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Texto 1
O cortiço
Aluísio Azevedo
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua
infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como
que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite
antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido
em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto
acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns
pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de
espumas secas. (...)
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa
de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água
que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já
prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do
pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não
se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e
esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As
portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem
tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças
não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás
da estalagem ou no recanto das hortas.
2ª QUESTÃO: Na frase do Texto 1 “As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas
para não as molhar; via-selhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam,
suspendendo o cabelo todo para o alto do casco”, quais são os dois elementos coesivos que
retomam “As mulheres”?
R: Sabemos que a COESÃO é o fator responsável pelo encadeamento semântico que produz a
textualidade. Para entender o significado global de um texto, é preciso, então, reconhecer os
elementos referenciais que “costuram” a sua coesão. Assim, o termo “mulheres” é retomado
anaforicamente pelo pronome pessoal oblíquo átono “lhes”, em “via-se-lhes”, e pelo pronome
pessoal reto “elas”, em “elas despiam”.
3ª QUESTÃO: No trecho do Texto 1 “era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair
sem tréguas”, a que classe gramatical pertencem as palavras sublinhadas?
R: As palavras “abrir, fechar, entrar, sair” são substantivos. O artigo – no caso o artigo indefindo
um - como “marco da classe dos substantivos” (Walmirio Macedo, 1976) promove a “conversão”
das referidas palavras da classe dos verbos para a dos nomes
Texto 2
Manguetown
É um bairro sujo.
Manguetown
Da lama de Manguetown
(...)
Pegar caranguejo,
4ª QUESTÃO: “Estou enfiado na lama” é uma expressão do Texto 2 que denota um estado
(alguém que vive em um terreno lamacento e enfia seus pés nele), mas também pode conotar uma
ideia, isto é, pode apresentar um sentido figurado. Qual é o sentido figurado de “estar enfiado na
lama”?
R: O sentido figurado de “estou enfiado na lama” é “estou cheio de problemas”, “estou envolvido
por dificuldades”, “estou preso em uma situação asquerosa da qual não consigo me livrar”, ou
seja, a expressão representa um estado relacionado à “lama”, a algo que causa repugnância e é de
difícil libertação.
TEXTO 1
Em outras praias
Avanço mundial do português torna o idioma a língua mais falada nos estados norte-americanos
de Massachussets e Rhode Island, depois do inglês e do espanhol.
Para além do que se ouve ou se fala, o registro escrito da língua portuguesa também chama
a atenção. Em uma mesma região de Cambridge, por exemplo, pode-se almoçar em restaurantes
cujas fachadas estampam bandeiras de Brasil e Portugal e menus em português e em inglês.
Os 244 milhões de falantes do idioma nos oito países de língua oficial portuguesa ocupam
cerca de 7% da superfície do planeta e respondem por 4% da riqueza mundial. Isso porque o censo
lusófono não costuma incluir na conta entre 10 e 15 milhões de falantes de português que residem
em outros países lusófonos. Destes, estima-se que 5,8 milhões de emigrantes são portugueses e 4
milhões, brasileiros.
Além de Brasil e Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé
e Príncipe e Timor-Leste têm o idioma como oficial, apesar de o uso nem sempre ser
predominante em suas sociedades, de haver incorporação de vocábulos nativos e mudanças
gramaticais ou de pronúncia.
(Revista Língua Portuguesa, Ano 9, No. 106, Agosto de 2014, páginas 26-32)
1ª QUESTÃO: Que relação se pode estabelecer entre o título do texto (“Em outras praias”) e as
ideias desenvolvidas no fragmento em análise?
R: À primeira vista, pode parecer não haver relação entre o título e a sequência de ideias
desenvolvidas no texto. Porém “Em outras praias” é uma expressão que, entendida no plano
conotado, costuma significar “em outras regiões, em outros lugares”. “Em outras praias”,
portanto, remete à ideia da difusão do português em vários locais do planeta.
