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Somente na introdução, Jorge Scwhartz já nos dá quase que um panorama completo do que foi a

“Vanguarda Literária Latino-Americana” de 1920. Desde a sua “suposta” data de início ou germinação
(como queiram), até o seu fim, difícil de resumir em apenas poucas páginas.
Ele começa citando Cesar Vallejo e sua definição para as duas palavras “América Latina” em 1926, e
confirma que mesmo não com tanto vigor quanto na época que foram ditas ainda se pode considerar
legítimas suas palavras.
O motivo do autor escrever esta obra foi uma forma de protesto, por conta débito de trabalhos sobre o
assunto que ele se deparou ao longo da vida e que excluíam (propositadamente ou não) as suas duas
culturas: argentina e brasileira.
Para ele, recuperar os anos 20 e 30 na América Latina implica muito mais que apenas se fazer um
exame de uma década, exige também um estudo detalhado dos seus contextos culturais específicos e
históricos de cada um dos movimentos.
Ele se pergunta se de fato existe uma vanguarda latino-americana, e nos dá essa resposta de maneira a
não deixar sombra de dúvidas.

A partir da década de 20, como se sabe, há uma transformação dos panoramas culturais, rompendo
radicalmente com a tradição, com o velho, com o de sempre. A isso chamou-se “vanguarda”.
As vanguardas atuavam não só apaixonadamente, mas também eram muito específicas e bem definidas,
e na América Latina principalmente, além da estética e vertentes ideológicas típicas de vanguardas
culturais, havia ainda a busca por uma integração histórico-geográfica. Ele usa a expressão “Destruição
do Muro de Tordesilhas” que sempre isolou o Brasil da América Hispânica.

Sua antologia vai começar com as possíveis definições de data para início de tudo, de toda essa
transformação cultural que, como uma “locomotiva” definiu os trilhos do destino, fazendo o velho
passar diante da janela e deixando tudo para trás.
A primeira data que aparece é 1909 , quado em Paris é lançado o Manifesto Futurista que teve
repercussões imediatas na América Latina,. No final do mesmo ano um jornal de Salvador, Bahia,
publica o artigo “Uma Nova Escola Literária” de Almachio Diniz, ou seja, a primeira menção do
futurismo no Brasil, considerando então como as primeiras notícias da vanguarda em terras latino-
americanas.

Vanguarda, vanguardas
Já no final dos anos 20, a crescente politização da cultura latino-americana reintroduz a discussão
sobre o significado e o uso da palavra “vanguarda” através da clássica oposição da “arte pela arte” e da
“arte engajada”.
No início do século XIX o termo era restrito ao vocabulário militar, e na França acaba adquirindo um
sentido figurado na área política também. O criador dessa acepção Saint-Simon dizia que o papel da
arte, na medida em que pretende revolucionar a sociedade precisava revestier-se de mais praticidade
finalidade social, sendo funcional, utilitária, didática e facilmente compreensível.
Mas as teorias de um contemporâneo de Saint-Simon, Charles Fourier, opositor de suas ideias propõe
dissociar a arte desse sentido rigorosamente político, e os anarquistas, inspirados por suas ideias a
adotam e desvinculam a arte de qualquer causa social...
Importante de citar:
A utilização estritamente política do termo ocorre em meados do século XIX com Marx e Engels.
Como fundadores do comunismo, eles se consideram parte da vanguarda social. Mas, na realidade, é
Lênin quem usa propriamente o termo ao afirmar que “ao educar os trabalhadores do Partido, o
marxismo educa a vanguarda do proletariado”
Visto tudo isso, embora as vanguardas tenham em comum a oposição aos valores do passado e à arte
estabelecida ou criada pela burguesia do século XIX e início do XX, elas acabam se distanciando entre
si não apenas pelas diferenças formais e pelas regras de composição, mas por seu posicionamento
frente às questões sociais.
A tensão do confronto entre “vanguarda política” e “vanguarda artística” resulta em diversas
influências na produção cultural dos anos 20, que variam de acordo com os contextos, o momento e as
experiências individuais dos fundadores dos movimentos.
Essas mudanças ideológicas viabilizam e explicam a existência, por exemplo, de mais de um Borges,
mais de um Neruda, mais de um Vallejo… O primeiro Borges, aquele que viveu na Europa de 1914 a
1921, e que foi muito afetado pela 1ª Guerra Mundial engajasse na estética expressionista e mergulha
na obssessão vanguardista... o retorno a Buenos Aires o faz redescobrir a cidade natal, sua linguagem e
suas tradições. Surge então um segundo Borges, empenhado em negar o primeiro e reafirmar suas
origens.
Processo oposto ocorre com Neruda. Da poesia altamente surrealizante, ele evolui para uma espécie de
militância poética que se distancia bastante de suas primeiras obras.
Também Oswald de Andrade passará por tais oscilações. Embora Pau Brasil (1925), Memórias
Sentimentais de João Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933) estejam ancorados na história e
adotem uma atitude hipercrítica frente à sociedade brasileira da época, especialmente à burguesia
paulista, o criador do movimento antropofágico passa por uma crise ideológica e por uma fase de
revisionismo, na qual, além de se voltar de maneira violenta contra tudo aquilo que produzira, dedica-
se ao romance social, esteticamente mais limitado se comparado às suas obras anteriores.

