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ARTES PLÁSTICAS: DO QUADRO AO MARGINAL DA DITADURA

BRASILEIRA.

Flávio Augusto Leite Soares1

flavim.soares@gmail.com

As vanguardas artísticas surgida nas primeiras décadas do século XX 2 ,


caracterizadas pelo racionalismo, geométrico, priorizando as formas e a imitação da
natureza, dentre elas: surrealismo, cubismo, futurismo, expressionismo, entre outros, já
experimentavam sua decadência logo após a Segunda Guerra, resultado da busca
incansável de uma juventude que vivenciou tempos de guerra e medo.

Dado o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o cenário


internacional se desdobrava em dois blocos políticos-militares (EUA e URSS). O esforço
econômico provocado pelos americanos com o discurso focado na desmoralização do
“comunismo”, estimulou a penetração da cultura norte americana nos países latinos,
europeu e principalmente o Brasil (já alinhado durante a guerra)3.

O fim da guerra significava o início de uma “nova era”, tomando como


partida os EUA e sua juventude, deixando de lado o medo refletido pela guerra, surgem
então fortes movimentos por direitos civis, encabeçados principalmente por grupos
sociais, especialmente os negros e latinos, sendo os que mais sofriam com os descasos do
governo4.

Configurado por uma juventude que procurava se reinventar após os


horrores da guerra, via nas vanguardas citadas uma inquietação por mudanças, junto a
isso as cidades experimentavam a aceleração econômica e o crescimento populacional,
com as indústrias a todo vapor e uma taxa altíssima de migrações com a procura de
emprego, apareciam os primeiros sinais de insatisfações e desigualdades social,
proveniente da sobrecarga empregativa sofrido pelo desenvolvimento tecnológico.

1
Graduando em História UFPI
2
https://www.todamateria.com.br/vanguardas-europeias acessado em 22/02/2019
3
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Sociedade/Anos1950 acessado em 22/02/2019
4
https://www.educabras.com/enem/materia/historia/historia_geral/aulas/os_estados_unidos_possegu
nda_guerra acessado em 22/02/2019
Ainda no final dos anos 50, nasce dentro do movimento concreto e em
oposição a ruptura paulista, o grupo frente carioca.

Denominado Grupo Frente, no Rio de Janeiro os concretos se reuniram


desde 1952, principalmente no ateliê de Ivan Serpa, no MAM, onde se discutia
ostensivamente as ideias de Max Bill5. Além das ideias de Bill, o grande pensador que
animava o grupo era Mário Pedrosa. Dentre os artistas participantes destacava-se Lygia
Clark, Ivan Serpa, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Décio Vieira, dentre
outros.

Sem dúvidas, Oiticica faz parte do grupo de artistas da contracultura


brasileira, ou ainda os chamados artistas marginais, cujo trânsito entre diversas mídias
chama a atenção para a reconfiguração da ideia do que é considerado arte a partir da
segunda metade do século XX. Esses artistas desestruturaram os suportes e padrões da
tradição moderna da literatura, questionaram o ideário de identidade nacional, explodiram
e romperam com qualquer tentativa estética de um discurso objetivo. A poetização na
obra de Hélio Oiticica, Lígia Clark, Lígia Pape, Torquato Neto, em livros como Catatau
de Leminski, entre outros, é subversiva, se confunde com os absurdos da vida e resulta
numa “expressiva singularização crítica do real” (HOLLANDA, 2007, p. 11).
Evidentemente há a presença de discursos ideológicos dos quais Oiticica se aproximou,
tanto mais se confirmam essas ideologias por meio de seus textos teóricos e entrevistas,
aparecendo também como “bioescritas”.

Considerando o fato da pesquisa que tem como proposta o estudo do


personagem Hélio Oiticica, um dos principais propulsores das mudanças sofridas no
campo das artes plásticas, não poderíamos deixar de analisar sua escrita, tomando como
prioridade uma análise minuciosa onde se percebera e se sustentara argumentos mediante
suas observações e utilizações de pensadores como base.

