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Ciências do

Ambiente

ANDRÉ CALIXTO VIEIRA


FILLIPE TORRES
PEDRO MACHADO
ROSEMERI MARENZI
ANTÔNIO CARLOS BEAUMORD
HERNÁN SAAVEDRA HERRERA
RICARDO KOHN
ORGANIZAÇÃO
REGIANE BURGER

1ª edição
rio de janeiro  2014
Comitê editorial externo  antônio carlos beaumord e ricardo kohn

Comitê editorial interno  regiane burger, mathusalécio padilha ,modesto guedes junior ,luiz gil
solon guimaraes, oscar ariza e waldemir cristino romulo

Organizador do livro  regiane burger

Autores dos originais  andré calixto vieira (capítulo 1), fillipe torres e pedro machado (capítulo
2), rosemeri marenzi (capítulo 3), antônio carlos beaumord (capítulo 4), hernán saavedra herrera
(capítulo 5) e ricardo kohn (capítulo 6)

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico  paulo vitor fernandes bastos

Diagramação  paulo vitor fernandes bastos e victor maia

Supervisão de revisão  aderbal torres bezerra

Redação final e desenho didático  tainara oliveira da rocha

Revisão linguística  katia souza e verônica bareicha

Capa  thiago lopes amaral

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quais-
quer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou
banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2014.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

C569 Ciências do ambiente


Regiane Burger [organizador].
— Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2013.
160 p

isbn: 978-85-60923-07-6

1. Ciências. 2. Ambiente. 3. Geologia. 4. Climatologia. 5. Ecossistema. I. Título.

cdd 500.1

Diretoria de Ensino – Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido – Rio de Janeiro – rj – cep 20261-063
Sumário

Apresentação 9

1. Elementos de Geologia 11

Parâmetros litológicos 12
Mineral 13
Identificação dos minerais 14
Rocha 14
Estratigrafia 17
Discordância 17
Parâmetros estruturais 18
Estruturas não perturbadas 18
Estruturas Perturbadas 19
Fenômenos geológicos 21
a)  Elementos e tipos de falhas mais comuns 21
b)  Elementos e tipos de dobras mais comuns 21
Ambientes geotectônicos 22
Origem da crosta terrestre 22
A teoria da tectônica de placas 23
Parâmetros geomorfológicos 24
Parâmetros hidrogeológicos 26
Água subterrânea 26
Nível hidrostático 26
Águas continentais de superfície 27
Densidade de drenagem 27
Padrão de drenagem 28
Influência da maré 28
Interflúvio, divisor de águas ou linha de cumiada 28
Bacia e sub-bacia hidrográfica 28
Relação solo e relevo 28
Condicionantes genéticos do solo 29
Fatores de formação do solo 29
Mecanismos de formação do solo 29
Horizontes do solo 31
Horizonte O 32
Horizonte A 32
Horizonte B 32
Horizonte C 32
Horizonte R 32
Tipos de solos 32
Solos residuais 32
Solos transportados 32
Relação entre relevo e solo 33
Dinâmica da água no solo 33
Espessura do solo e relevo 33
Relevo e teor de matéria orgânica 33
Erosão, movimentos de massa, assoriamento e recalque 34
Erosão 34
Erosão fluvial 34
Erosão eólica 35
Erosão glacial 35
Erosão marinha 35
Movimentos de massa 38
Escorregamento 38
Rastejo 39
Corridas de detritos 39
Queda 39
Assoreamento ou colmatação 39
Recalque 40

2. Elementos de Climatologia 43

Introdução 44
Principais Elementos e Fatores do Clima 45
Umidade do ar 49
Pressão atmosférica 50
Vento 51
Radiação solar e insolação 54
Nebulosidade 54
Precipitação 55
Brasil: caracterização climática 57
Mudanças climáticas 58

3. Ecossistema terrestre 61

Introdução 62
O conceito de ecossistema 62
A comunidade nos ecossistemas 64
A estrutura trófica dos ecossistemas terrestres 66
A diversidade biótica dos ecossistemas terrestres 68
Os ciclos de materiais dos ecossistemas terrestres 70
A energia nos ecossistemas terrestres 72
As principais comunidades terrestres, os biomas 73
•  Tundra 73
•  Floresta de Coníferas ou Boreal (Taiga): 74
•  Floresta Temperada Decídua: 74
•  Chaparral (ou Mata Esclerófila ou Floresta Mediterrânea): 74
•  Deserto: 74
•  Floresta Pluvial Tropical: 75
•  Floresta Tropical Decídua: 75
•  Floresta Tropical Arbustiva: 75
•  Savana: 75
•  Estepes Temperados ou Semidesertos (Biomas similares): 76
•  Montanha: 76
•  Gelo: 76
•  Bioma Costeiro: 77
•  Bioma Mata Atlântica: 78
•  Bioma Campos Sulinos (Estepes): 78
•  Bioma Caatinga (Savana-estépica): 78
•  Bioma Pantanal (Savana-estépica): 78
•  Bioma Cerrado (Savana): 79
•  Bioma Amazônia: 79

4. Ecossistemas aquáticos 81

Introdução 82
Ambientes marinhos: características e processos 84
Ambientes estuarinos: características e processos 87
Sistemas lóticos: características e processos 89
Sistemas lênticos: características e processos 92
Sistemas artificiais: características e processos 95
Aplicação da ecologia de organismos aquáticos
como bioindicadores ambientais 96

5. Energia 105

Introdução 106
A evolução do aproveitamento da energia pelo homem 106
Carvão 108
As distintas formas de energia e seu uso 109
Energia muscular 109
Energia térmica 109
Energia do vento 110
Energia hidráulica 111
Petróleo 111
Vapor 112
Energia Elétrica 113
Energia Atômica ou Energia Nuclear 114
As energias fósseis 117
As energias renováveis 120
Energia Solar 121
Energia Hidráulica 122
Biomassa 124
A energia elétrica no Brasil 125
As energias do futuro 127

6. Gestão do ambiente 131


Introdução 132
A função para gerir o ambiente 132
Gestão do desempenho ambiental 134
Gestão da sustentabilidade 140
Orientação para Diagnóstico Ambiental 141
A Gestão Compartilhada 145
Consideração final 147
Apresentação
Os novos métodos para o conhecimento das questões ambientais fazem com que sejam
fixadas as bases que deverão provocar mudanças e transformações nas pesquisas científi-
cas e tecnológicas. Marcada por ações humanas, é fundamental encontrar soluções para
diminuir ou minimizar os impactos negativos interferindo especialmente em processos
industriais e crescimentos urbanos desordenados que desprezam as consequências nefas-
tas para o meio ambiente.
A ciência e a tecnologia devem estar alinhadas na direção do sustentável e cada vez
mais equipadas, só assim serão capazes de enfrentar e resolver problemas ambientais
complexos, tais como as diversas formas de poluição, por exemplo. As Ciências Ambien-
tais devem trazer propostas contendo uma metodologia que permita avançar epistemo-
logicamente no sentido de provocar a integração das diferentes interfaces com as quais
se apresentam as questões de ordem ambiental.
Outros conceitos sobre meio ambiente:
“A soma de condições externas e influências que afetam a vida, o desenvolvimento e, em
última análise, a sobrevivência de um organismo”. (THE WORD BANK, 1978).
“O ambiente físico natural e suas sucessivas transformações artificiais, assim como seu
desdobramento espacial”. (SUNKEL apud CARRIZOSA, 1981).
Na área tecnológica, o conceito de ecologia é relevante. Temos que formar um profissio-
nal capaz de compreender, avaliar e preservar o meio em que vivemos sem perder de vista o
crescimento econômico. Ecologia é o ramo da ciência que vai se preocupar com a harmonia
do ecossistema. Aliado ao desenvolvimento tecnológico, as empresas tornam-se aptas para
planejar a exploração de recursos naturais, de forma sustentável.
O termo ecologia foi criado por Hernest Haekel (1834-1919), e deriva do grego oikos que
significa casa e “logos” que significa estudo. Segundo o Novo Dicionário Aurélio: “Ecologia é
a parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem bem
como suas recíprocas influências”.
O termo ambiente não deve ser visto apenas como natureza, mas, sim, no contexto de in-
teração homem e natureza. Nessa perspectiva, ambiente é a totalidade dos processos e espaços
nos quais ocorrem as interações entre natureza e civilização. Ambiente, portanto, engloba todos
os fatores naturais que são influenciados pelos homens e que os influenciam. As Ciências
Ambientais integram a descrição e a análise do estado do ambiente, análise das mudanças e
desenvolvimento das soluções para os problemas (WISSENSCHAFTSRAT 1994).
No Capítulo i, o Professor andré calixto vieira, contempla os Elementos de Geologia,
enaltecendo que é condição fundamental o conhecimento, a formação, a estrutura e os pro-
cessos evolutivos do nosso planeta. Elementos da Climatologia é o tema do Capítulo ii, dos
Professores fillipe tamiozzo p. torres e pedro josé de oliveira machado que contri-
buem com conceitos e fundamentos importantes nas aplicações e possíveis consequências,
quando estes elementos não fazem parte de planejamentos em processos tecnológicos atuais.
A Professora rosemeri carvalho marenzi contribui e aborda de forma consistente, no
Capítulo iii, o conceito de ecossistema e os seus principais componentes bem como a sua
formação, considerando a autora que se trata de um processo dinâmico do planeta Terra,
enfocando ainda a associação dos biomas mundiais e biomas brasileiros, considerando as ca-
racterísticas das formações vegetais que os compõe.

9
A vital importância dos Ecossistemas Aquáticos suas características e processos são
vislumbrados pelo Professor antônio carlos beaumord no Capítulo iv. O Capítulo v,
Energia e Ambiente, do Engenheiro hernán saavedra herrera solidifica, da mesma
forma que os outros capítulos, a adição de conhecimentos a uma formação tecnológica
com sensibilidade ambiental.
O consultor ricardo kohn de macedo nos abrilhanta no Capítulo vi, Gestão do Am-
biente, com seus fundamentos e reflexões importantes na aplicação dos conhecimentos tec-
nológicos levando em consideração toda a complexidade de gestão do ambiente.

Uma boa leitura a todos.

modesto guedes ferreira junior

10
1 Elementos de
Geologia

andré calixto vieira


1 CONCEITO
Elementos de Geologia

A Geologia é a ciência da Terra. Estuda sua composição e estrutura, sua


história e sua vida passada, tanto a vegetal quanto a animal. Desenvol-
Geologia veu-se como ciência com o trabalho de Niels Stensen, em 1667, mas
O termo Geologia vem do grego: geo difundiu-se no século xix.
significa terra e logos, ciência.

Para entender como se processam a formação e a
CURIOSIDADE transformação do ambiente geológico terrestre, é
necessário estudar alguns parâmetros que cercam o
Ciência universo do nosso planeta, sua cronologia, formação
A Geologia repousa sobre fundamentos e desenvolvimento.
da Astronomia, Química, Física, Mate-
mática e Biologia. Está estritamente
relacionada com a Antropologia, Geo- Parâmetros litológicos
grafia e Economia.
A estrutura da Terra é formada pelo núcleo interno, núcleo externo,
manto e crosta, conforme mostra a imagem abaixo.
AUTOR
Niels Stensen Crosta
Nascido em 1638, foi
Manto
um cientista dinamar-
Núcleo Externo
quês pioneiro nas áre-
Núcleo Interno
as de anatomia e geologia. Obteve o título
de bispo pela igreja católica e, em 1988,
foi beatificado pelo papa João Paulo II.

A crosta é a camada mais externa, basicamente formada de


CROSTA rochas e constituída principalmente por silício e alumínio.

O manto, constituído pelo magma, é uma grossa camada


rochosa em estado pastoso, com cerca de 2.900 km de
MANTO espessura. Este material está em constante movimen-
tação e envolve o núcleo.

O núcleo, com cerca de 3.400 km de raio é formado por


rochas e por uma liga metálica constituída principal-
NÚCLEO mente de ferro e níquel a uma temperatura por volta de
3500º C. Sua consistência é líquida, mas supõe-se que
exista um núcleo sólido.

12 • capítulo 1
ATENÇÃO CURIOSIDADE
Na superfície estão os continentes e oceanos, formados da interação das rochas Rochas
com a água, os minerais e outros componentes essenciais na superfície da crosta
terrestre.

Dada a importância das rochas na estrutura da Terra e na conforma-


ção da sua superfície, justifica-se plenamente seu estudo mais detalha-
do. A litologia é o estudo da origem e natureza das rochas. Portanto, os
parâmetros litológicos são todos aqueles envolvidos nestes processos.

Os componentes das rochas são princi-


Mineral palmente os minerais, podendo também
ser constituídas pelos chamados mine-
Mineral é um elemento raloides, como vidro vulcânico, carvão
ou composto químico Os minerais em geral são ou outro composto orgânico.
homogêneo encontrado sólidos. Somente a água
naturalmente na crosta
e o mercúrio são líquidos
terrestre, resultante de
processos inorgânicos,
nas condições normais de
de composição química pressão e de temperatura.
definida e de estrutura interna característica, manifestada na sua forma
exterior e nas suas propriedades físicas.
As propriedades dos minerais estão reunidas em duas categorias:

GERAIS ESPECIAIS

As propriedades gerais são As propriedades especiais são


aquelas que podem ser obser- aquelas encontradas em alguns
vadas em todos os minerais minerais (clivagem, fratura, sabor,
(estrutura, forma cristalina, cor, magnetismo, dupla refração, tato,
brilho, dureza, peso específico e luminescência, polimorfismo e
traço ou risco). isomorfismo).

CURIOSIDADE
As formações rochosas constituídas de minerais po-
dem aflorar na superfície. Em algumas rochas podem
ser observadas características gerais e especiais dos
minerais presentes na formação (como cor e fratura)
com mais definição.

capítulo 1 • 13
Identificação dos minerais
Os minerais podem ser identificados através de análises químicas. Entretanto, outro meio
mais simples e rápido, e também eficaz, é empregar as propriedades dos minerais como
base para a sua identificação.

RESUMO
O primeiro passo para identificar os minerais é se familiarizar com as várias propriedades físicas que indi-
vidualmente ou coletivamente caracterizam uma espécie mineral. Portanto, as propriedades dos minerais,
são também utilizadas como chave de identificação dos minerais comuns.

Rocha
Por definição a rocha é um agregado natural formado por um ou mais minerais. De acordo
com sua origem, distinguem-se três grandes grupos de rochas: sedimentares; rochas mag-
máticas ou ígneas; e rochas metamórficas.

O Ciclo das Rochas, representado no esquema abaixo, estabelece a história da formação das
rochas ígneas, sedimentares e metamórficas. Mostra o relacionamento genético que existe entre
elas e as fontes de rochas primárias e secundárias que compõem a crosta terrestre. Esta sequên-
cia complexa e heterogênea, que se repete continuamente, envolve: erosão, deposição, litificação
ou diagênese, metamorfismo, fusão, intrusão e vulcanismo.

ROCHAS
ção Alte
idifica MAGMÁTICAS raç
ão
Sol
Arrefecimento Intemperismo ou
e Cristalização Meteorização, Erosão,
Transporte e
Sedimentação
MAGMA SEDIMENTOS

Temperatura Compactação
Diagên

e Pressão e Climentação
Fusão

ese

ROCHAS Temperatura ROCHAS


METAMÓRFICAS e Pressão SEDIMENTARES

M e t a m o rfis m o

Ciclo das rochas — Modificado de Ernest, 1969.

14 • capítulo 1
Rochas sedimentares CURIOSIDADE
As rochas sedimentares são formadas a partir da deposição do material
fragmentado, proveniente de qualquer tipo de rocha ou material, em di- Diagênese
versos ambientes de sedimentação da superfície terrestre. A diagênese é composta principalmen-
Um processo denominado diagênese (mostrado no esquema ante- te pela compactação mecânica e pela
rior), é responsável pela formação das rochas sedimentares. cimentação promovida por compostos
Os sedimentos são classificados em: minerais como quartzo, calcita, pirita e
argilominerais.
SEDIMENTOS CLÁSTICOS OU MECÂNICOS

São formados através da deposição de fragmentos de rochas preexisten-


Cloreto de Sódio
tes. Distinguem-se os sedimentos:

O sal de cozinha é o
Constituídos por grãos do tamanho entre argila e
MICROCLÁSTICOS exemplo mais comum de
silte (de 0,002 a 0,02 mm de diâmetro).
precipitado, formando
cristais de NaCl.
MESOCLÁSTICOS Constituídos basicamente de areia (entre 0,02 e 2,00 mm).

São cascalho, conglomerado e brecha, constituídos por


MACROCLÁSTICOS grão de seixo, calhau e bloco ou matacão (> 2,00 mm).

SEDIMENTOS NÃO CLÁSTICOS

São formados através da precipitação química. Segundo Menezes


(2013), a matéria que está dissolvida na água pode ser removida por
dois meios principais:

Tornando-se um precipitado químico ou inorgânico


POR PROCESSOS de cloreto de sódio (NaCl), sulfato de cálcio
QUÍMICOS
(CaSO4), carbonato de cálcio (CaCO3) ou compos-
INORGÂNICOS
tos de fósforo, bário, manganês e ferro.

Tornando-se um precipitado orgânico ou biogênico


POR AÇÃO DE com extração de SiO2, CaCO3, e P para suportes e
PLANTAS E
estruturas protetoras de animais aquáticos (ossos,
ANIMAIS
conchas e dentes).

Rochas magmáticas ou ígneas


As rochas magmáticas surgem da conso-
lidação do magma e através do resfria-
mento das lavas vulcânicas. Constitui-se
de uma mistura complexa de substân-
cias no estado de fusão, que se trans-
forma em rochas magmáticas ou ígneas
pelo resfriamento.

capítulo 1 • 15
a)  Rochas magmáticas Intrusivas, plutônicas ou abissais:
São formadas no interior da crosta terrestre. O magma, ao penetrar na crosta terrestre, não con-
segue rompê-la ficando retido e consolidando-se no seu interior. O resfriamento do magma, neste
caso, é lento e a textura é equigranular.

b)  Rochas magmáticas extrusivas, vulcânicas ou eusivas:


São formadas através da consolidação do magma, no estado gasoso, líquido ou sólido, na superfí-
cie terrestre. O resfriamento do material, neste caso, é rápido e a textura é vítrea. Os corpos mag-
máticos extrusivos ou vulcânicos são representados pelos derrames de lavas, cinzas e materiais
piroclásticos expelidos pelos vulcões.

Rochas metamórficas
São originadas pela transformação, em estado sólido, das rochas preexistentes devido às
novas condições de temperatura e pressão, presença de agentes voláteis ou fortes atritos.
As rochas metamórficas dividem-se em três subgrupos:

ROCHAS FORMADAS PELO METAMORFISMO REGIONAL

São extensas massas rochosas, que foram submetidas a determinadas condições de temperatu-
ra (200ºC a 1.000ºC) e pressão (100 atm a 10.000 atm). Podem ser de baixo, médio e alto
metamorfismo.

ROCHAS FORMADAS PELO METAMORFISMO DE DESLOCAMENTO

Conjunto de rochas formadas em zonas de deformação, por falhamento ou dobramento, da crosta


terrestre. As rochas produzidas nessas condições apresentam estruturas cataclásticas ou miloníticas.

ROCHAS FORMADAS PELO METAMORFISMO DE CONTATO

O metamorfismo de contato termal ou hidrotermal, entre o magma e a rocha encaixante, provoca


a formação de novos conjuntos de rochas. No metamorfismo de contato termal a rocha se
cristaliza e se transforma em mármore. No metamorfismo hidrotermal, soluções voláteis migram
ao longo de fraturas ou vazios e geram veios ou filões, geralmente mineralizados, no interior da
rocha encaixante.

ATENÇÃO
Em função do tipo de textura, as rochas metamórficas podem ser classificadas, segundo Pearl (1966),
como: foliada (gnaisse, xisto, filito e ardósia) e maciça (granulito, quartzito, mármore, dolomita-mármore,
hornfel, antracito e serpentinito).

16 • capítulo 1
Estratigrafia
É o estudo do posicionamento das rochas, sua sequência no tempo e correlação das cama-
das em diferentes localidades. Estas informações permitem o desenvolvimento da recons-
tituição da história da Terra.

EXEMPLO

Estratificação no afloramento de rochas, origem do


termo estratigrafia.

Discordância
A discordância, sob o ponto de vista estratigráfico, pode ser definida como uma superfície
que separa rochas formadas em diferentes épocas geológicas, ou seja, onde tiver ocorrido
um lapso de tempo entre a formação de camadas adjacentes.

Os tipos de discordâncias são diferenciados na imagem abaixo:

A B C

A) discordância angular: as rochas mais antigas inclinadas formam ângulo com as rochas mais
modernas horizontais;

B) discordância paralela: as rochas mais antigas são separadas pela superfície discordante, das
camadas mais jovens sobrejacentes, permanecendo o paralelismo entre elas;

C) discordância erosiva: as rochas sedimentares repousam sobre rochas cristalinas muito mais
antigas apresentando-se uma descontinuidade estratigráfica.

capítulo 1 • 17
Parâmetros estruturais
Qualquer tipo de rocha possui uma estrutura característica de sua gênese e das condições
físicas, químicas e físico-químicas do ambiente em que foi formada.
As rochas sedimentares apresentam-se, na maioria das vezes, dispostas em camadas
horizontais ou sub-horizontais, e a estratificação é caracterizada pelas condições de depo-
sição, ou seja, profundidade, correnteza, influência biológica etc.

ATENÇÃO
As rochas magmáticas possuem suas estruturas de acordo com o conteúdo de voláteis, composição quí-
mica, temperatura e viscosidade do magma, principalmente. As rochas metamórficas possuem estruturas
relacionadas à temperatura, pressão ou ambos conjugados, do ambiente em que se formou.
Uma vez formada, a rocha pode sofrer mudanças nas condições iniciais e adquirir novas características
dando origem às estruturas não perturbadas e perturbadas.

Estruturas não perturbadas


São estruturas típicas das rochas sedimentares que se formam geralmente em estratos hori-
zontais ou sub-horizontais, contudo, em alguns casos, não se verifica essa horizontalidade.

Nos cones ou leques aluviais próximos às regiões montanhosas, as camadas são inclinadas na sua
origem e os sedimentos obedecem à inclinação do terreno.

No ambiente deltaico três tipos de camadas são depositados em ângulos diferentes: ca-
madas inclinadas frontais (foreset) entre camadas horizontais de topo (topset) e de fundo
(bottomset). Nas camadas arenosas depositadas em ambiente fluvial é frequente a estratifi-
cação cruzada. As estruturas das dunas (fixas ou móveis) são adquiridas durante o processo
de deposição eólica (como na imagem abaixo).

A C G H I
Topset Vento Sotavento
D E to
rlaven
Ba
1. Duna fixa
B Foreset

F
Bottomset 2. Duna móvel

Exemplo de estruturas não perturbadas: A) camada horizontal; B) camada sub-horizontal; C) elúvio,


D) colúvio; E) alúvio; F) cone ou leque aluvial; G) depósito deltaico; H) estruturas das dunas: 1) duna fixa
e 2) duna móvel; e I) estratificação cruzada.

18 • capítulo 1
Estruturas Perturbadas CURIOSIDADE
As estruturas perturbadas podem ser atectônicas ou tectônicas.
Atectônicas ou Tectônicas
I. Perturbações Atectônicas
São perturbações locais de pequena amplitude, que afetam pequenas
áreas, causadas frequentemente pela força da gravidade, localizadas ge-
ralmente na superfície ou nas suas proximidades, comumente manifes-
tadas sob a forma de dobramentos de parte do pacote rochoso, confor-
me indicado pelo esquema abaixo.
A B B C D
Estes termos são devidos à existência
das placas tectônicas, que são enormes
blocos que formam uma sólida camada
externa no nosso planeta e são respon-
A)  empurrão provocado pelas geleiras que se deslocam por sobre sedimentos ainda não sáveis pela sustentação de continentes
totalmente consolidados; B)  escorregamento de sedimentos inconsolidados, depositados e oceanos.
em um substrato inclinado, provocado pela perda de equilíbrio por excesso de peso, maior Impulsionadas pelo movimento do
fluidez ou abalos sísmicos; C)  dobramento das camadas pela “intrusão” de domos salinos magma incandescente, as placas tec-
que tendem ocupar um nível superior na estratificação por ser, o cloreto de sódio, mais den- tônicas se movimentam muito lenta-
so que as rochas superiores ou sobrejacentes; D)  encurvamento de camadas depositadas mente. Quando elas se encontram,
sobre regiões escarpadas que sofrem efeito de arqueamento dos estratos sobrepostos por uma enorme quantidade de energia
um processo de compactação e consequente moldagem no relevo subjacente. é acumulada, sendo liberada através
de terremotos. A presença de fendas
II. Perturbações tectônicas pode dar origem a vulcões.
Entre os movimentos tectônicos distinguem-se dois tipos: epirogênese
e orogênese.

a)  Epirogênese: caracteriza-se pela movimentação vertical lenta de


vastas áreas continentais, ora se levantando ora se abaixando, sem
alterar a disposição e a estrutura geral das rochas da crosta terrestre,
entretanto, podem dobrar-se suavemente (grandes arqueamentos) ou
sofrer um ou mais sistemas de fraturas ou falhas, através dos quais se
verifica ou não tal movimentação.

EXEMPLO
Evidências indiretas podem ser observadas quando o mar recua (regressão), expon-
do áreas anteriormente submersas, em consequência do abaixamento do nível do
mar ou levantamento do continente, ou quando o mar avança (transgressão), cobrin-
do áreas continentais, em consequência da subida do continente.
Uma maneira fácil de observar o processo de regressão e transgressão é através da ação
de um tsunami sobre o litoral marinho. A retenção da água pelas geleiras acarreta um
abaixamento do nível do mar e a sua liberação pelo degelo produz uma sensível elevação
do nível do mar. Esse fenômeno é de pura eustasia não de movimentação epirogênica.

capítulo 1 • 19
Durante o processo de movimentação. A crosta terrestre tende a assumir permanentemen-
te a condição de equilíbrio isostático, isto é, de compensação de pressões. A isostasia é,
portanto, uma condição de equilíbrio, que se realiza entre diversas partes da crosta terres-
tre, que pode ser rompida:

•  quando se dá a formação de uma cadeia de montanhas;


•  quando a erosão for muito vigorosa causando degradação da superfície; e
•  quando um reaquecimento fizer fundir uma calota glacial.

O equilíbrio isostático entre bacias oceânicas e camadas da crosta terrestre continental


(planícies e montanhas) está ilustrado na imagem abaixo.

BACIAS OCEÂNICAS MONTANHAS PLANÍCIES


Km Km
Nível do mar
0 4x1 = 4,0 0
8x2,8 = 24,4 Crosta 61x2,8 = 170,8 35x2,8 = 98,0
20 20

40 MOHO 40

60 88x3,3 = 290,4 Manto Superior 44x3,3 = 145,2 66x3,3 = 217,8 60

80 80

100 100
Peso Total = 316,8 316,0 315,8

Exemplo esquemático de equilíbrio isostático (Menezes, 1983). Os traços verticais representam colunas
de 1 cm² estendendo-se até a profundidade arbitrária de 100 km abaixo do nível do mar. Os números,
dentro da coluna, são as espessuras de cada camada em quilômetro. À direita ou à esquerda de cada co-
luna está o cálculo do peso partes da coluna. O peso de cada parte está mostrado em unidade de 10 g. Os
pesos totais de cada coluna estão próximos, sendo iguais a 3,168 x 10g para a coluna oceânica; 3,160 x
10 g para as montanhas; e 3,158 x 10 g para as planícies. Então, estas medidas sendo muito próximas, a
estrutura crustal mostrada está em equilíbrio isostático.

b)  Orogênese: é definida por um conjunto de fenômenos que levam à formação de monta-
nhas. É caracterizado, principalmente, por intensos dobramentos, falhamentos ou a com-
binação de ambos.

EXEMPLO
Quando uma rocha é submetida a um esforço qualquer, dependendo da intensidade, da sua duração e da
plasticidade da rocha esta mudará de volume, de forma ou de ambos. A plasticidade de uma rocha aumenta
com a profundidade. As rochas calcárias e argilosas deformam facilmente sem romper-se, isto é, se não
ultrapassar o limite de plasticidade. Os arenitos e quartzitos são menos plásticos e se rompem facilmente.

20 • capítulo 1
Fenômenos geológicos
Os fenômenos geológicos provocados por ruptura e deformação das rochas são:

FALHA

Quando a rocha se rompe deslocando-se as partes (rejeito), ao longo do plano da falha. A Figura A
ilustra alguns tipos de falhas.

DIÁCLASE (FRATURA)

São planos de fraqueza que tendem separar uma rocha em duas partes, ao longo das quais não se
deu nenhum deslocamento.

XISTOSIDADE, FOLIAÇÃO, CLIVAGEM

É a propriedade de certas rochas de se partirem em fatias ou lâminas paralelas ou subparalelas e


que sejam também superfície de orientação mineralógica.

DOBRA

É a deformação de uma rocha provocada pela intensidade, duração e ângulo de incidência de


esforço (pressão). A Figura B ilustra alguns tipos conhecidos de dobras.

a)  Elementos e tipos de falhas mais comuns

b)  Elementos e tipos de dobras mais comuns

capítulo 1 • 21
Ambientes geotectônicos
O processo geotectônico é o principal responsável pela formação das rochas e da maioria
das feições estruturais da crosta terrestre. É o responsável pelas sucessivas deformações e,
em alguns casos, metamorfismo, soerguimento e erosão.

ATENÇÃO
O comportamento das ondas sísmicas mostra claramente que o interior da Terra é zonado. Quando passam
de uma zona para a outra, as ondas mudam de velocidade de acordo com a natureza do material que a
constitui. Estas ondas são também refletidas nos limites entre as zonas. Em vista disto, são conhecidas
duas grandes quebras abruptas na velocidade das ondas sísmicas chamadas de descontinuidade (como
ilustrado na imagem abaixo): descontinuidade de Moho e descontinuidade de Wiechert-Gutemberg.

A crosta terrestre, camada mais externa da Terra, é a parte superior da litosfera e, mais
conhecida. Ela é composta principalmente pelas rochas sólidas que se estendem até a des-
continuidade de Moho.

Representação esquemática da descontinuidade de Moho e descontinuidade de Wiechert-Gutemberg.


Evidências de um interior terrestre variável e virtualmente zonado.

Origem da crosta terrestre

O tempo geológico pode ser representado como uma linha do tempo do presente até a formação
da Terra, subdividido em éons, eras, períodos, épocas e idades, que se baseiam nos grandes even-
tos geológicos da história do planeta.

A tabela abaixo mostra a taxa de crescimento da crosta continental ao longo do tempo


geológico, representado ao longo de 4,2 Ga (1 Giga ano = 1 bilhão de anos). Pode-se notar
que o tempo geológico é dividido em éons (Fanerozoico, Proterozoico, Arqueano e Hade-

22 • capítulo 1
ano) e que por sua vez são subdivididos em eras que ainda podem ser CURIOSIDADE
mais uma vez divididas em períodos.
Placas litosféricas
Os limites entre placas litosféricas fo-
ram definidos por Wilson (1965) como
sendo do tipo: (1) extensional (“cons-
trutivo” ou “divergente”); (2) compres-
sional (“destrutivo” ou “convergente”;
(3) strike-slip (“conservativo”, “trans-
formante” ou “de rejeito direcional”).
Estes limites formam uma rede inter-
Taxa de crescimento da crosta continental (dissensões) no tempo geológico e curva conectada em torno do Planeta, sobre
demonstrativa da perda de calor interno da Terra relacionada com a produção da os quais ocorrem, segundo Isacks et al
crosta continental no tempo geológico. (1968), 95% do total das atividades
sísmicas da Terra. Em cada um destes
COMENTÁRIO ambientes tectônicos podem desenvol-
ver terremoto, vulcanismo, plutonismo,
O mecanismo que permitiu o crescimento lateral (acresção) e o espessamento va- sedimentação, metamorfismo e defor-
riou e continua contribuindo para a formação da crosta. O crescimento da crosta mação. (SYLVESTER, 1988).
continental (acresção lateral, principalmente), teve o seu clímax no Arqueano.
Entre 60 e 80% da crosta continental já estava formada até 2,5 Ga, no final do
Arqueano e decresceu substancialmente com o tempo geológico. Cerca de 20%
foi formada entre 2,5 a 0,6 Ga, no Proterozoico. Aproximadamente 10% da crosta
continental foi formada entre 0,6 a 0,0 Ga, no Fanerozoico, nos ciclos Caledoniano,
Hercínico e Andino-Alpino. As curvas de crescimento da crosta continental demar-
cam também a perda do calor interno (fluxo térmico) do Planeta durante o tempo
geológico, conforme verificada no esquema acima.

A teoria da tectônica de placas


A tectônica de placas é a teoria que envolve a litosfera terrestre, consti-
tuída comumente pela crosta e o manto superior, limitada pela zona de
baixa velocidade sísmica, em torno de 1330°C (superfície isotérmica) na
superfície da astenosfera.

A litosfera é a camada mais rígida e fria da Terra. Ela é subdividida por um


número finito de placas que sofrem constantes deformações.

As placas são apenas peças ou fragmentos, de diversos tamanhos,


mais ou menos contínuos da litosfera. A próxima imagem mostra as
placas litosféricas, constituídas de litosfera continental ou oceânica,
ou continental e oceânica.

capítulo 1 • 23
NORTE-AMERICANA

EURASIÁTICA EURASIÁTICA

NORTE-
AMERICANA
CARIBE
COCOS
PACÍFICA

NAZCA
SUL-
AMERICANA AFRICANA
ÍNDICA
ANTÁRTICA
ANTÁRTICA

Distribuição das grandes placas litosféricas: 1) margem de placa divergente; 2) margem de pla-
ca transformante; 3)  margem de placa convergente; 4)  margem de natureza e localização incerta;
5)  movimento relativo de placa; 6)  área de incidência de terremoto e vulcanismo atual.

Parâmetros geomorfológicos
As formas do relevo resultam da integração temporal entre os processos atmosféricos (in-
temperismo) e erosivos e as diferentes litologias, estratigrafias e estruturas da crosta ter-
restre, consequentemente expressam as características da subsuperfície e suas eventuais
anomalias.

Processos
X X Agentes de Intemperismo
Estágios
Atmosfera
Z Superfície → Forma de Relevo
Y
Crosta Terrestre Y Litologias, Estruturas e Estratigrafias

Algumas formas de relevo ajustadas ao processo e estágio de integração entre a atmosfera e crosta terrestre.

24 • capítulo 1
CONCEITO
O intemperismo é um fenômeno importante que atua na superfície da crosta terrestre. Constitui um con-
junto de processos que ocasionam a decomposição dos minerais e rochas, graças à ação dos agentes
atmosféricos, físicos e biológicos.

A variação do volume dos corpos rochosos, causada pela temperatura, cristalização dos sais
(fenômeno de eflorescência) e a congelação, são processos de desintegração física dos mi-
nerais das rochas.

Na decomposição química, o nitrogênio atmosférico, a descarga elétrica e o oxigênio do ar,


formam o ácido nitroso de ação corrosiva que, ao infiltrar-se no solo, dissolve e carrega diversas
substâncias também ativas no intemperismo químico.
A decomposição químico-biológica é supostamente o processo que inicia o intemperismo, pois
a rocha exposta submetida à ação de bactérias e fungos, leva à proliferação de líquens e posterior-
mente algas e musgos, responsáveis pela produção de uma delgada camada de solo onde fixarão
as plantas superiores ou mais desenvolvidas.

Os efeitos do aumento da intensidade do intemperismo levam à abundância relativa


de certos minerais e à formação de solos residuais; depósitos coluviais; depósitos de talus;
campos de blocos ou lascas; depósitos aluviais; entre outras feições geoambientais superfi-
ciais, como: cicatriz, ravina e linha de fluxo.

