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SÉRIE CRESCER: PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO BÍBLICA-TEOLÓGICA-PRÁTICA

(MS): Gênesis, 2009 índices para catálogo sistemático: 1. Liderança


Cristã - Teologia Pastoral - CDD 253

Responsável pelo projeto


editorial/gráfico/capa: Egnaldo Martins
dos Santos egna78@hotmail. com
Revisão de Arquivos: Mota Júnior
motajunior7@gmail. com Editor: Márcio Alves
Figueiredo l- impressão: Fevereiro de 2009 -
Quantidade: 1.000 exemplares 2Â impressão: Maio
2009 - Quantidade: 1.000 exemplares 3Â impressão:
Agosto 2009 - Quantidade: 1.000 exemplares

IDEALIZAÇÃO E REALIZAÇÃO DO PROJETO:


EDITORAS MUNDIAL, KENOSIS E GÊNESIS
Contato: Gênesis Editora -Rua: Albert
Sabin, 721, Taveirópolis - Campo
Grande/MS -FONE: 67
3331-8493/3027-2797
www.genesiseditora. com.br

DEDICATÓRIA:
A cada profissional/consultor de venda da Mundial Editora e Gênesis Editora, que
faz seu trabalho com empenho, prazer e dedicação, que está ciente de que não
apenas vende livro, mas, sim, espalha saber, fomenta a educação, ajuda o povo
brasileiro a realizar sonhos:

"Oh! Bendito o que semeia


Livros... livros à mao-cheia... E
manda o povo pensar! O livro
caindo nalma E gérmen - que faz
a palma, E chuva - que faz o mar"
(Castro Alves)

Contato com o IBAC: Fone: (67)


3028.1788/9982.3881: IBAC - Instituto
Bíblico-Teológico Aliança Cristã (A.B.K.
Associação Beneficente Kenosis) Rua: Praça
Cuiabá, n° 111, Bairro: Amambaí –
Campo Grande - Mato Grosso do Sul - CEP:
79.008-281
E-mail: chagas. ihac@gmail. Com

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SÉRIE CRESCER: PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO BÍBLICA-TEOLÓGICA-PRÁTICA

PREFÁCIO A SÉRIE CRESCER

O IBAC-Instituto Bíblico- Teológico Aliança Crista, órgão


vinculado a Associação Beneficente Kenosis - A.B.K. - está de parabéns.
A iniciativa de oferecer aos interessados em conhecer melhor a Teologia
Cristã através da Série CRESCER - Programa de Capacitação Bíblica e
Teológica - é brilhante, fantástica, oportuna, louvável, exemplar! Esta
proposta relevante e inovadora trará entre outros benefícios a quem tiver a
oportunidade de conhecê-la:
1 . Direção - quem estuda a Bíblia com motivação correta jamais
perderá o senso de direção e de propósito; a Bíblia é o mapa que mostra o
caminho de Deus para conduzir o seu povo na rota certa.
2. Proteção - o embasamento bíblico-teológico capacita o cristão a
identificar e a refutar com veemência as "doutrinas" pseudo-cristãs
propagadas por hereges, embusteiros, religiosos profissionais que tentam
ludibriar as pessoas para lograr lucros pessoais.
3. Provisão - A Bíblia proporciona a seus leitores e praticantes uma
consciência iluminada e crítica, como também supre a sua fome espiritual,
alimenta sua alma, cristaliza saudavelmente sua fé.
Este programa foi elaborado com a finalidade de reciclar quem já
teve a oportunidade de cursar Teologia como auxiliar quem procura
desenvolver o espírito auto-investigativo, ampliar a capacidade de
entender/expor/praticar a Bíblia, desenvolver o espírito de servir a Deus e
ao próximo, conhecer mais a ciência teológica e, porém, não sabia como
atingir tais objetivos - outras vezes, apesar de interesse em crescer no
conhecimento, não dispunha de tempo e recursos.

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A Série CRESCER não pretende fazer apologia a uma Teologia


meramente intelectual, academicista, técnica, inacessível, complexa. Sua
proposta é, sobretudo, uma Teologia popular. Esta iniciativa, aliás, levou
em consideração o fato de que a maioria das pessoas a ser contemplada
pelo projeto seria, com todo respeito, provenientes de classes mais simples.
Isso não significa, porém, que uma pessoa mais dotada de acuidade
intelectual ou recursos econômicos está proibida de ter acesso à série. Pelo
contrário. Todos são bem-vindos. Quanto a Teologia erudita, no sentido
positivo do termo, ficou para outros compêndios teológicos e autores mais
capacitados e está a disposição dos interessados em editoras especializadas
no segmento ou nas ótimas instituições de capacitação teológica
credenciadas pelo M.E.C.
O autor procurou comentar cada disciplina deste programa com
clareza, simplicidade, objetividade. Alguns termos teológicos não podem
ser simplificados facilmente, mas, em tais caos, o professor empenhou-se
em esclarecê-los em seguida. A ideia de simplificação considerou o fato: a
Igreja Evangélica no Brasil carece de estudos bíblicos-teológicos
contextuais, relevantes, coerentes, práticos, mas também diretos, concisos,
objetivos.
A Série CRESCER não foi projetada para fornecer muitas
informações e detalhes. Logo, seus temas precisam de comentários,
discussão, reflexão, ampliação enfim. Desde que o M.E.C, reconheceu
Teologia como curso de nível superior as exigências se intensificaram; o
mesmo, para ser aceito, deve preencher vários requisitos. Informe-se. O
que o IBAC pode oferecer é um curso livre com ênfase em
aperfeiçoamento; não há caráter formativo, mas, sim, informativo. Esta
observação deve evitar críticas injustas quanto à validade deste curso.
O IBAC não aprova a nociva índole atual que preconiza a graça
barata, o êxito sem preço, a vitória sem batalha. Não há expansão
significativa em área alguma da vida que se adquira imediata, rápida, fácil e
instantaneamente! As leis do crescimento são radicais, exigentes, árduas,
íngremes, ásperas! Não há como mudá-las! Para CRESCER na graça e no
SABER deve-se pagar o preço do zelo, da dedicação, da exaustão, da
autodisciplina, afinal, não há vitória expressiva que valha a pena a preço de
pechincha!

Pr. José Roberto de Oliveira Chagas

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INFORMAÇÕES GERAIS:

Diretrizes do IBAC- Instituto Bíblico-Teológico Aliança Cristã -, entidade vinculada a


Associação Beneficente Kenosis, concernente a Série CRESCER - Programa de
Capacitação Bíblica-Teológica-Prática:
• Caráter (Objetivo e Reconhecimento do Curso). •Matriz
Disciplinar (Durabilidade do Curso). •Metodologia (Ensino à
Distância). •Avaliação (Critérios Teóricos e Avaliativos).
• Conclusão e Certificação (Regras Gerais).

1 . Caráter (Objetivo e Reconhecimento do Curso).


A Série CRESCER-Programa de Capacitação Bíblica-Teológica-Prática -,
oferecida em parceria com instituições sérias que interessam pela construção e socialização da
Teologia, é de caráter informativo, não formativo. Desde que a Teologia tornou-se curso
superior o M.E.C, formulou regras para reconhecê-lo.. A entidade que oferece o curso
Bacharel em Teologia deve ser credenciada pelo M.E.C., ter carga curricular e horária de
acordo com a portaria definida, cumprir periodização e créditos, exigir escolaridade mínima
dos interessados (ensino médio completo), corpo docente especializado, etc. Também não há
mais Curso Básico ou Médio em Teologia. Nossa instituição, cristã e idônea, não tem a
intenção de ludibriar o povo de Deus. Ratificamos, assim, que o nosso programa não oferece
vantagens acadêmicas. Nosso alvo é auxiliar a Igreja Brasileira a se aperfeiçoar para servir a
Deus e ao próximo. Tão-somente.

2. Matriz Disciplinar (Durabilidade do Curso).


A matriz disciplinar da Série CRESCER, que visa aprimorar a comunidade de fé no
âmbito bíblico-teológico-prático, é composta de 10 (dez) opúsculos, cada um com disciplina
específica. 0/a aluno/a deverá estudar sistematicamente as disciplinas conforme a proposta
pedagógica da Direção do IBAC - Instituto Bíblico-Teológico Aliança Cristã. O corpo
discente terá até 12 (doze) meses após a aquisição do curso para finalizá-lo e, se quiser,
solicitar seu certificado.
• Veja no final das diretrizes a matriz disciplinar.

3. Metodologia (Ensino à Distância).


A metodologia didática empregada neste programa está fundamentada no modelo de
ensino à distância, doravante, a Diretoria do IBAC - Instituto Bíblico-Teológico Aliança
Cristã - recomenda ao corpo discente que estude cada disciplina regular e sistematicamente,
com zelo e dedicação, tendo em vista que a sua capacitação bíblica-teológica-prática
dependerá única e exclusivamente do seu próprio esforço. Cabe, então, a cada aluno/a
comprometer-se rigorosamente com o próprio crescimento e esmerar-se nos estudos das
disciplinas.

