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Polícia Militar da Paraíba

Centro de Educação
Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP)

Abuso de Autoridade

Doutrina do Policiamento Ostensivo


Major Ubiraci

Discentes:Al. CFSD 510 De Souto


Al. CFSD 513 Aguiberto
Al. CFSD 515 Fonseca
Al. CFSD 516 Leal

João Pessoa, 04/02/2019 .


INTRODUÇÃO

No Brasil, muitas autoridades se excedem em seu exercício por vezes constrangendo o


cidadão, isso traz descrédito e desconfiança ao serviço público e as suas instituições, e também
deixa os integrantes da sociedade insatisfeito. Devido ao caráter ostensivo e repressivo, a
polícia militar é a instituição que mais recebe queixa de excesso, pois os mesmo trabalham em
contato direto com a população.
Abuso de poder ou abuso de autoridade é conceituado como o ato humano de se
prevalecer de cargos para fazer valer vontades particulares. No caso do agente público, ele atua
contrariamente ao interesse público, desviando-se da finalidade pública.
No âmbito do Direito Administrativo, é sabido que os poderes administrativos (poderes
de polícia, hierárquico, regulamentar, disciplinar e, para alguns, vinculado e discricionário) são
prerrogativas concedidas à Administração Pública para que esta, no exercício das funções que
lhe são atribuídas pelas normas, alcance o atendimento do interesse público.
Não pode o administrador público renunciar à utilização de tais poderes. O interesse
público é indisponível, e, caso seja necessário que o administrador se valha de tais poderes para
cumprir sua função, deverá exercê-los, haja vista que os poderes administrativos constituem
verdadeiros poderes-deveres.
O abuso de poder é gênero do qual surgem o excesso de poder ou o desvio de poder ou
de finalidade. Assim, o abuso de poder pode se manifestar como o excesso de poder, caso em
que o agente público atua além de sua competência legal, como pode se manifestar pelo desvio
de poder, em que o agente público atua contrariamente ao interesse público, desviando-se da
finalidade pública.
No caso do abuso de autoridade, temos a tipificação daquelas condutas abusivas de
poder como crimes (lei 4898 /65) podendo-se dizer que o abuso de autoridade é o abuso de
poder analisado sob as normas penais. Mais ainda, o abuso de autoridade abrange o abuso de
poder, conforme se pode vislumbrar pelo disposto no art. 4°, a, lei 4898/65, utilizando os
conceitos administrativos para tipificar condutas contrárias à lei no âmbito penal e disciplinar.
Portanto, podemos dizer que, além do abuso de poder ser infração administrativa,
também é utilizado no âmbito penal para caracterizar algumas condutas de abuso de
autoridade, sendo que, essas são muito mais amplas do que o simples abuso de poder (excesso
ou desvio de poder), eis que abarcam outras condutas ilegais do agente público, o que nos leva
a concluir que o abuso de autoridade abrange o abuso de poder que, por sua vez, se desdobra
em excesso e desvio de poder ou de finalidade.

DIVISÕES DO ABUSO DE PODER

O abuso de poder divide-se ainda em duas espécies:


Excesso de poder: resumidamente, seria a atuação de um agente público fora dos
limites legais de sua competência, ferindo assim o princípio da legalidade, entre outros
normativos.
Desvio de finalidade: neste caso, o agente público atua visando uma finalidade adversa
para o qual o ato foi criado, mesmo atuando dentro dos limites da sua própria competência.

NORMATIZAÇÃO

A lei 4898/65 também regula o direito de representação e o processo de


responsabilidade nos casos de abuso de autoridade. Para exercer esse direito o interessado
procederá mediante petição que será dirigida à autoridade superior que tiver atribuição legal
para apurar e aplicar sanção à autoridade civil ou militar acusada da prática do abuso, mas pode
também ser direcionada ao Ministério Público responsável para iniciar o processo contra a
autoridade acusada.
Na esfera criminal, esses abusos acontecem das mais diversas formas, desde a agressão
verbal de um policial a um civil, como na própria tortura, terrorismo, na criminalidade
econômica, bem como a violação dos direitos humanos.
É de se notar que antes do advento da Lei nº 4.898/65 algumas das figuras nela
definidas como crimes de abuso de autoridade, já estavam contempladas pelo Código Penal,
como os artigos do Código Penal 322 (Violência Arbitrária) e 350 (Exercício Arbitrário Ou
Abuso De Poder).
De acordo com a Lei 4898/65:
“Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades
legais ou com abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de
qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja
comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em
lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos
ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie
quer quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a
título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando
praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança,
deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.

