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Índice
Nomenclatura
História
Divisão do Império Romano
Reconquista das províncias ocidentais
As fronteiras encolhendo
Dinastia heracliana
Da dinastia isaura à ascensão de Basílio I
Dinastia macedônica e o ressurgimento
Guerras contra os muçulmanos
Guerras contra o Império Búlgaro
Relações com a Rússia de Quieve
O ápice
Crise e fragmentação
Dinastia comnena e as Cruzadas
Aleixo I e a Primeira Cruzada
João II, Manuel I e a Segunda Cruzada
Renascimento do século XII
Declínio e desintegração
Dinastia Ângelo
Quarta Cruzada
Saque de Constantinopla pelos cruzados
Queda
Império no exílio
Reconquista de Constantinopla
Ascensão dos otomanos e queda de Constantinopla
Legado político e consequências
Governo
Diplomacia
Exército
Marinha
Economia
Religião
Língua
Arte
Conhecimento
Sociedade
Recriação
Vestuário
Culinária
Legado
Ver também
Notas
Referências
Bibliografia
Fontes primárias
Fontes secundárias
Nomenclatura
A designação do império como "bizantino" surgiu na Europa Ocidental em 1557, quando o historiador
alemão Hieronymus Wolf publicou sua obra Corpus Historiæ Byzantinæ, uma coleção de fontes
bizantinas. "Bizantino" em si vem de "Bizâncio" (uma cidade grega, fundada por colonos de Mégara em
667 a.C.), o nome da cidade de Constantinopla antes de se tornar a capital do império sob Constantino.
Este antigo nome da cidade raramente seria utilizado a partir daquele evento, exceto no contexto
poético ou histórico. A publicação, em 1668, de Bizantino du Louvre (Corpus Scriptorum Historiæ
Byzantinæ), e em 1680 da História Bizantina de Du Cange popularizou o uso de Bizantino em autores
franceses, como Montesquieu.[8] Contudo, só em meados do século XIX é que o termo entrou em uso
geral no mundo ocidental.[9]
O império era conhecido por seus habitantes como Império Romano (em latim: Imperium Romanum;
em grego: Βασιλεία τῶν Ῥωµαίων; transl.: Basileía tôn Rhōmaíōn) [10] ou Império dos Romanos (em
latim: Imperium Romanorum; em grego: Αρχη τῶν Ῥωµαίων; transl.: Arche tôn Rhōmaíōn), România
(em latim: Romania;em grego: Ῥωµανία; transl.: Rhōmanía ),[nt 2] República Romana (em latim: Res
Publica Romana; em grego: Πολιτεία τῶν Ῥωµαίων; transl.: Politeίa tôn Rhōmaíōn), [16] Graikia (em
grego: Γραικία),[17] e também Rhōmais (Ῥωµαΐς).[18]
Por boa parte da Idade Média, os bizantinos identificaram-se como romaioi (em grego: Ρωµαίοι ,
"romanos", ou seja, cidadãos do Império Romano), um termo que, em língua grega, tornou-se sinônimo
de grego cristão.[19][20] Também chamavam-se graikoi (em grego: Γραικοί , "gregos"),[21][22][23][24][25]
embora este etnônimo nunca foi usado na correspondência política oficial antes de 1204.[26] O antigo
nome "heleno" era popularmente considerado um sinônimo para pagão e foi readotado como um
etnônimo no período médio bizantino,[nt 3] mais precisamente no século XI.[30]
Embora o império tivesse caráter multiétnico em boa parte de sua história[31][32] e mantém as tradições
romano-helênicas, [33] era geralmente conhecido pela maioria dos seus contemporâneos ocidentais e do
norte como o "Império dos Gregos" (em latim: Imperium Graecorum)[nt 4] devido ao crescente
predomínio do elemento grego.[4][34][35][36][37][38][39][40][41][42] O uso ocasional do termo "Império dos
Gregos" para referir o Império Romano do Oriente e "Imperador dos Gregos" (em latim: Imperator
Graecorum) [43] para o imperador bizantino reflete o desejo dos novos reinos do Ocidente de separá-lo
do Império Romano, pois rejeitavam a afirmação imperial de descendência.[nt 5]
A reivindicação do Império Oriente da herança romana foi ativamente disputada no Ocidente durante o
reinado da imperatriz Irene de Atenas (r. 797–802), depois da coroação de Carlos Magno como
imperador do Sacro Império no ano 800 pelo papa Leão III, que, precisando de ajuda contra os
lombardos em Roma, considerou vago o trono do Império Romano por não haver um ocupante do sexo
masculino no trono. O papa e os governantes do ocidente sempre utilizaram o nome "romano" para
referirem-se aos imperadores do oriente, todavia preferiram o termo Imperator Romaniæ ("imperador
da România"), em vez de Imperator Romanorum ("imperador romano"), um título que os ocidentais
mantiveram apenas para Carlos Magno e seus sucessores.[nt 6] Essa distinção não existiu nos mundos
persa, islâmico e eslavo, nos quais o império era visto como uma continuação do Império Romano. No
mundo islâmico, era conhecido principalmente como ( رومRûm, "Roma").[46][47]
História
Seu sucessor, Marciano (r. 450–457), recusou continuar pagando a quantia anteriormente estipulada,
pois considerava-a elevada.[64] À época, no entanto, Átila (r. 434–453) já havia desviado sua atenção
para o Império Romano do Ocidente. Após a morte de Átila, o Império Huno se desmoronou e
Constantinopla iniciou um relacionamento profícuo com os hunos restantes, que acabaram lutando
como mercenários do exército.[65][66][67] Com o fim da ameaça huna, o Império do Oriente viveu um
período de paz, enquanto o Império do Ocidente continuou seu lento declínio em decorrência da
expansão dos povos germânicos: por esta altura muitos de seus antigos territórios já haviam sido
perdidos, terminando por ser completamente conquistado em 476 pelo oficial de origem germânica
Odoacro, que forçou o imperador Rômulo Augusto (r. 475–476) a abdicar.[68][69]
Em 480, o imperador Zenão I (r. 474–491) aboliu a divisão do império, tonando-se imperador único.
Odoacro (r. 476–493), agora governando a Itália como rei, foi nominalmente subordinado de Zenão,
mas atuou com completa autonomia e acabou por apoiar uma rebelião contra o imperador.[70] Para
recuperar a Itália, Zenão negociou a reconquista com o rei ostrogótico da Mésia, Teodorico, o Grande
(r. 474–526), a quem enviou como mestre dos soldados da Itália, a fim de depor Odoacro. Ele foi
assassinado por Teodorico durante um banquete em 493 e Teodorico fundou o Reino Ostrogótico, do
qual tornou-se rei (493–526),[71] embora nunca tenha sido reconhecido como tal pelos imperadores
orientais.[70] Em 491, Anastácio I (r. 491–518), um oficial civil de origem romana, tornou-se imperador.