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4. Avaliação (Critérios Teóricos e Avaliativos).


O/a aluno/a deverá estudar o livro, conforme o conteúdo programático, responder as
questões teóricas e avaliativas impressas no final de cada opúsculo (ou, se preferir, tirar xerox
ou fazer download no site da Gênesis Editora), guardá-las em local seguro e, no final, se
desejar receber o certificado, enviá-las ao IBAC -Instituto Bíblico-Teológico Aliança Cristã
-, para correção, atribuição de notas e, estando de acordo com as normas da entidade, autorizar
sua confecção e postagem. A Gênesis Editora, parceira exclusiva neste projeto, fará contato
com os/as alunos/ as para averiguar o interesse pelo certificado e as normas para recebê-lo.

5. Conclusão e Certificação (Regras Gerais).


O/a aluno/a que concluir as 10 disciplinas do módulo e atingir pelo menos a nota média
(6.0) poderá, se desejar, receber seu certificado de conclusão. O mesmo não é obrigatório.
Mas, caso queira-o, é mister efetuar o pagamento de R$ 50,00 (taxa única); tal valor será
aplicado para sanar gastos com assessoria de contato, corpo docente (acompanhamento e
revisão de provas), confecção e postagem do certificado e despesas afins. O prazo para
solicitá-lo é de até 12 (doze) meses após a compra do kit. A liberação em tempo menor
ocorrerá se o/a aluno/a tiver quitado o produto junto à editora e enviado as provas ao IBAC.

*Matriz Disciplinar do Programa de Capacitação Btblica-Teológica-Prática


1. Noções de Prolegômenos - Análise Introdutória à Relevância, Natureza e Tarefa da
Teologia.
2. Noções de Teologia - Análise Bíblica e Teológica da Pessoa e Obra do Deus Único e
Verdadeiro.
3. Noções de Cristologia - Análise Bíblica e Teológica da Pessoa e Obra de Jesus Cristo.
4. Noções de Paracletologia - Análise Bíblica e Teológica da Pessoa e Obra do Espírito
Santo.
5. Noções de Hermenêutica - Análise Crítica, Histórica e Teológica da Interpretação
Bíblica.
6. Noções de Liderança Cristã - Análise Bíblica da Filosofia Ministerial de Liderança
Cristã.
7. Noções de Homilética - Análise Crítica, Histórica e Teológica da Pregação Cristã.
8. Noções de Gestão Ministerial - Como Fazer Projeto Eficiente e Eficaz Para Gerar
Receita.
9. Noções de História da Igreja Cristã - Análise Histórica, Bíblica e Teológica da
Eklesia (Primitiva e Medieval).
10.Noções de Teologia Econômica: Mordomia Cristã - Análise Bíblica e
Teológica dos Princípios da Contribuição Cristã (1).

*A Diretoria do IBAC pode, se julgar necessário, alterar a grade curricular em kits futuros.

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PRIMEIRA PARTE:
POR QUE FRACASSA A LIDERANÇA CRISTÃ

iderança é um assunto frequente na Bíblia. Desde o


Antigo Testamento há registro de Deus levantando pessoas, quer homens
quer mulheres, como líderes. Aliás, a Bíblia, em sua primeira página fala
sobre liderança: "Dominai a terra" (Gn 1.28). Essa teria sido, na opinião de
alguns, a primeira diretriz do Senhor Deus ao homem recém-criado. E, na
última página, ainda ecoa o mesmo assunto, já numa antevisão celestial:
"Reinarão pelos séculos dos séculos" (Ap 22.5). Entre a primeira e a última
página da Bíblia há muito a ser refletido a respeito de liderança.
Liderança é tema bíblico e atual, de importância primária na Igreja
Cristã. George Barna, especialista na área, declarou inclusive, sem aporia
alguma, que nada é mais importante do que a liderança. Mesmo que outros
afirmem que mais importante é santidade, ou retidão de caráter, ou
compromisso com Cristo, ou obediência radical a Deus, nunca houve
qualquer movimento significativo e bem-sucedido, revoluções ou outros
sistemas, que não tivessem à sua frente líderes fortes e de visão, liderando o
caminho da mudança em pensamento, palavra e ação.
J. Oswald Sanders, outra autoridade quando o mote em foco é
liderança, acrescenta que Deus e homens estão constantemente procurando
líderes para as várias ramificações dos empreendimentos cristãos. Nas
Escrituras encontramos Deus, com frequência, empenhado na busca de um
homem de certo tipo. Não homens, mas um homem. Não um grupo, mas
um indivíduo. Em quais áreas a liderança é indispensável?

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SÉRIE CRESCER: PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO BÍBLICA-TEOLÓGICA-PRÃTICA

SEM LIDERANÇA
EFICIENTE E EFICAZ O CAOS AFLORA!

Praticamente em todos os segmentos da sociedade exige-se a


presença de liderança: na família, na política, na igreja...
1. Família - Lares são destroçadas por falta de liderança. Larry
Christenson explica que o conflito em que se encontram muitos lares hoje
são causados, em parte, pela extrema simplificação do exercício do
comando; ser chefe (líder) da família não se limita ao privilégio de ocupar a
cabine do comando e berrar ordens a torto e a direito; na verdade, implica
aceitar as responsabilidades de exercer a liderança de forma capaz e
inteligente. Urge, portanto, resgatar o significado da liderança bíblica no
casamento. O Dr. Silmar Coelho, especialista em família cristã, ratifica que
a mulher sente-se segura e protegida ao ser liderada com respeito, amor e
sabedoria. Isso não significa que a mulher não seja uma líder ou que o
homem para liderar deva agir como um "general" ou um "ditador"; a
liderança positiva no homem levará a mulher a participar de tudo.
2. Política - A necessidade de uma liderança capacitada intelectual,
ética/moral e espiritualmente para servir na administração pública não é
inferior. Política no Brasil lamentavelmente é motivo de escárnio,
zombaria, chacota! Político no Brasil, apesar de rara exceção, é sinônimo
de embusteiro! Há motivo para tanto. Enquanto milhões de vidas, sem
dinheiro algum, perecem famintas, maltrapilhas, ao relento, morando em
casebres imundos, tratadas como andrajos humanos, farrapos de gente...
muitos "líderes" deste país ganham salários astronômicos, degustam finas
iguarias, moram em mansões luxuosas, são aplaudidos pelos poderosos...
3.1greja - Sem liderança eficiente e eficaz, a comunidade de fé
atrofia, perde o senso de propósito e destino, não desempenha suas tarefas
cruciais: adoração, evangelização, edificação, ação social... Pior ainda: se o
líder cristão não tiver motivação correta e santa, ainda corre o risco de, em
nome da vil lucratividade e do poder, transformar igreja em empresa,
salvação em mercadoria, púlpito em balcão, crente em cliente, VERBO em
verba, pastor em guru, vocação em profissão, e assim por diante.

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LÍDERES EM CRISE!

Por trás dos numerosos desmandos que estão ocorrendo nas


famílias, na administração pública, nas empresas, e, é claro, nas próprias
igrejas evangélicas em nossos dias, certamente está o fracasso da própria
liderança.
E quais são os fatores que estão nocauteando os líderes, de vários
âmbitos, atualmente? Poderia relacionar uma lista enorme. Prefiro, porém,
aproveitar os fatores identificados por Richard Denny, escritor e consultor
inglês, que fez uma extensa pesquisa sobre as causas de fracasso na
liderança e chegou a algumas conclusões. Seu trabalho, embora não tenha a
finalidade de enfocar a liderança cristã de maneira direta, é relevante,
afinal, mesmo que mude a área de atuação, o perfil do líder vitorioso (ou
não) é basicamente o mesmo. Transcreverei adiante alguns dos motivos
alistados por Denny e, logo em seguida, farei sucintos comentários
ligando-os à liderança religiosa.
1 . Incapacidade de organizar detalhes. O líder, inclusive o
evangélico, que não conseguir gerenciar as coisas mínimas dificilmente
terá êxito nas questões maiores. Não raro, por falta de administrar pequenos
detalhes, o líder deixa de fazer a coisa certa, do jeito certo, na hora certa,
pela razão certa, levando o grupo a fracassos desnecessários.
2. Falta de disposição para fazer o que se pede para os outros
fazerem - Em outras palavras, falta de exemplo. Grupo algum vai seguir
fiel e sistematicamente um líder que fala e não faz, promete e não cumpre,
assume compromisso e não honra-o. Tal líder segue o modelo farisaico:
exige envolvimento, porém sua vida não condiz com suas pregações (Mt
23.3). O líder deve ser, sim, e sempre, o exemplo dos fiéis, o modelador de
caminho!
3. Expectativa de pagamento pelo que se sabe, em vez de pelo que
se realiza - Quem sabe muito deve fazer muito! Entretanto, nem todos que
pensam que sabem, sabem, de fato, que pouco ou nada sabem! Os
resultados permanentemente medíocres, por exemplo, evidenciam que o
líder que pensa que sabe não sabe, ou, se é que sabe, não está fazendo o que
sabe.

