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CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA

PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004

FILOSOFIA DA
EDUCAÇÃO

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 3
UNIDADE 1 - A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA FILOSOFIA .................................. 5
UNIDADE 2 - SITUANDO A FILOSOFIA NAS DIVERSAS ÉPOCAS......................... 15
UNIDADE 3 - AS CONCEPÇÕES E OS MÉTODOS DA FILOSOFIA ......................... 17
UNIDADE 4 - OBJETOS DE ESTUDO – OS GRANDES TEMAS ................................ 23
UNIDADE 5 - OS RAMOS DA FILOSOFIA ................................................................... 42
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 50

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3

INTRODUÇÃO

Vários são os motivos que justificam a importância do estudo e entendimento


da filosofia, quer seja nos cursos de graduação, no Ensino Médio ou como leitura de
lazer pessoal.

No meu entendimento (e que, evidentemente, pode e deve variar de acordo


com a visão que cada um tem da vida), o que mais motiva no estudo da Filosofia é a
possibilidade de desenvolver uma visão generalista e, ao mesmo tempo, crítico-
reflexiva acerca dos problemas do cotidiano.

Aos alunos do Ensino Médio, o estudo da Filosofia possibilita a formação de


cidadãos críticos, disciplinados, autônomos e cultos como recomenda a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN n. 9394/96).

O artigo 36, § 1o, inciso III, justifica os conhecimentos de Filosofia como


“necessários ao exercício da cidadania”, contribuindo para o “aprimoramento como
pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico” (art. 35, inciso II, da LDB). E devem, ainda, mais
especialmente, seguir a diretriz de “difusão de valores fundamentais ao interesse
social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem
democrática” (art. 27, inciso I, da LDB) (BRASIL, 2006).

Não é raro observarmos nos cursos de graduação, principalmente nas áreas


de Ciências Exatas, a Filosofia ser encarada como algo de “intelectuais”, que não
leva a nada, mas temos duas explicações! Primeiro, a forte influência do modelo
universitário norte-americano com seu pragmatismo 1 e segundo, porque aqui no
Brasil, ao contrário da Europa, os meios de comunicação não se preocupam em
divulgar textos filosóficos (dentre outras lacunas que não nos interessa aprofundar

1
As doutrinas de C. S. Peirce (v. peirciano), W. James (v. jamesiano1), J. Dewey (v. deweyano) e do
literato alemão Friedrich J. C. Schiller (1759-1805), cuja tese fundamental é que a verdade de uma
doutrina consiste no fato de que ela seja útil e propicie alguma espécie de êxito ou satisfação
(FERREIRA, 2004)

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no momento). Desse modo, a Filosofia em muito tem a contribuir na formação


cultural, crítica e ética das gerações atuais e futuras do país.

Juntamente com as apostilas Ética e Filosofia, História da Filosofia e Tópicos


de Ética, esta apostila denominada Tópicos de Filosofia vem colaborar no sentido de
apresentar, conceituar, discutir e analisar os temas filosóficos de maior importância,
os seus ramos, sua importância, seu campo de conhecimento, enfim.

Concordando com Sponville (2002, p. 11) filosofar é pensar por conta própria;
mas só se consegue fazer isso de um modo válido, apoiando-se primeiro no
pensamento dos outros, em especial dos grandes filósofos do passado. A filosofia
não é apenas uma aventura; é também, um trabalho, que requer esforços, leituras,
ferramentas.

Esperamos que esta especialização capacite-os para a discussão


interdisciplinar, proporcionando a formação de cidadãos críticos que possam fazer
com que a filosofia ocupe seu lugar no contexto local, regional e nacional, mas
ressaltamos que o assunto não se esgota e tanto por isso, ao final da apostila são
oferecidas bibliografias complementares para sanar dúvidas que, por ventura
venham surgir no decorrer do estudo, possíveis lacunas e para aprofundamento dos
senhores.

Desejamos a todos uma boa leitura e um estudo proveitoso!

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UNIDADE 1 - A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA FILOSOFIA

Origem, nascimento, definições

Oficialmente a Filosofia nasceu com Tales de Mileto marcando uma nova


forma de pensar o mundo através da observação e a tentativa sistemática de uma
explicação natural para a realidade.

No começo o homem acreditava nos mitos, mas algo aconteceu que o fez
mudar seu modo de pensar. Ele deixou de recorrer aos mitos para explicar o
universo e inaugurou um sistema de pensamento que permeia toda a civilização
ocidental até os dias de hoje.

Ao longo desta apostila encontraremos os motivos, as razões e as


características desde o começo, passando pelas ideias pré-socráticas.

A palavra “filosofia” tem sua origem no idioma grego e resulta da união de


outras duas palavras: philia que significa amizade, amor fraterno (não no sentido
erótico) e respeito entre os iguais e Sophia, que significa sabedoria, conhecimento.
Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.
Assim, o filósofo seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo
saber, deseja saber. A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos (que viveu no
século V antes de Cristo) a criação da palavra. Filosofia indica um estado de
espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e
o respeita (RUSSELL, 1977).

Segundo Russell (1977) a filosofia origina-se de uma tentativa obstinada de


atingir o conhecimento real. Aquilo que passa por conhecimento, na vida comum,
padece de três defeitos: é convencido, incerto e, em si mesmo, contraditório. O
primeiro passo rumo à filosofia consiste em nos tornarmos conscientes de tais
defeitos, não a fim de repousar, satisfeitos, no ceticismo indolente, mas para
substituí-lo por uma aperfeiçoada espécie de conhecimento que será experimental,
precisa e autoconsistente. Naturalmente, desejamos atribuir outra qualidade ao

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nosso conhecimento: a compreensão. Desejamos que a área de nosso


conhecimento seja a mais ampla possível. Isto, no entanto, é mais da competência
da ciência que da filosofia. Um homem não vem a ser necessariamente melhor
filósofo graças ao conhecimento de maior número de fatos científicos; são os
princípios e métodos, e as concepções gerais, que ele deva apreender da ciência,
caso a filosofia seja matéria de seu interesse. A missão do filósofo é, a bem dizer, a
segunda natureza do fato bruto. A ciência tenta agrupar fatos por meio de leis
científicas; estas leis, mais que os fatos originais, são a matéria-prima da filosofia. A
filosofia envolve uma crítica, do conhecimento científico, não de um ponto de vista
em tudo diferente do da ciência, mas de um ponto de vista menos preocupado com
detalhes e mais comprometido com a harmonia do corpo genérico das ciências
especiais.

A Filosofia é um ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três


modos: seja pelos conteúdos ou temas tratados, seja pela função que exerce na
cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos,
contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos tais como bem, beleza, justiça,
verdade. Mas, nem sempre ela tratou de tais temas. No começo, na Grécia, a
Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação
entre ciência e filosofia. Assim, na Grécia, a Filosofia incorporava todo o saber. No
entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa
a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até
então vigente. Isto pode ser verificado a partir de uma análise da assim considerada
primeira proposição filosófica (DUTRA 2005).

Quanto ao seu valor, a filosofia deve ser estudada, não por causa de
quaisquer respostas exatas às suas questões, uma vez que, em regra, não é
possível saber que alguma resposta exata é verdadeira, mas antes por causa das
próprias questões; porque estas questões alargam a nossa concepção do que é
possível, enriquecem a nossa imaginação intelectual e diminuem a certeza
dogmática que fecha a mente à especulação; mas acima de tudo porque, devido à

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grandeza do universo que a filosofia contempla, a mente também se eleva e se torna


capaz da união com o universo que constitui o seu mais alto bem (RUSSELL, 2001).

Para Prado Jr (1981) a Filosofia seria isso mesmo: uma especulação infinita e
desregrada em torno de qualquer assunto ou questão, ao sabor de cada autor, de
suas preferências e mesmo de seus humores. Na verdade, existem pensadores ou
especuladores que afirmam caber à Filosofia simplesmente sugerir questões e
propor problemas, fazer perguntas cujas respostas não têm maior interesse, e com o
fim único de estimular a reflexão, aguçar a curiosidade.

Apesar, contudo, de boa parte da especulação filosófica, particularmente em


nossos dias, parecer confirmar tal ponto de vista, ele certamente não é verdadeiro.
Há sem dúvida um terreno comum onde a Filosofia, ou aquilo que se tem entendido
como tal, se confunde com a literatura e não objetiva realmente conclusão alguma,
destinando-se tão somente, como toda literatura, a par do entretenimento que
proporciona, levar aos leitores ou ouvintes, a partir destes centros condensadores da
consciência coletiva que são os profissionais do pensamento, levar-lhes impressões
e estados de espírito, emoções e estímulos, dúvidas e indagações. Mas esse
terreno não é toda a Filosofia (PRADO JR, 1981).

Mas vamos às definições colhidas para o termo Filosofia.

Para Platão, filosofia é o uso do saber em proveito do homem, o que implica


em, 1º, posse de um conhecimento que seja o mais amplo e mais válido possível,
e, 2º, o uso desse conhecimento em benefício do homem.

Rene Descartes simplifica como o estudo da sabedoria.

Em Thomas Hobbes encontramos o conhecimento causal e a utilização


desse em benefício do homem.

Para Kant, é a ciência da relação do conhecimento à finalidade essencial da


razão humana, que é a felicidade universal; portanto, a Filosofia relaciona tudo com
a sabedoria, mas através da ciência, e para Auguste Comte, é a ciência universal

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que deve unificar num sistema coerente os conhecimentos universais fornecidos


pelas ciências particulares (COLLINSON, 2006).

Para o filósofo cristão alemão Johannes Hessen, como quer que se entenda e
defina o que é Filosofia, não pode ser negado que nesta se realiza sempre um auto-
exame do Espírito.

“O espírito humano cultiva ciência e arte; pratica atos de moralidade e de


religião. Mas só na filosofia ele medita sobre o sentido e o alcance dessas suas
atividades. Reflete ainda sobre as suas funções e atividades não-teoréticas, sobre a
sua atitude em face dos valores e pretende indagar qual é a essência dos valores
éticos, estéticos e religiosos” (HESSEN, 1980, p.50).

Ou ainda como o escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881): “o segredo


da existência humana consiste não somente em viver, mas ainda em encontrar um
motivo de viver”. Não será a ciência, com sua postura essencialmente não-
valorativa, que irá fornecer este sentido de totalidade, o conhecimento unificado e
universal.

