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PROTEÇÃO DE LINHAS DE

TRANSMISSÃO
TEORIA E PRÁTICA

Parte I: Conceitos e Definições

Cap 05 : Teleproteção
Resumo falta está na direção da zona de proteção
ou na direção oposta, ou simplesmente
Este texto apresenta os conceitos para comandar um disparo remoto. Com
de teleproteção aplicados a elementos do relação aos relés, a determinação da
sistema elétrico. direção é realizada através de um cálculo
de distância direcional ou de
sobrecorrente direcional. Assim, do ponto
1. INTRODUÇÃO de vista de algoritmos de proteção,
nenhum conceito novo é introduzido.
Tendo em vista as imprecisões já
discutidas, não é possível ajustar a zona 1 2. FUNDAMENTOS
de um relé de distância para cobrir
integralmente a linha de transmissão,
assim como não é possível ajustar o pick- Relés de distância (ou de
up de um relé de sobrecorrente de modo sobrecorrente) em ambos os terminais do
que opere para faltas em qualquer ponto circuito combinados com canais de
da linha, sem correr o risco de comunicação para troca de informações
comprometer a seletividade da proteção. podem formar um sistema de proteção
A teleproteção é a solução para capaz de isolar seletivamente todas as
conciliar velocidade e seletividade, ou faltas, em qualquer ponto da linha
seja, garantir que a linha de transmissão protegida, sem retardo de tempo. A figura
inteira seja provida de proteção de alta 1 justifica o emprego de teleproteção
velocidade. Isto é particularmente para acelerar a isolação de faltas
desejável numa rede integrada, onde a próximas a um dos terminais da linha.
abertura temporizada de um dos Desse modo, um sistema de
terminais da linha seria intolerável para o proteção pode transmitir um sinal de
sistema. O sistema de potência é tão habilitação (sinal permissivo) ou um sinal
firmemente unido que nenhuma falta de bloqueio, dependendo do esquema
pode ser considerada "distante" o implementado. Em qualquer dos
suficiente para que uma isolação lenta esquemas, um simples sinal sim/não
possa ser aceitável. (ON/OFF) é transferido, para o qual um
Dois tipos de sistemas de canal de pequena largura de faixa é
teleproteção são geralmente usados: suficiente.
comparação direcional e transferência de Os meios de comunicação mais
disparo. A implementação real de cada comuns aplicados para teleproteção são
um destes sistemas conduz a sub- os seguintes:
classificações adicionais: esquemas
permissivos ou não-permissivos,  fio piloto: cabos especiais de
esquemas de sobre ou subalcance, sinalização de proteção com
esquemas de bloqueio ou desbloqueio blindagem e isolação contra tensões
etc. Os detalhes destes esquemas são induzidas, empregados para
importantes para a presente discussão e distâncias de até aproximadamente
serão abordados ao longo deste módulo. 25 km;
Os esquemas de teleproteção  carrier: canais PLC (power line
requerem comunicação entre os dois carrier) utilizando a própria linha de
terminais da linha para informar se uma transmissão como meio de

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propagação do sinal, empregados


para distâncias de até  fibra ótica: ligações diretas para até
aproximadamente 400 km; aproximadamente 150 km;
 micro-ondas: rádio direcional para empregado para longas distâncias
até aproximadamente 50 km (linha através de amplificadores
de visada) direto, com possibilidade repetidores.
de aumentar essa distância,
dependendo das condições A figura 2 mostra alguns exemplos
geográficas, tipo e posição de de meios de comunicação empregados
antenas; empregado para longas para teleproteção.
distâncias através de estações
repetidoras;

Figura 1. Justificativa para o uso de teleproteção.

Figura 2. Proteção com sistema de comunicação de dados.

O tempo de transmissão de sinal técnica proporciona uma boa imunidade


com equipamentos de transmissão de contra interferências. No caso de carrier
dados de proteção na freqüência de voz é (PLC), com chaveamento direto da alta
de aproximadamente 15 a 20 ms. Nestes freqüência de carrier (amplitude
canais o desvio de freqüência é usado modulada) o tempo de transmissão é
como uma técnica de modulação. Esta reduzido para aproximadamente 5 ms.

