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Exegese de Atos dos Apóstolos

2. A Estrutura de Atos

Vários esquemas estruturais podem ser usados na análise de Atos.


Isto é diferente nas epístolas: a sequência do pensamento provê a estrutura nas Epístolas
Isto é diferente nos Evangelhos: A figura central de Jesus é constante, o ambiente judaico é o mesmo.
Em Atos os personagens vão variando, também a localização, o contexto sócio-cultural; os discursos são
mais extensos e diferentes entre si. Mesmo a difusão da fé à partir de Jerusalém não é linear.
Mesmo que a análise estrutural de Atos seja difícil, ela nos ajudará a pensar nas características que
formatam a narrativa e lhe dão sentido teológico.

Tipos de Padrões Estruturais

1. Geográfico. A declaração programática em 1:8 lista esta expansão, porém Samaria não circunda a Judéia
e Atos termina em Roma, a qual não parece ser “confins da terra”, mas a capital política do mundo.
J. C. O’Neil (The Theology of Acts in Its Historical Setting, 2d ed., London: SPCK, 1970) propõe:
1:9 - 8:3 Jerusalém
8:4 - 11:18 Judéia e Samaria
11:19 - 15:35 Restante do mundo (as últimas três seções)
15:36 - 19:20 Jerusalém sendo deixada para trás pelo Cristianismo
19:21 - 28:31 Roma vindo pela frente

I. H. Marshall usa Atos 1:8 como base para organizar o livro:


1:1 - 5:42 Testemunhas em Jerusalém
1:1 - 2:47 O início da Igreja
3:1 - 5:42 A igreja e as autoridades judaicas
6:1 - 11:18 Testemunhas na Judéia e em Samaria
6:1 - 9:31 A igreja começa a expandir
9:32 - 11:18 O início da missão gentílica
11:19- 28:31 Testemunhas até os Confins da Terra
11:19 - 14:28 A missão à partir de Antioquia à Asia Menor
15:1 - 15:35 A discussão quanto aos gentios na igreja
15:36 - 18:17 A campanha missionária de Paulo na Macedônia e Acaia
18:18 - 20:38 A campanha missionária de Paulo na Ásia Menor
21:1 - 28:31 A detenção e prisão de Paulo

2. Sócio-Étnico. Pode ser mais útil revisar esta sequência geográfica introduzindo o aspecto sócio-étnico.
A. Crescimento em percepção à medida que o foco muda de uma cultura tradicional judaica (língua
aramaica) para a dos Helenistas (6:1-7). O discurso e martírio de Estêvão reflete ainda a ênfase judaica,
porém já está se movendo em direção ao amplo mundo helenístico.
B. O progresso do evangelho da cidade de Jerusalém para toda a província da Judéia (Pedro em Lida e 9:31)
C. O movimento do ambiente judaico da Judéia para o ambiente religiosamente diferente dos Samaritanos.
D. Transição do ambiente semítico da palestina através de estágios significativos (O eunuco etíope, Cornélio,
visita de Paulo às sinagogas) para o ambiente gentílico da missão mais ampla de Paulo.
E. A viagem final de Jerusalém a Roma. Mesmo Roma não sendo geograficamente “os confins da terra”, o
seu papel político e histórico (juntamente com sua posição para o início de viagens mais distantes)
simbolizava esta amplitude.

3. Fronteiras Culturais.
Atos 6:1-6, a atenção do leitor é movida dos judeus de fala hebraica para os judeus helenistas (língua/
cultura)
Filipe prega em Samaria. O leitor é introduzido no ambiente da mágica de Simão.
Narrativa do Etíope parece preparar o leitor para a aceitação de Cornélio em 10 e 11.
A conversão de Paulo , cap. 9, inicia a maior expansão do evangelho aos gentios, descrita em 13-20.
4. Pedro e Paulo. São os dois maiores atores na expansão da igreja.
Há similaridades entre os dois: discursos, operação de milagres, oposição dos líderes judeus,
aprisionamento, a estatura de cada um em seu círculo.
Em 1-12 Pedro predomina, em 13-28 é Paulo. Há certa sobreposição em 9 e 15.
M. D. Goulder (Type and History in Acts, London: SPCK, 1964) sugere estruturação com base em ministérios:
1:6 - 5:42 seção apostólica (3 ciclos)
6:1 - 9:31 seção diaconal (1 ciclo)
9:32 - 12:24 seção petrina (1 ciclo)
12:35 - 28:31 seção paulina (4 ciclos)
Há semelhança com Jesus na descrição de Pedro e Paulo: na mensagem, na ministração em ambiente
hostil.
C. H. Talbert (Literary Patterns, Theologica Themes, and the Genre of Luke-Acts, SBLMS 20, Missoula:
Scholar Press, 1974), sugere padrões entre Lucas e Atos e dentro do próprio Atos:
Alguns Paralelos entre Lucas e Atos
Lucas Atos
1: 1-4 Prefácio 1:1-5
3:21-23 Descida do Espírito 2:1-13
4:16-30 Sermões sobre profecia/cumprimento 2:14-40
5:17-26 Paralítico curado 3:1-10
5:29-6:11 Centuriões 10:1-11:18
7:1-10 Viúva e ressurreição 9:36-43
10:1-12 Missão aos gentios 13:1-20:38
9:51-19:28 Viagem para encontrar destino em Jerusalém 19:21-21:17
Alguns Paralelos dentro de Atos
Atos 1-12 Atos 13-28
2:1-40 Espírito e pregação 13:1-40
3:1-26 Cura e discurso 14:8-17
6:8-8-4 Apedrejamento 14:19-28
10:1-11:18; 12:1-9 Missão aos gentios e aprisionamento 13:1-28:31

5. Discursos. São proeminentes em Atos e poderiam indicar estruturação na mente de Lucas. Contudo,
apesar do padrão apologético presente no primeiro (At 2) e nos últimos (At 22-26), não há um padrão
claro o suficiente para contribuir para a estrutura do livro como um todo.

6. Padrões que se Alternam. Adicionam luz e cor à narrativa.


As várias respostas dadas por judeus e pagãos a Paulo constituem um padrão: desprezado, atacado,
deificados por gentios; bem recebido na sinagoga, ora rejeitado.
A relação de Paulo com os judeus provê boa base para a interpretação. Contudo, o padrão não é regular o
suficiente para se constituir numa estrutura literária (ver, por exemplo: 6:9-12; 13:14-52; 14:1-5; 17:1-13,
16-34; 18:4-8, 12-17; 19:8-10).

