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Estilos de mesquita

Mesquitas omíadas
• Programa de construção intenso sob Abd al-
Malik ibn Marwan (646-705, r. 685-705) e al-
Walid I (al-Walid ibn Abd al-Malik) (668-715;
r. 705-715)
• Três grandes mesquitas construídas no
califado de al-Walid I: Jerusalém, Medina,
Damasco.
Mesquitas árabes
• Mínimo: espaço fechado com pátio e área
coberta sob a qibla
• Santuário: múltiplas colunas sustentando telhado
plano ou arcadas sustentando telhado inclinado
• Ênfase em suportes com espaçamento regular:
hipostilo.
• Mudanças/evolução: “inconsistentes e
espasmódicas” (diferente em rel. aos elementos)
• Escolha dos locais – significado político,
histórico e religioso
• Damasco: capital e centro político do império
• Medina: Profeta, peregrinação
• Jerusalém
• Nova função da arquitetura: transcendiam
motivos puramente práticos, função interna e
externa ressaltada
• Damasco: em vez de escolher lugar novo, o
califa escolheu o melhor terreno da cidade:
temenos romano – Templo de Hadad
à Júpiter Damasceno à Igreja de São
João Batista
• Era lugar temporário de oração dos
muçulmanos
• Terreno comprado dos cristãos
• Grande espaço vazio limitado pelos muros
romanos do temenos
• 157m x 100m
• Progressão oeste-leste teve que ser adaptada: qibla.
• Incidentalmente, essas precondições influenciaram
arquitetura posterior
• Mesquitas de Jerusalém e Medina muito mais
conservadoras
• Flexibilidade do design da mesquita – superação
das dificuldades do espaço utilizado
• Monumento de vitória, superposto a edifícios
• Consciência política
• Mármore, mosaicos de vidro, pedra cortada
• Toda a área é pavimentada com mármore branco. As
paredes da mesquita, com duas vezes a altura de um
homem, são cobertas de mármore variado; e acima
disso, chegando até o teto, mosaicos de várias cores e
em ouro, mostrando figuras de árvores e cidades e
belas inscrições, todas trabalhadas com muito requinte
e fineza. E raras são as árvores e poucas as cidades
bem conhecidas que não se encontram nessas paredes.
• Muhammad ibn Ahmad Shams al-Din Al-
Muqaddasi (‫)ﻣﺤﻤﺪ ﺑﻦ أﺣﻤﺪ ﺷﻤﺲ اﻟﺪﻳﻦ اﳌﻘﺪﺳﻲ‬, geógrafo
• Plano da mesquita de Damasco
• Plano da mesquita al-Aqsa
• Plano da mesquita de Medina
Plano da mesquita de
Damasco
Mesquita de Damasco
• 7 anos – renda da Síria
• Extravagância vs. Dimensão política
• Centro da cidade, palácio califal próximo
• Nenhuma igreja poderia competir com os
mosaicos da M. De Damasco
Mesquita de Damasco
• Diz-se que, para a construção, al-Walid juntou
trabalhadores capacitados da Pérsia, Índia, do
Norte da África e de Bizâncio, e gastou nela os
impostos da Síria de sete anos, bem como a
carga de ouro e prata de Chipre, isso sem
mencionar os implementos e os cubos de
mosaico que o Rei dos Romanos lhe enviara
como presente.
• Al-Muqaddasi
Mesquita al-Aqsa:
• Perto do Domo da Rocha e no mesmo eixo
• Contraposição tipológica com a Rotunda do
Santo Sepulcro e a basílica de Constantino
• Associações – Abraão-Isaque, Templo de
Salomão/Herodes
• mi‘râj (jornada noturna) do Profeta até a
mesquita mais longínqua (Al-Aqsa)
• Comemoração (mi‘raj)
• Continuidade com judaísmo e cristianismo
• Superioridade sobre eles
Mesquita de Medina
• Construída no lugar da casa de Maomé
• Túmulo de Maomé
• Oposição local à demolição da mesquita
original
• Decoração esplendorosa
• Corveia (gregos, coptas)
Mesquita de Medina
• “Começamos a derrubar a mesquita do Profeta
em Safar 88 [Janeiro de 707]. Al-Walid havia
enviado emissários para informar o Senhor dos
Romanos [o imperador bizantino] que ele
ordenara a demolição da mesquita do profeta, e
que ele deveria ajudá-lo no trabalho. Este último
enviou-lhe 100.000 mithqals de ouro, e também
100 trabalhadores e 40 carregamentos de
cubos de mosaico; ele deu ordens para buscar
cubos de mosaico em ruínas de cidades, e os
enviou a al-Walid.” al-Tabari, séc. IX-X
Mesquitas Abássidas
• Variação do modelo básico de um pátio e
uma área coberta na frente da qibla
• Grande pátio: grande número de pessoas na
oração comunitária (sexta-feira)
• Primeiras mesquitas de Córdoba (786),
Qairawan (836) e Túnis (864) não tinham
provisão de arcadas além da área da qibla
• Surge prática de adicionar arcadas – sombra
• Mudança de alinhamento da cobertura
• Variação da profundidade ou número de
arcadas
• Aumento da área coberta – aparência de
vistas sem fim em todas as direções
• Unidades modulares de suporte – analogia
com fileiras de fiéis
Grande Mesquita de

