You are on page 1of 6

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2011.0000187016

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 9166340-


68.2006.8.26.0000, da Comarca de Leme, em que são apelantes LEONARDO
VASCONCELOS ARAUJO e FABIANO VASCONCELOS ARAUJO sendo
apelado O JUIZO.

ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V.
U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


FÁBIO QUADROS (Presidente sem voto), ENIO ZULIANI E TEIXEIRA LEITE.

São Paulo, 15 de setembro de 2011

FRANCISCO LOUREIRO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

.Apelação Cível no 9166340-68.2006.8.26.0000


Comarca: LEME
Juiz: HEITOR KATSUMI MIURA
Apelante: LEONARDO VASCONCELOS ARAÚJO, MENOR
REPRESENTADO POR SEU PAI
Apelado: O JUÍZO

VOTO No 13.732

REGISTRO CIVIL. Retificação de nome. Viabilidade


de inclusão do patronímico materno e supressão parcial
do patronímico paterno. Direito contemporâneo que dá
nova função ao nome, não apenas para designar a
pessoa humana e tornar possível o dever de
identificação pessoal, mas sobretudo como um elemento
da personalidade individual. Alteração que melhora a
situação social do interessado. Substituição de um
sobrenome por outro, permite situar o autor dentro de
seu núcleo familiar e tronco ancestral. Recurso provido.

Cuida-se de recurso de apelação interposto contra


a r. sentença de fl. 22 dos autos, que rejeitou o pedido de adição do
patronímico materno ao nome do requerente Leonardo Vasconcelos Araújo,
nos autos da ação de retificação de registro civil.

Fê-lo a r. sentença, sob o argumento de que não


havia erro a ser ratificado e a alteração só seria possível em hipóteses
restritas ou de interesse público, concluindo que a mera vontade de
alteração do nome é insuficiente de propiciar a mudança.

Alega o recorrente, em resumo, que a falta do

Apelação nº 9166340-68.2006.8.26.0000 - Leme - VOTO Nº 13.732 – FL. 2/6


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

patronímico da mãe produz efeitos negativos na sua vida.

Entende que o patronímico é sinal que identifica a


procedência de uma pessoa, certo de que no seu caso a ausência do nome
da mãe causa profundo sentimento de falta de prova da filiação.

Em razão do exposto e pelo que mais argumenta


às fls. 26/27 pede, ao final, o provimento do recurso.

A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou no


sentido do provimento do apelo (fls. 38/42).

É o relatório.

O recurso comporta provimento.

A questão se revolve nos termos do bem


elaborado parecer do Procurador de Justiça Luiz Antonio Orlando, a quem
rendo homenagens.

Não há óbice a que o requerente Leonardo


Vasconcelos Araújo exclua parte do patronímico paterno Vasconcelos e
acrescente o materno Martins, alterando seu nome para Leonardo Martins
Araújo.

A genitora do autor chamava-se Rosa Eurípedes


Martins que ao casar (fl. 08) acresceu o sobrenome Araújo do marido.

Razoável pretenda o requerente que seu nome


completo seja composto dos sobrenomes de suas estirpes materna e
paterna, que, de resto, têm a secular função de designar a origem das
pessoas, como meio de fixar sinal distintivo integrante da personalidade.

Conforme bem ilustra o Procurador de Justiça, “o


acréscimo do patronímico materno omitido por ocasião da lavratura do

Apelação nº 9166340-68.2006.8.26.0000 - Leme - VOTO Nº 13.732 – FL. 3/6


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

assento de nascimento do filho, além de não ser vedado por lei, tem sido
frequentemente admitido (RT 405/165, 436/106, 528/82, 522/61, 518/92,
556/105, 557/56, 560/99, 604/49)” (fl. 39).

O princípio da imutabilidade no nome encontra


diversas exceções na lei e nos precedentes dos tribunais. Há nítida
tendência da jurisprudência ser “sensível ao entendimento de que o que se
pretende com o nome civil é a real individualização da pessoa perante a
família e a sociedade“ (RSTJ 104/341).

A retificação visa apenas a correta inserção dos


apelidos dos troncos ancestrais paterno e materno, em exata obediência ao
que exigem os artigos 56 e 57 da L. 6.105/73.

