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teoria da ação frente à teoria de ação de Mises. Também quero comentar algumas reações de
libertários.
Houve quem alegasse que a praxiologia de Mises fosse apenas um recorte da ação
humana e que tal recorte fosse legítimo. Mas se é assim, porque quando pensamos (o que será
mostrado aqui) numa visão mais integral da ação e do homem nós nos deparamos com
resultados diferentes?
Porém, Rothbard não fez o mesmo. Foi lá e levou às últimas consequências na teoria
de estado. A sua ética libertária só pode nascer de um contexto em que realmente se acredita
que não há fins objetivos para a ação.
Talvez a consequência mais radical numa correta teoria da ação frente à teoria da ação
de Mises é a mudança na teoria de valor. Já que existem coisas que são boas por si e que há
coisas que são objetivamente melhores do que outras, valorá-las como más ou valorar as
melhores como piores é um erro.
O que exporei não é simples de entender, sobretudo para quem não é tomista.
Contarei um pouco de história para me fazer melhor entendido. Creio que tudo gira em torno
do debate determinismo x indeterminismo para o qual o tomismo tem uma solução que é um
meio termo saudável: o finalismo.
Após o iluminismo, sobretudo na primeira metade do século XIX, houve uma reação
romântica na Europa. Os afetos estavam supressos e por fim houve uma explosão de
sentimentalismo. Houve uma revolta contra a razão e o mundo já não parecia mais governado
por leis e ordens. Tudo retornava ao caos.
Isso se reflete na metafísica do bem e do mal. Segundo santo Tomás, o mal nunca é
substância, mas meramente acidente de algo que é bom. O mal é como se fosse uma janela
numa casa. Por mais que o buraco da janela seja grande, ela está em uma casa. A janela não
existe por si mesma. Se o buraco da janela fosse grande o bastante para ocupar 100% da casa,
aí já não haveria nem casa e nem janela.
Há óbvios casos em que objetivamente podemos dizer que um certo produto ou ação
é má. Por exemplo, o uso de crack. O libertarianismo austríaco ao defender a valoração
subjetiva de tudo deve necessário ser favorável à liberação das drogas - e não só da maconha,
mas de todas as drogas. O libertário defende cinicamente uma tal de remoção física, mas tal
solução é apenas um remendo, nada garante em absoluto que possamos intervir no uso de
narcóticos.
É oportuno fazer alguns comentários sobre meu texto anterior e a reação contra ele.
Eu acho que foi um texto feliz para prevenir católicos de serem libertários, aliás, acho que meu
texto convenceu alguns católicos libertários no grupo libertarianismo. O problema é convencer
os ateus e agnósticos. Creio que por dupla razão: não tendo Deus no coração, precisam
preencher o vazio existencial com alguma utopia política. Os ateus tendem a ser bem mais
ideólogos do que cristãos. Em segundo lugar, sem Deus por pressuposto, fica difícil imaginar
uma ordem objetiva no universo. A tendência do ateu é cair no subjetivismo e dificilmente ele
vai aderir a uma teoria de ação objetiva.
Fui acusado várias vezes de apelar à fé. Ateus, além de ex-libertário, sou ex-ateu
também. Fui convencido da necessidade da existência de Deus e acho os argumentos
existentes excelentes. Também sei que não posso usar matéria de fé numa audiência sem fé.
Os meus argumentos não exigem fé, são 100% da matéria da razão natural.
Recomendo que conheçam as cinco vias de santo Tomás através do excelente texto do
professor Sidney Silveira: http://contraimpugnantes.blogspot.com/2010/03/prova-da-
existencia-de-deus-em-santo.html
Também sugiro verem as aulas no youtube dadas pelo professor Joathas Belo,
especialista em Xavier Zubiri (que aliás, defende a validade das cinco vias num contexto mais
cientificista): https://www.youtube.com/watch?v=RuRfdBehb3o
O argumento mais difícil de entender no meu texto (e sinceramente acho que foi o
único lido pela maioria, provavelmente viram que citei a Deus e abandonaram o texto,
ignorando os outros argumentos) foi o primeiro.
Na verdade, Mises não procede muito diferente, mas provavelmente com menos
malícia em relação ao revolucionário alemão. Sendo um economista, analisava principalmente
ações econômicas em que empresários tentam suprimir demandas.