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Manual de Identificação de Doenças da Cultura do Arroz

Valacia Lemes Silva-Lobo e Marta Cristina Corsi de Filippi


Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Arroz e Feijão
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Manual de Identificação de Doenças da Cultura


do Arroz

Valacia Lemes Silva-Lobo


Marta Cristina Corsi de Filippi

Embrapa  
Brasília, DF
2017
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Normalização bibliográfica: Ana Lúcia D. de Faria
Tratamento de ilustrações: Fabiano Severino
Embrapa Arroz e Feijão Editoração eletrônica: Fabiano Severino
Rod. GO 462, Km 12, Zona Rural Fotos da capa: Sebastião José de Araújo
Caixa Postal 179
75375-000 Santo Antônio de Goiás, GO 1a edição
Fone: (62) 3533-2238 Publicação digitalizada (2017)
Fax: (62) 3533-2100 Todos os direitos reservados.
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Unidade responsável pelo conteúdo e pela edição Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Arroz e Feijão Embrapa Arroz e Feijão
Comitê de Publicações Silva-Lobo, Valacia Lemes.
Presidente: Lineu Alberto Domiti Manual de identificação de doenças da cultura do arroz / Valacia
Secretário-executivo: Pedro Marques da Silveira Lemes Silva-Lobo, Marta Cristina Corsi de Filippi. Brasília, DF :
Membros: Aluísio Goulart Silva, Ana Lúcia Delalibera Embrapa, 2017.
de Faria, Élcio Perpétuo Guimarães, Luciene Fróes PDF 45 p. : il. color.
Camarano de Oliveira, Luís Fernando Stone, Márcia ISBN 978-85-7035-686-4
Gonzaga de Castro Oliveira, Orlando Peixoto de Morais,
Roselene de Queiroz Chaves 1. Arroz – Doença de planta. I. Filippi, Marta Cristina Corsi de.
II. Título. III. Embrapa Arroz e Feijão.
Supervisão editorial: Luiz Roberto Rocha da Silva
Revisão de texto: Rodrigo Peixoto de Barros/Luiz CDD 633.1893
Roberto R. da Silva © Embrapa 2017
Autores
Valacia Lemes Silva-Lobo
Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia,
pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão,
Santo Antônio de Goiás, GO

Marta Cristina Corsi de Filippi


Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia,
pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão,
Santo Antônio de Goiás, GO
Apresentação
A diversidade climática e a expansão das áreas de cultivo, assim
como a uniformização de uso de cultivares melhoradas, podem
proporcionar condições favoráveis à ocorrência de epidemias de
doenças endêmicas.

Nessas condições, algumas doenças causam danos altamente


significativos à cultura do arroz, um dos principais alimentos básicos
para a população. Dessa forma, torna-se importante a adoção de
medidas de manejo integrado das doenças para que as cultivares
possam expressar seu potencial produtivo.

O objetivo deste manual é servir como guia prático para a


identificação das principais doenças da cultura do arroz, tal como
daquelas de ocorrência mais esporádica, no Brasil. Com este
documento, espera-se facilitar o reconhecimento das doenças no
campo, dos sintomas iniciais aos mais avançados, incluindo uma
breve descrição da epidemiologia, as medidas de manejo da cultura
que podem agravar ou amenizar o problema, além das alternativas de
controle que nortearão a tomada de decisões pelo orizicultor. Dirige-
se, portanto, a diferentes públicos, como agricultores, engenheiros-
agrônomos, extensionistas, entre outros.

