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A LEI DE DEUTERONÔMIO 12 – 26: Uma Teologia da Lei

Deuteronomista1.

RESUMO: O artigo tem como objetivo mostrar que na Biblia temos alguns
códigos de Leis. O Primeiro Código de se encontrar no Livro do Exodo em 20-
23; o Segundo Código de Lei está em Dt 12-26, o qual está analisado neste
local, e por fim, o Terceiro está no Livro de Levítico em 16-27. Estamos vendo
uma lei parecida com o Código de Hamurabi, e as Leis Persas, as Leis dos
Cananeus e esta lei dos Antigos Israelitas. Dedicamos um livro e vários artigos,
e uma tese de doutorado sobre o assunto.

ABSTRACT: The article aims to show that in the Bible we have some codes of
Laws. The First Code to be found in the Book of Exodus on 20-23; the Second
Law Code is in Deut. 12-26, which is analyzed here, and finally, the Third is in
the Book of Leviticus in 16-27. We are seeing a law similar to the Code of
Hammurabi, and the Persian Laws, the Laws of the Canaanites, and this law of
the Old Israelites. We dedicated a book and several articles, and a doctoral
thesis on the subject.

1
Dr. Daniel Sotelo, Ph. D. em Educação e doutor em Ciências da Religião e Pós doutor em Ciências da
religião.
A LEI DE DEUTERONÔMIO 12 – 26: Uma Teologia da Lei
Deuteronomista.

A teologia do miolo de Dt (12 – 26) influência toda a teologia do Antigo


Testamento. Os profetas ao denunciarem os falsos reinos e ideologistas, estão
fazendo sob a influência da obra do Deuteronomista.

A composição do livro de Deuteronômio poderia ser esboçada da seguinte


maneira:

Dt 1-4______5-11______12-26_____27 30_____31____32____33___34.

Dt 1-4 o primeiro prólogo;

5-11 o segundo prologo;

12-26 o miolo, centro de Dt;

31 a primeira conclusão;

32 a segunda conclusão;

33 acréscimos posteriores;

34 o redator final.

A compreensão de Deus que o autor do Deuteronômio nos dá está


inserida em Dt. 6.4. É uma afirmação sobre a unicidade de Deus; Javé é um
Deus singular e incomparável. Numa hierarquia mitológica. Ele seria como
Zeus da mitologia grega, ou como Baal para os Cananeus. Por isso, o escritor
deuteronomista ao descrever a experiência de Elias com os profetas de Baal,
em I Reis, destacada a posição de superioridade de Javé.

Ao observarmos o livro de Deuteronômio, identificamos uma


contextualização parcial, ou seja, a simbologia das culturas vizinhas é
assimilada, mas a toda momento destaca-se a superioridade do credo de
Israel, sobre os demais.
Há algumas suspeitas, que a primeira indisposição do Deuteronomista
com as estátuas, seja em função dele está relacionada à idéia ao elemento
físico, Baal e Asterote eram geralmente simbolizados por elementos
carregados de erotismo, por isso, Dt. 5.8 condena a relação da imagem da
divindade de Deus de Israel a imagens de semelhança humana (estátuas, etc.).

O deuteronomista faz a distinção entre Israel e as nações. Israel é


goyim (nação/povo escolhido) e as nações vizinhas são ‘am (povo
medíocre/povinho).

O Deuteronomista estabelece a presença de Deus através de


manifestações de poder: fogo, vento, e não por imagem.

Uma característica da sociedade do Deuteronômio são as leis sobre a


democratização do poder (Dt 16.18-18.22). O exercício da liderança nesta
sociedade está bastante limitado, pois o poder não está mais concentrado
apenas nas mãos do rei. Em Dt 17.14-20 se fala dos critérios a serem usados
na escolha do rei e dos limites da riqueza dele. Ele não deve se levantar
orgulhosamente sobre seus irmãos (17.20), mas pautar a sua vida e o exercício
de sua liderança de acordo com a lei de Yahweh.