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Considerando a baixa segurança contra nenhuma interferência e, através da


má operação, este método é mais codificação do dado transmitido, obtém-
indicado para sistemas de bloqueio, se uma segurança extremamente alta.
apesar de encontrarmos várias São alcançados uma elevada
instalações com esquemas permissivos disponibilidade e tempos de transmissão
utilizando PLC. extremamente baixos, menores que 5
A comunicação de dados via fibras ms. A tabela da figura 3 mostra o tempo
óticas com transmissão digital introduziu total de isolação de uma falta, através de
um campo vasto de novas possibilidades. teleproteção.
Neste caso não há praticamente
TF
Tempo de Isolação da Falta

T
Tempo de Transmissão de Sinal

Relés de Transmissor Canal de Receptor Relés de Disjuntor


Proteção telecomunica Proteção
ção
Tempo de Tempo de Tempo de Tempo de Retardo Tempo de Tempo Tempo de
Reconhecimento conversão propagação seleção e adicional operação de Extinção
da Falta do sinal decisão, por ruídos do relé operaçã de arco
incluindo relés o
de saída mecânic
a
10-60 ms 1-5 ms 60-40 ms 0-20 ms 0-10 ms 30-40 10-20ms
ms

Figura 3. Tempos de operação típicos de uma teleproteção.

A seguir, faremos uma exposição faltas a terra, em razão do acoplamento


dos métodos de teleproteção usuais. mútuo de seqüência zero. A transferência
de disparo para o disjuntor do terminal
3. TRANSFERÊNCIA DE DISPARO remoto, tem as seguintes possibilidades:
POR SUBALCANCE (UTT)
3.1. Transferência de Disparo
Neste método, a zona de distância Direto por Subalcance
de subalcance (usualmente a primeira (DUTT)
zona) desliga diretamente o disjuntor do
terminal local e, simultaneamente, envia Neste caso, a partida do(s)
um sinal para o terminal remoto. O sinal transmissor (es) é feita por elementos de
recebido no terminal remoto é usado para subalcance e o disjuntor é diretamente
realizar um desligamento rápido quando desligado pelo sinal recebido. Este
a falta é próxima do terminal transmissor, desligamento direto sem consideração de
além do alcance da primeira zona do qualquer critério de proteção no terminal
terminal que recebeu o sinal. Este receptor, é usado com restrições, tendo
sistema, dessa maneira, isola em vista que um sinal recebido
rapidamente a linha, independentemente indevidamente causaria um desligamento
do tempo de transmissão de sinal, para incorreto do disjuntor.
faltas em aproximadamente 80% da Em geral, dois canais de
extensão da linha protegida (região transmissão separados são usados para
intermediária, coberta simultaneamente se obter maior segurança. No terminal
pela zona 1 dos dois terminais). Em linhas receptor os sinais são conectados a uma
aéreas com circuito duplo, entretanto, lógica E (por exemplo, conexão dos
deve-se considerar que o alcance da contatos dos relés).
primeira zona precisa ser reduzido para

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Assim, o sistema opera necessidade do uso da


normalmente no modo canal duplo, mas transferência de disparo.
na hipótese de falha de um dos canais, a
lógica transfere automaticamente para  Linhas conectadas a fontes
canal simples, inserindo um retardo de fracas – é o caso típico em que
tempo da ordem de 20 ms no disparo, uma linha de interligação conecta
para minimizar o risco de recepção dois sistemas sendo um deles de
indevida por ruído. pequena geração, de modo que,
Alternativamente, um canal de quando da ocorrência de defeitos
transmissão de sinal com absoluta na linha, não há corrente de curto-
segurança pode ser utilizado, como por circuito necessária para sensibilizar
exemplo, uma transmissão de sinal digital os relés convenientemente.
através de fibra ótica, com um protocolo
de transmissão seguro. 3.2. Transferência de Disparo
Este tipo de esquema é também Permissivo por Subalcance
empregado nos seguintes casos:
(PUTT) com Elemento de
 Proteção de reator shunt – Partida (DETECTOR DE
quando o reator não tem disjuntor FALTA)
próprio, ou seja, é ligado à linha Com este método, a partida de sinal
através de seccionadora, torna-se é feita por elementos de subalcance e o
necessária a abertura dos sinal recebido somente causa abertura
disjuntores nos dois terminais da do disjuntor quando as funções de partida
linha para isolação de defeitos no do relé de proteção de distância
reator. Nesse caso, a transferência operarem, isto é, quando for detectada
de disparo é comandada pelos relés uma falta. A figura 4 mostra este arranjo.
de proteção do reator, como o relé No caso de uma aplicação de disparo
de gás, diferencial etc. monofásico, os detectores de falta
também desempenham a função de
 Proteção contra sobretensões – seletores de fase, isto é, o sinal recebido
há casos em que a presença de no caso de uma falta monofásica
uma linha aberta em apenas um somente desligará a fase faltosa. Para
terminal ocasionaria níveis de faltas multifases, o desligamento é
tensão inaceitáveis para os iniciado em todas as fases.
equipamentos, havendo, assim, a