Alcido Elenor Wander


Chefe-geral
Embrapa Arroz e Feijão
Sumário
Introdução ....................................................................................................................................... 9
Brusone............................................................................................................................................... 11
Mancha-parda...................................................................................................................................... 13
Mancha nos grãos ............................................................................................................................... 15
Queima das glumelas ........................................................................................................................... 17
Escaldadura ........................................................................................................................................ 19
Mancha-estreita ................................................................................................................................... 21
Falso-carvão ........................................................................................................................................ 23
Carvão................................................................................................................................................ 25
Carvão da folha ................................................................................................................................... 27
Queima da bainha ................................................................................................................................ 29
Mancha da bainha ................................................................................................................................ 31
Mal do pé............................................................................................................................................ 33
Podridão da bainha ............................................................................................................................... 35
Podridão do colmo ............................................................................................................................... 37
Ponta-branca ....................................................................................................................................... 39
Nematoide das galhas .......................................................................................................................... 41
Vírus do enrolamento do arroz ............................................................................................................... 43
Referências ..................................................................................................................................... 45
Introdução
A cultura do arroz em todas as fases de desenvolvimento está sujeita ao
ataque de doenças que reduzem a produtividade e a qualidade dos grãos.
A prevalência e a severidade destas dependem da presença de patógeno
virulento, ambiente favorável e da suscetibilidade da cultivar. Existem
mais de 80 doenças causadas por patógenos, registradas em diferentes
países. No Brasil, o número exato de doenças do arroz ainda não está
definido, sendo que algumas delas, que ocorrem em escala menor, não
foram relatadas. Neste manual são descritas as principais doenças que
acometem a cultura.
Brusone
Sintomas: Nas folhas, os sintomas da peso. Diversas partes da panícula, como como bom preparo do solo; adubação equi-
brusone (Magnaporthe oryzae (Herbert) ráquis, pedicelos, ramificações primárias e librada; uso de sementes; plantio feito em
Barr, forma imperfeita Pyricularia oryzae secundárias também são infectadas. um período mínimo de tempo e iniciado no
(Cooke) Sacc.), iniciam-se com pequenos Condições favoráveis para o desenvolvi- sentido contrário à direção predominante
pontos castanhos que aumentam e formam mento da doença: Todas as fases do ciclo do vento; incorporação dos restos cultu-
as lesões típicas, as quais são elípticas, da doença são altamente influenciadas rais; profundidade de plantio uniforme;
com centro geralmente cinza e as bordas pelos fatores climáticos. A deposição de densidade de semeadura recomendada para
marrons, às vezes circundadas por um orvalho ou gotas de chuva nas folhas é a cultivar ou sistema de plantio; controle
halo amarelado. Essas lesões aumentam essencial para a germinação dos conídios de plantas daninhas; destruição de plantas
em tamanho e em número, podendo se e para o início da infecção. De maneira voluntárias e doentes; nivelamento do solo;
juntar, queimar e provocar a morte das geral, são necessárias altas temperaturas, manutenção no nível recomendado de água
folhas e, muitas vezes, da planta (Figura 1). de 25  ºC a 28  ºC, e umidade acima de de irrigação durante o ciclo da cultura;
As infecções ocorrem ainda na aurícula e 90%, para o desenvolvimento da enfermi- dimensionamento adequado dos sistemas
lígula da folha bandeira, nos nós e colmos, dade. Outros fatores que contribuem são de irrigação e drenagem; troca de cultivares
apresentando-se com manchas marrons, o excesso de adubação nitrogenada, os semeadas, a cada três ou quatro anos;
podendo causar necrose total da parte plantios adensados e a baixa luminosidade. plantio no início do período das chuvas;  e
atingida, impedindo a circulação da seiva, o emprego de fungicidas, aplicados em
produzindo panículas com grãos chochos. Fonte de inóculo: As principais fontes são tratamento de sementes e em pulverização
A infecção do nó da base da panícula é sementes infectadas e os restos culturais. da parte aérea. A proteção contra a bruso-
conhecida como brusone do pescoço (Figura Já a infecção secundária tem como fonte ne na panícula é feita de forma preventiva,
2). Os grãos das panículas atacadas logo as lesões esporulativas das folhas. por meio de pulverizações com fungicidas
após a emissão até a fase de grão leitoso Controle: Recomenda-se manejo integrado, sistêmicos, sendo uma aplicação no final
serão totalmente chochos, já aqueles que envolve o uso de cultivares resistentes, do período de emborrachamento (R2)  e ou-
atacados mais tarde sofrem redução no fungicidas e práticas culturais adequadas, tra com 1% a 5% de emissão de panículas.

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Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo
Foto: Sebastião José de Araújo

