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VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administ
ración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002
Comunidade solidária: estratégia para desenvolvimento social

Thereza Lobo
I. INTRODUÇÃO
A Comunidade Solidária foi criada no início da Administração Fern
ando Henrique Cardoso em
1995 como um instrumento para promover a participação cidadã e nov
as formas de diálogo entre o
Estado e a Sociedade civil. A estratégia inclue dois segmentos: a) um Conselho com
posto por quatro
Ministros de Estado (Saúde, Educação, Trabalho e Casa Civil) e 27 participantes da soc
iedade civil,
entre eles empresários, empreendedores sociais, artistas; e
b) um programa governamental
Comunidade Ativa, coordenado por uma Secretaria Executiva, formalm
ente ligado à Casa Civil da
Presidência da República. Este documento tratará exclusivamente
das ações desenvolvidas pelo
Conselho da Comunidade Solidária.
Dois pressupostos básicos informaram a decisão do Presidente ao lançar a Comunida
de Solidária:
(i) o reconhecimento que a sociedade brasileira estava mais aberta, i
nformada, responsável e
participativa do que em qualquer outro período da história do país. A lu
ta contra a ditadura e
a busca de atendimento às necessidades dos pobres propiciou às ONGs br
asileiras acumular
grande experiência e conhecimento de forma tal a pos
icioná-las como parceiras vitais do
Estado na promoção do desenvolvimento social. Daí o desafio para uma nov
a administração
de abrir canais mais efetivos de participação e diálogo com a sociedade
civil;
(ii) o Brasil gasta um montante considerável de recursos públicos com prog
ramas sociais. Mas,
guardadas as sempre válidas exceções, em geral estes não
chegam aos mais pobres. Sem
uma focalização adequada, os gastos públicos tendem a reproduzir as desi
gualdades sociais.
Não haveria justificativa para criar um outro fundo
governamental dirigido a financiar
projetos sociais fragmentados. Tais mecanismos centraliz
ados usualmente resultaram em
desperdício de recursos. Trataram pessoas e comunidades
como recipientes passivos de
programas pensados e implementados de cima para baixo.
Atualmente, a Comunidade Solidária nada mais é que uma estratég
ia inovadora que visa revelar
caminhos alternativos para a luta contra a pobreza. Como antes
mencionado, trata-se de um espaço
privilegiado para a articulação entre Estado e Sociedade Civil. Além do mais, a Comuni
dade Solidária
desenvolveu, nos últimos sete anos e meio, algumas ações que serão
explicadas mais adiante: a)
desenho, implementação e expansão de iniciativas inovadoras de desenvolvimento social;
b) promoção
generalizada de capital humano e capital social; e c) fortalecimento da sociedad
e civil.
Este documento pretende falar brevemente dos avanços promovidos pela Comunida
de Solidária. A
segunda parte descreve os aspectos básicos da estratégia desenvolvida pelas diferent
es intervenções e
alguns resultados. O trabalho continua buscando explicar como as idéias e crenças qu
e motivaram as
ações se mostraram factíveis. Finalmente, o documento termina
explicando como se dará a
continuidade da estratégia, com vistas à permanente e duradoura sustentabilidade.
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II. A ESTRATÉGIA DA COMUNIDADE SOLIDÁRIA
O Conselho da Comunidade Solidária entende que em um país onde uma longa história
de injustiça
é responsável por grandes segmentos da população estarem ainda vivendo numa situação de pob
eza,
lutar contra a exclusão social requer uma estratégia que leve
em consideração, pelo menos: a)
focalização adequada às pessoas e áreas de maiores necessidades; b) mobilização de recursos
públicos
e privados por meio de múltiplas parcerias; e c) experimentação
de formas custo-efetivas de
implementar programas sociais.
Estes três conceitos focalização, participação e inovação formam
conjunto que funciona
como a base fundamental da estratégia da Comunidade Solidári
a. Eles inspiraram o diálogo do
Conselho seja com o governo e com a sociedade. Eles orientar
am a implementação de iniciativas e
ações sociais na direção do fortalecimento da sociedade civil. E
continuam tal como antes, no
desenrolar da estratégia.