7. Alocação de Espaço. A proporção de espaço dado às várias cenas e eventos pode indicar a sua
importância relativa e também afetar o leitor quanto ao conceito de estrutura.
O espaço dado às práticas eclesiásticas é diminuto (2:42, 46), milagres e partilha chamam mais a atenção
(2:43-47), o mesmo acontece em 4:32-37. Não se descreve a Eucaristia, mesmo em At 20:7-12; conclui-
se que, para Lucas, a descrição desses detalhes era menos importante que os assuntos aí destacados.
A interação dos discípulos com as autoridades de Jerusalém ocupa boa parte de At 3 e 4. Entrelaçada com o
tema do Nome de Jesus, o desenvolvimento rápido da história chama a atenção do leitor.
A história de Cornélio é importante. Há repetição para enfatizar a lição (10:1-8; 10:22; 10:30-32), bem como a
narrativa subsequente interrompe o leitor chamando-o a reconsiderar essa história (11:13-14; 15:7-9, 11).
At 15 trata do Concílio de Jerusalém. O diálogo, a citação da Escritura, o detalhado julgamento e o decreto
fazem o leitor diminuir o ritmo. Este é retomado em At 16, após o leitor pausar nesta transição.
A proporção dada às narrativas do julgamento de Paulo destacam serem elas importantes na interpretação
do livro como um todo.
8. Declarações Sumárias. Resumem o progresso do evangelho (2:41; 2:47; 4:4; 5:14; 6:7; 9:31; 9:42; 11:21;
12:24; 13:48; 16:5; 19:20; 28:31); Seriam marcadores estruturais?
EuOs sumários em 4:4 e 5:14 seguem a eventos críticos (prisão e mentira), contudo estão dentro de
narrativas contínuas e não está claro se são marcadores estruturais como 2:41 e 2:47.
O sumário em 6:7 conclui uma seleção de eventos importantes nos quais duas características da jovem
igreja judaica , seu testemunho e partilhamento de bens, dão ocasião a mais perseguição e à hipocrisia.
Seguem relatos de como a igreja começou a forçar os limites do judaísmo tradicional (6:8-9:31). Temos aqui
Estêvão falando da importância relativa do templo, confrontando o pecado dos seus administradores. O
evangelho chega até os Samaritanos e ao prosélito etíope. Paulo é ganho para evangelizar os gentios.
Pedro volta à cena em 9:32, e enfatiza-se nesta seção (até 12:24) o seu papel na abertura do caminho para
a aceitação dos gentios na igreja. 9:42 pode ser considerado um indicador estrutural por causa da
linguagem (crer, fé, 4:4; 6:7; 11:21; 13:48; 16:5) e por concluir o ministério que antecedeu o caso Cornélio.
11:21 mostra que a porta aberta no caso Cornélio incluía muitos outros gentios. Esse texto marca também
a transição para Barnabé e Saulo. 12:24 serve também para contrastar a vitória divina frente à oposição.
13:48 menciona não só a fé dos gentios como também a decisão dos apóstolos de se voltarem para os
gentios frente a incredulidade dos judeus.
16:5 marca a transição do ministério de Paulo da Ásia Menor para a Europa.
A última transição ocorre em 19:20 quando Paulo decide ir a Roma via Jerusalém. Essa resolução orienta a
narrativa que segue, pois 20:1 menciona a despedida de Paulo cessado o tumulto em Éfeso.
O sumário final em 28:31 enfatiza a soberana administração divina para que o evangelho seja pregado sem
impedimento, apesar da oposição. O futuro está aberto para o cumprimento de At 1:8.
Determinar assim o padrões estruturais em Atos não governa em si a interpretação, porém, ajuda a agrupar
as seções para estudo. À medida que uma estrutura é observada, ela ajudará o intérprete a ver o forte
empuxo em direção ao cumprimento de At 1:8. A estrutura é dinâmica.

Um Exemplo de Esboço
A determinação da estrutura e a construção do esboço estão relacionados, porém não são idênticos.
A estrutura é uma grade mental do autor, discernível pelos leitores.
O Esboço analiza a sequência do pensamento ou da ação e procura mostrá-la de forma objetiva, lógica e
linear. Este exemplo (abreviado) de F. F. Bruce exibe esta abordagem (The Acts of the Apostles: The
Greek Text with Introduction and Commentary, 3d rev. and enl. ed., Grand Rapid: Eerdmanns; Leicester,
England: Apollos, 1990, viii-xv).

I. O nascimento da igreja (1:1-5:42)


A. Introdução (1:1-26)
B. O dia de Pentecoste (2:1-47)
C. Uma obra de cura e seus resultados (3:1-4:31)
D. Todas as coisas em comum (4:32-5:11)
E. Os apóstolos perante o Sinédrio novamente (5:12-42)

II. Perseguição e expansão (6:1-9:31)


A. Estêvão (6:1- 8:1a)
B. Filipe (8:1b-40)
C. Conversão de Saulo de Tarso (9:1-31)

III. Atos de Pedro: os gentios são recebidos (9:32-12:24)


A. Pedro na palestina ocidental (9:32-43)
B. A história de Cornélio (10:1-48)
C. A ação de Pedro é endossada por Jerusalém (11:1-18)
D. Antioquia se torna uma base do Cristianismo (11:19-30)
E. Herodes Agripa I e a igreja (12:1-24)

IV. Expansão da Igreja à partir de Antioquia e do decreto apostólico em Jerusalém (12:25-15-35)


A. Barnabé e Saulo (12:25-13:3)
B. Chipre (13:4-12)
C. Antioquia da Pisídia (13:13-52)
D. Icônio, Listra e Derbe (14:1-28)
E. O Concílio de Jerusalém (15:1-35)

V. Paulo, deixando Antioquia, dirige-se à região do Egeu (15:36-19:20)


A. Igrejas recém plantadas são revisitadas (15:36-16:5)
B. Filipos (16:6-40)
C. De Tessalônica a Atenas (17:1-34)
D. Paulo em Corinto (18:1-17)
E. Éfeso (18:18-19:20)
VI. Paulo planeja visitar Roma via Jerusalém e atinge o seu alvo de modo inesperado (19:21-28:31)
A. Ele planeja deixar Éfeso indo pela Macedônia e Acaia (19:21-20:6)
B. A viagem para Jerusalém (20:7-21:16)
C. Paulo em Jerusalém (21:17-23:30)
D. Paulo em Cesaréia (23:31-26:32)
E. Viagem de Paulo e naufrágio (27:1-44)
F. inverno em Malta (28:1-10)
G. Enfim Roma! (28:11-31) (agora detalhando com Bruce:)
1. A última etapa: “E assim chegamos a Roma” (28:11-15)
2. Paulo é entregue para ser guardado por soldados (28:16)
3. Paulo e os Judeus de Roma (28:17-28)
a. Primeira entrevista (28:17-22)
b. Segunda entrevista (28:23-28)
4. O evangelho avança em Roma sem impedimento (28:30-31)

3. Teologia Através da Narrativa

Citar pessoas e eventos meramente como casos exemplares não faz justiça à narrativa bíblica.
Descobrir o enredo, o desenvolvimento dos personagens, as relações interpessoais em uma narrativa é
essencial no estudo de qualquer narrativa. Os aspectos teológicos da narrativa em geral são esquecidos.
A história de José ilustra a necessidade de uma abordagem apropriada e completa.
Toda a narrativa é essencial para a revelação da história da salvação.
Com José há salvação física para todo o Israel e a história da salvação pode prosseguir até Jesus Cristo.
É a providência divina que faz o mal intento de seus irmãos redundar em bem (Gn 50:20).

