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O turismo em Portugal:

caracterização e perspectivas
de desenvolvimento
Eva Milheiro
Escola Superior de Educação
de Portalegre

Turismo e Desenvolvimento
1. Introdução 2. Evolução do turismo e tendências
marcantes
O turismo, pelo estímulo que confere à
economia e ao desenvolvimento técnico e O turismo é um sector com um
social dos países, tem sido encarado, nos substancial impacto económico, especialmente
últimos anos, como um sector de extrema ao nível do emprego e do desenvolvimento
importância por vários governos, ao que regional. Note-se que em Portugal, e de acordo
Portugal não é excepção. com dados da DGT (DGT, 2002, p. 39),
Ao longo da sua curta história ele tem, representa 8% do PIB e emprega mais de
no entanto, sofrido alterações consideráveis no 300,000 pessoas e “gera uma receita anual
que respeita às motivações que levam as bem superior aos 1,300 milhões de contos

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pessoas a viajar, aos destinos e atracções que são habitualmente apresentados nas
escolhidos e à natureza e características das estatísticas oficiais, uma vez que não exis-
viagens. tem ainda dados rigorosos sobre o impacto
Portugal é um destino que, devido aos seus das férias, e do lazer, dos portugueses e do
recursos primários e secundários, se encontra efeito multiplicador provocado pelo turismo
numa posição privilegiada no ranking dos na economia nacional” (Costa, 2001).
destinos mundiais. A um nível mais abrangente, podemos
O turismo neste país tem acompanhado, afirmar que o turismo foi (durante o século XX),
se bem que com algum atraso, as tendências do e continuará a ser, um fenómeno económico e
sector a nível internacional e, actualmente, é um social com uma extraordinária importância, e
dos sectores com mais impacto na economia que apresenta um crescimento muito superior a
nacional. qualquer outro sector de actividade económica.
Neste artigo veremos como o sector Note-se que o número de chegadas internacio-
evoluiu, em termos mundiais, na Europa e, em nais passou de 25 milhões em 1950 para 699
particular, em Portugal, faremos uma caracteri- milhões em 2000, o que se traduziu numa taxa
zação da oferta e procura turísticas do país, de crescimento média anual de 7% (DGT, 2002,
apresentaremos as principais tendências que irão p.6)! Em 2002, o número de chegadas interna-
marcar o sector a nível mundial e nacional e cionais de turistas em todo o mundo excedeu,
procuraremos traçar um perfil do turista em pela primeira vez na história, a marca dos 700
termos mundiais e para o mercado nacional. milhões (Anselmo, 2003).
Ao longo da sua curta existência, sobres-
saem, porém, algumas tendências que importa
realçar (DGT, 2002, p. 7), nomeadamente:
- expansão generalizada acompanhada de
uma dispersão crescente dos turistas pelo

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planeta e pelo aparecimento de destinos harmonização monetária (introdução física do
emergentes na Ásia, África do Norte, América Euro);
Latina e Caraíbas; - Tecnologia: desenvolvimento das no-
- apesar de a Europa e as Américas se vas tecnologias de informação e comunicação;
assumirem como as principais regiões progresso da tecnologia dos transportes;
receptoras de turistas (em 2000, cerca de 58% - Política: supressão quase total das
dos turistas internacionais tiveram como barreiras às viagens internacionais; liberalização
destino a Europa e cerca de 19% as Américas), dos transportes e de outros sectores; incremen-
têm vindo a perder quota de mercado, to das políticas sociais;
devido ao progressivo aumento que se tem - Demografia: envelhecimento da
vindo a verificar nos destinos emergentes população e diminuição da mão-de-obra nos
citados; países industrializados, provocando um
- no que respeita à motivação, e segundo aumento de migrações no sentido Sul-Norte;
os dados disponíveis até 1998, as pessoas redução da idade de reforma, e consequente
viajaram essencialmente por motivos de surgimento de um novo segmento de mercado
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divertimento ou gozo de férias (62%), 18% por com características muito particulares e
negócios e 20% por outros motivos (VFR, atractivas para o turismo;
motivos religiosos e de saúde) mas, nos últimos - Tomada de consciência social e
10 anos, tem-se verificado um aumento da ambiental: forte sensibilização da opinião
percentagem de turistas que se deslocaram por pública em relação aos problemas sócio-cultu-
motivos de saúde; rais e do ambiente;
- verifica-se uma tendência para uma - Condições de vida e de trabalho:
diversificação do mercado e para um aumento do stress nas cidades, que tem como
fraccionamento das férias, o que leva as consequência a procura de produtos turísticos
pessoas a viajarem por períodos mais curtos; que favoreçam o relaxamento e a evasão;
- os meios de transporte mais utilizados - Passagem de uma economia de “ser-
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são o aéreo e o rodoviário, em contraponto à viços” a uma economia de “experiências”,


