Professional Documents
Culture Documents
Exemplo nº 1
Exemplo nº 2
Exemplo nº 4
Caráter cíclico
Por ser formado por terças menores sobrepostas (o que o caracteriza como um
acorde cíclico, pois mantém a mesma relação intervalar independentemente de sua
inversão), o acorde de sétima diminuta divide a oitava em quatro segmentos iguais:
Exemplo nº 5
Essa simetria faz com que se tenha apenas três acordes de sétima diminuta com
sonoridade distinta, no sistema temperado. No exemplo abaixo, os três acordes
diferentes de sétima diminuta – Bº, Cº e C#º – estão escritos com notas brancas
(semibreves), sendo suas inversões escritas, no pentagrama inferior, e os acordes de
sétima diminuta obtidos por enarmonia das inversões de cada um desses acordes estão
escritos acima das respectivas inversões. Assim, no ex. nº 6(a), por exemplo, os sons
que compõem o acorde de Bº/D são os mesmos do acorde de Dº; os sons do acorde de
Bº/F são os mesmos do acorde de Fº e os sons do acorde de Bº/Ab são os mesmo de Abº
(ou, operando outra enarmonia: Aº e G#º possuem a mesma sonoridade). O mesmo
processo ocorre com relação aos outros acordes diminutos [ex. nº 6(b) e 6(c)].
Exemplo nº 6
Caráter modulatório
Cada um desses acordes diminutos pode resolver em quatro diferentes
tonalidades, pois, além de seu caráter cíclico que faz com que quatro acordes diminutos
tenham a mesma sonoridade, este acorde possui dois trítonos e pode ter qualquer uma
de suas notas usada como sensível. Para isso, são empregados os processos enarmônicos
já mencionados. Tomando-se o acorde de Bº de um ponto de vista enarmônico, pode-se
entender que se trata de um acorde de Dº/Cb [ex. nº 7(a)], que é um acorde formado
sobre a sensível de Mib Menor; pode-se também tomá-lo como sendo um acorde de
G#º/B [ex. nº 7(b)], que pertence à tonalidade de Lá menor; pode-se entendê-lo como
um acorde de E#º/B [ex. nº 7(c)], que é a sétima diminuta da tonalidade de Fá# menor.
Os exemplos abaixo demonstram a resolução de cada uma desses enarmonias, com as
cifras cordal, gradual e funcional.
Exemplo nº 7
Exemplo nº 8
O fato de que o acorde de sétima diminuta pode ter qualquer uma de suas notas
usada com sensível também possibilita a sua resolução em qualquer tonalidade. Isso fez
com que este acorde tenha sido o mais empregado em modulações que conduzem para
tonalidades afastadas do tom principal, de maneira rápida e eficaz, na música européia
dos séculos XVIII e XIX, sendo ainda muito empregado com esta função na música
popular contemporânea.
Uso de inversões
No exemplo abaixo estão especificadas as resoluções do acorde de sétima
diminuta quando ocorre invertido, na tonalidade de Dó menor:
(a) Quando o acorde é empregado em primeira inversão, ou seja, quando tem a
terça do acorde de sétima diminuta (ou a quinta da dominante) no baixo (nota ré, em Dó
Menor), este acorde é normalmente chamado de D°, na cifragem cordal, conforme foi
mencionado acima. Neste caso, a resolução característica é feita sobre o acorde de
tônica, em estado fundamental [ex. nº 9(a)]; porém, quando se pretende obter um
movimento menos conclusivo, pode ser resolvido no acorde de tônica em primeira
inversão (o movimento de baixo seria, então, ré-mib).
(b) Quando o acorde de sétima diminuta é usado em segunda inversão, ou seja,
com a quinta (ou a sétima da dominante) no baixo (nota fá, em Dó Menor), é chamado
de F°, na cifragem cordal. Sua resolução será no acorde de tônica em primeira inversão.
