You are on page 1of 3

5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA

PROCESSO Nº 0108278-92.2014.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: BANCO ITAUCARD S.A.
RECORRIDO: HUMBERTO JOSÉ FERNANDES MARQUES DE SOUZA
JUIZ PROLATOR LIVIA DE MELO BARBOSA
JUIZ RELATOR: TAMARA LIBORIO DIAS TEIXEIRA DE FREITAS SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CARTÃO DE CRÉDITO. COBRANÇA


INDEVIDA. ATUAÇÃO ILÍCITA. SENTENÇA QUE CONDENOU A
EMPRESA REQUERIDA A DEVOLVER O VALOR PAGO EM
DUPLICIDADE PELO CONSUMIDOR, ALÉM DE FIXAR
INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS CONFIGURADOS, EM
VALOR MODERADO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.
RECURSO IMPROVIDO.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,


saliento que o Recorrente, BANCO ITAUCARD S.A., pretende a reforma da sentença
lançada nos autos, que determinou a devolução do valor de R$ 200,00 (duzentos reais),
pago em duplicidade pelo Recorrido, HUMBERTO JOSÉ FERNANDES MARQUES DE
SOUZA, condenando-o, ainda, ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em razão da cobrança indevida lançada no cartão de crédito.

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais membros
desta Egrégia Turma.

VOTO

A sentença recorrida, tendo analisado corretamente todos os aspectos do


litígio, merece confirmação integral, não carecendo, assim, de qualquer reparo ou
complemento dentro dos limites traçados pelas razões recursais, culminando o julgamento do
recurso com a aplicação da regra inserta na parte final do art. 46 da Lei nº 9.099/95, que
exclui a necessidade de emissão de novo conteúdo decisório para a solução da lide, ante a
integração dos próprios e jurídicos fundamentos da sentença guerreada.

A título de ilustração apenas, fomentada pelo amor ao debate e para realçar


o feliz desfecho encontrado para no primeiro grau, alongo-me na fundamentação do
julgamento, nos seguintes termos:

Discutindo-se a prestação defeituosa de serviço incide a responsabilidade


civil objetiva inerente ao próprio risco da atividade econômica, consagrada no art. 14, caput,
do CDC, que impõe ao fornecedor o ônus de provar causa legal excludente (§ 3º do art. 14),
algo de que o Recorrente não se desincumbiu, sobretudo no que concerne ao pagamento que
o Recorrido realizou em duplicidade.

1
Assim, induvidosa a cobrança em duplicidade em relação à fatura com
vencimento em junho de 2014 que, acrescida dos encargos financeiros decorrentes do suposto
atraso, resultaram no valor de R$ 200,00.

Consubstanciando cobrança indevida emerge, em consequência, a


necessidade de condenação à devolução da importância total paga pela parte recorrida.

Também irrefutável se mostra a condenação do Recorrente ao pagamento


dos inegáveis danos morais sofridos pelo Recorrido.

Encontrando previsão no sistema geral de proteção ao consumidor inserto


no art. 6º, inciso VI, do CDC, com recepção no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, e
repercussão no art. 186, do Código Civil, o dano eminentemente moral, sem consequência
patrimonial, não há como ser provado, nem se investiga a respeito do animus do ofensor.
Consistindo em lesão de bem personalíssimo, de caráter subjetivo, satisfaz-se a ordem
jurídica com a demonstração do fato que o ensejou. Ele existe simplesmente pela conduta
ofensiva, sendo dela presumido, tornando prescindível a demonstração do prejuízo concreto.

Com isso, uma vez constatada a conduta lesiva e definida objetivamente


pelo julgador, pela experiência comum, a repercussão negativa na esfera do lesado, surge a
obrigação de reparar o dano moral.

Na situação em análise, a parte recorrida não precisava fazer prova da


ocorrência efetiva dos danos morais decorrentes dos fatos descritos. Os danos dessa natureza
se presumem pela má prestação do serviço, gerando, inclusive, cobrança indevida, o que,
inegavelmente, vulnerou sua intangibilidade pessoal, causando-lhe sentimento de impotência,
sujeitando-o ao aborrecimento e incômodo, oriundos da atividade ilícita do Recorrente.

Quanto ao valor da indenização, entendo que, não se distanciando muito


das lições jurisprudenciais, deve ser prestigiado o arbitramento do juiz de primeiro grau que,
próximo dos fatos, pautado pelo bom senso e atentando para o binômio razoabilidade e
proporcionalidade, respeita o caráter reparatório e inibitório-punitivo da indenização, que
dever trazer compensação indireta ao sofrimento do ofendido e incutir temor no ofensor para
que não dê mais causa a eventos semelhantes.

In casu, entendo que a MM. Juíza a quo respeitou as balizas assinaladas,


tendo fixado indenização em valor adequado aos fatos, não caracterizando, assim,
enriquecimento sem causa da parte recorrida, nem ocasionando abalo financeiro ao
Recorrente face ao potencial econômico do grupo que integra.

Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e NEGAR


PROVIMENTO ao recurso interposto pelo Recorrente, BANCO ITAUCARD S.A.,
confirmando, consequentemente, todos os termos da sentença hostilizada, condenando-o ao
pagamento das custas processuais, deixando de fazê-lo relativamente aos honorários
advocatícios em razão de não ter sido a parte autora assistida por advogado em qualquer ato
do processo.

Salvador, Sala das Sessões, 26 de maio de 2015.

Tâmara Libório Dias Teixeira de Freitas Silva


Juiz Relator
2
COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS
TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

PROCESSO Nº 0108278-92.2014.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: BANCO ITAUCARD S.A.
RECORRIDO: HUMBERTO JOSÉ FERNANDES MARQUES DE SOUZA
JUIZ PROLATOR LIVIA DE MELO BARBOSA
JUIZ RELATOR: TAMARA LIBORIO DIAS TEIXEIRA DE FREITAS SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CARTÃO DE CRÉDITO. COBRANÇA


INDEVIDA. ATUAÇÃO ILÍCITA. SENTENÇA QUE CONDENOU A
EMPRESA REQUERIDA A DEVOLVER O VALOR PAGO EM
DUPLICIDADE PELO CONSUMIDOR, ALÉM DE FIXAR
INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS CONFIGURADOS, EM
VALOR MODERADO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.
RECURSO IMPROVIDO.

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, WALTER AMÉRICO CALDAS,
EDSON PEREIRA FILHO e TAMARA LIBORIO DIAS TEIXEIRA DE FREITAS SILVA
decidiu, à unanimidade de votos, CONHECER e NEGAR PROVIMENTO ao recurso
interposto pelo Recorrente, BANCO ITAUCARD S.A., confirmando,
consequentemente, todos os termos da sentença hostilizada, condenando-o ao
pagamento das custas processuais, deixando de fazê-lo relativamente aos honorários
advocatícios em razão de não ter sido a parte autora assistida por advogado em
qualquer ato do processo.

Salvador, Sala das Sessões, 26 de maio de 2015.

JUIZ WALTER AMÉRICO CALDAS


Presidente

JUIZ TAMARA LIBORIO DIAS TEIXEIRA DE FREITAS SILVA


Relator

You might also like