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Miguel Teixeira de Sousa

A compensação em processo civil:


uma proposta legislativa

Nota introdutória1

Por Despacho da Senhora Ministra da Justiça de 25/5/2018 foi constituído um Grupo de


Trabalho que, entre muitas outras tarefas, tinha por missão “redefinir o regime de alegação da
exceção peremptória da compensação, designadamente nas espécies processuais que não
admitam articulado de resposta do autor à contestação”. O problema tinha (e continua a ter) alguma
importância, porque, como no CPC vigente se consagrou que a compensação deve ser alegada por
via de reconvenção (art. 266.º, n.º 2, al. c), CPC), chegou a formar-se na jurisprudência a orientação
segundo a qual, nas acções em que não esteja previsto um articulado de resposta do autor à
contestação do réu, esta parte não pode recorrer à reconvenção para provocar a compensação dos
créditos, isto é, não pode provocar a extinção do crédito do autor com um contracrédito próprio.
Esta solução não era (e continua a não ser) aceitável. Basta recordar que a solução, além de
desconsiderar por completo os poderes de gestão processual e de adequação formal do juiz como
forma de ultrapassar a dificuldade (art. 6.º, n.º 1, e 547.º CPC), é defendida pela mesma
jurisprudência que, durante a vigência do anterior CPC, não tinha visto nenhum problema na
alegação da compensação ope exceptionis nessas mesmas acções, esquecendo que a garantia do
contraditório do autor tem de estar assegurada da mesma maneira qualquer que seja a forma (por
via de excepção ou por via de reconvenção) da alegação da compensação em juízo. Por isso, o
melhor conselho que se pode dar à jurisprudência é o de continuar a fazer como costumava fazer
quando a compensação era alegada por via de excepção, dado que o contraditório do autor tem de
estar assegurado exactamente da mesma maneira qualquer que seja o modo de alegação a
compensação em juízo.
Acresce que o Grupo de Trabalho também não desconhecia a jurisprudência que, no âmbito
da oposição à execução (cf. art. 729.º, al. h), CPC), vem impedindo a alegação da compensação
com base num pretenso ónus de deduzir, por via reconvencional, a compensação no anterior
processo declarativo onde se formou o título executivo. Trata-se de uma jurisprudência muito
discutível, dado que, contrariando a regra de que a reconvenção constitui uma faculdade do
demandado, impõe a este demandado um ónus de reconvir num caso em que não se vislumbra
nenhuma justificação para a imposição desse ónus.

1 O presente texto serviu de base à intervenção realizada no I Congresso Lusófono de Direito Processual Civil
(Coimbra 12 e 13/3/2019).
Miguel Teixeira de Sousa

Estas circunstâncias levaram o Grupo de Trabalho a reflectir, de forma abrangente, sobre o


problema da compensação judiciária2. Para além de qualquer construção doutrinária, havia que
construir um regime que possibilitasse uma fácil compreensão pelos operadores judiciários e uma
fácil aplicação pela jurisprudência. Apresenta-se a seguir, com pequenas alterações, o “pré-estudo”
que foi realizado sobre a compensação judiciária, bem como o articulado que foi apresentado (com
as respectivas justificações) aos Colegas do Grupo de Trabalho.

I. Construção do regime

1. A extinção do crédito do autor (crédito passivo ou crédito principal) por compensação com
um crédito do réu (crédito activo ou contracrédito) é uma matéria que tem ocupado a doutrina
processualista há cerca de um século3, sem que se possa dizer que, entretanto, tenham sido obtidos
resultados indiscutíveis. As razões deste estado de coisas são simples de enunciar (ou, pelo menos,
de adivinhar):
– Por um lado, a compensação pressupõe a alegação de um contracrédito do réu e,
portanto, a discussão de uma matéria que nada tem a ver com o crédito alegado pelo
autor; no caso da compensação nem sequer se pode falar do “positivo” e do “negativo”
de uma mesma realidade, como sucede, por exemplo, quando o réu contraria o afirmado
pelo autor alegando que já pagou a dívida ou que o contrato é inválido;
– Por outro lado, pelo menos quanto a uma parcela do seu crédito, o réu só pretende alegar
ou provocar em juízo a extinção do crédito do autor, como sucede quanto a qualquer
excepção peremptória extintiva.
Deste panorama resulta a constante hesitação entre o modo de fazer valer a compensação
em juízo. A excepção peremptória parece ser “de menos” para a alegação e discussão de um crédito
que é independente do crédito do autor (mesmo que possa ser conexo com este crédito); a
reconvenção, em contrapartida, parece ser “de mais” para a alegação e discussão de um
contracrédito que, pelo menos numa certa parcela, apenas visa extinguir o crédito alegado pelo
autor. Daí ter-se entendido, há bem mais de um século, que a excepção de compensação é uma
“reconvenção rudimentar”4, dado que, se, como sucede quanto a qualquer excepção, é verdade que
a mesma é um meio de defesa contra o pedido do autor, também é verdade que o seu objecto é
apreciado com autonomia perante o pedido do autor, sendo, aliás, por isso que, ao contrário do que
sucede na generalidade das excepções peremptórias, o pedido do autor e o pedido de
compensação formulado através da excepção podem ser ambos procedentes.