Um Exemplo para Estudo: Ananias e Safira


Pode-se imaginar que At 5:1-11 é apenas um caso isolado de engano e avareza com uma severa punição.
Contudo o contexto precedente apresenta outro caso de morte chocante (Judas, 1:18s); também envolve
campo. Num contraste anterior (4:36s), Barnabé vende campo e traz o preço aos pés dos apóstolos.
A mentira é ao Espírito Santo (5:3), a Deus (5:4), ao Espírito do Senhor (5:9), já mencionado em 1:5,8; 2;4.
At 2:42-47 descreve a generosidade da igreja e os prodígios e sinais pelos apóstolos (vem em preparação).
At 3:6: “nem prata nem ouro” (de Pedro) contrasta com as possessões de Ananias e Safira.
At 4:32-37: um clímax é atingido com destaque para o vigor da igreja e sua generosidade.
Apresentação: “certo homem” (At 5:1, cp. Lc 10:30; 15:4,8,11; 16:1,19; 19:12); ação como a de Barnabé?
Satanás encheu o coração (5:3) recorda Satanás entrando em Judas em Lc 22:3 (o leitor ligaria isto? Pelo
menos o prefácio de Atos parece convidar o leitor a ler Atos à luz do Evangelho de Lucas).
À luz do contexto, o caso representa a santidade da Igreja (na generosidade), dirigida pelo Espírito de Jesus.

Análise ou Crítica da Narrativa


O foco é na narrativa em si. Porém, como o autor pode ter omitido algo por entender ser conhecido dos
leitores, precisamos conhecer o cenário histórico. Focalizemos antes a narrativa em si mesma.
Movimento
O movimento das narrativas e entre elas é importante. Não se pode isolar um único elemento na narrativa e
esperar compreender sua importância e significado. Ex: Para se estudar a atitude de Paulo para com os
judeus não se pode destacar apenas alguns incidentes, é preciso percorrer toda a narrativa de Atos.
Tempo
O movimento ocorre no tempo, mas o comprimento de uma sequência narrativa pode não corresponder à
duração do evento original. At 3 e 4 descrevem eventos ocorridos em dois dias apenas, enquanto os dois
anos de Paulo em Éfeso são resumidos brevemente em At 19:10.
Mas a longa descrição da cura do coxo e dos eventos que seguem permite a Lucas:
1. apresentar o poder miraculoso do nome de Jesus.
2. mostrar por meio da pobreza de Pedro que alguns cristãos haviam se desfeito de seus bens.
3. sublinhar a admiração do povo (um tema comum a Lucas).
4. incluir um breve sermão que descreve importantes temas históricos e teológicos.
5. descatar a perseguição sofrida pelos crentes.
6. mostrar o crescimento dinâmico da igreja durante a perseguição (4:4).
7. enfatizar a importância de se crer no nome de Jesus (clímax em 4:12).
Segue a confrontação entre as autoridades e os discípulos. Sob ameaça a igreja ora ao Senhor. No registro
do teor dessa oração Lucas pode oferecer um modelo ao leitor: A oração inclui:
1. um modo apropriado de se dirigir a Deus nessas circunstâncias (Soberano Senhor x oposição humana)
2. uma declaração do governo universal do criador, advertindo a tolice humana de se imaginar poderoso.
3. uma referência à inspiração das Escrituras como recurso confiável para os que oram.
4. uma citação do Sl 2:1-2, e uma aplicação desse texto à presente situação.
5. uma recordação de que Deus é o Senhor da história e que mesmo os que se lhe opõem cumprirão
inconscientemente a vontade do decreto de Deus
6. uma petição específica dirigindo-se à necessidade do momento.
7. até mesmo um pedido quanto ao como esperam receber a resposta de Deus.
8. a resposta imediata de Deus à oração.
Em contraste, Lucas menciona brevemente os dois anos de Paulo em Éfeso (At 19:10), mas não sem antes
mostrar que evangelismo Paulino inclui também o ensino metódico (diariamente na casa de Tirano, 19:9).
Lucas destaca que Paulo usou uma variedade de métodos (pregação na sinagoga, ensino aos discípulos).
Agora ele inclui coisas surpreendentes: condescendência divina para com a fé imperfeita das pessoas (uso
supersticioso de lenços e aventais); o fracasso dos judeus exorcistas pelo mau uso do nome de Jesus.
A superioridade do poder de Deus sobre a magia é destacada juntamente com o sumário em 19:17-20.
O tumulto que segue recebe espaço desproporcional, porém excitante, de 19 versículos.
O uso artístico do tempo por Lucas produziu dois tratamentos diferentes destes períodos na expansão da
igreja, cada um cumprindo os próprios objetivos e ensinando o leitor acerca de Deus e seus caminhos.
Autor
Entende-se melhor a narrativa compreendendo-se o seu autor. O autor implícito se deixa entrever no texto:
1. escreveu um outro volume sobre Jesus (1:1).
2. crê serem “incontestáveis” as provas da ressurreição de Jesus (1:3).
3. vê uma ligação entre o ensino de Jesus aos discípulos e a pergunta deles em 1:6 (então...).
4. acha importante destacar não só a ascensão de Jesus, mas também a mensagem dos anjos (1:9-11).
5. quer que o leitor saiba que as mulheres, a mãe de Jesus e seus irmãos estiveram no cenáculo (1:14).
O autor reparte com o leitor a sua perspectiva “onisciente”:
1. parece estar com Pedro na prisão, ao escapar e bater na porta; também está dentro da casa (12:1-17).
2. o autor e seus leitores também estão com Festo e Agripa ao discutires sobre Paulo (25:13-22).
3. o autor parece conhecer as motivações íntimas de Festo (24:26).
Leitor
É mais fácil conhecer Timóteo à partir da epístola a ele endereçada do que conhecer o leitor desta narrativa.
Na dedicatória Teófilo é descrito como “excelentíssimo” e como tendo recebido instrução cristã (Lc 1:3-4).
Escolhas Redacionais
Diferentemente do evangelho de Lucas, Atos não pode ser comparado com qualquer “fonte de tradição”.
Temos que observar as escolhas de Lucas: incluir um longo sermão de Estêvão (7:1ss); omitir descrições da
Santa Ceia; incluir na defesa de Paulo dois discursos perante os judeus e três perante as autoridades.
Descobrir o porquê dessas escolhas de Lucas é parte do processo interpretativo, da teologia da narrativa.
Recursos Literários
1. Padrão no palavreado (repetição, uso de sinônimos, opostos, palavras sobrepostas, termos contíguos).
2. Palavras carregadas de emoção,
3. Reversão de palavras e frases.
Tudo isso pode transmitir porções codificadas de idéias, da direção do pensamento, da ação ou do
desenvolvimento do personagem.
Os temas, mesmo os teológicos, podem ser trabalhados na narrativa de um modo a interpretar a ação para o
leitor. Cenas inteiras podem ser repetidas, ora com modificações, ora de forma idêntica. Há três casos:
1. a conversão de Cornélio
2. a conversão de Paulo
3. a repetição das cenas de julgamento (com consideráveis diferenças).
Essas são pistas importantes deixadas pelo autor para que o leitor entenda o que se quer comunicar.
Deve-se lembrar que enquanto o estudo da narrativa como literatura é útil para forçar o leitor a observar o
que o texto diz e o que não diz, Atos é um livro que trata de um mundo de pessoas reais, porisso o estudo
do transfundo sócio,étnico, geográfico, histórico e religioso é essencial para a interpretação de Atos.