Um outro aspecto diferenciador da Comunidade Solidária é a prioridade dada ao e
mpoderamento
de jovens excluídos. As razões são evidentes. Jovens de baixa renda e baixa escolarida
de conformam
um dos grupos mais vulneráveis da população brasileira. Eles
são afetados diretamente pelo
desemprego e estão expostos à violência, drogas, crimes, doenças trans
missíveis sexualmente e à
gravidez precoce. Entretanto, a estratégia da Comunidade Solidária assume que os jov
ens estão prontos
a usar sua energia e criatividade para aprender o que é necessário para ter uma vida
com dignidade.
Dadas oportunidades e instrumentos, os jovens podem desempenhar um papel de lide
rança na melhoria
de suas comunidades.
A Comunidade Solidária investiu no desenho e na execução de p
rogramas inovadores tendo em
mente este pano de fundo. Cada um deles envolve um grande conjunto de parceiros
públicos e privados
que fornecem as necessárias capacidades e recursos para desenvolver os projetos.
Métodos, custos e
resultados são cuidadosamente monitorados, no sentido de of
erecer diretrizes confiáveis para a
replicação do programa. Os programas do Conselho da Comunidade Solidária são:
(i) Capacitação Solidária: o programa de capacitação profissional foi criado em
1996, voltado a
jovens pobres, entre 14 e 21 anos de idade, vive
ndo nas periferias das grandes áreas
metropolitanas. Ele pretende possibilitar que os jovens aprendam a
s habilidades requeridas
pelo atual mercado de trabalho, em constante mutação. ONGs são treinadas
e financiadas
como executoras diretas do programa. A maioria compõe-
se de pequenas organizações
comunitárias, próximas aos jovens e a seu entorno. O fortalecimento de
stas organizações,
muitas das quais sem acesso prévio a fontes de apoio, tem sido uma r
azão fundamental para
a rápida expansão do programa. Partindo de uma experiência-piloto desenv
olvida com 40
ONGs do Rio de Janeiro e de São Paulo, o programa pulou para 9 áreas m
etropolitanas, com
a participação de 2.500 ONGs, beneficiando cerca de 150 mil jovens. A
s primeiras etapas
do programa foram financiadas pelo BID e por
um conjunto expressivo de empresas
privadas. As últimas ainda são uma fonte principal de recursos aliment
adores do programa.
(ii) Alfabetização Solidária: o objetivo deste programa lançado em 1997 é ensina
r adolescentes,
entre 12 e 18 anos, vivendo em municípios com as
mais altas taxas de analfabetismo no
Brasil. Ao articular universidades, empresas públicas e privadas, go
verno federal e governos
locais e mobilizar a própria comunidade, o programa
teve muito êxito com um custo per
capita bastante baixo, US$ 14, partilhado igualmente entre o Minis
tério da Educação e 240
empresas parceiras. O Alfabetização Solidária começou com um
piloto cobrindo 10 mil
estudantes de 38 municípios das regiões Norte e Nordes
te. Ao final de 2001 o programa
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atingiu a marca de 2,5 milhões de estudantes em 2000 municípios. Uma r
ede de apoio de
cerca de 200 universidades foi progressivamente
criada e é agora responsável por ter
treinado 100 mil alfabetizadores. Estes educad
ores recrutados localmente foram
empoderados para desempenhar o papel de agentes de
desenvolvimento dentro de suas
comunidades. Em novembro de 2000, a tecnologia gerada pelo Alfabet
ização Solidária foi
exportada para o Timor Leste e adaptada às condições l
ocais por professores brasileiros.
Este foi o início de uma cooperação Sul-Sul que está
agora sendo estendida a países
africanos de língua portuguesa.
(iii) Universidade Solidária: a primeira intervenção lançada pela Comunidade So
lidária em 1995
mobiliza e treina estudantes universitários para atuar como voluntário
s durante suas férias
de verão, nos municípios mais pobres do país. Sua tare
fa durante três semanas é prover
informação e assistência técnica sobre educação, saúde e dese
lvimento comunitário a
jovens, mulheres e lideranças locais. Até agora já pa
rticiparam no programa oito mil
estudantes e 700 professores de 250 universidades públicas e privada
s. A partir de 1999 o
programa expandiu suas ações para projetos regi
onalizados que são preparados e
implementados por universidades locais. Os proj
etos regionais estão necessariamente
associados à Prefeitura e às comunidades mais pobres e
são desenvolvidos por períodos
mais longos. Em 2001 a experiência da regionalização foi
replicada em Moçambique, na
África.
(iv) Artesanato Solidário: este é o único programa que não e
stá focalizado na juventude. Foi
criado em 1998 e busca desenvolver e expandir a produção artesan
al tradicional que está
ameaçada de extinção pela mudança no mercado de trabalho.