Numa comparação com as ciências, estas, de forma simplificada, tendem a


uma descrição analítica dos fatos ou situações, enquanto a Filosofia acaba sendo
uma interpretação sintética. Como diz Durant (1996, p.26) “A ciência quer decompor
o todo em partes, o organismo em órgãos, o obscuro em conhecido. Ela não procura
conhecer os valores e as possibilidades ideais das coisas, nem o seu significado
total e final; contenta-se em mostrar a sua realidade e sua operação atuais, reduz
resolutamente o seu foco, concentrando-se na natureza e no processo das coisas
tais como são.” Com a Filosofia acontece o oposto. O filósofo não se contenta com a
simples descrição dos fatos; quer averiguar a relação do fato com a experiência em
geral, tenta compor o que havia sido decomposto pelos cientistas combinando as
coisas em uma grande síntese interpretativa.

“A ciência nos ensina a curar e a matar; reduz a taxa de mortalidade no varejo


e depois nos mata por atacado na guerra; mas só a sabedoria - o desejo
coordenado à luz de toda a experiência - pode nos dizer quando curar e quando

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matar. Observar processos e construir meios é ciência; criticar e coordenar fins é


filosofia; e porque hoje os nossos meios e instrumentos se multiplicaram além da
nossa interpretação e da nossa interpretação e da nossa síntese de ideais e fins,
nossa vida está cheia de som e fúria, não significando coisa alguma. Porque um fato
nada é exceto em relação ao desejo; não completo, exceto em relação a um
propósito e a um todo. A ciência nos dá conhecimento , mas só a filosofia pode nos
dar a sabedoria” (DURANT, 1996, p. 27).

Enfim, as contradições, as incoerências, as ambiguidades, as


incompatibilidades levam o homem em direção à Filosofia. Esse é o momento em
que ela nasce, ou seja, quando ele começa a exigir provas e justificativas racionais
que validam ou invalidam as crenças cotidianas. O surgimento dos momentos
críticos e quando sistemas religiosos, éticos, políticos, científicos e artísticos
estabelecidos se envolvem em contradições internas ou contradizem-se uns aos
outros e buscam transformações e mudanças, também entra em cena o “filosofar”.

A matéria e o espírito

Quando os filósofos tentaram explicar o mundo, a natureza, o homem,


tudo o que nos rodeia, enfim, foram levados a fazer distinções. Nós próprios
constatamos que há coisas, objetos que são materiais, que vemos e tocamos.
Depois, outras realidades que na vemos e não podemos tocar, nem medir, como as
nossas ideias (POLITZER, 2001).

Classificamos, portanto, assim as coisas: por um lado, as que são materiais;


por outro lado, as que não o são, e pertencem ao domínio do espírito, do
pensamento das ideias.

Foi assim que os filósofos se encontraram em presença da matéria e do


espírito.

Mas, o que vem a ser cada um deles?

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Nós não costumamos falar do espírito, mas do pensamento, das nossas


ideias, da nossa consciência, da alma; assim como, falamos da natureza, do mundo,
da terra, do ser, estamos falando é da matéria.

O pensamento é a ideia que fazemos das coisas; algumas dessas ideias vêm-
nos ordinariamente das nossas sensações e correspondem a objetos materiais;
outras, como as de Deus, filosofia, infinito, do próprio pensamento não
correspondem a objetos materiais. Temos ideias, pensamentos, sentimentos, porque
vemos e sentimos.

Já a matéria é tudo aquilo que nos rodeia, que chamamos de mundo


“exterior”.

Campos de investigação

Os grandes temas ou os campos de investigação da Filosofia sempre serão o


homem, o universo, a sociedade, o conhecimento e uma auto-crítica constante.
Sempre foi sob estes temas que a Filosofia existiu e existirá, sendo sempre
necessária e prazerosa.

Segundo Chauí (2003) no período socrático, a filosofia se voltou para as


questões humanas no plano da ação, dos comportamentos, das ideias, das crenças,
dos valores e, portanto, se preocupando com as questões morais e políticas.

Seu ponto de partida é a confiança no pensamento ou no homem como um


ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão.
Reflexão é a volta que o pensamento faz sobre si mesmo para conhecer-se; é a
consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade para conhecer as coisas,
alcançando o conceito ou a essência delas (GILES, 2006).

Como se trata de conhecer a capacidade de conhecimento do homem, a


preocupação se volta para estabelecer procedimentos que nos garantam que
encontramos a verdade, isto é, o pensamento deve oferecer a si mesmo caminhos

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próprios, critérios próprios e meios próprios para saber o que é o verdadeiro e como
alcançá-lo em tudo o que investiguemos (GILES, 2006).

Ela também está voltada para a definição das virtudes morais e das virtudes
políticas, tendo como objeto central de suas investigações a moral e a política, isto
é, as ideias e práticas que norteiam os comportamentos dos seres humanos tanto
como indivíduos quanto como cidadãos.

Cabe à Filosofia, portanto, encontrar a definição, o conceito ou a essência


dessas virtudes, para além da variedade das opiniões, para além da multiplicidade
das opiniões contrárias e diferentes. As perguntas filosóficas se referem, assim, a
valores como a justiça, a coragem, a amizade, a piedade, o amor, a beleza, a
temperança, a prudência, etc., que constituem os ideais do sábio e do verdadeiro
cidadão (GILES, 2006).

É feita, pela primeira vez, uma separação radical entre, de um lado a opinião
e as imagens das coisas, trazidas pelos nossos órgãos dos sentidos, nossos
hábitos, pelas tradições, pelos interesses, e, de outro lado, as ideias. As ideias se
referem à essência íntima, invisível, verdadeira das coisas e só podem ser
alcançadas pelo pensamento puro, que afasta os dados sensoriais, os hábitos
recebidos, os preconceitos, as opiniões (GILES, 2006).

A reflexão e o trabalho do pensamento são tomados como uma purificação


intelectual, que permite ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável,
universal e necessária (GILES, 2006).

A opinião, as percepções e imagens sensoriais são consideradas falsas,


mentirosas, mutáveis, inconsistentes, contraditórias, devendo ser abandonadas para
que o pensamento siga seu caminho próprio no conhecimento verdadeiro (GILES,
2006).

Em última análise, a filosofia nada mais é do que um instrumento, um maneira


que o homem encontrou para entender melhor a si próprio, ao outro e ao mundo, o
que vai, complementarmente com as demais ciências, proporcionar benefícios ao

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próprio homem, o qual não deixa de ser um animal curioso que investiga, que deseja
saber o porquê de toda existência, inclusiva a sua (GILES, 2006).

Isso nos leva a inferir que o homem é o tema mais privilegiado da Filosofia, e
do seu entorno fazem parte o universo e a sociedade onde vive.

Quanto ao conhecimento, outro campo de atuação da filosofia,


conceitualmente:

1.Conhecer, em sentido lato, é recolher e organizar informações sobre o meio


envolvente de modo a permitir a constante adaptação do organismo ao meio,
possibilitando assim a sua sobrevivência.

2.Conhecer, em sentido restrito, apenas aplicável aos seres humanos, pode


ser entendido como a construção de representações mentais que o sujeito organiza
ao longo da vida na sua relação com os objetos. Nesta perspectiva restrita,
encontramos conceitos como:

1. Sujeito (aquele que conhece);

2. Objeto (o que é conhecido);

3. Sensação (apreensão imediata do objeto, que se realiza pela ação de


um estímulo específico);

4. Percepção (configuração ou construção individual dos dados


sensoriais, em função dos mecanismos receptores, experiências anteriores,
interesses, etc.). A palavra percepção deriva do latim perceptio que significa ação de
recolher, e por extensão conhecimento como apreensão. O que caracteriza a
percepção é a apreensão da realidade, não como impressões sensoriais isoladas,
mas um conjunto organizado, ou uma totalidade portadora de sentido.

5. Razão (elaboração de representações mentais abstratas, conceitos,


discursos), relações lógicas e teorias interpretativas sobre a realidade (FONTE,
2008).

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Enfim, as teorias explicativas sobre o conhecimento foram sempre um tema


central na história da filosofia, e mais recentemente, também na ciência. As
perspectivas da ciência não são, como é obvio, coincidentes com as da filosofia
(FONTES, 2008).

Entre as teorias científicas do conhecimento, Fontes (2008) destaca as


filogenéticas, as ontogenéticas, a sociologia do conhecimento e a psicologia da
percepção.

A filogênese estuda a história da evolução humana, nomeadamente a


constituição dos seres humanos como sujeitos cognitivos. A paleontologia humana,
baseada em inúmeras investigações, afirma que os homens nem sempre tiveram a
mesma constituição e capacidades. A explicação mais consensual é que a evolução
da nossa constituição morfológica e funcional, foi feita em simultâneo com o
desenvolvimento das nossas capacidades cognitivas (memória, linguagem e
pensamento) e esta de forma articulada com o desenvolvimento das nossas
realizações e capacidades técnicas. Todos estes fatores de forma inter-relacionada
contribuíram para gerarem a espécie que hoje somos (FONTES, 2008).

Na ontogênese, o conhecimento é encarado como um processo de


modificações e adaptações ao meio que desde o nascimento ocorre em todos os
seres vivos. Segundo diversos autores, a ontogênese repete a filogênese, isto é, o
desenvolvimento da humanidade é como que repetido no desenvolvimento de cada
ser (FONTES, 2008).

Sobre outro grande campo de estudo da Filosofia, a autocrítica, Marx e


Freud descobriram aspectos decisivos da ação das forças que atuam
subterraneamente em nós e mostraram que, sob uma capa de “racionalidade”, elas
impõem limites aos movimentos da nossa consciência. Mostraram como esquemas
explicativos são elaborados e reelaborados em nossas cabeças com a finalidade de
nos proporcionar a “boa consciência”, com o objetivo de amenizar nossas dúvidas,
atenuar nossas inquietações e evitar a vertigem das nossas inseguranças
(KONDER, 2008).

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No pensamento de Konder (2008) forjamos para nós imagens que nos


ajudem a viver; e nos apegamos a elas. O autoritário se apresenta como “enérgico”
e “corajoso”; o oportunista como “prudente” ou “realista”; o covarde com “sensato”; o
irresponsável como “livre”. Não existe nenhuma tomada de posição no plano político
ou filosófico que, por si mesma, imunize a consciência contra a ação desses
mecanismos. Somos todos divididos, contraditórios. Por isso mesmo, precisamos
promover discussões, examinar e reexaminar a função interna das nossas
racionalizações. Quer dizer: precisamos realizar permanentemente um vigoroso
esforço crítico e autocrítico.

Nesse contexto, a autocrítica é de uma importância decisiva. É por ela que


passa o teste da superação do conservadorismo dentro de nós. Um conservador – é
claro – pode fazer autocrítica; mas, se a autocrítica for feita mesmo para valer, ele
seguramente não estará sendo conservador no momento em que a fizer.

