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Avaliação do desempenho ambiental de obras de recuperação de rodovias

Article  in  Rem Revista Escola de Minas · April 2010


DOI: 10.1590/S0370-44672010000200007

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2 authors, including:

Luis E. Sánchez
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Roberta Maria Costa e Luiz Enrique Sánchez

Engenharia Civil
Avaliação do desempenho ambiental de
obras de recuperação de rodovias
(Environmental performance evaluation
in highway rehabilitation works)

Resumo
Esse trabalho apresenta um instrumento de avaliação do desempenho
ambiental para obras de recuperação de rodovias. Os resultados da avaliação
podem ser divulgados às partes interessadas e usados pelas empresas e órgãos
públicos responsáveis pelo gerenciamento rodoviário para, entre outros, atestar
a conformidade ambiental da empresa construtora. O procedimento envolve (i)
aquisição dos dados por meio de vistorias e análise de relatórios ambientais, parte
das atividades de supervisão ambiental de obras rodoviárias, (ii) classificação de
não conformidades ambientais segundo uma escala de importância, e (iii) cálcu-
lo de índices de não-conformidade ambiental. Para fins de teste e calibração, o
procedimento foi aplicado em cinco trechos rodoviários, que foram submetidos
a obras de recuperação no âmbito do Programa de Recuperação de Rodovias do
Estado de São Paulo.
Palavras-chave: Avaliação de desempenho ambiental, indicadores de desempenho
ambiental, obras rodoviárias.

Abstract
This paper features a tool to carry out environmental performance evaluation
in highway rehabilitation works, as a component of environmental supervision
activities. The procedure involves (i) evidence gathering by conducting technical
Roberta Maria Costa inspections and reviewing environmental compliance reports, (ii) ranking
Mestranda em Engenharia Mineral nonconformities according to a proposed weighting framework, and (iii)
Escola Politécnica da USP calculation of an environmental conformity index. For the sake of testing and
E-mail: roberta@derbid.com.br
calibration, the procedure was applied to five road segments that were submitted to
rehabilitation works in São Paulo State and the results were treated qualitatively.
Luis Enrique Sánchez
Keywords: Environmental performance evaluation, environmental management
Professor titular
Escola Politécnica da USP indicators, road construction.
E-mail: lsanchez@usp.br

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 63(2): 247-254, abr. jun. 2010 247
Avaliação do desempenho ambiental de obras de recuperação de rodovias