extraordinária importância que tiveram os com a procura de experiências únicas e indivi-
transportes ferroviários e marítimos no início da dualizadas;
expansão do turismo; - Marketing: utilização da tecnologia
- os principais mercados de origem electrónica para identificar segmentos de
concentram-se nos países industrializados da mercado e para concretizar acções importan-
Europa, América, Ásia Ocidental e Pacífico, sen- tes de comunicação e promoção;
do que a Europa fornece a maior quantidade de - Segurança das viagens e dos
turistas internacionais; destinos: o turismo não se expandirá para os
- quanto às receitas atribuídas ao destinos onde exista agitação social, guerra ou
turismo, a Europa, apesar de ter perdido 13,0 riscos de terrorismo, nem para aqueles que dêem
pontos percentuais nos últimos 30 anos, uma imagem negativa das condições de saúde
continua a possuir a quota mais elevada (48,6% ou de segurança oferecidas aos turistas.
em 2000); Estes factores irão conjugar-se não só no
- as previsões da OMT apontam para um sentido do desenvolvimento do turismo organi-
valor das receitas do turismo mundial que zado, mas também do turismo individual, com
poderá rondar os 2 biliões de dólares america- uma grande variedade de motivações, o que
nos em 2020 (crescimento anual de 6 a 7%). implica a necessidade de prestar uma melhor e
Quanto a previsões futuras, e segundo a mais completa informação ao turista, cujo perfil
OMT (DGT, 2002, p. 10) e Goeldner (Goeldner também tem vindo a mudar.
et al, 2000, p. 691), a actividade turística
evoluirá em função de algumas influências e 3. Perfil do turista
factores determinantes, de que se destacam:
- Economia: aumento dos rendimentos Uma série de factores se conjugaram e
das famílias; importância crescente de novas possibilitaram um aumento do turismo, como
economias (China, Índia, Brasil e Rússia); forma de ocupar o tempo de lazer. A melhoria

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das condições de vida, a redução do tempo de pansão, sendo um dos principais sectores cria-
trabalho e o consequente alargamento do dores de emprego e um dos que mais contribui-
tempo de lazer, a conquista do direito às férias rá para o desenvolvimento individual e colectivo.
pagas e a redução da idade da reforma, a
ampliação da esperança de vida, aliados às 5. O turismo em Portugal
rápidas e profundas inovações tecnológicas e
nos sistemas de transportes, nas acessibilida- 5.1. A oferta turística (alojamento)
des e comunicações, bem como o aumento dos
rendimentos disponíveis, possibilitaram um A capacidade de alojamento recenseado
aumento significativo do turismo. em Portugal tem vindo a aumentar, principal-
Diversas “áreas-destino”, das quais se mente no que respeita a unidades de Turismo
destaca Portugal, passaram a receber grandes no Espaço Rural (TER), cuja variação média
fluxos de visitantes de zonas do globo menos anual foi de 13,3%, no período 1990/2000 (DGT,
atractivas em termos de mercado “sun-sea- 2002, p. 20). No que respeita à distribuição
sand” (Costa, 2001). geográfica do TER (em finais de 2002), verifi-