Desde que consiga se instalar solidamente na consciência de alguém, o


conservadorismo pode administrar uma grande flexibilidade: pode suportar com
tolerância liberal as opiniões divergentes, até as provocações e irreverências
alheias. Mas não pode se permitir o autoquestionamento radical (KONDER, 2008).
Este campo basicamente permeia ao mesmo tempo, o começo e o final do processo
de filosofia de qualquer ser humano, sendo de extrema importância para lançar mão
de novos questionamentos e reiniciar sua caminhada na busca de novas respostas.

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UNIDADE 2 - SITUANDO A FILOSOFIA NAS DIVERSAS


ÉPOCAS

Antiga (do séc. VI a.C. ao séc. III d.C)

A filosofia ocidental surgiu na Grécia antiga, no séc. VI a.C. sendo


considerados Pitágoras (c. 580-500 a.C.) e Tales de Mileto (c. 624-546 a.C.), os
fundadores e primeiros filósofos. Eles dedicavam-se com especial atenção à
cosmologia (que hoje é uma disciplina científica), isto é, ao estudo da origem e
natureza última do universo. Sócrates e Platão dedicaram-se depois a problemas
éticos e políticos, assim como a alguns aspectos mais conceituais da filosofia.
Fizeram da procura de definições explícitas de conceitos básicos como beleza,
justiça e conhecimento a sua atividade principal. Aristóteles desenvolveu
praticamente todas as áreas da filosofia e da ciência, e estabeleceu firmemente o
estudo sistemático de problemas filosóficos e científicos. Fundaram-se várias
escolas dedicadas ao estudo da filosofia e surgiram vários filósofos importantes
(CHAUÍ, 2003; WARBURTON, 2006).

Medieval (sécs. III-XV)

No período medieval a filosofia foi estudada num contexto, sobretudo


religioso. Muitos filósofos deste período foram extraordinariamente perspicazes,
tendo desenvolvido algumas ideias e argumentos hoje considerados centrais em
filosofia, não só na filosofia da religião e na metafísica, mas também na ética,
filosofia da linguagem e lógica. Alguns dos debates mais importantes da época
incluem o problema dos universais, as provas da existência de Deus e a
compatibilidade entre a presciência divina e o livre-arbítrio humano (a presciência é
a capacidade para saber de antemão o que vai acontecer). Alguns dos mais
destacados filósofos ocidentais do período medieval foram Santo Agostinho, Santo
Anselmo (1033-1109), Abelardo (1079-1142), Tomás de Aquino e Guilherme de
Ockham (CHAUÍ, 2003; WARBURTON, 2006).

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Moderna (sécs. XVI-XVIII)

No período moderno, a epistemologia foi considerada por muitos filósofos o


ponto de partida da filosofia. Descartes tornou-se um dos mais influentes filósofos de
sempre. Neste período, a oposição entre empirismo e racionalismo tornou-se
central. Do lado racionalista, juntamente com Descartes, estão filósofos como
Espinosa (1632-77) e Leibniz. Do lado empirista, filósofos como Hobbes, Locke,
Berkeley e Hume. Hobbes, Locke, Hume e Espinosa deram uma atenção especial à
ética e à filosofia política, que tinham sido negligenciadas por Descartes. Outros
filósofos importantes deste período foram Voltaire (1694-1778) e Jean Jacques
Rousseau (1712-78). Kant prossegue o trabalho dos filósofos racionalistas e
empiristas, ocupando-se, sobretudo, de ética, epistemologia e metafísica (CHAUÍ,
2003; WARBURTON, 2006).

Contemporânea (do séc. XIX aos dias de hoje)

No séc. XIX, principalmente a partir do séc. XX, a filosofia conhece uma


vitalidade e diversidade que ultrapassa de longe qualquer período histórico anterior.
Alguns filósofos alemães e franceses fundam correntes como o existencialismo, a
fenomenologia e a hermenêutica; que serão definidos em tópico mais adiante.
Depois da segunda guerra mundial, florescem disciplinas antes negligenciadas,
como a metafísica, a filosofia da religião, a filosofia da arte, a ética, incluindo a ética
aplicada) e a filosofia política. A filosofia da ciência e a epistemologia atingem
resultados de grande importância, assim como a filosofia da linguagem e a lógica,
que em grande parte se autonomiza relativamente à filosofia. A filosofia, tal como as
artes e as ciências, entra no séc. XXI com um grau de sofisticação, pertinência e
alcance nunca antes atingido (CHAUÍ, 2003; WARBURTON, 2006).

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UNIDADE 3 - AS CONCEPÇÕES E OS MÉTODOS DA


FILOSOFIA

Segundo Chauí (2003), Politzer (2001) e outros autores, existem três formas
de concebermos a filosofia, sendo elas: a forma metafísica, a positivista e a crítica.

A forma metafísica prevaleceu na Antiguidade e na Idade Média, tendo como


característica principal, a negação de que qualquer investigação autônoma fora da
Filosofia tivesse validade.

Naqueles tempos, um conhecimento era filosófico ou não era conhecimento.


As demais ciências eram apenas parte da Filosofia, sendo esta, o saber único
possível.

Para Politzer (2001) a metafísica só tem importância na filosofia burguesa,


uma vez que se ocupa de Deus e da alma.

Tudo aí é eterno. Deus é eterno, não mudando, permanecendo igual a si


mesmo; a alma também. O mesmo acontece com o bem, o mal, etc., estando tudo
isso nitidamente definido, definitivo e eterno. Nessa parte da filosofia que se
chama metafísica, vêem-se, pois, as coisas como um conjunto congelado, e
procede-se, no raciocínio, por oposição: opõe-se espírito à matéria, o bem ao mal,
etc., isto é, raciocina-se por oposição das contrárias entre elas (POLITZER, 2001, p.
99-100).

Ainda segundo Politzer, chama-se metafísica a essa maneira de raciocinar,


de pensar, porque trata das coisas e das ideias que se encontram fora da física,
como Deus, a bondade, a alma, o mal, etc. Metafísica vem do grego meta, que quer
dizer além, e de física, ciência dos fenômenos do mundo. Portanto, metafísica
ocupa-se de coisas situadas além do mundo.

Na segunda forma, Positivista, o conhecimento cabe às ciências e à Filosofia


cabe coordenar e unificar os resultados.

Os positivistas abandonaram a busca pela explicação de fenômenos


externos, como a criação do homem, por o conhecimento cabe às ciências e à

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Filosofia cabe coordenar e unificar os resultados exemplo, para buscar explicar


coisas mais práticas e presentes na vida do homem, como no caso das leis, das
relações sociais e da ética.

A filosofia positivista de Comte, surgida no século XIX, nega que a explicação


dos fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de um só princípio. Tem
como base teórica os três pontos seguintes:

1) Todo conhecimento do mundo material decorre dos dados "positivos"


da experiência, e é somente a eles que o investigador deve ater-se;

2) Existe um âmbito puramente formal, no qual se relacionam as ideias,


que é o da lógica pura e da matemática; e,

3) Todo conhecimento dito “transcendente” - metafísica, teologia e


especulação acrítica - que se situa além de qualquer possibilidade de verificação
prática, deve ser descartado (CHAUÍ, 2003).

Na terceira forma, a crítica, a Filosofia é juízo sobre a ciência e não


conhecimento de objetos. Sua tarefa é verificar a validade do saber, determinando
seus limites, condições e possibilidades efetivas. Segundo essa concepção, a
Filosofia não aumenta a quantidade do saber, portanto, não pode ser chamada
propriamente de “conhecimento” (CHAUÍ, 2003).

Segundo Ewing (2008), recentemente, a filosofia crítica tem sido


frequentemente contraposta à metafísica (que nesse caso é às vezes denominada
filosofia especulativa). A filosofia crítica analisa e critica os conceitos pertencentes
ao senso comum e às ciências. As ciências pressupõem certos conceitos que não
são suscetíveis de investigação por meio de métodos científicos, de modo que
passam a integrar o âmbito da filosofia. Nesse sentido, todas as ciências, com
exceção da matemática, pressupõem de alguma forma a concepção de lei natural;
cabe à filosofia, e não a qualquer das ciências particulares, examinar tal concepção.

Enfim, a parte da filosofia crítica que trata da investigação da natureza e dos


critérios de verdade, assim como da maneira pela qual obtemos conhecimento, é
chamada de epistemologia (teoria do conhecimento).

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Sobre os métodos, a ciência moderna, caracterizada pelo método


experimental, foi tornando-se independente da Filosofia, dividindo-se em vários
ramos de conhecimento, tendo em comum o método experimental. Esse fenômeno,
típico da modernidade, restringiu os temas tratados pela Filosofia. Restaram aqueles
cujo tratamento não poderia ser dado pela empiria, ao menos não com a pretensão
de esclarecimento que a Filosofia pretenderia (POLITZER, 2001).

A característica destes temas é que vai determinar o modo adequado de


tratá-los, já que eles não têm uma significação empírica. Em razão disso, o
tratamento empírico de tais questões não atinge o conhecimento próprio da
Filosofia, ficando, em assim procedendo, adstrita ao domínio das ciências
(POLITZER, 2001).

MACEDO E SANTOS (1994) deixa claro que o tratamento dos assuntos


filosóficos não se pode dar de maneira empírica, porque, desta forma, confundir-se-
ia com o tratamento científico da questão. Por isso, no dizer de Kant “o
conhecimento filosófico é o conhecimento racional a partir de conceitos”. Ou seja,
“as definições filosóficas são unicamente exposições de conceitos dados [...] obtidas
analiticamente através de um trabalho de desmembramento”. Portanto, a Filosofia é
um conhecimento racional mediante conceitos, ela constitui-se num esclarecimento
de conceitos, cuja significação não pode ser ofertada de forma empírica, tais como o
conceito de justiça, beleza, bem, verdade, etc.

Vários são os métodos que foram utilizados pela Filosofia, cada um a seu
tempo. Abaixo temos alguns exemplos, os quais serão explicados em tópicos
adiante.

MÉTODO HERMENÊUTICO

SUJEITO OBJETO FINALIDADE


INTERPRETAÇÃO

SIGNIFICADO
VERDADE/
TEXTO

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SISTEMA DE INTERPRETAÇÃO DA
HERMENÊUTICA

FONTE: (MACEDO E SANTOS, 1994)

MÉTODO CARTESIANO

EVIDÊNCIA

ANÁLISE

SÍNTESE

ENUMERAÇÃO

FONTE: (MACEDO E SANTOS, 1994)

MÉTODO FENOMENOLÓGICO
INTERPRETAÇÃO

COISA-EM-SI
TEXTO

SISTEMA DE INTERPRETAÇÃO FENOMENOLÓGICA

FONTE: (MACEDO E SANTOS, 1994)

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MÉTODO SOCRÁTICO

FONTE: MACEDO E SANTOS, 1994

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UNIDADE 4 - OBJETOS DE ESTUDO – OS GRANDES


TEMAS

Metafísica

Metafísica (além do físico) é um ramo da filosofia que estuda a essência do


mundo, as inter-relações entre mente e matéria, buscando responder perguntas tais
como: O que é real? O que é natural? O que é sobrenatural?