2 Nesta matéria, foram interlocutores, em conjunto com o presente autor, o Cons. Lopes do Rego, o Cons. Abrantes
Geraldes e o Dr. Pinheiro Torres.
3 A primeira obra de fôlego sobre a compensação judiciária ou processual foi Die Aufrechnung im Deutschen
Zivilprozeßrecht (1916) de OERTMANN (1865-1938).
4 “Die Compensationseinrede eine unentwickelte Widerklage”: SCHOLLMEYER, Die Compensationseinrede im
Deutschen Reichs-Civilprozeß (1884), 26.
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2. Antes da vigência do actual CPC era maioritária na jurisprudência uma orientação que
conjugava as duas referidas vias (excepção e reconvenção) para a alegação da compensação:
– Até ao montante do crédito do autor, o contracrédito do réu era alegado por via de
excepção;
– Na parte excedente do crédito do autor, o contracrédito era alegado por via de
reconvenção.
Esta solução – que, globalmente, era considerada uma boa solução pelos práticos do direito
– conjugava, na realidade, o “pior de dois mundos”, dado que, ao partir em dois o contracrédito do
réu, tinha as seguintes consequências:
– Atendendo ao disposto no art. 96.º, n.º 1, CPC/1961 (equivalente ao actual art. 91.º, n.º
1, CPC), a parcela do contracrédito que era alegada por via de excepção dispensava a
competência internacional e material do tribunal e, considerado o estabelecido no art.
96.º, n.º 2, CPC/1961 (igual ao actual art. 91.º, n.º 2, CPC), era apreciada numa decisão
sem valor de caso julgado material, permitindo, teoricamente, que o réu, em acção
autónoma, pudesse exigir ao anterior autor o pagamento do contracrédito, sem que este
pudesse obstar a uma nova decisão através da excepção de caso julgado;
– Em contrapartida, a parcela do contracrédito que era alegada através da reconvenção
exigia a competência internacional e material do tribunal da acção para apreciar essa
parte do contracrédito e era apreciada numa decisão com valor de caso julgado material.

3. Como se sabe, o actual CPC consagrou, no art. 266.º, n.º 2, al. c), que a compensação
deve ser alegada por via de reconvenção. No âmbito da execução, a solução tem o seu lugar
paralelo no disposto no art. 729.º, al. h), CPC quanto à possibilidade da invocação de um
contracrédito do executado para extinguir o crédito exequendo.
A solução tem a clara vantagem de evitar os inconvenientes da solução da “dupla via” que
era maioritária na jurisprudência durante a vigência do CPC/1961. No entanto, a solução actual
também não evita uma outra “dupla via”. Com efeito, quando se fala da compensação em processo
pode estar a falar-se de uma de duas situações:
– Da alegação pelo réu de que já antes da propositura da acção o crédito que o agora autor
invoca se tinha extinguido por uma declaração de compensação que aquela parte tinha
dirigido a esta última (art. 848.º, n.º 1, CC);
– Da alegação pelo réu de um crédito contra o autor com a finalidade de obter em juízo a
extinção do crédito desta parte.
Não há dúvida de que estas situações implicam, segundo o regime actualmente vigente,
soluções processuais distintas:
– A alegação de que o crédito do autor se extinguiu por compensação é a invocação de
um facto extintivo, o que deve ser realizado por via de excepção (art. 576.º, n.º 3, CPC);
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– A alegação pelo réu de um contracrédito com a finalidade de provocar a extinção do


crédito do autor deve ser realizada por via de reconvenção (art. 266.º, n.º 2, al. c), CPC).
Esta dualidade de soluções reproduz, embora num outro plano, a “dupla via” que era praticada
na vigência do CPC/1961, dado que:
– Se o réu alegar, por via de excepção, que o crédito do autor já se tinha extinguido por
compensação, pode fazê-lo independentemente da competência absoluta do tribunal
(art. 91.º, n.º 1, CPC), embora nunca possa vir a obter sobre o contracrédito mais do que
uma decisão sem valor de caso julgado material se o tribunal não for absolutamente
competente para apreciar esse contracrédito e se não for formulado o pedido de
apreciação acidental (art. 91.º, n.º 2, CPC);
– Se o réu alegar um contracrédito para obter em juízo a extinção do crédito do autor, só o
pode fazer – agora por via de reconvenção – no tribunal com competência absoluta para
conhecer do contracrédito do réu (art. 93.º, n.º 1, CPC), embora venha a obter nele uma
decisão com força de caso julgado material.
O principal problema que esta solução suscita é o de que, tanto num caso, como no outro, é
possível vir a discutir em juízo o contracrédito do réu. Isso sucede se a extinção do crédito do autor
antes da propositura da acção for contrariada por essa parte com o fundamento de que o
contracrédito do réu não existe e também sucede se o pedido reconvencional do réu for contestado
com o mesmo fundamento pelo autor. Como facilmente se compreende, não é desejável que a
mesma matéria – a existência do contracrédito do réu – seja apreciada em condições diferentes nos
tribunais (designadamente, em termos de competência absoluta do tribunal e de valor de caso
julgado da decisão).
Aliás, o actual regime favorece uma estratégia processual de discutível justificação. Dado que
a extinção por compensação provocada fora do processo deve ser alegada ope exceptionis, ao réu
é concedida a possibilidade de contornar a competência do tribunal para apreciar o contracrédito
fazendo operar a compensação durante a pendência da causa, mas fora desta. Depois disto, basta
ao réu invocar a compensação (já operada) como excepção peremptória na acção, de modo a
garantir que, caso o contracrédito venha ser contestado pelo autor, o mesmo possa ser discutido e
apreciado na acção pendente (é verdade, no entanto, que sem valor de caso julgado material).

