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13.1. Capítulo II – A criança enlutada, pág. 16 – 19.

Enfrentar a morte de alguém que se ama é um processo difícil em qualquer


idade, principalmente quando se é criança. Muitas pessoas poupam as crianças
do luto, com as maiores e melhores das boas intenções, embora isso muitas
vezes seja devastador para ela. As crianças sentem todas as emoções dos
adultos. A morte é um conceito inteiramente novo para elas. O mais perto que
ela chega da noção, da compreensão e da vivência da morte acontece através
dos filmes, dos jogos de computador no qual os “maus” morrem, de modo que
ninguém fica realmente infeliz.
Perder um pai, uma mãe amorosa, um avô bondoso ou um irmão é muito
diferente, e elas precisam ser orientadas cuidadosa e carinhosamente ao logo
de toda essa experiência.
Quando alguém que ela ama morre, a criança fica infeliz e também muito
assustada. A morte passa a ser real e acontece com pessoas boas. Seu mundo
passa a não ser mais aquele lugar seguro que julgou ser. A criança que perde
um dos pais pode tornar-se muito temerosa de que o outro também a deixe. É
preciso muito amor e paciência para tranquiliza-la, em geral, apenas palavras
não bastam. Algumas crianças tornam-se extremamente apegadas a quem
está vivo, recusando-se a se soltar do pai ou da mãe que sobreviveu com medo
de que, se deixar que saia de sua vista, eles possam desaparecer também e
nunca mais voltar.
Tem casos de crianças que reagem diferente, tornando-se distantes, às
vezes se recusando até a ficar de mãos dadas ou a lhe dar um beijo de boa
noite. A criança que age assim está se preparando, subconscientemente, para
a perda desse pai/mãe como se estivesse afirmando que é possível viverem
sem eles.
Ambas as formas de comportamento são gritos de socorro e pedidos de
compreensão e de reafirmação de que ninguém mais desaparecerá tão
radicalmente. Tendo em mente as limitações da idade e o nível de
entendimento, quanto mais se tiver condições de falar a verdade, melhora
para a criança.
De repente, ela percebe que a morte não acontece somente com os maus e
com os velhos, mas também com crianças. Ela toma consciência da sua própria
mortalidade, o que pode ser muito assustador.
É muito difícil para as crianças expressarem seus sentimentos com palavras,
e muito fácil para os adultos as interpretarem mal. Por isso é importante deixar
a criança participar do que está acontecendo e conversar com elas a respeito
– mesmo que ainda não entendam tudo o que está sendo dito.
É necessário que se permita que a criança passe por todas as fases do luto,
exatamente como um adulto. Ela irá sentir tristeza, raiva, medo, solidão, falta
de compreensão e culpa. É preciso que seja incentivada a falar desses
sentimentos para que possa ser tranquilizada. Muitas vezes é útil e até
necessário propiciar experiências lúdicas e/ou projetivas nas quais a criança
poderá expressar seu sofrimento. Por exemplo, ao brincar com bonecos e
casinha, ela pode desenvolver um enredo que represente a morte e a perda,
com toda a dor associada. Pinturas, desenhos, colagens ou modelagens com
massinhas ou barro podem igualmente propiciar os conteúdos subjetivos da
dor. Sketches e teatrinhos também podem dar espaços psicodramáticos para
sofrimentos inefáveis.
É muito útil que os adultos busquem apoio e esclarecimento adicional para
compreender o seu próprio processo de luto e modelar uma reação sadia à
perda, expressando seus sentimentos e recebendo apoio. As crianças
geralmente aprendem suas respostas à perda com os adultos da família.
Quando os adultos não conseguem elaborar seus lutos, as crianças podem ficar
assustadas e inseguras, porque sentem a tristeza e o estresse dos outros, e se
sentem impotentes para ajudar. Elas precisarão de maior amor, apoio e
estrutura em sua rotina diária.
Quando alguém morre, as crianças geralmente ficam com medo de morrer
e de que outras pessoas morram. Elas precisam saber quem cuidaria delas no
caso improvável da morte de ambos os pais.
Especialmente a partir da fase operatório-concreta (6 aos 10 anos) elas
precisam de uma explicação adequada sobre a causa da morte, com o uso de
termos corretos como morrer e morte. Termos vagos e tentativas de protege-
las da verdade apenas aumentam a confusão.
Quanto menores, mais as crianças apresentam pensamento mágico ao
ponto de acreditarem que seu comportamento ou seus pensamentos
poderiam causar ou reverter a morte.
Não se deve excluir as crianças quando a família ou os amigos vierem
confortar os adultos enlutados. A evitação ou o silêncio ensinam às crianças
que a morte é um assunto tabu. As crianças precisam aprender a lidar com a
perda, em vez de serem protegidas da tristeza.
É preciso que se ajude às crianças a aprenderem a reconhecer, nomear,
aceitar e expressar sentimentos, para que não desenvolvam defesas pouco
saídas para manejar emoções difíceis. Recomenda-se possibilitar atividades
físicas e criativas como importantes fontes de liberação de energia.

Algumas crianças podem tentar proteger os adultos enlutados e tentam


assumir o papel de cuidadores, mas elas precisam crescer normalmente sem
a sobrecarga de responsabilidades que cabem aos adultos apenas.
É preciso que a criança aprenda a lidar também com outras perdas como a
de um bichinho de estimação que é uma perda muito ou tão significativa para
a ela quanto a morte de um familiar. Os padrões de manejo da perda e da
tristeza começam no início da infância e, geralmente continuam até a idade
adulta.
Também é preciso que se compartilhe cuidadosamente as crenças religiosas
e as explicações simbólico-metafóricas de origem religiosa, pois existem
crianças que podem ficar com medo ou ressentimentos em relação a um Deus
que leva para o céu alguém amado e necessário.
A tristeza de uma criança pode não ser reconhecida, porque elas expressam
sentimentos de tristeza mais no comportamento do que em palavras.
Sentimentos de abandono, desamparo, desespero, ansiedade, apatia, raiva,
culpa e medo são comuns e, muitas vezes, atuados agressivamente, porque
elas podem ser incapazes de expressá-los verbalmente.

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