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4. Medo da competição - O temor incontido de perder a vaga tem


levado à ruína muitas pessoas que ocupam cargo de liderança e outro tanto
maior ainda de gente que está sendo liderada. Nem a liderança evangélica
está imune a tamanho perigo. Há líder que, por não saber reconhecer suas
próprias limitações e tentar superá-las, torna-se um verdadeiro "assassino
de talento"; procura destruir todos quantos estão à sua frente em termos de
talento, habilidade, competência. E um líder desconfiado e inseguro,
mesmo dentro da igreja, pode ser uma desgraça para o grupo.
Qualquer pessoa que aspira exercer alguma função de liderança
numa igreja séria precisa entender, desde cedo, que na comunidade de fé
que está sob sua liderança geralmente vai ter alguém que prega, ora, canta,
ensina, toca, administra melhor. E isso não é necessariamente ruim. Pelo
contrário. Pode ser uma bênção à comunidade de fé, basta que o líder veja-o
não como rival, mas um parceiro na manutenção e expansão do Reino de
Deus! (1 Co 1.10-12;3.1-9). Outra lição a ser aprendida é que ninguém fica
para sempre. Líder algum dura para sempre. Cedo ou tarde alguém vai
assumir o seu lugar! Seja por "livre iniciativa", seja por "livre pressão".
Sábio era Moisés que soube reconhecer quando já era o tempo de "passar a
tocha" (Dt 31.1-8); ele disse: "Já não posso mais sair e entrar" (v.l). Saiba,
então, identificar a hora exata de entrar na arena e a de sair.
Saul é exemplo do líder que, mesmo rejeitado, procura manter o
trono a qualquer preço. E o protótipo do líder que teme a competição. Ele
sabia que Deus o havia rejeitado devido seu pecado e que Davi, embora
jovem e inexperiente, seria o novo líder de Israel; seu tempo havia
terminado naquela função. Saul, porém, jamais quis se afastar da "cadeira
real". Queria ser líder e não liderado, rei e não súdito, por isso, ao invés de
preparar seu substituto, preferiu matá-lo. Sua atitude insana quase tirou de
Israel a chance de ser liderado pelo melhor e maior de todos os monarcas do
Antigo Testamento!
Até os apóstolos foram vítima desse mal. Dominados pela inveja
tentaram barrar o ministério de libertação de um anônimo que expulsava
demônios; viram-no como um rival, um competidor, não como um aliado;
já que não fazia parte da elite apostólica deveria parar. Jesus refutou, com
termos rígidos, tal atitude (Mc 9.38-41).

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5. Ausência de pensamento criativo - A falta de criatividade é


outro elemento destrutivo da liderança duradoura. Se o próprio condutor
não tem imaginação, não explora seu potencial criativo, o grupo fica sem
senso de destino e de propósito, incapaz de superar as adversidades que
surgem no dia-a-dia tentando minar suas realizações. Quantas igrejas
evangélicas estão ficando para trás por falta de espiritualidade e
criatividade de seus condutores! Não poderia ser diferente. O povo está
cansado de rotina, de tédio, de mesmice! E sempre a mesma coisa: nada
muda; a música é a de sempre - entediante; o sermãozinho é o de sempre -
falta poder e saber! Observe os temas das campanhas, dos cultos especiais,
das festividades, encontros, etc. e logo fica evidente a terrível crise de
criatividade que assola as igrejas evangélicas.
6. Síndrome do "EU" - A autolatria, ou a síndrome de Lúcifer,
também tem devastado o ministério de milhões de líderes. Esta, na verdade,
é uma piores doenças que está infectando a liderança evangélica
pós-moderna. Há líder que só saber dizer o tempo todo: Eu sou , eu penso ,
eu faço , eu desejo , eu determino , eu , "eu", "eu"... Jesus Cristo
dificilmente aparece; o "eu", contudo, está sempre em evidência. Esta não
foi uma das causas da queda de Lúcifer ? Segundo a Bíblia ele caiu por: 1)
falta de autocontrole, de domínio próprio: "Elevou-se o teu coração". (Ez
28.17); 2) autodivinização e valorização de suas qualidades: "(...)por causa
da tua formosura" (v.17); 3) arrogância: "(...) Eu sou Deus" (28.2); 4)
motivação e plano errado: "(...)sobre a cadeira de Deus me assento" (28.2);
"(...) Eu subirei ao céu, e, acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu
trono(...) serei semelhante ao Altíssimo" (Is 14.13,14); 5) emprego errado
de sua potencialidade: "corrompestes a tua sabedoria" (Ez 28.17); 6)
traição: espalhou a discórdia no céu: "(...)levou após si a terça parte das
estrelas " (Ap 12.4).
O líder cristão, se não quiser ter o mesmo fim de Lúcifer, deve
reconhecer que o termo menos importante no grupo é o "eu". Precisa
aprender a ser humilde e empregar o termo "nós"! Não é a individualidade
que faz diferença; não é o singular; é o plural, é coletivo, é o todo, é a
equipe, é o "nós"! O "eu" só é bem-vindo na confissão de João Batista:
"Convém que Ele cresça e eu diminua" (Jo 3.30).

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7. Deslealdade - Quero aplicar a esta causa o termo caráter. A


retidão do líder, pelo menos no Reino de Deus, é de importância primária.
Cabe aquele que conduz algum grupo em o nome e para a glória de Deus
manter-se íntegro, fiel. Precisa zelar sistematicamente o que é honesto
diante de Deus, diante da igreja e diante da sociedade, ou sua influência
como condutor estará arruinada.
O Dr. Zenas J. Bicket esclarece que há tempos esperava-se que os
profissionais e leigos igualmente satisfizessem os padrões mínimos de
integridade e moralidade. Mas após a Segunda Guerra Mundial o caráter foi
sendo mencionado cada vez menos. Parece, todavia, que o povo está
voltando a preocupar-se com o caráter e a integridade dos líderes políticos,
empresariais e profissionais. As falhas de caráter dos líderes religiosos e
das figuras de destaque da mídia, abertamente divulgadas pela televisão e
imprensa escrita, têm instigado grande ceticismo sobre todos os que se
acham em posição de liderança. Kesler alerta: vários perigos rondam a vida
do obreiro e podem contribuir para um resultado desastroso.
Por falta de caráter da liderança evangélica há ministério
promitente sendo destruído. A sociedade pós-moderna, diante de tantos
escândalos, já olha para a Igreja com certa cautela; assumiu uma posição de
defensiva, afinal, não suporta mais ver tantos pecados, tantos absurdos
envolvendo os "santos homens de Deus".
Que o Eterno nos ajude a recuperar a credibilidade!
8. Ênfase demasiada na autoridade (poder) - Há líder cristão que,
por despreparo em outras áreas, conduz o grupo como se fosse um tirano,
impondo sua vontade, forçando-o a obedecer-lhe, pois tem o poder que lhe
foi dado pela denominação. Tal líder não aprendeu a liderar segundo Jesus!
Está fadado à derrota!
9. Ênfase demasiada no "título" - Se o emprego demasiado de
títulos já faz mal ao líder secular, imagina, então, ao líder cristão! Mas a
ênfase no "título" é cada vez mais comum entre os líderes cristãos: basta ter
uma função mais acentuada e logo cria-se um título para diferenciar o líder
dos demais; não pode usar o mesmo "rótulo" dos outros colegas; sua
imagem precisa ser iconizada! A liderança cristã precisa rever seu
fundamento, sua filosofia ministerial, seus exemplos e sua práxis - com
urgência, senão...

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SEGUNDA PARTE:
ANÁLISE DOS FUNDAMENTOS DA LIDERANÇA

Certo autor escreveu: Liderança, Liderança, Liderança


e ... mais Liderança. A Liderança está em alta. Está na moda. Na mídia. Nos
meios de comunicação. Em todo o lugar! Mas está onde realmente deveria
estar? No coração das pessoas? Nos sentimentos e nas atitudes? No
comprometimento ou no conhecimento? Na ação reflexiva ou na intenção
reativa? Liderança é certamente o produto, o artigo mais anunciado,
ofertado e comprado nestes últimos tempos. Desde os primórdios da
Administração (época da segunda guerra mundial, quando ela não existia
ainda como disciplina ou ciência) vem sendo estudada, pesquisada,
analisada. Mas realmente vem sendo entendida, compreendida e aplicada
em sua plenitude?
Apesar da liderança ser assunto que está na Bíblia desde os alvores
da criação e, na atualidade, um dos temas mais enfocados dentro e fora do
âmbito religioso, ainda existem algumas dúvidas: O que é "líder"? O líder
já nasce com o dom de liderar ou torna-se mediante treinamento? Líder e
chefe são termos sinônimos ou antônimos? E quais são as funções de um
líder eficiente e eficaz? E o que quer dizer o termo "liderança"? Quais são
os fundamentos bíblicos e teológicos que calçam a liderança
bem-sucedida? Quais são as filosofias ministeriais de liderança? Quem é o
melhor exemplo de liderança? Tentarei responder, agora, algumas dessas
questões. A proposta deste capítulo é buscar na Bíblia certos fundamentos
que sustentam saudavelmente a doutrina da liderança cristã e apontam para
uma filosofia ministerial que glorifica a Deus e serve ao próximo.