Samarra - 852
Simplicidade – aparência militar (contrafortes)
Grande Mesquita de Susa, 850-51

• Susa
Mesquita de al-Hakim,
Cairo, 991
• Mihrab marcado por projeção exterior
• Entradas com decoração extra
Mesquita de Córdoba
• Grande escala encoraja proporções fixas
(como 3:2)
• Escala ampliada com adição de ziadas (Ibn
Tulun)
Ziyada, Mesq. Ibn Tulun,
Cairo, 877
• Viga-pilar -- perpetuação do sistema familiar
greco-romano
• Cresce popularidade de telhados de madeira
sobre arcadas
• Primeiras mesquitas: uso de colunas.
Consequência: telhados baixos.
• Séc. 9 - pilar substitui coluna como principal
suporte
• Arcos paralelos ou perpendiculares à qibla
• Perpendiculares (Magrebe - Córdova, Túnis, Qairawan), foco
da atenção: qibla
• Arquitetos sírios: arcadas paralelas à qibla. Possível
influência: basílica (Exceção: Al-Aqsa).
• Extensão das arcadas em todas as direções (Sfax e Susa, 850)
• Mesquitas com 9 tramos, um domo em cada tramo e sem
pátio (Toledo, Susa, Qairawan, Cairo e Balkh). Tal prática não
perdurou.

Mesquita de Bab Mardum, Toledo
Balkh, Mesquita No Gunbad
(Nove Cúpolas), séc. 9
• Mesquitas posteriores: ênfase no santuário – fachada, nave
central mais larga e alta, cúpula, frontão.
• Contradiz ideia comum de que todas as partes da mesquita
são igualmente sagradas
• Hipótese de Hillenbrand: mihrab redundante, ênfase na
qibla (decoração etc) não pode ser explicada simplesmente
para salientar o mihrab (i.e., a direção da qibla já é óbvia)
• Ênfase seria, então, forma de afirmar importância do
governante nas cerimônias religiosas (khutba, minbar,
mihrab (trono), maqsura, domo)
Mesquitas do Magrebe

• Duas regiões onde o plano árabe


predominou: Magrebe e Anatólia pré-
otomana
• Padrão sírio (Mesquita de Damasco)
• Frontão transverso
• Fez, Mesquita de Qarawiyin, séc 12 [f. 841]
• Fez,
Mesquita de
Qarawiyin,
fachada do
salão de
orações
• Impacto da ala central (frontão) de dentro da
construção – abóbadas tipo muqarnas (Qarawiyin),
cúpulas (2 em Tlemcen, 1136; 6 em Kutubiya, séc. 12
• Plano em T
• Abóbadas: em cruzaria, perfuradas, afuniladas