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Porém, as características dos próprios ca-se que é na Região Norte que existe um
turistas mudaram nas últimas décadas. Os anos maior número de unidades (372, o que
90 caracterizaram-se por um crescente interes- corresponde a 43% do total), seguindo-se a
se pelo ambiente, pelas actividades culturais e Região Centro (171 – 19,7%), Alentejo (111 –
pelas férias desportivas. Não obstante, os 12,8%), Lisboa e Vale do Tejo (99 – 11,4%),
destinos de férias “sol e praia” continuaram e Madeira (41 – 4,7%) e Algarve (24 – 2,8%)
continuarão a ser predominantes, ainda que em (DGT, 2003).
conjugação com outros produtos (DGT, 2002, Na hotelaria, a progressão também foi
p. 12). positiva (2,4% no período 1990/2000).
A DGT (DGT, 2002, p. 12), segundo as Os hotéis de 4 estrelas (+5%) e as
reflexões internacionais existentes, apresenta pousadas (+6,5%) foram os estabelecimentos

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algumas características do turista do futuro, que registaram as taxas de crescimento de
nomeadamente a sua necessidade de informa- camas mais elevadas, enquanto que as pensões
ção; exigência de qualidade; necessidade de (-1,2%) e os aldeamentos turísticos (-1,8%)
férias activas/ desportivas; uso crescente da revelaram quebras na lotação em camas no
segunda residência ou apartamento de férias; decurso da década em apreço. Os hotéis de 5
recurso mais forte a férias individuais; recurso estrelas também registaram uma expansão,
mais frequente a pequenas pausas e a férias sendo vísivel o reforço qualitativo operado na
secundárias fora da época alta, além da oferta de alojamento disponível.
redução das férias principais, o que contribuirá Em 2001, a distribuição da capacidade de
para uma melhor distribuição sazonal dos movi- alojamento no país fazia-se da seguinte forma:
mentos turísticos; sofisticação dos padrões de o Algarve era a região com maior capacidade
consumo dos potenciais turistas; interesse pela (86.751 camas), seguido de Lisboa e Vale do
vivência de experiências de índole cultural; Tejo (53.628 camas), Norte (29.523 camas),
consciência e exigência do “value for money”. Madeira (26.532 camas), Centro (20.099
camas), Alentejo (7.318 camas) e Açores (4.814
4. O turismo na União Europeia camas) (DGT, 2003).

Apesar da emergência de novos 5.2. Movimento nos meios de


destinos, nomeadamente da Ásia, África do alojamento recenseados
Norte, América Latina e Caraíbas, a Europa con-
tinuará a ser a principal área receptora do turis- No período 1990/2000, observa-se que o
mo internacional (em 2000, os países da UE ab- aumento mais considerável de dormidas totais
sorveram 70,3% dos movimentos turísticos ao (hóspedes nacionais e estrangeiros) nos vários
nível europeu e 40,6% da totalidade dos fluxos meios de alojamento recenseados se verifica no
mundiais (DGT, 2002, p.14)), prevendo-se que TER (+20,7% ao ano) e na hotelaria (+3,6% ao
o turismo neste continente continuará em ex- ano). Nas dormidas em parques de campismo

