsa e Isin, cuja queda impressionou
tão vivamente a imaginação popular, que mesmo marcou
um ponto de partida para as datas, ao passo que coisas
muito mais importantes, assim como os feitos de
Eannatum, ou o grande Lugal Zaggizi, e mesmo Sargão, o
Grande, de Agad, não deixaram impressão tão profunda.
Um proeminente e típico exemplo desta forma de
acontecimento, como delineado acima, é proporcionado
por Heródoto, cujas fontes de informação derivavam quase
sempre do povo e de narrativas populares, bem como dos
ubíquos guias leigos que então já eram, como seus
equivalentes modernos, uma praga. O povo acreditava que
as obras e conquistas mais memoráveis de Babilônia
pertenciam a duas rainhas, Semíramis e Nitócris, e
especialmente a esta última; foi isto o que contaram a
Heródoto. Porém, nenhuma rainha governou Babilônia.
Semíramis foi, realmente, figura histórica, mas meramente
como rainha-mãe da Assíria, e nunca como governante,
sendo no máximo, Regente, durante quatro anos, de seu
filho Adad Nirari IV, durante sua minoridade, por volta de
810 a.C. Quanto a Nitócris, a quem se atribuíam as obras
de numerosos reis, como por exemplo, de Nabucodonosor
II, nunca existiu. De novo, todos os feitos de toda uma
hoste de governantes egípcios foram atribuídos pelo povo
a um só rei, Sesóstris. Foi uma figura histórica e um grande
rei da 12ª. dinastia (1.900 a.C.); mas, eventos cobrindo
séculos foram atribuídos a ele só porque seu nome era fácil
de ser pronunciado pelo povo. Como observou o
egiptólogo, Spiegelberg, foi de tais fontes que Heródoto
tirou sua informação. Ele também explica que, quando
Heródoto visitou as pirâmides, seus guias leigos contaram-
lhe uma história a respeito de quantidades fantásticas de
alho e cebola consumidos pelos trabalhadores que as
construíram. (acredita-se que mil e seiscentos talentos de
prata foram gastos com este alimento durante a
construção da pirâmide de Queóps).
Heródoto visitou o Egito durante 3 meses e meio, de
agosto a novembro de 450, aproximadamente. Pode haver
dois autógrafos dele, pois dois fragmentos com seu nome,
apresentando uma forma de escrita pertencente à metade
do século V a.C. foram encontrados no recinto sagrado
(Helenium) em Náucratis, onde os visitantes costumavam
dedicar vasos.
A crença, popular atribuía a Sesóstris obras e conquistas de
faraós que viveram 700 anos depois (Tutmés III, Amenófis
ou Amenotep III e, especialmente, Ramsés II).
Restringindo-nos a um só exemplo da Grécia, talvez um
dos mais esclarecedores, temos um caso similiar nos mitos
históricos acerca de Minos. Hoje, sabemos que houve
muitos palácios em Creta, cada um com uma vida entre
cinco e sete séculos. Muitos homens gloriosos devem ter
respirado seu espírito nestes palácios e tornaram-nos
famosos através de suas personalidades brilhantes, ou
medíocres. Mas, praticamente todas as recordações dos
homens da antiguidade concernentes a Creta
centralizaram-se à volta de uma só dinastia, Minos de
Cnossos, a quem por vezes, duplicaram — Minos, o Velho,
ou I, e Minos, o Jovem, ou II — porque viam que era
impossível atribuir a uma só pessoa todos os
acontecimentos que eram comemorados. Passaremos
agora a examinar o mito a respeito da Atlântida.
Como não nos deparamos agora apenas com o problema
da localização — o Oceano Atlântico — mas com aquele
aparentemente maior, mencionado na narrativa, o do
tempo — os eventos relacionados com a Atlântida
supostamente ocorridos nove mil anos antes da narrativa
— precisamos dizer algumas palavras sobre este colossal
anacronismo.
Atualmente, conseguimos seguir com certeza as grandes
civilizações de nosso planeta até 4.000 a.C. quer dizer, por
um período de seis mil anos antes da atualidade. A
evidência do homem, dizem-nos os especialistas, pode ser
acompanhada por 600.000 anos, e possivelmente, por um
milhão de anos; a história da evidência da vida, por até
800.000.000 de anos. Todo este conhecimento
impressionou o pensamento do homem. As mais antigas
nações européias não contam mais de mil anos de vida e
história política contínua; a mais velha das nações
históricas da Europa, a Grécia, não conta mais do que três
a três mil e quinhentos anos, os egípcios e sumérios, cerca
de cinco mil. A Idade Média contentou-se em datar o
começo do mundo, de acordo com as tradições de Israel,
no ano 4.004 a.C. o que simplesmente coincide com os
obscuros princípios das duas grandes civilizações citadas
acima. Desde então, o progresso tem sido constante e
espetacular. O homem descobriu novos continentes. Então
circunavegou a Terra.
