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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA

BACHARELADO EM PSICOLOGIA

Consuelo Taques Ferreira Salamacha

Análise Fílmica – Filme “No limite do silêncio”


Trabalho apresentado como requisito de
avaliação parcial à disciplina de Ética e
Profissão do Curso de Bacharelado em
Psicologia da Faculdade Sant’Ana sob
coordenação da Profa. Beatriz Souza.

Ponta Grossa
2017
Filme – No limite do silêncio

O filme é uma produção de Tom Berry; é protagonizado por Andy Garcia


(Michael Hunter) e Vincent Kartheiser (Thomas Caffey), onde o primeiro é um
psiquiatra que passa por um terrível trauma juntamente com sua esposa e filha
da perda de um filho por suicídio.
Desde então, passa a escrever livros e dar palestras, abdicando do
exercício da terapia; bem como, de tratar-se terapeuticamente.
Entretanto, ao ser abordado por uma antiga aluna, uma assistente social
a personagem de Tery Polo (Barbara Lonigan) lhe faz conhecer um paciente
(Thomas Caffey) que está prestes a ser liberado do abrigo. Caffey tem o pai
preso pelo assassinato de sua mãe a quem ele idolatrava.
Michael é tomado por um sentimento que ele mesmo chega a se perguntar
se não seria “transferência” ao passar a atender ao jovem Caffey.
As questões éticas no filme são inúmeras.
Contudo, antes de abordamos tais pontos, entendemos importante deixar
o registro de que o filme retrata temas emblemáticos; o suicídio; o incesto; abuso
de menores; a depressão; o divórcio; o homicídio; as drogas; entre outros.
Os aspectos ligados a tais temas não são objeto deste trabalho; porquanto
a análise fílmica é restrita somente à questões éticas; e, não são poucas.

Destacamos que as questões éticas doravante elencadas não estão na


ordem apresentada no filme, mas aparecem na medida em que as nossas
percepções nos vem à mente como numa sequência que nos leva a uma cena
ou outra, pois, iniciamos a análise fílmica tão logo houve o término do mesmo.
Do início do filme observa-se uma família estruturada (o terapeuta, sua
esposa e seu casal de filhos) ambos em idade próxima da adolescência.

O filho do casal, entra em depressão e Michael o leva para se tratar com


um colega, o jovem comete suicídio ingerindo alguns comprimidos e asfixiando-
se na garagem dentro do carro da família. Michael sequer supunha que o mesmo
era molestado pelo terapeuta que o acompanhava, um profissional a quem
Michael tinha em alta conta. Tal fato infelizmente só chega ao conhecimento de
Michael após a morte de seu filho. Ao tentar vingar-se, dá de frente com o
suicídio do próprio terapeuta.
Desta observação restou-nos a percepção de que a filha de Michael
acabou introjetando igualmente um sentimento ‘de culpa’ que em verdade nunca
teve pela perda de seu irmão. Ela refere que somente olhava para seu próprio
umbigo, e não percebeu o sofrimento do irmão. (O sentimento de egoísmo
pode ser considerado nas questões que envolvem valores morais; algo que
pode suceder entre familiares, em relações de trabalho, em relações de
cunho pessoal, dentre outras).
A relação entre o terapeuta e sua esposa não é explorada no filme, mas
não se observa muita cumplicidade; somente em uma cena inicial durante a
apresentação da filha. (A convivência matrimonial impõe cumplicidade,
outro valor de natureza ínsita nos indivíduos que decidem partilhar uma
vida).
O casal, pós passamento do filho dissolve a união e a filha passa a residir
somente com a mãe; mas, não tem relacionamento afetivo com nenhum dos
genitores. (A perda de um ente querido acarreta uma proximidade dos
familiares entretanto, alguns sobreviventes de um suicídio caem em
depressão severa e não superam o luto. O companheirismo e o olhar para
o outro, o altruísmo, são valores e margeiam a ética das virtudes. O
refazimento dessas vivências demanda de auxilio terapêutico, o que na sua
maioria não e o que se vê suceder).
Entra, neste momento, o personagem do jovem Caffey; onde a Assistente
Social Barbara leva o caso do rapaz para Michael.
Ele reluta, entretanto, aceita o caso.
Passagens do filme dão conta de que a filha de Michael acaba
conhecendo Caffey em uma balada. Com ele conversa sobre situações de sua
família, sobre a perda do irmão. Sem todavia se dar conta de que poderia estar
interferindo no tratamento de Michael para com seu novo amigo. (Aqui uma
questão ética poderia ser levantada; o sigilo profissional - o terapeuta não
poderia ter revelado para a filha que atendia ao jovem; e sendo sua filha
conhecedora disto, não poderia também falar de situações familiares com
um paciente de seu pai).
Michael se intera do caso e decide procurar pelo pai de Caffey na prisão,
percebe no discurso que há algo mais a ser dito. Porém, não insiste muito num
primeiro contato. Mas, em uma segunda visita ao pai do jovem Caffey, Michael
em tom de desabafo acaba revelando que seu filho era molestado por seu
terapeuta. E escuta do pai de Caffey que o menino era vítima de incesto
praticado pela mãe. (Outra questão ética muito marcante; o terapeuta fala de
sua vida pessoal para o pai de seu paciente).
De outra ponta, a assistente social na tentativa de ajudar revela a Caffey
que Michael está a sua procura. Que “sabe de toda a verdade”. Aqui a ética é
violada pela profissional, pois revela algo que interfere diretamente no perfil
emocional do jovem; não tem condições de mensurar a reação do rapaz de fúria
e descontrole emocional. (A falta de preparo e atuação em seara que não há
domínio para tal nos remete a uma falta ética grave; muitas vezes de
consequência imensurável: no caso quase custou a vida de Barbara).
Enfim, as questões são inúmeras e demandam olhar perspicaz do
analisando uma vez que abarcam como dito de início temas que são da área não
somente da psiquiatria, como da psicologia entre outras.
Resta para o enfrentamento de tais questões a percepção de que o ser
humano e falível, está à mercê de circunstâncias e fatos que somente seu
contexto de vida demarcará suas reações diante delas.
A capacidade de resiliência e igualmente a condição de suporte para os
fatores estressantes da vida mostram o limite de cada um.

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