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sociais _ os papéis sociais devem ser aprendidos, não negociados, para que a
vidas, adquirimos e perdemos identidades secundárias - identidades ocupacio-
sociedade funcione. Também há teorias psicanalíticas que se concentram nos
nais, de lazer, associadas a determinados tipos de práticas de consumo e assim
processos inconscientes e emocionais da individualidade. Em sociologia, as
por diante. Socialização ocupacional é uma expressão utilizada para descrever
obras do filósofo e reformado r social americano George Mead e do sociólogo
os processos de aprendizado e transformação vinculados a identidades profis-
Erving Goffman têm sido particularmente importantes no reconhecimento
sionais ou de emprego. Assim, é necessário um processo de socialização para
de que o seI! é um construto social e de que os indivíduos são agentes ativos
que alguém se torne e seja um médico, construtor, cabeleireiro ou contador.
nos processos de socialização e construção de identidade. Mead descreveu a
Evidentemente, isso inclui a aquisição de um conhecimento «ensinado" formal
emergência do sei! por meio da experiência pessoal e a importância da comu-
e de habilidades i- medicina, procedimentos cirúrgicos, escrituração, cortes
nicação e da reflexividade sociais. Goffman contribuiu para nossa compre-
de cabelo, como construir uma parede e assim por diante. Mas também in-
ensão sobre as maneiras como as identidades sociais resultam de processos e
clui a aquisição de conjuntos mais tácitos e indeterminados de conhecimento:
interações sociais localizados com/em momentos e lugares particulares. Ele
os aprendidos in loco, por tentativa e erro, observação, imitação e interações
adotou as metáforas teatrais do «proscênio" e dos «bastidores" para com-
com pares e pessoas íntimas. Portanto, a socialização ocupacional também
preender o trabalho envolvido na socialização, tanto o mais visível quanto
exige que se «entenda do assunto" - categorizar pacientes, parecer «ocupado"
o que se dá «por trás das cortinas" - enquanto construção e administração
quando não há clientes no salão de cabeleireiros, ficar sabendo quem são os
indivíduos importantes num escritório, descobrir como conseguir trabalho de identidades sociais.
informal num canteiro de obras e assim por diante. Aprender as sutilezas do
ambiente ocupacional é tão importante quanto adquirir as habilidades técni- OUTRAS LEITURAS
cas - para estabelecer e manter uma identidade ocupacional plausível e para Giddens, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro, Zahar, 2002.
ser socializado na cultura ocupacional. Goffman, Erving. The Presentation ofSelf in Everyday Life. Harmondsworth, Penguin,
As mesmas regras se aplicam à construção de outras identidades - onde
1959·
o ensinamento e o aprendizado de conhecimento e habilidades formais são [enkins, Richard. Social Identities. Londres, Routledge, 2ª ed., 2004·
apenas, se tanto, parte do processo de socialização. Ser um músico competente Melia, Kath. Learning and Working: The Occupational Socialisation ofNurses. Londres,
não é pré-requisito suficiente, nem mesmo necessário, para ter uma carreira
Tavistock, 1987.
musical de sucesso. Com efeito, há músicos «bem-sucedidos" que não sabem AMANDA COFFEY
ler partituras, tocar instrumentos ou cantar dentro do tom. Jogar golfe ra-
zoavelmente não garante acesso e aceitação pela fraternidade golfista, onde
pertencer ao clube de golfe «correto" pode ter maior importância. Inclusive,
certas identidades são quase inteiramente «aprendidas" graças à decodificação Sociedade
informal de roteiros culturais. Não há cursos a frequentar nem livros a estudar
Quando alguém pergunta «o que é sociologia?", é normal que se responda que
sobre «como se tornar" um punk gótico, um vigia de trem, um cliente de boate
é o estudo da sociedade - ou talvez das sociedades. Essa resposta parece clara e
ou um sem-teto. Há papéis - como os de paciente de hospital, público de teatro
objetiva, mas não é. Com efeito, há pouca concordância sobre o que é sociedade,
ou cliente de salão - com regras e padrões de comportamento a eles associa-
especialmente na era contemporânea.
dos que raramente são explicitados. Esses roteiros culturais, e as identidades
De fato, a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher uma vez declarou que
sociais por eles moldadas, são apreendidos por meio de processos contínuos
«não existe essa coisa de sociedade", há apenas «indivíduos, homens e mulhe-
de engajamento e interação. res, e suas famílias". Muitos sociólogos rejeitaram essa afirmação declarando
Há uma série de teorias da socialização. Entre elas, as que sugerem que que, evidentemente, existe essa coisa de sociedade. Mas, embora quase todos
os indivíduos não têm agência ou escolha na construção de suas identidades