Teologia da Narrativa
O objetivo é interpretar a mensagem da narrativa. Toda narrativa conduz a uma resposta por parte do leitor.
O autor pode ter deixado “dicas” no texto quanto à resposta apropriada que se espera dos leitores.
Cuidado: Nem toda resposta citada é exemplo para nós. Ex.: No julgamento de Ananias e Safira temos a
resposta apropriada do “grande temor” (5:11) e a imprópria, “ninguém ousava juntar-se a eles” (5:13).
Em Listra o povo quis adorar os apóstolos pela cura do coxo (At 14:8-18), Paulo não aceitou isso.
Os discursos facilitam mais a especificação da resposta certa esperada: Arrependimento e batismo (2:38), fé
(10:43; 13:38-39) e arrependimento em face do julgamento que Jesus realizará(17:29-31). Em contrate, o
carcereiro de Filipos respondeu sem qualquer discurso relatado (16:30), porém, o leitor que compreendeu
até aqui o tema da salvação não terá maiores dificuldades em compreender o significado pretendido.
Para extrairmos a teologia da narrativa temos que:
1. Colocar a passagem em seu amplo contexto, pois isso nos proporcionará observar o desenvolvimento
dos temas teológicos nessa ampla narrativa e ver a sua ligação com a nossa passagem. Ex.: O clímax do
ministério de Jesus é o Pentecoste (Lc 3:16 e At 1:5; 2:33). O esperado reinado do Messias (Lc 1:32-33)
é uma realidade presente à partir do Pentecoste (At 2:30-36; 14:22; 28:31).
2. Os personagens, além do exemplo moral, servem para mostrar a maneira do agir de Deus na vida tanto
dos que vêem a crer e obedecer ou não. O fiel testemunho dos apóstolos e da igreja é fruto do agir de
Deus (At 1:5, cp. Lc 24:25, 37, 38, 45, 49). O Arrependimento e a fé são dons de Deus (At 11:18; 1:14; cp.
Lc 18:24-27; 1:16,17,68-79)
3. O movimento e o tempo nas narrativas nos ensinam que nenhum espaço é desperdiçado, ou seja,
nenhuma narrativa é pequena demais para ter importância teológica. Contudo, os temas que recebem
mais espaço devem receber maior ênfase em nossa teologia.
4. O autor nos revela muito de si mesmo, e nos ajuda a nos identificarmos com a sua perspectiva teológica.
Como leitores modernos, nos identificamos também com os leitores imediatos pretendidos pelo autor, e
podemos usar essa perspectiva para ver as implicações teológicas da narrativa.

4. Os Discursos em Atos

Ocupam bom espaço (300 dos 1000 versículos). Citações diretas podem dar sensação de proximidade.
Contém declarações proposicionais (como epístolas) e exigem atenção ao contexto e às presunções comuns
ao autor/orador e leitores/ouvintes.
Alguns contém narrativas (7:2-47; 22:2-21, cp. 1 Co 15:3-8; Gl 1:13-2:14)(teologia da narrativa no sec.I?)

O Valor Histórico dos Discursos


Aparecem em linguagem direta dando a impressão de que são registros literais, quando, na verdade muitos
são resumos do que foi dito.
Opiniões variam entre: São relatos confiáveis do que foi dito - ou - são composições de Lucas, criadas para
se encaixarem às situações específicas.
Tucídides: colocava na boca do orador as palavras que eram “apropriadas à ocasião”, e que correspondiam à
maneira em que o orador “as teria expressado”.
Seriam relatos exatos, acurados? Há fidelidade quanto ao conteúdo e fluxo? Vemos que em 10:3-6 e 30-32
(anjos e Cornélio), Lucas não pretende fornecer qualquer conformidade verbal.
Mesmo as palavras de Jesus diferem nos Evangelhos.
Como Lucas pôde ouvir o que foi dito privadamente (25:13-22; 26:30-32)?
Lucas tem sido cuidadoso ao relatar discursos nos evangelhos. Diferenças verbais com relatos paralelos em
Mateus não resultam em distorção do conteúdo essencial.
F. F. Bruce: onde Lucas pode ser testado ele se sai bem, não há razão para se duvidar de sua fidelidade
onde as fontes não mais estão disponíveis para comparação.
É errado assumir que a preocupação teológica de Lucas é diferente daquela de suas fontes. Não é legítimo
dizer que um escritor deve distorcer a matéria de sua fonte para apresentar as suas idéias.
Lucas escolheu quais fontes usaria e quais não; selecionou - e fielmente representou - os discursos e
eventos que melhor destacavam a sua mensagem.
Conrad Gempf: não se deve usar as categorias de “exatos” ou “inventados” para estes relatos, antes devem
ser vistos como “fiéis” ou “infiéis” ao evento histórico. Um discurso público numa obra histórica antiga
deve ser visto como tendo dois objetivos: ser apropriado ao evento histórico e ser apropriado ao trabalho
histórico como um todo.
Como tudo isso afeta a interpretação?
Como os eventos e discursos ocorreram no mundo “real”, então todos os elementos num discurso são
relevantes à situação histórica também. Há uma relação de causa e efeito entre o conteúdo do discurso e
os eventos que conduziram a ele (At 14, “somos homens”), ou que lhe seguiram (At 7, martírio/Estêvão
ou At 17, conversão de Dionísio e Dámaris).
Dessa maneira, os elementos do discurso devem ser estudados como ensinos genuínos do orador, e não
como meras criações do autor.
Deve-se reconhecer todavia, que os discursos tal como estão são uma interpretação dada por Lucas ao que
realmente aconteceu. Tal como no Evangelho, ele interpretou fielmente o que realmente foi dito.