1. Introdução contexto, a avaliação de desempenho vinte lotes (trechos) de obra integrantes


ambiental (ADA) é uma ferramenta que do Programa de Recuperação de Rodo-
Rodovias são componentes da
permite aferir os resultados alcançados, vias do Estado de São Paulo (Etapa I) do
infra-estrutura de transportes que de-
mediante comparação com os requisitos Departamento de Estradas de Rodagem
mandam manutenção constante. No
ou condições estabelecidos para cada (DER/SP), parcialmente financiado pelo
Brasil, grande parte do parque rodoviá-
obra. No entanto, as exigências oriundas Banco Interamericano de Desenvolvi-
rio passou, desde os anos de 1980, por
do licenciamento ambiental são, muitas mento - BID (São Paulo, 2001).
intenso processo de deterioração, devido
vezes, formuladas em termos demasia-
à falta de investimentos em conservação
damente vagos, dificultando a fiscali-
e manutenção, demandando vultosas
obras de recuperação. Diante desse
zação e a auditoria (Dias & Sánchez, 3. Procedimento de
2001). Nesse artigo, propõe-se um pro-
quadro, o governo federal e diversos
cedimento para avaliar o desempenho
avaliação e indicadores
governos estaduais lançaram programas Para avaliar o desempenho am-
ambiental das empresas construtoras.
de recuperação da malha viária, muitos biental das obras rodoviárias, atividades
deles com financiamento de bancos de supervisão ambiental devem ser
multilaterais de desenvolvimento (São realizadas sistemática e periodicamen-
Paulo, 2001). Tais programas incluíram 2. Materiais e métodos
te durante todo o período de execução
requisitos de controle ambiental, vol- O instrumento desenvolvido para
das obras. Supervisão ambiental é aqui
tados não somente para a minimização avaliação do desempenho ambiental
definida como “atividade contínua rea-
dos impactos adversos decorrentes das foi fundamentado em procedimentos
lizada pelo empreendedor ou seu repre-
próprias obras de recuperação, como já aplicados na atualidade na
sentante, com a finalidade de verificar
também para a reabilitação de áreas construção de rodovias, mineração e
o cumprimento de exigências legais ou
degradadas por atividades realizadas em empreendimentos correlatos, tendo
contratuais por parte de empreiteiros e
no passado - em muitos casos, a própria como referência conceitual a norma
ISO 14031: 1999 (Environmental de quaisquer outros contratados para a
construção da rodovia.
M a n a g e m e n t - E n v i ro n m e n t a l implantação, operação ou desativação de
Embora a implantação de rodovias Performance Evaluation - Guidelines). um empreendimento” (Sánchez, 2006b,
seja uma atividade que gere impactos p. 464). Como uma das tarefas centrais
ambientais significativos, há exemplos, Para estabelecer um critério de da supervisão ambiental é a identificação
no Brasil, de rodovias construídas com avaliação e escolher os atributos rele- de eventuais não conformidades, sua
grande grau de observância da legisla- vantes, foram realizadas consultas a ocorrência foi usada para verificar se as
ção e das condicionantes das licenças documentos técnicos, como manuais práticas de proteção ambiental aplicadas
ambientais (Gallardo & Sánchez, 2004). de supervisão ambiental, laudos e re- são eficazes e para avaliar seus resulta-
Na atualidade, as empresas construtoras latórios de supervisão, monitoramento dos (desempenho ambiental). Para tanto,
devem observar uma série de requisitos e acompanhamento ambiental de obras foram usados dois tipos de indicadores,
para a execução de obras de construção rodoviárias do Estado de São Paulo, com categorias subseqüentes:
ou recuperação de rodovias e cláusulas Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do
ambientais têm sido incluídas nos con- Sul e Rio de Janeiro (disponíveis nos (1) Indicadores de Conformidade Legal
tratos de execução de serviços e obras. arquivos de órgãos governamentais do - que correspondem ao atendimento
Nesse contexto, o uso integrado de fer- setor de transportes), assim como revi- dos requisitos legais e normativos
ramentas de planejamento e gestão am- são bibliográfica sobre o assunto. Essas da obra (correspondentes aos indi-
biental - como a avaliação de impactos, fontes indicam que os problemas mais cadores de desempenho gerencial da
a auditoria e a avaliação de desempenho frequentes, em obras de construção e de norma ISO 14.031). Foram adotadas
ambiental - tem contribuído para garantir reabilitação de rodovias, como degra- as categorias conformidade legal e
a eficácia das medidas de proteção dos dação de recursos ambientais, conflitos regulamentar (como a ausência de
recursos ambientais (Sánchez, 2006a). com comunidades lindeiras, descumpri- licença de operação para canteiros
mento de requisitos legais ou de normas de obras).
Os contratos firmados com as
e diretrizes técnicas, são decorrentes, em (2) Indicadores de Conformidade
empreiteiras, muitas das vezes, atrelam
sua maioria, da ausência ou da ineficácia Ambiental - que correspondem à
o pagamento ao cumprimento de requi-
das medidas propostas nos Planos de implementação de práticas eficazes
sitos ambientais contratuais. Da mesma
Controle Ambiental elaborados como de proteção ambiental (indicadores
forma, agentes financeiros domésticos e
parte das exigências para licenciamento de desempenho operacional da nor-
internacionais têm colocado exigências
de desempenho ambiental como condi- ambiental. ma ISO 14.031) e aos procedimentos
cionante para o desembolso de parcelas Para fins de validação do método, o de gestão ambiental empregados pela
de financiamentos aprovados. Nesse procedimento foi aplicado em cinco dos construtora na rodovia e em seu en-