A B C D

E F G

Feições superficiais associadas à geometria do relevo: A)  solo residual; B)  depósito coluviais; C) depósi-
to de talús; D)  campo de blocos ou lascas; E)  depósito aluvial; F)  cicatriz; e G)  linha de fluxo.

capítulo 1 • 25
Parâmetros hidrogeológicos
Os sistemas aquáticos serão abordados com mais profundidade no capítulo iv deste livro. En-
tretanto, os parâmetros hidrogeológicos são importantes para o entendimento da geologia.

CURIOSIDADE
O ciclo da água na crosta terrestre e na atmosfera é bastante complexo. A energia necessária para acionar
este ciclo provém do calor solar. Uma molécula de água saindo da superfície terrestre pode tomar diversos
rumos até voltar à sua origem, este é o chamado Ciclo Hidrológico.

Atmosfera
0,0001% de toda água
Vento Sol

Evaporação Precipitação Geleiras


Escorrimento superficial 2,25 de toda
Rios e Lagos = 0,01% de água total água
Crosta Infiltração Mar – 97% de toda água Escoamento
Terrestre Água subterrânea Superficial
0,75 de toda água Sedimentos Abissais

Esquema do ciclo hidrológico

Água subterrânea
Fatores que controlam o suprimento e a movimentação das águas subterrâneas:

a)  Permeabilidade das rochas — é função do grau de compactação, faturamento, granulome-


tria, estrutura e litologia;
b)  Relevo — o relevo plano proporciona a infiltração da água e o suprimento do lençol freático,
enquanto que, o montanhoso, o escorrimento superficial;
c)  Vegetação — a presença da vegetação na superfície é função do clima, solo, litologia e pluvio-
sidade (precipitação pluviométrica).

Nível hidrostático
A localização do nível hidrostático depende do atrito da água às partículas rochosas, da
permeabilidade do terreno e da sazonalidade climática. Observe o gráfico abaixo:
Altitude

Superfície
Zona Subsaturada

Rio Zona Saturada

Nível Hidrostático

26 • capítulo 1
Águas continentais de superfície
As águas correntes que brotam das fontes, mais as águas da chuva que escoam pela super-
fície formam pequenos córregos que se juntam, dando origem aos rios.

COMENTÁRIO
A configuração de um rio e a sua velocidade dependem de diversos fatores: topografia, regime pluviomé-
trico, constituição litológica e estágio erosivo.

•  O curso superior de um rio, na sua fase juvenil, caracteriza-se pelo excesso de energia e
franca ação erosiva e transportadora.
•  No seu curso médio, na fase madura ou intermediária, graças à menor declividade,
diminui o poder transportador depositando os fragmentos maiores.
•  Na fase senil verifica-se um acentuado alargamento do leito, formação de extensas
planícies e forte poder de deposição e erosão lateral.
Estas fases são representadas pela imagem abaixo.

Fase Fase Fase


Juvenil Madura Senil

Eixo do Rio

Sedimentos finos
Esquema do perfil, fases e eixo de um rio.

ATENÇÃO
Quando a corrente principal das águas de um rio, dependendo do movimento da corrente e do tipo de forma-
ção do fundo, descreve um percurso simétrico ou assimétrico em relação às margens denominado eixo do rio.

Densidade de drenagem
A densidade de drenagem correlaciona o comprimento acumulado dos canais de drena-
gem, por unidade de área, em uma bacia hidrográfica, expressa pela fórmula:

Dd = L/A

•  Dd é a densidade de drenagem;
•  L o comprimento total dos canais de drenagem ou rios, perenes ou não;
•  A área de tamanho padrão médio por unidade de área.

capítulo 1 • 27
COMENTÁRIO Padrão de drenagem
O padrão de drenagem é o desenho formado pelo arranjo e disposição
Básico e Básico modificado dos canais de drenagem ou rios em uma área particular.
De acordo com Zernitz (1932), o pa- As variações de padrões de drenagem são substanciais e, geralmente,
drão de drenagem básico apresenta são subdivididos em padrões de drenagem básico e básico modificado.
características próprias que distin-
guem de outros padrões básicos e o Influência da maré
padrão de drenagem básico modifi- A maré se caracteriza pela subida e descida periódica do nível mari-
cado apresenta alguma mudança em nho e de outros corpos de água ligadas aos oceanos, causadas principal-
seu aspecto original. mente pela atração do sol a da lua.

EXEMPLO
MARÉ ALTA MARÉ BAIXA

Interflúvio, divisor de águas ou linha de cumiada


Local de maior elevação do relevo, formada pela erosão causada pe-
las águas superficiais, representada por uma linha que separa bacias
hidrográficas.

Bacia e sub-bacia hidrográfica


Refere-se às unidades e subunidades individuais, em níveis de represen-
tação distintas, da rede de drenagem.

Relação solo e relevo


Solo é um corpo natural formado
por um conjunto de substâncias
originadas pela ação integrada do
clima e organismos que agem so-
bre a superfície e está condiciona-
do ao relevo, tempo, mecanismos
e processos de formação.
O solo possui propriedades in-
ternas distintas definidas pelos horizontes superior (processos pedoge-
néticos atuantes) e inferior (processos pedogenéticos são muito reduzi-
dos ou guardam as características da rocha originária).

28 • capítulo 1
ATENÇÃO
As condições atmosféricas (regime de chuvas, radiação solar, temperatura, umidade), declividade do terre-
no (formas de relevo) e cobertura vegetal, interferem diretamente na natureza do solo.

Condicionantes genéticos do solo


A formação do solo está condicionada a fatores, mecanismos e processos.

Fatores de formação do solo


A formação do solo está relacionada à ação integrada do clima, organismos, material origi-
nário, relevo e tempo (Jenny, 1941) que provocam o intemperismo da rocha matriz.
A ação contínua desses fatores sobre o material originário produz partículas do solo
cada vez menores. Na tabela i, estão descritas resumidamente a função de cada fator con-
tribuinte para a formação do solo.

Através da temperatura, precipitação e umidade o clima influencia direta-


CLIMA mente no intemperismo das rochas produzindo solos e a natureza dos
horizontes.

Ação dos microrganismos vegetais e animais na decomposição e transfor-


ORGANISMO mação de resíduos orgânicos em sais minerais, proliferação de plantas.

Refere-se ao material originário não consolidado transformado em saprolito


MATERIAL
resultante do intemperismo da rocha subjacente do local ou transportada de
ORIGINÁRIO outras áreas.

A configuração da superfície terrestre interfere no desenvolvimento dos


RELEVO solos, influência da dinâmica da água, erosão, microclima e na temperatu-
ra do solo.

O tempo é necessário para a maturidade dos horizontes de solo. A


TEMPO evolução da maturidade de um solo é avaliada em função do grau de
desenvolvimento e concentração de minerais primários e secundários.

TABELA I: Descrição resumida dos fatores de formação do solo

Mecanismos de formação do solo


Os mecanismos atuantes na formação do solo é função de certas combinações de eventos
pedogenéticos responsáveis pela origem, caracterização, distribuição e diferenciação dos
horizontes.
As principais fases e mecanismos atuantes na formação dos solos estão descritos resu-
midamente na tabela ii.

capítulo 1 • 29
CURIOSIDADE MECANISMOS DESCRIÇÃO
O mecanismo de formação do solo está subordinado
Processo de formação do solo
por duas fases distintas:
Esse processo, também conhecido a) Desintegração e decomposição das rochas
como pedogênese, atua em condições (intemperismo geológico), produção e acumulação de
ambientais específicas, originam solos
FASES componentes minerais do material originário;
com características bem definidas, leva b) Incorporação e decomposição de organismos e
a formação de distintos horizontes e transformação do material inicial em horizontes do perfil
de solo.
serve de parâmetro para a sua identi-
ficação e classificação.
A diferenciação dos horizontes é função dos mecanis-
mos de formação do perfil de solo, como:
a) Adição: incorporação de material orgânico, antrópi-
co, eólico e água ao solo. Próprio do horizonte A;
b) Remoção: lixiviação de silício e bases, erosão etc.
Próprio do horizonte A;
MECANISMOS c) Transformação: formação de minerais secundários,
decomposição da matéria orgânica e transformação em
húmus e a areia em silte. Próprio do horizonte B;
d) Translocação: movimento de matéria orgânica, argila
silicatada e óxidos de um horizonte para outro. Próprio
do horizonte C.

TABELA II: Descrição resumida dos mecanismos de formação do solo

O processo de formação do solo engloba o intemperismo que trans-


formam a rocha matriz e seus minerais em solo.
Os principais processos específicos atuantes na pedogênese estão
descritos resumidamente na TABELA III.

PROCESSOS DESCRIÇÃO

Processo que leva ao envelhecimento do solo. As


principais características:
a) Remoção de sílica (SiO2) e de bases (Ca, Mg, K) e
LATOSSOLIZAÇÃO enriquecimento com óxidos de ferro e alumínio;
b) Baixo teor de minerais primários;
c) Pequena diferenciação entre horizontes;
d) Formação de solos ácidos.

Processo dominante de translocação de matéria


orgânica e óxido de ferro e alumínio do horizonte A para
o B. Os solos podzolizados:
a) Têm horizontes bem diferenciados, provocados
PODZOLIZAÇÃO pela translocação;
b) Com B podzol são muito pobres e a vegetação
decomposta, dá ao solo grande acidez;
c) Com B textural são mais férteis do que os com B podzol,
apresentam mais argila no horizonte B que no horizonte A.

30 • capítulo 1
PROCESSOS DESCRIÇÃO

Translocação e adição de carbonato de cálcio secundário de um horizonte


para outro:
CALCIFICAÇÃO a) Origina solos bem estruturados;
b) Solos com alta fertilidade natural.

Adição de sais solúveis de um horizonte a outro em um perfil de solo, como:


A – Salinização primária: ocorre naturalmente devido a elevada evapotranspi-
ração.
a) Ocorre em regiões onde a evapotranspiração supera a precipitação
pluviométrica;
SALINIZAÇÃO b) Presença de minerais facilmente intemperizáveis.

B – Salinização secundária: ação antrópica.


a) Irrigação inadequada (Uso de água de má qualidade, sistemas ineficientes
e ascensão capilar);
b) Uso inadequado de fertilizantes.

Processo de remoção dos agentes pigmentantes do solo, como: ferro


oxidado e manganês. Comum em solos hidromórficos (desenvolvidos em
função da influência do lençol freático):
GLEIZAÇÃO a) O Fe e Mn podem ser aleatoriamente reprecipitados;
b) Formação de nódulos de Mn, concreções concêntricas de nódulos e
mosqueados.

TABELA III: Descrição resumida dos processos de formação do solo

Horizontes do solo

A definição dos horizontes está baseada no grau de diferenciação com relação ao material paren-
tal, na posição que ocupa no perfil e nos fatores, mecanismos e processos que originaram suas
principais características.

Assim sendo, o perfil de um solo exibe, basicamente, os seguintes horizontes:

HORIZONTE O
HORIZONTE A
QUE REPRESENTA A ROCHA
HORIZONTE B INALTERADA OU SÃ.
HORIZONTE C
HORIZONTE R

capítulo 1 • 31
Horizonte O
É o horizonte mais superficial do solo no qual há uma mistura de materiais minerais e orgâ-
nicos e reservatório de nutrientes produzidos por processos de humificação e a sua espes-
sura depende das condições climáticas, da cobertura vegetal e do relevo.

Horizonte A
É um horizonte mineral imediatamente abaixo do horizonte O. É o horizonte do solo em
que há a máxima atividade biológica e que está mais sujeito às variações de temperatura e
umidade. Constitui-se em uma zona de eluviação caracterizada pela menor concentração
de argilo-mineral, ferro, alumínio e minerais resistentes.

Horizonte B
Localiza-se imediatamente abaixo do horizonte A. Representa a zona de iluviação em que há
concentração de argila, sesquióxido de ferro e alumínio e apresenta desenvolvimento estru-
tural diferente dos horizontes A e C. Os horizontes A e B representam o verdadeiro solo.

Horizonte C
É representado pela camada de rocha originária, com pouca ou nenhuma ação biológica
e com características físicas, químicas, estratigráficas e mineralógicas presumivelmente
iguais às da rocha matriz do horizonte R.

Horizonte R
A resistência da rocha depende das condições ambientais e das características e proprie-
dades da rocha matriz. A presença de estruturas internas como: falhas, fraturas, diaclases,
dobras, posição dos estratos e os tipos de litológicos caracterizam o corpo rochoso e tam-
bém o horizonte R.

Tipos de solos
A classificação geológica genética dos solos, especialmente para os tropicais, é feita a partir
da rocha de origem e dos fatores, mecanismos e processos de formação, dando origem aos
solos residuais e transportados.

Solos residuais
Recebem o nome de solos residuais ou in situ por terem sido formados no mesmo local em
que se encontram.

Solos transportados
Provenientes da erosão, transporte e deposição de matérias existentes na superfície, produ-
zindo os chamados solos transportados, como:

a) Aluvião: é constituído por depósitos de material erodido, transportado e retrabalhado pelos


cursos de água e depositados em seus leitos e margens;

32 • capítulo 1
COMENTÁRIO
b) Coluvião: é constituído por depósitos de material solto, depositados pela
ação da gravidade, encontrado nos sopés das encostas ou vertentes; Nas partes mais altas, convexas ou
c) Talús: é formado pelo material decomposto depositado por gravidade relativamente planas, os solos apre-
nas encostas íngremes com predominância de blocos ou lascas de rochas. sentam boa drenagem interna. Nas en-
costas íngremes a drenagem externa é
boa, porém são solos mais secos, en-
quanto que nas mais baixas das várze-
Relação entre relevo e solo as ou depressões a presença da água
predomina no interior do solo. Desta
As condições fisiográficas específicas da paisagem influenciam basica- forma, a permanência da água na su-
mente nas condições hídricas, espessura do solo e teor de matéria or- perfície ou no interior do solo resulta
gânica. O gráfico abaixo mostra as características do solo relacionadas em solos bem drenados ou mal drena-
com o relevo e a sua posição na paisagem. dos, dependendo da flutuação do len-
çol freático e da permeabilidade.

Representação esquemática da influência do relevo na natureza do horizonte do


perfil do solo (Baseado em Schaetzl & Anderson, 2005).

Dinâmica da água no solo


Compreende a movimentação da água na superfície do terreno, a frequência
e o tempo em que o solo permanece saturado ou não com água subterrânea.

Espessura do solo e relevo


Os solos em relevos íngremes (ondulado a montanhoso) são mais rasos
com menor diferenciação entre os horizontes. O forte escoamento su-
perficial da água e a erosão favorecem a remoção total ou parcial do solo.
Nos solos localizados em relevos mais suaves (planos a sub-horizon-
tais) são mais profundos ou espessos e apresentam, em geral, horizon-
tes nitidamente diferenciados, diversificados e maduros.

Relevo e teor de matéria orgânica


Nas áreas de topografia elevada o horizonte orgânico-mineral mais es-
pesso com potencial elevado de matéria orgânica só é encontrado em
regiões onde a lenta mineralização do material orgânico é favorecido
pelo clima condicionado à altitude. Nas áreas planas, principalmente
nas várzeas, o acúmulo de matéria orgânica aumenta e o horizonte A é
mais espesso à medida que o lençol freático se eleva.

capítulo 1 • 33
Erosão, movimentos de massa, assoriamento e recalque

Erosão
É o processo de desagregação e remoção de partículas do solo ou de fragmentos de rochas,
pela ação combinada da gravidade com a água, vento, gelo, vegetação e ação antrópica. A
erosão é o desgaste na superfície terrestre, transporte e deposição de sedimentos nos leitos
dos cursos de água e depressões.
Os principais fatores que combinados podem vir a acelerar
o processo erosivo são: chuvas intensas ou constantes; au-
sência de cobertura vegetal; solos friáveis; alta declividade
da encosta; entre outros. Esses fatores podem ocorrer iso-
ladamente ou de forma combinada, podendo evoluir para
ravinamentos e voçorocas e, em alguns casos, para erosão
sub-superficial.

Os tipos de erosão mais atuantes, classificados con-


forme os seus princípios causadores e consequên-
cias, são:

Erosão fluvial
Por escorrerem sobre a superfície, as águas dos rios
erodem os materiais da superfície e os transportam
em direção ao mar. Quando perdem a sua força ero-
siva deixam depositados, em diversos lugares de suas margens, os sedimentos ou inundam
determinadas regiões planas ou deprimidas.

a) Delta: o delta tem lugar na desembocadura do rio junto às depressões ou zonas litorâne-
as. Nestes lugares, o delta deposita o material fino transportado pelo rio, sujeito à erosão fluvial,
marinha ou ambos, em forma de camadas. O extenso depósito de sedimentos adquire a forma
triangular da letra delta maiúscula resultante do equilíbrio entre a força da corrente do rio e am-
biente depositário. A formação de um delta depende: 1) da inexistência de correntes destrutivas
na desembocadura do rio; 2) do pequeno desnível entre maré alta e maré baixa; e 3) da presença
de cordões litorâneos junto à costa.
b) Inundação: geralmente acontece em períodos de chuvas intensas ou devido à influência do
degelo quando o rio aumenta o seu caudal de tal modo que as águas transpõem de forma gradual
ou violenta seu leito, provocando forte erosão, inundação e deposição de sedimentos nas depres-
sões do terreno.

34 • capítulo 1
Erosão eólica CURIOSIDADE
É o transporte aéreo ou rolamento de partículas sólidas retiradas do solo
pelo vento que resulta em um agente erosivo que, quando tocam o terre- Dunas
no provocam o seu desgaste, formam estruturas peculiares no relevo e Ao arrastar sedi-
produzem grandes depósitos de areias conhecidos como dunas. mentos por vastas
áreas, o vento pro-
ATENÇÃO voca o crescimento
na altura das dunas
Ocorrem frequentemente em regiões áridas, onde os ventos são fortes e tendem a podendo deslizar sobre a superfície e pro-
soprar em uma direção preferencial. duz, em função da sua mobilidade, as cha-
madas dunas móveis. As dunas antigas
que permanecem estáveis, estacionárias
Erosão glacial ou fixas, quando a vegetação ou algum ou-
Os glaciais são formados pelo acúmulo da neve. Atuam como importan- tro fator ou barreira impedem o vento de
tes agentes erosivos e modeladores da paisagem. São encontrados nas atuar e as deslocar, são chamadas, devido
regiões de médias a altas latitudes do planeta. a sua imobilidade, dunas fixas.
Quando extensas massas de gelo deslizam lentamente sobre a super- O perfil de uma duna é mais ou menos
fície, devido ao efeito da gravidade, erodem grande quantidade de ro- assimétrico dependendo da direção do
cha e carregam, através de um vale ou de uma ampla planície, o material vento. A vertente voltada para o fluxo
abrasivo da geleira que, depois, é depositado sobre rochas subjacentes do material eólico (barlavento) é sempre
na frente, no fundo ou nas laterais do canal glacial. menos inclinada e mais larga que a ver-
tente oposta (sotavento) que é menos
Erosão marinha larga e mais inclinada.

É a ação erosiva das águas do mar, dependente da configuração da mar-
gem litorânea, atividade das ondas, marés e corrente marinha, atuante
tanto em costa rasa como escarpada. CURIOSIDADE
A erosão marinha ou costeira dá lugar a formas do relevo litorâneo Massas de gelo que deslizam
características do ambiente marinho, principalmente na interface entre sobre a superfície
o mar e o continente, como: falésia, golfo, cabo, baía, enseada e estuário. À medida que um glacial desliza sobre
O material erodido pelas correntes marinhas, transportado de um a superfície, a erosão progressiva e si-
lugar e depositado em outro, é distribuído principalmente ao longo da multânea da rocha dá lugar à formação
costa litorânea e formam feições deposicionais, como: praia, restinga e de picos piramidais (horn) ao relevo e
cordões nas partes mais profundas do oceano. os vales tomam a forma de um “U”. O
a)  Formas de relevo costeiro perfil de uma duna é mais ou menos
assimétrico dependendo da direção do
Falésia marinha: é uma formação vento. A vertente voltada para o fluxo
litorânea, que significa: precipício do material eólico (barlavento) é sem-
ou alcantilado. De faces abruptas pre menos inclinada e mais larga que a
é formada pela ação erosiva das vertente oposta (sotavento) que é me-
ondas sobre as rochas. Quando o nos larga e mais inclinada.
processo de erosão é contínuo é Os fiordes (fjord), por exemplo, são
denominada falésia marinha viva rías ou vales glaciais litorâneos alon-
e quando cessa a erosão é denomi- gados, com vertentes muito inclinadas,
Falésia na Praia de Cotovelo (Rio Gran- nada falésia marinha morta. parcialmente inundados pelo mar.
de do Norte, Brasil)

capítulo 1 • 35
Golfo di Cofano (Sicília, Itália)
Golfo: é uma penetração em curva, mais ou menos ampla, do mar na costa, com profundi-
dade suficiente para atracar um navio.

Praia de Calhetas (Pernambuco, Brasil)


Cabo: arte da costa que se adentra ao mar ou lago mais extenso que uma península e menor
que um pontão.

36 • capítulo 1
Baía: é um golfo côncavo marinho ou lacustre, de dimensões reduzida e aberta, localizada
entre dois cabos ou promontórios, menor que um golfo e maior que uma enseada.

Enseada: é uma baía litorânea, aberta em forma de meia-lua, desenvolvida frequentemente


entre dois promontórios ou cabos.

Estuário do Tejo (Lisboa, Portugal)


Estuário: zona de desembocadura de um rio que adentra o mar. Os estuários são geologi-
camente transitórios que acabam preenchidos por depósitos de mangues, de deltas ou de
marés.
b) Feições deposicionais litorâneas
Praia: é a expressão do balanço en-
tre a erosão marinha e aporte de
sedimentos marinhos ou trazidos
pelos rios.
Restinga: é uma barreira de compo-
sição arenosa que especialmente fe-
cham lagunas costeiras com ligação
parcial com o mar aberto.
Cordão (crista praial): é uma fei-
ção costeira resultante do acúmulo
alongado, geralmente arenoso, cas-
Restinga localizada no Rio de Janeiro calhoso ou conchífero, paralela à
paleolinha praial.

capítulo 1 • 37
Tômbolo localizado em Eubeia (Grécia)

Tômbolo: é uma barra de sedimentos, situada acima do nível de maré alta, através do qual
uma ilha se une ao continente.

Movimentos de massa
Movimento de massa é um processo holístico de instabilidade que ocorre em encostas
naturais com declividades acentuadas e de formas variadas. Os principais movimentos de
massa são: escorregamento, rastejo, corridas de detritos e queda.

Escorregamento
As principais características do escorregamento são: movimentos rápidos da massa de solo
e/ou rocha, volume de massa definido e poucos planos de deslocamentos, ou seja, acontece
basicamente na mesma direção e podem ser planares, circulares ou em cunha.

Esse fenômeno se desenvolve principalmente com o aumento da pluviosidade, coincidindo com


o fim da estação chuvosa quando os solos residuais estão completamente saturados e quanto
maior for à inclinação do terreno, mais favorável estará à superfície do solo à ocorrência de
escorregamento.

38 • capítulo 1
Rastejo
É um processo de movimento de massa, que ocorre em taludes com geometria indefinida
e velocidades baixas e decrescentes com a profundidade. Caracteriza-se por movimentos
constantes, sazonais ou intermitentes, podendo ocorrer tanto em perfis de solo, assim
como, em rochas alteradas ou decompostas e/ou fraturadas.

O rastejo ocorre em depósitos do tipo tálus e colúvio. Esse fenômeno pode ser identificado pela
presença de árvores inclinadas, abatimentos e trincas na superfície do solo (creep) e resultar
danos em obras de engenharia.

Corridas de detritos
Corridas de detritos, blocos ou lascas de rochas (debris flow) são movimentos rápidos e de
alta energia que escoam encosta abaixo em busca de um canal de drenagem. São geral-
mente associados a uma sequência de corridas consecutivas que mobilizam uma grande
quantidade de material com poder destrutivo elevado que se juntam a blocos ou lascas de
rochas e restos vegetais.

EXEMPLO
No Brasil, esse processo de movimento de massa ocorreu em Lavrinhas (MG), em 1986, e em Petrópolis
(RJ), em 1988, provocando a morte de muitas pessoas, deixando também milhares de desabrigados.

Queda
A queda de blocos, lascas, matacões ou lajes é um movimento rápido causado por queda
livre provocada pela força da gravidade, de volumes variáveis de massa que se despregam
das encostas muito íngremes.
Esse movimento de massa pode provocar rotação da rocha em torno de um ponto ou
rolamentos de matacões rochosos ao longo da encosta devido ao descalçamento ou falta
de apoio na base.

Assoreamento ou colmatação
É o ato de encher pelo acúmulo de sedimento, entulho ou outros materiais detríticos o
fundo de uma baía, um lago ou um estuário. É um processo de redução de profundidade,
produzido naturalmente por rios, correntes costeiras e ventos ou através de influência das
obras de engenharia, como: mineração, portos, barragens etc.

capítulo 1 • 39
ATENÇÃO
A deposição natural de sedimentos é uma das causas da morte
ou outros danos de um rio ou reservatório; porém, o homem
pode atuar como agente acelerador desse processo através
dos desmatamentos, escavações e outras ações antrópicas.

Deste modo, reduz a permeabilidade e expõe as áreas à en-


chente e à erosão devido à declividade do terreno, técnica
agrícola inadequada, desmatamentos, ocupação desordenada,
impedindo o solo de absorver a água, aumentando, com isso, o
poder de erosão e transporte dos materiais.

Recalque
Acontece em áreas instáveis com deslocamento vertical para baixo, inseridas dentro de um
sistema natural afetado pela presença depósitos de sedimentos argilo-orgânicos, de peque-
nas a grandes proporções. Esse deslocamento resulta da deformação do solo proveniente
da aplicação de cargas sobre o qual se apoia uma estrutura ou devido ao peso próprio das
camadas.

As causas de recalques podem ser devidas a:

1) rebaixamento do lençol freático independente da pressão externa;


2) solos colapsais que em contato com a água resultam um colapso;
3) inchamento de solos argilosos após desmatamento;
4) variações sazonais da umidade do solo;
5) efeito do descongelamento do solo;
6) escavações em áreas adjacentes que ocasionam recalques;
7) vibrações em operações de equipamentos ou abalos sísmicos;
8) escavação de túneis ou galerias e o consequente rebaixamento da superfície;
9) carga estática devido ao peso próprio do solo ou dinâmica devido a algum tipo de intervenção; e
10) intemperismo no subsolo cárstico ou lixiviação pela percolação da água subterrânea.

40 • capítulo 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ERNEST, W.G. Minerais e rochas. Tradução de E. Ribeiro Filho. São Paulo: Edgard Blucher/Edusp, 1969.
GUERRA, A.T. Dicionário geológico e geomorfológico. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1972.
ISACKS, B. et al. Siesmology and the new global tectonics. Geophs. Res., 73: 5855 – 5899. 1968.
JENNY, H. Factors of soil formation. New York: Mc. Graw-Hill, 1941.
MENEZES, S.O. Introdução à geologia. Itaguaí/RJ: Imprensa Universitária da UFRRJ. Texto Auxiliar, 1983.
MENEZES, S.O. Minerais comuns e de importância econômica: um manual fácil. Oficina de Textos, São Paulo, 2012.
MENEZES, S.O. Rochas, manual fácil de estudos e classificação. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.
SCHAETZL, R.J. & ANDERSON, S. Soil: genesis and geomorphology. Cambridge University Press, 2005.
ZERNITZ, E.R. Drainage patterns and their significance. Jour. Geol., 40: 498 – 521. 1932.

IMAGENS DO CAPÍTULO
p. 10 Niels Stensen p. 26 Field agricultural land
Autor desconhecido · Wikimedia · dp Paolo Neo · Wikimedia · dp

p. 10 The Earth seen from Apollo p. 10 Soil profile


NASA · dp Paulo Vitor Bastos · Wikimedia

p. 10 Estrutura da Terra p. 32 Erosion


Mats Halldin · Wikimedia · cc Jack Dykinga · Wikimedia · dp

p. 11 Besimaudite - Bic Colmé, Cuneo, Piemonte, p. 33 Libya 4985


Italia Luca Galuzzi · Wikimedia · cc
Aangelo · Wikimedia . cc
p. 33 Praia de Cotovelo - Parnamirim - Rio Grande
do Norte
p. 11 Textura Pedra
Fábio Pinheiro · Wikimedia · cc
Nils Fieseler . dp

p. 13 Table salt p. 34 Golfo di Cofano


Autor desconhecido · Wikimedia . cc Emanuele · Wikimedia · cc

p. 13 Pahoehoe toe p. 34 Praia de Calhetas


Hawaii Volcano Observatory (DAS) · Wikimedia . dp Dantadd · Wikimedia · cc

p. 15 Rock Strata p. 35 Estuário do Tejo


Dvernon · Wikimedia . dp Juntas · Wikimedia · cc

p. 17 Augustine Volcano p. 35 Jurubatiba - Lagoas e bancos de areia


Game McGimsey · Wikimedia · dp Paulo Noronha · Wikimedia · cc

p. 26 High tide at point loma p. 36 Tombolo Paximadhi Eboea


Jon Sullivan · Wikimedia · dp Tim Bekaert · Wikimedia · cc

p. 26 Small boat aground in marsh


Hagerty Ryan · U.S. Fish and Wildlife Service · dp

Desenhos e gráficos cedidos pelo autor do capítulo e ilustrados por Paulo Vitor Bastos e Victor Maia

capítulo 1 • 41
2 Elementos de
Climatologia

fillipe torres e
pedro machado
2 Introdução
Elementos de Climatologia

A Terra se caracteriza por apresentar uma rica diversidade de espécies vivas e de paisagens,
que se distribuem de maneira distinta pela superfície do Planeta. Esta situação resulta da
atuação de vários agentes físicos naturais, como a estrutura geológica, o relevo, o clima, os
solos, as águas etc. A geologia foi abordada no capítulo 1.

Este capítulo irá trabalhar o clima, que desempenha papel fundamental, pois condiciona, estimula
ou restringe a presença de animais e vegetais, agindo também de forma decisiva na esculturação
das formas de relevo.

O clima está diretamente relacionado à distribuição das espécies vivas, aos processos de
formação dos solos, ao regime dos rios e à agricultura, já que exerce influência sobre to-
dos os estágios da cadeia de produção agrícola, incluindo a preparação da terra, semea-
dura, crescimento dos cultivos, colheita, armazenagem, transporte e comercialização
(AYOADE, 1991).

ATENÇÃO
Assim, ao clima está ligada a própria distribuição das comunidades humanas, que em última análise,
dependem do alimento que as safras proporcionam (FORSDYKE, 1969).

Não por acaso, a Meteorologia e a Climatologia ocupam posição central destacada no am-
plo campo das ciências ambientais, pois os vários processos atmosféricos (chuvas, ventos,
calor etc.) influenciam os processos que ocorrem nas demais partes do ambiente, ou seja,
na biosfera, hidrosfera e litosfera.
A primeira importante definição a ser feita refere-se aos conceitos de Tempo e Clima:
•  O Tempo pode ser definido como um conjunto de valores que, em um dado momen-
to e em um certo lugar, caracteriza o estado atmosférico.
•  Enquanto o Tempo reflete um estado momentâneo da atmosfera, o Clima pode ser
entendido como a sucessão habitual desses estados médios, ou seja, é o conjunto de fe-
nômenos meteorológicos que caracteriza, durante um longo período, o estado médio da
atmosfera de um lugar.
Embora haja uma considerável semelhança nos conteúdos e objetos de estudo da Cli-
matologia e da Meteorologia — a atmosfera — pode-se dizer que a Meteorologia estuda o
Tempo, enquanto a Climatologia estuda o Clima.

44 • capítulo 2
CURIOSIDADE
Meteorologia
Como apresentado por Lima & Araújo (1979), a Meteorologia estuda a atmosfera baseada na Física. Pro-
cura conhecer o estado físico do ar para fazer previsões do tempo em curto prazo, isto é, fazer prognósticos
das condições possíveis de serem encontradas nas próximas horas.

Climatologia
A Climatologia é uma ciência que tem por objetivo o estudo dos climas, em suas principais características
e sua ocorrência no Planeta.

A Climatologia descreve, localiza e busca a explicação científica dos aspectos variáveis da atmos-
fera. A Meteorologia fornece a ela os dados estatísticos.

Podem-se distinguir em Elementos e Fatores os agentes que interferem na caracteri-


zação dos tipos de Tempo e de Clima.

RESUMO
Os Elementos do clima são os componentes principais, aqueles que se combinam para caracterizar o
tempo atmosférico e o clima propriamente dito (Temperatura, Umidade do ar, Pressão Atmosférica, Ventos,
Nebulosidade, Insolação, Radiação Solar e Precipitação). Já os Fatores climáticos são aqueles que pro-
duzem alterações e interferências nos elementos e nos tipos climáticos (Latitude, Altitude, Maritimidade e
Continentalidade, Solos, Vegetação, Correntes Marítimas, Disposição do Relevo e Intervenção Antrópica).

Principais Elementos e Fatores do Clima


Temperatura
A temperatura é uma grandeza física que determina o fluxo de calor que é transmitido de
um corpo de temperatura mais elevada para outro, de temperatura mais baixa. Esse ele-
mento climático sofre expressivas variações decorrentes dos efeitos da altitude, da latitude,
da maritimidade e da continentalidade.

ATENÇÃO
De maneira geral, a temperatura diminui em razão do aumento da latitude, ou seja, a temperatura diminui
à medida que se afasta do Equador, em direção aos polos. Essa situação se deve à forma como se dá a
incidência dos raios solares na superfície terrestre, que é perpendicular na faixa equatorial e tanto mais
oblíqua em direção aos polos. Mas a radiação é menor nos polos, não somente em razão dos raios solares
incidirem mais obliquamente, mas também devido à grande reflexão proporcionada pela neve, que cobre
grande parte da superfície dessas regiões (SADOURNY, 1994).

capítulo 2 • 45
Observa-se, na imagem abaixo, que a incidência dos raios solares é igual em A, B e C, porém
essa energia incide sobre áreas diferentes (1=3>2), assim como de formas diferentes: per-
pendicular (2) e oblíqua (1 e 3).

Nota-se também que os raios solares atravessam uma camada atmosférica menos es-
pessa sobre a faixa intertropical, o que favorece uma maior e mais intensa incidência
nessa região, ao contrário do que ocorre em direção aos polos (DE).

Incidência dos raios solares na superfície terrestre


Adaptado de: Viers (1975:54)

Pode-se observar que quanto mais verticais forem os raios solares, menor será a camada de
atmosfera que terão de atravessar.

Assim, os raios solares mais perpendiculares percorrem uma distância menor na atmosfe-
ra, resultando em temperaturas mais elevadas junto à superfície.
Levando-se em consideração apenas a influência da latitude, podem-se observar as
diferentes médias térmicas anuais que ocorrem entre algumas cidades brasileiras, loca-
lizadas em diferentes latitudes (tabela abaixo).

Foram consideradas apenas cidades litorâneas para se evitar a influência de outros fato-
res, como a altitude.

TOMADA DE DECISÃO
CIDADES LATITUDE MÉDIA TÉRMICA ANUAL (ºC)
BELÉM (PA) 01º28’03” 26,8
SALVADOR (BA) 12º55’34” 25,2
RIO DE JANEIRO (RJ) 22º54’24” 23,2
FLORIANÓPOLIS (SC) 27º35’36” 20,1
Fonte: pt.climate-data.org

46 • capítulo 2
COMENTÁRIO
Por outro lado, tem-se a destacável influência do fator altimétrico. Fator altimétrico
Pode-se notar a influência da altitude na temperatura comparan- Na Troposfera, a temperatura do ar
do-se as médias térmicas de cidades brasileiras situadas em latitudes diminui, em média, cerca de 1ºC para
semelhantes, mas em altitudes diferentes (tabela abaixo). cada 180 metros de altitude. Como a
atmosfera é aquecida de forma indi-
VARIAÇÃO LATITUDINAL DA TEMPERATURA reta, através do calor que é irradiado
pela superfície terrestre, tem-se que as
MÉDIA TÉRMICA
CIDADES ALTITUDE (M) LATITUDE (SUL) regiões mais aquecidas serão aquelas
ANUAL (ºC)
em contato mais direto com a fonte de
RIO DE JANEIRO irradiação (a superfície terrestre e as
5 22º54’24” 23,2
(RJ) águas).