Então, a despeito das objeções da igreja e das superstições
e perigos que os galileus da ciência tiveram de superar,
telescópios e espectroscópios trespassaram o caos do
universo. Hoje, podemos medir mais precisamente que
mínima fração de matéria é a Terra no universo, e que
insignificante momento na vida da Terra é ocupado pela
história da civilização humana. O quanto alcançam as
memórias do homem? (Isto é de primacial importância para
o problema da Atlântida. Milhões de anos foram
necessários para a Terra esfriar até as terras baixas e
restritas e os imensos oceanos do período paleozóico.
Algas, corais, moluscos e espécimens de vida igualmente
primitivos apareceram em nosso planeta. Árvores,
florestas, e novas formas de vida, especialmente sáurios
gigantes, desenvolveram-se durante o período mesozóico.
O período terciário viu grandes alterações na crosta do
planeta. Os animais anteriores desapareceram e enormes
mamíferos tomaram seu lugar, animais agora extintos que
desapareceram ao longo daquele período. No fim deste
período, o exemplo mais avançado de pite-cantropo
apareceu, do qual depois o homem foi separado da família
original dos primatas e desenvolveu-se isoladamente.
Todas estas evoluções são calculadas em termos de
milhões de anos.
O último período, o quartenário, ao qual pertencemos, é
dividido em duas seções: superior e inferior. O superior
possuía uma vida animal que se extinguiu — mamutes, o
Elephas antiguus, ursos das cavernas e renas. As geleiras,
por sua vez, expandiram-se e contraíram-se.
As últimas formações geológicas que conformaram os
continentes à sua forma presente limitam-se a este
período. Por exemplo, antes do começo deste período, o
quartenário inferior, aproximadamente em 20.000 a.C. a
Inglaterra separou-se do continente europeu, a África
finalmente separou-se da Europa, e o Mediterrâneo,
formou-se, uma vez que os elos que uniam os dois
continentes, pela extensão da Espanha e da Itália,
cessaram de existir. Por volta deste período também, o
Egeu foi submergido, bem como a terra entre a Europa e a
América do Norte; talvez também a terra que unia o leste
da Ásia ao Alasca.
Tendo feito esta digressão, podemos perguntar se foi
possível para o homem primitivo daquele período ter sido
capaz de reter memórias destes fenômenos geológicos.
Presume-se que o homem possa ter passado, em tempos
primitivos, através de Sunda para a Austrália antes da
formação da Polinésia, pelos estreitos de Sunda, como
conhecemos hoje. Ondas de tribos, do mesmo modo,
podem ter passado à América através de corredores do
Alasca, bem como homens e animais da Europa para a
Ásia, através dos corredores acima mencionados, do
Mediterrâneo; destes movimentos, nenhuma lembrança foi
preservada.
As lembranças geológicas mais recuadas do homem são
aquelas a respeito do Dilúvio. Sabemos de muitos dilúvios
devidos a tempestades ou maremotos, que são lembrados
em todos os continentes, exceto, talvez, na África. Este
dilúvio, em particular, o da Bíblia (os gregos tinham outras
tradições próprias, concernentes a seus próprios dilúvios;
remonta ao tempo das antigas civilizações, e ao dos
sumários). Foi esta a fonte da tradição hebraica. As
escavações em Ur mostram que um desastre de fato
ocorreu por volta de 4.000 a.C. Portanto, como a versão
contada no Egito diz que a Atlântida fica além das Colunas
de Hércules, que é o atual Oceano Atlântico, e que nove
mil anos haviam passado entre o afundamento da Atlântida
e o tempo da discussão entre Sólon e os sacerdotes saítas,
segue-se que estamos tratando com impossibilidades.
Mesmo no caso da Inglaterra ter-se destacado da terra
seca, ou de terra seca submergindo no Atlântico ocidental
— o Mar dos Sargaços, caso isto fosse presumível — ou um
evento que de fato ocorreu de acordo com dados
geológicos, seria impossível para o homem reter memórias
de eventos tão recuados no tempo.