Realmente surpreende o fato de que o Deuteronômio não abole o


reinado e o governo central, mas apenas prescreve que à distância entre as
classes sociais deve ser encurtada. Pois foi a instalação da monarquia no povo
de Israel que fez surgir o escândalo nesta sociedade, isto é, a origem das
classes sociais e com isto o enriquecimento e o empobrecimento dos Israelitas.
A implantação da monarquia em Israel foi à destruição da sociedade de
partilha, solidária e igualitária do tempo dos Juízes.

Os reis se comportaram como déspotas e trataram seus irmãos sem


considerar as exigências da Aliança. Trataram-nos como escravos. Destruíram
a comunidade da Aliança, e a terra – dom de Yahweh, pelo juramento feito –
terra que não é apenas fonte de alimento, mas portadora de uma palavra, lugar
histórico do discernimento, lugar onde se escuta o outro, terra dada, terra de
aliança, a terra tornou o lugar da maldição.

No Deuteronômio o forasteiro não gozava dos direitos da Lei do povo


de Deus. Recebe, no entanto, boa hospitalidade. Como estranho que é na
sociedade, deve-se ter muita reserva para com ele, pois pode ser um
explorador nos negócios. Ou ainda, representar perigo à fé do povo,
introduzindo crenças diferentes, religiões e ídolos, os quais podem desvirtuar
os valores básicos da comunidade. No mundo político as coisas não são
diferentes. Um forasteiro não podia ser nomeado rei (Dt 17.15). Esta época
parece refletir a época de Salomão e Amri. Salomão, embora sendo israelita,
reinou como se fosse um estrangeiro, copiando o Egito. Explorou duramente
seus irmãos. Fez muitas alianças com povos estrangeiros e segui outros
deuses.

O Deuteronômio reúne diversas ênfases teológicas: exclusividade e


unicidade de Javé, integridade de Israel, bênção, cuidado pelos fracos,
centralização do culto, pureza de práticas, etc. Não é uma literatura composta
de uma só idéia. È antes local de convergência de diversos enfoques. Isto o
torna um livro de difícil interpretação: como se inter-relacionam os diversos
aspectos? É compreensível que o Deuteronômio tenha as características de
uma compilação. Afinal, surgiu em hora adiantada da história de Israel, no
sétimo século. Teve uma história conturbada: por algum tempo esteve fora de
circulação; ao ser reencontrado na época de Josias serviu de base para toda
uma reforma cultual, que, contudo não durou por muito tempo.

O Deuteronômio está colocado como porta de entrada para a


compreensão da história de Israel até o cativeiro babilônico. Os
deuteronomistas avaliam a história de Israel à luz da lei: estas lhes servem
como parâmetro. A lei abre a obra e é retomada no final (2 Rs 22s). Isto não
significa que a lei seja o único modelo avaliativo; existe outros, dentre os quais
chama a atenção à profecia, principalmente em 1 e 2 Reis. Ainda assim a
Torah recebeu destaque bem maior da parte dos círculos deuteronomistas.

O conteúdo desta lei Deuteronômica dá realce a três afirmações: javé é


o Deus único; há um só lugar para o culto de Javé; os fracos são irmãos. A
última afirmação é fruto da pregação profética do VIII século a. C., que insistia
na defesa dos pobres. A segunda afirmação não fala expressamente em
Jerusalém, mas para os círculos deuteronômicos e deuteronômisticos.
Jerusalém é o local escolhido por Javé para ali fazer habitar seu nome. E a
primeira afirmação retoma a tradição do Javé zelosa que não admite a
concorrência dos outros deuses.

Estas três relações estão profundamente inter-relacionadas. O apelo


de amor aos fracos é uma explicação do amor ao Deus único; o amor exclusivo
e Javé coagem ao amor preferencial aos fracos. E a exigência da centralização
do culto (principalmente no cap. 12) não tem valor em si, mas é uma tentativa
de criar espaço ao apego exclusivo de Javé. Para os deuteronomista a
exclusividade de javé tende a exclusividade de um local de culto, do Templo de
Jerusalém.

