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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – NORTE

LICENCIATURA EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Fábulas de Duss

O MÉTODO DAS FÁBULAS EM


PSICANÁLISE INFANTIL

- Louisa Duss -
FÁBULAS DE DUSS

ÍNDICE

Introdução ……………………………………………………….…………………………………………….3

1. Material ………………………………………………………………………………………………………4

2. Aplicação ………………………………………………………………………………………………………4

3. Método ……………………………………………….…………………………………………………….5

4. Fábulas ……………………………………………………………………….……………….……………6

5. Primeiro Estudo Experimental ………………………………………………………………………9

5.1. Observações ………………………………………………………………………..…….10


5.2. Conclusões ……………………………………………………………………………….16

6. Segundo Estudo Experimental: Fenómenos de Resistência em Psicanálise


Infantil ……………………………………………………………………………………..…………….17

6.1. Método ……………………………………….……………….……………………………….18


6.2. Observações ………………………………………………………………………….……19
6.3. Conclusões ………………………………………………………………………….……20

Reflexão Pessoal ………………………………………………………………………….……………..22

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FÁBULAS DE DUSS

INTRODUÇÃO

Este trabalho foi realizado como complemento do estágio da licenciatura


em Psicologia Clínica leccionada pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde
– Norte.
Este trabalho foi elaborado com o intuito de aprofundar o nosso
conhecimento acerca do teste projectivo, Fábulas de Duss, e adquirir
competências para, posteriormente, o utilizar na prática clínica.
As fábulas de Duss são da autoria de Louisa Duss, psicanalista, que
estudou com o auxílio das fábulas que criou, os complexos 1 e os fenómenos de
resistência na criança.
Face à inexistência de um método de investigação preciso, para a
detecção dos complexos mais clássicos da teoria freudiana, tais como, o
complexo de desmame ou o complexo de Édipo, a autora elaborou um teste
projectivo dirigido aos psicanalistas que trabalham na área infantil.
Este instrumento é uma ferramenta auxiliar na prática clínica, que se
reveste de grande importância quando utilizado na aquisição de informação de
valor diagnóstico.
Este teste é constituído por um conjunto de pequenas fábulas ou
histórias, nas quais um herói ou um protagonista (uma criança ou um animal)
se encontra em determinada situação representativa de um estádio de
evolução do inconsciente (oral, anal, édipo, etc.). Contudo, esta situação
encontra-se incompleta e é solicitado ao examinando que a termine. Quando o
sujeito se sente afectado por uma das histórias e dá uma resposta simbólica
ou, pelo contrário, quando manifesta uma certa resistência a responder,
significa que a situação do herói da fábula desencadeia no indivíduo uma
cadeia de associações que revelam o complexo em que se encontra fixado.
Cada conto representa a simbolização de um complexo, servindo de
estímulo à criança para libertar o seu material inconsciente relativo à situação
apresentada, não suscitando angústia pois são recriadas situações familiares e

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Complexo: “consiste num conjunto organizado de representações e recordações de valor
afectivo, parcial ou totalmente inconscientes. Um complexo constitui-se a partir das relações
interpessoais da história infantil; pode estruturar todos os níveis psicológicos: emoções,
atitudes, comportamentos adaptados.” (Lanplanche e Pontalis; 1990, pág. 76)

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FÁBULAS DE DUSS

escolares sem significado aparente. No entanto, na execução das fábulas


houve o cuidado de evitar situações familiares ou escolares demasiado
específicas, nas quais a criança correria o risco de se reconhecer
realisticamente e, temer ser julgada pelo psicólogo. Desta forma, em três das
histórias é eleito um animal como herói; nas restantes o herói encontra-se em
situações banais (uma festa de família, um funeral, um objecto de barro
fabricado pelo herói, um passeio, etc.). Deste modo, a criança centra-se nos
sentimentos do herói. Ao camuflar os conflitos implícitos em cada fábula, a
culpabilidade do sujeito não será despertada, facilitando a identificação com o
herói. A finalidade é levar a criança a identificar-se com o herói e transferir
para ele os aspectos não tolerados pelo seu Ego e Superego.
As respostas da criança permitem inferir sobre os principais mecanismos
de defesa, a reacção da criança às diversas histórias, o tempo de latência e a
introdução de sentimentos e emoções na narrativa.
Para que estas condições se realizem é necessário que as fábulas sejam
de fácil compreensão e suscitem interesse nas crianças. As fábulas não são
apresentadas aleatoriamente, estão organizadas de modo a que sejam
progressivamente expostas histórias que representam complexos com um
nível crescente de culpabilidade.

