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A História da Sociedade Primitiva

A história da raça humana abrange todo o espaço de tempo desde que o homem
apareceu pela primeira vez na Terra, que se julga grosso modo ser de 1 000 000 de
anos. No primeiro período da história humana não existiam povos independentes nem
estados, e os homens viviam em pequenos grupos, clãs ou tribos. Este período é
conhecido como a época da sociedade primitiva. Os arqueólogos dividiram a história
da Humanidade em três idades, de acordo com a matéria-prima com que faziam os
instrumentos: a Idade da Pedra, a Idade do Bronze e a Idade do Ferro.No entanto,
esta divisão revelou-se pouco adequada, particularmente no que se refere aos
primeiros períodos da sociedade primitiva, alguns dos quais se prolongaram por
muitos milhares de anos. E, por isso, apareceram subdivisões. A Idade da Pedra foi
dividida em Paleolítico (Idade Antiga da Pedra), Mesolítico (Idade Média da Pedra) e
Neolítico (Nova Idade da Pedra). Além disto, o Paleolítico e o Neolítico foram divididos
em Inferior, Médio e Superior.
O Homem Primitivo
Se atentarmos, porém, não nas classificações arqueológicas mas nas geológicas,
verificamos que o homem apareceu pela primeira vez na Terra no início do chamado
período quaternário, quando os glaciares que então cobriam todo o Norte da Ásia, da
Europa e da América, começaram a recuar dando origem a um clima quente nestas
regiões.
No tipo de homem que apareceu nesse período, poucas características o distinguiam
do reino animal. Nessa altura, o homem vivia, como os macacos, nas árvores, não
tinha local de residência fixo e não usava qualquer espécie de vestuário. E, no
entanto, já existia a diferença, uma diferença decisiva: o homem, ao contrário dos
outros animais, já havia aprendido a fabricar utensílios. Inicialmente, estes utensílios
eram extremamente primitivos. O tipo mais primitivo de instrumento de pedra feito pelo
homem ficou conhecido como utensílio e consistia num pedaço de pedra mal talhado
e com uma das arestas ligeiramente afiada que, regra geral, pesava aproximadamente
dois quilos. O homem usava este instrumento primitivo como meio de defesa ou de
ataque e também como instrumento de trabalho.
Durante essa época longínqua, o homem assegurava a subsistência, apanhando toda
a espécie de alimentos que a natureza casualmente lhe oferecesse, como frutos e
bagas silvestres, e caçando pequenos animais. E como, nesse tempo, o homem era
em grande parte impotente perante as forças da natureza, era obrigado a viver, a
trabalhar e a defender-se em grupo. Daí que tivessem formado agrupamentos de
homens primitivos, cujo nível de desenvolvimento comunitário era tão baixo, que foram
classificados de «rebanhos humanos primitivos». A estes rebanhos primitivos era
estranha qualquer ideia de hierarquia ou desigualdade. Não tinham noção de
propriedade ou de laços familiares.
Quem quer que se afastasse do «rebanho» era considerado como um estranho, o que
naquela altura equivalia a ser um inimigo. Esta era a razão, por que os homens
lutavam por se manterem juntos: a vida fora do rebanho era cheia de perigos e estava
para além das possibilidades de qualquer indivíduo isolado. No fim do Paleolítico
Inferior houve um novo (terceiro) período glaciário. Condições climáticas do tipo da
tundra( desenvolveram-se então em vastas áreas da Ásia e da Europa, e muitos
animais não conseguiram sobreviver a tão repentina mudança de clima e extinguiram-
se. Entretanto, o homem conseguiu adaptar-se às novas condições. Durante o
Paleolítico Inferior, tinha aprendido a fabricar o fogo, que sabia já utilizar e conservar.
O uso do fogo permitiu-lhe proteger-se do frio e dos animais selvagens e cozinhar os
seus alimentos (até então só conhecera alimentos crus). A arte de fazer fogo
representou a primeira grande vitória do homem sobre a natureza.
Foi durante esta época que se deu a transformação gradual do «primitivo rebanho
humano» numa comunidade de tipo mais avançado, em que a estrutura e os padrões
de vida começaram a mudar. O homem desceu das árvores para o solo. Contudo,
ainda não construía habitações e utilizava abrigos naturais, sobretudo cavernas. As
técnicas usadas para fabricar os instrumentos de pedra também mudaram. Foi durante
este período que surgiram instrumentos mais pequenos e mais bem feitos — os
chamados «bifaces»(. A principal atividade do homem nesta etapa do seu
desenvolvimento foi a caça de animais grandes, tais como veados ou mamutes, o que
não significa, é claro, que tivesse deixado de apanhar víveres, mas apenas que a caça
se impusera como método mais importante de angariar alimentos. Foi entre os anos
40 000 e 12 000 a.C. (Paleolítico Superior), que surgiu o homem moderno. Foi
também durante este período que apareceram as primeiras diferenças raciais.