• Manipulação e enriquecimento dos arcos


• Alteração do tamanho, forma e localização do pátio
Mesquita de Tlemcen, séc
XI.
• Mesquita
de
Tlemcen,
interior.
• Mesquita de Córdoba: contraste entre arcos
polilobulados em frente à qibla e arcos mais
simples
• Pátio: importância diminuída; menor que
espaço coberto, isolado no lado oposto à
qibla
Mesquitas em hipostilo
da Anatólia
• Experimentos com mesquita em hipostilo – 3
séculos
• primeiras mesquitas da Anatólia eram dependentes
da tradição árabe (Diyarbakr, 1091, seguindo
esquema de transepto de Damasco)
• ou persa (Mayyafariqin: 1155; Dunaysir: 1204;
Mardin: séc. 12) – grande domo sobre telhado baixo
no santuário de frente ao mihrab). Diferença: pátios
encurtados. Tendência crescente em usar abóbadas
para definir espaço.
• figura: Grande Mesquita de Diyarbakr

• figura: Grande Mesquita de Dunaysir


• ausência de cópias diretas do plano árabe
• frequentemente dispensava pátio (inverno)
• mesquita reduzida a um salão com telhado de madeira
sustentado por muitas colunas ou pilares (Konya, Mesquita ‘Ala’
al-Din, 1135-1220; Beysehir, Esrefoghlu Suleyman Bey Cami,1296).
• minarete do lado de fora, não integrado

• pilares enormes e abóbadas baixas: aparência de cripta (Mesquita


Ala al-Din, Nigde, 1223; Sivas, Ulu Cami).
Konya, Mesq. Ala al-Din
Konya, Mesq. Ala al-Din
Eşrefoğlu Süleyman
Bey Cami
• Divrigi, Grande Mesquita e hospital, 1299
• papel da abóbada cada vez mais significativo
• ênfase na mesquita totalmente fechada e
coberta, às vezes reduzida a única câmara
abobadada, ocasionalmente com pórtico
• às vezes o pátio era “apertado” nesse design
(Malatya, 1237; Kayseri, Khwand Khatun,
1237; Harput, 1165)
• Malatya, 1237
• pátio relegado a uma de duas funções: a) antessala,
similar ao átrio bizantino, dando entrada para a
mesquita propriamente dita, ou b) como nave dentro
do santuário, iluminada com luz natural e com fonte.
• diferença com tipo árabe: fachadas elaboradas.
mesquitas de tipo árabe anterior: entrada com arco
monumental, frequentemente com domo, mas
fachada relativamente simples
• Anatólia: tradição armênia: articulação e escultura
externa
Mesquitas do Egito
Mesquitas do Irã
• dois elementos profundamente enraizados na
arquitetura persa pré-islâmica:
• iwan: salão abobadado aberto com fachada retangular
arqueada (pishtaq).
• câmara abobadada: derivada da arquitetura palaciana ou
dos pequenos templos do fogo com quatro aberturas
arqueadas (chahar taq). colocado no meio de grande
espaço aberto, servia para guardar o fogo sagrado.
• fontes históricas: templos convertidos em mesquitas –
bloquear arco da qibla e substituí-lo por mihrab.
• iwan – associações seculares; finalidade
honorífica ou cerimonial nos palácios
(Ctêsifon)
• servia bem como entrada monumental à
mesquita, marcando entrada central ao
santuário

Mesquitas seljúcidas
• foco na câmara monumental com cúpula
• câmara cerca o mihrab, e é precedida por um
iwan elevado
• unidade dupla (câmara + iwan)
frequentemente flanqueada por salões de
oração com arcadas e abóbadas
• plano com quatro iwans e pátio
• Grande Mesquita de Isfahan (séc. XI-XII)
• ênfase nas fachadas internas: exterior não adornado,
desarticulado, austero (exceção: portais de iwan, como em
Herat)
• variações de altura e largura reforçam distinções hierárquicas
ou axiais: iwan do santuário, iwan oposto a ele, iwans laterais
• minaretes dos lados do iwan do santuário
• iwans no portal se tornam cada vez mais elaborados e
substituem minaretes livres cilíndricos anteriores, populares
no período seljúcida
Mesquitas Il-Khânidas
• como no Egito mameluco, história da
mesquita medieval no Irã é difícil de ser
separada com complexo madrasa-mausoléu-
santuário
Mesquitas Timúridas