No âmbito militar foi bem sucedido em suprimir, em 497, uma revolta isaura que havia eclodido em
492,[72] bem como numa guerra contra o Império Sassânida. Atualmente desconhecem-se os termos do
tratado de paz que terminou este último conflito.[73][74] No âmbito administrativo mostrou-se um
reformador enérgico e um administrador competente — aperfeiçoou o sistema de cunhagem de
Constantino, através do estabelecimento definitivo do peso do fólis, a moeda utilizada na maioria das
transações diárias,[75] e reformou o sistema tributário, abolindo permanentemente o imposto
Crisárgiro. O Tesouro do Estado dispunha da enorme quantia de 150 000 quilos de ouro quando ele
morreu em 518.[76]
Reconquista das províncias ocidentais
Em 527, Justiniano (r. 527–565), sobrinho de Justino I
(r. 518–527), assume o trono.[77] Em 529, uma comissão de
dez homens sob João da Capadócia e Triboniano revisou o
código legal romano e criou nova codificação de leis e
extratos de juristas; em 534, o código foi atualizado e,
juntamente com as Novelas (decretos promulgados pelo
imperador até 534), formou o sistema legal usado durante a
maior parte do período bizantino.[78] Em 532, com a morte
do xá Cavades I (r. 488–496; 499–531), Justiniano firmou a
chamada Paz Eterna com o seu filho e sucessor, Cosroes I
(r. 531–579), concluindo assim a Guerra Ibérica que havia
sido iniciada em 526.[79] No mesmo ano, o imperador
sobreviveu a uma revolta em Constantinopla (a Revolta de
Nika), que terminou com a morte de cerca de 30 a 35 mil
revoltosos.[80][81] Esta vitória consolidou o poder de
Trecho de um dos afrescos da
Justiniano.[82] No rescaldo do evento, o imperador
Basílica de São Vital, em Ravena,
empreendeu um extenso programa de reparação e
no qual Justiniano é representado
ampliação dos edifícios danificados, entre os quais o mais
famoso, a Basílica de Santa Sofia, perdura até a atualidade
como um dos principais monumentos da arquitetura
bizantina.[83]
Em 541, quando Justiniano estava empenhado em suas campanhas ocidentais, Cosroes I resolveu
quebrar a Paz Eterna e declarar guerra. A chamada Guerra Lázica começou com inúmeras escaramuças
e cercos na frente mesopotâmica, sendo transferida, a partir de 548, à Lázica por influência do rei local
Gubazes II (r. 541–555), arrastando-se até 561, quando concluiu-se a chamada Paz de 50 anos.[nt 8][99]
Em meados dos anos 550, Justiniano obteve vitórias na maioria dos teatros de operação, com a notável
exceção dos Bálcãs, que foram submetidos a repetidas incursões dos esclavenos e gépidas; depois, sob
Heráclio, tribos sérvias e croatas foram reassentadas no nordeste dos Bálcãs.[100] Em 559, o Império
Bizantino enfrentou uma grande invasão dos cutrigures liderada por Zabergano. Justiniano chamou o
seu general Belisário de seu retiro e, com a liderança deste, os hunos foram derrotados. O reforço das
frotas do rio Danúbio provocou a retirada dos cutrigures, que concordaram num tratado que permitiu a
passagem segura para o outro lado do Danúbio.[101][102]
As fronteiras encolhendo
Dinastia heracliana
Nos séculos VI e VII, o império foi atingido por uma série de epidemias, que foram devastadoras à
população e contribuíram para um declínio econômico significativo e e para o enfraquecimento do
império.[111][112][113] Sob Tibério II, o excedente do tesouro que havia sido acumulado desde Justino II
foi gasto com sua magnanimidade e
campanhas,[114][115] o que forçou Maurício a adotar
medidas fiscais estritas e cortes nos pagamentos do
exército, ocasionando vários motins.[116] O último
deles, em 602, levou ao assassinato de Maurício por
Focas (r. 602–610).[117][118][119] Depois do
assassinato, Cosroes II usou-o como pretexto para
Império em 626
recomeçar hostilidades com o Império Bizantino.[120]
O último imperador heracliano, Justiniano II, tentou quebrar o poder da aristocracia urbana através de
tributação severa e nomeação de "estrangeiros" para cargos administrativos. Foi expulso do poder em
695, e se exilou primeiro junto dos cazares e posteriormente dos búlgaros. Nos anos seguintes, mais
precisamente até 698,[142] os últimos territórios bizantinos do norte da África foram conquistados pelos
árabes, concluindo o processo iniciado em 647.[143] Em 705, Justiniano retornou a Constantinopla com
exércitos do cã Tervel (r. 695–715), retomou o trono e instituiu um regime de terror contra seus
inimigos. Com sua queda final em 711, mais uma vez apoiada pela aristocracia urbana, a dinastia
heracliana chegou ao fim.[144][145][146]
Nos séculos VIII e IX, o império foi dominado pela polêmica e divisão religiosa causada pela política
iconoclasta. Os ícones foram banidos em 726 por Leão, levando à revolta dos iconódulos (apoiantes dos
ícones) em todo o império.[171] Após esforços da imperatriz Irene, o Concílio de Niceia se reuniu em 787
e afirmou que os ícones podiam ser venerados mas não adorados. Em 813, Leão V, o Armênio
(r. 813–820) restaurou a política da iconoclastia, mas em 843, Teodora restaurou a veneração dos
ícones com a ajuda do patriarca Metódio I.[172] A iconoclastia desempenhou o seu papel na alienação
posterior do Oriente e Ocidente, que se agravou no Cisma de Fócio, quando o papa Nicolau I desafiou a
elevação de Fócio ao patriarcado.[173]
A morte do imperador Simeão I (r. 893–927) enfraqueceu severamente os búlgaros, permitindo que os
bizantinos se concentrassem na frente oriental.[186] Melitene foi permanentemente reconquistada em
934 e em 943 o famoso general João Curcuas continuou as ofensivas na Mesopotâmia, com algumas
vitórias notáveis que culminaram na reconquista de Edessa (atual Şanlıurfa). Curcuas foi especialmente
celebrado ao retornar para Constantinopla trazendo a venerável Imagem de Edessa (Mandílio), uma
relíquia na qual supostamente estava impresso um retrato de Cristo.[187] Os imperadores soldados
Nicéforo II Focas (r. 963–969) e João I Tzimisces (r. 969–976) expandiram o império à Síria,
derrotando os emires do noroeste do atual Iraque. A grande cidade de Alepo foi tomada por Nicéforo
em 962 e os árabes foram decisivamente expulsos de Creta no ano seguinte. A recaptura colocou fim
aos raides árabes no mar Egeu, permitindo que o continente grego florescesse novamente. Chipre foi
permanentemente retomado em 965 e seus êxitos culminaram em 969 na recaptura de Antioquia,
reincorporada como província imperial.[188] Seu sucessor, João Tzimisces, recapturou Damasco,
Beirute, Acre, Sidom, Cesareia e Tiberíades, colocando seus exércitos a pouca distância de Jerusalém,
embora os centros de poder muçulmanos no Iraque e Egito foram deixados intactos.[189] Após muitas
campanhas no norte, na última ameaça árabe, a rica província da Sicília foi alvo, em 1025, de ataque de
Basílio II (r. 976–1025), porém ele morreu antes de concluir a expedição. No entanto, por essa altura o
império se estendia desde o estreito de Messina ao Eufrates e do Danúbio à Síria.[190]
Uma grande expedição militar sob Leão Focas, o Velho e Romano I Lecapeno (r. 920–944) terminou
novamente com derrota esmagadora na Batalha de Anquíalo (917) e no ano seguinte os búlgaros
estavam livres para devastar o norte da Grécia até Corinto. Adrianópolis foi novamente capturada em
923 e um exército búlgaro cercou Constantinopla em 924; na ocasião, Simeão enviou emissários ao
califa Ubaidalá Almadi (r. 909–934) na esperança de conseguir firmar aliança que permitisse aos
búlgaros utilizar sua poderosa marinha, mas Romano Lecapeno arruinou seus planos.[195] [196] A
situação dos Bálcãs só melhorou após a morte súbita de Simeão em 927 e o subsequente colapso do
poder búlgaro. A Bulgária e o Império Bizantino entraram então num longo período de relações
pacíficas, o que libertou o império para se concentrar na frente oriental contra os muçulmanos.[197] Em
968, a Bulgária foi invadida pelos Rus' sob Esvetoslau I de Quieve (r. 960–972), mas três anos depois o
imperador João I Tzimisces os derrotou na Batalha de Dorostolo e incorporou o leste da Bulgária ao
império.[198]
A resistência búlgara reacendeu sob os cometópulos ("filhos do conde"), mas Basílio II (r. 976–1025)
fez a submissão dos búlgaros seu objetivo principal. Sua primeira expedição contra a Bulgária, porém,
resultou em derrota humilhante na Porta de Trajano. Nos anos seguintes, o imperador esteve
preocupado com revoltas internas na Anatólia, enquanto os búlgaros se expandiam nos Bálcãs. A
guerra se prolongou por quase 20 anos. As vitórias bizantinas em Esperqueu e Escópia enfraqueceram
decisivamente o exército búlgaro, e Basílio metodicamente reduziu as fortalezas deles em campanhas
anuais. Posteriormente, na Batalha de Clídio, em 1014, eles foram completamente derrotados. Em 1018,
seus últimos redutos se renderam e a região se tornou parte do Império Bizantino como província.[199]
Essa vitória restaurou a fronteira do Danúbio, algo que não ocorria desde os tempos de
Heráclio.[190][193]
Contudo, mesmo após a cristianização dos rus' as relações não foram sempre amigáveis. O conflito mais
sério foi a guerra de 968-971 na Bulgária. Além disso, há registro de vários raides rus' contra cidades
bizantinas na costa do mar Negro e à própria Constantinopla. Embora a maioria destes ataques tenha
sido repelido, frequentemente foram seguidos por tratados geralmente favoráveis aos rus', como o que
celebrou o fim da guerra de 1043, no qual os rus' mostram suas ambições de competir com os
bizantinos como poder independente.[201]
O ápice
Em 1025, data da morte de Basílio, o Império Bizantino se
estendia da Armênia no Oriente à Calábria, no sul da Itália,
no Ocidente.[190] Muitos sucessos foram alcançados, desde
a conquista da Bulgária à anexação de partes da Geórgia e
Armênia, e a reconquista de Creta, Chipre e da importante
cidade de Antioquia. Mais do que meros ganhos táticos
temporários, estes êxitos foram reconquistas de longo
prazo.[180] Sob os imperadores macedônicos, a cidade de
Constantinopla floresceu, tornando-se a maior e mais rica
cidade da Europa, com uma população de
aproximadamente 400 000 habitantes nos séculos IX e
X.[202][203] Durante este período, o Império Bizantino
empregou um forte serviço público formado por aristocratas
Um grande renascimento cultural,
competentes, que supervisionavam a cobrança de impostos,
chamado Renascença macedônica,
acompanhou os sucessos militares a administração doméstica e a política externa. Os
do século X. Imagem do Saltério de imperadores macedônicos também aumentaram a riqueza
Paris do império, promovendo o comércio com a Europa
Ocidental, nomeadamente através da venda de seda e a
metalurgia.[204]
Durante o reinado de Leão VI foi completada a codificação completa do direito romano em grego. Este
trabalho monumental de 60 volumes tornou-se a base de todo o direito bizantino subsequente e é
estudado até hoje.[205] Leão também reformou a administração do império, redesenhando os limites
das subdivisões administrativas (os temas) e regulamentando o sistema de classes e privilégios, bem
como o funcionamento de várias corporações comerciais de Constantinopla. As reformas de Leão
fizeram muito para reduzir a fragmentação anterior do império, que doravante tinha um centro de
poder, Constantinopla.[206] Contudo, o crescente sucesso militar do império enriqueceu grandemente a
capacidade da nobreza provincial em relação ao campesinato, que em essência foi reduzido ao estado
de servidão.[207]
Crise e fragmentação
O Império Bizantino logo caiu num período de dificuldades,
causado, em grande medida, pelo enfraquecimento do
sistema dos temas e da negligência dos militares. Nicéforo,
João Tzimisces e Basílio alteraram a função das divisões
militares (tagmas), de unidades de resposta rápida,
primariamente defensivas e formadas por cidadãos para
exércitos profissionais, enquanto que os exércitos das
campanhas passaram a ser cada vez mais constituídos por
mercenários. Contudo, eles eram caros e a ameaça de
invasão retrocedeu no século X, assim como a necessidade
de manter grandes guarnições e fortificações
dispendiosas.[211] Basílio deixou um grande tesouro após a
sua morte, mas negligenciou planos para sua sucessão.