No caso apresentado no ex. nº 9(b), procurou-se dobrar a terça do acorde de resolução,
conduzindo tanto a quinta do acorde de sétima diminuta (nota do baixo: fá, que é a
sétima da dominante e, por isso, deve resolver na terça do acorde de tônica), quanto a
terça do acorde de sétima diminuta (o ré do tenor, que é a quinta do acorde de
dominante) para a terça do acorde de resolução (nota: mib). Se fosse dobrada a
fundamental do acorde de tônica (nota dó, no tenor), ocorreria um movimento de
quintas diretas entre tenor e soprano (notas: ré/láb-dó/sol). Alguns tratadistas
aconselham que se evite este movimento porque a voz inferior das quintas diretas (o
tenor, neste caso) se movimenta por grau conjunto, o que produziria uma quinta oculta.
De um ponto de vista acústico-musical, é perfeitamente adequado o movimento de
quintas diretas quando uma delas é diminuta, pois o trítono (quinta diminuta) é o
intervalo que mais se diferencia da quinta justa, em termos de relações entre os sons.
Em geral, os teóricos da harmonia consideram correto o movimento de quintas diretas
quando a segunda é diminuta, sendo que alguns o consideram inadequado quando a
segunda quinta é justa, pois entendem que se trata de um caso especial de quintas
ocultas1. De qualquer forma, o movimento de quintas diretas, em que uma delas é
diminuta, na resolução do acorde de sétima diminuta é bastante freqüente na obra dos
principais compositores do Período Tonal.
(c) Quando o acorde de sétima diminuta é usado em terceira inversão, ou seja,
com a sétima no baixo (em Dó Menor, a nota láb, que é a nona menor da dominante), o
acorde é chamado Ab°. A resolução deste acorde será no acorde de tônica em segunda
inversão, pois existe um movimento obrigatório (moto obligato) da nona menor da
dominante para a quinta do acorde de tônica, devido ao fato de que aquela nota é a
sensível superior desta, sendo, assim, uma nota atrativa: láb→sol.
Exemplo nº 9
1
É importante lembrar que as quintas diretas somente são consideradas incorretas, isto é, quintas ocultas,
em texturas a três ou mais vozes, quando a voz superior da quinta se movimenta por salto. Sempre que a
voz superior se movimenta por graus conjuntos, as quintas diretas são consideradas corretas pela maior
parte dos teóricos. No caso da resolução do acorde de sétima diminuta na tônica, as quintas diretas que se
obtêm quando, neste acorde, há dobramento da fundamental e esta nota aparece abaixo da quinta do
acorde, não pode ser considerada incorreta porque a voz superior se movimenta por graus conjuntos.
sétima diminuta é conduzido para um acorde de I grau. Neste caso, em que se interpreta
que a sétima diminuta conduz para o V grau, a resolução da sétima da dominante não
terá mais uma resolução obrigatória.
De qualquer forma, sempre que possível, é preferível conduzir a sétima da
dominante para a terça da tônica através do recurso de resolução da nota atrativa em
outra voz, desde que ambas as vozes estejam no mesmo registro de altura.
No ex. nº 10, a nota fá do soprano é resolvida no mib do contralto, mantendo,
assim, a impressão psicoacústica de que a sétima da dominante (nota: fá) é resolvida
adequadamente na terça da tônica (nota: mib). Mesmo se tratando de uma ‘falsa
resolução’, pois este acorde já é utilizado como uma dominante, a resolução típica do
trítono produz uma ambigüidade interessante neste acorde (quando se escuta sua
resolução, parece ser uma tônica em segunda inversão, porém quando o mesmo acorde
conduz para o V7, percebe-se que tem função de dominante). A resolução cruzada
(resolução da nota atrativa em outra voz) permite que se movimente o soprano para a
fundamental do acorde de dominante (nota: sol), produzindo o acorde cadencial de
dominante com quarta e sexta apojatura em sua formação característica.
Exemplo nº 10
Assim sendo, o acorde é cifrado como uma dominante sem fundamental, com 7ª
e 9ª menor, em primeira inversão (com a 3ª no baixo).