O programa oferta apoio
técnico e financeiro a grupos selecionados de art
esãos, principalmente compostos por
mulheres. Em sua fase piloto o programa benefi
ciou cerca de 25 grupo, abrangendo
aproximadamente 1000 artesãos, por meio de diversas parcerias com en
tidades públicas e
privadas. A expansão do programa está em processo e espera-se que cerc
a de 100 grupos
sejam beneficiados até o final de 2002.
(v) Rede Jovem: o programa foi desenhado no início de 2000 e agora impl
ementa a etapa final
de sua fase piloto. Ele visa prover acesso a tec
nologias da informação a jovens pobres,
especialmente a conexão com a Internet, criando
Espaços Jovens em organizações
comunitárias já existentes. Sob sua própria coordenação, orientados por moni
tores, jovens
homens e mulheres são treinados para usar as novas tecnologias de
forma a aproveitá-las
para lazer, melhorar habilidades, buscar oportunidades
de trabalho ou comunicar-se com
outros grupos de jovens. Foi criado um s
ite específico para a Rede Jovem
(www.redejovem.org.br) e os grupos jovens são seus principais contri
buidores. O programa
foi financiado pelo BID, empresas privadas tais como IBM e pelo Mi
nistério de Ciência e
Tecnologia que está encarregado de uma política pública voltada à diminuição
o digital
divide no Brasil.
(vi) Fortalecimento da Sociedade Civil: lançado com apoio do BID em 1997
, a primeira etapa
do programa terminou em Dezembro de 2001.
Agora, seus componentes entram em
consolidação e expansão. Na Promoção do Voluntariado, a Comunidade Solidária
poiou a
criação de cerca de 150 Centros de Voluntários em gran
des e médias cidades, buscando
criar infra-estrutura adequada para ações voluntárias.
Grupos vulneráveis, tais como
portadores de deficiência, jovens e idosos, estão sendo
encorajados a compartilhar seu
conhecimento e sua solidariedade com outros setores da sociedade.
Desde 2001 o Portal do
Voluntariado abriga na Internet um grande conjunto d
e informações e oportunidades, em
plano nacional, para ações voluntárias. O segundo componente criou a Red
e de Informações
do Terceiro Setor/RITS (www.rits.org.br), uma organização
da sociedade civil autônoma,
com vistas a disseminar conhecimentos e promover a interação entre org
anizações públicas,
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privadas e sem fins lucrativos. Depois de apenas três anos de operação,
seu site na Internet
recebe cerca de 750.000 page-viewers por mês e 2,5 milhões de acessos
de outras ONGs. Já
é considerado uma referência entre as organizações
do Terceiro Setor. O terceiro
componente teve em vista a criação de um ambiente regulatório e legal ma
is favorável às
organizações da sociedade civil. Por meio de um pro
cesso de diálogo e negociação a
Comunidade Solidária desenvolveu um importante papel de formulador d
e políticas. Graças
a sua promoção estratégica, novas leis foram editadas so
bre: o valor do voluntariado, o
estatuto legal das organizações da sociedade civil, o acesso das ONGs
aos recursos públicos
e a simplificação de procedimentos referentes ao micro-crédito.
(vii) Diálogo Público: desde junho de 1996 o Conselho
da Comunidade Solidária vem
promovendo reuniões em torno de uma agenda política que engloba priori
dades, medidas e
ações de interesse público relacionadas à luta contra a
pobreza e a exclusão social. Até
agora, 14 reuniões foram realizadas sobre vários temas, entre eles: re
forma agrária, renda
mínima e educação; crianças e adolescentes; alternativas para geração de ocup
e renda;
estrutura legal para o Terceiro Setor. Cerca de 400 participantes
de diversos segmentos da
sociedade civil, do setor privado e dos governos se engajaram nas
discussões.
A estratégia global da Comunidade Solidária está fazendo sete anos e
meio e alguns fatos podem
ser sublinhados:
(i) o comportamento e a forma de pensar dos atores estão mudando: gover
no, ONGs e o setor
privado estão aprendendo como cooperar com base em interesses comuns
. Isto não apaga
diferenças e não elimina áreas de desacordo e mesmo
conflito, que são intrínsecos a
qualquer sociedade democrática;
(ii) uma percepção comum está sendo gerada: longe de apoiar a diminuição do pape
l do Estado,
as parcerias multisetoriais reformatam as políticas públicas e aumenta
m os recursos;
(iii) o dinheiro pode ser escasso, mas o capital soci
al é abundante confiança mútua,
habilidades, especializações e vontade de atuar. O desaf
io é como se mobilizar e investir
estes recursos com eficiência e escala;
(iv) a formação de redes e a construção de parcerias formam um modelo de geome
tria variável.