Pelo que se podem perceber, os diversos postulados teológicos do Dt –


pensemos em especial nos três acima – não estão no mesmo nível; não são
simplesmente sinônimos. Destaque especial é dado a exclusividade de Javé,
isto é o famoso “ouve Israel, Javé nosso Deus é o único Deus”. Exclusividade e
unicidade de Javé é o eixo teológico do deuteronômio. Ao perceber a
centralização do Dt na reivindicação pelo Deus único, passa-se a compreender
também, porque os textos deste livro transpiram tanta militância contra
qualquer outro deus ou costume religioso vinculado à outra divindade. No cap.
4 assim como no cap 12, a polêmica contra a religião Cananéia cai em vista. E
ela está presente em uma série de outros textos (13.2ss; 17.ss; 18.9ss; etc.).
Há como que uma “guerra santa” ou uma “cruzada” contra o baalismo.

Portanto, a lei que através do Dt é posta como porta de entrada para


uma parte significativa da história de Israel (da tomada da terra até o exílio
babilônico) estabelece o parâmetro do Deus único como medida orientadora
para a história a partir de uma ótica social ou política, mas a partir de um
modelo teológico. Em sua história, Israel confiou no Deus único ou nos
deuses? O Deuteronômio apresenta esta pergunta na porta de entrada da
grande DtrG.

A. A Fonte D

1.1. O Nome de Deuteronômio.


O nome desta fonte originou-se em uma falsa interpretação de Dt 17, onde a
expressão Mishnah hattôrat hazzo’t: “cópia desta lei” foi traduzida pela LXX por
Δευτερονομιuν (nome hebraico: ’elleh hadd’bariym). Nos livros Gn e Nm, esta
fonte é raramente apresentada; apenas aqui ou ali acréscimos ou elaborações
do redator Dtr. Ela é representada quase que exclusivamente no livro
Deuteronômio. Os autores são unânimes em excluir da fonte “D” apenas Dt 32-
34, que são considerados acréscimos ao núcleo primitivo. Também Dt 31.14-
17.23 é desligado por muitos do núcleo original.

Deixadas de lado essas partes que foi acrescentado posteriormente, o


livro Deuteronômio nos apresenta, em sua forma definitiva, como um discurso
de Moisés aos israelitas, pronunciado nas planícies de Moab em frente ao rio
Jordão antes do ingresso dos Israelitas na Terra Prometida. Conforme Dt 28.69
representa uma segunda “beriyt” (“obrigação assumida”) nas planícies de Moab
depois que a assumida no Horeb, fora violada.

Dt 1-11 são discursos introdutórios, que preparam a proclamação das


leis. O cerne é formado por Dt 12-26, que contêm as leis e prescrições. Os
discursos finais Dt 27-30 exortam, novamente, a obedecer à lei a apresentam
bênçãos e maldições.

Esta obra apresenta um estilo típico, bem diferente dos das outras
fontes. Além da extensão dos discursos e do caráter homiléticos destes,
notamos as expressões peculiares como: “a palavra que eu hoje vos ordeno”
(cf. Dt 4.2; 12.28; 15.5; etc.); “com todo teu coração e com toda tua alma” (cf.
Dt 4.29; 6.5; 10.12; etc.); “o lugar que Javé, vosso Deus, escolherá para ali
fazer habitar o seu nome” (cf. Dt 12.11; 14.23; 16.2; etc.).