Há teorias que defendem que as raças sempre existiram, isto é, desde que o homem
evoluiu como uma espécie distinta do resto do reino animal. Os defensores destas
teorias admitem que certas raças são naturalmente superiores, enquanto outras têm
deficiências específicas e são por isso inferiores. Tudo isto é absolutamente falso. Em
primeiro lugar, as distinções raciais não começaram no início da existência da raça
humana mas só em certo estádio do seu desenvolvimento. Em segundo lugar, uma
análise mais cuidada e imparcial revela que não há diferenças fundamentais entre as
várias raças e que tudo o que há de diferente é puramente externo, físico (tais como a
cor da pele, o tipo de cabelo, etc.). Estas foram as principais mudanças que se deram
na sociedade humana durante o período Paleolítico. O rebanho humano primitivo
deixou de existir e surgiu uma nova forma de vida social —
A Era do Clã
O princípio base subjacente a este tipo de estrutura social era o parentesco por linha
feminina. Este, por sua vez, explica-se pelo facto de os casamentos de grupo serem
prática comum; por isso, as crianças que ignoravam quem eram os pais, sabiam
sempre quem eram as mães. Assim, o parentesco era exclusivamente por linha
materna. A sociedade baseada neste sistema, dito matriarcal, durou vários milhares de
anos. Este tipo de sociedade coincidiu grosso modo com os períodos Mesolítico e
Neolítico Inferior e representou um estádio importante no desenvolvimento da
Humanidade. Foi durante este período que o homem trocou as suas rudes armas de
pedra por outras muito superiores, tais como o arco e a flecha, e começou a
domesticar animais. O primeiro animal a ser domesticado parece ter sido o cão. Foi
também neste período que o homem aprendeu a fazer vasos de barro, o que indica
que tinha começado a cozinhar sistematicamente os alimentos. Durante o Neolítico
Superior desenvolveram-se novas técnicas de trabalhar a pedra: perfurar, alisar e
polir. Finalmente, e isto é também muito importante, foi durante este período que
apareceram as formas primitivas de cultivo da terra e da criação de animais para o
trabalho agrícola.
O Desenvolvimento da Agricultura e da Criação de Gado
O cultivo da terra foi a continuação lógica do primitivo hábito de apanhar frutos,
sementes, etc. À medida que apanhava nozes, frutos, bolotas e grãos de cereais, o
homem começou a notar que o grão crescia depois de ter caído no solo. Contudo,
muitos séculos teriam ainda de passar antes de concluir destas observações que
podia ele próprio semear grão e cultivar plantas. Foi assim que começou a agricultura
primitiva. Os utensílios primitivamente usados na agricultura eram extremamente
rudimentares, tais como paus para cavar e mais tarde enxadas. Cultivava-se cevada,
trigo, milho-miúdo, ervilhas e legumes, assim como cenouras, por exemplo.
A domesticação de animais para servirem de alimento desenvolveu-se a partir da
prática da caça. Nesta altura, os homens tinham aprendido a caçar, atacando a presa
depois de a cercar. Grandes grupos de homens atacavam javalis ou bois selvagens e
a caça tornou-se uma atividade coletiva em grande escala. Pouco a pouco o homem
compreendeu que era possível utilizar os animais, domesticá-los e criá-los. Foi assim
que começou a criação de gado.
O subsequente desenvolvimento da agricultura e da criação de gado está nitidamente
ligado com a transição do parentesco por linha materna para o parentesco por linha
paterna. A agricultura e a criação de gado tornaram-se campos de actividade nos
quais o homem gradualmente foi substituindo a mulher. Este facto, por sua vez, ficou
ligado à invenção do arado e à transição da agricultura baseada no trabalho de
enxada para a agricultura baseada no arado. Como lavrar a terra com arado era um
trabalho mais duro, era feito pelos homens com a ajuda de animais de tração. À
mulher coube então uma nova tarefa: dirigir o trabalho doméstico. O estabelecimento
do parentesco por via paterna, ou patriarcado, marcou um novo estádio no
desenvolvimento da sociedade humana. Foi neste período que se deu a transição dos
utensílios de pedra para os de metal. Primeiro, o homem aprendeu a fundir o cobre,
mas como o cobre é um metal muito mole, logo começou a misturá-lo com estanho,
fazendo assim o bronze. O bronze é muito mais duro do que o cobre, funde a uma
temperatura mais baixa e é mais maleável, o que o tornou muito mais adequado para
o fabrico de utensílios e armas.
O desenvolvimento da agricultura e da criação de gado e a transição para os utensílios
de metal levaram as tribos a especializar-se no cultivo da terra ou na criação de gado.