4. O panorama acabado de descrever não é muito harmónico e não deve manter-se. A


alternativa passa necessariamente pela construção de um “regime monista” (ou tanto quanto
possível “monista”) de alegação da compensação em juízo. Nesta base, o que se propõe é o
seguinte:
– Consagra-se uma excepção de compensação, destinada a permitir (i) a alegação pelo
réu da extinção do crédito do autor por compensação efectivada antes da propositura da
acção ou (ii) a extinção do crédito do autor através da compensação operada em juízo;
atendendo ao objecto desta excepção (que é o contracrédito do réu), a mesma tem
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algumas especificidades perante as vulgares excepções peremptórias, o que implica a


inadequação do disposto no art. 91.º CPC (nomeadamente, quanto à (não exigência da)
competência absoluta do tribunal para a apreciação do contracrédito e à possibilidade de
a decisão sobre o contracrédito não ter valor de caso julgado material);
– Na hipótese de o tribunal da acção ser absolutamente competente (quanto à competência
internacional e material) para apreciar o contracrédito do réu, permite-se que esta parte
possa pedir, no mesmo tribunal e no mesmo processo, a condenação do autor na
satisfação do excedente desse contracrédito sobre o crédito do autor.

5. Uma das dificuldades inerentes à construção de um regime processual para a


compensação reside na circunstância de a invocação da compensação pelo réu em juízo
corresponder à declaração de compensação regulada no art. 848.º, n.º 1, CC, no qual se estabelece
que a compensação se torna efectiva mediante a declaração de uma das partes à outra. Assim, a
dedução da excepção de compensação é, por um lado, uma declaração de vontade (corresponde,
em concreto, à declaração de compensação regulada no art. 848.º, nº 1, CC) e, por outro, um acto
processual. Isto significa que a compensação processual contém uma declaração de vontade que
é emitida através de um acto processual (sendo, por isso, um Doppeltatbestand ou, segundo uma
outra orientação bastante distinta, tendo uma Doppelnatur)5, pelo que a produção de efeitos pela
excepção de compensação fica dependente tanto de requisitos materiais, como de requisitos
processuais.
Daí colocar-se um problema tradicional nesta matéria: o de saber o que sucede se, por um
motivo processual (por exemplo: a não representação do réu por advogado, sendo o patrocínio
judiciário obrigatório, ou a apresentação da contestação fora de prazo), a compensação não puder
afinal operar em juízo. Nesta situação, mantém-se ou não se mantém o efeito extintivo do crédito
do autor e do contracrédito do réu resultante da declaração de compensação que está implícita na
dedução da excepção?
É intuitivo, no entanto, que o efeito extintivo do contracrédito do réu não pode operar, dado
que, de outro modo, as consequências seriam as seguintes:
– O réu que invocou a compensação seria condenado a satisfazer o crédito do autor,
porque a compensação, por motivos processuais, não pôde ser atendida na acção;
– Ao mesmo tempo, o réu perderia o seu crédito, dado que este tinha sido extinto pela
declaração de compensação proferida por esta parte6.

5 Cf. Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 28; MüKoZPO/FRITSCHE (2016), § 145 19, qualificando a compensação
como uma “sofort wirkende materielle Gestaltungserklärung und Prozesshandlung”; Prütting/Gehrlein/DÖRR ZPO
(2017), § 145 10; Musielak/Voit/STADLER ZPO (2018), § 145 14; BeckOK ZPO/WENDTLAND (2018), § 145 24;
ROSENBERG/SCHWAB/GOTTWALD, Zivilprozessrecht (2018), 614.
6 Estas consequências são referidas pela doutrina alemã (cf., por exemplo, MüKoZPO/FRITSCHE (2016), § 145 19),
que, pelos vistos, não vê nenhum problema em considerar que a inadmissibilidade da excepção de compensação
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De modo a evitar estas indesejáveis consequências, a doutrina alemã defende, com


fundamentos algo diversificados, que o réu não perde o contracrédito se o mesmo deixar de ser
apreciado na causa por razões processuais7. Outra não pode ser, realmente, a solução.