1.2. O Processo de Formação do Deuteronômio.

Já desde alguns padres da Igreja, Atanásio, Jerônimo, Procópio de Gaza e


João Crisóstomo, o conteúdo do livro Deuteronômio foi colocado em relação à
reforma de Josias nos anos 622-621 a. C. (cf. 2 Rs 22; 23; II Cr 34; 35). Mas foi
o exegeta do Wette o primeiro a justificar criticamente esta tese. A tese
fundamental de Wette, que se tornou uma espécie de axioma na crítica
moderna, é que o livro de Deuteronômio é bem diferente dos outros do
Pentateuco e foi escrito pouco tempo antes de sua descoberta no Templo;
além disso, para Wette, a legislação Deuteronômica e o “Livro da Lei”
descoberto no Templo de Jerusalém têm um relacionamento muito íntimo.

Naturalmente não foi o Deuteronômio que provocou a reforma de


Josias. Antes Josias aproveitou o enfraquecimento da Assíria depois da morte
do último grande rei da Assíria, Assurbanipal, em 626 a. C., para libertar-se do
jugo assírio e restabelecer a independência política no reino de Judá. Entre as
medidas tomadas estava, sem dúvida, também a purificação do culto de
Jerusalém de todos os elementos sincretistas trazidos pela própria situação de
vassalo do Reino do sul. O Deuteronômio teria, neste caso, ajudado a realizar
essa forma cúltica e a tomar outras medidas mais radicais.

Notam-se as seguintes inter-relações entre a legislação Deuteronômica


e as medidas reformadoras de Josias:

Centralização do culto 2 Rs 23.8s-19 Dt 12.13ss

Proibição do culto aos 2 Rs 23.11 Dt 17.3


astros

Dt
Afastamento do qadosh 2 Rs 23.7
23.18

Abolição dos 2 Rs 23.24 Dt 18.11ss


necromantes

Proibição do sacrifício de 2 Rs 23.10 Dt 18.10


crianças

Celebração da páscoa 2 Rs 23.21ss Dt 16.1ss.


no Templo
Há, contudo uma diferença profunda: em Dt 18.6s os sacerdotes levitas
dos santuários proibidos deviam ser aceitos em Jerusalém e equiparados aos
sacerdotes de Jerusalém. Há aqui, talvez, uma tentativa dos sacerdotes de
Jerusalém de não executar a lei Deuteronômica.

No paralelo do livro de Reis, o livro da Lei, que acelerou a reforma, foi


encontrado pelo sacerdote Hilkias no Templo. Se o Deuteronômio influenciou a
reforma de Josias, surge a questão: qual a relação entre o Dt e o livro
encontrado no Templo? Certamente esse livro “encontrado” não é, apenas,
uma fraude piedosa dos sacerdotes, como julgaram alguns autores.

Nem mesmo os representantes da exegese crítica admitiram jamais uma


questão perfeita entre o “Livro da Lei” encontrado e o nosso Deuteronômio.
Admite-se que esse “Ur Deuteronomium”, tenha sido redigido no reino do Norte
e tenha sido trazido para o reino do Sul após a destruição de Samaria em 722
a. C., nada impede que esse livro tenha sido depositado no Templo (compare 1
Sm 10.25; 2Rs 19.14; dt 31.26) e durante a purificação do Templo, no reinado
de Josias, tenha sido reencontrado.

1.3. O Conteúdo do “Ur - deuteronomium”.

Todos os exegetas são unânimes em admitir que o atual livro Deuteronômio


não possa ser considerado, simplesmente, como o livro encontrado no Templo
e que sustentou a reforma de Josias. Surge então a questão de determinar no
atual livro Deuteronômio quais teriam sido as partes que teriam pertencido ao
livro usado na reforma de Josias. Essa parte é chamada, em geral de Ur -
deuteronomium. Mas é muito difícil, praticamente impossível, determinar
exatamente o conteúdo desses Ur - deuteronomium. Pode-se apenas
determinar, hoje, as grandes linhas gerais do Ur – deuteronomium:

