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FACULDADE DE PSICOLOGIA E CIENCIAS DA EDUCAGAO. UNIVERSIDADE DO PORTO A DISCIPLINA DE FORMAGAO MUSICAL: CONTRIBUTOS PARA UMA REFLEXAO SOBRE O SEU PAPEL NO CURRICULO DO ENSINO ESPECIALIZADO DE MUSICA (BASICO E SECUNDARIO) ‘Maria de Fatima Martins Pedroso Dissertagao de Mestrado em Ciéncias da Educagao (Especializagao em Educagao Musical) 2003 Capitulo 3: Para um Conceito de Formagao Musical 1. Introdugao A Escola deve ser capaz de “ensinar" os aluros @ observer 0 mundo @ @ interrogar as formas. (Mt José Ariaga® ‘A disciplina de FM e a sua problematizagdo situam-se numa encruzithada de questées inseparaveis: os seus objectivos (antigos e actuais, implicitos e explicitos), seu estatuto e papel no ensino especializado de musica, 0 puiblico que procura as escolas do ensino especializado de musica e os objectivos que persegue, o préprio ensino especializado de musica e a forma como esté organizado, bem como o seu lugar e importéncia real no sistema geral de ensino. Em relagdo a esta ultima questo Artiaga (1999) considera que 0 "ensino artistico ou das disciplinas artisticas ainda néo mereceu a necesséria atengdo nas reas da investigacao histérica ou da educacdo, para que se possa perceber qual tem sido 0 seu papel no ensino formal ou informal de forma a que o passado leve a reflectir melhor 0 presente" (introdug&o). Vasconcelos (2002:23) refere igualmente que " ensino artistica em garal @ 0 ensino especializada de musica em particular tém estado um pouco afastados dos debates e das agendas cientificas no nosso pais’, considerando que podem ter contribuido para esta situago o facto de "ser um subsistema de ensino relativamente periférico em relagdo ao «grande sstema educativon" ¢ de existir a "ideia, algo generalizada, de que a arte e a miisica sao mundos parte, com linguagens e discursos reservados a especialistas a que nem * ‘artiaga, M* José (1996), O ensino da milsica no ensino genérico © vocacional, Comiss8o Interministerial para o Ensino Artistico (documento policopiado). 6a | todos tém acesso” (ibidem). Folhadela ef a/ (1998:39) referem a existéncia de uma “falta de valorizagéo do ensino vocacional” por parte da Administragao. Paradoxaimente, no entanto, dada a ineficdcia do sistema genérico no que respeita & formagéo em musica da populagéo em geral, o ensino vocacional & procurado e frequentado por muitas pessoas, a maioria das quais nao pretende fazer da miisica a sua profisso mas apenas adquirir uma formagao na area (Folhadela et al, 1998:40; GETAP, 1991:32; Vasconcslos, 2002:101). Deste modo, verifica-se que este tipo de ensino esta a fazer o duplo papel de formago basica de futuros musicos (no sentido profissional) e formac&o de miisicos amadores e/ou ptiblicos, pelo que a concep¢ao da disciplina de FM, em particular, no pode deixar de englobar esta questo. Por outro lado, 0 objectivo oficial do ensino especializado de miisica 6 a formagao de miisicos (Decreto-Lei n° 310/83 de 1 de Julho), sendo finalidade da disciplina de FM dotar os alunos das “bases gerais de formagao musical’, no curso basico (art? 3°), @ permitir “o aprofundamento da educagao musical", no curso complementar (art? 4°). O significado concreto destas afirmagées no é explicitado, pelo que coube (cabe) aos professores no terreno — nomeadamente aos professores das escolas ptiblicas ~ a concretizagao destes objectivos, através da elaboracao dos programas da disciplina. Entendendo-se programa como “um documento de orientag&o de actividades", constituido por "uma selecgéo de contetidos" (Pacheco, 1996:77), varias questdes se podem entao colocar: como deve ser configurado © programa de FM? Que contetidos deve conter? Como devem ser abordados? O que se pretende da disciplina (isto 6, qual 0 seu papel no curriculo do ensino vocacional de musica bésico e secundario)? Qual o perfil de aluno que procura/deve formar? (Que tipo de competéncias deve desenvolver?) 70

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