Nenhum de seus sucessores imediatos tinha algum talento
Alparslano (r. 1063–1072)
militar ou político e a administração imperial caiu cada vez
humilhando Romano IV Diógenes
mais nas mãos do serviço civil. Esforços para reanimar a
(r. 1068–1071). Da tradução de um
ilustrado francês da obra de economia bizantina só resultaram em inflação e a moeda de
Boccaccio Sobre os Destinos dos ouro se desvalorizou. O exército passou a ser visto tanto
Homens Famosos como despesa desnecessária como ameaça política, levando
à demissão das tropas nativas, substituídas por mercenários
estrangeiros com contratos específicos.[212]
Ao mesmo tempo, o império foi confrontado por novos inimigos ambiciosos. As províncias bizantinas
no sul da Itália enfrentaram os normandos, que chegaram à região no início do século XI. Durante o
período de conflito entre Constantinopla e Roma que terminou com o Grande Cisma, os normandos
começaram a avançar, lenta, mas firmemente, na Itália bizantina.[213] Régio, a capital do tagma da
Calábria, foi capturada em 1060 por Roberto Guiscardo, seguido por Otranto em 1068. Bari, a principal
fortaleza na Apúlia, foi sitiada em agosto de 1068 e caiu em abril de 1071.[214][215] Os bizantinos
também perderam sua influência sobre as cidades costeiras da Dalmácia para Pedro Cresimiro IV
(r. 1058–1074/5) do Reino da Croácia em 1064.[216]
Porém, seria na Ásia Menor que o maior desastre aconteceria. Os turcos seljúcidas fizeram suas
primeiras explorações do outro lado da fronteira bizantina na Armênia em 1065 e em 1067. A
emergência deu peso à aristocracia militar na Anatólia que, em 1068, garantiu a eleição de um dos seus,
Romano IV Diógenes (r. 1068–1071), como imperador. No verão de 1071, Romano realizou uma
campanha maciça no leste para atrair os seljúcidas para uma batalha geral contra o exército bizantino,
que ocorreu em agosto do mesmo ano em Manziquerta. Nessa batalha, além de sofrer uma
surpreendente derrota frente ao sultão Alparslano (r. 1063–1072), Romano foi capturado. Alparslano o
tratou com respeito e não impôs condições pesadas aos bizantinos. Em Constantinopla, no entanto, um
golpe de Estado ocorreu em favor de Miguel VII Ducas (r. 1068–1078), que logo enfrentou a oposição
de Nicéforo Briênio (r. 1077–1078) e Nicéforo III Botaniates (r. 1078–1081). Até 1081, os seljúcidas
expandiram seu domínio sobre quase todo o planalto da Anatólia e Armênia a leste da Bitínia, e no
ocidente fundaram, em 1077, o Sultanato de Rum, com capital em Niceia, a apenas 88 quilômetros de
Constantinopla.[212]
Em termos de prosperidade e vida cultural, esse período foi um dos picos na história bizantina,[219] e
Constantinopla permaneceu a principal cidade do mundo cristão em termos de tamanho, riqueza e
cultura.[220] Assistiu-se o renovado interesse pela filosofia grega clássica, bem como o aumento na
produção literária em grego vernacular.[221] A arte e literatura mantiveram posição proeminente na
Europa e o impacto cultural de ambas no Ocidente foi enorme e de longa duração.[222]
Aleixo esperava ajuda na forma de mercenários do Ocidente, mas estava totalmente despreparado à
indisciplinada e imensa força que chegou rapidamente em solo bizantino. Não lhe agradou nada saber
que quatro dos oito líderes do corpo principal da Cruzada eram normandos, entre eles Boemundo.
Depois da Cruzada passar por Constantinopla, no entanto, conseguiu algum controle sobre ela e exigiu
que seus líderes lhe jurassem devolver ao império quaisquer cidades ou territórios conquistados dos
turcos a caminho da Palestina. Em troca, deu-lhes guias e escolta militar.[233] Aleixo logrou recuperar
algumas importantes cidades e ilhas, e, na prática, grande parte da porção ocidental da Ásia Menor. No
entanto, os cruzados entenderam que seus juramentos perderam a validade quando Aleixo não os
ajudou durante o Cerco de Antioquia (atual Antáquia). Na realidade, ele tinha previsto entrar em
Antioquia, mas foi convencido a recuar por Estêvão II de Blois, que garantiu que tudo estava perdido e
que a expedição havia falhado.[234] Boemundo, que se estabeleceu como príncipe da Antioquia, entrou
brevemente em guerra com os bizantinos, mas concordou em tornar-se vassalo ao abrigo do Tratado de
Devol, em 1118, que marcou o fim da ameaça normanda durante o reinado de Aleixo I.[235][236]
João II, Manuel I e a Segunda Cruzada
O sucessor de Aleixo foi seu filho João II Comneno
(r. 1118–1143). João foi um imperador piedoso e dedicado,
determinado a reparar os danos que seu império sofreu na
Batalha de Manziquerta meio século antes.[237] Famoso por
sua piedade e seu governo moderado e justo, João foi um
exemplo único de um governante moral, numa época em
que a crueldade era a norma.[238] Sua primeira medida foi
recusar-se a renovar o acordo comercial de 1082 com
Veneza, o que provocou retaliações por parte dos
venezianos, que sitiaram muitas ilhas do Egeu, forçando o
imperador a reconsiderar.[239] No vigésimo quinto ano de
seu reinado, João fez alianças com o Sacro Império no
Ocidente, derrotou decisivamente os pechenegues na
Batalha de Beroia[240] e liderou pessoalmente várias
campanhas contras os turcos na Ásia Menor. As suas
Estados cruzados da Palestina
campanhas mudaram fundamentalmente o equilíbrio do
poder no Oriente, forçando os turcos a manterem-se na
defensiva, e devolveram aos bizantinos muitas cidades e
fortalezas.[241] Também repeliu as ameaças dos magiares e
sérvios durante a década de 1120 e, em 1130, aliou-se com o
imperador Lotário III (r. 1133–1137) contra o rei normando
Rogério II da Sicília (r. 1130–1154).[242][243]
O herdeiro escolhido de João foi seu quarto filho, Manuel I Comneno (r. 1143–1180), que realizou
agressivas campanhas contra seus vizinhos no oriente e no ocidente. Na Anatólia, iniciou uma
campanha punitiva contra o Sultanato de Rum, atacando sua capital, Icônio (atual Cônia), e
aniquilando a cidade fortificada de Filomélio.[248] Além disso, expulsou os turcos da Isáuria.[249] Na
Palestina, aliou-se ao Reino de Jerusalém e enviou grande frota para participar de uma invasão
combinada do Califado Fatímida. Ele reforçou sua posição como senhor dos Estados cruzados, com
hegemonia sobre Antioquia e Jerusalém garantida pelo acordo com Reinaldo (r. 1153–1160), o príncipe
de Antioquia, e Amalrico I (r. 1162–1174), o rei de Jerusalém, respectivamente.[250][251]
Após retomar Corfu dos normandos com a ajuda de tropas de Conrado III (r. 1138–1152) e dos
venezianos,[252] Manuel aproveitou-se da instabilidade política ocasionada pela sucessão de Rogério II
da Sicília por seu filho Guilherme I (r. 1154–1166) e lançou, em 1155, uma invasão ao sul da Itália sob o
comando de Miguel Paleólogo e João Ducas.[253] Foram alcançados resultados rapidamente e uma
aliança foi estabelecida entre Manuel e o papa Adriano IV.[254] Porém, disputas dentro da coalizão
levaram ao posterior fracasso da campanha. Apesar deste revés militar, os exércitos de Manuel
invadiram com sucesso o Reino da Hungria em 1167, derrotando os húngaros na Batalha de Sirmio. No
ano seguinte, quase toda a costa oriental do Adriático estava nas mãos do império.[255] Manuel fez
várias alianças com o papa e os reinos cristãos ocidentais, e tratou com sucesso da passagem da
Segunda Cruzada através do império, após uma batalha às portas da capital.[256]
No leste, no entanto, Manuel sofreu uma grande derrota na Batalha de Miriocéfalo, em 1176, contra os
turcos. Contudo, as perdas foram rapidamente recuperadas e em 1177 as forças de Manuel infligiram
derrota a uma força de "turcos escolhidos".[257] O comandante bizantino João Comneno Vatatzes, que
esmagou os invasores turcos na Batalha de Hiélio e Limoquir, conseguiu, além das tropas que levou da
capital, reunir um exército ao longo do caminho, um sinal de que o exército bizantino se mantinha forte
e que a defesa do oeste da Ásia Menor ainda era eficaz.[258]
Declínio e desintegração
Dinastia Ângelo
Manuel morreu em 24 de setembro de 1180 e deixou seu
filho de 11 anos, Aleixo II (r. 1180–1183), no trono. Se
mostrou incompetente na função, mas o que fez a sua
regência impopular foi sua mãe, Maria de Antioquia, que
era de origem "franca" (o nome dado pelos bizantinos a
todos os latinos).[263] Finalmente, Andrônico I, neto de
Golpe de Andrônico: Maria e Aleixo I, lançou uma revolta contra seu jovem parente e
Rainério foram executados, Maria conseguiu derrubá-lo num violento golpe de Estado.