Foto: Sebastião José de Araújo

Foto: Sebastião José de Araújo

Foto: Sebastião José de Araújo


Foto: Sebastião José de Araújo

Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo

Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo


Figura 1. Brusone nas folhas de arroz apresentando pequenos pontos Figura 2. Sintomas de brusone no colmo
castanhos e lesões elípticas típicas (A e B), que aumentam em número e (A), nó (B), aurícula e brusone na panícula
se juntam (C), causando a morte das folhas (D) e ou da planta (E). (pescoço) (C).
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Mancha-parda
Sintomas: A mancha-parda (Bipolaris grãos as manchas são marrom-escuras, são mais suscetíveis. Solos deficientes
oryzae (Breda de Haan) Shoemaker podendo se juntar, cobrindo todo o em nutrientes, especialmente em
[Cochiobolus miyabeanus (Ito & grão. Em ataques severos todos os potássio, manganês, sílica, ferro e cálcio,
Kuribayashi) Drechsler & Dastur]), pode grãos da panícula ficam manchados, assim como deficiência ou excesso de
manifestar-se logo após a germinação, resultando em espiguetas vazias e, nitrogênio, também contribuem para o
quando são usadas sementes altamente consequentemente, em redução do peso avanço desta doença.
infectadas, causando queima das folhas destes. No beneficiamento os grãos
até o estádio de emissão da segunda manchados apresentam gessamento e Fonte de inóculo: A principal fonte são
folha. Lesões circulares ou ovais surgem coloração marrom-escura, interferindo na sementes infectadas e restos culturais.
no coleóptilo, de coloração marrom, qualidade. O fungo pode sobreviver nas sementes,
apresentando os mesmos sintomas nas no solo ou na palha de arroz.
primeiras folhas. Os sintomas típicos Condições favoráveis para o
se manifestam nas folhas, durante desenvolvimento da doença: A mancha- Controle: É recomendado o tratamento
ou logo após a fase de floração e, parda é favorecida por excesso de das sementes com fungicidas, para
mais tarde, nas glumelas e nos grãos. chuvas e por baixa luminosidade durante reduzir o inóculo inicial, e o manejo da
Essas lesões são tipicamente ovais ou a formação dos grãos. Alta umidade cultura, envolvendo adubação equilibrada
circulares, geralmente de coloração e temperaturas entre 20 °C e 30 °C associada ao controle químico por
marrom, com centro acinzentado ou são condições ótimas para a infecção meio de pulverizações com fungicidas
esbranquiçado, dependendo da idade e desenvolvimento da doença. As sistêmicos, sendo uma aplicação no final
da mancha, circundada por bordas espiguetas, logo após a emissão das do período de emborrachamento e outra
pardo-avermelhadas (Figura 3). Nos panículas até a fase leitosa dos grãos, com 1% a 5% de emissão das panículas.

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Fotos: Valacia Lemes Silva-Lobo

A B C
Figura 3. Lesões típicas de mancha-parda nas folhas (A) e lesões atípicas (B e C).

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Mancha nos grãos
Sintomas: Os sintomas de mancha de lente, com centro esbranquiçado e ideais para o progresso dessa patologia.
nos grãos (complexo de patógenos: bordas marrons, e as de Microdochium É comum observar a doença associada
Bipolaris oryzae, Phoma sorghina, oryzae apresentam grande número de ao cultivo do arroz em solos deficientes
Alternaria padwickii, Pyricularia oryzae, pontuações avermelhadas do tamanho de em nutrientes, especialmente em
Microdochium oryzae, Sarocladium uma cabeça de alfinete. De forma geral, é potássio, manganês, sílica, ferro e cálcio.
oryzae, diferentes espécies de difícil identificar os patógenos envolvidos Deficiência ou excesso de nitrogênio
Drechslera, Curvularia spp., Nigrospora nas manchas de grãos apenas pelos também contribui.
sp., Fusarium spp., Coniothyrium sp., sintomas.
Fonte de inóculo: A principal fonte são
Epicocum sp., Phythomyces sp. e
Condições favoráveis para o sementes infectadas e restos culturais.
Chaetomium sp. Bipolaris oryzae, Phoma
sorghina, Pseudomonas fuscovagina e desenvolvimento da doença: é favorecida Controle: Tratamento de sementes
Erwinia spp.), aparecem desde o início pela ocorrência de chuva e alta umidade com fungicidas, que, além de diminuir
da emissão das panículas até o seu durante a formação dos grãos. O o inóculo inicial, aumenta o vigor e o
amadurecimento (Figura 4). Os sintomas acamamento, que provoca o contato das estande. Recomenda-se, ainda, evitar
variam dependendo do patógeno panículas com o solo úmido, contribui plantios em que a formação dos grãos
predominante, do estádio de infecção para a descoloração dos grãos e os coincida com períodos chuvosos, e o
dos grãos e das condições climáticas. As danos causados por insetos predispõem uso de controle químico com fungicidas
manchas causadas por Bipolaris oryzae à infecção por microrganismos. sistêmicos, sendo uma aplicação no final
são de coloração marrom-avermelhada, Temperaturas entre 21°C e 28 °C e alta do período de emborrachamento e outra
já as de Phoma sorghina são em forma umidade, são consideradas condições com 1% a 5% de emissão de panículas.

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Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo

Figura 4. Sintomas de mancha nos grãos em arroz.