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Figura 4. Esquema PUTT com elemento de partida.

3.3. Transferência de Disparo primeira zona para uma zona de


Permissivo por Subalcance sobrealcance. Relés numéricos
(PUTT) com Alongamento de simplesmente habilitam a zona de
Zona sobrealcance na lógica de disparo. As
zonas temporizadas remanescentes
continuam independentemente
Neste caso, a partida do(s) disponíveis.
transmissor(es) é feita por elementos de Este esquema PUTT em conjugação
subalcance e o sinal recebido libera uma com uma zona de sobrealcance dedicada
zona de sobrealcance para comandar o apresenta a vantagem de ter uma
disparo do disjuntor. A figura 5 mostra liberação de disparo mais seletiva em
este arranjo. comparação com o esquema PUTT
Relés convencionais realizam esta associado a elementos de partida do relé
lógica através do chaveamento da de distância, analisado no item anterior.

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Figura 5. Esquema PUTT com elemento de sobrealcance.

A liberação do disparo é restrita a sobrealcance. Neste caso, temos as


faltas na direção direta, dentro da alternativas a seguir.
característica da zona de sobrealcance,
isto é, essencialmente limitada à 4.1. Transferência de Disparo
extensão da linha protegida. No esquema
Permissivo por Sobrealcance
anterior, é preciso considerar que os
elementos de partida também operam
(POTT) com Canal de
durante faltas remotas ou externas e, Comunicação
assim, a probabilidade de uma abertura
indesejável quando um sinal incorreto é No sentido clássico, este método
recebido, portanto, é maior. somente realiza desligamento de alta
Com relés convencionais a velocidade quando os relés em ambos os
desvantagem era que, após a mudança terminais da linha detectam uma falta na
de subalcance para a zona de zona de sobrealcance e enviam, um para
sobrealcance, uma nova medição era o outro, um sinal de liberação. A figura 6
realizada, causando um retardo adicional mostra este arranjo.
da ordem de dezenas de milisegundos. Este método é preferido para linhas
Com relés numéricos, entretanto, isso curtas, especialmente quando a linha ou
não ocorre, tendo em vista que a medição cabo é tão curto que a zona de
de distância para todas as zonas é subalcance não pode mais ser usada
disponibilizada simultaneamente. porque seu menor ajuste possível ainda é
alto para tal linha.
4. TRANSFERÊNCIA DE DISPARO No caso de proteção convencional
com característica circular, a
POR SOBREALCANCE (OTT)
desvantagem adicional com baixos
ajustes de distância é a compensação de
Neste método, a partida de sinal é resistência de arco insuficiente.
feita por elementos de sobrealcance e Por esta razão, o método de
sua filosofia básica é de usar o sinal transferência de disparo permissivo por
recebido para habilitar uma zona de sobrealcance já era empregado em linhas
de comprimento inferior a 20 km, embora

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o ajuste da zona de subalcance fosse por sobrealcance é dado quando um


possível. No caso de relés numéricos com disparo de alta velocidade precisa ser
característica poligonal (quadrilateral), conseguido numa linha que tem uma
este argumento não é mais válido, isto é, fonte fraca em um de seus terminais.
o método de transferência de disparo Neste caso, um circuito de eco adicional
permissivo por sobrealcance é com um disparo suplementar deve ser
recomendado somente para linhas ou implementado neste terminal. A figura 7
cabos muito curtos. mostra este arranjo.
Um caso especial para a aplicação
de transferência de disparo permissivo

Figura 6. Esquema POTT.

Figura 7. Esquema POTT – lógica de fonte fraca.

