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2. Jesus Cristo nos liberta mediante a sua fidelidade (fé) a Deus - Gálatas 2,16 (cp.
Gálatas 3,22; Romanos 3,22.26): “Sabemos entretanto que o homem não é justificado
pelas obras da lei, mas somente pela fé em Cristo, a fim de sermos justificados pela fé
de Cristo e não pelas obras da Lei, porque pelas obras da lei ninguém será justificado”.
A tradução acima destaca a preposição de que, normalmente, é traduzida por “em”, o
que torna o versículo redundante e pode conduzir a uma interpretação da fé em que
esta se torna uma nova obra meritória para ganhar a salvação. A fé é nossa resposta à
oferta graciosa da salvação por Deus, mas não é a base de nossa salvação. A base de
nossa resposta é a fidelidade de Jesus Cristo ao Pai. O fundamento vétero-
testamentário desta afirmação paulina é duplo: (1) Paulo interpreta a Lei como posterior
à promessa de Deus à Abraão de que nele seriam abençoadas todas as famílias da
terra - Gálatas 3,17s; (2) Paulo interpreta a vida justa - livre - como a vida do fiel a Deus,
seguindo Habacuque 2,4 - no idioma hebraico, o termo que traduzimos por fé denota,
igualmente fé e fidelidade.
Em que consistiu a fidelidade (fé) de Cristo, mediante a qual somos justificados
(libertados)? Em sua completa e plena submissão à missão que lhe foi confiada pelo
Pai que o enviou (Gálatas 4,4ss). O fundamento de nossa liberdade é a fidelidade de
Cristo, e isto é determinante para uma correta compreensão de nossa libertação e
justificação. Corremos o risco de confundir a fé em Cristo com o fundamento da
salvação - a fé é o meio pelo qual recebemos a salvação. O fundamento da libertação é
a fidelidade de Cristo a Deus o Pai, que torna presente na história (vindo a plenitude
dos tempos), a graça libertadora de Deus, agora disponível a todos os povos.
seguintes horizontes de alvo e sentido: 1o. alvo: fé justificadora (cf. Romanos 4,25); 2o.
alvo: domínio sobre mortos e vivos (cf. Romanos 14,9); 3o. alvo: superação da morte e
nova criação (cf. I Co 15,25-28); 4o. alvo: Glorificação de Deus por meio de um mundo
redimido (cf. Filipenses 2,9-11). O objetivo imediato é a justificação dos homens, mas o
objetivo superior é a justificação de Deus; o objetivo comum consiste na justificação
recíproca de Deus e dos homens e em sua vida comum em justiça. ... Com o
ressuscitamento do Cristo assassinado por crucificação por Deus começa um processo
universal de teodicéia que pode ser consumado pelo ressuscitamento escatológico de
todos os mortos e pela destruição do poder da morte e, portanto, pela nova criação de
todas as coisas. Então esse processo de teodicéia se transforma em doxologia cósmica
universal.” (MOLTMANN, J. O caminho de Jesus Cristo. Cristologia em dimensões
messiânicas, Petrópolis, Vozes, 1993, p. 250
Minha intenção, com esta breve reflexão sobre a vida de Jesus Cristo como base de
nossa salvação, é apenas a de destacar a importância e a necessidade de ampliarmos
nossa visão e nossa reflexão a respeito da salvação. Uma doutrina da salvação
baseada apenas na “cruz” de Cristo corre o risco de tornar a fé e a vida cristãs apenas
questões de assentimento doutrinário e da vida privada, da vida do indivíduo com Deus.
A fé cristã e a vida cristãs afetam a totalidade de nossa vida, pessoal, social,
econômica, cultural, política. Ampliando a nossa visão, crescerá o nosso discernimento.
Maior discernimento, maior será a eficácia de nosso testemunho pessoal e ministerial.
Maior será, então, a glorificação de Deus através de nossas vidas!