Analisando os Discursos

Cada discurso pode ser visto à partir de várias perspectivas:


1. Comprimento. Quanta informação nova ou já mencionada ele contém em relação com outros discursos?
Tal avaliação pode nos dar uma idéia da importância de um discurso?
O maior é o de Estêvão em At 7. Por que tanto espaço para a defesa de um homem? Não parece ser
necessário ao progresso da história; não apresenta a mensagem do evangelho. Contudo, provê uma
perspectiva para o problema da relação dos judeus com a nova seita chamada “o caminho”. Mostra a
importância de porta-vozes que não fossem dentre os apóstolos, indicando que At 1:8 requer uma nova
geração de pregadores.
Os discursos de Paulo em seu julgamento formam ampla coleção de suas palavras. Dá peso ao aspecto
apologético de Atos. Visto que também há apologia no discurso de Estêvão, essa função não é pequena
em Atos.
O menor discurso é o de Pedro perante o Sinédrio (4:8-12). Sua importância não é indicada pelo seu
comprimento mas pelo seu contexto. Trata da centralidade do nome de Jesus, mencionado tanto na
pergunta quanto na resposta, concluindo com 4:12. Esse discurso segue um maior endereçado ao povo
focalizando o mesmo tópico. Também, a unidade narrativa que o inclui ocupa quase todo os cps. 3 e 4.
Portanto, enquanto o comprimento é importante, deve ser visto em conexão com outros fatores.

2. Conteúdo e Temas. Quais tópicos são abordados e com que ênfase? Como estão interrelacionados
esses tópicos? O estudo de temas abrangentes é mais complexo; p.ex., haveria atitude anti-semítica em
Atos (ver discurso de Estêvão em At 7)? Paulo em Antioquia da Pisídia em At 13:16-41, mesmo
mencionando a rejeição de Jesus pelos Judeus, não manifesta atitude anti-semítica.
Um tema é mais do que um tópico, é o desdobramento de preocupações específicas. Em Atos, eles surgem
não só num único discurso, mas em vários. Os elementos preservados revelam as preocupações do
autor e de suas fontes. Isso não quer dizer que os dados sejam inexatos e não-confiáveis historicamente.
At 17:22, deisidaimoneste/rouj é positivo (“muito religiosos”) ou negativo (“muito supersticiosos”)? Isso
indicaria um retrato temático do paganismo? Em 14:15-18 Paulo poderia ter rotulado os pagãos como
supersticiosos, mas não o fez. Podemos então entender que Paulo não quis ofender aos Atenienses.
O propósito apologético de Atos é evidente nos vários discursos; procura-se pregar o evangelho, defender a
igreja em sua proclamação da ressurreição, antes que defender seus arautos.
Parte dessa apologética consistia na vindicação da pessoa e obra de Jesus Cristo. Ver At 2:22-36: milagres,
ressurreição como evidência contra os que o crucificaram. Também em 3:11-26; 5:29-32; 7:2-53.
As narrativas dentro de discursos revelam que os discursos não podem ser estudados isoladamente de seus
contextos. Círculos concêntricos: (Paulo ao ser preso e Estêvão) o primeiro círculo é a narrativa interna, o
segundo é o discurso em si, o terceiro é a construção narrativa externa, e o quarto é a estrutura mental
( o propósito global ou a estrutura conceitual do autor).

3. Contexto. Em que ponto da narrativa ocorre o discurso? A quem ele se dirige? Que circunstâncias o
ocasionaram? Há pontos relacionados com as circunstâncias atuais para orientar nossa aplicação?
O discurso de Paulo no areópago (At 17:22-31) teria sido um exemplo negativo de pregação intelectual
destituída de poder? Teria Paulo aprendido a lição em 1 Co 2:2-5? Essa interpretação ignora que:
1. Paulo foi levado para Atenas ao ser expulso de Tessalônica (17:13-15), estava sem sua equipe.
2. Atenas não era rota comercial, portanto, era inadequada para concentração de esforços.
3. Sua atuação na sinagoga e na praça era mais uma reação à idolatria da cidade que resultado de um plano
pré-estabelecido de evangelização.
4. O discurso surgiu em resposta a questionamentos de filósofos a respeito de seus ensinos.
5. Seu discurso se ajustou à ocasião, buscou esclarecer seus ensinos em relação ao que sua audiência cria.
Não estava usando filosofia como substituta para o poder do Espírito, como se tem alegado.
6. O próprio discurso descarta a idéia de que Paulo estaria anunciando um evangelho falho; as doutrinas
mencionadas são muitas, de fato, do que usualmente se usam nos sermões evangelísticos:
1. A criação do mundo por Deus.
2. A transcendência de Deus.
3. Deus como fonte da vida humana.
4. A soberania de Deus sobre a história e geografia humana.
5. A imanência de Deus.
6. A não-corporealidade de Deus.
7. A paciência de Deus.
8. Os justos requisitos de Deus.
9. A justiça de Deus.
10. O papel de Cristo como o juíz já designado.
Ao falar da ressurrreição de Cristo, Paulo deve ter falado de sua crucificação (1 Co 2:2). Houve conversões.

4. Estilo e Composição. Como o estilo do discurso se encaixa com as circunstâncias, considerando-se o


transfundo social e religioso da audiência e a perspectiva dos leitores pretendidos? At 17 pressupõe uma
audiência sofisticada. Em contraste, na sinagoga de Antioquia da Pisídia, o discurso é apropriado à
audiência judaica: há um retrospecto da ação de Deus em Israel até a vinda de Cristo.
A série de defesas de Paulo mostram essa adaptação à audiência: No discurso em seu aprisionamento
(21:33ss) Paulo busca se identificar como um legítimo proponente do judaísmo (22:1-3), cp. 23:1.
Perante as autoridades as formas são apropriadas; Tértulo lisonjeia Félix (24:2-4); Paulo é mais comedido
(24:10). Paulo sabe que Agripa conhece os costumes dos judeus(26:2-3).
As conclusões não são convencionais: Perante Félix termina com a ressurreição (24:21), particularmente
Paulo fala sobre a fé em Cristo, ressaltando o juízo vindouro (24:24-25). Agripa interrompe Paulo,26:24.
Tem-se observado que os discursos refletem o estilo comum de Lucas em suas narrativas e não o estilo dos
que os teriam proferido. Como no caso dos evangelhos, Lucas editou a matéria, porém não a inventou. A
variedade nos sermões missionários não resulta meramente da habilidade literária de Lucas. “Ele sabia
como trabalhar com fontes confiáveis de informação quanto às notas características dos métodos dos
pregadores, notas que, apesar de poucas, foram suficientes, de tal modo que, a despeito de sua
considerável semelhança, estes discursos não são intercambiáveis.” (P. H. Menoud, 1978)