Durante uma falta além do terminal sinal permissivo para o terminal forte.
de fonte fraca, a corrente de curto- Desse modo, a proteção de transferência
circuito flui através da linha protegida de disparo permissivo por sobrealcance
para o ponto de falta. A proteção no permanece estável, isto é, não produz
terminal de fonte fraca partirá com esta abertura da linha.
corrente e reconhecerá a falta na direção Por outro lado, durante uma falta
reversa. Ela não transmitirá, assim, um interna, a proteção no terminal fraco não

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operará pois a corrente que flui desse seleção de fase é dada por um detector
terminal para a falta é insuficiente. O interno de queda de tensão.
sinal recebido pelo terminal fraco é O esquema de transferência de
repetido como um eco e permite o disparo permissivo por sobrealcance
desligamento no terminal forte. requer alguma coordenação da proteção
Simultaneamente com o eco, o e do canal de transmissão de sinal para
disjuntor no terminal fraco pode ser evitar corrida de sinal durante
disparado pela proteção. Para isto, a chaveamentos no sistema e mudanças do
função de disparo mostrada na figura 7 tipo de falta.
precisa ser configurada nos relés. A A figura 8 mostra um caso típico
condição para liberação do disparo e que pode ocorrer durante a isolação de
uma falta externa.

Figura 8. Esquema POTT – inversão de corrente em linhas paralelas.

Durante a falta, a corrente de curto- externas e então bloquear a proteção de


circuito flui na linha sem falta de A para transferência de disparo permissivo por
B, considerando que a falta é próxima de sobrealcance por um curto período de
B. O estado de sinal que ocorre está tempo, durante o qual uma corrente
mostrado na parte “a” da figura. reversa poderia ocorrer. A figura 9 ilustra
Se a proteção ou o disjuntor do este bloqueio.
terminal B da linha faltosa atuar mais
rápido que o terminal A, a corrente se
inverterá na linha sem falta, resultando
numa mudança de estado dos sinais, 4.2. Transferência de Disparo
como se vê na parte “b” da figura 8. Permissivo por Sobrealcance
Ocorre uma corrida de sinal. Isto
(POTT) via Fio Piloto
pode levar a um desligamento incorreto
quando por exemplo a proteção em B já
tenha mudado para a direção direta, Em sistemas de média tensão, por
enquanto o sinal recebido em B ainda exemplo cabos em áreas urbanas, a
estiver presente. Esta seqüência pode proteção é ocasionalmente empregada
acontecer devido ao inevitável retardo na com esquema POTT utilizando fio piloto
desoperação da proteção de A e dos como canal de sinalização, como se
canais de comunicação. mostra na figura 10.
Por esta razão, é necessário uma A troca de sinais entre os dois terminais
monitoração capaz de detectar faltas da linha é realizada através de uma

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malha de corrente contínua obtida do e relé K2 desopera). Ela permanece


banco de baterias de uma das estações, interrompida durante faltas externas.
via cabo piloto interligando os relés Com uma falta interna, após o tempo de
receptores nas duas estações. coordenação T1B, a zona de sobrealcance
Em estado quiescente, o fio piloto é (Z1B ) desliga novamente os relés K1 em
monitorado pela corrente CC que circula ambos os terminais. Desse modo, a
por ele (relé K2 operado em ambas malha de corrente é novamente fechada.
estações). Os relés K2 em ambos os terminais
Após a operação de um relé de operam e liberam o sinal de trip.
distância, a circulação de corrente é Desligamento de alta velocidade
inicialmente interrompida (relé K1 opera também é obtido para alimentador radial.

Figura 9. Esquema POTT – monitoração de inversão de corrente e bloqueio da proteção.

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Figura 10. Esquema POTT com fio piloto.

5. COMPARAÇÃO DIRECIONAL
Este procedimento requer duas
Os esquemas de comparação zonas de proteção:
direcional, conforme sugere o nome,
compara a direção da falta vista num a) Uma zona de partida rápida para
terminal com a direção verificada no transmitir o sinal de bloqueio ao
outro. Com base na comparação terminal remoto, quando a falta é
realizada, a proteção desliga ou não a fora da zona protegida, na direção
linha, dependendo da localização da falta. reversa.
Para estes sistemas, a transferência de
sinal pode ser utilizada para bloquear a b) Uma zona de sobrealcance
proteção durante faltas externas ou direcional, na direção direta, para
desbloquear durante faltas internas. inibir o sinal de bloqueio durante
Assim, podemos ter, basicamente, dois faltas na direção direta e iniciar o
esquemas: comparação direcional por disparo do disjuntor, se nenhum
bloqueio e comparação direcional por sinal de bloqueio oriundo do
desbloqueio. terminal remoto estiver presente.