CAMPOS DO
1600 22º43’ 13,6
JORDÃO (SP)

Fonte: pt.climate-data.org

A associação de altas latitudes e elevadas altitudes acaba por formar áre-


as de clima excepcionalmente frio.

EXEMPLO
Como no caso da base russa de Vostok, na Antártida, onde foi registrado o recorde
de frio, em 24 de agosto de 1960, com 88,3ºC negativos (ROSS, 1995).

A influência da continentalidade e da maritimidade sobre a temperatura


decorre, basicamente, da desigual repartição entre terras e águas e devi-
do à diferença de calor específico entre a terra e as superfícies hídricas.

capítulo 2 • 47
Regiões marítimas apresentam temperaturas mais regulares devido ao efeito amenizador
das brisas e das correntes marítimas; mas, sobretudo pela propriedade que tem a água de
manter o calor absorvido por mais tempo e misturá-lo a maiores profundidades. Além dis-
so, o calor específico da terra é bastante diferente do da água. Em geral, a água absorve 5
vezes mais calor a fim de aumentar sua temperatura em quantidade igual ao aumento do
solo (AYOADE, 1991).

Como resultado, as áreas continentais se aquecem e se resfriam mais rapidamente que as superfí-
cies hídricas, e apresentam, em geral, maior amplitude térmica diária (diferença entre a temperatu-
ra máxima e mínima do dia), bem como maiores variações térmicas anuais, entre o inverno e o ve-
rão (em geral, as áreas mais interioranas alternam verões mais quentes com invernos mais rígidos).

Conclui-se então que quanto maior o efeito da continentalidade, tanto maior a amplitude
térmica e as variações de temperatura no local; e, ao contrário, quanto maior o efeito da
maritimidade, menores as oscilações de temperatura.

O Hemisfério Norte possui maior proporção de terras e o Hemisfério Sul, maior superfície
de oceanos (80%).

Por causa dessa maior área continental do Hemisfério Norte, portanto com maior
efeito da continentalidade, os verões se apresentam mais quentes e os invernos mais
frios que os do Hemisfério Sul.

TEMPERATURAS MÉDIAS NOS HEMISFÉRIOS NORTE E SUL


ESTAÇÕES DO ANO HEMISFÉRIO NORTE HEMISFÉRIO SUL

VERÃO 22,4ºC 17,1ºC

INVERNO 8,1ºC 9,7ºC

Fonte: AYOADE (1991:53)

48 • capítulo 2
Umidade do ar EXEMPLO
A Umidade do ar representa a quantidade de vapor d’água contido na
atmosfera, o que resulta da evaporação dos mares, lagos e rios e da eva- Evaporação
potranspiração, realizada por animais e vegetais. Regiões desérticas têm calor suficien-
Depende da temperatura (calor) para produzir a evaporação e da te para promover a evaporação, mas
presença de água para ser evaporada. não dispõem de água para ser evapo-
Contudo, a forma mais comum de se expressar a quantidade de va- rada, e a umidade do ar é constante-
por d’água contido no ar é através da Umidade Relativa, que estabelece mente baixa.
a relação percentual entre a concentração de vapor existente no ar e
sua concentração máxima (ou saturação). O ar estará saturado quando
apresentar a concentração máxima de vapor que pode conter, caso em
que a umidade relativa corresponderá a 100%.

RESUMO
A concentração máxima de vapor d’água (ou saturação) varia com a temperatura, de
modo que, com maior temperatura, o ar se expande, aumentando sua capacidade
de reter vapor d’água. Assim, com maior temperatura, menor tende a ser a umidade
relativa. Ao contrário, a redução da temperatura tende a levar o ar à saturação. A concentração de vapor d’água no ar
pode ser expressa pela Umidade Absolu-
As formas de se produzir a saturação do ar são: ta, medida em g/m³. Em Manaus, por
1) pela diminuição da temperatura, o que reduz a capacidade do ar atmosférico para exemplo, a umidade absoluta varia de
conter vapor d’água; 20g/m³ em janeiro a 19g/m³ em setem-
2) pelo aumento da quantidade de vapor d’água no ar; bro; já no Saara esses valores podem
3) pela redução da temperatura com simultâneo aumento da quantidade de vapor. chegar a 2g/m³ (SALATI et. al., 1983).
(VIANELLO & ALVES, 1991)

Como a temperatura diminui com a altitude, e com menor temperatura,


menor o volume de vapor d’água que pode ser contido no ar, conclui-se
que, quanto maior a altitude, menor a temperatura e menor a quantida-
de de vapor d’água presente no ar (Umidade Absoluta), embora se esteja
mais próximo da saturação (Umidade Relativa).

Isso explica “porque nos climas frios, o ar livre, mesmo quando saturado,
pode conter apenas pequena quantidade de vapor d’água” (FORSDYKE,
1969:19).

ATENÇÃO
Aqui, é importante destacar que a umidade relativa não fornece, na verdade, infor-
mação sobre a quantidade de umidade presente na atmosfera, mas informa quão
próximo o ar está da saturação (AYOADE, 1991).

capítulo 2 • 49
COMENTÁRIO Pressão atmosférica
A pressão atmosférica pode ser entendida como o peso exercido pela co-
Peso exercido luna de ar que fica sobreposta a qualquer ponto da superfície terrestre.
As áreas de menor pressão são deno-
minadas de BAIXA PRESSÃO (BP) e EXEMPLO
os locais de maiores pressões atmos-
féricas são chamados de ALTA PRES- A faixa Equatorial, comumente de altas temperaturas, funciona como uma área de
SÃO (AP). Baixa Pressão. Já nas regiões polares, sempre frias, formam-se áreas de Alta Pres-
A pressão atmosférica sofre a influ- são. Desse modo, tem-se, como regra geral, que a pressão atmosférica aumenta
ência da temperatura e logicamente, com o aumento da latitude.
da latitude e da altitude, que fazem
variar os valores térmicos. O aumento A altitude também faz variar a pressão atmosférica, pois quanto mais
da temperatura torna o ar mais leve e elevado for o local, menor será a camada de ar a pesar sobre ele. Como
determina, por consequência, menor sintetizam Tubelis & Nascimento (1984:36):
pressão exercida por esse ar sobre a
superfície (BP).
Assim, entre dois locais de mesma al- “A pressão atmosférica diminui com a altitude, em decorrência da diminuição
titude, a pressão será diferente desde da densidade do ar, da aceleração da gravidade e da temperatura do ar.”
que ocorra variação da temperatura
entre esses dois locais. ATENÇÃO

A pressão desempenha importante papel na Meteorologia, pois suas varia-
ções estão intimamente relacionadas ao movimento do ar atmosférico. As
áreas de Baixa Pressão (BP), também chamadas ciclones ou áreas ciclonais
são receptoras de ventos, enquanto as áreas de Alta Pressão (AP), denomi-
nadas anticiclones ou áreas anticiclonais, são dispersoras de ventos.

Essa situação ocorre em função dos mecanismos de Convergência e Di-


vergência do ar. As regiões onde o ar faz o movimento ascensional são
denominadas zonas de baixa pressão e as regiões onde o ar realiza o mo-
vimento de subsidência são chamadas zonas de alta pressão.

Observe o esquema geral representado na imagem abaixo:

DIVERGÊNCIA CONVERGÊNCIA

ASCENDÊNCIA SUBSIDÊNCIA

CONVERGÊNCIA DIVERGÊNCIA
SUPERFICIE
Relação entre padrões divergentes, movimentos verticais e pressão superficial

50 • capítulo 2
Em outras palavras, pode-se dizer que os ventos sopram porque o ar é comprimido para fora
por massas de ar frio descendentes, e sugado de baixo de massas de ar quente em elevação.
Ou seja, os ventos sopram, no nível do solo, de lugares frios para lugares quentes. Em
pontos altos, no entanto, há uma corrente de ar que segue o caminho oposto, formando
uma célula de circulação, como esquematizado abaixo.

BP AP

Esquema geral de circulação do ar (célula de circulação)

Vento
O vento, ou seja, o movimento do ar em relação à superfície terrestre ocorre tanto no sen-
tido horizontal, quanto vertical. Ele resulta da diferença de pressão existente entre dois
pontos, deslocando-se das áreas de Alta Pressão (AP) para as de Baixa Pressão (BP). Alguns
sistemas específicos de vento, em razão de sua importância, merecem ser destacados.

1. Brisas
As brisas terrestres e marítimas, ventos locais que ocorrem principalmente nas costas
tropicais, são causadas pela diferença de pressão existente entre o continente e o mar;
e esta, por sua vez, tem origem nas diferenças térmicas (calor específico) entre as superfícies
terrestre e hídrica.
Durante o dia, a terra se aquece mais rapidamente que o mar, e assim, o ar sobre o
continente se aquece antes, expandindo-se, tornando-se mais leve e determinando uma
área de Baixa Pressão, receptora de ventos. Dessa forma, durante o dia, o continente fun-
ciona como um centro de baixa pressão, e os ventos se dirigem do mar (ou de grandes
lagos) para a terra: é a Brisa Marítima ou Lacustre.

Esquema geral das Brisas Marítima e Terrestre


À noite, ocorre o oposto, ou seja, o continente se resfria rapidamente, enquanto o mar per-

capítulo 2 • 51
IMAGEM manece mais tempo aquecido, ocorrendo assim uma inversão dos cen-
tros de pressão, funcionando o oceano como área de baixa pressão, re-
Cordilheira do Himalaia ceptora de ventos, e o vento passa a soprar da terra para o mar: é a Brisa
Terrestre.

2.  Monções
O termo monção está relacionado a uma inversão sazonal na direção
dos ventos. A causa principal é o aquecimento diferencial de grandes
superfícies continentais e oceânicas, que faz alterar os centros de pres-
são com as estações do ano, especialmente, verão e inverno.
A monção ocorre em várias partes do mundo, porém é mais desen-
volvida no sul e sudeste asiático, em função do tamanho do continente
e em razão do efeito produzido pela Cordilheira do Himalaia, que é
uma vasta área de terras com grandes altitudes, que se estende na di-
reção geral oeste-leste e constitui uma barreira efetiva entre as massas
de ar tropicais e polares.
Durante o inverno no Hemisfério Norte, o continente (sudeste asi-
ático) sofre muitas perdas de calor, encontrando-se a porção setentrio-
nal totalmente coberta de neve, formando-se assim, nessa área do con-
tinente asiático, uma área de alta pressão (ar mais denso, mais pesado,
logo, exercendo maior pressão sobre a superfície).

ATENÇÃO
Assim, durante o inverno, os ventos da monção movem-se do continente em direção
ao Oceano Índico. Essas monções de inverno são geralmente secas e frias, trazendo
redução de temperaturas e invernos secos para grande parte do sul e sudeste asiático.

No verão, com o continente mais aquecido que o oceano Índico, ocorre o fenômeno
oposto. Sobre o continente asiá-
tico, mais quente, forma-se uma
área de Baixa Pressão, receptora
de ventos. Sobre o oceano, relati-
vamente mais frio, forma-se uma
área de Alta Pressão. Assim, os
ventos de monção sopram do
Esquema geral das Monções Asiáticas oceano em direção ao continen-
Adaptado de: VAREJÃO-SILVA (2000:355) te. Esses ventos, que constituem
a monção de verão na Ásia (no-
tadamente no sul e sudeste), são muito úmidos e instáveis, pois provém de super-
fícies oceânicas, e produzem grandes volumes de chuva na área continental, princi-
palmente nos locais situados ao sul da Cordilheira do Himalaia (Índia, Bangladesh
etc.), enquanto do lado oposto dessa cadeia de montanhas, encontra-se a presença
de áreas desérticas.

52 • capítulo 2
3. Alísios
Os Alísios são ventos constantes que provém das regiões temperadas – áreas de alta pres-
são, dispersoras de ventos, para a faixa Equatorial – área quente, de baixa pressão e recep-
tora de ventos.

As temperaturas mais elevadas da faixa equatorial


formam uma constante área de baixa pressão, o que
resulta na ascensão das massas de ar.

Nas áreas extratropicais temperadas, próximas aos 30º de latitude (nos dois hemisférios),
de pressões mais altas que a região equatorial, formam-se centros dispersores de ventos
(anticiclones). Para substituir as massas de ar da região equatorial, que ascenderam em
virtude das temperaturas elevadas, para lá convergem massas de ar menos quentes, origi-
nadas nas regiões temperadas: são os Ventos Alísios.
Após provocarem chuvas na região equatorial, eles se aquecem, ficam mais leves e
ascendem, voltando para as regiões de origem, viajando agora pelas partes mais altas da
Troposfera, e com o nome de Contra-Alísios. São ventos permanentes devido à formação
permanente dos ciclones no Equador e dos anticiclones nas regiões temperadas.

ATENÇÃO
Observe pela figura abaixo que, devido ao Movimento de Rotação da Terra, os ventos Alí-
sios, no Hemisfério Norte, sopram de nordeste para sudoeste (Alísios de Nordeste), e no
Hemisfério Sul sopram de sudeste para o noroeste (Alísios de Sudeste).

A - ESQUEMA GERAL B - ESQUEMA GERAL


DOS VENTOS ALÍSIOS DOS VENTOS CONTRA-ALÍSIOS

capítulo 2 • 53
Radiação solar e insolação
A radiação solar e a insolação são fatores essenciais para a sobrevivência da vida na Terra.
Estes termos têm diferentes significados, sendo que a radiação solar pode ser tratada como
energia eletromagnética e insolação, o período de iluminação da Terra pelo Sol. Desta for-
ma, o Sol é responsável pela manutenção dos processos ambientais da Terra, através da luz
em forma de iluminação e de energia.

ATENÇÃO
Quando os raios solares entram na atmosfera da Terra, a radiação solar sofre interferência de três pro-
cessos diferentes: Difusão, Absorção e Reflexão. A Difusão é dada pelo espalhamento provocado pelas
partículas presentes na atmosfera, tais como moléculas de gases, cristais e impurezas. A Absorção é feita
por algumas moléculas gasosas presentes na atmosfera, como o oxigênio (O2), o ozônio (O3), o Gás Car-
bônico (CO2) e o vapor d’água (H2O). A radiação ultravioleta, por exemplo, é praticamente absorvida pelo
O2 e O3, evitando os efeitos prejudiciais que essa radiação provocaria sobre os seres vivos (TUBELIS &
NASCIMENTO, 1984:32). A Reflexão ocorre nas nuvens ou na superfície da Crosta Terrestre. Em média,
dos 100% de energia solar que se introduzem na atmosfera, cerca de 40% incidem sobre as nuvens e,
desse total, cerca de 1% é absorvido e 25% são refletidos (gráfico abaixo).
A parte das ondas eletromagnéticas que atravessam a atmosfera incide sobre a crosta terrestre e aquece a
superfície da Terra. Uma parte desta radiação é novamente refletida para a atmosfera, aquecendo o planeta.

7% REFLETIDA/ DIFUNDIDA
25% É REFLETIDA
POR AEROSSÓIS
PELA NUVENS
100%
16% ABSORVIDA
POR GASES ATMOSFÉRICOS
40% 60%
1% ABSORVIDA
PELAS NUVENS
5% REFLETIDA
PELA SUPERFÍCIE
37%

14% + 32% = 46%


Esquema geral do balanço de radiação solar médio

Nebulosidade
Uma nuvem é formada por água líquida e/ou de cristais de gelo, podendo conter também
outras partículas, procedentes, por exemplo, de vapores industriais, de fumaças ou de poeiras.
O vapor d’água presente no ar atmosférico pode voltar à fase líquida pelo processo de Con-
densação, após ser atingida a saturação, que, por sua vez, resulta da redução da temperatu-
ra ou da adição de vapor d’água.

54 • capítulo 2
As nuvens são agrupadas em Gêneros, cada qual com características pró- CURIOSIDADE
prias, e estes, em Espécies, que poderão apresentar Variedades diferentes.
Gêneros
Os dez gêneros de nuvens reconheci-
ATENÇÃO dos internacionalmente são: Cirro (Ci),
Cirro-cúmulo (Cc), Cirro-Estrato (Cs),
Alto-Cúmulo (Ac), Cúmulo (Cu), Nim-
bo-Estrato (Ns), Estrato-Cúmulo (Sc),
Estrato (St), Alto-Estrato (As) e Cúmu-
lo-Nimbo (Cb).

A maior parte das nuvens se encontra na Troposfera, mas em diferentes altitudes,


segundo as diferentes latitudes. Situam-se entre o nível do mar e até 18km de alti-
tude nas regiões Tropicais, até cerca de 13km nas regiões Temperadas e até 8km
nas regiões Polares.

Precipitação
A precipitação é o processo pelo qual a água condensada na atmosfera
atinge gravitacionalmente a superfície terrestre. A precipitação ocorre
quando as gotículas que constituem as nuvens crescem, até alcançar um
tamanho em que se tornam mais sujeitas à atuação da força da gravida-
de do que à ação das correntes ascendentes de ar.
A precipitação pode ocorrer sob a forma líquida ou pluvial (chuva
ou chuvisco) ou sob a forma sólida (granizo, neve e saraiva). No caso da
precipitação pluvial, a unidade de medida é o mm, que corresponde à
altura da chuva em mm/m2.
De acordo com o processo de formação, as chuvas podem ser clas-
sificadas em 3 tipos básicos, apresentados a seguir.

1.  Chuvas convectivas: provenientes de grandes cúmulos ou cúmulo-nim-


bos são típicas da região intertropical, sobretudo na faixa equatorial, área ca-
racterizada por grande calor e umidade. O calor constante promove a ascensão
da massa de ar úmido que, com o aumento da concentração de vapor d’água ou
com o resfriamento, saturação do vapor d’água, resultando em chuvas pesadas

capítulo 2 • 55
intensas, acompanhadas de raios, relâmpagos e trovões. Um esquema representativo é apre-
sentado abaixo.

3)CONDENSAÇÃO
2) SATURAÇÃO
1) RESFRIAMENTO

4) PRECIPITAÇÃO

ASCENSÃO DE MASSA DE
AR QUENTE E ÚMIDO

2.  Chuvas frontais: Como representado no próximo esquema, resultam do encontro de duas
massas de ar de propriedades diferentes (uma quente e outra fria). São pouco intensas, porém
contínuas, afetando extensas áreas, especialmente nas médias latitudes.

DE
ILIDA
TAB
INS
MASSA DE AR FRIA MASSA DE AR QUENTE

RESFRIA
SATURA
CONDENSA

CHUVA

3.  Chuvas orográficas: Resultam da ascensão de ventos carregados de umidade para trans-
por um obstáculo do relevo. Ao se elevar, o ar resfria-se, podendo atingir a saturação. As ver-
tentes voltadas para o vento recebem as chuvas orográficas, enquanto do lado oposto, o ar
descendente é seco e, em geral, frio.

COMPRESSÃO
CONDENSAÇÃO
RESFRIAMENTO AQUECIMENTO
AR

Fonte: Tubelis & Nascimento (1984:170)

56 • capítulo 2
Brasil: caracterização climática

Em razão de se localizar, em sua maior parte, na zona intertropical, a imagem que geral-
mente se faz do clima brasileiro é a de um país dominado por elevadas temperaturas, re-
gado por grandes volumes de chuva durante o verão. Embora essa descrição sirva para ca-
racterizar grande parte do país, ela está longe de representar a diversidade climática que
ocorre no território brasileiro.

A influência de vários fatores climáticos — latitude, altitude, maritimidade, continentalidade, dis-


posição do relevo, vegetação, além da atuação das massas de ar — é responsável por variações
significativas.

EXEMPLO
Os índices pluviométricos anuais, podem variar de 4.514mm, em Itapanhaú/SP a parcos 331mm, em
Cabaceiras/PB. Extremos térmicos também são registrados, com máxima de 43,8°C em Piratininga/BA e
mínima de 14,1°C negativos, registrado em São Francisco de Paula/RS.

Embora existam várias classificações para os tipos de climas que ocorrem no Brasil, cada
qual levando em consideração diferentes elementos de análise, é aqui adotado o modelo de
classificação climática proposto por Köppen e adaptações:

Principais tipos climáticos, segundo a classificação de Köppen


Fonte: Torres & Machado (2011)

capítulo 2 • 57
As principais características desses tipos climáticos são apresentadas a seguir:

Aw – Tipo climático quente, com predomínio das chuvas no verão e com estação seca no inverno.
Corresponde ao clima Tropical e domina extensas áreas do país, especialmente na região central;
Aw’ – Clima quente, que corresponde ao tipo Tropical, mas com as chuvas ocorrendo no outono e
verão. É uma adaptação do modelo original de Köppen que ocorre no litoral norte da Região Nor-
deste e em parte do interior dessa região;
Af – É o autêntico clima Equatorial, sempre úmido, sem existir estação seca, com chuvas ocorrendo
durante todo o ano, e quente, com temperaturas médias anuais sempre superiores a 25ºC. Predo-
mina no noroeste da Amazônia, litoral da Bahia e Sergipe e em área próxima a Belém;
Am – Clima quente e úmido, que apresenta elevadas temperaturas ao longo do ano e breve es-
tação seca (cerca de um mês). É o tipo Subequatorial, que ocorre em grande parte da Amazônia;
As – Adaptação do modelo climático de Köppen, que ocorre em pequena faixa do litoral nordes-
tino. É um tipo climático quente e úmido, que tem como característica a ocorrência das chuvas no
período do inverno;
BSh – Clima Semiárido que ocorre no Sertão Nordestino. Clima quente e de poucas chuvas, em
que a estação seca pode ter grande duração;
Cfa – Clima Subtropical, úmido e de verões quentes, que ocorre nas áreas menos elevadas das
regiões Sul e Sudeste;
Cfb – Clima Subtropical, com verões amenos, que ocorre nas áreas de maiores altitudes das re-
giões Sudeste e Sul;
Cwa – Clima Tropical de Altitude, de verões quentes e chuvosos, que predomina, sobretudo, na
região Sudeste;
Cwb – Ocorre nos trechos mais elevados da Região Sudeste. Apresenta chuvas no verão, embora
este se caracterize por temperaturas mais amenas.

Mudanças climáticas
No final da década de 1970, após um período de 30 anos (1940/1970) de resfriamento, sur-
giu a hipótese de que a temperatura média global da superfície do Planeta estaria aumen-
tando.
Seguiu-se um crescente debate sobre o tema, bem como um significativo incremento
científico às pesquisas. Em 1988, o IPCC (sigla em inglês para o Painel Intergovernamen-
tal de Mudanças Climáticas) é institucionalizado, sob o amparo da OMM (Organização
Meteorológica Mundial) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Esse tema, que provoca acirrados debates, expande-se consideravelmente no meio científico, ao
mesmo tempo em que é popularizado, especialmente após Al Gore, vice-presidente dos EUA entre
1993 e 2001, divulgar seu trabalho intitulado ‘Uma Verdade Inconveniente’, em 2006, um docu-
mento sobre mudanças climáticas, mais especificamente sobre o aquecimento global.

58 • capítulo 2
CURIOSIDADE
Sua hipótese é a de que o aquecimento global decor-
re das atividades humanas, tomando como fundamen- Uma Verdade Inconveniente
to a relação entre o aumento das temperaturas mé-
dias do planeta e o aumento das emissões de CO2.
Segundo essa teoria, as atividades humanas seriam a
responsável pelo aumento do efeito estufa, em decor-
rência da intensificação da emissão de CO2, resulta-
Al Gore do da queima de combustíveis fósseis.

A tese encontra apoio nos trabalhos do IPCC, que periodicamente di-


vulga estudos que consideram o aquecimento global como uma conse-
quência das atividades da sociedade industrial.

EXEMPLO
Para Molion (2007), “as limitações dos modelos matemáticos de simulação de clima,
não justificam a transformação da hipótese do aquecimento global antropogênico Em 2007, o trabalho se sagrou ganhador
em fato científico consumado”. Molion (2007) e Maruyama (2009) não só questio- do Oscar de melhor documentário, além
nam a ideia do aquecimento global, como apresentam argumentos que direcionam de render, nesse mesmo ano, o prêmio
o entendimento das mudanças climáticas em termos de um resfriamento global. Este Nobel da Paz a Al Gore e ao IPCC.
tema é bastante polêmico e amplamente pesquisado mundialmente.

capítulo 2 • 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARGENTIÉRE, R. A atmosfera. São Paulo: Pincar, 1960.
AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
FORSDYKE, A. G. Previsão do tempo e clima. São Paulo: Melhoramentos, 1969.
LIMA, P. J. & ARAÚJO, H. M. Climatologia/I. João Pessoa: UFPB, 1979.
MARUYAMA, Shigenori. Aquecimento Global?. São Paulo: Oficina de textos, 2009.
MOLION, L.C.B. Desmistificando o aquecimento global. Intergeo, v.5, 2007. p.13-20.
RETALLACK, B. J. Notas de treinamento para a formação do pessoal meteorológico classe IV. Brasília: DNMET, 1977.
ROSS, J. L. S. (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.
SADOURNY, R. O clima da Terra. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.
SALATI, E. et. al. Amazônia: desenvolvimento, integração e ecologia. São Paulo: Brasiliense/CNPq, 1983.
TORRES, F. T. P. & MACHADO, P. J. O. Introdução à Climatologia. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
TUBELIS, A. & NASCIMENTO, F. J. L. Meteorologia descritiva: fundamentos e aplicações brasileiras. São Paulo: Nobel, 1984.
VAREJÃO-SILVA. M. A. Meteorologia e Climatologia. Brasília: INMET, 2000.
VIANELLO, R. L. & ALVES, R. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa: UFV, 1991.
VIERS, G. Climatología - Elementos de Geografia. Barcelona: Oikos-Tau, 1975.

IMAGENS DO CAPÍTULO
p. 45 Antártica Barco
Michelle Maria · Pixabay · dp

p. 46 Hemisfério Sul
Stefan Kühn · Wikimedia · cc

p. 46 Hemisfério Norte
Stefan Kühn · Wikimedia · cc

p. 47 Deserto
Rossella Piccinno · Wikimedia . cc

p. 50 Himalaya
Royonx · Wikimedia

p. 53 Céu
Junior Peres Junior · Pixabay · dp

p. 55 Bandeira do Brasil
Autor desconhecido . dp

p. 57 Uma Verdade Inconveniente


Paramount Divulgação

p. 57 Al Gore
Autor desconhecido · Wikimedia · dp

Desenhos e gráficos cedidos pelo autor do capítulo e ilustrados por Victor Maia

60 • capítulo 2
3 Ecossistema
terrestre

rosemeri marenzi
3 CURIOSIDADE
Ecossistema terrestre

Introdução
Ecossistema Neste capítulo serão abordados os Ecossistemas Terrestres, visando a
O termo Ecossistema foi primeiramen- entender como ocorreu e ocorre a formação dos mesmos, considerando
te proposto em 1936 por Tansley, ecó- que se trata de um processo dinâmico do planeta Terra.
logo britânico.
ATENÇÃO
Para isto, é necessário compreender o conceito de ecossistema e os seus principais
componentes, bem como associá-los aos biomas mundiais e aos biomas brasi-
leiros, considerando as características das formações vegetais que os compõem.

O conceito de ecossistema

Ecossistema é uma unidade da Ecologia, sendo essa derivada do grego oi-


kos (casa) e logos (estudo) e tendo como significado o estudo do ambiente.

Propositalmente, serão comparados o conceito 1 de Ecossistema, mais


comumente conhecido, com o conceito 2, apresentado já na década de
1950 por Eugene P. Odum, zoólogo e ecólogo americano, mais comple-
to, e que será adotado neste capítulo.
A partir deste conceito será possível fragmentar os seus componentes,
explicando-os para que seja entendido não somente o conceito, mas os di-
ferentes ecossistemas terrestres como forma de biomas e suas características.

Conceito 1: “Ecossistema é a interação do conjunto de organismos vivos


(meio biótico) entre si e o seu ambiente (meio abiótico)”.

Conceito 2: “Ecossistema é qualquer unidade que inclua uma comunidade


de uma área determinada, interagindo com o ambiente físico de forma que
uma corrente de energia conduza a uma estrutura trófica, a uma diversida-
de biótica e a ciclos de materiais claramente definidos dentro do sistema”
(Odum, 2004).

62 • capítulo 3
O que diferencia os dois conceitos é que o segundo está associado a uma corrente de ener-
gia que forma uma estrutura trófica (do grego trophe, relativo à alimentação).

EXEMPLO
É possível considerar um zoológico, onde se encontram
organismos vivos (aves, macaco, onça, grama, árvores),
e estes interagem com o ambiente (suas jaulas, solo,
ar), mas não interagem entre si, pois estão separados.
Pode-se agrupá-los para que interajam entre si, mas
possivelmente a onça irá se alimentar de todos os ani-
mais, e quando estes acabarem, ela também não sobre-
viverá. Desta forma, um zoológico pode corresponder ao
conceito 1, mas não atende ao conceito 2, pois não há
Zoológico de Barcelona sustentabilidade trófica. Os organismos dependem do
homem/tratador que os alimenta, e o tratador depende
de alimentos que não são produzidos no zoológico. Também as aves presas não dispersam as sementes
para manutenção dos vegetais, produtores que poderiam servir aos consumidores primários (herbívoros).

O diferencial do conceito 2 pode ser melhor exemplificado por uma floresta, onde os vege-
tais serão os produtores para os consumidores e decompositores, em uma cadeia trófica
sustentável. Poderão ser mantidas populações de macacos para uma população de onças,
sem precisar de um tratador, apesar de dependerem de uma fonte de energia em um siste-
ma aberto.
Outros exemplos podem ser considerados, como um centro urbano ou um viveiro de
plantas, e tantos outros meios físicos que conseguem suportar organismos vivos; mas sem-
pre que existir uma cadeia trófica dependente de outro meio exterior, não será um ecossis-
tema, mas simplesmente um sistema, conjunto de partes que forma uma unidade. Portan-
to, em todos os exemplos existem partes que formam uma unidade, como um zoológico, o
centro urbano, ou um viveiro de plantas, formando um sistema.

ATENÇÃO
Contudo, as partes da floresta (organismos e meio físico) formam um sistema ecológico (ecossistema)
com cadeia trófica sustentável.

Sistema é o conjunto de partes em interação formando uma unidade (Bertalanffy, 1968).


As partes interagem entre si movidas pelo uso de energia.

A PRODUTORES B PRODUTORES

CONSUMIDORES DECOMPOSITORES CONSUMIDORES DECOMPOSITORES

A – Representação de um Ecossistema (energia do sol sustenta a comunidade); B – Representação de um


Sistema (organismos dependem de suprimentos externos).

capítulo 3 • 63
CURIOSIDADE A comunidade nos ecossistemas

Comunidade Comunidade refere-se a um conjunto de populações que vive em uma


Comunidade é a parte viva do ecos- área definida. Esta área corresponde ao habitat, que é o meio onde as
sistema, onde diversos organismos espécies conseguem abrigo, alimento e fluxo gênico. Um grupo de orga-
vivem juntos de forma ordenada. nismos de espécies idênticas ou similares que se integram num habitat
é chamado de população, sendo os indivíduos isoladamente definidos
Habitat por organismos.
“Habitat é o lugar onde vive um orga- Considerando que um ambiente para ser ecossistema deve manter
nismo e Nicho Ecológico inclui o pa- estrutura trófica, necessita de comunidade, formada por um conjunto
pel funcional do organismo na comuni- de população e esta por um conjunto de organismos, entendidos como
dade (estrutura trófica) e posição nos meio ou espaço biótico.
gradientes ambientais de temperatura,
umidade, solo e outras condições para ECOSSISTEMA COMUNIDADE POPULAÇÃO ORGANISMO
a sobrevivência” (Odum & Barret, 2007).

Autótrofos
Autótrofos são os organismos que
produzem seu próprio alimento por
meio da fotossíntese que envolve o ar-
mazenamento de uma parte da energia Comunidade como Componente do Ecossistema. Fonte: Adaptado de Brooks &
solar como energia potencial ou trans- Thompson (2006).
formada em alimento (Odum & Barret,
2007). Os organismos terrestres são tão variados que é difícil uma classificação
simplificada das diferentes formas e hábitos de vida, conforme é utili-
zado para os organismos aquáticos (bentos-plâncton-nécton). Uma das
formas aplicável pode ser por meio da estrutura trófica básica com base
nos nichos alimentares principais, isto é, as classes de autótrofos (pro-
dutores), heterótrofos (consumidores), e saprótrofos (decompositores).

Autótrofos – Produtores
A característica marcante das comunidades terrestres é a presença e comu-
mente a predominância de plantas de grande porte, que não somente são
os principais produtores de alimento como proporcionam abrigo para outros
organismos, além de desempenharem importante papel na manutenção do
ambiente (regulação do clima, resgate de CO2, dispersão) e produção eco-
nômica (madeira, lenha, carvão, frutos).
A vegetação constitui um aspecto tão característico que geralmente é utili-
zada como base para classificação e designação de comunidades terrestres,
mais do que o ambiente físico.
O reconhecimento das comunidades terrestres com base na vegetação
pode apresentar um grande número de formas de vida, como espécies

64 • capítulo 3
herbáceas (generalizadas por gramíneas e ervas, essas não gramíneas) e lenhosas, representa-
das por espécies arbustivas e arbóreas.
Outros termos podem se referir à adaptação ao longo dos gradientes ambientais, como:
•  Hidrófito (molhado)
•  Mesófito (úmido)
•  Xerófito (seco)
•  Halófito (salgado)
•  Heliófito (de sol)
•  Ciófito (de sombra)

ATENÇÃO
Outras adaptações são provenientes da economia de energia e de água do vegetal durante
período desfavorável (frio e/ou seca), caracterizando organismos caducifólios (desprovido de
folhas), podendo perder totalmente a folhagem (indivíduos decíduos), ou parte da mesma (semi-
decíduos), ao contrário da vegetação cujas folhas perduram, cujos indivíduos são chamados de
perenifólios ou sempre verdes.

Heterótrofos – Consumidores
Considerando o grande número de nichos proporcionados pela vegetação, as comunidades ter-
restres têm composição bastante variada de consumidores animais.
•  Os consumidores primários incluem não somente pequenos organismos, como insetos, mas
herbívoros muito grandes, como girafas, antas e outros.
•  Os consumidores secundários alimentam-se diretamente dos consumidores primários, sendo
formados principalmente por carnívoros de pequeno porte, enquanto os terciários alimentam-se
dos secundários, destacando-se no porte.

Saprótrofos – Decompositores
São organismos microscópicos, também chamados de microbiota, representados por cinco
grandes grupos: actinomicetos, algas, protozoários, fungos e bactérias, sendo que apenas os
dois últimos respondem a 90% da atividade microbiana no solo.
De maneira geral, os microrganismos estão envolvidos em vários processos no solo, tais
como, decomposição e síntese da matéria orgânica; ciclagem de nutrientes; transformações
bioquímicas específicas (nitrificação, desnitrificação, oxidação e redução do enxofre); fixação
biológica do nitrogênio; ação antagônica aos patógenos; produção de substâncias promotoras
ou inibidoras de crescimento, entre outros (Silveira & Freitas, 2007). Entre as bactérias, des-
tacam-se as que fixam o nitrogênio livre do ar no solo e os gêneros que fazem simbiose com
as espécies da família leguminosae (ou segundo classificação atual, famílias Caesalpiniaceae,
Mimosaceae e Fabaceae), formando nódulos nas raízes.
Alguns fungos também têm simbiose com plantas, constituindo junto com as raízes, as mi-
corrizas, formando um estojo ao redor da raiz, ou penetrando nela e fornecendo vários nutrientes.

capítulo 3 • 65
Além de microrganismos, outros organismos (macro) são detrívoros, contribuindo com
a decomposição da matéria orgânica (como pode observar na imagem abaixo) para ocorrer a
mineralização – liberação de nutrientes organicamente ligados por forma inorgânica, disponível
para vegetais e microrganismos.