6. Como acto processual, a dedução da excepção não dispensa o patrocínio judiciário, se o


mesmo for obrigatório. Em contrapartida, porque não se trata de um pressuposto desse acto, mas
antes de uma condição de apreciação do contracrédito pelo tribunal, a competência do tribunal é
irrelevante quando estejam preenchidas as condições para que a compensação possa operar com
base na declaração compensatória que está incluída na dedução dessa excepção. Assim,
atendendo a que a dedução da excepção de compensação contém, ela mesma, uma declaração de
compensação, na hipótese de não contestação do crédito do autor pelo réu compensante e de não
contestação do contracrédito do réu pelo credor demandante, deve operar, sem a apreciação da
competência do tribunal, a compensação entre os créditos.
Teoricamente (e até talvez desejavelmente) seria possível construir um regime da
compensação em juízo que atendesse a essa circunstância e em que a competência do tribunal
para apreciar o crédito e o contracrédito se tornasse irrelevante quando nenhum dos créditos
alegados pelas partes fosse controvertido. No fundo, se o réu se limitasse a invocar a compensação
sem contestar o crédito do autor e se esta parte não contestasse o contracrédito do réu, o tribunal
(mesmo que incompetente) deveria reconhecer a extinção recíproca de ambos os créditos por
compensação. O que tinha sucedido era que a compensação tinha operado em juízo, não através
de qualquer decisão do tribunal, mas através da declaração de compensação a que se refere o art.
848.º, n.º 1, CC (e preenchidas, como é claro, as condições materiais da compensação).
A circunstância de a jurisprudência portuguesa não estar familiarizada com esta solução (tal
como, por exemplo, também o não está no âmbito da confissão ou da desistência do pedido)
implicaria uma regulamentação expressa no regime a construir, o que o tornaria demasiado
complexo. Sendo assim, parece melhor solução nada estabelecer quanto a este aspecto, permitindo
que o tribunal possa atribuir à não contestação pelo autor do contracrédito alegado pelo réu apenas
a consequência (processual) que resulta do disposto no art. 587.º, n.º 1, CPC: consideram-se
admitidos por acordo os factos relativos ao contracrédito e, na prática, portanto, este mesmo crédito.
Será então o tribunal a declarar, com base nesta consequência processual, a compensação entre
os créditos (embora, como em qualquer outro caso, com eficácia retroactiva reportada ao momento
em que se tornaram compensáveis: art. 854.º CC).

obsta à extinção do crédito do autor, mas não impede a extinção do contracrédito do réu. Não se discute agora a
justificação desta dualidade de soluções.
7 Cf. Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 65; MüKoZPO/FRITSCHE (2016), § 145 28; Musielak/Voit/STADLER ZPO
(2018), § 145 24; BeckOK ZPO/WENDTLAND (2018), § 145 22 e 26; ROSENBERG/SCHWAB/GOTTWALD, Zivilprozessrecht
(2018), 619, embora excepcionando a compensação pré-processual ou para-processual que não seja considerada
por razões processuais; cf. WOLF, JA 2008, 753 ss.
Miguel Teixeira de Sousa

Seja como for, nem a jurisprudência, nem a doutrina ficam impossibilitadas de atribuir
relevância à dedução da excepção de compensação como a declaração de compensação exigida
pelo art. 848.º, n.º 1, CC e de extrair disso quer consequências materiais (ao nível da extinção
recíproca dos créditos), quer consequências processuais (nomeadamente, ao nível da
desnecessidade de determinar se o tribunal tem competência para apreciar o crédito do autor ou o
contracrédito do réu).

7. Talvez algo inesperadamente, a construção de um regime legal para a compensação pode


encontrar muito pouco apoio no direito comparado. O que se encontra no direito comparado não
são regimes relativos à compensação em processo, mas apenas referências esparsas a essa
compensação, das quais se retira a sua admissibilidade ou o meio da sua alegação em juízo. Assim,
por exemplo:
– No direito alemão, a compensação encontra-se referida no § 145 (3) ZPO, no qual se
permite que o contracrédito alegado para compensação seja apreciado em separado do
crédito do autor (que pode ser decidido numa “decisão sob reserva” (Vorbehaltsurteil): §
302 ZPO), no § 322 (2) ZPO, no qual se estabelece que a decisão sobre o contracrédito
alegado para obter a compensação adquire valor de caso julgado material (ao contrário
do que sucede quanto à decisão de outras excepções peremptórias: § 322 (1) ZPO), e
ainda no § 533 ZPO, no qual se regula a admissibilidade da declaração de compensação
em recurso;
– No direito austríaco, a compensação é referida no § 96 (1) JN, que, a propósito da
determinação tribunal competente para a reconvenção, admite a alegação da
compensação através da reconvenção, e no § 411 (1) ÖZPO, no qual se estabelece que
a decisão sobre o contracrédito alegado na compensação tem valor de caso julgado
material;
– No direito italiano, o art. 35. CPC(IT) atribui ao juiz do processo a opção entre decidir ele
próprio o contracrédito alegado pelo réu cujo valor excede a competência do tribunal ou
remeter as partes para o tribunal competente de acordo com esse valor;
– Finalmente, no direito espanhol o n.º 1 do art. 408 LEC admite a resposta do autor à
alegação pelo réu da “existencia de crédito compensable” e o n.º 3 do mesmo preceito
estabelece que a sentença definitiva que se pronuncie sobre a compensação tem valor
de caso julgado.
Miguel Teixeira de Sousa

II. Articulado proposto

Artigo 91.º
Competência do tribunal em relação às questões incidentais

1–
2–
3 – A decisão proferida sobre o contracrédito invocado na excepção de compensação tem valor de
caso julgado material até ao limite da compensabilidade dos créditos.

