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A SEXUALIDADE
NARELAÇÃODIÁDICA
MÃE-FILHO
Maria Rita Scattone
adulto. Modalidade que não se dedica sobre a produção lingüística, através por que utilizar as palavras quando
a uma menina, a qual deverá aprender do campo semântico e da produção com uma simples indicação ou um
já desde pequena a “sacrificar-se verbal, veicula significado, realidade, olhar posso ter tudo? Por que devo
quando grande” pelo macho, e a ser sentimentos próprios, que não esforçar-me em dizer “água”, quando
mais “espiritual” que ligada aos possuem reversibilidade com o real, se digo “ao” a água igualmente chega?
prazeres terrenos; portanto o “termine enquanto ela mesma já está estruturada Por que devo aprender a usar o garfo e
logo” que a mãe envia em sub-código, segundo a própria língua-mãe, a mastigar se posso gozar de um
por campo semântico, comporta um portanto o infante começa a criar a mamilo? Não raro chegam crianças
desmame breve e menos co- suas estruturas mentais do mundo amamentadas no seio até o terceiro ano
envolvente sob o plano emotivo. segundo aquelas maternas. de idade (se não mais), ainda que já
Quando se intervém sobre a vertente providos de dentição. “Mas depois de
A construção. infantil é indispensável agir sobre o ter comido, ele quer o peito”, diz a
Durante o aleitamento, na distância adulto de referência, exatamente mãe. É só uma intenção da criança ou
otimal em que é posto, além de porque como já dito, a tipologia de é um desejo-dever da mãe?
perceber o universo emocional da mãe, linguagem é uma modalidade verbal Frequentemente chegam crianças e
o pequeno consegue distinguir o seu apreendida do adulto-mãe. Por adultos, indicados por ortodontistas,
vulto e as suas expressões, por exemplo, quando se diz que um que apresentam uma deglutição
exemplo, tem condições de reconhecer determinado fenômeno tem certa atípica, ou seja, mantêm uma
os lábios quando se pronuncia o familiaridade, significa que no deglutição com estímulo lingual típico
fonema /e/ ou o fonema /o/. O neonato, ambiente familiar daquele indivíduo, de um neonato. São pessoas que
portanto, através do seu pequeno ou como definido pelo prof. sugaram o dedo, a chupeta, a
sistema nervoso está em condições de, Meneghetti “eco-ambiente recipiente”, mamadeira ou qualquer outro objeto
em poucos meses, perceber as existirá alguém que apresenta ou “transacional” por muito tempo.
características acústicas dos sons apresentou o mesmo distúrbio. Isto Podemos nos arriscar dizendo que são
lingüísticos e de associá-los com o ocorre sempre, enquanto se fala de pessoas que nunca superaram a
aspecto visual típico daquele som. comportamento4, ou seja, de algo chamada “fase oral” freudiana. É
Portanto, como ensina a ciência estabelecido que se repete no tempo, indício de um continuum materno.
ontopsicologica: “das modalidades de reforçado depois por ações voluntárias A ciência ontopsicológica afirma que
comportamento do adulto-mãe ele do sujeito. “quase sempre a criança é tomada e
assimila o modo de mover-se, de falar, No curso da minha experiência clínica educada como objeto de projeção
de articular-se, o modo base da como fonoaudióloga portanto como idealística ou compensativa de adultos
consciência”. reabilitadora da linguagem, encontro- falidos. As mulheres, devido a sua
Entre quatro e seis meses de idade me a afrontar maiormente casos de inferioridade caseira, vingam-se se
inicia a fase da lalação, ou seja, crianças definidas “Late Talkers”5, ou apropriando dos filhos para fazer luta
começam a produzir os primeiros que apresentam um Distúrbio pessoal contra os maridos e a
balbucios, que não só representam a Específico de Linguagem6, ou sociedade. A mulher, por preguiça e
fase de preparação para a linguagem, Desordem Fonológica7, cujo problema ambição, joga a carta exclusiva do
mas representam também a deriva, na maioria dos casos, de uma sexo juvenil e, quando chega a crise da
manifestação do prazer determinado relação diádica tanático-regressiva ou mística feminina (trinta e seis –
pela descoberta do invólucro corpo. repetitivo-obssessiva com a mãe. Não quarenta e dois anos), busca a
Este é um fenômeno universal que por acaso o maior número de crianças recuperação manipulando os filhos,
reúne todas as crianças de qualquer que apresentam tais distúrbios são do também eles já no início de uma
raça: os sons reproduzidos são sexo masculino com mães que não exclusão do jogo da vida (dezesseis –
idênticos. Somente próximo aos dez toleram ou justificam o déficit do filho. vinte e dois anos)”8.
meses se especializam na produção de Frequentemente dizem não Portanto a criança quer a mãe, e esta o
sons mais representativos do ambiente compreenderem a indicação por parte quer para a compensação de uma
lingüístico circunstante específico. A do médico ou da professora, porque a relação com o parceiro já em declínio
mãe inicia desde já a estruturar uma criança em casa fala, ou se faz ou para sentir-se gratificada, amada,
linguagem particular com o nascituro, entender, ou faz somente alguns erros, desejada novamente. Portanto por que
que comumente é definido mas que eles compreendem. Na não compartilhar também a cama com
“motherese” (“manhês” ou “linguagem realidade comunicam, mas com aquela quem me tem como o seu objeto de
das mães”) caracterizado por frases sua modalidade. desejo, carne da minha carne? Uma
breves, simples do ponto de vista A linguagem entre mãe e filho é uma vez perguntei a um menino se ele
fonológico, sintático e semântico, linguagem secreta, visceral, erótica: dormia sozinho na sua caminha;
pronunciadas com uma entonação basta um olhar para que se entendam. respondeu-me dizendo: “Não. Mamãe
exagerada, com freqüentes repetições A criança quer água, olha o copo sobre só minha. Eu nana mamãe. Papai vai
108 ou paráfrases. A mamãe, inserindo-se a mesa e imediatamente ganha água: deita cachorro”. Pedindo explicações à
recipiente é indispensável para qualquer 5 Crianças, consideradas, “falantes tardios”, nas quais o
dos genitores dispostos a mudar é ainda futura, conferência realizada pelo Ac. Prof. A. Meneghetti,
junto à sede de Paris da UNESCO em maio de 2006.
110 mínimo. Mas não desanimo; ainda que 9 La luna, direção de Bernardo Bertolucci, Itália/USA, 1979.
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