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Roberta Maria Costa e Luiz Enrique Sánchez
torno. Foram adotadas as seguintes ambiental, exigências contratuais e Médio: quando a não conformidade
categorias: atendimento à legislação ambiental). registrada apresenta possibilidade
Identificadas as não conformidades, é incerta de provocar degradação
(i) Interferência na fauna e flora (e.g.
preciso classificá-las segundo algum cri- ambiental às áreas adjacentes ou
soterramento de vegetação).
tério de importância, pois, dependendo subsequentes a ela.
(ii) Alteração de processos de dinâ- do contexto, tanto uma única não con-
formidade muito grave pode configurar Alto: quando a não conformidade
mica superficial (e.g. processos ero-
uma situação pior do que diversas não apresenta um elevado potencial de
sivos nas margens de curso d’água).
conformidades pouco graves como vice- ocasionar outras degradações ao
(iii) Resíduos sólidos e líquidos, versa. Não existe, a priori, um critério meio ou degradações subsequentes.
poluição atmosférica e sonora (e.g. unívoco ou universalmente aceito para
disposição inadequada de reci- 3. Facilidade de implementação de
atribuição de importância, de modo ação corretiva: descreve o grau de
pientes de substâncias derivadas que o procedimento aqui apresentado
do petróleo). complexidade das ações necessárias
representa uma das possíveis soluções para corrigir a situação, segundo a
(iv) Sinalização, higiene e segu- do problema. seguinte escala:
rança (e.g. ausência, uso deficiente Como as situações de não con-
ou inadequado de equipamentos de Fácil: ações correntemente empre-
formidade correspondem a eventos gadas no ramo da construção de
proteção individual). qualitativos, para o tratamento dos rodovias e de fácil exequibilidade.
(v) Aspectos estruturais (e.g. trincas dados utilizaram-se técnicas de análise
em obras de arte decorrentes de ins- qualitativa, conforme Pereira (2001). Média: ações recomendadas como
tabilidade geotécnica do aterro). boa prática no ramo da construção
As não conformidades ambientais
de rodovias, porém ainda pouco
(vi) Áreas de apoio, terceiros e são tratadas segundo três caracterís-
difundidas no Brasil.
passivos ambientais (e.g. ausência ticas ou atributos: (i) gravidade, (ii)
de recuperação ambiental em área implementação de ação corretiva e (iii) Difícil: ações que não fazem parte
utilizada como bota-fora). reincidência. Para cada característica foi da rotina de uma obra de construção
adotada uma escala qualitativa. de rodovias ou caracterizadas como
Dependendo das características da atividades cuja execução é complexa.
obra de recuperação a ser executada e Gravidade (GR): as não confor-
das particularidades da área de inserção, midades ambientais são enquadradas 4. Localização: uma não conformidade
o supervisor poderá lançar mão de outras em cinco níveis de gravidade, segundo pode ser constatada dentro da faixa
categorias que melhor descrevam as a combinação de quatro atributos que as de domínio da rodovia ou fora dos
condições ambientais locais ou as par- caracterizam, sendo que, para cada um seus limites (em áreas de apoio ou
desses atributos, foi desenvolvida uma de terceiros), ademais pode estar
ticularidades da obra rodoviária.
escala qualitativa, a seguir descrita. inserida em áreas sujeita a restrições
1. Severidade: relacionada à intensi- de uso, como áreas de preservação
4. Critérios de dade e à importância da degradação permanente, sendo:
ambiental causada durante as obras, Áreas legalmente protegidas: quando
mensuração e devido à ausência ou ineficácia uma não conformidade ambiental
avaliação das medidas de controle; para esse registrada encontra-se no interior de
O método utilizado tem como base atributo foi estabelecida a seguinte uma área protegida pela legislação
(1) a observação - por meio de inspeções escala: Leve, Média, Alta. brasileira.
técnicas - dos resultados da interação 2. Potencial de causar degradação
Áreas sem restrição ambiental:
entre as atividades das obras de recupe- ambiental em áreas adjacentes:
demais locais.
ração de rodovias e o meio ambiente, e quando uma determinada situação
(2) a análise (2a) das práticas e medidas tem potencial de causar degradação A Tabela 1 apresenta um resumo
de controle ambiental aplicadas, (2b) ambiental em áreas adjacentes, como dos atributos e escalas para as não con-
dos procedimentos documentados das um processo erosivo que ocasionou formidades ambientais.
empresas e (2c) de relatórios e laudos ou poderá ocasionar assoreamento
Como as constatações de ocorrên-
de monitoramento ambiental. de um curso d’água; para avaliação,
cia de não conformidades ambientais são
selecionou-se a seguinte escala:
A supervisão ambiental deve bus- variáveis qualitativas, cujos atributos
car evidências que permitam identificar a Baixo: quando a não conformidade apresentam uma relação de ordem entre
ocorrência de situações de não conformi- registrada apresenta baixo potencial si, devem ser analisadas segundo méto-
dade em relação a critérios previamente de provocar degradação ambiental dos apropriados (Pereira, 2001). Para
determinados (exigências da licença adjacente ou subsequente. essa avaliação, foi adotada a combinação