1. MATERIAL
Este teste é composto pelo manual de apoio, uma folha de registo e
anotação, e uma folha com as dez fábulas e respectivas instruções gerais de
aplicação.

2. APLICAÇÃO
FORMA: Individual
IDADE: Crianças com idades compreendidas entre os três e os quinze
anos e, por vezes, adolescentes e adultos com idades compreendidas entre os
20 e os 30 anos (considerando-se estes últimos casos excepcionais, já que
este teste se destina a crianças). No caso dos adultos, estes devem apresentar
perturbações neuróticas e o seu grau de escolaridade não deve ser muito

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FÁBULAS DE DUSS

elevado. Devem ser excluídos adultos com uma formação académica superior,
uma vez que não reagem espontaneamente, fazendo reflexões objectivas e
razoáveis nas suas respostas.
TEMPO: Variável (entre quinze a trinta minutos)

3. MÉTODO
A aplicação do teste inicia-se com a explicação à criança do que será
efectuado, começando por referir que lhe vamos contar pequenas histórias e
que ela deve adivinhar como é que continuam. Devemos realçar que ela deve
dizer tudo o que pensa pois é a própria que decide o que vai acontecer. Para
crianças de faixa etária superior as fábulas devem ser apresentadas como um
teste de imaginação. Neste caso, deve-se destacar que devem responder o que
lhes ocorra espontaneamente, pois as perguntas não são de inteligência, mas
sim de imaginação, assim as ideias divergem de pessoa para pessoa.
A história deve ser contada de modo directo, concedendo entusiasmo
aos detalhes, no entanto é necessário evitar qualquer entoação que possa
influenciar a criança, ou mesmo, qualquer tipo de dramatização, pois poderia
sugestionar a criança e falsear o problema.
Frequentemente a resposta da criança é demasiado breve e por detrás
da sua trivialidade esconde-se um conflito não expresso. Deste modo, é
necessário alongar o interrogatório e aprofundar a resposta para obter em
maior detalhe os dados condensados da resposta inicial.
De um modo geral, todos os indivíduos executam o teste com interesse,
incluindo as crianças mais novas, que entendem as instruções e as aceitam.
Segundo a autora, o motivo pelo qual as crianças de idade inferior
respondem prontamente às fábulas prende-se com o facto do princípio do
prazer estar inserido na maioria das histórias (excepto a fábula do enterro e a
do mau sonho), despertando a sensibilidade e mantendo a atenção do sujeito.
Por outro lado, as fábulas não evocam nenhuma situação singular que
possa distrair a criança do símbolo, não havendo casos significativos de
respostas desviadas da temática.

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FÁBULAS DE DUSS

Algumas crianças manifestam resistência em responder a determinada


história, no entanto, esta resistência aparece justamente na ocasião em que se
oculta o conflito do indivíduo. Para outras crianças, a existência do complexo
cria um verdadeiro desejo de recomeçar o exame, pois a afectividade
transferida para o herói da fábula descarrega-os de um afecto demasiado
pesado e procuram obter um alívio momentâneo, através da prova.

4. FÁBULAS

1. Fábula do Pássaro (para descobrir a fixação da criança a um dos


pais ou o seu grau de independência):

Um pai e uma mãe pássaros e o seu filho pequeno, dormem no seu


ninho colocado no ramo de uma árvore. Mas de repente, começa a soprar um
vento forte que sacode a árvore e o ninho cai ao chão. Os três pássaros
acordam repentinamente. O pai voa rapidamente para um pinheiro e a mãe
para outro. O que fará o pássaro filho? Ele já é capaz voar um pouco…

2. Fábula do Aniversário de Casamento (para verificar se o sujeito


sentiu o choque da cena primitiva; ciúme da união dos pais)

Celebra-se a festa do aniversário de casamento dos pais. Os pais


gostam muito um do outro e fizeram uma grande festa. Durante a festa o filho
afasta-se e vai sozinho para um canto do jardim. Porquê?