Pensadores estes que o ajudaram dentro de suas anotações, a desenvolver


uma teoria que junto a prática marcara as artes plásticas dentro de uma época conturbada
na história do Brasil, onde a maior parte de suas produções artísticas se concentrara fora
do pais, ainda por conta da forte repreensão tida no Brasil, nos chamados “anos de
chumbo” (1970).

5
MORAIS, Frederico. Grupo Frente (1954-1956). Rio de Janeiro: Galeria de Arte BANERJ, nov./1984.
Diversos acontecimentos conduziram a vida de Hélio durante a década de
60, alguma dessas são: A instauração da ditadura no Brasil, um novo relacionamento com
a comunidade da Mangueira e o samba, a morte de seu pai, dentro outros (Galeazzi, 2017).

Ainda em 64 o artista encontrou na escrita, infinitos significados para com


suas obras, a partir da inscrição de frases nela, e também começa a escrever em seu
caderno também textos que depois veio a ser denominado “Poética Secretas” (arquivado
a partir do site do Itaú cultural e que será anexado a fins de entendimento didático para a
discussão).

Quatro anos depois, já no final da década, criou o conceito de antiarte que


ao contrário da arte feita para o mercado, não cabe nas galerias, ela é a própria
experimentação em exercício de liberdade dada com a participação popular na rua, como
também tudo que podia confrontar com as imposições do início do século XX.

Um conceito de antiarte criada a partir dos Parangolé, fruto da experiência


de Hélio coma comunidade da escola de samba estação primeira.

Hélio Oiticica ao conceituar e pensar sua própria obra fez com que a escrita

passasse a ser uma forma a mais de expressão, a ponto de obra e texto caminharem juntos.
Faz isso com a obra Parangolé. A definição de Parangolé tornasse uma explanação não
linear e oferece ao leitor múltiplas interpretações.

O QUE É O PARANGOLÉ?

É uma obra que estabelece relações perceptivo-estruturais e coloca a cor


como a estrutura do espaço ambiental. O espaço é um anteparo para as ações
performáticas. Para o artista, há em cada canto da cidade, uma inter-relação possível de
uma imaginação-estrutural. Fundamenta-se através da teoria kantiana, porque o
transcendental é o conhecimento não dos objetos, mas dos conceitos a priori de objetos.
(CAUQUELIN, 2007, p. 71) Através da filosofia de Kant, Hélio Oiticica também
coordena as sensações para o seu trabalho com o Parangolé e aplica a essas sensações as
formas de percepção - espaço e tempo. Depois, coordena essas percepções, desenvolve
então a concepção de categorias de pensamento. A etimologia da palavra estética significa
sensação ou sentimento. Este é o entendimento de Kant e também de Oiticica, por isso, o
artista atribui ao seu trabalho a sensação, que nada mais é que a consciência do estímulo.
(DURANT, 1996, p. 257)
A relação da dança com o desenvolvimento estrutural dessas obras é a
manifestação da cor no espaço ambiental. Seu ápice é quando o espectador entra em ação:
corre, dança, pula, mexe. É o “ato expressivo”. Antes, o espectador tinha que carregar o
Parangolé (estandarte). Num segundo momento, Oiticica acredita que o ato de “vestir”
seja mais importante e surge a capa, também um Parangolé.
A obra de Hélio Oiticica, conforme sua conceituação, passa a existir no
momento que há participação corporal direta. Ou seja, a inter-relação do corpo objeto só
se transforma em arte a partir do movimento, da ação. O início do processo dessa obra é
o ato de vestir que também é identificado por Oiticica como “transmutação expressivo-
corporal do espectador, característica primordial da dança”. (OITICICA, 1986, p. 70)

PALAVRAS – CHAVE:
ARTES PLÁSTICAS, HÉLIO OITICICA, ESCRITA, PARANGOLÉ.

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