Sei perfeitamente que o sobrenome, ou apelido de


família, segundo tradicional doutrina, “é o sinal revelador da procedência da
pessoa e para indicar sua filiação, sua estirpe. Como o prenome, o apelido
de família é inalterável (Lei n. 6.015, de 31.12.1973, artigo 56)”
(WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO in “Curso de Direito Civil”,
Parte Geral, 21ª ed., Editora Saraiva, pág. 89).

A imutabilidade do patronímico, assim encontra


fundamento “por conveniência de ordem pública e política social” (v.
SERPA LOPES, “Tratado dos Registros Públicos”, 5ª ed., vol. I/177, n.
77-C).

Numa visão mais moderna, a imutabilidade


decorreria de um aspecto jurídico relevante, qual seja, o da preservação do
direito de personalidade, porque o nome familiar "é expressão de um grupo
que tem a sua história e a sua reputação" (PIETRO PERLINGIERI, Perfis
do Direito Civil, tradução de Maria Cristina de Cicco, Ed. Renovar,
1997, p. 180).

O Código Civil de 1.916 não tratou do direito ao

Apelação nº 9166340-68.2006.8.26.0000 - Leme - VOTO Nº 13.732 – FL. 4/6


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

nome, porque considerou, numa visão oitocentista, “que o nome civil não
constituiria um direito pessoal porque não é exclusivo da pessoa (havendo,
como há, incontáveis Antonios e Marias) e porque os apelidos de família
seriam suficientes para individualizá-la” (Maria Celina Bodin de Moraes, A
tutela do nome da pessoa humana, RF 364, p. 218).

O direito contemporâneo deu nova função ao


nome, não apenas para designar a pessoa humana e tornar possível o
dever de identificação pessoal, mas sobretudo como um elemento da
personalidade individual. É por isso que o nome, hoje, “integra-se de tal
maneira à pessoa e à sua personalidade que com ela chega a confundir-se,
vindo a significar uma espécie de sustentáculo dos demais elementos, o
anteparo da identidade da pessoa, a sede de seu amor-próprio” (Maria
Celina Bodin de Moraes, cit., p. 219).

Disso decorre que não há prevalência de funções.

O direito da personalidade deve conviver com o


interesse social, intrínseco na idéia de obrigação.

É por isso que se caminha hoje para o


entendimento pretoriano de que ”deve, em regra, ser deferida a retificação
do nome quando, além de não ser expressamente proibida por lei, melhora
a situação social do interessado e não acarreta prejuízo a ninguém” (RF
188/188).

Em caso paradigmático do Superior Tribunal de


Justiça, se entendeu que “o nome pode ser alterado mesmo depois de
esgotado o prazo de um ano, contado da maioridade, desde que presente
razão suficiente para excepcionar a regra temporal prevista no art. 56 da
Lei 6.015/73, assim reconhecido em sentença (art. 57). Caracteriza essa
hipótese o fato de a pessoa ter sido criada desde tenra idade pelo padrasto,
querendo por isso se apresentar com o mesmo nome usado pela mãe e

Apelação nº 9166340-68.2006.8.26.0000 - Leme - VOTO Nº 13.732 – FL. 5/6


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

pelo marido dela” (REsp 220059 / SP, Ministro RUY ROSADO DE


AGUIAR).

No caso concreto, não vislumbro risco e nem


intenção de fraude.

O genitor do autor concorda com o pedido de


retificação, que não traz prejuízo a terceiros.

Além disso, a substituição de um sobrenome por


outro, permite situar o autor dentro de seu núcleo familiar e troncos
ancestrais materno e paterno.

Em resumo, a conjunção dos sobrenomes tem o


objetivo de evitar sérios constrangimentos ao autor e não violam direito da
personalidade. Somado a tudo isso, do pedido não advém risco à
segurança ou identificação pessoal.

Diante do exposto, pelo meu voto, dou provimento


ao recurso, para o fim de deferir o pedido de retificação de registro civil.

O mandado será expedido na origem.

Diante do exposto, pelo meu voto, dou provimento


ao recurso.

FRANCISCO LOUREIRO
Relator

Apelação nº 9166340-68.2006.8.26.0000 - Leme - VOTO Nº 13.732 – FL. 6/6

You might also like