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~ priorizar uma ou outa, mas nao € possivel ~ SCietatarcne eater) Peoreaeene it cr er ee ae oe CAPITULO 1 Historia da historia: civilizagao ocidental e sentido histérico : Metafisica e historia ‘Ao longo do iltimo milénio, os historiadores ocidentais manifes taram preocupasio constante com o destino de uma “humanidade uni versal”. Aterrorizados com as experiéncias cada vez mais freqlientes ¢ bru tais de guerras ¢ invasSes, injusicas sociais,epidemias, fomes, catéstrofes ppaturais, interrogaram-se obsessivamente sobre a hist6ria universal, sobre {seu sentido, sobre o dever ser da humanidade, sobre a perfectibilidade hhumana, que poderia se realizar na histria. Perguntas metafsicas orien- cas no Ocidente: taram as reflexes © pesquisas hi para onde vamos, “para que viemos ¢ qual seré o nosso destino?", tomo obter a salvacdo?”. Essas perguntas revelam uma angistia funda mental, a experigncia de um permanente mal-estar de ser-no-rempo. O cia ¢ procura construir uma imagem de si mesmo. A cultura ocidental se in Ocidente softe com a propia global, reconhecivel e accitavel terroge sobre a sua identidade, que generaliza como problema do homem Esse esforso obsessivo para atsibuir um sentido inteli versal, se explica pelo fato de a cultura ocidental no pos- Suir una identidade sem fisuras e de precisarisiicahseu expansionism ‘pelo mundo, Fla se esforca para se integrar, luta para se reconhecer em sua eeralidade, para poder se exspandir com a legitimasao dé um diseuso claro ¢ distinto, iexorguivel. 6 Hisromia & Troma Este capitulo pretende contribuir com uma rele critica sobre esse esforgo ocidentl, procurando reconstruir 0 percurso da sua problemé- centre o sagrado € 0 profano, entre ae ago pelo profano ¢ pelo tempo. Era ext strata € genérica de uma “humanidade fandadores da culeura 1m revelar 0 destino da iddia de evolu das ages humans ido, apolados em documentos visuais ‘quem presenciava o evento podia relaté-lo de modo confidvel. 3 ria apenas ensinava, em relacio a0 futuro, a necessidade da. me- séria, da prudéncia, da cautela, da resignacio. Eles nfo tinham uma idéia idariedade da espécie humana. A vida grega era frag 55, divididos ¢ em guerra. Suas especulagées oda vida humana eram sébrias. Nao esperavam que, no ia pudessetrazerafelicidade humana. O historiador sé podia ‘oferecer aos homens a felicidade individual, atribuindo a eles uma repu- tagfo de herdis, a fama eterna, a lembranga do seu nome ¢ dos seus feitos. Sp" Contudo, apesar de sua nova cigncia — a histéria —, cles também © procuraram dat um sentido metafisico 20 mundo. E 0 procuraram na 1)” Mcontemplagio da ordem e da beleza estiveis do universo. Os gregos no > buscavam © sentido do ser na histéria. Para pensarem o cosmo, faiam |g © abscasio da histéra, que, para cles, era ugar sublunar da mudanga, da desordem, Aboliam 0 tempo, submetendo 0 universo a uma explicagio natural e racional, o logos, a ordem, que a mudanga esconde. Seu olhar {6 sobre o mundo buseava a perfigio do movimento circular. Os gregos se % Que traravam miticamente. Acredicavam que o fucuro individual j ce eke ee evel, perceptivel na ordem fixa dos corpos celestes. que muda jé no é. O ser-que-£é alheio & mudanga, imuedvel, estavel, permanente, sempre pre- . Eles procuravam reconhecer nas mudancas humanas uma “pacureza sas é permanente aos olhos da razio. O lo passado e os homens teriam sempre as ras pulsbes © necessidadesA vida humana ve move en repericées, estagbes. Os gregos tinham uma visio ciclicae repetitiva da hisedria: crescimento e decadéncia vida ¢ morte. A ordem que existe no verso, acessivel ao pensamento, nao revela uma sucess linear eteleo- ligica, mas a estabilidade do ser. Pela contemplasio ¢ pelo discurso, es tabeleciam a ordem racional do cosmo. A mudanca nao podia ser ema da sofia. A mudanga seria da ordem do irracional, incognoscivel, incom- ‘om um pensamento que buscasse a verdade, A mudanga é “caso”, “contingéncia, “sorte-azar, “vicissirude”. Pode-se mul riqueza para a pobreza, da vitéria para a derrota, da escravidio para berdade e vice-versa. A mudanga deve ser encarada virilmente, sabiamen- ce. Na hora do triunfo, pensar na derrota. Deve-se aprender com a des- graca e ser moderado na prosperidade. O sentido nfo era procurado na ‘mudanga, na histéria, como o faria 0 historiador ocidental posterior. A histéria, que entéo nascia, nfo gozava de nenhum apreco filoséfico. Uma “filosofia da histéria” seria um contra-senso. Diante da mudanga histé- rica, os homens deveriam apenas encaré-la com coragem ¢ serenidade. O fildsofo, que queria ser feliz, s6 tinka uma esperanga: abandonar a his romnar-se uma idéia eterna ¢ jamais retornar ao tempo. Os gregos se interessavam pelo éteino) pelo que néo precisa da his- téria para ser. Seus historiadores, ao fundarem a histéra, de é ica. A histéria que fundaram nfo se aponta para o passado, que preferiam recente. Nao se interessavam his camente pelo fururo como “humanizacio", nem pelo Tonginguo pass ddado ¢ podia ser antevisto pelos oréculos. Os homens do futuro néo seriam melhores do que os passados ¢ 0: atuais. Os ordculostinham © dom de ver a vida predestinada dos individuos que as musas Ihes sopravam. Estas co- anheciam tudo: 0 passado e o futuro, Os eventos presentes ¢ passados tinham

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