Representação de organismos detrívoros e decompositores de matéria orgânica nos ecossiste-


mas terrestres. Fonte: Brooks & Thompson (2006).

ATENÇÃO
Em um determinado período de tempo, o tronco de árvore como meio físico fornece produto
como alimento aos consumidores (detrívoros) e decompositores, mantendo uma cadeia trófica,
mesmo que restrita e, por isto, por um tempo limitado, pode ser considerado um micro ecos-
sistema. Portanto, um ecossistema, dependendo da escala espacial e temporal pode estar
constituído em uma unidade de micro (tronco de árvore), meso (floresta) ou macro ecossistema
(planeta Terra), desde que a unidade analisada consiga se sustentar enquanto cadeia trófica, o
princípio do conceito de ecossistema, conforme Eugene H. Odum.

A estrutura trófica dos ecossistemas terrestres

A transferência de energia alimentar, desde a fonte nas plantas, através de uma série de or-
ganismos com a repetição de se alimentar e ser alimento, é designada de cadeia alimentar,
constituindo uma estrutura trófica.
A cada transferência de organismo como alimento, uma proporção de 80 a 90% da ener-
gia é perdida em forma de calor (segunda lei da termodinâmica), sendo que o número de
elos (nível) numa sequência de fluxo alimentar é limitado, usualmente de quatro a cinco
níveis. Esta sequência encontra-se interligada entre si, designando o termo teia alimentar.

66 • capítulo 3
PRIMEIRO NÍVEL SEGUNDO NÍVEL TERCEIRO NÍVEL QUARTO NÍVEL
TRÓFICO TRÓFICO TRÓFICO TRÓFICO
PRODUTORES CONSUMIDORES CONSUMIDORES CONSUMIDORES
(PLANTAS) PRIMÁRIOS SECUNDÁRIOS TERCIÁRIOS
CALOR CALOR (HERBÍVOROS) CALOR (CARNÍVOROS) CALOR (CARNÍVOROSTOPO)

ENERGIA
SOLAR

CALOR CALOR

CALOR CALOR

DETRITIVOROS CALOR
DECOMPOSITORES E COMEDORES DE DETRITOS

Representação de cadeia trófica de ecossistema terrestre. Brooks & Thompson (2006)

RESUMO
Desta forma, as plantas verdes ocupam o primeiro nível trófico (produtoras); o segundo nível é ocupado
pelos comedores de plantas (consumidores primários); o terceiro nível se refere aos carnívoros que se
alimentam de herbívoros (consumidores secundários); e o quarto nível sendo ocupado pelos carnívoros
que se alimentam dos carnívoros secundários (consumidores terciários).

A população de uma dada espécie pode ocupar um ou mais de um nível trófico de acordo
com a fonte de energia. O homem pode ocupar uma posição intermediária entre os con-
sumidores primários e secundários quando a sua alimentação se compõe de misturas de
produtos vegetais e animais, ou como consumidor primário quando adquire hábitos vege-
tarianos. Quando os consumidores se alimentam diretamente de grãos ou frutos que fixam
a energia solar, utilizam uma cadeia muito mais curta, aproveitando maior energia potencial.

Produtividade Primária Bruta corresponde ao total da produção vegetal em um determinado


período de tempo, enquanto a Produtividade Primária Líquida corresponde a esta produção,
descontados os gastos básicos com a respiração.

A perda de energia em cada transferência e a relação entre o tamanho e o metabolismo dos


organismos que participam da cadeia formam comunidades com estrutura trófica defini-
da, frequentemente característica de um tipo de ecossistema/unidade (floresta, mangue-
zal, recife de coral, agricultura etc.).
A estrutura trófica e também função ecológica podem ser ilustradas graficamente por
meio de pirâmides ecológicas, nas quais o primeiro nível forma a base e os níveis suces-
sivos formam camadas até o ápice. A pirâmide de energia, na qual se apresenta a veloci-
dade da corrente de energia e/ou produtividade, deve apresentar sempre a forma de uma

capítulo 3 • 67
pirâmide ereta, desde que tenham sido consideradas todas as fontes de energia alimentar
(produtores, consumidores).

CURIOSIDADE
É essencial manter a redundância em um ecossistema, ou seja, ter mais de uma espécie ou grupo de es-
pécies capazes de executar as funções principais ou prover conexões na teia alimentar. Espécies-chave
são aquelas que não apresentam redundância, sendo que a perda destas espécies causará mudanças na
estrutura da comunidade e no funcionamento do ecossistema.

A diversidade biótica dos ecossistemas terrestres

Os termos comunidade e estrutura trófica, no conceito de ecossistema, provê a noção sobre


a diversidade biótica existente. Poderia ser questionado se o componente diversidade seria
necessário no conceito utilizado por Eugene P. Odum, pois já se tem uma diversidade de
espécies na comunidade e na estrutura trófica.
Contudo, é importante reforçar que a diferença de um ecossistema e de sistemas am-
bientais, como os exemplos já utilizados (zoológico, centro urbano, e outros), é de que para
uma diversidade de espécies da flora e da fauna há necessidade de heterogeneidade genéti-
ca, e para fluxo de genes é essencial a disponibilidade de alimento, abrigo e deslocamento,
encontrada nos diferentes habitats ou ecossistemas. Portanto, a diversidade biótica se re-
fere a quatro níveis, observados na próxima imagem.

Diversidade biótica ou Biodiversidade é definida pela “variabilidade de organismos vivos de


todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros
ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a
diversidade dentre espécies, entre espécies e de ecossistemas” (BRASIL, 1998).

DIVERSIDADE FUNCIONAL DIVERSIDADE ECOLÓGICA

DIVERSIDADE GENÉTICA DIVERSIDADE DE ESPÉCIES

Representação dos Diferentes Níveis de Diversidade Biótica. Fonte: Adaptado de Brooks & Thompson (2006)

68 • capítulo 3
A garantia de diversidade de espécies associada à heterogeneidade gêni- CURIOSIDADE
ca depende das interações dos organismos com o meio físico e entre si,
nesse caso, denominadas de interações bióticas. Interações Bióticas
Rizzini (1997) adapta de Daubenmire (1959) um resumo sobre as As relações entre os distintos compo-
inúmeras relações envolvendo os organismos nas interações bióticas: nentes da paisagem são determinadas
pelos fatores climáticos, geomorfológi-
cos, hidrológicos e edáficos (do solo), as-
Comensalismo sociados aos fatores bióticos, formando
•  Vida em comum para obtenção de alimentos, sem prejuízos para o que cede. os diferentes ecossistemas e participan-
Simbiose do dos ciclos de materiais mantedores
•  Vida em comum com benefícios mútuos; também chamada de mutualis- desses. Nesse contexto, a vegetação é
mo, onde a simbiose passa a ser considerada vida em comum. o resultado dessas interações, e a sua
Predação manutenção dependerá da eficiência na
•  Obtenção de alimentos mediante sacrifício do que cede. polinização e na dispersão, que surgem
Parasitismo como processos de transporte ou mi-
•  Obtenção de alimentos com prejuízos gradativos. gração dos elementos disseminadores
Saprofitismo (pólens), ou reprodutivos (sementes e
•  Obtenção de alimentos mediante o uso de restos em decomposição. esporos), emitidos pela planta-mãe, atin-
Epifitismo gindo novos espaços ecológicos onde
•  Obtenção de suporte de uma planta sobre outra, sem interferências manifestas. conseguem se instalar.
Carnivorismo
•  Nutrição vegetal á custa de animais.
Competição
•  Efeitos de uma planta sobre a outra para obtenção de sombra, umidade
edáfica etc.
Zoofilia
•  Polinização durante a busca de alimentos nas flores.
Zoocoria
•  Disseminação de frutos, sementes e esporos pelos animais.


CURIOSIDADE
Na zoocoria, frugivoria é o ato de um animal se alimentar de frutos, aproveitamen-
to da polpa ou outras estruturas que não as sementes, que são eliminadas intactas,
seja por defecação ou por regurgitação.
A granivoria se refere ao animal se alimentar especificamente da semente, depre-
dando-a, não permanecendo viáveis as germinações, mas mesmo assim com certo
potencial se o granívoro acumular sementes no período de frutificação, enterrando
-as. A capacidade das plantas para alcançar um habitat adequado é um fator decisivo
na maneira como se estruturam as comunidades, sendo desenvolvidas as estraté-
gias através de agentes polinizadores e dispersores.

capítulo 3 • 69
CURIOSIDADE Os ciclos de materiais dos ecossistemas
Biogeoquímicos
terrestres
O termo biogeoquímico vem de Bio
(vivo), geo (rocha, ar e água da Ter- Focando no conceito de ecossistemas, percebe-se que a cadeia trófica,
ra) e químico (composição e troca de base deste, está associada ao meio físico básico. Neste meio, os elemen-
elementos), constituindo-se na ciência tos químicos tendem a circular na biosfera, do ambiente para os orga-
que trata da corrente de energia impul- nismos e destes novamente para o ambiente. Estas vias são conhecidas
sionando o ciclo de matéria, ou seja, o por ciclos biogeoquímicos.
estudo da troca ou do fluxo dos mate- De maneira geral, os ciclos biogeoquímicos classificam-se em tipos
riais entre os componentes vivos e não gasosos, nos quais o depósito está na atmosfera e hidrosfera, e os se-
vivos da biosfera. dimentares, nos quais os depósitos estão na litosfera (crosta terrestre).

Os seres vivos têm necessidade de cerca de 40 elementos para fazer a sín-
tese de seu protoplasma, dos quais alguns são retirados principalmente da
atmosfera: hidrogênio, oxigênio, carbono e nitrogênio, e alguns da litosfera
(sedimentos): fósforo, enxofre etc. Estes elementos, passando a compor o
meio físico e interagindo com a comunidade, resultam nos ciclos mais co-
nhecidos para a manutenção dos ecossistemas terrestres, como o ciclo do
carbono, onde o CO2 captado pelos vegetais da atmosfera na presença da
energia solar e da água constitui a estrutura dos produtores (matéria orgâni-
ca), servindo de base alimentar para toda a estrutura trófica.

ATENÇÃO
Este ciclo também está associado ao ciclo da água, podendo ser considera-
dos os dois ciclos mais importantes ao Homem, pois são caracterizados por
depósitos atmosféricos pequenos, muito ativos e vulneráveis às perturba-
ções antropogênicas, podendo ocasionar alterações no clima.

OXIGÊNIO

DIÓXIDO DE
CARBONO

CONSUMIDORES

QUEDA DE M.O.
NUTRIENTES DECOMPOSIÇÃO
PRECIPITAÇÃO MINERAIS
M.O. NO SOLO

Parte do Ciclo do Carbono associado ao Ciclo da Água. Fonte: Brooks &


Thompson (2006)

70 • capítulo 3
Outros ciclos se destacam na formação e manutenção dos ecossistemas terrestres, como o
ciclo do oxigênio, do potássio, do ferro, do fósforo e do nitrogênio.

EXEMPLO
Tomando como exemplo o ciclo do nitrogênio (ilustrado na imagem abaixo), é possível considerar, assim como
o ciclo do carbono, que estes se ajustam, por si próprios, às perturbações por causa do depósito atmosférico.
Os ciclos sedimentares, como o fósforo e o ferro, tendem a ser menos eficientes e mais facilmente rompi-
dos por perturbações locais, tendo em vista que o grande depósito de material encontra-se relativamente
intacto e imóvel na crosta terrestre.

NIROGÊNIO
ATMOSFÉRICO
FIXAÇÃO DE
POR PROCESSOS NITROGÊNIO
INDUSTRIAIS, RAIOS,
VULCÕES TECIDOS VEGETAIS TECIDOS ANIMAIS,
FEZES, URINA
SÍNTESE DE
AMINOÁCIDOS

DECOMPOSIÇÃO
AMÔNIO POR FUNGOS E BACTÉRIAS
NAS PLANTAS

FIXAÇÃO DE ASSIMILAÇÃO POR


NITROGÊNIO CÉLULAS VEGETAIS DESNITRIFICAÇÃO POR
COMPOSTOS
BACTÉRIAS NO SOLO
ORGÂNICOS
NITRATOS NO SOLO
POR BACTÉRIAS DE
VIDA LIVRE NO SOLO PERDA POR
LIXIVIAÇÃO

NITRIFICAÇÃO POR PERDA EM


AMONIFICAÇÃO POR SEDIMENTOS
BACTÉRIAS NO SOLO BACTÉRIAS NO SOLO PROFUNDOS
AMÔNIO NO SOLO

Ciclo do Nitrogênio no Ecossistema Terrestre: Fonte: HowStuffWorks (2007)

Contudo, o Homem atualmente tem vivenciado que os distúrbios locais podem ser preju-
diciais, e que há limites para a capacidade de ajustamento automático da atmosfera, es-
pecialmente considerando que as pessoas, além do uso dos 40 elementos essenciais, têm
utilizado quase todos os elementos existentes na natureza, bem como os produzidos sinte-
ticamente, mais recentes, tornando os ciclos imperfeitos e os processos de materiais acíclicos.

capítulo 3 • 71
RESUMO
O objetivo da conservação dos recursos naturais, generalizando, consiste em tornar os processos acíclicos
mais cíclicos, onde os conceitos de reciclagem e reuso passaram a ser essenciais para a sustentabilidade
da humanidade.

A energia nos ecossistemas terrestres

Considerando o conceito-chave de ecossistema neste capítulo, bem como a explicação de


seus componentes, resta integrá-los de forma a entender a energia que forma uma estrutu-
ra trófica, uma diversidade biótica e ciclos de materiais. Esta energia está associada à fonte
que fornece vida aos produtores, e consequentemente, aos consumidores e decomposito-
res, bem como é responsável pela formação do meio físico para manter esta comunidade
diversa, e suas interações, resultando nos ciclos de materiais. Portanto, a energia é fonte e
é fluxo (corrente).

ATENÇÃO
Importante considerar que o uso da energia é a capacidade de realizar trabalho e transferir calor, e tem im-
plicação termodinâmica. A termodinâmica envolve energia, trabalho e calor. Na primeira lei da termodinâmica
(Lei da Conservação de Energia) é possível considerar que em uma alteração física ou química pode-se
transformar uma forma de energia em outra, mas nunca poderá criar ou destruir qualquer energia envolvida.
A conversão da energia produz uma geração de calor – energia que não poderá mais ser utilizada
pelo sistema (perda-entropia). Para o sistema continuar existindo, necessitará de suprimento de energia
vinda de uma fonte externa, cuja constante desorganização, promovida pela geração da entropia, é impedi-
da devido ao suprimento constante de energia nova, que apresenta potencial de trabalho, e à expulsão de
calor gerado nas conversões energéticas para fora do sistema.
Portanto, sempre que a energia muda de uma forma para outra, termina-se com menos energia
utilizável do que se tinha no início (princípio da segunda lei da termodinâmica).

ENERGIA ENERGIA ENERGIA


ENERGIA QUÍMICA QUÍMICA QUÍMICA
SOLAR fotossíntese alimento
movimento
pensamento

CALOR CALOR CALOR CALOR


RESIDUAL RESIDUAL RESIDUAL RESIDUAL

Representação das Leis da termodinâmica aplicadas a um Ecossistema Terrestre. Fonte: Brooks &
Thompson (2006).

72 • capítulo 3
A energia como suporte de vida no Planeta flui e gera ordem, aplicando- CURIOSIDADE
se a todas as escalas de magnitude no Universo, do mundo molecular
ao vasto sistema estrelar. Qualquer diferença de temperatura dentro do Biomas
planeta Terra gera gradientes térmicos, resultando na realização de tra- O bioma é a unidade de comunidade
balho. Este trabalho é o movimento de fluxo de energia que possibilita terrestre mais ampla, cuja comunidade
a cadeia trófica, opera a atmosfera, as correntes oceânicas e o ciclo geo- vegetal é uniforme e estável com o clima
lógico, que eleva e erode montanhas. Estes movimentos formam os sis- (clímax), associada a vida animal carac-
temas energéticos de suporte da vida na terra. As fontes de energia para terística. Um bioma pode corresponder
este movimento são energia solar e geotérmica, do centro do planeta. a um grande ecossistema terrestre ou a
Estes sistemas acoplam-se como engrenagens permitindo o funciona- um conjunto deles, dependendo da escala
mento dos ciclos. da estrutura trófica que consiga suportar.
São incluídas não apenas a vegetação clí-
As principais comunidades terrestres, os biomas max, que se constitui na chave para identi-
ficação do bioma, mas também as etapas
O meio físico interage com a comunidade (biota) podendo resultar em de desenvolvimento (estágios pioneiros
diferentes unidades facilmente reconhecíveis, designadas de biomas, ao clímax), designadas de etapas seres
onde o clima é fator preponderante. ou estágios sucessionais.

Biomas Mundiais: atualmente a classificação de biomas reconhecida mun-


dialmente refere-se ao conjunto de grandes regiões geográficas ou zonas
climáticas onde existe um padrão reconhecível das comunidades vegetais.

• Tundra
Zona situada além do limite natural das árvores, passando no hemisfé-
rio Norte pelo Círculo Ártico, Sibéria Central e Alasca, Apresenta um pe-
ríodo sem neve inferior a três meses, sendo a média do mês mais quente
inferior a 10C, existindo uma camada de solo permanentemente gela-
do (permafrost). A vegetação consiste de líquens, gramíneas, herbáce-
as e plantas lenhosas anãs. A fauna é composta de poucos animais que
permanecem ativos ao longo do ano, como o caribu, a rena, o boi almis-
carado, a lebre, a raposa do ártico, o lemingue, o lagópode branco e os
arganazes. No verão, são visíveis as aves migratórias (coruja, verdelhão,
ganso das neves) e alguns insetos (mosquitos e simulídeos). Como adap-
tação, destacam-se a coloração branca frequente nos mamíferos e aves
árticas como proteção contra predadores ou amortecimento dos fenô-
menos químicos na formação de pigmentos.

capítulo 3 • 73
•  Floresta de Coníferas ou Boreal (Taiga):

De clima frio e inverno longo, com periodicidade estacional, encontrando-se na América


do Norte e Eurásia. A vegetação é constituída de espécies perenifólias ou sempre-verde,
composta de coníferas, como os pinheiros (Pinus, Cupressus), abetos, píceas e um fraco de-
senvolvimento de arbustos e ervas. Na fauna destacam-se alce, urso, lobo, raposas, glutão,
marta, visão, esquilo, porco-espinho canadense, aves como o tetraz-grande, bico-cruzado,
pintassilgo, numerosos insetos xilófagos. As populações oscilam como na Tundra.

•  Floresta Temperada Decídua:

Ocupa áreas com quedas pluviométricas abundantes, regularmente distribuídas e tempe-


raturas moderadas que propiciam um padrão estacional, encontrando-se naturalmente
em toda a Europa, na América do Norte, em parte do Japão e Austrália e em uma ponta
na América do Sul. As ervas e arbustos encontram-se bem desenvolvidos e as árvores apre-
sentam folhas caducifólias. Apresenta vertebrados arborícolas, como esquilo, leirões, pi-
ca-pau; mamíferos terrestres, como os veados, javalis e ursos; roedores, como os ratos e
as arganazes, que são caçados por pequenos carnívoros, como as raposas e as doninhas;
dentre os insetos destacam-se os coleópteros, os dípteros e os himenópteros. O ambiente
mantém intensa atividade na camada de folhas mortas com grande diversidade de aves
habitando diferentes estratos.

•  Chaparral (ou Mata Esclerófila ou Floresta Mediterrânea):

Regiões com chuva de inverno abundante e verão seco, ao longo da costa do Mar Mediter-
râneo (Europa, Norte da África e América do Norte), com dominância arbustiva decorrente
do fator fogo. A vegetação é composta por árvores de folhas persistentes, como o carvalho
verde e o sombreiro, e por arbustos formando moitas. Ocorrem abundantes cobras, sendo
característicos os pequenos coelhos, ratos do bosque e lagartos; os veados-mula e diversas
aves habitam na estação das chuvas. Os vertebrados são pequenos e escuros devido à vege-
tação baixa e à predominância de arbustos.

• Deserto:

Geralmente encontra-se em regiões de pouca pluviosidade ou má distribuição desta, po-


dendo apresentar baixa ou alta temperatura (Saara - norte da África; Gobi - Ásia/Mongólia;
Kalahari - sudeste da África; Patagônia - América do Sul; Deserto de Vitória – Austrália).
Apresenta plantas anuais que se desenvolvem apenas quando há umidade adequada, plan-
tas suculentas (cactos) que acumulam água, e arbustos com numerosos ramos e folhas pe-
quenas e espessas que podem cair durante os períodos de seca; encontram-se espaçada-
mente. Apresenta poucos vertebrados, sobressaindo-se o antílope do Saara, vários roedores
de vida subterrânea, aves corredoras, insetos coleópteros e o louva-a-deus. Os organismos

74 • capítulo 3
apresentam adaptação pela redução da sudação e da eliminação urinária, pela utilização
da água do metabolismo, pelo consumo limitado de água livre e procura de alimentos ri-
cos em água, pela procura de sombra, pela vida noturna e hibernal, pelo uso de corrida e
de salto, hipertrofia do tímpano dos roedores (ouvir melhor), pela homocromia (animais
geralmente são pálidos) e pela morfologia vegetal.

•  Floresta Pluvial Tropical:

De temperatura relativamente constante e umidade elevada, representada na bacia do


Amazonas e do Orinoco na América do Sul e Central, na África Central e Ocidental, em Ma-
dagáscar e na Indo-Malásia. Apresenta grande diversidade biótica, com representantes ve-
getais de grande porte, normalmente as árvores formam três estratos. A fauna é abundante
e variada, existindo espécies arborícolas que só raramente descem à terra; entre os mamífe-
ros destacam-se os macacos, lêmures, esquilos, o porco-espinho, alguns tamanduás, a pre-
guiça, o jaguar, o urso malaio; as aves têm cores vivas, como os tucanos e os papagaios; os
répteis e anfíbios possuem numerosas formas arborícolas, entre as serpentes, camaleões e
rãs; no solo os mamíferos são os antílopes, o pecari, a cotia, o hipopótamo anão, a capivara;
os invertebrados são frequentemente grandes e coloridos; no solo as formigas e as térmitas
desempenham considerável papel, e os mosquitos são de numerosas espécies cada uma
vivendo em uma altura determinada. Mamíferos e répteis arborícolas podem apresentar
poderosas garras (preguiça) ou cauda pênsil (macacos) ou uma membrana servindo de pla-
nador (esquilo voador, dragão voador).

•  Floresta Tropical Decídua:

Ocorre em climas tropicais úmidos com uma estação pronunciadamente seca, durante a
qual as árvores perdem as folhas. Inclui as florestas de monções da Ásia tropical e parte da
Mata Atlântica no Brasil. A aparência sazonal é a mesma da Floresta Temperada Decídua.

•  Floresta Tropical Arbustiva:

Onde as condições de umidade nos trópicos são intermediárias entre o deserto e a savana
de um lado e a floresta pluvial do outro, aparecem os arbustos tropicais ou as florestas de
espinhos, chamadas de arbustos na África e caatinga no Brasil. Cobrem grandes áreas no
centro da América do Sul, sudoeste da África e partes do sudoeste da Ásia. A vegetação é
composta de pequenas árvores (arbustos) de madeira dura, retorcidas e com espinhos.

• Savana:

De clima tropical na África, Ásia, América (Brasil - caatinga e cerrado) e Austrália; pre-
sença de fogo devido à seca prolongada. Destacam-se as gramíneas, arbustos e árvores dis-

capítulo 3 • 75
persas ou em grupos (acácia, baobá, palmeiras na África, cactáceas na América e eucaliptos
na Austrália). A fauna é representada pelo antílope, gazela, zebra, girafa, elefante, leão e
leopardo na África; aves como a avestruz na África e a ema na Austrália; insetos como as
formigas e os cupins. A vegetação é resistente à seca e ao fogo.

•  Estepes Temperados ou Semidesertos (Biomas similares):

Desenvolvem-se em regiões cujo clima tem períodos de seca prolongados, formando uma
faixa da Ucrânia à Mongólia (Velho Mundo) e nos continentes africano, australiano e ame-
ricanos (América do Norte - pradarias e América do Sul - campos). Predominam espécies
de gramíneas com raízes muito desenvolvidas para procurar água e espécies de ervas. A
fauna é rica em grandes herbívoros, como a gazela, o antílope, o cavalo selvagem no Velho
Mundo, bisão, antílope; pequenos mamíferos cavadores, como o hamster, a marmota, cães
na América do Norte; predadores como o lobo na Eurásia, o coiote e as raposas na América;
entre os insetos destacam-se os acrídeos e coleópteros. As aves apresentam hábitos baixos,
vivendo ao chão.

• Montanha:

De extremas altitudes e condições de vida muito especiais, cujos limites de altitude variam
segundo a região (Himalaia – Ásia; Andes - América do Sul; Montanhas Rochosas - América
do Norte). A vegetação varia em função da exposição em relação ao sol, da natureza do solo
e da duração da neve. A fauna pode ser composta de alguns mamíferos, quase todos her-
bívoros, como as camurças, a marmota e a lebre variável; aves como o lagópode e a perdiz
vermelha; abundantes insetos, entre os coleópteros e os colêmbolos (pulga das geleiras);
répteis, como a salamandra negra. Os animais apresentam apterismo, em razão dos ventos
violentos, resistência às baixas temperaturas, diapausa hibernal dos insetos, vida latente
da marmota e construções de tocas sob a neve.

• Gelo:

Correspondem às calotas polares, sendo ambientes extremos, com pouca vida. Predomi-
nam algas verdes e uma variedade de microrganismos heterotróficos que vivem dentro e
debaixo do gelo.

Biomas Brasileiros: a classificação dos Biomas atualmente adotada no Brasil corresponde à


imagem abaixo. As formações vegetais que compõem estes Biomas passaram a receber uma
classificação adaptada a um sistema universal, considerando os seus aspectos sociológicos e
florísticos, conforme Veloso et al, (1991).
As informações aqui apresentadas associam estas classificações, biomas e formações vegetais.

76 • capítulo 3
Distribuição dos Biomas Brasileiros. Fonte: IBGE (2013).

•  Bioma Costeiro:

Corresponde à região litorânea composta pelos ecossistemas de manguezal, de vegetação


restinga e de banhados. O manguezal, classificado como formação pioneira com influência
fluvio-marinha, ocorre na desembocadura de rios com o mar, às margens dos estuários até
onde existir influência da maré, em solos limosos com acúmulo de matéria orgânica.
A vegetação é constituída por Rhizophora mangle, Avicenia sp e Laguncularia racemo-
sa; com folhas resistentes à salinidade, presença de raízes tabulares, e raízes respiratórias
(pneumatóforos). Quando a água do mar encontra-se represada, aparecem as gramíneas
Spartina e Salicornia.
Quanto à fauna, predominam o caranguejo e moluscos, principalmente ostras. A vege-
tação de restinga, formação pioneira com influência marinha, ocorre na planície arenosa,
em algumas situações também em afloramento rochoso, formando-se a partir da estabili-
dade das dunas, onde as plantas pioneiras propiciam melhores condições de solo e surgi-
mento de outras plantas mais exigentes. As primeiras pioneiras a surgir são as plantas ras-
tejantes, como a Philorexus, a Alternanthera e a Ipomoea; em seguida as gramíneas, depois
os arbustos e trepadeiras e, finalmente, as árvores e epífitas.
Como adaptações, a vegetação apresenta folhas carnosas com acúmulo de sal, caules
rastejantes e subterrâneos (estolões) e raízes profundas. Os banhados ou brejos, formação
pioneira com influência fluvial, apresentam comunidades vegetais das planícies aluviais,
que refletem os efeitos das cheias dos rios nas épocas chuvosas, ou então, das depressões
alagáveis todo o ano.

capítulo 3 • 77
•  Bioma Mata Atlântica:

Acompanha a linha da costa leste brasileira, desde o nordeste do Rio Grande do Sul até o
sul da Bahia, adentrando para o interior. Apresenta heterogeneidade climática com alta
diversidade de espécies, grau de endemismo e vegetais de grande porte. Integram este bio-
ma as seguintes formações vegetais: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista
(Mata de Araucárias); Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; Floresta
Estacional Decidual; e Estepes (Campos de Altitude).
Atualmente foi classificada uma nova formação vegetal na composição deste bioma, a
Floresta Estacional Sempre Verde. As formações pioneiras (manguezal, vegetação de res-
tinga e banhados) são consideradas ecossistemas associados a esse bioma. Além de diver-
sas formações vegetais, algumas representadas nas imagens abaixo, cada uma dessas for-
mações apresenta uma série de subdivisões, as quais decorrem da interação com o meio
físico (relevo, solo, altitude e outros).

•  Bioma Campos Sulinos (Estepes):

Ocorre no extremo sul do Brasil, sendo conhecido como pampa (próximo ao litoral) e cam-
panha (mais ao interior). Contudo, as características deste bioma são similares à forma-
ção de campo de altitude do bioma mata atlântica. Portanto, apresentam extensas áreas
de campo, só sendo interrompidas pelas colinas que acompanham o percurso de rios com
sinuoso adensamento de árvores, chamado de mata ciliar. Predominam as gramíneas dos
gêneros: Andropogon, Briza, Poa e Stipa. Também são comuns as ervas da família das ama-
rantáceas, no permeio destas gramíneas. Também são encontradas pequenas árvores es-
parsas, constituindo as diferentes subdivisões.

•  Bioma Caatinga (Savana-estépica):

Abrange os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte,
Ceará e partes do Piauí e de Minas Gerais. Generalizando, o solo é pedregoso e raso, ocor-
rendo em algumas partes afloramento de rocha. Ocorrem longos períodos de estiagem que
tornam a paisagem agressiva pela abundância de cactáceas e pelas árvores e arbustos com
espinhos, sendo que após a chuva, de inverno, a paisagem se transforma. As árvores em
geral são esparsas e de pequeno porte.

•  Bioma Pantanal (Savana-estépica):

No oeste do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Área inundada regularmente, durante os
meses de outubro a março, como consequência do extravasamento dos rios da região. No
período de estio, o terreno apresenta-se seco, mas ocorrendo várias lagoas. Constitui refú-
gio para a fauna, apresentando grande diversidade biótica e de ambientes. Como a caatin-
ga, o pantanal foi classificado como em savana-estépica, apresentando as mesmas subdi-
visões, mas nesse caso diferenciado pelas condições de alagamento, e não de seca no solo.

78 • capítulo 3
•  Bioma Cerrado (Savana):

Encontrado no centro-oeste brasileiro, abrangendo Minas Gerais, Mato Grosso, Brasília,


Goiás e partes menores de São Paulo, Paraná, Maranhão e Piauí. Apresenta-se em terreno
suavemente ou fortemente ondulado, mas com solo normalmente profundo. Com marca-
da estação seca que pode durar 5 a 7 meses, sendo que toda a vegetação herbácea e arbus-
tiva seca e morre, os arbustos e parte das árvores perdem suas folhas e as gramíneas ama-
relecem. A ocorrência de queimadas fez com que as plantas tornem-se resistentes através
do xilopódio (órgão lenhoso na base da planta). Também as árvores apresentam troncos
tortuosos de casca grossa, de porte médio a pequeno. As condições ambientais determi-
nam as devidas subdivisões.

•  Bioma Amazônia:

Maior extensão florestal do Planeta, estendendo-se através do Pará, Amazonas, Acre, Ama-
pá, Roraima, Rondônia e parte do Maranhão, Goiás e Mato Grosso, compreendendo, ainda
partes da Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname e Guianas.
Maior parte da área localiza-se sobre extensa planície, drenada por fantástica rede de
rios que deságuam no rio Amazonas. Existem no mínimo três tipos de composição florísti-
ca: a que ocupa áreas inundadas pelos igarapés; a que ocupa área periodicamente inunda-
da das várzeas; e a que ocupa as terras firmes. Predominam solos rasos e arenosos, forma-
dos por matéria orgânica em decomposição. Nas áreas inundadas, permanentemente ou
não, as copas das árvores não se tocam, permitindo a entrada de luz; os troncos são grossos
devido ao aumento de sua superfície para sustentação ou pela formação de raízes adven-
tícias de suporte (sapopemas); entre as plantas destaca-se a Victoria regia, Ceiba, Virola,
Hevea brasiliensis (seringueira), destacando, no sub-bosque espécies de palmeiras, como
o açaí e o buriti.
Nas áreas de terra firme, a copa das árvores encostam umas às outras, destacando a Ber-
tholettia (castanha-do-pará), e Paulinia (guaraná); no sub-bosque também se encontram
palmeiras. Da mesma maneira que a Floresta Atlântica, integrante do Bioma Mata Atlânti-
ca, a principal formação vegetal que constitui o Bioma Amazônia é classificada como Flo-
resta Ombrófila Densa e, portanto, já representada anteriormente.

capítulo 3 • 79
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CONSTITUIÇÃO dos solos. Disponível em < http://terratransformacao.blogspot.com/2009/09/constitui-
cao-dos-solos.html >. Acesso em: 23 maio. 2014.

IMAGENS DO CAPÍTULO
p. 61 Zoológico de Barcelona
Yearofthedragon · Wikimedia · cc

Desenhos e gráficos cedidos pelo autor do capítulo e ilustrados por Victor Maia

80 • capítulo 3
4 Ecossistemas
aquáticos

antônio carlos beaumord


4 Introdução
Ecossistemas aquáticos

A água cobre aproximadamente 71% da superfície da Terra, distribuída entre os diversos ambien-
tes aquáticos como lagos, rios, geleiras e oceanos, totalizando quase 1,4 bilhão de quilômetros
cúbicos, ou 1,4 x 1015 milhões de litros. Os oceanos concentram aproximadamente 97% desse
volume; enquanto as calotas polares acumulam cerca de 2%, e os rios, lagos e águas subterrâneas,
apenas 1% (WETZEL, 2001; MOLLES, 2002; TUNDISI, 2003).

O comportamento da água no Planeta é dinâmico. Os ambientes aquáticos funcionam


como reservatórios, ou seja, locais onde a água fica armazenada por diferentes intervalos
de tempo, tais como, rios, lagos, oceanos, além da atmosfera e geleiras. A partir da energia
solar, que além de promover, diretamente, processos de evaporação, propicia mudanças de
temperatura, gerando ventos e chuvas, a água circula pelos diversos reservatórios através
de processos de evaporação, condensação, congelamento, precipitando em forma de chu-
vas, fluindo sobre as superfícies terrestres e penetrando no solo.
Esse conjunto de processos denomina-se ciclo da água (WETZEL, 2001; MOLLES, 2002;
TUNDISI, 2003).

