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Educação e Cidadania: Controle Social na Aplicação de Recursos Públicos

Resumo: Considerando diretrizes e metas do Plano Nacional de Extensão Universitária, o


projeto de extensão proposto ao Colegiado do Curso de Ciências Econômicas da Universidade
Federal do Tocantins, intitulado “Educação e Cidadania: Controle Social na Aplicação de
Recursos Públicos”, e que vem sendo desenvolvido, desde julho de 2017, objetiva contribuir
no processo de interação entre universidade e sociedade, constituindo-se em espaço de
conhecimento da realidade da gestão pública regional, de participação cidadã, de trabalho em
equipe e de estímulo ao pensamento crítico. Para tanto, o mesmo se propõe a realizar oficinas
como uma das estratégias pedagógicas para desenvolver temas ligados ao controle social na
aplicação de recursos públicos. Desde sua proposição, até março de 2018, o projeto já realizou
04 oficinas na Universidade Federal do Tocantins – Campus Palmas e participou de outros 03
eventos, derivados de demandas externas.

Palavras-chave: Cidadania; Controle Social; Recursos Públicos.

Abstract: Considering the guidelines and goals of the National University Extension Plan, the
extension project proposed to the Faculty of Economics of the Federal University of Tocantins,
entitled "Education and Citizenship: Social Control in the Application of Public Resources",
which has been developed since July 2017, aims to contribute to the process of interaction
between university and society, constituting a space for knowledge of the reality of regional
public management, citizen participation, teamwork and stimulation of critical thinking. To do
so, it also proposes to hold workshops as one of the pedagogical strategies to develop themes
related to social control in the application of public resources. From its proposal until March
2018, the project has already held four workshops at the Federal University of Tocantins -
Palmas Campus and participated in another 03 events, derived from external demands.

Keywords: Citizenship; Social Control; Public Resources.

Introdução
Controlar significa verificar se a realização de uma determinada atividade atende aos objetivos
e às normas. A Constituição Federal de 1988 estabelece que o controle da administração pública
deve ser realizado por órgãos do próprio poder público (controle institucional) e pela sociedade
(controle social). Assim, a Carta Magna, não por acaso conhecida como Cidadã, criou espaços
para que o cidadão se aproxime da gestão pública, de modo especial da aplicação dos recursos.

Nessa perspectiva, o controle social tem uma função complementar à do controle institucional,
sendo um instrumento de fortalecimento da cidadania. Mas, apesar dos avanços tanto do lado
dos governos ao se tornarem mais transparentes quanto da sociedade na busca por informação
e participação, o efetivo exercício do controle social não é trivial. Além de demandar um
contingente elevado com disposição para o trabalho voluntário, muitas vezes exige
conhecimentos específicos, uma vez que a atuação do Estado envolve aspectos técnicos, a
exemplo do vocabulário próprio da gestão fiscal: PPA, LDO, LOA, dotação, empenho,
liquidação, apropriação etc.

Para Pires e Vaz (2012), durante a década de 2000 houve um crescimento consistente nessa
interação entre Estado e sociedade. No caso do Governo Federal, considerando todas as formas
de interlocução, os autores constataram que quase 90% dos programas governamentais tinham
ao menos um canal de participação social implantado. O estudo revelou ainda que as interfaces
de participação contribuíram com a transparência, a legitimidade, o controle e eventuais
correções nos programas de governo.

Para Avritzer (2008), quando a sociedade civil se mostra forte, não obstante possível resistência
diante do receio da perda de poder, a sociedade política acaba sendo constrangida a implantar
processos participativos. Recentemente, os espaços de participação foram ampliados no âmbito
da Política Nacional de Participação Social (PNPS), formalizada pelo Decreto nº 8.243/2014,
que, entre outros aspectos, legitima instâncias e mecanismos de participação social, a saber:
conselho de políticas públicas, comissão de políticas públicas, conferência nacional, ouvidoria
pública federal, mesa de diálogo, fórum interconselhos, audiência pública, consulta pública e
ambiente virtual de participação social. Importante destacar que os conceitos de participação e
controle social estão fortemente relacionados, uma vez que por meio da participação na gestão
pública, os cidadãos podem tanto influenciar a tomada de decisão quanto exigir do gestor
público que ele preste contas de suas ações e dos recursos públicos utilizados.