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Queima das glumelas
Sintomas: O sintoma inicial de na extremidade apical que, sementes por até três anos, sendo este
queima das glumelas (Phoma sorghina posteriormente, atingem os grãos. o principal meio de disseminação do
(Sacc.) Boerema, Dorenbosch & Van patógeno.
Condições favoráveis para o
Kesteren) é observado na forma de
desenvolvimento da doença: Os Controle: Utilização de sementes
manchas marrom-avermelhadas. As
maiores prejuízos ocorrem quando adequadamente tratadas e a eliminação
manchas são de tamanhos variados e dos restos culturais. Uso de fungicidas
há coincidência entre a emissão
o centro da lesão apresenta coloração em tratamento de sementes, visando
das panículas e períodos de chuva.
esbranquiçada e margem marrom a diminuição do inóculo inicial e em
Temperaturas entre 21 °C a 28 °C
(Figura 5). Quando as condições pulverização, sendo uma aplicação no
e alta umidade, são consideradas
são favoráveis ao desenvolvimento final do período de emborrachamento
condições ideais para esta doença.
do fungo, principalmente com alta e outra com 1% a 5% de emissão
precipitação, ocorre a formação de Fonte de inóculo: O fungo sobrevive de panículas. Evitar plantios em que
picnídios no centro da lesão e de em restos de cultura, no solo e em a formação dos grãos coincida com
manchas de cor marrom-avermelhada sementes, permanecendo viável nas períodos chuvosos.

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Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo

Figura 5. Sintomas de queima das glumelas em arroz.

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Escaldadura
Sintomas: Os sintomas da escaldadura geral, com as pontas das folhas secas máximo e emborrachamento. O excesso
(Monographella albescens (Thümen) (Figura  7). Sob condições desfavoráveis de adubação nitrogenada acelera o
Parkinson, Sivanesan & C. Booth, ao desenvolvimento da doença, os desenvolvimento da doença e a alta
forma imperfeita Microdochium oryzae esporos produzem várias pontuações densidade de plantas aumenta a
(Hashioka & Yokogi) Samuels & Hallett), pequenas de coloração marrom-clara severidade da mesma.
aparecem na fase de emborrachamento, e, geralmente, são confundidos com
podendo paralisar o crescimento, outras doenças (Figura 6). Sintomas Fonte de inóculo: As principais fontes
aumentando até a fase de maturação semelhantes podem ser vistos nas são as sementes infectadas e os restos
das plantas. Os sintomas típicos bainhas. O fungo infecta os grãos, culturais.
iniciam-se pelas extremidades apicais causando pequenas manchas do
das folhas ou pelas bordas das lâminas tamanho de uma cabeça de alfinete Controle: O uso de sementes sadias
foliares. Inicialmente as manchas não e, em casos severos, provocam constitui-se em uma medida preventiva.
apresentam margens bem definidas e descoloração das glumelas, deixando-as Quando não se tem segurança da
são de coloração verde-oliva; depois com a coloração marrom-avermelhada. qualidade da semente, recomenda-se o
as lesões apresentam sucessões de tratamento com fungicidas. O manejo
faixas concêntricas, alternando faixas Condições favoráveis para o adequado da água ajuda a diminuir a
marrom-claras e escuras (Figura 6). As desenvolvimento da doença: é favorecida incidência. Em lavouras plantadas em
lesões coalescem, causando secamento por alta umidade nas folhas, provocada rotação com soja o impacto da doença
e morte das folhas. As lavouras pelas chuvas ou períodos prolongados pode ser reduzido com aplicações de
afetadas apresentam amarelecimento de orvalho, nas fases de perfilhamento fungicidas.

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Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo
Foto: Sebastião José de Araújo

Foto: Sebastião José de Araújo

Foto: Sebastião José de Araújo


A B C
Figura 6. Sintomas de escaldadura na região apical (A), nas bordas Figura 7. Sintomas de plantas de arroz com escal-
(B) e sintomas atípicos (C), em folhas de arroz. dadura, apresentando seca nas pontas das folhas.

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Mancha-estreita
Sintomas: As lesões típicas da glumelas. Cultivares com maior nível disseminação é feita pelo vento e, a longa
mancha-estreita (Sphaerulina oryzina de resistência apresentam lesões mais distância, ocorre por meio das sementes.
K. Hara [Cercospora oryzae Miyake, curtas, estreitas e escuras.
syn. Cercospora janseana (Racib.) Controle: A medida mais recomendada
Condições favoráveis para o de controle é, quando disponível, o
O. Constant.]), ocorrem com mais
desenvolvimento da doença: O fungo se uso de variedades resistentes. Outras
frequência nas folhas. São estreitas,
desenvolve sob umidade alta em uma medidas são, o uso de sementes livres
finas, necróticas, alongadas no sentido
ampla faixa de temperatura, sendo a
das nervuras, de coloração marrom- do patógeno e adequadamente tratadas,
temperatura ótima entre 25 ºC e 28 ºC.
avermelhada (Figura 8). No caso de alta eliminação do arroz vermelho, hospedeiro
severidade, podem ocorrer os mesmos Fonte de inóculo: A principal fonte são alternativo C. oryzae e o uso de controle
sintomas nas bainhas, nos colmos e nas os restos culturais e as sementes. A químico.