Os homens que se dedicavam ao cultivo da terra espalharam-se por várias regiões do
hemisfério ocidental e do hemisfério oriental, e concentraram-se na sua maior parte
nos vales de grandes rios como o Nilo, no Egipto, o Tigre e o Eufrates, na
Mesopotâmia, o Indo, na Índia, o Huang Ho, na China, e também em regiões da Ásia
Menor e da península dos Balcãs. Os que se dedicavam à pastorícia estabeleceram-
se no Sul da Sibéria, na bacia do mar de Arai, no planalto Iraniano e nas estepes junto
do mar Negro.
Começou então a troca regular de produtos entre os agricultores e os pastores. E se
nas épocas mais primitivas as pessoas tinham tentado produzir o suficiente para
sustentar a sua própria família ou clã, agora começavam a tentar produzir um
excedente, tendo em vista a possibilidade de troca. Agora existia um incentivo para
acumular produtos em excesso, dentro de determinada tribo, clã ou família.
A necessidade de acumular produtos em excesso para troca deu origem a atitude
nova para com os prisioneiros capturados nas guerras intertribais. Enquanto
anteriormente estes eram normalmente mortos ou introduzidos nas fileiras da tribo
vencedora, aparece agora um novo costume: o de fazer prisioneiros e forçá-los a
trabalhar para os vencedores, como escravos. Desta maneira, durante a era patriarcal
nasceu a escravatura primitiva ou patriarcal. O aparecimento da escravatura foi um
dos primeiros sinais da desintegração da comunidade primitiva.
A Desintegração da Estrutura do Clã
Foi no século XIV a.C. que começou a transição para os utensílios de ferro (primeiro
na Ásia Menor). Apareceram desde logo arados, machados e pás de ferro. O uso
deste metal deu origem a uma revolução profunda nas técnicas agrícolas e no
artesanato. Apareceram os ferreiros, e logo depois a roda de oleiro e o tear. Ocorreu
uma nova divisão do trabalho quando os artífices deixaram de trabalhar a terra e os
agricultores deixaram de gastar parte do seu tempo a fundir o metal ou a modelar o
barro.
Um dos acontecimentos mais importantes desta época foi o aparecimento
da propriedade privada. Os primeiros objectos de posse privada foram o gado e os
escravos, isto é, os prisioneiros reduzidos à escravatura. Pouco a pouco, a terra
tornou-se também uma forma de propriedade privada, uma das mais importantes, visto
que representava a fonte de todos os meios de subsistência, logo seguida da posse
dos instrumentos para a cultivar. Daqui resultou também a desigualdade baseada nas
relações de produção, e ao lado das categorias de homens livres e escravos
apareceram as novas categorias de ricos e pobres. Em breve, certas famílias ou
pessoas ficaram na posse dos melhores lotes de terra e dos maiores rebanhos de
gado, enquanto outras empobreciam e se arruinavam. Dentro de cada clã, começou a
sobressair uma espécie de nobreza, constituída por aqueles que tinham riquezas e
poder. Desta nobreza saíram os chefes tribais e os membros do conselho dos anciãos.
Os laços familiares viram então reduzir a sua importância neste estádio do
desenvolvimento da sociedade humana, sendo gradualmente substituídos por laços
baseados na proximidade espacial, isto é, por laços entre pessoas que viviam na
mesma área. As comunidades territoriais surgiram no preciso momento em que a
comunidade baseada no clã estava em processo de desintegração. Mas continuaram
a existir por muitos séculos e ainda se encontravam nalguns lugares, até ao início do
século XX, como na Índia e na Rússia pré-revolucionária.
A Origem das Classe e dos Estados
O desenvolvimento do equipamento técnico do homem, o aparecimento da
propriedade privada e finalmente a expansão da escravatura levaram gradualmente à
divisão da sociedade em grandes grupos, que ocupavam diferentes posições sociais.
Havia os que possuíam a terra, instrumentos e escravos, mas não trabalhavam, e os
que sustentavam pelo seu trabalho — quer os que tinham instrumentos de trabalho
próprios (camponeses e artífices) quer os que tinham que trabalhar como escravos
para os seus senhores. Estes grandes grupos, que ocupavam posições sociais tão
diferentes, vieram a ser conhecidos por classes.
A classe que possuía riquezas e obrigava os outros (escravos, camponeses e
artífices) a trabalhar para ela começou a organizar-se para os manter em submissão.
Com esta finalidade, surgiu uma nova instituição, que era desconhecida nas
comunidades sociais baseadas nos princípios de parentesco, a que
chamamos Estado. Vários órgãos de poder, tais como prisões, exércitos e tribunais
eram todos eles componentes do aparelho de Estado.
Com a divisão da sociedade em classes e com a formação do Estado, começou uma
nova era na história da Humanidade. Assim, vamos deixar esta descrição geral da
história do homem antigo e passamos à exposição detalhada da história dos estados e
povos individuais.

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