Professional Documents
Culture Documents
Guariba
INTRODUÇÃO
Em 2015, tivemos o primeiro start a respeito deste tema, aconteceu com o aluno
Fabricio, que não sabia ler e nem escrever, tinha muitas dificuldades de aprendizado,
não tinha autoconfiança e tampouco se relacionava com a turma. O ingresso dele no
Projeto de Letramento Guariba, nos evidenciou a importância da intervenção do
profissional da educação, principalmente, no que se refere à afetividade no processo de
aprendizagem da leitura e escrita.
Dentre esses casos, o de um aluno me chamou atenção, diante dos desafios que
seu ingresso nos impôs. Neste artigo, por motivos éticos e para resguardar a identidade
do aluno, ele será identificado apenas por X1. Seu ingresso ocorreu no ano de 2015,
aluno indisciplinado, com dificuldades de aprendizado, além de demonstrar um
comportamento difícil, fosse junto ao docente, como também com os demais alunos. Ele
atrapalhava as aulas com conversas aleatórias, algumas vezes demonstrava até mesmo
comportamentos agressivos.
Dessa forma, observamos a necessidade de uma intervenção maior, buscando
assim conhecer mais a história pessoal de X1, saber de sua família, das suas atividades
no cotidiano fora da escola, buscando transmitir confiança para que ele se aproximasse e
nos contasse sua história. Quando conquistamos sua confiança, seu histórico familiar
nos surpreendeu, pois relatou os conflitos familiares que vivenciava, o que acabava
influenciando em seu comportamento em sala de aula, causando reações negativas.
Isso foi um salto para que os outros alunos observassem que o carinho reinava
em nossa sala. Nos cantávamos, brincávamos e também estudávamos. Os meses foram
passando e observamos que X1 passou a interagir mais com os alunos, passando a tomar
gosto pela leitura, apesar de ainda ter dificuldades para ler. Além disso, suas atitudes
haviam mudado, seu comportamento em sala passou a ser mais tranquilo. Embora de
vez em quando ainda quisesse chamar atenção, o avanço que seu comportamento teve
foi enorme, o que refletiu em seu aprendizado, sobretudo, na leitura e escrita.
Esse fato chama a atenção no que se refere à afetividade, pois ela tem relação
direta no desenvolvimento físico e psíquico do aluno e é de grande relevância para que
o docente possa transmitir ao aluno segurança, busque saber quais são suas
potencialidades, bem como suas dificuldades e, com isso, buscar metodologias que
venham a colaborar com o processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
Portanto, é possível dizer que por meio do Projeto Guariba, foi possível
vivenciar interações sociais e afetivas junto aos alunos, numa troca mútua de respeito,
solidariedade e responsabilidade um com o outro, reafirmando a importância de haver o
comprometimento do docente em viabilizar aos seus alunos um processo de ensino e
aprendizagem com qualidade.
Com isso, “esse ensino deve ocorrer de forma gradual para que o discente crie
suas bases para a formação de conceitos. Esse processo não deve ser distanciado da
realidade, pelo contrário, ele deve possuir toda ligação possível com o aluno”
(ARAÚJO, 2014, p. 36).
Nesse ínterim, entende-se que deve haver uma boa relação entre o professor e o
aluno, tornando o ambiente um lugar no qual o indivíduo sinta-se confortável e
estimulado a aprender. Em relação ao contexto de sala de aula ela é entendida por
Vasconcelos (1993, p. 35) como:
O afeto é uma mola propulsora das ações, e a razão está a seu serviço. Ele
medeia o registro das informações e as transforma em conhecimento.
Favorece a lembrança dos registros e estimula a conexão dos neurônios que
criam os registros. Quanto maior o número de conexões, haverá mais
registros e mais conhecimento.
Tal evolução também pode ser sentida quanto à forma com que lidava com sua
higiene pessoal. Houve um mutirão que reuniu roupas e outros itens pessoais que foram
doados a ele e outros alunos cursistas do Projeto, que também demonstravam vivenciar
situações de vulnerabilidade financeira. Isso aumentou a autoestima das crianças, que
passaram a responder melhor às atividades e progredir na leitura e escrita. O aluno X1
passou a tratar de forma mais respeitosa seus colegas e aos próprios tutores do Projeto.
Ele passou a ser incorporado de uma forma mais amistosa pelos colegas de turma em
atividades coletivas, em que inicialmente, sua presença era rechaçada devido ao seu
mau comportamento.
Desta forma, o aluno X1, representou para aqueles que puderam participar de
perto de sua trajetória ao longo do Projeto Guariba, aquele e aquilo para quem a
sociedade ainda não aprendeu a lidar, pois ele e outros que fizeram parte do Projeto
evidenciam que há algo errado no modo com que esta sociedade vem lidando com a
educação. Crianças como X1, demonstram como pouco sabemos lidar com as
potencialidades de nossos alunos e muito enfatizamos suas dificuldades, a ponto de
excluir do processo educativo esses alunos, não através de reprovação ou outras
sanções, mas de desenvolverem a autonomia na construção de seu conhecimento e, por
fim, de sua cidadania.
REFERÊNCIAS