As alianças são múltiplas, flexíveis e orientadas para a
ação. Cada parceiro traz para a
agenda comum suas vantagens comparativas e seu valor agregado.
III. A FACTIBILIDADE DAS IDÉIAS E CRENÇAS
A inovadora forma de atuação da Comunidade Solidária mostrou que a efetividade e
o baixo custo
em programas sociais podem ser alcançados por meio de uma gestão criativa e responsáve
l. Antigos
problemas da sociedade brasileira, tais como alfabetização de jovens nas comunidades
mais pobres, a
falta de qualificação profissional dos jovens pobres nas áreas metropolitanas, a miséria
das mulheres
nas regiões de seca, entre outras, estão sendo enfrentados. Questões
importantes trazidas à luz pela
Sociedade da Informação, por exemplo, o digital gap e o uso das novas tecnologias de i
nformação e
comunicação como instrumentos para a inclusão social, estão sendo tratadas via iniciativ
as inventivas.
Um tema de crucial importância merece ser destacado. Além dos bons resultados,
os programas da
Comunidade Solidária criaram e estão transferindo tecnologias
sociais. Aqui se assume que o
tradicional conceito de tecnologia - produção de novos conheci
mentos e ferramentas, pode ser
aplicado à gestão social. Entende-se que a estratégia da Comunidade
Solidária vem implementando
formas alternativas de gestão em seus programas que, baseadas em princípios e valore
s, desenvolveram
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novos processos e criaram novos produtos.
Os princípios e valores básicos que são compartilhados pelos prog
ramas podem ser sumarizados
como:
(i) descentralização: programas são implementados por organizações que estão mai
próximas
dos beneficiários, organizações comunitárias e não governamentais, universid
ades locais e
regionais, governos estaduais e municipais.
(ii) parceria: todos os programas dependem fortemente de
parcerias estabelecidas com um
conjunto variado de empresas privadas, agências públicas e organizações da
sociedade civil.
Essa é uma estratégia efetiva para expandir investimentos sociais1
(iii) focalização: idade, renda familiar, municípios mais pobres, periferia d
e áreas metropolitanas
são os principais critérios que informam o desenho e a implementação de ca
da programa.
(iv) transparência: a estratégia da Comunidade Solidária requer que cada pro
grama desenvolva
seus próprios sistemas de informação, monitoramento
e avaliação. Os produtos destes
sistemas são usados não apenas como instrumentos para prestação de contas
a financiadores
e beneficiários (accountability), mas também para o esquema contínuo de
planejamento e
para disseminar informações para interessados (stakeholders) e para a
sociedade como um
todo. Além disso, a seleção pública de projetos financiados
por alguns dos programas da
Comunidade Solidária é um instrumento gerencial que se
mostrou efetivo e factível para
promover acesso equânime à informação e aos recursos disponíveis. Capacitação
lidária,
Rede Jovem e Universidade Solidária expandiram sua cobertura por mei
o de convocatória a
organizações comunitárias, ONGs e universidades a prestar o concurso públi
co.
A rápida expansão da cobertura das intervenções promovidas
pela estratégia da Comunidade
Solidária e a replicação das experiências pelo território nacional e em outros países indic
ram que a
idéia e a prática do aprender fazendo foram bastante bem sucedidas
neste caso. Um esforço de
refletir sobre a experiência da Comunidade Solidária, e de extrair
algumas conclusões, indicou que
algumas crenças que orientaram todo o trabalho desenvolvido se provaram não só factíveis
, mas bem
sucedidas:
(i) o interesse público não repousa exclusivamente nas mãos do Est
ado, mas é também
responsabilidade de todos os cidadãos: o conceito e a prática
da cidadania vão além
do voto para postos governamentais. A
discussão pública e as iniciativas
participativas contribuem para aumentar a consciência pública
e o envolvimento dos
cidadãos. Além disso, o processo democrático brasileiro indica
que desacordos não
inviabilizam o comportamento cooperativo.
(ii) a prestação de serviços públicos é compatível e mais efetiva com a
articipação dos
cidadãos: programas governamentais que en
corajam a participação comunitária
estão apresentando melhores resultados.