A noção de cidadania, por sua vez, não pode ser reduzida ao momento do voto, à simples
escolha dos representantes políticos. Embora esse seja um momento marcante no exercício da
cidadania, tornar-se cidadão pressupõe a tomada de uma consciência política que em muito
extrapola o dia da eleição. Para Carvalho (2002), a cidadania plena pressupõe “liberdade,
participação e igualdade”, ou seja, o mero exercício do voto não garante que os direitos
fundadores da cidadania – civis, políticos e sociais – sejam alcançados.

Nessa perspectiva mais ampla, a cidadania constitui um ideal em constante processo de


construção, reconstrução e ressignificação, cabendo à universidade um papel fundamental nessa
dinâmica. Para Baptista (2004), a universidade é um “espaço público por excelência dedicado
à formação da cidadania”, onde os desafios enfrentados pela sociedade civil devem ser
pensados. Para além de um espaço de integração do ensino, da pesquisa e da extensão, para a
autora a universidade moderna deve ser um fórum permanente de formação moral do cidadão,
que, em última instância, contribuirá para melhorar as condições de vida em sociedade.

Nesse contexto, o presente projeto tem por finalidade estimular, capacitar e facilitar que
estudantes e pessoas da comunidade participem do controle social. Para tanto, em termos
metodológicos, propõe-se a realizar oficinas com atividades teóricas e práticas sobre espaços,
possibilidades e instrumentos de exercício do controle social, bem como prevê a participação
em ações de controle social. Vislumbrando como impacto do projeto o estímulo à consciência
política e a formação de cidadãos capazes de participar efetivamente do controle da gestão e
dos gastos públicos.

Procedimentos Metodológicos

Nesse contexto, o presente projeto de extensão universitária intervém por meio de três frentes
consideradas fundamentais para contribuir com a participação efetiva da sociedade na gestão
pública, quais sejam:

1) Sensibilização: mobilizar e estimular o exercício do controle social. Mostrar a


relevância, as possibilidades e a força da participação social. Despertar nas pessoas a
vontade de contribuir no controle da coisa pública;

2) Educação: capacitar para o exercício eficaz do controle social. Não basta querer, é
preciso dominar instrumentos mínimos para produzir resultados úteis. O cidadão
disposto a participar da gestão pública e, sobretudo, ser um fiscal do gasto público,
precisa conhecer os canais de participação estabelecidos pela legislação brasileira, bem
como dominar ferramentas que viabilizam e/ou potencializam a participação e a
fiscalização. Entre os elementos relevantes para o desenvolvimento dessas
competências indispensáveis à participação social efetiva estão: noções sobre as formas
de participação social (conselhos, audiências públicas etc.), noções sobre a gestão fiscal
(Lei .4320/1964, LC 101/2000 e LC 131/2009) e a Lei de Acesso à Informação (Lei
12.527/2011), habilidades no uso dos Portais de Transparência, Sistemas de Informação
ao Cidadão (SIC’s), Dados Abertos, Ouvidorias, dentre outros.
3) Ação: não basta querer e saber, é preciso fazer. O projeto incentiva e facilita a
participação em ações de controle social, integrando os interessados por meio de uma
rede de contatos construída a partir de um formulário eletrônico permanente. Nesse
aspecto, a parceria com o Observatório Social de Palmas é fundamental, uma vez que
os participantes das atividades serão apresentados ao Observatório, conhecerão seus
trabalhos e poderão integrá-lo, participando, como membros voluntários, das ações de
controle social.