A figura 11 mostra o arranjo clássico


5.1. Comparação Direcional por das zonas para um relé MHO junto com a
Bloqueio lógica associada desse procedimento.

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Figura 11. Esquema clássico de comparação direcional por bloqueio.

O alcance reverso da zona de bloqueio durante faltas à terra.


transmissão de sinal de bloqueio deve ser Conseqüentemente, faltas próximas na
maior que o sobrealcance da zona de linha protegida pode inicialmente resultar
disparo do relé do terminal remoto. em transmissão do sinal de bloqueio, o
Os ajustes típicos são os seguintes: qual todavia reseteia tão logo o estágio
de alcance direto opere.
 Zona de disparo: 130% de ZL. A velocidade do estágio de
 Alcance reverso da zona de transmissão é um critério decisivo
bloqueio: 50% de ZL. juntamente com o tempo de transmissão
de sinal, já que estes determinam o
Idealmente, o sinal de bloqueio retardo do estágio de desligamento:
deveria ser transmitido apenas quando a
falta fosse fora da zona protegida, na
direção reversa. Com relés convencionais, T A = TZonaTransmissão + Tcanal − TZonaTrip + TSegurança ( 5ms )
entretanto, a zona de transmissão inclui A vantagem significativa do
um deslocamento na direção direta, para procedimento de bloqueio é que nenhum
garantir a operação para faltas reversas sinal precisa ser transmitido durante
próximas e também aumentar a faltas na linha protegida. Dessa forma,
velocidade desse estágio de transmissão com canais de carrier (PLC), nenhum sinal
para estas faltas próximas. Esta precisa ser transmitido através do local
característica é conseqüência da medição da falta. Por esta razão, é possível usar
direcional com tensões das fases PLCs com acoplamento direto à linha
envolvidas na falta. O pequeno sinal de protegida.
tensão não permite uma decisão A aplicação clássica do princípio de
direcional segura. Um detector de bloqueio utiliza um simples, porém rápido
corrente de terra de alta velocidade é canal PLC (< 5 ms) com modulação em
freqüentemente usado como um critério amplitude. Uma vantagem adicional
adicional de transmissão de sinal de deste método é que a mesma freqüência

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Parte I: Conceitos e Definições

de carrier pode ser usada nos dois A figura 12 ilustra a implementação


terminais da linha (também para linhas desta técnica com características
com três terminais), já que, para a poligonais de uma proteção numérica.
técnica de bloqueio, não importa qual
transmissor gerou o sinal de bloqueio
recebido.

Figura 12. Esquema de comparação direcional por bloqueio, com característica


quadrilateral.

A zona de partida para transmissão de disparo do terminal remoto, com uma


do sinal de bloqueio é definida pela margem de segurança para todas as
porção reversa do detector de falta, faltas.
limitada pela característica direcional.
Como a medição direcional utiliza 5.2. Comparação Direcional por
tensão de fases não envolvidas na falta, Desbloqueio
conseguindo por isso absoluta
seletividade também para faltas próximas
da origem, a transmissão do sinal de O método de bloqueio referido
bloqueio somente ocorre para faltas acima tem a desvantagem de que
verdadeiramente reversas. durante condições normais de operação
O relé 7SA513 contém um detector do sistema (sem falta), nenhum sinal é
de descontinuidade para tensão e transmitido. Desse modo, não há como
corrente, conseguindo assim uma partida monitorar o canal de comunicação. A
rápida do sinal de bloqueio dentro de 5 técnica de desbloqueio foi desenvolvida
ms a partir da incidência da falta. Com especialmente para canais de freqüência
isso, o retardo do sinal de disparo pode de voz com chaveamento de desvio de
ser extremamente curto. freqüência e não apresenta a
O estágio de disparo é formado pela desvantagem mencionada acima.
zona direcional de sobrealcance Z1B. Além disso, esta técnica também é um
Com base na figura 12, fica evidente que pouco mais rápida, tendo em vista que
a zona de partida tem um ajuste reverso, um sinal de monitoração (piloto ou
de modo a incluir o sobrealcance da zona guarda) é continuamente transmitido.
Durante faltas internas, o sinal de guarda

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é trocado (desvio de freqüência) por um abertura é necessário para esperar um


sinal permissivo, similar ao método POTT. eventual sinal de bloqueio. Este
Isto implica que nenhum retardo de procedimento é mostrado na figura 13.