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detectou-se uma regressão média anual no diminuições de 3,1%, 1,4% e 0,2%, respectiva-
período considerado, com resultados de sinal mente (INE, 2004).
contrário para os nacionais (+0,9%) e para os Analisando a importância relativa do
estrangeiros (-4,9%) (DGT, 2002, p. 22). local de residência dos hóspedes verifica-se que,
Considerando o ano de 2000, observa-se em 2003, 69,1% do total das dormidas foram
que as dormidas de nacionais e estrangeiros nos efectuadas por residentes no estrangeiro (+ 0,2%
vários meios de alojamento se distribuem de que em 2002), enquanto que as restantes 30,9%
forma muito diversa. Na hotelaria as dormidas corresponderam aos residentes em Portugal. As
de estrangeiros são consideravelmente dormidas dos turistas nacionais atingiram cerca
superiores (71,3%) às dos nacionais (28,7%); de 10,5 milhões, representando um decréscimo
nos parques de campismo a situação reverte-se homólogo de 1,2%. Estas dormidas concentra-
– os estrangeiros representam 22,1% das ram-se, principalmente, nos hotéis (52,7%), nas
dormidas e os nacionais 77,9%; nas colónias de pensões (17,7%) e nos hotéis-apartamentos
férias e pousadas da juventude a situação é (12,4%). As regiões de destino mais procura-
semelhante, com os nacionais (88%) a das pelos residentes em Portugal foram o
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apresentar valores superiores aos estrangeiros Algarve (28,3%), Lisboa e Vale do Tejo (23,3%)
(12%); no TER as dormidas de nacionais e o Norte (18,7%). De igual forma, as dormidas
representaram 44,3% do total e aos dos estran- dos residentes no estrangeiro apresentaram
geiros 55,7%. No total dos meios de alojamento uma diminuição de 0,1%, comparativamente
verificou-se, em 2000, que as dormidas de com 2002, atingindo um total de cerca de 23,5
estrangeiros (61,4%) foram superiores às dos milhões de dormidas. Os principais mercados
nacionais (38,6%) (DGT, 2002, p. 22). emissores foram o Reino Unido, a Alemanha, a
As dormidas nos estabelecimentos Espanha, os Países Baixos e a França,
hoteleiros classificados (hotéis, hotéis-aparta- totalizando 70,3% das dormidas dos residentes
mentos, apartamentos e aldeamentos turísticos, no estrangeiro. O Algarve, Lisboa e Vale do
motéis, pousadas, estalagens e pensões) Tejo e a Região Autónoma da Madeira foram
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alcançaram, em 2003, cerca de 34,1 milhões, os principais destinos dos residentes no


representando uma diminuição de 0,4%, face a estrangeiro, concentrando 46,5%, 21,9% e
2002 (INE, 2004). 21,5%, respectivamente, do total destas
Em 2003, as regiões que registaram dormidas (INE, 2004).
crescimentos homólogos no total de dormidas
foram a Região Autónoma dos Açores (3,4%), 5.3. Turismo externo
o Centro (2,6%) e a Região Autónoma da Ma-
deira (2,0%). As restantes regiões apresentaram Portugal, apesar do aumento significati-
diminuições, nomeadamente o Alentejo (-6,2%), vo dos portugueses a fazerem férias fora do
o Norte (-4,1%), Lisboa e Vale do Tejo (-1,2%) país e consequente aumento das despesas
e o Algarve (-0,4%). O Algarve foi, em 2003, a turísticas, continua, no entanto, a ser um país
região de destino mais procurada pelos predominantemente receptor.
turistas, concentrando 41,8% do total das dor- Actualmente, Portugal é o 16º destino
midas. Seguiu-se Lisboa e Vale do Tejo (21,9%) turístico mundial, sendo destino de férias para
e a Região Autónoma da Madeira (16,4%) (INE, cerca de 12 milhões de turistas estrangeiros e
2004). para 4 milhões de turistas nacionais (ICEP,
Por tipo de estabelecimentos, os hotéis, 2003).
os hotéis-apartamentos, os apartamentos Ao analisarmos as estatísticas relativas
turísticos e as pensões concentraram, em 2003, ao turismo externo, verificamos que as
90,8% do total das dormidas observadas. chegadas de estrangeiros às fronteiras
Analisando apenas estas categorias de portuguesas entre 1990 e 2000 (DGT, 2002, p.
estabelecimentos, os apartamentos turísticos 26) apresentaram um crescimento médio anual
foram os únicos a registar uma variação de 4,3%, tendo passado de 18422,1 milhares
homóloga positiva de 3,3%, do total de para 28014,0 milhares.
dormidas. Pelo contrário, as pensões, os A Espanha é o nosso principal mercado
hotéis-apartamentos e os hotéis apresentaram emissor, tendo sido o seu peso em 2000