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Avaliação do desempenho ambiental de obras de recuperação de rodovias
de atributos (Sánchez, 2006b) e, para Implementação de ação corretiva • Não conformidade em atendimen-
mensurar uma não conformidade, foi es- (AC): caracterizada pelo atendimento, to (EA): quando, após o registro
tabelecida uma escala numérica, em que no prazo estabelecido, das exigências da não conformidade ambiental,
cada nível corresponde a um diferencial formuladas pela empresa supervisora, verifica-se a tomada de ações corre-
semântico com relação aos níveis prece- necessárias para correção de uma não- tivas em atendimento às solicitações,
dente e subsequente, atribuindo-se um conformidade ambiental registrada porém ainda não finalizadas e dentro
peso a cada nível, conforme a Tabela 2. (por exemplo, implantação de medidas do prazo estabelecido pela super-
No entanto, mesmo com a definição preventivas ou corretivas). A rapidez visora ambiental; o valor atribuído
de critérios para atribuição de pesos da resposta pode ser entendida como será igual a zero (0), uma vez que
para as não conformidades ambientais indicador de bom desempenho, tendo as medidas solicitadas encontram-se
selecionadas, verificou-se que o seu sido estabelecidas quatro situações, dentro do prazo estabelecido.
enquadramento apresenta um caráter baseadas na proposta apresentada por
• Não conformidade atendida (AT):
subjetivo e, até certo ponto, individual, De Jorge et al. (2004), com pontuação
quando, após o registro da não
dependendo da ótica e da experiência entre 0 e 3, sendo:
do profissional designado para o levan- conformidade ambiental, foram
tamento e tratamento dos dados. Assim,
é conveniente que a análise do desempe- Tabela 1 - Resumo dos atributos para classificação da gravidade de uma não conformidade.
nho ambiental das obras seja delegada
a profissionais de alto conhecimento e
experiência nas questões ambientais de
empreendimentos rodoviários.
Dessa forma,visando a atenuar o
viés da interpretação pessoal dos auto-
res, foram contatados cinco profissionais
envolvidos com atividades de supervisão
ambiental rodoviária ou estudos, proje-
tos e programas ambientais de empreen-
dimentos rodoviários, solicitando-se a
cada um que atribuísse pesos de acordo
com o critério proposto para combi-
nação dos atributos. Os resultados são
apresentados na última coluna da Tabela
2, onde se vê o valor final dos pesos,
que são aqueles de maior frequência
entre os atribuídos pelos profissionais
convidados.

Tabela 2 - Gravidade das não conformidades ambientais.

