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historiográfica
24 de julho de 2017 Bibliografia Comentada 6
“
A aula de dança (1870)”. Pintura na madeira de Edgar Degas. Fonte: The MET.
Dito isto, ao historiador da arte, além dos debates disciplinares teóricos e metodológicos
referentes ao seu espaço disciplinar de pesquisa, cabe-lhe sempre a perseguidora
pergunta de caráter filosófico: que objeto é esse que pode ser nominado de arte? A
junção das problemáticas entre “o que é história” e “o que é arte” é o principal norteador na
formulação da Bibliografia Comentada que você vai ler a seguir. O recorte temporal é
amplo, indo do século XVI até as décadas mais recentes. Ela tem como cerne obras que
discutiram de forma direta ou indireta os desafios de uma escrita historiográfica da arte,
incluindo intelectuais com formações diversas, mas que escreveram textos centrais para a
discussão da História da Arte no Ocidente.
VASARI, Giorgio. Vidas dos artistas. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2010.
Aby Warburg foi um autor da virada do século XIX para o XX que deixou praticamente
todos seus escritos em artigos, discursos ou mesmo esboços, postumamente publicados.
O livro aqui escolhido foi organizado pelo professor da USP, Leopold Wazbort, que buscou
publicar pela primeira vez em português textos essenciais do pensamento Warburguiano.
Talvez bastasse dizer que Warburg realizou estudos sobre arte que influenciaram
historiadores como Erwin Panofsky, E.H. Gombrich ou mesmo Didi-Hurberman, todos
presentes nessa Bibliografia Comentada. A maior contribuição de Warburg nesta obra é a
construção de um método original de pensar a arte tendo como princípio a aplicação de
conceitos – o que deslocou a forma de escrita e reflexão da História da Arte.
O livro What do Pictures Want? The Lives and Loves of Images, do historiador W.J.T.
Mitchel, é uma importante contribuição para o debate que ficou marcado no movimento
conhecido como “Virada Imagética”. Ao lado do que se convencionou chamar desde anos
1980 de “Virada Linguística”, a “Virada Imagética” questionou a capacidade de
representação em um mundo contemporâneo cercado por imagens em variados suportes,
amplificada pelos usos de novas tecnologias. Contudo, questionamentos sobre o papel
das imagens na atualidade levaram o autor a pensar em seus usos em outras
temporalidades, o que resultou na criação de um método para pensar a sua aplicação a
outros momentos históricos. O livro é uma boa introdução aos debates da “Virada
Imagética”, cujos textos ainda são raros em português.
ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e persuasão: ensaio sobre o barroco. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004.
O historiador da arte Giulio Carlo Argan possui uma vasta obra sobre arte moderna. São
livros que vão desde estudos sobre artistas ou temas específicos até grandes obras de
referências que englobam longos períodos no campo das artes. O livro Imagem e
persuasão: Ensaio sobre o barroco é uma coletânea de diversos artigos publicada
somente em alguns países. Na tradição de grandes estudos sobre um período especifico,
ou mesmo sobre a cultura que denominamos de barroca, o historiador analisa diversos
aspectos: indo de grandes artistas aos mais variados suportes artísticos e suas
peculiaridades dentro do barroco típico de algumas cidades italianas. Embora o livro
contenha textos escritos sem a pretensão de se tornarem um livro, é possível observar que
se trata de uma obra articulada, movida por uma ideia de cultura. Argan discute como
foram criadas estratégias e técnicas específicas por parte daqueles artistas que se
distanciavam da produção renascentista. A obra é essencial para a compreensão do
barroco como um movimento artístico e histórico, podendo contribuir para um debate sobre
o chamado neobarroco, que permeou o fim do século XX e início do XXI, além de servir
para se pensar a cultura brasileira, que foi influenciada largamente pelo barroco europeu,
mas que tingiu esse movimento com cores próprias.
MAMMI, Lorenzo (Org.). Mario Pedrosa, Arte, Ensaios. Volume I. Rio de Janeiro:
Cosac Naify, 2015.
Organizado pelo professor Lorenzo Mammi e publicado no ano de 2015, não se trata de
um livro de História de Arte strictu sensu, mas uma coletânea que reúne textos
ensaísticos de Mario Pedrosa, que foi um dos maiores críticos de arte do Brasil. A obra
pode ser utilizada como um importante instrumento de investigação e conhecimento da
história da arte brasileira no século XX. Percorrendo um longo período que vai de 1933 a
1978 e tendo como enfoque as artes visuais, Mammi transita pelas nuances dos mais
diversos movimentos artísticos da história brasileira. A estruturação diacrônica da obra
permite a observação de como determinados pontos de vista do crítico foram se
transformando com o passar dos anos. Um exemplo é como Pedrosa passou de um
defensor de uma arte engajada ao realismo soviético para uma visão calcada em uma arte
plural, múltipla e libertária. Por fim, o livro faz um debate fundamental para pensar como
arte e realidade, dois conceitos de complexa definição, se cruzam em determinados
momentos no Brasil do século XX.