3. Fábula do Cordeiro (para explorar o complexo de


desmame/separação e o complexo dos irmãos e irmãs)

Era uma vez uma mãe ovelha e o seu cordeirinho que viviam num
campo. O cordeirinho passa todos os dias a brincar perto da sua mãe. Todas
as tardes a mãe dá-lhe de mamar leite bom e quentinho que ele gosta muito.
Mas o cordeirinho também já comia erva. Um dia, trouxeram à mãe ovelha

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FÁBULAS DE DUSS

outro cordeirinho muito pequenino, que tinha fome, para que ela lhe desse
também um pouco de leite. Mas a mãe ovelha não tinha leite suficiente para os
dois e disse ao seu filho: “O meu leite não chega para os dois, tu tens de
comer erva fresca”. O que fará o cordeiro?
Para averiguar somente o complexo de desmame, suprime-se a chegada
do cordeirinho pequeno e diz-se que a ovelha já não tem leite e que o cordeiro
deve começar a comer erva.

4. Fábula do Enterro (para explorar a agressividade, os desejos de


morte, a culpabilidade, a autopunição)

Um enterro passa pelas ruas da aldeia e as pessoas perguntam: “Quem


é que morreu”. Alguém responde: “Foi uma pessoa da família que habita
naquela casa”. Quem terá sido? (De que terá morrido? Que idade tinha?)

Para crianças que ainda não compreendem a ideia de morte (menores


de cinco anos), contar a história da seguinte forma:
Uma pessoa da família apanhou o comboio e foi para muito, muito longe
e nunca mais voltou para casa. Quem seria? Porque é que se foi embora?

5. Fábula do Medo (para constatar a angústia e a autopunição)

Uma criança diz em voz baixinha: “Tenho tanto medo”. De que tem
medo o menino?

6. Fábula do Elefante (complexo de castração)

Uma criança tinha um pequeno elefante de quem gostava muito; é


muito bonito e tem uma tromba comprida. Um dia, ao voltar de um passeio, o
menino entra na sua casa e repara que o seu elefante estava muito diferente.
O que é que tinha mudado? E porque é que mudou?

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FÁBULAS DE DUSS

7. Fábula do Objecto Construído (para detectar o carácter obstinado


e possessivo; complexo anal)

Um menino conseguiu construir uma coisa em barro (uma torre) que lhe
parece muito, muito bonita. A sua mãe quando viu a torre pediu-lhe para lha
oferecer, mas não o obrigou. O menino pode decidir se lha dá ou não. O que
fará?

8. Fábula do Passeio com o Pai ou com a Mãe (complexo de Édipo)

Um rapaz (ou uma rapariga) dá um passeio agradável pelo bosque com


a sua mãe, os dois sozinhos (ou com o seu pai se se trata de uma menina).
Divertiram-se muito os dois juntos. Quando voltaram para casa, o rapaz
apercebe-se que o pai não está com a cara do costume. Por quê? (para o caso
da menina, quando voltam para casa, apercebe-se que a sua mãe não está
com a cara do costume)

9. Fábula da Notícia (para conhecer os desejos ou os medos do


sujeito)

Uma criança volta da escola (ou de um passeio) e a sua mãe diz-lhe:


“Não comeces já a estudar pois tenho uma notícia para te dar”. O que é que a
mãe lhe vai dizer?

10. Fábula do Pesadelo (serve de controle das fábulas anteriores)

Uma criança acorda de manhã muito cansada e diz: “Que sonho horrível
que tive”. Com que é que terá sonhado?

Folleu e Murotoir apresentaram, posteriormente, três fábulas de


controlo:

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FÁBULAS DE DUSS

a) O animal
Se pudesses um dia transformar-te num animal, que animal
escolherias? Porquê?

b) A senhora
Uma linda senhora encontra um menino no jardim e diz-lhe: “Pede-me 3
desejos e tê-lo-às”. O que pede o menino?

c) O rei indiano
Um rei indiano vai fazer uma visita aos soberanos do reino vizinho e
leva dois lindos ramos de flores. Um é para a rainha e outro para a princesa.
Um dos ramos esconde uma surpresa, um anel muito rico. Em qual dos ramos
o rei o escondeu?

Final:
“Que animal é que gostarias de ser? Porquê?”
“Que animal é que não gostarias de ser? Porquê?”