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1º FUNDAMENTO:
LIDERANÇA É UMA DOUTRINA
BÍBLICA VETEROTESTAMENTÁRIA!

Liderança é uma doutrina bíblica, pois existe desde os alvores da


criação. Mas o que é o "líder" à luz da Bíblia?
No hebraico bíblico o termo rõ'sh/re'sh aparece aproximadamente
600 vezes. O mesmo significa "cabeça", "cume", "primeiro", "soma" e, é
claro, "líder" nomeado, eleito ou autonomeado. A palavra é usada para se
referir aos pais tribais, que são os líderes de um grupo de pessoas: "E
escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os pôs por cabeças
sobre o povo" (Êx 18.25). Os líderes militares também são chamados de
"cabeças": "Estes são os nomes dos valentes que Davi teve:
Josebe-Bassebete, filho de Taquemoni, o principal dos capitães" (2 Sm
23.8). Em Nm 1.16, os príncipes são chamados "cabeças" (Jz 10.18). Esta
palavra é usada para aludir aos que representam ou conduzem as pessoas
em adoração (2 Rs 25.18).
A expressão bíblica "cabeça", figurativamente falando, denota
superioridade de categoria e autoridade sobre outros 0z 11.11; 2 Sm 22.44).
Quando se trata de Jesus Cristo, porém, "cabeça" da igreja (Ef 5.23; Cl
2.19), de todo homem (1 Co 11.3), do universo inteiro (Ef 1.22), de todo
poder cósmico (Cl 2.10), o sentido básico de cabeça como fonte de toda
vida e energia se torna predominante.
Outro vocábulo popular, ainda no hebraico bíblico, é sar; o mesmo,
que aparece mais de 410 vezes, significa "oficial", "líder", comandante ,
capitão , cnele , príncipe , governante . Em alguns contextos representa
"homens que claramente têm responsabilidade sobre outros" - governantes
ou comandantes; pode ter sentido de "líder" de uma profissão, grupo ou
distrito (Gn 21.22; 37.36; 40.2); e é usado para se referir a certos "homens
notáveis" dentro de Israel: Abner (2 Sm 3.38; Nm 21.18), Joabe, Abisai e
Itai (2 Sm 23.19); descreve ainda a tarefa de "governar", "líder",
"governante", "juiz" (Êx 2.14; 18.21), chefe do exército (1 Sm 17.55),
"governante" de uma cidade (Jz Ne 3.14)...
Está claro que o Antigo Testamento fala de liderança. Mas e o Novo
Testamento também enfoca a mesma tematização?

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2º FUNDAMENTO:
A LIDERANÇA TAMBÉM FOI
HOMOLOGADA EM O NOVO TESTAMENTO!

Liderança é um ministério também frequente em o Novo


Testamento. A importância do conceito e da prática da liderança cristã, na
verdade, estão evidentes nas numerosas citações que aparecem nas
referências neotestamentários, desde os Evangelhos às cartas/ epístolas dos
conceituados apóstolos de Jesus Cristo.
A palavra "cabeça", kephale 15 no grego, metaforicamente, remete,
entre outras coisas, à autoridade de Jesus em relação à Igreja (Ef 1.22; 4.15;
5.23; Cl .118; 2.19), aos principados e potestades (Cl 2.10), etc. Aparece
também o substantivo hodegos que significa "líder" ou "guia no caminho",
formado de hodos - "caminho" e hegeomai "conduzir", "liderar", "guiar"
(At 1.16; Mt 15.14; 23.16,24; Rm 2.19); e os verbos hodegeõ - "liderar" ou
"guiar pelo caminho" (Mt 15.14; Lc 6.39; Jo 16.13; At 8.31; Ap 7.17);
kateuthunõ - "tornar reto", "guiar os pés no caminho da paz" (Lc 1.79);
oikodespoteõ -"governem a casa" - isto é, refere-se à "administração e
direção dos assuntos domésticos"; hegeomai - "conduzir" (Hb 13.17,24),
etc.
Há muitas outras referências conceituais à liderança em o Novo
Testamento. Entretanto, devido o espaço lacônico, gostaria de ressaltar
somente mais dois fundamentos: a liderança na Igreja Primitiva e, depois,
concluir citando o modelo de liderança de Jesus Cristo, o maior e melhor de
todos os líderes da história.

3° FUNDAMENTO:
LIDERANÇA É UMA NECESSIDADE DA IGREJA CRISTÃ!

A origem exata da Igreja Cristã ainda é assunto que suscita as mais


calorosas altercações entre muitos teólogos. Mas, partindo do pressuposto
que ela nasceu no Pentecoste (há quem pensa diferente e sugere outras
possibilidades), certamente, já no seu nascedouro, notou a necessidade de
ter uma liderança eficiente e eficaz. Aliás, um dos pilares que fomentou e
sustentou o crescimento integral da Igreja Primitiva foi exatamente sua
liderança.

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Orlando Costas justificou que a Igreja Primitiva, segundo At


1.12-8.3, cresceu em quatro dimensões: orgânica, diaconal, conceptual e
numérica. O Dr. Jorge H. Barro, enquanto comentava o crescimento
orgânico, acrescentou: um organismo precisa de organização, e a Igreja em
Jerusalém descobriu isto logo em seu estágio inicial (At At 1.15,20,26;
6.1-7), etc.
Daniel Reis afirma que a Igreja, de fato, precisa de líderes. O
próprio Senhor Jesus dedicou a atenção mais especial de seu ministério
aqui na terra para o treinamento daqueles que seriam líderes de sua Igreja.
Também não é justo argumentar que eles, como apóstolos, eram dotados de
uma qualificação singular, única e irrepetível. Pois, mesmo isso sendo
verdade, eles se dedicaram com afinco ao treinamento daqueles que
deveriam cuidar das igrejas que plantaram por todo canto do Império
Romano. Além do mais, prossegue Reis, as Escrituras em inúmeras
passagens ensinam claramente a instituição de líderes espirituais na igreja,
de tal maneira que, se assim não fosse, não se poderia entender o relato de
Atos dos Apóstolos.
O Dr. Douglas, quanto ao governo eclesiástico, esclarece que Novo
Testamento não provê qualquer código detalhado de regulamentos, e a
própria ideia de tal código pode parecer repugnante para a liberdade da
dispensação do Evangelho, no entanto, Cristo deixou atrás de si um corpo
de líderes (os apóstolos), por ele mesmo escolhido, ao qual também
forneceu alguns poucos princípios gerais o exercício de sua função
reguladora.
A liderança cristã, porém, nem sempre foi exemplo. Deveria
influenciar e transformar a vida das pessoas, todavia, não raro, tornou-se
pedra de tropeço. A história da Igreja, diz Carlos Caldas, apresenta um
relato desolador de como em dois mil anos de Cristianismo, quantas vezes a
ganância por posições de liderança na comunidade, a busca sem escrúpulos
por poder, influência, dinheiro e prestígio, que podem advir da ocupação de
posição de destaque na Igreja, têm provocado muito sofrimento para
cristãos e também para não-cristãos, e consequentemente têm sido
responsáveis por um péssimo testemunho à sociedade.
Naturalmente os péssimos exemplos revelam que nem todos os
supostos líderes seguiram fielmente o que Jesus fez e ensinou.

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4º FUNDAMENTO:
A LIDERANÇA IDEAL TAMBÉM FOI
EXERCIDA POR JESUS CRISTO, O LÍDER PERFEITO!