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de cerca de 75,6% em relação ao total de 5.5. Quotas internacionais de
chegadas de estrangeiros. No entanto, no que mercado
respeita às dormidas o seu peso não é tão
acentuado, dada a sua proximidade que faz com As posições do destino Portugal têm-se
que frequentemente os espanhóis sejam mantido estáveis no confronto internacional
visitantes de apenas um dia (excursionistas). (DGT, 2002, p. 32). Portugal dispõe de uma
Os dez principais mercados externos que penetração muito forte no mercado espanhol,
procuram Portugal são, por ordem de grandeza: onde se assume como o primeiro destino (40,5%
a Espanha, o Reino Unido, a Alemanha, a do total); nos restantes mercados, Portugal
França, os EUA, a Holanda, a Suécia, o Brasil, detém quotas ligeiramente acima dos 3% nos
a Itália e a Bélgica. casos do Reino Unido e da França e inferiores
Relativamente às vias de acesso, a 2% para a Holanda, Itália e Alemanha, sendo
verifica-se que a via terrestre é a mais utilizada, que no Canadá, Japão e EUA não ultrapassa os
devido aos fluxos de visitantes espanhóis, 0,5%.
seguido das vias aérea e marítima, esta última

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com um peso ainda pouco significativo. 5.6. Turismo dos portugueses
A permanência média de turistas residentes no estrangeiro
estrangeiros que visitam Portugal difere
consoante se inclua, ou não, a Espanha. Se não Muitos são os portugueses residentes no
a incluirmos a permanência média em 2000 estrangeiro (apesar de não haver um conheci-
(DGT, 2002, p. 27) era de 10,7 dias. Com a mento do número exacto devido à inexistência
inclusão da Espanha esta média reduz-se, de uma convergência de valores referidos por
significativamente, para 4 dias. diversas fontes 1 ) que todos os anos passam
uma parte das suas férias em Portugal.
5.4. Perfil médio dos turistas Segundo dados da DGT (DGT, 2002,
estrangeiros p.32), as entradas em Portugal de turistas

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portugueses residentes no estrangeiro ascende-
O grupo etário mais frequente é o dos 45 ram a cerca de 2,0 milhões em 1998, contra 1,7
a 59 anos (33,9%) seguindo-se o grupo dos 30 milhões em 1994. A permanência média foi de
aos 44 anos (25,7%) (DGT, 2002, p. 28). 17 dias e as entradas concentram-se predomi-
No que respeita às profissões, a mais nantemente no trimestre de Julho a Setembro.
comum é a de “empregado de serviços” O potencial de emissão para Portugal de
(16,9%), seguindo-se as profissões “científicas, portugueses residentes no estrangeiro concen-
técnicas e liberais” (15,9%) e as profissões de tra-se em quatro países – França, EUA,
“comércio e vendas” (14,5%). Canadá e Brasil.
Em relação à motivação, constata-se que A maioria deste turistas aloja-se em casa
64,3% dos turistas que visitaram Portugal entre própria, ou de familiares e amigos, sendo que a
1993 e 1999, fizeram-no por motivo de férias, criação de programas especiais na hotelaria de
sendo a segunda posição ocupada pela visita a 2 noites, em complemento da estadia tradicio-
familiares e amigos (11,9%), seguindo-se a nal, poderia produzir um valor de 4 milhões de
deslocação por motivos de negócios (8,3%), dormidas por ano (DGT, 2002, p.33), o que é
actividades profissionais (6,6%) e fins culturais ilustrativo do potencial deste mercado.
(2,4%).
No que respeita aos gastos efectuados, 5.7. Turismo interno
verifica-se que o gasto médio geral dos turistas
estrangeiros que visitaram Portugal em 2000 teve Se apreciarmos a evolução no período de
um aumento assinalável (+14,9%) comparati- 1996 a 2000, verificamos que a taxa de gozo de
vamente com o mesmo gasto médio em 1999. férias da população maior de 15 anos residente
no Continente, quase que duplicou, passando de
37% para 71% (DGT, 2002, p.33). Consideran-
do apenas as férias fora da residência, o valor é
ainda mais significativo (passou de 25% em