2ª QUESTÃO: Um texto predominantemente expositivo, como o da reportagem intitulada “Em
outras praias”, tem como função apresentar informações objetivas a respeito de um tema. Para
isso, o emprego de um tempo verbal específico torna-se necessário. Verifique o tempo verbal
preponderante no texto, extraindo duas formas verbais como exemplos.
3ª QUESTÃO: Um dos recursos utilizados para se manter a coesão de um texto é a anáfora, que
permite retomar um elemento já mencionado para dar continuidade à progressão de ideias.
Destaque os elementos anafóricos presentes nos trechos a seguir:
b) “O Português é a 5ª língua mais falada no mundo, atrás de hindu, mandarim, inglês e espanhol.
O dado foi anunciado em fevereiro, no parlamento europeu...” (linhas 11-12)
TEXTO 2
Língua
de tão clássica.
R: Essas características se encontram nos versos da segunda estrofe: a língua “que foi se
amaciando” (antes era tensa de tão clássica); a incorporação de termos nativos; o amolecimento
das expressões mais sisudas nas folhas da bananeira.
5ª QUESTÃO: Ao usar a figura de um elástico “que espicharam pelo mundo”, o poeta se refere
à história da língua portuguesa, que chegou à América, à África e à Ásia por meio das Grandes
Navegações.
Considere essa ideia e interprete o significado da última estrofe, que sintetiza o texto: “Um
elástico assim como é a vida/que nunca volta ao ponto de partida”.
R: A última estrofe, que sintetiza o texto, explora a ideia de que a língua portuguesa no Brasil
ganhou feições próprias (tanto no léxico, como na estruturação gramatical) e, portanto, jamais se
igualará à versão europeia, que fora sua origem, como se julgava ser possível nos primórdios de
sua formação.
Leia, com atenção, o fragmento do conto “A cartomante”, de Machado de Assis, para responder
às questões seguintes:
(...) Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens.
Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de
magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico,
mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público.
No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta;
abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados
de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
- É o senhor? Exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é
seu amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo
confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era
graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que
ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de
Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral
e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no
berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois, morreu a mãe de Camilo
e, nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro
e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube nunca. A verdade era que gostava de passar
horas ao lado dela; era sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e
bonita. (...)
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não o pôde. Rita, como uma serpente, foi-se
acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo e pingou-lhe veneno na
boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura;
mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se
acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima
de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades quando estavam ausentes
um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e
dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar suspeitas, começou a
rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências, Camilo respondeu que o motivo era
uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas
cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor próprio, uma
intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo, que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-
la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo.
(...)
(Machado de Assis, “A cartomante”. In: Obra Completa, Várias Histórias. Rio de Janeiro: Editora
Nova Aguilar S. A. 1985, páginas 478 e 479)
1ª QUESTÃO: Segundo Alfredo Bosi, “O ponto mais alto e mais equilibrado da prosa realista
brasileira acha-se na ficção de Machado de Assis. [...] O seu equilíbrio não era o goethiano – dos
fortes e dos fracos, destinados a compor hinos de glória à natureza e ao tempo; mas o dos homens
que, sensíveis à mesquinhez humana e à sorte precária do indivíduo, aceitam por fim uma e outra
como herança inalienável, e fazem delas alimento de sua reflexão cotidiana”. (In: História concisa
da Literatura Brasileira. 3.ed. São Paulo: Cultrix, s/data).
Destaque uma frase do conto de Machado de Assis que comprove a opção do escritor por temas
relacionados à fragilidade humana.
R: Sugestões de resposta:
“Rita, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos
“Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória
delirante.”
“Adeus, escrúpulos!”
“Um dia, porém recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia
“Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor próprio, uma intenção de diminuir os
Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado.
Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico, mas o pai
morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público.” (2º
parágrafo)
relação a Vilela e “pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos” significa que eles
R: Podem-se citar as descrições de Rita, Camilo ou Vilela. (Apenas a primeira frase não serve
como exemplo.).
OBS: A resposta acima está correta em quase tudo, menos em dizer sobre a visão negativa das
mulheres na obra de Machado, portanto ignorem a parte que diz “comum na obra machadiana”.