Para tanto, o mesmo propõe a realização de oficinas como uma das estratégias
pedagógicas para desenvolver temas ligados ao controle social na aplicação de recursos
públicos. As oficinas são ofertadas bimestralmente, existindo ainda a possibilidade de oficinas
extras para atender à demanda externa, totalizando a duração de 3h00, excluindo-se o intervalo
e o tempo reservado para avaliação da coordenação do projeto, sendo organizadas conforme
exposto no quadro abaixo.

Atividade Descrição Objetivo Duração

Apresentação dos instrutores e


dos participantes. Apresentação
Apresentação da metodologia de trabalho e Iniciar o trabalho. 10 min.
estabelecimento do acordo de
convivência.

Pequenos vídeos que tratam da


importância da transparência e Sensibilizar os
Vídeos 10 min.
do controle social da gestão participantes.
pública.

Contextualizar o
controle social no
Brasil. Analisar a
Aula expositiva dialogada, com
dinâmica da
espaço para a manifestação dos
gestão fiscal e
Aula teórica participantes de acordo com o 50 min.
dispositivos legais
conhecimento prévio de cada
que possibilitam/
um.
facilitam o
exercício do
controle social.

Intervalo 10 min.

Aula prática Apresentação e uso de Conhecer e 60 min.


instrumentos que viabilizam e/ou praticar o uso das
potencializam o exercício do ferramentas
controle social, tais como: selecionadas.
Portais de Transparência,
Sistemas de Informação ao
Cidadão (SIC’s), Sistemas de
Ouvidorias, dentre outros.

Apresentação do Observatório
Social de Palmas. Critérios de Conhecer formas e
Aula prática participação. Metodologia de práticas de 40 min.
trabalho. Exemplos de ações controle social.
desenvolvidas.

Avaliação
Questionário de avaliação. Avaliar 10 min.
discente

Avaliação da
Reunião de avaliação. Avaliar/Ajustar. 20 min.
coordenação

A estrutura das oficinas realizadas, reúne assim elementos indispensáveis para estimular e
habilitar o cidadão para iniciar e/ou aprimorar o exercício da função de fiscal do gasto público,
individualmente ou participando de grupos com esta finalidade, tais como conselhos gestores
de políticas públicas e observatórios sociais.

Para sua execução, o projeto conta com a parceria da CGU - Regional Tocantins, por meio
do Núcleo de Ações de Ouvidoria e Prevenção da Corrupção (NAOP), setor com expertise na
área de transparência e capacitação para o exercício do controle social da gestão pública. Conta
também com a parceria do Observatório Social de Palmas, organização não governamental que
tem por finalidade precípua mobilizar voluntários para o exercício do controle social da gestão
pública. A participação dessas instituições, no âmbito do ambiente acadêmico da UFT, com o
apoio da universidade, contribuirá para viabilizar o projeto da seguinte forma:
 UFT: espaço físico, participação de professores, estudantes, técnicos, divulgação e
engajamento (salas de aula, rádio, sítio eletrônico e outros);
 CGU: material didático (cartilhas, manuais, vídeos etc.) e orientações;
 Observatório Social: mobilização, apoio técnico especializado e laboratório
(oportunidade de experiência para voluntários iniciantes).

Resultados
Desde sua proposição, até março de 2018, o projeto já realizou 04 oficinas, que contabilizaram
a participação de 120 pessoas. Em sua grande maioria, os participantes das oficinas foram
estudantes universitários, principalmente dos cursos de Contábeis e Economia. Abaixo, segue
quadro com informações sobre datas e locais onde as oficinas foram realizadas.

Oficinas Data Local


Oficina 01 08/07/2017 UFT - Campus Palmas
Oficina 02 05/09/2017 UFT - Campus Palmas
Oficina 03 23/11/2017 UFT - Campus Palmas
Oficina 04 28/03/2018 Faculdade ITOP

Afim de avaliar as oficinas, foram aplicados questionários, onde os participantes podem dar
notas (de 0 a 10), a vários aspectos relativos às mesmas. Conforme exemplificado no quadro
03, relativo a oficina realizada em 23/11/207 no Campus Palmas da Universidade Federal,
observa-se que o projeto vem sendo avaliado de modo altamente positivo por parte dos
participantes.