Este fundamento, na verdade, deveria preceder o anterior, porém,


deixei-o por último, de propósito, para ressaltar que a liderança cristã,
quando fracassou (ou fracassa) vergonhosamente é porque não seguiu o
modelo perfeito de liderança de Jesus. Se porventura seguissem o que ele
fez e ensinou não haveria escândalo algum.
Não há dúvida de que o maior líder, o líder por excelência, é nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo: não se preocupou em ser o primeiro, mas
em ser aquele que estava disposto a servir (Mc 10.42-44); a liderança de
Jesus não foi exercício de poder, não era autoritária, estava centrada no
indivíduo.
Especialistas em capacitação de líderes afirmam categoricamente
que sem integridade, coração de servo e mordomia, é impossível construir
uma equipe verdadeiramente eficiente... ou tornar-se um líder
verdadeiramente eficiente.21 Muito bem, líder algum, em toda a história
humana, conseguiu agregar os três elementos basilares da liderança
vitoriosa, conforme supracitado, como o Senhor Jesus Cristo.
O Dr. John Maxwell sintetiza: liderança é influência. E que outro
líder conseguiu influenciar a vida de tanta gente quanto Jesus Cristo? Dois
milênios se passaram e o desafio está lançado!
George Barna vai mais além: diz que é possível ter influência na
vida das pessoas sem levá-las a lugar algum; comparar liderança à
influência é apresentar as coisas de modo mais fácil do que na realidade são
e determinar as pessoas ao fracasso; produz líderes que são motivadores e
informantes; o verdadeiro líder - arremata - causa um impacto muito mais
profundo!23
Neste caso, também, Jesus está acima das meras criaturas mortais!
Nenhuma outra produziu impacto mais profundo e duradouro na história da
humanidade até então. Mais: afirmo, sem aporia alguma, que jamais
existirá similar! Foi Jesus Cristo que dividiu a História Universal: nós
dividimos as duas fases em antes de Cristo e depois de Cristo! Ele é, então,
o centro da História Universal!

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As publicações sobre liderança mais vendidas no Brasil, hoje,


ratificam que Jesus Cristo é, de longe, o líder mais influente de toda a
história da humanidade! Hoje, mais de dois bilhões de pessoas, um terço
dos seres humanos deste planeta, se dizem cristãos. A segunda maior
religião do mundo, o islamismo, é menos da metade menor do que o
Cristianismo. Dois dos maiores dias santos deste país (EUA), Natal e
Páscoa, são baseados em eventos da vida de Jesus, e nosso calendário até
conta os anos a partir do nascimento dele, há dois mil anos!
Outros afirmam categoricamente que praticamente todos os avanços
da humanidade nesses 1900 anos dever ser atribuídos a Jesus, como o
principal inspirador de todos eles! Seus ensinos e estilo de vida inspiraram
a valorização e elevação da pessoa humana, a transformação de vidas, o
incentivo para as reformas, a melhoria das instituições, a saturação da
literatura, a influência nas artes, a inspiração da filantropia!
Muitas características de Cristo como líder eficiente e eficaz
poderiam ser relacionadas. Há, porém, uma em especial que gostaria de
ressaltar: o desejo de servir. Cristo não precisou de posição alguma para ser
obedecido ou atendido - ele próprio representava uma posição!
Laurie Beth Jones disse que Jesus, o líder, serviu seu povo. A
maioria das religiões ensina que fomos colocados aqui para servir a Deus;
todavia, em Jesus, Deus está se oferecendo para nos servir. Alguns ficam
chocados com a inferência de que Deus nos serve. No entanto, este homem
que representava Deus - impregnado de todo o poder de Deus - foi até o
povo e perguntou: "Como posso ajudá-los?"
Jesus Cristo ensinou frequentemente que para servir é mister
simplicidade, modéstia, simplicidade. Enfatizou que quem deseja ser líder
deve guardar suas medalhas, seus títulos honoríficos e seus galardões, suas
patentes. Jamais recorreu à sua onipotência para persuadir as massas a
segui-lo. Conquistou sua afeição gradativamente, servindo-as com amor,
relacionando-se com elas, amando os inamáveis, tocando os intocáveis,
desejando os indesejáveis, incluindo os excluídos, sarando os feridos,
salvando os perdidos.

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Especialistas em treinamento de liderança moderna dizem que, o


líder que não conquista, não atrai, não consegue a disposição espontânea e
sincera dos que o cercam, não pode ser considerado um líder eficiente e
eficaz. Pois bem, Jesus tinha um forte poder de atração. Conviveu com
pessoas às voltas com toda sorte de infortúnio e fez com que as mesmas
sentissem que havia alguém interessado pelos seus problemas e disposto a
auxiliá-las a resolvê-los. Elas se sentiam à vontade e em posição de
igualdade quando estavam com ele; não eram marginalizadas,
discriminadas, humilhadas; sendo simpático e humano conseguia,
sabiamente, direcionar suas vontades, atenções, preferências, interesses.
Pesquisadores hodiernos dizem que pelo menos 20 profetas
apocalípticos disputavam a atenção das massas no primeiro século da Era
Cristã. Mas Jesus se destacou. Por quê? Eis alguns motivos: abertura,
flexibilidade, comunicação, equidade, caridade, múltiplas faces (os
Evangelhos apresentam Jesus de diversas maneiras: combativo,
misericordioso, espiritualizado), ineditismo e misticismo (relatos de
milagres e curas também ajudaram a formar uma aura mística).
Há, ainda, outro distintivo de Jesus como líder: honestidade. Seu
espírito de servir não sufocou sua integridade: quando precisou confrontar
as pessoas a fim de construir um caráter retilíneo não teve dúvidas.
Expressou nos termos mais duros as severas condições do discipulado. Não
se especializou em apregoar benefícios e bênçãos, emoção e excitação,
aventuras e vantagens obtidas por seus discípulos. Ele estabeleceu um
custo bastante elevado para o indivíduo ser seu discípulo. Ele nunca
escondeu a cruz.
O maior líder de todos os tempos ratificou, com firmeza, os notórios
desafios e sacrifícios da jornada com Deus. O seguidor que Cristo queria
não poderia temer a cruz, nem ser superficial. Ele não facilitou os requisitos
do discipulado, não mencionou opções fáceis, não deixou de expor os
desafios, por isso multidões se maravilharam e aderiram suas doutrinas
singulares.
Jesus Cristo, especialmente nessa era pós-moderna quando a Igreja
Evangélica no Brasil enfrenta uma profunda crise de modelo, continua
sendo o modelador de caminho; basta segui-lo.

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5° FUNDAMENTO:
A LIDERANÇA DEVE SEGUIR FIEL E
PERMANENTEMENTE O MODELO DE JESUS CRISTO!

A Bíblia fala sobre muitos líderes eficientes e eficazes; e todos eles,


de uma ou de outra maneira, podem nos ensinar lições preciosas nesta área.
O Dr. John Maxwell, para citar exemplo, após pesquisar vários guias da
Bíblia identificou leis relevantes que por eles eram observadas. E certo,
porém, que líder algum, dentro ou fora do contexto bíblico, poderá se
igualar a Jesus; ele, portanto, deve ser nosso modelo de liderança
transformadora.
Um dos textos mais significativos sobre este mote foi escrito pelo
Dr. Wander de Lara Proença, razão pela qual vou sintetizá-lo. O mesmo
esclareceu que Jesus viveu e desenvolveu seu ministério em um tempo e
um lugar marcado por diferentes expressões de liderança: em termos
políticos, os romanos exerciam uma liderança centrada no poder absoluto
da figura do imperador, que era considerado um ser divino; a dinastia
herodiana, que reinava na Palestina da época, fazia uso da força e da
intimidação, usando como ameaça a sentença de morte de cruz; a oposição,
formada em parte pelos zelotes e sicários, - movimentos reacionários com o
propósito de libertar a palestina, e para isso usavam mobilização coletiva,
treinamento de grupos armados e a promoção de constantes rebeliões e
combates - um dos seguidores de Jesus, inclusive, fora "zelote".
Na esfera religiosa o Dr. Wander cita, entre outros, os fariseus e
saduceus; os primeiros eram conservadores, legalistas, separatistas,
ensinavam o dualismo da recompensa e do castigo (também para legitimar
a prosperidade que ostentavam); já os saduceus, classe sacerdotal
dominante, preservavam as antigas tradições judaicas, cooperavam com o
Império Romano em troca de cargos e favores, sem crer na vida após a
morte procuravam obter a felicidade na terra - status quo. Havia ainda
naquela época os carismáticos autônomos; João Batista, por exemplo, era
um deles. Jesus declarou que ninguém apareceu maior do que João Batista
(Mt 11.11), cuja pregação tinha as características principais: forte apelo ao
arrependimento e à conversão; proposta de partilha e ajuda mútua;
denúncia profética das injustiças.