Figura 13. Esquema de comparação direcional por desbloqueio.

Apenas uma zona direcional de uma falha de canal durante a falta no


sobrealcance por terminal da linha é sistema, fica evidente que a própria falta
necessária. no sistema impediu a transmissão de
Quando o esquema não está sinal (atenuação), o que é um forte
operado, a freqüência de supervisão do indício de que se trata de falta dentro da
canal (guarda) fG é continuamente linha protegida. A lógica é implementada
transmitida e o disparo permanece de modo que, 20 ms após a falha de
bloqueado. Ocorrendo uma falta interna, canal, a lógica libera a zona Z1B por um
as zonas de sobrealcance Z1B nos dois período de 100 ms. Se isto ocorrer
terminais da linha operam e chaveiam durante a falta, então haverá abertura da
seus respectivos transmissores da linha. Se a falha de canal ocorrer durante
freqüência de guarda para a freqüência condições normais de operação do
de desbloqueio, isto é, de f G para fUB sistema, não há nenhuma conseqüência,
(unblock). Conseqüentemente, ocorre o porque, neste caso, a unidade Z1B não se
desligamento nos dois terminais da linha, encontra operada. 100 ms mais tarde, a
como mostra o diagrama lógico da figura proteção é novamente bloqueada e assim
13. permanece enquanto durar a falha de
Durante faltas externas, ou o canal. Este bloqueio é removido (tempo
elemento Z1B não opera (falta na direção de resete de 100 ms) quando algum sinal
reversa) ou nenhum sinal de desbloqueio for novamente recebido.
é recebido (falta além do terminal Uma recepção simultânea de fG e fUB
remoto). é interpretada como um erro de canal,
Se o elemento Z1B operar e não causando nenhuma reação adicional
nenhum sinal for recebido (nem guarda, da proteção.
nem desbloqueio), o que corresponde a

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Parte I: Conceitos e Definições

A lógica de repetição de sinal (eco) O método mais tradicional usado


para condições de fonte fraca e terminal para transmissão de sinal em
aberto pode igualmente ser teleproteções é o carrier. O processo
implementada com este esquema. consiste em usar a própria linha de
transmissão como meio de propagação.
6. COMUNICAÇÃO VIA CARRIER Como se vê na figura 14, os
transmissores e receptores são acoplados
(POWER LINE CARRIER)
à linha através dos equipamentos de
sintonia e capacitor de acoplamento.

Figura 14. Sistema carrier de comunicação.

Os filtros de onda são sintonizados 6.1. Transmissor e Receptor


na freqüência do carrier e localizados
nos terminais da linha, tendo como São equipamentos semelhantes aos
função manter o sinal de comunicação na usados em rádio-comunicação, porém,
linha a ser protegida e também isolar o operando com freqüências menores (da
canal carrier de defeitos no sistema de ordem de 30 a 300 kHz). O transmissor,
transmissão, fora do trecho protegido. A uma vez ligado, emitirá um sinal de onda
bobina de bloqueio de rádio-frequência portadora numa freqüência fixa, na qual
funciona como uma baixa impedância for calibrado. O receptor, calibrado
para 60 Hz e como alta impedância para também para essa freqüência, receberá o
a freqüência do carrier, protegendo, sinal, que será utilizado conforme já foi
dessa forma, o equipamento contra explicado.
surtos de tensão na freqüência de 60 Hz
e, ao mesmo tempo, limitando a 6.2. Capacitores de Acoplamento
atenuação em RF.
Como mostra a figura 14, os A função dos capacitores de
principais componentes do equipamento acoplamento é permitir a conexão do
de onda portadora são: circuito de baixa tensão (transmissor ou
 transmissor e receptor; receptor) ao circuito de alta tensão (linha
 capacitores de acoplamento; de transmissão). Esses capacitores
 unidade de sintonia; oferecem uma baixa impedância a
 filtro de onda. correntes de alta freqüência, como é o
caso da corrente de onda portadora, e
uma elevada impedância às correntes de

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baixa freqüência, como é o caso da da corrente de onda portadora, entre o


corrente normal da linha de transmissão. transmissor e a linha de transmissão, ou
6.3. Unidade de Sintonia entre esta última e o receptor. Essa
unidade consiste essencialmente de uma
indutância variável e de um
A unidade de sintonia tem como transformador, conforme mostra a figura
finalidade reduzir ao mínimo as perdas 15.
resultantes de transferência da energia

Figura 15. Unidade de sintonia.