Tem na ontologia o seu ramo central que investiga em quais categorias as


coisas estão no mundo e quais as relações dessas coisas entre si. Ela também tenta
esclarecer as noções de como as pessoas entendem o mundo, incluindo a
existência e a natureza do relacionamento entre objetos e suas propriedades,
espaço, tempo, causalidade, e possibilidade.

De acordo com o sentido usado por Aristóteles e Andrônico de Rodes, ou


seja, algo que vinha depois da física, se torna algo intocável, que só existe no
mundo das ideias, como a ética e a política que não tratam de seres físicos, mas de
seres não-físicos existentes apesar de sua imaterialidade.

Como é uma especulação em torno das causas primeiras do ser, podemos


chegar a confundi-la com a própria filosofia.

Epistemologia

O primeiro conceito de epistemologia é creditado a Platão: conformidade ou


adequação entre o pensamento e a realidade.

A partir do século XVII quando começa a crescer a importância do


conhecimento científico, predominando nos debates sobre a verdade as questões
sobre a objetividade e validade universal desse conhecimento científico, a
epistemologia toma novo impulso (FONTES, 2008).

Positivistas como Comte consideram que somente são verdadeiros os


conhecimentos baseados em fatos que podem ser observados. A possibilidade da
verificação das provas torna-se uma exigência básica do conhecimento científico.

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Na sequência, os empiristas lógicos, também conhecidos como


neopositivistas colocam a questão da adequação, enquanto garantia da verdade do
conhecimento, na própria linguagem. Ao considerarem que a linguagem científica se
exprime através de proposições, defendem que a principal tarefa para atingir a
verdade é expurgar da linguagem, os termos ambíguos susceptíveis de provocarem
o erro.

A única forma da linguagem cientifica permitir o acesso à verdade, é tornar-se


unívoco, isto é, cada termo possuir apenas um único sentido ou significado. Para
isso terá de usar signos lógicos ou matemáticos, ou expressões que tenham
conceitos cuja aplicação se possa decidir com auxilio da observação (FONTE,
2008).

Entretanto, o único critério para saber se um conhecimento é verdadeiro ou


falso, continua, contudo, a ser o da sua verificabilidade. Só se conhece o significado
de uma proposição se conhece como a mesma pode ser verificada (FONTE, 2008).

Para Silveira (2005) toda epistemologia é histórica ou não é epistemologia.


Histórica porque se constrói a partir da história do conhecimento humano e porque
se altera com as descobertas científicas e com as mudanças de valores e
interesses.

Dada a história das ciências desde o final do século XIX, à epistemologia


atual não interessa discutir a verdade da ciência, conceito que perdeu o sentido,
mas a gênese, a formação e a estruturação de cada ciência e os processos
históricos de validação que aí aparecem (SILVEIRA, 2005).

Para Grayling (1996) à epistemologia interessa a investigação da natureza,


das fontes e da validade do conhecimento.

O mesmo autor acima infere que na era moderna, a partir do século XVII em
diante - como resultado do trabalho de Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704)
em associação com a emergência da ciência moderna - que a epistemologia tem
ocupado um plano central na filosofia.

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Ética e Moral

Embora este curso tenha uma apostila voltada para os Tópicos de Ética,
nunca é demais deixar algumas palavras sobre ela.

A Ética além de ser um dos grandes temas da Filosofia onde a investigação


da conduta humana é central, determinando as origens, conceitos, universalidades,
relatividades e constituição da dimensão ética individual e social, é completamente
um tema atual.

O termo ética deriva de uma palavra grega que significa “costume” e, por isso,
a ética foi definida com frequência como a doutrina dos costumes, principalmente no
pensamento de orientação mais empirista.

Para os antigos gregos, principalmente para Aristóteles, o termo “ética” é


tomado primitivamente só num sentido “adjetivo”: trata-se de saber se uma ação,
uma qualidade, uma virtude ou um modo de ser são ou não “éticos” (MORA, 1998).

Para Aristóteles, as virtudes éticas são aquelas que se desenvolvem na


prática e que estão orientadas para a consecução de um fim, servem para a
realização da ordem na vida do Estado como a justiça, a amizade, o valor, etc. e que
têm a sua origem direta nos costumes e no hábito, pelos quais se pode chamá-las
de virtudes de hábito ou tendência.

Na evolução do termo, Vazquéz (1999, p.23) fala que o ético identificou-se


cada vez mais com o moral, e a ética chegou a significar propriamente “a teoria ou
ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”.

Ainda segundo Vasquéz (1999), ética diz respeito diretamente ao Homem, a


relação consigo mesmo, com os outros e com a natureza. Além de ser um tema que
remonta às mais antigas especulações filosóficas, tem trazido na atualidade grandes
questões para a pós-modernidade, especificamente no que concerne à bioética e
questões ambientais.

Muitas vezes confundimos o objeto em estudo (o comportamento moral) com


a ciência (Ética), mas as explicações abaixo ajudarão a compreender o sentido de
ambos.

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A moral tem por objeto as formas históricas de conhecimento e conduta


moral, ao passo que a ética trata dos conteúdos do conhecimento moral, formulando
juízos sobre o que é dado sobre este conhecimento moral.

A ética tem um caráter absoluto, enquanto a moral é essencialmente relativa


a uma realidade histórica, cultural e mesmo individual, atuando como
regulamentação do comportamento dos indivíduos entre si e destes com a
comunidade, ajustando o comportamento individual ao coletivo com a finalidade de
estabelecer e manter a estabilidade social da comunidade bem como proporcionar
as condições para a sua própria sobrevivência.

Várias são as origens da moral, dentre elas, a concepções baseada no


comportamento histórico do homem em sociedade; ou, a que coloca Deus como sua
origem ou fonte.

Nesse sentido Vasquéz (1999, p. 38) nos ensina que “as normas morais
derivam de um poder sobre-humano, cujos mandamentos constituem os princípios e
as normas morais fundamentais.”

Outra hipótese sobre a origem da moral considera a Natureza como origem


ou fonte da moral. Considera que a conduta moral seria apenas um aspecto da
conduta natural, biológica, tendo sua origem nos instintos.

Se observarmos, essas correntes não consideram o caráter histórico, mas,


em cada época, cada sociedade cria seus códigos morais visando, com a
subordinação do individual ao coletivo, sua própria sobrevivência. Esse código
persiste no tempo enquanto existem condições sociais capazes de sustentá-la.
Quando estas condições não são mais suficientes, surgem novas morais mais
adaptadas a estas novas condições que são de natureza sociais, econômicas e
políticas (ABBAGNANO, 2007).

As filosofias de Platão, Aristóteles, Santo Tomás de Aquino, Hegel, Marx e


outros, consideram a ética como a ciência do fim para o qual a conduta dos homens
deve ser orientada e dos meios para atingir este fim. Essa é a ética que fala a língua
do ideal para o qual o homem se dirige por sua natureza, essência ou substância do
homem (ABBAGNANO, 2007).

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Abbagnano continua seu pensamento expondo a outra concepção


(compartilhada por autores como Kant, Spinoza, Schopenhauer, Hobbes, Hume,
Locke e Leibniz) que considera a Ética como ciência do móvel da conduta humana e
procura determinar este móvel, o que faz o homem ir de tal maneira e não de outra
nas diversas situações de sua vida, visando dirigir ou disciplinar esta conduta. É a
Ética que fala dos motivos ou causas da conduta humana, ou das forças que a
determinam, pretendendo ater-se aos fatos.

Na segunda metade do século XX, após a segunda guerra mundial


desenvolveu-se na França (com Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Merleau-
Ponty) e na Alemanha (com Heidegger), a chamada “Ética Existencialista” que, em
linhas gerais é uma espécie de “não-ética”, uma negação de que possa haver uma
ética, pois, segundo os pensadores desta corrente, não parece haver possibilidade
de se formular normas morais objetivas, fundadas em Deus, sociedade, natureza,
um suposto reino objetivo de valores ou normas, etc., de modo que o único
“imperativo” ético possível é o de que cada um tem de decidir por si mesmo, em
vista de sua própria e intransferível situação concreta, o que vai fazer e o que vai ser
(ABBAGNANO, 2007).

Analisando-se a história da ética como uma disciplina da Filosofia não


devemos esquecer que esta história é mais limitada no tempo e no material tratado
do que as ideias morais da humanidade que compreendem, segundo MORA (1998),
o estudo de todas as “normas que regularam a conduta humana desde os tempos
pré-históricos até os nossos dias”.

Este estudo da Moral não é só filosófico ou histórico-filosófico, mas também,


essencialmente social. Por este motivo a descrição dos diversos grupos de ideias
morais é um tema de que se ocupam disciplinas como a sociologia e a antropologia.

Enfim, a existência de ideias morais e de atitudes morais não implicam a


presença de uma disciplina filosófica particular.

Estética e Arte

Conhecida como Filosofia da Arte, a estética é o estudo da forma ideal ou da


beleza!
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Estética (percepção, sensação) é um ramo da filosofia que tem por objeto o


estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda:

 O julgamento e a percepção do que é considerado belo;

 A produção das emoções pelos fenômenos estéticos,

 As diferentes formas de arte e do trabalho artístico;

 A ideia de obra de arte e de criação;

 A relação entre matérias e formas nas artes.

Por outro lado, a estética também pode ocupar-se da privação da beleza, ou


seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo ridículo.

A publicação da obra Aesthetica do filósofo alemão Baumgarten, por volta de


1750 levou a estética a adquirir autonomia como ciência, destacando-se da
metafísica, lógica e da ética. A nova abordagem da autor permitia aos artistas
alterarem a natureza, adicionando sentimentos à realidade percebida,
compreendendo, então, de outra forma, o prévio entendimento grego clássico que
entendia a arte principalmente como mimesis da realidade.

Na Antiguidade - especialmente com Platão, Aristóteles e Plotino - a estética


era estudada fundida com a lógica e a ética. O belo, o bom e o verdadeiro formavam
uma unidade com a obra. A essência do belo seria alcançada identificando-o com o
bom, tendo em conta os valores morais.

Na Idade Média surgiu a intenção de estudar a estética independente de


outros ramos filosóficos como ficou claro quando falamos da obra de Baumgarten.

