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caracterização e perspectivas
de desenvolvimento
Eva Milheiro
Escola Superior de Educação
de Portalegre
Turismo e Desenvolvimento
1. Introdução 2. Evolução do turismo e tendências
marcantes
O turismo, pelo estímulo que confere à
economia e ao desenvolvimento técnico e O turismo é um sector com um
social dos países, tem sido encarado, nos substancial impacto económico, especialmente
últimos anos, como um sector de extrema ao nível do emprego e do desenvolvimento
importância por vários governos, ao que regional. Note-se que em Portugal, e de acordo
Portugal não é excepção. com dados da DGT (DGT, 2002, p. 39),
Ao longo da sua curta história ele tem, representa 8% do PIB e emprega mais de
no entanto, sofrido alterações consideráveis no 300,000 pessoas e “gera uma receita anual
que respeita às motivações que levam as bem superior aos 1,300 milhões de contos
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planeta e pelo aparecimento de destinos harmonização monetária (introdução física do
emergentes na Ásia, África do Norte, América Euro);
Latina e Caraíbas; - Tecnologia: desenvolvimento das no-
- apesar de a Europa e as Américas se vas tecnologias de informação e comunicação;
assumirem como as principais regiões progresso da tecnologia dos transportes;
receptoras de turistas (em 2000, cerca de 58% - Política: supressão quase total das
dos turistas internacionais tiveram como barreiras às viagens internacionais; liberalização
destino a Europa e cerca de 19% as Américas), dos transportes e de outros sectores; incremen-
têm vindo a perder quota de mercado, to das políticas sociais;
devido ao progressivo aumento que se tem - Demografia: envelhecimento da
vindo a verificar nos destinos emergentes população e diminuição da mão-de-obra nos
citados; países industrializados, provocando um
- no que respeita à motivação, e segundo aumento de migrações no sentido Sul-Norte;
os dados disponíveis até 1998, as pessoas redução da idade de reforma, e consequente
viajaram essencialmente por motivos de surgimento de um novo segmento de mercado
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divertimento ou gozo de férias (62%), 18% por com características muito particulares e
negócios e 20% por outros motivos (VFR, atractivas para o turismo;
motivos religiosos e de saúde) mas, nos últimos - Tomada de consciência social e
10 anos, tem-se verificado um aumento da ambiental: forte sensibilização da opinião
percentagem de turistas que se deslocaram por pública em relação aos problemas sócio-cultu-
motivos de saúde; rais e do ambiente;
- verifica-se uma tendência para uma - Condições de vida e de trabalho:
diversificação do mercado e para um aumento do stress nas cidades, que tem como
fraccionamento das férias, o que leva as consequência a procura de produtos turísticos
pessoas a viajarem por períodos mais curtos; que favoreçam o relaxamento e a evasão;
- os meios de transporte mais utilizados - Passagem de uma economia de “ser-
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Porém, as características dos próprios ca-se que é na Região Norte que existe um
turistas mudaram nas últimas décadas. Os anos maior número de unidades (372, o que
90 caracterizaram-se por um crescente interes- corresponde a 43% do total), seguindo-se a
se pelo ambiente, pelas actividades culturais e Região Centro (171 – 19,7%), Alentejo (111 –
pelas férias desportivas. Não obstante, os 12,8%), Lisboa e Vale do Tejo (99 – 11,4%),
destinos de férias “sol e praia” continuaram e Madeira (41 – 4,7%) e Algarve (24 – 2,8%)
continuarão a ser predominantes, ainda que em (DGT, 2003).
conjugação com outros produtos (DGT, 2002, Na hotelaria, a progressão também foi
p. 12). positiva (2,4% no período 1990/2000).