O ciclo da água

82 • capítulo 4
RESUMO IMAGEM
Considerando-se este ciclo, e tomando-se como ponto de partida a precipitação so-
bre a superfície terrestre, a água, além de percolar no solo ou ser interceptada pela
vegetação terrestre, em menor escala, acumula nos lagos e flui pelos rios, em maior
escala, dando origem aos ambientes epicontinentais. Por sua vez, os rios fluindo
pelos continentes já em terrenos de baixas altitudes, quando se aproximam do litoral,
começam a receber a influência das marés, gerando um ambiente de transição e for-
mando os estuários. Finalmente, a água encontra os ambientes marinhos costeiros,
antes de alcançar os oceanos abertos e mais profundos. Os oceanos cobrem cerca de 360
Em todos esses ambientes são encontradas comunidades biológicas esta- milhões de km2, e consistem em uma
belecidas, que evoluíram e se distribuíram conforme os fatores abióticos peculiares contínua e interconectada massa d’água.
de cada local, como as condições de temperatura, luminosidade, substrato, dinâmi- O oceano Pacífico corresponde a
ca da água; recursos disponíveis, como nutrientes inorgânicos; além das interações praticamente metade de toda essa área,
biológicas entre os organismos, como competição, predação, mutualismo, formando com 180 milhões de km2; já o Atlântico
assim os ecossistemas aquáticos. corresponde a cerca de 106 milhões de
km2, e o Índico, um pouco mais de 74
De maneira geral, os organismos aquáticos podem ser classificados km2. Enquanto os dois primeiros
basicamente conforme sua associação com o ambiente em que vivem, abrangem os dois hemisférios, o último
como o plâncton e o nécton, na coluna d’água, e os bentos, associados está confinado no hemisfério Sul. A
aos substratos de fundo. profundidade média varia entre 3.900 e
4.000 metros, sendo que as fossas
oceânicas podem atingir até 10.000
Os organismos planctônicos são desprovidos de órgãos de locomoção, ou, metros de profundidade, como a fossa
quando os têm, são insuficientes para vencer a força dos movimentos da das Marianas no oceano Pacífico
água, sendo, portanto errantes. Dividem-se em autotróficos (fitoplâncton) e (MOLLES, 2002; TOMCZAK & STUART-
heterotróficos (zooplâncton), produtores primários e consumidores, respec- GODFREY, 2003; GARRISON, 2010).
tivamente, sendo geralmente de tamanhos bastante reduzidos, a maioria,
microscópicos. Cabe ressaltar que as algas planctônicas marinhas são res-
ponsáveis por grande parte da produção de oxigênio no planeta, superan-
do a produção por florestas tropicais. Os organismos nectônicos possuem
eficientes órgãos locomotores e, portanto, são ativos nadadores. Devido ao
porte e abundância, organismos nectônicos, como lulas e peixes, constituem
a maioria dos recursos pesqueiros pelágicos, especialmente nos oceanos
das zonas de clima temperado do Planeta (LEVINTON, 1982; ODUM &
BARRETT, 2007).

Por sua vez, os organismos bentônicos podem ser sésseis, quando vivem fixa-
dos a substratos, ou móveis, porém vivendo associados ao fundo, constituindo-
se em recursos pesqueiros demersais. Esses organismos podem ser animais,
ou zoobentos; e micro e macro algas, além de plantas aquáticas enraizadas,
ou fitobentos. Esta classificação é aplicada tanto para os organismos de am-
bientes marinhos, quanto para os de ambientes epicontinentais (LEVINTON,
1982; ODUM & BARRETT, 2007).

capítulo 4 • 83
Ambientes marinhos: características e processos
Os oceanos podem ser divididos em diferentes zonas tanto horizontal quanto verticalmente:
•  A região rasa que sofre influência das marés é chamada zona litoral ou intertidal.
•  Da região costeira até a borda da plataforma continental, cerca de 200 metros de pro-
fundidade é considerada a zona nerídica;
•  Além da plataforma continental, considera-se a zona oceânica.

Verticalmente, considera-se a camada superficial até 200 metros de profundidade a zona epi-
pelágica; zona mesopelágica, entre 200 e 1.000 metros de profundidade; e, zona batipelágica,
entre 1.000 e 4.000 metros. A camada entre 4.000 e 6.000 metros é chamada de zona abissal,
e finalmente, as partes mais profundas, abaixo de 6.000 metros é chamada zona hadal (Figura 2)
(LEVINTON, 1982; LALLI & PARSONS, 1997).

Zonações oceânicas

Luz e temperatura são fatores relacionados à radiação solar. Cerca de 80% da energia solar que atinge os
oceanos é absorvida nos primeiros 10 metros de profundidade. A partir daí, o espectro luminoso decai po-
dendo atingir a profundidade de 600 metros, em águas muito claras. Abaixo desta profundidade as águas
se tornam totalmente escuras (TOMCZAK & STUART-GODFREY, 2003; GARRISON, 2010).

A temperatura das águas apresenta um padrão no sentido vertical, quando a temperatura diminui das
águas superficiais para águas mais profundas, formando uma estratificação térmica com camadas de di-
ferentes temperaturas, e consequentemente diferentes densidades. A ocorrência de uma mudança brusca
na temperatura com a profundidade, como diferenças de 1oC a cada metro de profundidade, é denomina-
da termoclina (POND & PICKARD, 1986; PICKARD & EMERY, 1990; GARRISON, 2010).

A temperatura das águas também apresenta uma variação no sentido horizontal, condicionado pela latitu-
de. Sendo assim, as temperaturas das águas superficiais dos oceanos decaem da região equatorial, que
podem apresentar águas com temperaturas até 30oC, em direção às regiões polares, com águas com
temperaturas próximas a –1oC. Combinando-se os efeitos vertical e horizontal da temperatura das águas
oceânicas, observa-se que as termoclinas são mais pronunciadas nas águas tropicais, e praticamente ine-
xistentes nas águas polares (GARRISON, 2010).

84 • capítulo 4
A salinidade, dada pela quantidade de sais dissolvidos na água, varia conforme a latitude e a proximidade
do deságue de grandes rios. Nas águas tipicamente oceânicas são encontradas concentrações entre 34
e 36,5‰ (partes por mil), podendo chegar a 40‰, em regiões mais áridas, como no mar Vermelho. De
maneira geral, menores salinidades são encontradas nas regiões equatoriais e latitudes superiores a 40o,
onde a precipitação é maior que a evaporação; enquanto que, nas regiões temperadas, onde a evaporação
é maior do que a precipitação são verificadas mais salinidades (TOMCZAK & STUART-GODFREY, 2003;
GARRISON, 2010).

Juntamente com a temperatura, a salinidade determina a densidade, outro fator relevante nas águas oceâ-
nicas, definindo assim diferentes massas de água. As águas de superfície não se enquadram na categoria
de verdadeiras massas de água devido às grandes variações de temperatura e salinidade, e que devido
à ação dos ventos se misturam, sendo assim chamadas de camada superficial de mistura (TOMCZAK &
STUART-GODFREY, 2003).

A convecção profunda e a subdução são os processos envolvidos na formação de massas de água, a


partir de diferenças nas temperaturas e salinidade, conforme a região, e estão associadas à dinâmica da
camada de mistura na superfície. Com o aumento da densidade, a camada superficial afunda e se mistura
vagarosamente com outras massas de água, à medida que se desloca para o fundo. A velocidade dessas
correntes é muito pequena, de cerca de 1 centímetro por segundo. Desta forma, a renovação das águas
abaixo da camada superficial se dá pela ação das correntes formadas por diferenças de densidade resul-
tantes da variação de temperatura e/ou salinidade (POND & PICKARD, 1986; PICKARD & EMERY, 1990;
TOMCZAK, M & STUART-GODFREY, 2003).

Geralmente, as correntes termohalinas têm origem em altas latitudes, com águas frias e densas
que afundam e lentamente fluem em direção ao equador, onde voltam a aquecer, promovendo
assim circulação termohalina. Portanto, a circulação termohalina refere-se ao conjunto de corren-
tes oceânicas que forma um padrão global de circulação oceânica, induzida pelas diferenças de
temperatura, salinidade e densidade das aguas oceânicas (GARRISON, 2010).

Circulação global dos oceanos

capítulo 4 • 85
CURIOSIDADE Enquanto nas regiões subtropicais a formação de massas d`água se
dá por subdução, devido à convergência da camada superficial para o
Massas d`água fundo, a formação de massas de águas profundas por convecção ocorre
As massas d’água são denominadas de principalmente nas regiões polares e subpolares. Nessas águas a colu-
acordo com a profundidade na qual são na d’água é praticamente homogênea em termos de densidade, e por
encontradas e com a região geográfica conseguinte, ocorre pouca estratificação ao longo da coluna. Mesmo as-
de procedência; dentre as principais mas- sim, quando a água na camada de mistura se torna mais densa, seja por
sas d’água, encontram-se a Água Antár- resfriamento e/ou pelo aumento da salinidade por evaporação ou pela
tica de Fundo (AABW: Antarctic Bottom formação de gelo, essa camada submerge atingindo grandes profundi-
Water), que é formada principalmente no dades (TOMCZAK & STUART-GODFREY, 2003).
Mar de Ross e de Weddell por convecção
profunda e preenche as bacias oceânicas Em função da rotação da Terra, a circulação superficial dos oceanos, ou
abaixo dos 4000 metros de profundida- giros, obedece padrões distintos entre os hemisférios, sendo no sentido ho-
de; a Água Profunda do Atlântico Norte rário ao Norte, e no anti-horário ao Sul. Ainda, conforme o relevo submarino
(NADW: North Atlantic Deep Water) e as configurações das costas dos continentes são formadas correntes ma-
que é o resultado de um processo que rinhas que atuam em largas escalas espaciais, cujas interações oceano-at-
envolve convecção profunda no Oceano mosfera condicionam o clima em macrorregiões do planeta. Por exemplo, no
Ártico, no Mar da Groenlândia e no Atlântico Norte, a Corrente do Golfo modera as temperaturas no noroeste
Mar do Labrador; a Água Intermediária da Europa; enquanto a Corrente do Labrador reduz as temperaturas nas
Antártica (AAIW: Antarctic Intermediate províncias litorâneas do nordeste do Canadá (LALLI & PARSONS, 1997).
Water), que é praticamente formada por
convecção profunda ao sul do Chile e na
MAR OKHOTSK
GOLFO DO
Argentina e se espalha por todos os oce- ALASCA
MAR BALTICO
MAR DO MAR
MAR DO NORTE
anos na Corrente Circumpolar Antártica; MAR NEGRO JAPÃO BERING

a Água Intermediária Ártica (AIW: Arctic GOLFO DO MAR MEDITERRÂNEO


GOLFO DA MÉXICO OCEANO OCEANO
CALIFÓRNIA ATLÂNTICO MAR GOLFO PERSA PACÍFICO
Intermediate Water) pode ser formada MAR DO VERMELHO MAR DA CHINA
CARIBE MAR BAÍA DE BENGALA
ARÁBICO
tanto por convecção como por subdução. MAR CORAL
EQUADOR

A Água Central (CW: Central Water), cuja OCEANO


ÍNDICO
MAR DA TASMÂNIA
massa de água apresenta termoclina per-
manente, é formada por subdução nos
subtrópicos. Tanto a Água do Mediterrâ- Correntes superficiais
neo (MedW: Mediterranean Water), como
a Água do Mar Vermelho (RedSW: Red Cabe ainda destacar o fenômeno do El Niño Oscilação Sul (ENOS) como
Sea Water) são intrusões de águas quen- outro exemplo de interação oceano-atmosfera, e com consequências em
tes e com alta salinidade dos dois mares escala global.
mediterrâneos (TOMCZAK & STUART-
GODFREY, 2003). CONCEITO
Este fenômeno é caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais
no oceano Pacífico Tropical, alterando padrões de ventos, afetando assim os regimes
de chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias. Quando ocorre um esfriamento
dessas águas, o fenômeno é conhecido com La Niña, também com reflexos sobre os
padrões normais de ventos, e consequentemente sobre o regime de chuvas.
Entretanto, este fenômeno tem sido menos recorrente, ultimamente, do
que o El Niño (LALLI & PARSONS, 1997).

86 • capítulo 4
Ambientes estuarinos: características e processos
Estuários são os ambientes de transição entre os rios e o mar. Sob forte influência do regime
de marés e da descarga dos rios, nesses ambientes são verificados sistemas complexos de cir-
culação. Devido à menor densidade, as águas continentais fluem em direção ao mar sobre a
massa d'água marinha que penetra no ambiente continental pelo fundo, estratificando a co-
luna de água. Em função do volume de águas provenientes dos rios e da força das marés, a in-
fluência das águas marinhas pode ser sentida em grandes extensões no continente adentro,
ou a influência dos rios pode ser sentida na zona costeira, formando gradientes de salinidade
em ambos os sentidos (DYER, 1998; MOLLES, 2002; PRANDLE, 2009).

Por sua baixa salinidade/densidade, a água do rio


JUNÇÃO fica sobre a água do oceano, cuja salinidade é alta.

RIO S≈0.1‰ 1‰ 5‰ 10‰ 15‰


S> 30‰ OCEANO

VISTA DE CIMA

1‰ 5‰ 10‰ 15‰ 20‰

As águas do rio e do oceano se misturam aos 25‰


poucos pelo estuário, configurando um aumento
de salinidade gradual. 30‰

Gradiente salino dos estuários

A circulação das águas nos estuários promove a renovação de nutrientes e a remoção


de detritos, além de propiciar grandes variações de salinidade em curto período de tempo.
Esses processos influenciam diretamente o estabelecimento das comunidades biológicas
nesses ambientes.

EXEMPLO
Bosques de manguezais, em regiões tropicais e subtropicais, e marismas e pântanos salgados (salt mar-
shes) em regiões temperadas e altas latitudes são as tipologias vegetais mais comuns encontradas nos
ambientes estuarinos, normalmente em planícies arenosas. Enquanto os manguezais são dominados por
espécies arbóreas, os marismas e pântanos salgados são formados basicamente por gramíneas.

De certa forma, essas formações também são de transição entre os ambientes terres-
tre e aquático e abrigam abundantes populações de animais, invertebrados e vertebrados,
porém com riqueza de espécies relativamente baixa, se comparada aos ambientes adjacen-
tes. Os organismos residentes nos ambientes estuarinos evoluíram de forma a tolerar as
variações diárias de salinidade, decorrentes das flutuações das marés, que também podem
deixar algumas áreas emersas e submersas ao longo do dia. Entretanto, é comum encon-
trar organismos típicos de rios ou da região costeira, conforme o momento de enchente ou
vazante de maré.

capítulo 4 • 87
ATENÇÃO
Devido às flutuações de marés, os organismos encontrados nesses ambientes também estão expostos
a variações de temperaturas, seja pela oscilação do nível da água, seja pelas diferentes temperaturas
entre as águas dos rios e do mar. A intensidade luminosa nesses ambientes também varia em função das
oscilações das marés, como também pela grande quantidade de material particulado em suspensão, que
geralmente deixa essas águas com maior turbidez.
As concentrações de oxigênio também variam intensamente nesses ambientes. Os processos de
decomposição da matéria orgânica consomem grandes quantidades de oxigênio dissolvido; por outro lado,
a elevada atividade fotossintética produz quantidades consideráveis de oxigênio. A constante renovação
das águas pelas marés também pode propiciar a entrada de águas mais saturadas de oxigênio nesses
ambientes, compensando em parte a depleção desse gás devido à decomposição da matéria orgânica.
A renovação de nutrientes, o aporte de material alóctone e o emaranhado de raízes das árvores
dos manguezais e dos talos das gramíneas dos marismas propiciam uma grande fonte de alimentos e
proteção a predadores tornando-se assim um ambiente ideal para o criadouro de diversas espécies de
vertebrados e invertebrados aquáticos. Além dos organismos residentes, esses ambientes são utilizados
para o crescimento de vários animais marinhos, sendo vitais para a manutenção de várias populações de
crustáceos e peixes, principalmente. Devido à abundância de organismos, uma grande variedade de aves
é atraída para esses ambientes (MOLLE, 2003).

Por serem ambientes naturalmente abrigados das ações de ondas e correntes costeiras, os
estuários são locais ideais para a instalação de portos, terminais de pesca, estaleiros, den-
tre outras atividades associadas à navegação; inúmeras cidades em todos os continentes
cresceram e se desenvolveram em função destas atividades.

RESUMO
Desta forma, apesar de sua grande resiliência natural, esses ambientes se tornaram bastante vulneráveis
às ações antropogênicas, como a contaminação da água por esgotos domésticos, metais pesados etc;
desmatamento e aterro nos manguezais e marismas; atividades de dragagens e descarte de material dra-
gado, alterando os substratos de fundo.

Ambientes epicontinentais: sistemas lênticos, lóticos e artificiais


A principal característica que diferencia os ambientes aquáticos epicontinentais está associada ao mo-
vimento da água, sendo denominados lóticos aqueles de água corrente, como riachos e rios, e lênticos
aqueles de águas paradas, como lagos. Conforme a escala, os ambientes lóticos podem ser considerados
sistemas abertos, enquanto os lênticos, sistemas fechados.

EXEMPLO
Represamentos artificiais de rios formam um sistema intermediário entre ambos, assumindo característi-
cas de rios nas partes mais altas, e de lagos quando em direção à represa.

88 • capítulo 4
Em termos hidrodinâmicos, as águas de rios e riachos movem-se continuamente em um
fluxo unidirecional, exceto quando influenciadas por marés. A intensidade dos fluxos está
associada às enxurradas ocasionadas por eventos de chuvas, principalmente, e à entrada de
águas subterrâneas, o que os tornam sazonalmente irregulares. As velocidades das correntes
são controladas conforme os volumes de águas, gradientes de altitudes, morfologia do canal,
tipo de substratos e presença de obstáculos.

EXEMPLO
Nos lagos naturais, as fontes de entrada de água, tanto superficiais quanto subterrâneas, tendem a ser
dispersivas e relativamente pequenas em comparação com o volume total do corpo d’água. Já nos reser-
vatórios, a fluxo de água tende a seguir o canal original do rio e se distribui nas camadas da coluna d’água
conforme a densidade resultante de diferenças de temperatura e de sais dissolvidos na água. Este aspecto
hidrodinâmico enfatiza a transição entre as águas rápidas induzidas pela gravidade, unidirecionais e com
descargas horizontais variáveis, encontradas nos rios, e as águas com movimentos longos, praticamente
constantes, tridimensionais, e relativamente lentos induzidos por ventos nos lagos, e pela corrente de en-
trada nos reservatórios (ALLAN, 1995; WETZEL, 2001).

Normalmente, as variações dos níveis dos rios são mais expressivas, rápidas e irregula-
res, e eventos de enchentes são comuns nas áreas adjacentes, denominadas planícies de
inundação. Nos reservatórios, os níveis da água são influenciados não somente pela entra-
da de água do rio que o originou, mas também, e fortemente, pelo razão do uso deste am-
biente, liberando águas de superfície ou dos estratos intermediários. Por sua vez, os níveis
dos lagos naturais tendem a ser menores e mais estáveis. As diferenças entre as variações
de níveis dos lagos naturais e reservatórios muitas vezes estão associadas às grandes di-
ferenças entre as áreas das bacias de drenagens, que costumam ser mais expressivas nos
sistemas artificiais (WETZEL, 2001).
As combinações entre fluxos e flutuações do nível da água e da própria morfologia
desses sistemas podem determinar as taxas de descargas ou o tempo de permanência da
água nos ambientes. Enquanto nos lagos naturais as permanências são longas, por volta
de anos, nos reservatórios podem variar entre dias e semanas, e nos rios são praticamente
instantâneas (WETZEL, 2001).

Sistemas lóticos: características e processos


A bacia hidrográfica é um aspecto chave para a primeira aproximação em estudos de
sistemas lóticos, como também é a unidade territorial adotada para o gerenciamento de
recursos hídricos. A bacia é formada pelo canal do rio principal e por inúmeros tributários
formando assim um sistema dendrítico, que tem início nas partes mais altas dos terrenos,
onde as cumeeiras das morrarias formam os divisores de águas, isto é, os limitadores ge-
ográficos das bacias. O escalonamento dos tributários pode ser feito considerando-se sua
ordem. Dentre inúmeros métodos utilizados para a ordenação de rios, o de Horton-Strahler
é a abordagem mais utilizada. Os trechos com fluxos permanentes nas cabeceiras são de-
signados como cursos de primeira ordem. A confluência de dois

capítulo 4 • 89
A confluência de dois trechos de primeira ordem forma um trecho de segunda ordem, e
assim sucessivamente, ou seja, trechos de mesma ordem quando se encontram formam
um trecho de ordem superior, e a entrada de um curso de ordem inferior em um curso de
ordem superior não configura o aumento da ordem (ALLAN, 1995; WETZEL, 2001).

1
1
1 1
1
2
1 2
1
1
1 1
3 2 1
1 1
2 2
1
3 2
2 1 1 1
1
3
4 1 1
2
INDICADOR DE FLUXO 1
1 1
1

Ordem de rios

Em função dos gradientes de altitude, os cursos de rios podem ser classificados como cre-
nal, ritral e potamal.
•  Nas partes mais altas do terreno encontra-se a região crenal, formada pelas nascentes e
trechos de baixa ordem.
•  Em seguida encontra-se a região ritral, ainda drenando as partes altas das montanhas,
configurando-se nos trechos superiores do rio, onde as águas fluem com maior velocidade.
•  A região potamal corresponde aos trechos das partes mais planas da bacia ou o curso
inferior de planície, onde as águas são mais lentas.

90 • capítulo 4
ATENÇÃO
A variação da altitude no sentido longitudinal condiciona a velocidade das águas, que por sua vez condicio-
nam a capacidade de transporte, processos erosivos e de deposição.
Os trechos mais altos correm por vales bem encaixados com drenagens praticamente lineares, sendo que
a morfologia do canal é condicionada pelo tipo de formação do terreno. Já nos trechos mais planos, devido
às características mais arenosas dos terrenos, verifica-se a formação de meandros, ou seja, os cursos
deixam de ser lineares a passam a ser mais sinuosos. Nos eventos de maiores descargas, as águas inva-
riavelmente transbordam os canais invadindo as planícies de inundação.

Enquanto os meandramentos representam as sinuosidades no plano horizontal, as


ondulações do leito no plano vertical formam ambientes rasos, com correntes suficientes
para manter o fundo desprovido de sedimentos mais finos, denominados corredeiras; e
ambientes mais profundos com águas bem mais lentas, possibilitando a deposição dos se-
dimentos mais finos, denominados poços. Estas feições têm origem nos processos erosi-
vos e deposicionais associados ao meandramento, ou seja, erosão e acresção das margens
e leitos, quando normalmente os poços estão situados nas proximidades das curvas e as
corredeiras nos pontos de inflexão entre meandros (ALLAN, 1995; WETZEL, 2001).

Sequências de corredeiras e poços

No que concerne aos fluxos de matéria e energia nos sistemas lóticos, cabe destacar as
teorias do espiralamento de nutrientes, do contínuo fluvial e dos pulsos de inundação. A
teoria do espiralamento de nutrientes proposta por Webster & Pattern (1979) postula que
uma partícula de um nutriente inorgânico dissolvido na coluna d’água é assimilada por um
produtor primário que a transforma em matéria orgânica.

capítulo 4 • 91
ATENÇÃO
Essa matéria orgânica, ao ser ingerida por um consumidor, retorna ao meio através da excreção ou pela
morte do produtor primário ou do consumidor. Então sofre a ação dos decompositores, normalmente nos
sedimentos de fundo do corpo d’água, que a transformam novamente em nutriente inorgânico, retornando
à coluna d’água. Como esses processos ocorrem no sentido unidirecional, a troca entre os compartimentos
coluna d’água-sedimentos de fundo provoca um efeito que se assemelha a uma espiral (ALLAN, 1995).

Sistemas lênticos: características e processos


Dentre os ambientes aquáticos epicontinentais, os lagos são os que comportam os maiores
volumes de água doce. Eventos catastróficos decorrentes de atividades tectônicas, vulcâni-
cas e glaciais agruparam muitos dos lagos existentes em determinadas regiões, formando
assim conjuntos denominados distritos. Formas, tamanhos e profundidades dos lagos são
extremamente variáveis e estão associados à sua origem e à constituição geológica dos ter-
renos (WETZEL, 2001).

CURIOSIDADE
A grande maioria dos lagos encontra-se no hemisfério Norte. Lagos mais profundos são menos nume-
rosos e estão localizados em grande parte nas regiões montanhosas no lado ocidental dos continentes
americano e europeu, e nas regiões montanhosas da parte central da África e Ásia. Cerca de 20 deles são
extremamente profundos, ultrapassando 400 metros de profundidade, sendo que os lagos Baikal, na Ásia,
e Tanganyika, na África, apresentam profundidades superiores a 1.000 metros, com profundidades médias
superiores a 500 metros. Os Grandes Lagos da América do Norte constituem a maior massa de água doce
contígua no planeta, totalizando uma superfície de quase 250 mil km2 e um volume aproximado de 25 mil
km3 (WETZEL, 2001).

Entretanto, em sua grande maioria, os lagos são rasos, apresentando maiores áreas de se-
dimentação por unidade de volume de água, e são geralmente mais produtivos do que os
lagos profundos. A maior produtividade é encontrada na zona litoral e nas áreas úmidas da
interface terra-água (WETZEL, 2001).
•  A zona litoral, que representa as partes mais rasas e onde podem ser encontradas plan-
tas aquáticas enraizadas formando uma grande variedade de mozaicos, além de ser a mais
produtiva, é também a que apresenta maior diversidade de habitats, e consequentemente a
maior riqueza de espécies, especialmente da epifauna bêntica. A zona limnética ou pelágica
representa as águas abertas e são dominadas por comunidades planctônicas e nectônicas.
•  Já a zona profunda é caracterizada pela ausência de organismos fotoautotróficos e
pela presença de organismos da infauna bêntica ocupando os sedimentos do fundo, jun-
tamente com os organismos decompositores da matéria orgânica produzida nos outros
compartimentos. Geralmente, as concentrações de oxigênio dissolvido são muito baixas,
devido ao seu consumo pela decomposição da matéria orgânica e a inexistência de organis-
mos fotossintetizantes (MOLLES, 2002; ODUM & BARRETT, 2007).

92 • capítulo 4
IMAGEM
Produtividade
A produtividade está associada à dis-
ponibilidade de nutrientes inorgânicos
dissolvidos, especialmente o fósforo. Sob
condições naturais, o fósforo é conside-
rado um fator limitante da produtividade,
Zonação estrutural dos lagos ou seja, sua fonte é bastante restrita e
pontual, sendo poucos os lugares no
A penetração de luz na coluna d’água é o fator determinante na produti- Planeta onde se encontram rochas fos-
vidade, distinguindo as zonas eufóticas e afóticas: fatadas. Desta forma, o fósforo disponível
•  a zona eufótica é a região na qual os produtores primários são ca- para assimilação dos produtores primá-
pazes de realizar a fotossíntese; rios provém dos processos da ciclagem
•  abaixo, na ausência total de luz nas regiões mais profundas encon- deste nutriente no ambiente. Entretanto,
tra-se a zona afótica (MOLLES, 2002; ODUM & BARRETT, 2007). a presença de fósforo de origem antro-
Ainda em termos de produtividade na coluna d’água, na zona lim- pogênica nos ambientes aquáticos pode
nética os processos produtivos excedem os processos respiratórios da levar a estágios de hipereutrofia, uma
decomposição. vez que este elemento é encontrado na
•  assim, a relação entre os dois processos é superior a um (P/R>1); fórmula de diversos produtos consumi-
•  já nas zonas profundas, os processos respiratórios excedem os dos comumente pela população, como
produtivos (P/R<1). sabonetes, cremes dentais, detergentes,
fertilizantes etc., e que através de esgotos
ATENÇÃO ou de enxurradas irá ter seu destino final
nos ambientes aquáticos.
Uma profundidade de compensação é então estabelecida quando os dois processos
se equivalem (P/R=1), podendo também ser o limitador da zona eufótica (ODUM &
BARRETT, 2007).

De acordo com a produtividade, os lagos podem ser considerados am-


bientes oligotróficos, onde a produtividade primária é baixa, contras-
tando com os eutróficos, onde a produtividade é maior.
Assim como nos oceanos, a distribuição da temperatura na coluna
d’água também condiciona um gradiente em função da profundidade
nos lagos. As águas mais aquecidas, nas camadas superficiais, devido
à intensidade da radiação solar, e menos aquecidas nas camadas mais
profundas, passa por uma zona intermediária onde se verifica um ter-
moclina, ou seja, uma mudança brusca entre as temperaturas, o que
condiciona a densidade e assim diferenciando as massas d’água.

O epilímnio representa as camadas superficiais menos densas, e está limitado


abaixo pelo metalímnio, a camada intermediária, enquanto que o hipolímnio,
mais denso, representa as camadas mais profundas. jogar futebol, vôlei etc.

capítulo 4 • 93
Um lago é considerado estratificado quando é verificada a existência dessas três camadas (MOL-
LES, 2002; ODUM & ARRETT, 2007).

10 I

15

20

25

30
0 5 10 15 20 25 30

Zonação térmica dos lagos.

A desestratificação da coluna d’água pode resultar em consequências distintas nos lagos


rasos. Isso pode ocorrer pela ação de ventos que exercem uma força sobre as camadas su-
periores empurrando-as para baixo quando a massa d’água encontra a margem no sentido
desses ventos, fazendo com que as camadas mais intermediárias e profundas aflorem na
superfície, misturando as águas. Outro processo de desestratificação e consequente mistu-
ra se dá pela temperatura.
Em períodos muito quentes as camadas superiores transferem calor para as camadas
inferiores quebrando a termoclína, e assim provocando a mistura entre as camadas supe-
riores e inferiores; ou ainda, com a queda da temperatura nas camadas superiores e conse-
quente aumento da densidade, provocando seu afundamento e, por conseguinte, a mistura
com as camadas profundas.

94 • capítulo 4
Em situações onde a camada profunda encontra-se em anoxia ou próximo da ausência de
oxigênio, organismos que dependem do oxigênio sucumbirão.
Por outro lado, a surgência das águas profundas para as camadas superiores irão trazer
nutrientes inorgânicos, que foram mineralizados pela ação bacteriana nos sedimentos de
fundo. Em qualquer caso, a duração e intensidade desses fenômenos serão resultantes da
magnitude ou volume das massas d’água superficial e profunda.

Sistemas artificiais: características e processos


Reservatórios artificiais de água têm sido construídos para atender a fins diversos como ar-
mazenamento de água potável, geração de energia, controle de enchentes, recreação e pai-
sagismo. Os reservatórios são formados a partir do represamento de um rio encaixado em
um vale de forma a acumular e reter a água a partir da barragem. A água liberada rio abaixo é
regulada conforme o fluxo de entrada pela bacia de drenagem e do uso ao qual foi destinado.

Zonação dos sistemas artificiais

No gradiente longitudinal desses corpos d’água são observadas diferentes fases nas quais
ocorrem processos físicos, químicos e biológicos também distintos.

ATENÇÃO
•  A fase rio é relativamente estreita e situa-se nas partes mais altas dos reservatórios onde ocorrem os
aportes de água dos corpos d’água contribuintes e tributários. Nessa fase as águas encontram-se geral-
mente bem misturadas, devido ao fluxo turbulento, com grande quantidade de material particulado em
suspensão e nutrientes inorgânicos dissolvidos (WETZEL, 2001).

À medida que as águas adentram o reservatório e vão perdendo velocidade, quando a energia é dissipada
sobre áreas mais largas, o material em suspensão mais grosseiro começa a se depositar, mas o transporte
por advecção é suficiente para manter as partículas mais finas suspensas na água.

•  Nessa fase de transição também ocorre mais penetração de luz na coluna d’água, permitindo assim o
início da realização de processos fotossintéticos por algas planctônicas (WETZEL, 2001).

capítulo 4 • 95
•  Na fase lacustre as características do corpo d’água se assemelham mais aos ambientes lênticos. Nessa
parte do reservatório, as águas praticamente não se movimentam, e frequentemente encontram-se estratifi-
cadas termicamente. A produtividade primária planctônica passa a depender mais da disponibilidade de nu-
trientes inorgânicos dissolvidos, uma vez que a intensidade luminosa deixa de ser limitante (WETZEL, 2001).

Aplicação da ecologia de organismos aquáticos como bioindicadores ambientais


Os ecossistemas aquáticos situados nas áreas de influência de empreendimentos de qual-
quer natureza estão sujeitos a sofrer algum tipo de intervenção em suas estruturas naturais
(físicas e/ou químicas) decorrentes da implantação, operação e desativação destes empre-
endimentos.

RESUMO
As intervenções nos componentes abióticos invariavelmente provocam alguma resposta das comunidades
biológicas, que respondem em diferentes escalas temporais e espaciais às ações antropogênicas pratica-
das nas respectivas bacias de drenagens. Dependendo da intensidade da alteração do ambiente, essas
comunidades podem apresentar desde modificações na abundância das espécies que as compõem, até
mesmo modificações expressivas na composição específica, inclusive a eliminação de espécies mais sen-
síveis à alteração submetida. Desta forma, os desvios observados nas flutuações naturais da composição
de espécies e respectivas abundâncias destas comunidades biológicas funcionam como uma indicação de
distúrbio nos ambientes aquáticos.

Alguns grupos de organismos aquáticos indicam com maior objetividade as consequ-


ências no ambiente, o que permite muitas vezes, quando monitorados, uma tomada de
decisão também eficaz e objetiva relacionada a este distúrbio.

Dependendo do tipo de ambiente aquático, se lótico ou lêntico, algumas comunidades aquáticas


se sobressaem na funcionalidade do sistema.

EXEMPLO

Por exemplo, comunidades planctônicas (associadas à coluna d`água) exercem um papel primor-
dial, principalmente na produtividade de sistemas lênticos, enquanto que as comunidades bentô-
nicas (associadas ao fundo) exercem este papel em sistemas lóticos, especialmente nos cursos
de rios de baixa ordem. Certamente, há uma série de fatores condicionantes determinando estas
situações, como sombreamento, contribuição alóctone, dentre outros.

96 • capítulo 4
Ainda assim, as comunidades aquáticas operam em diferentes compartimentos do ambiente, res-
pondendo às alterações naturais ou antropogênicas em diferentes escalas de tempo e espaço,
conforme o tipo e intensidade destas alterações. Desta forma, numa abordagem para a caracte-
rização ou monitoração de um ambiente aquático, deve ser selecionado o grupo de organismos
que melhor representa a comunidade, tendo em vista o tipo de alteração e a intensidade esperada
destas alterações, conforme a natureza do empreendimento.
Estas alterações podem ser de caráter físico, como por exemplo, a construção de represas,
ou químico, como o descarte de efluentes tratados. As respostas das comunidades aquáticas se-
rão diferentes em função da alteração a elas submetida.

Apesar da grande diversidade de ambientes aquáticos existentes em diversas paisagens, é


possível categorizar os tipos mais frequentes de ambientes que estão mais sujeitos às inter-
venções antropogênicas.
Desta forma, os ambientes lóticos podem ser divididos entre:
•  os cursos d`água de baixa ordem, como nascentes e pequenos córregos; e
•  os de ordem superior, como ribeirões e rios.
Já os ambientes lênticos podem ser categorizados em função da profundidade enquan-
to que as terras úmidas, em função de sua extensão. Outra condição relevante é a perenida-
de destes ambientes, e neste caso, admite-se que a intermitência destes ambientes estaria
mais associada às menores dimensões dos cursos e corpos d’água. Uma categorização e
respectivos critérios para estes ambientes são apresentados no Anexo I.

Anexo I – Categorização e critérios de ambientes aquáticos, para fins de estudos ambientais

Baixas ordens, inferiores a 2 Intermitente


Cursos de pequeno porte
Baixas ordens, entre 1 - 3 Perene
LÓTICOS
Cursos de médio a
Ordens superiores a 3 Perene
grande porte

Profundidades inferiores Intermitente


Corpos de baixas a 1 metro
profundidades Profundidades entre Perene
LÊNTICOS 1 e 2 metros

Corpos de maiores Profundidades


superiores a 2 metros Perene
profundidades

Intermitente
Corpos de pequena Áreas inferiores a
extensão 100m²
Perene
TERRAS
ÚMIDAS
Corpos de maior Áreas superiores a
100m² Perene
extensão

capítulo 4 • 97
Dentre as biocenoses, ou grupos de organismos de mesmo taxon, que compõem as comunidades
aquáticas dos ambientes listados, propõe-se uma classificação fundamentada em níveis tróficos
básicos, quais sejam, produtores primários, consumidores primários (herbívoros) e consumidores
secundários (carnívoros). Cabe destacar que a complexidade dos sistemas tróficos encontrada
na natureza é reconhecida, e que os níveis tróficos apresentados podem ainda ser subdivididos.

Porém, está sendo adotada uma classificação bastante simplificada e objetiva, de forma a
tornar sua aplicação mais prática. Da mesma forma, não estão sendo considerados os de-
mais grupos de vertebrados (anfíbios, répteis, aves e mamíferos), por entender que estes
compõem outros temas, assim como o grupo dos decompositores (bactérias).
Finalmente, considera-se que estes grupos, ou biocenoses, seriam os subtemas do tema
Biota Aquática. Estes grupos são apresentados no Anexo II, conforme o nível trófico.