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1996 para 53% em 2000). No ano 2001 registou- Em relação aos alojamentos utilizados em
se, no entanto, um decréscimo tanto no total de férias, os alojamentos privados - casa de
portugueses que gozaram férias (70%), como familiares/amigos, constituíram a principal
nos que o fizeram fora da residência (51%). opção dos portugueses (36% em 2002, contra
Em 2002 registou-se uma diminuição no total 40% em 1997). Assinale-se a comparticipação
de portugueses que gozaram férias (66%), mas acrescida da hotelaria, que constitui o único
um aumento nos que o fizeram fora da residên- sector com claro reforço das escolhas entre 1997
cia (52%) (DGT, 2003). e 2002 (subida de 16% para 30%) (DGT, 2003).
As maiores taxas de gozo de férias No que respeita ao ambiente de gozo de
localizam-se nos residentes da Grande Lisboa e férias, a “praia” é claramente predominante
no Grande Porto e em localidades com maior (70% em 2000). Contudo, os ambientes
número de habitantes, nos grupos etários “cidade” e “campo” apresentam já valores
inferiores a 34 anos e nos estratos significativos com, respectivamente, 29% e 30%
sócio-económicos “Alto e Médio Alto”. Contu- das preferências.
do, nos últimos anos, tem-se assistido a uma No ano de 2000, 34% dos portugueses
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redução das assimetrias existentes. maiores de 15 anos gozaram fins-de-semana


A taxa de gozo de férias fraccionadas é fora da residência, o que constituiu o valor mais
ainda reduzida em Portugal, já que segundo os elevado de sempre.
dados oficiais (DGT, 2002, p. 35), apenas 32% Relativamente à forma de organização da
dos portugueses que gozaram férias fora da viagem, verifica-se que a utilização dos
residência procederam à sua repartição, em serviços das agências de viagens para prepara-
2000, o que constituiu, no entanto, um aumento ção das férias fora da residência habitual é
(em 1996, apenas 6% o fazia). baixa, apesar dos aumentos detectados nos
No que respeita à sazonalidade, verifica- últimos anos (21% em 2002 e 12% em 1998).
se que esta continua a ser uma das principais No entanto, o recurso a agências de viagens na
fragilidades do turismo português, já que 2/3 das preparação das deslocações apenas atinge
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férias fora da residência se concentram no mês algum significado nos casos dos destinos para o
de Agosto. estrangeiro, para as regiões autónomas e para
Outro ponto fundamental relacionado com o Algarve. Ao nível interno, os preços das
o comportamento dos portugueses em férias agências de viagens não se revelam atractivos
prende-se com os locais de destino escolhidos para os portugueses, revelando a inexistência
dentro do país. O Algarve tem reforçado a sua de operadores especializados para o mercado
posição como primeira zona de destino, interno. Em relação aos serviços requeridos,
seguindo-se as áreas de “Lisboa e Vale do Tejo” verifica-se que 54% (em 2000) recorreu às
e o “Porto e Norte de Portugal”. agências para organização da viagem comple-
Da população que gozou férias fora da ta, 26% apenas para reserva de alojamento,
residência, cerca de um milhão de portugueses 22% para reserva de transporte e 23% para
deslocaram-se ao estrangeiro em 2000, sendo informações gerais.
que o destino mais procurado foi a Espanha Em relação à preparação das férias no
(absorveu 59% das saídas dos portugueses para ano 2000, é visível uma tendência por parte dos
o estrangeiro em férias), seguindo-se a França portugueses para recorrerem à Internet para
(14%), e a Itália e o Brasil, com 5%. No procurar informação sobre férias (645 milha-
entanto, se considerarmos o mercado total e não res), sendo que alguns (58 milhares) utilizaram
apenas o mercado de férias (deslocações para esta via para efectuar reservas, em particular
fora da residência por razões não profissionais de alojamento.
e por um período não inferior a 4 dias), estes
valores aumentam. Nos anos de 2001 e 2002 a 6. Perspectivas futuras
percentagem de portugueses que gozou férias
no estrangeiro diminuiu (894 milhares e 972 Actualmente o turismo é um dos sectores
milhares, respectivamente), mas continuaram a mais relevantes para a economia nacional. Para
ser a Espanha e a França os destinos mais 2003, estima-se que o sector represente 6,5%
procurados. do emprego nacional e 8% do PIB. As receitas