Portanto, só podemos aceitar o cerne histórico da tradição
sobre a Atlântida como fato, como ocorre com outras
tradições históricas, mas o tempo e o lugar, não podemos
aceitar. Há também evidência de que a cronologia, nas
mãos dos egípcios e dos sumérios, foi exagerada
irrazoavelmente. Há um fato positivo notado pela tradição
que imediatamente nos guiará aos limites cronológicos
corretos, a florescente "Hellas", que é um elemento
inegável na história da Atlântida. Isto inevitavelmente nos
traz aos séculos XV-XVI a.C. quando a civilização creto-
miceniana estava em seu apogeu. Agora, estamos prontos
para examinar em pormenor o relato da Atlântida, a seguir.
Crítias nos conta a respeito de uma tradição
importantíssima relacionada à grandeza de Atenas. A fonte
desta tradição é Sólon, que a passou a Drópides, o bisavô
de Crítias, com quem o grande legislador tinha fortes laços
familiares. Então, o avô de Crítias, também chamado
Crítias, repetiu-a perante seu neto. Em suma, foi o seguinte
o que ouviu: Sólon (Sólon viveu de 640/39 a 559/8 a.C.
Emigrou para o Egito, em alguma data posterior a 572.
Esteve fora por 10 anos, durante os quais visitou outros
países), durante sua visita ao Egito, falou com os
sacerdotes de Neith ("Atenas") em Sais. Durante a
conversa, Sólon aproveitou a oportunidade para contar aos
egípcios, cujo passado era incomparável e do qual se
orgulhavam, tudo o que ele sabia da Grécia, que era mais
antiga. Falou, portanto, sobre Foroneu e Níobe, e sobre o
dilúvio de Deucalião, com o que disse um dos sacerdotes:
Sólon, Sólon, vós, gregos, nada mais sois senão crianças,
pois nada sabeis do que é antigo. Primeiramente, falais de
um cataclisma, ao passo que muitos ocorreram. Outros
desastres foram também trazidos pelo fogo, quando se dão
mudanças na ordem do universo. Quando falais de
Faetonte, referi-vos a este fato. Após cada desastre, os
elementos cultos e educados da população foram
destruídos e só os pastores das montanhas sobreviveram.
Por isso, não vos lembrais de nada. Há nove mil anos,
porém cumprísteis um feito magnífico, pois então
humilhastes uma potência arrogante que veio do Oceano
Atlântico, onde havia uma ilha maior do que a Ásia e a
África juntas, sobre a qual reinava uma gloriosa linhagem
de reis que, outrora, estendeu sua dominação até mesmo à
Tirrênia e ao litoral egípcio. Veio o dia em que tentaram
vencer tanto a vós como a nós, numa só campanha. Então,
vos colocastes à cabeça, e ficastes firmes; não vos
recusastes à luta, mesmo tendo vossos aliados vos
abandonado no campo de batalha. Defrontastes-vos com a
morte, mas finalmente, fostes vitoriosos e assim evitastes
nossa sujeição, e libertartes aqueles que foram
escravizados. Depois, terremotos e cataclismas
aconteceram; dentro de um dia e uma terrível noite, vosso
exército foi engolfado pela Terra bem como a Atlântida
que, submersa pelo mar, desapareceu. Esta é a razão pela
qual o mar aberto não é navegável lá, e é inexplorado, pela
quantidade de lama deixada no mar pela ilha submersa.
Essa última característica atraiu alguns estudiosos para a
busca da Atlântida no Mar dos Sargaços, perto das
Antilhas, onde grandes quantidades da alga deste nome
que flutuam no mar são um obstáculo à navegação.
Pessoalmente, creio que tal reminiscência seja verossímil,
porque podemos subestimar os feitos ousados dos antigos
marujos (v. abaixo, quanto à circunavegação, da África
pelos fenícios). Por isso, a narrativa de Platão poderia ser
considerada como a primeira referência à existência da
América. Depois de a Atlântida ser descrita como estando
além de Gibraltar, então a narrativa continua, dizendo que
daqui se poderia navegar a outras ilhas, e de fato, às
outras ilhas (portanto, devem ter sido muito bem
conhecidas) e daqui, "ao lado oposto, a todo continente
que cerca aquele verdadeiro mar". Colombo (o terceiro a
fazê-lo, pois que foi precedido pelos vikings) não
redescobriu a América do mesmo jeito? Primeiro chegou a
S. Salvador, uma das Bahamas; então, foi informado de
que havia um grande continente para o oeste, depois
conhecido como América.