foi amarrada num saco e lançada Aproveitando-se de sua boa aparência e imensa
ao mar e Aleixo II foi estrangulado.
popularidade com o exército, marchou para Constantinopla
Iluminura do século XV
em agosto de 1182 e incitou o massacre dos latinos da
cidade. Depois de eliminar seus rivais em potencial, coroou-
se como coimperador em setembro de 1183, eliminando
Aleixo II e casando com sua esposa Inês da França, de 12
anos.[264]
O reinado de Isaac II (r. 1185–1195) e, mais ainda, de seu irmão Aleixo III (r. 1195–1203), assistiram ao
colapso do que restava da máquina centralizada do governo e da defesa bizantinos. Mesmo os
normandos tendo sido sido expulsos da Grécia após uma derrota decisiva na Batalha de Demetritzes
em 7 de novembro de 1085, em 1186, valáquios e búlgaros começaram uma rebelião que levaria a
formação do Segundo Império Búlgaro. A política interna dos Ângelos foi caracterizada pelo
esbanjamento do tesouro público e pela má administração fiscal. A autoridade bizantina foi seriamente
enfraquecida e o vácuo crescente no poder central do império encorajou a fragmentação. Há evidências
de que alguns herdeiros Comnenos teriam criado um estado semi-independente em Trebizonda antes
de 1204.[270] Segundo Alexander Vasiliev, "A Dinastia Ângelo, gregos em sua origem, [...] acelerou a
ruína do império, já enfraquecido e com desunião interna".[271]
Quarta Cruzada
Em 1198, o papa Inocêncio III (r. 1198–1216) abordou o
assunto de uma nova cruzada por meio de legados e cartas
encíclicas.[272] A intenção declarada da cruzada era
conquistar o Egito aiúbida, agora o centro do poder
muçulmano no Levante. O exército cruzado que chegou em
Veneza no verão de 1202 era um pouco menor do que havia
sido previsto e não possuía fundos suficientes para pagar os
venezianos, cuja frota foi contratada pelos cruzados para
levá-los ao Egito. A política da República de Veneza,
governada pelo cego e envelhecido, mas ambicioso, doge
Frota cruzada diante de Henrique Dandolo estava potencialmente em desacordo
Constantinopla numa iluminura do
com o papa e os cruzados, pois a cidade estava intimamente
século XV
relacionada comercialmente com o Egito. Os cruzados
aceitaram a proposta de pagar a dívida ajudando Veneza a
capturar o porto de Zara (atual Zadar, na Dalmácia), cidade
vassala da República de Veneza que havia se rebelado e se
colocado sob a proteção do Reino da Hungria em 1186.[273]
A cidade caiu em novembro após breve cerco.[274][275]
Inocêncio, informado tardiamente do plano, teve seu veto
desconsiderado e por estar preocupado em não
comprometer a cruzada acabou absolvendo os cruzados —
Queda de Constantinopla frente aos
exceto os venezianos — do desvio de planos.[276]
cruzados em 1204 numa miniatura
do século XV
Após a morte de Teobaldo III de Champanhe, a liderança da cruzada passou a Bonifácio de Monferrato,
um amigo de Filipe da Suábia, da família Hohenstaufen. Ambos — Bonifácio e Filipe — estavam ligados
à família imperial bizantina pelo casamento. O cunhado de Filipe, Aleixo Ângelo, filho do deposto e
cego Isaac II, apareceu no Ocidente buscando ajuda e contatou os cruzados oferecendo a reunificação
das igrejas, um pagamento de 200 000 marcos de prata e ainda todos os suprimentos necessários para
que pudessem chegar ao Egito.[277]
Queda
Império no exílio
Depois do saque de Constantinopla de 1204
pelos cruzados latinos, dois Estados
sucessores foram estabelecidos: o Império
de Niceia e o Despotado do Epiro. Um
terceiro, o Império de Trebizonda, havia sido
criado algumas semanas antes do saque por
Aleixo I. Dos três, Epiro e Niceia ficaram em
Estados sucessores do Império Bizantino em 1215
melhores condições para recuperar
Constantinopla. O Império de Niceia lutou
para sobreviver nas décadas seguintes e, em meados do século XIII, perdeu muito do sul da
Anatólia.[279] O enfraquecimento do Sultanato de Rum após a invasão mongol de 1242–1243 permitiu
que muitos beis e gazis criassem seus próprios principados (beilhiques) na Anatólia, enfraquecendo a
posição bizantina na região.[280]
Reconquista de Constantinopla
O Império de Niceia, fundado pela dinastia
lascarina, conseguiu reconquistar
Constantinopla aos latinos em 1261[281] e
derrotar o Despotado do Epiro. Depois de
uma recuperação de curta duração das
finanças bizantinas sob
Miguel VIII Paleólogo (r. 1259–1282), o
império foi devastado pela guerra por estar
mal equipado para lidar com os inimigos que Império Bizantino em 1263
agora o cercavam. A fim de manter suas
campanhas contra os latinos, Miguel retirou
tropas da Ásia Menor e cobrou impostos exorbitantes sobre o campesinato, causando muita
insatisfação.[282][283]
Em vez de explorar seus domínios na Ásia Menor, decidiu expandir o império, obtendo sucesso de curta
duração. Para evitar outro saque da capital pelos latinos, forçou a Igreja a se submeter a Roma (a
chamada "União das Igrejas" do Segundo Concílio de Lião, em 1274), uma solução temporária que
aumentou o ódio a Miguel entre os camponeses e população de Constantinopla, hostis aos latinos.[284]
Os esforços de Andrônico II (r. 1282–1328) e, mais tarde, de seu neto Andrônico III (r. 1321–1341)
marcaram as últimas tentativas genuínas de restaurar a glória do império. No entanto, o uso de
mercenários por Andrônico II foi péssima ideia, com a Companhia Catalã assolando os campos e
aumentando o ressentimento contra Constantinopla.[285]
Os imperadores bizantinos pediram ajuda ao Ocidente, mas o papa só enviaria ajuda em troca de uma
reunião da Igreja Ortodoxa com a Sé de Roma. Essa união foi considerada e finalmente realizada por
decreto imperial, mas os cidadãos e clero ortodoxos ressentiram-se intensamente da autoridade de
Roma e da Igreja latina.[290] Algumas tropas ocidentais chegaram para reforçar a defesa da capital, mas
a maioria dos governantes ocidentais, distraídos com seus
próprios assuntos, nada fez em relação aos avanços dos
otomanos, que foram tomando os territórios bizantinos que
restavam.[291]
Governo
No Estado bizantino, o imperador se tornou governante único
e absoluto, e seu poder foi visto como tendo origem
divina.[306] A afiliação foi tamanha que no Império Bizantino
tornou-se comum a mutilação de rivais políticos: se Deus era
perfeito, o imperador também devia ser imaculado; qualquer
mutilação, sobretudo feridas faciais, equivalia a desqualificar
um indivíduo de sua possibilidade de ascender ao trono.[307]
O senado deixou de ter autoridade política e legislativa Temas ca. 750
efetiva, mas permaneceu como conselho honorário com
membros titulares. Até o final do século VIII, uma
administração civil centrada na corte foi formada como parte
da consolidação em larga escala do poder na capital (o
aumento e proeminência da posição do sacelário está
relacionada a esta mudança).[308][309] A reforma
administrativa mais importante do período foi a criação de Temas ca. 950
temas, nas quais a administração civil e militar era exercido
pelo estratego.[310][311]
Diplomacia
Após a queda do Ocidente, o principal desafio ao
Império Bizantino era manter relações entre si e seus
vizinhos. Quando essas nações forjaram instituições
políticas formais, muitas vezes se basearam nas de
Constantinopla. A diplomacia conseguiu atrair
rapidamente seus vizinhos numa rede de relações
internacionais interestatais.[315] Ela se baseava em
tratados, que incluíam a integração do novo líder na
Embaixada de João, o Gramático em 829,
família dos reis e assimilação de hábitos sociais,
entre o imperador Teófilo (r. 829–842) e o
valores e instituições bizantinas.[316] Enquanto os
califa abássida Almamune (r. 813–833)
escritores clássicos faziam distinções éticas e legais
entre paz e guerra, os bizantinos consideravam a
diplomacia como forma de guerra alternativa.[317] A Igreja Ortodoxa também teve seu papel, e a
propagação do cristianismo era objetivo diplomático importante do império.[318]
A diplomacia era entendida como tendo função de recolha de informações, além da função puramente
política. O Gabinete dos Bárbaros da capital lidava com questões de protocolo e registro de todas as
questões sobre "bárbaros" e talvez incluía, assim, um serviço básico de informações (inteligência).[319]
Bury acredita que o gabinete supervisionava sobre todo estrangeiro que visitava a capital e estava sob
supervisão do logóteta do dromo.[320] Apesar de aparentemente ser um organismo protocolar — sua
principal missão era garantir que emissários fossem adequadamente tratados e recebessem fundos
suficientes do Estado para sua manutenção, e a ele pertenciam todos os tradutores oficiais —
provavelmente tinha também função de segurança. O Tratado sobre Estratégia, do século VI,
aconselhava sobre embaixadas estrangeiras: "[emissários] que nos são enviados devem ser recebidos
com honra e generosidade, pois todos mantêm-os em alta estima. Seus membros, porém, devem ser
mantidos sob vigilância para impedir que obtenham quaisquer informações por meio de perguntas
sobre nosso povo".[321]
Exército
O exército bizantino foi um continuação do seu antecessor romano. Sua história como força
independente remonta às reformas do início do século IV, quando as legiões foram trocadas por
milícias locais fronteiriças (limítanes) e exércitos campais móveis (comitatenses) que guarneceram o
império.[322] Nos séculos V e VI, oficiais chamados mestres dos soldados foram nomeados para
algumas das principais fronteiras do império e sob seu comando estavam as forças nativas e aquelas
dos federados, os bárbaros sob proteção bizantina;
mercenários estrangeiros, os chamados símocos
(symmochoi), foram por vezes contratados como
unidades separadas controladas por seus próprios
comandantes. Nesses mesmos séculos, como descrito
no Strategicon de Maurício I (r. 582–602), o método
de guerra passou por uma transição na qual
regimentos de arqueiros e cavaleiros foram
valorizados, imitando as práticas persas e avares.[323]
Relevo de marfim representando soldado
romano com armadura de escamas e Rebeliões internas e derrotas nas fronteiras perante
escudo redondo, século VI. Museu Bode, as investidas estrangeiras no final do século VI e
Berlim começo do VII levaram a rápido decréscimo dos
efetivos imperiais que, embora tenham sido
reorganizados em 628 sob Heráclio (r. 610–641),
estiveram na origem de inúmeras derrotas frente aos
ataques árabes, lombardos e búlgaros nos séculos VII
e VIII. Para fazer face a crise militar, foi elaborada
nova reestruturação: estabeleceram-se distritos
militares (temas) onde estacionaram grupos armados
que recebiam propriedades em troca de serviços.