Pauli (1997) nos coloca que no âmbito do Belo, dois aspectos fundamentais
podem ser particularmente destacados:

 A estética iniciou-se como teoria que se tornava ciência normativa às


custas da lógica e da moral - os valores humanos fundamentais: o verdadeiro, o
bom, o belo. Centrava em certo tipo de julgamento de valor que enunciaria as
normas gerais do belo (ver cânone estético);

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 A estética assumiu características também de uma metafísica do belo,


que se esforçava para desvendar a fonte original de todas as belezas sensíveis:
reflexo do inteligível na matéria (Platão), manifestação sensível da ideia (Hegel), o
belo natural e o belo arbitrário (humano), etc.

Mas este caráter metafísico e consequentemente dogmático da estética


transformou-se posteriormente em uma filosofia da arte, onde se procura descobrir
as regras da arte na própria ação criadora (Poética) e em sua recepção, sob o risco
de impor construções a priori sobre o que é o belo. Neste caso a filosofia da arte se
tornou uma reflexão sobre os procedimentos técnicos elaborados pelo homem, e
sobre as condições sociais que fazem um certo tipo de ação ser considerada
artística (PAULI, 1997).

A estética também possui, - conforme já se adiantou, - um sentido amplo, ou


acepção ampla, em que estuda, além do sentimento estético, ainda o belo e a arte,
que são os principais causadores desse apreciável sentimento. A denominação
tomada neste sentido amplo reúne três assuntos com peculiaridades semelhantes,
sem, contudo, se unirem numa só disciplina de saber.

Separados os três planos ou três áreas inconfundíveis, eles ficam, conforme a


seguir:

 O sentimento estético se mantém como capítulo da psicologia;

 O belo, quando entendido como a perfeição em destaque, é um


capitulo da ontologia;

 Da arte se ocupam as ciências formais, a saber, a filosofia da arte e a


tecnologia da arte (PAULI, 1997).

Simplificando, a estética estuda o sentimento estético e os objetos que o


produzem, tais como o belo e a arte. Se for reduzido ao estudo de belo, a estética
estuda o belo e sua propriedade de produzir o sentimento estético. E reduzindo ao
estudo da arte, a estética investiga a arte e sua propriedade de agrado estético
(PAULI, 1997).

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Lógica e Linguagem

A lógica (do grego clássico logos, que significa palavra, pensamento, ideia,
argumento, relato, razão ou princípio) é uma ciência de índole matemática e
fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a manifestação do
conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso estabelecer
algumas regras para que essa meta possa ser atingida. Assim, a lógica é o ramo da
filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto,
um instrumento do pensar. Desse modo, aprender a lógica não constitui um fim em
si. Ela só tem sentido enquanto meio de garantir que nosso pensamento proceda
corretamente a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros. Enfim, a lógica trata dos
argumentos, isto é, das conclusões a que chegamos através da apresentação de
evidências que a sustentam. O principal organizador da lógica clássica foi
Aristóteles, com sua obra chamada Organon. Ele divide a lógica em formal e
material.

A lógica é o estudo do método ideal de pensamento e pesquisa. Observação


e introspecção, dedução e indução, hipótese e experimento, análise e síntese
são as formas da atividade humana que a lógica tenta compreender e orientar.
Quanto à linguagem esta é a forma como acontece a manifestação do pensamento.

Os melhoramentos pelos quais passou ao longo de sua história é que permitiu


o desenvolvimento dos diversos métodos de pesquisa científica.

Segundo Chateaubriand (2008) a lógica se apresenta na prática


contemporânea como uma multiplicidade de sistemas formais conceitualizados
linguística e matematicamente. Uma lógica (e, de modo mais geral, um sistema
formal) é concebida como uma linguagem composta de uma sintaxe e de uma
semântica. A sintaxe inclui tudo o que pode ser tratado como uma combinatória de
símbolos, sem considerar quaisquer conteúdos que esses símbolos possam ter - isto
é, sem considerar o que os símbolos simbolizam.

A formulação da linguagem (a gramática) é um aspecto central da sintaxe,


mas esta não se restringe à gramática. Também a prova é tratada sintaticamente
como constituída de operações (isto é, regras de inferência) realizadas sobre
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sequências de símbolos de certas categorias como fórmulas e sentenças.


Considerando uma totalidade de aplicações dessas operações pode-se definir as
noções de dedução lógica, consistência lógica e teorema lógico, que juntamente
com certas noções de definição (definição abreviativa, definição recursiva), são as
principais noções sintáticas da lógica (CHATEAUBRIAND, 2008).

A semântica de uma linguagem lógica é baseada na noção de interpretação


(ou de estrutura). Esta é uma noção que pertence principalmente à teoria de
conjuntos e que envolve um universo de discurso - um conjunto não vazio - e uma
função de denotação que atribui a vários símbolos denotações relativas ao universo
de discurso. Pode-se, assim, introduzir as noções de satisfação e verdade relativas
a uma interpretação. Considerando uma totalidade de interpretações, pode-se definir
as noções de consequência lógica, satisfatibilidade e verdade lógica, bem como uma
noção semântica de definição como individuação, que são as principais noções
semânticas da lógica (CHATEAUBRIAND, 2008).

O estudo sistemático dessas noções e de suas interconexões pertence à


teoria da prova, à teoria de modelos e à teoria da recursão, que são as áreas
centrais da lógica e são basicamente ramos da matemática. A lógica enquanto
ciência é considerada a combinação destas teorias, e não simplesmente lógica
proposicional e lógica de predicados. Essa foi uma mudança importante na
concepção de lógica. Para Frege e para Russell, por exemplo, a lógica se restringia
à lógica proposicional e à lógica de predicados; e era uma ciência
(CHATEAUBRIAND, 2008).

As principais influências filosóficas na formação da concepção linguística


moderna de lógica vieram de Wittgenstein e dos positivistas lógicos, embora
também Russell tenha desempenhado um papel decisivo com a sua teoria
eliminativista de classes (CHATEAUBRIAND, 2008).

Temos vários tipos de lógica. Dentre elas a lógica formal, a material, a


matemática, filosófica, a lógica de predicados, de vários valores e a lógica de
computadores.

Evidentemente que nos interessa a lógica filosófica, a qual lida com


descrições formais da linguagem natural, sendo postulado pelos filósofos que a
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maior parte do raciocínio “normal” pode ser capturada pela lógica, desde que se seja
capaz de encontrar o método certo para traduzir a linguagem corrente para essa
lógica.

A lógica estuda e sistematiza a argumentação válida. O seu alto grau de


precisão e tecnicismo permitiu-lhe tornar-se uma disciplina autônoma em relação à
filosofia, tanto que nos dias atuais, ela recorre a métodos matemáticos, e os lógicos
contemporâneos têm em geral formação matemática. Todavia, a lógica elementar
que se costuma estudar nos cursos de filosofia é tão básica como a aritmética
elementar e não tem elementos matemáticos. A lógica elementar é usada como
instrumento pela filosofia, para garantir a validade da argumentação
(CHATEAUBRIAND, 2008).

Quando a filosofia tem a lógica como objeto de estudo, entramos na área da


filosofia da lógica, que estuda os fundamentos das teorias lógicas e os problemas
não estritamente técnicos levantados pelas diferentes lógicas. Hoje em dia há muitas
lógicas além da teoria clássica da dedução de Russell e Frege (como as lógicas
livres, modais, temporais, paraconsistentes, difusas, intuicionistas, etc.), o que
levanta novos problemas à filosofia da lógica (CHATEAUBRIAND, 2008).

Para Warburton (2007) a filosofia da lógica distingue-se da lógica filosófica,


que não estuda problemas levantados por lógicas particulares, mas problemas
filosóficos gerais, que se situam na intersecção da metafísica, da epistemologia e da
lógica. Em qualquer caso, o importante é não pensar que a lógica filosófica é um
gênero de lógica, a par da lógica clássica, mas “mais filosófica”; pelo contrário, e
algo paradoxalmente, a lógica filosófica, não é uma lógica no sentido em que a
lógica clássica é uma lógica, isto é, no sentido de uma articulação sistemática das
regras da argumentação válida.

A lógica informal estuda os aspectos da argumentação válida que não


dependem exclusivamente da forma lógica (WARBURTON, 2007)

Enfim, a Lógica filosófica está muito mais preocupada com a conexão entre a
Linguagem Natural e a Lógica.

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Ceticismo e outros “ismos”

Ceticismo, Cinismo, Dogmatismo, Estoicismo, Epicurismo, Neoplatonismo,


Humanismo, Iluminismo, Espiritualismo, Pragmatismo, Racionalismo, Subjetivismo,
Materialismo, Idealismo são alguns dos inúmeros “ismos” das ciências sociais (aqui
só citamos aqueles que mais tem relação com a filosofia).

Suas acepções variam conforme a área ou ramo de conhecimento, ou seja,


referem-se a posições assumidas ou ideias aceitas sobre a possibilidade do
conhecimento (GRAYLING, 1996).

O Dogmatismo defende que não existe o problema do conhecimento


enquanto relação entre sujeito e objeto. As coisas existem pura e simplesmente, o
jeito é acreditar. O Ceticismo é o extremo do Dogmatismo e afirma que o sujeito não
pode apreender o objeto, daí o conhecimento ser impossível. Já o Subjetivismo e o
Relativismo limitam a validade do conhecimento ao sujeito. Toda verdade é relativa,
não há verdade absoluta. Para o Pragmatismo, o conhecimento ou a verdade
significam utilidade, valor, prática. Numa posição diferente, o Criticismo admite o
conhecimento, mas sob reserva. Não é dogmático nem cético, mas reflexivo e
crítico. Para cada um destes “ismos” houve ilustres filósofos com suas obras
clássicas. Além destes “ismos” há outros, referentes ainda ao conhecimento, sobre
sua origem e sobre sua essência (GRAYLING, 1996).

Vamos explica o que vem a ser o "ismo". É uma posição filosófica ou científica
que sustenta algo sobre uma ideia, um fato, um sistema, uma política, um programa,
uma circunstância, etc. É uma ideia central a nortear o adepto perante o mundo ou
em face de determinadas coisas. É um método ou conjunto de valores, é um
principio ou conjunto de princípios explicativos sobre alguma coisa ou algum fato. É
uma filosofia ou um modo de ver o mundo ou determinado problema. Para Grayling
(1996) há tantas definições de “ismos” quase quantos “ismos” há. Cada um tem seu
contexto histórico em que surge e se desenvolve. Ocorre, muitas vezes, que, após
passar a ser moda ou um sistema de ideias dominante, o “ismo” cai no ostracismo.