A indutância permite, ajustada indutância e uma capacitância em


devidamente, que o circuito capacitor- paralelo, formando um circuito
unidade de sintonia entre em ressonância ressonante com a freqüência
com a freqüência estabelecida para a estabelecida para a onda portadora.
onda portadora. O transformador permite Oferece, portanto, uma impedância
o casamento entre a impedância máxima à sua circulação e,
característica da linha de transmissão e a conseqüentemente, bloqueia a sua
do cabo que liga o transmissor ao passagem. A unidade de bloqueio oferece
equipamento de acoplamento à linha. uma impedância desprezível à corrente
Sendo diferentes as impedâncias de carga normal, não prejudicando,
características da linha e do cabo, o portanto, de forma alguma, o transporte
transformador é o meio usado para se normal da energia através da linha de
efetuar a necessária interligação entre os transmissão.
dois.
7. COMUNICAÇÃO LÓGICA RELÉ A
6.4. Filtro de Onda RELÉ

O filtro de onda ou unidade de Uma nova abordagem foi


bloqueio tem como finalidade confinar a desenvolvida para compartilhar estado
corrente de onda portadora à linha de lógico entre relés. Esta nova técnica usa a
transmissão que lhe serve de condutor. capacidade de comunicação interna e de
Cada unidade é composta por uma processamento lógico-digital própria dos

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Parte I: Conceitos e Definições

relés numéricos. Todo relé digital possui Com relação ao meio de


uma porta de comunicação através da comunicação e interfaces de canal
qual é possível transmitir e receber necessários, pode ser usado, por
mensagens digitais. Assim, é possível exemplo, um transdutor ótico em cada
aproveitar estas características para terminal para converter o sinal EIA-232
implementar uma comunicação direta do relé em um sinal ótico que pode ser
entre os relés. transmitido por um cabo ótico. Outra
A nova técnica de comunicação, alternativa é usar canais de comunicação
patenteada pela Schweitzer, envia multiplexados, à base de microondas ou
repetidamente o estado de oito mesmo fibra ótica, conectando-se a saída
elementos internos, programáveis, do EIA-232 dos relés à entrada do
relé, codificados como uma mensagem multiplexador. Há outras possibilidades,
digital, de um relé para outro, através de tais como rádio digital ponto-a-ponto ou
uma porta de comunicação serial EIA-232. comunicação compartilhada.
Esta técnica cria oito saídas virtuais
em cada relé, interligadas através de um 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
canal de comunicação a oito entradas de
controle virtuais no outro relé. As oito
entradas virtuais são elementos internos ZIEGLER, Gerhard, Numerical Distance
do relé receptor que espelha os estados Protection – Principles and Applications,
das saídas virtuais do relé transmissor. Siemens, Erlangen, Alemanha, 1999.
Esta técnica é chamada de bits
espelhados (mirrored bits). PHADKE, Arun G., e THORP, James S.,
Cada bit espelhado é programado, Computer Relaying for Power Systems,
como se faria com um contato de saída, John Wiley & Sons Inc., EUA, 1993.
através de uma equação lógica que
representa o estado de um elemento do BEHRENDT, Kenneth C., Artigo Técnico,
relé, uma entrada de controle, um Schweitzer, Washington, USA.
contato de saída, ou qualquer
combinação destes. A cada bit espelhado ALBUQUERQUE, Mário de Almeida e,
é atribuída uma função, como se faria OLIVEIRA, Paulo Cezar, ANDRADE,
para uma função de entrada de controle. Wildmer Pereira de, Proteção de Sistemas
Desse modo, e possível configurar Elétricos, Furnas, 197...
qualquer dos esquemas de teleproteção
discutidos anteriormente. BARBOSA, Ivan Júlio, Notas de Aulas.

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