5. Função e Importância. Qual é o propósito de cada discurso? Qual é o seu papel no fluxo da narrativa?
Como o provável propósito global de Lucas e seus leitores pretendidos se relacionam com a função dos
discursos?
Se Lucas apresenta o testemunho da igreja (Marshall), podemos esperar que os discursos apoiem esse
testemunho. Isso não exclui outras funções, porém ajuda a evitar a busca por significados subjacentes
extremamente complexos.
Podemos encontrar princípios perenes nos discursos, porém não se deve pressioná-los para que nos sirvam
de maneira contrária à sua própria função contextual.
Cada discurso possui sua própria justificativa e importância na narrativa e sua própria contribuição teológica.
Uma legítima aplicação contemporânea deve ter em mente o contexto e a função originais.

Sumário dos Discursos

1:16-17, 20-22
Orador e lugar: Pedro em Jerusalém
Ocasião: Reunião dos 120 crentes; escolha do substituto de Judas.
Assunto: Qualificações para o apostolado e modo de seleção
2:14-40
Pedro em Jerusalém no dia de Pentecoste
Pergunta a respeito dos fenômenos
Cumprimento da Escritura, confirmação de Jesus Cristo, necessidade do arrependimento
3:12-26; 4:8-12, 19-20
Pedro em Jerusalém (1) perante o povo e (2) perante o Sinédrio
Cura do coxo e perguntas que surgiram disto
Confirmação de Jesus Cristo, a autoridade de Seu Nome, necessidade do arrependimento
5:29-32
Pedro e outros apóstolos perante o Sinédrio em Jerusalém
Acusados pelo Sinédrio de pregarem em o nome de Jesus, contrário às ordens deles
Estão obedecendo a Deus, que vindicou e exaltou a Jesus
5:35-39
Gamaliel no mesmo encontro do Sinédrio
Conselho ao Sinédrio quanto a Pedro e aos apóstolos
Deixem os apóstolos livres e entreguem o caso a Deus
7:2-53
Estêvão perante o Sinédrio em Jerusalém
Acusações contra Estêvão - blasfêmia contra a lei e o templo
A história do AT mostra a rejeição dos mensageiros de Deus; Moisés é o primeiro exemplo.
O templo não é necessário como habitação para Deus. Eles mataram o Justo, o Messias
10:34-43
Pedro em Cesaréia
Encontro com Cornélio
Deus aceita pessoas de todas as nações. Jesus foi escolhido por Deus e fez o bem, mas
foi
crucificado. Deus o ressuscitou e por ele podemos ser perdoados.
11:4-17
Pedro em Jerusalém
Pedro é acusado por comer com incircuncisos (na casa de Cornélio)
Detalhamentos das circunstâncias, a direção de Deus quanto ao que é limpo e impuro, e a
vinda do Espírito sobre o grupo de gentios
13:16-41
Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia
Convidado para falar, pelos líderes da sinagoga
A história do AT conduz a Cristo; sua vinda foi predita na Escritura, bem como sua
ressurreição e filiação. Nele há perdão e justificação (não possíveis pela lei).
15:17-11, 13-21
(1) Pedro e (2) Tiago em Jerusalém
O Concílio discute se os gentios devem ser circuncidados e obedecer a lei de Moisés
(1) Deus alcançou os gentios inicialmente por Pedro e os aceitou sem fazer distinção;
(2) isto concorda com a profecia do AT, e eles precisam somente se abster de certas coisas
17:22-31
Paulo em Atenas num encontro no Areópago
Pergunta quanto à natureza do ensino de Paulo
Há um Deus que eles não conhecem, e que é o Criador, governando por sua providência,
solícito àqueles que o buscam, vivo, justo, que julgará o mundo por aquele que designou
ressuscitando-o dentre os mortos.
19:35-40
Escrivão da cidade de Éfeso
Tumulto em Éfeso em virtude da pregação de Paulo quanto à venda de ídolos
As crenças religiosas dos efésios estão preservadas; se há qualquer reclamação contra
Paulo, eles devem se dirigir à corte judicial.
20:18-35
Paulo em Mileto
Despedida aos presbíteros de Éfeso
Paulo completou sua obra com fidelidade; haverá de enfrentar aprisionamento, intima-os
a cuidarem do rebanho sobre o qual Deus os constituiu em supervisores.
22:1-21
Paulo em Jerusalém
Paulo é descoberto no templo; pensam que introduzira gentios na área do templo.
Defesa de sua ortodoxia perante a multidão e narração de seu encontro com Jesus e seu
subsequente chamado aos gentios
23:1-6
Paulo perante o Sinédrio
O comandante romano deseja entender o porquê da revolta dos judeus contra Paulo.
Paulo afirma sua fidelidade a Deus e afirma sua crença na ressurreição dos mortos.
24:1-8
Tértulo, representante dos acusadores judeus de Paulo, em Cesaréia
O governador Félix pergunta sobre a razão para as acusações contra Paulo.
Paulo é um causador de problemas e um agitador da seita dos nazarenos.
25:8-11
Paulo em Cesaréia
Defesa perante o governador Festo
Paulo diz não ter feito nada de errado e apela para Cesar.
26:2-29
Paulo em Cesaréia
Agripa II visita Festo e é solicitado a sujerir tratamento para o caso de Paulo. Paulo reconta
sua conversão e chamado, explica a razão para as acusações contra ele e afirma ortodoxia
5. Principais Temas em Atos

Duas maneiras para se estudar a riqueza teológica de Atos:


1. Focalizando temas e idéias individuais que aparecem no decorrer da narrativa,
2. Focalizando o desenvolvimento de um padrão teológico dentro de uma narrativa específica.
Deve-se mesclar essas duas abordagens para não ocorrer isolamento e fragmentação de evidência.
O discernimento dos temas em Atos pode conduzir à identificação do propósito maior de Lucas.
O valor desse discernimento está em nos fazer conscientes daquilo que é característico em Atos (Lucas/
Atos)
Isso nos levará a uma compreensão maior de uma passagem individual que reflete tal
tema.
O método indutivo: parte-se dos dados do texto para generalizações.
O método dedutivo: parte-se de categorias existentes para procurar no texto os exemplos específicos.
Indução pura é impossível, contudo deve-se primar pelo estudo indutivo.