Não há dúvidas de que a filosofia sempre preconizou grandes cosmovisões.


Com elas, o pensador procurava entender e unificar o entendimento do mundo por
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um prisma específico, fundando escolas de pensamento, correntes e filosofias


específicas. Cada época da história do pensamento mundial, uma determinada
cosmovisão predominou, e a maioria das vezes “contaminou” todas as áreas de uma
determinada sociedade ou cultura. Formas de pensar, de ver o mundo, de conceber
o universo, o homem e a sociedade, passaram por uma visão unificada e voltada
para um determinado conjunto de ideias de uma escola ou corrente filosófica
específica (MIRANDA, 2008).

Tentaremos na sequência, definir e explicar pormenorizadamente alguns dos


ismos mais importantes dentro da Filosofia, já adiantando que, como observado
acima, eles são inúmeros. Portanto, sugerimos aprofundamento paralelo, devido a
importância do seu conhecimento para o entendimento da trajetória percorrida pela
filosofia.

O Ceticismo, estudo e o emprego dos argumentos céticos, é frequentemente


descrito como a tese do não é ou do pode ser! Mas segundo Grayling (1996) essa é
uma caracterização ruim, porque se não conhecemos nada, então não podemos
saber que não sabemos nada, e assim tal afirmação é trivialmente algo que frustra a
si mesma. Na realidade, ele é um desafio direto contra reivindicações de
conhecimento, e a forma e a natureza do desafio variam segundo o campo da
atividade epistêmica em questão.

O termo ceticismo terminou por designar atualmente, na linguagem comum,


uma atitude negativa do pensamento. O cético é visto, frequentemente, não somente
como um espírito hesitante ou tímido, que não se pronuncia sobre nada, mas como
aquele que, sobre qualquer coisa que é avançada, ou sobre qualquer coisa que
possa dizer, se refugia na crítica. Da mesma forma, acredita-se ainda que o
ceticismo é a escola da recusa e da negação categórica. Os céticos qualificam a si
mesmos de zetéticos, isto é, de pesquisadores; de eféticos, que praticam a
suspensão do juízo; de aporéticos, filósofos do obstáculo, da perplexidade e dos
resultados não encontrados (GRAYLING, 1996; MEGALE, 2008).

O Historicismo, surgido no século XIX, mais precisamente em 1881, é uma


visão ou filosofia segundo a qual todos os valores resultam de uma evolução
histórica. A historicidade ou a inserção cronológica, causal, condicionante e

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concomitante de eventos na história constitui posição assumida a priori, isto é, ela é


prévia e determina a inserção dos fatos na história. A razão substitui a providência
divina na visão historicista, caracterizada pela consciência histórica, pela
historicidade do real. A humanidade é compreendida por sua história e a essência
do homem não é a espécie biológica, mas sua história, movida pela razão
(GRAYLING, 1996; MEGALE, 2008).

O termo humanismo veio com o objetivo de promover a educação e formação


global do indivíduo através do estudo dos clássicos gregos e latinos, em oposição às
escolas da moderna pedagogia. A própria natureza e experiência humanas
constituem os seus fundamentos (GRAYLING, 1996; MEGALE, 2008).

O Positivismo se constitui no conjunto de ideias e doutrinas de Comte (1798-


1857) baseado nas obras Curso de filosofia positiva, Sistema de filosofia positiva e
Catecismo positivista. Admite a evolução da humanidade em três estados: teológico,
metafísico e positivo. “Tudo é relativo - eis o princípio absoluto único.” No século XX
o positivismo ressurgiu com novo nome e outra preocupação, no Círculo de Viena,
empirismo lógico ou positivismo lógico (GRAYLING, 1996; MEGALE, 2008).

Utilitarismo ou Pragmatismo é uma teoria ética e social que defende a busca


do poder como objetivo do homem. É uma versão moderna do epicurismo, ou a
busca da felicidade. Surgiu no final do século XIX com J. Bentham e J. Mill. Tem
certa semelhança com o hedonismo, diferenciando-se deste pelo aspecto moral.
Segundo Veblen, o homem econômico é um emérito calculador de prazeres e de
sofrimentos, se se consideram o lucro e o custo como prazer e sofrimento. O direito
serviu-se das ideias utilitaristas, através da jurisprudência produzida pela obra de
Beccaria: Dos delitos e das penas, que defendia a pena ou o sofrimento para todos
os criminosos, de qualquer classe sem distinção, desde a nobreza até a classe mais
baixa. O crime deve ser compensado de seu prejuízo para com a sociedade através
do castigo e a única medida do crime é a extensão do dano: maior crime, maior
pena (MEGALE, 2008)

No geral, as teorias filosóficas do conhecimento, apesar da sua enorme


diversidade, polarizam-se em grandes problemas do tipo: (1)Qual a natureza do
conhecimento? (2)Qual o seu valor ou possibilidade? (3)Qual a sua origem?

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No quadro abaixo temos os grandes problemas e algumas respostas


filosóficas.

Problema Resposta filosófica

(1) O que é que Realismo: Conhecer é apreender a realidade existente na experiência interna
conhecemos? (atos da consciência) ou na experiência externa (objetos do mundo sensível).
Os objetos existem independentemente dos sujeitos.

Os próprios objetos,
ou as representações, Idealismo: Nega a existência do real. A realidade é reduzida a ideias: o mundo
em nós, dos sensível é um mero produto do pensamento. Os objetos só existem enquanto
mesmos? representações, não têm uma existência independente.

O dogmatismo (dogmatikós, em grego significa que se funda em princípios ou é


(2) Pode o sujeito
relativo a uma doutrina) defende a apreensão absoluta da realidade pelo sujeito.
apreender o objeto?
Esta posição assenta numa total confiança na razão humana.
Atingir a verdade, a
essência das coisas,
ou está condenado às
O cepticismo (skeptikós, em grego significa “que observa”, que “considera”)
suas múltiplas
defende a impossibilidade do sujeito apreender a realidade.Esta posição
aparências?
desconfia na razão humana.

Racionalismo: a razão é a fonte principal do conhecimento. O conhecimento


sensível é considerado enganador. Por isso, as representações da razão são as
mais certas, e as únicas que podem conduzir ao conhecimento logicamente
necessário e universalmente válido.

Os racionalistas partem do princípio que o sujeito cognoscente é ativo e, ao


(3) Qual a origem do
criar uma representação de qualquer objeto real, está a submetê-lo às suas
conhecimento: a
estruturas ideias.
razão ou a
experiência?
Entre os filósofos que assumiram uma perspectiva racionalista do
conhecimento, destacam-se Platão, René Descartes (1596-1650) e Leibniz.
Todos eles partem do princípio que temos que são ideias inatas e que é a nossa
razão que constrói a realidade tal como a percebemos.

Descartes é considerado o fundador do racionalismo moderno. Após ter

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suspendido a validade de todos os conhecimentos, porque susceptíveis de


serem postos em causa, descobre que a única coisa que resiste à própria
dúvida é a razão. Esta seria a primeira verdade absoluta da filosofia. Descobre
ainda que possuímos ideias que se impõem à razão como verdadeiras mas que
não derivam da experiência (as ideias inatas). Só com base nestas ideias claras
e distintas, segundo Descartes, se poderia construir por dedução um
conhecimento universal e necessário.

Empirismo: a experiência é a fonte de todo o conhecimento. Os empiristas


negam a existência de ideias inatas, como defendiam Platão e Descartes. A
mente está vazia antes de receber qualquer tipo de informação proveniente dos
sentidos. Todo o conhecimento sobre as coisas, mesmo aquele em que se
elabora leis universais, provém da experiência, por isso mesmo, só é válido
dentro dos limites do observável.

Os empiristas reservam para a razão a função de uma mera organização de


dados da experiência sensível, sendo as ideias ou conceitos da razão simples
cópias ou combinações de dados provenientes desta experiência.

FONTE: (GRAYLING, 1996)

Retórica e Oratória

“A definição de retórica é conhecida: é a arte de bem falar, de mostrar


eloquência diante de um público para ganhar a sua causa. Isto vai da persuasão à
vontade de agradar: tudo depende (...) da causa, do que motiva alguém a dirigir-se a
outrem. O caráter argumentativo está presente desde o início: justificamos uma tese
com argumentos, mas o adversário faz o mesmo: neste caso, a retórica não se
distingue em nada da argumentação (...). Para os antigos, a retórica englobava tanto
a arte de bem falar - ou eloquência - como o estudo do discurso ou as técnicas de
persuasão até mesmo de manipulação” (MEYER, 1997).

A origem da Retórica como técnica oratória de persuasão, remonta à


necessidade grega na nova configuração das relações sociais com o advento da
Pólis e do regime democrático. Há toda uma configuração histórica contextual que
precisa ser entendida para compreender os desdobramentos e necessidade do
aprendizado da Oratória nesses tempos remotos, bem como sua aplicação e
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necessidade nos tempos atuais. Juntamente com a Lógica Argumentativa, a


Filosofia Política e a Ética, a Retórica e a Oratória constitui um estudo racional do
discurso, se constituindo um dos grandes temas da filosofia.

A palavra Retórica (originária do grego rhetoriké, “arte da retórica”,


subentendendo-se o substantivo téchne) tem sido entendida historicamente em
acepções muito diversas. Em sentido lato, a retórica se mistura com a poética,
consistindo na arte da eloquência em qualquer tipo de discurso. Não é esse, no
entanto, o sentido que interessa no estudo em questão, mas a concepção mais
restrita que identifica a retórica como “a faculdade de ver teoricamente o que, em
cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão” (PACHECO, 2008).

Como características básicas da retórica temos:

 A retórica exerce a persuasão por meio de um discurso. Não se recorre


a um experimento empírico nem à violência, mas procura-se ganhar a adesão
intelectual do auditório apenas com o uso da argumentação;

 A retórica se preocupa mais com a adesão do que com a verdade. O


objetivo daquele que a exerce é obter o assentimento do auditório à tese que
apresenta. A verdade ou falsidade da mesma é uma questão secundária;

 A retórica se utiliza da linguagem comum do dia-a-dia, e não de uma


linguagem técnica ou especializada. Isso ocorre porque a retórica é dirigida a todos
os homens, e não a um setor específico da população;

 A retórica não se limita a transmitir noções neutras e assépticas, mas


tem sempre em vista um determinado comportamento concreto resultante da
persuasão por ela exercida, já que se propõe a modificar não só as convicções, mas
também as atitudes (PACHECO, 2008).

Na verdade, para compreender a retórica é preciso levar em conta o processo


histórico de sua formação e evolução no mundo grego.