Nos séculos X e XI, de acordo com o que os documentos do período indicam, os imperadores soldados
Nicéforo II (r. 963–969) e Basílio II (r. 976–1025) fizeram reformas, usando mais unidades pesadas
como os catafractários e novas táticas que uniam infantaria e cavalaria em batalha ou campanha,
elevando a eficiência militar e permitindo reconquistar muitos territórios antes perdidos a árabes e
búlgaros. Outrossim, a composição e estrutura começaram a mudar: o comando foi centralizado na
capital, as unidades temáticas e tagmáticas foram substituídas por novos contingentes que foram
alojados nas províncias e efetivos mercenários (guarda varegue e normandos) tornaram-se
preponderantes. Sob Manuel I Comneno (r. 1143–1180), os bizantinos tentaram imitar as táticas e
panóplia ocidentais, o que não teve bons resultados. Os imperadores de Niceia desenvolveram as
tradições adotadas por Manuel e lograram criar exércitos mercenários (cumanos, turcos, ocidentais)
que, embora pequenos, eram eficientes. Sob os imperadores paleólogos, as últimas unidades de
soldados-camponeses foram desmanteladas e o organização do serviço militar a nível local passou a
estar a cargo dos proprietários de terras, uma vez que o poder central já não tinha mais capacidade para
manter forças terrestres e marítimas substanciais.[323]
Marinha
A marinha, tal como o exército, foi uma
continuação de sua correspondente romana,
porém mais importante.[325][326] No início
do século IV, devido à não ocorrência de
grande operações navais, as esquadras
imperiais eram compostas de navios
relativamente pequenos que dedicavam-se
quase exclusivamente a missões de
policiamento e escolta. Com as guerras civis Principais operações bizantino-muçulmanas e
do final do século IV e começo do V, batalhas no Mediterrâneo do século VII ao XI
contudo, a atividade naval foi retomada e as
frotas foram usadas sobretudo no transporte
de tropas,[327], mas só a partir do século VI,
sob Anastácio I (r. 491–518), o império
possuiria frota fixa.[328] Sob Justiniano
(r. 527–565) e Justino II (r. 565–578), a
frota anastasiana foi aperfeiçoada e
transformou-se numa força profissional bem
treinada.[329] Durante o século VI, desde as
A marinha bizantina repele o ataque Rus' a
invasões árabes, foi necessário recompor as
Constantinopla em 941. Ações de abordagem e
tropas imperiais para enfrentarem os novos
combates corpo a corpo determinavam o resultado
inimigos. A marinha foi reorganizada aos da maior parte das batalhas navais na Idade
moldes do sistema de temas, e estabeleceu- Média. Aqui, os dromons bizantinos são mostrados
se a frota dos carabisianos (em grego: passando "por cima" dos barcos Rus' e
Καραβισιάνοι; transl.: Karabisianoi , "os despedaçando os seus remos com os rostros
(esporões).[324]
homens dos navios") que foi a
correspondente dos tagmas que constituíam
o exército.[330]
No século VIII, quando os carabisianos mostraram-se ineficientes diante das investidas árabes, a
marinha passou por nova reforma, com as mudanças perdurando até o começo do século XI com
pequenas alterações: uma frota imperial central baseada na capital, um pequeno número de grandes
comandos navais regionais, tanto temas marítimas como comandos independentes chamados
"drungariados", e um número maior de esquadras locais encarregadas de tarefas puramente defensivas
e policiamento, subordinadas aos governadores provinciais.[331] Após o declínio da marinha no
século XI, Aleixo I (r. 1081–1118) reconstruiu-a em moldes diferentes: uma frota imperial unificada foi
estabelecida sob o comando do posto então criado de mega-duque, substituindo assim o estratego; o
grande drungário, anteriormente o comandante geral naval, foi rebaixado a subordinado do mega-
duque, atuando como seu principal ajudante.[332][333] A partir do final do século XII, embora haja
registros de uma frota, o império tornou-se cada vez mais dependente das frotas italianas provenientes
de Veneza e Gênova.[334][335] Sob Miguel VIII Paleólogo (r. 1259–1282) foram formadas novas
unidades visando reduzir a dependência imperial dos navios estrangeiros,[336][337][338] e estas
perdurariam ao longo dos últimos séculos do império.[339]
Economia
Sua economia esteve entre as mais avançadas da Europa e
Mediterrâneo por muitos séculos; a Europa, em particular,
foi incapaz de corresponder a sua força econômica até fins
da Idade Média. Constantinopla foi eixo central numa rede
de comércio que por diversas vezes estendeu-se por quase
toda a Eurásia e Norte da África estando no ponto mais
ocidental da Rota da Seda. Até primeira metade do
século XI, em nítido contraste com o Ocidente decadente,
sua economia floresceu e resistiu.[340] Um dos fundamentos
econômicos do Império Bizantino foi o comércio,
promovido pelo caráter marítimo do império, embora, a
partir do século VIII e até o início do XIV, tenha
O Sudário de Carlos Magno, uma
seda bizantina policromada do desenvolvido uma intensa economia rural[341] baseada na
século IX. Paris, Museu de Clúnia produção de cereais, vinhas e oliveiras.[342] Têxteis devem
ter sido, de longe, o item mais importante de
exportação;[nt 11] Sedas foram certamente importadas ao Egito e aparecem também na Bulgária e no
Ocidente.[346][347]
A Praga de Justiniano e as conquistas árabes representaram uma reversão substancial das fortunas e
contribuíram para um período de estagnação e declínio. As reformas isauras e, em particular, o
repovoamento, obras públicas e medidas fiscais de Constantino V Coprônimo (r. 741–775) marcaram o
começo de um avivamento que seguiu até 1204, apesar da contração territorial.[350][351] Do século X ao
final do XII, o império projetou imagem de luxo e os viajantes ficavam impressionados com a riqueza
acumulada na capital.[352] A Quarta Cruzada provocou a interrupção da fabricação e o domínio
comercial dos europeus ocidentais no Mediterrâneo Oriental, eventos que resultaram em catástrofe
econômica.[353] Os paleólogos tentaram reavivar a economia, mas o Estado não recuperaria o controle
total de quaisquer das forças econômicas externas ou internas. Gradualmente, também perdeu
influência sobre modalidades de comércio e mecanismos de preços, seu controle sobre saída de metais
preciosos e, segundo alguns estudiosos, até mesmo da cunhagem.[354]
Religião
A sobrevivência do Império Romano do Oriente assegurou
um papel ativo do imperador em assuntos da Igreja. O
Estado herdou dos tempos pagãos os procedimentos
administrativos e financeiros dos assuntos religiosos — o
imperador era o pontífice máximo — e esses procedimentos
foram aplicados à Igreja Cristã. Seguindo o padrão
estabelecido por Eusébio de Cesareia, os bizantinos viam o
imperador como representante ou mensageiro de Jesus
Cristo, responsável, em particular, pela propagação do
cristianismo entre pagãos e pelos temas que não se
relacionavam diretamente à doutrina, como administração
Teodósio I (r. 379–395), aquele que
e finanças. A busca pela unificação das crenças, costumes e
fez do cristianismo niceno a Igreja
imperial ritos em todo império e hierarquia eclesiástica foram dois
fatores essenciais que legitimaram o poder imperial assim
como a centralização do Estado: como Cyril Mango aponta,
o pensamento político bizantino pode ser resumido no lema
"Um Deus, um império, uma religião".[355] No entanto, o
papel imperial nos assuntos da Igreja nunca se desenvolveu
num sistema fixo legalmente definido.[356] Com o declínio
de Roma e a dissensão externa nos outros Patriarcados do
Oriente (Antioquia, Alexandria e Jerusalém), a Igreja de
Constantinopla tornou-se, entre os séculos VI e XI, o mais
influente e rico centro da cristandade.[357] Mesmo quando o
império foi reduzido a apenas uma sombra de seu
esplendor, a Igreja continuou a exercer influência
significativa tanto dentro como fora das fronteiras
imperiais. Como George Ostrogorsky aponta:
O Patriarcado de Constantinopla
Página do Saltério Chludov
criticando a iconoclastia. No fundo
