Professional Documents
Culture Documents
1
Artigo publicado 11 de setembro de 1964 no Jornal do Brasil, cinco dias após a morte de San Tiago
Dantas.
2
Foi um jornalista, advogado, professor e político filiado ao PTB.
inscritos na União Democrática Nacional, ou que, mesmo sob outras legendas, dão apoio
ao Presidente Castelo Branco.
A questão do apoio ou oposição ao Govêrno deverá, por conseguinte, resultar do
comportamento ulterior da União ou Aliança, a qual se definirá e caracterizará por
objetivos de outra natureza, mais programáticos e doutrinários.
5. O primeiro desses objetivos parece dever ser o programa de reformas, dentro de
uma conciliação histórica e institucional com o regime democrático e representativo.
Quer quanto à reforma agrária, que repercute de maneira mais direta na estrutura social,
quer quanto a reformas técnicas e administrativas como a bancária, a tributária e a do
Serviço Público, quer quanto a reformas de natureza política como a constitucional e
eleitoral, a União deve assentar certo número de princípios e objetivos, com bastante
latitude para permitir a inclusão em seus quadros de homens e forças de posições
doutrinárias diferentes, mas com bastante precisão para caracterizá-la como um
agrupamento reformista e progressista, objetivando a modernização do País e a
implantação através do voto, de uma democracia social.
6. O segundo objetivo pode referir-se ao próprio regime. Tudo indica que a oposição
entre parlamentarismo e presidencialismo perdeu, nos dias de hoje, o radicalismo que lhe
era atribuído pelos antigos constitucionalistas, e que as duas formas de govêrno se
combinam em tipos complexos, permitindo o aproveitamento das qualidades positivas de
uma e de outra. A criação de um Govêrno de Gabinete sujeito à queda pelo voto de
desconfiança e com apresentação ao Congresso de todos os membros do Gabinete não
consulta as necessidades de estabilidade administrativa do Estado moderno. Por outro
lado, a manutenção do regime presidencialista, com poderes quase autocráticos do
Presidente da República, parece conduzir a uma luta de poder que intermitentemente
rompe as fronteiras da legalidade e expõe o País ao risco do golpe de Estado.
Uma associação inspirada na experiência alemã e na observação da realidade
brasileira, poderia consistir no regime em que tanto o Presidente da República como o
Chefe do Govêrno fossem escolhidos pelo Congresso mediante eleição, cabendo ao
Presidente da República propor ao Congresso o nome que este sufragará ou não para a
chefia do Govêrno. O chefe do Govêrno, uma vez eleito e investido, forma o Ministério
com Ministros de sua confiança, responsáveis perante êle. A substituição do Chefe de
Govêrno depende de eleição prévia do seu substituto, por proposta do Presidente da
República ou, em determinados casos, por iniciativa do próprio Congresso.
7. Um terceiro objetivo poderá ser a reforma do sistema eleitoral vigente no País.
Essa reforma, já considerada hoje necessária, torna-se indispensável se o regime passa a
repousar predominantemente no Congresso, na forma exposta no item anterior. Seria
conveniente associar o sistema proporcional à representação por distritos, de modo que a
Câmara se compusesse de deputados eleitos por distritos, segundo o princípio majoritário,
e de deputados eleitos por circunscrição de âmbito mais largo, ou seja, pelos Estados,
segundo o princípio proporcional.
8. A esses objetivos ainda pode ser acrescentada, pela atualidade e pelo interesse
que desperta o tema, a reorganização da própria instituição legislativa, de modo a
dinamizar o trabalho parlamentar, sem entretanto favorecer a elaboração de leis de
afogadilho. Estudos já se acham feitos na Câmara e no Senado, que poderão ser
aproveitados para fixação dos lineamentos de uma reforma que consulta amplamente a
opinião dos meios políticos atuais