A narrativa, variada com teorias sobre cosmogonia e
filosofia, é longa. Nosso conhecimento da literatura e do
pensamento egípcios está hoje suficientemente adiantado
para distinguir entre os elementos puramente egípcios do
relato e da evidência do intelecto grego de Platão. Isto,
aqui, não é essencial e o sumário é bastante, para nosso
propósito.
Podemos, pois, observar que a lenda, tal como está, não
pode ser aceita. Podemos, no entanto, separar a fantasia
do fato, o que, enquanto o problema de lugar e
especialmente o do tempo são resolvidos, fica claro e
facilmente identificável, de acordo com os princípios das
origens das lendas históricas, como expusemos acima. As
explicações sobre onde está a ilha submersa serão
discutidas mais abaixo. Quanto à cronologia de nove mil
anos, sabemos que não existiam gregos então para
executar feitos heróicos, nem egípcios para gravá-los por
escrito. Os assim chamados textos das pirâmides, os mais
antigos textos contínuos dos egípcios, pertencem
aproximadamente à metade do terceiro milênio, mas
concernem apenas a fórmulas religiosas. Possuímos textos
históricos de comprimento substancial somente após a 18ª.
dinastia. Os mais consideráveis são aqueles pertencentes
ao tempo de Tutmés III (1500-1447) e de Ramsés II (1292-
1225), e os textos mais recentes, de Merenptah e Ramsés
III. Considero estes últimos como sendo os textos que o
sacerdote saíta tinha em mente, quando conversava com
Sólon.
Em outro diálogo, de acordo com Platão, os egípcios, ao
discutir a guerra contra os atlantes, repetidamente
referiram-se a Cécrops, Erecteu, Erisícton, e outros, que
viveram antes de Teseu. Platão, é verdade, assevera que
aqueles mesmos nomes foram dados a outros sucessores.
De qualquer modo, os eventos tomados como um todo,
testificam, à parte as opiniões de Platão, que estamos nos
limites do segundo milênio, a única alternativa possível. O
método mais simples seria, acho, esboçar um perfil da
história do Egito em paralelo com a área creto-miceniana
durante o segundo milênio seguido por algumas palavras
sobre o período saíta. Assim o assunto, no que tange aos
elementos a partir dos quais foi tecida a lenda da Atlântida,
falará por si só. O período entre o Médio e o Novo Império,
de exatamente 200 anos (1780-1580 a.C.), é ocupado
inteiramente pela dominação dos hicsos (de acordo com
Maneto, estes eram "pastores"), cujos reis eram de origem
semítica. A revolta contra eles foi organizada pelos
príncipes egípcios de Tebas. Hoje, quase todos os
estudiosos concordam que isto se deu com ajuda exterior e
que a expulsão dos hicsos foi conseguida com o auxílio de
forças consideráveis que não egípcias. Este fato, além do
mais, é mencionado em fontes egípcias, que se referem
àqueles que os ajudaram, sob o nome geral de Haunebt ou
Hanebu. Infelizmente esta palavra nem sempre tem o
mesmo significado, porque às vezes é usada para os
habitantes do litoral líbio (especialmente em tempos
anteriores), e também para o povo das ilhas do Egeu. O
famoso Eduard Meyer, sem hesitar, aceita esta última
alternativa. A reverenciada Rainha-Mãe Aahhotep leva o
título "Princesa da costa de Hanebu" e deste título, que
nunca mais encontraremos em todos os séculos da
literatura egípcia, ele conclui que ela era casada com um
príncipe cretense. Os hicsos foram, portanto, batidos com o
auxílio dos cretenses. À parte esta teoria, que de fato é
inaceitável para outros historiadores, espero publicar em
breve um estudo provando que os micenianos, e não os
cretenses, mais pacíficos, foram em socorro aos egípcios.
Os cretenses devem certamente ter contribuído,
transportando os micenianos em seus navios. Acredito que
a grande quantidade de ouro descoberta por Schliemann
no cemitério real da acrópole, foi por certo o preço de sua
assistência aos egípcios. Aqueles resolutos, porém
simplórios guerreiros, trouxeram novos costumes
funerários do Egito, as múmias, as máscaras mortuárias, as
estrelas funerais e os ricos adereços. Uma explicação
melhor para o súbito "milagre" dos micenianos no meio do
período pobre e frugal da Hélade, não pode ser encontrada.