5. PRIMEIRO ESTUDO EXPERIMENTAL

Louisa Duss e colaboradores realizaram um estudo para constatar a


validade deste teste. A amostra foi constituída por 65 sujeitos, dos quais, 43
crianças entre os 3 e os 5 anos de idade e 22 adultos com idades
compreendidas entre os 17 e os 50 anos. Esta amostra foi retirada de sujeitos
que viviam com a família ou em residências infantis. Nenhum se encontrava
hospitalizado, nem estava gravemente doente. Todavia, 9 crianças e 5 adultos
apresentavam um comportamento neurótico na vida quotidiana (enurese,
tiques, inibições, angústias, obsessões, crises de raiva, anomalias de
personalidade). Três das crianças enunciadas tinham sido submetidas a um
exame neurológico devido a estes sintomas; três adultos beneficiaram de
psicoterapia. Relativamente aos oito sujeitos restantes, os seus familiares e

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FÁBULAS DE DUSS

professores forneceram informações desfavoráveis, tais como, indisciplina,


agitação, impulsividade, crises de cólera, etc. Estes 14 sujeitos neuróticos
correspondem a 21% da amostra.
Dez crianças e seis adultos foram considerados casos duvidosos, isto é,
semi-adaptados ou demasiado jovens para permitir a emissão de um juízo
seguro a este respeito.

5.1. OBSERVAÇÕES
Para cada fábula é apresentada uma lista de respostas obtidas em
sujeitos normais servindo como termo de comparação com as respostas dos
sujeitos neuróticos.

◦ Fábula do Pássaro

Respostas normais:
1. O pássaro voará para um ramo próximo do seu pequeno ninho.
2. Voará para onde está a sua mãe.
3. Voará para onde está o pai, porque ele é o mais forte.
4. Ficará caído no chão a chorar até que os pais o venham buscar.

Respostas Patológicas:
1. Ficará no chão.
2. Depois da insistência de que já sabe voar um pouco:
 Tentará voar mas cairá no chão e morrerá.
 Voará pela terra e se chove morrerá.
 Os pais escondem-se debaixo dos arbustos, mas ele morrerá.

◦ A Fábula do Aniversário de Casamento

Respostas normais:
1. Vai colher flores para os seus pais.
2. Vai divertir-se (resposta frequente).

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3. A conversa não lhe interessa.


4. Recebeu uma má nota na escola e vai esconder-se, zangado, no
fundo do jardim.
Respostas patológicas:
1. Foi-se embora porque estava aborrecido. Porque era a festa dos pais
e a mãe não lhe queria dar o doce que era só para o pai.
2. Porque queria estar só. Porque o pai e a mãe faziam muito barulho, a
jogar.
3. Porque vai comer no fundo do jardim, tem pouco que comer e quer
estar só.
4. Talvez porque viu outros rapazes mais alegres do que ele, ele tem
pensamentos. Acha que não é divertido estarem os pais a falar juntos e ele
ficar sozinho. Acha que se festejam muito os pais e pouco os filhos.
5. É muito simples, está zangado porque a festa é para os pais que não
se preocupam com ele.
6. Está zangado por não se ocuparem dele e aborrece-se.

◦ A Fábula do Cordeiro

Respostas normais:
1. Come a erva.
2. Vai buscar leite a outra ovelha.
3. Fica um pouco zangado mas vai comer erva.

Respostas patológicas:
1. Creio que morrerá.
2. Ficará irritado com a mãe, dará uma pancada ao cordeirinho e vai
comer erva.
3. Ficará ciumento, vai para longe e não olha para a mãe, ou então,
vai-se aproximando pouco a pouco e procura ferir o cordeirinho se conseguir,
fica cada vez mais cheio de ira contra o outro, dá-lhe encontrões e procura
bater-lhe na cabeça.

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FÁBULAS DE DUSS

4. Pensará: que coisa aborrecida, não sabe porquê mas obedece.

◦ A Fábula do Enterro

Respostas normais:
1. O sujeito refere uma pessoa que morreu recentemente na sua
família.
2. É uma pessoa de idade: o avô ou a avó.
3. É uma pessoa que estava doente havia muito tempo.
4. É alguém muito importante ou de fora da aldeia, já que esta gente
se interessa por ele.