“ permaneceu o centro do mundo
ortodoxo, com sés metropolitanas ”
há representação da crucificação de subordinadas e arcebispados no
Jesus no Gólgota. O artista território da Ásia Menor e Bálcãs,
compara os soldados romanos regiões na época perdidas ao
maltratando Jesus com os Império Bizantino, bem como no
patriarcas iconoclastas João Cáucaso, Rússia e Lituânia. A
Gramático e Antônio I destruindo o igreja continuou a ser o elemento
ícone de Cristo mais estável do Império
Bizantino.'[358]
A doutrina cristã oficial do Estado foi determinada pelos primeiros sete concílios ecumênicos e o
imperador tinha dever de impô-la aos súditos. Um decreto imperial de 388, depois incorporado no
Código de Justiniano, ordenava que a população "assumisse o nome de cristãos católicos" e declarava
todos que não cumprissem a lei como "pessoas loucas e tolas", seguidoras de "dogmas heréticos".[355]
Apesar dos decretos e postura rigorosa da Igreja do Estado, que passou a chamar-se "Igreja Ortodoxa",
ela nunca representou todos os cristãos do império. Mango acredita que, nos estágios iniciais, as
"pessoas loucas e tolas", justamente os rotulados como "hereges", constituíam a maioria da
população.[359] Além de pagãos, que existiram até o final do século VI, e judeus, havia muitos
seguidores — muitas vezes imperadores — de várias doutrinas cristãs, como o nestorianismo,
monofisismo, arianismo e paulicianismo, cujos dogmas de algum modo se opunham ao cânone
teológico "ortodoxo" estabelecido nos concílios ecumênicos.[360] Outra divisão entre os cristãos ocorreu
quando Leão III, o Isauro (r. 717–741) ordenou a destruição dos ícones, o que provocou uma crise
religiosa significativa que só terminou em meados do século IX com a restauração dos ícones. Nesse
período, nova onda de pagãos emergiu nos Bálcãs, oriundos principalmente dos povos eslavos. Eles
foram gradualmente cristianizados e, durante estágios finais do Império Bizantino, a Ortodoxia passou
a representar a maioria dos cristãos no que restava do império.[361]
Os judeus foram uma minoria significativa no Estado ao longo de sua história e, de acordo com a lei
romana, constituíam grupo religioso legalmente reconhecido. No período inicial, foram geralmente
tolerados, mas depois ocorreram períodos de tensões e perseguições (como a Revolta judaica contra
Heráclio). De qualquer forma, após as conquistas árabes, a maioria dos judeus se viu fora do império;
aqueles que ficaram dentro das fronteiras aparentemente viveram em relativa paz a partir do
século X.[367]
Língua
Além da corte, da administração e do exército, a principal língua usada nas províncias romanas
orientais mesmo antes do declínio do Império Ocidental sempre foi o grego, falado na região séculos
antes do latim.[368] Na verdade, logo no início do Império Romano, o grego se tornou língua comum da
Igreja Cristã, da erudição, das artes e, em grande medida, foi lingua franca para o comércio entre as
províncias e outras nações.[369][370][371] Durante algum tempo, a língua ganhou natureza dual, com a
principal língua falada, o coiné vernacular em constante desenvolvimento (que haveria de evoluir para
o grego demótico), coexistindo com o grego ático, uma língua literária mais antiga; o coiné acabou por
evoluir até se tornar o dialeto padrão.[372][373]
O uso administrativo do latim persistiu até ser abandonado
por Heráclio (r. 610–641).[374][375] O latim académico caiu
rapidamente em desuso entre as classes instruídas, embora
fez parte, ao menos cerimonialmente, da cultura durante
algum tempo.[376][377] Além disso, o latim vulgar continuou
a ser língua minoritária no império, e entre as populações
Rolo de Josué, manuscrito
traco-romanas deu origem ao proto-romeno. Do mesma
iluminado do século X feito em
modo, na costa do mar Adriático se desenvolveu outro Constantinopla (Biblioteca
vernáculo neolatino, que mais tarde originaria a língua Apostólica Vaticana, Roma)
dálmata. Nas províncias do Mediterrâneo Ocidental,
temporariamente conquistadas sob Justiniano (r. 527–565),
o latim (que posteriormente evoluiu às línguas românicas)
continuou a ser usado como língua falada e como língua
acadêmica.[378]
Arte
A arte é quase inteiramente centrada na expressão religiosa e, notadamente, na tradução impessoal da
teologia da Igreja cuidadosamente controlada em termos artísticos. Foi muito influenciada pela arte da
Antiguidade Clássica e pela alegoria oriental, mantendo, a despeito da influência oriental, forte
uniformidade da tradição clássica ao longo de sua história. A partir do século VI a arte começou a
distanciar-se da produzida nas regiões do antigo Império Ocidental. Alcançou seu apogeu sob a dinastia
macedônica (886–1056) e declinou com a Queda de Constantinopla em 1453.[391] Foi muito prestigiosa
e procurada na Europa Ocidental, mantendo influência na arte medieval até perto do final do período;
tal era o caso na Itália, onde seus estilos persistiram de forma modificada ao longo do século XII e
tornaram-se influências formativas na arte renascentista. Com a expansão da Igreja Ortodoxa, suas
formas e estilos espalharam-se para todo o mundo ortodoxo e além.[392][393][394]
Devido as importantes jazidas de mármore próximo a capital,
desenvolveu-se no Império Bizantino, e sobretudo na Ásia
Menor, forte tradição artística de trabalho em pedra. Desde a
Antiguidade o Oriente teve tradição na produção de artes
menores[nt 13] que foi mantida pelos bizantinos. Em
Constantinopla floresceram, a par da escultura decorativa, os
trabalhos com pedra, metal (como bronze ornamental),
marfim, esmalte e tecelagem; além desses, destaca-se na arte a
pintura em afresco, manuscritos iluminados, mosaicos e
painéis.[391] Na arquitetura, outra área de grande
florescimento, nota-se tradição de construção geralmente
associada com a história do Império Romano Tardio e do
próprio Império Bizantino, que estendeu-se com maior esfera
de influência no período que decorre entre 300 e 1450 e
desafiou uma definição convencional compreensiva sobre bases
Díptico Barberini, com geográficas, culturais, cronológicas e estilísticas.[396]
representação de um imperador,
talvez Anastácio I ou Justiniano A literatura tem influências de quatro elementos culturais:
grego, romano, cristão e oriental. Seus autores são comumente
classificados em cinco grupos: historiadores e analistas,
enciclopedistas (Fócio, Miguel Pselo e Nicetas Coniates são
tidos como maiores enciclopedistas) e ensaístas, escritores de
poesia secular (sua única obra épica é Digenis Acritas),
escritores de poesia popular e literatos eclesiásticos.[397] Dos
cerca de 3 000 volumes literários sobreviventes, apenas 330
são poesia secular, história, ciência e pseudociência.[398] Na
literatura religiosa (sermões, livros litúrgicos e poesia, teologia,
tratados devocionais etc.), Romano, o Melodista foi o mais
proeminente.[399]
Representação mais antiga
conhecida de uma lira bizantina O teatro foi repudiado, sendo considerado a personificação da
num estojo de marfim, imoralidade pelos eruditos da Igreja. Foi completamente
c. 900-1100, Museu Nacional do
banido pela Igreja no final do século VII, com a palavra
Bargello, Florença
theatron denotando espetáculos do Hipódromo de
Constantinopla ou círculos literários onde trabalhos retóricos
eram lidos em voz alta. Todavia, elementos teatrais sobreviveram no cerimonial imperial e em
festividades populares, nas quais participavam mímicos, bobos, músicos, dançarinos, etc. Na literatura
foram produzidas peças para leitura e na liturgia encontram-se várias características teatrais.[400] A
dança também foi mal vista pelos eruditos da Igreja, porém, tal como o teatro, sobreviveu ao período.
Estava presente no cerimonial cortesão, principalmente nos festivais das Calendas e da Brumália, e foi
por inúmeras vezes mencionada em obras literárias como em Digenis Acritas.[401]
No caso da música, para além das aclamações, nenhuma obra não ligada às liturgias sobreviveu.