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Roberta Maria Costa e Luiz Enrique Sánchez
atendidas todas as exigências ou de problemas. Assim, para cada evento As vistorias e a análise dos do-
implementadas todas as medidas cor- reincidente, é atribuído um valor de 1 a cumentos foram realizadas no período
retivas necessárias ou atendimento 3, dependendo do número de reincidên- de março de 2003 a junho de 2005,
legal dentro do prazo estabelecido; o cias e do valor do parâmetro GR. Para correspondente à duração das obras
valor atribuído será igual a zero (0). a atribuição dos pontos, foi adotado o para os lotes selecionados. As não con-
seguinte critério: formidades ambientais foram registradas
• Não conformidade pendente (PE):
mensalmente e tratadas de acordo com
quando, após o registro da não- RE = 1, quando registrada a primeira os critérios de avaliação estabelecidos.
conformidade ambiental, verifica-se recorrência relacionada àquela não A Figura 1 apresenta as frequências
o atendimento parcial das solici- conformidade e o valor de GR for das não conformidades ambientais
tações, no prazo estabelecido. Na igual a 1 ou 2. registradas durante as obras para cada
situação de Pendente, é proposto lote selecionado para estudo e a Figura
RE = 2, quando registrada a segunda
um novo prazo para atendimento e, 2 apresenta o VDAM para cada lote de
recorrência relacionada àquela não
caso este não seja cumprido, a não- obra.
conformidade ambiental ou, quando
conformidade ambiental registrada
do primeiro registro de recorrência, o É importante observar que os tre-
passará à situação de Não Atendida
valor de GR for igual a 3 ou 4. chos selecionados apresentam extensões
(NA). A situação de Pendente aplica-
se também quando a solicitação de RE = 3, quando registrada qualquer não e períodos de execução de obras distintos
licenças/autorizações necessárias às conformidade ambiental a partir da (Tabela 3), o que, consequentemente,
obras encontra-se sob análise dos segunda reincidência ou a GR for interferiu no número de não conformi-
órgãos ambientais. O valor atribuído igual a 5. dades registradas e, consequentemente,
será 1 ou 2, dependendo do valor no VDAM. Para atenuar esse efeito e
O resultado da soma dos pontos tornar comparáveis os índices, para cada
atribuído ao parâmetro GR, assim:
atribuídos a GR, AC e RE para todas as lote de obra foi calculado um Índice de
PE = 1, quando a GR estiver entre 1
não conformidades registradas no mês Não Conformidade Ambiental do Lote
e 3; e PE = 2, quando a GR for igual
corresponde ao Valor do Desempenho (INCAL), ponderado pela extensão (km)
a 4 ou 5.
Ambiental Mensal (VDA M); quanto e pelo tempo (meses) da obra para cada
• Não conformidade não atendida maior esse número, pior o desempenho trecho.
(NA): quando, após o registro da ambiental da obra naquele mês.
Para tanto, o primeiro passo foi
não conformidade ambiental, não
a obtenção de um valor representativo
foram atendidas as exigências, ou
para os VDA M de cada lote, obtido
atendidas parcialmente fora do prazo 5. Teste e validação do mensalmente durante todo o período de
estipulado. A situação de Não Aten-
dida é aplicada, na maioria das vezes,
instrumento proposto obras, denominado Valor de Desempe-
A seleção dos casos procurou iden- nho Ambiental Característico do Lote
posteriormente ao enquadramento
tificar trechos de obras localizados em (VDAL). Como o VDAM apresenta-se
na situação de Pendente. Quando
diferentes compartimentos geográficos heterogêneo ao longo da obra, foi im-
relacionada à ausência de licenças ou
do Estado de São Paulo, com caracterís- prescindível o uso da estatística, a partir
autorizações ou ao descumprimento
ticas fisiográficas e ecológicas distintas. da expressão matemática:
às normas e à legislação ambiental, o
não cumprimento do prazo estabele- Dois trechos estão localizados no Litoral
cido para regularização caracteriza- Norte do Estado: o Lote 1 atravessa as
se a situação de Não Atendida. O va- encostas íngremes da Serra do Mar re-
cobertas pela Mata Atlântica e o Lote 3 Onde:
lor atribuído será 2 ou 3, dependendo
do valor atribuído ao parâmetro GR, percorre um trecho da baixada (orla ma-
: média aritmética dos VDAM-
assim: NA = 2, quando a GR estiver rítima), onde os terrenos são planos. O
para “n” meses.
entre 1 e 3; e NA = 3, quando a GR Lote 8 está na região Sudeste do Estado,
caracterizado pelos morrotes e colinas k0,90: coeficiente de t-Student referente ao
for igual a 4 ou 5.
da porção menos acidentada da Serra da intervalo de confiança de 90%.
Reincidência da não conformida- Mantiqueira, o Lote 13 encontra-se na : desvio-padrão da população dos
de (RE): quando verificada a ocorrência região central do Estado, onde o relevo VDAM para “n” meses.
de uma determinada não conformidade predominante são as colinas e o solo
ambiental que já fora registrada em um argiloso, com baixa suscetibilidade à
ou mais relatórios mensais anteriores. erosão. O último trecho, o Lote 16, está
Esse evento visa a avaliar a postura da inserido no Oeste Paulista, caracteriza-
construtora, tendo como referência os do pelo relevo plano e solos altamente
cuidados tomados para evitar a repetição suscetíveis à erosão.