SUJEITO ATIVO

O sujeito ativo do crime de abuso de autoridade pode ser qualquer pessoa que exerça
função pública. O artigo 5º da Lei revela: “Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei,
quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que
transitoriamente e sem remuneração.”
O particular sozinho jamais pode responder por abuso de autoridade. Entretanto, é
admitido se ele praticar o fato em concurso com funcionário público e souber dessa condição
elementar de funcionário público do outro.

SUJEITO PASSIVO

Sujeito Passivo imediato: É o cidadão, titular de direitos e garantia constitucional lesada


ou molestada pelo Estado (Servidor), pessoa jurídica também pode ser vítima de abuso de
autoridade.
Sujeito Passivo mediato: É o Estado, titular da Administração Pública, que por reflexo
acaba sendo responsabilizado pelos desmandos de seus servidores;

BENS JURÍDICOS PROTEGIDOS

Há dupla objetividade jurídica:


a) Objeto Jurídico Imediato ou Principal: Direitos e Garantias Fundamentais;
b) Objeto Jurídico Secundário ou Mediato: a normal prestação dos serviços públicos ou
a regular prestação dos serviços públicos.

ELEMENTO SUBJETIVO

a) Culpa – não há casos expressos em lei em que se admita a punição quando praticado
o crime de abuso de autoridade culposamente.
b) Dolo– além do dolo de praticar a conduta, ainda se exige o elemento subjetivo do
injusto que é a vontade deliberada de agir com abuso (agir sabendo que está abusando). Se o
sujeito atua querendo cumprir a sua função justamente, embora ele se exceda, não haverá o
crime de abuso por faltar o elemento subjetivo da injustiça. A intenção do agente é fator
determinante. O ato pode até ser classificado como ilegal e até mesmo em outros tipos penais,
mas não pode configurar crime de abuso de autoridade.

FORMAS DE COMETIMENTO

a) Forma Comissiva – ocorre por ação, abrange quase todos os tipos penais da Lei em
análise. Ex: submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei.
b) Forma Omissiva (por omissão) – há crimes previstos na lei que só podem ser
praticados por omissão. Ex: deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão
ou detenção de qualquer pessoa.

COMPETÊNCIA

Em regra, o crime de abuso de autoridade deve ser processado e julgado pela Justiça
Estadual, mas a competência será da Justiça Comum Federal quando o abuso de autoridade for
praticado por funcionário público federal no exercício de suas atribuições funcionais ou quando
o abuso de autoridade atingir bens, serviços e interesses da União, das Autarquias e Fundações
Públicas.
Vale ressaltar que agora, após o advento da lei nº 13.491/2017 (Lei alteradora do CPM),
abuso de autoridade praticado por militar passa a ser de competência da Justiça Militar.
Superou-se então a Súmula 172 do STJ, que dispunha que "compete à justiça comum processar
e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço".
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 4898, de 09 de dezembro de 1965. Regula o Direito de Representação e o


processo de Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade.
Brasília, DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4898.htm>. Acesso
em: 03 fev. 2019.

BRASIL. Lei nº 13491, de 21 de outubro de 2017. Altera o Decreto-Lei no 1.001, de 21 de


outubro de 1969 - Código Penal Militar.. . Brasília, DF, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13491.htm>. Acesso em: 03
fev. 2019.

Dicionário de Direito. O que é Abuso de Poder? Abuso de Autoridade, Excesso de Poder e


Desvio de Finalidade. 2018. Disponível em: <https://dicionariodireito.com.br/abuso-de-
poder>. Acesso em: 04 fev. 2019.

GIRÃO, Marcos. Legislação Penal Especial: São Paulo: Estratégia Concursos, 2013. 67
slides, color.

LIRA, Daniel Ferreira de. Crimes de abuso de autoridade: uma análise atual da Lei nº
4.898/65 à luz da jurisprudência dos tribunais superiores. 2019. Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11734>.
Acesso em: 04 fev. 2019.

RIO DE JANEIRO. Sergio Luiz Ribeiro de Souza. Juiz de Direito do Tribunal de Justiça.
Abuso de poder. 2008. Disponível em:
<http://www.tjrj.jus.br/c/document_library/get_file?uuid=7e7c5f89-5690-405a-8928-
c2daba4be4a5&groupId=10136>. Acesso em: 16 jul. 2008.

SANTIAGO, Emerson. Abuso de Poder. 2019. Disponível em:


<https://www.infoescola.com/direito/abuso-de-poder/>. Acesso em: 04 fev. 2019.

Monster Concursos. Abuso de Autoridade. São Paulo: Monster Concursos, 2017. 5 slides,
color.

WADY, Ariane Fucci. Qual a diferença entre o Abuso de Poder e o Abuso de Autoridade?
2019. Disponível em: <https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/20923/qual-a-diferenca-entre-o-
abuso-de-poder-e-o-abuso-de-autoridade-ariane-fucci-wady>. Acesso em: 04 fev. 2019.

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