Temas Selecionados

O Cristo Exaltado

A ascensão de Cristo é mencionada em pontos importantes da Lucas/Atos:


1. Lucas 9:51, a)nalh/myewj, no meio do evangelho, após confissão em Cesaréia de Filipe.
2. Lucas 24:50-51, a)nefe/reto ei)j to\n ou)rano/n no final do Evangelho.
3. Atos 1:2, 9, 22, a)nelh/mfqh, e)ph/rqh, a)nelh/mfqh no início de Atos
Exaltado à destra de Deus: At 2:33 u(ywqei/j, citação em 2:34-35 do Sl 110:1, ka/qou e)k deciw=n
mou;
2:36, ku/rion au)ton kai\ Xristo\n e)poi/hsen o( qeo/j.
Estêvão o vê, ei)=den do/can Qeou= kai\ I)hsou=n e(stw=ta e)k deciw=n tou=
qeou=, 7:55,56.
Paulo viu uma luz do céu e uma voz: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”, 9:4,5.
Referências à ressurreição (1a. etapa da exaltação): 1:22; 2:24-32; 3:15; 4:2, 10, 33; 5:30,31; 10:40,41;
13:30-37; 17:18,32; 23:6; 26:23.
Ressurreição e ascensão: Deus vindica a Cristo, 2:36 “a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor
e Cristo” (segue citação de Sl 110:1).
Ascensão e exaltação de Cristo estão associadas com escatologia: Jesus está à destra de Deus “até que”
seus inimigos sejam postos por estrado de seus pés, 2:35 (Sl 110:1). Anjos anunciam seu retorno, 1:10.
“tempos de refrigério”, “até aos tempos da restauração de todas as coisas” (3:19-21).
Ligados ao tema da exaltação estão: (1) o “nome” de Cristo, (2) os títulos de Cristo e (3) cristologia nas
defesas de Paulo.
1. O “nome”: 3:16, “pela fé em o nome de Jesus...”. O nome executa a cura. A fé está associada.
único nome em que há salvação, 4:12; discipulos ensinavam no nome de Jesus, 4:17, 18;
5:28; eles sofreram por este nome, 5:41; 9:16; convertidos invocavam esse nome e nele eram batizados,
2:21; 10:43, 48; 22:16 (decisões exegéticas precisam ser feitas, porém, após estudo compreensivo)
2. Títulos: “Jesus”, “Senhor”, “Cristo”. Em 2:36, Deus o fêz Senhor e Cristo. Paulo o apresenta como o
Messias=Cristo. Lucas destaca o seu senhorio.
3. Cristologia nas defesas de Paulo. Em 22:8-10 Paulo identifica o Senhor que lhe apareceu com Jesus (ver
26:13-18) e fala de fé em Cristo Jesus (24:24).
Questões adicionais: qual a relação da exaltação de Cristo com o reino prometido a Israel e o trono Davídico,
com o pentecoste, com o pacto Abraâmico e Davídico, com a proclamação do evangelho às nações?

O Espírito Santo

Frequência em Atos (menos At 3, 12, 18 e defesas de Paulo). 60 ocorrências. Concentração At 2, 8, 10, 11.
Evangelho também: narrativas do nascimento, Lc 4 início do ministério. Em Atos as referências incluem:
1. Instruções de Jesus após a ressurreição (1:2)
2. Instrução de Jesus sobre a descida e batismo do Espírito (1:5, 8, 33, 38)
3. A inspiração da Escritura (1:16; 4:25; 28:25)
4. O caráter e ministério dos apóstolos e de outros ((4:8; 6:3, 5; 7:55; 11:24; 13:9; 20:22)
5. O engano de Ananias e Safira contra o Espírito (5:3, 9)
6. A direção dada a Filipe (8:29, 39)
7. A conversão de Paulo e o consequente vigor da igreja (9:17, 31)
8. A marca da aceitação por Deus dos gentios (10:45-47; 15:8)
9. O comissionamento de Paulo e Barnabé (13:2, 4)
10. A decisão do concílio de Jerusalém (15:28)
11. Direcionamento a Paulo(16:6, 7; 20:22)
12. Profecia (20:23; 21:4, 10-11)
O Espírito Santo permeia a vida e ministério cristãos. Está ativo de modo regular entre o povo de Deus do
NT.
2:17,18 (Jl 2:28-29) o confirma: é o dom destes “últimos dias” a inspirar para a todos em
toda esta era.
Opera na conversão. A ordem do batismo com o Espírito e com água (mais adiante). At 19:1-7 o evidencia.
Não há referência ao Espírito em At 3 (cura) pois a ênfase é no nome de Jesus (4:12), também Atos liga a
obra do Espírito mais à vida, caráter e ministério pessoas dos crentes do que a atos miraculosos.
Vinda do Espírito em At 2 é o evento mais importante do livro. Qual seria a sua importância? Há somente um
sentido principal nisso? Deve ser entendido como a reversão de Babel? Aponta para a continuidade entre
o povo de Deus no AT e NT? De fato representa a capacitação dos crentes. Qual seria a relação com a
capacitação de Jesus no Evangelho? O dom de línguas estaria ligado à missão da igreja? Qual a
importância do cumprimento da profecia de Joel para Lucas e para hoje? O evento indica a contínua ação
de Deus hoje? Ressalta-se a importância da Palavra de Deus, aqui o Antigo Testamento.
Deve-se refletir numa determinada passagem à luz do todo. O livro de Atos não poderá ser corretamente
interpretado sem uma compreensão da obra do Espírito, nem poderá ser apropriadamente aplicado à
vida e ministério da igreja hoje sem essa compreensão.

A Oração

A igreja em oração: após a ascensão (1:14); perseveravam (2:42); Pedro e João no templo (3:1); em tempo
de perseguição (4:24); função dos apóstolos (6:4); na instalação dos sete (6:6); Estêvão ao morrer
(7:59-60); pelos samaritanos (8:15); na conversão de Saulo (9:11); por Dorcas (9:40); Cornélio orava/foi
ouvido (10:2, 4, 30-31); Pedro em Jope (10:9); por Pedro preso (12:5); no envio de Paulo e Barnabé
(13:3); na designação de presbíteros (14:23); em Filipos (16:13, 16); na prisão de Filipos (16:25); na
despedida em Mileto (20:36); Paulo no templo (22:17); marinheiros (27:29); Paulo ora pelo pai de Públio
(28:8).
Ênfase como em Lc: em tempos de crise e mudança. Só Lc tem: Jesus no batismo (3:21); na transfiguração
(9:29); Em Atos 1:14 antes do Pentecoste e em 4:24, 30 diante da perseguição.
Só Lc tem oração nas escolha dos doze (6:12). Em At 1:24-25 na escolha de Matias, ao enviar missionários
(13:1-3). A oração era parte integral do ministério cristão, especialmente para pedir orientação.
Era prática normal de Jesus (Lc 5:16; 9:18; 11:1), assim também da igreja no serviço do Senhor, At 2:42; 6:4.