Pode-se admitir que a parte legal tivesse compreendido o seguinte grupo


de preceitos:
1.3.1. Preceitos sobre a centralização do culto: Dt 12; 14.22-29; 15.19-23; 16.1-17;
17.8-13; 26.1-15.
1.3.2. As determinações em estilo casuístico sobre o direito civil, contidas em 21-
25.
1.3.3. Normas cuja fórmula final declara que esta ou aquela ação é uma
abominação para Javé: 16.21-17.1; 18.9-14; 22.5; 23.19; 25.13-16 e talvez
22.9-12.
1.3.4. As chamadas “leis humanitárias”: 22.1-4; 23.16s.20s; 24.5-25.4. Além disso,
talvez, também, as leis da guerra: 20; 21.10-14; 23.10-15.
1.3.5. Preceitos desenvolvidos no Bundesbuch (Livro da Aliança) como 15.1-11;
12-18; 16.18-20; 19.1-13; 16-21.

Provavelmente não pertencem ao material do Ur - deuteronomium Dt 13;


17.2-7 nem a lei do rei Dt 17.14-20, a lei do sacerdote 18.1-8 e as leis sobre a
violação das fronteiras Dt 19.14, o final homilético Dt 26.16-19 e os acréscimos
posteriores Dt 14.1-21; 18.15-22.

Ao contrário do Bundesbuch e do Heiligkeitsgesetz (Código de


Santidade) o Ur - deuteronomium usado por Josias deve ter sido uma
introdução e um discurso final. A dificuldade esta em determinar no atual livro
Dt que partes teriam formado a introdução e a conclusão primitivas.

Dt 1-11 formam na realidade duas introduções. Pode-se atribuir a


primeira introdução, além dos títulos Dt 1.1-5, as seguintes partes: Dt 9.7-
10.11; 1.6-3.29 e 4.1-43. A segunda introdução começa com 4.44-49; seguem-
lhe: Dt 5.1-6.3; 6.4-9.6; 10.12-11.32. Esta segunda introdução contida no
complexo Dt 4.44-11.32 foi, provavelmente, a introdução original do Ur –
deuteronomium.

A conclusão correspondente a esta introdução original é, sem dúvida, Dt


27.-8 e o anúncio de bênção e maldição Dt 27.9s; 28.1-68. As partes Dt 27.11-
13.14-26 são, claramente, um acréscimo posterior. A conclusão
correspondente à primeira introdução é composta por Dt 29-30 com Dt 28.69
servindo de introdução. Acréscimos posteriores são: 31.24-30; 32.48-53. Assim
o Ur – deuteronomium teria sido formado pelas seguintes partes, embora hoje
elas apareçam reelaboradas e retocadas.
 Introdução: 4.44-11.32 (sem 9.7-10.11)
 Livro das Leis: 12; 14.22-29; 15.1-11, 12-18, 19-23; 16.1-17, 18-20, 21-
22 + 17.1, 8-13; 18.9-14; 19.1-13, 16-21; 20; 21-25; 26.1-15.
 Conclusão: 27.1-8; 27.9-10 + 28.1-68.

1.4. A Formação do Livro da Lei do Ur – Deuteronomium.

A origem do “Livro da Lei” do Dt primitivo deve-se a um processo de formação


bastante complicado.

Encontra-se este material paralelo como o encontro no Bundesbuch:

Dt 15.1-11 → Ex 23.10s Dt 22.28-29 → Ex 22.15s

Dt 15.12-18 → Ex 21.2-11 Dt 23.20-21 → Ex 22.24

Dt 15.19-23 → Ex 22.28s Dt 24.7 → Ex 21.16

Dt 16.1-17 → Ex 23.14-17 Dt 24.10-13 → Ex 22.25s

Dt 16.18-20 → Ex 23.2s, 6-8 Dt 24.17s → Ex 23.9

Dt 19.1-13 → Ex 21.12-14 Dt 24.17-22 → Ex 22.20-23

Dt 19.16-21 → Ex 23.1 Dt 26.2-10 → Ex 23.19a

Uma comparação desse material mostra que a formulação


Deuteronômica é mais jovem e tem como finalidade modernizar a formulação
do B. As partes do B. que o Deuteronômio não toca, não perdem o valor, o
Deuteronômio quis apenas reformar e modernizar algumas partes do
Bundesbuch.