Então ele nos fala das revistas. Nas revistas de vanguarda as propostas culturais podem ser percebidas
com maior clareza. Devido ao seu essencial caráter contestatório, seja nas artes, seja nas questões
sociais, elas mantém uma relação pragmática com o público leitor, falam uma linguagem mais direta e
tem algo nelas no sentido de oposição que não passa pela censura da grande imprensa.
Revistas que se propõem a promover a renovação das artes, os novos valores, a importação da "nova
sensibilidade", o combate aos valores do passado e ao status quo imposto pelas academias. Também
revistas mais comprometidas com os processos da modernidade do que com a vanguarda em si.
Elas, ao final, obedecem à divisão "revistas de modernização" e "revistas de ruptura".
Embora também estejam empenhadas na renovação do panorama local das artes, as revistas de
tendência modernizante não se propõem a transgredir as normas, isso lhes garante maior estabilidade e
maior continuidade.
Outras revistas ainda, promovem um campo cultural comum, no qual convivem vanguarda artística e
vanguarda política. E há também as revistas de cunho altamente político e assumidamente de esquerda,
como a peruana Labor, dirigida por Mariátegui como instrumento de conscientização voltado
principalmente às classes operárias; no Brasil, O Homem do Povo, pertence à uma militãncia
comunista dos seus diretores Patrícia galvão e Oswald de Andrade.
Em Buenos Aires há Los Pensadores e sua sucessora Claridad, ambas dirigidas por Antônio Zamora.
Claridad representa a proposta cosmopolita entre as revistas de esquerda - inspirada em ideais
antibélicos, anticapitalistas e a favor da confraternização entre os povos, tinha um projeto de aldeia
global socialista.
Essas revistas todas, embora seus leitores não fossem significativos numericamente, quem as lia era
uma minoria letrada capaz de operar mudanças, seja no campo intelectual seja no campo político.

As linguagens imaginárias
Outra dimensão utópica alcançada pelas vanguardas latino-americanas foi a questão da língua. A
possibilidade de se pensar uma nova linguagem ou renovar as existentes, como forma de não estagnar-
se ao passado colonial servindo de elemento reconfirmador do nacional.
José de Alencar, assumidamente favorável à essa resistência vai dizer:
"O povo que chupa o cajú a manga, o cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual
pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pêra, a nêspera e o damasco?"
Reflexão importante: a engenhosa metáfora oral, que opõe as populações locais às européias revela
uma impossibilidade de um transplante geográfico de estruturas sintáticas esperando-se que essas
modificações e alterações de costumes não tenham consequências linguísticas.

Ao fim Jorge Swchartz nos lance seu olhar sobre alguns dos ícones de nossa vanguarda latino-
americana: Borges, Mário de Andrade, Oswald de Andrade

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