Anexo II – Classificação de grupos de organismos aquáticos para fins de estudos ambientais

PRODUTORES Fitobentos
Fitoplâncton Macrófitas Aquáticas
PRIMÁRIOS (microalgas)
CONSUMIDORES Fitobentos Epifauna Bêntica Ictiofauna
Zooplâncton (herbívoros) (herbívoros)
PRIMÁRIOS (microalgas)
CONSUMIDORES
Epifauna Bêntica (carnívoros) Epifauna Bêntica (carnívoros)
SECUNDÁRIOS

•  Fitoplâncton

O fitoplâncton consiste na biocenose de microalgas que vivem em suspensão na coluna d’água,


cujos organismos estão sujeitos ao movimento das correntes. As algas planctônicas constituem a
porção autotrófica de ambientes lênticos.
O conhecimento da dinâmica das biocenoses fitoplanctônicas é relevante não apenas por sua im-
portância para a produção primária do ambiente pelágico, como também, por serem as flutuações

98 • capítulo 4
CURIOSIDADE
temporais e espaciais em sua composição e biomassa, indicadoras das altera-
ções naturais ou antropogênicas nesses ambientes. Além disto, o curto tempo Ambientes
de geração das algas (horas-dias) possibilita a compreensão de determina- Existe uma ampla variação quanto à
dos processos nos ambientes lênticos, tornando estas biocenoses em um dos terminologia utilizada para descrever o
componentes essenciais à aplicação de modelos empregados para entender conjunto de vegetais adaptados ao am-
determinados mecanismos que envolvem comunidades aquáticas e esses biente aquático. Termos como hidrófitas,
ecossistemas em geral (HARRIS, 1986; SOMMER, 1989; ESTEVES, 1998). helófitas, euhidrófitas, limnófitos e plantas
aquáticas são comuns na literatura
especializada; contudo, o termo macró-
fitas aquáticas pode ser considerado de
•  Perifíton uso mais corrente (COOK et al., 1974;
O perifíton é uma complexa comunidade da microbiota composta por bacté- ESTEVES, 1998; POMPÊO & MOSCHI-
rias, fungos, algas, protozoários, aderidas firme ou frouxamente a substratos NI-CARLOS, 2003).
submersos, orgânicos ou inorgânicos, vivos ou mortos. Nestas comunidades, Considerando as diferentes formas de
destacam-se as biocenoses de algas perifíticas que primariamente auto- vida que as plantas aquáticas apre-
tróficas desempenham um papel fundamental nos ecossistemas aquáticos, sentam, compreendendo a morfologia
provendo intercâmbio entre os componentes físicos, químicos e biológicos, e o modo de crescimento em relação
apresentando taxas de produção, decomposição e reposição contínuas. Como à superfície da água, Esteves (1998)
atuam na base das teias alimentares desses ambientes, afetam o crescimento, sugere uma classificação, com cinco
desenvolvimento, sobrevivência e reprodução de muitos organismos (WET- tipologias diferentes, do modo de vida
ZEL, 1983; WHITTON et al., 1991; LOWE & PAN, 1996; STEVENSON, 1996; das macrófitas, a saber, macrófitas emer-
SCHWARZBOLD, 2013). sas – plantas enraizadas no sedimento
apresentando folhas acima da lâmina
d’água; macrófitas flutuantes – plantas
que se desenvolvem flutuando livremente
•  Macrófitas aquáticas no espelho d’água; macrófitas submersas
As macrófitas aquáticas são plantas vasculares, macroscópicas, cujas par- enraizadas – plantas enraizadas cres-
tes fotossintetizantes ativas encontram-se permanentemente ou em algum cendo submersas; macrófitas submersas
momento do ciclo hidrológico, submersas ou flutuantes em sua superfície, e livres – plantas que apresentam raízes
podem ser encontradas em diferentes tipos de ambientes, nas margens e nas pouco desenvolvidas, flutuando submer-
áreas mais rasas dos rios, lagos e reservatórios. sas em águas tranquilas e macrófitas
Constituem em sua maioria vegetais superiores, que retornaram ao ambiente fixas com folhas flutuantes.
aquático. Sendo assim, podem apresentar, ainda, algumas características de
vegetais terrestres e grande capacidade de adaptação a diferentes tipos de
ambientes.

A comunidade zooplanctônica é composta por vários grupos de organis-


mos, como protozoários testáceos, rotíferos, cladóceros e copépodes,
que colonizam ambientes distintos, a partir de suas estratégias de de-
senvolvimento, relacionadas aos hábitos alimentares e reprodutivos
(LANSAC-TÔHA et al., 1997; 2009).

capítulo 4 • 99
•  Os protozoários testáceos são organismos essencialmente aquáticos e são encontrados em
uma grande variedade de habitats úmidos e de água doce. Apesar de estarem vinculados principal-
mente à vegetação marginal e ao fundo, podem também ser encontrados no compartimento planc-
tônico de ambientes lóticos e lênticos (HYNES, 1976; VELHO et al., 1999; ALVES et al., 2010).
•  Rotíferos são organismos generalistas, filtradores de material em suspensão de diferentes ta-
manhos, desde bactérias até algas filamentosas, a partir de diferentes estratégias na obtenção de
alimento (ESTEVES, 1998).
•  Os cladóceros e os copépodes também participam ativamente na promoção do fluxo de ener-
gia e ciclagem de nutrientes em ambientes aquáticos, visto que são predominantemente filtradores
de detritos, algas e bactérias, e constituem grande parte dos itens alimentares de peixes jovens e
adultos (PAYNE, 1986; PAGGI & JOSÉ DE PAGGI, 1990; LANSAC-TÔHA et al., 1991).

O curto tempo de geração das populações dos organismos zooplanctônicos e as respos-


tas rápidas às modificações das condições ambientais do meio permitem que esses orga-
nismos possam ser utilizados como bioindicadores de qualidade de águas e integridade
ambiental, especialmente em ambientes lênticos (MATSUMURA-TUNDISI et al., 1990).

•  Zoobentos
O zoobentos é caracterizado por organismos que habitam o substrato de fundo de ecossistemas
aquáticos (sedimentos, detritos, troncos, macrófitas aquáticas etc.), em pelo menos uma fase de
seu ciclo de vida. Estes organismos podem viver na superfície (epifauna) ou abaixo da superfície
(infauna) dos substratos e geralmente refletem notavelmente o caráter do substrato. São consi-
derados macroinvertebrados bentônicos os organismos com tamanhos superiores a 8 milímetros
(LOYOLA, 1994; ESTEVES, 1998).

•  Invertebrados bentônicos
Os invertebrados bentônicos são particularmente sensíveis a alterações hidrológicas que modifi-
cam as condições de velocidade do escoamento, do substrato e dos teores de matéria orgânica no
meio aquático. Geralmente, em condições naturais, as comunidades bentônicas se caracterizam
por uma alta diversidade; mas, alguns poucos grupos mais tolerantes podem se tornar numerica-
mente dominantes sob um conjunto específico de condições ambientais adversas à maioria dos
demais organismos bentônicos. Dada a grande diversidade de espécies, por serem encontrados
em quase todos os tipos de habitats de água doce, sob diferentes condições ambientais, e tam-
bém de fácil amostragem, este grupo é amplamente utilizado como bioindicador de integridade
ambiental de ecossistemas aquáticos, tanto lóticos quanto lênticos (ROSENBERG & RESH, 1993;
ZAMORA-MUÑOZ et al., 1995).

•  A fauna bentônica é bastante diversificada, abrigando representantes de diversos gru-


pos, sendo composta por organismos herbívoros, carnívoros e onívoros. Em um ecossiste-
ma balanceado, todas estas guildas podem estar presentes; entretanto, a entomofauna é o
grupo mais expressivo, sendo que quase todas as ordens possuem pelo menos um repre-

100 • capítulo 4
sentante vivendo em água doce. Apenas os nematódeos podem se aproximar dos insetos
em termos de número de espécies, biomassa e produtividade neste tipo de ambiente, en-
quanto que crustáceos podem ser abundantes, mas raramente diversos em espécies (MER-
RITT & CUMMINS, 1996; GULLAN & CRANSTON, 2007).
•  As assembleias de invertebrados bentônicos constituem um importante componente
nos substratos de fundo de rios e lagos, desempenhando um papel central na dinâmica
desses ambientes, participando ativamente nos processos de mineralização e reciclagem
de matéria orgânica e nutrientes bem como no fluxo de energia através da rede trófica
(LIND et al., 1993; CALLISTO & ESTEVES, 1995).

OBSERVAÇÕES GERAIS

A importância dos estudos sobre ictiofauna em ambientes passíveis de serem alterados não
se restringe apenas ao caráter ecológico em termos de diversidade biológica que este gru-
po denota, mas também por estarem diretamente associados a questões socioeconômicas
locais, devido à pesca de subsistência ou comercial. (BEAUMORD, 2000)

Os peixes representam o grupo mais numeroso e diversificado dentre os vertebrados, com


cerca de 24.000 espécies conhecidas, das quais 41% são de água doce. O Brasil abriga a
maior riqueza de espécies desses peixes, por apresentar a maior rede hidrográfica do mundo,
dentre outros fatores (NAKATANI et al., 2001).

Além de exercerem funções-chave na teia trófica dos ambientes aquáticos, os peixes colo-
nizam diferentes habitats, estando submetidos às mais variadas condições ambientais, para
as quais apresentam aptidões diferenciadas ao desenvolver diferentes estratégias de acordo
com suas funções vitais e ecológicas.

Além dos fatores físicos e químicos, as interações biológicas diretas ou indiretas podem in-
terferir nos padrões de coexistência e influenciar na composição e distribuição destas bioce-
noses. Neste sentido, não só a presença e ausência de determinadas espécies, mas também
a dinâmica expressa pela abundância dos componentes da ictiofauna vêm sendo utilizadas
no embasamento para inferências acerca da qualidade das águas e da integridade ecológica
de rios e lagoas e, portanto, também considerados bons bioindicadores (GORMAN & KARR,
1978; BEAUMORD & PETRERE, 1994; CASTRO & MENEZES, 1999).

capítulo 4 • 101
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IMAGENS DO CAPÍTULO
p. 81 Bay blue sea
Ramon FVelaskez · Wikimedia · cc

p. 96 Salp
Lars Plougmann · Wikimedia · cc

Desenhos e gráficos cedidos pelo autor do capítulo e ilustrados por Victor Maia

104 • capítulo 4
5 Energia

hernán saavedra herrera


5 CONCEITO
Energia

Introdução
Energia Cada animal, vegetal e mineral tem sua própria energia intrínseca e a ca-
A palavra energia deriva do grego ergos pacidade de, voluntariamente ou pela ação de terceiros, transformá-la.
(εργος), cujo significado é trabalho. Na A energia divide-se em primária e secundária. Energia primária é
Física, energia é um conceito essencial, aquela gerada pelos recursos naturais: madeira, carvão, petróleo, gás,
definido como a capacidade de qual- vento, água, sol etc. A energia secundária é aquela obtida a partir da
quer corpo produzir trabalho, ação ou transformação das fontes primárias. Ex.: eletricidade, gasolina, biomas-
movimento. O primeiro princípio da ter- sa etc. A energia primária divide-se ainda em renovável e não renovável.
modinâmica ensina que energia não se As fontes de energia mais consumidas na atualidade são petróleo,
cria, se transforma. carvão, e gás natural. Todas essas fontes são de energia primária, não
renovável, portanto, irão se esgotar em algum momento. O futuro da hu-
manidade dependerá da viabilização do uso de novas fontes de energia,
renováveis.

EXEMPLO
Exemplo de um ciclo de transformação de energia:

VAPOR ENERGIA MECÂNICA ENERGIA ELÉTRICA

CARVÃO QUEIMA
(CALOR)

PERDAS (CALOR) PERDAS (CALOR) PERDAS (CALOR)

A evolução do aproveitamento da energia pelo homem

Em sua saga de evolução...


1.  O homem inicialmente usou sua própria energia muscular;
2.  Passou depois a utilizar a de animais;
3.  Aprendeu a usar a energia do fogo para cozinhar seus alimentos, produzir
armas e objetos;
4.  A usar a energia dos ventos para mover seus barcos e moer grãos;
5.  Aprendeu a usar a química para produzir pilhas, baterias e explosivos;
6.  Produziu motores capazes de gerar trabalho de forma contínua e con-
trolada;

106 • capítulo 5
7.  Extraiu energia do petróleo, o que permitiu à humanidade avançar em seu desenvolvimento no
século 20 como jamais o havia feito antes na história;
8.  Dominou o ciclo atômico (usando sua energia para o bem e para o mal).

ATENÇÃO
A origem da maior parte das energias usadas pelo homem é o sol. O sol fornece energia na forma de luz e calor.
O homem adaptou sua existência ao ciclo solar e aprendeu a usar essas duas formas de energia, em es-
pecial o calor, para melhor se adaptar.

O sol comanda os acontecimentos deste Planeta. As estações, o calor e o frio, a chuva e o vento, a ger-
minação das plantas são regidos por nossa estrela. Os combustíveis fósseis originaram-se de matéria
orgânica que realizava fotossíntese e que acumulou energia vinda do sol na forma de moléculas de carbo-
no (hidrocarbonetos). Da decomposição dessa matéria há mais de 500 milhões de anos, formaram-se o
petróleo e o carvão mineral, combustíveis essenciais no desenvolvimento humano.

O homem aprendeu a usar os efeitos que o sol provoca, inicialmente com o propósito
de facilitar sua sobrevivência, e depois, quando essa sobrevivência já estava assegurada,
para seu desenvolvimento. Os organismos animais tendem a se modificar para se adaptar
ao ambiente em que vivem, e essa adaptação foi a base para Darwin formular sua teoria da
Evolução das Espécies.

A espécie humana foi a única que, ao invés de continuar a se adaptar, adaptou o ambiente à sua
própria necessidade. Essa adaptação do ambiente modificou o planeta, provocou o uso excessivo
de fontes energéticas e colocou a raça humana em risco ao consumir muito mais energia do que
o ambiente é capaz de repor. Ao longo de sua existência, o homem consumiu em poucas centenas
de anos – e continua consumindo - o que a natureza produziu em milhões de anos. A esse respeito
vale a pena ler o ensaio Energia e evolução humana de David Price, da Universidade Cornell, pu-
blicado em março de 1995.

capítulo 5 • 107
CONCEITO
Pelo cenário atual, com uma população humana que é superior em núme-
Carvão ro à soma de todas as pessoas que já existiram, torna-se essencial para o
O carvão, como o petróleo, é um combus- homem produzir energia através de novas fontes, que possam suprir suas
tível fóssil, portanto, finito. demandas crescentes, e que sejam renováveis. Essa palavra – renovável – é
crucial para a sobrevivência da nossa espécie, já que os combustíveis fós-
seis não serão capazes de nos abastecer ad infinitum.

Durante milênios, o homem usou o fogo aproveitando restos vegetais


que podiam ser queimados. Liberava, portanto, a energia intrínseca
desses materiais em seu benefício.

Carvão
Ao aprender a usar o carvão com essa mesma finalidade, conseguiu dar
um salto à frente, inicialmente utilizando-o com a mesma finalidade de
queima para melhor aproveitamento energético, e depois, para a redu-
ção do ferro, produção de armas e ferramentas, e de utensílios de cozi-
nha cerâmicos.

O uso do carvão iniciou-se há pouco mais de trezentos anos e provocou a


Primeira Revolução Industrial, que ocorreu na Inglaterra no final do século
18, início do século 19.
Outros países seguiram o passo dos ingleses (França, Bélgica, Holan-
CURIOSIDADE da, Rússia, Alemanha e Estados Unidos) e ingressaram nesse novo modelo
de produção industrial, caracterizado pela invenção da máquina a vapor, que
Máquina a vapor utilizava o carvão como fonte energética. O custo dos combustíveis fósseis
O uso da máquina a vapor nas indústrias é tão baixo, que permitiu seu uso mesmo com a baixa eficiência energética
e nos transportes (navios e locomotivas) que os caracteriza: a queima do carvão produz somente 35% de energia
provocou um aumento da riqueza huma- mecânica, sendo o resto desperdiçado na forma de calor.
na, e como consequência, o aumento de Logo o carvão mostrava suas limitações: baixo rendimento energético,
sua população. E quanto mais crescia a alta poluição em toda a cadeia de produção (da mina ao beneficiamento, e
população, mais energia era necessá- no seu uso). Era necessário encontrar outra fonte, com melhores caracterís-
ria, porque uma das consequências das ticas. Iniciou-se, então, a era do petróleo e a Segunda Revolução Industrial.
Revoluções Industriais foi o êxodo da
população do campo e o crescimento ATENÇÃO
acelerado dos centros urbanos, grandes
consumidores de energia. A Segunda Revolução Industrial iniciou-se pouco tempo depois da primeira,
na segunda metade do século XIX (c. 1850 - 1870), baseou-se no petróleo
como fonte de energia e desenvolveu a indústria química, elétrica, de óleo
e gás e do aço. Possibilitou o surgimento do motor a explosão, tornando
possível o uso maciço do carro como transporte individual e o surgimento
do avião; do motor elétrico; a produção de bens de consumo e de comidas
industrializadas; a invenção do telefone, do telégrafo, a produção de jornais

108 • capítulo 5
em grandes volumes e a custos reduzidos (iniciando a era das comunicações); e talvez a maior de todas,
a lâmpada elétrica, que alterou dramaticamente a forma de vida humana nas cidades e no campo.
A Terceira Revolução Industrial é recente, e pode ser definida pelo uso da informática e da eletrôni-
ca em todas as atividades – indústria, comunicações etc., permitindo o fenômeno da Globalização.
A informática e a eletrônica aproximaram as pessoas como nunca na história e provocaram uma
onda consumista sem precedentes, forçando mais e mais o uso dos recursos naturais e o consumo
de energia nas suas diversas formas, principalmente a elétrica.

As distintas formas de energia e seu uso

Energia muscular
A primeira fonte de energia usada pelo homem fo-
ram seus próprios músculos. Os músculos huma-
nos, combinados com um formato de corpo que
permitiu seu uso em atividades das mais brutas às
mais delicadas, e com um cérebro que gerenciou
todo esse hardware aproveitando toda sua capaci-
dade, fez do homem a espécie dominante do Plane-
ta, mesmo não sendo a mais forte.

RESUMO
Reconhecendo a importância dos músculos e sabedor das limitações devidas ao seu tamanho, o homem
logo aprendeu a utilizar a força muscular animal em proveito próprio. Passou, então, de caçador a agricul-
tor, e foi a agricultura a primeira grande fonte energética voltada para seu consumo. Combinando o fogo
e a força muscular para produzir ferramentas tais como a enxada e o arado de tração animal (tecnologias
simples e de baixo custo), o homem foi capaz de prover-se ao ponto de iniciar um aumento populacional de
forma contínua e progressiva, e alterar o ambiente conforme suas necessidades. A necessidade de terras
férteis tornou o homem migrante, fazendo-o locomover-se ao longo dos séculos e espalhando sua espécie
por todos os continentes – e exigindo cada vez mais novas fontes energéticas para manter o crescimento
populacional e sua sobrevivência.

Energia térmica
Quando a humanidade começou a usar o fogo, iniciou seu desenvolvimento tecnológico. A
madeira foi o combustível por excelência nessa fase do homem, sendo a segunda fonte de
energia que ele utilizou.

capítulo 5 • 109
COMENTÁRIO
Fogo
O filme A guerra do fogo (La guerre du
feu – 1981), do diretor francês Jean-Jac-
ques Annaud, retrata em forma de ficção
como o fogo influenciou a forma de viver
nos primórdios da humanidade.
A China começa a usar o carvão como fonte de energia por volta de 1.000 a.C. À
medida que o carvão da superfície escasseava, ele começou a ser escavado, mas
não conseguiu substituir a madeira, combustível mais fácil de conseguir, embora de
menor poder calorífico.

O domínio do fogo pelos primeiros homens foi fundamental para a sobre-


vivência da nossa espécie. O fogo continua sendo usado até hoje para a
Divulgação transformação de materiais e geração de energia.

Energia do vento
O vento foi a fonte seguinte de energia a ser utilizada pelo homem por
volta do ano 3.500 a.C., no esforço de mover-se em busca de novas áreas.
A produção de alimentos e utensílios nos diversos focos de civilização
possibilitou o surgimento da principal invenção social humana – o co-
mércio.

O uso da vela nas embarcações permitiu ao homem mover-se rapidamente e a car-


regar cargas. Se antes o transporte de pessoas e cargas dependia unicamente da
força muscular humana e animal, a vela promoveu uma grande alteração nesse qua-
dro. Como cada assentamento humano produzia coisas derivadas das condições
ambientais de seu entorno, a diversidade de produtos era grande, e logo, pessoas
com o espírito do comércio perceberam que poderiam lucrar trocando bens entre
esses assentamentos.

110 • capítulo 5
Levemos em consideração que a vela foi utilizada por milênios, sendo su- CURIOSIDADE
plantada pelos motores somente no final do século XVIII. O vento é, pois,
uma das energias mais antigas e das mais utilizadas pela humanidade. Adaptados
Os moinhos de vento originaram os mo-
ATENÇÃO dernos aerogeradores que, com o mesmo
princípio de aproveitamento da energia
O uso seguinte da energia do vento foi conseguido pela invenção do moinho de vento. cinética do vento, transforma-a em ener-
Esse equipamento, surgido por volta do século X, transforma a energia cinética do ven- gia elétrica. Trataremos deste tipo de
to em energia mecânica, captando essa energia através das pás que fazem girar um equipamento mais adiante.
eixo, e este move blocos de pedra cilíndricos que passam sobre os grãos, moendo-os.
Posteriormente, os moinhos de vento foram adaptados para bombear água, seja
de depósitos subterrâneos ou de fontes de água superficiais.

Energia hidráulica
A roda d'água surge em 3.000 a.C. na Babilônia. Esse simples aparelho
aproveitava a energia contida num fluxo de água de um rio ou córrego
para mover um moinho, da mesma forma que o moinho de vento o fazia.

Sua vantagem em relação a este é que o fluxo d’água é mais contínuo e pre-
visível que o produzido pelo vento. O princípio da roda d’água foi aproveitado
mais tarde para produzir energia elétrica. As primeiras usinas de energia
hídrica para a produção de eletricidade foram construídas na Inglaterra em
1880. Hoje, há usinas de energia em rios, usinas de energia pelo uso das
marés, e usinas de energia pelo aproveitamento das ondas. Apesar de pa-
recerem coisas diferentes, todas essas usinas funcionam de forma similar.
Uma usina ou central hidrelétrica consiste em uma represa que arma-
zena a água e a conduz para um conduto forçado que faz girar uma turbina,
que está acoplada a um gerador elétrico. No caso das usinas por maré ou
por ondas, a água move um ou mais pistões que fazem girar uma turbina.
Rodas d’água modernas, como as turbinas Francis, Pelton, ou Bulbo,
convertem grande parte da energia hidráulica em energia mecânica.

Petróleo
O petróleo já era conhecido na antiguidade através de exsudações e aflora-
mentos superficiais. É mencionado com certa frequência no Antigo Tes-
tamento, e estudos arqueológicos demonstram seu uso pelo homem há
quase seis mil anos. No início da era cristã, os árabes davam ao petróleo
fins bélicos e de iluminação. O petróleo de Baku, no Azerbaijão, já era pro-
duzido quando Marco Polo viajou pelo norte da Pérsia, em 1271.
O betume ou piche teve usos medicinais, de pavimentação e milita-
res. As flechas incendiárias embebidas em piche foram usadas ao largo
da história. As múmias egípcias foram preservadas com o uso de vários
produtos, entre os quais o piche.

capítulo 5 • 111
Em 1640, foi extraído petróleo de um poço em Modena, na Itália, e começa a ser utiliza-
do na iluminação de rua. O primeiro poço profundo de petróleo foi perfurado nos Estados
Unidos no ano de 1859 por Edwin Laurentine Drake. O poço revelou-se produtor e a data
passou a ser considerada a do nascimento da moderna indústria petrolífera. Os países que
possuem as maiores jazidas em ordem descendente são Venezuela, Arábia Saudita, Cana-
dá, Irã, Iraque, Coveite, Emirados Árabes Unidos e Rússia. No Brasil, a primeira tentativa de
obter petróleo das profundezas foi realizada no Estado de São Paulo entre 1892 e 1896, por
Eugênio Ferreira de Camargo, com um poço de 488 metros; o poço jorrou somente água
sulfurosa, frustrando as expectativas gerais. Foi somente no ano de 1939 que foi descoberto
petróleo na cidade de Lobato, na Bahia.

A Petrobras foi criada em 1954, com


o objetivo de reter o monopólio da
exploração do petróleo no Brasil.

O petróleo já causou várias guerras, pois o domínio das fontes produtoras é considera-
do vital para a hegemonia energética dos países do primeiro mundo. Os Estados Unidos,
particularmente, embora sejam um dos maiores produtores mundiais do produto, tem
uma dependência energética maior do que sua própria produção.
Os países do Oriente Médio, na Guerra contra Israel em 1973, aprenderam que o mun-
do industrializado é refém do petróleo, e que esse importante insumo energético pode ser
usado politicamente em favor de seus interesses e de seus aliados.

Vapor
Em 1764, James Watt aperfeiçoa a máquina a vapor, e ela passa a ser usada em locomoti-
vas em 1804, motivando a criação das estradas de ferro, e em navios em 1807. Esses fatos
deram origem a variadas transformações socioculturais e econômicas que se sucederam e
culminaram com a chamada Revolução Industrial.
Máquina a Vapor é a denominação de qualquer equipamento que funcione pela trans-
formação da energia térmica em energia mecânica, através da expansão do vapor d’água.
A pressão acumulada pelo vapor move êmbolos e eixos, e estes movem mecanismos asso-
ciados.
O desenvolvimento da máquina a vapor contribuiu para a expansão da indústria moder-
na. Até então, os trabalhos eram executados exclusivamente pelos músculos dos operários
e da energia animal (ver energia muscular, acima). Uma única máquina a vapor consegue
executar o trabalho de muitos cavalos, o animal mais utilizado pelo homem como fonte de
força muscular. Não foi à toa que James Watt adotou o conceito de cavalo-vapor (cv) ou sim-
plesmente cavalos, para determinar a unidade de potência de sua invenção. Ele estimou
que um cavalo podia levantar 33.000 libras de água a uma altura de um pé, em um minuto.
Assim nasceu o horse-power (hp). Devemos ressaltar que o valor de 1 cv não corresponde
exatamente a 1 hp (1 hp = 1,0138 cv). Os ajustes entre as unidades inglesas e as métricas
levaram a essa diferença.

112 • capítulo 5
A medida de potência adotada pelo Sistema Internacional de Unidades é o Watt (W).
1 cv = 0,9863 hp = 735,5 W.
Nota: a grafia da unidade é W, com maiúscula.

Energia Elétrica
A primeira usina de energia elétrica surgiu em Londres, em janeiro de 1881, e a segunda
em Nova York, em setembro do mesmo ano. Forneciam energia para iluminação e usavam
a corrente contínua.

•  A eletricidade foi descoberta pelo filósofo grego Tales de Mileto que, ao esfregar um âmbar
a um pedaço de pele de carneiro, observou que pedaços de palhas e fragmentos de madeira
começaram a ser atraídas pelo âmbar. Do âmbar (élektron) veio o nome dessa fonte de energia
- eletricidade. No século XVII, Otto von Guericke realizou estudos sobre a eletrificação por atrito.
•  Em 1672, Otto inventou uma máquina geradora de cargas elétricas, onde uma esfera de enxofre
girava constantemente provocando atrito com terra seca. Mais tarde, Stephen Gray estabeleceu os
conceitos entre materiais condutores e isolantes elétricos.
•  Benjamin Franklin inventou o para-raios em 15 de junho de 1752. No meio de uma tempestade,
ele usou um fio de metal para empinar uma pipa de papel. Este fio estava preso a uma chave, tam-
bém de metal, amarrada por um fio de seda. Franklin soltou a pipa e viu a carga elétrica dos raios
descer pelo fio, soltando faíscas pela chave. A perigosa experiência teve o objetivo de comprovar
à comunidade científica que o raio é apenas uma corrente elétrica de grande intensidade. Franklin
demonstrou ainda que hastes de ferro ligadas à terra e posicionadas sobre ou ao lado de edifica-
ções, serviriam de condutores de descargas elétricas atmosféricas. Estava inventado o para-raios.
Franklin identificou dois tipos de eletricidade, às quais denominou eletricidade resinosa e vítrea
(hoje negativa e positiva).
•  No século 18, Luigi Aloisio Galvani realizou uma experiência que ficou famosa: aplicando po-
tenciais elétricos no corpo de uma rã morta, a corrente elétrica produzia contrações nas pernas
da rã, fazendo-as mover. Essa experiência foi a base da criação da pilha voltaica por Alessandro
Volta, que consistia em um série de discos de cobre e zinco alternados, separados por pedaços
de papelão embebidos por água salgada. Com essa invenção, obteve-se pela primeira vez uma
fonte de corrente elétrica estável. As atuais pilhas e baterias de corrente contínua são a evolu-
ção dessa invenção.
•  O físico Hans Christian Örsted observou que um fio de corrente elétrica age sobre a agulha de
uma bússola, demonstrando haver uma ligação entre magnetismo e eletricidade.
•  Em 1831, Michael Faraday descobre que a variação na intensidade de uma corrente elétrica
que percorre um circuito fechado induz outra corrente em uma bobina próxima. Uma corrente
induzida também é observada ao se introduzir um ímã nessa bobina. Essa indução magnética
teve aplicação na geração de correntes elétricas. Uma bobina próxima a um ímã que gira é um
exemplo de um gerador de corrente elétrica alternada.

capítulo 5 • 113
Graças a todas essas invenções e descobertas, os geradores elétricos foram sendo conti-
nuamente aperfeiçoados até se tornarem as principais fontes de suprimento de eletricidade.

•  Em 1875 é instalado um gerador na estação de trens Gare du Nord, em Paris, para gerar energia
para iluminação. Logo se descobriu a capacidade de produção de eletricidade por meio do uso de
máquinas a vapor para movimentar os geradores, o que posteriormente levou à invenção das turbi-
nas a vapor e das turbinas hidrelétricas. A primeira hidrelétrica foi instalada em 1886 nas cataratas
do Niágara, nos Estados Unidos.

•  Para fazer a distribuição da energia, fabricaram-se inicialmente condutores de ferro, depois de


cobre, e em 1850 os condutores isolados, sendo os fios cobertos por uma camada isolante de
guta-percha vulcanizada.

•  Em 1873, o britânico James Clerk Maxwell publicou o Tratado sobre Eletricidade e Magnetismo,
livro que deu forma final à teoria moderna do eletromagnetismo, unindo a eletricidade, o magne-
tismo e a ótica e que condensou todo o trabalho que ele executou. Maxwell é considerado um dos
maiores, se não o maior físico do século XIX.

•  15 anos mais tarde, o alemão Heinrich Hertz estuda as propriedades das ondas eletromagné-
ticas geradas por uma bobina de indução e demonstra a existência da radiação eletromagnética,
criando aparelhos emissores e detectores de ondas de rádio. Com o trabalho de Hertz, ficou de-
mostrado que as ondas de rádio e de luz são ondas eletromagnéticas que diferem apenas na sua
frequência, confirmando as teorias de Maxwell.

•  Dez anos depois, o italiano Guglielmo Marconi consegue usar as ondas de rádio no seu telégrafo
sem fio, e a primeira mensagem de rádio atravessa o Oceano Atlântico em 1901. Todas essas
experiências abriram os caminhos para a progressiva utilização da energia elétrica em todas as
atividades do homem.

Energia Atômica ou Energia Nuclear


Em 1901, Pierre Curie e um discípulo foram os primeiros a descobrir a energia nuclear, ao
identificarem a emissão contínua de calor das partículas do elemento químico rádio. Eles
descobriram que cada grama de Rádio liberava 140 calorias por hora. A descoberta indicou
a existência da energia radioativa, que mais tarde seria chamada de energia atômica ou
energia nuclear, evidenciando assim a energia que existe no núcleo do átomo.

ATENÇÃO
Pierre e sua mulher, Marie Curie, trabalharam no isolamento dos elementos polônio e rádio. Eles foram os primei-
ros a usar o termo radioatividade, e foram os pioneiros no estudo desse tipo de radiação e da energia nela contida.

114 • capítulo 5
•  Alguns isótopos de certos elementos químicos apresentam a capacidade de se transfor-
mar em outros isótopos ou elementos, através de reações no interior do núcleo de seus
átomos, emitindo energia durante esse processo.
•  O calor emitido na reação aquece uma determinada quantidade de água, produzindo va-
por. Esse vapor é conduzido a uma turbina que gira um gerador elétrico, que por sua vez,
produz eletricidade. Note-se que esse é o mesmo processo utilizado em turbogeradores a
gás ou carvão, variando apenas, portanto, a forma de gerar o vapor do processo.
•  A reação nuclear pode acontecer controladamente em um reator gerando eletricidade,
ou descontroladamente, o que resulta em uma bomba atômica.
•  A primeira reação em cadeia foi realizada em dezembro de 1942 em um reator de grafite
de nome Chicago Pile 1 (CP-1), na Universidade de Chicago, no âmbito do Projeto Manhat-
tan, que tinha a finalidade de construir a primeira bomba atômica, sob a supervisão do
físico italiano Enrico Fermi.

IMAGEM

Desenho do CP 1

Existem duas formas de gerar energia atômica: a fissão e a fusão dos núcleos atômicos de
elementos radiativos enriquecidos.
•  Fusão Nuclear é a união de pequenos núcleos atômicos que irão formar um núcleo
maior e mais estável. Essa é a fonte de energia e vida das estrelas, como o Sol: em seu núcleo
ocorrem reações de fusão de núcleos de hidrogênio, originando núcleos de hélio.
•  Fissão Nuclear é a quebra do núcleo de um átomo instável em dois átomos menores, me-
diante o bombardeamento de partículas atômicas, tais como os nêutrons.

capítulo 5 • 115
CURIOSIDADE ATENÇÃO
Isótopos Ambas as reações são exotérmicas, isto é, liberam calor, e esse calor é aproveitado
O isótopos são espécies do mesmo ele- para a produção de vapor.
mento químico, que apresentam o mesmo
número atômico mas diferentes números Enriquecimento de elementos radiativos é o processo através do qual se
de massa, isto é, diferem apenas no nú- coletam os isótopos com maior capacidade de fissão.
mero de nêutrons, com o mesmo número
de prótons e de elétrons.
O elemento químico mais conhecido do público é o urânio (U)
Esse elemento possui vários tipos de isótopos. O mais abundante é o U238,
que representa mais de 95% da massa do urânio e que não tem um gran-
de poder de fissão, ao contrário do isótopo U235. Este último, no entanto,
representa apenas 0,7% da massa total do urânio. Para poder utilizar o urâ-
nio atomicamente é necessário escolher uma maior quantidade de isótopos
U235. A esse processo denomina-se enriquecimento do urânio. A probabili-
dade deste isótopo do urânio sofrer fissão nuclear é da ordem de mil vezes
maior que qualquer outro elemento. Dentre os processos de enriquecimento
de urânio, dois se destacam industrialmente, a difusão gasosa e a ultracen-
trifugação.
O processo de difusão gasosa consiste em comprimir o hexafluoreto de urâ-
nio (UF6) através de membranas porosas, associadas em série, para separar
o U235 do U238. No processo de ultracentrifugação, a separação é feita
através da força centrifuga.
Para a produção de eletricidade em uma central nuclear, o enriquecimento é
da ordem de 3% a 5%. Já o combustível nuclear necessário para mover um
submarino atômico é da ordem de 20%. E com 95% de concentração de
U235 produz-se uma bomba atômica.
A produção de energia elétrica através da energia nuclear só representa
5,2% de toda a energia que o mundo necessita. Os reatores nucleares po-
deriam ter uma cota maior de participação na produção de energia caso
fossem utilizados os denominados reprodutores rápidos (fast-breeders). O
problema é que esse tipo de reator pode também fabricar armas nucleares,
o que gera uma enorme pressão política para impedir a sua proliferação.