Respostas patológicas:
1. É a menina pequenina.
2. É a mãe do menino pequenino que foi esmagada por um automóvel.
3. O pai.
4. O pai ou a mãe ou um menino… talvez um menino.
5. O filho maior.

◦ Fábula do Medo

Respostas normais:
1. Porque a mãe olha para ela com cara de zangada.
2. Medo de uma bofetada.
3. Medo de ter uma má nota na escola.
4. Medo de um animal.
5. Medo da guerra.
6. Medo que o seu único parente morra.
7. Medo de perder o seu dinheiro durante a crise.

Respostas patológicas:

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1. Tem medo porque veio a bruxa para o matar, porque o menino umas
vezes é bom outras é mau.
2. Tem medo que o lobo o coma, porque é um rapaz muito mau.
3. Tem medo de um ladrão que o quer matar.
4. Tem medo de ficar sozinho e de se perder.
5. Tem medo que a mãe lhe bata porque lhe desobedece sempre.
6. Tem medo das serpentes.

◦ A Fábula do Elefante

Respostas normais:
1. A criança viu um brinquedo mais bonito e o seu não lhe interessa
mais.
2. Não foi o elefante que mudou, foi a criança que cresceu e já não
gosta de brincar.
3. Não mudou.
4. Mudou de pele.
5. Durante a ausência da criança, a criada derramou um copo de água
sobre o elefante.

Respostas patológicas:
1. Cortaram-lhe a tromba.
2. Emagreceu de repente, tem muito frio e está para morrer.
3. A fada com a varinha mágica tinha-o transformado num gato, porque
gostava de gatos, mas o menino gostava muito da tromba, mas a fada era má
e queria fazer pouco do menino.

◦ A Fábula do Objecto Construído

Respostas normais:
1. Dará a torre à sua mãe.
2. Vai-se divertir com a torre e se a sua mãe lha pedir, dar-lha-á.

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FÁBULAS DE DUSS

3. Vai mostrá-la a toda a gente.

Respostas patológicas:
1. Guardá-la-á para si.
2. Não lho dá porque é muito bonito.

◦ A Fábula do Passeio com o pai / mãe

Respostas normais:
1. A mãe/ pai está contente.
2. Ela/ ele preparou uma boa merenda.
3. Ela/ ele trabalhou demais e a sua cara está cansada.
4. Ela/ ele colocou uma máscara porque é Carnaval.
5. Eles voltaram demasiado tarde do passeio e o pai/ mãe já estava a
descansar.
6. Durante a sua ausência a mãe/ pai talvez tivesse recebido uma má
noticia.

Respostas patológicas:
1. A mãe estava doente.
2. O pai mudou porque estava doente, tinha apanhado frio, isto fazia
sofrer a mãe.
3. O pai não quis ir com eles para ficar a trabalhar, mas não está
contente porque não esteve com a mãe, porque o menino a levou.

◦ A Fábula da Notícia

Respostas normais:
1. A mãe quer-lhe contar uma história.
2. Há uma boa merenda ou receberam visitas.
3. Recebeu uma boa notícia.

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FÁBULAS DE DUSS

4. A mãe quer-lhe dar recomendações para o seu trabalho ou para a


sua vida.

Respostas patológicas:
1. A mãe quer dizer-lhe que ele hoje foi pateta, que desobedeceu.
2. A mãe anuncia-lhe a morte dos pais, dos irmãos, das irmãs.
3. A mãe diz-lhe que não deve andar na estrada para não ser esmagado
por um carro.

◦ A Fábula do Pesadelo

Respostas normais:
1. Não sei porque nunca sonho.
2. Sonhou com a guerra.
3. Sonhou com um animal que o ameaça.

Respostas patológicas:
1. Sonhou que a mãe tinha morrido.
2. Sonhou que estava alguém no quarto que o queria levar, era um
ladrão de meninos.
3. Via-se a ser levado pelas ondas do mar.

É muito delicado distinguir entre as respostas das fábulas do pesadelo e


do medo, as que são neuróticas. Contudo, todos os casos que foram
considerados neuróticos, aludem directamente à auto-punição, ideia de morte
ou realização oculta de um desejo.
Outras respostas podem parecer anormais à primeira vista, tais como:
“Tem medo que o lobo o coma”, “Sonhou com figuras que fazem caretas”; na
realidade não são mais do que temores incutidos na criança pelos seus
familiares para ela lhes obedecer, ou inclusive recomendações dos pais e dos
professores para que as crianças não se deixem seduzir por estranhos, ou
então advertências dos contos de fadas.