A DGT (DGT, 2002, p. 12), segundo as Os hotéis de 4 estrelas (+5%) e as
reflexões internacionais existentes, apresenta pousadas (+6,5%) foram os estabelecimentos
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detectou-se uma regressão média anual no diminuições de 3,1%, 1,4% e 0,2%, respectiva-
período considerado, com resultados de sinal mente (INE, 2004).
contrário para os nacionais (+0,9%) e para os Analisando a importância relativa do
estrangeiros (-4,9%) (DGT, 2002, p. 22). local de residência dos hóspedes verifica-se que,
Considerando o ano de 2000, observa-se em 2003, 69,1% do total das dormidas foram
que as dormidas de nacionais e estrangeiros nos efectuadas por residentes no estrangeiro (+ 0,2%
vários meios de alojamento se distribuem de que em 2002), enquanto que as restantes 30,9%
forma muito diversa. Na hotelaria as dormidas corresponderam aos residentes em Portugal. As
de estrangeiros são consideravelmente dormidas dos turistas nacionais atingiram cerca
superiores (71,3%) às dos nacionais (28,7%); de 10,5 milhões, representando um decréscimo
nos parques de campismo a situação reverte-se homólogo de 1,2%. Estas dormidas concentra-
– os estrangeiros representam 22,1% das ram-se, principalmente, nos hotéis (52,7%), nas
dormidas e os nacionais 77,9%; nas colónias de pensões (17,7%) e nos hotéis-apartamentos
férias e pousadas da juventude a situação é (12,4%). As regiões de destino mais procura-
semelhante, com os nacionais (88%) a das pelos residentes em Portugal foram o
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apresentar valores superiores aos estrangeiros Algarve (28,3%), Lisboa e Vale do Tejo (23,3%)
(12%); no TER as dormidas de nacionais e o Norte (18,7%). De igual forma, as dormidas
representaram 44,3% do total e aos dos estran- dos residentes no estrangeiro apresentaram
geiros 55,7%. No total dos meios de alojamento uma diminuição de 0,1%, comparativamente
verificou-se, em 2000, que as dormidas de com 2002, atingindo um total de cerca de 23,5
estrangeiros (61,4%) foram superiores às dos milhões de dormidas. Os principais mercados
nacionais (38,6%) (DGT, 2002, p. 22). emissores foram o Reino Unido, a Alemanha, a
As dormidas nos estabelecimentos Espanha, os Países Baixos e a França,
hoteleiros classificados (hotéis, hotéis-aparta- totalizando 70,3% das dormidas dos residentes
mentos, apartamentos e aldeamentos turísticos, no estrangeiro. O Algarve, Lisboa e Vale do
motéis, pousadas, estalagens e pensões) Tejo e a Região Autónoma da Madeira foram
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com um peso ainda pouco significativo. 5.6. Turismo dos portugueses
A permanência média de turistas residentes no estrangeiro
estrangeiros que visitam Portugal difere
consoante se inclua, ou não, a Espanha. Se não Muitos são os portugueses residentes no
a incluirmos a permanência média em 2000 estrangeiro (apesar de não haver um conheci-
(DGT, 2002, p. 27) era de 10,7 dias. Com a mento do número exacto devido à inexistência
inclusão da Espanha esta média reduz-se, de uma convergência de valores referidos por
significativamente, para 4 dias. diversas fontes 1 ) que todos os anos passam
uma parte das suas férias em Portugal.
5.4. Perfil médio dos turistas Segundo dados da DGT (DGT, 2002,
estrangeiros p.32), as entradas em Portugal de turistas
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1996 para 53% em 2000). No ano 2001 registou- Em relação aos alojamentos utilizados em
se, no entanto, um decréscimo tanto no total de férias, os alojamentos privados - casa de
portugueses que gozaram férias (70%), como familiares/amigos, constituíram a principal
nos que o fizeram fora da residência (51%). opção dos portugueses (36% em 2002, contra
Em 2002 registou-se uma diminuição no total 40% em 1997). Assinale-se a comparticipação
de portugueses que gozaram férias (66%), mas acrescida da hotelaria, que constitui o único
um aumento nos que o fizeram fora da residên- sector com claro reforço das escolhas entre 1997
cia (52%) (DGT, 2003). e 2002 (subida de 16% para 30%) (DGT, 2003).