Avaliação Nota Média


Oficina
Adequação do conteúdo 9,7
Slides de apresentação 9,5
Qualidade do material didático utilizado 9,3
Carga Horária 8,8
Parcial Oficina 9,4
Desempenho do Instrutor
Clareza na explicação do conteúdo 9,9
Domínio do conteúdo abordado 9,9
Didática de ensino 9,5
Disponibilidade 9,6
Parcial Instrutor 9,7
Outros
Ambiente físico 9,3
Habilidades adquiridas 9,2
Avaliação geral do participante 9,5

Além das oficinas, o projeto também contabiliza participações de 03 eventos distintos, onde
foram realizadas ações especificas. Sendo estas, oportunidades importantes de abordagem da
temática em um formato mais flexível (adequação ao público específico e ao tempo disponível).
Estima-se que tais participações tiveram o público aproximado de 100 pessoas.

Participações em eventos
Evento Participação/Palestra Data Local
I Fórum de integração de Transparência e controle social: Qual UFT - Campus
28/08/2017
Jornalismo o papel da comunicação? Palmas
Semana Acadêmica do Curso
Transparência e controle na aplicação UFT - Campus
de Ciências Econômicas da 21/09/2017
de recursos públicos Palmas
UFT
I Workshop de Educação Participação no Painel - Ações de EGEFAZ -
19/12/2017
Fiscal Educação Fiscal Palmas

Além das oficinas, principal forma de intervenção e, das participações em eventos específicos,
ressaltam-se como produtos derivados ou relacionados à execução do projeto:
 Cadastro de interessados no tema por meio de formulário eletrônico permanente. Essa
rede de contatos tem por finalidade a divulgação de eventos e o convite para ações
específicas do próprio projeto de extensão ou de parceiros que demandam trabalho
voluntário, como é o caso do Observatório Social de Palmas. De julho de 2017 a abril
de 2018, os registros indicam o cadastramento de 175 pessoas.
 Participação no projeto “Monitorando a Merenda”. Conduzido pela CGU, em
parceria com o Observatório Social, esse projeto tem por objetivo avaliar a
disponibilidade e a qualidade da merenda escolar oferecida em escolas da rede pública
e a efetividade da Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para, com base
nos resultados encontrados, contribuir na solução das eventuais deficiências. Os
interessados em participar desse projeto, incluindo aqueles cadastrados pelo projeto de
extensão que se tornarem membros do Observatório Social, serão treinados e terão como
principal missão orientar/acompanhar alunos do ensino médio da rede pública de
Palmas no uso de um aplicativo de coleta de dados desenvolvido pelo Centro de Mídia
Cívica do Massachusetts Institute of Technology (MIT) para ações de controle social.

Cm relação às parcerias, observa-se que além da contribuição individual de cada instituição na


sua área de atuação – CGU, Observatório Social e UFT –, entende-se que há sinergia na
interação das três instituições, extrapolando assim o somatório das ações individuais de cada
uma, uma vez que a universidade dispõe de um público potencialmente forte para atuar nas
áreas de expertise das outras duas entidades, tanto para agir diretamente no controle social
quanto para mobilizar a opinião pública, podendo a ação conjunta impactar sobremaneira no
processo de conscientização e massificação da participação social no estado do Tocantins.

Por fim, frisa-se como maior potencial de impacto social do projeto a real possibilidade de
contribuir para a tomada de consciência política e para a formação de cidadãos capazes de
participar efetivamente do controle da gestão pública em todas as esferas administrativas.

Referências
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considerações sobre a variação da participação no Brasil democrático. Opinião Pública,
Campinas, v. 14, n. 1, jun. 2008.

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