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Avaliação do desempenho ambiental de obras de recuperação de rodovias
Os valores do percentual k0,90 em
função dos valores de n-1 e o VDAL de
cada lote são mostrados na Tabela 3.
Com os dados obtidos, foi possível
o cálculo do Índice de Não Conformi-
dade Ambiental (INCAL) para cada lote
de obra, a partir da seguinte expressão:

Assim, os valores obtidos para o


INCAL foram os seguintes:
Lote 01  INCA = 12,38
L
Lote 03  INCA = 10,61
L
Lote 08  INCA = 10,95
L
Lote 13  INCA = 1,72
L
Lote 16  INCA = 7,76
L
O Índice de Não Conformidade Figura 1 - Representação gráfica das freqüências das não conformidades ambientais para
os lotes de obra.
Ambiental apresentado nesse estudo foi
obtido para as obras já concluídas. No
entanto, esse índice pode ser calculado
mensalmente, substituindo o valor de n
pelo número 1, relativo àquele mês ou
pelo número de meses a ser analisados,
obtendo o VDAL correspondente duran-
te a execução das obras. Isto permite
propor um critério para que o órgão
fiscalizador possa avaliar os resultados
obtidos pela empresa construtora e,
conseqüentemente, o seu desempenho
ambiental.
No entanto, resta o problema de
avaliar qual ou quais lotes de obra
apresentam um desempenho ambiental
considerado aceitável ou satisfatório.
Figura 2 - Representação gráfica do VDAM para os lotes de obra.

Tabela 3 - Dados dos lotes selecionados.

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Roberta Maria Costa e Luiz Enrique Sánchez
Para tanto é necessário arbitrar um valor Tabela 4 - Intervalos de desempenho ambiental.
de referência. Nesse tipo de obra, não
se pode esperar, mesmo nos melhores
casos, o atendimento total e completo
de todos os requisitos, ou seja, não
há, para todos os efeitos práticos, não-
conformidade zero.
Esse valor de referência foi aqui
denominado de Índice de Não Confor-
midade Ambiental Crítico (INCACR),
considerado o valor a partir do qual as
obras poderiam ser declaradas como em
não conformidade ambiental, ou seja,
quando INCAL > INCACR, o empreendi-
mento rodoviário apresenta desempenho
ambiental caracterizado como insufi-
ciente ou insatisfatório.
Foi, então, obtido um intervalo de
confiança, conforme a expressão:

Onde:

INCAlim = Índice de Não Conformidade


Ambiental Limite Figura 3 - Distribuição t-Student.
σ : desvio-padrão do Índice de Não Con-
formidade Ambiental do lote (INCAL)
6. Discussão
k0,90: constante correspondente ao nível
de confiança de 90%, igual a 1,282. Nas O lote 16 apresentou, durante as obras, o maior número de não conformidades
análises estatísticas, comumente, são ambientais registradas, como pode ser observado na Figura 1, e maior valor para
usados para k os valores de 90, 95 e 99% o VDAL em comparação com os demais lotes (Tabela 3). Esse fato deve-se não
correspondente ao t-Student para 1,282; somente por apresentar a maior extensão, mas, também, pela paralização das obras
1,645; e 2,327 respectivamente. por um período de três meses, durante os quais as não conformidades registradas
agravaram-se e novas foram verificadas, principalmente quanto à alteração nos
Foram obtidos, assim, os seguintes processos de dinâmica superficial, pois os solos locais possuem composição arenosa
resultados:
e suscetibilidade alta à erosão (IPT, 1994).
= 6,93  7,0 O Índice de Não Conformidade Ambiental Crítico (INCACR) define o valor
INCA = 2,06 e 11,78  2,0 e 12,0 máximo a partir do qual o desempenho ambiental apresenta-se como indesejado
lim
e denominado Insatisfatório. De acordo com o critério proposto, apresentado na
Os resultados obtidos permitiram Tabela 4, nos casos estudados, apenas o Lote 13, com INCAL igual a 1,72, obteve
o desenvolvimento de intervalos de desempenho ambiental considerado Altamente Satisfatório. Todos os demais não
desempenho ambiental, conforme a alcançaram o desempenho desejado, ou seja, apresentaram INCAL superior ao INCACR
Tabela 4 e apresentados na Figura 3, (7,1). O Lote 1, com INCAL igual a 12,38, apresentou o pior desempenho ambiental,
por meio da distribuição t-Student, bas- considerado como Altamente Insatisfatório.
tante similar à distribuição normal. O
Índice de Não Conformidade Ambiental O instrumento proposto permite verificar qual o mês ou o período de obra em
Crítico, como apresenta a Tabela 4, foi que os valores do INCAL apresentam-se superiores ao INCACR, caracterizado como
considerado igual a 7,1. “tempo crítico”, no qual a empresa encontra-se em não-conformidade ambiental.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 63(2): 247-254, abr. jun. 2010 253
Avaliação do desempenho ambiental de obras de recuperação de rodovias