Embora a música secular é citada várias vezes por autores cristãos e historiadores, o gênero, estilo e
forma são incertas, sendo que autores modernos considerem como "música bizantina" todo cântico
sagrado medieval que seguiu o rito Ortodoxo Oriental e alguns cânticos cerimoniais em honra ao
imperador, a família imperial e altos dignitários da Igreja Ortodoxa.[402] A pouca informação
preservada sobre instrumentos musicais também é um problema. O seu número, tipo e função não está
completamente compreendido e, embora alguns nomes tenham sido preservados em textos
contemporâneos, é muito difícil associá-los claramente com as representações pictóricas e/ou
escultóricas remanescentes.[403]
Conhecimento
Os escritos da Antiguidade Clássica nunca deixaram de ser
cultivados no Império Bizantino. Assim, a ciência teve ligação
estreita com a filosofia antiga (sobretudo Platão e
Aristóteles)[404] e com a metafísica.[405] Embora em vários
momentos os bizantinos tenham alcançado feitos magníficos na
aplicação das ciências (notadamente na construção de Santa
Iluminura retratando o interior de Sofia), a partir do século VI os eruditos fizeram poucas
uma escola contribuições à ciência em termos de desenvolvimento de
novas teorias ou no estender de autores clássicos.[406][407] Nos
anos sombrios da praga e conquistas árabes, o conhecimento
sofreu acentuada estagnação, mas no Renascimento bizantino
no final do primeiro milênio, os estudiosos reafirmaram-se
novamente, tornando-se especialistas nos desenvolvimentos
científicos dos árabes e persas, especialmente astronomia e
matemática.[408] No século XV, gramáticos foram os principais
responsáveis pela execução, pessoalmente e por escrito, de
estudos gramaticais e literários do grego antigo que marcaram
o início da Renascença italiana.[409] Nesse período, a
astronomia e outras ciências matemáticas eram ensinadas em
Trebizonda e a medicina atraiu o interesse de quase todos os
estudiosos.[410]
Sob Constantino IX (r. 1042–1055), foram fundadas escolas de direito e filosofia, e no século XII o
patriarca manteve escola de retórica e teologia, a chamada Escola Patriarcal. No final do século XIII e
no XIV, nota-se a manutenção do patrocínio imperial do ensino superior e há registro de muitas
escolas, privadas ou semi-privadas.[414] Durante a vida acadêmica os alunos aprendiam gramática
(leitura, escrita e crítica a obras clássicas, sobretudo Homero), retórica (correção da pronúncia e estudo
de autores), filosofia, arte, aritmética, geometria, música, astronomia, direito, medicina e física, além
de educação religiosa. Não há menções sobre educação feminina mas supõe-se que jovens de classes
abastadas recebiam, em parte, a mesma educação dos meninos, enquanto que nas classes inferiores
aprendiam geralmente apenas a ler e escrever.[413]
Sociedade
A sociedade incluía várias classes sociais que não eram
exclusivas nem imutáveis. Delas as mais características
eram as dos pobres, camponeses, soldados, comerciantes e
membros do clero.[416] Os pobres, segundo um documento
de 533, eram todos aqueles que não possuíssem 50 moedas
de ouro (soldos).[417] Formaram a maioria da plebe
cosmopolitana[418] e sua quantidade flutuou ao longo dos
séculos do império, embora seu número tenha se elevado de Imperador Teófilo visita a Igreja de
maneira acentuada no final da Antiguidade Tardia com as Santa Maria de Blaquerna.
Iluminura do Escilitzes de Madri
invasões bárbaras e a fuga de muitas pessoas às cidades,
para escaparem da alta tributação no campo.[419] Embora
não haja dados precisos sobre seu número, sem dúvida o campesinato representou a maioria dos
habitantes das áreas rurais. Como os soldados, são referidos no Tática de Leão VI como a espinha
dorsal do império.[420] A nível organizacional, os soldados eram semelhantes a seus congêneres do
período romano clássico, mas quando analisados no âmbito social surgem diferenças nítidas; a Tática
de Leão VI fornece muitos elementos sobre a aparência, costumes, hábitos e vida dos soldados.[421]
Além de funções militares, os soldados exerciam atividades
acessórias como médicos ou técnicos[422] e até o século XI
também se envolveram em atividades rurais, havendo a
hipótese de terem exercido funções como artesãos e
comerciantes.[423] Cogita-se também a hipótese de que a
partir do século X muitos soldados, através de seus
pagamentos, tenham começado a adquirir propriedades
rurais com impostos reduzidos ou isentados.[424] Com o
passar do tempo, a classe mercantil, em especial a de
Agricultores no campo (metade
Constantinopla, tornou-se uma força própria que por vezes
inferior) e a receber o pagamento
chegou a ameaçar o imperador, o que foi alcançado através (metade superior). Parábola dos
do uso eficiente do crédito e de outras inovações Trabalhadores na Vinha, evangelho
monetárias.[425] Finalmente, o poder de compra dos do século XI
mercadores tornou-se tal que influenciavam os preços em
mercados tão distantes como os do Cairo e Alexandria e
acabaram, por conseguinte, fazendo parte do senado através
de concessões imperiais, o que fez com que passassem a
integrar a elite reinante; mantiveram-se nesta posição até as
maquinações políticas do século XI, que levaram a
aristocracia rural a assegurar o trono para si por mais de um
século,[426] embora depois tenham regressado à sua
posição, mantendo-a até o período da Terceira Cruzada.[427] Cena de casamento e vida em
família em Constantinopla
Por fim havia a classe dos clérigos. Ao contrário de seus
congêneres europeus ocidentais, que distanciavam-se dos
ditos leigos, os clérigos orientais mantinham-se em constante contato com a sociedade. Ao contrário da
Igreja Latina, a Igreja Bizantina autorizava o casamento de padres e diáconos, uma vez que muitos
deles já o eram antes da ordenação. Aos bispos, contudo, recomendava-se que não se casassem.[428]
Estando a hierarquia religiosa espalhada pelas divisões administrativas do império, o clero foi mais
onipresente do que os servos do imperador.[429] A questão do cesaropapismo, geralmente associada
com o Império Bizantino, é agora entendida como sendo uma simplificação das condições reais do
império.[430] No século V, o patriarca de Constantinopla foi reconhecido como o primeiro entre iguais
dos quatro patriarcados orientais, com estatuto igual ao do papa de Roma. As províncias eclesiásticas
(chamadas eparquias) eram chefiadas pelos arcebispos e metropolitas, que supervisionavam seus
subordinados bispos ou epíscopos. À maioria das pessoas, contudo, o rosto mais reconhecível do clero
era o seu pároco ou papas (da palavra grega para "pai").[428][431]
Embora constituindo 50% da população, as mulheres tenderam a ser esquecidas nos estudos
bizantinos.[432] A sociedade era patriarcal e deixou poucos registros sobre mulheres. Outrossim,eram
geralmente vistas com desconfiança e consideradas periodicamente imundas e como resultado foram
objeto de discriminação. As mulheres eram desfavorecidas em alguns aspectos legais, no acesso à
educação e na liberdade de movimento, que era limitado.[433] Segundo as tradição os casamentos eram
arranjados pelos pais dos noivos almejando alianças familiares, dotes, etc. As moças podiam casar-se
aos 12 anos e os rapazes aos 14. O homem precisava de bens equivalentes ao dote da mulher. Os
casamentos imperiais eram arranjados pelos alto funcionários do palácio, que traziam pretendentes de
todo o reino para os príncipes escolherem.[434]
Recriação
Os persas introduziram o chatrangue (um dos antecessores
do xadrez) no Império Bizantino por volta do século VII que
foi assimilado sob o nome de zatrício (em grego: ζατρίκιον;
transl.: zatrikion). Porém, sua primeira evidência da qual é
possível estabelecer uma data correta é do século XII, numa
passagem da biografia de Aleixo I, escrita por sua filha Ana
Iluminura da Épica dos Reis de Comnena. Não se conhece em detalhes as regras do jogo que
Ferdusi mostrando embaixadores
era praticado na corte bizantina e com a derrocada do
da Índia jogando uma partida de
império em 1453, a versão existente do jogo foi substituída
chatrangue com Burzumir, o vizir do
xá Cosroes I (r. 531–579) pela versão turca que viria a ser posteriormente substituída
pela versão europeia.[435] Os bizantinos eram ávidos
jogadores de tábula (em grego medieval: τάβλη;
transl.: táble), o moderno gamão, que ainda é popular em
antigo territórios bizantinos e é conhecido na Grécia pelo
mesmo nome.[436]
Além da caça, praticava-se três modalidades de esportes equestres: o tzicânio, o tornemo e o dzustra. O
tzicânio, similar ao polo, veio muito cedo da Pérsia e um Tzicanistério (estádio para este jogo) foi
edificado por Teodósio II (r. 408–450) dentro do Grande Palácio de Constantinopla;[438] Basílio I
destruiu o edifício original para edificar a Igreja Nova e edificou um maior; diz-se que Basílio era
excelente no jogo,[437] Aleixo I se feriu quando jogava com Tatício[439] e João I (r. 1235–1238) se feriu
fatalmente quando jogava em Trebizonda. O tornemo e a dzustra foram introduzidos pelos ocidentais e
jogados segundo as regras dos encontros cavalheirescos.[440]
Vestuário
O vestuário e moda eram muito importantes, havendo
regulamentos e regras sobre o que vestir no dia a dia ou em
ocasiões especiais como os banquetes. Um exemplo disso é
o Cletorológio de Filoteu, que descreve o local onde os
convidados dos banquetes imperiais se sentariam segundo
sua posição e roupas. O vestuário imperial dos períodos
iniciais era uma reminiscência clara do estilo romano. Com
o tempo, porém, em especial através da influência de povos
vizinhos, esse estilo foi deixado às ocasiões cerimoniais,
Sapatos bizantinos do século VI
enquanto um estilo próprio surgiu:[441] a trábea triunfal,
uma toga cerimonial romana utilizada até o século VI,
evoluiu à estola de couro ou seda pesada com pedras preciosas e pérolas cravejadas, denominada loros,
que manteve-se em uso até o século XII.[442] O clâmide, uma vestimenta militar que evoluiu do
paludamento romano, adquiriu caráter luxuoso e passou a ser fabricado em seda e outros materiais
preciosos.[443]
As vestimentas femininas, diferente das usadas por homens, são atualmente pouco conhecidas devido
às poucas menções por parte dos autores, e mesmo às peças cujo nome se conhece (delmatício, mafório
e torácio), sua finalidade é parcial ou totalmente incerta. Sabe-se, por outro lado, que tanto a imperatriz
como esposas dos oficiais da corte trajavam-se de forma semelhante aos seus cônjuges e que os servos
das mulheres vestiam-se todos com a mesma roupa.[444] Outro segmento social do qual pouco se sabe
sobre suas vestimentas são as crianças. Embora por vezes mencionadas nas obras dos estudiosos, seu
vestuário é pouco ou quase nunca descrito.[445]
Culinária
Para Nicolau Tselementes, a culinária era marcada pela
fusão da gastronomia greco-romana: embora registros dos
alimentos sejam escassos, há nítidas relações com a
culinária descrita, por exemplo, na Gastronomia de
Arquéstrato (século V a.C.). As receitas dos pratos
sobreviveram em tratados que lidavam com a nutrição e o
Basílio I, o Macedônio realiza
banquete aos senadores. Iluminura regime mensal de alimentos para boa saúde e no século XII
do Escilitzes de Madri autores como Eustácio de Salonica e Ptocoprodromo
descreveram pratos luxuosos. Consumia-se alimentos em
três refeições (café da manhã, almoço e ceia)[446] e o consumo variava conforme a classe social. No
palácio, convidados eram recebidos com vinho, frutas, bolos de mel e doces xaroposos.[447] A nobreza e
os ricos comiam com fartura, inclusive alimentos exóticos; se tem notícia de caviar e esturjão, que eram
importados, e carne de animais selvagens, molhos, vinagre, repolho em conserva e especiarias como
pimenta e canela, sobremesas e bolos de mel feitos com farinha misturada com mosto ou feitos com
farinha de trigo em formatos circulares recheavam a mesa.[446] Apenas as classes mais abastadas
comiam cordeiro.[448]
Os comuns comiam pães, legumes e vegetais, cereais, óleos,
frutas, peixe e vinho; os pobres subsistiam de vegetais,
vinagre, legumes preparados com azeite, sopa feita de
farinha e cevada ou omelete de cebola.[446] Salada e sopa
eram populares e produzia-se vários tipos de queijo.