A confiança pública em todos os tipos de reatores é baixa e o seu cus-


to de construção é alto.

EXEMPLO
Os fatos acontecidos nas usinas de Three Mile Island, nos Estados Unidos (em 28
de Março de 1979 sofreu uma fusão parcial havendo vazamento de radioativida-
de para a atmosfera), Chernobyl na Ucrânia, então União Soviética (26 de abril de
1986, é considerado o pior acidente nuclear da história, produziu uma nuvem de
radioatividade que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino

116 • capítulo 5
Unido, com a liberação de 400 vezes mais contaminação que a da bomba que foi lançada sobre Hiroshima)
e mais recentemente, de Fukushima no Japão (11 de março de 2011, em consequência de um tsunami, e
que fundiu parcialmente os reatores nos 1, 2 e 3, com liberação de elementos radioativos no ar e na água)
aceleraram o processo de desconfiança generalizada sobre o uso da energia nuclear para produção de
energia elétrica, forçando vários países a reverem suas políticas energéticas, reduzindo ou mesmo banindo
o uso da energia nuclear. Destaca-se a Alemanha, que pretende substituir todas as suas centrais nucleares
por usinas eólicas e solares.

As energias fósseis
Uma grande variedade de fontes de energia, sobretudo as que dizem respeito aos combustíveis
fósseis (carvão, petróleo e gás natural), faz parte dos recursos energéticos de que dispomos:
• Carvão - rocha sedimentar que resulta da decomposição em ambientes sem oxigênio,
de detritos vegetais que caíram em lagoas e que sob a intensa pressão das rochas o transfor-
mou em mineral, constituído basicamente de carbono. O processo que leva à formação do
carvão chama-se incarbonização;
• Petróleo - fluido viscoso de origem orgânica, de cor negra, constituído essencialmente
de carbono e hidrogênio. Além de carbono e hidrogênio, o petróleo é uma mistura com-
plexa de outros compostos como enxofre, oxigênio, nitrogênio e metais como o níquel e
vanádio. A teoria orgânica entende que grandes acumulações de matéria orgânica de restos
orgânicos planctônicos deram origem a este hidrocarboneto. Há muitos milhões de anos
o fitoplâncton e o zooplâncton, após a sua morte, foram a matéria-prima do petróleo. Os
restos de organismos parcialmente decompostos foram enterrados sob camadas de sedi-
mentos. Formaram-se hidrocarbonetos que migraram nas rochas até ficarem retidos. Em
contraposição a esta, a teoria abiótica descreve que a produção de petróleo não deriva de
formas biológicas de vida, mas de um processo químico no interior da terra. As elevadas
temperaturas do magma são a fonte de energia para este fenômeno geológico. Na terra,
as placas continentais flutuam sobre uma inimaginável quantidade de hidrocarbonetos. A
rocha calcária inorgânica é transformada num processo químico. Os hidrocarbonetos que
daí resultam são mais leves que as camadas de solo e rocha sedimentares e acumulam-se
sob as camadas impermeáveis da crosta terrestre;
• Gás Natural – produzido em conjunto com o petróleo, uma vez que o processo de for-
mação de hidrocarbonetos líquidos (petróleo) produz também hidrocarbonetos gasosos
(gás natural).

O uso dos combustíveis fósseis é um tema bastante polêmico. Neste momento da nossa civiliza-
ção são parte indispensável da nossa vida diária – da energia elétrica ao uso de automóveis, da
preparação de alimentos aos nossos momentos de lazer, dependemos enormemente deles. Como
não são recursos inesgotáveis, uma das principais preocupações está relacionada com o possível
esgotamento das jazidas.

capítulo 5 • 117
Além disso, os combustíveis fósseis contribuem de forma expressiva para os danos ambientais,
sobretudo no que diz respeito à poluição em suas diferentes formas (particulados, gases, elevação
da temperatura ambiente), e esses danos poderão vir a superar seus benefícios:
•  As minas de carvão a céu aberto provocam profundas fendas no solo, poluem o ar e o solo, libe-
rando particulados e enxofre, este em conjunto com água; todo o processo de extração e utilização
do carvão produz contaminação, desde sua extração nas minas, ao transporte, beneficiamento e
uso;
•  Os produtos da combustão de combustíveis fósseis contaminam o ar, lançam particulados, e
elevam a temperatura;
•  Podem ocorrer alterações climáticas devido à quantidade de calor libertado para a atmosfera.
Este tema já foi considerado uma verdade inconteste, mas hoje muitos autores e cientistas estão
colocando em dúvida se o aquecimento global é uma consequência da civilização humana e das
alterações que fizemos no mundo, ou se é apenas um ciclo natural de aquecimento/resfriamento
da atmosfera, nada ou pouco tendo a ver com nossa atuação.

CURIOSIDADE
O mundo atual depende de 75% das fontes fósseis em média para produzir energia em suas distintas
formas. Projeções feitas pela OECD (The Organisation for Economic Cooperation and Development –
Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento) indicam que a dependência desses
combustíveis continuará subindo e chegará até o patamar de 85%; as fontes renováveis representarão
10% do total e o restante será suprido por energia nuclear.

Cada tipo de combustível fóssil pode ser encontrado em quase todos os continentes do
globo; porém, sua distribuição não é proporcional, e alguns países detêm mais reservas
que outros, caso bem conhecido do petróleo. Já o carvão é abundante e pode ser encontra-
do em todos os continentes, e por esse motivo seu uso continua em grande escala.
Uma grande vantagem dos combustíveis fósseis é a sua facilidade de uso. O carvão é
abundante e facilmente inflamável. Gás natural e petróleo podem ser transportados atra-
vés de navios e dutos, o que lhes permite fornecer energia para áreas do mundo que não
contam com esse recurso.

ATENÇÃO
Mas os combustíveis fósseis terão seu momento de colapso. A oferta mundial de combustíveis fósseis ver-
sus a demanda por energia está chegando a um ponto crucial, onde faltarão esses tipos de combustíveis
para atender a todas as nossas necessidades. Isso forçará os preços das energias para cima, comprome-
tendo as economias mais dependentes deles, o que significa que é imperativo encontrar novas soluções
de energia para nossa vida cotidiana.

O gás de xisto (em inglês shale gas) é um combustível fóssil como o gás de petróleo,
portanto, não se trata de um novo combustível fóssil.
O gás de xisto é o gás natural associado às formações de xisto, uma rocha sedimentar
de composição idêntica à das argilas, mas com maior grau de coerência. Os xistos argilosos

118 • capítulo 5
apresentam uma laminação bem visível, ao contrário das argilas, cujos grãos são arredon-
dados, e se originam em regiões relativamente profundas. O gás de xisto vem se tornando
uma fonte cada vez mais importante de gás natural nos Estados Unidos desde o início deste
século, além de possuir grandes potenciais no resto do mundo. Em 2000, o gás de xisto
fornecia apenas 1% da produção dos EUA de gás natural. Em 2010, era superior a 20%. O go-
verno dos EUA prevê que, até 2035, 46% do fornecimento de gás natural virá de gás de xisto.

Há uma discussão muito forte a respeito de segurança ao se explorar o gás de xisto, como se
pode ver no texto do site Correio da Cidadania escrito por Oswaldo Sevá (http://www.correioci-
dadania.com.br), do qual extraímos algumas frases:
Os gases das camadas de xisto, em profundidades entre dois mil e mais de três mil metros,
vêm sendo extraídos em várias bacias sedimentares pelo mundo afora por um método que os
norte-americanos popularizaram como fracking, uma corruptela de hydraulic fracturing, ou seja,
fraturamento hidráulico. (...)
Objetivamente, pode-se indicar com alguma precisão, por meio de levantamentos sísmicos e mo-
delos computacionais, onde estão e quais as dimensões de cada camada rochosa de xisto, que
é uma espécie de carvão mineral e, como este, contém hidrocarbonetos gasosos em seus poros,
interstícios e óleos entranhados.(...)
O fracking pode ser assim resumido: no ponto escolhido para perfuração – que pode estar numa
fazenda, numa comunidade rural, numa área protegida, no subúrbio de uma cidade –, montam-se
torres com brocas, constroem-se galpões e tanques para os insumos, estacionam-se caminhões
especiais e outras máquinas pesadas, como geradores e compressores, funcionando 24 horas
por dia. Gasta-se uma enorme quantidade de borra composta de água, areia refinada e produtos
químicos variados, e também uma boa proporção de combustível e eletricidade para poder retirar
restos de hidrocarbonetos gasosos entranhados nas camadas de xisto por meio de um procedi-
mento invasivo destrutivo: aumentar e ampliar as fissuras, fraturar as rochas, quebrá-las de modo
praticamente incontrolável, introduzindo essa borra química sob pressão em uma tubulação ver-
tical, até alcançar a rocha-mãe do xisto, e depois, perfurando-a na horizontal, entrando no miolo
da rocha, botando pra quebrar!(...) 
Pelo mundo afora, o fracking se amplia vorazmente e, junto com ele, reclamações, desconfianças,
protestos e tentativas de enquadrar, controlar as consequências, restringir a atividade nos EUA,
Argentina, Tunísia, Argélia, Espanha, França, Ucrânia, dentre outros. (...) 
Em muitos outros locais, há suspeitas de que a ampliação do fracking possa comprometer o supri-
mento público de água, e há ainda alguns casos famosos em áreas rurais com poços artesianos,
onde a água da torneira pega fogo. (...)
As poucas pesquisas tornadas públicas mostram níveis elevados de contaminação da água sub-
terrânea por metais pesados; por exemplo, na Pensilvânia, entidades médicas reivindicam do
governo estadual que faça estudos dos efeitos sobre a saúde pública antes de autorizar as per-
furações.  Problemas também se somam nas áreas de extração de areia, onde dunas e morros
são desmontados rapidamente para suprir o insumo mais ponderável da borra de fraturamento.
E o cerco do shale gas vai apertando: áreas suburbanas também vão sendo perfuradas, com
problemas ainda maiores afetando moradores, suas atividades produtivas e o funcionamento dos
serviços coletivos.

capítulo 5 • 119
ATENÇÃO
O sentido de adicionar o texto acima é unicamente o de informar a respeito desta muito nova
fonte de energia, que também não escapa às críticas. Será necessário ainda algum tempo acom-
panhando as regiões sob exploração, para poder concluir se estas apreensões são cabíveis ou
não. O Brasil possui gás de xisto junto às reservas de petróleo do Pré-Sal. Portanto, é um tema de
interesse para o país.

As energias renováveis
A solução mais óbvia para suprir a escassez das energias fósseis são as fontes renováveis.
Denominam-se fontes renováveis de energia aquelas que possuem a capacidade de regene-
ração por meios naturais.
As energias renováveis mais economicamente viáveis hoje, pois o custo de sua produção
aproxima-se ao dos combustíveis fósseis, são:

•  Energia eólica
Energia eólica é a conversão da energia do vento em outros tipos de energia, tal como
na utilização de moinhos de vento para produzir energia mecânica, velas para impulsionar
barcos, ou aerogeradores para produzir eletricidade. A energia eólica é renovável, está per-
manentemente disponível em todo o mundo, e não produz gases de efeito estufa durante sua
geração. Seu impacto no ambiente é muito pequeno, situando-se apenas na etapa de trans-
formação dos materiais utilizados na fabricação de seus componentes (etapa industrial).
O mais conhecido e moderno uso da energia eólica em nossos dias é para a produção de
eletricidade em grande e pequena escala. Utilizam-se para isso equipamentos denomina-
dos aerogeradores, que convertem a energia cinética do vento em energia elétrica.
Existem vários tipos de aerogeradores, mas modernamente eles estão sendo classifi-
cados como microaerogeradores (com potência até 100 kW), miniaerogeradores (com po-
tência entre 100 kW e 500 kW) e aerogeradores industriais (acima de 500 kW). Esta classi-
ficação ainda não é padrão, por isso não será de estranhar que outras denominações ou
potências sejam encontradas em diferentes publicações.
•  Os micros são utilizados para produzir energia para residências e pequenas indús-
trias ou estabelecimentos comerciais;
•  Os mini para a produção de energia para indústrias e comércios de médio porte;
•  Os industriais são usados para a geração de grandes blocos de potência, para inserir
energia elétrica na rede de distribuição ou para gerar energia para conglomerados indus-
triais ou comerciais.

Em 2010 a produção de energia eólica era responsável por mais de 2,5% da eletricidade
consumida globalmente em mais de 80 países, apresentando taxas de crescimento de 25%
por ano. Na Dinamarca, o país que iniciou a moderna era eólica, essa energia representa
mais da quarta parte de sua geração elétrica.

120 • capítulo 5
Depois da Guerra dos Seis Dias em 1973, quando os países árabes passaram a usar o pe-
tróleo como instrumento de pressão política (o chamado choque do petróleo), a Califórnia
decidiu investir - através de subsídios econômicos - na geração eólica. Graças a essa política
de incentivos, a Califórnia encheu-se de um momento para outro de parques eólicos, com
pequenas turbinas eólicas de potências variando entre de 50 e 100 kW, que chegaram a so-
mar 1700 MW; mas, devido à política econômica liberal do Presidente Reagan, essa primeira
tentativa moderna de produção elétrica com a energia dos ventos não prosperou. Um detalhe
interessante foi que as pás dos aerogeradores eram pequenas asas de avião adaptadas sem
maiores estudos, e que originavam um ruído muito forte, de onde vem essa má fama das
eólicas produzirem impacto auditivo. Ao final dos anos 80 e início dos anos 90, a Dinamarca,
altamente dependente de energias fósseis de origem externa (portanto, sem qualquer segu-
rança quanto ao fornecimento de suas necessidades energéticas) decidiu investir em energia
eólica por possuir grandes jazidas de vento, como se denominam os ventos apropriados para
esse tipo de geração.

A Dinamarca foi muito bem sucedida e seu esforço ultrapassou suas fronteiras, desenvolven-
do esse mercado na Alemanha, Espanha, e no resto da Europa. Daí seguiu para o resto do
mundo. Hoje os países líderes na produção de energia eólica são a China, Estados Unidos,
Índia, Alemanha, e Espanha. A produção eólica brasileira vem crescendo significativamente
desde 2009, e deverá alcançar a marca de 10.000 MW de potência instalada até o ano 2020
ou menos.

Energia Solar
O aproveitamento do sol para produção direta de energia pode ser dividido nos seguintes tipos:

Energia Solar Térmica: sua utilização é feita para aquecer um fluido através dos chamados co-
letores solares, caixas que absorvem o calor do sol e o transferem para esse fluido (água, óleo ou
outro fluido qualquer) por meio de um sistema de tubos em serpentina.

Como o fluido está dentro de um circuito fechado, é obrigado a transferir a sua energia
(em forma de calor) para outro fluido que se encontra em um reservatório termicamente
isolado, acoplado ao coletor. Esse fluido, por exemplo água, vai aquecer, obtendo-se assim
água quente.
Por ser um sistema muito barato de aproveitamento da energia térmica do sol, é bastan-
te utilizado em residências para gerar água quente em diversos usos domésticos (banho, na
cozinha etc.).
Mas há formas mais sofisticadas para o aproveitamento da energia solar térmica, embora
muitos ainda estejam em fase experimental, ou ainda, não tenham se tornado economicamen-
te viáveis para uma rápida difusão.
Destacamos o uso da energia solar térmica para produção de energia elétrica: em uma
área plana é montado um conjunto circular de espelhos que refletem a luz do sol em outro

capítulo 5 • 121
espelho, côncavo, situado no meio do círculo e logo acima de um poço com água. A luz do
sol refletida incide na água do poço de forma concentrada em um único ponto, aquecendo a
água e transformando-a em vapor. Esse vapor é levado a uma caldeira de recuperação, sobre-
aquecendo-a e fazendo-a mover uma turbina a vapor, que por sua vez gera energia elétrica.
Esse sistema, embora não utilize exclusivamente o sol como forma de energia (há ne-
cessidade da utilização de óleo diesel ou outra fonte fóssil para ser também utilizada na cal-
deira), reduz bastante o consumo deste segundo combustível, tornando esta solução mais
verde do que simplesmente usar o combustível fóssil para gerar 100% da energia.

Energia Solar Fotovoltaica: é a forma mais conhecida do uso da energia solar, e consiste na
transformação da energia radiante do sol em energia elétrica por meio das células fotovoltaicas,
placas formadas com materiais capazes de transformar a radiação solar diretamente em energia
elétrica através do chamado efeito fotovoltaico.

O efeito fotovoltaico acontece quando os fótons (o fóton é uma partícula elementar do-
tada de certa quantidade de energia) da luz solar são absorvidos pela célula fotovoltaica.
A energia dos fótons é transferida para os elétrons do elemento contido na célula, que ga-
nham a capacidade de movimentar-se. O movimento dos elétrons, por sua vez, gera a cor-
rente elétrica.
O principal componente utilizado atualmente na indústria fotovoltaica para a fabrica-
ção dessas células é o silício cristalino (c-Si). A tecnologia deste semicondutor está muito
desenvolvida por ser a base da indústria eletrônica. Foram registrados avanços no desen-
volvimento de novas células fotovoltaicas, mas acredita-se que o domínio do c-Si continue
pela próxima década, pelo menos.
O módulo ou painel fotovoltaico é um conjunto de células fotovoltaicas conectadas em
série entre si. O conjunto desses painéis forma um sistema fotovoltaico, que pode produzir
energia em sistemas isolados (sem conexão com a rede de distribuição elétrica), necessi-
tando então de baterias para acumular a energia produzida durante o dia para poder ser
usada durante a noite, ou em sistemas interconectados ao sistema de transmissão/distri-
buição, e neste caso não necessita das baterias de acumulação, injetando a energia produ-
zida diretamente na rede elétrica.

EXEMPLO
O Brasil possui uma irradiação solar anual que varia entre 1.500 e 2.400 kWh/m². Para podermos ter ideia
do que isso representa, esse valor na Alemanha (país com um grande aproveitamento no uso da energia
solar fotovoltaica) varia entre 900 e 1.220 kWh/m², e na Espanha, entre 1.200 e 1.850 kWh/m². O Brasil
é, pois, país solar por excelência.

Energia Hidráulica
Desde a antiguidade o homem tem utilizado a água como fonte de energia e esse uso se es-
tendeu até nossos dias, com o aproveitamento da energia potencial da água de um rio para
a produção de energia elétrica. Para que esse processo seja realizado, é necessário construir

122 • capítulo 5
usinas em rios que possuam elevado volume de água e que apresentem desníveis em seu
curso.

RESUMO
Forma-se uma barragem (de terra, concreto ou mista) no rio, represando suas águas e criando um diferen-
cial hidráulico de muitos metros de altura. Quanto mais alta a barragem (e, portanto, o desnível da água),
maior é a capacidade de geração da usina. A água é então captada por meio de condutos, forçando-a a
passar por turbinas hidráulicas que giram em alta velocidade movendo em conjunto com elas geradores
que produzem a energia elétrica.

Usinas hidrelétricas são responsáveis por aproximadamente 18% da produção de ener-


gia elétrica no mundo, mas são poucos os países que apresentam condições ideais para a
instalação desse tipo de usinas. As nações com bom potencial hidráulico são os Estados
Unidos, Canadá, Brasil, Rússia, e China. O potencial hidrelétrico europeu é muito baixo,
com poucas barragens de grande porte. No Brasil, 75% da energia elétrica produzida no
país é proveniente de usinas hidrelétricas.

ATENÇÃO
Mesmo sendo uma fonte de energia renovável, a energia hidrelétrica não está isenta de impactos am-
bientais e sociais. A inundação de áreas para a construção de barragens gera a necessidade de realocar
pessoas, muitas vezes comunidades inteiras, alterando seu modo de vida de forma permanente. Os lagos
formados pelas hidrelétricas são geradores de gás metano, devido à decomposição do material vegetal
da área inundada. O represamento da água destrói extensas áreas de vegetação natural, matas ciliares,
provoca o desmoronamento das margens e o assoreamento do leito dos rios, prejuízos à fauna e à flora, a
extinção de algumas espécies, principalmente de peixes, e a submersão de terras agrícolas férteis.

Apesar de todos esses problemas, o Brasil tem necessidade imperativa de utilizar seu
potencial hidrelétrico, já que tem um dos maiores potenciais hidrelétricos mundiais, atrás
apenas da China e da Rússia, possuindo ainda a segunda maior usina em potência insta-
lada e a de maior capacidade de produção, a Usina de Itaipu, no Rio Paraná. Inaugurada
em 1984, Itaipu possui uma potência instalada de 14.000 MW, e em 2012 bateu o recorde
de produção de energia por uma única usina, com 98.287.128 MWh produzidos. Seu lago
se estende por 150 km, mas é bem menor do que o lago da Usina de Sobradinho, situada
na divisa da Bahia com Pernambuco, que se estende por mais de 400 km, sendo a segunda
obra humana (depois da Muralha da China) que é possível ver da Lua.

CURIOSIDADE
O Brasil possui uma complementaridade hidráulica-eólica notável, que faz com que a parceria dessas duas
energias seja quase perfeita: quando chove e as represas enchem, o vento cai; e na época seca, de poucas
chuvas, o vento aumenta de intensidade, produzindo mais energia com as usinas eólicas, poupando as águas
dos reservatórios.

capítulo 5 • 123
CONCEITO Biomassa
Durante muito tempo a biomassa foi vista de forma pejorativa, como
Biomassa sendo um combustível de países subdesenvolvidos. Mas as crises do pe-
Do ponto de vista energético, denomi- tróleo modificaram essa visão, e o uso da biomassa passou a ser encara-
na-se biomassa todo recurso renovável do como uma opção viável para a produção de energia.
oriundo de matéria orgânica que pode ser A biomassa é utilizada na produção de energia elétrica a partir da com-
utilizado para produção de energia. bustão de material orgânico em uma caldeira de alta pressão, gerando ca-
lor que vaporiza água, produzindo vapor, e este move uma turbina.

CURIOSIDADE
Suas vantagens são:
Menos poluente •  O baixo custo;
A queima de biomassa provoca a libe- •  É uma energia considerada renovável;
ração de dióxido de carbono na atmos- •  Permite o reaproveitamento de resíduos que seriam descartados na natu-
fera, mas como este composto havia reza gerando problemas ambientais;
sido previamente absorvido pelas plan- •  É menos poluente que os combustíveis fósseis.
tas que deram origem ao combustível,
o balanço de emissões de CO2 é nulo
ou quase nulo. Trata-se da terceira fonte
mundial de energia mais importante nos A biomassa pode produzir tanto energia elétrica como também com-
dias de hoje, depois dos combustíveis bustíveis líquidos.
fósseis e da hidroeletricidade, represen-
tando 15% da energia consumida mun- EXEMPLO
dialmente embora com o agravante de
competir por terra fértil com as colheitas O uso do álcool de cana de açúcar tornou o Brasil líder mundial na produção deste
de produtos agrícolas e com a produção tipo de combustível para o uso em automóveis. Recentemente, vêm sendo obtidos
de madeira. bons resultados para a produção de um tipo de óleo diesel vegetal, que está sendo
experimentado para uso em ônibus, caminhões e até na produção de combustível
Cana de açúcar para a aviação.
Existem já estudos na utilização do ba- Possui alta densidade energética e grandes facilidades de armazenamento e trans-
gaço da cana para a produção de álcool. porte. A semelhança entre os motores e sistemas de produção de energia a bio-
O bagaço, ou seja, o resíduo do material massa e aqueles que utilizam energia fóssil é outra vantagem, pois o impacto na
orgânico que fica na produção de açúcar produção fabril desses equipamentos e nos sistemas já existentes para transporte e
que seria descartável, resultou ser uma fabricação de energia elétrica é muito baixo.
excelente fonte de material lignoceluló-
sico para a produção de biocombustíveis. Embora seja uma das mais antigas fontes de energia (a fogueira é
Outra fonte é o material orgânico resi- uma forma de aproveitamento da biomassa para a produção de energia)
dual advindo da atividade humana (resí- a biomassa foi pouco estudada. Essa situação de abandono está sendo
duos domésticos orgânicos, esgoto, ex- gradualmente modificada. Além da produção de energia elétrica e com-
crementos de animais), que serve como bustíveis, a indústria química vem pesquisando a biomassa com muito
fonte para a produção de gás, o chama- interesse, já tendo sido obtidos vários produtos derivados, tais como
do biogás, mistura de gás combustível de plásticos vegetais.
metano e dióxido de carbono.

124 • capítulo 5
COMENTÁRIO
A humanidade continuará a produzir resíduos orgânicos, e seu aproveitamento deverá resolver dois dos
atuais problemas da civilização: produção de energia e contaminação ambiental.

A energia elétrica no Brasil


O Sistema Elétrico Brasileiro, pelas dimensões continentais do país, está dividido em três
subsistemas:

GERAÇÃO TRANSMISSÃO DISTRIBUIÇÃO

•  Sistema de Geração
O sistema de geração é formado por todas as usinas de geração de energia elétrica, quais
sejam: grandes hidrelétricas (UHE), pequenas hidrelétricas (PCH), térmicas a gás, carvão e bio-
massa (UTE), nuclear (UTN), eólicas (EOL) e solar fotovoltaica e outras fontes renováveis (SOL).

•  Sistema de Transmissão
No Brasil, um sistema de transmissão é definido como aquele que transmite energia em
230 kV ou mais, e distribuição é aquele que distribui em tensão de até 138 kV. Existem algu-
mas poucas exceções de linhas que operam em 230 kV e que pertencem a sistemas de dis-
tribuição. A distribuição é uma atribuição dos governos estaduais, que em boa parte do país
passou-a à iniciativa privada por meio de concessões de uso, enquanto a transmissão compe-
te ao Governo Federal. No caso da transmissão, não há concessão de uso. O Governo Federal
licita a operação e manutenção de linhas, ficando as estatais do setor com a concessão.
Os valores de tensão normalmente usados no Brasil são os seguintes:

750 KV EXTRA-ALTA TENSÃO

TRANSMISSÃO 500 KV EXTRA-ALTA TENSÃO

230 KV ALTA TENSÃO

138 KV ALTA TENSÃO

69 KV ALTA TENSÃO

34,5 KV MÉDIA TENSÃO (PREDOMINANTEMENTE RURAL)

DISTRIBUIÇÃO 13,8 KV MÉDIA TENSÃO (PREDOMINANTEMENTE INDUSTRIAL)

440 V BAIXA TENSÃO (INDUSTRIAL)

220 V BAIXA TENSÃO (INDUSTRIAL E DOMÉSTICA)

110 V BAIXA TENSÃO (DOMÉSTICA)

capítulo 5 • 125
•  Sistema de Distribuição

A responsabilidade de gerenciar a geração e distribuição é do ONS – Operador Nacional


do Sistema, e o planejamento da sua expansão é atribuição da EPE – Empresa de Pesquisa
Energética. O Ministério de Minas e Energia (MME) controla e a ANEEL – Agência Nacio-
nal de Energia Elétrica – executa a regulamentação (ou regulação) de todo o setor. E todos
os contratos do setor (compra/venda de energia, e Operação e Manutenção das linhas de
transmissão) são geridos pela CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.

126 • capítulo 5
O sistema elétrico brasileiro é totalmente interligado, do Norte/Nordeste até o Sul. Isso sig-
nifica que a energia gerada em qualquer ponto dentro da área mostrada na figura acima,
pode ser enviada a qualquer outro ponto dessa área.

COMENTÁRIO
A Amazônia brasileira será gradualmente integrada conforme as novas usinas (Belo Monte, Santo Antônio,
Jirau) forem sendo executadas. Até lá, a área não coberta pelo sistema interconectado é suprida de ener-
gia por sistemas isolados de geração e distribuição.

As energias do futuro
A produção de energia no futuro deverá continuar centrada majoritariamente em uma úni-
ca fonte, como ocorre hoje com o petróleo. Mas essa fonte, que sempre existiu e que nos
fornece grande parte da nossa energia, irá desempenhar esse papel com total relevância:
o Sol.

A Terra recebe do Sol diariamente dez mil vezes mais energia que o atual consumo mundial de
eletricidade. O desafio está em produzir energia sem poluir, aproveitando essa fantástica fonte.
Várias novas alternativas estão sendo estudadas sem que até o momento nenhuma delas tenha
se tornado viável. Porém, será apenas uma questão de tempo até que o homem consiga encontrar
soluções que viabilizem uma ou mais dessas alternativas, ou até mesmo alguma nova solução que
hoje ainda não existe.

•  Conversores Solares e Acumuladores de energia


Existem planos ambiciosos para transformar a energia do sol em energia elétrica, me-
diante o uso de conversores solares combinados com acumuladores de energia.
Essa parceria seria uma evolução dos painéis fotovoltaicos combinados com baterias.
O painel transforma a energia solar em elétrica, e a bateria a acumula para uso posterior.

RESUMO
A diferença está nas dimensões: enquanto para a produção de um MW solar por placas fotovoltaicas exi-
ge-se uma área superior a um campo de futebol, com um Fator de Capacidade de 15% (para cada 100
unidades de energia possíveis de serem geradas aproveitam-se efetivamente 15), os futuros conversores
solares deverão ter um FC superior a 50%, e os acumuladores deverão ter a capacidade de guardar cen-
tenas de MWh de energia. Os atuais acumuladores, além da baixa capacidade de guardar energia, são pro-
duzidos com metais pesados, cujo descarte é perigoso para a saúde humana e animal, e sua durabilidade
não passa de 3 a 5 anos.

capítulo 5 • 127
•  Hidrogênio
O hidrogênio é o mais abundante e o mais simples elemento no universo, constituído
apenas de um próton e um elétron. Apesar de sua simplicidade e abundância, o hidrogênio
não ocorre na natureza como um gás, está sempre combinado com outros elementos. A
água, por exemplo, é uma combinação de hidrogênio e oxigênio (H2O).
Ele também é encontrado em compostos orgânicos, especialmente nos hidrocarbone-
tos que constituem muitos combustíveis, como gasolina, gás natural, metanol e propano.
O hidrogênio pode ser separado a partir desses hidrocarbonetos, através de calor. Atual-
mente, a maior produção de hidrogênio é feita dessa maneira a partir do gás natural.

COMENTÁRIO
Outra forma de separá-lo é dividindo a água nos seus componentes básicos - oxigênio e hidrogênio - por
eletrólise, da mesma forma que alguns elementos vivos tais como algas e bactérias o fazem, usando a luz
solar como fonte de energia até desprender hidrogênio.

O hidrogênio é rico em energia e um motor que queime hidrogênio puro praticamente


não gera poluição. A NASA usa hidrogênio líquido desde 1970 para impulsionar o ônibus
espacial e outros foguetes. Células a hidrogênio alimentam sistemas do ônibus espacial e
ainda produzem um subproduto limpo, água pura, para servir a tripulação.
As células de combustível combinam hidrogênio e oxigênio para produzir eletricidade,
calor e água. Essas células de combustível são uma tecnologia promissora para uso como
fonte de calor e eletricidade para consumo humano, bem como fonte de energia elétrica
para motores de propulsão para veículos. As células de combustível funcionam melhor
com hidrogênio puro, mas o gás natural, metanol, e até a gasolina, podem produzir o hi-
drogênio necessário para as células de combustível.

REFLEXÃO
Mas então, por que uma fonte tão boa como o hidrogênio não é muito utilizada?
O motivo é a alta combustão do hidrogênio. Sendo um elemento altamente reativo, entra em combustão
espontânea com o simples contato com o oxigênio. Basta um pequeno vazamento para causar problemas
sérios, como ocorreu com o Zeppelin Hindenburg.
Ainda não existe maneira totalmente segura e prática de lidar com o hidrogênio no dia a dia, sendo impossível
armazená-lo na forma de gás de forma tão compacta e simples quanto um combustível líquido convencional.
Assim, é difícil transportar o hidrogênio de forma segura e eficiente para permitir seu uso da mesma forma
como hoje se faz com o gás natural, a gasolina ou o álcool. É preciso resolver esse impasse para que o hidro-
gênio possa ser utilizado em larga escala nos domicílios, indústrias e até mesmo em veículos.

•  Energia geotérmica
A energia geotermal é obtida a partir do calor proveniente do centro da terra e consiste
em usar o vapor emitido por gêiseres para movimentar turbinas, e assim, gerar energia.
Atualmente, estão sendo criados gêiseres artificiais, cavando poços até uma camada de
rocha quente, injetando água em um dos poços, e esta ao entrar em contato com a rocha
quente torna-se vapor, saindo por outro poço e a partir daí é usada na turbina.

128 • capítulo 5
ATENÇÃO
Um dos problemas com este tipo de instalação é a profundidade dos poços, que na maioria das vezes é
economicamente inviável.

•  Maremotriz
A energia maremotriz é obtida a partir do fluxo da água decorrente das variações das marés.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Atlas de Energia Elétrica do Brasil – Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Brasília: ANEEL, 2002.
BROWN, Lester R. Plano B 4.0 – Mobilização para salvar a civilização. São Paulo: New Content Editora e
Produtora Ltda., 2009.
DOS SANTOS CUSTÓDIO, Ronaldo. Energia Eólica para produção de energia elétrica. 1ª ed. Brasília: Ele-
trobrás, 2009.
PALETTA, F.C.; GOLDEMBERG, José. Energias Renováveis [Coord.]. São Paulo: Blucher, 2012.
PRICE, David. Energia e evolução humana. Ensaio, Universidade Cornell, 1995. Disponível em: http://resis-
tir.info/energia/energia_e_evolucao_humana.html. Acesso em: 23 maio. 2014.
REGO, Erik E. Usinas Hidrelétricas Botox: Aspectos Regulatórios e Financeiros nos Leilões de Energia. 1ª
ed. Rio de Janeiro: Synergia, 2008.
ROSA, Carlos Augusto de Proença. História da ciência. 4 vol., 2ª ed. Brasília : FUNAG, 2012.

IMAGENS DO CAPÍTULO
p. 105  Sol em Madrid p. 108  Bandeira da China
Pavlemadrid commons · Wikimedia · cc Artista desconhecido · dp

p. 106  Lighting a match p. 113 Stagg Field Reactor


Sebastian Ritter · Wikimedia · cc Melvin A. Miller · Wikimedia · dp

p. 107  A Comparative Anatomical Exposition of the p. 124  Logotipos Empresas


Structure of the Human Body Divulgação
George Stubbs · dp

p. 108  Jangada Tibau


Patrick · Wikimedia · cc

Desenhos e gráficos cedidos pelo autor do capítulo e ilustrados por Victor Maia

capítulo 5 • 129
6 Gestão do
ambiente

ricardo kohn
6 Introdução
Gestão do ambiente

Ambiente é qualquer porção da biosfera que resulta de relações físicas, químicas, biológicas,
sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores am-
bientais que a constituem (Ar, Água, Solo, Flora, Fauna e Homem). Todas as porções da bios-
fera são compostas por distintos ecossistemas, que podem ser aéreos, aquáticos e terrestres,
bem como devem ser analisados segundo seus fatores físicos, bióticos e antropogênicos.
É reconhecido por especialistas e empresários que gerir o Ambiente é uma tarefa com-
plexa, sobretudo nos países que, embora se encontrem em processo de desenvolvimento,
possuem elevada produção e economia diversificada.
Empresas industriais, agrícolas, da pecuária e de extração mineral são exemplos de seto-
res produtivos que, em tese, requerem medidas de gestão ambiental específicas e peculiares.
A tendência natural tem sido a de que cada empresa, de forma isolada, realize a Gestão
do Ambiente da área que impacta, visando beneficiar seu desempenho ambiental e reabi-
litar e manter a sustentabilidade da área em que está inserida. Evidentemente, os investi-
mentos, custos e despesas podem ser elevados para cada organização.
Todavia, verifica-se que nesses mesmos países ocorre um fato importante. Trata-se da
aglomeração regional de investimentos que fazem parte da mesma cadeia produtiva. As-
sim, foram criados os primeiros polos industriais e, em suas periferias, instaladas as em-
presas fornecedoras de insumos e serviços. Isto também ocorre na agropecuária, em que
grandes regiões brasileiras desenvolveram uma vocação ruralista.