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FÁBULAS DE DUSS

Estes medos terão passado para o inconsciente, provavelmente porque


simbolizam o medo do pai e constituem um resíduo de culpabilidade edipiana
que não afecta directamente a personalidade do indivíduo.
As respostas à fábula do medo são muito mais variadas entre os
neuróticos. As respostas de medo perante um animal são duas vezes mais
numerosas entre os indivíduos normais.
Por vezes, uma única resposta é suficiente para expor o conflito,
contudo, em determinados casos, o sujeito tem vários complexos, estendendo
o seu conflito a diversas histórias, sendo mais seguro avaliar o caso pelo
conjunto das respostas.

5.2. CONCLUSÕES

Em geral, supõe-se a existência de um complexo quando o sujeito


apresenta no seu comportamento as seguintes características:
1. Resposta imediata e insólita.
2. Perseveração do complexo nas restantes fábulas.
3. Resposta dada rapidamente.
4. Receio de responder a uma das fábulas.
5. Silêncio e resistência a responder.
6. Desejo, por parte do sujeito, de começar de novo o exame.

É surpreendente a segurança com que os indivíduos neuróticos


expressam o seu conflito inconscientemente. Estão convencidos de que as suas
respostas são as exactas, as únicas lógicas e que toda a gente responde como
eles, mais ou menos bem.
Entre os sujeitos normais encontraram-se alguns que deram respostas
equívocas que podiam ser interpretadas num sentido neurótico ou imaginativo.
Somente uma conversa prolongada com o sujeito permite revelar a verdadeira
causa da resposta. Frequentemente, estes sujeitos, recordam-se de uma cena
vivenciada na realidade, que os impressionou. Mas, em geral, um individuo
bem adaptado e com uma certa cultura dará várias respostas diferentes para

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FÁBULAS DE DUSS

cada fábula, demonstrando uma flexibilidade psíquica que lhe permite construir
diferentes cenas a partir do mesmo dado.
Foi observado que os sujeitos com deficiência mental apresentavam
dificuldades de identificação com o herói da fábula, pois predomina a realidade
concreta sobre o simbólico.
As respostas obtidas através das fábulas de conteúdo psicanalítico não
parecem estar relacionadas com o desenvolvimento genético da criança (a
partir dos três anos), mas antes, com as reacções individuais ligadas aos
complexos.

6. SEGUNDO ESTUDO EXPERIMENTAL: OS FENÓMENOS DE

RESISTÊNCIA EM PSICANÁLISE INFANTIL

Na segunda parte deste estudo experimental, são abordados os


fenómenos de resistência em psicanálise infantil. A resistência está associada
tanto à atitude da criança como à do examinador.
Certas crianças apresentam uma atitude de resistência mesmo antes de
iniciar a prova. Neste caso, se o psicólogo não se apercebe da resistência ou
não a consegue transpor, as crianças adoptam uma atitude escolar e não
respondem de acordo com o seu inconsciente, mas antes de forma a agradar
ao adulto.
Os sujeitos que têm uma atitude inicial negativa ou retraída possuem,
habitualmente, pais que lhes transmitiram a ideia que a ida ao psicólogo tinha
como objectivo comprovar o mal de que a criança padecia.
Outras crianças sofrem um intenso sentimento de culpa, e interpretam
as perguntas do examinador como a procura de alguma falha ou “pecado”.
Outro grupo de crianças reticentes é constituído pelas que já
frequentaram vários psicólogos. Pois estão habituadas a este tipo de técnicas.
Os pequenos neuróticos preparam, inconscientemente, um sistema de defesas