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Fotos: Valacia Lemes Silva-Lobo

Figura 8. Mancha-estreita em folhas de arroz.

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Falso-carvão
Sintomas: Os sintomas de falso-carvão glumas e incham, deixando todo o grão Fonte de inóculo: Os esporos do
(Ustilaginoidea virens (Cooke) Takahashi), recoberto pelo fungo (Figura 9). fungo sobrevivem no solo e nos restos
variam conforme a época em que culturais; e a disseminação é feita
ocorre a infecção nos grãos. No início Condições favoráveis para o pelo vento e pela água. As sementes
do florescimento, a panícula apresenta desenvolvimento da doença: A doença também podem carregar estruturas do
massa de esporos na cor verde, que se é favorecida por alta umidade, chuvas fungo.
tornam amarelos, sendo este o sintoma contínuas na época da emissão
típico da doença. Na infecção tardia, das panículas, solos férteis, altas Controle: As medidas recomendadas
quando a planta já apresenta os grãos temperaturas (28 ºC) e excesso de são a eliminação e a destruição das
maduros, os esporos se acumulam nas adubação nitrogenada. panículas contaminadas.

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Fotos: Valacia Lemes Silva-Lobo

Figura 9. Sintoma típico de falso-carvão em arroz, apresentando massa de esporos nas cores
verde e amarelo.

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Carvão
Sintomas: Os sintomas do carvão um líquido preto. Depois, à medida que comparadas às variedades de grão
(Tilletia barclayana (Bref.) Sacc. & Syd.), reduz a umidade, a massa se desidrata, longo.
são observados na fase de maturação, tornando-se um pó negro, facilmente
Fonte de inóculo: Como inóculo primário
quando os grãos são parcialmente removido (Figura 10).
têm-se os esporos de T. barclayana, que
danificados pela formação de uma
Condições favoráveis para o apresentam parede celular espessa, o
massa negra de esporos que os envolve,
que facilita a sobrevivência do mesmo
tornando-se quebradiços, como se desenvolvimento da doença: A
na entressafra. O patógeno sobrevive
fossem dentes cariados, o que deu infecção é favorecida por umidade
também em hospedeiros alternativos.
origem à denominação de cárie do arroz. alta e temperaturas variando entre
Sob condições de alta umidade, a massa 24 ºC e 30  ºC, entre o período de Controle: O uso de fungicida na fase
de esporos absorve água e aumenta o emborrachamento e a antese. As final do emborrachamento reduz
volume do grão, tornando-se visível e variedades de grão curto costumam significativamente a incidência da
cobrindo outras partes da planta com apresentar menor incidência da doença, doença.

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Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo

Figura 10. Sintoma típico de carvão: massa negra de esporos


nos grãos de arroz.

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Carvão da folha
Sintomas: Os sintomas característicos do colmos. Sob alta severidade, as folhas em excesso, especialmente em
carvão da folha (Entyloma oryzae Syd. tornam-se amarelas e ocorre o secamento aplicações tardias.
& P. Syd.), são lesões pequenas, lineares nas extremidades das mesmas.
ou retangulares, em forma de pústulas, Fonte de inóculo: Na entressafra o fungo
entre as nervuras das folhas superiores Condições favoráveis para o sobrevive como teliósporo, nos restos
(Figura 11). Lesões semelhantes podem desenvolvimento da doença: A doença culturais. Os esporídios são disseminados
ser encontradas nas bainhas e nos é favorecida pela adubação nitrogenada pelo vento para infectar as folhas.

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Foto: Donald Groth

Figura 11. Carvão da folha (Entyloma oryzae).


Fonte: Groth (2009).