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estimadas ascendem a 6,500 milhões de euros Este crescimento do turismo tem estado
(ICEP, 2003). intrinsecamente ligado aos desenvolvimentos
O World Travel and Tourism Council tecnológicos que ocorreram, seja ao nível dos
(ICEP, 2003), apresenta para Portugal as transportes, seja ao nível das comunicações e
seguintes previsões para o crescimento médio informação.
anual num horizonte de 10 anos (2003-2013), As mudanças nos estilos de vida e
da Indústria de Viagens, Turismo e Lazer e preferências dos consumidores acarretaram
respectivo impacto na economia portuguesa: mudanças no processo de decisão de compra
- 3,9%/ ano na actividade económica dos produtos relacionados com as viagens e o
gerada atingindo o valor global de 51,2 mil mi- turismo. As características do turista do futuro
lhões de euros em 2013; passam por uma maior necessidade de infor-
- 3,9%/ ano na contribuição directa do mação, por uma exigência de qualidade e rapi-
turismo para o PIB, que poderá atingir o valor dez de serviços, o que é enfatizado pelas pró-
global de 14,1 biliões em 2013; prias características do produto turístico, nome-
- 1,8%/ ano na criação de emprego adamente a sua intangibilidade, heterogeneidade,

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directo pela indústria, atingindo o número perecibilidade e internacionalidade.
absoluto de 373 mil empregos em 2013. O total Em Portugal assistimos a uma concen-
de emprego directo e indirecto gerado pela tração da oferta e da procura turísticas em zo-
Indústria de Viagens, Turismo e Lazer na nas bem identificadas, sendo o Algarve, Lisboa
economia portuguesa poderá atingir 955,500 e Vale do Tejo e a Região Autónoma da Madei-
empresas em 2013; ra as principais regiões de destino dos turistas,
- 6,8%/ ano nas receitas turísticas, que concentrando 80,0% do total das dormidas e a
poderão atingir o valor global de 14 mil milhões maior capacidade em termos de oferta de
de euros em 2013; alojamento (72,9% das camas em estabeleci-
- 2,8%/ ano em termos de investimento, mentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos
que poderá atingir o valor global de 7,8 mil turísticos 2 ). No entanto, em virtude das

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milhões de euros em 2013. alterações do comportamento do consumidor,
Assim, o cluster Turismo e Lazer, outras regiões do país tendem a aumentar a sua
passará a assumir o papel de motor capacidade de oferta, principalmente com
incontornável do modelo de desenvolvimento formas alternativas de alojamento, como é o
económico do país. Ainda neste cluster, há que TER e uma tendência para o aumento das
apostar no papel que várias regiões do país residências secundárias. Assiste-se, igualmen-
podem assumir como locais privilegiados de te, a uma qualificação ao nível da oferta
residência temporária ou permanente para um turística nacional.
importante segmento da procura europeia e Ao nível dos principais produtos, o Sol e
mundial do fenómeno de 2ª residência ou Praia continuará a ser o principal, no entanto,
residência de férias e lazer, em especial os produtos alternativos e complementares,
reformados e seniores. São os casos do Alentejo, principalmente aqueles relacionados com a saú-
Grande Lisboa, as zonas de montanha, o de, o relaxamento e o contacto com o ambiente
Douro, a Madeira e, especialmente, o Algarve. natural assumirão uma importância crescente
no âmbito da oferta turística nacional.
7. Conclusão Em relação ao mercado externo,
Portugal está muito dependente dum número
O turismo é um sector cuja tendência de reduzido de países emissores, sendo de salien-
crescimento tem sido imparável (ainda que com tar que a Espanha, pela sua proximidade, é o
alguns abrandamentos, por vezes, devido à nosso principal mercado emissor, com um peso
instabilidade económica ou a riscos relaciona- de 75,6% em relação ao total de chegadas
dos com a insegurança dos destinos, quer internacionais, sendo responsável pela diminui-
devido a causas naturais, quer causada por ção da permanência média nos últimos anos.
atentados, por exemplo), tendência que se pre- Ao nível do turismo externo não será de
vê continuar nos próximos anos, ainda que a um descurar o potencial do mercado dos portugue-
ritmo mais lento, no que concerne a Portugal. ses residentes no estrangeiro.

