Boa noite a todos, pais, alunos, professores e especialmente à turma C31, que

me escolheu como paraninfo.

Gostaria de agradecer aos alunos e alunas da C31 por esse gesto de carinho e
reconhecimento ao meu trabalho como professor de língua portuguesa aqui na
Escola. Comecei aqui no ano passado mas sinto como se já conhecesse todos
vocês há muito mais tempo que isso.
Sei que sou ainda um professor com pouca experiência em sala de aula, mas,
enquanto escrevia e reescrevia esse discurso, tentei recordar minhas
experiências como aluno. Cursei todo o ensino fundamental e médio em escolas
públicas, sou filho de professores de escolas públicas, e me orgulho muito disso.
Não acredito que ao ensino possa ser dado um preço, e então faz muito sentido
que os meus passos como estudante de uma universidade pública tenham me
trazido de volta à sala de aula como professor desta escola pública.
Tenho consciência que a relação entre professor e aluno nem sempre é pacífica;
há atritos, discussões e desentendimentos. Como professor sei que às vezes
falho estrondosamente na hora de me comunicar com meus alunos. Mas gostaria
que quando vocês se lembrarem de mim daqui há muitos anos, seja de forma
positiva, como alguém que os motivou a ter prazer com a leitura e com o debate
de opiniões.
Se fosse possível escolher apenas uma imagem para ficar gravada na memória
de meus alunos na hora que fossem se lembrar de mim, seria a imagem de um
guia. Uma espécie de guia turístico no vasto e infinito mundo das ideias. Alguém
que já percorreu muitas vezes estes caminhos que vocês começam a trilhar pela
primeira vez todos os dias na sala de aula. Na verdade eu gostaria que vocês
imaginassem o papel de todos os professores como o de guias, que ajudam
vocês a se orientar por essa vastidão de ideias.
Com essa imagem ficaria mais fácil, eu acho, de entender o que fazemos todos
os dias quando vamos à escola, sentamos numa cadeira e prestamos atenção
às palavras de um professor. Todos vocês já devem ter se perguntado qual é o
sentido de tudo isso, certo?
Imaginem se a vocês é dada a tarefa de dar a volta em mundo imenso que
oferecesse todas as ideias já imaginadas pelos homens, tanto as boas quanto
as ruins, tanto as mais maravilhosas quanto as mais estúpidas, tanto as mais
geniais quanto as mais medíocres. Então, eu pergunto a vocês: como vocês
fariam para conhecer todas essas ideias numa vida só? As ideias nunca param
de surgir, e são tantas quanto existem estrelas no Universo. Para cada ideia que
vocês conhecessem, naquele mesmo instante milhões de novas ideias estariam
nascendo.
Bom, eu tenho uma solução um pouco suspeita, mas penso que pode ajudar
vocês: peçam para que um guia acompanhe vocês, alguém que passou muito
tempo conhecendo os meios de filtrar as ideias, de medi-las e classificá-las
conforme sua beleza, sua utilidade, sua necessidade e sua capacidade de nos
maravilhar. Mas onde encontrar alguém assim?
Não é necessário procurar, eles e elas estão todos as manhãs diante de vocês,
convidando-os a adentrar essas terras desconhecidas e maravilhosas onde
todas as ideias florescem, onde todo o conhecimento acumulado pode ser
compartilhado e reinventado. Ao percorrer esse território nós, professores,
ajudamos vocês a encontrar aquelas ideias mais importantes dentre infinitas
variedades. Mas agora eu preciso contar um segredo muito importante para
todos vocês: não podemos forçá-los a nos acompanhar e seguir por esses
caminhos; não podemos arrastá-los; não podemos obrigá-los a enxergar a
beleza desse universo de ideias.Vocês precisam desejar viver essa aventura;
vocês precisam ter a curiosidade de vasculhar todos os cantos desse território.É
preciso aprender a querer aprender!
O ato de separar e tomar posse das ideias, de se adonar do que já foi pensado
e a partir disso criar novas ideias que outros poderão aproveitar é o que significa,
para mim, a Educação e a Escola.
E cabe a vocês alunos que se formam no ensino fundamental e que começarão
no ano que vem o Ensino Médio enxergarem a Escola, os professores e a
Educação como os guias que garantirão que na hora que cada um de vocês
precisar sair desse território de ideias para enfrentar o mundo concreto das
coisas, que vocês não saiam com as mãos e os bolsos vazios de ideias.
Pois o mundo fora dos muros da Escola não espera que tu pare de te distrair e
preste atenção, não há guias para te indicar os caminhos secretos que levam ao
conhecimento e à transformação; não há tempo para conselhos e reflexões; há
ação e reação; há decisões e consequências; há o que tu faz e o que tu deixa
de fazer. O mundo tem cada vez mais pressa e a rotina do trabalho e do mundo
adulto devora as horas sem piedade. Quando essa hora chegar, tu vai ter que
descobrir sozinho a saída dos vários labirintos que a vida adulta impõe. E
naquelas horas mais difíceis, quando parece não haver uma solução visível,
então será a hora de usar aquelas ideias que tu levou deste território gigantesco
que a Escola e a Educação oferecem e de lembrar dos conselhos daqueles guias
que te ensinaram como te apossar do mundo das ideias para atingir o máximo
de felicidade que for possível conquistar.