28
Queima da bainha
Sintomas: A queima da bainha condições de baixa luminosidade, alta ao redor das plantas de arroz, causando
(Thanatephorus cucumeris (A. B. umidade e altas temperaturas, variando infecção inicial nos colmos, no nível
Frank) Donk (Rhizoctonia solani Kühn)), em torno de 28 °C a 32 °C. Outros da água. A disseminação é rápida, por
geralmente, ocorre nas bainhas e nos fatores que contribuem para o aumento meio da infecção por hifas, para a parte
colmos e é caracterizada por manchas da severidade da doença são altos superior das plantas, incluindo folhas e
ovaladas, elípticas ou arredondadas, níveis de matéria orgânica (3%-4%), plantas adjacentes.
de coloração branco-acinzentada com nitrogênio e fósforo, além de altas
bordas marrons definidas. Pode causar densidades de sementes no plantio. Controle: Nas áreas irrigadas
a seca parcial ou total das folhas e o recomenda-se boa drenagem na
acamamento das plantas. Manchas Fonte de inóculo: O patógeno sobrevive entressafra, adubação equilibrada e uso
semelhantes podem ser observadas nas no solo, na forma de escleródio e de da densidade de plantio recomendada
folhas, porém com aspecto irregular micélio, em restos culturais, sendo para a cultivar. O uso de rotação com
(Figura 12). esta a fonte de inóculo primária. O outras gramíneas como milho e sorgo,
fungo é disseminado rapidamente pela reduz o inóculo. É recomendada a
Condições favoráveis para o água de irrigação e pelo movimento do aplicação de fungicidas entre a fase de
desenvolvimento da doença: O solo durante o preparo do mesmo. Os elongação dos entrenós do colmo e a
desenvolvimento é rápido durante a escleródios podem sobreviver por até iniciação das panículas; e uma segunda
emissão das panículas e a formação dois anos no solo e aumentam a cada aplicação na fase de 80% a 90% de
dos grãos, sendo favorecida por safra, flutuam na água e acumulam-se emissão das panículas.

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Fotos: Valacia Lemes Silva-Lobo

A B
Figura 12. Queima da bainha nos colmos (A) e nas folhas (B) de
plantas de arroz.

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Mancha da bainha
Sintomas: Os sintomas da mancha de baixa luminosidade, alta umidade e por até dois anos no solo e aumentam a
da bainha (Waitea circinata Warcup altas temperaturas, variando em torno cada safra; flutuam na água e acumulam-
& Talbot (Rhizoctonia oryzae)), são de 28 °C a 32 °C. Outros fatores se ao redor das plantas de arroz,
caracterizados por manchas ovais, que contribuem para o aumento da causando infecção inicial nos colmos, no
levemente verdes, creme ou brancas, severidade da doença são altos níveis de nível da água. A disseminação é rápida,
com bordas marrom-avermelhadas matéria orgânica (3%-4%), nitrogênio por meio da infecção por hifas, para
nos colmos (Figura 13). As lesões são e fósforo, além de altas densidades de a parte superior das plantas e plantas
isoladas e não formam áreas contínuas sementes no plantio. adjacentes.
de infecção como ocorre na queima da
bainha. Fonte de inóculo: O fungo sobrevive Controle: Nas áreas irrigadas recomenda-
no solo, na forma de escleródios e de se boa drenagem na entressafra,
Condições favoráveis para o micélio, em restos culturais, sendo esta a adubação equilibrada, e o uso da
desenvolvimento da doença: O fonte de inóculo primária. É disseminado densidade de plantio indicada para a
desenvolvimento é rápido durante a rapidamente pela água de irrigação e pelo cultivar. O uso de rotação com outras
emissão das panículas e a formação dos movimento do solo durante o preparo do gramíneas como milho e sorgo reduz o
grãos, sendo favorecida por condições mesmo. Os escleródios podem sobreviver inóculo.

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Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo

Figura 13. Sintoma de mancha da


bainha nos colmos de planta de arroz.

32
Mal do pé
Sintomas: O sintoma característico do resultando, em alguns casos, na morte Fonte de inóculo: A fonte de inóculo
mal do pé (Gaeumannomyces graminis da planta. A doença é responsável pelo primária são os restos culturais. Várias
var. graminis (Sacc.) von Arx & D. amadurecimento rápido dos grãos e gramíneas são hospedeiras do fungo,
Olivier), é uma coloração marrom-escura morte dos perfilhos, dependendo da as quais favorecem a sobrevivência do
ou preta na bainha, na base do colmo, época da sua ocorrência na planta. patógeno.
no primeiro e segundo nós e entrenós
(Figura  14). Pode provocar a morte Condições favoráveis para o Controle: As medidas mais eficientes de
de folhas e colmos infectados. Podem desenvolvimento da doença: Solos controle são a rotação de culturas com
ser observados micélios grossos e com pH 5,5 ou superior, associados espécies não suscetíveis, como aveia,
escuros dentro das bainhas infectadas ao excesso de chuvas, favorecem nabo forrageiro e canola, e a eliminação
e nos colmos; ainda nas bainhas, o desenvolvimento da doença, e a de plantas hospedeiras, como azevém,
podem ser vistos também peritécios. dispersão do inóculo é feita pela chuva trigo, cevada, centeio, triticale e outras
As raízes apresentam coloração preta, e/ou água de irrigação e pelo vento. gramíneas.