Este capítulo tem como finalidade apresentar caminhos menos onerosos e mais eficientes para
que a Gestão do Ambiente seja realizada de maneira ampla e integrada, visando à maior eficiência
de processos de reabilitação ambiental de ecossistemas afetados por empresas e a manutenção
de sua estabilidade em níveis adequados de qualidade ambiental.

A função para gerir o ambiente


Desde que a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, instituiu a Política Nacional do Meio
Ambiente (PNMA), foi iniciado um bom debate acerca do que deveria ser e fazer a função
ambiental de uma organização. Para entender o que vem sendo esse debate, primeiramen-
te precisa-se saber o que significa Meio Ambiente.

CONCEITO
Política Nacional do Meio Ambiente
Em seu Artigo 3º, a PNMA traz uma definição para Meio Ambiente: “o conjunto de condições, leis, influências
e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

132 • capítulo 6
Sem entrar no mérito da definição, não há dúvidas de que, 33 anos após a promulgação da
PNMA, esse conceito evoluiu bastante em vários de seus aspectos.
1.  Talvez o mais relevante seja a descoberta de que o Ambiente deve ser visto através
das lentes das ciências que o explicam e não por meio do que diplomas legais dizem a seu
respeito. Afinal, deve ser esperado pela civilização moderna que pesquisadores e cientistas
do Ambiente conheçam-no em mais profundidade do que os juristas que produzem as leis.
2.  Outro aspecto que vem evoluindo de forma satisfatória é explicado pela Teoria Geral
dos Sistemas (Bertalanffy, 2008). Há funções organizacionais que, embora sejam distintas,
interagem e conformam sólidos sistemas integrados. Se não forem aplicadas simultanea-
mente, perdem parte de sua capacidade de resposta e não atendem de forma plena às or-
ganizações que as praticam. Esse é o caso das funções Segurança, Ambiente e Saúde (SAS).
Não há como aplicá-las com eficiência se houver a tentativa de torná-las estanques entre si,
pois elas interagem de forma permanente.

ATENÇÃO
Essa evolução do conceito traduz-se nas inúmeras organizações produtivas do mundo que possuem o
cargo de gerência das três funções: Gestor de HSE (Health, Safety and Environment) e Gestor de SAS
(Segurança, Ambiente e Saúde).

3.  O terceiro aspecto que merece ser salientado, também com a evolução do conceito
de Ambiente, refere-se à agregação da Gestão da Sustentabilidade à Gestão Ambiental.

A sustentabilidade é um atributo do Ambiente que consiste na sua capacidade e de seus ecossis-


temas constituintes em manter e desenvolver as relações ambientais entre seus fatores ambien-
tais (Ar, Água, Solo, Flora, Fauna e Homem).
A Gestão da Sustentabilidade consiste no processo gerencial onde são avaliados, planejados
e monitorados os processos da transformação ambiental, os resultados destes processos e as
respostas do Ambiente a estes resultados, beneficiadas através de um plano ambiental específico.
Esta nova visão, em certa medida, propõe a integração das funções de Segurança, Ambiente
e Saúde sob um único título: Função de Gestão Ambiental e da Sustentabilidade. Já há corpora-
ções europeias que operam um comitê interno destinado a assessorar a Gestão Ambiental e da
Sustentabilidade baseadas em orientações da norma britânica BS-7.750, Specification for Envi-
ronmental Management Systems.

EXEMPLO
Como exemplo da importância dos requisitos de SMS para o desempenho empresarial, podemos
destacar os principais desafios da indústria do petróleo e gás para o século XXI na visão da PE-
TROBRAS apresentada por THEOBALD (2007):

capítulo 6 • 133
• Impactos sobre os recursos naturais;
• Impactos de acidentes associados aos riscos do negócio;
• Atuação em áreas ecologicamente sensíveis;
• Qualidade do ar nos grandes centros urbanos;
• Mudança climática global;
• Qualidade de vida das comunidades do entorno; e
• Acesso a investimentos e financiamentos.

Dos desafios listados acima, identifica-se que os seis primeiros estão diretamente liga-
dos ao SMS. No entanto, o último possui também uma estreita ligação com essa área, visto
que os organismos financiadores e os grandes investidores internacionais estão diversifi-
cando os seus portfólios, buscando investir em empresas que apresentam boas práticas de
sustentabilidade corporativa, que de acordo com o Dow Jones Sustainability World Index
(DJSI World) representa “o compromisso visível da organização na condução dos negócios
com responsabilidade nos aspectos econômico, ambiental e social (triple botton line)”.
Verifica-se, portanto, que o desempenho em SMS está diretamente relacionado com a sus-
tentabilidade do negócio, representando para as organizações uma área com significativo
impacto também nos resultados econômicos, pois possui a capacidade de atrair ou afastar
investidores.
Entretanto, assim como em todo processo evolucionário, surgem propostas para intro-
duzir novos e antigos conceitos ao mesmo pacote conceitual. Esse é o caso de normas inter-
nacionais que buscam integrar ao cargo de Gestor de HSE, um “Q” de Qualidade > HSEQ .
Há experiências no Brasil realizadas por algumas empresas de porte.
De forma similar, desde a década de 1950, foi criado nos EUA o conceito de Responsabi-
lidade Social que, mais tarde, foi também aceito e divulgado pela comunidade europeia . E
assim a sigla do gestor foi presenteada com mais duas letras > HSEQRS¹.

ATENÇÃO
Deve-se ter atenção para todos os quadros de excesso de gestão, uma vez que, a cada nova letra no cargo
do gestor, a organização produtiva ganha uma batelada de compromissos voluntários e responsabilidades
burocráticas. Realizar overdoses de atividades-meio gera riscos de a organização perder-se diante de suas
principais finalidades.
Em síntese, o próximo tópico abre espaço para se criar uma ferramenta capaz de gerir o Ambien-
te e sua Sustentabilidade. E o responsável por essa ferramenta não será definido por uma sigla de letras.
O cargo é chamado de Gestor Corporativo Ambiental.

Gestão do desempenho ambiental


Desempenho Ambiental – que significa o mesmo que desempenho da Organização no Am-
biente em que se encontra instalada – somente pode ser gerido a partir do conhecimento
das duas partes: Organização e Ambiente. Portanto, é imprescindível que a organização seja
caracterizada em seus processos operacionais e o Ambiente que ela impacta seja diagnosticado.

134 • capítulo 6
A Gestão do Desempenho Ambiental constitui uma competência estratégica da orga-
nização para realizar a gestão ambiental de seus processos, de forma sistemática e perma-
nente. Na linguagem técnica do setor, essa competência requer a realização de duas ativi-
dades básicas: a Caracterização Ambiental do Empreendimento e o Diagnóstico Ambiental
de sua área de influência.

Observe a classificação dos indicadores de desempenho ambiental (IDA) na tabela.

CATEGORIA TIPO EXEMPLO DE INDICADORES

CONSUMO RELATIVO DE ENERGIA

CONSUMO RELATIVO DE ÁGUA


INDICADOR DE DESEMPENHO
INDICADOR DE DESEMPENHO OPERACIONAL (IDO) GERAÇÃO RELATIVA DE RESIDUOS SÓLIDOS
AMBIENTAL (IDA)
CONSUMO RELATIVO DE ÁGUA

GERAÇÃO RELATIVA DE RESIDUOS SÓLIDOS


INDICADOR DE DESEMPENHO
DE GESTÃO(IDG) CONSUMO RELATIVO DE ÁGUA

CONCENTRAÇÃO DE UM CONTAMINANTE
ESPECÍFICO NA ÁGUA, AR OU SOLO
INDICADOR DE CONDIÇÃO AMBIENTAL (ICA)
NÚMERO TOTAL DE ESPÉCIE DA FAUNA
EM UMA ÁREA LOCAL DEFINIDA

Indicadores de Desempenho Ambiental (Fonte: ABNT NBR ISO 14031:2002).

Há uma reação ambiental que mostra a base da análise do desempenho ambiental, ilustrado es-
quematicamente no esquema abaixo.

EMPREENDIMENTO + ÁREA DE INFLUÊNCIA = AMEAÇA + IMPACTOS + RISCO

Ilustração esquemática da Reação Ambiental

Modelos de indicadores ambientais são desenvolvidos em todo o mundo, Dentre os atualmente


utilizados, o esquema abaixo ilustra um modelo desenvolvido pela OECD (Organização para Coo-
peração Econômica e o Desenvolvimento) que se baseia em três tipos de indicadores: condição,
pressão e resposta denominado PER.

capítulo 6 • 135
INFORMAÇÕES

PRESSÕES CONDIÇÕES RESPOSTA

ATIVIDADES HUMANAS MEIO AMBIENTE AGENTES ECONOMICOS


E AMBIENTAIS

ENERGIA AR ADMINISTRAÇÕES
RECURSOS INFORMÇÕES
TRANSPORTES ÁGUA EMPRESA

INDÚSTRIA SOLO OBRIGAÇÃO


POLUIÇÃO AÇÃO
AGRICULTURA FAUNA E FLORA CIDADE

AÇÕES

Ilustração do Modelo PER da OECD (Fonte: FIRJAN – 2008)

Assim sendo, visando a subsidiar sua gestão, deve-se identificar quais são os processos da
organização necessários à gestão de seu desempenho ambiental.

Os processos necessários para conhecer o desempenho ambiental de uma empresa são os


seguintes:
•  Seu Processo Produtivo, que pode criar ameaças potenciais, prováveis impactos e ris-
cos para o Ambiente (Tabela I – a seguir); e
•  Os Resultados Ambientais desse processo, que constituem ameaças realizadas, im-
pactos concretos e riscos à estabilidade do Ambiente (Tabela II).

RESUMO
Em suma, sobre ambos é necessário produzir informações objetivas que permitam ao gestor identificar
ameaças e oportunidades ambientais potenciais, a ocorrência de impactos ambientais positivos e negati-
vos, bem como os riscos associados a cada item do Processo e de seus Resultados.

As informações e características do processo produtivo e as informações de Resultados


Ambientais podem ser verificadas nas Tabelas I e II respectivamente.

TABELA I: Informações e Características do processo produtivo

• natureza dos recursos explorados;


• localização das áreas em exploração e suas respectivas vizinhanças;
APROPRIAÇÃO
• quantidade explorada de cada recurso;
DE RECURSOS • estoque de áreas a serem exploradas;
AMBIENTAIS • caracterização expedita de suas vizinhanças;
• impactos ambientais decorrentes, benéficos e adversos, ocorrentes e potenciais.

136 • capítulo 6
• natureza dos insumos adquiridos;
AQUISIÇÃO • fornecedores dos insumos;
DE INSUMOS • quantidade adquirida de cada insumo;
PRODUTIVOS • meios de transporte utilizados pelos fornecedores;
• impactos ambientais decorrentes, benéficos e adversos, ocorrentes e potenciais.

• formatos e embalagens para pré-acondicionamento;


ACONDICIONAMENTO • meios de transporte utilizados;
E TRANSPORTE • quantidade de carga por meio de transporte;
DOS INSUMOS • quantidade de veículos ou vagões utilizados;
• distância percorrida até o destino;

• finalidades da transformação;
• breve caracterização documentada do processo de transformação realizado;
TRANSFORMAÇÃO • tecnologias utilizadas;
DOS INSUMOS • sistemas de melhoria do desempenho ambiental existentes e suas respectivas
finalidades;
• impactos ambientais decorrentes, benéficos e adversos, ocorrentes e potenciais.

• formato do acondicionamento e material das embalagens;


• meios de transporte utilizados;
TRANSPORTE E
• quantidade de carga por meio de transporte;
DISTRIBUIÇÃO
• quantidade de veículos, vagões ou outros meios de transporte utilizados;
DOS PRODUTOS • distância percorrida até os destinos finais;
• impactos ambientais decorrentes, benéficos e adversos, ocorrentes e potenciais.

• processo de apropriação de recursos ambientais;


• aquisição de insumos com terceiros;
• processo de acondicionamento e transporte de insumos;
• processo de transformação dos insumos;
QUADROS • processo de uso dos recursos transformados;
DE RISCO • transporte e distribuição dos produtos;
• breve descrição dos quase acidentes, acidentes e emergências potenciais
associados a riscos declarados;
• impactos ambientais potenciais adversos decorrentes dos eventos de risco.

• consumo total de energia da organização, no tempo;


• fontes públicas de energia utilizadas;
CONSUMO • fontes próprias de energia e sem emissão de gases;
DE ENERGIA • fontes próprias de energia e com emissão de gases;
• perdas estimadas de energia, no tempo.

• consumo total de água da organização, no tempo;


CONSUMO • fornecedores de água utilizados;
DE ÁGUA • perdas estimadas de água, no tempo.

capítulo 6 • 137
• organizações do mesmo setor com que se relaciona;
• organizações de outros setores com que se relaciona;
RELAÇÕES • fornecedores de produtos e serviços ambientais com que se relaciona;
INSTITUCIONAIS • agências ambientais com que se relaciona;
DE ORDEM • organizações não governamentais com que se relaciona;
AMBIENTAL • breve análise dos relacionamentos efetuados;
• projetos ambientais que financia ou de que participa.

TABELA II: Informação de Resultados Ambientais

• volume total das emissões gasosas, no tempo;


• número de fontes das emissões e suas respectivas descrições;
• caracterização e concentração dos gases envolvidos;
• caracterização e concentração dos particulados emitidos;
EMISSÕES • caracterização dos sistemas de monitoração, controle e tratamento de
GASOSAS emissões disponíveis associados às fontes de emissão;
• vizinhanças e distâncias das fontes de emissão;
• riscos ambientais, de segurança e à saúde associados;
• impactos ambientais decorrentes, benéficos e adversos, ocorrentes e potenciais.

• volume total da produção de efluentes industriais, no tempo;


• volume total da produção de efluentes domésticos, no tempo;
• caracterização, composição e concentração dos efluentes e seus respectivos
EFLUENTES corpos receptores;
• caracterização dos sistemas de tratamento de efluentes industriais e domiciliares;
LÍQUIDOS
• melhoria da qualidade dos efluentes após o tratamento;
• riscos ambientais, de segurança e à saúde associados;
• impactos ambientais decorrentes, benéficos e adversos, ocorrentes e potenciais.

• volume total de produção de resíduos industriais, no tempo;


• volume total de produção de resíduos de escritório, no tempo;
• caracterização e composição dos resíduos sólidos industriais;
• caracterização do sistema de coleta seletiva dos resíduos sólidos gerados;
RESÍDUOS • caracterização e volume dos resíduos sólidos comercializáveis e comercializados;
SÓLIDOS • caracterização da destinação dos resíduos gerados, envolvendo localização,
distância da organização e meio de transporte utilizado;
• riscos ambientais, de segurança e à saúde associados;
• impactos ambientais decorrentes, benéficos e adversos, ocorrentes e potenciais.

• identificação dos processos geradores;


• caracterização do item considerado;
ESCÓRIAS E
• composição físico-química do item considerado;
DESCARTES
• volume gerado do item, no tempo;
• possíveis usos ou reciclagem do item por terceiros.

138 • capítulo 6
• identificação dos processos geradores;
• caracterização do item considerado;
PERDAS EM • composição físico-química do item considerado;
PROCESSOS • motivos identificados das perdas;
• volume estimado ou mensurado de perdas;
• impactos ambientais adversos, ocorrentes e potenciais.

• caracterização dos odores gerados;


• fontes de geração dos odores e períodos de geração;
• caracterização dos poluentes envolvidos e suas respectivas concentrações;
ODORES
• vizinhança e distância das fontes geradoras;
• riscos ambientais, de segurança e à saúde associados;
• impactos ambientais adversos, ocorrentes e potenciais.

• caracterização dos ruídos e das vibrações gerados, envolvendo intensidade


sonora, duração e frequência das gerações de ruídos, bem como intensidade e
duração das vibrações;
• fontes de geração de ruídos e vibrações;
RUÍDOS E
• vizinhança e sua distância das fontes geradoras de ruídos e vibrações;
VIBRAÇÕES • riscos ambientais, de segurança e à saúde associados;
• caracterização do sistema de pronta-resposta a quadros de emergência;
• impactos ambientais adversos, ocorrentes e potenciais.

• caracterização das fontes de radiação e calor;


• caracterização dos materiais dispostos próximos às fontes de radiação e calor;
RADIAÇÃO • vizinhança e distância das fontes de radiação e calor;
• riscos ambientais, de segurança e à saúde associados;
E CALOR
• caracterização do sistema de pronta-resposta a quadros de emergência;
• impactos ambientais adversos passíveis de ocorrência.

• caracterização das fontes de iluminação, identificando sua intensidade


luminosa (quantidade de luz emitida pela fonte em uma dada direção) e sua
luminosidade (densidade da intensidade luminosa emitida pela fonte);
ILUMINAÇÃO • vizinhança e distância das fontes de iluminação;
• riscos ambientais, de segurança e à saúde associados;
• caracterização do sistema de pronta-resposta a eventuais quadros de emergência;
• impactos ambientais adversos passíveis de ocorrência.

EMPREGOS • empregos diretamente oferecidos pela organização;


DIRETOS E • estimativa de empregos indiretos gerados pela cadeia produtiva decorrente da
INDIRETOS organização.

capítulo 6 • 139
Gestão da sustentabilidade

Conforme conceituada, na seção 6.2, a Gestão da Sustentabilidade consiste no processo geren-


cial onde são avaliados, planejados e monitorados os processos da transformação ambiental, os
resultados destes processos e as respostas do ambiente a estes resultados, beneficiadas através
de um plano ambiental específico.

Dessa forma, interessa ao gestor ter informações acerca das respostas do Ambiente à
presença da organização. A partir delas poderá elaborar um plano que otimize essas res-
postas, também chamadas de retroimpactos, ou seja, os impactos positivos e negativos que
o Ambiente pode causar na organização produtiva. Como exemplo, o esquema ilustra os
indicadores na estrutura de um sistema pressão-estado-resposta PER, as relações de causa
e efeito para uma gestão urbana.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

PERSPECTIVA AMBIENTAL PERSPECTIVA SOCIAL

PRESERVAÇÃO QUALIDADE INCLUSÃO ESTRUTURA


ECOSSISTEMAS ECOSSISTEMAS TERRITORIAL SOCIAL

PERSPECTIVA FÍSICO-ESPACIAL
ABRANGÊNCIA QUALIDADE DA CONFORTO DO
INFRA-ESTRUTURA INFRA-ESTRUTURA USUÁRIO

PERSPECTIVA ECONÔMICA

ESTRATÉGIAS DE ESTRATÉGIAS DE RETORNO SOBRE


PRODUTIVIDADE RECEITAS INVESTIMENTOS

Indicadores para uma gestão urbana. Fonte: ROSSETO (2006 )

ATENÇÃO
Para saber como o Ambiente de sua área de influência pode responder, é necessário conhecer seu com-
portamento, ou seja, efetuar seu diagnóstico ambiental.

140 • capítulo 6
Orientação para Diagnóstico Ambiental
Seguem orientações básicas para elaborar um diagnóstico ambiental da área afetada por
uma organização.

•  Bacia Hidrográfica
Dada a parcela da bacia hidrográfica contida no interior da área de influência e suas sub-bacias claramen-
te delimitadas, discriminam-se os respectivos corpos d’água que nelas ocorrem.
Apresentam-se tabelas sobre cada um dos corpos d’água, superficiais e subterrâneos, contendo variáveis
hidrológicas de interesse básico, ou seja, sua área de drenagem e sua estimativa de vazão específica.
•  Condições climáticas
Apresentam-se tabelas contendo as estimativas médias anuais de variáveis hidrometeorológicas
de interesse básico, tais como temperatura, pressão atmosférica, ventos, umidade relativa, chuvas
e geadas.
•  Qualidade físico-química de corpos d’água
Apresentam-se tabelas contendo dados de parâmetros físico-químicos dos principais corpos
d’água que possam ser diretamente impactados pela organização.
Os parâmetros básicos são turbidez, oxigênio dissolvido (OD), temperatura e condutividade. Os
indicadores secundários são a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), potencial hidrogeniônico
(pH), nitrogênio, fósforo e sólidos suspensos. Por fim, como indicadores complementares, metais
pesados e pesticidas. Em locais onde a água seja utilizada para finalidades de abastecimento pú-
blico e/ou lazer, os coliformes fecais devem ser utilizados como indicadores básicos.
•  Geomorfologia
Efetua a caracterização das feições geomorfológicas predominantes e do relevo da área, identifi-
cando suas potencialidades e vulnerabilidades quanto a seu uso e ocupação. Aspectos relativos a
riscos ambientais devem ser identificados e documentados, tais como áreas de inundação e áreas
de deslizamentos.
•  Geologia
Efetua a caracterização objetiva das formações regionais, identificando suas potencialidades e vul-
nerabilidades geológicas, espeleológicas e geotécnicas quanto ao seu uso e ocupação. Aspectos
relativos a riscos ambientais devem ser identificados, tais como instabilidade de taludes, desmoro-
namentos e áreas sujeitas a deslizamentos.
•  Solos
Efetua a caracterização expedita dos solos, com ênfase em seus usos agrícolas, ocorrentes e po-
tenciais, bem como em sua susceptibilidade a processos erosivos, voçorocamentos, deslizamentos
e outros fenômenos de interesse para a qualidade do solo.
• Ecossistemas aquáticos
Apresentam-se tabelas contendo dados aferidos dos indicadores biológicos dos principais cursos
de água que possam ser diretamente impactados pelo empreendimento. Os indicadores básicos
para rios são clorofila a, invertebrados bentônicos e macroinvertebrados. Para lagos e reservatórios
são clorofila a, fitoplâncton e zooplâncton.

capítulo 6 • 141
• Vegetação
Para a flora, as necessidades do diagnóstico temático devem ser assim elencadas:
•  Estimativa da área vegetada, da área de solo exposto e da área ocupada.
- Caracterização dos biomas da cobertura vegetal ocorrente.
- Identificação das formações florísticas ocorrentes nas áreas a serem desmatadas.
- Caracterização da fitossociologia das formações florísticas.
- Estimativa da fitomassa em áreas inundáveis.
- Listagem das principais espécies vegetais, com destaque para as espécies ameaçadas, protegi-
das e endêmicas.
- Descrição e localização das unidades de conservação ambiental existentes.
• Fauna
Efetua a caracterização da fauna e de seus habitats preferenciais, contendo as áreas de abrigo, de
locomoção, de dessedentação e de reprodução. Listagem das principais espécies da fauna, com
destaque para espécies ameaçadas, protegidas e endêmicas.
• Sítios populacionais
Apresenta-se a listagem das principais capitais, cidades, povoados e comunidades rurais situadas
na área de interesse, contendo informações expeditas tabuladas relativas à demografia, economia,
infraestrutura e serviços sociais básicos, organização social e patrimônio regional.
• Demografia
Os aspectos demográficos devem ser relativos aos principais municípios da área de influência,
vistos separadamente e em conjunto, comparando-os com o total dos estados a que pertencem. A
principal fonte dessas informações é o IBGE. Deve ser utilizado para essa finalidade.
Os principais indicadores de interesse são os seguintes:
-  Número de habitantes, classificados em alfabetizados ou não.
-  Número de habitantes por domicílio, por sexo e faixa etária.
-  Taxa de natalidade.
-  Taxa de mortalidade infantil.
-  População economicamente ativa.
-  Expectativa de vida.
• Economia regional
Efetua a caracterização das principais atividades econômicas realizadas nos municípios da área de
interesse, envolvendo agricultura, pecuária, indústria, comércio e serviços, turismo e lazer.
Para cada município da área considerada de interesse, são desejáveis quantificações das respec-
tivas produções com relação ao total das produções dos estados a que pertencem.
• Infraestrutura e serviços sociais básicos
Efetua a caracterização dos equipamentos viários, rodoviários, ferroviários, aeroportuários, portuá-
rios, de transporte marítimo para carga e passageiros, de saneamento básico e de resíduos sólidos.
O mesmo para os serviços sociais básicos disponíveis, envolvendo educação, saúde, serviços hos-
pitalares, moradia, meios de comunicação, segurança, cultura e lazer.
• Organização social
Caracterização dos meios e instituições que demonstram a estruturação social nos principais sítios
populacionais, envolvendo universidades, associações de moradores, organizações não governa-
mentais, partidos políticos, sindicatos, clubes, igrejas, templos e crenças.

142 • capítulo 6
•  Patrimônio regional
Apresenta a listagem e a caracterização dos itens relativos a aspectos arqueológicos, históricos,
de interesse científico e de interesse paisagístico.
Como é possível observar, a gestão da sustentabilidade requer a obtenção de dados e informações
bastante amplas, tanto acerca da área de influência da organização, como acerca dela mesma..

Informação das respostas ambientais


Essas informações são produzidas pelo Gestor Corporativo Ambiental e a equipe da orga-
nização que ele definir. Trata-se de um criterioso trabalho analítico que pode demandar a
presença de especialistas externos. Seu foco é identificar a qualidade ambiental da área de
influência e suas prováveis tendências futuras, caso nenhuma medida seja realizada para
reconduzi-la a um quadro de estabilidade ambiental.
Dessa forma, interessa saber onde se encontram as eventuais quedas da qualidade am-
biental na área trabalhada.
Em suma, a organização produtiva necessita saber acerca das seguintes Respostas Am-
bientais de sua área de influência:

•  Perda da qualidade do ar
É decorrente, sobretudo, da emissão de efluentes gasosos, de geração de particulados em sus-
pensão, de solos expostos em áreas alteradas, da consistência do solo e das condições climá-
ticas da região.

EXEMPLO
Exemplo de impactos decorrentes da queda relativa da qualidade do ar: impacto sobre
a saúde das pessoas; em regiões mais distantes de centros urbanos, pressão excessiva sobre
o sistema hospitalar; afastamento do trabalho, com perda de produtividade; e efeitos adversos
sobre a operação de equipamentos, demandando despesas extras para manutenção e calibra-
ção, entre outros.

• Perda da qualidade da água


É decorrente, sobretudo, da geração de efluentes líquidos industriais e domiciliares, da falta de
tratamento adequado desses efluentes, do lançamento de resíduos em corpos d’água e da ca-
pacidade de autodepuração dos corpos d’água que recebem essas contribuições.

capítulo 6 • 143
EXEMPLO
Exemplo de impactos proporcionados pela queda relativa da qualidade da água: impacto
sobre a saúde das pessoas; impactos adversos sobre peixes e aves; em regiões distantes de
centros urbanos, pressão excessiva sobre o sistema hospitalar; e afastamento do trabalho, com
perda de produtividade, entre outros.

• Perda da qualidade do solo


É decorrente, sobretudo, de processos de limpeza de terrenos e desmatamento, da exposição do
solo ao calor e a ventos, do uso indiscriminado de defensivos agrícolas e de processos alterados
de drenagem superficial.

EXEMPLO
Exemplo de impactos decorrentes da queda relativa da qualidade do solo: indução de
processos erosivos; indução de voçorocamentos; ocorrência de processos de colmatação; alte-
rações do relevo; perda da capacidade de uso agrícola; e impacto sobre espécies da fauna, com
perda de habitats e ruptura na cadeia trófica, entre outros.

• Perda da qualidade de vida da flora


Decorre, em especial, de queimadas, desmatamentos e limpeza de terrenos. No entanto, como
se refere a um fator ambiental que possui vida (a da vegetação), depende diretamente da quali-
dade de vida da fauna e da qualidade do ar, da água e do solo.

EXEMPLO
Exemplo de impactos decorrentes da queda relativa da qualidade de vida da flora: in-
dução de processos erosivos, indução de processos de assoreamento; alteração da drenagem
superficial; indução de processos de voçorocamento; processos de colmatação; mudanças no
relevo; queda da abundância e da biodiversidade da flora; perda de habitats preferenciais da
fauna; evasão da fauna; atração de vetores de endemias e zoonoses; e queda da abundância e
diversidade da fauna e risco de extinção de espécies, entre outros.

• Queda da qualidade de vida da fauna


Decorre em especial da perda de seu habitat preferencial, onde possui áreas de refúgio, repro-
dução, alimentação e dessedentação. Portanto, depende diretamente da qualidade de vida da
flora, e também da qualidade do ar, da água e do solo.

144 • capítulo 6
EXEMPLO
Exemplo de impactos proporcionados pela queda relativa da qualidade de vida da fauna:
competição inter e intraespecífica, queda na abundância e na biodiversidade da fauna e risco de
extinção de espécies.

•  Queda da qualidade de vida do homem


O fator homem precisa ser tratado à parte, dada a complexidade de seu comportamento e fun-
cionalidade. Assim como a fauna, possui mobilidade própria, o que os torna vulneráveis a diver-
sas ameaças ambientais potenciais.
Desta forma, buscando sintetizar as motivações da perda da qualidade de vida do homem, ela
é fruto da perda de seu habitat preferencial (espaço residencial), onde possui moradia, família,
trabalho, relacionamento social e lazer.

EXEMPLO
Exemplo de impactos proporcionados pela queda relativa da qualidade de vida do ho-
mem: perda da acessibilidade interlocal e inter-regional; queda da renda familiar; queda no con-
sumo de energia; e perda de acesso a serviços sociais considerados básicos (educação, saúde,
comunicação, transporte etc.).

Observa-se que as variações de qualidade acima referem-se a cada um dos fatores am-
bientais que compõem os sistemas ecológicos contidos na área de influência. É interessante
notar que ocorrem, sobretudo, por ações, sem controle, promovidas pela organização, que
nada mais representa do que fruto de comportamento do fator homem. O Ambiente partici-
pa tão-somente como variável de esforço, diante das perdas e quedas de qualidade que sofre.

COMENTÁRIO
Entretanto, salienta-se que existem práticas ambientais consagradas, também criadas pelo homem, capa-
zes de atenuar ou até mesmo anular muitos dos impactos adversos causados pelo homem e sua organiza-
ção sobre o Ambiente.

A Gestão Compartilhada
Uma organização encontra-se instalada em uma região e opera dentro dos padrões legais
estabelecidos. No entanto, existem outras organizações operando no mesmo território. E
admite-se que todas atuam em conformidade com os padrões ambientais estabelecidos
em lei. Todas promovem impactos ambientais sobre mesma área de influência ou algo
bem próximo disso.

capítulo 6 • 145
A questão essencial à reflexão é a seguinte: quando todas as organizações operarem simultane-
amente, fato que é normal em qualquer conjuntura, quais serão os impactos resultantes sobre o
Ambiente, considerando:

•  A geração de emissões gasosas;


•  A geração de efluentes líquidos;
•  A geração de resíduos sólidos;
•  A geração de odores;
•  A geração de ruídos e vibrações;
•  A geração de radiação e calor;
•  A geração de iluminação;
•  A geração de escórias e descartes; e
•  As perdas em processos.

REFLEXÃO
Ou seja, como o Ambiente reagirá à resultante de todos esses impactos provindos de todas as organiza-
ções? Enfim, qual será o nível de sustentabilidade que resultará para a região?

A sustentabilidade refere-se ao comportamento do Ambiente em face da presença de uma ou de


várias organizações. As organizações devem possuir procedimentos para que cada uma monitore
e avalie as respostas do ambiente aos seus resultados ambientais, os quais, como já se sabe, en-
volvem os seguintes quadros:
•  Variação da qualidade do ar;
•  Variação da qualidade da água;
•  Variação da qualidade do solo;
•  Variação da qualidade de vida da flora;
•  Variação da qualidade de vida da fauna; e
•  Variação da qualidade de vida do homem.

Cada um desses quadros fenomenológicos precisa ser analisado periodicamente, con-


tando com especialistas nas respectivas áreas de conhecimento. É com base nas informa-
ções das respostas do ambiente que se realiza a avaliação da sustentabilidade resultante
das relações Organização versus Ambiente.

ATENÇÃO
Dentre as informações de interesse acerca dos Processos Produtivos, ressalta-se a importância da manu-
tenção das relações institucionais de parceria. Essas relações são relevantes para a sustentabilidade da
região afetada por várias organizações. Caso não existam, propõe-se que sejam estabelecidas.

146 • capítulo 6
Sugere-se que em regiões com maior número de organizações produtivas e unidades de
logística, sejam criados Comitês de Gestão Ambiental e da Sustentabilidade para orientar
seus processos de gestão integrada.
Isoladamente, cada organização pode estar operando dentro dos padrões ambientais esta-
belecidos em lei. No entanto, o conjunto delas pode gerar a insustentabilidade dos ecossiste-
mas afetados e até mesmo prejudicar a qualidade de seus próprios insumos, inclusive os insu-
mos humanos.

Assim sendo, para a unidade organizacional isolada recomenda-se:


•  Estabeleça os padrões de sustentabilidade que deseja realizar, tendo como base mínima os
requisitos legais estabelecidos no país em que opera, além de convênios, contratos e eventuais
subscrições de normas internacionais.
• Implante Sistemas de Melhoria do Desempenho Ambiental, sempre que necessário.
• Realize e mantenha a documentação e as informações registradas de todas as respostas do
ambiente à sua presença.
• Utilize indicadores que sejam mensuráveis e capazes de demonstrar a variação do comportamen-
to de cada fator ambiental que possa ser afetado pela organização.
• Resguardadas as informações consideradas classificadas, a organização comunicará o anda-
mento e o desempenho da monitoração das respostas do ambiente e seus resultados ambientais
a todas as partes que possam ser diretamente afetadas.

Para grupos de organizações produtivas, entretanto, recomenda-se que, além dos mes-
mos procedimentos das organizações isoladas, atuem através de políticas e ações integra-
das dos Comitês de Gestão Compartilhada de que participarem.

COMENTÁRIO
Não há dúvida de que criar uma pessoa jurídica – o Comitê de Gestão Ambiental e da Sustentabilidade –
para cumprir esse papel, acarretará expressiva economia a todas as organizações que a ele se associarem.
Afinal, à semelhança dos polos industriais, já é hora de organizar o primeiro Polo Ambiental do país.

Consideração final
Segundo a opinião de notórios profissionais da Tecnologia da Informação, a área conside-
rada como a mais criativa do mercado mundial , “as capacidades de inovação e invenção
vêm tendo cada vez menor espaço para acontecer. Isso por que boa parte dos produtos re-
cém criados são apenas o novo formato digital para os mesmos antigos produtos”. Dessa
forma, não constituem propriamente criações, inovações ou invenções.
Contudo, essa opinião abalizada deixa de ser verdadeira quando universidades e seus
laboratórios entram em cena e realizam pesquisas para desenvolver o conhecimento. Fa-
zem experimentos controlados, produzem novos conceitos e teorias, sempre a visar a am-
pliação da Ciência e, em consequência, criar novas tecnologias dedicadas a finalidades

capítulo 6 • 147
práticas. Nessa cena, que é comum em inúmeras áreas do conhecimento, esse processo é
chamado de criação, invenção ou inovação.

CURIOSIDADE
No entanto, na área das ciências humanas, consideradas não exatas, o processo de desenvolvimento aca-
dêmico realiza-se de forma distinta. Trata-se de um trabalho conjunto de vários especialistas, onde as crí-
ticas sucessivas são o fundamento para a evolução da teoria e das práticas tecnológicas resultantes.

Exatamente assim ocorre com as teorias dedicadas à Gestão do Ambiente, que ainda caminham
tateando sobre um terreno pouco consolidado. Nenhum dos seus autores poderá afirmar, em sã
consciência, que sua abordagem é totalmente inédita, porque sempre estará baseada em aborda-
gens anteriores que visam a melhorar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
Environment and Pollution Standards Policy Committee. BS 7.750, Specification for Environmental Mana-
gement Systems. Grã-Bretanha: 1992 e revista em 1994.
ETZIONI, Amitai. Organizações Complexas. São Paulo: Atlas, 1973.
MACEDO, R. Kohn de. A Arte da Sustentabilidade – Integrando a Organização ao Ambiente. Rio de Janeiro:
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IMAGENS DO CAPÍTULO
Desenhos e gráficos cedidos pelo autor do capítulo e ilustrados por Victor Maia

148 • capítulo 6
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