17
FÁBULAS DE DUSS

que toma a forma de indiferença ou negativismo, traduzidos pela resposta


“não sei” a todas as perguntas.
Por fim, algumas crianças muito ligadas à mãe, fixadas num estádio
afectivo primitivo, reservam-se de forma altiva e angustiosa, recusando-se a
responder a um “estranho” que quer separá-los da mãe.
Em todos os casos anteriormente referidos, o psicólogo, antes de aplicar
a prova, deve abordar com a criança a problemática objecto da consulta, pois
este sinal de franqueza leva as crianças a ganhar confiança.
Neste estudo, foi constatado que alguns sujeitos que apresentavam
algum conflito, tinham dificuldades para debater a fábula correspondente ao
seu conflito e permaneciam em silêncio algum tempo antes de falar.
Todavia, a atitude do psicólogo também pode criar uma resistência na
criança. Muitas vezes, são produzidos erros devido ao desejo de ir
directamente ao fundo do problema, com a finalidade de obter resultados
positivos. Assim, o psicólogo presta pouca atenção às etapas prévias que são
fundamentais para uma terapia eficaz.
No caso concreto deste teste, deve-se evitar construir demasiado cedo
certezas da existência de complexos nas respostas do sujeito, e passar muito
depressa do plano simbólico para o plano abstracto.
Outro erro consiste em intervir com observações ou sugestões
transpondo o que a criança quer manifestar livremente, o psicólogo deve
abster-se desta atitude em todos os casos em que a criança sente
culpabilidade ou está angustiada.
Ao utilizar-se este teste, deve-se desconfiar da facilidade e do êxito
demasiado rápido. Esta prova não constitui um simples teste de afectividade
que se aplica de modo estereotipado, mas antes um método clínico que implica
flexibilidade e prudência.

6.1. Método

O método utilizado consistiu em solicitar à criança para escutar


pequenas fábulas e responder às perguntas que lhe foram colocadas: “É

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FÁBULAS DE DUSS

preciso que respondas o que te ocorra, sem pensar se é uma resposta


inteligente ou se é assim que se deve responder”. Ao aplicar a prova, deve-se
anotar cuidadosamente as respostas. Em seguida, deve ser dito: “Está muito
bem o que respondeste mas ainda não terminámos. Respondeste, tal como te
pedi, com o que te passou pela cabeça. Agora, vou-te contar novamente a
história e responderás de novo o que quiseres, mas mudando uma condição.
Vou-te dizer o que se pode descobrir através do tipo de respostas fornecidas.
Como sabes, podes mudar a tua resposta se quiseres mas não és obrigado a
fazê-lo; és livre para responderes o que quiseres, tal como de início; só que –
repito – anteriormente ignoravas, mas agora já sabes o que se pode descobrir
através das tuas respostas.”
Assim, para cada fábula explicou-se o mais brevemente possível o que
significava. Em seguida a fábula era repetida e anotava-se com todo o cuidado
a nova resposta do sujeito.

Exemplo: Fábula do Cordeirinho


“O novo cordeirinho significa a chegada de um irmão mais novo, e vê-se
pelas respostas da criança, como receberá um bebé que lhe vem tirar o lugar.
Deste modo, se a criança responder: “Não quer repartir o seu leite, vai lutar
com ele”. Esta resposta pode significar que a criança não quer partilhar a sua
mãe com um irmão mais novo, que ficará zangado e quererá vingar-se. Por
outro lado, se responder: “Vai comer erva porque já teve bastante leite e é
justo que agora o leite seja para o mais novo”, pode traduzir que a criança
seria capaz de partilhar a mãe e que teria bons sentimentos para com o seu
irmão.
Este segundo método permite que se mantenham num mesmo plano as
duas reacções, demonstra como evoluem na criança os mecanismos de defesa
e finalmente permite fixar para cada fábula o que é e o que não é inconsciente.

6.2. Observações

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FÁBULAS DE DUSS

Foram examinados 50 crianças e alguns adultos pouco instruídos a título


comparativo. As idades variam entre os 3 anos e meio e os dezasseis anos de
diversos ambientes sociais.
Os sujeitos foram classificados em três grupos: normais, neuróticos e
duvidosos. Da amostra, 21 indivíduos apresentavam um comportamento
neurótico: sentimento de inferioridade acentuado, angústia, tiques, pesadelos,
enurese, etc; 8 sujeitos foram colocados na categoria de duvidosos pois
apresentavam sinais de neurose pouco importantes; 21 casos foram
considerados normais, não apresentando nenhuma observação desfavorável
nem nenhuma queixa por parte dos pais ou dos professores.