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No que respeita ao turismo interno, Costa C. 2000. O papel e a posição do sector privado na
verifica-se que os portugueses gozam cada vez construção de uma nova política para o turismo
em Portugal. In Seminário – Novas Estratégias
mais férias fora da sua residência habitual, para o Turismo, Associação Empresarial de
sendo no entanto ainda pouco habitual a Portugal: Europarque: 65-87.
repartição das férias por vários períodos. Em Milheiro E. Melo C. 2003. A interacção entre o sector
Portugal o destino preferido é o Algarve e no bancário e o turismo – os serviços e os turistas
portugueses. In Revista Turismo & Desenvolvi-
estrangeiro a Espanha, sendo o ambiente do gozo
mento. Universidade de Aveiro.
de férias predominante a praia. ICEP. 2003. Novo Plano de Desenvolvimento do Turismo
Num futuro próximo, prevê-se que o Português. (URL:http: profissionais.portugalin
turismo se torne no sector motor do desenvolvi- site.pt [conferido em 5/08/2003]).
mento económico do país, com um substancial ICEP. 2003 b. Newsletter Turismo Mercados Emissores,
nº 7, ano VII, Julho 2003.
impacto na criação de emprego e no investi- (URL:http://profissionais.portugalinsite.pt [conferido em
mento, e um grande peso ao nível do PIB. 1/10/2003]).
ICEP. 2003 c. Follow Up do 3º Relatório Vector 21/ Icep
Portugal – Portugal inSite a Hotelaria
Portuguesa na Internet. (URL:http:/
Turismo e Desenvolvimento

Notas: profissionais.portugalinsite.pt [conferido em 5/


1
08/2003]).
Os dados mais credíveis, da Direcção-Geral dos
INE. 2004. Actividade Turística de Janeiro a Dezembro
Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas,
de 2003.
apontam para um total de 4,6 milhões, sendo que a
Instituto de Financiamento e apoio ao Turismo. Procura
maioria reside na América (DGT, 2002, p. 32).
2
Turística – Janeiro a Dezembro de 2002.
Nos estabelecimentos hoteleiros incluem-se os hotéis,
(URL:http://www.ifturismo.min-economia.pt
hotéis-apartamentos, motéis, pousadas, estalagens,
[conferido em 27/8/2003])
albergarias e pensões.
Ministério da Economia, Gabinete do Ministro. 2003.
Plano de Desenvolvimento do Turismo, Síntese
das Medidas.
Escola Superior de Educação de Portalegre

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em Turismo. Lidel: Lisboa.
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Cunha. L. 2001. Introdução ao Turismo. Verbo: Lisboa.
Direcção Geral do Turismo. 2000. Os números do
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Direcção Geral do Turismo. 2002. Turismo em Portugal,
Política, Estratégia e Instrumentos de Interven-
ção – Turismo sustentável e de qualidade com
empresas modernas e competitivas. DGT:
Lisboa.
Direcção Geral do Turismo. 2003. O Turismo no Espaço
Rural em 2002. Divisão de Serviços de Estratégia
e Coordenação Turística – Divisão de Recolha de
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Anselmo F. 2003. O que pode Portugal fazer para
contrariar estudos que prevêem um crescimento
de apenas 2,1 por cento/ ano até 2020 assente na
velha receita do “sun & beach”?. In Pessoal, ano
1, nº 7, Fevereiro 2003.

Dezembro de 2004 aprender


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