Além disso, o Deuteronômio apresenta material de diversas épocas


diferentes: Dt 21.1-9 e 23.2-9 são bem antigas; a lei da guerra Dt 20 e 23.10-15
surgiram durante a monarquia.
Também o Ur – deuteronomium foi influenciado pela tradição eloísta
como comprovada a repetição do decálogo em Dt 5.6ss.

A influência profética nota-se principalmente na preocupação social.

Sob o ponto de vista da forma literária, as maiores partes das leis são
em forma casuística (cf. Dt 15.12ss; 21.15ss; 22.13ss; 24.1ss; 25.1ss).

Há, contudo, igualmente formulações apodíticas (cf. Dt 15.1; 16.19;


16.21-17.12; 3.2-8).

Típicos para o “Livro da Lei” de Josias são as parêneses e as


explicações exortativas (Dt 15.1-11: v. 1 = lei apodítica; v. 2-3 = explicação
legal e v. 4-11 = uma parênese). Nessa linha temos em 6.4-9.6 uma verdadeira
pregação em estilo deuteronômicos.

1.5. A Origem do atual Deuteronômio.

A partir do Ur – deuteronomium pode-se tentar reconstruir a formação do atual


livro Deuteronômio.

A primeira fase do processo de composição do Deuteronômio realizou-


se o Reino do Norte antes de 722 a. C., como Albrecht Alt e outros com grande
probabilidade o demonstram. Sua relação com o Bundesbuch mostra
claramente que e Dt deve ser considerado como um retoque e acréscimo a
esse livro. O livro legal deuteronômico surgiu, pois, no Reino do Norte na
primeira metade do VII século a. C., durante o reinado do Jeroboão II. Ele
continha apenas as leis e prescrições que completavam ou modernizavam o
Bundesbuch.

Depois da destruição de Samaria e do reino do Norte no ano de 722 a.C.


foi levado para Jerusalém. Ali começou logo a ser trabalhado por um grupo
ligado ao rei Ezequias. Depois do desastre de 701 a. C., quando Ezequias
morreu, o livro foi guardado no Templo, onde ficou durante todo o governo do
ímpio Manasses. No trabalho de retoques do grupo do tempo de Ezequias, a
parte legal deve ter recebido uma elaboração de tipo parenético e colocado em
uma moldura que constaria de uma introdução 4.44-9.6; 1.12-11.34 e de uma
conclusão 27.1-10; 28.1-68.

Nesta forma o livro foi encontrado no Templo pelo sacerdote Hilkia e


aproveitado pelo rei Cosias em seus intuitos reformatórios. Conforme 2 Rs
23.1-3 essa lei serviu de base para um pacto entre o rei Josias e o povo.

No tempo de Josias esse Ur – deuteronomium começou a ser trabalhado


e aumentado. Além disso, o espírito foi fruto da elaboração desta fase.

Mais tarde, provavelmente, na época exílica, foi introduzida uma


moldura, a introdução 1.1-4.43; 9.7,10-11 e a conclusão 28.69; 29-30. A
finalidade dessa nova moldura foi, sem dúvida, incorporar o deuteronômio nas
tradições do Pentateuco, como um segundo pacto com Javé feito com Moab,
depois da ruptura do pacto do Horeb. Daqui o caráter de discurso da despedida
de Moisés. Nessa segunda conclusão foram acrescentadas Dt 31.1-13; 31.24-
30; 32.45-47; 32.48-52.

Outro acréscimo ao Deuteronômio depois da introdução deste no


Pentateuco foi o Cântico de Moisés, Dt 32.1-43 com o relato de Dt 31.19-22 e
32.44.

REFERENCIAS

SOTELO, Daniel. A Torah e o Deuteronomista, Fonte Editorial, São Paulo,


2014.

______________. As Leis do Antigo Testamento, Fonte Editorial, São Paulo,


2017.

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