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O uso do correio como forma de distribuição das publicações tornou o formato assembling
popular entre os artistas, pois cada artista/editor convidava outros artistas a enviar os
trabalhos impressos, em quantidade suficiente para montar os exemplares da revista. Com o
material encadernado, o editor depois enviava um exemplar para cada colaborador e ficava
responsável pela distribuição do restante. Desse modo, foram editados os três números do
On/Off, um envelope com cartões postais que contou com a participação de Julio Plaza e
Regina Silveira, entre outros artistas.
Um zine satírico do poeta Glauco Mattoso (pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva), o
Jornal Dobrabil era uma folha datilografada, xerocada e enviada pelo correio para os amigos e
alguns intelectuais e jornalistas. A página imitava a diagramação de um jornal, e o título era
um trocadilho com o nome Jornal do Brasil. Uma curiosidade é que o autor usava mais um
pseudônimo para assinar os textos publicados, Pedro, o Podre, uma referência aos punks e ao
universo dos zines (um trocadilho com o nome do Johnny Rotten, do Sex Pistols). Foram
publicados dezenas de edições entre 1977 e 1981, mas toda edição do zine era o número zero.
O humor também marca o livro Escracho, editado no início dos anos 1980 por Eduardo Kac,
artista que na época participava do movimento Arte Pornô. Em uma das ações do grupo, uma
passeata em que todos ficavam nus, ainda no final da ditadura militar, foi distribuído para as
pessoas que assistiam um zine com uma HQ do Ota, como era mais conhecido o Otacílio Costa
d'Assunção Barros, desenhista que foi editor da edição brasileira da revista MAD.
Atuando no campo das artes visuais e dos quadrinhos, Fabio Zimbres chegou a criar uma
editora de quadrinhos, as edições Tonto. Na década de 1990, Fabio assinava uma seção
chamada Maudito Fanzine em que fazia resenhas e divulgava publicações independentes na
revista de quadrinhos Animal (1987-1991). Em 2012, em parceria com o desenhista Jaca,
conceberam e realizaram a performance Desenhomatic, em que os artistas atuam como uma
máquina de desenhar e assim produziram um zine de mesmo nome, editado ao vivo em feiras
de publicações - cada exemplar previamente fotocopiado recebia intervenções com canetas e
carimbos, tornando-o único.
Algumas revistas como a Recibo, editada por Traplev e a revista de crítica de arte Tatuí,
editada no Recife por Ana Luisa Lima e Clarissa Diniz, tiveram seus primeiros números em
formato zine. Em Porto Alegre, Marcos Sari e Daniele Marx editaram dez números da revista
Meio em formato zine (folhas de papel A4 dobradas ao meio, fotocopiado em preto e branco,
grampeado).
Entre as revistas de artista, um trabalho que se destaca pelo seu formato inusitado é a
Cabuloza Wildlife, uma revista de oito páginas, impressa em letterpress utilizando matriz de
xilogravura. A revista consiste em uma única folha dobrada, que se transforma em um poster
gigante. Editado pelo Pedro Sánchez, no Rio de Janeiro, chegou à sua 11ª edição em julho
deste ano. Também no Rio de Janeiro, o Falafel é um fanzine periódico e coletivo de ilustração
que a cada número apresenta novos colaboradores. Em circulação desde 2012, é editado por
Elvis Almeida e Mariana Moysés.
A redescoberta das publicações impressas no Brasil está associada à existência das feiras, um
canal de distribuição que permite que os trabalhos cheguem mais facilmente ao público. O uso
dos computadores pessoais e as impressoras domésticas serviram como estopim para o
cenário atual, em que centenas de artistas e pequenas editoras participam de feiras
espalhadas pelo país (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba,
Florianópolis, Salvador, Brasília). Uma parte dos jovens que visitaram uma feira em um ano,
retornaram no ano seguinte como autores/editores. O formato zine, uma publicação
despretensiosa, modesta, de produção caseira, tem atraído os jovens artistas e designers que
olham com desconfiança para os livros de artista, um tipo de publicação que no Brasil ainda é
associado a edições de luxo, com gravuras originais e tiragem limitada.
A maioria dos trabalhos que surgiram nos últimos anos foram impressos digitalmente, e
muitos desistiram depois de publicar um ou dois zines. Mas também existem iniciativas que
começaram de forma tímida e hoje participam ativamente do circuito. Um escritório de design,
Meli-Melo, comprou uma máquina de risografia e decidiu prestar serviço de impressão para
artistas interessados em publicar zines. Hoje a Meli-Melo é uma editora com um catálogo
considerável, tendo colaborado com diversas editoras. O uso de cores especiais (rosa
fluorescente e dourado, por exemplo) e a semelhança com a serigrafia fizeram que outros
artistas, editoras e coletivos adotassem esta técnica de impressão, destacando o estúdio
Entrecampo (Belo Horizonte/MG), a editora Aplicação (Recife/PE), o Risotrip Print Shop (Rio de
Janeiro/RJ) e Selva Press (Curitiba/PR).
Algumas poucas experiências com outras técnicas de impressão também ganharam espaço nas
feiras, como o Coletivo Ocupeacidade/Zerocentos Publicações, de São Paulo, que edita zines
utilizando tipos de madeira e clichês tipográficos. Rodrigo Okuyama editou zines diversos,
sempre utilizando como técnica de impressão o estêncil, entintado com rolo de espuma e tinta
de parede, com páginas de até quatro cores. O holandês Erik van Der Weijde, que reside em
Natal, encara a edição de zines e livros como atividade profissional, ou seja, é sua principal
fonte de renda. Ele imprimiu em offset uma série de Fotozines em pequenas gráficas,
utilizando papel jornal.
Neste cenário, uma das poucas publicações que tem a palavra zine no nome é o Zine Parasita,
editado desde 2007 por Adriana Hiromoto, Guilherme Falcão e Marco Silva. O Zine Parasita
não é vendido, mas pode ser encontrado escondido dentro de outras publicações escolhidas
aleatoriamente em livrarias, bibliotecas e revistarias, e conta com contribuições de designers,
fotógrafos, artistas, escritores e ilustradores de todo o mundo. O Parasita já foi escondido em
diversas cidades no Brasil e também em outros países.
O zine teve edições especiais publicadas por ocasião de feiras ou exposições. Na exposição
Além da Biblioteca, realizada no Museu Lasar Segall com curadoria de Ana Luiza Fonseca,
responsável pelas edições Tijuana e criadora da feira de mesmo nome, foi editado o zine nº 10,
formado por folhas de papel carbono com capa impressa em serigrafia. Na primeira edição da
Turnê, em 2010, uma feira itinerante de publicações que passou por Belo Horizonte, Curitiba,
Rio de Janeiro e São Paulo, os editores do Parasita convidaram 10 artistas a criarem uma
edição do zine, todos com o mesmo formato e número de páginas; a numeração foi de 11.1 a
11.10, indicando cada participação como uma edição especial do zine. Para a mostra
comemorativa dos 30 anos da exposição Tendências do Livro de Artista no Brasil, no Centro
Cultural São Paulo, foram inseridos “parasitas” nos exemplares que estavam disponíveis para
manuseio. Esta, que foi a 14ª edição do zine, era formada por frases e depoimentos de artistas
e editores de épocas diversas, tendo como tema “Por que publicar?”.