Os mercenários da área do Egeu não deixaram, desde
então, de ajudar aos egípcios. De início, pensou-se que os
"shardana" eram os mercenários do Egito apenas durante o
período de Rámsés II, mas as tabuinhas de Amarna
provaram que foram empregados anteriormente a este
período pelas guarnições da Síria. Portanto, as conclusões
que Meyer tira são de que seu uso datando do começo do
Novo Império é muito provável. A melhor prova é o
intercâmbio constante entre as duas áreas, a egípcia e a
creto-miceniana, a partir do século XVI a.C. Todo um livro
foi dedicado às descobertas egípcias, na Grécia (J.
Pendlebury, Aegyptiaca).
Os povos do Mediterrâneo nem sempre visitaram o Egito
como amigos. Em expedições de saque ou sob pressão das
ondas de grandes emigrações dos povos, durante os
séculos XII e XIII a.C. grupos armados de vários povos do
Mediterrâneo invadiram o Egito. Merenptah e Ramsés III
lutaram duramente, e foram bem sucedidos em expulsá-
los. O Egito ainda não era poderoso o suficiente para
enfrentar estes invasores, dentre os quais encontramos os
Akaiwasha, Danuna, Tursha, Shekelesh e Shardana, que se
identificaram com os Aqueus, Dananeus, Tirrênios,
Sicilianos e Sardos. Os Púlesatim ou Palestim são
usualmente identificados com os Filisteus e, mais
raramente, com os Pelasgos.
Após a 20ª. dinastia, o Egito virtualmente entra no período
de sua decadência. Fraco e dividido, o seu fim já
determinado (o destino de todos os povos que se apoiam
em mercenários), caiu presa dos assírios. Seu último clarão
de glória foi a 16ª. dinastia, do período conhecido como
saíta (663-525 a.C.). O papel dos gregos foi então de
grande significado, no que concerne a nosso assunto.
Psamético I sacudiu o jugo estrangeiro, como mil anos
antes, com o auxílio de mercenários carianos e jônios.
Conquistou a Síria e lutou contra os citas. Necô, seu filho
(609-593 a.C.), vitorioso sobre os asiáticos, confiou mais
uma vez nos gregos. Poderíamos dizer que os jônios eram
seus deuses. Após cada vitória, os grandes faraós do Novo
Império ofereciam presentes magníficos ao deus Amon, de
Tebas. Consistiam de ouro e outros metais, novos edifícios,
animais, e mesmo escravos. Amasis, porém, não ofereceu
seus presentes a Amon de Tebas, mas a Apolo, dos
bráquidas e talvez o mais interessante foi que a oferenda
foi verdadeiramente simples, mas muito grega, que foi a
panóplia do próprio rei. Procura-se em vão por um caso
similar na história precedente do Egito. As idéias gregas
agora penetravam no Egito. Pela primeira vez na história
deste antigo e orgulhoso país, dá-se permissão para
construir uma colônia jônia, Náucratis, que se tornou o
mais antigo centro do helenismo no Egito. Os faraós agora
estavam imbuídos da nova cultura e das novas idéias dos
gregos, a despeito do conservadorismo tradicional da raça
egípcia, como Breasted observou, pertinentemente. Necô
tentou abrir o Canal de Suez até o Mar Vermelho e enviou
marujos fenícios a explorar a África. Os marujos retornaram
após uma ausência de três anos e foram os primeiros a
circunavegar o continente africano, mais de dois mil anos
antes de Vasco da Gama.
Psamético II (593-588 a.C.), filho de Necô, liderou seus
mercenários gregos a Abu Simbel, na Núbia, onde, na
perna do colossal Ramsés II gravaram suas inscrições.
Ápris e Amásis, que se seguiram, são figuras que
conhecemos bem, através dos gregos, e também pela
amizade entre Amásis e Polfcrates, tirano de Samos. Em
525, a conquista do Egito, por Cambises, cortou o fio da
longa independência dos egípcios. O esboço
correspondente da história creto-miceniana é mais simples.