7. Conclusão outros tipos de projetos rodoviários, de acordo com as características das obras
que se pretende realizar, com maior ou menor grau de detalhamento, podendo ser
O instrumento proposto para ava-
ampliados ou excluídos os indicadores ambientais sugeridos.
liar o desempenho ambiental das obras
rodoviárias e das construtoras é um O valor do Índice de Não Conformidade Ambiental Crítico (INCACR) pode ser
procedimento sistemático, fundamen- considerado representativo e pode ser utilizado para avaliar o desempenho ambiental
tado e coerente, que pode ser utilizado de empreendimentos rodoviários e, consequentemente, das empresas construtoras,
pelos órgãos rodoviários ou por empresa desde que os critérios de avaliação utilizados para o tratamento das não conformi-
fiscalizadora contratada para realizar a dades ambientais sejam os mesmos sugeridos nesse trabalho.
supervisão ambiental durante o período
de obra. Os resultados da avaliação
do desempenho ambiental das obras 8. Referências bibliográficas
também podem ser divulgados às par- DE JORGE, F. N., NOVELLO NETO, A. V., PACHIEGA, A. Jr., AZAMBUJA, C. H. B.,
tes interessadas, sendo usados como RIDENTE, J. L. Jr., COSTA R. M. Análise de ocorrências ambientais em obras de
instrumento de comunicação. Sua apli- recuperação de rodovias no Estado de São Paulo. In: JORNADA TÉCNICA MEIO
cação, contudo, requer que as inspeções AMBIENTE VIÁRIO URBANO E RURAL. Anais... São Paulo: Universidade
Mackenzie, 2004. CD-ROM.
técnicas sejam realizadas por profissio-
DIAS, E.G.S., SÁNCHEZ, L.E. Deficiências na implementação de projetos submetidos à
nais com experiência em supervisão avaliação de impacto ambiental no Estado de São Paulo. Rev. Direito Ambiental, v. 6,
ambiental. n. 23, p.163-204, 2001.
A seleção dos trechos de obra do INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Carta
Programa de Recuperação de Rodovias Geotécnica do Estado de São Paulo - escala 1: 500.000. São Paulo: IPT, 1994.
GALLARDO, A.L.C.F., SÁNCHEZ, L.E. Follow-up of a road building scheme in a fragile
do Estado de São Paulo - Etapa I
environment. Environmental Impact Assessment Review, v. 24, n. 2, p. 47-58, 2004.
ofereceu subsídios para avaliar a aplica- PEREIRA, J. C. R. Análise de dados qualitativos: estratégias metodológicas para as ciências
bilidade do instrumento proposto, uma da saúde, humanas e sociais. (3. ed.). São Paulo: Edusp, 2001. 156 p.
vez que foram estudadas situações com SÁNCHEZ, L.E. Avaliação de impacto ambiental e seu papel na gestão de empreendimentos.
características geográficas e ambientais In: Modelos e ferramentas de gestão ambiental. VILELA Jr, A., DEMAJOROVIC, J.,
distintas, o que permitiu validar o pro- orgs. São Paulo: Editora SENAC, 2006a. p. 85-114.
cedimento. SÁNCHEZ, L.E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina
de Textos, 2006b. 496 p.
O modelo de avaliação de desem- SÃO PAULO (Estado). Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo.
penho ambiental proposto é específico Relatório de Avaliação Ambiental do Programa. São Paulo: DER, Programa de
para obras de recuperação de rodovias. Recuperação de Rodovias do Estado de São Paulo, 2001. 238 p.
No entanto, poderá ser adaptado para Artigo recebido em 14/01/2009 e aprovado em 15/10/2009.

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254 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 63(2): 247-254, abr. jun. 2010

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