Suas origens estão relacionadas às novas relações sociais advindas do


surgimento da Polis como foi falado acima, consistindo sua essência na persuasão
através da argumentação, portanto, não há como pensar na retórica sem

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democracia e liberdade de debate, características da organização política do mundo


grego. Ligada também ao Direito, no aspecto que Aristóteles chamou de “Gênero
judicial” do discurso retórico (PACHECO, 2008).

A Retórica só se desenvolveu plenamente, no entanto, após a consolidação


da democracia ateniense. Todos os cidadãos atenienses participavam diretamente
nas assembléias populares, que possuíam funções legislativas, executivas e
judiciárias. Assim todos os assuntos eram submetidos ao voto popular - a
organização do estado, a fixação de impostos, a declaração de guerra e até mesmo
a morte de um cidadão, tudo isso era submetido à apreciação dos tribunais de
justiça. Nenhum cidadão podia escapar à sua cota de responsabilidade, que muitas
vezes incluía a justificativa de sua opinião perante uma platéia. O exercício da
função política dependia, portanto, da habilidade em raciocinar, falar e argumentar
corretamente, e era natural que houvesse uma demanda de professores que
proporcionassem a necessária “educação política”. Esses professores eram os
sofistas (PACHECO, 2008).

A maioria dos sofistas desprezava o conhecimento daquilo que discutiam,


contentando-se com simples opiniões, concentrado a sua atenção nas técnicas de
persuasão e, tanto por isso, encontramos oposicionistas como Sócrates e Platão,
que afirmavam ser a retórica, uma negação da própria filosofia e passaram a impor
como condição primeira da filosofia, que o discurso fosse dirigido à razão e não à
emoção, não sendo necessário convencer ninguém.

Durante a Idade Média, a argumentação adquiriu enorme divulgação,


nomeadamente entre os cléricos, ocupando um lugar central na educação (fazia
parte do Trivium) (FONTES, 2008).

Na Idade Moderna, a retórica continuou a desfrutar ainda de algum prestígio


nos países católicos (é só relembrar o orador Padre Antonio Vieira), mas segundo
Fontes (2008), a tendência era outra. A Retórica como arte argumentativa começou
a ser completamente desacreditada. Descartes reafirma o primado das evidências
sobre os argumentos verossímeis. Na mesma linha, se desenvolve o discurso
científico. Não se trata de convencer ninguém, mas de demonstrar com “fatos”,
“dados”, “provas” a Verdade (única e irrefutável).

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Chegamos ao século XX e a verdade dos filósofos não pode mais ser


admitida como ponto de partida para qualquer discussão, muito por consequência
das teses relativistas e o descrédito das ideologias. Fontes (2008) nos diz que todas
as filosofias não passam de opiniões plausíveis que devem ser continuamente
demonstradas através de argumentos também eles meramente plausíveis. Neste
sentido, toda a filosofia é um espaço sempre em aberto e susceptível de continuas
revisões.

Ontologia e Cosmologia

Respectivamente, Ontologia e Cosmologia são: A Ciência do Ser e a Ciência


do Cosmos.

A Ontologia parte do princípio que existe algo perene, além das


particularidades de cada coisa, além dos acidentes, estudando, portanto, o SER
enquanto SER (SANTOS, 1957).

A Cosmologia preocupa-se, sobretudo, com uma concepção do Universo,


seja ele físico ou metafísico (SANTOS, 1957).

Ambos os estudos fazem parte da concepção Metafísica da Filosofia (sendo


objeto desta), no entanto, inseridos nela, revelam apenas aspectos do que a
Metafísica é como um todo: a ciência da realidade última das coisas (SANTOS,
1957).

Se um cosmos (de Cosmos, em grego, universo organizado em oposição a


Caos) tem realmente uma ordem, se é um e único, se há vários, se entre eles há
pontos de contato ou não, se forma uma unidade ou uma pluralidade, se essa
unidade é homogênea ou o produto de uma pluralidade, heterogênea, portanto, que
se unifica, etc., tais perguntas cabem à Metafísica responder (SANTOS, 1957).

A filosofia não se dá fora da vida, ou seja, pertence à vida e ao homem, e


busca, através do cosmos, invadir os mais altos terrenos sobre a origem e o destino
do ser humano, não impedindo, é claro, que se torne em ócio agradável de alguns
espíritos.

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De acordo com Fontes (2008) a Cosmologia enquanto disciplina filosófica usa


métodos metafísicos para estudar os magnos problemas que surgem da visão do
nosso cosmos, sendo que entre os gregos, o problema cosmológico fora colocado
desde a antiguidade, como encontramos nas origens da filosofia hindu, da filosofia
chinesa e da egípcia.

O mesmo autor infere sobre duas vertentes da cosmologia, a científica (que


estuda as diversas hipóteses sobre a ordenação do mundo) e a filosófica (que
examina tais hipóteses e estabelece especulações fundadas apenas em métodos
metafísicos), entretanto, o próprio confere a essa classificação uma certa
arbitrariedade, ou seja, não há tanta distinção assim entre elas, se confundindo em
seus centros

Para distinguir a Cosmologia científica da filosófica, Fontes (2008) propõe


indicar que a primeira, em suas observações, pode comprová-las, empregando até
certo ponto os métodos da ciência, enquanto a metafísica baseia-se nos métodos
filosóficos para estudar o cosmos.

Enfim, a Cosmologia é a ciência filosófica que estuda a origem, determinação,


significação e destino do mundo.

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UNIDADE 5 - OS RAMOS DA FILOSOFIA

Social e política

No entendimento de Almeida (2005) a Filosofia Política está intimamente


ligada á Ética, principalmente por fazer parte da Ética da Coletividade. O autor
ressalta que na antiguidade não houve separação entre a moral das pessoas e suas
atuações políticas, sendo a Ética responsável por ambas.

A melhor definição possível para a Filosofia Política é a mais ampla possível,


ou seja, é o campo da investigação filosófica que se ocupa das relações
humanas consideradas em seu sentido coletivo.

Voltando à Antiguidade grega e romana (principalmente na primeira), discutia-


se os limites e as possibilidades de uma sociedade justa e ideal (Platão, com sua
obra A república). Mas o que se tornou célebre, por tornar-se a teorização da prática
política grega, em particular de Atenas, foi o tema do bem comum (Aristóteles),
representado pelo homem político, compreendido como o cidadão habitante da
Polis, o homem politikós que opinando e reunindo-se livremente na Ágora, junto a
seus pares, discute e delibera acerca das leis e das estruturas da sociedade. Já em
Roma, Cícero teorizou a República como espaço das liberdades cívicas, em que
ocorre uma complementaridade entre os senadores e a plebe (tese retomada no
século XVI por Maquiavel).

Segundo Politzer (2001) e Chauí (2003), desde fins da Idade Média, a


Filosofia Política e os pensadores tratavam das mais variadas questões sobre a
legitimação e a justificação do Estado e do governo:

 Os limites e a organização do Estado frente ao indivíduo (Thomas


Hobbes, John Locke, dentre outros);

 As relações gerais entre sociedade, Estado e moral (Nicolau


Maquiavel, Augusto Comte, Antonio Gramsci);

 As relações entre a economia e política (Karl Marx, F. Engels, Max


Weber);

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 O poder como constituidor do “indivíduo” (Michel Foucault);

 As questões sobre a liberdade (Benjamin Constant, John Stuart Mill,


Hannah Arendt, Raymond Aron, Norberto Bobbio);

 As questões sobre justiça e Direito (Kant, Hegel, Habermas) e,

 As questões sobre participação e deliberação (Habermas, Joshua


Cohen).

Educação

É tarefa da Filosofia da Educação contribuir para a intencionalização da


prática educacional, a partir de sua própria construção em ato; como presença
atuante na sociedade.

Essa internacionalização quer dizer, dar condições à prática educacional para


que se realize como práxis, ou seja, como ação pautada num sentido, como ação
pensada, refletida, apoiada em significações construídas, explicitadas e assumidas
pelos sujeitos envolvidos. É por isso que se pode definir a Filosofia da Educação
como o esforço para o desvendamento/construção do sentido da educação no
contexto do sentido da existência humana, em sua totalidade (MIRANDA, 2008).

Para Kohan (2008) pensar, reformular e fundamentar a função do professor


como educador, a função dos alunos enquanto educandos, e a própria função da
educação como método de aprendizado e seus próprios métodos de ensino e tantos
outros temas e abordagens em relação ao ensino é o escopo da Filosofia da
Educação.

Como havia falado inicialmente sobre o descaso do ensino de filosofia nos


países latino-americanos, mais especificamente no Brasil, realmente ela ocupa um
lugar de pouco interessante no universo acadêmico e no Ensino Médio, embora
tenhamos observado tentativas do MEC em levá-la para as escolas.

“Depreciada na imensa maioria dos departamentos de filosofia das


instituições de formação superior, acolhida nos de educação, costuma ser matéria
obrigatória nos cursos de formação de mestres. Tornada, assim, muitas vezes, o
único espaço de contato com a filosofia durante todo o processo de formação, seus
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docentes, programas e bibliografia costumam manter, no melhor dos casos, um


caráter enciclopédico, totalizador e fundacionista. Em todo o caso, o repertório não
parece muito variado: aqui, a história das ideias filosóficas sobre a educação; lá,
correntes do pensamento filosófico sobre a educação; ou, então, o estudo das
divisões mais ou menos claras do saber pedagógico, segundo orientações bastante
clássicas do conhecimento filosófico: um pouco de epistemologia, outro tanto de
axiologia e de ontologia, usadas para explicar o fenômeno educativo. Dessa forma, o
aluno mais afortunado poderá compreender, com a ajuda de um mestre explicador,
um saber filosófico, histórico ou sistemático, sobre a educação. Aprenderá a
distinguir, com as explicações que recebeu, escolas e orientações pedagógicas,
períodos, conceitos e categorias, que habilmente relacionará às correntes de
pensamento já instituídas. Para os menos afortunados, essas mesmas explicações
funcionarão, muito mais simplesmente, como uma espécie de doutrinação educativa,
que os infundirá, brutal ou delicadamente, da firme crença nos fins, nos valores e
nos ideais que deverão passar a perseguir (KOHAN, 2008).

O mesmo autor nos mostra que esses modos de ensinar a filosofia da


educação não estão isentos de pressupostos sobre o significado e sentido de
ensinar e aprender a filosofia, assim como sobre suas relações com a educação.
Trata-se, basicamente, de transmitir um certo saber instituído, predeterminado, que
permitirá uma compreensão mais “crítica” do fenômeno educacional ou,
simplesmente, compreender a “verdadeira” missão da filosofia na educação. O saber
filosófico pode toma a forma de conteúdos conceituais ou atitudinais que contribuirão
para a aquisição das habilidades ou competências de pensamento crítico, por parte
do(a)s futuro(a)s profissionais da educação.