Também eram apreciados mariscos e peixes, de água doce e
salgada, embora optassem pelos de água salgada. Cada
família também mantinha um estoque de aves. Consumiam-
Cena de Caça (século XI), iluminura
do Mosteiro de Santa Catarina se ainda outros tipos de carne de caça. Na caça eram
utilizados cães e falcões, embora por vezes fossem
empregadas armadilhas e redes. Os cidadãos abatiam
suínos no início do inverno, que forneciam para suas famílias linguiça, carne e banha para todo o ano.
Raramente se comiam bovinos, pois eram usados para cultivar os campos. A forma mais comum de
preparação dos alimentos era por cozedura.[448]
Consumia-se molho de soja (murri) e molho de cevada fermentada como condimento,[449] garo (molho
de peixe), pasto (carne seca temperada),[450][451][452] coptóplaco (tipo de pastel)[453][454] e
tiropita.[455][456][457] Retsina (vinho aromatizado com resina de pinheiro) também era bebido;
Liutprando de Cremona, em sua embaixada a Constantinopla em 968 em nome do imperador Otão I
(r. 936–973), reclamou do sabor do vinho e do garo.[458] Com o comércio de longa distância,
Constantinopla era inundada por muitos produtos alimentícios (noz-moscada, tâmara, figo, romã,
amêndoa, pistache, cenoura, alho, abobrinha, uva, pera, maçã, alho-poró, melão, laranja, berinjela,
etc.), provenientes de diferentes lugares, principalmente da Ásia.[447] Através dos fragmentos de livros
culinários descobriu-se alguns hábitos alimentares e as propriedades atribuídas aos alimentos: rosa,
alho, lírio, açafrão, violeta, mirtilo, camomila, sândalo, cânfora e noz-moscada eram vistos como
plantas medicinais, enquanto grão-de-bico, melão, tâmara e rúcula eram afrodisíacos.[459]
Legado
O império é comumente descrito como absolutista, ortodoxo, oriental e exótico, assim como os termos
"bizantino" e "bizantinismo" são usados como arquétipos de decadência, burocracia complexa e
repressão. Países da Europa Central e Sudeste que saíram do Bloco do Leste no final da década de 80 e
começo da 90 avaliaram essa civilização e seu legado negativamente devido sua ligação com um
suposto "autoritarismo e autocracia oriental". Tanto autores europeus orientais como ocidentais têm
apresentado frequentemente o Império Bizantino como um corpo de ideias religiosas, políticas e
filosóficas contrárias ao Ocidente. Mesmo na Grécia do século XIX, o foco foi principalmente seu
passado clássico, enquanto a tradição bizantina era associada a conotações negativas.[460]
Essa abordagem tradicional tem sido questionada, parcial ou totalmente, e revisada por estudos
modernos, que focam nos aspectos positivos da cultura e legado. Averil Cameron considera inegável sua
contribuição à formação da Europa medieval, e tanto Cameron como Obolensky reconhecem o papel
central do Império Bizantino na formação da Ortodoxia, que por sua vez ocupou posição central na
história e sociedade da Grécia, Bulgária, Rússia, Sérvia e outros países.[461] Os bizantinos preservaram
e copiaram manuscritos clássicos, pelo que são assim reconhecidos como transmissores do
conhecimento clássico, importantes contribuidores à
civilização europeia moderna e precursores tanto do
humanismo renascentista como da cultura eslava
ortodoxa.[462]
Ver também
Notas
4. Outros nomes ocidentais como "O Império de
1. A referência ao nome "Nova Roma" aparece Constantinopla" (em latim: Imperium
pela primeira vez num documento oficial do Constantinopolitanum) e "O Império da
Primeiro Concílio de Constantinopla (381), România" (imperium Romaniae) também
onde é usado para justificar a afirmação de foram usados.
que a sé patriarcal de Constantinopla é
5. "A corte franca deixa de considerar o Império
precedida apenas por aquela de Roma.[3]
Bizantino como titular dos créditos válidos de
2. "România" foi um nome popular do império universalidade; em vez disso, passou a
usado principalmente extra-oficialmente, que chamar-lhe 'Império dos Gregos'".[44]
significa "terra dos romanos".[11][12][13][14]
6. Na crônica latina de 1190 Continuatio
Após 1081, também aparece ocasionalmente
Cremifanensis, Isaac II Ângelo é referido
em documentos oficiais bizantinos. Em 1204,
como Imperator Romaniae e Frederico Barba
os líderes da Quarta Cruzada deram o nome
Ruiva como Imperator Romanorum. Contudo,
România ao recém-fundado Império
alguns anos antes, em 1169, o enviado
Latino.[15] O termo não se refere à moderna genovês chamado Amico de Murta, em seu
Romênia. juramento em Constantinopla em nome dos
3. A historiografia bizantina convencionou dividir genoveses, se referiu a Manuel I Comneno
a história do Império Bizantino em três como Imperator Romanorum. Após 1204, os
períodos: período antigo (324-610),[27] médio termos Imperium Romaniae e Imperator
(610-1204)[28] e tardio (1204-1453).[29] Romaniae foram usados pelos ocidentais
para descrever o Império Latino e seus
respectivos imperadores.[45]
7. Embora tenha sido bem sucedido com 11. Outros produtos comercializados foram:
relação à introdução do soldo, há autores que escravos, joias, perfumes, âmbar, especiarias
acusam Constantino de "fiscalidade (cravo, pimenta-do-reino, mostarda, etc.),
irresponsável",[49][51][52] por ter criado o peles, porcelana, armas, imagens religiosas,
controverso imposto crisárgiro.[53][54] marfim, objetos de ouro, trigo, papiro, pedras
preciosas, azeite e azeitonas, vinho e
8. Na "Paz de 50 anos" foi acordado, entre
outras coisas, a não construção de fortalezas ornamentos.[343][344][345]
nas fronteiras, o alívio das restrições 12. "Furthermore, the growing power of the Turks
diplomáticos e econômicas[82] e o pagamento was a menace not alone to the existence of
anual bizantino de 30 000 soldos aos the Eastern Empire but to the whole of
sassânidas.[97][98] Europe, and made it imperative upon the
Christian princes to abandon their internecine
9. Carlos Magno foi coroado imperador ocidental strife and unite with the Greeks in defence of
pelo papa Leão III em 800, porém desde 768 their common Christianity agains the power of
mantinha o título de rei dos francos.[150] Islam". "Council of Basle" na edição de
10. Vários autores, a citar Kenneth M. Setton e 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês).
seu artigo The Byzantine Background to the Em domínio público. Tradução: Além do mais,
Italian Renaissance (1956), tem considerado o poderio crescente dos turcos era uma
que a influência dos estudiosos bizantinos na ameaça não só à existência do Império
Itália já era sentida muito antes da Queda da Oriental mas para toda a Europa, e tornava
capital oriental aos turcos, começando ao imperativo o abandono por parte dos
menos desde o século VII, quando vários príncipes cristãos dos seus conflitos
bizantinos imigram dos territórios recém- mortíferos e a sua união com os gregos na
perdidos na Síria ao sul da Itália.[303] defesa do seu cristianismo comum contra o
poder do islã.
13. Por arte menor identifica-se toda produção
artística diferente de arquitetura, pintura,
escultura, desenho e gravura.[395]
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