Valores tais como solidariedade,
reciprocidade, confiança e cooperação são renov
ados e reforçados quando as
intervenções públicas levam em consideração a energia
comunitária. Aproveitar o
potencial existente para formação do capital
social, e expandi-lo, é a marca
registrada da estratégia da Comunidade Solidária.
1 Cerca de US$ 200 milhões foram captados pelos vários programas,
nos últimos 7 anos e meio, de empresas privadas,
fundações e agências públicas. Este montante pode dobrar se bens e serviços em espécie são
ados em consideração. O
Programa Alfabetização Solidária já está em 2000 municípios; 2.500 ONGs part
ciparam de concursos públicos no
Capacitação Solidária; 300 universidades de todo o país são parceiras em vários programas.
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(iii) programas universais e políticas focalizadas pod
em criar uma sinergia positiva na
direção do desenvolvimento social: a chamada disc
riminação positiva como um
instrumento para desenhar e implementar
programas sociais não interfere
negativamente na busca de mudanças mais estrutu
rais. Ao contrário, a articulação
entre ações compensatórias e a provisão universal de serviços pode
potencializar a
luta contra a pobreza.
(iv) Políticas econômicas deveriam ser influenciadas pela política
social e vice-versa: a
luta contra as desigualdades históricas no Brasil requer um
a abordagem integrada e
sustentável que leva em consideração investiment
os econômicos, financeiros e
sociais, assim como a promoção de capital
humano e capital social. Abrir
oportunidades para aumentar a renda dos pobres não é suficien
te. A concentração de
conhecimento e poder é tão má quanto a concentração de renda.
(v) Superar a pobreza demanda que se fuja de
políticas pré-empacotadas e aceitar
alternativas inovadoras e flexíveis: transferênc
ias diretas aos indivíduos são
importantes em um dado momento, mas falharão caso não sejam c
omplementadas
com ações criativas e múltiplas, que desafiem as desvantagens r
elativas enfrentadas
pelos pobres.
(vi) As parcerias entre o Estado e a sociedade
podem empurrar iniciativas efetivas na
direção do desenvolvimento social: nem o Estado
ou o Mercado, por si sós, são
capazes de fazer avançar o desenvolvimento humano, social e
sustentável. Mais do
que nunca, o Terceiro Sector tem um papel
crucial a cumprir no processo. As
vantagens comparativas de cada setor pod
em ser levantadas de forma tal a
pavimentar de forma mais efetiva o caminho na direção dos seu
s fins.
IV. CONTINUIDADE E SUSTENTABILIDADE DA
ESTRATÉGIA DA COMUNIDADE
SOLIDÁRIA
Após sete anos e meio de existência, algumas condições favoráve
is ajudaram a encontrar as
melhores maneiras de garantir a continuação, expansão e sustentabilidade da estratégia d
a Comunidade
Solidária:
(i) o elevado potencial representado pela cobertura e capila
ridade de capital humano e
social acumulado pelos programas da Comunidade Solidária.
(ii) o crescente reconhecimento, por parte d
e parceiros estratégicos, de nossa
legitimidade e capacidade pró-ativa.
(iii) o momento oportuno: o ano de 2002, o último do mandato da
presente administração
federal, será dedicado a gerenciar a transição para o próximo pas
so da estratégia.
A nova abordagem da estratégia da Comunidade Solidária está baseada em duas d
imensões: a
criação de uma nova organização sem fins lucrativos COMUNITAS, e o estabelecimento da Re
deSol,
uma rede composta pelas organizações e programas que estão sob o
guarda-chuva da Comunidade
Solidária.
COMUNITAS foi criada em junho de 2000 para gar
antir a continuidade e expansão dos
projetos e programas de desenvolvimento social desenvolvidos
pelo Conselho da Comunidade
Solidária. Sua missão, semelhante à do Conselho, é mobilizar recursos
e competências, em plano
nacional, de forma a lutar contra a pobreza e a exclusão social no Brasil.
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Presidida pela dra. Ruth Cardoso, também presidente do Conselho da Comuni
dade Solidária,
COMUNITAS está localizada no Rio de Janeiro, com escritório region
al em São Paulo. O Board
compõe-se de 34 membros que pertencem a diferentes segmentos da sociedade brasilei
ra: empresários,
empreendedores sociais, executivos de fundações e ONGs, líderes universitários e comunitár
ios.