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Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo

Figura 14. Sintoma de mal do pé no colmo de planta de arroz.

34
Podridão da bainha
Sintomas: Os sintomas típicos da apodrecem dentro da bainha. Quando Altas temperaturas (28 ºC) e umidade
podridão da bainha (Sarocladium emergidas, as panículas apresentam favorecem o desenvolvimento do fungo.
oryzae (Sawada) Gams & Hawksworth espiguetas de coloração marrom a
Fonte de inóculo: A principal é a
(syn. Acrocylindium oryzae Sawada)), vermelha. Afeta o desenvolvimento dos
semente. A sobrevivência do patógeno é
aparecem na última bainha, abaixo da grãos, causando esterilidade.
na forma de micélio, nos restos culturais
folha bandeira. As lesões são oblongas,
Condições favoráveis para o e sementes.
com centro cinza ou levemente marrom,
com bordas vermelhas ou marrons. Em desenvolvimento da doença: A Controle: Para o controle recomenda-
fase avançada da doença, as lesões infecção normalmente está associada à se o uso de cultivares que apresentem
coalescem, cobrindo a bainha inteira e ocorrência de algum inseto na bainha. menor grau de suscetibilidade. Não
dificultando a emissão da panícula (Figura Sob alta densidade populacional de existe cultivar resistente disponível e a
15). Em casos de alta severidade, as plantas e baixo nível de nitrogênio, a eficiência do controle químico ainda não
panículas não emergem e as espiguetas incidência da doença costuma ser maior. está definida.

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Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo

Foto: Valacia Lemes Silva-Lobo

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Figura 15. Sintomas de podridão da bainha em plantas de arroz.

Foto: Sebastião José de Araújo


Podridão do colmo
Sintomas: Os primeiros sintomas da colmos infectados apresentam inúmeros nos restos culturais. Na safra, os
podridão do colmo (Sclerotium oryzae escleródios pretos (Figura 16). escleródios flutuam na superfície da
Cattaneo), aparecem após o estádio água de irrigação e infectam as bainhas.
Condições favoráveis para o
de perfilhamento, iniciando com lesões Controle: Devem-se adotar o uso de
desenvolvimento da doença: A adubação
escuras nas bainhas, na altura da lâmina práticas que reduzam a quantidade
nitrogenada em excesso aumenta a
de água. Depois, essas lesões atingem de escleródios no solo, como a
severidade da doença.
o colmo, circundando-o e causando decomposição rápida dos restos
o acamamento da planta, bem como Fonte de inóculo: Na entressafra, o culturais, a rotação de culturas, a aração
o chochamento das espiguetas. Os fungo sobrevive na forma de escleródio do solo e o uso de controle químico.

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Foto: Milton Rush

Figura 16. Bainha e colmo de arroz mostrando sintomas da


podridão e escleródios de Sclerotium oryzae.
Fonte: Rush (2009).

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Ponta-branca
Sintomas: Os sintomas típicos da doença nitrato de amônio, superfosfato de água na superfície das folhas, possam
da ponta-branca (Aphelenchoides cálcio e cloreto de potássio, aumentam a se deslocar para outras folhas ou para a
besseyi Christie), são a descoloração severidade da doença. panícula.
branca da ponta das folhas, distorções
foliares, raquitismo das plantas, Fonte de inóculo: O nematoide Controle: Recomenda-se o uso de
encurtamento das panículas, deformação sobrevive principalmente nas sementes cultivares com resistência e a eliminação
dos grãos, amadurecimento tardio, entre infectadas e secas por até três anos e, dos resíduos culturais infectados, das
outros (Figura 17). em menor grau, em plantas daninhas ervas daninhas e das plantas voluntárias.
e nos colmos e resíduos da cultura As sementes em pequenas quantidades,
Condições favoráveis para o deixados no campo. A principal via de não pré-hidratadas, podem ser tratadas
desenvolvimento da doença: disseminação a longa distância são com água quente por 10 a 15 minutos
A temperatura ótima para o as sementes infectadas. Dentro da à temperatura de 55 °C a 61 °C, ou
desenvolvimento do nematoide varia lavoura, são disseminados pela água durante 15 minutos à 51 °C a 53 °C.
entre 23 °C e 32 °C, porém se mantém de irrigação. Na planta, os nematoides Para grandes quantidades de sementes
ativo entre 13 °C e 43 °C, inativando-se alcançam as folhas superiores, levados pré-hidratadas, colocá-las por 24 horas
acima de 43 °C. Lavouras fertilizadas pelo próprio crescimento da planta, em água fria. As sementes podem ser
com altos teores de sulfato de amônio, embora quando exista uma lâmina de tratadas, ainda, com nematicidas.