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1. LIDERANÇA EXERCIDA COM LEGITIMIDADE E ÉTICA - No


referido contexto Jesus desenvolveu, com singularidade e estilo próprio,
uma liderança transformadora, que serve de modelo e parâmetro para a
ação da Igreja atual. Veja alguns exemplos.
Jesus Cristo, o líder exemplar, não buscou credenciamento oficial no
templo de Jerusalém; o mesmo estava corrompido; era um centro religioso,
administrativo, educacional e jurídico, com cerca de 20 mil funcionários,
mas concentrava um poder comprometido com interesses corrompidos e
alheios à vontade de Deus. Jesus também não se filiou a nenhum dos
partidos religiosos atuantes no templo (fariseus e saduceus), por entender
que isto seria um obstáculo para o exercício de um ministério profético, o
calaria diante de abusos de poder por causa dos interesses escusos e
egoístas dos religiosos da época que inviabilizariam a mensagem do Reino
de Deus.
Jesus, todavia, credenciou-se pelo ministério de João batista; foi
iniciado em todos os ritos que o credenciariam com legitimidade para o
ministério profético e sacerdotal (batismo de João); isso o fez reconhecido
até pelos líderes exigentes do templo (Mt 21.23-27); cumpriu os trâmites
legais (Jesus espera a idade mínima pela lei judaica - 30 anos). A presença
do Espírito Santo é o verdadeiro começo do Reino de Deus e da nova
criação na história, por isso: expulsa demônios, cura doentes, e restabelece
a criação destruída; essa presença é a autoridade de sua pregação e
liderança.
2. LIDERANÇA QUE SUPERA O DUALISMO DO SAGRADO E DO
PROFANO - Jesus, no exercício de sua liderança, literalmente pisou em
terreno proibido, ignorando a distinção entre sagrado e profano. Viveu e
atuou nos lugares considerados impróprios para um líder religioso. Na
Galileia realizou 90% de seu ministério público - era lugar de pobreza,
miséria, muitos não judeus, muitos analfabetos, tidos como ignorante da lei
- lugar de maldição e amaldiçoados; visitou a terra dos gerasenos, local de
criação de porcos, considerado impuro; esteve em Samaria, local de grande
miscigenação - Jesus transforma uma mulher e faz dela uma missionária
entre seu povo (Lc 10); ministério voltado para os excluídos da sociedade
(Lc 4.18).

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3. LIDERANÇA QUE PROMOVE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL -


Jesus tornou-se pessoa do povo, vivendo com todo tipo de pessoa, sem
fazer acepção; seus discípulos vieram do meio do povo; conviveu com
pobres, doentes, analfabetos, pecadores, gentios, publicanos, prostitutas e
escravos. Jesus foi na contramão do sistema religioso da época em relação
a sua membresia. Muitos de seus seguidores, com suas atividades e vidas
não eram bem vistos na época: pastor de ovelhas - trabalhava no sábado;
açougueiros - contato com sangue; pessoas doentes ou com deficiências
físicas - cego; o pobre - não podia pagar pela sua purificação ou taxas
cobradas para manter a estrutura do poder religioso; sua meta: devolver a
dignidade e o convívio social dos marginalizados. Mais do que curar as
pessoas, Jesus as inseria novamente na vida social tornando novamente
aceitos, e para isso enfrenta até escândalos.
4. LIDERANÇA QUE VALORIZA O TREINAMENTO E O PREPARO
DE OUTROS LÍDERES - Jesus não atuou sozinho e nem quis exercer
liderança isoladamente; ele decidiu dividir sua tarefa, chamando 12
discípulos; ele exerceu mais do que tudo o papel de educador dos seus
novos liderados. Constituiu uma escola teológica e ministerial; sua forma
de ensino se baseava na palavra e vida, seus discípulos aprendiam ouvindo
e vendo a vida do mestre. Seus alunos aprenderam uma espiritualidade
solidária e cristocêntrica, uma teologia prática contextualizada, alicerçada
sobre a palavra de Deus; ademais, enfatizou-se a necessidade de um
ministério sob o poder e a capacitação do Espírito Santo (Lc 4.16-21).
O Dr. Wander ainda menciona outras facetas da liderança
transformadora desempenha por Jesus Cristo e que serve de base aos
líderes cristãos pós-modernos: liderança que proporciona à mulher
oportunidade de liderança ministerial, liderança que transforma a relação
entre o ser humano e a natureza, liderança que valoriza o serviço ao invés
do senhorio, etc.
Estou certo de que, conquanto exista um grupo expressivo de líderes
que servem de modelo, Jesus Cristo ainda é o primeiro da lista; sua filosofia
ministerial de liderança, se conhecida e praticada, tornará qualquer líder
eficiente e eficaz; também evitará a crise de credibilidade que atinge
diretamente a liderança evangélica.

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TERCEIRA PARTE:
LIÇÕES RELEVANTES DE LIDERANÇA EM Êx 18

Nesta disciplina de liderança já ficou claro que a liderança é


um assunto presente na Bíblia, desde a criação (Gênesis) à consumação de
todas as coisas (Apocalipse). Estudamos, nas páginas recentes, alguns
fundamentos da liderança cristã transformadora. Neste terceiro capítulo,
finalizando a disciplina, gostaria de abordar a filosofia ministerial de
liderança de Jetro; a mesma, apesar de ter sido ensinada há milênios,
ainda permanece relevante.
Poderia enfocar, neste desfecho, vários aspectos bíblico e teológicos
da liderança cristã, estilos de liderança, características e funções dos líderes
vitoriosos, novos paradigmas para uma liderança transformadora, etc. Há,
porém, um tema de importância primária: a exaustão que grassa entre a
liderança cristã. Lideranças de igreja, ministério de louvor/coral/banda,
escola bíblica, união feminina/ masculina, célula/pequeno grupo/grupo
familiar, etc, não estão imunes ao esgotamento. Liderança, aliás, é um
ministério com alto nível de estress; é impossível ser líder sem
experimentar, em algum momento, o peso da exaustão, do cansaço, da
fadiga.
Pretendo, por conseguinte, mostrar certos fatores que levam o líder
cristão ao esgotamento, revelar as principais características de um condutor
esgotado e, à luz dos ensinos de Jetro, propor alguns princípios para
erradicar este mal que tem devastado ávida de milhares de guias espirituais.
A exaustão, outrossim, deve se tornar cada vez mais presente na vida das
pessoas. Nem mesmo a liderança cristã está imune a ela. Este, portanto, é
um assunto apropriada para finalizar esta disciplina sobre noções de
liderança cristã.

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LIDERANÇA É TAREFA PRAZEROSA E... ESTRESSANTE!

Liderança é tarefa prazerosa, porém pode ser estressante. Apenas na


mente de um ficcionista liderança e esgotamento são elementos distintos. E
dependendo da filosofia ministerial de liderança o estresse pode ser maior
ou menor; quem não delega poder nem funções certamente ficará mais
esgotado do que o líder que tem uma equipe competente e confiável; mas,
ainda assim, o estresse pode aparecer em alguma fase da jornada. Afinal,
como se não fosse suficiente os problemas internos e corriqueiros, o mundo
atual faz questão de revelar novos desafios aos líderes.

E o QUE É LIDERANÇA?

Liderança "é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem


entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo
para o bem comum" (Hunter); "é o processo de motivar, mobilizar, dar
recursos e dirigir as pessoas a buscar, de modo entusiástico e estratégico, a
visão de Deus que um grupo adota em conjunto" (Barna); "capacidade de
fazer com que as coisas aconteçam" (Dusilek); "é a capacidade e desejo de
unir homens e mulheres num propósito, e o caráter que inspira confiança"
(Montgomery); "execução específica, resultados benéficos por meio de
pessoas" (Meyer & Slechta). Billie Davis acrescenta: a liderança é algo
necessário quando se quer cumprir um propósito qualquer - quando se quer
que seja feito; existe, contudo, a noção de liderança cristã porque Deus tem
um propósito em mira; há algo que ele quer que seja feito.
Diante de tais definições fica claro que liderar pode resultar em
estresse e esgotamento. Goodall explica que o termo "estresse", palavra
relativamente nova, era originalmente um termo próprio da física ou da
engenharia; referia-se a uma força severa colocada sobre um edifício ou
uma ponte; a meta era construir uma estrutura forte o bastante para resistir o
máximo de estresse; com relação às pessoas, estresse é a resposta não
específica do corpo a qualquer demanda que lhe é feita. O esgotamento
neste caso é a exaustão causada por excessivas demandas de energia, força
ou recursos.

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MOISÉS: UM LÍDER À BEIRA DO ABISMO!

Parte da liderança cristã hodierna está estressada, também, por causa


da filosofia ministerial adotada. Sua visão, às vezes, é egrégia, mas a
prática é incorreta; a missão é santa, mas o método é impróprio. Veja, por
exemplo, o caso de Moisés. Ele recebeu uma tarefa complexa, mas nobre:
libertar Israel, do Egito, e guiá-lo à Canaã. Ciente da imensidão do desafio,
empenhou-se em persuadir Deus, alegando sua péssima dicção, entre outras
deficiências. Mas Deus não aceitou desculpas; antes, supriu suas
fragilidades: quando precisou de um orador, veio Arão; quando estava à
beira de um colapso, apareceu Jetro. Vamos extrair algumas lições de
Êxodo 18.

1. O LÍDER EFICIENTE E EFICAZ DEVE SABER QUE ATIVISMO


PODE SUFOCARA COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA - Um líder sábio,
como Moisés, pode não ver necessidades simples e óbvias nem encontrar
soluções eficientes e eficazes, quando está sobrecarregado. Jetro logo
percebeu um grave erro: o líder estava resolvendo sozinho os problemas de
um povo numeroso; sequer tinha auxiliar. Mesmo os assuntos de pouca
importância careciam de sua apreciação. O atendimento começava de
manhã e estendia até à tarde, pois era apenas um homem para atender uma
nação com cerca de 2 milhões de pessoas. Quando Jetro viu o sofrimento da
massa, questionou a atitude de seu genro: "Que é isto que fazes ao povo?"
(Ex 18.14).