Louvor

No templo (Lc 24:53), templo e casas (At 2:47), na cura coxo (3:8-10). Herodes não deu glória: morreu,12:23.
a)inoun=tej to\n qeo/n só aparece em Lc 2:13, 20; 19:37; At 2:47; 3:8, 9 e Ap 19:5 no NT.
e)ulogou=ntej to\n qeo/n aparece em Lc 1:64; 2:28 e 24:53. O verbo aparece outras vezes em Lc.

Pobreza e Riqueza

À partir de 1980 enfatizou-se o transfundo social do NT. Tema aparece mais em Lc que em At..
Lc 16 trata do tema: administrador infiel (1-9), servir a Deus ou às riquezas (10-13), fariseus avarentos
(14-15), rico e Lázaro (19-31). Discipulado envolve desapego (12:22-34; 14:25-33). Parábolas envolvendo
bens (12:22-34; 14:25-33) e avareza (12:13-21).
Em Atos a igreja reparte (2:44-45; 4:32-5:11); Pedro sem bens (3:6); distribuição com problemas (6:1); Simão
oferece dinheiro (8:18-19) e recebe resposta (8:20); valor das obras de magia (19:19); revolta em Éfeso
envolvia dinheiro (19:23-37); Paulo alugara casa (28:30).

Escatologia

Conzelmann vê Lucas revisando a tradição para incluir um amplo período de tempo para a igreja.
Tema logo no início: reino restaurado (1:6), “não vos compete conhecer tempos ou épocas” (1:7); “Esse
Jesus...virá” (1:11); “o que ocorre é...últimos dias” (2:17-21); “tempos de refrigério” e “restauração de
todas as coisas” (3:19, 21); “reedificarei o tabernáculo caído de Davi” (15:16-18); julgará o mundo (17:31).

Salvação e Graça

Lc: “salvar” 17v., “salvador” 2v., “salvação” 6v.. Atos: “salvar” 13v., “salvador” 2v, “salvação” 7v.. Ex.: 2:21;
4:12; 13:47-48; 16:30-31; 28:28.
Em Lc 2:30 Jesus é a salvação de Deus. Ele vem para todas as classes de pessoas: gentios, pecadores, os
excluídos sociais. Em At a salvação ultrapassa barreiras geográficas e culturais. Gentios a recebem 28:28
“Graça” 8v em Lc e 17 em At.. Aponta para obra de Deus nas pessoas (6:8). É um tópico importante.

A Soberania de Deus e a Necessidade Divina

Necessidade divina: dei= “é necessário”: 100v. no NT, 18v. em Lc, 22v. em At. Soberania divina: 17:26.
Lc: 2:49; 13:32-33; paixão necessária: 9:22; 17:25; 24:7, 26; At 17:3).
dei=: (1) o enraizamento da história querigmática; (2) um imperativo à obediência; (3)providência divina.
At: sucessor de Judas, 1:21-22; 1:24; vindicação de Cristo, 2:23-24; 4:11; 4:28; dispôs os povos, 17:26.
Através da narração: Filipe e o Etíope, 8:29; visão de Pedro, 10; direção, 16:6-10; profecia cumprida 28:25-31

O Povo de Deus

Há debate: Lucas é anti-Semita? Abordagem ambivalente de Paulo: primeiro ao judeu x abandona a


sinagoga
Jerusalém no início (1:5-25) e fim (24:50-53) de Lc; At começa em Jerusalém, termina em Roma: quadro da
expansão do povo de Deus. Jesus causaria “ruína e levantamento de muitos em Israel” (Lc 2:34). Como
Lucas via tal “queda e levantamento” dentro do contexto das várias respostas dos judeus ao Evangelho?
Há respostas positivas dos judeus bem como negativas do judaísmo “oficial”. Há séria acusação aos judeus,
2:23; com autoridades romanas, 4:27, porém Paulo recebe judeus e gentios crentes, 17:1-12.
Cornélio é recebido (13:34-36), concílio de Jerusalém aceita gentios (15:7, 9, acomodações em 13-29).
28:23-28, gentios serão mais receptivos.

A Igreja e Seu Ministério

Atos se atêm mais ao progresso que à estrutura da igreja. Haveria “catolicismo primitivo”? Käsemann:
ministério carismático de Coríntios é substituído por oficiais; sacramentalismo incipiente já se manifesta.
Imposição de mãos em 8:5-25 indicaria necessidade da autoridade apostólica? 8:26-40 não o exige.
At 6: (1) a igreja é quem escolhe (sob orientação dos apóstolos) ajudantes; (2) esses são encarregados da
distribuição; (3) os apóstolos se dedicam à oração e ensino, não ao governo.
Não há evidência de que os apóstolos de Jerusalém jurisdicionavam toda a igreja. Há vários líderes como
Pedro, Tiago e Paulo. Presbíteros devem liderar pelo serviço e não pela “autoridade” (14:21-23; 20:13-38)
At descreve um transmutante padrão de liderança e autoridade devido à natureza da igreja como
“emergente” antes que estática.
e)kklesi/a, com exceção de 9:31, denota uma comunidade local específica, antes que um grupo de igrejas.
As práticas em 2:42-47 (4:32-37) não constituem um padrão exigido, porém estabelece ideal fraternal. As
atividades de 2:42 representam parte importante desse ideal: ensino, oração, comunhão e “partir do pão”.
Referência à ceia não está clara nesse “partir do pão” (ver 20:7, 11; comparar com 27:35). Pode-se
presumir que sim, pois não há qualquer outra referência à santa ceia.
6. O Transfundo de Atos

Um texto deve ser considerado como parte de seu contexto real na vida. Visto que a Bíblia fala à sua própria
cultura, quanto mais conhecermos essa cultura, mais precisamente compreenderemos a mensagem
bíblica a ela, e assim poderemos aplicar essa mensagem aos nossos próprios dias.
O livro de Atos descreve eventos em diversos ambientes culturais e geográficos. A compreensão de que o
evangelho está transpondo barreiras geográficas e culturais, nos ajuda a perceber o impacto dessa
poderosa Palavra.

Um Caso para Estudo: Atos 16

Estaremos ilustrando como o intérprete pode utilizar informações de transfundo através da leitura de At 16.

7. Da Exegese à Aplicação

A Narrativa e a Tarefa Exegética

Num sentido a metodologia exegética não varia com o gênero.

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