As maiores taxas de gozo de férias No que respeita ao ambiente de gozo de
localizam-se nos residentes da Grande Lisboa e férias, a “praia” é claramente predominante
no Grande Porto e em localidades com maior (70% em 2000). Contudo, os ambientes
número de habitantes, nos grupos etários “cidade” e “campo” apresentam já valores
inferiores a 34 anos e nos estratos significativos com, respectivamente, 29% e 30%
sócio-económicos “Alto e Médio Alto”. Contu- das preferências.
do, nos últimos anos, tem-se assistido a uma No ano de 2000, 34% dos portugueses
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férias fora da residência se concentram no mês algum significado nos casos dos destinos para o
de Agosto. estrangeiro, para as regiões autónomas e para
Outro ponto fundamental relacionado com o Algarve. Ao nível interno, os preços das
o comportamento dos portugueses em férias agências de viagens não se revelam atractivos
prende-se com os locais de destino escolhidos para os portugueses, revelando a inexistência
dentro do país. O Algarve tem reforçado a sua de operadores especializados para o mercado
posição como primeira zona de destino, interno. Em relação aos serviços requeridos,
seguindo-se as áreas de “Lisboa e Vale do Tejo” verifica-se que 54% (em 2000) recorreu às
e o “Porto e Norte de Portugal”. agências para organização da viagem comple-
Da população que gozou férias fora da ta, 26% apenas para reserva de alojamento,
residência, cerca de um milhão de portugueses 22% para reserva de transporte e 23% para
deslocaram-se ao estrangeiro em 2000, sendo informações gerais.
que o destino mais procurado foi a Espanha Em relação à preparação das férias no
(absorveu 59% das saídas dos portugueses para ano 2000, é visível uma tendência por parte dos
o estrangeiro em férias), seguindo-se a França portugueses para recorrerem à Internet para
(14%), e a Itália e o Brasil, com 5%. No procurar informação sobre férias (645 milha-
entanto, se considerarmos o mercado total e não res), sendo que alguns (58 milhares) utilizaram
apenas o mercado de férias (deslocações para esta via para efectuar reservas, em particular
fora da residência por razões não profissionais de alojamento.
e por um período não inferior a 4 dias), estes
valores aumentam. Nos anos de 2001 e 2002 a 6. Perspectivas futuras
percentagem de portugueses que gozou férias
no estrangeiro diminuiu (894 milhares e 972 Actualmente o turismo é um dos sectores
milhares, respectivamente), mas continuaram a mais relevantes para a economia nacional. Para
ser a Espanha e a França os destinos mais 2003, estima-se que o sector represente 6,5%
procurados. do emprego nacional e 8% do PIB. As receitas
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directo pela indústria, atingindo o número perecibilidade e internacionalidade.
absoluto de 373 mil empregos em 2013. O total Em Portugal assistimos a uma concen-
de emprego directo e indirecto gerado pela tração da oferta e da procura turísticas em zo-
Indústria de Viagens, Turismo e Lazer na nas bem identificadas, sendo o Algarve, Lisboa
economia portuguesa poderá atingir 955,500 e Vale do Tejo e a Região Autónoma da Madei-
empresas em 2013; ra as principais regiões de destino dos turistas,
- 6,8%/ ano nas receitas turísticas, que concentrando 80,0% do total das dormidas e a
poderão atingir o valor global de 14 mil milhões maior capacidade em termos de oferta de
de euros em 2013; alojamento (72,9% das camas em estabeleci-
- 2,8%/ ano em termos de investimento, mentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos
que poderá atingir o valor global de 7,8 mil turísticos 2 ). No entanto, em virtude das
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No que respeita ao turismo interno, Costa C. 2000. O papel e a posição do sector privado na
verifica-se que os portugueses gozam cada vez construção de uma nova política para o turismo
em Portugal. In Seminário – Novas Estratégias
mais férias fora da sua residência habitual, para o Turismo, Associação Empresarial de
sendo no entanto ainda pouco habitual a Portugal: Europarque: 65-87.
repartição das férias por vários períodos. Em Milheiro E. Melo C. 2003. A interacção entre o sector
Portugal o destino preferido é o Algarve e no bancário e o turismo – os serviços e os turistas
portugueses. In Revista Turismo & Desenvolvi-
estrangeiro a Espanha, sendo o ambiente do gozo
mento. Universidade de Aveiro.
de férias predominante a praia. ICEP. 2003. Novo Plano de Desenvolvimento do Turismo
Num futuro próximo, prevê-se que o Português. (URL:http: profissionais.portugalin
turismo se torne no sector motor do desenvolvi- site.pt [conferido em 5/08/2003]).
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impacto na criação de emprego e no investi- (URL:http://profissionais.portugalinsite.pt [conferido em
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Turismo e Desenvolvimento
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