Notas:
a. O sentido do disposto no n.º 2 é, na parte relativa aos meios de defesa do réu, algo
indefinido. Apesar do estabelecido no preceito, parece ser claro que não se pretende
estabelecer, por exemplo, que a decisão sobre a excepção de pagamento invocada pelo
réu não adquire valor de caso julgado material. O preceito parece estar a pensar naqueles
casos em que a mesma excepção peremptória (de nulidade, por exemplo) pode ser
oposta em diferentes acções a diferentes pedidos, e não naquelas hipóteses em que a
excepção (de pagamento, por exemplo) só pode ser oposta a um único pedido.
Seja como for, a decisão sobre o contracrédito na agora proposta excepção de
compensação (seja essa decisão de reconhecimento ou de não reconhecimento deste
contracrédito) não pode deixar de ter valor de caso julgado material. Como é evidente,
qualquer que seja a decisão do tribunal sobre esse contracrédito, não pode voltar a ser
pedida numa acção posterior a condenação no seu cumprimento.
Mesmo que o contracrédito do réu seja superior ao crédito do réu, só fica abrangido pelo
caso julgado material o montante até ao qual os créditos são compensáveis, isto é, o
montante até ao qual o contracrédito se extinguiu por compensação. Se o contracrédito
do réu for inferior ao crédito do autor, é naturalmente apenas até ao seu montante que a
decisão obtém valor de caso julgado material.

b. A redacção o n.º 2 do preceito coincide com a redacção do n.º 2 do art. 96.º CPC/1961,
mas importa ter presente que era diferente a redacção do § 2.º do art. 96.º CPC/1939.
Estabelecia-se neste último que a decisão sobre as questões que o réu suscitar como
meio de defesa e sobre os incidentes não constitui caso julgado fora do processo
respectivo, excepto se (al. a)) alguma das partes requerer o julgamento com essa
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amplitude ou se (al. b)) “o conhecimento da questão ou do incidente implicar o


conhecimento do objecto da acção” 8.
Infelizmente, ALBERTO DOS REIS é muito pouco explícito ao explicar a al. b) do § 2.º do
art. 96.º CPC/1939, limitando-se a referir que “a anomalia seria chocante” se, numa
situação em que “o conhecimento da questão incidental envolve o conhecimento do
objecto da acção”, “a decisão proferida sobre este objecto valesse como caso julgado
material e a decisão proferida sobre aquela questão tivesse valor de caso julgado
formal”9. Apesar do referido laconismo, crê-se que o regime seria aplicável, sem
dificuldade, à hipótese da compensação judiciária. A justificação parece ser simples: o
conhecimento do contracrédito alegado pelo réu integra o conhecimento do objecto da
acção, dado que aquele contracrédito implica a extinção do crédito alegado pelo autor.
Por razões que são desconhecidas, este regime foi suprimido no CPC/1961.

c. A excepção de compensação deduzida pelo réu fica sem efeito se a contestação ficar
igualmente sem efeito (como acontece, por exemplo, através do desentranhamento da
contestação por ter sido apresentada fora de prazo ou da revelia do réu decorrente da
falta de patrocínio judiciário obrigatório do réu). Nesta situação, não há nenhuma decisão
sobre o contracrédito, pelo que, nada ficando decidido quanto a este crédito, não há
nenhum caso julgado material sobre ele.

Artigo 91.º-A
Excepção de compensação

1 – O réu pode invocar ou provocar a extinção do crédito alegado pelo autor através da
compensação com um crédito próprio.

Notas:
a. O regime procura abranger tanto a hipótese em que a compensação já foi declarada
e operou antes da propositura da acção (compensação pré-processual), como a situação
em que o réu, durante a pendência da causa, declara a compensação do crédito do autor
com um contracrédito próprio (compensação para-processual), como ainda a hipótese
em que o réu pretende provocar a compensação na acção pendente através da alegação
de um crédito contra o crédito do autor (compensação processual).
Apesar de apenas a alegação da compensação pré-processual corresponder realmente
à alegação de um facto extintivo ocorrido antes da propositura da acção, a circunstância
de, também nessa hipótese, o contracrédito do réu poder vir a ser apreciado nessa acção

8 O regime já se encontra no art. 108.º do Projecto de Código de Processo Civil de 1936 (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (Ed.),
Projecto de Código de Processo Civil Organizado pelo Professor José Alberto dos Reis /Edição Oficial (1936), 28).
9 ALBERTO DOS REIS, Comentário ao Código de Processo Civil I (1960), 284).
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10

justifica o seu tratamento conjunto com as hipóteses da designada compensação para-


processual e da compensação processual.