Um fluxo constante de intercâmbio entre Creta e o Egito é
evidenciado já desde a 12ª. dinastia e o nome de Kyan, o
faraó hicso, foi encontrado gravado na tampa de um pixis
de alabastro achado em Cnossos. Após 1.600 a.C. Micenas
entrou no palco como potência internacional. No tempo de
Hatsepsut e Tutmés III, isto é, por volta de 1.500 ou pouco
antes, os Keftiu são freqüentemente retratados nos
túmulos da necrópole de Tebas, trazendo presentes. Os
Keftiu podem ter sido cretenses, ou talvez não. Muitos dos
presentes, porém, são incontestavelmente de origem
creto-miceniana. Os motivos decorativos da arte das duas
regiões que tanto se influenciaram mutuamente, tornam
difícil discernir quem foi a influência dominante.
Um desastre terrível atingiu Creta, por volta de 1.500 a.C.
Cidades, estruturas monumentais e dois dos três palácios
foram para sempre destruídos. Mesmo as cavernas
sagradas assim como as de Arcalocori desabaram. Este
desastre, pelo qual os aqueus possivelmente não podem
ter sido responsáveis, — pois que ocorreu antes de seu
período. — atribuiu a um evento natural terrível, a erupção
de Thera. Desta teoria diremos apenas o que for essencial
à nosso propósito. Thera, como todas as ilhas vulcânicas,
era originalmente quase redonda, e coberta de vegetação
— oliveiras, palmeiras — e povoados florescentes, pois por
muito tempo estivera inativo o vulcão. Quando o vulcão
explodiu, pomes e cinzas cobriram inteiramente os
povoados. Sabemos, dos achados, que a erupção deve ter
ocorrido perto de 1.500 a.C. Podemos estudar o curso e
resultados desta explosão, pelas outras, posteriores, deste
vulcão e da erupção de seu irmão, o Cracatoa — entre Java
e Sumatra — em 1883. Philippson nos diz que o acontecido
no Cracatoa deve ter sido idêntico ao que ocorreu em (16)
Referências especiais são, em minha opinião,
desnecessárias. As obras de Ed. Meyer e especialmente
James H. Breasted, A History of Egypt, são suficientes.
(17) Publiquei um informe mais minucioso em Antiquity,
1939, p. 425-439.
Thera, porque ambos os vulcões pertencem à mesma
família. Durante a erupção ou série de erupções do
Cracatoa, que durou três dias, os fenômenos seguintes
foram observados. A cinza vulcânica ejetada atingiu a
estratosfera e por seis meses flutuou na atmosfera, sendo
levada pelo vento até a Europa. (Os esplêndidos ocasos
daquele ano foram atribuídos a isto.) O dia tornou-se noite
num raio de mais de 150 quilômetros, e sobre esta mesma
área, as paredes racharam e todos os objetos passíveis de
se balançar ficaram em assustador e contínuo movimento.
Isto, e o entrechocar-se de objetos móveis, provocou uma
indescritível agitação em homens e animais, que mesmo
sendo afastados à força, não queriam deixar as casas. O
terrível ruído podia ser ouvido a 3.500 quilômetros de
distância, na Austrália, e de acordo com alguns, até mesmo
nos Antípodas. Seja lá como for, foi o maior ruído
historicamente verificável neste planeta. O vulcão emitiu
volumes colossais de lava, que não só cobriram a ilha, mas
também o mar circunjacente e mesmo uma enseada da
vizinha Sumatra foi bloqueada por um longo tempo. Uma
série de ondas de 15 metros de altura atingiu as ilhas
vizinhas e causou a maior destruição. Rochas foram
deslocadas, linhas de trem e locomotivas foram arrancadas
e reviradas, e cidades, assim como Telong-Beteng na
vizinha Sumatra, foram varridas. O vapor Maruw, suspenso
por uma onda sobre a cidade, depois foi achado vários
quilômetros adiante, numa floresta. As casas que puderam
escapar às ondas foram destruídas pelo incêndio, causado
pelo emborcamento de lâmpadas. Os raios, na atmosfera
sobrecarregada de eletricidade estática, atingiram faróis e
edifícios altos. Trinta e sete mil almas foram perdidas
durante este terrível desastre.
A área que explodiu e afundou em Thera tem 80
quilômetros quadrados, e a do Cracatoa, perto de 20 km2.
A erupção, portanto, deve ter sido "quatro vezes" mais
violenta. A camada de cinza cobrindo a parte oriental da
ilha, que sobreviveu, tem de 30 a 60 m de espessura.