2. O LÍDER EFICIENTE E EFICAZ NÃO DEVE SER


INACESSÍVEL; DEVE, SIM, OUVIR E FAZER O QUE É CERTO! Jetro,
diante do ativismo de seu genro, não culpou os israelitas que não lhe davam
descanso. Mas a atitude de Moisés, como líder, é que estava errada! Jetro
não teceu elogios ao líder de Israel por trabalhar demais. Pelo contrário.
Viu naquela atitude um grave erro. Ele indignou-se quando viu o
agrupamento em pé diante de Moisés, exposto ao sol causticante do
deserto, sem conforto algum, aguardando o momento de ser atendido. Jetro
teve pena de Moisés - e principalmente - do povo. Logo, ao invés de
silenciar-se ou defender o labor estressante de seu parente, questionou-o
severamente, mostrando seus erros gerenciais.

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3. O LÍDER EFICIENTE E EFICAZ E MODESTO - SABE


RECONHECER QUANDO ESTÁ ERRADO E PROCURA FAZER O QUE É
CERTO - Até mesmo um líder eficiente e eficaz está sujeito a erros. Mas é
fato que, ainda assim, sua modéstia o faz aceitar e assumir a
responsabilidade quando algo está errado. Este também foi o caso de
Moisés. O líder de Israel em momento algum parece ter ficado ressentido,
cabisbaixo, descontente com as verdades que Jetro lhe disse; a
confrontação não gerou hostilidade em seu coração; sabia que estava
errado, que sua filosofia ministerial de liderança era inoperante e que
precisava de orientação; não se escondeu atrás do cargo majoritário que
ocupava, nem usou elementos espirituais para tapar a boca de Jetro.
É verdade que, a princípio, quando interpelado sobre seu método
impróprio de gerenciar a nação, procurou esquivar-se da responsabilidade
dizendo que parte da culpa era do burgo: "É porque o povo vem a mim para
consultar a Deus" (Êx 18.15). Claro que a multidão corria a ele sempre que
necessário - ninguém mais fora designado para atendê-la! O povo recorria
ao que estava à disposição. O erro, portanto, estava realmente no estilo
gerencial de Moisés.
A população, embora escolhida por Deus, não tinha autonomia para
levantar líderes, ainda que para amenizar seu desconforto; Moisés, porém,
podia; era ele mesmo o culpado pelo infortúnio do povo uma vez que
assumira o papel de único mediador entre Deus e os homens; era o principal
responsável pelas questões espirituais, no entanto, não bastasse essa função
essencial, ainda decidiu ser a via intermediária das relações humanas.
Moisés, quando ainda consciente de que estava tentando resolver o
problema da população, explica a Jetro: "Quando tem alguma questão vem
a mim, para que eu julgue entre um e outro, e lhes declare os estatutos de
Deus, e as suas leis" (Ex 18.16). Sua explicação, contudo, foi insuficiente
para justificar sua atitude, por isso Jetro lhe respondeu com firmeza: "Não é
bom o que fazes" (Ex 18.17). Apesar dos motivos apresentados, o método
centralista - um líder atender milhões - era totalmente incorreto. A intenção
de servir era boa, mas a prática não merecia louvor algum. Cada problema
poderia ser resolvido direito, com rapidez e eficiência, para tanto bastava
um pequeno ajuste.

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4. O LÍDER EFICIENTE E EFICAZ SABE QUE COM A


CENTRALIZAÇÃO DE PODER TODOS PERDEM!- O monopólio de poder
nas mãos de uma minoria corre o risco de se tornar um entrave à realização
dos ideais do grupo. Embora a centralização exista praticamente em todas
as esferas das relações humanas nem sempre é benéfica. Quando de trata de
liderança cristã a centralização de poder e atividades não apenas é
prejudicial: constitui-se uma oposição ao modelo de liderança ensinado e
praticado por Jesus Cristo. O esgotamento mental, físico, emocional,
psicológico, familiar, conjugal, social e espiritual, anda de mãos dadas com
o exclusivismo, o monopólio. O problema, entretanto, é que nem todos os
líderes cristãos sabem disso. Alguns, talvez, nem tomarão conhecimento de
tal verdade. Outros, quando for tarde demais. O sogro mostrou que se
Moisés não tivesse disposto a mudar rotinas, métodos e maneiras de
trabalhar, a consequência imutável seria a destruição pessoal e coletiva:
"Certamente falecerás, assim como tu, como este povo que está contigo"
(Êx 18.17,18).
Alguns prejuízos causados pela centralização de poder:
1. Excesso de atividades - O líder que se julga capaz de fazer tudo
sozinho termina se envolvendo com todas as tarefas. Impede todas as
iniciativas, bloqueia toda espécie de ajuda, quer fazer tudo por que não acha
que outros sejam tão capazes quanto ele. Ou talvez tenha medo de ver um
subalterno desempenhando uma função e logrando êxitos expressivos;
assim, acumula afazeres e, às vezes, gaba-se do ativismo, alegando que é
bom líder já que está sempre ocupado.
2. Má qualidade - Devido o excesso de tarefas abraçadas, não
consegue fazer direito nem uma e nem outra. Realiza tudo pela metade, e
por fim nada presta. Afinal, líder algum tem a capacidade de se envolver
com todas as funções do ramo em que atua e auferir sucessos notáveis. Isso
é impossível!
3. Inibição de potencial - Além da má qualidade do serviço
prestado, resultante do acúmulo de atividades, um terceiro problema surge
onde impera o egoísmo, o reinado do terror, o monopólio de poder: inibição
de potencial. O teste da liderança eficaz passa por este crivo. Novos e
talentosos líderes simplesmente não revelam-se quando seu superior
assume todas as funções, controla todas as atividades, tomas todas as
decisões.

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5. O LÍDER EFICIENTE E EFICAZ DISTRIBUI TAREFAS E


TODOS GANHAM! - Moisés, foi um líder singular em vários aspectos, mas
parece que fracassou na distribuição de tarefas. Mesmo tendo em Israel
gente gabaritada, capaz de resolver pequenas questiúnculas, não lhe deu
oportunidade para provar suas qualidades; a situação mudou porque Jetro,
alguém de fora, lhe mostrou o erro que estava cometendo. Jetro disse: "O
trabalho te é pesado demais; tu só não podes fazer" (Ex 18.18).
Ed René Kivitz enfatiza que a estrutura judicial do povo de Israel era
precária até que Jetro sugeriu a divisão do povo em pequenos grupos,
dando mais agilidade e funcionalidade ao julgamento das demandas
populares e suprindo com mais rapidez e eficiência a necessidade daquele
imenso rebanho. Mais: livrou Moisés de um estresse, uma úlcera ou um
infarto do miocárdio, se é que isso existia naquele tempo; aliás, se não
existia, Moisés o teria inventado, caso não acatasse o sábio conselho do
sogro!
A liderança eficiente e eficaz, ao invés centralizar poder e tarefas
procura distribui-los à equipe. O líder delega as funções e participa, de
alguma forma, do processo; não pode, aliás, deixar os outros trabalhar e ele
ficar parado! Moisés, por exemplo, seria o líder dos líderes, isto é, se
concentraria nas questões que exigiam mais a sua presença: representar o
povo diante de Deus em oração, ensinar os seus estatutos e as leis, etc. Ex
18.19-23).
Todo líder deveria saber que ninguém é capaz de fazer tudo: nem os
mais qualificados, talentosos, entusiastas, etc. Pode até ser escolhido por
Deus para um propósito específico e insigne, considerar-se o mais santo, o
mais hábil ou o que tenha "maior" poder, todavia sozinho não irá muito
longe. O texto em apreço revela uma curiosa ironia: de um lado havia um
líder trabalhando laboriosamente, do outro homens qualificados sem nada
fazer; um estava sobrecarregado, outros de braços cruzados; era o perfeito
retrato da desordem! Ora, quando o líder trabalha demais há alguém
capacitado "fazendo nada". Não foi por acaso que Jetro censurou a atitude
de Moisés; sua atitude servia apenas para drenar suas energias e penalizar a
nação; sua fadiga era desnecessária; precisava rever sua filosofia miniterial
de liderança. E o que Jetro diria a nós?

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6. O LÍDER EFICIENTE E EFICAZ FAZ ESCOLHAS CERTAS!