b. No caso da compensação processual, a excepção de compensação será normalmente


deduzida a título subsidiário, dado que o mais comum será que o réu negue a existência
do crédito do autor e só deduza a excepção para o caso de este crédito vir a ser
reconhecido em juízo. A existência do crédito do autor não é uma condição da
compensação (o que seria problemático, atendendo à ineficácia da declaração de
compensação feita sob condição ou a termo: no art. 848.º, n.º 2, CC), mas antes um
requisito da sua eficácia10.
Na compensação pré-processual e na compensação para-processual, a excepção de
compensação destina-se a alegar um efeito extintivo já produzido: é, por isso, uma
Eiwendung (excepção declarativa). Na compensação processual, aquela excepção
destina-se a provocar em juízo a extinção do crédito do autor (como também sucede, por
exemplo, com a alegação da anulabilidade do contrato invocado pelo autor): é, por isso,
uma Einrede (excepção constitutiva).

c. A excepção de compensação pode ser deduzida a título principal, se o réu não


contestar o crédito do autor (compensação primária), ou a título subsidiário, se o réu
começar por impugnar o crédito do autor e, para o caso de esta impugnação não ser
considerada procedente, deduzir a excepção de compensação ou se o réu deduzir, antes
da excepção de compensação, outras excepções contra o crédito do autor
(compensação eventual).
Nesta última hipótese, o tribunal não pode considerar a acção improcedente com o
fundamento de que, mesmo que o crédito do autor exista, este se encontra extinto pela
compensação com o contracrédito do réu. De acordo com a designada
Beweiserhebungstheorie, é sempre exigível a prova do crédito do autor, pelo que o
tribunal tem sempre de começar por verificar a existência deste crédito e apenas na
hipótese de reconhecer esse crédito pode declarar a sua extinção por compensação com
o contracrédito do réu11.

10 Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 58; MükoZPO/FRITSCHE (2016), § 145 22; ROSENBERG/SCHWAB/GOTTWALD,


Zivilprozessrecht (2018), 615.
11 Cf., por exemplo, MükoZPO/FRITSCHE (2016), § 145 24, por oposição à designada Klagabweisungstheorie,
segundo a qual a acção deve ser julgada improcedente, porque, ainda que o crédito do autor exista, o mesmo
está extinto pelo (provado e reconhecido) contracrédito do réu; cf. também Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145
55; MüKoZPO/GOTTWALD (2016), § 322 197.
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11

c. Se o réu invocar vários contracréditos, deve determinar a ordem pela qual os mesmos
devem ser apreciados pelo tribunal (cf. art. 855.º, n.º 1, CC). Na falta dessa indicação, o
tribunal aplica oficiosamente um critério supletivo (cf. art. 855.º, n.º 2, CC).

d. Como qualquer excepção peremptória, também a excepção de compensação está


sujeita à regra do ónus de concentração da defesa na contestação (art. 573.º, n.º 1, CPC)
e à consequência da violação deste ónus, que é a preclusão da alegação do contracrédito
para extinguir o crédito do autor (no caso de este vir a ser reconhecido na acção
pendente). Essa preclusão não extingue o contracrédito, nem sequer impede a sua
invocação em juízo em tudo o que não se relacione com o crédito do autor.
Pode discutir-se se esta solução se mantém quando o réu não tiver invocado na acção
(ou nela não tiver invocado regularmente) a extinção do crédito por uma compensação
operada antes da propositura da acção12. Não parece que se deva entender
diferentemente do que acima se defendeu: se o réu não tiver invocado a extinção por
compensação do crédito do autor (e se, por isso, tiver sido condenado a satisfazer o
crédito do autor), o seu contracrédito também não foi apreciado na acção, pelo que nada
impede que este contracrédito possa ser invocado numa outra acção13.

e. A doutrina e a jurisprudência alemãs entendem que a invocação do contracrédito por


via de excepção não torna esse crédito “pendente”, pelo que o réu pode, ao mesmo
tempo, invocar esse crédito numa outra acção e pode utilizar um crédito alegado numa
acção como contracrédito numa outra acção 14. O problema é doutrinário e não tem de
ser resolvido pela via legislativa.
O único problema processual que, nesta perspectiva, se pode colocar é o de saber se,
de molde a evitar eventuais decisões contraditórias, se justifica, nos termos do disposto
nos art. 269.º, n.º 1, al. c), e 272.º, n.º 1, CPC, a suspensão da instância numa das acções
nas quais o contracrédito tenha sido alegado. A resposta deve ser afirmativa, justificando-
se a suspensão na acção em que tenha sido autonomamente pedido o cumprimento do
contracrédito, dado que esta acção fica necessariamente sem objecto se esse
contracrédito se extinguir por compensação na outra acção 15. O mesmo há que concluir
quando o contracrédito tenha, primeiro, sido invocado numa acção para obter a