Mente

Encontramos em Teixeira (2) (2008) algumas referências sobre a Filosofia da


mente, como um estilo de filosofar que nos últimos anos vem recolocando questões
centrais da filosofia como: O que é o pensamento? Qual a natureza do mental? O
que é consciência? Será o cérebro o produtor da mente? Ou apenas o seu
hospedeiro biológico? Será que pensamos com nossa cabeça ou somente “em”
nossa cabeça?
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Para Miranda (2008) uma ponte legítima entre as neurociências e a


especulação filosófica coloca a Filosofia da Mente como vanguarda entre a reserva
que existe entre os limites da ciência e da filosofia. Ambas dão exemplo da
necessária retroalimentação entre um conhecimento experimental e o especulativo,
abrindo caminhos uma para outra no entendimento necessário do universo cognitivo
humano.

Já Zilhão (2008) coloca o fato de que a Filosofia da Mente contemporânea e


as Ciências cognitivas se distinguem por serem sensíveis a diferentes aspectos do
seu problema crucial.

Nesse campo encontramos os experimentos mentais que são muito antigos,


remontando à tradição grega, como por exemplo, a alegoria do mito da caverna de
Platão. Muitos experimentos mentais incluem aparentes paradoxos sobre fatos
conhecidos ou aceitos que tem permitido reformular ou precisar em maior medida
diferentes teorias científicas.

Segundo Chauí (2003) a filosofia faz intenso uso de experimentos mentais.


Como exemplo, podemos citar dentro da metafísica, o paradoxo de Zenão; na
epistemologia, o Mito da Caverna, o Cérebro numa cuba; dentro da filosofia da
mente, terra gêmea, quarto chinês e ainda como identidade pessoal, o home do
pântano.

Religião

Já deu para entendemos que filosofia é o movimento do pensar globalmente a


relação da vida humana no mundo, desde o mundo e como ela concebe o mundo.
Dentro desse enfoque, Teixeira (1) (2008) nos lembra o fenômeno religioso que se
transforma em um dos escopos filosóficos por excelência.

A mesma autora discute ainda que, mesmo que tenhamos uma consciência
contemporânea pós-moderna marcada pelo conhecimento científico, avanços
tecnológicos e um ceticismo atuante, a proliferação de seitas, religiões e culturas
misteriosas precisam ser estudadas filosoficamente, sendo tema recorrente da
Filosofia da Religião, assim como o próprio repensar e desvendar das religiões já
constituídas e consolidadas.
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Outro ponto a se considerar é que, apesar da multiplicidade de religiões com


diferentes cultos, mitos e práticas, os filósofos têm-se tradicionalmente centrado nas
religiões dominantes no ocidente — o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Uma
das razões deve-se ao fato de estas religiões fornecerem visões complexas acerca
do modo como o mundo e o universo se comportam, ao contrário do que se passa
com as religiões orientais — como o hinduísmo, o budismo e o confucionismo — que
se preocupam mais em propor formas de conduta e de viver. O que interessa em
geral aos filósofos é saber se a visão religiosa do universo é ou não verdadeira.

Comum às religiões ocidentais é a crença na existência de Deus,


caracterizado como uma pessoa incorpórea e eterna, que criou o universo, que é
sumamente boa (moralmente perfeita), que é toda-poderosa (omnipotente), que
sabe tudo (omnisciente), que está em todo o lado (omnipresente), etc. Diz-se que
este deus é o Deus teísta, e chama-se teísmo à crença na sua existência, de modo
que não é de estranhar que os problemas que mais têm atraído a atenção dos
filósofos sejam o da coerência do conceito de Deus e o da existência de Deus
(TEIXEIRA (1) 2008).

Um dos paradoxos clássicos relativamente à coerência do conceito de Deus é


o de saber se Deus pode criar uma pedra tão pesada que Ele não a possa levantar.
Se Deus é omnipotente, então pode criar tal pedra, mas se a criar então não é
omnipotente, porque depois não pode levantá-la. Por outro lado, se não a pode criar,
então não é omnipotente. Uma resposta a este problema é a de que Deus não pode
criar impossibilidades lógicas. Outro problema é o de saber se a existência de Deus
é compatível com a liberdade humana: se Deus sabe tudo, então sabe o que vamos
fazer; mas, se sabe o que vamos fazer, então o que vamos fazer já está
determinado; logo, não pode haver livre-arbítrio. A questão de saber se Deus existe
é a que mais tem interessado aos filósofos. São vários os argumentos a favor da
existência de Deus, muitos deles apresentados na Idade Média. Por exemplo, só da
autoria de S. Tomás de Aquino há cinco argumentos a favor da existência de Deus.
Os principais tipos de argumentos a favor da existência de Deus são: o argumento
ontológico, o argumento cosmológico e o argumento do desígnio (TEIXEIRA (1)
2008).

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Dois outros problemas igualmente muito discutidos são o papel dos milagres
enquanto provas da existência de Deus, a que David Hume levantou fortes
objeções, e o problema do mal (TEIXEIRA (1) 2008).

Outros problemas igualmente importantes são os seguintes: Será que a


existência de Deus é compatível com a liberdade humana? Será que existe vida
depois da morte? Como compreender conceitos como o de fé, salvação e criação,
entre outros? (TEIXEIRA (1) 2008).

Entre nós, a filosofia da religião certamente não é uma prioridade. Para isso
há diversas razões. Por um lado, em nossa época, predomina a consciência
marcada pelo saber científico, pela técnica e pela crítica iluminista, centrada na
imanência. Tal postura ignora o pensamento religioso. Por outro, nas últimas
décadas, a teologia pulverizou-se em tantas teologias que, no meio cristão, a única
coisa comum que sobrou parece reduzir-se ao recurso à Bíblia (PAULI, 1997).

Para Zilles (2006), o diálogo entre filosofia e religião é tão antigo como a
própria filosofia. A partir da tensão desafiadora entre conhecimento autônomo e fé
gratuita, desenvolveram-se sistemas filosóficos e projetos teológicos. Mas, se, no
passado distante, a religião pertencia aos temas centrais da reflexão filosófica, nos
tempos modernos e recentes, o problema dos fenômenos religiosos é cada vez mais
marginalizado. O homem moderno, esclarecido, evita argumentos religiosos como
evita falar de Deus. Consideram-se tais coisas reservadas ao púlpito ou
simplesmente pertencentes à esfera íntima e privada de cada pessoa ou, então,
quando muito, busca-se espaço para a crítica do conceito de Deus e de religião.

Por outro lado, a filosofia não consegue demonstrar religião, mas pode
mostrar seus fundamentos. Pode mostrar que se trata de um fenômeno original e
colocá-lo ao lado de outros; descobrir os vestígios da religião e seus símbolos na
cultura secularizada. A filosofia, segundo Wittgenstein, pode mostrar como são
estreitos os limites da linguagem e da racionalidade. O espaço limitado pela
linguagem e pela razão é pequeno para nele viver. Mostrando os limites da
linguagem e do pensamento, indica para além dos mesmos (ZILLES, 2006).

A filosofia da religião não se limita a descrições neutras de costumes da


linguagem religiosa, nem fixa normas arbitrárias para o uso religioso da linguagem.
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Sua missão consiste em mostrar sentido e profundidade da religião, na vida


humana, de maneira crítica. Vale usar a razão, para completar a fé, e crer, para
aprofundar a razão, enfim, humanizar mais o homem e a humanidade.

Enfim, a filosofia da religião pensa criticamente o fenômeno religioso como


fenômeno que diz respeito ao homem e à humanidade, sendo o fenômeno religioso
a expressão da liberdade (ZILLES, 2006).

Analítica

Segundo Marcondes (2004) a análise em filosofia é um método utilizado ao


menos desde os tempos de Platão e Aristóteles, mas tornando-se característico
entre o final do século 19 e o início do século 20.

Na Antiguidade, em Platão a análise foi motivada pelo seu realismo, segundo


o qual as coisas são tal qual se apresentam ao intelecto, e não tal qual se
apresentam aos sentidos. Assim, para se compreender a realidade que se apresenta
aos órgãos dos sentidos é preciso decompô-la (MARCONDES, 2004).

Os filósofos analíticos viram a análise linguística e conceitual como um modo


de chegar à compreensão sobre temas vistos tradicionalmente como problemas na
filosofia. Alguns, pioneiros, como Frege, buscaram uma linguagem científica à qual a
linguagem ordinária pudesse ser reduzida. Outros, posteriores, como John L. Austin,
viram a linguagem ordinária como o ponto de partida inevitável para o
esclarecimento através da análise (MARCONDES, 2004).

Inicialmente, as propostas da filosofia analítica eram exclusivamente analisar


conceitos para resolver problemas filosóficos.

A Hermenêutica

O termo hermenêutica vem do grego e significa declarar, anunciar, interpretar,


esclarecer e ainda, traduzir. Em outras palavras, significa que alguma coisa é
tornada compreensível.

Filosoficamente o termo deriva do nome do deus da mitologia grega, Hermes,


mensageiro dos deuses, a quem os gregos atribuíam a origem da linguagem e da

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escrita, sendo ainda considerado o patrono da comunicação e do entendimento


humano. Relativo à expressão “dos deuses”, a qual precisa de uma interpretação
mais profunda para ser apreendida corretamente.

Encontramos em Spinoza, um dos precursores da hermenêutica bíblica, ou


seja, aquele que interpreta correta e objetivamente a bíblia.

Também pode ser entendida como ciência ou técnica que tem por objetivo
exclusivo, interpretar textos religiosos, especialmente as Sagradas Escrituras.

Para Schleiermacher a hermenêutica não visa o saber teórico, mas sim o uso
prático, isto é, a práxis ou a técnica da boa interpretação de um texto falado ou
escrito. Trata-se aí da “compreensão”, que se tornou desde então o conceito básico
e a finalidade fundamental de toda a questão hermenêutica. Schleiermacher define a
hermenêutica como “reconstrução histórica e divinatória, objetiva e subjetiva, de um
dado discurso” (COLLINSON, 2006).

A maiêutica

A maiêutica foi um método criado por Sócrates que a definiu como o momento
do parto intelectual da procura da verdade no interior do homem, ou seja, “parir”
ideias complexas a partir de perguntas simples e articuladas dentro de determinado
contexto.

A auto-reflexão, expressa no nosce te ipsum – “conhece a ti mesmo” – põe o


Homem na procura das verdades universais que são o caminho para a prática do
bem e da virtude.

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