6.3. Conclusões

Este estudo permitiu concluir que as noções gerais da psicanálise, tais


como, o recalcamento, a resistência, a expressão simbólica, etc., podem ser
verificadas através de um procedimento experimental. Neste caso particular,
pelo método das fábulas de conteúdo analítico, repetidas duas vezes com uma
tomada de consciência do seu significado entre as duas aplicações.
Neste segundo estudo experimental, a questão principal consistia em
saber como reagiriam as crianças à tomada de consciência do significado das
fábulas.
Os investigadores concluíram que a criança normal, não altera as suas
respostas ao tomar conhecimento da significação das fábulas, repetindo a
primeira resposta ou dando uma resposta com um sentido geral idêntico, este
facto aplica-se em todas as idades.
Pelo contrário, os sujeitos neuróticos modificaram as suas respostas,
excepto as crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 7 anos, que
efectuavam poucas alterações nas suas respostas.

Este estudo permitiu dividir os sujeitos em duas grandes categorias:


1. Os casos normais que não possuem conflitos, portanto não
apresentam resistências.

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FÁBULAS DE DUSS

2. Os casos neuróticos que possuem um conflito e, por tal, oferecem


resistências.

As modalidades desta função psíquica primordial em psicanálise, que é a


defesa contra a tomada de consciência dos aspectos inconscientes, não estão
relacionadas com a personalidade peculiar do indivíduo, mas resultam de uma
evolução geral.
Esta evolução dos sujeitos neuróticos pode classificar-se em três
categorias que representam três estádios genéticos da evolução da resistência:
 No primeiro estádio a tomada de consciência não vai modificar a
segunda resposta, ou somente provocará uma ligeira alteração.
 No segundo estádio a tomada de consciência não provoca uma
defesa, o que se traduz pela adopção de um ponto de vista contrário à reacção
espontânea.
 No terceiro estádio a tomada de consciência provoca uma defesa que
se traduz pela adopção de uma série de hipóteses sem concluir a favor de
nenhuma delas.

Estes três estádios genéticos correspondem, em linhas gerais, ao


desenvolvimento do pensamento na criança descrito por Piaget.
Estes estádios não estão claramente separados. Segundo a natureza do
conflito, certas formas de resistência surgem mais prematuramente, enquanto
que outras aparecem em idades superiores. Este fenómeno está directamente
ligado à teoria de Piaget, que refere: “As operações intelectuais e os
sentimentos não constituem duas realidades diferentes, mas sim dois aspectos
complementares de toda a actividade psíquica”. Contudo, esta concepção da
totalidade da vida psíquica, por correcta que esteja, não deve fazer-nos
esquecer da primazia das pulsões inconscientes sobre a vida intelectual nos
indivíduos neuróticos, que subordina o pensamento e a afectividade.
Em suma, apenas se encontra o fenómeno de resistência à tomada de
consciência em sujeitos neuróticos em quem tenha havido recalcamento.

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FÁBULAS DE DUSS

Os indivíduos normais, qualquer que seja a sua idade, dão respostas


espontâneas, que não revelam nenhum complexo e a toma de consciência não
produz neles nenhuma defesa.

REFLEXÃO PESSOAL

A elaboração deste trabalho foi bastante produtiva, na medida em que


nos possibilitou adquirir um conhecimento geral sobre o instrumento de
avaliação psicológica em questão.
Finda a realização deste trabalho podemos afirmar, com convicção, que
este teste é um instrumento de elevado valor na avaliação de crianças,
portanto, de grande utilidade actividade clínica do psicólogo.
Este teste permite elaborar o psicodiagnóstico de crianças, a avaliação
dinâmica de adolescentes e adultos e a avaliação dinâmica em casos clínicos.
Nesta prova, os padrões de respostas incluem-se em três grupos: as
normais (resposta comum, insignificante, não sendo indício de conflito
psíquico), as patológicas (resposta que expressa sentimento de culpa,
angústia, agressividade, sendo indício de um complexo onde está fixado), e as
respostas que revelam resistência (quando o sujeito não responde, podendo
ser um indício de conflito inconsciente).
Desta forma, ao utilizar este teste como complemento do processo de
avaliação, o psicólogo, alcançará mais facilmente a manifestação do conflito
existente na criança.

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BIBLIOGRAFIA

Neste trabalho a bibliografia base utilizada foi o manual de apoio.

Duss, Louisa; El método de las fábulas en psicoanálisis infantil;


Publicaciones de psicologia aplicada; Madrid, 1994 (3ª edição)

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