12 Cf., por exemplo, Stein/Jonas/Althammer (2016), § 145 63 ss. e 70; MüKoZPO/FRITSCHE (2016), § 145 25 ss.
13 Cf. Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 67 e 70, com o (inteligente) argumento de que, se o crédito do autor
foi reconhecido na acção, então isso significa que o mesmo não se encontra extinto por compensação e que, por
isso, o contracrédito também não pode estar extinto por essa compensação; MüKoZPO/FRITSCHE (2016), § 145 27
s.; Prütting/Gehrlein/DÖRR ZPO (2017), § 145 12; sobre o problema, cf. HÄSEMEYER, ZZP 118 (2005), 280 ss.
14 Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 49 e 50 s.; MüKoZPO/FRITSCHE (2016), § 145 29 s.; Prütting/Gehrlein/DÖRR
ZPO (2017), § 145 18; Musielak/Voit/STADLER ZPO (2018), § 145 20; ROSENBERG/SCHWAB/GOTTWALD,
Zivilprozessrecht (2018), 616; cf. WOLF, JA 2008, 673.
15 Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 50; BeckOK ZPO/WENDLAND (2018), § 145 29.
Miguel Teixeira de Sousa

12

compensação e, depois, seja invocado autonomamente numa outra acção: a suspensão


da instância deve ocorrer nesta última acção16.
Em alternativa a esta orientação da doutrina e da jurisprudência alemãs, pode entender-
se que o contracrédito, ainda que alegado por via de excepção, se torna “pendente” e
que, por isso, a sua alegação numa outra acção origina nesta a excepção de
litispendência.

f. Não está excluído que o autor possa responder com uma contra-excepção de
compensação, invocando, por exemplo, que o contracrédito alegado pelo réu já se
encontra extinto por uma compensação pré-processual declarada por esse autor. Muito
mais discutível é saber se o autor pode provocar, na acção pendente, a extinção por
compensação do contracrédito do autor. Na doutrina alemã responde-se negativamente,
com o argumento de que, se operar a compensação provocada pelo réu, a compensação
alegada pelo autor não tem objecto possível, dado que o contracrédito do réu, antes de
poder ser extinto pelo crédito compensante invocado pelo autor, já se encontra extinto
pela compensação alegada pelo réu17.
Diferente é a situação na qual o autor (não pretende provocar a compensação do
contracrédito, antes) alega a extinção do contracrédito do réu por uma anterior
compensação processual. Nesta situação, o que o autor faz valer é um caso julgado,
que, naturalmente, tem de ser considerado e respeitado na acção.

g. A dedução da excepção de compensação implica a interrupção da prescrição do


contracrédito até ao montante da sua compensabilidade com o crédito do autor. Dado
que a contestação na qual é deduzida a excepção de compensação deve ser notificada
ao autor, é no momento do conhecimento da dedução dessa excepção que a prescrição
se encontra interrompida (art. 323.º, n.º 1, CC). Neste caso, parece impor-se a aplicação
analógica do disposto no art. 323.º, n.º 2, CC.

h. Quando o réu deduz a excepção de compensação para provocar a extinção do crédito


do autor, o conhecimento desta excepção fica dependente do reconhecimento pelo
tribunal deste crédito. Se isto não suceder, a (excepção de) compensação não tem
objecto possível.

2 – O conhecimento da compensação exige a competência internacional, hierárquica e material do


tribunal, mas, para além dos respectivos critérios gerais, o tribunal é ainda competente:

16 BeckOK ZPO/WENDLAND (2018), § 145 51.


17 Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 29; Prütting/Gehrlein/DÖRR ZPO (2017), § 145 15; Musielak/Voit/STADLER
ZPO (2018), § 145 19; ROSENBERG/SCHWAB/GOTTWALD, Zivilprozessrecht (2018), 614.
Miguel Teixeira de Sousa

13

a) Quanto à competência internacional, se o crédito do autor e o crédito forem conexos um com o


outro, nomeadamente por decorrerem do mesmo contrato ou facto jurídico;

Notas:
a. Se o contracrédito do réu for conexo com o crédito do autor, não é razoável fazer
depender o conhecimento do contracrédito da competência do tribunal da acção para
conhecer desse contracrédito, se este fosse invocado em acção própria. Utiliza-se
deliberadamente o conceito indeterminado de conexão entre os créditos, porque são
dificilmente catalogáveis as relações possíveis entre eles que podem justificar que o
tribunal internacionalmente competente para o crédito deva ser igualmente competente
para o contracrédito. Aposta-se implicitamente no papel da jurisprudência e da doutrina.
Na hipótese de não haver nenhuma relação de conexão entre o crédito do autor e o
contracrédito do réu, a competência internacional do tribunal para apreciar o
contracrédito é apreciada nos termos gerais.

b. TJ 13/7/1995 (C-341/93) decidiu que o disposto no (actual) art. 8.º, n.º 3, Reg.
1215/2012 “não visa a situação em que um demandado invoca como simples fundamento
de defesa um crédito, de que se afirma titular, contra o demandante”, pelo que “os
fundamentos de defesa susceptíveis de ser invocados e as condições em que podem sê-
lo são regulados pelo direito nacional”. Isto permite que os direitos internos dos Estados-
membros regulem autonomamente a competência internacional em matéria de
compensação, admitindo que, se os créditos forem “conexos”, o tribunal que é
internacionalmente competente para conhecer do crédito do autor (naturalmente, esta
competência internacional não se dispensa) é também internacionalmente competente
para apreciar o contracrédito do réu.
No entanto, não é recomendável que os parâmetros de extensão da competência
internacional do tribunal que é competente para o crédito vão para além daqueles que se
encontram no art. 8.º, n.º 3, Reg. 1215/2012 18. É isto que justifica o disposto nesta alínea.

b) Quanto à competência material, se ambos os créditos forem civis ou comerciais.