• Mesquitas de tipo mais tradicional - Gauhar


Shad, Mashhad, 1418
• portal e iwan da qibla destacam-se pela altura
Gauhar Shad, Mashhad
• Mesquita de Bibi Khanum, Samarcanda, 1399

• efeito avassalador da altura


• Plano de quatro iwans transformado pela
adição de cúpulas em cada iwan e profusão
de minaretes
Mesquitas otomanas
• Arcobotantes
• exterior ondulado criado por vários domos
• minaretes “lápis”
• pouca ornamentação exterior
• estereotomia (corte de blocos de pedra)
excelente
• Influência da tradição bizantina
• Mimar Sinan (c. 1489/1490 – 1588)
• estrutura baseada em cúpulas, mas mudança nas proporções
• abriu interior da estrutura e liberou das colunatas e outras
estruturas - luz
• jogo entre luz e sombra
• integração de estruturas subsidiárias – leva maior
sensibilidade à paisagem e grande escala e atenção à
topografia
• precedidas por pátio aberto com claustro coberto com
fileiras de cúpulas (Edirne, kuliye do Sultão Bayezid II).
• Edirne, kuliye do Sultão Bayezid II, 1488
Mesquita Süleymaniye
1550-58, Sinan

• Küliye - complexo de serviços religiosos e


culturais: mesquita, hospital, escola primária,
hammam, caravançarai, medreses, escola de
hadith, faculdade de medicina, restaurante
popular (imeret), mausoléu de Süleyman e
sua família
Suleyman o Magnífico e
François I, Ticiano, ca. 1530
Mesq. Selimiye em
Edirne, Sinan,1574
• maior domo central otomano (31,38m diam.), maior
quarteto de minaretes otomanos (70,89m) sobre
quatro pilares aproximados o máximo das paredes
para liberar o máximo de espaço
• articulação e detalhe -- janelas em grupos
sobrepostos de 8 e 6 ou 7, 5, 3
• subdivisões são aparentes e imediatamente
perceptíveis (ao contrário do escuro da Hagia Sophia)
• concentração em dispositivos de articulação como
janelas, arcos e cúpulas
• unidades sobrepostas - estrutura piramidal -
cúpula, cúpulas subsidiárias, arcobotantes com
cúpula
• inversão da ênfase islâmica anterior que
enfatizava o interior
• preferências por cúpulas achatadas e não
“pontudas” – sensação de estabilidade e
firmeza
Características gerais do
design de mesquitas

• flexibilidade
• indiferença a fachadas exteriores
• ênfase no interior
• ornamento aplicado
Flexibilidade
• às vezes não é possível reconhecer uma mesquita à
primeira vista
• falta de sacramentos e cerimônias formais
• variedade de construções podem servir de mesquita
• falta de tradição arquitetônica na Arábia levou os primeiros
muçulmanos a abertura em relação às construções de
outras religiões (não tinham noção clara de o que era
apropriado a um santuário)
• teoricamente – várias opções, embora tendência pré-
moderna tenha sido operar dentro de sua “escola” regional
Indiferença à fachada
exterior
• várias causas: arquitetura doméstica e maior parte
da arquitetura pública é despretenciosa do lado
externo - privacidade
• urbanismo – ruas estreitas e labirínticas, sem
fluxo de carroças etc.
• entre bazares e casas – literal e metaforicamente
no nível do quotidiano
• Exceção: mesquita de Aqmar, Cairo, período
fatímida, 1125
Ênfase no interior
• negligência da fachada exterior → simetria
interior
• fachada transposta para o interior
• iwans, arcadas, frontões, cúpulas
• interação de pátio, riwaqs (arcadas cobertas:
claustros) e santuário fechado
• planejamento separado do ambiente secular ao
redor da mesquita – maior margem de manobra
Decoração
• Hostilidade a imagens → foco no ornamento abstrato
• começou a ser valorizado como ajuda à contemplação
– painéis exuberantes à vista de quem está sentado
• propósito: dissolver a matéria, realidade menos
palpável que muda à medida em que é observada (em
contraposição ao edifício sem decoração)
• como isso é feito? repetição de unidades individuais:
colunas, arcadas, células de abóbadas em “favo de
mel” (muqarnas) e, especialmente, decoração (florais,
geométricas, epigráficas)

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