Jetro foi uma espécie de mentor: 1) soube identificar a tarefa a ser
conservada - nem tudo estava errado na administração de Moisés; algumas
atitudes desse líder foram recomendadas por Deus, logo, não precisavam
de ajustes. Era mister sua permanência como mediador entre Deus e os
homens, afinal foi ele o escolhido para tal ofício (Êx 18.19,20); esse cargo,
então, deveria ser retido; 2) identificar a tarefa a ser implementada - a
receita de Jetro para evitar a sobrecarga de Moisés e a aflição do povo foi o
treinamento de assessores para algumas questões de menor importância;
eles seriam nomeados pelo próprio Moisés, por vários motivos: a) ele
conhecia o suficiente os homens de Israel, b) sabia quem tinha potencial
para ser um líder, c) impossibilidade de transferir a culpa depois, havendo
fracasso, pois ele mesmo que os escolheu.
Os auxiliares não seriam escolhidos de maneira arbitrária, baseada
em favoritismo pessoal (Êx 18.21), pois tais nomeações são problemáticas,
sempre causam transtornos à obra de Deus; e cada líder deveria, no
mínimo, possuir:
1. Capacidade - haja vista a necessidade constante de tomar
decisões sensatas.
2. Espiritualidade - não adiantava ser capaz e não temer a Deus; para
Jetro, qualificação e espiritualidade caminham lado-a-lado, estão
entrelaçadas; mas também não deveria escolher alguém que tivesse num
padrão elevado de comunhão com Deus, e fosse inapto para desempenhar a
tarefa de tamanha urgência.
3. Vida ética e moral intocável - possuir moral ilibada era uma
maneira de não ceder ao assédio dos judeus desonestos, dispostos a pagar
propina para obter resultados favoráveis.
Cada líder/cabeça seria responsável por certo departamento com
tamanho diferenciado (Êx 18.21b), podendo julgar causas de menor
gravidade; Moisés cuidaria de outras coisas (Êx 18.21) e atenderia os casos
especiais. Ele, desta forma, beneficiou o povo e aliviou a si próprio (Êx
18.22), uma vez que tinha uma equipe para ajudá-lo a "levar a carga", e
"suportar a tensão"(Êx 18.23).
Que a liderança evangélica também seja totalmente participativa,
democrática e colegiada... seja uma liderança de excelência.

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NOTAS
1
MARCONDES FILHO, Juarez. "Fundamentos Bíblicos Para a Liderança
Contemporânea". In KOHL, Manfred W & BARRO, Antônio Carlos (orgs).
Liderança Cristã Transformadora. Londrina: Descoberta, 2006, ps.68,69.
2
BARNA, George. Líderes em Ação. São Paulo: United Press, 1997, p. 19.
3
SANDERS, J. Oswald. Liderança Espiritual São Paulo: Mundo Cristão, 1985, ps.
11,12.
4
CHRISTENSON, Larry. Para Onde Vai a Família? Horizonte: Betânia, 2â ed.,
2001, p.9.
5
MAHANEY, C. J." Liderança Masculina e Bom Senso Feminino". In
GRUDEM, Wayne & RAINEY, Dennis. Famílias Fortes, Igrejas Fortes. São Paulo:
Vida, 2005, p.227.
6
COELHO, Silmar. O que as Mulheres Esperam dos Homens. Rio de Janeiro: Não
Desista, 2001, p.23.
7
MARINS, Luiz A. Socorro! Preciso de Motivação. São Paulo: Harbra, 1995.
8
D'ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Síndrome de Lúcifer. Belo Horizonte: Betânia,
1988.
9
BICKET, Zenas J. "O Caráter do Servo do Senhor". In Pastor Pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006, 5â ed., p.114.
10
KESLER, Neemuel. A Crise de Integridade no Ministério Pastoral. Rio de Janeiro:
CPAD, 2005, ps.9-32.
1
SILVEIRA, Carlos Augusto Froes. "Liderança Está na Moda". In
http:/Avww.institutojetro.com.br 12VINE, W. E. & UNGER, Merril F. & WHITE
(JR), William. Dicionário VINE Rio de Janeiro: CPAD, 2â ed., 2003, ps.57-59.
13
DOUGLAS, J. D. (ed.). & (SHEDD, Russel P). O Novo Dicionário da Bíblia. São
Paulo: Vida Nova, 3â ed. rev., 2006, p.179.
14
VINE & UNGER & WHITE (JR), Op.
Cit., p.69. 15VINE & UNGER &
WHITE (JR), p.687.
16
BARRO, Jorge H. De Cidade em Cidade. Londrina: Descoberta, 2â ed. rev., 2006,
p.107. 17REIS, Daniel. "Liderança Para a Igreja Local". In HORREL, John S. (org.).
Ultrapassando Barreiras. São Paulo: Vida Nova, 1994, p.45
18
DOUGLAS & SHEDD, Op. Cit., ps.559-561.
19
CALDAS, Carlos. Fundamentos da Teologia da Igreja - Coleção Teologia Brasileira.
São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p.73.
20
DUSILEK, Nancy Gonçalves. Liderança Cristã. Rio de Janeiro: JUERP, 5â ed.,
1996, ps.35,36. 21 MEYER, Paul J. & SLECHTA, Randy. Os 05Pilares da
Liderança. São Paulo: Vida, 2007, p. 27. 22MAXWELL, John C. As 21 Irrefutáveis
Leis da Liderança. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p.37. 23BARNA, George.
Desperte o Líder que Há em Você. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.6. 24RIZZO JR,
Miguel. Jesus Cristo. São Paulo: Cultura Cristã, 2a ed., 1989, p.ó. 25HUNTER,
James C. O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 6â ed., p.61. 26PRICE,
J. M. A Pedagogia de Jesus. Rio de Janeiro: JUERP, 9â ed., 1995, ps. 147-161.
27
WILKES, C. Gene. O Último Degrau da Liderança. São Paulo: Mundo Cristão,
2000, p. 254). 28PADILLA, Ivan, Op. Cit., p. 121.
29
SANDERS, J. Oswald. Discipulado Espiritual. Rio de Janeiro: JUERP, 1995,
p.18.
30
MAXWELL, John C. 21 Minutos de Poder na Vida de Um Líder. São Paulo:
Mundo Cristão, 2002.
31
SILVA, Samuel Costa da. Liderança Eficaz. Brasília: Palavra, 2006, ps.25-31.
32
HUNTER, James C, Op. Cit. p.25.
33
BARNA, George, Desperte o Líder que Há em Você, p.7.
34
DUSILEK, Nancy Gonçalves, Op. Cit., p.21.
35
SANDERS, J. Oswald, Liderança Espiritual, p.20.
36
MEYER & SLECHTA, Op. Cit. p.16.
37
DAVIS, Billie. Liderança Eficaz. Campinas: ICI Brasil, 2007, p.16.
38
GOODALL, Wayde I. "Dominando o Estresse e Evitando o Esgotamento", in
Pastor Pentecostal, idem, p.169.
39
KIVITZ, Ed René. "Pequenos Grupos, Uma Velha Novidade". In HORREL,
John S., Op. Cit., p.61.
40
MCNAIR, S. E. A Bíblia Explicada. Rio de Janeiro: CPAD, 10a ed., 1994, p.43.
---------- EIMS, Leroy. A Formação de um Líder. São Paulo: Mundo Cristão,
1998, ps.63-79.

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SÉRIE CRESCER: PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO BÍBLICA-TEOLÓGICA-PRÃTICA

QUESTIONÁRIO
LIDERANÇA
CRISTÃ
*Nome: ________________________________
Sexo: ( )DataNasc._/_/_Natural:„
*End.: __________________________
Bairro:
Cidade: ______________________________________ UF_
CEP: ______________________ Fone: ( __ ) ___________
*Nome completo, sem rasuras, conforme constará no certificado. *
Endereço correto para o qual será enviado o certificado.

I. QUESTÕES TEÓRICAS:

1. A liderança, em geral, parece estar em crise. Cite alguns fatores


que podem estar no subsolo da possível crise.
Resp. ______________________________________________________

2. Jesus Cristo é líder modelo. Descreva, então, marcas da liderança


de Jesus, conforme o texto do Dr. Wander de Lara Proença
Resp. ______________________________________________________

3. Mencione algumas definições de liderança.


Resp. ___________________________________

4. Quais são os prejuízos quando o líder centraliza o poder?


Resp. _______________________________________________

31
II. QUESTÕES AVALIATIVAS:

1. Você exerce alguma função de liderança na sua igreja? Qual?


Comente a respeito de suas atividades enquanto líder.
Resp. ______________________________________________________

2. Qual sua opinião sobre o conteúdo desta disciplina?


Resp. ____________________________________________

3. Como você avalia o seu aproveitamento deste módulo - tempo dedicado


ao estudo da disciplina, comentários importantes suscitados, possíveis
descobertas?
Resp. ______________________________________________________

4. De que maneira você pretende aplicar em sua vida e ministério o que


aprendeu nesta discplina?
Resp. ______________________________________________________

5. Como você avalia a forma como as informações foram transmitidas


pelo professor-escritor: você conseguiu compreender o que ele quis
lhe passar ou teve dificuldades? O que poderia ser melhorado?
Resp. ______________________________________________________

32

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