Sabemos, por erupções posteriores, menores, que o pomes
cobriu o mar até o litoral da Ásia Menor. Como a velocidade
das ondas está relacionada com a profundidade do mar, o
que nq caso do mar entre Thera e Creta atinge uma
profundidade de dez vezes e, em certos pontos, de trinta
vezes a do mar perto do Cracatoa, as ondas devem ter sido
mais terríveis e se deslocado muito mais depressa. O fato
de que as ondas então atingiram Creta — uma distância de
60 milhas — num intervalo de tempo muito breve, é
matematicamente certo; lá, causaram enorme destruição
na terra pouco acidentada.
De acordo com o finado prof. N. Críticos, um fenômeno
típico nas erupções de Thera é a série de terremotos
estendendo-se por uma vasta área pelo Mediterrâneo
oriental, precedendo ou seguindo-se às erupções do
vulcão. Não pode haver dúvida de que Creta tornou-se
deserta. A tradição de que foi desertada nunca foi
esquecida pelos habitantes, pois Heródoto a cita, e a
atribui à tradição praisiana-eteo-cretana, muito embora a
relacione a outros tempos e outras causas. Os fenômenos
relacionados à erupção do Cracatoa não mais podem nos
deixar em dúvida de que aqui a explosão deve ter sido
muito mais intensa e também deve ter sido percebida no
Egito. De fato, é curioso que nenhuma evidência relativa a
isto até agora tenha sido descoberta. Creta decaiu
constantemente, desde esta data. O prolongamento
temporário da vida do palácio de Cnossos, sozinho, por
mais de 50 a 100 anos, não foi suficiente para deter o fluxo
dos eventos. Em 1.500 a.C. o Peloponeso, encabeçado por
Micenas, tomou o lugar de Creta. Amenotep III, o mais
magnificente de todos os reis egípcios (1411-1375 a.C.
aproximadamente), manteve estreitos laços com Micenas,
e não mais com Creta.
No entanto, um século depois, na região da civilização
micenia-na, cheia de riqueza, glória, atmosfera belicosa e
relações internacionais vitais, sentimos cada vez mais que
os governantes micenianos preocupavam-se com os
primeiros sinais de perigo. As acrópoles mi-cenianas foram
reforçadas. Micenas e Tirinto construíram muralhas
suplementares e a grande acrópole de Gla foi
apressadamente construída. Não havia tempo nem mesmo
de construir um palácio adequado dentro de suas
muralhas. O desastre era iminente e entre 1.200 e 1.100
a.C. todos os centros da civilização miceniana foram
finalmente destruídos.
Os elementos da lenda histórica da Atlântida podem ser
prontamente encaixados agora neste panorama histórico.
Num artigo do Times de Londres (19 de janeiro de 1909)
alguém já havia se aventurado a escrever anonimamente,
logo após as esplêndidas descobertas feitas em solo
cretense, sustentando que esta era a "Atlântida" dos
egípcios. Sublinhava que as semelhanças entre a tradição
concernente à Atlântida e os achados de Creta (captura de
touros sem o uso de armas, organização, leis, etc.) e o
intercâmbio florescente entre a ilha e o Egito (Keftiu, etc).
Então, com o súbito desaparecimento dos cretenses (o
autor não tinha explicação para isto) com o domínio dos
micenianos, os egípcios inventaram o mito de uma ilha que
submergia. Este artigo recebeu alguma atenção; outros
apressaram-se em manter a mesma opinião, pelo que o
autor foi encorajado a retornar, desta vez num jornal
científico, identificando-se: era K. Frost.”
Acredito ser esta a explicação mais razoável. Uma grande,
próspera e poderosa ilha, perdida na região do
conhecimento dos egípcios que não Creta, não existiu. Mas
que inventaram um mito sobre sua submersão, mesmo que
tenham tido sua história do Viajante Náufrago, parece
difícil. Temos também o exército dos atenienses, que a
"terra engolfou" totalmente, após temíveis terremotos e
dilúvios, num só dia e noite, juntamente com a Atlântida.
Os egípcios devem, sem dúvida, ter ouvido falar de uma
ilha que afundou — Thera, mas sendo tão pequena e
insignificante, não sabiam de sua existência. Transferiram
o acontecido para Creta, a ilha tão gravemente atingida, e
com a qual subitamente perderam todo contato. O mito de
um exército sendo engolfado originou-se das notícias das
perdas de milhares de vidas. Com a falta de coesão e
lógica, que caracteriza os mitos — bem como todos os
outros produtos da imaginação do povo — nem mesmo
Platão percebeu a inconsistência da Atlântida no Oceano
Atlântico e todas as forças armadas dos atenienses, em
Atenas, claro, sendo submersas ao mesmo tempo!