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Foto: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 17. Sintoma típico de descoloração e distorção da ponta das


folhas de arroz atacadas por Aphelenchoides besseyi.

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Nematoide das galhas
Sintomas: Após a penetração, nas entressafra na forma de ovos ou Controle: Algumas medidas que
extremidades das raízes das plantas colonizando raízes de plantas de arroz ajudam na redução da população
afetadas pelo nematoide das galhas ou de plantas daninhas. Apesar de M. do nematoide na área afetada são a
(Meloidogyne graminicola Gold. & graminicola estar adaptado a solos manutenção de lâmina de água na área
Bir.), ocorre o processo de hiperplasia alagados, a penetração no sistema de plantio, associada à eliminação de
e hipertrofia celular, resultando na radicular ocorre nos períodos em que plantas hospedeiras na entressafra e
formação das galhas características, estes são drenados. a rotação de culturas com espécies
interrompendo a elongação da raiz não hospedeiras como milho e soja.
(Figura 18). Observa-se uma clorose Fonte de inóculo: A principal são os
restos culturais e as plantas daninhas, Nas regiões que adotam o sistema
na parte aérea e os sintomas ocorrem pré-germinado, recomenda-se fazer a
em reboleiras (Figura 19). As plantas que são, na maioria, hospedeiras do
nematoide. O trânsito de máquinas, semeadura no solo alagado e mantê-lo
infectadas podem ter seu crescimento assim até o final do ciclo da cultura.
reduzido e antecipar o florescimento e equipamentos e veículos levando
partículas de solo contaminado tem Nos casos em que a cultura já está
maturação dos grãos. estabelecida e constata-se uma alta
papel importante na dispersão do
Condições favoráveis para o nematoide, podendo ser disseminado, incidência do nematoide, pode-se utilizar
desenvolvimento da doença: O ainda, pela água de irrigação e por inseticida como forma complementar de
nematoide das galhas sobrevive na sementes contendo tais partículas. controle.

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Foto: Klaus Konrad Scheuermann

Foto: Klaus Konrad Scheuermann


Figura 18. Galhas características em raízes de Figura 19. Clorose da parte aérea de plantas de arroz atacadas
plantas de arroz atacadas por M. graminicola. por M. graminicola, distribuídas em reboleiras.

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Vírus do enrolamento do arroz
Sintomas: Os sintomas do vírus do Condições favoráveis para o preparo do solo, com a movimentação do
enrolamento do arroz (Rice stripe desenvolvimento da doença: Alta mesmo, estes cistosoros são disseminados
necrosis virus - RSNV), podem ser umidade no solo, temperaturas entre pela área e estas estruturas podem se
observados a partir dos 20 dias após 15 ºC e 18 ºC e solos com pH neutro movimentar com a água de irrigação, por
a semeadura. As plantas apresentam ou ligeiramente alcalino, são condições meio de zoósporos flagelados. Não ocorre
listras amareladas nas folhas, as quais favoráveis à ocorrência da doença. transmissão do RSNV via sementes.
ficam retorcidas, resultando, em muitos Fonte de inóculo: Este vírus é transmitido por Controle: O controle é realizado,
casos, na morte da planta (Figura  20). Polymyxa graminis Led., que é um habitante principalmente, de forma preventiva,
As panículas também podem se natural do solo que pode sobreviver por restringindo-se o trânsito de máquinas
apresentar retorcidas como as folhas, e longos períodos na ausência do hospedeiro, e de pessoas de áreas com histórico da
as raízes podem se apresentar dobradas por meio da formação de estruturas doença para áreas ainda não atacadas.
e tornarem-se necróticas. denominadas de cistosoros. Durante o Não há cultivar resistente.

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Foto: Klaus Konrad Scheuermann

Figura 20. Sintomas de plantas de arroz infectadas por RSNV.

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Referências
GROTH, D. Leaf smut of rice (Entyloma oryzae). Louisiana: Louisiana
State University AgCenter, 2009. Disponível em: <https://www.
invasive.org/browse/orgthumb.cfm?org=41818>. Acesso em: 17
abr. 2017.

RUSH, M. Stem rot of rice (Sclerotium oryzae). Louisiana: Louisiana


State University, 2009. Disponível em: <https://www.invasive.org/
browse/orgthumb.cfm?org=41818>. Acesso em: 17 abr. 2017.

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Impressão e acabamento
Embrapa Informação Tecnológica
ISBN 978-85-7035-686-4

9 788570 356864

CGPE 13769

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