As linhas de ação da COMUNITAS são:
(i) fortalecer a rede de projetos e programas de dese
nvolvimento social implementados pela
Comunidade Solidária RedeSol. Como um agente
mobilizador da rede, a função da
COMUNITAS é consolidar um sentido comum em termos de
identidade de valores e
unidade de propósitos. Ao mesmo tempo, ela busca pro
mover a cooperação e a sinergias
entre os vários programas e parceiros.
(ii) continuar e expandir o apoio aos programas Capacitação Solidária, Alfab
etização Solidária
e Universidade Solidária nos temas de gestão e empr
eendedorismo; monitoramento e
avaliação; captação de recursos; comunicação social e novas tecnologias de in
ormação.
(iii) Sistematizar e disseminar as tecnologias sociais geradas pela red
e de programas como um
instrumento para expandir e replicá-las no Brasil e no plano interna
cional (países africanos e
asiáticos de língua portuguesa e latino-americanos).
(iv) Continuar a implementação de programas e projetos de
desenvolvimento social já sob a
responsabilidade da COMUNITAS, tais como:
Novas tecnologias de informação como instrumentos para a
inclusão social, as quais são
uma prioridade em todos os programas.
Programa Rede Jovem que apóia a criação de Espaços Jovens comunitários. artic
lados em
Rede e gerenciados pelos próprios jovens.
Programa Artesanato Solidário que apóia a organização
de mulheres em cooperativas
produtivas localizadas em municípios pobres.
Programa Voluntários que visa fortalecer a participação voluntária de cidadão
, enfatizando
a mobilização de setores vulneráveis da população como pessoas portadoras de
deficiência,
idosos, jovens e crianças.
Desenvolver programa de produção de conhecimento sobre novas relações entre
Estado e
Sociedade, desenvolvimento social, Terceiro Setor
, a ser desenvolvido em diálogo e
parcerias com Universidades, centros de investigação, fund
ações, em âmbito nacional e
internacional.
No que respeita a RedeSol, a primeira etapa de conformação da rede, além de promoção
de eventos
em torno de interesses comuns, está se dando com a elaboração do Portal da RedeSol que
visa ser um
instrumento para disseminação e intercâmbio de informação entre diversos
tipos de público e de
promoção de parcerias para melhor aproveitamento do potencial existente nos programa
s. O desenho
do Portal inclue as seguintes seções:
(i) informações básicas: breve conjunto de informações sobre cada
um dos programas da
RedeSol, remetendo ao site próprio de cada programa;
(ii) sistema georeferenciado de informações: mapa com a cobe
rtura dos programas, desde o
plano nacional, estadual e municipal, agregando informações sobre cobe
rtura e resultados;
(iii) enlace temático: identificação de temas trabalhados pelos
programas da RedeSol, e suas
inter-relações, tais como educação, saúde, formação pro
sional, jovens, mulheres,
relacionando com as informações georeferenciadas.
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(iv) Produção de conhecimento: disseminação de produtos gerados pela RedeSol co
m respeito a
temas específicos.
Resta indicar que o legado da Comunidade Solidária vem se d
istribuindo não apenas para a
RedeSol e a COMUNITAS, mas para o conjunto da sociedade brasileira. O desafio ag
ora é assegurar
sua efetividade permanente.
BIBLIOGRAFIA
CARDOSO, Ruth; OLIVEIRA, Miguel D. e FRANCO, Augusto
(2000). Um Novo Marco de
Referência para o Envolvimento do Estado e da Sociedade Civil com o Desenvo
lvimento Social,
PNUD/Comunidade Solidária, Brasília, DF.
RESENHA BIOGRÁFICA
Thereza Lobo é socióloga, com curso de Mestrado em Sociologia da América Latina, na Un
iversidade
de Essex, Inglaterra. Atualmente, é Superintendente-Executiva da
COMUNITAS, organização da
sociedade civil sem fins lucrativos criada em 2000. Anteriorment
e Thereza Lobo trabalhou no
Programa Comunidade Solidária desde 1995 e foi Coordenadora do Programa Parcerias
entre o Estado
e a Sociedade Civil (BID/UNESCO/FBB). Thereza Lobo tem s
ido também consultora de várias
agências governamentais nacionais e internacionais e de organismos
multilaterais em temas como
fortalecimento institucional, políticas públicas, descentralização, federalismo e relação e
tre Estado e
Sociedade Civil, desde 1988.
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