Por que o exército, e os feitos, de novo, dos atenienses? A
explicação, mais uma vez, é simples: o sacerdote saíta
estava falando a Sólon, o ateniense. Os atenienses eram
jônios. 0 saíta sabia que, por gerações, o Egito confiara na
infantaria jônia (os hoplitas) e adquirira sua independência
no reinado de Psamético I com seu auxílio. Os jônios,
portanto, são os mais bravos de todos os soldados. Donde
o feito contra os atlantes!
A tradição da dominação dos atlantes, até a Líbia e a
Tirrênia, e a ameaça aos gregos e egípcios, cujas terras do
Delta tentaram conquistar, são igualmente claras.
Sabemos, de fato, que os povos de navegantes atacaram o
Egito pelo Delta e foram parcialmente destruídos em
batalhas navais, como os relevos de Ramsés III em Medinet
Habu testificam. As fortificações das acrópoles micenianas,
como já dissemos, apontam perigo. É razoável acreditar
que em meio à violenta onda de emigrações durante o
século XIII a.C. podemos corretamente aceitar que povos
errantes atacaram ou tentaram atacar a Grécia, antes de
chegarem ao Egito. Se isto realmente aconteceu, foram
mais provavelmente repelidos, porque não temos evidência
de destruição maciça da civilização miceniana durante
aquele período. Alcançaram o Egito, exauridos. Donde, a
tradição dos egípcios de que os "atenienses salvaram os
egípcios, vencendo os atlantes". Sabemos tão pouco sobre
a história da área coberta pela civilização miceniana, que
esta tradição pode muito bem ser verdadeira. Algum
exército muito grande dos países mais ocidentais do
Mediterrâneo — Tursa, Shekelesh e Shardana — pode ter
sido destruído pelos poderosos dinastas da civilização
miceniana.
Uma explicação para a transferência do local da ilha
afundada no Oceano Atlântico fica para ser dada. Dois
eventos ainda nos auxiliam: primeiro, a então recente
circunavegação da África durante o reino de Necô. Os
marujos, de volta, devem ter narrado histórias
maravilhosas assim como todos os marujos adoram
inventar. Por outro lado, os sacerdotes saítas, creio, sabiam
de povos que, em alguma época, saíram dos confins do
Mediterrâneo para atacar o Egito, segundo os relevos de
Medinet Habu e de outras fontes. Estes eram, então, os
"guerreiros atlantes".
Assim, o mito sobre a Atlântida pode ser considerado como
tradição histórica que, à maneira típica da distorção de tais
eventos, cresceu da fusão de vários episódios
disparatados. A destruição de Thera acompanhada por
terríveis fenômenos naturais, sentidos até mesmo no Egito,
e o desaparecimento simultâneo dos cretenses, no
comércio com o Egito, deram origem ao mito sobre uma
ilha, des-mesuradamente poderosa e rica, afundando. A
transferência da ilha para o Oceano Atlântico é explicada
pela circunavegação da África pelos marujos fenícios. As
invasões por povos do Mediterrâneo central foram
acrescidas ao mito, como invasores da Atlântida. Sua
repulsa pelos micenianos, em conjunto com a bravura dos
hoplitas jônios a serviço dos reis saítas, foram os
elementos dos quais originaram-se as histórias sobre um
invencível exército ateniense. O cerne destes eventos,
incorporados num só mito histórico, é a erupção de Thera,
e o ano é por volta de 1.500 a.C. Os elementos mais
recentes do mito chegam a 600 a.C. Novecentos anos
foram assim cobertos, os quais o sacerdote saíta projetou
no abismo do passado. Atingiu-se assim, juntamente com
tanta coisa considerada impossível, a impossível cronologia
de nove mil anos antes da era de Sólon.

(Nota de 1969.) Agora está bem claro que a civilização


miceniana persistiu realmente por algum tempo, na Grécia.
Mas, por outro lado, os palácios foram queimados e
destruídos e muitos micenianos tiveram de retirar-se às
ilhas, ou distritos mais remotos do país, segundo Myc. III,
por volta de 1.250 a.C. Isto parece ter sido resultado de
uma invasão furiosa e devastadora, mas temporária. Há
muitos paralelos históricos de tais invasões tardias de
bárbaros, devastando e passando como tufões. (Último
livro: V. R. d'A. Desborough, The Last Mycenaeans and
Their Successors, Oxford, 1964.)

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