Pinturas rupestres no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu - Sue Ann
Galrão
As pinturas rupestres do Parque Nacional Cavernas de Peruaçu foram
feitas entre 500 e até 9.000 anos atrás. Em intervalo tão largo, é certo que passaram por lá povos muito diversos, na cultura e no modo de vida.
A arqueóloga Alenice Baeta participou de escavações na lapa do
Boquete, em que se encontraram instrumentos de pedra com 12 mil anos de idade. Para ela, a rica sucessão de desenhos nos abrigos do parque não enche só os olhos, mas é também útil para ensinar aos estudantes que a história da arte nada tem de linear.
Como há muita superposição de figuras, além de umas poucas datações
indiretas, dá para saber o que foi pintado antes e depois. No abrigo junto ao Janelão, por exemplo, a arqueóloga aponta figuras amarelas simples da tradição Nordeste por cima das mais complexas formas geométricas, com duas e até três cores, da tradição São Francisco. Ou seja, não se progride sempre e necessariamente do simples para o complexo. “Dá para ver a cronologia [na pedra]”, diz a arqueóloga. “As mais recentes são as mais toscas.”
Baeta também ressalta o equívoco de atribuir um propósito utilitário à
arte desses povos desconhecidos.
Pelos vestígios encontrados nos sítios, sabe-se que alguns eram
caçadores-coletores e outros, agricultores.
No entanto, os primeiros ocupantes, que habitaram a área começando
mais de 8.000 anos atrás, não desenhavam muitos animais e cenas de caça, comuns na arte rupestre das mais antigas cavernas da Europa. Bichos, como peixes e tartarugas, são mais encontrados, no Peruaçu, na arte deixada pelos povos agrícolas de 2.500 anos atrás.
“Esse lugar era inspirador para muitos povos”, diz Baeta. Construíam andaimes e subiam nas estalagmites para alcançar as partes altas. “Queriam deixar aquilo ali [para ser visto].”
A hipótese é que esses símbolos fizessem parte de algum ritual. Aqueles
homens pintavam uma superfície que sabiam ser propícia para preservação, livre de chuva e de sol, mas com luz bastante para serem admiradas por vários outros homens, por muito tempo —ainda hoje, inclusive.
Espeleotema em formato de cogumelo na gruta do Janelão, no Parque
Nacional Peruaçu, em Minas Gerais - Marcelo Leite/Folhapress Como chegar
O aeroporto mais próximo do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu
que recebe voos comerciais é o de Montes Claros (MG). Dali recomenda- se alugar um carro para chegar a Januária, a 169 km, na beira do rio São Francisco.
A infraestrutura de hotéis e restaurantes em Januária é melhor do que
em Itacarambi. Mas quem preferir não ter de dirigir todos os dias de estadia até a entrada do parque pode hospedar-se em pousadas no povoado de Fabião 2, como a Recanto das Pedras.
A visitação é gratuita, mas precisa ser agendada no ICMBio (Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Isso pode ser feito por correio eletrônico (cavernas.peruacu@icmbio.gov.br).
As estradas de terra do parque são bem conservadas, e chove pouco na
região (1.400 mm/ano). Dificilmente será preciso alugar um veículo 4x4. Veem-se vários carros de passeio circulando entre as vias que vão de uma porteira a outra para os oito roteiros do Peruaçu.
A infraestrutura das sedes é boa, mas um tanto vazia. Há banheiros,
mas não há locais de alimentação (recomenda-se levar petiscos e água nas trilhas). Numa lojinha improvisada podem-se adquirir camisetas, livros e uns poucos suvenires.
A renda reverte para o Fundo Peruaçu, administrado pelo Instituto
Ekos Brasil, que dá consultoria ao ICMBio. A ONG participou da confecção do plano de manejo do parque e gerenciou a construção das sedes, a reforma das estradas e a estruturação das trilhas —há escadas e passarelas de madeira e metal em vários pontos.
Com a ajuda (obrigatória) dos guias, ali chamados de condutores, é
possível cobrir dois roteiros num mesmo dia, com exceção do Arco do André, caminhada mais puxada que demanda um dia inteiro. Com alguma negociação pode-se contratar um pacote de sete roteiros com um guia experiente por menos de R$ 500.