Notas (n.º 2):


a. A proposta nada diz quanto à hipótese de as partes, através de um pacto de
competência, de um pacto de jurisdição ou de uma convenção de arbitragem terem
atribuído a um tribunal diferente daquele no qual a acção está proposta a competência

18 Cf. SCHACK, Internationales Zivilprozessrecht (2014), 157 s.; diferentemente, dispensando a exigência da
competência internacional para a apreciação do contracrédito, cf. Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 45.
Miguel Teixeira de Sousa

14

(internacional ou material) para o conhecimento do contracrédito. A verdade é que não


tem de o fazer por dois motivos:
(i) Se a violação da convenção de competência for de conhecimento oficioso, o
tribunal deve, nos termos gerais, conhecer da sua incompetência;
(ii) Se essa violação não for de conhecimento oficioso, compete ao autor invocar
a incompetência do tribunal; se isso não suceder, verifica-se a revogação tácita
da convenção sobre a competência e o tribunal torna-se competente.

b. Se houver uma decisão com valor de caso julgado sobre o contracrédito do réu, é claro
que qualquer tribunal, independentemente de qualquer critério de competência
internacional ou material, deve respeitar esse caso julgado e utilizar esse contracrédito
como fundamento para a extinção do crédito do autor através de compensação 19.

c. Na hipótese de falta de competência internacional ou material do tribunal para apreciar


o contracrédito, dificilmente se pode entender que é justificado ordenar a suspensão da
instância e aguardar a decisão do tribunal competente sobre o contracrédito (solução
teoricamente admitida pelo disposto no art. 272.º, n.º 1, CPC). Na verdade, muito mais
plausível é simplesmente julgar a acção procedente quanto ao crédito do autor.

3 – Se, nos termos do disposto no artigo 93.º, n.º 1, o tribunal for competente para conhecer do
crédito alegado pelo réu, esta parte pode pedir, na mesma acção, a condenação do autor quanto ao
valor não abrangido pela compensação.

Notas:
a. Fica claro que o réu não pode, a título principal, deduzir a excepção de compensação
e, a título subsidiário, formular um pedido reconvencional quanto à totalidade do
contracrédito. O que o réu pode fazer é deduzir a excepção de compensação e, se
estiverem preenchidas as condições quanto à competência absoluta, cumular o pedido
reconvencional quanto ao excedente do contracrédito sobre o crédito do autor. Portanto,
o que se consagra é um regime em que a reconvenção pode completar a excepção, mas
não há reconvenção se a excepção não tiver sido deduzida.
Se o autor tiver oposto uma contra-excepção de compensação ao contracrédito do réu,
o mais comum é que esta contra-excepção também valha como contestação do pedido
reconvencional do réu.

19 Stein/Jonas/ALTHAMMER (2016), § 145 46, quanto à competência internacional; MüKoZPO/GOTTWALD (2016), §


322 202; BeckOK ZPO/WENDTLAND (2018), § 145 30.
Miguel Teixeira de Sousa

15

b. Nesta hipótese, o réu não pretende obter a mera compensação, pelo que, de acordo
com o que resulta do disposto no art. 530.º, n.º 3, CPC e para a determinação do valor
da causa nos termos do estabelecido no art. 299.º, n.º 2, CPC, há que somar o valor
excedente do contracrédito do réu ao valor do crédito do autor.

Artigo 266.º
Admissibilidade da reconvenção

1–
2 – A reconvenção é admissível nos seguintes casos:
a)
b)
c) Quando o réu, na acção em que tenha alegado a excepção de compensação, pede a condenação
do autor no pagamento do excedente do seu crédito sobre o crédito do autor;

Nota:
No âmbito da compensação, a reconvenção passa a ser admissível apenas nas
condições referidas no art. 91.º-A, n.º 3.
d)
3–
4–
5–
6–

Artigo 729.º
Fundamentos de oposição à execução baseada em sentença

Fundando‐se a execução em sentença, a oposição só pode ter algum dos fundamentos seguintes:
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h) Alegação de contracrédito, com a finalidade de invocar ou de provocar a extinção por
compensação do crédito exequendo, desde que esta não fosse possível até ao encerramento da
discussão em primeira instância;

Nota:
Miguel Teixeira de Sousa

16

Com a possibilidade da invocação da compensação através de excepção, parece não se


justificar que, nos embargos de executado, esta parte queira obter mais do que a extinção
do crédito do exequente.

i)

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